A ARTE DO ENCONTRO
de que Caillois percebe primeiro a importância dos jogos ao estudar as festividades do sagrado de transgressão. Ou seja, muito embora o autor traga a centralidade do jogo para a reflexão da sociedade, não deixa de carregar em si uma visão de mundo que o marginaliza. Dito de outra maneira, os jogos seriam mais evidentes nas sociedades que o autor aponta como primitivas. Isso não quer dizer que o jogo deixa de existir nas sociedades civilizadas, e sim que costuma existir sob disfarces. O motivo de tal disfarce seria a tendência do jogo a se institucionalizar nessas sociedades, por conta da necessidade de compartilhar as regras dos mesmos. Reforço que não compartilho o ideal de tal hierarquização sacro-ludo-social. Mais frutífero que isso, no meu entendimento, é pensar em diferenças, em diversidade. Não me parece acertado afirmar que existe somente a via que leva da turbulência à regra. Ela existe, é fato. Mas também parece existir a via contrária, ou mesmo jogos que não se colocam em via nenhuma, destinados a permanecer ou na turbulência, ou na regra. Mais do que isso, independentemente da turbulência ou da regra ou, se preferirmos, da experiência ou da disciplina, o jogo existe de maneira análoga a um mediador cultural.
1.3 Jogo e Cultura Midiática Para dar continuidade ao raciocínio proposto, exponho que a área de concentração do Programa de Pós-Graduação onde gesto a presente pesquisa, denominada Cultura Midiática, permite discutir como o jogo, enquanto mídia, promove a (re)organização cultural. Mais do que isso, a relação entre jogo e cultura é profícua para a pesquisa, de modo que o historiador Johan Huizinga surge como o nome que me parece mais indicado para nortear a reflexão. Huizinga, após se dedicar ao estudo do declínio da Idade Média e à crítica da cultura de massa, debruçou-
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