E&M_Edição 40_Agosto 2021 • ABC dos negócios

Page 1

STARTUPS NOVA GERAÇÃO DE EMPRESÁRIOS NÃO SE IDENTIFICA COM A ACADEMIA DE NEGÓCIOS CARVÃO ESPECIALISTAS CONSIDERAM QUE A SAÍDA DA VALE É O PRIMEIRO SINAL DE “MALDIÇÃO” INOVAÇÕES DAQUI O QUE SÃO AS “LIVING LAB” E COMO AJUDAM A SOLUCIONAR OS PROBLEMAS DA SOCIEDADE

A E&M analisa a relevância das escolas de negócio enquanto instrumentos de promoção das boas práticas e de competitividade empresarial

Edição Agosto | Setembro 2021 15/08 a 15/09 • Ano 04 • NO 40 Preço 250 MZN

MOÇAMBIQUE

RENOVÁVEIS COMO A ENERGIA E O PETRÓLEO RESISTEM À PRESSÃO SOBRE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS



6

65 ÓCIO OBSERVAÇÃO

Venezuela A imagem do país que vive a maior onda migratória do mundo devido à crise política e económica

10

VISÃO MACRO

66 Escape À descoberta do resort Villas do Índico, em Vilankulos 68 Gourmet Casa Mika Café, uma cozinha europeia de influências belgas e francesas 69 Adega Conheça as propriedades do vinho que são importantes na dieta 71 Arte “O homem que cai na terra”, uma exposição de Carmen Muianga em que manifesta o fascínio por saltos de pára-quedas 72 Ao volante Conheça o ID.5 que a Volkswagen promete lançar em breve

HRA Advogados Tiago Arouca Mendes fala do potencial energético de Moçambique

13

ESPECIAL ENERGIAS RENOVÁVEIS

14 Produção de petróleo Pressão pública tem-se mostrado insuficiente para desencorajar a produção dos combustíveis fósseis 18 Opinião Pier Paolo Raimondi fala dos requisitos necessários para que África transforme o potencial energético 20 Carbonsink Um projecto que aposta na produção de fogões que emitem menos dióxido de carbono para o ambiente 22 Explicador O ambicioso plano anunciado pelo presidente chinês para atingir a neutralidade de carbono até 2060

24

OPINIÃO

MERCADO E FINANÇAS

48

Carvão mineral Especialistas consideram que o carvão não trouxe, e pode ser que não traga, benefícios para o País

52

OPINIÃO

Absa “Ensino Superior e Educação contínua”, Madina Abacar - Gestora de Proposta de Valor - Absa

Banco Big O Mercado Secundário da BVM

28

NAÇÃO

ABC DOS NEGÓCIOS 29 Escolas de negócio O que se ensina e quem é que opta por aprender a fazer negócios numa escola? 36 Opinião “Escolas de Negócios e Economia da Bolada”, João Gomes - Partner @ JASON Moçambique 38 Startups Nova geração de empreendedores atribui pouca relevância ao currículo das escolas de negócio 44 Lá fora As melhores escolas de negócio do mundo inspiram-se na experiência dos empresários de sucesso

www.economiaemercado.co.mz | Julho 2020

55

ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI

56 Living Lab Como os “laboratórios vivos” estão a vingar enquanto soluções inovadoras para os problemas da sociedade 60 WhireLab A App moçambicana que dá ao empregador a possibilidade de encontrar o talento que procura 62 Opinião “Saúde digital - Como a pandemia tem potenciado a Tele Medicina”, José prata - Especialista em Seguros

3


EDITORIAL

A essência das Business School no país das “boladas”

A

Celso Chambisso • Editor da Economia & Mercado expressão “bolada”, muito popular na sociedade moçambicana, no lugar de significar “impulso dado a uma bola” ou “pancada que se leva com uma bola” – conforme os dicionários de língua portuguesa –, cá, uma “bolada” é qualquer coisa como negócio fechado informal e espontaneamente, muitas vezes livre das habituais burocracias colocadas à mesa pelas partes envolvidas na transacção para garantir segurança e fiabilidade. “Bolada” não será mais do que uma oportunidade ocasional de ganhar dinheiro. Mesmo sem qualquer estudo disponível sobre a forma como os empresários nacionais concebem, desenham e executam os seus negócios, consultores da área revelam que a informalidade está, grosso modo, presente em todo o processo de criação e desenvolvimento dos empreendimentos em Moçambique. A ser verdade, a quem servem as escolas de negócio espalhadas pelo País? Não se pode negar que façam sentido no contexto actual da economia, em que se apregoa o empreendedorismo como solução para o desenvolvimento através do auto-emprego. Mas, ainda assim, não deixa de ser questionável a sua relevância no mundo empresarial: o que é que as escolas de negócio realmente leccionam? Qual é a aplicabilidade das suas orientações? Em que medida conseguem responder às expectativas de quem as procura? Quais são as suas limitações e pontos fortes? Como em qualquer parte do mundo, onde há empreendimentos bem-sucedidos de “génios” auto-didactas e outros que lograram o sucesso graças às lições das escolas de negócio, em Moçambique formam-se dois pólos contrários quando se fala da sua funcionalidade. Os gestores destas instituições não depositam fé no sucesso empresarial sem o “ABC” que elas podem transmitir. Razões existem para assim se posicionarem. Mas também há o pólo dos empresários, sobretudo os da nova geração – a dos gestores de startups –, que acreditam que as escolas nacionais de negócio não estão à altura das suas exigências em termos de qualidade de formação, e que os avanços que têm alcançado resultam do esforço próprio na busca por soluções fora do País por meio da internet. Ou seja, a velocidade com que o mundo de negócios muda é muito superior à capacidade que a academia actualmente tem para se adaptar. É esta contradição que a E&M procura explorar a fundo nesta 40ª edição da E&M, num artigo em que também procura estender a abordagem, trazendo o que acontece noutras geografias com realidades diferentes das de Moçambique. É também um dos assuntos de fundo a já anunciada saída da mineradora Vale do País, após dez anos de exploração de carvão na mina de Moatize, na província de Tete. Por coincidir com a altura em que deveriam extinguir as isenções fiscais concedidas pelo Governo ao empreendimento, a saída da Vale é, por muitos, vista como o primeiro sinal efectivo da “maldição dos recursos”. Afinal, a riqueza que se esperava não veio e pode ser que não mais venha.

4

MÊS ANO • Nº 01 15 AGOSTO | 15 SETEMBRO 2021 • Nº 40 propriedade Executive Mocambique DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Liquatis nienis doluptae velit et Cativelos magnis pedro.cativelos@media4development.com enis necatin nam fuga. Henet exceatem EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant JORNALISTAS Cármen Cristina adis destiosse iusci re in Rodrigo, prae voles Freire, Elmano Madaíl, sant laborendae nihilibJaime usciusÁlvaro, sinusam Ricardo David Lopes, Rogério Macambize, rehentius eos resti dolumqui dolorep Rui Trindade, Yana deea Almeida reprem vendipid que et eumque non PAGINAÇÃO José Mundundo, Gerson Quive nonsent qui officiasi FOTOGRAFIA Silva lorem ipsumMariano Executive Mocambique REVISÃO Manuela Rodrigues Santos Liquatis nienis doluptae velit etdos magnis ÁREA COMERCIAL Nádia Pene enis necatin nam fuga. Henet exceatem nadia.pene@media4development.com seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant CONSELHO adis destiosseCONSULTIVO iusci re in prae voles Alda Salomão, Andreia António sant laborendae nihilibNarigão, uscius sinusam Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, rehentius eos resti dolumqui dolorep Fabríciavendipid de Almeida Frederico reprem queHenriques, ea et eumque non Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, nonsent qui officiasi João Gomes, Narciso nienis Matos,doluptae Rogério Samo lorem ipsum Liquatis Gudo, Cripton Valá, Sérgio velit etSalim magnis enis necatin nam Nicolini fuga. ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO Henet exceatem seque cus, sum nis nam E PUBLICIDADE Media4Development iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in Rua Ângelo Azarias Chichavanihilib nº 311uscius A— prae voles sant laborendae Sommerschield, Maputo – Moçambique; sinusam rehentius eos resti dolumqui marketing@media4development.com dolorep reprem vendipid que ea et IMPRESSÃO E ACABAMENTO eumque non nonsent qui officiasi Minervaipsum Print - Maputo Moçambique lorem Liquatis-nienis doluptae TIRAGEM 4 500 exemplares velit et magnis enis necatin nam fuga. NÚMERO DE REGISTO Henet exceatem seque cus, sum nis nam 01/GABINFO-DEPC/2018 iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi lorem ipsum Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi

www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019



OBSERVAÇÃO

VENEZUELA, 2021

A PIOR CRISE DEMOGRÁFICA DO MUNDO A Venezuela é o país que mais perdeu população nos últimos cinco anos, de acordo com dados da ONU, devido à onda migratória sem precedentes gerada pela crise económica, social e política que o país atravessa. Dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) sinalizam que mais de 5,6 milhões de venezuelanos emigraram nos últimos anos, um fenómeno que é agravado pela queda da natalidade, contribuindo para o envelhecimento da população. As Nações Unidas estimam que o fenómeno significa uma perda de 30 anos de progresso, e se traduz numa redução de três anos na esperança de vida. Em 2015, o Instituto Nacional de Estatística da Venezuela (INE) estimou que, até 2020, o país teria 32,6milhões de habitantes. As projecções mais recentes do Escritório de População da ONU (UNPOP) apontam para que, no ano passado, o país contabilizava 28,4 milhões de habitantes, cerca de quatro milhões de pessoas a menos do que o esperado, e semelhante ao registado em 2010.

6

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

7


RADAR ECONOMIA

CRESCIMENTO EM 3% NÃO VAI EVITAR RISCOS AO INVESTIMENTO, AVISA A CAPITAL ECONOMICS A consultora Capital Economics prevê que a economia moçambicana possa registar um crescimento de 3% este ano, mas alerta para o risco ao investimento devido à instabilidade no norte do País, em particular devido à suspensão do projecto de exploração de gás natural liquefeito. “Em Moçambique, a declaração de ‘força maior’ sobre um grande projecto de GNL (gás natural liquefeito), na sequência de repetidos ataques por insurgentes, está a acrescentar novos ventos de proa a uma recuperação já lenta. O abandono do projecto iria prejudicar gravemente as perspectivas de crescimento do País e suscitar preocupações reais sobre a dívida pública”, escrevem os analistas. No documento, os analistas referem que “o desejo de investimento em Moçambique está em perigo à medida que os ataques de insurgentes continuam no norte do País”. A Capital Economics apresenta também as suas previsões, estimando para este ano um crescimento de 3,0% do PIB de Moçambique, que deverá crescer 4,0% em 2022 e 4,5% em 2023. Quanto à inflação, o índice dos preços no consumidor deverá crescer 5,5% este ano, 5,8% no próximo e, também, 5,8% no ano seguinte, de acordo com as previsões da consultora sediada em Londres. A petrolífera francesa Total tem uma quota de 26,5% no projecto de gás natural liquefeito em desenvolvimento no norte do País, cuja primeira produção e exportação estava prevista para 2024, mas que ficou adiada pelo menos um ano no seguimento da declaração de ‘força maior’ por parte da petrolífera.

8

Ajuda externa. Os Estados Unidos vão mesmo retomar o apoio a Moçambique, no âmbito do programa Millennium Challenge Corporation, após 17 meses de suspensão. O anúncio foi feito recentemente à imprensa por uma delegação daquela organização do Governo americano, após um encontro com a Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo. O Director do Millennium Challenge Corporation para Moçambique, Kenneth Miller, explicou que os sectores privados do ramo da agricultura e transportes rurais são prioritários. Nesta fase, arrancam os trabalhos para a identificação do pacote de projectos prontos para serem implementados até 2023, conforme avançou o Coordenador do MCC em Moçambique, Higino de Marrule. FMI. O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou a disponibilização de cerca de 310 milhões de dólares para Moçambique utilizar na gestão das suas reservas internacionais. Os recursos ficaram disponíveis a partir do dia 23 de Agosto e são parte dos 650 mil milhões de dólares alocados pelo Fundo para os 190 países membros actuarem na recuperação e estabilização das suas economias após o impacto da pandemia. Trata-se da maior injecção finan-

ceira da História para ajudar a recuperar a economia mundial pós-pandemia e a distribuição desses recursos depende da proporção de quotas que cada país tem no FMI. Infra-estruturas. O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) aprovou, recentemente, o desembolso de 23 milhões de dólares para financiar a conclusão das obras de reabilitação da estrada que liga as províncias do Niassa e Nampula, numa extensão de cerca de 35 quilómetros no corredor de Nacala, importante eixo para o desenvolvimento do norte do País. Trata-se do troço que liga o município da vila de Malema e a localidade de Nakata, na província de Nampula, e a secção que parte de Murrusso até à cidade de Cuamba, no Niassa, totalizando 35 quilómetros. A conclusão das obras encontra-se sob responsabilidade de um novo empreiteiro, de origem chinesa, depois do rompimento do contrato entre o BAD e a construtora portuguesa Gabriel Couto.

Indústria. O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) anunciou recentemente que vai financiar o primeiro projecto no contexto do Programa Nacional Industrializar Moçambique, para as províncias de Cabo Delgado e Niassa. Segundo o BAD, o empreendimento irá focalizar-se em iniciativas passíveis de viabilizar a cadeia de produção do sector da agricultura, atrawww.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


vés do programa Sustenta e a criação de indústrias de agro-processamento. O facto foi recentemente anunciado pelo ministro da Indústria e Comércio, Carlos Mesquita

Agro-indústria. Moçambique vai contar, em breve, com oito centros de processamento de produtos agrícolas em diferentes pontos do país. Segundo o Presidente da República, Filipe Nyusi, a iniciativa constitui a primeira fase da implementação do Programa Nacional Industrializar Moçambique. Trata-se de uma iniciativa que visa criar condições para alavancar o sector industrial, privilegiando a matéria-prima local, tendo como base o potencial agrícola, piscícola, recursos minerais e infra-estruturas. Com efeito, no âmbito da materialização deste programa, está previsto o estabelecimento de centros de processamento em Cuamba (Niassa) para cereais e macadâmia, Ribáue (Nampula) para cereais, Namacurra (Zambézia) para arroz e oleaginosas, e Nhamatanda (Sofala) para cereais. Negócios. O sector privado prevê para o terceiro trimestre deste ano um enfraquecimento considerável da estabilidade da economia das empresas moçambicanas, em consequência da terceira vaga do covid-19. A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) teme que o cenário do terceiro trimestre sewww.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

ja ainda pior do que o dos primeiros três meses deste ano, quando muitos trabalhadores perderam emprego. Energia. A empresa Petromoc reafirmou a sua posição como o maior operador no negócio marítimo de bunkering, onde está presente há já 44 anos a operar nos portos de Maputo, Beira, Nacala, Quelimane e Pemba, desde a fase inicial da prospecção de hidrocarbonetos e o maior fornecedor de combustíveis e lubrificantes das empresas nacionais e multinacionais para os vários segmentos de negócio incluindo o bunkering. A Petromoc têm vindo, também, a trabalhar com diversos Brokers (intermediários) e parceiros, como é o caso da Benthic Geotech Pty Limited, World Fuel Services (WFS), OW Bunkering, Amoil, Marine Vision, South African, entre outras.

EXTRACTIVAS Minerais. Moçambique vai criar em breve uma unidade de gestão do processo Kimberley, metais preciosos e gemas. Segundo o Conselho de Ministros, que aprovou, recentemente, a revisão do decreto, o Processo Kimberley é uma iniciativa conjunta de governos, indústria diamantífera e da sociedade civil, para conter o fluxo de diamantes em bruto, de guerras ou conflitos, no mercado internacional. Em 2016, uma equipa esteve no país depois de Moçambique manifestar a intenção de aderir ao processo Kimberley. O porta-voz do Governo, Filimão Suaze, garantiu que, desde aquela altura, Moçambique tomou uma série de passos no campo legislativo e de procedimentos.


VISÃO MACRO “O potencial de Moçambique é inegável” Tiago Arouca Mendes • Managing Partner da HRA Advogados

S

endo alguém recentemente ligado ao mercado moçambicano, mas com alguma relação do ponto de vista externo, como é que descreveria Moçambique? Antes do mais, é importante esclarecer que nasci e cresci em Maputo. Trago, sim, a visão de uma geração mais “nova” que se está a posicionar de forma activa no mercado e acompanhou de perto o “boom” económico de Moçambique que teve início em 2010, fruto, principalmente, da exploração de carvão e das descobertas das maiores reservas de gás natural, seguido da retracção económica mundial e nacional em 2016, por diversos factores, tanto externos como internos. De uma forma mais macro, em termos económicos, nesta altura, com as particularidades do tempo que vive-

10

mos, a nível global e também localmente, como descreveria o País a um potencial investidor, por exemplo? O potencial de Moçambique ao nível de recursos naturais é inegável, contando com recursos minerais importantes (o carvão, o gás, o petróleo, o alumínio, o ferro, o ouro, as areias pesadas, entre outros), bem como fontes de energia limpas (a solar, a eólica, a hídrica, a térmica, etc.). Acrescente-se, ainda, a extensa área de terra arável e uma costa de 2700 quilómetros que, para além do potencial de exploração dos recursos respectivos, traduz-se num acesso estratégico à via marítima pelos países interiores (nomeadamente o Zimbabué, a Zâmbia, o Maláui), exigindo um desenvolvimento mais célere nessas regiões ao nível de infra-estruturas e que tem sido levado a cabo. Globalmente, isto é, no que diz respeito ao posicionamento no mercado de commodities, e até ao estabelecimento de operações no País, haverá garantidamente lugar para Moçambique ter uma posição de destaque e, obrigatoriamente, interesse para potenciais investidores. É um país onde, para além dos já referidos abundantes recursos, a mão-de-obra especializada ainda não é suficiente, nem o know-how ou os serviços disponíveis, onde a maioria da população ainda carece de investimento em serviços básicos, sendo também necessário um maior investimento na industrialização. É visível, e com impacto prático, o trabalho que tem sido levado a cabo pelas entidades governamentais no que concerne à adequação dos instrumentos legais e revisão das ferramentas disponíveis para o investidor estrangeiro (e.g., a capacitação dos serviços públicos orientados para o investidor, a disponibilização de plataformas digitais com informação importante acerca do país e procedimentos relacionados com o investimento estrangeiro, o reforço do papel da APIEX, etc.), tendo em atenção que o trabalho não está concluído e, no meu entender, dando-se primazia à disponibilização de informação através de ferramentas digitais. Os desafios que se verificam no contexto local, no que se refere ao mercado financeiro interno em questões como o acesso ao crédito, a dependência de divisas externas e das oscilações da balança comercial, que se traduzem em custos mais elevados (e imprevisíveis) para o desenvolvimento de qualquer operação, são uma realidade. A questão do gás natural, onde existe o potencial que todos sabemos, tem sofrido atrasos, mas, no entanto, as perspectivas mantêm-se. Como vê o futuro, a médio prazo, ligado a esta questão? Estima-se que o atraso no desenvolvimento dos projectos no norte de Moçambique e a pandemia de Covid-19 deverão implicar um crescimento real modesto nacional de 2,8% este ano, mas a expectativa é que as actividades prossigam logo que as condições de segurança o permitam. Apesar de ter-se registado em 2020 uma diminuição de cerca de 3% na procura mundial por este recurso, espera-se que o gás seja o combustível fóssil com o crescimento mais forwww.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


te até, pelo menos, 2035. É o único combustível fóssil com crescimento previsto para além de 2030 e, possivelmente, atingindo o seu pico em 2037. A posição de Moçambique é, presentemente, a de 13.º país a nível global no que se refere às maiores reservas de combustíveis fósseis e, apesar da transição energética em curso para fontes de energia renováveis, até ao momento nada indica que os projectos que já se iniciaram e que contam com a participação de multinacionais não continuem num futuro próximo.

lações rurais, que não terão possibilidade de usufruir de energia através da rede de distribuição nacional principal. Neste sentido, o Governo está a investir no desenvolvimento de um quadro regulatório que permita e estimule a implementação dos projectos de mini-redes, para além da revisão já em curso da actual Lei da Electricidade, um dos diplomas-chave do sector.

Está em curso a tentativa de fomentar o intercâmbio com os restantes membros da CPLP, criando um espaHá, entretanto, uma conjuntura global que indica o ço comum de livre trânsito de pessoas, bens, capitais. caminho para as novas energias, havendo até alguns Como analisa o que já foi recentemente aprovado? projectos de investimento a esse nível no País. Como A 16 de Julho de 2021, em Luanda, Angola, no âmbito da XIII analisa esta questão do aumento do investimento nas Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comurenováveis? nidade dos Países de Língua Portuguesa, foi aprovado o O potencial energético do País é vasto e conforme sabemos Acordo sobre a Mobilidade entre os Estados-Membros da não se resume apenas ao carvão ou ao gás natural. Moçam- CPLP, visando alcançar um sistema flexível em matéria de bique já é um dos maiores produtores de energia renová- mobilidade dos cidadãos dos Estados-Membros da CPLP, o vel na região, devido à HCB, e apresenta um potencial reno- qual pode revestir as seguintes quatro modalidades: a Esvável total de mais de 23 000 GW (segundo dados oficiais do tadia de Curta Duração CPLP; a Estadia Temporária CPLP; o FUNAE). Moçambique continua a apostar (conforme resulta Visto de Residência CPLP; e a Residência CPLP. até do Plano Quinquenal do Governo 2020-2024) no apro- Actualmente, o regime legal existente em Moçambique veitamento do seu potencial de energia renovável (e não em matéria de entrada de estrangeiros centra-se sobrerenovável) para levar cada vez mais energia, com mais tudo no Regime Jurídico do Cidadão Estrangeiro e no seu qualidade, a cada vez Regulamento, sem qualmais moçambicanos quer distinção entre O potencial energético do País é vasto e conforme (tendo em conta a meta cidadãos dos Estadosestabelecida pelo Go-Membros da CPLP e os sabemos não se resume apenas ao carvão ou ao gás verno de acesso à eneroutras nacionalidanatural. Moçambique já é um dos maiores produtores de de gia universal em 2030). des. Este regime acoenergia renovável na região É certo que a tecnologia moda a possibilidade de de aproveitamento dos vigorarem outras norrecursos de energias renováveis carece ainda de maior mas, tal como acordos bilaterais ou multilaterais ou, ainda, desenvolvimento, bem como as infra-estruturas de capta- convenções internacionais de que o Estado moçambicano ção de fontes renováveis, a oferta de serviços de projecção, seja parte. A esse respeito, importa mencionar que Mode instalação e de manutenção de sistemas renováveis, e çambique assinou acordos bilaterais com alguns países da os mecanismos e ferramentas de promoção e de regulação CPLP, nomeadamente com Cabo Verde e com Angola. das tecnologias, que são ainda escassos. Existem também outros acordos entre os Estados-MemEm todo o caso, contamos já com um dos maiores projectos bros da CPLP, designadamente o Acordo de Cooperação em África de geração de energia de fonte renovável (a Consular entre os Estados-Membros da CPLP e o Acordo HCB com base em recursos hídricos), e nos anos mais re- sobre a Concessão de Visto para Estudantes Nacionais dos centes assistimos ao desenvolvimento de múltiplas cen- Estados-Membros da CPLP. Dito isto, entendo que através trais fotovoltaicas tal como a de Metoro, de Mocuba ou a deste Acordo pretende-se, por um lado, fomentar e fortade Cuamba (em construção), e existindo em carteira outros lecer a relação já existente entre os Estados-Membros da tantos projectos já anunciados (a construção da barragem CPLP e, por outro, proporcionar um maior fluxo económico de Mphanda Nkuwa, a construção de mais uma central e a adopção de uma cultura comum em matéria de mosolar em Dondo, entre outros), orçamentados em cerca de bilidade. Esta certamente poderia beneficiar os Estados500 milhões de dólares. É também de referir que em 2020 -Membros, tendo em conta as boas relações económicas o Governo lançou o programa de Leilões de Energias Re- existentes entre Moçambique e Portugal e potenciando nováveis em Mocambique (o denominado PROLER) para, essas relações entre os demais Estados-Membros. justamente, acelerar o investimento no sector de forma Outro aspecto que não posso deixar de mencionar é o facto transparente e com mecanismos de mitigação de risco. de o acordo de mobilidade supracitado não fugir à essênHá que recordar também o investimento em curso no cia daquilo que, de certa forma, os Estados-Membros da segmento de mini-redes e sistemas solares autónomos, CPLP já têm regulado em matéria de migração, evitandoas quais visam dar resposta às necessidades das popu- -se a necessidade de alterações legislativas drásticas. www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

11



POWERED BY

Especial Energias Renováveis 14

PETRÓLEO VS RENOVÁVEIS

Ao mesmo tempo que a opinião pública pressiona as petrolíferas a reduzirem a produção dos combustíveis fósseis para salvar o planeta, os preços do petróleo e da energia estão em alta. Que futuro para as renováveis?

18

EXPLICADOR

Os planos de transição energética da China

20

CARBONSINK

Conheça a fábrica de fogões amigos do ambiente

22

PANORAMA

As notícias sobre energias renováveis no País e lá fora


renováveis

14

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


POWERED BY

Petróleo em Alta nos Mercados. Renováveis têm de Esperar? Apesar de as grandes companhias petrolíferas terem vindo a perder batalhas públicas sobre as alterações climáticas, os stocks de energia e os preços do petróleo estão a subir em flecha TEXTO Rui Trindade • FOTOGRAFIA Istock Photo , D.R

F

oram várias semanas terríveis para grandes companhias petrolíferas como a Exxon Mobil, Chevron e Royal Dutch Shell, que têm sido repreendidas por uma opinião pública cada vez mais adversa, que está a pressionar com o advento das alterações climáticas. No entanto, tem sido também um tempo glorioso para os investidores em energia, o sector com melhor desempenho na bolsa de valores este ano. Os preços das empresas de energia e do oil & gas têm vindo a subir em flecha. Muitos desses aumentos podem ser atribuídos a um incremento da procura à medida que a economia se recupera da pandemia do corona-

relatório político de referência da Agência Internacional de Energia que apela a cortes acentuados na produção de combustíveis fósseis. As várias batalhas são diferentes e os detalhes são importantes. Mas, resumindo: Os accionistas votaram, no mês passado, contra a actual gestão, orientando a empresa para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. No caso da Exxon, os share holders desafiaram a administração e votaram pela admissão de três directores independentes com o objectivo de empurrar o gigante da energia para reduzir a sua pegada de carbono. E um tribunal na Holanda decidiu que a

As notícias para as empresas de combustíveis fósseis ultimamente têm sido incessantemente sombrias, uma série de derrotas em votações... vírus. Mas a perspectiva de restrições de fornecimento de energia a longo prazo, uma vez que as empresas são forçadas a responder às alterações climáticas, complica enormemente a situação.

As más notícias para as Big Oil Em primeiro lugar, consideremos esta estranha combinação de desenvolvimentos. As notícias para as empresas de combustíveis fósseis ultimamente têm sido incessantemente sombrias, uma série de derrotas em importantes votações de accionistas e nos tribunais. Além disso, o negócio da energia tem sido o foco de um www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

Shell deve acelerar na redução das emissões em 45% em relação aos níveis de 2019 até 2030. A petrolífera disse que iria apelar, enquanto os ambientalistas exultaram com a decisão que abriu um precedente para esforços legais concertados a nível mundial. O que estes eventos díspares tinham em comum era o facto de colocarem as principais empresas cotadas em Bolsa sob pressão crescente para enfrentarem as alterações climáticas de forma muito mais enérgica. No seu relatório, “Net Zero até 2050: Um Caminho para o Sector Energético Global”, a Agência Internacional de Energia

15


renováveis

foi explícita ao afirmar o que deve ser feito para evitar os danos mais catastróficos. Afirmou que os Governos de todo o mundo precisam de parar imediatamente de aprovar o desenvolvimento de novos campos de petróleo e gás, e que as companhias petrolíferas têm mesmo de reduzir a produção. Embora o relatório não exigisse o fim do negócio petrolífero, a agência projectou uma indústria em retracção num mundo futuro com muito menos extracção, refinação e distribuição de produtos energéticos à base de carbono. Em suma, as manchetes sugeriram que as grandes empresas petrolíferas estavam em grandes dificuldades e, a longo prazo, isso pode ser verdade se não mudarem os seus caminhos.

Maravilhoso desempenho nos mercados No entanto, os mercados de acções e de

16

Seis dos dez melhores desempenhos no S&P 500 deste ano são empresas de energia, lideradas pela Marathon Oil, que aumentou 88% só em 2021 commodities, que parecem estar concentrados no curto prazo, têm vindo a contar uma história muito mais optimista. Apesar de uma breve recessão, este tem sido um período fabuloso para investimentos em empresas de energia, bem como para as mercadorias que têm fornecido a base tradicional para a existência destas empresas. Consideremos alguns dos números de desempenho recentes. Seis dos dez melhores desempenhos no S&P 500 deste ano são empresas de energia, lideradas pela Marathon Oil, que aumentou 88% só em 2021. As empresas

do sector energético do S&P 500 fizeram melhor do que qualquer outra grande fatia do mercado - ganhando 37% em 2021, em comparação com cerca de 11% para a referência global do mercado bolsista. Impulsionados por um aumento no preço do petróleo, os retornos das acções das grandes empresas de energia têm sido excelentes, apesar do castigo público. Eis alguns aumentos de preços representativos, expressos em percentagens, para 2021: Exxon, 47%; Chevron, 22% ; Shell, 11%; barril de Brent, 41%. O preço do petróleo bruto nos Estados Unidos subiu acima dos 70 dólares por barril, o seu nível mais alto em três anos. www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


POWERED BY

des quantidades de carbono terá mesmo de parar. A pressão pública sobre as grandes companhias petrolíferas pode ser um prenúncio de declínios na produção de combustíveis fósseis. A possibilidade de restrições no abastecimento futuro está a pesar no mercado e pode estar a ter um impacto marginal nos preços, diz Crooks. Os mercados petrolíferos sempre estiveram ligados à geopolítica, mas podem vir a sê-lo ainda mais na próxima década. Empresas sediadas na Europa, como a Eni, Total e BP, seguidas pela Shell, têm sido mais rápidas a fazer o tal shift para um futuro de energia alternativa e emissões reduzidas de carbono do que empresas americanas como a Conoco Phillips, Chevron e Exxon, de acordo com um novo estudo da Carbon Tracker, um grupo de reflexão (think tank) independente. Mas as empresas petrolíferas estatais em Nações, como a Arábia Saudita e a Rússia, e as empresas privadas que podem comprar bens a empresas públicas não são tão receptivas à pressão dos ambientalistas e poderiam facilmente compensar a falta de oferta, como Jason Bordoff, professor de assuntos internacionais e públicos na Columbia, escreveu recentemente na Foreign Policy.

A perspectiva de lucros, sem um imposto sobre o carbono O petróleo, por sua vez, fez subir o preço da gasolina ao consumidor final, algo que se sente em inúmeros países e que não demorará a sentir-se em Moçambique também.

Uma reviravolta e um futuro mais obscuro

A principal razão a curto prazo para a tendência crescente dos preços no sector da energia é a clássica: um simples desequilíbrio entre a oferta e a procura. “Parte disto é exactamente o que acontece ao mercado energético quando a economia cresce após qualquer recessão”, explica Ed Crooks, vice-presidente de energia nas Américas para a empresa de investigação da Wood Mackenzie. A procura disparou à medida que a economia foi despertando do seu “sono pandémico”. Ao mesmo tempo, o fornecimento de petróleo foi limitado por um declínio na www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

produção durante a recessão, quando as pessoas deixaram de conduzir e viajar de avião e as grandes companhias petrolíferas perderam milhares de milhões de dólares e começaram a retrair-se. O abastecimento foi também limitado pela restrição exercida pelo grupo conhecido como OPEC Plus - constituído pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e produtores aliados, como a Rússia. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) Plus já anunciou que os seus membros estão a começar a aumentar um pouco a produção, o que poderá impedir que os preços aumentem muito mais. Mas a situação da oferta e da procura a longo prazo é muito mais sombria. A dada altura, se aceitarmos que o planeta está a aquecer - ou seja, se aceitarmos o veredicto da ciência incorporado no relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) - a extracção de gran-

A economia básica diz-nos que, enquanto a procura superar a oferta, os preços são susceptíveis de subir, estimulando novos aumentos da oferta, até que um novo equilíbrio seja alcançado. É por isso que a maioria dos economistas recomenda alguma forma de imposto sobre o carbono ou sistema de “cap-and-trade”, que diminuiria a procura e reduziria as emissões de carbono ao aumentar os preços ao consumidor, sem proporcionar lucros inesperados aos especuladores da energia. O preço da gasolina ainda é demasiado barato em alguns mercados para estimular uma mudança voluntária e em massa para veículos eléctricos. Sem um imposto, ou alguma outra forma mais intrusiva de intervenção governamental, é provável que o ciclo do preço da energia continue, mesmo apesar das alterações climáticas. Por agora, pelo menos, os investidores estão a colher grandes lucros enquanto o planeta aquece.

17


explicador

O Ambicioso Plano da China Para a Transição Energética em Cinco Gráficos Em Setembro de 2020, o Presidente Xi Jinping anunciou os passos que a economia iria dar no sentido de alcançar a neutralidade de carbono até 2060 perante a Assembleia das Nações Unidas, em Nova Iorque. O que é, por si só, bastante relevante e decisivo, até para todo o mundo, no qual a China é o maior consumidor de electricidade, bem à frente do segundo maior, os Estados Unidos. Actualmente, 80% da energia da China provém de combustíveis fósseis, mas este plano prevê apenas 14% de carvão, petróleo e gás na-

tural em 2060. O ambicioso plano chinês passa por atingir a neutralidade em termos de carbono e isso requer a mudança de toda a economia nos próximos 40 anos, uma alteração de paradigma que a Agência Internacional da Energia (AIE) compara com a ambição das reformas que industrializaram a economia do país no século XX. Esta infografia analisa como seria este ambicioso plano e que esforços estão em curso para atingir este objectivo.

A CHINA TEM UM PLANO AMBICIOSO PARA ALTERAR TODO O SEU MIX ENERGÉTICO E REDUZIR AS EMISSÕES DE CARBONO.

Este gráfico utiliza dados do Instituto da Energia da Universidade de Tsinghua, que apresenta em detalhe como o maior consumidor mundial de energia espera atingir a neutralidade de emissões até 2060.

A EVOLUÇÃO DO MIX ENERGÉTICO CHINÊS

2025

2060

CARVÃO

CARVÃO

PETRÓLEO

A China continuará a queimar metade da oferta mundial de carvão.

HIDROELÉCTRICA

GÁS NATURAL

EÓLICA

BIOMASSA

Mil Milhões de Toneladas de carvão.

PETRÓLEO

GÁS NATURAL

HIDROELÉCTRICA

NUCLEAR

SOLAR

A geração de energia nuclear irá aumentar 533%.

A geração de energia solar irá aumentar 667% entre 2025 e 2060.

BIOMASSA

EÓLICA NUCLEAR

SOLAR

Apesar de a China ser hoje um consumidor gigantesco de energias fósseis, o mix energético do país irá mover-se cada vez mais para uma neutralidade de emissões de carbono. O DECLÍNIO DO USO DE CARVÃO

- Percentagem de consumo energético – Objectivo de 2020

PERCENTAGEM DE ELECTRICIDADE DO CONSUMO ENERGÉTICO

40% A percentagem de electricidade consumida deverá subir 30% em 2025.

O NOVO PLANO NUCLEAR CHINÊS

- Capacidade nuclear - O objectivo em 2025

A CAPACIDADE DE CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO DE ENERGIA SOLAR

A energia Solar poderá chegar aos 110 GW até 2025, o suficiente para dar energia a 33 milhões de lares.

A China planeia ter 70 GW (20 novos reactores) em 2025, face aos 50 GW que tinha em 2020. FONTE Bureau Nacional de Estatística da China

18

FONTE Agência Internacional de Energia; State Grid Corp. da China

FONTE Bloomberg; Agência Nacional de Energia da China

FONTE Photovoltaic Industry Association

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021



empresas startup

carbonsink

Um Negócio em Que Todos Ganham, Sobretudo o Ambiente “Melhorar a vida dos moçambicanos, com poucos recursos e sem lesar o ambiente”. É assim que se resume a Carbonsink. Mas há mais TEXTO Hermenegildo Langa • FOTOGRAFIA Mariano Silva

D

esenvolver actividades em que a sustentabilidade é mais do que uma palavra... é, sim, uma solução. No País, e no mundo, é um conceito que tem vindo a ganhar lugar em quase todos os sectores de actividade. Neste caso, a produção de fogões melhorados é um dos bons exemplos de uma prática cujo objectivo é reduzir a pegada ambiental, sobretudo a atra-

20

vés da diminuição de dióxido de carbono. Desenvolvido por um grupo de consultores italianos, o projecto existe em Moçambique há cerca de dois anos e o seu impacto mede-se pela sua presença em diversas províncias do País. A Carbonsink Moçambique é uma empresa de consultoria composta por cinco gestores que pretendem consciencializar a sociedade moçambicana sobre o perigo que os fogões tradicionais têm, não só para

o meio ambiente, como para a saúde humana, de um modo geral. “Os fogões mais abertos ou tradicionais, além de consumirem carvão vegetal, criam também uma fumaça que é prejudicial à saúde. Então, a grande vantagem dos fogões melhorados é que utilizam muito menos carvão para cozinhar”, explica António di Silvestro, coordenador da Carbonsink Moçambique. “A grande diferença dos nossos fogões tem que ver com a diminuição da biomassa www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


POWERED BY

B

EMPRESA Carbonsink Moçambique FUNDAÇÃO 2019 GESTOR António di Silvestro COBERURA Três províncias BENEFICIÁRIOS DOS FOGÕES: 12 mil famílias desde Abril de 2020

que se usa para cozinhar. Dependendo do tipo de fogão melhorado, este pode poupar entre 50% a 60% em relação aos fogões tradicionais”, explica a fonte. Implementado nas províncias de Maputo, no Sul do País, Zambézia (Centro) e Cabo Delgado (Norte), já é possível medir o impacto do projecto apesar de ser ainda recente no mercado. “Começámos este projecto em Abril do ano passado, e só na província de Maputo já vendemos mais de 12 www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

mil fogões”, afirma o gestor. No entanto, não é apenas no projecto de produção de fogões melhorados que a Carbonsink Moçambique está envolvida. A empresa também está à frente de outros projectos sustentáveis nos diversos pontos do País, todos com foco na redução das emissões do dióxido de carbono, numa altura em que as Nações Unidas alertam para o facto de estar a tornar-se, progressivamente, na maior ameaça à vida no planeta.

“Também estamos na província de Manica, na reserva de Chimanimane num projecto de conservação florestal e na província de Tete, num projecto de abastecimento de água potável usando painéis solares”, disse António di Silvestro. Até agora, a consultora considera os seus projectos bem-sucedidos em Moçambique, apesar dos efeitos negativos da pandemia do novo coronavírus, que vieram “retrair um pouco” as suas actividades.

21


panorama

POWERED BY

Energia

Central eléctrica de Zimane inicia fase experimental Iniciou, recentemente, a etapa experimental da central eléctrica de Zimane, no distrito de Mabote, em Inhambane, cujas obras vêm decorrendo desde Setembro do ano passado. A infra-estrutura foi erguida no âmbito da implementação do “Projecto Energia Para Todos”, visando a expansão da rede eléctrica para as zonas rurais. Trata-se de uma central de painéis solares, com a capacidade de produzir, numa primeira fase, cerca de 60 KW de energia que, para além de electrificação das instalações da sede da localidade, posto po-

licial, unidade sanitária e escola, vai também beneficiar a população local. O administrador de Mabote, Carlos Mussanhane, confirmou que as obras do pequeno sistema de abastecimento de energia eléctrica, avaliadas em cerca de 27 milhões de meticais, e que incluem a construção de uma fonte de abastecimento de água, também movida a painéis solares, estão praticamente concluídas e que, neste momento, está-se na fase experimental, aguardando-se a confirmação da data de vistoria a ser feita por técnicos do Fundo de Energia (FUNAE).

Investimento

Fundos atribuídos à energia limpa no mundo representam um terço do necessário

Solar

Central de Metoro em Cabo Delgado só será entregue no próximo ano Foi estendido para Janeiro do próximo ano o prazo da conclusão e entrega das obras de construção da Central Solar de Metoro, no distrito de Ancuabe, em Cabo Delgado. O anúncio foi feito por Dinis Vilankulos, representante da Neoen, empresa parceira da Electricidade de Moçambique na implementação do maior projecto de energia solar do País, cuja primeira pedra da sua construção foi lançada em Novembro do ano passado pelo Presidente da República, Filipe Nyusi. Dinis Vilanculos disse que as obras que inicialmente deviam terminar no presente mês de Agosto estão atrasadas e executadas em 68%, apontando como causas principais as actuais adversidades que a província vive. A fonte falava no âmbito da visita que o Secretário de Estado na província, António Supeia, efectuou recentemente àquela empreitada.

22

Os fundos atribuídos à energia limpa nos planos de recuperação da crise concebidos pelos governos de todo o mundo representam apenas 35% dos necessários para cobrir os objectivos de limitação das alterações climáticas, adverte a Agência Internacional de Energia (AIE). Num relatório publicado neste mês, a AIE estima que, com esta adopção insu-

ficiente das políticas de transição energética, as emissões atingirão um nível recorde a partir de 2023 e continuarão a crescer nos anos seguintes. Em particular, as emissões de dióxido de carbono (CO2) relacionadas com a energia serão muito superiores a 33 gigatoneladas em 2023, ou seja, mais 3500 milhões de toneladas do que o previsto no roteiro para alcançar o objectivo de emissões líquidas zero até 2050. De acordo com o roteiro elaborado pela AIE e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), uma injecção de um bilião de dólares por ano em energia limpa - equivalente a 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) - durante três anos geraria um aumento da actividade global de 1,1 pontos percentuais do PIB por ano.

Inovação

Novo método permite que painéis solares possam produzir mil vezes mais energia Os investigadores da Martin Luther University Halle-Wittenberg (MLU) descobriram que, com camadas cristalinas de titanato de bário, titanato de estrôncio e titanato de cálcio, colocadas alternadamente, é possível aumentar a eficiência dos painéis solares. A produção de energia dos cristais ferroeléctricos em painéis solares pode ser aumentada graças a uma inovação que envolve a monitorização de camadas finas dos materiais. Ao fazer experiências com diferentes combinações de materiais, os cientis-

tas descobriram que podiam juntar camadas extremamente finas de diferentes materiais para aumentar significativamente a produção de energia solar. “O importante é que um material ferroeléctrico é alternado com um material paraeléctrico. Embora este último não tenha cargas separadas, pode tornar-se ferroeléctrico sob certas condições, por exemplo, em baixas temperaturas ou quando a sua estrutura química é ligeiramente modificada,” refere Akash Bhatnagar, do Centro de Competência de Inovação SiLi-nano da MLU. www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021



OPINIÃO

O Mercado Secundário da BVM

o

Líria Nhavotso • Directora da Tesouraria e Mercado de Capitais do Banco BIG

mercado de capitais é um segmento fundamental do mercado financeiro, no qual os agentes económicos detentores de excesso de liquidez (investidores institucionais, empresas ou particulares que procuram soluções de poupança e investimento), e outros agentes económicos com necessidade de liquidez (tipicamente entidades públicas ou empresas que procuram financiamento) se encontram para transferir capital de uns para outros. Este mercado caracteriza-se pela sua elevada liquidez e desintermediação, e representa uma alternativa ao financiamento bancário tradicional e a outros sistemas de financiamento existentes. O mercado de capitais divide-se entre o mercado primário e o mercado secundário. O mercado primário é o mercado onde os agentes com necessidade de liquidez se encontram numa primeira instância com os investidores, vendendo títulos, seja através de emissões de dívida, seja através de emissões de títulos de participação de capital (acções). Este mercado em Moçambique é primordialmente utilizado pela Direcção Nacional do Tesouro. A título de exemplo, o Orçamento do Estado para 2021 prevê que o Estado deva financiar-se internamente este ano em MZN 41 mil milhões, essencialmente através da emissão de Obrigações do Tesouro. Adicionalmente, outras empresas como a HCB, CDM e Bayport utilizaram recentemente o mercado primário para emissões de capital e dívida. O mercado secundário, por sua vez, é um mercado onde são transaccionados títulos já existentes, ou seja, são transacções que ocorrem posteriormente às transacções em mercado primário. A existência de um mercado secundário é fundamental, na medida em que permite aos investidores fazer aplicações ou realizar liquidez através da compra e venda de títulos já cotados. Quanto mais líquido for o mercado secundário, maior é a rapidez e a probabilidade de executar uma transacção, e mais baixos serão os próprios custos de emissão de dívida ou capital, pois os investidores exigirão um prémio de risco mais reduzido pelas suas aplicações. O mercado secundário serve também de referência para emissões futuras de dívida e capital

de empresas, pois é no mercado secundário que os preços variam e devem reflectir de forma actualizada as alterações das condições de mercado dos títulos em circulação. Em Moçambique, ao contrário de outros mercados mais desenvolvidos, o mercado secundário de dívida ainda se Volume Mercado Primário vs Secundário (Obrigações) Ano 2017 2018 2019 2020 Jun-21

Mercado Primário 18 779,45 17 625,00 18 526,11 39 800,00 24 758,00

Mercado Secundário 2 477,55 2 094,74 4 177,52 4 840,36 2 643,84

%Sec/Prim 13,19% 11,89% 22,55% 12,16% 10,68%

caracteriza por uma reduzida liquidez, e o volume de transacções é muito inferior ao do volume do mercado primário. Do lado das acções, os indicadores são ainda mais frágeis, sendo que das 11 empresas cotadas somente três transacionam com maior frequência. O volume médio diário é muito reduzido, o que dificulta a afirmação e relevância desta classe de activos nas carteiras de investimento de longo prazo dos principais investidores em Moçambique. Para além da liquidez, outros indicadores como a capitalização bolsista e o número de empresas cotadas também comparam desfavoravelmente com as bolsas de valores de países vizinhos. De acordo com o útimo Relatório de Desempenho da BVM, o índice de capitalização bolsista em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) é actualmente de 8,6%, abaixo dos 30% que é a média da região da SADC. Apesar do esforço recente que resultou na admissão à cotação de seis empresas na Bolsa de Valores entre 2017 e 2021, este indicador também se encontra muito abaixo da média da região. A fraca dispersão (free-float) dos títulos cotados, a reduzida liquidez, as características do sistema de negociação da BVM, a cultura de buy-and-hold (deter os títulos até à maturidade) e a falta de conhecimento sobre o tema são algumas das causas identificadas que justificam o lento desenvolvimento do mercado secundário em Moçambique. No

“Quanto mais líquido for o mercado secundário, maior é a rapidez e a probabilidade de executar uma transacção, e mais baixos serão os próprios custos de emissão de dívida ou capital...”

24

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


A emissão recorrente de obrigações de tesouro é um dos factores que contribuem para a fraca capitalização do mercado secundário de dívida soberana

entanto, estas não devem ser analisadas individualmente. Uma característica principal corresponde à falta de conhecimento de vários investidores sobre a existência de um mercado secundário. Como consequência, muitos investidores (incluindo investidores de instituições como bancos, seguradoras e fundos de pensões) compram títulos no mercado primário detendo os mesmos até à maturidade, independentemente das condições de mercado e das suas necessidades de liquidez. Outro factor que também não contribui para uma maior liquidez do mercado secundário de dívida soberana inclui a existência de um calendário recorrente de emissões de obrigações de tesouro (mercado primário), que, apesar de garantir maior flexibilidade ao Estado enquanto Emitente, penaliza o desenvolvimento e crescimento do mercado secundário, permitindo aos investidores adquirir títulos no mercado primário de 15 em 15 dias, em vez de recorrerem aos títulos já cotados na BVM. Desta forma, para o crescimento sustentável do mercado de capitais em Moçambique, torna-se crucial repensar o desenvolvimento do mercado secundário de um modo integrado. A implementação de programas de educação com www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

foco em literacia financeira, a disponibilização de incentivos fiscais ao investimento e à poupança, a melhoria da disseminação de informação e modernização do sistema de negociação e a formação dos agentes económicos sobre os mercados de capitais são alguns exemplos de medidas que poderão ajudar ao crescimento do mercado de capitais nacional. Contudo, isto corresponde apenas a estímulos iniciais, na medida em que o trabalho de desenvolvimento deve ser contínuo e deve integrar todos os agentes económicos, não podendo recair toda a responsabilidade apenas sobre um agente, seja o Estado, a Bolsa de Valores, os Bancos ou os Investidores. Apenas com um mercado de capitais secundário líquido e vibrante teremos um crescimento da Bolsa de Valores, um aumento natural das empresas a procurar admissão à cotação em mercado primário e uma redução dos custos de financiamento por parte dos emitentes, permitindo assim uma célere e eficiente canalização do capital para financiar os projectos estruturantes que Moçambique necessita, e a famosa alavancagem financeira a funcionar na economia nacional, gerando riqueza quer para o País quer para as famílias.

25


NÚMEROS EM CONTA AS 100 MAIORES EMPRESAS GLOBAIS — EUA VS RESTO DO MUNDO Quando se trata de derrubar as 100 maiores empresas do mundo, os Estados Unidos da América ainda comandam a maior fatia da tarte. Ao longo do século XX, e antes de a globalização atingir o que é hoje, as empresas norte-americanas fizeram daquele país uma potência económica e a fonte da maior parte do valor do mercado global. Mas mesmo à medida que países como a China fizeram progressos com empresas multi-bilionárias próprias, e os sectores mais importantes do mercado global mudaram, os Estados Unidos da América conseguiram manter-se no topo. Como é que as 100 maiores empresas do mundo se acumulam ao longo do tempo? Em que diferem umas das outras? O que as separa? A infografia ao lado mostra o ranking anual das maiores empresas de todo o planeta, utilizando dados de capitalização de mercado de Maio do ano corrente, num valor de mercado de cerca de 31,7 biliões de dólares. É interessante aferir que a diferença entre a maior empresa do mundo (a norte-americana Apple) e a 100ª maior (a também norte-americana Anheuser-Busch) é de $1,9 biliões de dólares, mas, entre países, essa divisão torna-se ainda mais acentuada. Dos 16 países (nenhum do continente africano) com empresas no ranking dos 100 primeiros, os Estados Unidos da América são responsáveis por 65% do valor total do limite de mercado global.

26

A gigante estatal da Arábia Saudita, Saudi Aramco, é a terceira maior empresa do mundo.

É nos EUA que estão 59 das 100 maiores firmas mundiais, e 65% do total da capitalização de mercado.

As chinesas Tencent e Alibaba são duas das empresas do Top 10 mundial em capitalização de mercado.

Nos 16 anos de história do Henley Passport Index, a maioria das posições do ‘Top 10’ são ocupadas por países da União Europeia.

FONTE PwC

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021

17


NAÇÃO

28

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


BUSINESS SCHOOL

O NEGÓCIO DAS ESCOLAS DE NEGÓCIO Especialistas concordam que não existe uma fórmula mágica para se construir um empreendimento de sucesso, e que grande parte das melhores experiências não envolveram formação em negócios. Paradoxalmente, também se acredita que para se tornar num empreendedor de sucesso no século XXI, é preciso fazer cursos que ajudem a identificar oportunidades, criar planos, garantir suporte financeiro e coordenar o crescimento dos negócios. Mas, em Moçambique, qual é o alcance prático das escolas de negócio?

O

Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva & D.R.

que é que se ensina numa business school e de que forma pode ou não acrescentar mais-valias num empreendimento? Duas realidades tornam oportuna, nos dias que correm, a discussão sobre a relevância das escolas de formação em gestão ou em negócios em Moçambique. Uma será o facto de se defender o empreendedorismo como um dos caminhos mais eficientes de acelerar o crescimento e o desenvolvimento – o que, de certa forma, faz crescer substancialmente o número de instituições voltadas para a formação em negócios – e a outra é a percepção, quase generalizada na sociedade moçambicana, de que, para empreender, não será mais do que apenas dispor de uma oportunidade de obter finanças e ousar assumir o risco de as aplicar num projecto que seja rentável e esperar pelos resultados. Ou seja, simplesmente embarcar naquilo a que a sociedade dá o nome de “bolada”, que significa qualquer coisa como negócio informal isento de regras e de burocracias. E é aqui onde parece que a maioria dos empreendimentos nacionais são constituídos. A propósito, estimativas apresentadas por Agostinho Magenge, director-executivo da MD Consultores, empresa vocacionada para a consultoria em diversas áreas, incluindo a de negócios, calcula em menos de 10% os empresários que passam pelas escolas de negócio. “Acredito que a maior parte das empresas, até do nível das afiliadas à Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) não têm negócios totalmente estruturados… aos empresários falta a formação sobre como gerir um negócio”, constatou. Na mesma linha, Michael Miranda, director-executivo da Above, uma escola de formação em gestão de negócios que opera no mercado desde 2014, diz ser surpreenden-

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

te o quão as empresas, aparentemente grandes, têm dificuldades muito básicas. “O mercado tem uma imagem distorcida das empreses que se apresentam com um status respeitável, mas cuja realidade organizacional, dentro delas, não corresponde ao que se vê por fora. Temos a falsa impressão de que todas as grandes empresas têm domínio do conhecimento em negócios, mas basta olharmos para as falências e dificuldades financeiras de algumas delas para entendermos que não é bem assim”, explicou. Também não há, em Moçambique, informação sistematizada sobre a quantidade de instituições de formação em negócios, mas uma breve visita aos sites de internet pode levar à fácil descoberta de, pelo menos, dez escolas, parte delas ligadas a universidades públicas e privadas. Ao mesmo tempo, falta definir claramente o grau dos formandos das diferentes instituições. “Por enquanto, os técnicos de curta ou média duração, assim como os funcionários que buscam formação em negócios, procuram a certificação de que eles têm conhecimento naquela habilidade específica como, por exemplo, na negociação ou nas vendas”, explicou Michael Miranda, director-executivo da Above, escola que é regida pela Autoridade Nacional de Educação Profissional (ANEP). O sucesso depende, mesmo, da academia? A divergência de opiniões entre especialistas sobre se as escolas de negócio são ou não determinantes para o sucesso dos empreendimentos não acontece apenas em Moçambique, já que, desde o século passado se assiste ao sucesso de muitos empresários, muitas vezes sem qualquer formação, mas dotados de “instintos” de iniciativa e liderança. Talvez seja por isso que, em Moçambique, os empresários se preocupam

29


NAÇÃO

“A educação para o empreendedorismo ensina os indivíduos a pensarem fora da caixa e estimula talentos e habilidades não convencionais...” com o que gostariam de aprender sobre negócios e que acreditam que não encontrarão na academia, embora do lado posto estejam os que defendem ser “absolutamente necessário” frequentar uma escola de negócios, na sua maioria, as próprias instituições de formação. Pedro Cruz, CEO do Instituto Superior de Gestão (ISG), é uma destas vozes. Segundo o responsável, as decisões de outrora, puramente por “instinto” e sem ferramentas ou competências de gestão, têm cada vez menos hipóteses de sucesso. O empresário de sucesso esteve sempre associado a supostas características inatas que não se aprendem na escola. Na verdade, alguém que troca um emprego com salário fixo e decide investir, com risco, num negócio, tem em si um rasgo de personalidade distintivo. Sabemos que esta característica é importante, mas é tendencialmente insuficiente

30

se faltarem as competências técnicas e específicas. As vocações são trabalháveis no sentido de se desenvolverem competências dinâmicas e ajustáveis ao tempo e circunstâncias. O pensamento vigente de muitos empresários e empreendedores ainda é o de “não tive formação, mas tive sucesso na empresa que criei”, pensamento este que tem que ser substituído por “o meu percurso de mérito poderia ter sido amplificado se tivesse competências de gestão”. Por outro lado, segundo Pedro Cruz, persiste alguma desconfiança relativamente às instituições de ensino e formação, pelo que, ainda hoje, são raros os estudos de consultoria empresarial adjudicados a universidades ou centros de investigação. Mas são os consultores que ali ministram aulas e recrutam os colaboradores que, por seu turno, vão para as consultoras desenvolver esses projectos. Este tema é também amplamente abordado pelo World Scholarship Forum (Fórum Mundial de Bolsas de Estudo), num artigo de 21 de Maio do presente ano, em que especialistas consideram que “a educação para o empreendedorismo ensina os indivíduos a pensarem fora da caixa e estimula talentos e habilidades não convencionais e www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


BUSINESS SCHOOL lou. Gerir, neste contexto, será então “tomar decisões com o menor risco possível com a maior informação (e previsão) possível”. Nunca é garantia de sucesso, mas minimiza as probabilidades de insucesso. É a isto que pode aspirar alguém que pretende “gerir”. Michael Miranda, director-executivo da Above, também resume a essência da formação no “plano de negócios que é essencial para saber elaborar e planear uma empresa. É onde o empresário aprende a lidar com os fluxos financeiros podendo evitar, por exemplo, a confusão entre o lucro e a receita. Onde o conhecimento do negócio é dado não só como prática, mas também como estratégia. O que tentamos fazer é que os empreendedores entendam que o negócio não é a receita, mas toda a estratégia de custos, de Recursos Humanos etc., que é necessária para que o negócio consiga sustentar-se, independentemente da área de actividade em que as pessoas estejam envolvidas”.

lamentam o facto de que “a maioria das escolas não ensina empreendedorismo, mas concentram-se em tópicos que não ajudam os alunos a pensar de forma criativa e ambiciosa”. O que, de facto, se aprende numa escola de negócios? Pedro Cruz, CEO do Instituto Superior de Gestão (ISG), começa por esclarecer que, em primeiro lugar, é preciso desmontar a ideia daquilo que é efectivamente o “negócio” e o “empreendedor”. O “negócio” sempre esteve associado a uma realidade institucional empresarial quando, na verdade, é algo absolutamente transversal, começando na esfera individual ou familiar, porque temos sempre valores, receitas, custos, expectativas, planos e imprevistos para gerir. No fundo, segundo o responsável, somos e temos de ser todos “gestores”, independentemente da escala. E gerir é basicamente prever. Para prevermos algo temos de antecipar cenários, recolher informação, planear. Ora, para se planear é necessário um conjunto amplo de ferramentas que podem e devem ser trabalhadas no âmbito da formação ou do ensino. Formalizar uma ideia e montar um simples plano de negócios precisa de tudo isto que se fawww.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

A qualidade, em Moçambique, não é das melhores Se for verdade que os empresários têm de buscar conhecimentos das academias para conduzirem os seus negócios, não é menos verdade que há limitações que podem estar a contribuir para que o empresariado não se sinta estimulado a apostar nesta solução. Basicamente, as escolas de negócio não têm conseguido responder cabalmente os que os investidores procuram. Isto é, há um desfasamento entre a teoria e a prática. Em todo o mundo é assim, mas, em Moçambique, o problema é mais acentuado. Agostinho Magenge, director-executivo da MD consultores, considera que a qualidade é um problema de base e não apenas das escolas de negócio. O responsável compara a universidade a uma fábrica de produtos acabados que trabalha com matéria-prima (estudantes) que recebe de vários produtores (as escolas de nível básico e médio). “Então, se a matéria-prima não tem qualidade, como é que o produto terá qualidade? O problema deve começar a ser resolvido na escola primária”, sugere o especialista. Também sugere que as escolas deviam estar ligadas às empresas, no sentido de, a partir do terceiro ano, por exemplo, estudantes que estivessem no fim do curso teórico ingressassem nas empresas para estágio. “Isso ajudaria os estudantes, quando concluíssem o nível de ensino, a saberem como podem iniciar um negócio, o que não acontece”, lamentou. Pedro Cruz aponta como grande limitação o factor tempo. “Tempo que os alunos/formandos não querem dedicar, assumindo que ’umas horas‘ são suficientes. E tempo que os empregadores teimam em não investir para pensar de forma estrutural na formação, quer seja ao nível de estágios, quer seja na formação em contínuo”. Para Pedro Cruz, quer ao nível escolar, quer ao nível de instituições e empresas, os tempos de formação são, na maioria dos casos, claramente insuficientes para que se consolidem todas as vertentes e ferramentas necessárias para a gestão cabal de um negócio (recursos humanos, planeamento, contabilísticos, financeiros, de estudos de mercado, de venda e distribuição, de gestão de stocks, etc.). Além disso, em qualquer programa de formação, é impossível simular todas as situações que poderão ser encontradas num cenário de vida laboral real. É um pouco como “tirar a carta de condução”. Mas os empregadores não têm essa perspectiva(…). Michael Miranda, da Above, defende que “o ramo técnico tem de ser muito flexível na sua evolução e as escolas de

31


ensino de negócios têm de ser muito rápidas a evoluir porque elas são o último recurso que as instituições têm para aprender a ciência que evolui todos os dias”. Mesmo assim, ensinar a empreender é um negócio rentável Os nossos entrevistados não apresentaram números, mas falam de um crescimento acentuado do interesse por cursos de formação em negócios nos últimos anos, estimulado, por um lado, pela entrada das multinacionais da área de exploração de recursos naturais que buscam por parcerias nacionais de pequena dimensão, o que acaba por criar uma pressão local pela busca de melhor performance empresarial. Este movimento, segundo Magenge, torna o negócio das escolas de negócio rentável. Concordando com o franco crescimento do negócio das escolas de negócio, Pedro Cruz chama ao debate um outro ângulo de vista. Refere que a formação ou ensino numa instituição privada é em si um negócio que tem de ser encarado com um horizonte temporal de muito longo prazo, com seriedade e resiliência. “No nosso caso (Instituto Superior de Gestão), além da formação profissional do ensino médio e sssuperior de cariz profissionalizante, de maior duração, aproveitámos os nossos recursos qualificados para criar uma divisão de formação executiva e de preparação para inserção na vida activa, de menor duração. Tem ti-

32

Em qualquer programa de formação é impossível simular todas as situações que poderão ser encontradas num cenário de vida laboral real do muito sucesso, sobretudo quando combina formação em áreas de negócios com um perfil de alunos, formandos, estagiários ou trabalhadores que já têm algumas noções de gestão”, explicou. Também na Above, há cada vez maior procura por cursos vocacionais, práticos e técnicos em negócios, “porque chegámos a um ponto em que já não é possível improvisar. As empresas têm de utilizar procedimentos, normas e padrões. Por exemplo, numa empresa que fornece mobiliário de escritório, como é que um funcionário consegue convencer os clientes a pagarem e fechar as vendas? Que técnicas utiliza para concretizar uma venda? Então as empresas já perceberam que não é possível improvisar tudo… torna-se impossível fazer evoluir o patamar das empresas sem passar pela formação”, daí que, “hoje em dia”, muitas empresas que se constituíram a partir de um modelo informal de gestão – ’fazendo boladas‘ – já procuram instituições vocacionadas. “Ainda assim, infelizmente, a maioria das empresas ainda usa práticas informais”, concluiu Michael www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


RECICLAGEM SEIS ASPECTOS CRUCIAIS QUE AS ESCOLAS NUNCA ENSINAM Vários estudos revelam a existência de muitos aspectos importantes que as escolas de negócios não transmitem. Um deles, que funciona como dica para a reflexão, é da autoria do consultor brasileiro Rafael José Pôncio, que é também empreendedor com mestrado em gestão e administração de empresas.

1

2

UM NEGÓCIO PODE SER COMPLICADO Começar um negócio exigirá que o empreendedor “descubra as coisas gradualmente”. Embora a faculdade de administração enfatize a importância do financiamento, da contratação e do escalonamento, começar um negócio significa aproveitar ao máximo os poucos recursos que a pessoa possui. O sucesso dependerá de como esta pode ser perspicaz e de como pode maximizar os recursos disponíveis.

PLANOS NÃO SÃO O MAIS IMPORTANTE

4

MARKETING NO SÉCULO XXI Muitas escolas estão finalmente a começar a melhorar as aulas de marketing para se adequarem à era digital, mas é surpreendente o quanto essa informação muda muito mais rápido do que a maioria das escolas de negócios consegue acompanhar. É responsabilidade do empreendedor manter-se informado sobre as tendências actuais do marketing digital, bem como as tácticas que funcionam no momento.

5

Todos os nossos entrevistados deram relevância à planificação, mas este estudo aponta que não é bem assim. “O planeamento exagerado pode acabar com o seu negócio, especialmente quando se tenta ajustar com base em como o cliente usa, percebe e compra o seu produto ou serviço. É muito mais importante executar sua ideia e obter uma prova de conceito, em vez de tentar planear cada aspecto de seu negócio com perfeição.

3

COMO DEFINIR METAS Com tanta ênfase no planeamento e na tomada de decisões estratégicas, não deixa de ser irónico o pouco que as escolas de administração estabelecem objectivos e fazem engenharia reversa do que o empreendedor quer. Muitos empresários sabem o que querem fazer, mas não sabem como fazê-lo. Definir metas facilita a determinação do caminho, pois é possível fazer engenharia reversa de onde o empresário deseja estar.

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

COMO SER CRIATIVO A criatividade é muito difícil de ensinar, por isso não é de admirar que isso seja algo que falta nas escolas de negócios. Elas mostram os parâmetros em que a pessoa trabalhará como empreendedor e como aproveitálos ao máximo, mas criatividade é trabalhar fora desses parâmetros, pensando fora da caixa. Como empreendedor, às vezes a melhor solução não é a mais óbvia, mas inspirada.

6

ASSUMIR RISCOS As escolas são projectadas para ensinar os alunos a não falhar, a serem mais avessos ao risco do que a assumi-lo. Elas são projectadas para que os alunos trabalhem dentro de um conjunto de regras, o que pode contrariar a tese de ser um empreendedor e administrar um negócio. Ao contrário disso, administrar um negócio significa falhar muito. O fracasso deve ser visto como parte do processo de aprendizagem.

33


NAÇÃO

“Hoje em dia, muitas empresas que se constituíram a partir de um modelo informal de gestão – ’fazendo boladas‘ – já procuram instituições vocacionadas...” Miranda, que considera a concorrência como um forte factor impulsionador da busca pela formação. Formação tem custos, mas não tem preço Nas diversas instituições, os pacotes variam conforme a área de actividade, duração, nível de graduação, nível dos professores e até a localização geográfica da escola. Em termos de números, na maioria das escolas, estaremos a falar de mensalidades avaliadas em 300 meticais no mínimo e em torno de 10 mil meticais no máximo. Mas para Pedro Cruz, o custo de uma formação em negócios nem se devia medir, porque “não acredito em pacotes para transformar alguém num empreendedor e/ou empresário. Quem os vende – e estão aí no mercado imensos que o fazem – certamente está a enganar o aluno ou formando. O que costumo, sim, pensar é no imenso que custa a uma empresa ou mesmo a um país não ter empresários com formação”. Acrescenta ainda que a formação de um gestor ou empreendedor não pode ser encarada de forma muito diferente de outras ocupações ou até vocações, como a de um músico, por exemplo, já que é sempre um processo a longo prazo, com resultados pouco óbvios no imediato.

34

O outro lado da moeda Ao mesmo tempo que as instituições de formação e parte dos empresários argumentam haver a necessidade de os negócios serem desenhados e conduzidos a partir dos conhecimentos adquiridos em instituições com vocação para tal, há, pelo mundo, várias evidências e até estudos a questionarem este posicionamento. “Às vezes um mestrado em administração de empresas ajuda mais quando a sua empresa está bem estabelecida”, concluiu um estudo feito por uma empresa canadiana nos EUA, através de um inquérito a vários empresários. “O treinamento da escola de negócios não ajuda muito durante o estágio inicial. A maioria dos entrevistados concordou que a escola de negócios lhes ensinou pouco sobre o processo de estabelecimento de um novo negócio – encontrar fontes de capital, recrutar e contratar funcionários, lutar para fazer aquela importante primeira venda e aprender como superar concorrentes maiores”, lê-se no estudo da consultora Fax Inc. Em Moçambique, país que está ainda longe dos melhores patamares de formação a este nível – ainda não se forma técnicos de negócio ao nível dos chamados Master in Business Administration (MBA, ou Mestre em Administração de Negócios, em português) como acontece nos países mais desenvolvidos –, também há uma vasta camada empresarial que dispensa as escolas de negócio. Principalmente a nova geração dos investidores em startups. www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021



OPINIÃO

Escolas de Negócios & “Economia da Bolada”

N

João Gomes • Partner @ JASON Moçambique

este artigo a expressão popular Moçambicana “Bolada” significará “negócio de ocasião”, “Economia da Bolada”1 , e possuirá um duplo sentido: - Negócios de ocasião, práticas de produção e/ou comercialização informais (economia informal); - E informalidades2 na economia formal. E vai o conceito de “Economia da Bolada” ser instrumental para analisarmos o papel que as Escolas de Negócios (EN) podem desempenhar em economias em vias de desenvolvimento. Para o efeito adoptarei a seguinte definição de Escola de Negócio. 1. “É um edifício, com quatro paredes, …e com o futuro lá dentro” (Kaplan, Andreas, 2018)3: e desde sempre assim tem sido. Historicamente, a École Superieure de Commerce de Paris foi a primeira EN do mundo a ser criada (1819). Adicionalmente, a primeira EN do continente africano nasceu na University of Pretoria (1949)4. 2. E cuja oferta curricular se destina a satisfazer necessidades de um sistema-cliente diversificado: por exemplo, as EN mais prestigiadas do mundo5 (v.g. Harvard University [USA]; INSEAD [França]), e africanas6 (v.g. Gordon Institute of Business Science [África do Sul]; The University of Dar es Salaam Business School [Tanzânia]) desenham as suas ofertas para satisfazer as necessidades do trinómio i) Empregadores; ii) Managers; iii) e Empreendedores. 2.a) Os Empregadores pretendem que as EN habilitem os seus melhores quadros com competências-chave (Conhecimentos + Habilidades + Atitudes) que lhes permitam aumentar as respectivas performances no trabalho: por exemplo7, conhecimento geral do negócio e do sector; conhecimento profundo de uma disciplina relevante para o negócio; capacidade de estabelecer ligações pessoais; capacidade de comunicação oral e escrita; capacidade analítica e de pensamento criativo; capacidade de preparação e condução de encontros de influência e de negociação; capacidade de trabalho em equipas multi-funcionais e remotas. 2.b) Os Managers pretendem que as EN os habilitem com competências-chave que lhes permitam aumentar a

respectiva performance no trabalho: por exemplo8 (e são notórias algumas sobreposições com as necessidades dos Empregadores), reforço de competência numa disciplina empresarial importante e específica; reconhecer oportunidades de negócio; resolver problemas; integrar as questões globais nas decisões empresariais; aplicar a teoria à prática; desenvolver modelos complexos na folha de cálculo; data analytics; escrever relatórios de negócios; apresentação oral; trabalhar bem com pessoas de diferentes origens; dirigir o trabalho dos outros e de equipas; resolução de conflitos; priorizar actividades; e gestão de projectos. Adicionalmente, este grupo apresenta outros desafios às EN em termos de competências-chave a desenvolver: por exemplo, habilidade de marketing e promoção de si mesmos através do estabelecimento de objectivos de carreira para cinco e 10 anos; construção de um arquivo de realizações (portfolio) e obtendo informação para planeamento e implementação de uma carreira. Além disso, os estudantes precisam de desenvolver redes activas e crescentes de pessoas com quem possam trocar no futuro informações e referências para i) desempenharem com proficiência os seus trabalhos, ii) ou para encontrarem melhores empregos, iii) ou para iniciarem os seus próprios negócios. 2.c) Por seu turno, os Empreendedores pretendem que as EN os habilitem com competências-chave que lhes permitam i) acelerar a criação de novas e bem sucedidas ideias, patentes, negócios e empresas, e alcançar sucesso pessoal: por exemplo, e em adição às competências anteriormente referidas para os tipo Empregadores e Managers, desenvolver competências relacionadas com a pesquisa e identificação de novas oportunidades de negócio; analisar e resolver situações de negócio complexas; gerar uma variedade de estratégias e escolher a melhor alternativa. ii) Explorar de forma produtiva e eficiente aquelas oportunidades: por exemplo, desenvolver o foco no cliente; a preparação de business plan; a liderança; a gestão financeira; a gestão do talento; a gestão administrativa e contabilística; a optimização da eficiência dos processos críticos de negócio. 3. Para o efeito, as EN de referência embalam as suas

Os modelos mais eficientes de Escolas de Negócios, como lugares onde se constrói o futuro, através de ofertas curriculares originais e flexíveis... são, na minha opinião, soluções também aptas para a redução da dimensão e dos efeitos negativos da “Economia da Bolada” no País

36

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


Na Tanzânia está uma das escolas de negócio mais prestigiadas do continente africano no que diz respito à qualidade de formação

ofertas sob formas originais e flexíveis: por exemplo, no formato EMBA (Executive MBA), baseado em cursos executivos de pós-graduação, fora do sistema formal de ensino, dirigidos a Managers e Empreendedores, temáticos (e não de banda-larga como os tradicionais MBA), assentes em estudo de casos e simulação, em part-time e de menor duração (semestrais), utilizando canais híbridos (digitais-presenciais) e com custos progressivamente mais acessíveis (fruto da actual pandemia). E com muito sucesso. E qual é o papel das EN em contextos, como em Moçambique, nos quais a “Economia da Bolada” equivale a mais de 72%9 do PIB? Estudos10 comprovam que o crescimento das EN também provoca um triplo efeito de redução da dimensão da “Economia da Bolada” porquanto: i) A criação de mais empresas formais dali resultante colocará à disposição do mercado mais postos de trabalho formais11; ii) O aumento da consciência dos riscos associados à “Economia da Bolada” funcionará como um desincentivo pessoal, financeiro e social aos novos empreendedores nessa direcção; iii) A melhoria da eficiência e transparência dos processos provocará - principalmente no caso da Administração Pública - a diminuição do nível de informalidades e corrupção na economia formal. Em Conclusão Os modelos mais eficientes de Escolas de Negócios (EN), como lugares onde se constrói o futuro, através de ofertas curriculares originais e flexíveis, e ajustadas às necessidades de Empregadores, Managers e Empreendedores, são, na minha opinião, soluções também aptas para a redução da dimensão e dos efeitos negativos da “Economia da Bolada” em Moçambique. Contudo, para amplificar o triplo efeito de redução referido acredito que as EN moçambicanas deverão efectuar ajustes ao modelo acima apresentado, entre outros, incluinwww.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

do nos curricula temas como i) a ética nos negócios; ii) a igualdade de géneros; iii) o trabalho decente. Sugiro, ainda, que as EN moçambicanas investiguem, conheçam em profundidade e busquem soluções alternativas para a diminuição da “Economia da Bolada”. Expressão da nossa autoria. MOSCA, João “Pobreza, economia informal e informalidades”. Conference Paper nº 34 - II Conferência IESE “Dinâmicas da Pobreza e Padrões de Acumulação Económica em Moçambique” define Informalidades como sendo “todas as relações de natureza económica, social, jurídica, burocrática que, não estando reguladas total ou parcialmente, existem e fazem parte das regras de funcionamento da sociedade e contribuem para que os padrões de reprodução da sociedade e economia persistam”. 3 KAPLAN, Andreas “Toward the reinvention of the business school”. Business Horizons. 4 Cujo nome se alterou, em 2005, para Gordon Institute of Business Science. 5 As melhores EN do mundo - https://tinyurl.com/xcdve4am 6 As melhores EN de África - https://tinyurl.com/jh7kte5x 7 “A Model of the Business School as A Developer of Achievers” - https://tinyurl.com/s866jyet 8 “What MBA Students want and What They Get” - https:// tinyurl.com/55xy4ez3 9 “The Firm in the Informal Economy”. Copenhagen Business School - https://tinyurl.com/b3f5rdm 10 JIMINEZ, Alfred et all “The impact of education levels on formal and informal entrepreneurship rates”. BRQ Business Research Quarterly (2015) 18, 204-212. 11 CHIVANGUE, Andes “Mukhero em Moçambique – Análise das Lógicas e Práticas de Comércio Informal”, citando Iyenda (2005, 65), refere que 79% dos operadores informais de Kinshasa abandonariam o que fazem por um seguro e bem pago emprego formal. 1 2

37


NAÇÃO

A (IR)RELEVÂNCIA DA ACADEMIA NO MUNDO DAS STARTUPS Quando se trata da nova geração dos “autodidactas”, a indispensabilidade das escolas de negócio é ainda mais questionável, porque estes empreendedores acreditam que aprendem os processos por conta e risco próprio, já que as academias não conseguem acompanhar a rapidez da evolução tecnológica Texto Celso Chambisso • Fotografia Istock

M

uitos jovens que optam por frequentar escolas de negócio em Moçambique têm ideias de negócio que não estão necessariamente ligadas ao sector das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Grosso modo, concentram-se na área do comércio. Uma rápida pesquisa da E&M em apenas duas escolas de negócio da cidade de Maputo permitiu concluir que parte considerável dos candidatos a empreendedores estão em busca de certificados que lhes permite agregar valências aos currículos, ingrediente importante na busca por vagas de emprego. Até aqui, é consensual a grande utilidade das escolas de negócio.

38

Mas quando se fala em startups, a situação muda por completo e não apenas cá em Moçambique. Por exemplo, a pesquisa que citámos no artigo anterior, da autoria da canadiana Fax Inc., conclui que “uma escola de negócios o ajudará a administrar uma empresa estabelecida, mas não pode fornecer a experiência do mundo real necessária para administrar uma startup”. E isto confirma-se no terreno. Ou, pelo menos, é o que consideram os novos gestores moçambicanos de startups. Desde o início de actividade, os investidores na área das TIC não apresentam histórico de preocupação em buscar conhecimentos académicos de gestão e/ ou negócios nas academias, mas, segundo eles, conseguem alcançar o sucesso.

Criatividade, a peça determinante do sucesso Sazia Sousa, fundadora e directora-geral da Tecnoplus, empresa que opera no ramo de Tecnologias de Informação desde 2010, com 30 funcionários, e que apoia as empresas a acompanharem os avanços tecnológicos simplificando os seus processos com soluções integradas de hardware e software, é formada em engenharia informática. A empreendedora conta que nunca tinha equacionado tornar-se gestora de uma empresa e foi inspirada pelo desemprego a desenvolver o seu próprio negócio, já que nunca se sentiu confortável com as oportunidades de trabalho que lhe eram oferecidas pelo mercado. Começou por trabalhar www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


BUSINESS SCHOOL e outros não, mas pela natureza da nossa área, que é a de Tecnologias de Informação e Comunicação, estamos sempre a aprender. Por isso mesmo os experientes, quando entram para a Technoplus, têm de aprender. É muito importante, nesta área, que as pessoas sejam autodidactas”, sublinhou. Percurso similar tem Karson Adam, fundador da Hypertec, empresa da área das Tecnologias de Informação e Comunicação, criada em 2016, actualmente com dez funcionários e que, entre outras valências, cria soluções de computação em nuvem para o uso das empresas. Karson relata que terá sido o interesse por criar páginas de internet que o levou a pesquisar muito sobre a área, e rapidamente ficou conhecido como alguém que sabe lidar com ferramentas de internet. Logo começou a ser procurado para prestar serviços às empresas e teve de buscar conhecimentos em artigos publicados na internet sobre como criar páginas para as empresas. Nessa interacção, o jovem empreendedor percebeu que os seus clientes tinham necessidades específicas, e que dificilmente conseguia dar suporte. Para suprir este gap, teve de aprender, por si próprio, como poderia melhorar a capacidade de resposta à demanda das empresas que eram suas clientes. Esta é também a história de Clau-

ve vários momentos de queda, mas a lição de cada momento foi valiosa para poder levantar-me”, conta.Apesar de nunca ter frequentado uma escola de gestão ou de negócios, a Champier Lda. é uma das startups moçambicanas mais premiadas dentro e fora do País. Academia sem utilidade? Ao contrário da Sazia Sousa e de Claude Champier, Karson até chegou a frequentar uma academia de formação em gestão num instituto técnico e lá constatou que “a forma como são projectadas as aulas está ultrapassada. Se calhar tinha melhor aplicação no passado, em que as coisas não evoluíam muito rápido. Mas, agora, coisas que se estudam hoje podem não valer mais amanhã… daí ser preciso ser flexível na busca de novos conhecimentos que vão além da sua área de domínio. Eu, por exemplo, estou na área da programação em informática, mas ao mesmo tempo tenho de entender sobre marketing digital e outras questões de negócios, o que não é possível fazer em apenas um curso, como acontece nas escolas”, repisou. Sazia Sousa, que também admite que uma escola de negócios é de relevância que não se pode negar, rebate: “o problema está na forma de ensinar, que não é muito compatível com

Pesquisa da consultora canadiana Fax Inc. conclui que “uma escola de negócios o ajudará a administrar uma empresa estabelecida, mas não pode fornecer a experiência real necessária para administrar uma startup” como freelancer prestando serviços técnicos que resolviam os problemas das empresas. Nessa interacção, segundo a empreendedora, surgiu uma oportunidade que terá sido impulsionada pela exigência de padrões formais de fazer negócios. “As empresas começaram a exigir facturas e não tive escolha que não fosse constituir uma empresa. Foi assim que me tornei empreendedora”, conta a gestora. Mesmo reconhecendo a importância de uma escola de negócios para quem sonha em criar um empreendimento bem-sucedido, Sazia Sousa considera-se autodidacta. “Aprendo fazendo e acredito que todos os jovens, hoje, aprendem fazendo. Nós recrutamos muitos jovens, uns experientes www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

de Marcello Champier, jovem fundador da Champier Lda., empresa fundada em 2014, vocacionada para a criação de soluções tecnológicas para mercados emergentes e hoje com 15 colaboradores. “Sempre sonhei em inovar e fui muito curioso. Desde pequeno tive a sorte de os meus pais incentivarem essa criatividade”, revela o empreendedor. Claude Champier confessa que “em vários momentos precisamos ou sentimos a necessidade de aprendermos algo e imaginamos que a solução está numa escola de negócios. Mas sempre tentei aprender com os meus erros e, feliz ou infelizmente, comecei a trabalhar muito cedo (aos 15 anos) e isso permitiu que fosse aprendendo na prática. Hou-

aquilo que somos ou fazemos hoje em dia na área em que estamos”, sugere a empresária, referindo-se ao desfasamento que há entre a teoria dos manuais das escolas e o que os empreendedores encontram na realidade. “A pessoa só consegue encarar a realidade do profissional que quer ser quando estiver no exercício de entender o problema do outro para resolvê-lo no campo do desenvolvimento de software, o que não se aprende numa escola de negócios”, salientou. Por seu turno, o empresário Claude Champier também entende que, “infelizmente, ainda somos muito teóricos nas escolas, e vejo várias pessoas a dar formação em algo que só viram na teoria, e isso pode complicar muito

39


Sazia Sousa construiu, há dez anos, uma empresa do ramo das TIC, a Technoplus, e consegue resultados satisfatórios ao nível da gestão sem ter procurado orientações de uma escola de negócios para o efeito o processo de ensino e aprendizagem, por isso, sugere uma conciliação mais estreita entre a teoria e a prática. Lá fora, há muito que esta questão vem sendo levantada. O empreendedor e especialista brasileiro Rafael Pôncio escreveu, há dois anos, uma reflexão em que diz que “nos cursos de empreendedorismo no Brasil não é ensinado tudo o que você precisa de saber sobre como iniciar e administrar um negócio de sucesso. Eu aprendi isso da pior maneira!”. O empreendedor revela ainda que “acabei aprendendo muito mais sobre negócios sendo um empreendedor por quatro meses, do que numa sala de aula durante quatro anos, isto sem desmerecer o necessário aprendizado em sala de aula, é claro”. Pôncio junta-se a João Cristofolini, empreendedor nas áreas de educação, tecnologia, saúde, etc., e autor do livro “O que a escola não nos ensina”. Baseando-se na sua própria experiên-

40

cia, Cristofolini escreveu, há seis anos, uma reflexão em que revela que “o fracasso (e não a escola) ensina sobre empreendedorismo e negócios”. Academias não concordam Em muitos aspectos, ideias das academias e dos empreendedores andam desencontradas. As academias dizem-se preparadas para assistir as startups em matéria de negócios e apontam outras razões para o que chamam de falta de interesse destas para com a aprendizagem. Admitindo que a geração dos investidores em startups é mais ousada e até inteligente, Michael Miranda, da escola Above, diz que esta falta de interesse resulta do facto de que “existe um mercado dedicado a dar a falsa impressão de que estes jovens podem alcançar a riqueza em pouco tempo. Sem muito esforço. Existem ideias que vêm sendo incutidas no sentido de que um ou dois anos são suficientes para chegar à prospe-

ridade através de startups. Mas também há um mercado que ganha muito dinheiro com isso, porque vende cursos que prometem essa glória”. Segundo o especialista Michael Miranda, compete aos jovens empreendedores convencerem-se de que o conhecimento será, sempre, a ferramenta essencial para o seu sucesso. Uma pesquisa profunda sobre o percurso das empresas que os inspire pode ajudar neste caminho, porque lá perceberão que o sucesso está sempre relacionado com a formação e boas práticas. A Above diz ainda ter experiência na formação, em negócios, de startups de sucesso, mas tem outras que fracassaram. A diferença é que “o fundador tem de ter a humildade de entender que o conhecimento vem antes do sucesso”, aconselhou o especialista, cuja opinião, a este respeito, é completamente similar à do consultor Agostinho Magenge. Ambos, no entanto, consideram que o sucesso empresarial sem suporte na formação até é possível, mas chegará a um determinado nível em que este empresário não vai conseguir andar sem precisar de alguém para o aconselhar. Ou seja, a ser verdade que as escolas não dão tudo www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


RECICLAGEM COMO ESCOLHER UMA ESCOLA DE NEGÓCIOS? Tomando em consideração a complexidade da área de negócios, especialistas do Centro de Ensino Empresarial (CEEM), do Brasil, elaboraram uma lista de cinco aspectos a considerar para se inscrever num curso, para minimizar o desfasamento entre o que se procura e o que se pode obter na formação

QUALIDADE DO CORPO DOCENTE

EX-ALUNOS Observar os resultados de profissionais que se formaram na instituição é uma das maneiras mais efectivas de avaliar uma escola de negócios. Hoje, com as redes sociais, fazer isso é muito simples. Basta procurar ex-alunos online e pedir depoimentos sobre o que acharam do curso e como as suas carreiras evoluíram depois da experiência.

É preciso analisar com muita calma a extensão do currículo dos docentes, a didáctica usada na sala de aula e a experiência de cada um no mercado de trabalho. Se os professores tiverem muita experiência académica, mas pouca vivência em grandes empresas,a escola em questão pode não ser a melhor escolha.

foto PARCERIAS COM INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS

RENOME DA INSTITUIÇÃO

Para executivos de multinacionais, é fundamental compreender a lógica global dos negócios. Por isso, escolas parceiras de instituições internacionais devem ter prioridade no momento da sua escolha. Nessa dinâmica, são oferecidos módulos completos com o conteúdo de especializações elaborados por grandes universidades do exterior.

Da mesma forma que um ministério da Educação avalia escolas e universidades, as escolas de negócios também devem ser avaliadas por diversas instituições. Caso o padrão de qualidade seja atingido, é dado um selo de qualidade. Portanto, fique atento e desconfie de cursos que não apresentem esse reconhecimento.

FACILIDADES PARA ESTUDAR Além da interacção entre alunos e professores, há muitas variáveis que influenciam na aprendizagem. Observe aspectos como a qualidade das salas de aula, o tamanho das turmas, o acervo da biblioteca, a actualização dos materiais de estudo, suporte fora dos horários de aula, e tudo o que ajuda o aluno a tirar o melhor proveito das aulas. Ut aut aperuptio offici nes etus sum quatque auda

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

41


tudantes a lançarem os seus produtos para o mercado”, sugeriu.

Claude Champier (à esquerda), gere, há seis anos, a Champier Lda., da área das TIC. Mesmo sem experiência académica em negócios, acumula alguns prémios nacionais e internacionais pela capacidade de inovar para enfrentar o futuro, ter uma base para enfrentá-lo vai permitir que os empresários estejam prontos para qualquer coisa que venha a acontecer. Então, de que tipo de academia precisam as startups? De acordo com Karson Adam, “é preciso que as escolas estejam atentas e saibam exactamente o que é que os mercados estão a utilizar na actualidade”, porque as empresas não só competem ao nível local, como o fazem com outras empresas do mundo (já que é fácil actuar em qualquer parte do mundo sem ser necessária a presença física). Concretamente, seriam as escolas de negócio a desenvolverem produtos que ajudem a começar um negócio (e não a integrar-se em negócios já estabelecidos) e buscarem ferramentas para leccionar marketing digital para acompanharem o ambiente digital em constante evolução.

42

Na ideia de que as academias deviam estar mais alinhadas com as novas tecnologias, Sazia Sousa é de opinião que os debates da actualidade ao nível das escolas de negócio deviam ser, por exemplo, sobre “como é que a tecnologia será daqui a 20 anos para se anteciparem e se prepararem para as mudanças que vão acontecendo e não discutir coisas que passaram”. Por isso, considera que “em Moçambique não há escolas de gestão à altura das exigências da sua área de actuação e é mais fácil buscar soluções online de universidades de fora, que usam abordagens recentes, como metodologias ágeis ou a gestão que utiliza a inteligência artificial, análise de dados, etc”. Para uma melhor prestação das escolas de negócio na área das startups, “todas as escolas deviam ter uma incubadora de negócios para receber estudantes que querem implementar as suas soluções e apoiarem esses es-

E quando o problema não está na academia? Entretanto, nem sempre os aspectos maus no domínio da gestão de negócios têm de ser atribuídos ao acesso ou ineficácia das instituições académicas. Sazia Souza confessa que foi desafiante ter-se tornado gestora da noite para o dia, sem conhecimentos sólidos sobre como conduzir uma empresa. “A gestão é um desafio que todos os jovens que investem em startups devem sentir. Numa empresa, fazer as coisas sob um olhar meramente técnico, muitas vezes não é sustentável porque quem tem um olhar técnico também tem tendência a resolver problemas de ordem técnica antes de negociar ou de pensar em custos administrativos, em impostos, e noutros aspectos inerentes ao negócio, como a própria estrutura de gestão por que está por detrás”, explicou a empreendedora. Com esta visão, a empreendedora estaria a confirmar a explicação que havia sido dada por Michael Miranda, director-executivo da Above, quando falava da importância de uma escola de negócios. Avançando o exemplo de profissionais como os designers, serralheiros ou carpinteiros, referiu que quando estes técnicos se tornam empreendedores continuam com tendência a manter-se excessivamente focados na execução do trabalho técnico, movidos pela paixão pelo ofício, e perdem a visão empresarial que devem exercer sobre a empresa em si. O resultado disso é que dificilmente progridem, enquanto não procurarem a formação que lhes dê outra forma de estar no trabalho enquanto empreendedores. Na Technoplus, esta barreira acabou por ser ultrapassada com a adopção gradual de procedimentos indispensáveis para estruturar a empresa, nomeadamente a contabilidade organizada, que exigia melhor gestão. E isso foi conseguido graças à contratação de um profissional de contabilidade. A seguir, a empresa adoptou a certificação de qualidade ISO 9001. “Os processos e sistemas de gestão foram estrategicamente utilizados para forçar os mecanismos de uma melhor gestão da empresa porque o mindset (mentalidade) da fundadora é técnico”, esclareceu Sazia Souza. www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


PUB

página inteira

210x280mm + 3mm bleed


NAÇÃO

DA INSPIRAÇÃO À ACADEMIA E VICE-VERSA. O PAPEL DOS GÉNIOS A Universidade de Harvard, a melhor escola de negócios do mundo, tem utilizado histórias de sucesso para aprimorar as suas teorias e estratégias de formação. Afinal, é tudo uma questão de inspiração Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva

Q

uando bill gates ou outro grande empreendedor da

História da Humanidade vai dar uma palestra, em qualquer canto do mundo, para contar a sua história, o evento torna-se numa atracção global. A razão disso é que estas figuras são as poucas que existem no mundo com aquele “instinto” que toda a gente precisa para alcançar o sucesso. Não admira, no entanto, que, vezes sem conta, figuras como Gates, Jeff Bezoz, Carlos Slim ou outra celebridade do mundo do empreendedorismo desempenhem o papel de palestrantes nas Business Schools. Mas não é só por aqui que a estratégia destas figuras serve. A sua trajectória e pensamento são grandes fontes de teorias desenhadas pelas escolas de negócio para ministrarem cursos de gestão. Por

44

exemplo, frases como “o sucesso é um péssimo professor. Ele seduz pessoas inteligentes a pensarem que não podem perder”, de Bill Gates, alimentam teorias sobre o comportamento emocional de um gestor de empreendimentos.

De Bill Gates também vieram outras dicas importantes utilizadas para inspirar tanto as escolas de negócio como os empreendedores a título individual, como a premissa que fala de “estar no lugar certo na hora certa”, segundo a qual o empresário procura chamar a atenção para o aproveitamento das melhores oportunidades. “Talvez essa seja uma das características mais importantes para um empreendedor”, considera Gates, que, no seu caso, o exemplo mais expressivo é o facto de ter comprado, nos anos 80, um software criado por uma empre-

sa pequena, por 50 mil dólares, tendo implementado melhorias substanciais no produto e vendido o mesmo por 8 milhões de dólares para a IBM. Outra grande premissa defendida por Bill Gates é “saber tudo o que se passa no seu negócio”, e ressalta a importância de “conhecer e entender todos os processos de uma empresa para estar sempre bem informado, estar perto dos seus funcionários e por dentro de absolutamente todos os processos do negócio”. Gates sinaliza também, entre outras características, a capacidade de “ver à frente”, defendendo que o empreendedor “esteja sempre atento às principais tendências, novidades e transformações sociais e tecnológicas do mundo, fazendo um exercício constante de extrapolar o que pode vir pela frente e www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


AS CINCO MELHORES ESCOLAS DE NEGÓCIO DO MUNDO De acordo com o relatório QS World Business School Rankings, abaixo estão as cinco melhores escolas de negócios de 2021-2022

1-Harvard Business School Estabelecida na 1636, Harvard é a instituição de ensino superior mais antiga dos Estados Unidos e é amplamente considerada em termos de sua influência, reputação e tradição académica.

2 - Insead Tem 148 renomados membros do corpo docente de 40 países, que inspiram mais de 1300 participantes nos seus programas de formação de diversos níveis executivos em finanças, consultoria e coaching para Mudança.

4 - Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) A estreita associação entre indústria e pesquisa ajudou os ex-alunos desta instituição a lançar mais de 30 mil empresas activas, criando 4,6 milhões de empregos e gerando aproximadamente 1,9 triliões de dólares em receita anual.

3 - London Business School como a sua empresa pode tirar proveito dessas mudanças”. As maiores universidades de negócios também utilizam, amplamente, conhecimentos de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, que nem curso superior chegou a concluir, sendo que se considera a si próprio como tendo sido formado pela “universidade da vida”.. Um dos grandes princípios defendidos por Zuckerberg, e que alimenta as teorias das universidades de negócios, é o de que “a união faz a força”. Zuckerberg, ainda hoje, é o grande líder do Facebook, mas não faz tudo sozinho. Pelo contrário, se o Facebook é o sucesso que é, contou também com a força que a empresa ganhou a partir da união de diversos talentos. É também lição deste empreendedor que “errar não é um problema”. Defende www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

Uma pesquisa recente mostra que 95% dos mestrados da London Business School em Gestão aceitaram uma oferta dentro de três meses após a graduação e 45% desses graduados foram contratados no Reino Unido, enquanto 32% deles na Europa.

5 - Universidade da Pensilvânia Foi fundada em 1740 por Benjamin Franklin, que é um dos fundadores dos Estados Unidos. Começou a escola da sua paixão para criar uma escola para educar as gerações futuras. A competição para estudar ali é muito grande, particularmente nos níveis de graduação.

45


Q&A DO EMPREENDEDORISMO Para dissipar dúvidas sobre o tema, o Fórum Mundial de Bolsa de Estudos trazrespostas importantes sobre o conceito, significadoe alcance do empreendedorismo.

O que é empreendedorismo?

É o acto de criar, desenvolver, organizar e administrar um negócio com qualquer um dos seus riscos para obter lucro. É simplesmente construir um negócio por conta própria. Sem chefes. Uma pessoa que cria uma empresa é chamada de empresário.

Quais são os tipos de empreendedorismo?

O empreendedorismo é dividido em diferentes tipos e formas, nomeadamente o de pequenas empresas, de startups, de grandes empresas e o empreendedorismo social.

Porque é que as escolas devem ensinar?

Porque os empreendedores impulsionam a inovação, a criação de empregos e o crescimento económico nacional. Os empresários identificam problemas sociais que afectam a comunidade em geral e criam soluções inovadoras que podem impactar positivamente na vida das pessoas.

O que fazer com o grau de empreendedorismo?

Um diploma em empreendedorismo pode abrir caminho para oportunidades, incluindo gestão em grandes empresas, consultor de negócios, pesquisa e desenvolvimento, angariação de fundos sem fins lucrativos, ensino, recrutador e repórter de negócios.

46

As maiores escolas de negócios utilizam amplamente conhecimentos de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, que nem curso superior chegou a concluir, e que se considera formado pela “universidade da vida” que o risco nada mais é que a possibilidade daquilo dar certo ou errado. Então, claro, muitas vezes os empreendedores apostam em ideias que não resultam, mas uma segunda grande característica de empreendedores de sucesso é, justamente, não se deixar abalar pelos insucessos, e sim aprender algo com essa situação e tentar novamente. Mark Zuckerberg também não foi bem-sucedido quando lançou a sua primeira rede social, mas isso não o impediu de tentar novamente, e o resultado da perseverança do empreendedor é o Facebook. Assim, os conhecimentos valiosos das grandes escolas de negócios são também feitos destas experiências que, na verdade, agregam uma legião de grandes empreendedores, com nomes como Carlos Slim, Henry Ford, Vera Wang, Sergey Brin, Richard Branson, Thomas Edison, Sam Walton, Jeff Bezos, Howard Schultz, entre outras figuras. Tudo para indicar que é possível chegar ao sucesso sem precisar de frequentar uma Business School, ou que a escola pode dar as bases que as pessoas precisam para atingirem o mais elevado patamar que desejarem no mundo dos negócios. África ainda incipiente Os negócios em África são claramente os menos competitivos do planeta. Mas ambição para crescer não falta, basta

olhar para o facto de o continente ser uma das mais importantes incubadoras de startups do mundo (é nas startups que África apresenta maior potencial), com forte pretensão de criar outros Silicon Valley, como a que está a ser replicada no Ruanda e que Moçambique também promete começar a projectar nos próximos meses. Mas enquanto isso não acontece as iniciativas africanas estão centradas em torno da Associação Africana de Escolas de Negócio (AABS na sigla em inglês), instituição formalmente estabelecida em Outubro de 2005 e registada como organização sem fins lucrativos em Setembro de 2007. Na sua página da Internet a AABS diz ter evoluído ao longo dos últimos anos, tendo, em 2018, iniciado uma jornada histórica com o lançamento da acreditação AABS, a primeira acreditação africana para escolas de negócios. Trata-se de uma acreditação baseada em valores relativos ao continente africano e que promete trazer as escolas de negócios para a vanguarda da educação em gestão. Com 16 anos, e pouco conhecida que é, esta associação mostra-se pouco actuante enquanto instrumento de promoção do empreendedorismo, o que, em parte, espelha o pouco desenvolvido tecido empresarial do continente. A África do Sul é dos poucos países evoluídos a este propósito. www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

47


MERCADO E FINANÇAS

DO CARVÃO A RIQUEZA NÃO VEIO… E PODE SER QUE NÃO MAIS VENHA! Ao sair da lista das prioridades energéticas dos países emergentes, o carvão já dava sinais de que iria frustrar o sonho de prosperidade. A saída da Vale só veio quase que sentenciar… que lições tirar? Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R

u

ma análise aos quase 20 anos de presença da mineradora brasileira Vale em Moçambique, num balanço que envolveu pesquisadores moçambicanos e internacionais, com destaque para os brasileiros, ficou nítida a ideia de que o carvão não tem grande espaço na matriz dos recursos que há no País. Ou seja, morre aqui a expectativa (tão recente) que se tinha de que aquele minério ajudaria Moçambique a dar o passo inicial para a ascensão ao grupo dos países de rendimento médio, conforme os prognósticos de várias entidades internacionais entendidas em matéria de desenvolvimento. A propósito, o consultor e pesquisador moçambicano Thomas Selemane recorda que, em 2011, publicou, em co-autoria com o economista João Mosca, uma obra intitulada “Eldorado Tete”, que era uma pesquisa ampla sobre os aspectos socioeconómicos daquela província desde o início da extracção de carvão. Naquela altura, com sete anos de presença da Vale no País (está cá desde 2004), havia muitos trabalhadores expatriados e nacionais que não eram

48

de Tete, mas que lá foram em busca de trabalho. A empresa empregava um total de 10 mil pessoas, o que dava a imagem de um lugar de oportunidades. Além disso, a quantidade de empresas contratadas pela Vale era muito superior ao que já se tinha visto em qualquer projecto ou província do País, reforçando o título de “El Dorado”, que Tete veio a ostentar, ainda que várias outras pesquisas tenham alertado para o facto de essa percepção não passar de mera ilusão. É simples entender porque é que entre as várias empresas presentes nas minas de Tete, entre as quais a indiana Jindal, a Vale, sozinha, é determinante para previsões pessimistas, não apenas sobre a exploração do carvão, como para a economia de Moçambique. É que, em termos de exportações, 32% são relativas à indústria extractiva, cuja maioria é composta pelo carvão, em que a Vale é responsável pela maior parte da sua produção. A Vale argumenta a sua saída evocando planos de ordem ambiental. Sem querer discutir o mérito dos seus planos – até porque o mundo desdobra-se em adoptar práticas www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


Agora que a Vale vai embora, uma análise ao conjunto dos benefícios fiscais mostra que o País esteve longe de explorar o potencial da exploração de carvão amigas do ambiente, para o qual o carvão é um inimigo de peso – o painel que fez o balanço da presença da Vale na conferência recentemente organizada pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) levanta uma série de preocupações que questionam a actuação da multinacional, acabando por reduzir ao mínimo, senão mesmo anular ou classificar como negativo, o impacto da sua presença nestes quase 20 anos. O que realmente falhou? Benefícios fiscais, a maior frustração Afinal, 2021 era precisamente o ano em que a Vale deixaria de beneficiar das isenções fiscais acordadas com o Governo no início das suas operações! Uma análise apresentada pela economista Inocência Mapisse, especialista em assunwww.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

tos relacionados com a indústria extractiva, lembra que ao iniciar as suas actividades em meados de 2011, a Vale beneficiou de um contrato que prevê mais de dez benefícios fiscais. Mas, três anos depois, a multinacional solicitou ao Governo moçambicano a revisão em baixa da carga tributária alegando que os custos eram muito elevados face ao preço do carvão no mercado internacional naquela altura, o que não permitia à empresa operar em condições aceitáveis de produtividade. “Tendo sido aceite esta solicitação, e prevendo que iria conceder mais benefícios fiscais por dois ou três anos, o Governo deveria ter feito uma análise dos custos e benefícios que lhe fossem favoráveis, o que não chegou a acontecer”, lamenta a especialista. Agora que a Vale vai embora, uma análise ao conjunto dos benefícios fiscais, segundo a pesquisadora, mostra que o País esteve longe de explorar de forma aceitável o potencial da exploração de carvão. Para isso, recorre ao contrato e enumera uma série de itens que prejudicaram o País. A extensa lista das isenções inclui o Imposto de Consumo Específico na importação de máquinas, equipamentos, viaturas de trabalho, etc., “lembrando que os projectos extractivos, sendo intensivos em capital, seriam exactamente onde o Governo deveria retirar benefícios”, lamentou Inocência Mapisse, que revela que o mais grave pode ter sido a redução em 25% do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas (IRPC) por cinco anos, a contarem a partir do primeiro exercício em que a empresa tivesse lucro tributável. “Ora, o IRPC é uma das categorias com maior peso na estrutura tributária. É onde o Governo deveria ter retirado os seus dividendos da concessão da licença para a exploração do carvão. Mas sucede que foi nesta mesma categoria onde reduziu 25% por cinco anos”, criticou, citando muitos outros exemplos desfavoráveis a Moçambique. A especialista também olha com estranheza o facto de a Vale ter reportado prejuízos de 2012 a 2020, excepto em 2017, o que na sua óptica denuncia fragilidades de fiscalização por parte das autoridades moçambicanas. Em última análise, o fim dos benefícios fiscais concedidos à Vale por dez anos estava previsto para este ano (2021), em que, por “coincidência”, a mineradora decide desistir do projecto. “Na lógica de qualquer entidade, quando se decide conceder benefícios fiscais por um período, significa que no período seguinte tem de se conseguir benefício adicional. Mas, neste caso, não aconteceu e com o agravante de ter sido um processo bastante nebuloso”, constatou a economista. Uma presença envolta em problemas? Thomas Selemane entende que o que aconteceu em Moatize e que acontece, regra geral, nos grandes investimentos de extracção de minérios é, em primeiro lugar, um processo de expropriação de terras e isso foi o que ocorreu no caso de Moatize à volta dos reassentamentos. Com base em pesquisas feitas por outros autores internacionais, o economista também faz menção à fome que os reassentados passavam e que fez lembrar a famosa frase “O que é uma casa sem comida?”, para dar a entender que os benefícios reais da presença da Vale não foram efectivos. “Agora a Vale vai sair, mas os problemas que a extracção de carvão levantou em Moçambique continuam presentes na política pública económica e na sociedade moçambicana porque o cerne da questão ainda não foi devidamente

49


NAÇÃO

Há evidências de que Moçambique não pode mais “sonhar alto” com o carvão. Por exemplo, a procura do maior consumidor do mundo, a China, vem caindo debatido”, argumentou. Também deixa uma crítica ao que considera ser o sacrifício dos meios de produção local para dar lugar a uma exploração industrial que não se sebe se trará ou não benefícios para o País. “Do lado do Governo e do capital extractivo, há uma assumpção de que é inevitável extrair o carvão, o que também torna inevitável reassentar pessoas para dar primazia à mineração em detrimento de qualquer outra actividade económica como alternativa de desenvolvimento. O problema é que entre o Governo e as multinacionais não há uma negociação sobre o processo de implantação dos projectos, mas sim uma consulta para discutir como se pode fazer uma melhor consulta comunitária, o que acaba por ser muito bom para os projectos, mas totalmente contraproducente para a construção de um caminho de desenvolvimento da sociedade e do País”, concluiu. Estado moçambicano foi incapaz de se impor A partir do Brasil interveio Isabella Lamas, professora de Relações Internacionais da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira da Bahia, UNILAB, e que estudou a perspectiva de actuação internacional da Vale, sendo que parte da sua tese de doutoramento debruça-se sobre a relação conflituosa e socioambiental da

50

mineradora no domínio da governança e em três contextos distintos, entre os quais o moçambicano. Para a especialista, há uma ausência muito importante na regulação corporativa nos âmbitos internacional e local, em que as corporações muitas vezes operam de acordo com as leis dos Estados hospedeiros das suas actividades e em contextos de uma ausência da definição clara das suas responsabilidades. O resultado disso é que as corporações assumem papéis que, tradicionalmente, competem aos governos como o investimento no bem comum, a gestão de conflitos, a oferta de serviços públicos e o planeamento de infra-estruturas nas áreas abrangidas pelos projectos. Desta forma, a partir do momento em que a Vale ganhou a concessão de exploração, passou a ser agente central de administração dos territórios, papel que devia ser do Governo. “Isto se acentuou-se particularmente no caso dos reassentamentos em Tete, que levaram a Vale a construir muitos serviços sociais básicos como escolas, centros de saúde, etc.”, defendeu Isabella Lamas, para quem este fenómeno gerou uma dependência contínua da Vale enquanto provedora de serviços públicos, o que terá aberto espaço para fragilidades na prestação de contas. E por falar na prestação de contas, segundo Isabella Lamas, os aspectos ambientais expõem lacunas consideráveis. “Com a saída da Vale, como é que se vai fazer a gestão ambiental dos espaços que a Vale ocupou ao longo do tempo? Para mim, daqui em diante temos uma discussão muito séria sobre a responsabilização e quanto ao legado que fica”, sugeriu, tomando como exemplo o caso do Canadá, onde é muito comum o debate sobre as minas desactivadas com www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


impactos ambientais negativos e que precisam de ser geridos por vários anos. Desastres ambientais, a herança Isabella Lamas diz ter estado em Tete em 2016, seis anos depois do início das operações da Vale, e testemunhou, nas ruas, “a frustração das pessoas em relação à promessa de um El Dorado que nunca começou”. “O discurso do Governo, dos doadores e de instituições financeiras internacionais era parecido com o do Banco Mundial: dizia-se que a exploração dos recursos naturais levaria ao bem-estar da população, mas esse discurso nunca se concretizou. Ao contrário disso, o que se viu foi uma série de conflitos socioambientais que se seguiram e se desenvolveram ao longo dos anos devido à forma de actuação da Vale”, criticou a especialista, referindo-se ao que chama de “violações dos direitos humanos e aspectos ambientais bastante problemáticos”, o que contribuiu para acentuar o paradoxo da existência de um crescimento económico em paralelo com o aumento da pobreza e das desigualdades sociais. Por seu turno, Ana Garcia, também pesquisadora brasileira da actuação das empresas brasileiras, incluindo do ramo extractivo, e professora de Relações Internacionais da Universidade Católica do Rio de Janeiro, revela que há comunidades que vivem nas proximidades das minas, que não foram reassentadas e que sofrem com a poluição do ar causada pelas operações da empresa, causando doenças respiratórias graves. Além disso, há o problema das cercas colocadas para impedir a entrada de pessoas que moram nessas localidades e que acaba por lhes comprometer a livre circulação, problemas relacionados com o encerramento de várias estações de ferrovias em Nacala dificultando o transporte de passageiro, e o problema da falta de cobertura nos vagões que transportam carvão, libertando poeiras nas regiões por onde passa. A Vale sai, o que fica? Há evidências de que Moçambique não pode mais “sonhar alto” com o carvão. Por exemplo, desde 2014, o consumo de carvão na China, o maior consumidor e importador do mundo, vem caindo numa tentativa de responder aos compromissos internacionais para reduzir a poluição. O Reino Unido, que depende do carvão para a produção de energia eléctrica, pondera fechar as suas últimas três centrais a carvão em 2024. Outro grande entrave para que o País se imponha é a concorrência de outras grandes potências produtoras do minério, com destaque para a Austrália, cuja localização geográfica rivaliza com a de Moçambique em relação aos mercados asiáticos. Internamente, Inocência Mapisse faz alusão a outro factor: o acordo da Vale com a Mitsui, em Abril deste ano, para a compra da totalidade dos activos da empresa japonesa (15%) é um movimento que não se pode perceber facilmente e que acrescenta dúvidas à continuidade da exploração de carvão no País. Embora se faça uma projecção positiva do financiamento e da exploração do carvão, mesmo após esta transacção (com uma economia anual do projecto em torno dos 25 milhões de dólares), a economista entende que “não se percebe a lógica de a Vele, que detém mais de 80% do projecto, precisar de comprar a participação da empresa japonesa Mitsui para se desfazer do negócio, no lugar de vender a sua própria participação e sair”. www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

51


OPINIÃO

Ensino Superior e Educação Contínua Madina Abacar • Gestora de Proposta de Valor - Absa Bank Moçambique

E

nquanto cidadãos do mundo, todos almejamos a tão procurada estabilidade e segurança financeira e o caminho mais seguro que nos foi ensinado a percorrer, como forma de alcançar esse objectivo, foi e continua a ser a educação, pois trata-se de uma prática social que visa o desenvolvimento do ser humano, das suas competências, potencialidades e habilidades. Chegar ao ensino superior já constitui uma grande vantagem, o que nos torna mais bem preparados para o mercado de trabalho. Moçambique, à semelhança de vários outros países do mundo, tem disponível duas alternativas de ensino superior, nomeadamente o ensino privado e público, contando actualmente com 22 instituições públicas e 34 instituições privadas de ensino superior, perfazendo um total de 56, que podem ser frequentadas de forma presencial ou à distância, e que estão distribuídas por todo o País (dados da publicação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de 15 de Março de 2021). O objectivo fulcral destes dois tipos de ensino é qualificar e preparar profissionais para o mercado de trabalho e, de forma natural, os dois devem conviver e salvaguardar que assistem e servem da melhor maneira a camada estudantil, ainda que o seu processo de expansão seja relativamente novo. Por conta da burocratização e da composição na formação das escolas de ensino superior público, há uma tendência em apostar em cursos mais generalistas e que respondem às já conhecidas necessidades de desenvolvimento económico e social do País. Por outro lado, o ensino privado tende a focar-se nos cursos de especialização que, pela sua natureza, se ajustam de forma mais flexível às necessidades, à procura e à dinâmica do mercado. Nos últimos anos, tem-se envidado esforços no sentido de proporcionar aos moçambicanos uma formação superior, como tentativa de resposta aos desafios da globalização a que o País está sujeito. As instituições de ensino superior são os principais vectores na dinamização das economias por diversos motivos, com destaque para o aumento da produtividade dos trabalhadores, a injecção de recursos e geração de emprego na economia local, e o aumento

da demanda por trabalhadores altamente qualificados. A teoria do capital humano advoga que é o investimento nas pessoas que gera desenvolvimento, já que a existência de uma população educada gera condições que permitem alavancar o crescimento económico. Sendo considerado um sector extremamente prioritário, um facto interessante centra-se na realidade de hoje, no nosso país, já não mais ser necessário ter estudantes recém-formados do ensino pré-universitário a sair da sua província de residência para frequentar uma universidade, faculdade ou instituto superior. Porém, não basta somente expandir o ensino superior sem que seja sustentado e acompanhado pela existência de condições estruturais apropriadas para o efeito, a promoção de espaços de pesquisa e prática da vertente teórica dos cursos, bem como a contínua melhoria da qualidade dos cursos e dos programas académicos oferecidos no País. Nas estratégias relacionadas com o Ensino Superior, o Governo de Moçambique, no seu plano quinquenal, definiu algumas áreas prioritárias, nomeadamente: (1) A melhoria da qualidade; (2) a expansão e o acesso; (3) a gestão e a democraticidade; (4) o financiamento e infra-estruturas; (5) a governação, a fiscalização e regulação; (6) a investigação, a extensão, a internacionalização e a integração regional. Torna-se evidente que os desafios são enormes para o Estado e a Sociedade Civil, não só para garantir o acesso à Educação, mas igualmente para que esta seja efectivamente de qualidade, surgindo a necessidade de ampliar com urgência os processos de avaliação rigorosa dos cursos superiores, para além de se tornar imperativo salvaguardar a promoção de um sistema de ensino universitário e tecnológico voltado para a elevação técnica e científica da população, para permitir responder, simultaneamente, à demanda de formação técnica e científica da força de trabalho. Como resposta à tendência dos últimos anos, marcados pelo já conhecido movimento crescente e rápido de empresas interessadas em investir nas áreas da indústria extractiva, devido às descobertas de recursos naturais no nosso país, foram criados cursos superiores técnicos específicos e julgados relevantes, a fim de permitir e salvaguardar

“Há desafios consideráveis no acesso ao ensino privado, especialmente por parte do público de baixa renda, daí que haja espaço para uma possível introdução de alternativas...”

52

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


O Absa tem envidado esforços para levar a cabo iniciativas que proporcionam oportunidades de inserção no mercado de trabalho aos estudantes recém-graduados

que Moçambique esteja dotado de quadros disponíveis e não dependa, a médio prazo, da importação de know-how e mão-de-obra qualificada. Ainda há desafios consideráveis no acesso ao ensino privado, especialmente por parte do público de baixa renda, daí que haja espaço para discussão e uma possível introdução de alternativas, como o estímulo de políticas de financiamento, dos fundos de financiamento estudantil e de outras facilidades bancárias que possibilitem o acesso à educação através de financiamento. Por outro lado, e como forma de ter cada vez mais famílias preparadas para o melhor futuro dos filhos, é preciso encarar e priorizar a educação como um investimento, através da criação de poupanças desde a idade tenra das crianças. Os bancos comerciais oferecem diferentes alternativas de poupança para investimento, quer por via de contas-poupança ou de depósitos a prazo que rendem juros. Esta alternativa não só garante que exista um montante já disponível para este grande e importante passo, mas também pode servir de incentivo para que os pais e familiares comecem a zelar por uma educação de qualidade e a analisar as diversas alternativas que existirão seu dispor. A preocupação dos bancos comerciais em contribuir no sector da educação superior vai para além da captação de depósitos e concessão de créditos. A título de exeplo, temos o Absa que, tendo a Educação como um dos seus principais pilares de cidadania, tem envidado esforços para levar a cabo iniciativas como o Ready to Work e o Programa de Graduados, que proporcionam oportunidades de capacitação e inserção no mercado de trabalho aos estudantes recém graduados. Outro exemplo que importa destacar foi a criação de um Manual de Literacia Financeira, com uma linguagem simplificada sobre a banca, produtos e serviços bancários, com o objectivo de proporcionar a melhoria de conhecimentos, atitudes e comportamentos financeiros ao público em geral. Este manual tem sido partilhado e prowww.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

movido de forma gratuita, tomando as redes sociais como uma plataforma para a sua divulgação. Um conceito que acredito que deva ser a força motriz de uma educação de qualidade é a desmitificação de que todo o sucesso depende somente do ensino superior, mas sim de uma base de educação contínua e de constante qualificação. Esta ideia defende e representa a filosofia de que temos de estar em constante aprendizado e, por isso, tem sido adoptada por pessoas que buscam novas experiências profissionais e académicas. A globalização e as constantes mudanças no mundo só nos revelam que passou o tempo em que uma pessoa concluía um curso superior e era considerada “vitaliciamente capacitada” para exercer a sua profissão. Não se pretende com isso desvalorizar o ensino superior, mas sim preparar os profissionais para acompanhar as diversas mudanças, a acontecer constantemente em diferentes esferas da vida, exigindo, portanto, conhecimentos actualizados e competências aperfeiçoadas e específicas para se sentirem mais bem preparados para actuarem e tomarem decisões com maior conhecimento e segurança, atendendo e considerando que a actividade de educação contínua pode ocorrer virtualmente, a qualquer momento ou em qualquer lugar. O formato do aprendizado de educação contínua deve ser orientado pelo conteúdo e pelas metas do mesmo, abrangendo todos os níveis de aquisição educacional, um número infinito de disciplinas, de forma acessível, com temas específicos e de curta duração. O mais importante é entender que o conceito de educação contínua não se limita somente a uma ou outra profissão, à idade, aos anos de experiência profissional, aos cargos que se ocupa, à classe social ou a áreas de actuação. Por isso, é fundamental que as instituições de ensino superior trabalhem activamente para a promoção deste tipo de educação, como forma de melhorar a sua oferta e preparar para o futuro cada vez mais profissionais competentes e qualificados.

53



POWERED BY

Especial Inovações Daqui 56

LABORATÓRIOS VIVOS

Nesta edição a E&M aborda um tema ainda pouco explorado, e talvez até pouco conhecido, mas cada vez mais presente na vida das pessoas: as “Living Labs” (laboratórios vivos). O que são e qual é a sua real importância?

61

WHIRE LAB

A plataforma que garante o perfil de talentos ajustado às empresas

62

OPINIÃO

Como a pandemia tem potenciado o fenómeno da Telemedicina

53 PANORAMA

As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo


LIVING LABS

56

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


POWERED BY

“Living Labs”: comunidades criativas e inovação social O conceito de Laboratórios Vivos (Living Labs, em inglês) tem vindo a ganhar destaque em todos os domínios da vida das sociedades modernas. Qual é o seu real valor e impacto? TEXTO Rui Trindade • FOTOGRAFIA Istock Photo , D.R

O

conceito de “Living Lab” (“laboratório vivo”) foi usado, pela primeira vez, no início da década de 90, do século passado, numa experiência realizada num bairro na cidade de Filadélfia, nos Estados Unidos. Essa experiência, em que alunos do ensino superior, de várias disciplinas, foram desafiados a propor, num exercício colaborativo em conjunto com vários actores sociais, soluções de larga escala para uma série de problemas que afectavam a dinâmica urbana da cidade, foi designada de “laboratório vivo”.de “laboratório vivo”. A experiência deu lugar a uma artigo científico que, de alguma forma, serviu, a partir desse momento, para conceptualizar um

e não apenas no quadro do planeamento urbano, da arquitectura e da tecnologia, que era o foco do seu projecto. O conceito dos “laboratórios vivos” expande-se então, rapidamente, chegando à Europa no início dos anos 2000 e, seis anos depois, é criada a primeira rede com o nome European Network of Living Labs (ENoLL). No seu documento constitutivo, os “laboratórios vivos” são considerados como um primeiro passo em direcção a uma “mudança de paradigma para todo o processo de inovação”. Nesse documento, os “laboratórios vivos” são definidos como ecossistemas de inovação abertos, centrados no utilizador e cuja abordagem assenta em formas de co-criação, a qual passa por estabelecer

Conhecidos sob várias designações, operando em diversos formatos e cobrindo áreas diversas, os “living labs” são já um movimento global novo modo de abordar as questões ligadas aos processos de inovação. Em 1995, este “modelo” serviu de base para um novo estudo que tinha como objectivo testar uma das primeiras “casas inteligentes” desenhada pelo arquitecto e professor William J. Mitchell ligado ao MIT Media Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) nos Estados Unidos. A partir desta experiência, William J. Mitchell, em conjunto com os seus colegas Kent Larson e Alex Pentland, acabariam não só por criar aquele que é considerado o primeiro “laboratório vivo” do mundo como definir, no essencial, uma metodologia cujo âmbito de aplicação pode ser usado em qualquer tipo de contexto www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

processos de pesquisa e inovação em ligação directa com as comunidades e situações concretas da vida real. Ainda de acordo com este documento, um “laboratório vivo” deve integrar cinco elementos fundamentais : o envolvimento activo dos utilizadores finais, ter lugar num cenário de “vida real”, incluir a participação de todos os “actores” no processo (ou seja, fornecedores do conhecimento ou saber-fazer, actores institucionais relevantes, empresas, utilizadores finais, etc.), assumir uma abordagem multi-método (isto é, combinação de métodos e ferramentas originários de múltiplas disciplinas, das ciências “duras” às ciências humanas e sociais ) e basear-se numa

57


BIOMETRIC

dinâmica de co-criação (a “geração de valor” deve ser resultante da interacção mútua entre os vários actores envolvidos). Conhecidos hoje sob várias designações (“laboratórios vivos”, “laboratórios sociais”, “laboratórios cidadãos”), operando em diversos formatos (espaços físicos permanentes, workshops intensivos, programas de longa duração) e cobrindo áreas diversas (da agricultura à saúde, da educação à arquitectura e ao design), os “living labs” tornaram-se, entretanto, num movimento global com expressão em praticamente todas as regiões geográficas do Planeta.

Os “laboratórios vivos” em África

Apesar de não terem ainda uma expressão no continente africano ao nível do que acontece noutras regiões do”Sul Global”, nomeadamente na América Latina e, em especial, no Brasil, os últimos anos

58

A África do Sul tem sido o país onde, de forma clara e pioneira, um maior número de “laboratórios vivos” tem surgido... com foco rural têm evidenciado que essa situação poderá estar em vias de mudar. A África do Sul tem sido o país onde, de forma clara e pioneira, um maior número de “laboratórios vivos” tem surgido. Uma parte significativa desses “laboratórios” tem o seu foco no mundo rural e têm tido como objectivo facilitar a transferência de conhecimentos para comunidades rurais marginalizadas e emprobrecidas por forma a engajá-las e empoderá-las em processos de inovação que contribuam para uma mudança estrutural das suas condições. Nesse processo, que tem envolvido também populações pe-

ri-urbanas, do que se trata é não apenas de corrigir assimetrias graves mas, através de dinâmicas de co-criação, encontrar soluções que “criem valor” para a comunidade e não apenas para alguns indivíduos ou empresas. Como sublinha Alexis Habiyaremye, num ensaio recentemente publicado (“Knowledge Systems and innovation co-creation in Living Labs projects in South Africa”), o desenvolvimento destes “laboratórios vivos” é resultado de um esforço que tem vindo a ser pratiado pelo Governo no sentido de criar as condições de base para uma interacção entre este www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


POWERED BY

laboratórios e as comunidades. O sucesso até agora obtido levou o Governo, em Abril deste ano, a abrir um novo concurso para o financiamento de propostas de “laboratórios vivos” através do “programa piloto” que decorre há já alguns anos. Também na África Oriental, acaba de ser lançado um projecto, o REFOOTURE, o qual junta uma série de parceiros locais, a Wageningen University & Research (Holanda) e a IKEA Foundation, no sentido de criar uma série de “laboratórios vivos” capazes de contribuir para, simultaneamente, melhorar as condições da produção alimentar e garantir uma perspectiva sustentável e amiga do ambiente. Um primeiro laboratório – o Nakuru Living Lab, no Quénia – já está a funcionar havendo perspectivas da criação de outros no Uganda e na Etiópia. Experiências similares começam também a ganhar expressão no Senegal, na Tunísia e nas Maurícias. www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

Comunidades criativas e novos inaginários sociais

Ao longo da última década, o aprofundamento das desigualdades sociais e, mais recentemente, a percepção do real impacto das mudanças climáticas na vida das sociedades tem feito emergir uma maior consciência colectiva sobre a urgência de configurar um novo paradigma que torne viável a existência colectiva. Neste contexto, o movimento dos “laboratórios vivos” tem vindo a dar cada vez mais ênfase à importância da “inovação social”. Como refere Karine Freire, professora e pesquisadora brasileira ligada ao laboratório Seedinglab, a “inovação social diz respeito a novas formas sustentáveis de viver, de produzir e de consumir em sociedade, que sejam capazes de desenvolver capital humano e social e que, simultaneamente, gerem capital económico para se poderem estabelecer”. E

acrescenta: “só as inovações sociais serão capazes de transformar os padrões de comportamento estabelecidos e de propor novos valores e normas culturais. Os processos de inovação social promovem mudanças qualitativas no bem-estar social porque resultam do engajamento de pessoas que partilham interesses comuns mas, sobretudo, porque vêem as pessoas não apenas como possuidoras de necessidades, mas também como detentoras de capacidades estimulando-as, assim, a usá-las para promover o bem-estar colectivo e reforçar o tecido social”. Para Karine Freire, “para gerar formas mais sustentáveis de vida em sociedade, precisamos de desenvolver novos modelos de empreendimentos, negócios e organizações que favoreçam o surgimento de novos comportamentos, mais sustentáveis e colaborativos, que visam o bem-estar colectivo. Para alcançá-lo, em detrimeto do bem-estar individual, torna-se necessário um outro olhar para a geração de valor. Um olhar que favoreça todos os actores envolvidos no ecossistema de uma nova solução, mais do que indivíduos em particular”. Para a pesquisadora, laboratórios como o Seedinglab são um embrião de um novo modelo de “comunidade criativa”, um conceito desenvolvido por Ezio Manzini em “Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidade criativas, organizações colaborativas e novas redes projectuais”. Estas “comunidades criativas”, que Manzini vê como redes transnacionais colaborativas, devem, no entanto, ir mais longe. Para Alastair Fuad-Luke, autor de um livro de referência (“The Eco-Design Handbook”) e curador da edição deste ano da Porto Design Biennale, o mais importante é que estas sejam “comunidades de mudança” capazes de desenvolver “novos imaginários sociais”. Esta perspectiva é também a do economista senegalês Felwine Sarr, autor da obra “Afrotopia”, e que foi um dos convidados do presidente francês Emmanuel Macron a redigir o relatório sobre a restituição das obras de arte africanas existentes nos museus europeus. “As sociedades instituem-se, antes do mais, através dos seus imaginários – escreve Felwine Sarr na introdução de “Afrotopia” – que são as forjas das quais emanam as formas que as sociedades assumem para nutrir a vida e aprofundá-la, para alçar a aventura social e humana a outro patamar”.

59


ranking


POWERED BY

whirelab

A ’magia‘ de colocar o talento exacto na empresa certa Imagine o boom de produtividade que as empresas atingiriam se pudessem dispor de talentos com aquela habilidade técnica e comportamental específica para a sua competitividade. A tecnologia já o permite… TEXTO Cármen Rodrigo • FOTOGRAFIA Mariano Silva

C

om o intuito de ser uma solução tecnológica de apoio às empresas que estão em busca de profissionais de corpo inteiro, Santos Mabjaia, de 28 anos, idealizou a WhireLab, uma plataforma modular e personalizada de gestão de talentos onde a grande inovação assenta no processo de triagem. “Quisemos criar uma plataforma que se moldasse às necessidades de recrutamento das empresas, como identificar, entre milhares de currículos, aqueles candidatos que são compatíveis com as vagas de que as empresas dispõem, facto que nos fez digitalizar os currículos e disponibilizar filtros nas telas das candidaturas que facilitassem a sua selecção”, explica o criador e também CEO da WhireLab à E&M. A identificação do background, skills e talento do candidato que a empresa recrutadora procura faz-se por meio da chamada “biblioteca de testes”, uma ferramenta imaginativa que recorre a especialistas externos que desenvolvem questionários especializados sobre as mais variadas áreas e que permitem ao recrutador perceber, na prática, o grau de preparação do candidato. A fonte de inspiração terá sido a “grande dificuldade” que o próprio teve de enfrentar quando procurou enquadramento no mercado do trabalho. “Estava à procura de emprego, submetia vários currículos, mas não tinha nenhuma resposta. Participava em vários processos selectivos, porém, percebia que os recrutadores não conseguiam explorar o melhor de mim, isto é, saber qual é o meu verdadeiro potencial, as minhas habilidades técnicas e o meu perfil sócio-comportamental. Por isso pensei também nas outras pessoas que passavam pelo mes-

www.economiaemercado.co.mz | Agosto Fevereiro 2021 2021

mo, assim como, imagino, algo do género pudesse facilitar a vida e tornar mais eficientes os processos de recrutamento”, assinala o jovem. Para a criação desta empresa, prosseguiu, foi necessário estudar como é feito o processo de selecção, triagem, identificação e avaliação das habilidades dos profissionais, até à fase das entrevistas. Depois, a plataforma procura tornar mais cómodo e prático o processo daquelas. “Percebi que nas empresas não havia um padrão para as questões, daí que tenhamos desenvolvido, dentro da aplicação, uma ferramenta de marcação e gestão de entrevistas que conecta o recrutador ao gestor, aos observadores e aos analistas da vaga para que, também eles, possam participar do processo e acrescentar valor a todo o procedimento”, acrescentou Santos Mabjaia, que não deixa de esclarecer que não se deve confundir a WhireLab com uma página de emprego. “A vocação desta empresa e do serviço que desenvolvemos é apenas disponibilizar a base tecnológica sob a forma de aplicação para flexibilizar o processo de recrutamento sem despender muitos recursos, sendo que o nosso cliente final são as empresas”, aclara. E por que é que a plataforma (e a própria empresa) foi baptizada de WhireLab? De acordo com o seu criador, é na conjugação de “hire”, que significa recrutar, e na sua ligação com o “Labor”, ou trabalho, que se cria um jogo de palavras que funciona enquanto bilhete de identidade daquele que é, afinal, o conceito final. “Um nome que pretende tornar-se numa referência ao nível nacional e internacional como uma ferramenta eficaz e adequada à melhor gestão de talentos”, concluiu.

B

EMPRESA WhireLab ÁREA DE ACTIVIDADE TIC FUNDAÇÃO 2020 FUNDADOR Santos Mabjaia

61


OPINIÃO

Saúde Digital — Como a Pandemia tem potenciado a Tele Medicina José Prata • Profissional de Seguros

O

O acesso à saúde é considerado um direito essencial do ser humano, facto ainda mais relevante tendo em conta a pandemia que tem afectado o mundo nos últimos 18 meses. Mesmo no período de pré-pandemia Covid-19, o desenvolvimento de modelos alternativos de acesso a cuidados de saúde com o recurso a novas tecnologias era já uma realidade. Os desafios e a incerteza, que em muitos casos ainda persistem, resultantes da crise pandémica que ainda vivemos, vieram acelerar a existência de modelos alternativos mais eficientes, mais acessíveis e disponíveis para qualquer pessoa no planeta. A saúde digital é hoje uma realidade incontornável cuja disponibilidade vai sendo extensiva, de uma forma gradual, a todos os cantos do mundo. O recurso a Inteligência Artificial e Automação, conjugado com o acesso às melhores práticas médicas têm contribuído para o crescente sucesso da Saúde Digital, a qual, em alguns casos, tem tido um papel fundamental na sustentabilidade dos Serviços Públicos de Saúde, como são os exemplos do NHS em Inglaterra, e mais recentemente em África, no Ruanda, através da Estratégia Nacional de Transformação implementada pelo Governo desse país. No meio deste processo de transformação digital, a Telemedicina tem sido, porventura, o serviço que mais tem contribuído para a universalização do acesso a cuidados de saúde de uma forma simples, eficaz, criando relações de proximidade entre médico e pacientes. As plataformas de Telemedicina oferecem um conjunto de possibilidades que vai para além da consulta com o médico, não só de Clínica Geral ( GP) mas também de algumas especialidades. Opções como receituário digital para compra de

62

medicamentos, avaliação de sintomas com recurso a IA, gestão e acompanhamento de pacientes, nomeadamente no que se refere a doenças crónicas, são algumas das possibilidades disponíveis. A comunidade médica tem correspondido de uma forma bastante positiva à introdução e desenvolvimento dos novos modelos de Saúde digital, encontrando nestas plataformas as ferramentas necessárias para a obtenção de ní-

O recurso a Plataformas de Saúde digital , nomeadamente as que incluem a Telemedicina, não é um privilégio de países ricos ou das sociedades desenvolvidas tecnologicamente... em África, países como o Ruanda têm vindo a apostar fortemente no desenvolvimento da Saúde digital com resultados extremamente encorajadores

veis elevados de eficiência, assim como a redução das margens de erros humanos e custos associados. A melhoria da experiência do paciente, a consequente melhoria da qualidade de vida das populações e a redução do custo per capita do acesso à saúde são alguns dos grandes objectivos que se pretendem atingir ao nível da gestão global dos sistemas de saúde. A medicina preventiva é a chave para a obtenção dos objetivos acima

mencionados, e os serviços digitais “ end to end” são cada vez mais uma ferramenta fundamental, beneficiando médicos e pacientes. O recurso a Plataformas de Saúde digital, nomeadamente as que incluem Telemedicina, não é um privilégio de países ricos ou das sociedades mais desenvolvidas tecnologicamente. Conforme abordado anteriormente, em África, países como o Ruanda têm vindo a apostar fortemente no desenvolvimento da Saúde digital através de parcerias criadas com empresas do sector, com resultados extremamente encorajadores. A vários níveis, o Ruanda é visto como um exemplo a seguir em África, nomeadamente no sector da saúde. O recurso a sistemas inovadores de saúde digital veio permitir aliviar a pressão existente nos sistemas de saúde público e privado, resultando na possibilidade de alocar mais meios ( humanos e materiais) para a resolução de casos de maior gravidade, permitindo, ao mesmo tempo, que a população daquele país da África Oriental continue a ter acesso a cuidados de saúde primários de qualidade, de uma forma cómoda, acessível em termos económicos, e sem o peso da deslocação a unidades hospitalares na maioria das vezes distantes e cuja oferta é escassa. Com o desenvolvimento constante da tecnologia aplicada, o modelo de Saúde Digital veio para ficar, permitindo uma melhor qualidade de vida das populações, nomeadamente ao nível da prevenção e acompanhamento. A facilidade de acesso e comodidade, associada a um leque cada vez maior de serviços disponibilizados, veio criar uma relação de proximidade e de confiança entre médico e paciente, impossível de replicar através dos conhecidos modelos tradicionais de acesso a cuidados médicos. A transformação segue dentro de momentos. www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


panorama

POWERED BY

Investimento

Covid-19: arranca construção do laboratório de biologia molecular em Tete O Governo de Moçambique, em parceria com o Fundo Global e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), lançaram a primeira pedra para a construção do laboratório de biologia molecular na cidade de Tete. Com um investimento orçado em 15 milhões de meticais, espera-se que a infra-estrutura fortaleça e massifique a testagem e

diagnóstico do Covid-19 naquela região. Elisa Zacarias, Secretária de Estado em representação do Governo, disse que a infra-estrutura vai aumentar a eficiência no diagnóstico ao nível local com vista a fornecer aos cidadãos serviços de qualidade e espera-se que, até Outubro do ano em curso, o laboratório de Biologia molecular esteja em funcionamento.

Edtechs

Novo software quer ajudar a combater insucesso escolar em Moçambique, Angola, Portugal e Brasil Um ‘software’ de combate ao insucesso escolar, o MAPIE, foi apresentado na Marinha Grande, no distrito de Leiria, em Portugal. O Mapa de Alerta Precoce do Insucesso Escolar (MAPIE) sucede ao Sistema de Alerta Precoce do Insucesso Escolar (SAPIE), projecto da associação ‘Tempos Brilhantes’, desenvolvido por investigadores da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e implementado em 2018. A solução informática foi agora reforçada para definir “perfis de risco ainda mais rigorosos”, acrescentando indicadores de saúde e dados sócio-demográficos ao algorit-

mo que segue o modelo americano, combinando assiduidade, comportamento e aproveitamento. A partir do cruzamento de todas as informações, o MAPIE funciona como “um radar que monitora os indicadores de risco e gera alertas precoces”, enviando-os a professores, responsáveis de agrupamentos escolares, famílias e autarquias. Até 2022, o objectivo é crescer 50% e chegar a 150 agrupamentos de escolas. De acordo com Núria Costa, relações públicas da empresa, a ambição “é atingir os 200 agrupamentos de escolas no Brasil e entrar no mercado de Angola e Moçambique”.

Inovação

Engenheiro nigeriano cria ventilador de baixo custo para pacientes com problemas respiratórios No evento final do Prémio Africano de Inovação em Engenharia, o inovador nigeriano Yusuf Bilesanmi venceu o prémio “One To Watch” para África. Yusuf foi um dos 12 inovadores que apresentaram as suas inovações a uma audiência ao vivo, que votou na sua - ShiVent – fazendo-o arrecadar um prémio de 5000 libras esterlinas. ShiVent é um ventilador de baixo custo, www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

não eléctrico e não invasivo, para pacientes com problemas respiratórios. A sua concepção simples permite que seja operado por trabalhadores não especializados na área da saúde. O ShiVent foi concebido para clínicas com poucos recursos, com fornecimento de electricidade não fiável e acesso limitado a conhecimentos especializados.

Healthtechs

Moçambique introduz drones na recolha de amostras do Covid-19 nas zonas rurais O projecto foi ensaiado no distrito de Marracuene, província de Maputo, onde os drones percorreram uma distância de, aproximadamente, 14 quilómetros a partir da vila sede distrital até à zona de Muntanhane, com 30 amostras para testes. Em declarações a Rádio Moçambique, Deosdélio Malamule, do Instituto Nacional de Saúde, referiu que os drones serão usados, a título experimental, nas zonas recônditas e de difícil acesso na província de Inhambane. “Temos cinco pontos muito críticos em Inhambane em que, especialmente nos tempos chuvosos, algumas amostras acabam ficando semanas ou até meses sem serem transportadas. Achamos que com a utilização de drones podemos alcançar todos os locais que queremos”, afirmou.

63



ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

66 Nesta edição viajamos até Vilankulos, em Inhambane, para conhecermos o eco-resort e spa Villas do Índico

g

e 68 A casa Mika Café, um restaurante que nasceu da criatividade de duas amigas e que se tornou numa grande atracção em Vilankulos

69 Conheça as transformações que o vinho é capaz de operar na dieta dos consumidores


Inhambane

VILLAS DO ÍNDICO, VILANKULOS Uma das maiores atracções turísticas do País

e

antes de começar a descrever exaustivamente a experiência que é passar uma estadia no Villas do Índico, é importante questionar o leitor se está pronto para aquilo que se segue. Isto porque aqui vai realmente desligar e descansar. Pronto? Comecemos pelo início: o Vil-las do Índico é um eco-resort e spa em Vilankulos localizado a cerca de 10km da cidade, um caminho só possível através de um veículo 4x4. Para quem viaja de avião, pode alugá-lo logo no Aeroporto de Vilankulos ou solicitar, no acto da reserva, que o transporte seja incluído. Mas não se preocupe: o trajecto agitado é com vista privilegiada pela costa e vale bem a pena. É difícil hierarquizar a amabilidade de cada uma das pessoas que trabalha no Villas do Índico, em Vilanculos: há momentos em que nos rendemos aos pratos do chef, e aí ele é o nosso preferido; mas depois, cada frase que se troca com o Benny, o empregado de mesa, faz

ONDE A NATUREZA

SE TRANSFORMA EM CASA com que se queira estar naquela mesa para sempre; sem esquecer o Edu e o Domingos, os snippers mais bem dispostos da província de Inhambane. Na falta de aventuras em terra, há sempre o arquipélago de Bazaruto logo ali pronto a ser explorado. Mas, no final, difícil, difícil é sair do eco-resort e spa. Caso tenha dúvidas, fica a saber que está, exactamente, a 38 320km de Ushuala, a 19 328 km de Nordkap, a 18 164 km de Lisboa ou a 25 004 km de Anchorace. Os convites à aventura são implícitos em cada recanto do lodge, quer seja pela decoração, quer pelos dizeres pintados nas paredes: ‘Quando perdemos o direito de ser diferentes perdemos o privilégio de ser livres’ de Charles Evans Hughes, lê-se logo na recepção.

O alojamento consiste em cabanas individuais com um pequeno alpendre com sofá e baloiço. Cada casa tem quarto e casa de banho e são bastante espaçosas, mas embora o conforto seja omnipresente, quererá passar mais tempo a explorar. Nas zonas comuns poderá ler um livro no sofá em forma de barco ou comer os croissants caseiros com compota de banana ou maracujá, consoante a época. Na hora de escolher a proteína animal que irá brilhar no seu prato, confie na casa e escolha qualquer peixe local. A verdade é que, independentemente do metro quadrado que escolha, a vista será sempre a mesma: a ilha de Bazaruto. Em dias de céu bem limpo consegue, inclusive, estar deitado na piscina infinita e ver a duna da ilha. Aproveite a estadia para conhecer o terreno insular. As ilhas mais próximas são Bazaruto e Benguerra e, na companhia do Edu e do Domingos, serão levados primeiro à ilha que baptizou o arquipélago. Não se poupe a corridas e suba até ao cima da ilha. Quando descer terá o almoço pronto e, com sorte, entre mergulhos e no caminho de barco até Benguerra, terá a companhia de um dugongo. O Villas do Índico quase que se funde com a paisagem. Os móveis de madeira parecem uma extensão dos telhados das casas, o verde da relva perde-se ora nas algas marinhas ora nas árvores, e a piscina parece o Índico a papel químico. TEXTO ELIANA SILVA FOTOGRAFIA D.R

66

www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


EM DIAS DE CÉU BEM LIMPO CONSEGUE, INCLUSIVE, ESTAR DEITADO NA PISCINA INFINITA E VER A DUNA DA ILHA. APROVEITE A ESTADIA PARA CONHECER O TERRENO INSULAR

ROTEIRO COMO IR Localizado a cerca de 10km da cidade de Vilankulo, só é possível chegar através de um veículo 4x4. Para quem viaja de avião, pode alugá-lo logo no Aeroporto de Vilankulos ou solicitar, no acto da reserva, que o transporte seja incluído. ONDE DORMIR No Villas do Índico, desfruta de quartos em chalés de palha perto da beira-mar, rodeados por jardins tropicais. Cada quarto tem uma casa de banho com um chuveiro. Todos os quartos estão equipados com ar condicionado, redes mosquiteiras sobre a cama, um terraço ao ar livre com espreguiçadeiras e uma televisão de ecrã plano com canais por satélite.

O QUE FAZER Terá a oportunidade de relaxar junto à praia privada do resort e na piscina, ou usufruir das comodidades do spa no local. O Villas do Índico poderá organizar passeios e expedições para observar animais selvagens. www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

67


RESTAURAÇÃO

Uma casa que acaba de nascer e já conquistou o seu lugar em Vilankulos

g e no meio do caos nasce a ordem. A história de Mika e de Valérie não é assim mas quase. Tal como muitas pessoas, as duas amigas sentiram o efeito pandémico do covid-19 da pior forma e criaram, no início de 2021, a nova pérola de Vilankulos, o Casa Mika Café. Numa altura em que o turismo nacional tem registado números mínimos, o Casa Mika Café trouxe uma lufada de ar fresco prolongada a Vilankulos. Com uma apresentação honesta, desengane-se quem achar que aqui irá encontrar a típica cozinha moçambicana. Aliás, de típico (ou habitual) só mesmo a vista da cidade sobre as ilhas de Benguerra ou Magaruque. O Casa Mika Café é, portanto, um convite à cozinha europeia de fusão em que as influências belgas se unem às francesas.

MIKA CAFÉ, UMA CASA Chegar à Mika Café é seguir a trilha azul, quase como um acesso directo ao Oceano Índico, lá em baixo. Desde Abril deste ano que aquele caminho leva cada cliente até à serenidade da cozinha de Mika: ‘Estamos felizes, mesmo agora que os tempos estão difíceis por causa do covid-19 e o turismo está no mínimo. A Valerie está em Moçambique há dez anos e eu há quase 23 anos’, partilha com confiança Mika. Este pode ser o primeiro capítulo da história deste novo restaurante, mas a parceria das criadoras começou quando trabalharam juntas no Kutsaka Café. Decidiram abrir o café na propriedade da Mika e transformar o andar de baixo de um dos

ENQUANTO MIKA CRIA NA COZINHA, VALÉRIE É O PRIMEIRO ROSTO QUE CADA CLIENTE CUMPRIMENTA

68

apartamentos. Um processo cuidado e pormenorizado, já que se percebe, a cada recanto, que as cores foram escolhidas em harmonia com a tonalidade do mar, a mobília foi criada por artesãos locais, os cestos do pão foram produzidos pelas folhas das bananeiras de Inhambane e a cozinha foi construída na entrada do restaurante para que as boas-vindas fossem tão honestas quanto a comida que oferecem. Enquanto Mika cria na cozinha, Valérie é o primeiro rosto que cada cliente cumprimenta. “Temos um pequeno menu fixo, mas todas as semanas temos pratos especiais. Servimos pratos locais, mas também comida que me inspira de outros países, tudo com o nosso próprio toque, já que muitos ingredientes não podem ser encontrados aqui. Valérie é a senhora da frente e eu cozinho. Saudamos todos e es-

DE FUSÕES

peramos que amem o nosso lugar tanto como nós”, conta-nos Mika. O horário não é o mesmo todos os dias e, na dúvida, é sempre melhor consultar a página de Facebook do Casa Mika Café ou ligar reservar a sua mesa. Juntas preparam aquilo que seria apelidado de cozinha de fusão, onde os ingredientes locais são reis e senhores, ao se misturarem com a cozinha europeia. Na realidade, essa mescla de sabores transpõe-se para todo o espaço: a sala, ao ar livre, é palco de actuações musicais em dias especiais e todo o restaurante está virado para a baía de Vilankulos com todos os oceanos ali tão perto. TEXTO ELIANA SILVA FOTOGRAFIA D.R www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021


OS POLIFENÓIS ENCONTRADOS NO VINHO TINTO PODEM QUEIMAR CALORIAS EXTRA DURANTE AS REFEIÇÕES

O VINHO ENGORDA?

AGORA HÁ UM ESTUDO QUE DIZ QUE, AFINAL, ATÉ AJUDA A EMAGRECER em tempo de pandemia, com os ginásios fechados, pensou em deixar de beber aquele copo de vinho para cortar nas calorias? Bem, talvez não devesse. Como um cientista alimentar salientou durante um webinar sobre saúde no mês passado, a ingestão moderada de vinho durante as refeições pode ajudar a impulsionar o metabolismo e apoiar a perda de peso. A Dra. Rosa Lamuela-Raventos, professora associada de nutrição e ciência alimentar na Universidade de Barcelona e membro do Centro Espanhol de Investigação Biomédica em Fisiopatologia da Obesidade e Nutrição, apresentou no passado dia 8 de Junho o seu apoio ao consumo moderado de vinho no “Wine and Weight Management”: Is It Possible?”, um evento virtual organizado pela Wine in Moderation, que consiste num programa de responsabilidade social empresarial centrado no vinho. Numa entrevista recente para a conceituada publicação Wine Spectator, Lamuela-Raventos explicava por que o consumo moderado de vinho pode beneficiar a saúde do coração e como descobertas recentes reforçaram a sua teoria de que o vinho pode ajudar a queimar calorias extra e promover a perda de peso. Um dos trabalhos de investigação cardiovascular em que Lamuela-Raventos se baseou foi um artigo publicado em 2015 no British Journal of Nutrition, que mostrou apoio aos benefícios acreditados da dieta mediterrânica para a saúde cardiovascular. O estudo observacional analisou dados do ensaio ‘Prevención con Dieta Mediterránea’ (PREDIMED), que incluiu 7500 participantes espanhóis observados entre 2003 e 2011 para estudar os efeitos a longo prazo da dieta mediterrânica. Os investigadores descobriram que a ingestão moderada de vinho tinto estava associada a uma diminuição da prevalência de síndrome metabólica (um grupo de condições que aumentam o risco de doenças cardíacas, AVC e diabetes), principalmente através da redução do risco de ter uma circunferência anormal da cintura, tensão arterial elevada e colesterol. Um www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

estudo separado do Brasil, em 2016, também mostrou que beber vinho com refeições estava relacionado com uma menor prevalência de síndrome metabólica, e que beber cerveja estava associado a uma maior prevalência. Mas Lamuela-Raventos também utilizou os resultados do ensaio PREDIMED para realçar o que ela pensa ser o maior equívoco no vinho: “calorias vazias”, ou seja, que o vinho contém pouco ou nenhum valor nutricional. Com as crescentes taxas de obesidade e a ideia mal interpretada de “calorias vazias” no vinho, Lamuela-Raventos diz que certas dietas empurraram a bebida alcoólica para fora dos planos de perda de peso, o que é um erro. “É verdade que as calorias provêm principalmente do etanol, contudo, o vinho é uma rica fonte de potássio, também contém outros minerais e é uma das principais fontes de polifenóis na dieta mediterrânica”, disse Lamuela-Raventos, num e-mail. “[Um copo de vinho] contém aproximadamente 125 calorias por dose, no entanto, as pessoas não estão a considerar que o vinho possa neutralizar estas calorias, que as queima devido ao conteúdo polifenólico”. Um dos mecanismos que ajuda a suportar a perda de peso é a termogénese, ou o efeito termogénico. É um processo metabólico pelo qual os seres humanos queimam calorias a fim de gerar calor. Lamuela-Raventos argumenta que isso acontece quando se bebe vinho durante as refeições. Ela sugere que polifenóis, como o resveratrol, ajudam o corpo a aumentar a quantidade de tecido castanho, que é um tipo de gordura corporal que transforma comida em calor e ajuda os bebedores de vinho a queimar mais calorias. “Observamos que quando se bebe vinho tinto com moderação, durante as refeições, não se adiciona mais peso ou gordura abdominal”, disse Lamuela-Raventos. “Os compostos de polifenol parecem ser responsáveis por este efeito de controlo de peso sobre a saúde. Também demonstraram que melhoram a microbiota e aumentam a termogénese”.

69



PINTURA

A exposição está aberta ao público das 09h00 às 18h00, até ao dia 5 de Setembro, na galeria da Fundação Fernando Leite Couto

desenhos, gravuras, telas

e pinturas levantam voo com destino a reflexões, que permitem, somente, uma aterragem após o mergulho num fascinante ritual artístico, onde a contemplação é inevitável. As memórias de infância fizeram da artista plástica Carmen Muianga personagem de uma história em que a arte fala e detém o protagonismo. Através da exposição intitulada “O homem que cai na terra”, a artista abre espaço para a reflexão de diferentes temas sociais, por meio de 15 obras, onde a colagem, técnica mista e o reaproveitamento de gravuras ganham destaque. O curioso título que dá vida à exposição surge de uma lembrança de infância da artista, no bairro de Maxaquene, cidade de Maputo, quando, num grupo de amigos, assistiam a um espec-

A QUEDA QUE FEZ táculo de paraquedismo e questionavam-se sobre o possível destino dos paraquedistas que não conseguiam “cair na terra” ou em locais visíveis pelos espectadores. “Enquanto trabalhava na exposição enfrentei dificuldades para encontrar a composição certa de uma das obras. Num desses dias, virei espontaneamente a peça, que me sugeriu um paraquedas. Em seguida fluíram as memórias dos paraquedistas que não caíam no “ponto certo”. De “o homem que cai na terra”, atravessando o “Monte”, até ao “fora da lei”, o azul e branco penetram no imaginário da exposição de Carmen Muianga transmitindo tranquilidade, ao mesmo tempo que conduzem a um questionamento sobre “na-

“O HOMEM QUE CAI NA TERRA” REMETE PARA UMA REFLEXÃO... SUGERINDO DIVERSAS INTERPRETAÇÕES DA REALIDADE” www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021

A ARTE VOAR turalização da realidade”. “Cada obra remete-nos para vários significados. A exposição é vasta, mas, acima de tudo, é uma exaltação ao desporto, em particular o paraquedismo. É uma chamada de atenção para a sua massificação, de forma a que não seja visto ou tratado como um desporto de elites.” Com 47 anos de idade, dos quais mais de 26 dedicados à arte, Carmen Muianga colecciona trabalhos dispersos pelo mundo por meio de exposições individuais e colectivas. “O homem que cai na Terra” encontra-se aberto ao público até ao dia 5 de Setembro das 09h00 às 18h00, na Fundação Fernando Leite Couto. As visitas obedecem às medidas instituídas para a prevenção do covid-19. TEXTO YANA DE ALMEIDA FOTOGRAFIA D.R

71


VOLKSWAGEN

A versão apresentada é a GTX, mas a marca promete duas versões: a AGTX com dois motores e 302 CV de potência, e uma com apenas um motor no eixo traseiro e com 201 CV de potência

v

VOLKSWAGEN VAI LANÇAR o mercado dos carros eléctricos tem estado a

reforçar as suas propostas com marcas, como a Volkswagen, a revelarem os seus novos modelos. A marca alemã tem a sua base criada e pronta a ser usada, com algumas ofertas já no mercado. Com planos claros para a sua electrificação, a Volkswagen vai continuar a apresentar os seus carros. Assim, e seguindo esta linha, surgiu agora o ID.5. Com este modelo, a Volkswagen quer tentar ganhar espaço em áreas onde ainda não tem uma presença com os seus carros eléctricos. Este SUV Coupé aposta em linhas desportivas para conseguir cativar os seus clientes, em especial os da nova geração. Por agora, e do que a marca deu a conhecer, apenas

O ID.5, UM ELÉCTRICO COM LINHAS DESPORTIVAS a parte estética foi revelada, dando foco ao que será a sua base e as suas linhas. É ainda cedo, mas a Volkswagen quis mostrar já o que vai chegar ao mercado muito em breve, já na segunda metade de 2021. Na sua base, o Volkswagen ID.5 é uma versão mais desportiva do ID.4, embora compartilhe com este uma grande parte das suas prestações. A versão apresentada é a GTX, mas a marca promete duas versões: a GTX com dois motores e 302 CV de potência, e uma com apenas um motor no eixo traseiros e com 201 CV de potência. Em termos de autonomia, a versão GTX promete conseguir percor-

A VERSÃO GTX PROMETE CONSEGUIR PERCORRER 497 QUILÓMETROS POR HORA. A VERSÃO STANDARD CONSEGUIRÁ ATINGIR OS 540 QUILÓMETROS POR HORA COM APENAS UMA CARGA E COM A SUA BATERIA DE 77 KWH

72

rer 497 quilómetros por hora. A versão standard conseguirá atingir os 540 quilómetros por hora com apenas uma carga e com a sua bateria de 77 kWh. A carga máxima do Volkswagen ID.5 será de 125 kW, longe do que outras marcas oferecem. No que toca a prestações, e sem qualquer informação oficial da marca, deverão ser próximas das que o ID.4 oferece. Assim, teremos uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em 6,2 segundos, algo que a versão GTX do ID.4 oferece actualmente. Sem registo de preços ou de outras informações mais detalhadas, a Volkswagen deverá apresentar o ID.5 em Setembro, no salão automóvel de Munique. As linhas do ID.4 estão presentes neste novo carro eléctrico, mas ainda assim o Volkswagen ID.5 tem uma identidade própria. www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2021




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.