JornalCana 337 (Maio 2022)

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MERCADO

Maio 2022

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Mas eu não acredito que no curto prazo o eta− nol tenha, como melhor solução, todo o investi− mento para célula de combustível, para gerar hidro− gênio. Até porque se fala em chegar ao mercado a partir de 2027, 2028, e daqui até lá já falamos em uma grande revolução tecnológica. Hoje a tecnologia muda muito rápido, e há muitos investimentos mundiais para acumuladores de energias, como as soluções eletroquímicas, em especial a bateria de lítio, além de outras que possam surgir. É importante o Brasil continuar a pesquisar este setor [etanol para produzir hidrogênio], mas não sei se podemos apostar todas as nossas fichas como se isso fosse a solução mágica para a eletromobili− dade mundial.

vel cresceu, os veículos a combustão terão espaço. Mas nas grandes cidades, em termos mundiais, provavelmente só veremos veículos elétricos. Seja porque de uma lado existe política ambientalista, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, e por outro por conta de medidas dos governos para aumentar a qualidade de vida, reduzir ruído e am− pliar a segurança. Veremos um processo de aumento da régua da emissão e da segurança dos veículos a combustão, ao mesmo tempo em que os elétricos ganharão es− cala, enquanto os preços da bateria e dos demais componentes continuam a cair. Isso deverá viabi− lizar os elétricos na maior parte do mundo a par− tir de 2026 ou 2027. O sr. tem−se posicionado a f avor do etanol. Há espaço para ele com o avanço e consolidação da ele− tr ificação? Por quê? Sou um grande entusiasta do etanol. Ele é hoje o biocombustível mais bem sucedido em nível mundial. Sustentável, renovável, gera muito empre− go e renda no Brasil, e o país tem que aproveitar a nossa liderança no etanol para fazê−lo durante a transição para esta nova indústria, para a inserção das partes brasileiras nas cadeias produtivas globais. Temos vários países que também poderiam se beneficiar do uso do etanol, dos motores flex, como a Colômbia, África do Sul e a Índia, e o Brasil cer− tamente é um dos melhores posicionados para fazer essa transição. Hoje o etanol representa menos de 20% do consumo de combustível líquido do país. É preciso aumentar esta porcentagem porque, além de ser sus− tentável, o etanol gera emprego e renda. Por isso a necessidade dessa transição ao nosso parque produtivo, com os híbridos flex primeiro,

depois com os híbridos flex plug−in, e, à medida que o mercado for crescendo, com baterias maiores, te− nha−se opções de se usar dentro das cidades o elé− trico e o etanol para veículos elétricos e, nos pesa− dos, o elétrico puro na medida que o nosso princi− pal compromisso é reduzir o consumo de diesel. Tecnolog ias como célula de combustível a eta− nol (geradora de hidrogênio e, na sequência, eletr i− cidade) estão em desenvolvimento em instituições com apor te de fabr icantes de veículos. Mas a previ− são é de que essa novidade chegue ao mercado a par tir de 2027. Não é muito tempo? A rota tecnológica do etanol como fonte gera− dora de hidrogênio é uma rota importante onde o Brasil deve, sim, se estruturar para poder criar estes mercados. Porém o que se vê a nível mundial é que sem um grande financiamento, em especial subsídios a fundo perdido de governos, é muito difícil uma no− va tecnologia disruptiva ganhar espaço. O setor primário precisa atender a demanda de curto prazo. Ele tem ações em bolsa, precisa ter lu− cro e tudo no curto prazo. Então um desenvolvimento como este precisa− ria de uma liderança muito mais forte do governo brasileiro. Não só aproximando a indústria da aca− demia e do setor produtivo como um todo, mas es− timulando a compra de produtos, dando escala para se reduzir o preço dos insumos. Eu acredito que o etanol irá ocupar espaço. Quem sabe ele possa ser uma fonte geradora de hi− drogênio, mas ele pode ser viável com seu uso no motor, para gerar energia, e como etanol de segun− da geração. Temos um rol muito grande de produções tec− nológicas que certamente irão vir.

A Associação Brasileira do Veículo Elétr ico apoia qual rota tecnológ ica para eletr ificação? A Associação não escolhe uma rota tecnológica. Acreditamos que várias tecnologias deverão crescer e coexistir todas juntas. Mas cada vez mais acreditamos no potencial, no crescimento dos biocombustíveis, em especial no etanol no Brasil. Isso para ampliar e suprir a frota de veículos leves. A nível mundial, o que se vê é a eletrificação trabalhar muito para substituir o diesel. Hoje, mais de 40% dos ônibus do mundo são elétricos, e já vemos uma corrida para eletrificar os caminhões e os furgões. A meu ver, o Brasil deve, sim, apostar no etanol até para ampliar seu uso no veículo leve e também, cada vez mais, nos híbridos flex. Acredito que, em poucos anos, quase todos os veículos flex serão híbridos porque buscaremos ca− da vez mais a inserção de novas tecnologias para re− duzir emissões e dar eficiência aos motores a com− bustão. Então nada mais natural que os híbridos flex cresçam bastante em sua amplitude e tragam junto o aumento do consumo de etanol. Para finalizar, qual sua avaliação sobre as fontes renováveis de energ ia? O crescimento das fontes eólica, solar, de bio− massa, é um caminho sem volta a nível mundial. O Brasil está muito bem−posicionado para ser um grande líder dessa transição com os híbridos flex, com a ampliação do uso da energia solar para abas− tecer os híbridos flex plug−in, que devem vir no curto prazo. Então para que a gente mantenha o Brasil como importante centro da indústria de transformação mundial, ele que já foi sexto mercado de veículos le− ves − hoje é o nono −, ainda somos o quarto mer− cado de veículos pesados, é preciso que tenhamos cada vez mais políticas complementares e unifica− doras. É o caso do RenovaBio, do programa Com− bustíveis do Futuro. E precisamos também de uma plataforma, de um plano nacional da eletromobili− dade que possa ampliar o uso do biocombustível em complementaridade ao adensamento da cadeia pro− dutiva do lítio. Isso porque o Brasil tem uma gran− de reserva e todos os minérios estratégicos para es− sa revolução. O Brasil já é hoje o país que mais gera empre− gos em biocombustíveis em nível mundial. Somos líderes em energias renováveis na nossa matriz e, por isso, temos condições de sermos líderes nessa tran− sição para a indústria do futuro que virá na indús− tria de baixo carbono.


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