22 Na sucursal do inferno
Alguém despertara na madrugada ao som de pés arrastados e despachara o aviso pelas paredes. Mais uma queda. O cortejo macabro some nos fundos do pavilhão. Os presos já não dormem. Querem saber quem caiu. Precisam saber quem caiu. Agarram-se às grades, ansiosos. Quem será? O fundão é a sucursal do inferno. O próprio diretor diz isso. A superposição de murmúrios e batidas nas grades vai formando uma cacofonia contínua e de intensidade crescente, até se tornar ensurdecedora. O agente penitenciário Maciel, que todos chamam de Juruna, sabe que fazem estardalhaço para impedir que o preso seja morto. Nem sabem que é mulher. Mas sabem que da sucursal do inferno poucos saem vivos. Ela a viu de relance e se impressionou com o olhar intenso que, mesmo cambaleante, ela lhe dirigiu. As pupilas negras envoltas em sangue e o rosto e os braços cobertos de hematomas. A blusa rasgada deixava à mostra os seios. Adivinha, transtornado, o que estão fazendo com a moça no fundão, e sente-se mal.