Júlia, nos campos conflagrados do Senhor — B. Kucinski

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realismo e realidade

A ação de Júlia se passa em dois tempos: num, ela é protagonista, nos anos 1990. No outro, o personagem principal é Durval. Essa é uma questão bastante interessante: a estratégia narrativa sofisticada de B. Kucinski compõe em dois tempos a narrativa. Há um presente (que não é o do leitor, mas o de Júlia, que vai encaixando as peças do passado) e há um passado, em que Durval tem, ele próprio, de entender a dinâmica do regime militar imposto em 1964 para ajudar as pessoas perseguidas. A edição do livro, por sugestão do autor, adotou diferentes tipografias, marcando claramente o que é “passado” e o que é “presente” na obra. Esses tempos dialogam na trama por meio de documentos, criados por B. Kucinski, como uma carta deixada pela tia Hortência, ou depoimentos de pessoas que conviveram com Durval, como uma jornalista, também perseguida pela ditadura. Kucinski, nessa obra, adota uma narrativa de tradição realista, ou seja, os fatos são expostos de modo a serem verossímeis, ou seja, parecerem reais. Essa tradi-


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Júlia, nos campos conflagrados do Senhor — B. Kucinski by EdLab Press - Issuu