DEREK JARMAN: CINEMA É LIBERDADE

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The Last of England e os home movies: ensaio sobre um filme-ensaio Luiz Andreghetto

The Last of England é um filme seminal para se conhecer o trabalho poéticoexperimental do diretor britânico Derek Jarman. Conhecido do grande público devido ao sucesso de crítica do filme Caravaggio, de 1986 (Urso de Prata no Festival de Berlim), Jarman traça com The Last of England um percurso quase autobiográfico, sempre de forma reflexiva, transformando o filme em uma miríade de temas e imagens inseridas numa ousada experiência estética, profundamente pessoal e ferozmente política. A produção do filme fez-se durante dois eventos extremamente importantes e traumáticos na vida de Jarman: o diagnótico de HIV positivo em dezembro de 1986 (doença da qual viria a falecer em fevereiro de 1994) e a morte de seu pai em 1987, com quem mantinha uma relação conturbada. Com isso, Jarman lança-se em um frenesi produtivo, realizando, em oito anos, sete longasmetragens, vários videoclipes e a publicação de alguns livros. Com um estilo visual singular – ao qual misturou passado e presente, teatro e pintura, artes performáticas e abstrações visuais, sexo e política –, realizou um cinema com fortes marcas autorais e características experimentais, frequentemente calcado na polêmica e na provocação ao establishment existente na época (Inglaterra, anos 80, então governo da primeira ministra Margaret Thatcher). Segundo Monika Keska (2007), “[...] seu estilo pode ser caracterizado amplamente como uma combinação de experimentação formal e rejeição do sistema de narrativa clássica, e as referências à tradição cultural britânica”. Jarman iniciou suas experimentações audiovisuais com uma câmera Super-8, realizando pequenos curtas-metragens experimentais muito próximos à videoarte, como, por exemplo, A Journey to Avebury (1971), Art of Mirrors (1973), entre outros. Posteriormente continuou filmando em Super-8, transferindo essas imagens para o 35 mm, deixando-as mais lentas, meio “borradas”, mais próximas ao pictórico do que propriamente ao audiovisual, construindo obras fílmicas como The Angelic Conversation (1987), The Last of England (1989) e The Garden (1990). Proposta de um cinema ensaístico Nesse amálgama lírico e sentimental realizado por Jarman em The Last of England, podemos propor algumas aproximações com o que, comumente, vem sendo chamado de filme-ensaio. Na introdução do livro La forma que piensa – 108


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