DEREK JARMAN: CINEMA É LIBERDADE

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A história da arte como invenção Leo Felipe

History stills fascinates me, it’s so intangible, you can weave facts anyway you like. Jordan, no papel de Amyl Nitrate

Na noite de 7 de junho de 1977, como parte da estratégia de divulgação do novo single do grupo que produzia, o empresário Malcolm McLaren tentou tumultuar as comemorações do Jubileu de Prata de Elizabeth II. A bordo de um barco que navegava pelo Tâmisa, os Sex Pistols executavam seu repertório amplificado pelos alto-falantes enquanto fogos de artifício iluminavam o céu de Westminster. Mas Johnny Rotten não pôde cantar os versos sobre o regime fascista da rainha: a polícia chegou antes de “God Save the Queen” ser tocada, acabando com a festa. Não havia futuro no sonho da Inglaterra. A comemoração do 25º aniversário do reinado de Elizabeth II acontecia em meio à recessão econômica, desemprego, ameaças do terrorismo separatista e a onda de pânico moral causada pelo fenômeno do punk, que, naquele momento, começava a ganhar repercussão (e dinheiro), exportado da Inglaterra para o mundo através da indústria fonográfica e da imprensa sensacionalista. Em 1977, Sex Pistols e The Clash lançaram seus álbuns de estreia e dezenas de outras bandas da cena assinaram seus primeiros contratos. “O punk morreu no dia que o Clash assinou com a CBS”, afirmou o jovem Mark Perry, editor do fanzine Sniffin’ Glue. A versão britânica do punk somava política à estética de simplicidade e ruído criada no submundo artístico dos EUA, sintetizando toda uma tradição de subculturas juvenis proletárias que se sucederam no país desde o final da Segunda Guerra. Se por muito tempo foi função de pintores criarem representações de fatos históricos – e levando em consideração que o cinema de Derek Jarman sempre esteve em diálogo com a pintura – é possível chamar Jubilee (1978) de uma pintura histórica. O filme iniciou como um projeto em Super-8 em que o artista pretendia apenas registrar a atriz Jordan realizando atividades ordinárias. Ele havia conhecido a garota que se tornaria um ícone do punk em Victoria Station e ficara apaixonado pelo seu estilo ultrajante. Ela trabalhava na loja que Malcolm McLaren e Vivienne Westwood mantinham em King’s Road, o lugar onde Johnny Rotten havia feito o teste para entrar nos Pistols, cantando Alice Cooper por cima da gravação que tocava no jukebox. Jarman

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