MARANHAY (REVISTA DO LÉO) EDITADA POR
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
NUMERO 61 – MAIO - 2021 MIGANVILLE – MARANHÃO
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 350 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio-correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; editor da “ALL em Revista”, vol. 1 a 6, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019). Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.
EDITORIAL
A “MARANHAY – REVISTA LAZEIRENTA” é sucessora da “REVISTA DO LÉO”, e continua em seu formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher. Temos sócios-atletas fixos: Ceres Costa Fernandes, Fernando Braga (Brasília), e lá de Portugal, Jorge Bento. Alguns outros sócios-atletas aparecem devezenquandamente: José Neres, Antonio Ailton, Mhario Lincoln... Grato pela confiança... O Laércio, é sócio-proprietário... A quinta parte sobre o Centenário da Arquidiocese do Maranhão... As sessões continuam com a mesma divisão: Esporte, Lazer & Educação Física tratam desses assuntos no/do Maranhão, em especial a busca pela memória/história... História(s) do Maranhão se resgatam os artigos e contos que retratam a vida na Cidade do Maranhão, e outras localidades; Jorge Olimpio Bento comparece, como bom português, navegando por águas turvas do pensamento diário sobre as questões fundamentais da vida, da educação, da educação física...; e Pra não dizer que não falei de poesia & de poetas... Por fim, o resgate da memória de Fran Paxeco... E assim segue... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR
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EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO
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ESPORTE, LAZER, & EDUCAÇÃO FÍSICA A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM LAMARTINE PEREIRA DA COSTA O PROFESSOR-MENDIGO
6 JOSÉ NÉRES
DESAFIO FEMININO: Mulheres de coragem no futebol maranhense NERES PINTO FUTEBOL FEMININO NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ RECORTES & MEMÓRIAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
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REI ZULU, MONTILLA E MMA (2017) HAMILTON RAPOSO A MAGIA DO AMOR EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA CAPOEIRA NO/DO MARANHÃO: UMA HISTÓRIA/MEMÓRIA CONTRADITÓRIA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
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HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO “ARCHIDIOECESIS SANCTI LUDOVICI IN MARAGNANO”: ANOTAÇÕES PARA O SEU CENTENÁRIO - PARTE III - 1677 – CRIAÇÃO DA DIOCESE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ O REINO DO SOL: O achado do brasão da França Equinocial EUGES LIMA DE TIOS E DE TIA CERES COSTA FERNANDES VERGONHA E RENÚNCIA - (ONDE ESTÁ A VERDADEIRA PROSTITUIÇÃO?) EDMILSON SANCHES DA FUNDAÇÃO DO INSTITUTO GEOGRÁFICO, ANTROPOLÓGICO E HISTÓRICO DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ OS LOUCOS DA BEIRA-MAR CERES COSTA FERNANDES
NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO P’ra não dizer que não falei de Poesia... e de Poetas THEOTONIO FONSECA UM COSMOS NA CASCA DE UMA NOZ
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ROGÉRIO ROCHA A “TORTUOSA” DIALÉTICA DO EXTERIOR E DO INTERIOR DO SER ESQUARTEJADO JOÃO BATISTA GOMES DO LAGO HOMENAGEM PÓSTUMA A ARTISTA MARANHENSE ISABEL CUNHA MHARIO LINCOLN & SHARLENE SERRA ARLETE NOGUEIRA DA CRUZ CERES COSTA FERNANDES DIILERCY ADLER: poeta e pesquisadora LINDA BARROS ARLETE NOGUEIRA: TECELÃ DO NOSSO LUME LITERÁRIO ANTONIO AÍLTON A PERSONA DE ARLETE NOGUEIRA ALBERICO CARNEIRO SALGADO MARANHÃO E A CICATRIZ DA POESIA DO SÉCULO XXI" PAULO RODRIGUES MHARIO LINCOLN/ROSSINI CORRÊA
MEMÓRIAS & RECORTES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FRAN PAXECO – RECORTES & MEMÓRIAS – PARTE XVII
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ESPORTE, LAZER, & EDUCAÇÃO FÍSICA
A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM LAMARTINE DACOSTA:
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currículo lattes
Graduação em Ciências Navais pela Escola Naval (1958), licenciatura em Educação Física pela Escola de Educacao Fisica do Exercito (1963) e doutorado em Filosofia pela Universidade Gama Filho (1989). Atualmente é professor titular da Universidade Gama Filho, membro Conselho Pesquisas do Comité Olimpico Internacional em Lausanne (Suiça) e professor visitante da Universidade Técnica de Lisboa. Atuou como professor visitante da Universidade do Porto (Portugal), da Academia Olimpica Internacional (Grecia) e da Universidade Autonoma de Barcelona (Espanha). No Brasil foi professor da Universidade Católica de Petrópolis (Engenharia), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Mestrado em Geografia), UNIRIO (Mestrado em Memoria Social), USP (Mestrado Educação Física) e UERJ (Graduação Educação Física). Tem experiência nas áreas de Educação Física, Administração, Historia e Filosofia com ênfase em meio ambiente, esportes, lazer e Gestão do Conhecimento. Tem produção contínua em pesquisas desde 1967 no Brasil e no exterior, com inicio na area de meio ambiente. lamartine pereira da costa (cev)
1. O que significou para a memória do esporte (sentido amplo) a publicação do Atlas do Esporte no Brasil? R - O Atlas do Esporte – 2005 foi uma experiência de Ciência Cidadã em que o conhecimento foi produzido coletivamente por autores visando a usos comunitários por parte de profissionais de Educação Física, Medicina, Direito etc. A análise desta inovação acaba de ser publicada em livro pelo eMuseu do Esporte e os interessados tem acesso livre em
<emuseudoesporte,com.br/home>, titulo “eMuseu do Esporte 2020” (Gama Pena et al., 2020), p. 23-48. 2. Por que não houve continuidade? atualização (prevista) e a publicação de outros, como o das cidades e os dos Estados... A versão on-line previa a atualização constante, por parte dos colaboradores, assim como a ampliação, para outras cidades - em especial, as capitais de estados - e sua extensão para o Estado... apenas quatro - salvo engano - foram construidos. Alguma idéia do que aconteceu? R – Os quatro Atlas estaduais e um de uma cidade capital estadual tornaram-se também exemplos da Ciência Cidadã mas a atualização se mostrou impraticável na versão nacional pois reunia 420 autores. As varias iniciativas de atualização entre 2005 e 2006 não progrediram em face à legislação brasileira que exigia concordância de todos os autores e esta tarefa se mostrou impraticável. O livro citado do eMuseu do Esporte descreve em detalhes o antes, durante e depois do projeto Atlas do Esporte no Brasil e está disponível para downloads. 3. O que é o eMuseu do Esporte? uma continuidade do Atlas? R- Trata-se de uma nova tentativa de Ciência Cidadã distinta do Atlas pois reúne autores e entidades na produção de obras com acesso grátis usando tecnologia inovadora. Nesta nova interpretação para o acesso democrático e comunitário ao conhecimento a opção adotada foi a da preservação da memória como base e a educação como objetivo. Entretanto, cabe realçar que o eMuseu do Esporte é um projeto em progresso lançado por Bianca Gama Pena que tem tido sucesso em obter cooperação voluntária tanto de pessoas como de entidades. Mas a mobilização de autores ou de organizações parte de critérios diversos do Atlas pois esta publicação foi tipicamente analógica e o eMuseu do Esporte é um desenvolvimento digital. 4. Os Estudos Olimpicos, qual o estado-da-arte no Brasil? R- Sendo um setor de conhecimentos especializados de bases multidisciplinares carece de visibilidade nos cursos de graduação ou mais avançados – lato sensu, mestrado e doutorado – porém seus seguidores no Brasil apoiam-se hoje em plataformas e em projetos internacionais dando origem a uma identidade distinta de todas as demais especializações do esporte ou Educação Física. Um exemplo típico deste procedimento é a PUC-RS que acolhe um Grupo de Pesquisas em Estudos Olímpicos (GPEO) de elevado impacto internacional. Com forma similar de funcionamento posso citar os GPEOs da USP, UERJ, UFES, UFRGS e UFSe. Este conjunto de iniciativas tem grande proeminência na América Latina e destacado prestígio em escala mundial, algo não tão frequente em relação a outras áreas de conhecimento de extração acadêmica brasileira. 5. Nos 'novos tempos', pandemicos, como estão os estudos e a recuperação da memória do esporte no Brasil? Por que as IES não se preocupam com esses aspectos, resgates? R – O Brasil já tem uma tradição em estudos de memória do esporte a qual me parece viva embora as atividades acadêmicas tenham se reduzido em todo o país. Neste contexto, a novidade do período pandêmico incide nos avanços do eMuseu do Esporte que teve uma expansão notável em 2020-2021 como é relatado no livro já citado “eMuseu do Esporte 2020” de acesso livre. Ou seja: o eMuseu alterando o modo de produzir memória criou uma solução eficiente e de alcance popular diante das dificuldades atuais. E se as IES são questionadas quanto às buscas de novos caminhos, é cabível sugerir que sigam as oportunidades da tríade Ciência-Tecnologia-Inovação.
De minha parte eu descrevo com mais detalhes este caminho no podcast com acesso em https://open.spotify.com/episode/5dfJb1pBxW1Z1ICwrm1Gtq?si=SpmcPe79RxmyLWmoqwMTa A 6. O que aconteceu com a formação profissional? a divisão entre Licenciatura e Bacharelato, foi benéfica? sinto que a formação de professores de educação física, para atender à rede de ensino, foi prejudicada: ninguém mais quer ser 'professor'; o bacharelato não atende aos esportes formação de atletas, competições - e se 'dedica' apenas à formação de 'personal'... onde vamos parar? R- Creio que a distinção entre Licenciatura e Bacharelato está superada nas condições da Era Digital que estão sendo agora aceleradas pela pandemia. O novo profissional já esta sendo delineado pelas grandes mudanças correntes. São apenas sinais de um novo perfil mas que merecem atenção. O atendimento profissional na área de saúde está se concentrando no profissional autônomo, incluindo aqueles/elas da Educação Física. Aparentemente médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e profissionais de Educação Física estão ganhando similaridade com o nosso “personal” mesmo quando atuam em organizações de trabalho coletivo, como hospitais, clinicas, clubes etc. Para acompanhar esta grande revisão em andamento sugiro consultar um livro de 2020 publicado por Miragaya, DaCosta, Turini & Gomes sob o título “Tecnologia, Inovações e Startups no Esporte” com acesso também gratuito: http://sportsinbrazil.com.br/livros/sportstech.pdf 7. Com a especialização - 'educador físico' (???) - voltado apenas para as academias de musculação - novo mercado (?) -, a 'educação física e esportiva' tem algum futuro? R- A expressão “educador físico” sempre foi discutível e hoje não faz mais sentido pois o profissional que lida com Educação Física/esporte/recreação ativa prende-se à expressão genérica “Atividades Físicas” que por sua vez permeia todos e qualquer segmento. Trata-se de um intermediário das Atividades Físicas que atua apoiado nas ciências e que orienta e supervisiona indivíduos e grupos alvo de saúde com base em nexos pedagógicos. Esta descrição é ainda preliminar mas tem fundamentos como procuro definir no podcast já antes mencionado e também de acesso livre. 8. Qual o estado-da arte dos 'estudos de lazer'? está-se criando um 'novo' mercado? qual será o 'novo', nesses tempos de pandemia - fique em casa - e qual será o futuro, pós-pandemia? alguma perspectiva? R- O objeto em pauta é a expressão denominada de Atividades Físicas que na era da pandemia ajusta-se a diversas outras manifestações da vida em sociedade. Uma avaliação desta nova inserção institucional e social pode ser avaliada pelo “Manifesto Internacional para a Promoção da Atividade Física no Pós-COVID-19” emitido pelo CELAFISCS e no qual eu participei como um dos elaboradores. Este documento tem acesso pelo link: https://celafiscs.org.br/manifesto-daatividade-fisica/ 9. Para onde 'caminha a humanidade'? o 'fique em casa, trabalhe de casa, estude em casa, divirtase em casa'... influencia as atividades físicas de manutenção da saúde? do lazer? do viver? temos futuro? R- A história da Educação Física cobre um período de 2500 anos sendo hoje uma das profissões mais antigas das tradições da humanidade. E nos diversos períodos em que se definiram as
características das relações pessoas alvo e formas de intervenções houve alguma adaptação. Em outras palavras a Educação Física sempre foi hibrida. A diferença da atualidade com o passado da Educação Física concerne a um hibridismo maior do que os precedentes. Por isso saber fazer misturas eficazes de trabalho-lazer-saude-vida em casa- vida social-etc é o nosso desafio atual. E certamente dar ênfase à inovação é o lastro que dará sentido às misturas híbridas. 10. Valeu a pena? R- A pandemia atual como todas as crises traz ameaças e oportunidades. Assim sendo a busca de soluções que norteia a vida de todos nós valerá a pena se construirmos caminhos para alcançar oportunidades
E.MUSEU DO ESPORTE eMuseu do Esporte - Coleções, galerias e exposições
Esporte é superação, alegria, emoção e memória. Foi esse o ponto de partida para que o eMuseu do Esporte nascesse, usando a tecnologia para conectar pessoas e histórias. A ideia surgiu durante os Jogos Olímpicos Rio-2016, que despertou em nós o desejo de construir um legado permanente para as futuras gerações. Em um primeiro momento o museu seria físico, no Velódromo do Parque Olímpico da Barra, mas optamos por investir em inovação. Fomos ao Vale do Silício, nos Estados Unidos, entender diversos modelos de negócios, além de conhecer de perto o conceito de museus olímpicos em Barcelona, na Espanha; Londres, na Inglaterra; e Munique, na Alemanha. Mas queríamos mais, queríamos desenvolver uma plataforma colaborativa, para que todas as modalidades tivessem voz, para que todos se sentissem parte do eMuseu do Esporte: colecionadores de acervos, sejam eles entidades ou fãs, atletas e ex-atletas. Desta forma, ao envolver toda a sociedade, incentivamos, registramos e divulgamos a importância do esporte em nossas vidas. E vamos além ao nos alinharmos com seis Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas: saúde e bem-estar, através da exposição de histórias inspiradoras; educação inclusiva, uma vez que permitimos o acesso democrático ao conteúdo; crescimento econômico, porque estimulamos a criação de startups para fornecerem serviços ao eMuseu; inovação e infraestrutura, já que somos a primeira plataforma de preservação do patrimônio esportivo nacional; consumo e produção responsáveis, pois o ambiente virtual favorece o meio ambiente com tecnologia apropriada e sustentável; parcerias e meios de implementação, já que a iniciativa é realizada através de parcerias para a complementação dos serviços. O projeto conta com o patrocínio da Enel Distribuição Rio, em conjunto com a Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude do Rio de Janeiro, por meio da Lei de Incentivo do Governo Estadual. Idealizado pelo Prof. Dr. Lamartine DaCosta e pela Profa. Dra. Bianca Gama, o eMuseu do Esporte encontrou na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) um apoio fundamental para sua realização, uma vez que o projeto foi abrigado pela Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Sociais e Cooperativas Sociais. Desde então, outros parceiros se juntaram a nós e vamos agregar
cada vez mais, pois acreditamos na missão de uma com sua expertise, para preservar a memória do esporte.
aproximar
entidades,
cada
Somos responsáveis pelo desenvolvimento tecnológico do museu, das galerias e das exposições. Além disso, desenvolvemos soluções a partir de um hub de inovação, com digitalização de acervos, curadoria de exposições, enquadramento de projetos em leis de incentivo e captação de recursos. eMuseu do Esporte - Coleções, galerias e exposições
O PROFESSOR-MENDIGO JOSÉ NÉRES Quase sempre, quando se fala em ser (ou às vezes estar) professor, vem à mente de muitas pessoas a ideia de um profissional humilde, com baixíssimo salário, pouca perspectiva de melhorar de vida, etc. Talvez um mendigo graduado com curso superior. Mas não é desse tipo de mendicância de que trato aqui nestas linhas que possivelmente serão lidas por uma quantidade mínima de bons e de boas amigas. Mesmo merecendo bem mais do que recebe, o professor tem peregrinado constantemente por outro tipo de mendicância tão incômoda quanto a de esticar a mão em uma esquina na esperança de receber uns trocados, com a garantia de muitos "nãos". Em muitos casos, o professor, em plena consciência de seu ofício tem pedido, clamado e até mesmo implorado para que seus alunos estudem, prestem atenção para as aulas, peguem um livro, faça suas anotações, exponham suas dúvidas... etc... etc... etc... Seja em aulas presenciais, seja em aulas por mediação de computadores, tablets, celulares e demais aparatos tecnológicos, o professor tem vivido em uma espécie de solilóquio na qual muitas vezes nem mesmo o eco rouco e soturno das paredes tem chegado até ele. Diante de microfones silenciados, câmeras desativadas, ouvidos e olhos vedados, cadernos quase virgens, livros sem marcas de uso e cobranças de todas as partes possíveis, o professor reza, ora, clama e suplica para que um de seus alunos saia da caverna metaforizada por Platão e faça pelo menos uma pergunta que o faça sentir vivo diante da frieza das máquinas. Ele sonha com o dia em que haja o tão esperado encontro entre pelo menos dois mendigos: um que mendigue o direito de ensinar e outro que mendigue o direito de aprender. Quando será que esse encontro ocorrerá? Será que tem ocorrido e não temos notado? Ou será que tudo não passa de uma quimera? Enquanto isso, na dúvida, o professor tenta curar suas necessidades mergulhando na ilusão de que tudo está bem neste tal de "novo normal", em que é tão normal um rico mendigo oferecer seu bem mais preciso e notar que conhecimento é um produto aparentemente descartável e fora de moda. Os valores são outros. As necessidades parece que são outras. E a sociedade empobrece a cada dia. Mas o bom professor continuará mendigando por ouvidos e olhos que queiram ver além das aparências. Filho de José Furtado da Costa e de Maria Raimunda Neres Silva, José Neres nasceu em São José de Ribamar em 17 de fevereiro de 1970 fez estudos iniciais em Brasília e Goiás (Luziânia), locais onde passou a infância. De volta ao Maranhão, cursou Letras Português e Espanhol (UFMA), especializou-se em Literatura Brasileira (PUC-MG) e depois fez mestrado em Educação (UCB). Trabalha ou já trabalhou como professor de língua (portuguesa e espanhola) e literatura (brasileira, espanhola, hispano-americana e maranhense) nas seguintes instituições de ensino: Colégio Brasil, Centro de Ensino Universitário José Maria do Amaral, Faculdade Atenas Maranhense, Faculdade Pitágoras, Faculdade Santa Fé e Universidade Federal do Maranhão, além de haver prestado serviços para a Universidade Estadual do Maranhão, Instituto Superior Franciscano e Centro Sul Brasileiro de Pesquisa e Pós-Graduação. José Neres é detentor dos seguintes prêmios e honrarias: Menção Honrosa e Honra ao Mérito, ambos concedidos pelo Instituto da Poesia Internacional; Prêmio Odylo Costa, filho, concedido pela Prefeitura de São Luís pelo livro Resto de Vidas Perdidas; Prêmio A Importância do Livro no Brasil do Século XX. Concedido pela Academia Brasileira de Letras em parceria com o jornal Folha Dirigida e Medalha do Bicentenário de João Lisboa, concedida pela Academia Maranhense de Letras, além de ser patrono e paraninfo de diversas turmas de formandos em cursos superiores. Como pesquisador, José Neres sempre teve interesse por assuntos ligados à literatura, principalmente a maranhense, à Educação e aos estudos linguísticos. No mestrado, orientado pelo professor Afonso Celso Tanus Galvão, desenvolveu pesquisa sobre os processos metacognitivos e autorregulativos na aprendizagem de estudantes de pré-vestibulares e sobre estudo deliberado. Em 2014, foi eleito para a Academia Maranhense de Letras, ocupando a cadeira 36, deixada vaga pelo falecimento do grande intelectual Ubiratan Teixeira, e recebido pela professora e acadêmica Ceres Costa Fernandes em 20 de março de 2015.
DESAFIO FEMININO: Mulheres de coragem no futebol maranhense NERES PINTO O primeiro jogo de futebol feminino ocorreu em 1892 na cidade de Glascow, Escócia, no entanto, a prática desse tipo de esporte pelas mulheres não foi bem recepcionada em alguns países. Chegou a ser proibida no final de 1921 na Inglaterra. Até chegar aos dias atuais, foi longo o processo de evolução que culminou com a disputa da Copa do Mundo feminina, em 1991, na China, tendo a participação de 12 seleções. O tempo foi passando e as mulheres conquistando cada vez mais admiradores do futebol, por tudo o que vêm mostrando que são capazes dentro das quatro linhas. Criam jogadas e fazem gols de bela feitura. Por isso, é imensa a quantidade de craques espalhadas pelo mundo. O crescimento do futebol feminino é uma realidade, assim como também é a visível falta de apoio, mesmo tendo a CBF, em 2018, determinado a obrigatoriedade de que cada clube da séria A do Brasileiro tivesse que manter um time de mulheres (adulto e de base), estabelecido no Licenciamento de Clubes. Os problemas estruturais existentes são um enorme desafio, principalmente, nos menores centros esportivos, onde as mulheres, na grande maioria dos clubes, enfrentam inúmeras dificuldades. Usam apenas “a bola e a coragem” para satisfazer o desejo de também mostrarem seus talentos, como mostra essa reportagem local. William: “Pandemia atrapalhou” Um dos maiores incentivadores do futebol feminino em São Luís é o desportista William Ribeiro, patrono da equipe do Cefama (Centro de Formação de Atletas do Maranhão), que acaba de conquistar o Campeonato Maranhense, categoria adulto. Ele conta que se a situação já era difícil antes da pandemia, agora ficou pior.
“Já chegamos a ter até oito equipes disputando o campeonato, em 2019, mas este ano foram apenas três Cefama, Juventude Timonense e Viana. Se conseguir patrocinadores era difícil antes da pandemia, agora mesmo é que a situação piorou. O futebol feminino, assim como o masculino, tem suas despesas. A gente reconhece o esforço e a dedicação das meninas, mas realmente, temos que ter muita coragem para continuar esse trabalho”, afirma Ribeiro. O clube tem como presidente Hugo André, filho de Batista Oliveira, ex-diretor do Sampaio Corrêa, recémfalecido.
Para formar uma equipe competitiva, o Cefama teve de contar com várias atletas do Boa Vontade, clube que foi administrado pelo ex-tesoureiro da Federação Maranhense de Futebol, Emanuel Santos. O Viana, equipe do futebol feminino na Baixada Maranhense, é outro exemplo de superação. Comandado por Vitorino Santos, o grupo já representou o estado em várias competições nacionais nos últimos anos. A Juventude Timonense vinha sendo apoiada pela prefeitura da cidade, mas nem sempre esse incentivo continua, porque depende muito do sucessor na administração municipal.
Para participar da equipe feminina do Cefama, as mulheres enfrentam dificuldades que vão desde o deslocamento para o local de treinamento até a falta de tempo para os exercícios que o esporte exige. A preparação é de apenas duas vezes por semana, no campo do Fecurão, no bairro da Cohab. Elas gastam do próprio bolso, mas não reclamam. Sabem que estão investindo na carreira e que poderão ser ressarcidas quando estiverem fora do estado. Muitas dessas jovens são empregadas domésticas, que só conseguem liberação dos patrões nos fins de semana. Por isso, geralmente os treinos ocorrem na terça-feira e aos domingos à noite. Jovens talentosas de olho no futuro O Maranhão é também um celeiro de craques no futebol feminino. Aqui, foram reveladas atletas para grandes clubes do país. Mais recentemente, a Confederação Brasileira de Futebol convocou a maranhense Marta Cintra, destaque das categorias de base do Grêmio-RS, para a Seleção Brasileira Sub-20. Um dos maiores exemplos de talentosas atletas que nasceram em São Luís é Tânia Maranhão, zagueira e capitã do Vasco-RJ, com passagens por São Paulo e Rayo Vallecano, Espanha e Seleção Brasileira, disputante de uma Olimpíada
e Copa do Mundo. O número é bem maior e hoje há jovens atletas que estão prontas para brilhar em grandes centros. “Posso citar aqui, por exemplo, no Cefama, Sebá (lateral-direita) e Mika (meia), que jogam muito bem e certamente farão sucesso em qualquer clube fora do estado. Lívia (volante), de 14 anos, é outro destaque. A tendência é serem transferidas mais tarde para outros grandes centros esportivos que investem no futebol feminino”, acrescenta William. Outros destaques são Daniele (meia), Rafinha (atacante) e Ingrid (zagueira).
Juventude e experiência no time campeão
A equipe do Cefama é treinada por Simone Campos, 38 anos, formada em Educação Física desde 2009.
Desportista, ela conta que gosta do que faz, mesmo não tendo nenhum retorno financeiro no momento. Antes, ela já havia tido uma experiência como atleta e mais tarde foi orientar a equipe do Tutela, do futebol society, formada por advogadas. Gostou tanto que resolveu aceitar o convite para dirigir o time que hoje é campeão maranhense. Valeu a pena, pois o Cefama agora vai disputar o Campeonato Brasileiro A-2, promovido pela Confederação Brasileira de Futebol. Esta é a única divisão do futebol brasileiro em disputa. A média de idade do grupo campeão é de 19 anos. A mais experiente é a capitã Patrícia, de 35 anos. Mika e Lívia, 14 anos, são as mais jovens. “Não recebemos salários, mas as atletas fazem parte do grupo com enorme dedicação. Para que se tenha uma ideia, temos uma atleta que vem de Rosário, paga sua passagem para vir treinar com a gente aqui em São Luís. Outras se deslocam dos bairros vizinhos, mas fazem de tudo para cumprir com o compromisso de se preparar e bem representar a equipe”, declara Simone, bastante entusiasmada. O time titular campeão é formado por Mary; Sebá, Luana, Ingrid e Sabrina; Patrícia, Sirlane, Dani e Lia; Hyasmin e Rafinha. O título foi conquistado na vitória por 6 a 1 sobre a Juventude Timonense.
O futebol feminino também está presente nos bairros Cohab, Cohatrac e Trizidela, onde as equipes disputam torneios amadores. De lá, vão surgindo alguns destaques que mais tarde ingressam nas equipes maiores. Simone diz que para montar o time titular apenas observa o rendimento das mulheres durante os treinamentos e lembra que todas são selecionadas sem as tradicionais “peneiras”, pois logo ela observa quem leva jeito. “Ao contrário dos grandes clubes de outros centros, que possuem divisões de base e ministram fundamentos básicos, nós não temos esse trabalho. A gente chega, olha, orienta e depois escolhe a melhor formação. Tem dado certo até o momento. É claro, também, que foi importante utilizarmos a base deixada pelo Boa Vontade”.
Em São Luís, apenas a Escolinha do Cruzeiro tem algumas meninas nas divisões de base, que participam de treinos até com equipes masculinas. Sem estrutura suficiente para contratação de pessoal para assistência médica, o Cefama cuida das suas atletas quando estas sofrem qualquer contusão mais séria, dando o devido apoio na compra de medicamentos. “Não tivemos até agora nenhum caso grave, esperamos que continue assim”, sintetiza. Preconceito Se existe algo que não tem gerado preocupação das mulheres, no momento, é o preconceito. “Não temos esse tipo de problema. Desconheço qualquer discriminação pelo fato de praticarmos um esporte que até então era privilégio dos homens. Eles estão bem mais conscientes e aceitam nossa escolha como ocorre com qualquer outro tipo de esporte praticado neste país. Sinceramente, sem problemas”, enfatiza Simone. Futebol feminino no Brasil começou no Século XIX Segundo o livro "Futebol, Carnaval e Capoeira - Entre as gingas do corpo brasileiro", de Heloísa Bruhns, enquanto os homens da elite brasileira começaram a praticá-lo no final do século XIX no Rio de Janeiro e em São Paulo, o grupo feminino que aderiu à prática do futebol era pertencente às classes menos favorecidas. Por conta disso, as mulheres que jogavam futebol eram consideradas "grosseiras, sem classe e malcheirosas". Às mulheres da elite cabia o papel de torcedoras. "As partidas de futebol masculinas eram um evento da alta sociedade e as mulheres se arrumavam para ir assistir aos jogos", afirma o livro. Seguindo a Wikipédia, os primeiros registros de partidas mistas no país, com homens e mulheres juntos, datam de 1908 e 1909. Em 1913, houve um evento beneficente, que foi considerado por muitos anos como a primeira partida de futebol feminino no Brasil. Anos depois, porém, foi descoberto que, na verdade, o time “feminino” era formado por jogadores do Sport Club Americano, campeão paulista daquele ano, vestidos de mulher, misturados a “senhoritas da sociedade”. Desta forma, considera-se que a primeira partida de futebol feminino no Brasil ocorreu em 1921, entre senhoritas dos bairros Tremembé e Cantareira, na zona norte de São Paulo, conforme noticiado pelo jornal A Gazeta. Em 14 de Abril de 1941, durante a presidência de Getúlio Vargas, foi-se criado o Decreto-Lei 3199, proibindo a “prática de esportes incompatíveis com a natureza feminina”, entre eles o futebol. Este decreto-lei só seria revogado em 1979. O Araguari Atlético Clube é considerado o primeiro clube do Brasil a formar um time feminino, que em meados de 1958, selecionou 22 meninas para um jogo beneficente em dezembro deste mesmo ano. O sucesso desta partida foi tão grande, que a revista "O Cruzeiro", dos Diários Associados, fez matéria de capa sobre o acontecimento, pois até então, partidas femininas só ocorriam em circos ou em quadras de futsal. Com esta divulgação, houve, nos meses seguintes, vários jogos do time feminino do Araguari em cidades de Minas Gerais (Belo Horizonte inclusive) e também em Goiânia e Salvador. DO EDITOR
Caxiense Marta Cintra reforça futebol do Benfica, de Portugal No Brasil, Marta Cintra representou o Menina Olímpica, o Rio Preto, o Ceará, o Foz Cataratas e o Grémio, clube no qual jogava desde 2018. Caxiense Marta Cintra reforça futebol do Benfica, de Portugal - NOCA - O portal da credibilidade
ENTREVISTA COM A MARTA CINTRA
O Futebol de Caxias teve a Honra de entrevistar a Caxiense Marta Cintra jogadora de Futebol. CAXIAS : ENTREVISTA COM A MARTA CINTRA (futeboldecaxiasma.blogspot.com)
Marta Naizia da Silva Cintra 17 anos 1,77 m de altura, 60 quilos, é filha de Marly da Silva Cintra, residente no centro Caxias (MA). Futebol de caxias : Como começou a jogar futebol? -Marta: Eu sempre joguei no meio de meninos, aproveitava para me divertir e jogar bola com eles, na rua nas praças onde tinha futebol estava no meio. Futebol de caxias : Qual escolinha ou clube que abriram as portas? -Marta: surgiu a oportunidade de jogar em uma escolinha de Futsal chamada de Meninas super poderosas dono se chamava Tom&Jerry. Futebol de Caxias : quem foi o maior incentivador? - Marta : Minha família , minha mãe e meu irmão que sempre me apoiaram e me incentivara a acreditar em meus sonhos. Futebol de Caxias : Quais os clubes que já passou? - Marta : Meninas Super Poderosas Caxias, Borboleta Caxias, Nova geração Caxias, São José de São Luis, Menina Olímpica. Futebol de Caxias : Atualmente você esta em qual clube? - Marta : São Jose do Rio Preto São Paulo Futebol de Caxias : Qual foi a sensação de ser convocada pela Seleção Brasileira? - Marta : é uma sensação sem explicação! foi o que sempre sonhei foi um dia bater lá! é eu consegui graças a Deus e agradeço a todos que me apoiaram desde inicio. Futebol de Caxias : Quais suas expectativas para temporada 2018? - Marta : Chegar a ser convocada para a Seleção Brasileira novamente , poder jogar o Mundial de Clubes
que acontecerá na França. Futebol de Caxias : Espera um dia voltar para Caxias? - Marta : Provavelmente não, vou adquirir confiança no clube que estou atualmente até conseguir ter condições melhores. Futebol de Caxias : Marta, Agradecemos sua atenção e desejamos sucesso na sua carreira, nós que fazemos o futebol de Caxias estamos torcendo por você. - Marta : Eu que agradeço estou a disposição.
Tânia Maranhão - Tânia Maria Pereira Ribeiro (São Luís, 3 de outubro de 1974) é uma futebolista brasileira, que atualmente é zagueira da equipe Flamengo/Marinha do Brasil. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Iniciou sua carreira como jogadora de futsal, porém, em 1993, atuando pelo Eurosport da Bahia, começou a participar do futebol de campo. Atuou também pelo Saad, São Paulo, Grêmio Rayo Vallecano e Vasco. Com o Flamengo/Marinha, conquistou um Campeonato Carioca e o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, ambos em 2016. Pela Seleção Brasileira de Futebol Feminino disputou os Jogos Pan-americanos de 2003 e de 2007, sendo campeã em 2007 ao vencer os Estados Unidos da América. Participou dos Jogos Olímpicos de 1996, 2000, 2004 e 2008. Conquistou a medalha de prata nas duas últimas ocasiões, perdendo as finais para os Estados Unidos[3]. Disputou também as Copas do Mundo de 1999, 2003 e 2007, sendo que desta última foi vice-campeã, a melhor colocação da seleção brasileira feminina em mundiais. Na partida final o Brasil perdeu para a Alemanha.
FUTEBOL FEMININO NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Professor de Educação Física / Mestre em Ciência da Informação
De uns anos para cá, têm-se buscado o resgate das práticas esportivas praticadas pelas mulheres, sendo que, atualmente, a memória do futebol feminino vem recebendo atenção, através do trabalho da pesquisadora Silvana Goellner1. Nossa contribuição: encontramos uma primeira referencia sobre o futebol feminino no ano de 1943, publicada em O Combate, edição de 26 de maio, mas não se refere ao futebol maranhense:
Em A Pacotilha, de 18 de fevereiro de 1954, era anunciado a realização de uma partida de “Futebol Feminino na Fabril”; porém trata-se de uma partida amistosa, entre as equipes do Girassol e do Sultão, dois clubes carnavalescos, que seria disputada entre os membros da diretoria e alguns simpatizantes torcedores, em que os “brotinhos” deveriam participar vestidos com trajes femininos, sendo proibido retirar as máscaras... não se tratava, evidentemente, de um jogo entre mulheres...
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Silvana Vilodre Goellner - Licenciada em Educação Física pela UFSM, mestre em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS, doutora em Educação pela UNICAMP e pós-doutora pela Faculdade do Desporto da Universidade do Porto (Portugal). Professora titular da UFRGS. Atua como professora colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano (UFRGS). Foi coordenadora do Centro de Memória do Esporte da ESEF/UFRGS (03/2000 a 05/2019). Editora da Revista Brasileira de Ciências do Esporte (2005-2007) e da Revista Movimento (2003-2005). Foi coordenadora do Grupo Temático Gênero e Ciências do Esporte, do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (2013-2015) e do Simpósio Temático "Gênero e Praticas corporais e esportivas" do Seminário Internacional Fazendo Gênero. Integra o coletivo Guerreiras Project. Curadora das exposições "Futebol e Mulheres no País da Copa de 2014" e "Paisagens da memória: cidade e corpos em movimento" realizadas em Porto Alegre. Co-curadora das exposições "Visibilidade para o Futebol Feminino" e "Contra-Ataque: as mulheres do Futebol" realizadas no Museu do Futebol em 2015 e 2019 respectivamente. É vice-coordenadora do GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte,Cultura e História e Coordenadora, juntamente com David Wood (Inglaterra) e Verónica Moreira (Argentina) da Rede de Pesquisa sobre Futebol de Mulheres na América Latina. Tem experiência na área de educação física, com ênfase em história e gênero atuando principalmente nos seguintes temas: corpo, gênero, história do corpo e da educação física e esportes, futebol e mulheres, documentação e informação e memória.
A 02 de junho de 1959, em A Pacotilha, reportagem sobre uma esportista carioca, Marly Gomes, do Fluminense, onde jogava vôlei e basquete, de que gostaria de participar de um time de futebol feminino. Em entrevista, perguntada se era contra ou a favor da participação da mulher no futebol, respondeu que “tinha pena de quem pretenda liderar a participação da mulher no futebol”. 2 Em seguida, disse ser favorável, desde que profissionalizado, lembrando das restrições à participação da mulher no Basquete, e hoje é um dos esportes favoritos do público, com ampla aceitação. No dia 28 de outubro de 1959 é anunciado o primeiro jogo de futebol feminino no estado do Maranhão, iniciativa de Rangel Cavalcanti e Pedro Santos, em benefício da Casa do Estudante do Maranhão. Vinham insistindo na realização desse jogo, até que finalmente foram atendidos, e autorizados. Os dois promotores do evento ficaram de apresentar as atletas na quinta-feira seguinte, recebendo total apoio da Federação Maranhense de Desportos; as equipes do América – presidida por Nagib Feres – e do Sampaio Correa – presidida por Ronald Carvalho – foram procuradas para enprestar suas cores, e tiveram ampla recepção. O chefe de policia garantiu total apoio e garantia de realização do evento. Em 02 de maio de 1960, reportagem sobre a realização de uma partida de futebol feminino entre o Esporte Clube Anilense e o Esporte Clube Aurora, no estádio São Geraldo, no Anil. A vitória, por 3x0, foi do E.C.A., orientado por Delgado, e os gols assinalados por Paula Cota e Norma. Em setembro de 1960, nova partida entre os dois clubes anilenses. A 16 de dezembro, novo confronto. Pacotilha : O Globo (MA) - 1949 a 1962 - DocReader Web (bn.br)
O futebol feminino começou efetivamente, no Maranhão, no bairro do Anil, com o surgimento de duas equipes, o Anilense e o Aurora. Os confrontos registrados pela imprensa, nos anos seguintes, se referiam apenas à essas duas equipes. Quando outras equipes começaram a surgir, como a do America, foram formadas por jogadoras daquele bairro.
COMEÇA SÁBADO (2) A COPA DO BRASIL DE FUTEBOL FEMININO E O INTERNACIONAL DA CIDADE OPERÁRIA É O REPRESENTANTE MARANHENSE.
COPA DO BRASIL DE FUTEBOL FEMININO 2013.
Time do Internacional da Cidade Operária. Começa sábado (2) no Estádio Municipal Nhozinho Santos a Copa do Brasil de Futebol Feminino, o nosso representante é o Internacional da Cidade operária (FOTO), que vem com força total, a equipe treino no ultimo sábado contra a equipe da Aclem e mostrou como vem a equipe para este ano. Assis Araujo (assisaraujoesporteamador.blogspot.com)
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Pacotilha : O Globo (MA) - 1949 a 1962 - DocReader Web (bn.br)
RECORTES & MEMÓRIAS DO ESPORTE NO MARANHÃO A PACOTILHA, 13 DE ABRIL DE 1918
Em A Pacotilha do dia 25 de abril de 1918
REI ZULU, MONTILLA E MMA (2017) HAMILTON RAPOSO
Escrevi este texto em 2017 e posto hoje como homenagem ao lutador da vida o REI ZULU. Não há como ficar indiferente a grave contusão de Anderson Silva. O cara representa ou tem o perfil do brasileiro simples, negro, pobre e vitorioso. Devo fazer uma ressalva, admirar o homem Anderson Silva é muito diferente do que admirar o lutador de MMA. Não gosto de MMA e não a considero como esporte. Sou do tempo do telecath Montilla. Meus ídolos não eram desfigurados e não transmitiam a sensação de violência. Ted Boy Marino era o galã do telecath, depois de lutador virou palhaço na primeira versão dos Trapalhões. Tinha o Verdugo e uma série de lutadores, todos muito bem caracterizados, representando o bem e o mal, mocinhos e malvados. As lutas eram exibidas no horário nobre da televisão, não tinha fratura, não tinha sangue. Todos se deliciavam com as tesouras voadoras, imobilizações e saltos acrobáticos. Tudo era diversão, alegria e fantasia. Um circo televisivo! O patrocinador do evento era o Rum Montilla, uma bebida alcoólica de péssima qualidade, capaz de provocar a pior das ressacas e induzir da alegria ou o inferno. Teve aqui em São Luís um pico máximo de consumo da bebida, o período de carnaval da década de 1960 a 1970, era a bebida que embalava as matinais carnavalescas do Grêmio Litero Recreativo Português e ninguém da minha geração ficou isento de um porre e de uma ressaca provocado pelo Rum Montilla. Pois bem, o excesso de testosterona nos jovens tupiniquins maranhenses, embalados na onda do telecath, repaginou o telecath com o nome de luta livre, e surgiu o maior e mais completo lutador de todos os tempos: O REI ZULU. Acho ou tenho quase que certeza que o Rei Zulu descenda diretamente de alguma realeza africana. Forte, corajoso, educado, carismático e invencível na arte de trocar socos e pontapés. Rei Zulu não tinha técnico, não tinha treinamento qualificado em nenhuma arte marcial, sabia apenas dá porrada, porém dizia ser especialista no agarra/agarra. Certa vez a TV Mirante exibiu um de seus treinamentos, quando puxava pelo pescoço um imenso pneu de trator. Duvido se Anderson Silva tinha a força suficiente para puxar um pneu de trator pelo pescoço. Outra vez apareceu puxando uma carroça pelas ruas do seu bairro cheia de crianças. Rei Zulu era temido e capaz de vencer qualquer adversário sem desferir qualquer golpe, bastava fazer uma de suas famosas caretas que desconcentrava qualquer um. Suas lutas lotavam ginásios e campos de futebol, tudo sem mídia, sem patrocínio e sem o glamour global. Ninguém sabia o que era MMA. Rei Zulu representa o brasileiro nordestino, o mais forte de todos os brasileiros, o maranhense mais pai d’egua que existe. Um lutador invencível, nada na vida o abateu. Rei Zulu merece o respeito e admiração de todos. O Maranhão deve um imenso favor a este bravo guerreiro da luta pela vida e pela sobrevivência!
A MAGIA DO AMOR3 EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA Realizava-se um Festival de Capoeira. Eles, adeptos, ali se conheceram. Depois do primeiro encontro, vieram outros sucessivamente. Começaram um namoro, onde, mais à frente, no centro de uma roda de capoeira, ele, de joelhos, pediu-lhe em casamento. Agora, comemorava-se novo festival. O mestre distribuía camisetas contendo frases positivas alusivas à capoeira e, inclusive, em homenagem à sua amada. Tudo era muita festa naquele grupo de amigos capoeiristas, que sempre se apoiavam, se solidarizando entre si, valorizando a amizade e a harmonia. Um episódio interessante a ser registrado é que duas frases dessas camisetas refletiam o título de duas crônicas que o mestre houvera lido e gostara muito. Isto despertou o interesse de todo o grupo, que quis saber a que se referia, quando ele então contou, e daí por diante os presentes passaram a ler as crônicas do autor, por terem se identificado também com a sua forma de escrita e respectivas abordagens. Na capoeira, a extraordinária movimentação dos corpos, girando dentro da roda, dando suas cambalhotas e outros saltos, com leveza e elegância é digna de muitos aplausos. Os capoeiristas, ao fazerem sempre os seus jogos, apresentam tudo com a maior elegância, disciplina, alegria e, assim, seguem felizes e levam contentamento a todos os que os assistem. Foi nesse contexto, que o nosso jovem casal entrou na roda e, ajoelhado, ele a pediu em casamento, declarando a sua paixão no ritmo musical da capoeira, prendendo a atenção de todos. Ela ficou muito emocionada com a surpresa e deu o tão sonhado “sim”. Então, um amigo da roda entregou ao pretenso noivo uma caixinha que ele abriu, ainda ajoelhado e lhe mostrou as alianças, colocando uma delas no dedo anelar da noiva. Ela, com lágrimas rolando, fez o mesmo, colocando-lhe a outra aliança. Ele continuava a cantar, comparando a sua noiva a uma ninfa que cantava e o encantava. A música, ele entendia que mexia muito com todos que a ouviam, lembrando que as noivas capoeiristas geralmente cantam e encantam ao sabor do ritmo da dança e se transformam em ninfas na mente dos seus amados. Os presentes, na roda de capoeira que a tudo assistiam, estavam emocionados com o momento. A alegria tomou conta do recinto contagiando a todos; e o espetáculo de capoeira, nesse dia, foi inesquecível. Empolgados, os noivos começaram a trocar ideias de como poderiam realizar o casamento. Certamente teria que ter uma roda de capoeira, com eles ao centro em uma apresentação muito bem ensaiada. Quando ela comentou isso em casa, super animada, a sua avó lhe perguntou: - Filha, como vai dançar capoeira de vestido de noiva? No primeiro pulo todo mundo vai ver o que está por baixo do vestido. - E ela respondeu para a avó, cheia de amor: - A senhora tem toda razão, minha avó. Vou produzir duas roupas e ele também: uma, vestida de noiva, para o SIM, e a outra apropriada para o momento da capoeira. A avó ficou aliviada, pois amava muito essa neta e respeitou a sua opção por um casamento diferente do modelo tradicional. Eis que decidiram casar no cartório e depois iriam se dirigir para um salão de festa em que promoveriam uma bela recepção. Entrariam de forma tradicional no recinto, ao som de berimbaus e violinos. A decoração do salão seria toda de flores brancas e muitas folhagens, retratando a PAZ que o mundo precisa e que tanto os noivos pregavam e valorizavam. Outro ponto importante para eles seria o bolo, que queriam grande e muito belo com um casal de capoeiristas em cima, simulando passos de capoeira. E assim ocorreu, conforme tudo planejado. A entrada dos noivos ficou lindíssima, ele com sua mãe, e ela com um tio muito querido, haja vista que o seu pai já havia falecido, bem como sua mãe. Um mestre capoeirista, muito admirado, se prontificou a dizer algumas palavras, quando os noivos estariam à frente dos convidados e trocariam as alianças de mãos. E assim aconteceu. Durante a cerimônia, esse amigo, citando o Mestre Pastinha, disse a eles: - Não esqueçam que capoeirista não é aquele que sabe movimentar o corpo e, sim, aquele que se deixa movimentar pela alma. E lembrem também das palavras do Mestre Bimba: - "Os valentões são inúteis. Numa guerra não duram muito. Nos lugares realmente perigosos, os verdadeiros duros são os homens cautelosos, que respeitam todo e qualquer ser, desde 3
Colunista Edomir de Oliveira escreve sobre A Magia do Amor, numa roda de capoeira (facetubes.com.br)
um animal, e que levam a sério os seus próprios medos". E continuando, citava: - Nunca esqueçam que sem humildade não serão jamais capoeiristas, mas apenas lutadores de capoeira. Portanto, unam as suas almas, sejam humildes e guerreiros da paz, e apliquem tudo de maravilhoso que a capoeira prega, como a humildade já citada, mas também respeito, união, equilíbrio, disciplina, companheirismo e lealdade. No salão, se encontravam amigos e familiares católicos, protestantes, espíritas, adeptos do candomblé, mas as palavras proferidas pelo Mestre da Capoeira eram universais, de amor e paz, portanto, bem recebidas por todos os adeptos das diferentes religiões presentes no recinto. Representavam, assim, a citação Bíblica de I Pedro 2:17: - Respeitem todas as pessoas, amem os seus irmãos na fé, temam a Deus e respeitem o Imperador. Eis que depois da solenidade, os noivos trocaram de roupa e voltaram vestidos de capoeiristas. E acompanhando a noiva, seguia a sua avó, que também havia trocado a roupa para entrar no ritmo da noiva, sendo a maior surpresa da noite. A avó havia dito a neta que gostaria muito de homenageá-la nesse dia. E, secretamente, a treinaram para tocar o berimbau. E a avozinha foi super disciplinada nos treinos e os colegas ficaram impressionados com a sua evolução. Portanto, quando a avó entrou tocando o berimbau, ocorreu uma sonora salva de palmas. Antes do início da apresentação, a noiva proferiu algumas palavras aos presentes: - Amo a capoeira e tudo que ela proporcionou na minha vida. Eu era muito tímida e ela me ajudou na interação social, desenvolveu a minha força corporal, mantendo-me em forma, aumentando a minha autoestima e melhorando a minha confiança. E, certamente, se apresenta para mim como um verdadeiro antídoto no combate ao estresse e ansiedade, além de ter me estimulado a desenvolver valores muito especiais. E o mais importante, é que foi na capoeira que encontrei o meu grande amor, em que espero fazê-lo feliz pelo resto de nossas vidas. - O noivo a levantou e lhe deu um beijo apaixonado em que demonstrava que gestos, às vezes, podem falar mais que palavras. Todos aplaudiram muito e os berimbaus, atabaques e palmas começaram a soar com uma animação jamais vista naquele salão. A vovó estava em um momento de felicidade plena com o berimbau na mão, cheia de orgulho da neta que já se apresentava na roda com o seu amado. Mas a surpresa não parava por aí. Um sobrinho de sete anos do noivo também treinou muito antes do casamento, para lindamente e cheio de empolgação, se apresentar. Quando entrou, teve um coro de “Ohhh, que lindo’!!, e ele, muito entusiasmado, deu o seu melhor, outro ponto áureo da festa. Virou ídolo das crianças presentes, onde várias diziam aos pais: - Mãe, me matricula na capoeira??; - Pai, quero aprender capoeira para ser melhor do que ele. Ahh, a inocente competição das crianças já ali se apresentava. Mas o melhor foi outra senhora de 77 anos que disse ao marido: - vou aprender a tocar berimbau, pois achei o máximo a avó da noiva. E o marido: vamos ver, ok?? E ela: - ver o quê?? Na 2a-feira irei iniciar. E o marido resignado diz: -como sei que quando você mete uma coisa na cabeça ninguém tira, então lhe apoiarei e irei com você. Quem sabe aprendo o atabaque-?? E assim, a festa entrou pela noite. Muito astral, alegria e respeito às diferenças religiosas. Após a roda de capoeira, uma banda excelente iniciou tocando músicas dos anos 60, 70, 80 e 90. Ninguém conseguia ficar parado muito tempo em suas cadeiras, pois o som estimulava os convidados a irem para o salão. A vovó não parava de dançar, deixando todos impressionados com o seu condicionamento físico. Sabe aquele casal da melhor idade, cuja mulher queria aprender a tocar berimbau? Deu um show de dança e foi imensamente aplaudido. E eis que ela se vira para o marido: - Mas na dança sou melhor que a avó da noiva, né?? Ahh novamente a competição inerente ao ser humano!!. E ela recebeu, como resposta, um beijo apaixonado do marido dizendo ao seu ouvido: Para mim, você é a melhor dançarina do mundo-!! E continuavam a flutuar pelo salão. Passou-se muito e muitos anos, mas o casamento dos capoeiristas que construíram uma família muito linda de três filhos, continuava a ser lembrado como um feliz e respeitoso acontecimento. Invoca-se aqui o Salmos 118: 1 – Dai graças ao Senhor porque ele é bom e sua benignidade dura para sempre.
CAPOEIRA NO/DO MARANHÃO: UMA HISTÓRIA/MEMÓRIA CONTRADITÓRIA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Poética Brasileira Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Licenciado em Educação Física / Mestre em Ciência da Informação O Mestre Edomir, da Academia Poética Brasileira4, escreve artigo em que a Capoeira aparece como ‘pano de fundo’, descrevendo a beleza dessa importante manifestação cultural brasileira e, sobretudo, ludovicense/maranhense... Mhario me pede um artigo sobre a mesma Capoeira... em alguns dos comentários na postagem de Edomir, fizeram referencias a meu trabalho no resgate da “Capoeiragem Tradicional Maranhense”, como denomino a Capoeira praticada no Maranhão – a Capoeira do Maranhão!!!! Sim, a Capoeira no Brasil possui as suas vertentes, sendo a mais conhecida delas a bahiana, nas suas características, ou modalidades, de Angola e Regional; na Bahia, além dessas duas – e pouca (re)conhecida , existe a do Recôncavo... Mas temos também, como das mais antigas, em sua manifestação, a Capoeiragem carioca – tão bem descrita pelo Mestre do Quilombo do Leblon André Lacé Lopes – quando de seu resgate, em especial a Capoeira de Sinhozinho e de Mestre Zuma, e, para espanto dos maranhenses, tem como um de seus precursores nada menos que Coelho Neto: sim! O ‘nosso’ Coelho Neto, reconhecido, pela Federação Internacional da Capoeira – FICA – como um dos precursores, ao lado de Zuma, Sinhozinho, Bimba e Pastinha. No Recife, veio dar no frevo... E em São Luís? A Capoeiragem – prefiro esse termo: luta dramática de rua!!! Na definição de André Lacé – é tão, ou mais, antiga quanto a carioca, a bahiana, ou a pernambucana!!! Os primeiros registros a dão como surgida no Rio de Janeiro no final dos 1700, e aparecendo, a partir dos 1800 na Bahia (Salvador e Recôncavo), no próprio Rio de Janeiro, em Recife, e em São Luís... Existem registros de sua prática próximo ao Palácio do Governo nos anos 1820, conforme jornais da época, e o informe de que há muito era praticada no interior e na periferia. Abrindo um parênteses, num dos Congressos Brasileiros de História dos Esportes, Educação Física e Lazer, ainda no inicio dos anos 2000 – Ponta Grossa, 2004 – apresentei um trabalho sobre a Capoeiragem do Maranhão; na plateia, Lamartine da Costa e um outro professor, depois soube baiano. Logo mais à tarde, a abertura oficial, e a Palestra magna, de abertura, seria dada pelo Professor Catedrático de Capoeira da Universidade de Coimbra!!! Paulo Coelho – não ‘aquele’ Paulo Coelho... – e começou falando: minha tese de doutorado, na Universidade de Coimbra, que possibilitou meu ingresso como Catedrático naquela Universidade portuguesa foi colocada por terra agora pela manhã, na apresentação do professor maranhense!!! A capoeira no Maranhão é tão antiga quanto a da Bahia e a do Rio de Janeiro ou Pernambuco... A memória registra que a Capoeira no Maranhão teria surgido, ou implantada, no final dos anos 1950/60 por dois capoeiristas: o primeiro, maranhense, escafandrista da Marinha, que veio para a construção do Porto do Itaqui, procedente do Rio de Janeiro – Roberval Serejo; o outro, o nosso Mestre Sapo, chegado logo após. Só que aqui, ambos já encontraram as rodas do Mestre Diniz, acontecidas na Praça Deodoro... Mestre Diniz aprendera com um tio seu, e via os movimentos dos carregadores no Cais da Sagração, em seus momentos de folga, quando vinha ao centro da cidade: praticavam a ‘carioca’... “Carioca” é uma denominação que a Capoeira recebeu em São Luís e em algumas cidades do Maranhão, onde o tráfico negreiro foi intenso, em especial após o 1835. Encontramos essas referencias em cidades como Cururupu, e em quase toda a Baixada; em Rosário, em Codó, assim como encontramos, no Maranhão, em
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Colunista Edomir de Oliveira escreve sobre A Magia do Amor, numa roda de capoeira (facetubes.com.br)
1874, uma postura municipal proibindo o ‘jogo da capoeira ou carioca’ bem antes da legislação de 1890, que a criminalizou, em todo o território nacional. Quando se fala em tráfico negreiro imagina-se que seja a ‘diáspora forçada’ a partir da África; mas não, havia intenso tráfico interprovincial também; quando da expansão econômica do Maranhão naquelas primeiras décadas dos 1800, muitos escravos provenientes do Rio de Janeiro foram importados por latifundiários maranhenses, em especial para as plantações da Baixada; daí, talvez, aquela dança-luta que apresentavam ser chamada de ‘carioca1... Mas no Maranhão, dentre as ‘capoeiras primitivas’ – assim as denomino – encontramos a famosa ‘Punga” – registrada por Câmara Cascudo como originária do Maranhão e só aqui praticada; depois da criminalização no ano de 1890, passamos a conviver com a ‘punga’ praticada por mulheres, dentro do Tambor de Crioula. Mas a ‘punga dos homens’ ainda é tradição em regiões remanescentes quilombolas, como em Rosário e, mais recentemente, resgatada em São Luís, pelos Mestre Patinho, Marco Aurélio, dentro do Tambor de Mestre Felipe... a Punga dos Homens é uma capoeira primitiva!!! Além da ‘Angola”, da “Regional”, da “Contemporânea”, temos a “Tradicional Maranhense”!!! Parabéns, Edomir e Mhario, por essa bela crônica envolvendo a ‘nossa capoeiragem’: é assim mesmo, uma ‘luta dramática’ de vida...
HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO
“ARCHIDIOECESIS SANCTI LUDOVICI IN MARAGNANO”: ANOTAÇÕES PARA O SEU CENTENÁRIO
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA. MESTRE EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
DELZUITE DANTAS BRITO VAZ C.E.M. LICEU MARANHENSE LICENCIADA EM ESTUDOS SOCIAIS LICENCIADA EM HISTÓRIA ESPECIALISTA EM METODOLOGIA DO ENSINO
Neste ano de 2021, no 02 de dezembro, se completará o centenário da Elevação da Diocese de São Luís do Maranhão à Arquidiocese, pelo decreto da Sagrada Congregação Consistorial; e, no ano de 2022, a 10 de fevereiro - pela bula Rationi congruit de Pio XI5 -, à sede metropolitana6. Pertence ao Conselho Episcopal Regional Nordeste V da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
PARTE V O ARCEBISPADO - 02 de dezembro de 1921/10 de fevereiro de 1922 Pela Bula “Rationi congruit”, de 10 de fevereiro de 1922, do Papa Pio XI, confirmativa do Secreto Consistorial de Bento XV, datado de 02 de dezembro de 1921, seria o Maranhão elevado a Arcebispado, tendo, como sufragâneos, no Piauí, o Bispado de Teresina e a prelazia de Bom Jesus da Gurgueia, criada por Bula de 18/06/1920, e mais, no Maranhão, a prelazia de S. José de Grajaú. E no futuro, mais dois outros bispados piauienses, criados em 1944: Oeiras e Parnaíba seriam sufragâneos da Metrópole de São Luís, até que passaram a sufragar a de Teresina, quando elevada, em 1952 à dignidade arquiepiscopal. A Prelazia de São José de Grajaú, criada em 1922, deve-se aos capuchinos lombardos, após o massacre de Alto Alegre, no Alto Sertão maranhense e vales dos rios Grajaú, Mearim, Pindaré, Turiaçu e Gurupi, e deu-se quando da elevação do Maranhão em Arcebispado. O Bispado do Maranhão já havia sido reduzido anteriormente, por duas vezes, sendo a primeira em 1719 com a criação d do Pará, e a segunda em 1901, com a do Piauí, esta seria a primeira vez que seria dentro dos limites do próprio Estado. Perderia praticamente a metade de sua extensão: as paróquias de N. do Bonfim de Grajaú, de Santa Cruz de Barra do Corda, de S. Pedro de Alcântara de Carolina, de S. Francisco Xavier de Turiaçu, e de Santa Teresa de Imperatriz e Porto Franco.
5 Pio XI, nascido Ambrogio Damiano Achille Ratti (em latim: Pius PP. XI); (Desio, 31 de maio de 1857 — Vaticano, 10 de fevereiro de 1939), foi o 259º bispo de Roma e Papa da Igreja católica de 1922 até à data da sua morte. A partir de 1929, data do Tratado de Latrão, foi o primeiro soberano do Estado da Cidade do Vaticano. https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Pio_XI 6 http://www.vatican.va/archive/aas/documents/AAS-14-1922-ocr.pdf
D. OTAVIANO PEREIRA DE ALBUQUERQUE – 1923/1936 – só viria a tomar posse solene em São Luís a 28/06/1923. Em 1924 dá-se a instalação da União dos Moços Católicos; 1925, a peregrinação do ano santo a Roma; em 1927, o retorno dos jesuítas. E em 1930, ocorre a chamada revolução de 30, abrindo uma crise na igreja, quando da nomeação do Padre Astolfo Serra, em 1931, como interventor no estado. O Arcebispo se retira do Maranhão (13/04/1931), até sua remoção para Campos (16/12/1935). Felipe Conduru Pacheco governa em seu nome.
DOM CARLOS CARMELO DE VASCONCELOS MOTA – 1936/1944 – Em sua gestão são criadas mais duas circunscrições eclesiásticas dentro do próprio estado: o Bispado de Caxias e a Prelazia de Pinheiro, ambas em 1939.
DOM ADALBERTO SOBRAL – 1947/1951 -; a 08/09/1944 o Cabido Metropolitano provia-a interinamente com a eleição do Conego José Maria Lemercier, que exerceria a função por dois anos e meio. Morre a 24 de maio de 1951.
DOM JOSÉ DELGADO – 1952/1963 -, tomaria posse somente em 03/02/1952; o monsenhor Luis da Cunha Madureira responde pela cúria no período de 31/05/1951 até a posse do novo Arcebispo. Nomeado por ato de Pio XII a 04/09/1951, e tomado posse me 03/02/1952, só receberia o palio episcopal em agosto de 1953. O primeiro bispo auxiliar, D. Otavio Aguiar, é sagrado a 30/01/1956 e é transferido a 17/03/1956; o segundo foi D. Antônio Batista Fragoso efeito a 13/03/1957 e sagrado a 30/06. Realizada a I Conferencia Episcopal da Província Eclesiástica do Maranhão, 25 a 29 de junho de 1952, quando foi feita a proposta de elevação da Diocese de Teresina à dignidade de metrópole, sendo aprovada pela Santa Sé e efeito imediato através da bula ‘quamadmodum insignis’ de 09/08/1952, passando as dioceses e prelazias ao novo Arcebispado já existentes do Piauí: Parnaiba, Oeiras e Gurguéia. Atuou em todas as áreas, em especial na Educação Superior, criando escolas, e a universidade católica, que viria a se constituir o núcleo da atual Universidade Federal do Maranhão. No seu governo foram criadas dezessete novas paróquias, sendo quatro na sede: S. José e S. Pantaleão, N. S. de Fátima, divino Espirito Santo (Floresta) e S. Judas Tadeu (João Paulo); treze no interior: N. S. de Nazaré (D. Pedro), S. Sebastião (Peri Mirim), N. S. Fátima (Vitorino Freire), S. Sebastião (Codó), S. Benedito (do Rio Preto), N. s. da Conceição (Cantanhede), Natividade de \Nossa Senhora (Urbano Santos), São Francisco das Chagas (Bacabal), N. S. dos remédios (Timbiras), N. S. da Conceição (Pirapemas), S. José (Lago da Pedra), s. Sebastião (Matinha), e S. Antônio da Trizidela (Pedreiras). Propôs a criação de mais três dioceses no Maranhão, apenas uma efetivada, pela Bula ‘de Christi fidelium’, de 30/10/1962, do Papa João XXIII, criando a Diocese de Viana, que permaneceria sufragânea da de São Luís, e abrangeria doze municípios da baixada. Criadas as prelazias de S. Antonio de Balsas – 20/12/154, desmembrada do Bispado de Caxias, com quinze municípios -, Carolina – desmembrada da de Grajaú, instituída a 14/01/1958 - e a de Candido Mendes – desmembrada da de Pinheiro, a 16/10/1961, composta de seis municípios.
DOM JOÃO JOSÉ DA MOTA E ALBUQUERQUE - 1964/1984 - nomeado em 28 de abril de 1964, em substituição a Dom José de Medeiros Delgado, Dom Mota foi empossado em 19 de julho seguinte. O arcebispado de Dom Mota aconteceu paralelamente ao regime civil-militar. Em 20 de março de 1984, o Papa João Paulo II aceitou sua renúncia. Dom Mota faleceu aos 74 anos em São Luís. D. Helder Câmara havia sido nomeado Arcebispo do Maranhão e, sem tomar posse, três dias depois, prefere a de Olinda e Recife.
DOM PAULO EDUARDO ANDRADE PONTE - 1984/2005 - Durante o governo de Dom Paulo Ponte o
número de paróquias da Arquidiocese aumentou de 19 para 40, e comunidades religiosas foram acolhidas ou reativadas. O Seminário Santo Antônio foi reativado e ampliado em sua área territorial. Para a formação do clero o sistema de ensino foi remodelado com a fundação do CETEMA (Centro Teológico do Maranhão) hoje, IESMA (Instituto de Estudos Superiores do Maranhão). Com recursos da ADVENIAT construiu o novo palácio episcopal. Com sua aceitação de ofertas ou côngruas oficiais do governo do Maranhão a Catedral passou por reformas consideráveis. Com a sugestão de Dom Xavier Gilles de Maupeou, Dom Paulo Ponte enviou para a Europa alguns padres do clero secular para estudar. Devido questões de saúde e, tendo completado 74 anos Dom Paulo Ponte renunciou ao múnus episcopal no dia 21 de setembro de 2005.
JOSÉ BELISÁRIO DA SILVA –2005/2021 - elevado a Arcebispo em 21 de setembro de 2005 pelo Papa Bento XVI, para a sede metropolitana de São Luís no Maranhão. Tomou posse como Arcebispo de São Luís, no dia 19 de novembro do mesmo ano. DOM
Presbíteros incardinados e residentes Abraão Marques Colins – Rosário - MA; Mestre em Filosofia; Diretor Geral do IESMA. Admilson Sousa de Jesus – São Luís - MA; Conselho Presbiteral; Pároco da Paróquia São João Calábria. Ailton César Alves de Souza – Vitória do Mearim - MA; Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória; Capelão da Polícia Militar do Estado do Maranhão. André Luís Martins Santos – Bacabeira - MA; Reitor do Seminário São João Maria Vianney; Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré; Coordenador da Pastoral Vocacional; Equipe de Formação Inicial. Antônio Carlos da Silva Baldez – Viana - MA; Especialização em Teologia Pastoral; Capelão da Polícia Militar do Estado do Maranhão. Antônio José Ferreira Soares – São Luís - MA; Mestre em Teologia Dogmática; Conselho Presbiteral; Colégio de Consultores; Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo; Professor no IESMA; Equipe de Formação Inicial. Antônio José Ramos Costa – São Luís - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Cachoeira Grande. Ayrton Frank Castro Pinheiro – Viana - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Saúde e Santo Antônio –Axixá e Presidente Juscelino-MA Cláudio Mendes Corrêa – São Luís - MA; Mestre em Liturgia; Pároco da Paróquia Santa Terezinha; Capelão da Polícia Militar do Estado do Maranhão Cláudio Roberto Santos Cruz – Belém - PA; Doutor em Teologia Dogmática; Pároco Solidário da Paróquia de São José do Ribamar; Conselho Presbiteral; Colégio de Consultores; Professor do Curso de Teologia do IESMA; Diretor da Rádio Educadora e Presidente da Diretoria Executiva da Fundação Dom Delgado. Clemilton Luís Azevedo de Moraes – São Luís - MA; Mestre em Teologia Moral; Reitor do Seminário Santo Antônio; Vigário Paroquial da Paróquia São João Batista (Centro). Crizantonio da Conceição Silva – Imperatriz-MA; Coordenador Arquidiocesano de Pastoral; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Penha; Conselho Presbiteral e Capelão do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Maranhão. Edson Gusmão Nunes – São Luís - MA; Pároco da Paróquia Santo Amaro - Santo Amaro do Maranhão. Enildo Cruz Dias – São Luís - MA; bacharel em Fonoaudiologia. Eudo Costa Ferreira Filho – Penalva - MA; Pároco Solidário da Paróquia São José do Ribamar. Everaldo Santos Araújo – Dom Pedro - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora dos Remédios; Conselho Presbiteral. Félix Inglez Filho – Em tratamento. Flávio Marques Colins – Rosário - MA; Mestre em Sagrada Escritura; Professor no IESMA; Administrador Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré; Equipe de Formação Inicial. Gutemberg de Sousa Feitosa – Codó - MA; bacharel em Jornalismo; Pároco Solidário da Paróquia de São José do Ribamar; Diretor da Rádio Educadora; Diretor do Jornal do Maranhão; Vice-presidente da Diretoria Executiva da Fundação Dom Delgado. Hamilton Sobreira Silva – Brasília - DF; Pároco da Paróquia do Espírito Santo do Alto Timbira; Conselho Presbiteral. Heitor Waldimir Franklin da Costa de Morais – São Luís - MA; Pároco da Paróquia São João Batista-Centro. Hélio de Jesus dos Anjos Pinto – Vitória do Mearim - MA; Vigário Paroquial da Paróquia de São José e São Pantaleão; Assessor da Pastoral dos Surdos. Irailson Dias Barbosa – Icatu - MA; Pároco Solidário de São José de Ribamar. Ivanildo Barros – Cajari - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, de Rosário; Conselho Presbiteral; Colégio de Consultores; Coordenador dos presbíteros da Arquidiocese de São Luís do Maranhão. Jadson Borba e Silva – Garanhuns - PE; Pároco da Paróquia São João Batista de Vinhais; Professor do IESMA Jânio Carvalho dos Reis – Sítio Novo - MA; bacharel em Psicologia; Pároco da Paróquia Sant’Ana. João Alberto Gomes – Emérito. João Benedito Campos Abreu – Viana - MA; Pároco da Paróquia de Santo Antônio do Parque Vitória. João Dias Rezende Filho – São Luís - MA; Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Vila São Luís. José Bráulio Sousa Ayres – Penalva - MA; Doutor em Teologia; Pároco da Paróquia da Santíssima Trindade; Conselho Presbiteral; Colégio de Consultores. José Raimundo Trindade – Matinha - MA; Mestre em Comunicação; Pároco da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida da Foz do Rio Anil. José Ribamar dos Santos Vieira – Humberto de Campos - MA; Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré. José Ribamar Nascimento – São Luís - MA; Doutor em Teologia Moral; Pároco da Paróquia Divino Espírito Santo da Liberdade. Jozimar Pinheiro Guimarães – São Luís - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida do Munim. José Robério de Lima – Quixeramobim – CE; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição -Coroadinho
Leonardo Hellmann – SC; Administrador Paroquial da Paróquia Sagrada Família. Lindomar Lima Santos – Axixá - MA; Pároco da Paróquia da Imaculada Conceição da Bem Aventurada Virgem, Bacabeira - MA Luís Carlos Andrade Macedo – Tufilândia - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Icatu. Luís Henrique Reis Costa – São Luís - MA; Pároco da Paróquia São Francisco e Santa Clara. Manoel Assunção Nunes Filho – Paço do Lumiar - MA; Pároco da Paróquia São José e São Pantaleão. Máxemo de Jesus dos Santos – Cachoeira Grande - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe. Marcos André dos Prazeres Lima – São Luís - MA. Pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo, Raposa - MA Olívio Majdalani de Melo – Salvador-BA; Pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário do bairro João de Deus. Orlando Cunha Ramos – Humberto de Campos - MA; Pároco da Paróquia de São Cristóvão. Orlando Cutrim Moura – Viana - MA; Pároco da Paróquia Santa Rita, de Santa Rita. Osvaldo Marinho Fernandes – Vitória do Mearim – MA. Paulo Henrique Carvalho Santos – São Luís - MA; Capelão da Polícia Militar do Estado do Maranhão.. Paulo Sérgio Mendonça Cutrim –PiraíMatinha-MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Luz. Raimundo Gomes Meireles – Itapecuru-Mirim - MA; Doutor em Direito Canônico e Bacharel em Direito Civil; Chanceler da Cúria Arquidiocesana; Juiz da Câmara Eclesiática, Vigário Paroquial da Paróquia Santíssima Trindade; Capelão do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão; Conselho Presbiteral; Colégio de Consultores. Reginaldo da Costa Pereira – Bacabal - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, do bairro de Fátima. Ricardo João Cordeiro Moreira – Belém - PA; Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, do Bequimão. Roney Rocha Carvalho – São Luís - MA; bacharel em Arquitetura; Pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, do Moropoia. Sérgio Henrique Garcia de Braga Mello – RJ; Mestre em Sagrada Escritura; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem. Presbíteros incardinados não residentes Cláuber Pereira Lima – Pedreiras-MA; Mestre em Teologia; Diocese de CalgaryCanadá desde 18.06.1999. 4747- 30th Street S. E. Calgary, AB T2B 3K5 – Alberta Canadá E-mail: clauberlima@gmail.com José Ribamar Garcia de Sousa – Cachoeira/Morros-MA; Capelania do Exército desde abril de 2010. pejgarcia@bol.com.br Osvaldo de Freitas Lopes – Arquidiocese de Olinda-Recife desde outubro de 2013. 02.09.1969 22.12.2001 04 Osvaldo Marinho Fernandes – Vitória do Mearim – MA; Diocese de Viana - MA desde 26.12.2017
Presbíteros não incardinados, mas residentes Auriélio Martins – Diocese de Bacabal; Reitor do Seminário Dom Pascásio André Nivaldo – Diocese de Brejo-MA Reitor do Seminário Divino Salvador Clédison Reis Lima – Comunidade Católica Shalom Edson Geraldo Pimenta – Diocese de Belo Horizonte; Administrador Paroquial da Paróquia São José do Bonfim. Francisco de Assis da Silva Lima – Diocese de Coroatá - MA; Reitor do Seminário Nossa Senhora da Piedade. Flávio Lazzarin – Presbítero Fidei Donum da Diocese de Mântua/Coroatá. Franco Ausania – Fidei Donum da Diocese de Balsas – MA Francisco Galdino Freire – Diocese de Sobral - CE; Capelão do Colégio São Vicente de Paulo. Giuseppe Luigi Spiga – Fidei Donum Cagliari/Viana; Reitor do Seminário São Bonifácio. Ivanildo Oliveira Almeida – Diocese de Imperatriz; Reitor do Seminário Bom Pastor.
O REINO DO SOL: O achado do brasão da França Equinocial EUGES LIMA
Era um sonho da França, colonizar terras no Novo Mundo, a América. Durante muito tempo, os franceses disputaram com Portugal o Brasil. Francisco I, rei da França, nunca reconheceu os termos do Tratado de Tordesilhas (1494), que dividia a América entre Portugal e Espanha. Nos séculos seguintes, vários súditos do rei da França, tentaram criar colônias no Brasil. A França Equinocial foi uma dessas tentativas no Maranhão, ocorrida nos primeiros decênios do século XVII. Claude d’Abbeville em sua “História da Missão dos Padres Capuchinhos e Terras Circunvizinhas”, publicada em Paris, dois anos depois do seu retorno do Maranhão, em 1614, chamou essas novas terras situadas na América de “França Equinocial” ou “Nova França Equinocial”, por estarem localizadas além da linha Equinocial (linha do equador), na região dos trópicos. Em 2014, o Blog “Brasiliana Heráldica”, editado por Leonardo Piccioni, fez um interessantíssimo achado, cujo teor passou despercebido durante todas essas décadas, diria, durante séculos por historiadores e estudiosos do assunto. Embora bem conhecida essa obra do Padre Capuchinho, tendo diversas reedições, traduções. Anotada, prefaciada, comentada e citada em inúmeros textos, este surpreendente achado, demonstra que esse livro, guarda ainda em seu bojo, vários “segredos” e “enigmas” a ser desvendados sobre a “Nova França Equinocial”. A descoberta que mencionamos acima é o “brasão da França Equinocial”, que foi publicado no frontispício da “História da Missão dos Padres Capuchinhos”, sendo feito referência a ele no prefácio dessa obra. De forma muito perspicaz, Piccioni, percebeu que no frontispício desse livro, havia dois brasões nos cantos superiores, um do lado direito e outro do lado esquerdo. O do lado esquerdo identificou facilmente, “bem óbvio, era o do Reino da França, à esquerda, timbrado com a coroa real da França e cercado pelos colares da Ordem de São Miguel e da Ordem do Espírito Santo”. Porém o outro brasão, do canto oposto, que ele chamou de “misterioso”, não conseguiu identificar a principio. Mas lendo atentamente o prefácio da obra, encontrou o que estava procurando, as referências e descrição dos elementos a respeito do misterioso brasão que estava estampado no canto direito, sendo atribuído à França Equinocial, o reino do sol, como podemos verificar claramente nesses fragmentos abaixo do livro “História da Missão dos padres Capuchinhos”: " Não és tu o Reino dos Lírios, ó França? E não adornam esses lírios o Reino de França? Do mesmo modo essa França Equinocial é, entre os demais, o Reino do Sol, e o sol o embeleza especialmente, pois daí não se retira jamais e aí se deita perpetuamente. Porque, pois, não colocar no frontispício deste livro: Indis sol splendet, splendescunt lilia Gallis [O Sol da Índia brilha, or lírios franceses brilham]"(ABBEVILLE, 1975, p. 72).
" Esse grande Deus, ó França, honrou-te dando-te por armas de teu Reino três belos lírios em campo azul; portanto não lhe desagradará que se dê a esse reino da nova França Equinocial um sol de ouro fino em campo de azul, a fim de que a unidade da Essência Divina figure misteriosamente no escudo assim com a trindade das três pessoas divinas se representa em tuas armas. E assim como reconheces que o esplendor de teus lírios depende do esplender de Deus, verdadeiro sol de justiça, doravante terás também a alegria de veres o esplendor desse belo sol da França Equinocial brilhar em virtude da beleza de teus lírios. E terás a alegria não só de contemplar o teu rei como o rei do Sol, ele que já é o rei dos lírios, mas ainda como o verdadeiro hieróglifo da Majestade Divina." (ABBEVILLE,1975, p. 72).
DE TIOS E DE TIA CERES COSTA FERNANDES Não sei há quantos anos começou essa incrível baboseira de as crianças passarem a chamar de tias primeiro às professoras do jardim da infância (o nome não é mais esse, mas acho mais poético assim), depois às outras professoras, por fim a todas as mulheres de variados graus de proximidade. O doce vocábulo tia perdeu o privilégio de nomear carinhosamente a irmã do pai ou da mãe e pessoas queridas, de mais idade, com um vago grau de parentesco na família ou, ainda, aquelas com a patente legitimamente adquirida por longa amizade. O uso desgastou a palavra, e o que era doce enjoou. De enjoado a pejorativo foi meio passo, hoje, serve até para flanelinhas nos darem irritantes e, quase sempre, errôneas instruções: Encosta mais pra direita, tia. De par com a cambulhada de tias, vieram os tios. E todo amigo do pai ou da mãe virou tio. E não acaba aí o infortúnio da palavrinha, agora, por efeito passageiro do sucesso de mais uma novela global, ser chamado de tio está ganhando uma conotação maliciosa, a do homem maduro que conquista, não a poder de dinheiro – que assim não tem graça – mas pelo poder da sedução, embora, na história em pauta, não se saiba bem quem seduz quem. Depois do desafortunado Tio da Sukita, o da propaganda de sucesso de um certo refrigerante – de novo a mídia! – em que o conquistador maduro, por mais que tente, é sempre rejeitado pela ninfeta –, surge na telinha um tio sedutor que anda enchendo de caraminholas o ego da turma masculina de meia idade para cima. Estão todos se achando “o tio”, aquele da novela, nada menos que o Edson Celulari, a quem rotular de coroa é pura maldade. E, conforme observo, o devaneio malicioso assola a faixa dos coroas, desde os jovens e bem apanhados até os gordos, magros, barrigudinhos ou caquéticos. Tem um ditado aí, por sinal antigo - ai meu Deus não lembro de nem um novo que diga o mesmo -, que reza, pretensão e água benta cada um toma o quanto quer, acho que é isso. Ou bonito e gostoso é quem se considera. Pronto, lembrei. Esse é mais novo. E isso me traz de volta à mente uma conversa com o poeta e cronista Affonso Romano de Sant’Anna, na época em que tive a sorte de tê-lo como meu professor, na PUC. Falávamos, então, sobre crônicas, e comentei a sua, já famosa, A Mulher Madura. Texto belíssimo, de pura prosa poética, que fez um tremendo sucesso entre o público leitor feminino no final dos anos oitenta, a ponto de tornar-se um ícone das mulheres ditas maduras. Affonso revelou, divertido, que escreveu a crônica pensando na mulher entre os trinta e quarenta anos de idade, quase a mulher de Balzac. E a descreve no texto: uma mulher, não mais uma jovenzinha, mas com todos os seus encantos preservados e burilados por uma suave aura de maturidade. Surpreendeu-se depois ao ser abordado seguidamente por mulheres de variadas idades, de jovens levemente senhoras a senhoras de verdade, de matronas a anciãs, a lhe agradecerem efusivamente pela defesa dos encantos da mulher madura que todas se consideravam. Assim é também com os tios de todas as idades e formas físicas que passaram a fazer caras e bocas para as ninfetas, achando-se páreo duro para o Edson Celulari. Ocorre-me agora que a xaroposa e confusa novela América, de rumo perdido como o pais homônimo, é capaz de, enquanto agride nosso discernimento, fazer um bem ao nosso léxico. Sabiam que já há mãe proibindo a filha mocinha de chamar de tio os amigos do pai? Que bom! Quem sabe assim, na defesa da moral e dos bons costumes, não morre esse modismo tolo e infantil de inventar parentesco. Um pedido a Glória Perez, crie também uma coroa devoradora de meninos chamada de tia pelos “sobrinhos”, pra ver se matamos dois coelhos de uma só cajadada ou no linguajar midiático: compre um e leve dois. (Texto publicado em 2005. Como vemos nada mudou, só o nome da novela)
VERGONHA E RENÚNCIA - (ONDE ESTÁ A VERDADEIRA PROSTITUIÇÃO?) EDMILSON SANCHES
Há exatamente 54 anos, no dia 9 de maio de 1967, um prefeito imperatrizense renunciava ao cargo. Eurípedes Bernardino Bezerra, o Euripão, coronel da Polícia Militar, que assumira em 04 de fevereiro de 1967, entregou o cargo, depois de ter tentado mudar a Farra Velha (zona de meretrício) da rua Sousa Lima, no centro de Imperatriz, para o lugar chamado Cacau, nas proximidades do Departamento Nacional de Estradas e Rodagens - DNER). Ao saberem disso, os vereadores foram contra. E deu no que deu. No lugar de Euripão, tomou posse no cargo de prefeito o vice, Raimundo Sousa e Silva, que governou até 31 de janeiro de 1970. A história poderia terminar aí, mas um depoimento do próprio Euripão, em 2001, ao professor e pesquisador Leopoldo Gil Dulcio Vaz, revela que a prostituição verdadeira e vergonhosa não era aquela das mulheres de difícil vida da tradicional "escolinha" da Farra Velha. A prostituição -- dessa de caras cínicas, caras lavadas e almas sujas -- estava no Poder Legislativo. Vereadores souberam que foram destinados 42 milhões de cruzeiros novos para Imperatriz (o cruzeiro novo era a moeda que acabara de ser instituída no Brasil, em 13 de fevereiro de 1967). Aqueles milhões, claro, eram para o prefeito fazer as melhorias necessárias na Imperatriz daqueles tempos. Conta o prefeito Eurípedes Bernardino Bezerra em entrevista ao professor Leopoldo Gil: "[...] eles [os vereadores] vieram em cima de mim, tipo urubu atrás da carniça. Aí eu disse: ' -- Esse dinheiro não é nosso, não pode ser.' [...]" Contabiliza e conta Euripão que, "no total", dos 42 milhões, os vereadores "queriam 24 milhões para eles". E qual foi a reação do prefeito: "Eu fiquei tão enojado com aquilo... Vocês sabem de uma coisa?" "Cansado" -continua Euripão --, "peguei a máquina de escrever"... ...e eis um pouco do que o prefeito escreveu em sua carta de renúncia: "Senhores vereadores, minha presença aqui [em Imperatriz; Euripão tinha vindo de São Luís] representou um cachorro fiel, encarregado de uma carniça gorda. Os urubus famintos não permitiram que eu zelasse até o fim [...]"
E, após mencionar os "instintos podres e imundos" dos vereadores", "cumprimento do dever" etc., assinou a carta e, encerra ele: " -- Adeus!...Vim embora." * Será se hoje ainda existe "prostituição", "urubus atrás de carniça" e outros "instintos podres e imundos" nas excelsas casas legislativas local, municipais, estaduais e federais, em Imperatriz, no Maranhão, no Brasil? Será? Um resumo da biografia do ex-prefeito Euripão, que consta da "Enciclopédia de Imperatriz", que escrevi, lançada em março de 2003: EURÍPEDES BERNARDINO BEZERRA. Coronel da Polícia Militar do Maranhão e político. Prefeito de Imperatriz, renunciou pouco tempo depois da posse. Governou no período de 4 de fevereiro a 9 de maio de 1967. Nasceu em 17 de dezembro de 1915, no povoado Curador, antigo distrito de Barra do Corda (MA) e hoje Presidente Dutra (MA). Sucedeu ao interventor federal “Doutorzinho”*. Chegou a Imperatriz como delegado de polícia, em 9 de julho de 1962, nomeado pelo governador Newton Belo. Candidatou-se a prefeito de Imperatriz, em 1966, a convite de José Sarney, governador do Maranhão, e Henrique de La Rocque. O concorrente era Manoel Ribeiro*, que venceu a eleição mas morreu antes de assumir. Eurípedes recebeu 1.254 votos e perdeu o pleito para Manoel Ribeiro por uma diferença de 12 votos. Recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e, depois, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A dois dias do julgamento, Manoel Ribeiro morreu e o TRE decidiu diplomar Eurípedes, o segundo colocado, em 4 de fevereiro de 1967, quando tomou posse. Na sua administração, deu início à abertura do bairro Nova Imperatriz e construiu o primeiro meio-fio da avenida Getúlio Vargas, até o Entroncamento. Retornou a São Luís e assumiu, no governo José Sarney, o cargo de assistente militar de fronteiras. Foi nomeado auditor fiscal do Estado em 14 de dezembro de 1969. Passou a coronel da reserva não remunerada. Fotos: Eurípedes Bernardino Bezerra.
DA FUNDAÇÃO DO INSTITUTO GEOGRÁFICO, ANTROPOLÓGICO E HISTÓRICO DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Licenciado em Educação Física / Mestre em Ciência da Informação
Aproxima-se o aniversário do IHGM e mais uma vez volto a discutir sobre sua fundação. Esta, que vamos comemorar, se refere àquele fundado em 1925 por Antônio Lopes7: Em 1925, tomei a iniciativa de reunir alguns homens de boa vontade na livraria de Wilson Soares, expondo-lhes a minha ideia de se comemorar o centenário do nascimento de D. Pedro II com a inauguração, nesta capital, de um Instituto de História e Geografia. Os que prestaram apoio à ideia foram: Justo Jansen, Ribeiro do Amaral, José Domingues, Barros e Vasconcelos, Domingos Perdigão, José Pedro Ribeiro, José Abranches de Moura, Arias Cruz, Wilson Soares e José Ferreira Gomes. Mais tarde incorporou-se a esse grupo João Braulino de Carvalho. Ausentes de S. Luís apoiaram calorosamente a ideia Raimundo Lopes, Fran Pacheco, Carlota Carvalho e Antonio Dias, que também foram considerados sócios fundadores do Instituto. (p. 110) A 20 de novembro realizou-se a sessão inicial, sendo apresentado, discutido e votado os estatutos e eleita a diretoria, cujo presidente foi Justo Jansen. José Ribeiro do Amaral foi eleito presidente da assembleia geral. (p. 111) 8. Denominava-se “Instituto de História e Geografia do Maranhão” 9, e tinha como objetivos: (a)O estudo e difusão do conhecimento da história, da geografia, da etnografia, etnologia; e arqueologia, especialmente do Maranhão; (b)O incremento à comemoração dos vultos e fatos notáveis de seu passado; e (c) A conservação de seus monumentos 10. Em agosto de 1926 surgia a “HISTÓRIA E GEOGRAFIA - Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão”, anno I - 1926 – num. 1, julho a setembro, com 97 páginas, contendo ilustrações, e impressa na Typ. Teixeira - São Luiz11. Era seu Diretor Antonio Lopes (da Cunha): Diretoria 1926-1927: Dr. Justo Jansen Ferreira – presidente; Dr. José Domingues da Silva – vice-presidente; Dr. Antonio Lopes da Cunha – secretário-geral; Wilson da Silva Soares – tesoureiro;
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ANTÔNIO LOPES DA CUNHA nasceu na cidade de Viana – Maranhão -, em dia 25 de maio de 1889 e faleceu em São Luís a 29 de novembro de 1950. Filho do desembargador (e futuro governador do Estado) Manuel Lopes da Cunha e D. Maria de Jesus Sousa Lopes da Cunha. Foi o fundador e secretário perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. 8 LOPES DA CUNHA, Antônio. Instituto histórico. In ESTUDOS DIVERSOS. São Luís: SIOGE, 1973. 9 Art. II do Regimento Interno, publicado na REVISTA DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO MARANHÃO, ano I, no. 1, julho a setembro, 1926, p. 61; 10 Art. I do Regimento Interno, publicado na REVISTA DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO MARANHÃO, ano I, no. 1, julho a setembro, 1926, p. 61; 11 HISTÓRIA E GEOGRAFIA- REVISTA TRIMESTRAL DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAPHIA DO MARANHÃO, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926
Ainda foram criadas as seguintes Comissões: de Geografia – José Domingues, Abranches de Moura, Justo Jansen; de História: Ribeiro do Amaral, B. Vasconcelos, Ferreira Gomes; de Bibliografia: Domingos Perdigão, Arias Cruz, José Pedro. Não foram preenchidas 13 vagas de sócio e de 13 de correspondentes. Como se observa, foram criadas 30 cadeiras de sócios efetivos e 30 de correspondentes. Após a nominação de cada sócio efetivo, há uma pequena biografia de cada um com sua produção científico-literária. Dos sócios correspondentes, a indicação do estado onde residem e indicação daqueles que são maranhenses. 12 Já escrevi sobre duas outras entidades, semelhantes, que foram fundadas por aqui: em 186413, e 191814. Quando ainda morava em São Luis [o Visconde de Vieira da Silva] foi um dos fundadores do Partido Constitucional em 1863 (...) Foi nessa época que, juntamente com João da Matta de Moraes Rego, César Augusto Marques, João Vito Vieira da Silva e Torquato Rego, fundou o primeiro Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e, em 1865, dessa vez ao lado de Sotero dos Reis, Francisco Vilhena, Heráclito Graça, Antônio Henriques Leal, Antônio Rego, reunidos no colégio de Humanidades, dirigido por Pedro Nunes Leal, discutiam a formação de agremiações literárias e o futuro da vida cultural da província (...). (BORRALHO, 2010, p. 49; grifamos) 15.
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(in HISTÓRIA E GEOGRAFIA- REVISTA TRIMESTRAL DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAPHIA DO MARANHÃO, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, p. 55 a 59; Ver. Geo. E Hist., ano 2, n. 1, novembro de 1948, p. 148) 13 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. IHGM FUNDADO EM 1864? REVISTA IHGM No. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 61
http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 BORRALHO, José Henrique de Paula. UMA ATHENAS EQUINOCIAL – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império Brasileiro. São Luis: Edfunc, 2010. VIERA DA SILVA, Luis Antonio. HISTÓRIA DA INDEPENDENCIA DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO – 1822/1828. 2 Ed. Rio de Janeiro: Cia Editora Americana, 1972. Coleção São Luis – 4. Edição comemorativa ao Sesquicentenário da Independência do Brasil patrocinada pela SUDEMA. COUTINHO, Milson. FIDALGOS E BARÕES – uma história da nobiliarquia luso-maranhense. São Luis: GEIA, 2005 COUTINHO, Milson. O MARANHÃO NO SENADO (notas bibliográficas). São Luis: SEFAZ/SECMAS/SIOGE, 1986 COUTINHO, Milson. MEMÓRIA DA ADVOCACIA NO MARANHÃO. São Luis: Clara, 2007. Edição comemorativa dos 75 anos da OAB-MA, contendo elementos biográficos de notáveis advogados entre os anos 1650 a 1950 DINO, Nicolau. O VISCONDE DE VIEIRA DA SILVA. São Luis: (IHGM?), 1974 14
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. QUANTOS ANOS, MESMO, DO IHGM? REVISTA IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 81 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39__dezembro_2011
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BORRALHO, José Henrique de Paula. UMA ATHENAS EQUINOCIAL – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império Brasileiro. São Luis: Edfunc, 2010.
Encontramos, mais uma vez em Milson Coutinho (1986; 2007) 16 mais informações sobre essa fundação, desta vez dando a data em que ocorreu: Com amigos literatos da época, Vieira da Silva fundou, em 28.7.1864, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, do qual fizeram parte, como sócios, entre outros luminares de nossas letras, João da Mata de Moraes Rego, Dr. César Marques, Dr. João Vito Vieira da Silva e Dr. Torquato Rego. Pertenceu, igualmente, à primeira Academia de Letras do Maranhão, fundada em 1865, em uma das salas do Instituto de Humanidades, colégio dirigido pelo Dr. Pedro Nunes Leal. Daquele silogeu foram sócios homens da estirpe cultural de Sotero dos Reis, Francisco Vilhena, Herácito Graça, Henriques Leal, Antonio Rego e outros. (COUTINHO, 1986: 52; 2007: 277). Em “Fidalgos e Barões”, Milson Coutinho faz referência a Nicolau Dino, em biografia do Visconde de Vieira da Silva17 de onde teria obtido as informações sobre a fundação do IHGM naqueles idos de 1863: IX - NO SEIO DOS PRIMEIROS IMORTAID DA PROVINCIA PRESIDENTE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO [...] em 28 de julho de 1864, Luiz Antonio Vieira da Silva era aclamado presidente do Instituto Histórico e Geográfico que se fundava naquele dia, em casa de Augusto Marques e com a colaboração deste, do Tenente Coronel Ferreira, Padre Dr. Cunha, João da Mata, Dr. Cesar Marques, Dr. Tolentino Machado, Tenente Coronel João Vito, Dr. Torquato Rego, Pedro Guimarães e Frei Caetano. O Dr. Cesar Marques leu um discurso relativo ao ato e o Padre Dr. Cunha apresentou o projeto dos estatutos da nova associação. (p 55-56). (grifamos). Comprova-se sua existência e funcionamento naqueles idos, através da imprensa: Consta no jornal “A Situação”, edição de 04 de agosto de 1864 a seguinte notícia:
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COUTINHO, Milson. O MARANHÃO NO SENADO (notas bibliográficas). São Luis: SEFAZ/SECMAS/SIOGE, 1986 COUTINHO, Milson. MEMÓRIA DA ADVOCACIA NO MARANHÃO. São Luis: Clara, 2007. Edição comemorativa dos 75 anos da OAB-MA, contendo elementos biográficos de notáveis advogados entre os anos 1650 a 1950 DINO, Nicolau. O VISCONDE DE VIEIRA DA SILVA. São Luis: (IHGM?), 1974
Em “O Paiz”, edição de 18 de agosto de 1864, p. 2, o seguinte aviso:
Em “A Situação”, edição de 20 de outubro de 1864, apresentado o projeto do Estatuto:
Novo anúncio, convocando reunião, aparece em 27 de outubro de 1864:
E em 29 de outubro é lembrado aos sócios de que haveria a reunião já marcada:
Já a fundação de 1918, tomei conhecimento através de um aviso de antigo colega de trabalho do IF-MA, Sobrinho, que em dezembro de 2011 achara uma raridade que se referia ao IHGM e à sua Fundação18: O INSTITUTO HISTÓRICO Um carteiro dos telégrafos andava ontem com um telegrama na mão, a procura do Instituto Histórico do Maranhão que se fundou aqui por iniciativa do Sr. Simões Silva. Ora, por mais que o estafeta batesse as ruas da cidade, a cata do cujo, não conseguiu notícias do seu paradeiro, chegando a conclusão de que se de fato existe, foi como as rosas de Moliere, ou se de fato nasceu, nasceu já defunto. Afinal depois de muito andar e muito escarafunchar, o homem teve uma idéia, foi depor o telegrama nas mãos do ilustre prof. Amaral, que o abriu e teve a gentileza de no-lo mostrar, a fim de que publicássemos o seu texto. É o seguinte: Cuiabá, 17 Instituto Histórico – Maranhão Tenho a satisfação de comunicar a esse Instituto que acaba de ser reconhecido por sentença proferida pelo tribunal arbitral, constituído pelos ministros Pires de Albuquerque, deputado Prudente de Moraes e o conde de Afonso Celso, o direito de Mato Grosso a toda região contestada pelo visinho estado de Goiás, terminando uma questão secular de limites entre os dos estados. Bispo de Aquino – Presidente Chamo atenção para a data de publicação: 21 de dezembro de 1920. Vamos ao outro texto, publicado no dia seguinte – 21 de dezembro de 1920 – no mesmo A PACOTILHA19: INSTITUTO HISTÓRICO Meus caros amigos: É tão fácil fazer espírito a propósito de qualquer coisa, como falar mal, do próximo, sem propósito nenhum. Desculpem-me esta barata filosofia de algibeira, trasida por uma vossa noticia de ontem. Retrata-se nela um artefato boletineiro, naquele passo rápido que lhe conhecemos, a cata do Instituto Histórico do Maranhão. Economizaria canseiras, se chegasse ao visinho correio e perguntasse lá a quem devia dirigir-se. Responder-lhe-iam logo. Se a memória não nos falha, o Instituto (chasquea?) do fundou-o cá, em julho de 1918, o dr. Simõens da Silva20, que testemunhou aos presentes o seu “grande espanto” por não haver ainda aqui uma corporação dessa natureza. Sob o consenso dos mesmos presentes, leu-se e aclamou-se a lista da diretoria, em que figuravam os nomes dos senhores Dr. Viana Vaz, prof. José Ribeiro de Amaral, dr. Augusto Jansen, prof. Raimundo Lopes, Domingos Perdigão, etc. A nossa modesta pessoa foi escolhida para secretário geral. Mas assoberbadissimo por mil e uma ocupações e não nos tendo os eleitos expressos nenhum desejo de corresponder a gentil iniciativa do ilustre etnógrafo, houvemos por bem remeter-nos a uma presente silencio. 18
in Jornal PACOTILHA, edição de 21 de dezembro de 1920.
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in Jornal PACOTILHA, edição de 21 de dezembro de 1920)
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Antônio Carlos Simões da Silva nasceu em 1871 e morreu em 1948. Era advogado, etnólogo e fundou o Museu Simões da Silva (RJ). Foi nomeado, em 1911, agente auxiliar do Arquivo Nacional no Rio de Janeiro. Foi, também, presidente do Instituto Histórico Geográfico Fluminense e membro do Conselho Diretor da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Publicou diversos opúsculos, entre eles, O continente americano propulsor da paz (1926). Silva, Antônio Carlos Simões da - Dibrarq (arquivonacional.gov.br)
Abracem o vosso – Fran Pacheco” (grifamos) O Sr. Simões da Silva – conforma noticia A PACOTILHA edição de 4 de abril de 1917, fora designado pelo IHGB a percorrer diversos estados para preparar o congresso americanista, providenciando a organização de comissões locais:
A ideia de fundar-se um Instituto Histórico parte de Fran Paxeco, em reunião da Academia Maranhense de Letras, conforme consta de nota publicada em 12 de agosto de 1918, em O Jornal:
Também em “A Pacotilha”, edição de 13 de agosto daquele ano de 1918 refere-se a pronunciamentos na Academia Maranhense de Letras sobre a necessidade de ter-se instalado um Instituto Histórico:
Também se comprova seu funcionamento através de notas publicadas nos jornais da época, como segue: Em 1919, o Instituto indicou seus representantes para o Congresso de Geografia:
O Jornal, 23 de agosto de 1919
Em “O Diário de São Luis”, edição de 23 de dezembro de 1920, há o seguinte comentário: [...] Fran Paxeco, secretário geral do Instituto Histórico aqui fundado pelo dr. Simões da Silva [...]:
Em 1921, o Instituto estava em pleno funcionamento, com o Sr. Viana Vaz na sua Presidência, conforme consta de nota de 6 de julho de 1921, em “O Jornal”:
A posse da nova diretoria, com o Dr. Viana Vaz à frente, se dera em 25 de janeiro de 1921, conforme noticia o “Diário de São Luiz”:
Logo a seguir, reuniram-se os seus membros para tratar da conferencia americanista (O Diário, 21 de fevereiro de 1921):
O que trago, hoje, é o ato de fundação do IGAHM, publicado por A Pacotilha de 8 de julho de 1918: “Uma reunião útil”. Em reunião realizada no dia 07 de julho de 1918, às 16 horas, no Centro Português, prédio onde já funcionava a Faculdade de Direito, recém fundada, convocada por dr. Simões Silva; compareceram à reunião, além do ajudante de ordens do Governador, 1º Tenente Bessa Cunha, os senhores doutores Viana Vaz, Ribeiro do Amaral, Fran Paxeco, o Capitão de Fragata H. Graça Aranha, Major Artur Pinheiro da Silva, dr. Anibal de Pádua, Desembargador Pereira Junior, dr. Pires do Rio, dr. Miranda Carvalho, 1º Tenente José Valentim Durhan Filho, dr. Lopes da Cunha, dr. Adolfo Domingues da Silva, dr. Aquiles Lisboa, dr. J. Franco de Sá, prof. Raimundo Lopes, dr. Herbert Jansen Ferreira, Cel. Virgilio Domingues, dr. Lemos Viana, Domingos Perdigão, dr. Nogueira Coelho, J. Henrique Caldeira, dr. Antonio Lopes, Antonio Fernandes de Moura, A. Leonardo Gomes, Amadeu Aroso, Iedo Fiuza, etc. O representante do Governador, Tent. Bessa Cunha assumiu a presidência dos trabalho, tendo à mesa Raimundo Lopes e Simões Silva; tomando a palavra, Aquiles Lisboa, após apresentar o notável etnógrafo, este disse dos propósitos da reunião: fundar-se o INSTITUTO GEOGRÁFICO, ETNOGRÁFICO E HISTÓRICO DO MARANHÃO. E demonstrou sua estranheza em não haver, ainda, um por estes lados... Apresentou, então, o projeto do estatuto, o qual se procedeu à leitura, submetido e aprovado!!! Foi formada a primeira Diretoria: Presidente honorário: José Joaquim Marques Presidente: Viana Vaz 1º e 2º Vice Presidentes: Justo Jansen Ferreira e J. Ribeiro do Amaral Secretário Geral: Fran Paxeco 1º e 2º Secretários: Raimundo Lopes e Nascimento Morais 1º e 2º Tesoureiros: J. Henrique Caldeira e Cel. Virgilio Domingues Orador: Domingos Barbosa Bibliotecário: Domingos Perdigão. Viana Vaz e Fran Paxeco assumiram a direção dos trabalho, e foi redigida a Ata de Fundação...
OS LOUCOS DA BEIRA-MAR CERES COSTA FERNANDES São Luís é uma cidade fértil na produção de loucos. Loucos reconhecidamente loucos e amados pela comunidade ludovicense e que fazem parte do nosso patrimônio cultural. Considerando a riqueza e variedade desse patrimônio, quero concentrar-me na plêiade de loucos que morava ou freqüentava a Beira-Mar entre o final da década de 60 e a década de 80. Explicado isto, justifico a omissão de figuras emblemáticas da loucura local, tais como o indefectível Bota-prá-Moer, que delegou, a outro mais louco que ele, o estandarte do exército de Brancaleone, ou Vassoura, o pacato cidadão rosariense, que se travestia todo em fúria quando chamado, pelos moleques de rua, por esse epíteto, ou do doce João Pessoa, que sonhava casar-se e investia contra a molecada (sempre eles!) que o provocava, dizendo :”João Pessoa , tu não casa!”. A lista é longa, mesmo sem contar os atuais, vamos, pois, ao xis do problema. Uma questão me intrigou muitos anos: a causa da inflação populacional de loucos na Avenida Beira-Mar e adjacências; fato observado por mim, nos anos que lá residi. Após teorizar bastante, optei por uma conclusão simples: doido também é gente, ou parafraseando Magri, “doido também é ser humano”; deve estar aí a explicação. A exemplo das pessoas “normais”, os loucos amam o belo, a magia, as coisas que agradam ao espírito e ao corpo; e nada era tão mágico, nesta São Luís, como a Beira-Mar daqueles anos. Nada havia do trânsito furioso de pesados e fumarentos ônibus; nada de automóveis a ver quem corre mais; nada de marginais a nos pôr em fuga e desassossego; nada da procissão de pedestres a se atropelarem pelas calçadas. Imaginem outro cenário: de vez em quando, um carro, nenhuma poluição sonora, navios ancorados no porto (sabíamos se a maré era enchente ou vazante pela posição da proa dos navios), crianças andando de bicicleta, crianças jogando bola nas ruas, crianças passeando em carrinhos, empurradas pelas mães e... loucos em profusão ( loucos mansos), a percorrer as ruas e calçadas com ar feliz. Aliás, um parêntesis: de que ou porque riem os loucos? Descobriram a eterna fonte de serotonina, ou detêm a verdadeira razão do universo e riem de nós, os ignorantes ? Vamos, então, aos doidos, que já tardam. A minha preferida era “Maria Pitó”, negra, de meia-idade, com os cabelos enrolados em dois “pitós” no alto da cabeça, vestida com indefiníveis trapos compostos de peças de roupas superpostas – como, hoje, está em moda nos grandes desfiles. Morava em um abrigo de madeira, lata e cofos, com vista para o mar, ao lado de uma carvoaria que existia perto do finado “Baixo Leblon”. De lá, só saía para mendigar. Mansa, doce até, jamais reagia às provocações da molecada. A sua peculiaridade era pedir apenas o que necessitava no momento, não aceitando nada, nem um pouco, a mais do solicitado: se pedia “ uma colher de café” e lha davam duas; ela, cuidadosamente, separava uma e devolvia a outra, dizendo, “só pedi uma”. O mesmo acontecia quando pedia “uma banda de pão”, ou meia banana; nada a convencia a aceitar o excedido nem a demovia da devolução. “Nhô”, era outro tipo interessante, branco, magro, de barba rala, cabelos encaracolados e idade indefinida. Não sei onde morava, mas vivia, da manhã à noite, na Beira-Mar, por vezes, sentado na amurada, olhando fixamente o mar por longas horas ou andando, perigosamente equilibrado na mesma amurada. O curioso é que, andando ou sentado na mesma, não parava de conferir nos dedos uma conta que não acabava nunca. Um dia, catando objetos do lixo jogado ao mar, na lama da maré seca, foi surpreendido pela maré enchente e, cercado pelas águas, viu-se impossibilitado de retornar à rampa da Praia do Caju, de onde alcançaria o cais. A sua reação foi de um autêntico louco: voltou-se contra as águas, invectivando-as em altos brados. Juntou gente e começaram as tentativas para tirá-lo do mar a encher; atiravam-lhe cordas, bóias e ele as ignorava, voltando-se para os que tentavam ajudá-lo, com o dedo em riste, dizia: “tu me conhece ? tu me conhece ?”. A operação-resgate deu-se quando um espectador desceu, em meio ao vivório da patuléia e amarrou-lhe uma corda à cintura. Esperneando e, já sem as calças, Nhô foi içado à calçada da Avenida. Kátia era, sem dúvida, uma mendiga diferente: muito alta, magra e morena, com traços de cigana, que, ao invés de pão ou dinheiro, pedia queijo. Agressiva, quando não atendida, enfurecia-se, quebrando jarros e plantas dos jardins; provocada, atirava pedras nos terríveis moleques. Ela me fazia, e faz pensar, sobre a
necessidade do supérfluo ( talvez, porque queijo, para mim, também, é gênero de primeira necessidade). Tenho medo de ficar doida, pedir e não ganhar queijo. Nào podemos esquecer “Seu Manoel”, que morava na “casinha da bosta”, da CAEMA, bem em frente ao mar, na descida da Rua Montanha Russa; mas esse movia-se no limiar da loucura/esperteza. Mulato claro e bemfalante, de cabelos longos e crespos, amarrados em um rabo-de-cavalo largo e chato, assemelhando-se a um cauda de castor, que lhe chegava aos calcanhares, vinte anos, segundo ele, sem ver tesoura, nem água. Escrevia uns cartazes proféticos de teor apocalíptico e os expunha na Praça Benedito Leite e adjacências. Consta que tinha admiradores, talvez seguidores, que esse negócio de loucura, já disse, é muito subjetivo. E mais falaríamos, “se não fora tão longa a lista para tão curta crônica”. Ainda restam, o zangado “Pato”, que não perdia uma missa na Igreja da Sé; ou o “Diabo”, que permanecia imóvel, por longas horas, de braços cruzados a fitar o mar, negro alto e forte, vestido de sacos amarrados com cordas, assim chamado pelos dois chifres que formavam seus cabelos, combinados com as sobrancelhas arqueadas à Dali “Risadinha”, protótipo do louco feliz, que conversava e ria, o tempo todo com alguém “lá em cima” e muitos mais... Nesse assunto de loucos, sempre podemos cometer injustiças, porque, como dizia o cartaz no portão do hospício: “são todos os que estão? estão todos os que são “ ? Uma pergunta, onde estão, na hodierna São Luís, nossos loucos de rua?
NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido. Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.
DESPORTO: TERRENO DA ‘DIALÉTICA’ Os pintores holandeses do século 17 criaram, pela primeira vez, uma arte inteiramente laica. Os seus quadros ilustram situações e criaturas da vida quotidiana, e não figuras bíblicas, deuses, heróis mitológicos ou santos. Isto é, as cenas profanas e os anónimos, banais, pequenos e mortais humanos tiram o lugar ao sagrado e teológico. Surgem, na mesma altura, visões humanistas em diversas áreas, postulando que tudo (ficções, narrativas, leis, religiões e mandamentos) é fabricado pelos humanos e para o seu usufruto. Hegel (1770-1831), com a genial noção da ‘dialética’, mostra que todas as ‘coisas’ contêm o seu contrário. Por exemplo, a liberdade, que permite escolher, sujeita-nos às escolhas feitas. Assim, a rotura epistemológica da modernidade com a religião, como fonte de explicação e referência, abre as portas ao aparecimento de novas formas de ‘religiosidade’ e relacionamento com o divino. É nesta quadratura dialética que o desporto se integra. Por um lado, os mais importantes eventos desportivos, como os Jogos Olímpicos, ‘religam’ milhões de pessoas de todo o mundo e dos diversos estratos sociais e culturais, atraídas pela vertigem das admiráveis prestações dos atletas. Por outro lado, a tapeçaria desportiva configura uma mistura de democracia e aristocracia. Com efeito, a competição decorre no areópago sacrossanto da ‘igualdade’, mas visa apurar a ‘desigualdade’. As regras valem para todos, porém os talentos não são iguais; a diferença é objetivamente fomentada, avaliada, mensurada e compensada. Ou seja, a igualdade formal (axioma da democracia) legitima e promove a desigualdade natural (bandeira da aristocracia). Em suma, a admiração e veneração (e até idolatria) dos campeões pelos adeptos têm ínsito o apreço de valores aristocráticos no universo democrático. O desporto comprova, pois, que a transcendência não é de ordem cosmológica ou divina; está enraizada nos humanos, quer nos extraordinários, quer nos mais simples.[1] [1] Luc Ferry, Sete Lições Para Ser Feliz ou os paradoxos da felicidade, p.122.128. Lisboa: Círculo de Leitores, 2017. CAMINHADA Venho de Bragada e da escola primária, a dos pais, a pública (de quatro paredes e sem banheiro) e a das circunstâncias. Venho da pedra e do vento, da chuva e da neve, do calor (escaldante no verão) e do frio (crestante no inverno), do chão duro e árido, da falta de calçado e roupa, da escassez de festa, da abundância de trabalho e pobreza, da imploração pelo pão-nosso de cada dia. Fiz e percorri caminhos íngremes, impossíveis de abrir e andar sem a ajuda de pessoas assaz generosas. À família do nascimento acresceu a do casamento, esta a maior realização. Cheguei à Universidade do Porto; hoje ainda não consigo compreender bem a ascensão. Aquele ponto de partida, originário do destino, é e será o meu lado; jamais o esquecerei e trairei, e deixarei de falar em nome daquela gente. Somos andarilhos e fotógrafos. Caminhamos apressadamente, procurando captar a luz e as sombras. Consumimos dias e noites e nem sequer chegamos ao meio do projeto e dos sonhos atrevidos. É pouco o que colhemos e temos para oferecer. Ao final, cumpre-nos redigir e apresentar o balanço: de tudo, o mais importante é a vida, nunca bastante, sempre escassa e fugidia, magra e minguante. CONFISSÃO Há precisamente 5 anos cheguei ao fim da carreira académica. Comigo ela decorreu, no essencial, assim: nunca possuí os conhecimentos suficientes, muito menos o saber, para corresponder às exigências da docência. Sucedeu-me algo semelhante ao que ocorre com um mineiro: farta-se de cavar no subterrâneo e só encontra algumas e pequenas pedras preciosas, após ter aberto um túnel deveras longo e profundo. Era igual o meu estado no final do trajeto profissional. Os tempos eram outros. Agora entramos na livraria de qualquer aeroporto e vemos uma resma de manuais de coaching, com estratégias de sucesso garantido e infalível nos mais diversos misteres, sobretudo nos de liderança. Outrora não havia esses comerciantes da felicidade. Tínhamos que lavrar as courelas ásperas e lançar nelas o grão da esperança, sem a promessa de que germinaria e daria frutos. Confiávamos na boa vontade e reta intenção; e a verdade é que o milagre se realizava e oferecia criaturas maravilhosas.
Olho para trás e recordo não poucas aulas sofridas pelos estudantes e também amargas para mim. Percebo hoje, através das janelas cristalinas da memória e das convicções acumuladas, que as maiores falhas surgiram no relacionamento, nas palavras e atitudes. A dimensão relacional é a pedra de toque do Ser Professor; é ela que decide a sorte do ensino e da educação. Peço-lhes que acreditem na sinceridade desta confissão.
PRESSUPOSTOS PARA SER FELIZ “Ser estúpido, egoísta e ter saúde: eis as três condições requeridas para ser feliz. Mas, se nos falta a primeira, tudo está perdido." - eis o veredicto de Gustave Flaubert (‘Carta a Louise Colet, 13 de agosto de 1846). Immanuel Kant (‘Fundamentação da Metafísica dos Costumes’) subscreve o postulado anterior: “Se a Providência tivesse querido que fôssemos felizes, não nos teria dado a inteligência.” Enfim, felicíssimo é o burro. Não o animal do campo, de carga e tração, do moleiro e do lavrador, mas o espécime urbano, orgulhoso do seu diploma, com espírito comprimido e o guarda-roupa atafulhado de albardas, antolhos e cenouras. DO GENUÍNO ESPÍRITO LIBERAL (Em louvor do Primeiro de Maio) Revejo-me no Estado secularizado, sem doutrina ou religião oficial, estruturado para organizar a convivência dos cidadãos. Ele não existe para fabricar e servir chefes, mas para ajudar os indivíduos a realizar o melhor de si como entes humanos. A esfera comum e pública não é anulada pela visão laica e liberal. Esta implica fixar os princípios gerais do direito, as garantias e condições para que possamos jogar, com o máximo de equidade, harmonia e paz, o jogo da vida. Ou seja, a laicidade sacraliza a beleza, a justiça, a ética e a verdade, os excelsos princípios da fraternidade, da proteção social, da solidariedade e providência do bem-estar. As circunstâncias atuais exigem que o modelo, de matriz europeia, seja renovado de modo a irradiar inspiração contagiante para esculpir as feições da Humanidade inteira. Este liberalismo amoroso e fraterno, do trânsito de nós para o Outro, para o que está próximo e distante, apela à concretização, num plano superior, do ideário humanista da modernidade. Chegou a hora de ser pósmetafísico, de se tornar corpo da cidadania universal. Temos que sair do egocentrismo; precisamos dos outros e da sua felicidade e liberdade, por mais frágeis e precárias que sejam, para compreendermos, cumprirmos e atingirmos a experiência existencial. A crítica à democracia do presente não advoga, pois, o regresso ao passado; as fragilidades democráticas convidam ao empenhamento na edificação de um melhor futuro. Ora, os embusteiros ditos ‘liberais’, que andam por aí, embalam o intento sórdido de repor as catacumbas da prémodernidade. NOITE DE POESIA: CLARÃO DE MAGIA! Já me sucedeu, várias vezes: ser convidado para assumir um papel que está acima da minha altura. Na última sexta-feira, a cena repetiu-se. Da Professora Patrícia Alexandra Dinis Poeta, ilustre catedrática da UTAD, tinha recebido a intimação de apresentar o livro de poemas ‘C’MÁSSIM’, da sua autoria. Subi o Marão e cheguei a Vila Real, num misto de ansiedade e júbilo. Após o sublime jantar, daqueles que soltam a inveja dos deuses do Olimpo, entramos no belíssimo átrio da Câmara Municipal. Mas… o que iria falar o aldeão transmontano, áspero e terroso, cujas arestas e esquinas não foram até hoje limadas por tantos anos passados na cidade e Universidade do Porto? Nada sei do ofício de escrever poemas e de os dissecar! Como Guerra Junqueiro, sou ‘macho de palavras que escouceiam’. O aperto era grande. Não podia então recuar. C’mássim atrevi-me a balbuciar uma série de dizeres. Comecei dizendo, na língua charra transmontana, que o livro era ‘do bô’ e do ‘de certo’. Que perfazia uma sinfonia de versos e imagens (estas elaboradas pelos filhos da autora). Que, em todo o tempo e lugar, precisamos de poesia, porque esta livra da queda no absurdo e evita a tentação da corrupção. Que ela é leve e sublime, e igualmente ato de resistência a tudo quanto deforma e desvirtua a vida. Que é uma porta fechada,
a sete chaves, para os imbecis, e franqueada aos inocentes. E, por isso, nas ruas, na escola e na universidade, necessitamos de muita poesia profunda e mágica. Necessitamos dos afagos e beijos luminosos e quentes, que ela contém, para clarear e encorajar o espírito, romper a neblina e o crepúsculo, e trazer de volta a manhã solar. Encontramos estas ‘coisas’ nos trinta e três poemas da obra em apreço. São poucos? Sim, porque aguçam a fome de mais! Os livros de poesia são pequenos, frágeis, singelos e elegantes, do tamanho e da forma da beleza. Cabem no bolso, na alma e no coração. São limpos das enxúndias e gorduras do supérfluo, despidos de máscaras e mentiras. São pássaros de palavras-asas, ágeis e leves, que voam e namoram as estrelas e galáxias, tocam o intangível, exprimem o inexprimível e arrebatam para o cume da sensibilidade. Se espremêssemos as páginas, encheríamos as mãos de lágrimas e mágoas contidas. São muito densos e espessos dos bens cruciais que redimem dos senãos e alimentam a ilusão da felicidade. Como, lembrou Robin Williams no filme ‘O Clube dos Poetas Mortos’, a medicina, o direito, a economia, a engenharia e as outras áreas são necessárias à vida; porém a poesia, a beleza, o romance, enfim tudo o que acorda o amor, a amabilidade, a convivialidade e a espiritualidade, são coisas pelas quais vale a pena viver. Bem haja, portanto e pelo muito mais e substancial que esta criatura não soube dizer, a Professora Patrícia Alexandra! Senhora ‘politécnica’ de saberes-fazeres performativos, magnífica ‘pontífice’ do inteligível e sensível, da ciência, da arte e da poesia, a Poeta de nome e de facto confecionou, com a esmerada bordadura dos poemas, um requintado manjar que oferece, generosamente, à nossa premiada degustação. Um lume contra a escuridão! O MEU BRASIL O meu Brasil não é o da Disney ou de Miami. É o d'A Pedra do Reino de Ariano Suassuna, de matriz indígena, portuguesa e africana, aberta e assimiladora de outros acréscimos. Não se envergonha da sua origem; antes a exibe como capa de honras. O meu Brasil não quer ser norte-americano, francês ou inglês. Quer ser quem é: vestido da singularidade brasileira e, por isso, merecedor da admiração universal. Não é pária no cenário internacional, mas bem-querido ator principal. Sabe que é dever de todos os países enfrentar a pandemia com responsabilidade. Não comete traição à saúde dos seus cidadãos e à da Humanidade. É civilizado e não tresloucado; segue a medicina e não a cloroquina. Tem um povo lúcido e culto como Ariano, e não rebanho fanático e miliciano. O meu Brasil é um país de doidos pelo canto e poesia, pela alegria e bonomia, pela vida e pelo amor, pela beleza da cor e empatia. Avesso à feiura, maldade e perversidade, não pariu e embala Mateus, nem a política da morte e crueldade. Celebra a arte do encontro, do corpo e do movimento, do jogo e da dança. Vai condenar os matadores e pôr fim à matança. COMOÇÃO Sabem o que é a comoção? É o que sucede quando alguém, a quem não concedeste qualquer privilégio, nem sequer fizeste um favor especial, mas apenas trataste corretamente, te envia uma mensagem assim: "Professor, temos tantas saudades suas!" Isto causa um abalo, por dentro e por fora, tão forte que abre uma fonte nos olhos. Não revelo o nome e estatuto do autor da mensagem. Porquê? A vingança pode andar à solta numa casa que deve ser local de cultivo aturado da liberdade. Não pasmem! Se adormecermos na desatenção, acordaremos na prisão. O IMITADOR DO BUFO PIDESCO Os jovens e a maioria dos adultos não fazem ideia do que foi a PIDE, a polícia do regime caído em 25 de abril de 1974. Servia-se das figuras sinistras do ‘agente’ e ‘informador’, este vulgarmente conhecido por ‘bufo’, para descobrir quem agia contra o regime, dizia mal dele ou dos governantes. A mais detestável das duas criaturas era o ‘bufo’, existente nos locais de trabalho e nas instituições, inclusive em escolas e universidades. Convinha ter cuidado com as conversas, pois o ‘bufo’ podia estar ao nosso lado, ser um professor, funcionário ou colega. Para mostrar serviço e denunciar alguém, ele não hesitava em inventar o quer que fosse.
Prestem atenção: anda por aí um imitador do bufo pidesco! Quando assistimos a um jogo de futebol, na televisão ou ao vivo, raramente descortinamos algo de anormal nos bancos das equipas. Mas é frequente ver o juiz principal parar a partida e correr para a linha lateral. Ocorre então um escarcéu danado: atletas, técnicos e dirigentes advertidos e expulsos. Porquê?! Devido à ânsia de protagonismo de um denunciante. Entende o zelador que ali ninguém pode tugir ou mugir; todos têm que comportar-se como num funeral. O estádio não é palco de emoções; estas devem ser engolidas! O tartufo causa problemas à arbitragem, estraga o prélio, danifica o futebol e sai de fininho com asas e cara de anjo papudo. Será este o papel essencial atribuído ao quarto árbitro, e o modo de o exercer? A falta de saber-estar, de bom senso e de sentido pedagógico é chocante; exige urgente reflexão. Estrela polar é o atleta, não aquele ou outro figurão. EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO: 'CRISE’ OU ‘PROJETO’? O défice, que se aponta à educação e formação, tanto na escola como na universidade, deverá ser posto na conta de uma ‘crise’ ou será antes um ‘projeto’?! A quem interessa a proliferação de adolescentes e jovens incultos, sem pensamento crítico, sem capacidade e vontade de questionar a ordem social e existencial, mirrados de criatividade e imaginação, fechados na egolatria e miragem do sucesso, indiferentes aos males do contexto próximo e do mundo distante, conformistas e comodistas, com a voz hipotecada e avessos a tomadas de posição, desprovidos de asas para levantar voo e desfrutar as alturas da admiração, pobres de vocabulário e com a linguagem rente ao chão, sujeitos à liberdade de cordeiros para imolação? Quem não vê o esquecimento do simbolismo expresso no mito da caverna? Este ensina que, para deixar o antro das sombras bafientas e alcançar a verdade, o encarcerado tem que se evadir, enfrentar a luz que queima os olhos e seguir o caminho pedregoso que esfola os pés. Quem não se apercebe do decréscimo do gosto de aprender e do declínio nítido da mestria do nosso idioma, da civilidade, da cortesia, da doçura, da polidez e do aprumo e respeito, da progressão da grosseria, da intimidação, da rispidez e da violência física e verbal? Quem desvaloriza a perda da estesia (síntese do sensível e do inteligível) e do sentido da vida, ambos ligados ao apreço por obras de arte, que nos melhoram, por nos tornarem menos animais, menos materiais, mais espirituais? Quem fecha os olhos à brutal regressão da humanização dos humanos? Quem troca o deus da ampliação, da claridade, consonância e harmonia dos saberes pelo ‘diabolos’ do ludíbrio, da mentira, desagregação e desarmonia? Não quero ser definitivo ou perentório na resposta; pretendo só desinquietar e suscitar a reflexão. Os atingidos não são beneficiados, não. Não há instituições boas, se faltarem os obreiros dessa feição. Para formar Homens, precisamos de Homens. Onde é que eles estão? Não existe quem se omite ou esconde num desvão! ATENAS OU ESPARTA - OU UMA SÍNTESE DE AMBAS? Não sou ‘elogiator temporis acti’ (elogiador de tempos idos), mas considero os factos (‘amore fati’), tal como ensinou Nietzsche. E igualmente tenho em boa conta o conselho de Schopenhauer: quando o presente não abre portas a um futuro auspicioso, é altura de parar, olhar para trás, procurar no passado fontes de inspiração, em vez de continuar a caminhar para o abismo. Para justificar a necessidade de paragem e reflexão, podia invocar a obra de Lipovetski, por exemplo, ‘A Era do Vazio’ e ‘O Império do Efémero’. Ou os dados sobre a diminuição do QI médio da população mundial nos últimos 20 anos. Ou ainda o empobrecimento do pensamento, resultante da redução do número das palavras e dos seus significados no uso corrente. Georges Orwell, entre outros, mostrou como isso restringe a liberdade dos cidadãos e reforça o totalitarismo da ideologia dominante. Não é preciso discorrer muito acerca destes cenários. Qualquer professor, à altura da função, se apercebe de que é cada vez mais baixo o nível da linguagem e de raciocínio dos alunos. O léxico é magro, os erros de ortografia e gramática são obesos. O desprezo da regra linguística tem a alegre companhia do atropelo das normas da boa educação e do intelecto. Ou seja, a linguagem, a urbanidade e a lógica andam associadas; em todas, a situação é de calamidade. O saber ler, escrever, contar e expor, outrora pedra basilar da escola republicana, não merece hoje consideração; o cultivo da mente, da retórica, da argumentação e da oratória também não.
Não se trata de uma avaliação subjetiva. São evidências mensuráveis, que a maioria dos docentes vivencia no labor diário. Acresce a agressividade verbal e física, que não os atinge apenas a eles; igualmente os alunos frágeis são vítimas de violência no espaço da escola e no trajeto entre esta e a residência. O que fazer? Talvez começar por reconhecer a erosão dos marcos da capacidade de viver juntos (‘conviver’), da vontade de conhecer e saber e de dobrar a ignorância. Depois decidir se preferimos Atenas (a cidade de prevalência da cultura e ciência, dos oradores, pensadores e poetas, das artes performativas, da ética e estética, da sublimidade e virtude) ou Esparta (a praça dos jovens bélicos, fortes, musculados, destemidos, sem freios jurídicos, espirituais e outros afins). Ou uma síntese dialética de ambas. DAS PAIXÕES As paixões são inerentes ao humano. Quererá isto dizer que são positivas? Se formos capazes de as iluminar com algum raio da razão, sim. Caso contrário, ficam carregadas de uma positividade destrutiva; configuram um campo de aprisionamento, com muros e portões altos e espessos, donde não se sai. São assim as paixões ideológicas da mais variada ordem e também as nacionalistas, clubísticas e religiosas. Suscitam, pois, preocupação as declarações de indivíduos com instrução superior, inclusive professores, nas quais proclamam euforicamente a sujeição a uma entidade, sem nenhuma condição. As palavras criam estados de alma e vias de conduta. Uma coisa é afirmar identificações, preferências e opções, outra é enredar-se na teia e cegueira do fanatismo e tribalismo. Livres de freios éticos e da hierarquia de valorações, as paixões transformam o relativo em absoluto. Eis um atavismo que persiste em amarrar-nos à irracionalidade. Não é fácil a Hércules desacorrentar-nos, quando somos nós quem tece a corda e reforça os laços da amarração. DA PANDEMIA, DOS RATOS E DA VACINA Na obra clássica ‘A Peste’, Camus alerta-nos para a ameaça permanente dos tempos sombrios: “Os flagelos, na verdade, são uma coisa comum, mas é difícil acreditar neles quando se abatem sobre nós. Quando estoura uma guerra, as pessoas dizem ’não vai durar muito, seria estúpido’. Sem dúvida, uma guerra é uma tolice, o que não a impede de durar. A tolice insiste sempre…” A pandemia assume muitas variantes, age como um polvo, devora tudo quanto exalta o humano. É astuta, possui a artimanha do sorriso e dissemina a indiferença. Persegue, tortura e mata de várias maneiras, impunemente, porque as multidões ignoram o aviso dos livros, como o de Camus: “O bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa, espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na papelada.” Para desgraça e ensinamento dos cidadãos, vem sempre o dia em que a peste acorda os seus ratos e espalha a morte na cidade distraída e imersa na euforia. A peste continua por aí. O mundo está cheio de ratos com dentes arreganhados e unhas afiadas. Muita gente prefere não os ver, não enxergar o seu número e o tamanho do focinho, e até vota neles, cuidando que assim escapa ao perigo. Aguarda que os outros sejam corajosos e resistentes, ajam em seu nome e acabem, cedo ou tarde, por derrotar o mal e trazer o bem. Entretanto os crimes, os sacrifícios e o sangue avolumam-se, a desigualdade, a injustiça e indignidade adensam-se. Afinal, os tormentos e os sonhos maus não passam; quem passa são as pessoas que sofrem e morrem. A vacina não deve, pois, induzir a anestesia; ao invés, tem que acordar a sensibilidade à ‘angústia muda’ e a recusa das certezas dos estúpidos, que dificultam o combate da pandemia. Não percamos a rara oportunidade de nos vacinarmos, de uma vez por todas. Contra o Covid-19, obviamente; e, sobretudo, contra o vírus do obscurantismo e do fanatismo, do totalitarismo ideológico, neoliberal e económico, que excede e gera o primeiro, ataca em diversas frentes, nomeadamente na cultura, saúde e educação, corta direitos e inverte o sentido da civilização e da vida. Sim, vacinemo-nos eficazmente contra a gravosa pandemia biológica e social, da qual somos criadores e propagadores! GIORDANO BRUNO A culpa de seres queimado na fogueira da inquisição foi toda tua, da ignorância abissal que persististe em propagar contra as evidências arrasadoras. Quem te mandou ignorar que a Terra é plana?! Como não conseguiste perceber que é à volta dela que giram todos os astros, atraídos pelas fulgurantes certezas dos inúmeros idiotas que a povoam?! Queria sentir pena de ti; não consigo. Tu não sabias, de certo, o que fazias: ir à luta sozinho é ato de destemor e imprudência! Arriscaste em demasia. Não podia haver perdão ou complacência para tamanhos excessos.
Fez-se, pois, justiça. Sempre se faz, para que os maus exemplos não contagiem as multidões. É por isso que o teu nome continua hoje a merecer evocação. Como aviso para o gravíssimo delito de ter e expressar opinião! CONFIA EM TI, PROFESSOR! Percebes o simbolismo da imagem do desacorrentamento de Prometeu? Ela configura a tua árdua missão! Não dispões de muitos meios, nem de receitas certas ou vias únicas para a cumprir. Isso não constitui razão para desânimo ou inação. Confia em ti, deixa-te guiar pela ousadia e a reta intenção. Mete mãos à obra, acorda e incendeia a admiração e o espanto, para que o aluno saia de si, levante voo da platitude, reconheça, exercite e aprecie a arte de tornar elevado, grandioso e sublime o baixo, o simples, o secular e o profano. Talvez assim enraízem e ganhem forma, na sua vontade, o extraordinário, o superior e o divino, o cume transcendente e imortal do normal e mortal homúnculo humano. OBRIGAÇÃO DIÁRIA Ler um pouco, todos os dias, por necessidade e como medicina! E é sempre insuficiente para proteger da ignorância e perceber quem somos, onde chegamos e quanto nos falta andar. Para aprender a alargar os horizontes, a admirar e amar, a compreender e ajudar, a viver e conviver, a respirar e não fugir da vida, a aumentar a liberdade, a alcançar a alegria e fruir a serenidade. Para avisar a consciência contra os rochedos das injustiças e desigualdades que esmagam o mundo, e não perder a esperança de diminuir o seu peso. Obviamente, corre-se o risco de virar ovelha negra; mas ser diferente e sair do rebanho é deveras gratificante! OS RANKINGS E O ANOITECER ESPIRITUAL E MORAL A perversidade dos rankings está amplamente denunciada pelos que usam a cabeça para pensar e não se limitam a sustê-la entre as orelhas. Porém os seus arautos teimam em vir a terreiro, tentando obnubilar a lucidez e conformar as consciências. Por isso é preciso dizer as coisas à martelada, à pedrada e à lapada. Os rankings são tributários da visão calculista e obsessivamente produtivista, utilitarista, mercantilista, comercial, contabilista, competitiva, elitista e segregacionista da vida e da educação, a tender para a barbárie. Como se o valor do humano residisse somente na laboração produtiva, tudo devesse ser submetido a ela e nada houvesse de valioso no que excede a produtividade! A insanidade é taxativa: todo o euro investido tem que dar lucro e ser rentabilizado com um produto palpável e quantificável. Logo, as disciplinas científicas e humanistas e os fins educativos, que não correspondam a tal exigência, suscitam um olhar de desqualificação. Aquele e aquilo que não compreende a valia do ‘inútil’ e só considera o sentido restrito da utilidade, o que pode ser medido, objetivado e pesado, tem em si o veneno e destino da ruína. Sim, as últimas décadas, as do império da religião dos rankings, trouxeram a regressão civilizacional, a veneração dos fortes e a execração pública dos frágeis, envenenaram e arruinaram o teor cultural e humanista da educação e formação, tanto na escola como na universidade. É notório o avanço da ignorância, da cegueira ética, do fanatismo, do obscurantismo, da corrupção, da exclusão e da marginalização, dos conflitos e das inimizades, da indiferença, da intolerância e do ódio. Como disse Victor Hugo, não basta que cuidemos de iluminar as praças e ruas da cidade; urge acender archotes para a mente, porquanto a escuridão espiritual e moral também se abate sobre nós. É, portanto, curial uma ‘instrução’ orientada pelo apreço do belo e do ético, da dádiva e da gratuidade, que não encare a existência como um jogo da bolsa, como uma loja de cambistas e mercadores, de competidores e concorrentes na busca desabalada do sucesso, com pressa de chegar vá lá saber-se onde. O aprimoramento das competências, das habilidades e dos conhecimentos, inerentes ao bom desempenho profissional, não pode ser menosprezado. Todavia, a educação e a formação devem privilegiar a cultura do intelecto. O saber é um bem não mercantil ou negociável, um dom, poder e tesouro que beneficia, em primeiro lugar, quem o possui; através deste, influi na sociedade.
P’ra não dizer que não falei de poesia... e de poetas
Theotonio Fonseca é um bom nome das letras do Maranhão, com formação sólida e com alguma caminhada já realizada. Seu poema se apresenta com uma tónica corpulenta, dentro de uma poética de alto fôlego. Dialoga com a tradição, com o clássico, com a mitologia universal e bíblica, trazendo, por vezes, matizes de uma linguagem com sabor das raízes do chão natalício e, desse modo, nuances que tomam por empréstimo as cores das nossas aves. Um conjunto de referências, de variado repertório, conflui nas camadas theotônicas do rio literário do bardo itapecuruense. É prazeroso sentir, no seio deste novo livro, As bodas de Sapequara, uma evocação de elementos ancestres. Chamou-me a atenção, também, uma seção inteira de poemas que refletem sobre o processo misterioso de nascimento do texto poético, mas que vai além da simples metalinguagem no seu enredamento, assim notamos uma poesia com fome de infinito e que executa recitais para todas as plateias. Carvalho Junior, Professor/poeta.
THEOTONIO FONSECA : A poesia que percorre o Caminho de Pedras Miúda Samira Fonseca THEOTONIO FONSECA : A poesia que percorre o Caminho de Pedras Miúda (recantodasletras.com.br)
O primeiro livro de Theotonio Fonseca é sem sombra de dúvidas aquele que mais exalta a cidade de ItapecuruMirim no gênero da poesia, isso é incontestável desde o título da obra “Poemas Itapecuruenses e outros poemas”, uma obra prima de um intelectual apaixonado por sua terra natal. Em “Poemas Itapecuruenses e outros poemas” fica claro que Theotonio Fonseca é um eterno devoto da cidade e canta suas belezas, seus vultos históricos, os pontos marcantes da terra de João Francisco Lisboa, com uma arrebatadora paixão. Com fina escrita ele tece os versos que apontam para a cidade e sua vivência de poeta diante de sua musa inspiradora, e isso conduz o leitor a parar e refletir sobre esse torrão chamado Itapecuru. Na obra poética, o escritor impõe seu talento máximo, mostrando todo um arcabouço cultural sobre a história da literatura, tanto que se observa a influência de várias literaturas, como por exemplo, a greco-romana e opta por uma escrita que valoriza o vernáculo português, o que acaba por transcender a beleza de seus versos. Sua óptica literária percebe tudo ao seu redor e consegue extrair até do sofrimento uma beleza que só a poesia
nos mostra, isso ocorre sempre que ele demonstra nos seus versos o pungir da vida; ao relata fragmentos da vida dos vultos históricos do município ou os cataclismas que assolam a cidade, como no poema “Cântico do Rio Morto”: Novamente o rio, com sereias virgens agora decrépitas E nereidas meninas com cicatrizes incuráveis. Dos espíritos errantes, a estas margens inabitáveis! O pós-enchente de 2009 evoca a profecia anunciada No semblante do rio a face de um caminho de boiada.
Theotonio vem sempre acompanhado de personagens universais como: Orpheu, Ulisses, Telemaco, Plutão, Caronte, Cronos, Posseidon, que são personagens da Literatura Latina e também de figuras bíblicas, como Abraão, a virgem Maria e até Jesus Cristo; irmanados em uma só obra poética, configurando assim uma espécie de guardiões da escrita Theotoniana. É na personagem principal, a cidade de Itapecuru-Mirim, que a obra se concentra, a urbe é personificada em uma mulher bela e sedutora, a impressão que se tem é que tal formosa mulher é representada por uma índia Tapuia, que simboliza os primeiros habitantes destas plagas. Como se atesta no poema “A Musa Itapecuruense”:
Mística tapuia, a graciosa musa itapecuruense [...] E a musa tapuia de penetrante olhar ardente Tomando as luzes estelares, tecia em caracol! A musa como flor de beleza intraduzível Jardins suspensos da Babilônia.
Surge aí na primeira obra de Theotonio a evocação do misticismo, que terá presença mais forte na obra “O Batucajé das Iaras”, segundo livro do poeta. O rio que banha e da vida a esta mulher também é cantado pelo poeta, e os cânticos são uma espécie de lamentações devido ao estado de degradação do rio. São cinco poemas que abordam a temática: “Ultima Visio”; “Lamento do poeta Itapecuruense”; “Cântico do Rio Morto”; último Cântico do Rio Morto”; O Rio Itapecuruense e a Cidade &#9472; Mulher”, como que alertando por meio da poesia que o rio agoniza e aos poucos vai fenecendo sem que o poder público e as pessoas que saciam sua sede se preocupem com o problema. Outros personagens também surgem em meio aos versos, como Mariana Luz, exímia poetisa; Negro Cosme, o mártir da Balaiada; Gomes de Sousa, o matemático que está tendo sua produção questionada e re-visitada por pesquisadores e a padroeira da cidade, Nossa Senhora das Dores, que aparece na segunda parte do livro, abrindo caminho para os versos sacrossantos que o poeta compôs. E o primeiro poema da segunda parte, intitulado “Cântico a Nossa Senhora das Dores”, diz na segunda estrofe:
Percorri sendas tão escuras Blasfemei contra vós mãe castíssima. Todavia, eis aqui minha existência E o que de vida me resta a divina providência Consagro ao vosso sacratíssimo coração.
Os versos de Theotonio Fonseca possuem rimas ricas, nelas é muito difícil se encontrar palavras da mesma classe gramatical, o que faz com que o leitor não atente para a métrica que apesar de não haver, sua falta é
minimizada pela riqueza vocabular, isto ocorre devido a forte presença do Modernismo inclusive nas temáticas atuais que ele aborda; o que sem sombra de dúvidas o torna um dos maiores poetas que já existiu em Itapecuru, tendo uma rica produção poética que carrega em suas linhas características da literatura latina, do Barroco, do Ultrarromantismo, do Simbolismo, do Parnasianismo e do já citado, Modernismo. O poeta Theotonio Fonseca surgiu na década de 90 com poesias publicadas no Jornal de Itapecuru. Detentor de prêmios literários das escolas da cidade, em sua na adolescência se destacava no meio intelectual da cidade, como um amante da literatura. Contemporâneo dos professores José Raimundo, João Silveira e Mauro Rego, tendo sido este último que prefaciou a obra poética. Ainda nessa mesma época, Theotonio e outros jovens como os poetas, Alison Rillkt, André Silveira, Raimundo Soares e do cronista Rener Bandeira de Melo, eram nomes que se manifestavam na produção literária e durante muito tempo seguraram a bandeira da literatura na terra de Mariana Luz servindo de exemplo para muitos estudantes. Crer-se que cantar Itapecuru-Mirim não é fácil, principalmente na poesia, e Theotonio conseguiu interpretar as belezas os problemas desta cidade, os sonhos e as decepções desse povo aguerrido, de maneira impar. Destarte, as futuras gerações hão de ter um verso que exalte o Caminho de Pedras Miúdas, na ponta da língua, bem como os ludovicences tem a Ilha Magnética.
Samira Diorama da Fonseca - Formada em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão, é pós-graduada em Metodologias Inovadoras Aplicadas à Educação: Ensino de Língua Portuguesa e em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pelo Instituto de Ensino Superior Franciscano-IESF. É professor substituta de Literatura Brasileira, do Centro de Estudos Superiores de Itapecuru-Mirim- Campus da UEMA. Romancista, teatróloga, cronista e contista, Samira possui três livros publicados: O Mistério da Casa da Cultura (2013); Cristal: uma história de sincretismo e encantaria (2017) ambos romances; Maria Passa na Frente (2016), peça de teatro. A escritora também possui textos publicados no Blog da Jucey Santana e escreve regularmente para o Jornal de Itapecuru. Samira Fonseca prefaciou o livro, Memórias do Capa Preta, do escritor e imortal da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, Júnior Lopes e escreveu a orelha do livro Coletânea de Crônicas Itapecuruense, organizado pelo professor, pesquisador e imortal da AICLA, Thiago Oliveira. Recentemente foi eleita para a Academia Vargem-grandense de Letras e Artes.
UM COSMOS NA CASCA DE UMA NOZ ROGÉRIO ROCHA Quantos livros morreram no prelo? Quantos poetas morrem inéditos? Quantas obras sequer encontraram as retinas dos leitores? Trata-se de uma realidade que se tem manifestado durante toda a história da literatura, para não dizer da própria história da arte. Hoje escrevo a partir da ausência do homem a quem este pequeno texto – que tem caráter de mera apresentação – busca alcançar. Falo da figura de Manoel Serrão da Silveira Lacerda, nascido em São Luís (MA), advogado e professor de direito, descendente de espanhóis e portugueses judeus, que partiu do plano terrestre em 26 de dezembro de 2019 sem deixar sequer um livro publicado. É importante frisar, incialmente, um esforço hoje em curso para não o condenar ao solo frio do ineditismo – que, nesse caso, equivaleria não ao puro esquecimento, mas ao estado de eterno desconhecimento do poeta pelo público de hoje e talvez de amanhã. Tal iniciativa vem sendo levada a cabo pelos mais íntimos amigos, dentre os quais cito dois, para fazer-lhes justiça: os escritores João Batista do Lago (por meio de quem pude conhecer a obra de Serrão) e Mhario Lincoln (grande divulgador da cultura brasileira e maranhense). Neles deposito a esperança de ver realizado um sonho do falecido escritor: o da publicação de sua obra. Ainda que póstuma, merece publicação. Manoel Serrão é um poeta não lido, por isso não conhecido. Digo é (e não foi) pelas razões conexas às respostas que poderíamos oferecer aos questionamentos que fiz logo no primeiro parágrafo. Poeta Serrão. Não o pude conhecer, é verdade. Chegaram a mim, contudo, seus poemas, apresentados que me foram por um amigo do homenageado, o já citado poeta João Batista do Lago, que os tem disseminado em vários sites de literatura na rede mundial de computadores. Alguém que reconheceu nos versos daquele ser humano a força abrangente de um autor que, no recolhimento de sua timidez, praticou muito boa poesia, como a que encontramos na belíssima “Ses’sen’ta”: Ó qu'eu por amor à ti vida, não fiz! / Se por ti me fiz o sono leve, o sonho, e o pesadelo/ a luz e a sombra./ Se me fiz pouco a pouco a paz e a escuridão/ sem medo da noite;/ Se me fiz o Sol, o céu preclaro, o sal, o cio, dias rútilos/ –, sementes;/ plantei-me em ipês de floradas amarelas./ Se me fiz o modular do bem-ti-vi cantador,/ e o revoar do colibri beija-flor. Serrão, que foi um escritor prolífico, estruturava suas criações dentro de um vasto repertório de signos, com riqueza vocabular e uma gramática de extensas raízes, fazendo excelente uso dos recursos estilísticos disponíveis a sua lírica, geralmente concretizada em versos longos, quais os que temos no poema “D’osgemeos”, reproduzido abaixo em excerto: Ó tu imortal que ao sal das vagas emerge das entranhas líquidas,/ que desaba em fúria severa sobre o tombadilho,/ e quão um punho em brasais, esbatia-se contra o rochedo do "Náutilos"/: arremessa-o contra o tempo pelo eterno;/ desafia-o num só gesto à morte;/ e, atormenta-o nos interiores pelos seus contrários o mundo ao redor. Manoel soube, contudo, expressar-se também em poemas curtos, como em “Água benta”: Dessedenta/ A língua/ E o céu da boca!/ Cospe o velho/ Saliva o novo. Ou em “Delirium”: Distorce-me/ O real pelo avesso.../ Ó delusão? Mentir para o/ Meu ‘eu’ não!/ Nunca fui (ao) mundo oposto. Com versos livres ou rimados, com métrica ou não, através de aforismas, pensamentos, prosa poética e, às vezes, filosófica, apresentava, em seu temário, assuntos como a relação do homem com o Divino, a religião, o misticismo, a existência, os sonhos, o amor, a morte e a psique. É possível notar também conteúdo e formas absorvidas de autores da antiguidade ocidental, como Homero e Horácio, por exemplo. Percebi, contudo, logo ao primeiro contato com a poesia do desconhecido maranhense, influências de Rimbaud, William Blake e Sousândrade. Posteriormente, em exercícios mais ousados, também presentes na
sua obra, ecos de Leminski e Pignatari. Para além disso, a tentativa de construção de um percurso baseado na não-linearidade e na versatilidade, ambas demonstradas num estilo poético carregado de ecletismo e que tinha em vista, ao que me parece, a universalização das suas muitas vozes. Sim. Serrão foi dono de múltiplas vozes. Nelas havia beleza e solidão, intimismo e exterioridade, amor e vida. Ademais, vi também um criador de versos, poeta com pê maiúsculo, que, infelizmente, nunca gozará da possibilidade de celebrarmos juntos a amplitude monumental da sua escrita, no rastro de uma obra quase invisível e capaz de realizar o milagre do enclausuramento de todo um cosmos na casca de uma noz. ILHOSES
MANOEL SERRÃO DA SILVEIRA LACERDA Escrita - Biblioteca Virtual de Escritores
Feito corpo. Feito alma. Feito espírito. Feito [os] nós infestos de agruras abstêmias, Idem inglórios epítetos insultuosos. Destapas d’alma a fenda ó bardo? Azo a sós, dê-se em essência parida, Opila, tece pelo bico da Parkinson odes diversas das que vós alinhaveis tecidas a ponto perfeito? Não o ranço? Nem o vil escárnio que escoado pelo o esfínque, vazam rimas quão em escarros. Oh! A de não tê-las n’outras cartilhas o verbo ser-dor, Sido purgado, alma para ser carne? Vês?! Vês que dor se for [do que duvido!] não é verbo para sê-lo, Porque a dor do Deus criador, É dor à sós do ser sentir - quase, dor sem fim, dor que não se faz. Feito dor. Feito verbo. Feito carne. Feito nós infestos de agruras abstêmias, Idem inglórios epítetos insultuosos. És preciso tu, ó Narciso, ó vão além útero, fragma de um Eu despedaçado, venera estampa da própria carne. És preciso tu, que os pensas sê-lo, Mais que tudo: o Deus, o Verbo e o Nada? Sido purgado, verbo ser-dor, alma para ser carne. Sede vós mais que os ancestrais avós dos vossos ilhoses.
Então, ousas à ti dizeres? Ou é-me essência parida? Ou de fenestra a ambrósia dos mortais. MANOEL SERRAO
Ver Perfil - manoelserrao1234 Nasceu a 19 Abril 1960 (São Luis - Maranhão) Perfil Nome completo: Manoel Serrão da Silveira Lacerda. Idade e naturalidade: Nasceu em São Luís [Atenas Brasileira] capital do Estado do Maranhão, na Santa Casa de Misericórdia, em 19 de abril de 1960. Filiação: Filho de Agamenon Lucas de Lacerda e de Oglady da Silveira Lacerda. Neto paterno de Manuel Lucas de Lacerda e Maria Antônia Lucas de Lacerda; neto materno de Hidalgo Martins da Silveira e Maria José Serra da Silveira. Ascendência geral de espanhóis e portugueses judeus. Profissão: Advogado e Professor de Direito, formado pela Faculdade de Direito do Recife - UFPE
TORTUOSA [MANOEL SERRÃO]
ToRtA. AsSimÉtRicA. I n c l i n a d A... A culpA dEsconstrói A verdAde, E constrói A desculpA. É O desconstruir-do-mais-que-perfeito! Comentário: A “Tortuosa” dialética do exterior e do interior do Ser esquartejado Por © DE João Batista do Lago:
Comentário de João Batista do Lago [“João Batista do lago, maranhense, pode ser considerado, atualmente, um dos mais completos poetas e cronistas do Brasil, haja vista a consciência plural e significativa de sua intuição cultural, fato que o faz passear entre musgos históricos gregos e o modernismo clariciano, espargindo
o pensamento poético alemão, americano ou inglês, sem esquecer das taças saboreantes dos vinhos que enebriaram o cismar dos poetas franceses como BAUDELAIRE (Charles Baudelaire), MALLARMÉ (Stéphane Mallarmé), FRANÇOIS COPÉE (François Édouard Joaquim Copée) e MUSSET (Louis Alfred de Musset) – o poeta do amor. Como eu, o Maranhão e o Brasil também, creio, se orgulham de João Batista do Lago, uma das maiores expressões literárias do mundo moderno. Fato que, realmente não deixa a desejar se comparado a nenhum dos franceses acima citados”. Marconi Caldas Poeta, escritor e advogado São Luís – Maranhão – Brasil 2007]. A inserção do poema, ou do poeta, num determinado campo literário é algo complicado, posto que, quando o Poeta produz o faz a partir da sua - e somente sua - cosmovisão, ou ainda, da sua mundanidade ou mundidade representacional, ou mais especificamente, do seu universo holístico. Contudo, por mais que não queiramos, a literatura exige que encaixemos o texto num determinado discurso. Apesar disso, ouso aqui não intentar, para esta belíssima obra de Manoel Serrão, uma Escola Literária para, assim, fixá-lo nela. "Tortuosa" é um poema que traduz uma carga de significados excepcional. Mas não só isto: o poema traz, em si, ainda, o conteúdo de seus significantes (também!). Ao inferir este pensamento quero, desde logo, chamar a atenção para o campo teleológico, ou seja, do argumento, conhecimento ou explicação que relaciona um fato com sua causa final. E o que é que se relacionam neste poema? Ouso responder: a dialética dos universos "externo" e "interno", que se traduzem e re-traduzem na concretude de entes que se digladiam na extensividade da dialética do sim e do não, aqui entendidos como a construção e a descontrução do discurso do poema-de-si. É muito interessante, e salutar, perscrutar este poema mínimo porque, de cara, ele nos revela e desvela uma questão fundante: não é preciso um trem de palavras para se atingir o fato com sua causa final. Neste caso, por exemplo, Manoel Serrão não precisou mais que dezoito palavras para atingir, belíssimamente, a causa final: a tortuosidade assimétrica da “verdade” E essa constatação se torna efetiva na mesma proporção em que o sujeito que fala no poema se internaliza tanto no espaço externo quanto no espaço interno, dialetizando a verdade pelo viés da culpabilidade. E de posse da "culpa", uma característica da essencialidade da "verdade", produz-se o processo da construção e da desconstrução do Ser e do não-ser: não é à-toa que a palavra "inclinada" vem grafada verticalmente. Ora, isso nos sugere uma tipologia de torre (seria a Torre de Babel?) construída e desconstruída assimetricamente, isto é, há uma relação de correspondência desse corpo, seja na forma, seja na grandeza, assim como na localização entre as partes existentes de um lado e do outro de determinada linha, plano ou eixo. "O exterior e o interior formam uma dialética de esquartejamento, e a geometria evidente dessa dialética nos cega tão logo a introduzimos em âmbitos metafóricos. Ela tem a nitidez crucial da dialética do sim e do não, que tudo decide. Fazemos dela, sem o percebermos, uma base de imagens que comandam todos os pensamentos do positivo e do negativo" - (BACHELARD, Gaston, in A POÉTICA DO ESPAÇO, P. 215). Porventura, não é de fato um esquartejamento visceral dessa verdade "inclinada" se movimentando de um lado para o outro como se fosse um pêndulo sustentado por um fio metafórico ou a representação pessoal da mente do sujeito que fala no poema? É claro que sim! Mas, quem é que está sendo esquartejado, construído e desconstruído, na verticalidade “inclinada”? É o “O” do último verso. Eis, pois, aqui e agora, o Ser da construção e da desconstrução. E quem é esse “O”? É exatamente o Homem (homem/mulher), que se auto constrói e se auto desconstrói, numa tentativa desesperada de se fazer sentido, de se dar sentido como o Ser de significados e significantes. _________ Curitiba – Paraná 11/fev./2009
HOMENAGEM PÓSTUMA A ARTISTA MARANHENSE ISABEL CUNHA "A canção continua". MHARIO LINCOLN; SHARLENE SERRA Convidada Sharlene Serra presta homenagem póstuma a artista maranhense Isabel Cunha (facetubes.com.br)
Isabel Cristina da Cunha Rodrigues, cantora, compositora, artista plástica, atriz, bacharel em Filosofia, nasceu em São Luís do Maranhão, em 30 de dezembro de 1955. Dedicou sua vida ao magistério e às artes. Filha do escritor, jornalista e professor Carlos Cunha. Irmã da escritora, compositora e jornalista Wanda Cunha. Mãe das cantoras maranhenses Carol Cunha e Ana Tereza Cunha. Esposa e amiga do goiano Osvaldo Rodrigues há 39 anos. Espirituosa e afetuosa, Isabel era um exemplo de admiração e respeito para os irmãos, sobrinhos, tios, amigos, parentes e todas as pessoas com as quais convivia. Sua marca registrada era a alegria contagiante. Funcionária pública aposentada pelo Ministério da Fazenda e professora de Filosofia, Isabel Cunha, apesar de demorar a revelar ao público seu talento artístico, desde seus dez anos cantava nas festas familiares e estudava piano clássico. Na adolescência, abraçou o cavaquinho e, posteriormente, o ukulele e o teclado como seus instrumentos diletos. Na terceira idade, retomou aulas de cavaquinho, piano e canto na “Escola de Música Carol Cunha”. Dedicou-se, paralelamente, a artes plásticas e estava cursando a Escola de Formação para Atores de Cinema (EFAC), de Luís Mário Oliveira. Pela EFAC, Isabel gravaria um curta intitulado “Da Lata do Lixo”, no qual atuaria como atriz principal, cujo personagem seria uma professora de artes, de nome Plácida. A própria Isabel escolhera o nome da personagem, para homenagear sua mãe, a professora Plácida Cunha. Também, Isabel Cunha faria uma participação no filme Yolanda, com direção de Luis Mário Oliveira. Como compositora, participou com Selma Melmonte, Carol Cunha e Wanda Cunha, da proposta para escolha do Samba Enredo da Turma do Quinto de 2020, destacando-se como as pioneiras na ala de compositoras daquela escola. Com as filhas, compôs músicas como O olhar na Janela, Comadre Vai, Meu coração já te esqueceu, Pega Ladrão, entre outras. Como cantora, Isabel fez sua primeira aparição nas redes sociais no clipe
“Louca Aventura”, interpretando a música de autoria da compositora maranhense Selma Melmonte. Em 2018 e 2019, ela gravou dois videoclipes, intitulados “Xote da Carangueja” e “A fé no amor virou feminicídio”, em parceria com a irmã Wanda Cunha, com a qual desenvolvia um projeto musical em combate à violência doméstica contra a mulher. Dessa parceria, nasceram inúmeras músicas, dentre as quais Penha Nele, Eterno Amor, Marido Aceso, Egoísmo, esta última lançada em março deste ano nas redes sociais, que elas compuseram quando ainda eram meninas. Isabel Cunha e sua irmã foram classificadas em vários festivais de músicas maranhenses e participaram de diversos shows, dentre os quais o PARA ELAS, do Projeto Pátio aberto, no Centro Cultural Vale do Maranhão, o Pocket show na Amei, para lançamento do clipe “A fé no amor Virou Feminicídio”, além de apresentações diversas no projeto Esquina da Arte. Em março de 2020, a dupla participou do show Mulheres na Roda de Samba, no Casarão Colonial e na Feirinha, no Samba Especial em homenagem às mulheres, a convite da cantora Anastácia Lia. As irmãs marcaram presença no Segundo Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba, em homenagem a Lecy Brandão; e no III Seminário Estadual de Combate ao Feminicídio, promovido pelo Estado do Maranhão em parceria com várias instituições. Durante a pandemia, elas participaram de duas edições do Projeto Conexão Cultural pela Secretaria de Cultura do Estado, por meio das quais lançaram nas plataformas digitais cerca de 05 shows. Sua música “Meu Coração Já te Esqueceu” fora classificada para o Festival de Música de Imperatriz. MEU CORAÇÃO JÁ ESQUECEU – ISABEL CUNHA Ao você chegar de madrugada, Não me acorde, não fale nada. Deixe-me dormir. Nunca mais eu vou lhe esperar Nunca mais eu vou chorar De você eu desisti. Quero ser despertada pelos passarinhos Na janela me chamando Para um novo amanhecer. Unirei meu canto ao canto deles Sem saber quem é mais feliz: Se sou eu ou se são eles. Não vou mais malhar em ferro frio Porque a vida é só uma E é um grande desafio Se eu ganhei o prêmio do viver Vou fazer por merecer, Escolhendo os meus caminhos. Agora é tarde e Inês é morta E para mim o que importa é ser feliz Porque um amor malvado como seu Meu coração já esqueceu, esqueceu, esqueceu. Em outubro do ano passado, Isabel Cunha, ao lado da filha Ana Tereza e da irmã Wanda Cunha, também prestigiou o lançamento da I Antologia “Toda Forma de Ser Mulher”, da Ajeb/MA, na praça dos Poetas, encantando os presentes com seu repertório musical e sua presença de palco. Dona de uma bela e afinada voz, Isabel Cunha, no fim de 2020, foi classificada para o Festival Canta São Luís, da Prefeitura Municipal de São Luís, realizado na Praça Maria Aragão. Isabel Cunha morreu no dia 8 de janeiro deste ano, vítima de covid, no auge de suas atividades artísticas, deixando vários sonhos interrompidos, dentre os quais a edição do videoclipe de sua música “Comadre Vai”, que estava em fase de conclusão do roteiro pela Empresa Caramuru. Foi uma trajetória breve para tantos sonhos. A canção continua emocionada com a saudade contida na alma, entre
poemas e notas musicais que a vida compunha. Wanda, Tereza, Carol, eternizam na música o legado imortalizado de ISABEL CUNHA. (Sharlene Serra) Sharlene Serra – de São Luís Maranhão, poeta, escritora. Graduada em desenho industrial, pedagogia e especialista em Ed. inclusiva, Participou de diversas antologias/coletâneas nacionais. Tem 7 livros publicados. Membro da Academia Poética Brasileira e vice presidente da AJEB- Associação de Jornalista e Escritoras do Brasil, coordenadoria do Maranhão.
ARLETE NOGUEIRA DA CRUZ CERES COSTA FERNANDES Arlete Nogueira da Cruz (Machado) faz 85 anos, gentil menina, não levemos em conta o enganoso calendário, passou levemente pelo tempo, do modo como perpassa por entre as gentes, com elegância e delicadeza. Quem tem o privilégio da sua convivência sabe que esta suavidade oculta uma vontade férrea, uma fé inquebrantável em seus objetivos, focados e realizados com método e denodo. Inda mais se disserem respeito à obra de seu amado companheiro, amor maior, que divide com o filho Frederico e os três netos, o seu universo de amores. Sem perder nunca, jamais a gentileza e o savoir faire, deve-se registrar. O lugar de nascimento de Arlete é emblemático, nasce na estação ferroviária de Cantanhede, município no interior do Maranhão, em 1936. Lugar de passagem. Cantanhede está posto entre a ferrovia e o Rio Itapecuru. O ir e vir de pessoas, pessoas chegando, pessoas partindo, pessoas de passagem, as despedidas comovidas, enriqueceram o imaginário da menina de viva inteligência que a tudo observava, ajudando-a a criar cenário mágicos, tipos e personagens. A memória do Rio Itapecuru vai repercutir fortemente na sua criação literária, mais diretamente, na fábula O Rio, escrita em 1967 e publicada somente em 2011, foi inspirada nos lugares, gentes, lendas, encantados e animais, que vivem e habitam no imaginário dos ribeirinhos do Rio Itapecuru da sua infância. A semente lançada no solo fértil brotou forte. Começou cedo a sua vida literária. De família com tradição em literatura – sua mãe, Enóy Nogueira da Cruz, que adotava o pseudônimo de Márcia Queiroz, era poeta e colaborava como cronista em jornais de São Luís, incentivava a filha nas lides literárias –, foi normal para Arlete o que era proibido a outras “moças de família” dos anos de 1950 e 60, escrever em jornal, a convivência com grupos de intelectuais e poetas que se reuniam para conversar sobre literatura e, também, por que não, beber. Arlete tudo acompanhava, não bebia cerveja, tiquira, absinto, bebia guaraná e bebia as palavras, os poemas. Participava das discussões literárias acaloradas, e, entre outras coisas, de como salvar o mundo, sempre perdido, sem remédio. A respeito destas tertúlias, Arlete revela: “início dos anos 60 ainda, os mais chegados a mim eram justamente, José Chagas, Antônio Almeida, Nauro Machado, Henrique Moreira Lima, Bandeira Tribuzi, Luís de Mello, José Maria Nascimento, Paulo Morais. Nas tardes de sábado, impreterivelmente, eu já podia esperar, lá vinham eles: Antônio Almeida, José Chagas com seu inconfundível saxofone, e Paulo Moraes, disposto a cantar e dançar [...] “De minha casa, o grupo saía para um barzinho que ficava ali perto, na Rua São Pantaleão, e uma vez insistiram tanto comigo que acabei indo com eles, dia em que fiquei a tomar um guaraná com Bandeira Tribuzi, que conseguiram também arrastar até lá, Tribuzi não bebia cerveja e morava perto de mim, numa porta e janela, na Rua da Inveja.” (Sal e sol, 2011). Tal como Lucy Teixeira e Dagmar Desterro, outros faróis em meio à literatura feminina maranhense, em outras décadas, era a única mulher do grupo. Arlete é uma das nossas grandes escritoras, uma escritora completa no seu amadurecimento pessoal e artístico. Prosadora, circula com o seu trabalho, tanto no ensaio literário (Sal e sol e Nomes e nuvens), quanto na prosa de ficção com seus romances, fábula e contos. Em 1961, Arlete Nogueira da Cruz lançava o romance A Parede, incentivada por Josué Montello, que, de tão cativado pela obra, “levou o livro para o Rio, andou com ele pela ABL, conseguiu editor, escreveu-lhe generosamente o prefácio e depois publicou uma crônica elogiosa no Jornal do Brasil” . Como nos conta a própria autora, em Sal e sol. A parede marca fortemente a carreira literária da escritora, dando-lhe o incentivo e o selo que sua criatividade pedia como prosadora, essas características continuaram reverberando em Cartas da paixão (ensaios), Compasso binário (romance), e Contos inocentes. Não se espere de Arlete uma prosa ou mesmo poesia de arroubos, e hermetismos, as emoções são delicadas, há um refinamento que se aproxima da singeleza e perfeito domínio da linguagem, em tudo perpassa a leveza e a elegância pessoais da escritora. Os romance e contos, colocam-se na categoria dos filosóficos, não fosse ela professora e mestra de Filosofia, focam mais no não dito, no universo interior dos personagens, e reflexões sobre o que é humano. Arlete diz que se considera mais prosadora que poeta, mas afirmo que ela brilha nos dois gêneros. Talvez o fato de ter vivido toda uma vida ao lado de um poeta exponencial como Nauro Machado, a tenha levado, de
certa forma, a minimizar o valor da sua obra, mas só A Litania da velha já bastaria para consolidar o seu lugar na poesia maranhense. Seguem-se Canção das horas úmidas e o encantador O quintal. Em Litania da velha, a protagonista, a Velha, é uma representação da própria cidade de São Luís. Cidade e pessoa se identificam marcadas pelo abandono e pela metamorfose do desgaste do tempo representado, metaforicamente, na cidade pelo salitre e desmoronamentos, e na velha pelos trapos que a vestem e os desgastados chinelos que arrasta. Arlete prosadora, poeta, administradora atuante de vários órgãos culturais do Maranhão, que mais nos apresenta? A outra faceta de Arlete é o seu compromisso de amor com Nauro e sua obra. Além de proporcionar condições para que ele criasse a sua poesia, ela dedicou e dedica grande parte de sua vida à organização e divulgação da obra de Nauro Machado, um poeta que ultrapassou as fronteira de nossa província e se tornou dos maiores do Brasil, seu marido e companheiro por mais de 44 anos. Após a morte de Nauro, seu trabalho se concentra na reunião e edição de seus inéditos, em número de seis, sendo que os dois primeiros, O pombo negro dos sobrados e Canções de roda nos pés da noite, já se encontram prontos para serem lançados, esperando melhores momentos. Não se pode pensar Arlete sem Nauro; não se pode pensar Nauro sem Arlete. Nestes 85 anos, estão de parabéns Arlete e a prosa e poesia maranhense.
NOTA COMPLEMENTAR DO EDITOR: Arlete Nogueira da Cruz Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Arlete Nogueira da Cruz – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) Arlete Nogueira da Cruz (Cantanhede, 1936) é uma escritora[1] e poeta[2] brasileira. Iniciou seus estudos na cidade em que nasceu, Cantanhede, no interior do Maranhão. Aos 12 anos, sua família mudou-se para a cidade de São Luís, onde ela frequentou, entre outros, o Liceu Maranhense. Seu pai, Raimundo Nogueira da Cruz, foi agente da estrada de ferro, e sua mãe, Enoi Simão Nogueira da Cruz, autora de poemas e crônicas. Seu primeiro livro, A Parede, foi escrito quando tinha menos de vinte anos e obteve o 3o. Lugar no Prêmio Júlia Lopes de Almeida, da Academia Brasileira de Letras, em 1960, após ser inscrito naquele concurso pelo escritor Josué Montello[3]. Graduou-se em Filosofia na Universidade Federal do Maranhão e cursou Mestrado em Filosofia Contemporânea na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde defendeu dissertação sobre Walter Benjamin, intitulada Rastro e Ruína:experiência e vivência em Walter Benjamin. É professora aposentada da Universidade Federal do Maranhão, onde exerceu o magistério no Departamento de Filosofia. É viúva do poeta maranhense Nauro Machado, com quem foi casada por mais de trinta anos e teve um único filho. Litania da Velha, obra poética publicada no ano de 1976, é um de seus livros mais importantes. No mesmo, acompanha-se as andanças de uma mulher idosa e pobre pelo centro histórico de São Luís, bem como as reflexões da mesma sobre a vida, o abandono da cidade e a passagem do tempo. Em 1997, Litania da Velha se tornou um curta-metragem, agraciado com vários prêmios[4]. Obras • 1961 – A Parede • 1969 – Cartas de Paixão • 1972 – Compasso Binário • 1973 – Canção das Horas Úmidas • 1976 – Litania da Velha • 1998 – Trabalho Manual • 2000 – Contos Inocentes • 2003 – Nomes e Nuvens • 2006 – Sal e Sol • 2013 – O Quintal • 2017 – Colheita Referências 1. ↑ Academia Maranhense de Letras.
2. ↑ Poesia de Ibero-América. 3. ↑ Arlete Nogueira Blogspot. 4. ↑ Escritora Realiza Debate Sobre Litania da Velha. Ligações Externas • CORREA, Rossini. O Quintal e a Arte Poética In: O Estado do Maranhão. Data: 06 abril de 2017 • FURTADO, Maria Silva Antunes. Litania da Velha: a cidade e os esconderijos da memória. In: Revista Garrafa 23. Data: jan-abr 2011. • O ESTADO DO MARANHÃO. A Colheita de Arlete Nogueira da Cruz. Data: 28 novembro de 2017. • FERREIRA, Màrcia Milena Galdez. Litania da Velha na Velha/Nova São Luís. In: Caderno da Pós de Ciências Sociais-UFMA.São Luís, v. 1, n. 1, jan./jul. 2004 .
DIILERCY ADLER: poeta e pesquisadora LINDA BARROS Professora e Atriz Quando os raios de luz ainda refletem em seu rosto a cada dia, é sinal de que seu caminho continua sendo iluminado e que sua jornada será longa. E que não importam os traços que carregamos no rosto. Isso só representa o longo caminho percorrido até aqui. Os raios de sol, em sua profunda claridade, calor e sabedoria, trouxe-nos à luz uma das mulheres mais iluminadas pelos holofotes literários da atualidade - Dilercy Aragão Adler, uma mulher cuja jovialidade espelha-se em seu rosto e em seu punho sob a pena de suas obras e pesquisas literárias. Dona de um invejável arcabouço cultural, seja na poesia, seja na prosa, seu percurso literário perpassa e ultrapassa muitos chãos à fora levando-a ao glorioso campo da pesquisa. Dilercy é uma das maiores pesquisadora maranhense sobre a obra e vida de Maria Firmina dos Reis. Dilercy Adler nasceu em São Vicente Férrer. É Psicóloga _CEUB/DF), Doutora em Ciências Pedagógicas (ICCP/CUBA), Mestre em Educação (UFMA) e tem Especialização em Sociologia (UFMA) e Especialização em Metodologia da Pesquisa em Psicologia (UFMA). A psicóloga e escritora sabe bem como usar as palavras para descrever o ser humano, como podemos ver no texto citado que está inserido no livro Crônicas & Poemas Róseos-Gris, publicado em 1991, onde ela expõe sua eloquência com palavras para bem desenhar o ser, Homem Massa de músculos e força quanta potência emana do teu corpo teu corpo que me entontece estremece enlouquece mas também enternece com teu doce jeito de ser menino Dona de uma vasta carreira literária, Dilercy é membro-fundador e ex-presidente da Academia Ludovicense de Letras -ALL, onde ocupa a cadeira número 08. Presidente Fundadora da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão de 1997 a 2017, atual Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil. É Senadora da Cultura do Congresso Internacional da Sociedade de Cultura Latina e Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, é também membro Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil – AJEB, seccional Maranhão. Recentemente a Doutora em Educação foi eleita Membro Correspondente da Academia Vargem-Grandense de Letras. Em uma longa jornada, que seguramente não foi fácil, Dilercy Adler é autora de “Crônicas & Poemas RóseosGris”, (1991) ; ”Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário”, (1997); “Arte Despida” (1999); “Genesis-IV Livro” (2000); “Cinquenta vezes Dois Mil human(as) idade(s)” (2000); “Seme...ando dez anos” (2001); “Joana Aragão Adler: uma história de amor e de fé...uma história sem fim...” (2005); “Desabafos... flores de plástico... libidos e licores liquidificados” (2008); “Uma história de Céu e estrelas” (2010); “Poesia feminina: estranha arte de parir palavras (2010). Além dessas e tantas outras obras, a Escritora, Poeta, Antologista, Socióloga e Professora, é organizadora da Exposição poesia e fotografia-100 poemas-posters de 61 poetas maranhenses e Livro “Circuito de Poesia Maranhense” (1995/1996); ainda das Coletâneas Poéticas: “LATINIDADE-I, LATINIDADE-II, LATINIDADE III e IV da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão. Seguindo a cadência com as palavras, Dilercy é também autora de livros acadêmicos, como:
“Alfabetização & Pobreza: A escola comunitária e suas implicações”; Carl Rogers no Maranhão: Ensaios Centrados” (org.) 2003. “Tratamiento Pedagógico de los valores Morales: de la comprensión teórica a la práctica consciente” 2005, fazendo com que sua intrépida carreira literária seja ainda mais rica. Como palavras ao vento, a psicóloga e pesquisadora semeia seus versos e os joga ao mundo sem a menor preocupação de onde eles podem chegar ou a quem podem alcançar. Com seus olhinhos miúdos, Dilercy tem uma visão holística e da vida e do mundo que a cerca. Sem entremeios, “jogou” ao mundo inteiro seus versos livres e imaginários, pois ela plantou e colheu os melhores frutos ao longo de seus 70 anos, aos quais ela tem orgulho de mostrar à sociedade com muita longevidade, discernimento e poesia. Como ela mesma ressalta nos versos abaixo, Espalhem-se os poemas Por todos os cantos Do planeta Por todas as crateras Do solo lunar São tantos que não conto Nem dou conta De ganhar... Versos esses que estão no poema “Plantando Poemas”, onde podemos constatar a existência da autora em somar e multiplicar suas palavras que muito tem a dizer sobre quase tudo, mas principalmente sobre sua própria existência. Para comemorar sua bela carreira Dilercy Adler foi contemplada com o 3º lugar no V Prêmio Literário Gonzaga de Carvalho, promovido pela Academia de Letras de Teófilo Otoni (ALTO). Em meio a esse vasto panorama literário de que faz parte, Dilercy Adler é pura singularidade e sensibilidade no trato com as palavras, o que a faz ocupar um lugar honroso e glamouroso do mundo da Literatura Maranhense Contemporânea.
ARLETE NOGUEIRA: TECELÃ DO NOSSO LUME LITERÁRIO ANTONIO AÍLTON Poeta, ensaísta
“Pouso no meu quintal, chamando-o de meu pelas pendências guardadas nas lembranças e injunções de um instante, avesso e conturbado, que reclamam e justificam essa apropriação” [...] (Rosas perfumadas e puras que tenho nas mãos são das mãos de minha mãe que acaba de entregá-las a mim. As goiabas macias e doces que mastigo são as bênção de meu pai que me chegam neste encontro solitário de viagens) Arlete Nogueira da Cruz, O quintal, 2014.
O fenômeno Arlete Nogueira da Cruz, poeta, romancista, ensaísta, filósofa, ainda não eclodiu à sua altura, à altura do merecido. Digo “fenômeno” não no sentido essencial à Filosofia (da qual Arlete, mestra em Walter Benjamin, já teve cátedra na Universidade Federal do Maranhão), mas naquele sentido mais comum à visibilidade e divulgação midiática. Isso, porém, ainda vai acontecer, mesmo que essa bela tecelã quase que do silêncio, essa extraordinária pessoa, mulher devotada à literatura, do alto de seus 85 anos, em sua extrema modéstia seja avessa a badalações e midiatices. Acontecerá porque, no fundo, sabemos que ela merece os mais exaltados reconhecimentos, e, sendo ela mesma um lume para este tempo, faz jus ao lugar que lhe diz respeito: o topo. Arlete é uma das poucas mulheres que teve um engajamento sólido, constante e permanente na poesia do Maranhão dos últimos 50 anos, senão mais! Isso seria o bastante para a importância do que construiu, encarnada em livros como a Litania da Velha, uma “obra-prima da literatura brasileira” (conforme Jorge Tufic e a nossa própria constatação), que teve primeira edição em 1996 – e não 1976, como ainda consta na Wikipedia –, a segunda em 1997, e uma edição comemorativa princeps, organizada por seu marido, Nauro Machado e seu filho, Frederico Machado, em 2002, também relançada em 2008 com edição reduzida); O quintal (2014) e Colheita (2017), livro que reúne produção poética desde Canção das horas úmidas, de 1973, além de alguns poemas inéditos de sua mãe, que também era poeta. Na verdade, porém, a literatura de Arlete se faz igualmente, ou até mais fortemente, na prosa, estreando ainda muito jovem com o romance A parede, em 1961, com a admiração de Josué Montello, e reconhecimento pela Academia Brasileira de Letras, ainda inédito, em concurso, no ano de 1960. Seu caminho na prosa se fará ainda com Cartas da paixão (1969) e a novela Compasso binário (1972), esses três livros foram reunidos em Trabalho Manual (1998); Contos inocentes (2000; 2001) e O rio (2012), sempre com a leveza característica da sua psicologia sutil e detalhista escritura, como se estivesse a fazer tecidos rendados com as palavras. Contos inocentes, por exemplo, é um daqueles livros que nos fazem lembrar não apenas a doçura e a luminosidade de uma Marina Colasanti (lembrando de que se trata de Arlete, que prefere a tênue realidade cotidiana aos mundos fabulosos) mas também a magistratura escritural de um Antoine de Saint-Exupéry, na medida em que seu público-leitor não se define por estação etária, porque essa prosa está aberta à entrada e ao entendimento de qualquer um, dos leitores de qualquer idade e escolaridade.
Quanto aos seus ensaios, o que encontramos neles é uma conversa. Aquela mesma que nos faz ficar encantados quando essa mulher simples, mas profundamente conhecedora da realidade cultural, social e literária do Maranhão, e dos meandros/bastidores da literatura brasileira, começa a narrar, explorar, analisar os fatos dos cenários de que conhecedora como conhecemos a experiência e o vivido. Os ensaios de Arlete têm aquele mesmo fundo de enredo e vivacidade de sua prosa. Assim encontramos um panorama do que foi a ascensão da modernidade literária maranhense em Nomes e Nuvens (2003), e trabalhos, análises mais pontuais, em Sal e Sol (2003), no qual a autora avança para abordagem visão de momentos e nomes mais recentes da literatura maranhense. Em sua vida pessoal, como grande articuladora, um dos maiores trabalhos de Arlete Nogueira da Cruz está naquela tessitura silenciosa que une os pontos soltos de um tempo, que agrega uma geração, e contribui de maneira definidora, para que ela se erga e deixe seu marco no mundo, numa cultura. É o empenho de concentrar esforços para que as letras de forma geral, o saber, a transformação aconteça não apenas a sua própria, no seu próprio âmbito, mas no âmbito de uma sociedade. Arlete pôde exercer esse papel fundamental não apenas porque esteve à frente do Departamento de Cultura do Maranhão, naqueles momentos-chaves de início e meados dos anos 1970, ou porque se tornou esposa daquele que, sendo, se tornaria um dos principais poetas maranhenses e brasileiros desses anos, Nauro Machado, mas porque sempre foi uma promotora e incentivadora pessoal daqueles que estiveram com ela, como o poeta José Chagas, José Maria Nascimento e tantos outros que surgiram na Ilha. E através dela também vinha a lume a próxima geração, pois é ela quem convoca, apoia e publica a famosa antologia do chamado Movimento Antroponáutica, formado pelos nossos hoje tão conhecidos Luís Augusto Cassas, Chagas Val, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar e Valdelino Cécio, que compunham a Antologia Poética do Movimento Antroponáutica (1972), a dedicada à pessoa de Arlete, inclusive. Não há dúvida, porém, que hoje podemos reconhecer toda uma abnegação, para além da dedicação dessa pessoa de aparência frágil, mas de alma tão obstinada, em dar a conhecer ao mundo a excepcional potência e valor poético daquele que foi seu marido, amigo e companheiro por toda uma vida, o imenso Nauro Machado. E não estamos falando aqui apenas dos anos de casamento, mas Arlete já era uma leitora de Nauro desde o Campo sem Base, do poeta, de 1958! Com a partida dele do plano físico, em 2015, Nauro deixou vários livros inéditos, cuja publicação tem sido objeto do cuidado incansável e diuturno dessa esposa. Em 2019, ela organizou uma obra monumental, com artigos, fortuna crítica e ensaios sobre o poeta, digitando, organizando pessoalmente todos os documentos esparsos, num trabalho de fôlego admirável, o Impressões sobre Nauro Machado (2019; 2020). Ficamos realmente impressionados com tanta força. Neste momento em que a escritora, poeta, ensaísta Arlete Nogueira da Cruz completa seus 85 anos, com tanta força e produção em vista, toda e qualquer homenagem se torna pequena ante o seu contido mas absoluto valor. Seu farol não está restrito àquela escrivaninha de labor do seu quarto, ele esplende para muitas rotas, para a minha geração, e será sempre lume para as gerações futuras.
A PERSONA DE ARLETE NOGUEIRA ALBERICO CARNEIRO Assim o Domínio Público tentava, através de um eufemismo e, ao mesmo tempo, de um sofisma, consolar o coração de uma esposa: “Por trás de um grande homem sempre existe uma grande mulher”. Era uma frase machista para consolar. Hoje, recorrendo à mesma Persona, podemos registrar, ao falar sobre uma distinta senhora: “Ao lado de um grande poeta coexiste uma grande escritora”. Sem dúvida já sabem que me refiro à prosadora e poeta Arlete Nogueira da Cruz Machado, esposa e viúva do saudoso Nauro Machado, poeta e prosador. É claro que cada um dos cônjuges se distingue por sua maneira peculiar de ser escritor, ambos com dicções diferentes e personalíssimas. Dentre tantos dados de sua biografia, escolho dois gestos, cuja grandeza está em recusar-se ao apelo de pôrse em evidência. Primeiro: Enquanto Nauro Machado viveu sua passagem física, ela, que poderia, não usou o nome de seu companheiro de jornada matrimonial, como sinete de seus escritos. Arlete foi sempre uma pessoa discreta, tanto que, somente após a morte do Poeta, num ato de extrema delicadeza, passou a pôr em sua identidade literária o autógrafo completo, a que o casamento lhe dera direito e que o companheiro não lhe negara, mas ao que ela de motu proprio abdicou, ao optar pela discrição. Segundo: O não haver, com a morte física de Nauro Machado, descontinuado a publicação de seus livros, inclusive já fez editar algumas peças póstumas do poeta com quem casou, conviveu e se fez digna de compreendeu e compartilhar a genialidade. Arlete fez editar uma mega obra que reúne a fortuna crítica de uma das maiores expressões e vozes do poema e da poesia do Maranhão e do Brasil, nos últimos 70 anos: Impressões Sobre Nauro Machado, uma obramarco, um legado histórico à cultura e à crítica literária maranhense e brasileira. No entanto, hoje me inclino para homenagear Arlete Nogueira da Cruz Machado, pelo 7 de maio de 2021, data em que ela, a pessoa, completou abençoados 85 anos, dos quais dedicou 6 décadas para hospedar a escritora que ela criou, como seu auter ego, que cultiva para assinar a sua obra literária, como romancista, contista, ensaísta, epistológrafa e poeta. Essa Persona homônima faz jus àquela que detém uma carteira de identidade e uma impressão digital poética, tanto na prosa, quanto nos poemas, que marcam, definitivamente sua passagem por este admirável planeta Terra. Nauro Machado sabia disso e era orgulhoso, em reciprocidade, respeito e reverência mútua. Arlete Nogueira da Cruz Machado, marca o seu tempo e a posteridade com o ouro da mimesis e oximoros. Das obras de Arlete, nos fala Sebastien Joachim, Doutor em Letras, canadense, e professor de Teoria Literária, da Universidade Federal de Pernambuco, desde 1979, ao assinar artigo sobre ela, publicado no JP Guesa Errante, Anuário 5, 2007, sob o título A Verdade do Ser em Arlete Nogueira da Cruz, em que enfatiza a riqueza da epifania e do insight. Dela também disse, no mesmo Suplemento Literário e Anuário, a escritora e professora de Teoria Literária da USP/SP, a saudosa Nelly Novaes Coelho, no artigo Resgate da” Presença” Perdida: “Litania da Velha – poesia em tom maior – ultrapassa os limites geográficos e histórico da matéria de seu canto e dá voz à universalidade da tragédia humana. É nessa direção – do individual ao universal – que vem se aprofundando a criação literária de Arlete Nogueira da Cruz, nestes trinta e cinco anos de atenta dedicação à literatura e à Cultura, desde o romance A Parede, nos idos de 1961”. A edição teve como título de capa, que assino em texto: Arlete Nogueira da Cruz: 70 anos de vida/45 de literatura. A mesma edição Guesa, sobre a escritora Arlete também hospeda um texto da Mestra em Teoria Literária e Psicanalista, professora Maria Sílvia Antunes Furtado, sob o título “Litania da Velha e Decadentismo: abrindo as portas do tempo”. Por 2003, orgulho-me da saudação que fiz à excepcional poeta Arlete Nogueira da Cruz, no JP Guesa Errante, por Litania da Velha, para mim uma obra-prima, com o ensaio A Odisseia: de Homero a Arlete Nogueira (ou de como Ulíssis, perdendo-se da rota da Ilha de Ítaca, desembarca disfarçado de mendiga no Porto do Itaqui). Saúdo uma pessoa exemplar, cuja Persona Poética é marcada por uma dicção rara no contexto da Literatura Brasileira.
Os longos versos de Litania da Velha têm passaporte com visto para travessia de fronteiras e diálogos com a posteridade, porque Arlete Nogueira da Cruz Machado sabe transformar o comum em excepcional ou o ordinário em extraordinário, conforme disse um filósofo.
"SALGADO MARANHÃO E A CICATRIZ DA POESIA DO SÉCULO XXI" PAULO RODRIGUES Professor de literatura, poeta, escritor e autor de O Abrigo de Orfeu (Editora Penalux, 2017); Escombros de Ninguém (Editora Penalux, 2018) e membro da Academia Poética Brasileira. Por: Mhario LincolnFonte: Paulo Rodrigues Escritor e poeta Paulo Rodrigues versa sobre "Salgado Maranhão e a Cicatriz da Poesia do Século XXI" (facetubes.com.br)
“Vestígios de pólvora nas palavras. E quando há voz, é a cicatriz que canta”. (Salgado Maranhão) Salgado Maranhão é filho de Caxias (MA), mas vive no Rio de Janeiro desde o ano de 1973. Fora publicado pela primeira vez na antologia Ebulição da Escrivatura (Civilização Brasileira, 1978). É autor de Aboio — ou saga do nordestino em busca da terra prometida (1984), O beijo da fera (1996) e Solo de gaveta (2005). Ganhou o prêmio Jabuti (com Mural de ventos, em 1999) e o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras (2011, com A cor da palavra). Lançou, em 2017, pela Editora 7 Letras, o livro A Sagração dos Lobos que reafirma a inventividade, a força da sua voz e a alta capacidade de preparar os sabores da linguagem. Seus poemas foram traduzidos para o inglês, italiano, francês, alemão, sueco, hebraico e o japonês. Como compositor, tem gravações e parcerias com grandes nomes da MPB, como Alcione, Ney Matogrosso, Dominguinhos, Paulinho da Viola, Ivan Lins e Elba Ramalho. A primeira letra do Salgado a fazer sucesso nacional foi Caminhos de Sol, que ele próprio comenta na Revista Revestrés (em março de 2017): “Numa tarde ensolarada – tipicamente carioca – atendi ao telefonema do compositor Herman Torres, que me convocava, às pressas, para ir à sua casa ajudá-lo a compor uma canção a fim de reconquistar sua mulher, que tinha ido embora. Em 30 minutos nasceu “Caminhos de Sol”, que, milagrosamente, cumpriu sua missão. A música foi um sucesso absoluto na voz de Zizi Possi, e – mais tarde – com o grupo Yahoo virou tema da novela “A Viagem”, da TV Globo”. Por incrível que pareça não irei abordar nenhum texto consagrado do poeta, ora estudado. Ele reúne poemas novos para organizar um novo trabalho. Coletei no Facebook, partilhado no dia 31 de julho de 2019, portanto muito recente, o poema “Tigres”: Vejo que nos vês, agora. Foram cinco séculos entre a Senzala e a Casa Grande. Cinco duros séculos carregando fezes de tua alcova; lavando o sangue do teu mênstruo. Morreram sem promessa os nossos ancestres; cresceu sem nome a nossa linhagem. E continuamos. Lavados em nove águas, com a branquíssima flor dos dentes para sorrir. E morder!
A poesia do Salgado Maranhão nunca esqueceu o som de um reino chamado Congo. No Mapa da Tribo há um culto aos ancestrais, que nos chama para refletir sobre o universo da cultura afro-brasileira. Aliás, todo o tecer poético salgadiano incendeia a desobediência, de um bom capoeirista. Tigres não é um canto. É denúncia. Grito sufocando as correntes, enterradas no chão. No início, uma voz alforriada, esquece a mitologia e os orixás para despir a sociedade escravista, em nosso país: Vejo que nos vês, agora. Foram cinco séculos entre a Senzala e a Casa Grande. Cinco duros séculos carregando fezes de tua alcova; lavando o sangue do teu mênstruo. Vivemos num país escravista desde o zero ano de sua fundação. Dominamos o tráfico de homens e mulheres negras. Sem piedade, o colonizador aprendeu a bater e humilhar os que foram arrancados da Costa da Guiné, da Costa da Angola e da Costa da Mina. Não tinham alma, dizia a Santa Igreja. Por isso, “os cinco duros séculos carregando fezes”. O poeta consegue, com um golpe, retirar o mito da democracia racial, entre nós. Em seguida, Salgado Maranhão diz que nunca existiu solidariedade e irmandade com os homens afrobrasileiros. Relendo o discurso sociológico de Jessé Souza, pesquisador contemporâneo, autor de A Elite do Atraso da Escravidão a Bolsonaro encontro: “a condição de não humanidade dos escravos não permitia que eles acessassem algum direito ou tivessem participação social, portanto, a eles era renegado qualquer tipo de dignidade ou reconhecimento”. Salgado segue a vigília: Morreram sem promessa os nossos ancestres; cresceu sem nome a nossa linhagem. Morreram mesmo, poeta, sem nome e sem promessas. O mais trágico é que continuam morrendo homens e mulheres negras (invisíveis). Pesquisa do Atlas da Violência 2018, ligado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta que setenta e um por cento dos assassinados por ano são pretos. Há uma guerra de cor, entre nós. O Prof. Doutor José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, disse em conferência que fez na Academia Brasileira de Letras (06/06/2019): “lutamos para tonar legal a cota de dez por cento de alunos negros nas universidades federais. Queríamos dar oportunidade intelectual aos nossos irmãos excluídos historicamente. Observem o seguinte aspecto. Só no Rio de Janeiro tivemos quatrocentos mandatos de segurança contra as cotas”. A exclusão continua na perversão histórica, da república antidemocrática do Brasil. Salgado Maranhão é universal. Um ser que ganha o mundo através da poesia. Mas nunca esqueceu os espaços de ‘ajuda mútua’ como meio para conquistar a liberdade. Enfim, um tigre com flores nos dentes para sorrir e morder.
MHARIO LINCOLN/ROSSINI CORRÊA Com Rossini Corrêa, aplaudido maranhense e com o jornalista Mhario Lincoln (facetubes.com.br) MHARIO LINCOLN (01) – Entre seus principais trabalhos na literatura brasileira, ressoam em dó maior, os seguintes livros: Canto Urbano da Silva (1984), Almanaque dos Ventos (1991), Baladas do Polidor de Estrelas (1991), Dois Poemas Dramáticos para Vozes e Violinos (Thesaurus, 2001). Então, quais as principais diferenças do olhar poético, no que concerne à evolução da linguagem? ROSSINI CORRÊA - Amigo Mhario Lincoln, antes de mais nada, permite que eu comece esta nossa interlocução agradecendo a distinção do convite. Acompanho com grande apreço o trabalho que tu desenvolves em favor das Letras e das Artes. Quanto a mim, no tocante, em particular, à poesia, pude publicar, neste ano de 2021, o livro Poemário do Cristo Vencedor e outros Cânticos dos Cânticos, que foi antecedido por Romeu e Julieta no Brasil e por Sonetário do Quixote Vencedor, perfazendo um conjunto de dez obras poéticas. De mim para mim, o que vislumbro, em retrospectiva, quanto ao olhar poético, não se dissocia, sem nenhuma dúvida, da busca de um domínio artesanal do verbo, no intuito da construção de um canal mais fluido e comunicativo, com o qual possa eu traduzir, de tentativa em tentativa, uma percepção intima maturada pela dor e pela alegria, da vida do mundo envolvente. Neste sentido, tenho consciência cada vez maior de que um poeta nunca está pronto, que ele se edifica a cada dia, no confronto com o fado, para retirar da dor da vida as fagulhas do amor, as centelhas da esperança e as iluminações da beleza. MHARIO LINCOLN (02) – Especificamente, gostaria de saber qual a opinião sobre dois poetas, dentre os maiores, do Maranhão, sendo um, maranhense de coração e poesia: José Chagas e Nauro Machado. ROSSINI CORRÊA: Mhario, não tenho dúvida de que são duas figuras exemplares enquanto atitude diante do fazer literário. Ambos estão com presentes na história nacional de suas respectivas gerações, no tocante aos que construíram obras poéticas, como resultado de uma dedicação existencial à literatura. Para José Chagas e Nauro Machado a palavra poética passou a ser a definição de si mesmos, posto que lapidaram o verbo, disciplinaram o canto e exprimiram, cada um à sua maneira, os universos de que decorreram. Encontro em José Chagas uma intertextualidade formal com a poética popular, o verbo de João Cabral de Melo Neto e o cancioneiro ibérico, em quaisquer de suas vertentes, a portuguesa e a espanhola, levando-o a embates temáticos com propósitos esgotantes, como se fosse inspirado em uma lavadeira que torce a roupa até quase secar, para colocá-la, em seguida, para quarar. Constato em Nauro Machado, ao contrário do que comumente acontece, a conquista crescente de uma depuração do verbo, cercando-o de leveza, quanto mais avançou no seu tempo biológico, para chegar ao fim do ciclo absolutamente vigoroso, ao realizar, em sua ontopoética, sondagens cada vez mais profundas sobre o ser, a angústia, o tudo e o nada, o tempo, a vida e a morte.
MHARIO LINCOLN (03) – Você é autor de 23 livros e conquistou 20 prêmios literários, além de possuir cerca de 50 obras inéditas. O Maranhão se orgulha disso. Mas qual é a relação atual entre o impacto de suas obras no Brasil e, em particular, em São Luís? Há quanto tempo você está fora da sua cidade natal? ROSSINI CORRÊA: Estou fora do Maranhão desde 1975, a rigor, desde 1974, portanto, tendo 65 anos, passei mais tempo de minha vida fora, do que dentro do Maranhão. Entretanto, o que me define é o Maranhão. Sou muito grato a Vamireh Chacon, que me coloca como membro da Nova Escola do Recife, contudo, de mim para mim, sei que, no essencial, cheguei com a terra preparada no Recife, o que se deveu a São Luís do Maranhão, à família em que nasci, que valorizava o livro, o saber e a cultura e aos estímulos recebidos dos que cedo me despertaram, entre os quais, Bandeira Tribuzi e Nascimento Morais Filho, este, meu professor na primeira série do ginásio, no Zoé Cerveira. Um dia, encontrandome na Praça João Lisboa, José Morais disse-me: “Meu filho, vai embora do Maranhão, porque fora daqui, teu trabalho vai ganhar uma amplitude muito maior, o que será uma forma de servir ao Maranhão”. Por onde passei procurei não deslustrar a terra e suas tradições culturais. Talvez possa dizer: “vim, vi e ainda vou vencer”. Penso sempre que o melhor ainda está por vir. MHARIO LINCOLN (04) – Gosto sempre de perguntar sobre a relação simbiótica entre Amor e Ódio. Em algum momento, ao compor suas obras, parou para debulhar tais conceitos e sentimentos?
ROSSINI CORRÊA: Sim, a vida é polaridade. Desde o antigo conhecimento taoísta que o Yin e o Yang exprimem o esquerdo e o direito, a escuridão, a letargia e a indiferença, a claridade, o calor e a proatividade, sob o ensinamento dos tempos axiais, de que se intercalam, dessa dialogia nascendo o equilíbrio complexo, posto que há qualquer coisa de Yang dentro do Yin e qualquer coisa de Yin dentro do Yang. Como a literatura é uma forma superior de sondagem e de tradução do humano, todos nos estamos desafiados a traduzir a condição humana, cuja alma, como dizia Manoel Caetano Bandeira de Mello, “nunca é simples”. Lidamos com o humano, cujo ser está potencializado para todas as grandezas, mas pode tropeçar em todas as misérias. Este é o horizonte da luta por um mundo melhor: realizar semeadura e a construção dos caminhos iluminados para as grandezas. MHARIO LINCOLN (05) - "Mudar o mundo, meu amigo Sancho, não é loucura, não é utopia, é justiça!" Essa foi uma citação que você fez durante uma palestra no congresso sobre o Quinto Constitucional, há alguns anos. E atualmente, como você poderia interpretar essa frase? ROSSINI CORRÊA: Aspiração por Justiça, não tenho dúvida, é a mais pulsante presença no coração do mundo, constituindo um lugar central no inconsciente coletivo da humanidade, que encontrou em seu caminho, entretanto, mais distopia do que o oásis da libertação no Vale de Josafá. Contudo, a recorrência a Dom Quixote compreende-o como unidade dotada do peso de Sancho e da leveza do Cavaleiro Andante, tornando possível, pela loucura e pela sensatez, pela utopia e pela topia, cada uma temperando a outra, magnificar a vida como utopia possível, que se deve perseguir de maneira diuturna, para ampliar a presença do sentimento de Justiça na vida do mundo. Gosto demasiadamente de um texto de Eduardo Galeano em que o homem se encontra próximo da utopia e vai abraçá-la, enquanto ela, fugidia, se desloca sempre e se coloca passos e metros à frente. Resumo da ópera: a utopia serve para isto – para caminhar. Caminhemos sempre em busca da Justiça. MHARIO LINCOLN (06) – O “poema Sujo”, de Gullar, é aplaudido por uns e rejeitado por outros em razão de vários termos fortes usados na construção dele. Gostaria de saber sua opinião pessoal diante de duas linhagens interpretativas que li recentemente sobre o poema:
1 – “Ferreira Gullar, com todo esse cabedal de conhecimento, poderia tranquilamente ter mudado os termos (ou adaptado os termos) de seus versos, pois não acredito que termos como – ‘(...) azul/era o gato/azul/ era o galo/ azul/ o cavalo/ azul/ teu cu (...)”. Ou, ainda, ‘(...) no centro de tuas coxas/ no fundo de tua noite ávida/ cheiros de umbigo e de vagina/ graves cheiros indecifráveis/ como símbolos/ do corpo do teu corpo do meu corpo (....)’. Na minha modesta opinião, são termos de uma poesia lamentável”. (Jerônimo Russo/ “Dia Poético”/ Minas). ROSSINI CORRÊA: Discordo absolutamente. Respeito a posição de Jerônimo Russo, mas dela vou dissentir, identificando em seu discurso tanto conservadorismo quanto moralismo vocabular. Ferreira Gullar, que introduziu na poesia a palavra diarreia, trabalhou o desafio de exprimir a impureza do real no plano vocabular, e, sem autocensura, com se saísse da caverna de Platão, trouxe todos os elementos nela contidos, para, com potência verbal, transformar a escuridão em claridade, compreendendo-as como entremeadas na vida do mundo. De onde a aproximação entre teu cu e azul e também odores indecifráveis saídos de corpos, nos embates do prazer. Todas coisas humanas, nas suas impurezas, com capacidade, entretanto, de azul e de prazer. Ninguém constrói uma sondagem do humano desta magnitude, sem profunda razão sensível. 2 – Já em outra leitura, essa datada de 2015 e assinada por Diogo Andrade de Macedo, então estudante do Curso de Letras/Português da Universidade Federal do Piauí (UFPI), se lê: “(...) no Poema Sujo ele (Gullar) se esmera na coragem despudorada de revelar explicitamente a sordidez e a impureza do cotidiano humano em passagens insólitas, não raro pungentes, embora amparadas por uma consciência poética que torna esses rompantes expressivos alheios a um simples e pueril desejo de subverter ou chocar. Em alguns momentos, o poeta declara abertamente, (tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre [as folhas de banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta [como uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras) (...)’, acentuando uma fixação pelo corpo que se torna o instrumento essencial na interpretação do mundo. (...)”. Pois bem, caro Rossini. Qual o significado de “Poema Sujo” para você? ROSSINI CORRÊA: O Poema Sujo significa o embate do ser com a vida do mundo. Partindo do concreto, do ser existente, privilegia, a princípio, o corpo, como manifestação real e transitória, do ser e do estar no mundo. O desafio gullariano diante de si mesmo e do mundo foi traduzir-se traduzindo a vida e o mundo, enfrentando uma autentica luta corporal da qual pudesse recolher, como se fosse um Monge Budista uma luz, só que do chão. Aproximo profundamente Ferreira Gullar de Osho, a defender a suprema síntese de Zorba, o Buda, conjugando alegria, paixão e desejo, para reinventar a leveza, a serenidade e a iluminação búdica. MHARIO LINCOLN (07) – Conta-se que após terminar de esculpir a estátua de Moisés, Michelangelo passou por um momento de alucinação diante da beleza da escultura. Bateu com um martelo na estátua e começou a gritar: Per ché non parli? E você, qual obra, dentre as centenas de produções líricas, lhe fez bater no coração e gritar: Che bella poesia? ROSSINI CORRÊA: Eu estou impregnado de poesia. Fiz voto de leitura, segundo o qual não deitaria jamais para dormir, sem antes ter realizado conexão com a beleza de um poema. Se eu conhecesse menos a poesia, talvez a resposta fosse mais fácil. Tenho medo de trair Goethe, ser ingrato com Lorca, olvidar Rilke, tangenciar Dante, desconsiderar Homero etc etc etc. Esta é a mais difícil das perguntas. Vou ficar com o Cântico dos Cânticos, na Bíblia do cristianismo e com a pura beleza do Bhagavad Gita, do Mahabharata, do hinduísmo. MHARIO LINCOLN (08) – Outro dia lendo Friedrich Nietzsche, anotei um argumentando dele quando confessava haver, em seus escritos, a construção de uma filosofia nada convencional, sobremaneira por causa da relação íntima com a arte poética. Destarte, de que maneira a filosofia e a poesia se interligam, diante desse pressuposto de Niet? ROSSINI CORRÊA: A filosofia e a poesia são duas formas de sondagem do humano em águas profundas. Aquele Platão que o jovem Karl Marx, que também sonhou ser poeta, bem como o maior filósofo do Direito de todos os tempos, chamava de o divino Platão, antes de encontrar Sócrates, o que desejava era ser poeta. Quando encontrou o Mestre, logo decidiu, por equívoco, ser apenas filósofo. Nisto residiu o engano platônico: a sua filosofia está grávida de mitos poéticos. Nos tempos modernos, para não ser cansativo, Martin Heidegger não apenas interpretou a poesia de Friedrich Holderlin, como ensaiou poemas autorais, de que há tradução no Brasil, feita por sua discípula Maria do Carmo Tavares
de Miranda, publicada pela Universidade Federal de Pernambuco. Em resumo: tem razão Friedrich Nietzsche. Não há grande filosofia sem profunda carga poética. MHARIO LINCOLN (09) – Como você é, também, professor, gostaria de saber sua opinião sobre o seguinte: há muitos anos, o arcabouço teórico do ensino da educação individual tem se formado na sistemática do Estado, como único conhecedor das necessidades empíricas do aluno, enquanto cidadão. Em muitos dos casos, as condições necessárias à globalização do ensino real, nunca deveria se abster de temas que envolvem o social, o cultural, o político, o econômico e as noções pertinentes ao ecossistema, temas que poderiam trazer para o ensino didático fundamental base ampla para formação humana. Concorda? ROSSINI CORRÊA: Concordo completamente. O Estado-Pedagogo fracassou como Demiurgo da educação do humano, confundindo-a com técnicas instrumentais, adestramentos mecânicos e especializações de superfície. Aquilo que os gregos chamavam de Paideia, se encontra absolutamente fora da agenda do Estado-Pedagogo. A luta democrática e civilizatória passa, necessariamente, pela emancipação distributiva das rendas da Educação e da Cultura, mas segundo uma agenda transmutada, que contenha todos os elementos desta extraordinária pergunta: o social, o cultural, o político, o econômico e as noções pertinentes ao ecossistema. MHARIO LINCOLN (10) – O que falta, de certo modo mais efetivo, para a poesia maranhense dos novos tempos (de 2010 pra cá) explodir nacionalmente? São raríssimos os novos nomes que despontam no cenário atual. Tem alguma razão para esta explícita fragilidade? ROSSINI CORRÊA: Poeta, desde a tua adolescência, na nossa São Luís do Maranhão, tu és um homem de comunicação. Nestes tempos modernos e pós-modernos de indústria cultural, a emergência espontânea de um artista, a colocação de sua obra em circulação e o despertar do sistema crítico de legitimação sobre si, são coisas cada vez mais difíceis, quando não improváveis. Por exceção, é possível um ou outro vazamento, como resultado de muita navegação contra o vento e a maresia. Como regra, acontecer demanda dispor de agente cultural, acesso à grande mídia e poder encantatório sobre os sistemas críticos de seleção e de legitimação, o que perpassa desde os selos editoriais até os estudos universitários. Não duvido em nada da existência de talentos autênticos na literatura maranhense, de 2010 a 2021, mas constato a absoluta ausência de políticas públicas permanentes, conferindo sustentabilidade à projeção das letras e das artes maranhenses no Brasil e no mundo, coisas que, por exemplo, o Ceará e a Bahia souberam fazer com os seus artistas no mundo da música, colhendo frutos que ficarão para sempre na cultura brasileira. VICEVERSA. ROSSINI CORRÊA/MHARIO LINCOLN/ROSSINI CORRÊA ROSSINI CORRÊA/MHARIO LINCOLN ROSSINI CORRÊA 01 - A descoberta da poesia, em todos os tempos, para cada artista, tem um poder encantatório, em razão do deslumbramento que a envolve. Como foi a tua? Em que momento da vida? E o que significou? Mhario Lincoln. Foi um momento mágico. Ribamar Bogéa, meu diretor e dono do Jornal Pequeno me ofereceu uma espécie de estágio na redação. Ainda era pré-adolescente. Então a primeira matéria foi sobre o ‘Sitio do Físico’. Empolgado, após terminar de escrever, fui correndo mostrar para seu Bogéa. Ele leu e começou a cortar, com um lápis vermelho grosso, quase todo o texto. Olhou-me e disse: “não te pedi um texto de poesia. Eu quero um texto de jornal”. Bem aí, vim a descobrir, a grosso modo, que eu poderia vir a ser um poeta. ROSSINI CORRÊA 02 - No ambiente literário de São Luís do Maranhão, sem dúvida, um dos mais densos do Brasil, em razão da tradição que o perpassa, quais as figuras com que mais te identificaste e que pesaram em tua caminhada? Mhario Lincoln. Na verdade, sinto-me frágil quando tento analisar algo que interfere em minhas emoções. Quando se trata de arte, tenho alguma dificuldade em tornar-me racionável. A arte é emoção! Porém, essa mesma criação artística pode tocar em mim (e só em mim) de forma tão forte que acaba transmitindo, além, um forte vínculo, que transcende a línguas, crenças ou culturas. Desta forma, ilustre Rossini, geralmente não gosto de enumerar minhas preferências. Mas é impossível não citar neste momento, ex próprio marte, com pertinência à vida humana e às questões sociais de nosso tempo, Salgado Maranhão, Luís Augusto Cassas,
Paulo Rodrigues, João Batista do Lago, Bandeira Tribuzi e Fernando Abreu. E no romance, pela construção do todo, Ken Follett, Gustave Flaubert, Lev Tolstói, Machado de Assis, Josué Montello, e o realismo fantástico de Gabriel García Márquez. Foram essas as pessoas com quem tive mais acesso, seja por leitura, seja pessoalmente. Os meus pilares de compreensão ab initio. ROSSINI CORRÊA 03 - Especificamente, o contato com a poesia de Bandeira Tribuzi foi marcante para mais de uma geração maranhense. Tu o conheceste? Como foi este contato? Se não, com a obra tribuziana. Mhario Lincoln. Tribuzi é multidisciplinar. É o regional disponibilizado de forma ampla. O homem José Tribuzi Pinheiro Gomes, personificando-se como o imenso Bandeira Tribuzi. O lírico forte, mas com ideias progressistas, sociopolíticas e comportamentais. “Ó minha cidade deixa-me viver”, primeiro verso do hino à Cidade de São Luís, lá no fundo, é um grande grito. Como diria Pessoa, incorporado em Álvaro de Campos: “Esta velha angústia, / Esta angústia que trago há séculos em mim, / Transbordou da vasilha (...)”. Estou estudando alguns momentos muito interessantes de “Louvação a São Luís”, tendo encontrado nela, traços muito fortes de uma angústia histórica. Por isso, acredito haver alguma coisa de muito especial nessas entrelinhas. Dá-me a sensação de um ‘eu lírico’ habitando a cidade, sem possuí-la em seu todo. Vale então requisitar a presença memorável de outro maranhense. Será que em “Poema Sujo”, de Ferreira Gullar, escrito durante o exílio, é um indício de gritos reverberados, os quais aparentemente, também, os possa considerar em “Breve Memorial do longo tempo”, de Tribuzi? Por essa razão, tenho analisado alguns poemas de Tribuzi com cautela, quando recebo certas rajadas de melancolia vindas de Edvard Munch (“O Grito”/1893). A letrapoema é linda, mas, neste instante, uma amostra explícita de como tento permanecer racionável (e nem sempre acontece), diante de minhas elucubrações. ROSSINI CORRÊA 04 - Cedo tu ingressaste nas lides jornalísticas, descobrindo, inclusive, o manejo de multimeios de comunicação. O que significou a televisão em tua formação literária e profissional? Mhario Lincoln. Quando o assunto recai sobre televisão, lembro-me de uma palestra que ministrei a alunos de Comunicação. Nela, referi-me a Nicholas Negroponte, Fundador do “Media Lab” do MIT/Massachusetts. Institute of Technology. Ele é claríssimo quando ensina: “A transmissão televisiva é um exemplo de um veículo no qual toda a inteligência encontra-se no ponto de origem... Em vez de pensar numa resolução mais elevada, em cores melhores ou em mais programas como o próximo passo evolutivo da televisão, imagine esse passo como sendo uma mudança na distribuição da inteligência (...)”. Aí está uma prova irrefutável de que a Televisão, enquanto instrumento de massa, tem provocado muito mais polêmica do que aplausos. Certa ocasião, em um programa onde entrevistava celebridades, fiz uma pergunta nesse rumo a um conhecido produtor televisivo. Ele realmente não gostou e pediu minha demissão da emissora, no ar, fato esse, prontamente atendido pelos diretores da casa. Portanto, minha passagem por esse veículo de comunicação (em duas emissoras) não foram românticas. Até hoje encaro Negroponte como uma certa seriedade. E numa evolução normal, com estudos aqui e acolá, tento aplicar resultados lógicos em meu canal ‘VídeosTV’, da plataforma www.facetubes.com.br. Ainda sonho em ver uma empresa desse nicho intercalando à 'grade' altamente comercial, fragmentos ou indícios mínimos de formação da cidadania, a fim de traduzi-los em cidadãos críticos, conscientes, até mesmo, na formação de um cidadão consumidor. Por que não? Porém, os novos arquétipos apresentados pela grande mídia televisiva, há anos, são discutíveis, ineficientes e altamente egóicos ao ponto de um proprietário de uma das grandes redes de TV da América Latina, um dia, dizer abertamente: “Sim, eu sou o Poder”, retratado em um ‘livro de terror’, escrito pelo jornalista Daniel Herz. ROSSINI CORRÊA 05 - Como tu chegaste às grandes vozes da poesia brasileira? Em especial, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Vinicius de Moraes? Mhario Lincoln. Li quase tudo dessas celebridades. João Cabral de Melo Neto, contudo, é inesquecível com “Morte e Vida Severina”. O que me encanta é a relação do poeta com sua poesia, além de observar outra peleja: a do ‘eu-lírico’ com o ‘fazer poético’. Quando li “Morte e Vida Severina” pela primeira vez, minha performance mental foi sendo forjada em cima da “Filosofia da Composição”, do poeta americano do século XIX, Edgar Allan Poe, onde ele rejeita severamente a ideia do conceito de intuição artística como, pura e simplesmente, algo espontâneo. Mas, resultante de um processo metódico e analítico. Com certeza, não foi, apenas, intuição o que João Cabral escreveu – “-Essa cova em que estás, / com palmo medida, / é a conta menor / que tiraste em vida. (...). - Não é cova grande, / é cova medida, / é a terra que querias / ver dividida.
(...)”. Um trecho poético marcante com imenso caráter social e político. Isto é, um lavrador sendo enterrado na absoluta miséria, após trabalhar a vida toda em terra alheia, sendo eternamente explorado. Por isso, João Cabral de Melo Neto é diferenciado. Produz arte com consistência, misturando tons e ritmos sem perder a nordestinidade característica de boa parte da terra pernambucana. Entretanto, há de se notar, ainda, nessa mistura energética e mágica, uma densidade estrutural e metafórica, remetendo à poesia erudita. "Morte e Vida Severina", ratifica, mais uma vez, o que diz Poe. O poema é um trabalho com a linguagem, seleção das palavras, disposição nas frases, sem esquecer, jamais, a sonoridade, a semântica e a morfossintaxe. Mutatis Mutandi, quase todos tentam escrever poesias hoje em dia, não obstante, serem poetas. Os verdadeiros poetas, como Drummond, Bandeira e Vinicius de Moraes, são basílicas extracurriculares, especialmente por conhecer a emoção humana. Com odor, cor, dor e amor da nossa gente.
ROSSINI CORRÊA 06 - Como tu defines a presença da poesia em tua vida de Artista e como tu situas a dimensão lírica em tua obra literária? Mhario Lincoln. Posso perceber a eclosão do meu ovo poético de uma forma um pouco diferente dos poetas que eu costumava ler na década de 70, a maioria, na minha cidade, envolvida com um movimento muito forte chamado ‘Antroponáutica’, nascido com bases construídas na poesia de Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino Cécio e Luís Augusto Cassas. Esse grupo – a meu parecer – poetas novos com interesse maior de renovar a poesia local, além de romper com as antigas escolas literárias do Século XIX. O detalhe é que o nome desse movimento foi uma homenagem ao poeta Bandeira Tribuzi, também cultuado por todos nós. Acompanhei de perto, igualmente. Acompanhei também, no nível nacional, a bela organização artística chamada por Hélio Oiticica de Movimento Marginal (ou) Geração do Mimeógrafo. Conheço e respeito vários valores que surgiram na época. Todavia, não me formei nessas escolas - a regional ou na nacional - as quais admiro por lançarem ao mundo nomes que citei anteriormente ("Antroponáutica") e mais Paulo Leminski, José Agripino de Paula, Waly Salomão, Francisco Alvim, Torquato Neto e Chacal, na literatura e na música, Tom Zé, Jorge Mautner, Jards Macalé e Luiz Melodia ("Mimeógrafo"). Por ter ouvido e lido tantas pessoas maravilhosas no mesmo cenário, sempre fui extremamente crítico comigo, apesar de escrever com muita facilidade – como se o esboço estivesse na nuvem, esperando para sê-lo copiado. Quanto a lírica, esta, continua sendo-me apresentada bastante flexível, onde sou obrigado a atualizá-la em meus diferentes momentos literários. Mesmo com essas variações, tudo leva a crer que meu ‘eu-lírico’ é, sim, bem explícito na maioria de minhas produções, pois é a expressão abundante dos meus sentimentos. Minha carteira de identidade. Minha impressão digital. Meu DNA. Eis o meu segredo! ROSSINI CORRÊA 07 - Já que, de maneira inexorável, todos escrevemos uma história geracional, quais os teus maiores diálogos geracionais no plano literário maranhense? Pessoas, grupos, movimentos... Mhario Lincoln. Segundo Joffre Dumazedier, sociólogo francês, as velhas gerações continuam a ter uma função de transmissão de conhecimentos às novas. Até os 45 anos, vivi, assim, exclusivamente colhendo as experiências de pessoas muito mais velhas, contudo, com diálogos geracionais presos à uma linhagem técnico-social, fruto das minhas atividades como auditor fiscal ou, furtivamente e a sós, com diálogos afeitos às leituras penduradas em minha prateleira de curioso pré-erudito. Especificamente minha inserção em
grupos poéticos, propriamente ditos, se deu após minha virada de mesa e minha saída de São Luís (MA) para Curitiba (PR). Aqui, refiz conceitos e tentei-me ambientar nos grupos que respiravam literatura e arte 24 horas por dia. Bem diferente dos experimentos vividos em minha terra.Contudo, essa integração (geração nativa/geração agregada) principalmente nesta banda brasileira, tornou-se algo impossibilitador da continuidade de uma relação saudável. Então, tive que tentar descobrir quais critérios estavam sendo ajustados entre ambas as gerações. O quanto as pontes regionais poderiam influir em todo esse processo geracional futuro. Será que essas, pelo fato de interagirem muito mais com a família local construída, poderiam comprometer trabalhos novos de pessoas agregadas como eu no universo poético paranaense, por questões sociológicas, psicológicas ou por algum conceito bairrista? Por essa razão, em minhas elucubrações, sentia a falta de pedaços e eu precisava preencher essas lacunas, sem tornar-me egocida, mas garantindo minha integração, e não caindo nas ‘armadilhas geracionais’ invisíveis a olho nu, mas reais na minha produção lírica ‘estrangeira’. Precisava pensar rápido e dirimir dúvidas em minha cegueira do contraditório. Indiretamente – e desta forma – deu-se a gestação da Academia Poética Brasileira, agregando poetas paranaenses, sem esquecer os maranhenses e somando a outros amigos artistas que povoam outras cidades brasileiras, até mesmo residindo em outros países. Acho que a partir daí, aconteceu o ‘start’, desse eloquente diálogo geracional com os indivíduos arrolados ao processo literário. ROSSINI CORRÊA 08 - Como foi o processo de criação da Academia Poética Brasileira, com que agenda tem trabalhado e que universo ela tem alcançado no Brasil e fora dele? Mhario Lincoln. Essa pergunta interliga-se diretamente à pergunta anterior, com pertinência à origem. Nosso plano tem sido divulgar, através de todos nossos canais virtuais, VídeosTV, Plataforma de Notícias e Radioweb, toda a obra produzida pelos membros da APB, além de participar de conferências poéticas nacionais e internacionais, interagindo com grupos de defesa da Paz Mundial. Tem sido muito dignificante obter tantas respostas positivas ao longo desses anos. Sugiro a leitura do texto assinado pela confreira Linda Barros nesse sentido, link a seguir: https://www.facetubes.com.br/noticia/1231/academica-e-escritoraprofessora-e-atriz-linda-barros-escreve-sobre-a-academia-poetica-brasileira ROSSINI CORRÊA 09 - Odylo Costa, filho dizia que o primeiro ar que respiramos no mundo impacta e impregna a nossa existência para sempre. Qual a relação da tua poesia com a cidade de São Luís do Maranhão? Mhario Lincoln. Acredito eu que São Luís entra nessa história como um instrumento participativo e complementar no meu processo criativo. Caso se observe a análise intrínseca da minha poesia, acredito chegar perto do conceito teórico da filosofia existencial-ontológica de Heidegger. É o caso do meu ‘eu-lírico’, novamente. O existencial pode perfeitamente ter a cidade encíclica como mote ou, o mais importante, a extração abrupta do todo existencial vivido na cidade, como uma forma de desvelar alguns sentimentos e atitudes que sempre acabam desembocando na minha angústia em forçar-me poeta, diante da vida. Contudo, acredito ser, ainda, a linguagem lírica, única reveladora do contexto abstrato dos seres humanos. ROSSINI CORRÊA 10 - Tens o projeto de reunir em livro as tuas Poesias Completas, ainda que a obra constitua apenas uma primeira síntese de um processo de criação em plena marcha, da qual são esperados novos frutos e acontecimentos? Mhario Lincoln. Na realidade, somente há uns dois anos decidi reunir alguma coisa que publiquei na internet, entre frases, poemas e sonetos. A esse agrupamento dei o nome de A BULA DOS SETE PECADOS, que já enviei para você ler e fazer alguns comentários que, com certeza, me serão importantes. Afora isso, meu romance O MARIA CELESTE está na gaveta há mais de 20 anos e não consigo reorganizá-lo. Todas as vezes que abro, acendem novas oportunidades de pesquisas e complementos. No primeiro texto que fiz, como já citei, o diretor do ‘Jornal Pequeno’, onde trabalhei desde os 14 anos, rasgou meu texto porque eu havia escrito uma “prosa poética, ao invés de um texto jornalístico”. No caso do meu romance, tento fazer exatamente o contrário. Livrar-me do texto meramente jornalístico e transformá-lo em algo próximo à linguagem romanceada. Tenho neste maio de 2021, 67 anos. Quem sabe ainda consiga realizar esse sonho. (Muito obrigado por suas inteligentes perguntas. Gostei demais).
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
FRAN PAXECO:
recortes & memórias
SÃO LUÍS – MARANHÃO – 2021 PARTE XVII –
1918 PACOTILHA – 1º de janeiro
14 DE JANEIRO
21 DE FEVEREIRO
28 DE FEVEREIRO
14 de março
19 de março
13 de abril
15 de abril
18 de abril
19 de abril
22 de abril
25 de abril
04 DE MAIO
07 DE MAIO
11 DE MAIO
18 DE MAIO
15 DE JUNHO
27 DE JUNHO
28 DE JUNHO
05 DE JULHO
08 DE JULHO
08 DE JULHO 1918 FUNDAÇÃO DO INSTITUTO HISTÓRICO
Ano 1918\Edição 00159 (2)
NÚMEROS PUBLICADOS: VOLUME 61 – MAIO DE 2021
VOLUME 60 – ABRIL DE 2021
MARANHAY - Revista Lazeirenta (Revista do Léo) 60 - ABRIL 2021 by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - issuu VOLUME 59 – ABRIL DE 2021
MARANHAY : Revista Lazeirenta (Revista do Léo) 55, abril 2021 - Especial: ANTOLOGIA - ALHURES by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - issuu VOLUME 58 – MARÇO DE 2021
MARANHAY 58 - ANTOLOGIA: OS ATENIENSES, março 2021 by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - issuu VOLUME 57 – MARÇO DE 2021
MARANHAY 57 - MARÇO 2021: EDIÇÃO ESPECIAL - OS ATENIENSES, VOL. III by Leopoldo Gil Dulcio Vaz issuu VOLUME 56 – MARÇO DE 2021
MARANHAY - (Revista do Léo ) - 56 - março 2021 - EDUÇÃO ESPECIAL: ANTOLOGIA - MULHERES DE ATENAS by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - issuu VOLUME 55 – MARÇO DE 2021
MARANHAY - Revista Lazeirenta (Revista do Léo) 55, março 2021 by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - issuu VOLUME 54 – FEVEREIRO DE 2021
MARANHAY (Revista do Léo) 54 - FEVEREIRO 2021 by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - issuu VOLUME 53 – JANEIRO 2021 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_53_-_janeiro_2021 VOLUME 52 –DEZEMBRO – 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maaranhay_-_revista_lazerenta_52__2020b VOLUME 51 –NOVEMBRO – 2020 https://issuu.com/home/published/maaranhay_-_revista_lazerenta_51__2020b/file VOLUME 50 – OUTUBRO – 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_50_-_2020b VOLUME 49– SETEMBRO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_49_-__2020_VOLUME 48– AGOSTO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_48_-__2020_bVOLUME 47– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_47_-__2020_VOLUME 46– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_46_-__2020_VOLUME 45– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_45_-__2020_-_julhob VOLUME 44 – JULHO - 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_44_-_julho__2020 VOLUME 43 – JUNHO /SEGUNDA QUINZENA - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_43_-segunda_quinzen VOLUME 42 – JUNHO 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_42_-junho__2020/file VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020
VOLUME 41 – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41_-_maio__2020 VOLUME 40 – ABRIL 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_40_-_abril___2020.d VOLUME 39 – MARÇO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_mar_o___2020 VOLUME 38 – FEVEREIRO DE 2020 – EDIÇÃO ESPECIAL – PRESENÇA AÇOREANA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_fevereiro___2020 A PARTIR DESTE NÚMERO, CORRIGIDA A NUMERAÇÃO, COM SEQUENCIAL, DOS SUPLEMENTOS E EDIÇÕES ESPECIAIS: VOLUME 28 – JANEIRO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__28_-_janeiro____2020b VOLUME 29 – FEVEREIRO 2020 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo_-_maranhay__29-_fevereiro___2020b
REVISTA DO LÉO - NÚMEROS PUBLICADOS VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018
https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/135ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019 VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019 VOLUME 22 – JULHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 VOLUME 22.1 – JULHO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 23 – AGOSTO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__23-_agosto_2019 VOLUME 23.1 – AGOSTO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 24 – SETEMBRO DE 2019 – LAERCIO ELIAS PEREIRA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 24.1 – SETEMBRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: IGNÁCIO XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 25 –OUTUBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019 VOLUME 26 –NOVEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__26_-_novembro__2019 VOLUME 27 – DEZEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27_-_dezembro___2019 VOLUME 27.1 – DEZEMBRO DE 2019 – suplemento – OS OCUPANTES DA CADEIRA 40 DO IHGM https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27.1_-_dezembro___2019 VOLUME 30 – edição 6.1, de março de 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 31 – edição 8.1, de maio de 2018 EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 32 – edição 15.1, de dezembro de 2018 ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/135ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 33 – edição 16.1, de janeiro de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 34 - edição 20.1, de maio de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE
https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 35 – edição 22.1, de julho de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 36 – edição 23.1, de agoto de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 37 – edição 24.1, de setembrp de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: I. XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec