E&M_Edição 45_Janeiro 2022 • O que vai marcar 2022?

Page 1

ORÇAMENTO ECONOMISTAS DEFENDEM QUE O GOVERNO NÃO SERÁ CAPAZ DE REALIZAR OBJECTIVOS SOCIÉTÉ GÉNÉRALE BANCO AMBICIONA TORNAR-SE NA CASA DAS PME E ATACAR A ÁREA DO OIL & GAS INOVAÇÕES DAQUI O MUNDO CAMINHA PARA A POSSIBILIDADE DE QUALQUER PESSOA CRIAR A SUA MOEDA

O QUE VAI MARCAR 2022?

O início da exploração do gás, em perspectiva, traz a esperança de dias melhores. Mas prevalecem ameaças que vão desde o covid-19 até aos ataques armados. O que vai pesar mais? EDIÇÃO JANEIRO - FEVEREIRO 15/01 a 15/02 • Ano 05 • Nº 45 2022 • Preço 250MZN

MOÇAMBIQUE

RENOVÁVEIS CIENTISTAS ESTÃO DIVIDIDOS QUANTO À EFICIÊNCIA DO HIDROGÉNIO VERDE



6

65 ÓCIO OBSERVAÇÃO

Cimeira UE-UA África e Europa Reúnem-se em Fevereiro Com Foco na Solidariedade em Tempos de Pandemia

10

OPINIÃO

66 Escape À Descoberta das Maravilhas de Malange, em Angola 68 Gourmet As Tendências da Gastronomia em 2022 na Voz dos Melhores Chefs 69 Adega Trava-Línguas, o Vinho Que Nos Leva ao Universo das APP´s 71 Arte As Lentes do Escritor Agualusa Descobrem “O Mais Belo Fim do Mundo” 72 Ao volante Do Mercedes-Benz Vision EQXX, o Carro Eléctrico Com Autonomia de Mil Quilómetros

EY Moçambique “EY Africa Attractiveness Report 2021:

África Austral Vai Recuperar Gradualmente”

13

ESPECIAL ENERGIAS RENOVÁVEIS

14 Hidrogénio Verde Especialistas Divergem Quanto à Integração do Hidrogénio Verde na Matriz das Prioridades Energéticas 18 Explicador As Emissões Globais de Dióxido de Carbono Per Capita 20 Uranus Solar Uma Empresa Com Apenas Dois Meses, Mas Que Promete Expandir “Energia para Todos”

24

OPINIÃO

49

50 A Era Web3 Os Entusiastas da Criptografia Vêem um Futuro em Que a Internet Funciona Com Tokens Baseados na Blockchain

Bazarketing “De Triste Para Content”, Thiago Fonseca, Sócio e Director de Criação da Agência GOLO

28

54 Dream Solutions Um Empreendimento Que Revolucionou a Área de Eventos Com a Venda de Bilhetes Online

NAÇÃO

O QUE VAI MARCAR 2022? 28 Economia Especialistas Prevêem Retoma da Estabilidade, Porém Ameaçada Pelo Covid-29 e Pelos Ataques Armados

58

38 Opinião “Perspectivas Económicas Para 2022”, Hermano Juvane - Responsável Pelo Sector de Oil & Gas do Absa 40 Orçamento 2022 Economistas Defendem Que o Governo Não Será Capaz de Realizar a Maior Parte das Projecções 44 Economia Global Analistas Projectam Uma Recuperação em Que a Revolução Tecnológica Será o Grande Motor

www.economiaemercado.co.mz | Julho 2020

ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI

OPINIÃO

Opinião “Um Olhar em Retrospectiva de 2021”, Wilson Tomás - Research, Banco BIG Moçambique

60

MERCADO & FINANÇAS

Entrevista O CEO do Société Générale Moçambique, Sterghios Dassarecos, Revela a Estratégia do Banco Para 2022

3


EDITORIAL

Celso Chambisso Editor da Economia & Mercado

‘Quo Vadis’ Moçambique?

A

creditar em dias melhores para a economia moçambicana tornou-se num exercício que se confunde com a fé irracional: a quantidade de obstáculos imprevisíveis ao crescimento multiplicou-se com o passar do tempo desde a altura em que o País começou a enfrentar a crise das dívidas, há quase seis anos. Talvez seja por isso que, mesmo quando o panorama macroeconómico indica um ambiente favorável para o bom desempenho, muitos economistas se mantêm cépticos e acabam fazendo leituras pouco optimistas sobre o futuro. Hoje, ao tentarmos viajar pelos próximos 12 meses para vermos o que nos espera como País, encontramos muitos sinais a alimentarem a fé num país que se reergue de uma turbulência que vai desde a fraca produção agudizada pelo novo coronavírus até à instabilidade militar face aos ataques no Norte, passando pelos desastres naturais que anualmente retrocedem os já atrasados passos pelo desenvolvimento, entre vários outros aspectos. O ambiente anda à volta de uma fé racional, fundamentada pela presença de evidências que vão empurrar o país para frente: a plataforma de gás na ENI já está em Moçambique e promete começar a contar a história da produção, exportação e criação de receitas do Estado ainda neste 2022; a vacinação está a expandir-se, o que vai possibilitar maior abertura à actividade económica; os ataques de insurgentes em

4

Cabo Delgado seguem controlados desde a chegada das forças da SADC e do Ruanda em apoio às forças moçambicanas de defesa e segurança. Com este avanço, possivelmente a Total também retome actividades no seu campo de produção de gás na Bacia do Ruvuma. Tudo isto alimenta o sonho de um crescimento do PIB na ordem de 2,9% em 2022, que representa um importante avanço em relação a 2021, quando a economia cresceu apenas 1,5%. Entretanto, nenhuma previsão é isenta de riscos. Por isso os economistas menos optimistas também agregam valor ao retrato de 2022 trazendo ferramentas que vão equilibrar o debate e trazer uma imagem mais realística do panorama socioeconómico de 2022. Falam da possibilidade de tudo o que está projectado não ocorrer conforme o previsto, como tem acontecido nos últimos anos, mesmo em relação aos indicadores macroeconómicos. E quanto ao bem-estar das pessoas? O custo de vida? A redução da pobreza? Muitas análises, infelizmente, passam ao lado destes aspectos que, no final de tudo, são os que mais importam. Ao que tudo indica, ainda que a economia cresça, os sinais são para que mais moçambicanos continuem no limiar da pobreza, visto que o que se projecta em termos de avanços está aquém do desafio da pressão populacional, que cresce a uma média de 2,5% ao ano.

15 JANEIRO | 15 FEVEREIRO 2022 • Nº 45

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos pedro.cativelos@media4development.com EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso JORNALISTAS Hermenegildo Langa, Ricardo David Lopes, Rogério Macambize, Rui Trindade, Yana de Almeida PAGINAÇÃO José Mundundo, Gerson Quive FOTOGRAFIA Mariano Silva REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos ÁREA COMERCIAL Nádia Pene nadia.pene@media4development.com CONSELHO CONSULTIVO Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Narciso Matos, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE Media4Development Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com IMPRESSÃO E ACABAMENTO Minerva Print - Maputo - Moçambique TIRAGEM 4 500 exemplares EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE Media4Development NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFO-DEPC/2018

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022



OBSERVAÇÃO

Bruxelas, 2022

África e Europa Reforçam Cooperação Bruxelas acolhe, já em Fevereiro, a sexta cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) e da União Africana (UA), inicialmente marcada para 2020, mas que foi sendo sucessivamente adiada devido à pandemia do covid-19. Em agenda estará, obviamente, a crise do covid-19 e a solidariedade internacional ao nível das vacinas, numa altura em que gritam cada vez mais alto as vozes que protestam contra o elevado desnível na distribuição dos imunizantes em desfavor dos países mais pobres, na sua maioria africanos. Outros temas a serem abordados incluem a cooperação UA-UE no reforço da resiliência, paz, segurança e governação, e migração e mobilidade (por exemplo, cresce o número de africanos que procuram o velho continente como refúgio à miséria e conflitos armados), assim como na parceria entre as duas partes tendo em vista a mobilização de investimentos para a transformação estrutural sustentável africana e o investimento nas pessoas, designadamente nas áreas da educação, ciência, tecnologia e desenvolvimento de competências técnico-profissionais. Os chefes de diplomacia da UE reforçam que África e Europa estão “unidos não apenas por interesses estratégicos comuns, mas também pela visão de uma parceria que beneficie as pessoas de ambos os continentes”, fazendo votos para que os dois continentes continuem a trabalhar lado a lado para enfrentar “os desafios e oportunidades comuns que se avizinham”. FOTOGRAFIA D.R.

6

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

7


RADAR

Comércio

Trocas comerciais entre Moçambique e Dubai ascendem a 600 milhões de dólares O volume de trocas comerciais entre Moçambique e Dubai atingiu 600 milhões de dólares em 2020, cifra que representa um crescimento de 140% nos últimos cinco anos. Para o representante da Câmara do Comércio de Dubai em Moçambique e na região, Abdula Momade, este crescimento foi, em parte, impulsionado pela entrada em funcionamento dos escritórios da Câmara de Comércio de Dubai em Moçambique, que ajudou a catapultar as

trocas comerciais de uma média de 250 milhões de dólares para os actuais 600 milhões. As importações de Moçambique representam 75% do valor global e as exportações o remanescente, facto influenciado pela capacidade de transporte e logística que caracaterizam os Emirados Árabes Unidos, bem como a sua localização geoestratégica que serve como porta de saída de pessoas e bens para o continente asiático.

Receitas do Estado

AT ultrapassa meta de arrecadação de receitas em cinco pontos percentuais

Energia

HCB aumenta produção e mantém estabilidade das suas acções A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) registou uma produção global de 14.990 GWh, correspondente a 6,12% acima da produção planeada para o ano de 2021. A disponibilidade de recursos hídricos, equipamentos de geração e transportes são apontados como factores que contribuíram para a produção hidroenergética global. Referindo-se à disponibilidade de recursos hídricos, a HCB reporta que a 31 de Dezembro de 2021 a cota da albufeira situava-se em 320,01 metros acima do nível médio das águas do mar, o que corresponde a um volume útil armazenado de 72%. À data, a barragem de Cahora Bassa tinha uma capacidade de encaixe criada de pouco mais de 14,6 mil milhões de metros cúbicos em relação ao nível de pleno armazenamento. Em comunicado tornado público recentemente, a empresa de produção e transporte de energia refere, igualmente, que, durante o ano económico de 2021, as acções da HCB na Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) tiveram um desempenho relativamente satisfatório, tendo fechado o ano com uma cotação de 3,00 meticais por acção, fruto da confiança do mercado em relação a este produto financeiro.

8

A Autoridade Tributária de Moçambique (AT), ultrapassou a meta prevista de arrecadação de receitas em cinco pontos percentuais durante o exercício económico de 2021, tendo atingido cerca de 278,86 mil milhões de Meticais contra meta orçamental de 265,60 mil milhões. Segundo a presidente da AT, Amélia Muendane, apesar da conjuntura política, económica e so-

cial nacional adversa, o desempenho da instituição que dirige, referente ao ano económico de 2021, foi positivo. “Sentimo-nos orgulhosos porque arrecadamos para os cofres do Estado cerca de 278,86 mil milhões de meticais, o que corresponde a uma realização bruta de 105,01% em relação à meta orçamental de 265,60 mil milhões de meticais e líquida de 101,00%”, disse.

Mineração

Moçambique atinge recorde ma produção de ouro em 2021 A produção de ouro em Moçambique atingiu um recorde no ano passado, passando de 545 quilos para 800 quilos, indica um relatório da Unidade de Gestão do Processo Kimberley. “A produção para o ano de 2021 tinha sido planificada para cerca de 550 quilos, mas, até ao presente momento, estamos acima de 800 quilos”, refere o relatório preli-

minar produzido pela Unidade de Gestão do Processo Kimberley, entidade tutelada pelo ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela. Mas a análise sobre a produção do ano passado não está encerrada, porque faltam os dados das províncias de Manica, Zambézia e Tete, todas no centro de Moçambique. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


Produção

Indústria transformadora em Moçambique vai crescer 2% este ano A indústria transformadora em Moçambique poderá registar este ano crescimento de 2%, influenciado pelo recém-criado Programa Industrializar Moçambique (PRONAI), que prevê crescimento do sector, fazendo o uso preferencial de matérias-primas locais, estimulando a produção, comercialização e exportação de bens processados ao novel nacional. O Governo, entretanto, estima que este ano a indústria transfor-

madora observará um crescimento influenciado, igualmente, pelo desempenho positivo das áreas de minerais não metálicos (cimento), com 8% de crescimento, 2,4% no sector alimentar, 5,6% nas bebidas e 2,5% na área química. Na indústria alimentar, espera-se que a o crescimento da produção decorra da entrada em funcionamento das novas unidades fabris em finais do ano passado, com impacto este ano.

Inflação

Oxford Economics Africa revê nível geral de preços de Moçambique em alta para 7,3%

A consultora Oxford Economics Africa previu, recentemente, que a inflação em Moçambique suba para 7,3% durante este ano e que o banco central aumente a taxa de juro www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

em 75 pontos, para 14%, este ano. “Dado que revimos significativamente a previsão de inflação para a média de 2022, de 5,4% para 7,3%, antevemos também que o banco central aumente a taxa de juro de referência em 0,75 pontos, para 14% este ano”, lê-se numa análise à evolução dos preços em Moçambique. Os analistas apontam que “o índice de preços do consumidor tem enfrentado pressões inflacionárias vindas da subida do preço do petróleo e de perturbações na cadeia de distribuição, que foram em parte mitigadas pela modesta procura interna no primeiro semestre de 2021 e por uma moeda mais forte, em comparação com 2020”. Embora esteja dentro da banda de um dígito, este nível é superior ao que tem sido projectado pelas autoridades nacionais e algumas organizações internacionais, que rondam à volta dos 5%.

9


OPINIÃO

EY Africa Attractiveness Report 2021: África Austral Vai Recuperar Gradualmente EY Moçambique

O

Explorando a tecnologia, quando disponível, os proprietários de empresas procuraram novas formas de dinamizar os seus modelos de negócio e reinventar as suas ofertas para manter a sustentabilidade dos seus negócios

10

Africa Attractiveness Report da EY é um relatório de tendências e insights que conjuga dados e análises que permitem aos leitores ter uma melhor compreensão dos fluxos de investimento no mercado africano. África está preparada para um reset. Estarão os investidores a pensar no futuro? Neste relatório de 2021, fazemos uma análise à forma como os acontecimentos dos últimos dois anos afectaram os drivers do sector, o impacto que estes tiveram no Investimento Directo Estrangeiro (IDE) e o que podemos esperar destes vários sectores agora e no futuro. Consulte o documento completo. Ao olharmos para o início da COVID-19, é seguro dizer que ninguém antecipou o impacto que a pandemia teria na nossa vida diária. Apesar de disso, os sistemas e as infra-estruturas de saúde de África provaram ser mais resistentes do que o esperado. Já foi várias vezes dito que a pandemia não mudou necessariamente as tendências de forma significativa. Quanto muito, acelerou o ritmo das tendências actuais. Explorando a tecnologia, quando disponível, os proprietários de empresas procuraram novas formas de dinamizar os seus modelos de negócio e reinventar as suas ofertas para manter a sustentabilidade dos seus negócios. Nos últimos meses, a África Austral recuperou a liderança como sendo o maior centro de IDE em África, devido ao facto de a economia sul africana, mais diversificada, conseguir atrair a maioria do IDE no continente africano. Espera-se que África recupere nos próximos anos. Contudo, o crescimento irá variar de país para país. Um dos desenvolvimentos mais promissores é

a African Continental Free Trade Area (AfCFTA), que entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2021. Esta tem o potencial/a capacidade de criar a maior zona de comércio livre do mundo, reduzindo a burocracia e promovendo o comércio em todo o continente. Na EY acreditamos que o investimento no continente africano nos próximos anos se deve concentrar idealmente nos sectores e nas oportunidades-chave que irão definir o crescimento do continente a curto e longo prazo. O relatório revela que existe uma tendência positiva no IDE em novos sectores, tais como a indústria de manufactura, serviços de apoio ao negócio, TIC, vendas e marketing, sectores esses que irão permitir a criação de postos de emprego duradouros. Este relatório disponibiliza uma análise detalhada sobre o investimento directo estrangeiro nos países, sectores e clusters regionais africanos, com o objectivo de ajudar os líderes a compreender melhor as novas realidades e oportunidades potenciadas pela nossa conjuntura económica redefinida.

A África Austral só irá recuperar da recessão de forma gradual

O crescimento na região deverá recuperar a médio prazo, depois de ter sido gravemente afectado pela pandemia da COVID-19 em 2020. A África do Sul registou o maior número de casos e entrou numa profunda recessão, na qual viu o seu PIB diminuir em 7% - a queda mais acentuada em mais de um século. Também o PIB de Moçambique contraiu 1,3% em 2020, devido à disrupção nas cadeias de abastecimento. Moçambique foi um dos seis países africanos que enfrentaram dificulwww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


dades relacionadas com o sobre-endividamento em 2020, tendo a sua dívida pública crescido para 120% do PIB. A recuperação em toda a região está dependente da rapidez do processo de vacinação e da manutenção do foco na consolidação fiscal. A economia da África do Sul registou um forte primeiro semestre em 2021, observando-se uma recuperação no sector industrial, impulsionada pela extracção e manufactura. Prevê-se assim que o seu PIB

cresça 4,8% em 2021, com base no aumento dos preços das matérias-primas e de uma moeda mais forte. No entanto, a quarta vaga de COVID-19, o lento crescimento das taxas de vacinação (apenas 23,1% da população está actualmente totalmente vacinada*) e os cortes de energia, representam riscos significativos para o crescimento. A elevada taxa de desemprego (estando previsto que atinja 33% no primeiro trimestre de 2022) e o aumento da

A recuperação em toda a região está dependente da rapidez do processo de vacinação e da manutenção do foco na consolidação fiscal www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

dívida pública (prevista crescer de 71% em 2020 para um valor sem precedentes de 94% do PIB em 2025) são riscos-chave que poderão afectar o crescimento. Mais preocupante ainda, é a recente instabilidade provocada pela detenção do antigo Presidente, a qual desencadeou saques em larga escala em duas províncias, e conduziu a uma revisão em baixa das estimativas de crescimento para -3,5%. Quanto a Moçambique, o seu PIB também deverá recuperar lentamente - para 1% em 2021, antes de aumentar para 3,6% em 2022 e até 7% em 2025. Para visualizar o relatório completo: https://assets.ey.com/content/dam/ ey-sites/ey-com/pt_mz/topics/attractiveness-africa/pdf/report-2021.pdf

11



POWERED BY

especial energias renováveis 14

OS PRÓ E CONTRA O HIDROGÉNIO VERDE

Cientistas divergem quanto à importância do hidrogénio como fonte de energia limpa, numa altuura em que urge acelerar o processo de transição energética. Vale ou não a pena contar com esta componente?

18

EXPLICADOR

As Emissões Globais Per Capita de Dióxido de Carbono

20

URANUS SOLAR

Um Empreendimento Focado na Expansão de Energia ao Meio Rural

22

PANORAMA

As Notícias Sobre Energias Renováveis no País e lá Fora


HIDROGÉNIO VERDE

Hidrogénio Verde. Fonte Versátil ou Ineficiente? Cientistas estão divididos em relação à inclusão do hidrogénio verde nas prioridades da transição energética. O certo é que, devidamente argumentados, os pró e os contra causam sérias dúvidas sobre se esta componente deve ou não ser levada em conta nos investimentos futuros TEXTO Luís Ribeiro • FOTOGRAFIA Istock Photo

O

Hidrogénio verde vem ganhando espaço na matriz das fontes de energia do futuro. E a explicação é simples: ao queimar hidrogénio, gera-se energia na forma de calor, e o único subproduto é a água, o que o torna numa fonte limpa. No entanto, é necessária energia para fazer o hidrogénio em primeiro lugar. Paradoxalmente, este o hidrogénio faz parte das discussões climáticas para sectores difíceis de descarbonizar, como transporte rodoviário, aviões e como armazenamento de electricidade. Por isso, os críticos dizem que buscar o hidrogénio verde como fonte de combustível não é a melhor solução para combater as mudanças climáticas porque é ineficiente e costuma ser criado através de fontes que emitem car-

bre hidrogénio ao nível do Departamento de Energia, em Agosto do ano passado. “Da Arábia Saudita à Índia, da Alemanha ao Japão, estamos a estabelecer parcerias de hidrogénio em todo o mundo para fazer avançar esta tecnologia crítica que todos os países entendem que tem o potencial de desempenhar um papel vital na transição para a energia limpa. O hidrogénio pode crescer e se tornar num mercado global de vários triliões de dólares”, defendeu Kerry.

Hidrogénio é versátil, mas caro O hidrogénio já é um componente-chave dos processos industriais químicos e da indústria siderúrgica. Portanto, fazer com que o hidrogénio limpo seja usado nesses processos industriais é fun-

“A indústria do hidrogénio é uma forma de os gigantes do petróleo e do gás impedirem a adoção de fontes de energia renováveis puras...” bono. Consideram que a indústria do hidrogénio é uma forma de os gigantes do petróleo e do gás impedirem a adoção de fontes de energia renováveis puras, como a solar e a eólica, dando-lhe uma cobertura “verde” e, ao mesmo tempo, mantendo a demanda pelos seus produtos. Apesar do debate, as empresas e o governo dos Estados Unidos estão a promover o desenvolvimento contínuo da indústria de hidrogénio. “Nas minhas viagens ao redor do mundo, não consigo citar um país que não tenha expressado entusiasmo sobre o hidrogénio”, disse John Kerry, enviado presidencial especial dos EUA para o clima, no encontro que tratou o tema so-

14

damental para reduzir as emissões de carbono, diz Jake Stones, da empresa de pesquisa de mercado Independent Commodity Intelligence Services (ICIS). Mas como uma fonte de energia em si, a grande vantagem que apresenta é a versatilidade, de acordo com Sunita Satyapal, que supervisiona a tecnologia de célula de combustível de hidrogénio para o Departamento de Energia. “Muitas vezes é chamado de canivete suíço da energia”, considera a responsável. O hidrogénio limpo seria útil também na descarbonização do transporte industrial pesado, como camiões, grandes barcos industriais e aviões, de acordo com Stones. E é menos interessante para veículos de consumos menores, já que


POWERED BY

15


os carros movidos a bateria estão a ser adoptados com muito mais facilidade do que os veículos maiores que requerem baterias maiores. Este componente também pode ser usado como uma forma de armazenar energia de fontes renováveis intermitentes, considerando que o sol nem sempre brilha e o vento nem sempre sopra. Em vez disso, as concessionárias podem converter o excesso de energia em hidrogénio e usá-lo para gerar energia mais tarde, como alternativa ao armazenamento em bateria. Entretanto, a principal desvantagem do hidrogénio é o seu custo. Produzi-lo a partir do gás natural custa cerca de 1,50 dólares por quilo e o limpo cerca de cinco dólares. Reconhecendo este problema, em Junho passado, o Departamento de Energia dos EUA lançou um programa chamado Hydrogen Shot, que visa reduzir o custo do hidrogénio limpo

16

para um dólar por quilo em uma década. “Baixar o preço do hidrogénio limpo seria um grande passo para resolver o problema das mudanças climáticas”, disse o bilionário Bill Gates, fundador da Breakthrough Energy Ventures, no Hydrogen Shot Summit do Departamento de Energia. “A meta de cortar o prémio em 80% é fantástica e ambiciosa”, defendeu. Assim, o Departamento de Energia vê três caminhos principais para reduzir o custo do hidrogénio limpo: melhorando a eficiência, durabilidade e volume de fabricação de electrolisadores; melhorar a pirólise, que gera carbono sólido e; eliminar o dióxido de carbono como subproduto.

Cépticos consideram-no ineficiente e impraticável

Embora o hidrogénio verde possa ser

crítico para descarbonizar a indústria pesada, abastecer navios e aviões e talvez armazenar energia, não é eficiente para ser usado de forma mais ampla como fonte de energia, diz Robert W. Howarth, professor de ecologia e biologia ambiental da Universidade Cornell. Howarth é um dos 22 membros do New York Climate Action Council, um grupo encarregado de desenvolver um plano de implementação para a lei que determina o plano de descarbonização de Nova York. No verão de 2020, as partes interessadas da indústria de gás natural sugeriram o uso de hidrogénio azul na infra-estrutura existente do gasoduto de gás natural para aquecer as casas. Mas Howarth e o professor de Stanford, Mark Jacobson, publicaram um artigo de pesquisa, em Agosto, mostrando que era uma má ideia. “O resultado final é que o hidrogénio azul tem enormes emissões www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


POWERED BY

Este componente também pode ser usado para armazenar energia de fontes renováveis intermitentes, e gerar energia mais tarde, como alternativa ao armazenamento em bateria e não pode ser usado excepto em baixas percentagens no sistema de gás actual”, disse Howarth. “É muito mais barato, em vez disso, mudar para bombas de calor accionadas electricamente para aquecimento”, sugeriu. Outros críticos dizem que os problemas com o hidrogénio são mais profundos. Isto é, o processo de produzi-lo, comprimi-lo e depois transformá-lo em electricidade ou energia mecânica é grosseiramente ineficiente, de acordo com Paul Martin, especialista em dewww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

senvolvimento de processos químicos e membro da Hydrogen Science Coalition. “Vale a pena enfrentar muitos problemas com a bateria porque para cada joule que for colocado, recebe-se 90% dele de volta. Isso é muito bom”, defende Martin. Ao produzir e armazenar hidrogénio, obtém-se apenas 37% da energia de volta e perde-se 63%. “As pessoas que realmente estão por detrás desse impulso do hidrogénio são a indústria de combustíveis fósseis, porque, sem ela, o que eles farão? A indús-

tria de combustíveis fósseis sem combustíveis fósseis é basicamente o negócio de produtos químicos e materiais de petróleo, que representa cerca de 25% do negócio actual”, constatou. Ainda assim, Martin acredita que a busca pelo hidrogénio verde é importante para outros usos, como processos industriais e o processo Haber-Bosch, que converte hidrogénio e nitrogénio em amônio para uso em fertilizantes. O processo Haber-Bosch tem o crédito de aumentar maciçamente a produção de alimentos e ajudar a alimentar a explosão demográfica no mundo nos últimos 100 anos. “Não quero que as pessoas pensem que sou anti-hidrogénio. Acho que fazer hidrogénio verde é muito importante, mas também é muito importante usá-lo para as coisas certas e não erradas”, concluiu.

17


EXPLICADOR

Cánada 15.2 Arábia Saudita 14.5

Líderes nas Emissões Per Capita de CO2

Aust rália Rus sia 1 e No va Z 1.4 elân dia 1 Cor 3.6 e i Caz a do Tai Sul wanaquis 11.3 t ã 10. 8 o e Tu rqu em eni stã o1 1.2

Países em desenvolvimento como a China, Índia e Rússia são alguns dos maiores produtores de CO2 a nível mundial e sê-lo-ão durante mais algum tempo. Mas a situação está longe de ser simples - e olhar para as emissões de CO2 per capita pode acrescentar nuances à história geral. Com base nos dados apresentados pelo Grupo Aqal e pela AIE, visualizamos os países e regiões com as mais elevadas emissões de carbono per capita de todo o mundo. Vamos mergulhar nos emissores de carbono per capita mais elevados e na forma como estes estão a tentar reduzir as suas contribuições de carbono. Os países produtores de petróleo no Médio Oriente são os maiores emissores de CO2 numa base per capita, mas países desenvolvidos como os EUA, Austrália, Nova Zelândia e Canadá também têm algumas das taxas mais elevadas de emissões per capita. África, já o sabíamos, é o continente com menores emissões no mundo.

Médio Oriente A 19.5

As Emissões Globais Per Capita de CO2

U.S. 14

Jap ão Al 8.4 Ás ema nh Po ia Áf lón A ·7 a 7. 8 ric ia .6 a d 7.5 oS ul 7.4

.4

A emissão massiva de emissões de CO2, nomeadamente através da queima de gás fizeram com que países como o Barein, Oman, Quait, Catar e Emirados Árabes Unidos tivessem um elevado índice per capita de emissões de CO2 mesmo apesar da sua baixa população

Se olharmos à intensidade das emissões medida a partir do PIB, a Mongólia terá a mais elevada taxa de emissões per capita até 2030 seguida do Brunei e da Malásia.

Regiões Europa e Rússia

rre

sp

África e Médio Oriente

co

Ásia e Oceânia

Em

Américas

on

*4 Ásia B

Ín1d.7ia

ÉR AM 2.1

b te ien

Or

China, Hong Kong

S.

io

*5 China

Ás 1.1 ia

Irão 7.0 Outros países da Europa da OCDE 6.1 Itália 5.1 Reino Un ido 5.1 Espan Turqu ha 4.9 i Ucrân a 4.4 ia Ucrâ Outr nia 3.8 a Eu ropa T nãoIr ailând OCD Mé aque ia 3.6 E, Eu 3 x . i rásia 5 Ind co 3 3.7 .3 on ési a2 .2

d Mé.9 1

Ásia sem Ásia A, China, Índia, Tailândia, Taiwan, Indonésia, Coreia do Sul ou Japão

IC

Brunel, Malásia, Mongólia, Singapura

A

*3 Ásia A

çã o

Israel, Jordânia, Líbano, Síria, Iémen

ica Áfr

*2 Médio Oriente B

ula

Barém, Omã, Kuwait, Qatar, Emiratos Árabes Unidos

pop

*1 Médio Oriente A

ia a

A desigualdade na distribuição de riqueza tem um papel fulcral nas emissões de CO2. Países desenvolvidos como o Catar emitem 31 toneladas de CO2 anualmente enquanto países em desenvolvimento em África têm valores tão baixos como 0,7 t/ano

nc

* ina C h 7 .1

População

FONTE Visual Capitalist

18

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


OPINIÃO

Pense Antes de Clicar

D Mónica Souto • Directora de Risco do FNBM

Olhando para África, os níveis de ocorrência de fraude crescem exponencialmente, considerando o volume significativo de incidentes relacionados com roubo de identidade por engenharia social, o que se deve essencialmente aos níveis reduzidos de alfabetização ...

izem que a única constante é a mudança, e o panorama de episódios de fraude prova-o quase todos os dias. O jogo do gato e do rato entre criminosos e bancos é algo recorrente. As equipas de Risco e Fraude fazem um esforço contínuo no sentido de adaptar as tecnologias de prevenção à fraude e, em pouco tempo, os autores das fraudes desenvolvem formas mais arrojadas de as contornar e levar a cabo os seus esquemas. A fraude está cada vez mais direcionada e orientada para o contexto digital. Sendo o continente africano um dos mais afectados esta é, sem dúvida, uma preocupação global crescente. Segundo o Inquérito Global Economic Crime and Fraud Survey (edição de 2020 ) conduzido pela PricewaterhouseCoopers (PwC), no qual foram inquiridos cerca de 5000 líderes empresariais de 99 países diferentes, uma em cada duas empresas (47%) viu-se exposta a eventos fraudulentos e a episódios de crime financeiro nos últimos dois anos. Trata-se do segundo maior pico dos últimos 20 anos – tendo o mais grave ocorrido em 2018, quando 49% dos inquiridos reportou a mesma ocorrência. O estudo demonstra, ainda, que a criminalidade financeira tende a tornar-se cada vez mais generalizada, com os crimes cibernéticos e a fraude consideradas as duas formas mais destrutivas e perturbadoras de criminalidade financeira, a nível mundial. Em 2020, 35% dos inquiridos afirmou ter presenciado um aumento dos casos de fraude reportada por clientes, o que representa um aumento de 6 pontos percentuais (contra 29% em 2018). Actualmente, um dos maiores riscos enfrentado pelos consumidores é a fraude conhecida como “Cartão Não Presente” ou fraude nas transacções online, através da qual os fraudadores acedem de forma ilegal à informação dos cartões de pagamento dos clientes, roubando dados bancários de websites de compras online, onde os dados de milhares de cartões encontram-se armazenados. A adopção do sistema EMV veio reforçar o nível de segurança dos cartões nos pontos de venda, mas em contrapartida, tornou as transacções de cartões “não presentes” ainda mais frequentes. O resultado? Os níveis fraude online dispararam. Na prática funciona da seguinte forma: depois de se autenticarem e acederem a informa-

ção confidencial, os fraudadores compram grandes quantidades de mercadorias a outros comerciantes, também eles autores de esquemas fraudulentos, defraudando os clientes em valores exorbitantes. Mas se pensarmos que o risco de fraude ameaça apenas clientes particulares, estamos enganados. Temos testemunhado um crescimento acentuado na ocorrência de fraude no meio empresarial, sendo o BEC (Business Email Compromise) o tipo de fraude actualmente praticado de forma mais significativa, esta técnica debruça-se sobre a correspondência entre as empresas e os seus clientes: os e-mails dos clientes são interceptados por fraudadores que se fazem passar por funcionários da empresa em questão e efectuam comunicações subsequentes no sentido de levarem clientes insuspeitos a transferir valores para as contas bancárias indicadas pelo fraudador. Olhando para África, os níveis de ocorrência de fraude crescem exponencialmente, considerando o volume significativo de incidentes relacionados com roubo de identidade por engenharia social, o que se deve essencialmente aos níveis reduzidos de alfabetização da base de consumidores, que não vê qualquer risco em solicitar ajuda a estranhos em operações de ATM, por exemplo. Esta tendência agravou-se com a pandemia, durante a qual assistimos a um aumento sem precedentes das compras online e, a partir daí, a um crescimento dos incidentes de fraude relacionados com esta forma de compras. No caso do FNB Moçambique, como em outros bancos, têm sido realizadas campanhas de sensibilização, alertando os clientes para os riscos que podem enfrentar se as suas credenciais forem comprometidas, ou pedindo ajuda a estranhos quando recorrem às ATM para realizar as suas transacções. Também sensibilizámos os nossos Clientes sobre as precauções a tomar ao abrir e-mails de fontes desconhecidas e/ou com anexos e implementámos recentemente o passo adicional de segurança 3D Secure em todos os cartões de débito e crédito FNB, como um passo adicional de segurança em compras online, por forma a assegurar um nível de defesa reforçado contra a utilização fraudulenta dos cartões de pagamento. Para ler a opinião completo clique no link: https ://www.diarioeconomico. co.mz/2022/01/12/opiniao/pense-antes-de-clicar/


ranking

URANUS

Radioactivo Quanto o Urânio ou Útil Como a Luz? O processo de transição energética é já o grande foco dos empreendedores do futuro. em Moçambique, o número de empresas que vão acelerar o acesso ás novas fontes multiplica-se, e hoje a E&M vai contar a história da da Uranus Solar que acaba de nascer, mas já quer se tornar adulta TEXTO Hermegildo Langa • FOTOGRAFIA Mariano Silva

U

ma observação atenta ao ambiente global actual, associada ao vasto conhecimento sobre acessibilidade de energia no País, inspirou a criação da Uranus Solar, cujo foco é prover serviços que outras empresas do ramo já fornecem, porém, com “retoques” de inovação. Ainda bebé de apenas dois meses, a empresa já sonha como um adulto. Das suas ambições o destaque vai para o alargamento da sua carteira de clientes, mas também tornar-se numa das grandes empresas provedoras de energias renováveis no mercado moçambicano. Segundo o respectivo director executivo, Sérgio João, a Uranus Solar é uma empresa formada com capitais

20

próprios, que se dedica à instalação e comercialização de produtos solares. É constituída por três sócios, todos moçambicanos. “A ideia da criação da Uranus Solar surge como resultado do conhecimento que os sócios têm em relação àquilo que é a realidade da acessibilidade de energia em Moçambique. Mas também pelo conhecimento que os sócios da empresa têm quanto às energias renováveis”, revela Sérgio João, que diz ter realizado vários trabalhos de consultoria ligados às áreas de energia e ambiente para empresas internacionais, o que lhe permitiu aprimorar o know-how nesta actividade. Para o gestor, a ideia da criação da Uranus Solar é tentar reduzir, através

do uso das energias limpas, o impacto das mudanças climáticas providenciando mais fontes para as comunidades, independentemente da sua condição financeira. Mas também “pensamos que, ao criar uma empresa como a Uranus Solar, podemos dar oportunidade de emprego aos jovens ou mesmo potenciar as suas capacidades de gerar o auto-emprego”. O empreendimento, que arrancou com um investimento de 500 mil dólares, só tem dois meses, mas já conta com uma carteira de 400 clientes activos, facto que é visto pelos responsáveis como extraordinário, principalmente por começar actividades em pleno ambiente conturbado devido a uma combinação de factores negativos, cujo exwww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


POWERED BY

B

EMPRESA Uranus Solar DIRECTOR EXECUTIVO Sérgio João FUNDAÇÃO 2021 TRABALHADORES 45 INVESTIMENTO 500 mil dólares CARTEIRA DE CLIENTES 400

poente máximo é o covid-19. Apesar disso, os responsáveis da Uranus Solar acreditam que estão em altura de ajudar a melhorar o acesso a energia, que agora está situado em menos de 40%. “Sentimos que podemos dar o nosso contributo para reduzir o sofrimento dos moçambicanos, sobretudo os que vivem nas zonas rurais sem acesso à rede eléctrica tradicional”, sublinha Sérgio João. Na verdade, embora as renováveis sejam uma novidade no mercado moçambicano, já existem várias empresas a operar no ramo providenciando os mesmos serviços. Ainda assim, os gestores não temem a concorrência por considerarem haver uma pequena diferença entre os seus serviços e os dos demais. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

“Primeiro, os kits da Uranus Solar possuem uma bateria de alta qualidade e duradoura, que consegue providenciar energia durante 24 horas e tem uma capacidade de se acrescentar a quantidade das lâmpadas assim como pode-se ligar uma televisão, rádio e carregar telemóveis”, explica e continua: “o segundo aspecto é o preço que oferecemos ao cliente e as modalidades de pagamento. Olhamos para os nossos produtos como uma solução ideal para aquilo que o mercado precisa tendo em conta a situação económica do país”. Neste momento, a empresa conta apenas com uma delegação na província de Inhambane e tem no mercado três tipos de kits: o básico contendo três lâmpadas, o intermédio com

quatro lâmpadas, e o maior com capacidade de acrescentar mais lâmpadas e contém uma televisão de 32 polegadas. Quanto às facilidades de aquisição, no pacote básico, um kit exige depósito de 550 meticais e uma mensalidade de 350 meticais durante 30 meses. no Intermédio, o depósito é de 650 meticais e uma mensalidade de 550 meticais. E no maior a entrada é de 3500 meticais e uma mensalidade de dois mil meticais. Contando actualmente com 45 trabalhadores, a empresa considera que o grande desafio tem que ver com o acesso ao capital, embora isso não desmotive a sua ambição que, como é já sabido, é crescer a curto prazo e expandir os seus serviços para todas províncias do país.

21


PANORAMA POWERED BY

Solar

Projecto “Ilumina Saúde” electrifica centros de saúde do Norte O Fundo Nacional de Energia (FUNAE) e o Grupo João Ferreira dos Santos (JFS) lançaram, em Cuamba, província de Niassa, o projecto “Ilumina Saúde”, uma iniciativa que visa electrificar sedes de dois Postos Administrativos daquela província e dez centros de saúde nessa e na província vizinha de Nampula. O “Ilumina Saúde”, cujo Memorando de Entendimento fora rubricado pelo PCA do FUNAE, António Saíde, e pelo administrador delegado da empresa algodoeira do Grupo JFS, Manuel Del-

gado, vai beneficiar mais de 2000 famílias. “O objectivo é melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento comunitário rural integrado do país,” lê-se no comunicado enviado à E&M. Orçado em cerca de 116 milhões de meticais, o projecto insere-se na iniciativa do Governo de Moçambique para o Quinquénio 2020-2024, que visa electrificar todas as sedes dos Postos Administrativos, e ainda no Programa Nacional de Saúde, enquadrado nas directivas das Nações Unidas.

Investimento

Italiana Renco expande actividades para a área das centrais eléctricas

Energia

Primeira central de produção e armazenamento de energia solar no País custa 19 milhões USD O Fundo de Infra-estruturas da África Emergente (EAIF) actuará como mutuante único e avançará com 19 milhões de dólares para o projecto da Central Eléctrica de Tetereane SA (CET) e para a construção da fábrica de Cuamba, uma central eléctrica solar de 19MW que será construída na província do Niassa, no Norte de Moçambique, e que, desde o passado dia 20 de Dezembro, tem o financiamento concluído. O projecto tem como objectivo o fornecimento de energia limpa a milhares de beneficiários de uma região, em que a abrangência da rede energética é limitada. A unidade de produção de Cuamba é o primeiro projecto solar à escala de utilização em Moçambique a incluir o armazenamento de baterias. De acordo com informações fornecidas pela EAIF, a unidade fornecerá até 7 megawatts/hora de energia e terá como objectivo aumentar o rendimento solar durante o pico de procura nocturno, o que irá contribuir para a estabilidade da rede e com um ganho extra: emissões zero.

22

A empresa de engenharia italiana Renco, que estava envolvida na construção da base TotalEnergies em Afungi, abriu, recentemente, uma nova filial, a Renco Moz Green, centrada na construção de centrais eléctricas. Estabelecida em Pemba, província de Cabo Delgado, a Renco Moz Green aposta nos planos da administração do Presidente da República, Filipe Nyusi, de electrificar a região para impul-

sionar o seu desenvolvimento, que foi prejudicado pela insurreição de 2017. A empresa espera imitar o empresário Dusan Misic, que anunciou planos para quadruplicar a capacidade da central solar de Mecufi (20 MW), mesmo antes de ter sido construída. Para além de as construir, a Renco espera operar as suas próprias centrais eléctricas, acrescentando mais uma corda ao seu arco. A empresa italiana, que também está presente em vários países africanos como a Tanzânia e a RDC, gere também o terminal a granel de Pemba, bem como uma carteira imobiliária. A Renco fornece a segurança dos seus bens através de uma empresa irmã, a Italsec, que é dirigida a partir da Itália por um antigo membro da força policial italiana, o Coronel Marco Filoni.

Conferência

ANJE lança conferência de energias renováveis “Morenergy” A Mozambique Renewable Energy – Conferência & Expo ou simplesmente “Morenergy”, é uma iniciativa da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e parceiros que pretendem que este venha a ser um evento de nível internacional, realizado anualmente. A primeira edição realizar-se-á em Maputo, entre os dias 22 e 24 de Março de 2022, sob o lema “Mais Energia Limpa para o Desenvolvimento Sustentável”. Moçambique tem um enorme potencial para energias renováveis. Foi

por isso que a ANJE e os seus parceiros realizaram, em Maputo, o lançamento da Mozambique Renewable Energy (MORENERGY). O evento surge com o intuito de dar mais ímpeto ao sector das energias renováveis em Moçambique, considerado como um dos eixos estratégicos para a construção de “um sector energético dinâmico, competitivo, inovador e sustentável, com prosperidade partilhada por todos”, e para o “desenvolvimento com forte efeito multiplicador na economia nacional”, refere a oraganização. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

23


BAZARKETING

De Triste Para Content

C Thiago Fonseca • Sócio e Director de Criação da Agência GOLO PCA Grupo LOCAL de Comunicação SGPS, Lda.

Hoje procuramse ideias inovadoras para a experiência com as marcas. Entretenimento é a chave. Mas entretenimento baseado e definido como um meio de conteúdos que é apoiado por uma marca e é parte integrante da sua estratégia

24

ontent é a palavra em inglês que significa “conteúdo”. É o que o que as pessoas consomem nos meios de comunicação, na social media. O que o público procura é o conteúdo. E os anunciantes respondem que sim, mas contudo… Contudo, os anunciantes ainda não mudaram a estratégia para esta realidade. Na maior parte dos casos os anunciantes querem uma estratégia de comunicação integrada, procuram campanhas completas. Com TV, Social media, rádio, digital, imprensa, billboards, ponto de venda, PR, eventos, etc. Só que essas estratégias são abrangentes mas já não são completas. Porque os budgets de marketing são tratados de uma forma dividida. Uma estratégia de conteúdos não é uma campanha. E ao proceder assim é a marca que fica dividida. O pior de tudo é que a opinião dos consumidores também se divide e já não sabe qual a marca que deve seguir e escolher. A sua ou a outra. A mesmice dá origem ao mesmarketing. As coisas mudam. E quem não muda deixa a sua marca muda. Não consegue comunicar, sobressair, chamar a atenção, e dilui-se numa selva de estratégias iguais. Replicar o que já fez ou reagir ao que o concorrente faz. A coisa que mais nos impede de evoluir na vida é termos uma ideia exacta de como algo deve ser feito. As ideias não são fixas. São feitas de um material muito especial. Permanentemente moldável. Ideias são como a água. Ajustam-se e adaptam-se ao caminho. Criam o seu próprio caminho. Por isso não páram. Seguem. E criam seguidores para as marcas. Talvez seja por isso que ficamos com a cabeça em água quando se trabalha em marketing e criatividade. Porque para mudar exige-se pensar e trabalhar muito para ter novas e boas ideias. E mais do que isso ter a coragem de aprovar caminhos nunca antes percorridos. O conteúdo é tudo. Todos os anos as Empresas traçam a estratégia de marketing para o ano intei-

ro. Muitas dessas empresas insistem em criar mensagens publicitárias baseados no racional. Produto. Promoções de preço. Foco nas vendas. Mas tudo o resto muda. O próprio ano muda. E já estamos em 2022. Quando se aproxima o final de mais um ano e o começo de um novo, a empresa faz o balanço dos resultados alcançados. Metas foram atingidas ou até ultrapassadas. Perto do final do ano faz-se um evento e a empresa celebra-se a si própria. É também nessa altura que a equipa de marketing prepara o plano para o ano seguinte. A estratégia. E, na maior parte dos casos o conteúdo do plano de marketing não tem conteúdo. De uma forma simplificada é assim: no próximo ano vamos investir uma parte em above-the-line, redes sociais, outra em promoções, merchandising, ponto de venda, vamos deixar uma verba reservada para eventuais patrocínios de conteúdos e não esquecer a parte de responsabilidade social. O “plano” de marketing é submetido e é aprovado um orçamento geral para o ano inteiro. Os anos mudam mas nem sempre as estratégias. No novo ano, a empresa anunciante na verdade fica à espera que surjam oportunidades de patrocínios de conteúdos de terceiros e vai recebendo inúmeras propostas por semana. O problema é que esses conteúdos não foram concebidos para a estratégia geral da marca. A coisa mais certa a fazer é olhar para o plano de marketing como um todo de uma forma integrada e transformá-la em conteúdo. Mais do que isso olharmos de outra forma para como investimos o budget de forma eficaz. Fazer uma reflexão com conteúdo. Deixe a sua marca content. A publicidade de hoje são conteúdos. Mesmo sendo um filme publicitário, um anúncio ou qualquer outra coisa, tem seguir a ideia do conteúdo. Entretenimento. Storytelling. Porque a publicidade deixou de se ser apenas a tradicional. Os conteúdos criados para marcas que criem interesse nos consumidores sem mostrar forçosamente as características ou benefícios dos produtos vão www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


ter mais resultado. Vão fidelizar o seu público-alvo. Vão ter mais seguidores. O product placement óbvio, forçado, já era. E pode criar rejeição. Como acontece no caso dos influencers. Mas isso é tema para o próximo artigo. Hoje procuram-se ideias inovadoras para a experiência com as marcas. Entretenimento é a chave. Mas entretenimento baseado e definido como um meio de conteúdos que é apoiado por uma marca e é parte integrante da sua estratégia. E entretenimento criado para marcas hoje já são filmes, curtas ou longas-metragens, documentários, programas para a televisão ou para o youtube, música, videoclips, jogos, ou centenas de trechos em videos no Tik Tok e muito mais. A publicidade já mudou. Conteúdos duram mais que campanhas tradicionais. Se forem bons, anos após a sua primeira veiculação continuam a ser vistos. Conteúdos são um bom investimento. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

Conteúdos locais mais ainda. Está na hora de acabar com os enlatados. Tudo o que é enlatado não é bom para a saúde. Mesmo quando se trata das marcas. Neste momento a Multichoice, apercebida dessa realidade lançou o canal local Maningue Magic. Com conteúdos moçambicanos. Novela, série, reality show. Tudo local. Porque as principais novelas no prime-time da TV em Moçambique são brasileiras, mexicanas, turcas retratam outras sociedades, outra realidade que não é a moçambicana. A resposta é simples. É que não é fácil produzir uma novela de qualidade. E fica mais difícil ainda enquanto a estratégia dos anunciantes dos produtores de conteúdos e dos meios não mudar. Mas quando isso acontecer, Moçambique perceberá melhor quem é. A identidade moçambicana será fortalecida com conteúdos locais. Porque nos dizem mais e é o que procuramos de facto.Tornam-se virais e partilham-se de forma grátis, sem necessidade do

investimento em compra de espaço nos meios da forma como sempre se fez. As agências e os criadores de conteúdo devem participar activamente e em parceria estreita com os anunciantes para definir como maximizar o seu investimento total em marketing. Conteúdos locais espelham a sociedade. E por isso atraem mais. As marcas de sucesso serão as que se anteciparem a perceber isto. E a nova agência de comunicação tem de ser uma Agência de conteúdos. E porque isso é óbvio temos de olhar de outra maneira para esta realidade. A pandemia Covid-19 transformou definitivamente como consumimos os conteúdos. As redes sociais desmascararam todas as fórmulas do marketing unilateral. Moçambique tem uma cultura rica e vasta. As marcas que se anteciparem vão ter outra embalagem. Porque a embalagem atrai, mas o que conta mesmo é o conteúdo.

25


NÚMEROS EM CONTA

Como Vai Ser 2022? Mesmo no melhor dos tempos, é da natureza humana querer descodificar o futuro. Em época de incertezas, porém, estamos todos ainda mais ansiosos por prever o que está por vir. Para satisfazer esta natural curiosidade, milhares de figuras de referência nas mais variadas áreas partilham publicamente as suas opiniões à medida que um ano se encerra e outro começa. Em retrospectiva, vemos diferentes níveis de sucesso na previsão do futuro. Na verdade, os especialistas estão apenas a adivinhar o que irá acontecer no próximo ano. Em 2020, quase ninguém tinha uma pandemia nas previsões. Em 2021, os NFT surgiram de rompante, escapando às previsões dos peritos, e ninguém viu

um navio porta-contentores alojar-se no Canal do Suez na sua bola de cristal. Então, por que razão devemos prestar atenção às previsões? Estarão, como diz Barry Ritholtz, “erradas, aleatórias ou piores”? Estas suposições são apoiadas por conhecimentos e experiência, pelo que a análise que as acompanha é informativa. Independentemente disso, seja para fins de investigação ou puro entretenimento, pensámos através de centenas de relatórios, entrevistas e artigos para ver quais as previsões mais consensuais. Onde é que os peritos vêem a bola a mover-se neste ano? Estas são as 25 principais.

Países ricos vão passar As Big Tech da pandemia vão tornar-se à fase ainda maiores endémica do Covid-19

Indústria da criação de conteúdos continuará a crescer

Comércio nas redes sociais vai aumentar

Recuperação económica global altamente desigual

Ramsomware continuará a crescer

Irá começar a surgir regulamentação para as criptomoedas

Crescimento das equities na Europa e Japão

Planos do Metaverso de Zuckerberg não vão ser facilmente bemsucedidos

Crescimento Alterações da influência Volatilidade climáticas vão dos factores vai aumentar tomar conta ambientais, da agenda sociais e de boa governança

A China enfrentará desafios no crescimento

Tendência onshore continua

A inflação vai ‘acalmar’

Constrangimen-

As taxas de juro vão aumentar

Vamos ouvir falar cada vez mais de NFT e de Web3

Criptoactivos tos na cadeia de 4-5% do vão continuar abastecimento crescimento global tendem a a crescer do PIB normalizar, (não as meme mundial embora coins) lentamente

Procura de veículos eléctricos vai aumentar

O real estate industrial vai continuar a valorizar

Ganhos modestos nas equities (crescimento a um dígito)

Políticas laborais continuarão a mudar

Aumento das tensões geopolíticas

Fonte Visual Capitalist;

26

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022



NAÇÃO | OUTLOOK 2022


O Que Vai Marcar 2022? Mais um ano começa e com ele novas páginas se vão abrir no percurso de um País cujas dificuldades são a marca mais predominante do que as oportunidades. Dos ataques armados à fome, passando pela fraca produtividade da economia, vulnerabilidade a choques externos, incidência do covid-19 até ao potencial que há na área do gás, a E&M procura o retrato do que poderá ser o ano que acaba... de começar. Para já vislumbrase uma luz para a recuperação e prosperidade, mas as lutas por travar não são de menosprezar Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R

29


NAÇÃO | OUTLOOK 2022

U

m respeitado economista levou apenas um minuto e meio para resumir os eventos que poderão marcar o País nos próximos 12 meses, em todas as esferas da vida da sociedade. Mas nem por isso será um trajecto simples, feito em linha recta. Dedicado a realizar estudos sobre as perspectivas de crescimento e desenvolvimento baseados na interpretação dos indicadores macroeconómicos, o economista, que prefere não ser citado por razões de ordem profissional, considera que os primeiros sinais de 2022 já mostraram a possibilidade de superação da crise que caracterizou os últimos três anos. Para o especialista, o primeiro aspecto é o facto de o ano arrancar com pespectivas de que a segurança irá melhorar, sobretudo com a renovação do mandato da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) na luta contra os insurgentes em Cabo Delgado. Em função do restabelecimento da segurança, prossegue, há também a possibilidade da retoma da Total ao seu projecto de gás na Bacia do Rovuma que, avaliado em 25 mil milhões de dólares, é o maior de África na área do Oil&Gas e terá impacto importante no crescimento económico. Ainda neste âmbito, o economista destaca a chegada da plataforma de liquefação do gás da ENI, no início deste ano, como um marco que abre perspectivas de bom desempenho da economia, já que se esperam as primeiras receitas para o Estado ainda em 2022. O economista também está optimista em relação ao desempenho da época agrícola, ainda que, neste início do ano haja alguma perda de culturas por excesso de chuvas em algumas zonas. “Se nós considerarmos esses elementos e uma melhoria nas relações externas na sequência de um possível programa com o FMI, isso traz boas perspectivas para este ano”, considera o economista. Mas também admite obstáculos. Ao falar dos riscos, relaciona-os com a segurança e a incerteza imposta pelas restrições que se mantêm por causa da pandemia e as mudanças climáticas que afectam o País de forma cíclica. Outra análise, feita pelo mais recente inquérito efectuado pelo Standard Bank, denominado Purchasing Managers Index, PMI – que se realiza em mais de 40 países, sendo dos mais consultados no mundo, escolhi-

30

dos pelos bancos centrais, mercados financeiros e decisores empresariais pela sua solidez – conclui que “de uma forma geral, as empresas permanecem confiantes de que irão conseguir expandir os seus negócios em 2022 através de mão-de-obra mais sólida, maior base de clientes e um alargamento do âmbito geográfico”. O Governo, por seu turno, acredita que depois de um crescimento do PIB em 1,5% no ano passado, em 2022 poderá crescer 2,9% justificado pela melhoria da implementação das medidas de prevenção e do controlo dos níveis de infecção pelo covid-19, influenciado pelo processo de imunização através da vacina. A projecção do Executivo é, de resto, a menos optimista do que a de outras entidades (ver gráfico), mas nem por isso menos animadora, a avaliar pela crise que o País tem experimentado nos últimos anos. Mas previsões são… previsões Nada é certo nesta altura. E nem todos os especialistas olham para o percur-

so da economia sob o mesmo ângulo. O bom desempenho dos indicadores macroeconómico, por exemplo, encontra forte oposição de alguns conhecedores da área. À E&M, a economista Estrela Charles considerou que o crescimento de 2,9%, apesar de ser superior à verificada no ano passado, representa uma meta ambiciosa se considerar o ambiente de pandemia que se vive. Porquê? Explica que é baseado numa expectativa muito grande em relação ao desempenho do sector extractivo, que deve crescer 4,1% depois de um crescimento acentuadamente negativo nos últimos dois anos. “É um crescimento que, tendo em conta os 16,8% negativos em 2020, acredito que não deveríamos ser muito optimistas quanto a este sector, mesmo porque estamos a verificar condições desfavoráveis que podem pôr em causa a meta estabelecida, como a redução do uso dos combustíveis fósseis e o risco de os trabalhos na Bacia do Rovuma não avançarem devido a questões www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


Prevalecem dúvidas sobre a dinâmica da actividade económica em 2022, embora haja sinais de que, finalmente, o País vá entrar na rampa da retoma, principalmente devido à vacinação de segurança”, explicou. Roque Magaia, economista da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), acrescentou, a esta análise, o que vê como uma espécie de desfasamento entre o crescimento previsto e a melhoria do ambiente para uma actuação favorável por parte do sector privado. Ou seja, apesar de entender que a projecção de crescimento em 2,9% possa ser aceitável tendo em conta que a economia está a recuperar, levanta uma preocupação para o sector privado: é que na projecção de crescimento do PIB não está reflectida a saúde da actividade do empresariado, que é o mais importante motor do desenvolvimento. Como? Roque Magaia esclarece que o desalinhamento começa no facto de o PIB ser maioritariamente determinado pela agricultura em cerca de 25%, sendo que grande parte é constituída pela agricultura familiar. Um bom exemplo desta contradição é a conclusão de que a agricultura foi a actividade mais www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

resistente aos efeitos da pandemia do novo coronavírus (já que, por ser predominantemente familiar, não está muito exposta aos riscos do mercado), numa altura em que o sector privado experimentou picos históricos de crise ocasionados pelo mesmo fenómeno. “Este desalinhamento preocupa o empresariado quando se trata de estimativas de crescimento do PIB, por isso, para a nossa planificação enquanto empresas, estas previsões são depois deduzidas para reflectir a contradição”, explicou o economista, para quem o sector privado não consegue se rever nos indicadores do Governo e mantém dúvidas sobre o seu desempenho em 2022. A possibilidade de tudo falhar' A economista Estrela Charles também olha para cada um dos principais indicadores macroeconómicos e produz alertas que considera oportunos. No que diz respeito à inflação, a especialista refere haver, também, sinais de algum optimismo. É que, segundo ela,

a previsão de uma taxa média de 5,3% em 2022, apesar de continuar a ser de um dígito tal como nos últimos quatro anos, não leva em consideração os riscos prevalecentes. “temos de ter em conta o ambiente actual, marcado pela subida do preço dos combustíveis em cerca de 12% em Outubro de 2021 e, sabendo que a subida do preço dos combustíveis provoca uma subida de preços em cadeia – que começa pelos transportes e se alastra para outros bens e serviços – é de esperar que a inflação seja maior este ano”, alerta a economista. Além disso, prosseguiu, existe o risco de ocorrência de inflação importada, que resulta do facto de o país ser altamente dependente de importações, sendo por isso vulnerável a subidas de preços determinadas pelas condições cambiais e/ou dos mercados de origem das importações. “É necessário que o Governo tenha cuidado ao definir esta meta”, aconselha. Quanto às taxas de câmbio, é também “ambiciosa” a meta de 66 meticais por unidade do dólar, estabelecida para 2022, já que as oscilações cambiais são, em grande medida, determinadas por factores externos que estão fora do controlo das autoridades moçambicanas. Estrela Cahrles lembra, inclusive, que em poucos meses, o dólar chegou a apresentar variações que saíram de quase 80 meticais para menos de 60 meticais, tendo voltado a subir para a casa dos 75 meticais e depois descido para valores entre 60 e 65 meticais. “É necessário que o Governo tenha capacidade de analisar e implementar medidas que evitem grandes oscilações cambiais, já que isso desestabiliza o comércio externo face à imprevisibilidade das taxas de câmbio, e tendo em conta que Moçambique é vulnerável a choques externos”, avisa a pesquisadora. O primeiro gás… os primeiros petrodólares As grandes expectativas de desenvolvimento do País estão em torno da exploração do gás, cujo início da sua exploração, pelo elevado grau de complexidade desta indústria, foi sendo adiado desde 2018. Finalmente, a chegada, logo no início deste ano, da plataforma flutuante de liquefação do gás da ENI a Moçambique, marca o início da realização de um sonho. Efectivamente, o primeiro gás deverá sair dos seis poços perfurados pela SAIPEM logo no início do segundo semestre de 2022, embora a ENI

31


NAÇÃO | OUTLOOK 2022

GOVERNO MENOS OPTIMISTA Todas as projecções apontam que este é o ano da retoma. Mas o Governo é o que menos acredita num avanço substancial

RESERVAS NO NÍVEL SATISFATÓRIO Moçambique deve conservar a disponibilidade de reservas internacionais que assegurem seis meses de importação

Taxa de crescimento do PIB em %

Em mil milhões USD

FMI 5,3

Banco Mundial 4,5

BAD 4,2

EIU

3,6

2020 2021

4 3,7

2022

4

Governo 2,9

EXPORTAÇÕES VÃO CRESCER

O ANO DA CONSOLIDAÇÃO O Executivo acredita que o pior já passou e projecta o segundo ano consecutivo de crescimento positivo, graças à vacinação

3,6

2021

2020

974,6

-1,3*

2022

Em mil milhões USD

2020

PIB em mil milhões de meticais

2021

O salto será de pouco mais de mil milhões de dólares, graças, obviamente, aos grandes projectos, que representarão 979 milhões

5,2

2022

1037,6

1,5*

1126 2,9* * Taxa de crescimento (%)

INFLAÇÃO A UM DÍGITO O nível geral de preços é o indicador cujo Banco Central controla, mas os economistas acreditam que possa sair do controlo Em mil milhões USD

2020

4,2

BOOM NAS IMPORTAÇÕES O aumento será muito acentuado também devido aos grandes projectos, principalmente o Coral Sul FLNG Em mil milhões USD

2020 2021

3,1

5,9 6,2 10,3

2022

2021

5

2022

5,3

DÓLAR ESTABILIZA NOS 66 MT Será o fim das oscilações que criaram nervosismo nos últimos três anos?

MENOS INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO A queda do IDE em 2022 é explicada, em grande parte, pela alteração do anterior curso de parte dos projectos no norte País (o Governo não especifica) Em mil milhões USD

Cotação Mt/USD

2020

2,3

74,5

2020

2021 2021

2022 2022

32

3,7

68 66

3,2 FONTE: PESOE 2022

acredite que possa ser mais cedo. Mas não será só o início da exploração e venda (que será feita em exclusivo à petrolífera BP durante 20 anos, com a possibilidade da extensão do contrato por mais de 10 anos) que deve acontecer a partir deste ano. Os benefícios para o Estado também começarão a fazer-se sentir já. As previsões do Ministério da Economia e Finanças apontam para ganhos ao Estado, em 2022, de 34,5 milhões de dólares, uma receita que irá aumentar à medida que o consórcio for recuperando os investimentos feitos no projecto. Em anos de produção estável, estimam-se receitas de cerca de 110 milhões de dólares. Entretanto, este movimento já começou a testar, na prática, a preparação do País para um melhor aproveitamento das oportunidades, www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


O primeiro gás deverá sair dos seis poços perfurados pela SAIPEM logo no início do segundo semestre de 2022 embora a italiana ENI acredite que possa ser mais cedo tema até aqui levantado de ponto de vista meramente teórico. É que a chegada da plataforma da ENI inspirou os empresários a reclamarem, uma vez mais, a abertura do espaço legal, através da Lei de Conteúdo Local, há muito ensaiada, mas que ainda não foi aprovada. Entendem que, sem isso, aqueles projectos “vão beneficiar apenas o grande capital e pessoas ligadas ao poder político e não a maioria dos moçambicanos”, segundo a Associação das pequenas e Médias www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

Empresas de Moçambique (APME). À APME junta-se a CTA, que através do seu director executivo, Eduardo Sengo, esclareceu que os empresários reclamam porque a divulgação da informação sobre os projectos de petróleo e gás não tem sido de forma muito ampla. Para o director do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, a falta desta Lei configura uma oportunidade para que indivíduos ligados ao poder

político se beneficiem dos recursos energéticos, em concertação com as multinacionais. Em fim, com toda esta pressão, será de esperar que em 2022 o Governo acelere a provação da respectiva Lei, cuja proposta define a participação de pelo menos 10% em actividades dos projectos da indústria extractiva através da prestação de serviços. Por outro lado, e como é já sabido, o projecto da Total, interrompido em 2021 na sequência dos ataques de insurgentes próximo ao seu campo de operações, poderá retomar, desde que restabelecida a tranquilidade no Norte. E os sinais disso já se fazem sentir, embora prevaleçam algumas dúvidas sobre o evoluir da situação. Resta, agora, que as autoridades tomem as devidas precauções para que a exploração do gás se traduza, de

33


facto, em riqueza para o País, numa altura em que o carvão começa a “apagar-se”, face à saída da Vale e ao processo de transição energética que o coloca de lado nas prioridades de desenvolvimento em todo o mundo. O fim dos ataques? Em 2017, Moçambique, mais concretamente o norte de Cabo Delgado, entrou para a lista dos alvos de ataques dos terroristas, uma situação que põe em causa os investimentos no gás na Bacia do Rovuma (lembre-se que a Total, por exemplo, teve de suspender operações para as retomar assim que a segurança for restabelecida). Perante o recrudescer da instabilidade, o País teve de pedir apoio às tropas regionais da SADC e do Ruanda, que a partir do segundo semestre

34

do ano passado conseguiram avanços significativos no terreno. Mas, qual será o panorama em 2022? A E&M ouviu João Feijó, economista e pesquisador do Observatório do Meio Rural – OMR, uma instituição de investigação para o desenvolvimento agrário – e que nos últimos tempos dedica-se a estudar o evoluir da situação em Cabo Delgado. O especialista conforma que, a entrada dos ruandeses marcou uma nova etapa no conflito, permitindo a recuperação da confiança e o sentimento de segurança. Mas entende que o que vai acontecer em 2022 depende do acordo que foi agora assinado com o Ruanda (que prevê a possibilidade do prolongamento da cooperação militar) e que não se sabe muito bem o seu teor. “Quando as coisas não se sabem mui-

to bem suscitam desconfianças e pode ser que haja coisas sinistras, porque quando não se fala, especula-se”, justifica o pesquisador. Assim, João Feijó vê um 2022 em que “não se vai perceber muito bem se ainda estamos numa fase de emergência humanitária ou de estabilização, porque muitas pessoas que tentaram regressar aos seus locais de origem depararam-se com novos ataques. Isto é, não se sabe se o regresso das pessoas pode ou não realimentar novos ataques dos insurgentes”, constatou. Segundo João Feijó, isto decorre do facto de não haver alternativa de informação que não seja a oficial. Ou seja, não se sabe ao certo até que ponto os insurgentes estão equipados e como são abastecidos em meios (incluindo armamentos). Tudo o que se informa www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


Na cimeira da SADC, realizada no Maláui, as forças especiais davam conta da insuficiência de meios, incluindo infantaria, para prorrogar a presença das forças estrangeiras no País aos moçambicanos e ao mundo é que as forças conjuntas estão a registar sucesso com o abate de terroristas em certas incursões, “e isso é insuficiente para se ter certezas sobre a retoma à normalidade”. Ao nível da economia há também questões muito sensíveis. Na óptica de João Feijó, o Governo acredita que se possa retomar a estabilidade que havia em 2016, com o regresso de grandes investimentos, o retorno da Total e da www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

vida normal das comunidades e da actividade económica. “Mas é possível que as coisas não ocorram desta forma”, defende. É que olhando para a destruição nos locais de conflito, questiona-se, por exemplo, quem tem capital e coragem para investir em infra-estrutura turística? “Se antes a população local era desfavorecida e sem capacidade de concorrência, hoje está muito mais descapitalizada. A probabilidade é que no final deste ano, admitindo que a To-

tal retome o projecto, vai se consolidar uma espécie de duas economias que não se comunicam entre si, em que uma é a uma economia formal que anda à volta da exploração do gás, e outra será uma economia local informal marginalizada”. O especialista avisa que este fenómeno propicia o ambiente de rebelião baseada em pequenos roubos, motins e uma desordem resultante da manifestação do descontentamento generalizado. E a expansão para o Niassa? Entretanto, o avanço das forças de defesa e segurança expandiu a presença dos terroristas para outras regiões de Cabo Delgado e para o Niassa. Para o especialista do OMR, há muito que se desconfiava que isso pudesse acontecer, visto que o Niassa, sobretudo o

35


O FMI já manifestou a intenção de retomar o apoio financeiro a Moçambique, que tinha sido suspenso em 2016. Equipa daquela instituição deve desloca-se ao País em finais de Janeiro norte da província, é uma zona perto da fronteira que, com muita mata densa, permite a camuflagem dos insurgentes. João Feijó lembra ainda que nas regiões de Mavago e Mecula, onde se pratica o garimpo, há probabilidades de ataques e captura de pessoas, já que muitos insurgentes são também originários daquela zona, que tem abertura para o Malawi e um corredor para a República Democrática do Congo. Para já, as últimas informações sobre o esforço para restabelecer o controlo de Cabo Delgado dão a entender que 2022 vai ser um ano de grandes desafios. Na mais recente cimeira extraordinária da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral

36

(SADC), realizada no Maláui, representantes das forças especiais davam conta da insuficiência de meios, incluindo infantaria, para prorrogar a presença das forças estrangeiras em Moçambique por mais seis meses, conforme a recomendação ministros da SADC. Retorno do financiamento externo? O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Governo de Moçambique devem começar já a negociar um Programa de Financiamento Ampliado, que pode ajudar a aliviar pressões financeiras num contexto de recuperação económica, apoiar a agenda das autoridades na redução da pobreza e na restauração de um crescimento

equitativo e sustentável. Esta possibilidade é o abrir de uma nova página nas relações que terão sido manchadas pela descoberta das dívidas que não tinham sido declaradas e que acabaram por forçar a interrupção não só do FMI como de todos os outros parceiros que prestavam assistência ao Orçamento do Estado. Isso acontece numa altura em que a União Europeia também anunciou um Programa Estratégico para Moçambique 2021-2027, com um pacote financeiro para os primeiros anos no valor de 428 milhões de euros para o desenvolvimento. Chama-se Programa Indicativo Plurianual de Moçambique e está voltado para três áreas prioritárias: crescimento verde, desenvolvimento da juventude e governação, paz e sociedade justa. Há sinais de que, aos poucos, Moçambique volta a granjear simpatia dos doadores, e 2022 promete alguns avanços neste capítulo, embora o crescimento do endividamento público seja inevitável, segundo o FMI. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


37


OPINIÃO

Perspectivas Económicas Para 2022

O Hermano Juvane • Responsável pelo Sector de Oil & Gas do Absa Bank Moçambique

Apesar dos vários factores positivos destacados que irão melhorar a Balança de Pagamentos do País, as condições fiscais continuarão a ser o desafio. O programa do FMI foi outro factor que poderia trazer estabilidade económica...

38

Produto Interno Bruto (PIB) de Moçambique sofreu uma retracção de 1,3% em 2020 e crescimento de apenas 1,9% em 2021, principalmente devido à pandemia da COVID-19, mas também impulsionado pelas questões de segurança que afectaram a Província de Cabo Delgado, factores estes que contribuíram para o que veio a ser o desfecho de 2021. Para além das perturbações na cadeia de fornecimento global causadas pela pandemia da COVID-19, presenciamos o enfraquecimento do metical em relação ao dólar americano em 2020, assim como uma redução do volume de exportações das principais mercadorias, como o carvão, rubis, tabaco e açúcar. Deparamo-nos com uma economia de importação líquida, com o enfraquecimento do metical perante o dólar americano, que passou de uma paridade de 60-65 MZN/USD para mais de 70MZN/USD colocando a economia em risco de atingir níveis preocupantes de inflação. Enquanto a Reserva Federal dos EUA e a União Europeia aprovavam pacotes de incentivos de mil milhões e centenas de biliões de dólares americanos, respectivamente, para combater a recessão, o Banco de Moçambique decidiu aumentar a Taxa da Facilidade Permanente de Cedência (FPC) em 300bps em Janeiro de 2021, com o objectivo de minimizar a inflação. O facto foi que as taxas de inflação ano a ano e médias aumentaram para 5% e 5,3%, respectivamente, em 2021, comparativamente às taxas de 3,5% e 3,1% em 2020. Após o baixo crescimento do PIB em 2021, a economia deveria crescer a um ritmo realista de 3%, visto que se esperava que o projecto de LNG de Moçambique, liderado pela Total, continuasse como planeado. O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), tinham ambos a convicção que o PIB do País cresceria 2,3% e 2,2%, respectivamente, considerando pressupostos semelhantes. Esperava-se que este projecto aumentasse os níveis de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) de Moçambique entre 5 a 8 mil milhões de USD até 2022, depois de oscilar entre 2 a 3 mil milhões de USD entre 2016 e 2018. Tudo isto tornou-se questionável quando

colocada em causa a segurança da Secção 2 em Palma entre finais de Dezembro de 2020 e princípios de Janeiro de 2021, e eventualmente forçaram a declaração de Força Maior do projecto a 26 de Abril de 2021. Milhares de empregos foram perdidos ao longo da cadeia de valor do projecto, com alguns empreiteiros a decidirem descontinuar e até vender os seus negócios. A continuidade do projecto de LNG de Moçambique, em determinada altura, tornou-se questionável, sendo que o melhor cenário possível apontava para um retoma das actividades no prazo de 12 meses. Ocorreram vários eventos que apontavam para um 2022 mais próspero. Em Maio de 2021, o Presidente da República de Moçambique anunciava a construção da Central Térmica de Temane, propriedade da Globeleq, no valor de mil milhões de dólares. O fecho financeiro teve lugar em Dezembro de 2021, com 652 milhões de USD de capital da dívida a ser garantido. Isto representará uma força motriz para o crescimento do IDE de Moçambique em 2022, e também deverá desencadear o investimento do projecto PSA Inhassoro da Sasol com um custo estimado de mais de 700 milhões de dólares. A engenharia e concepção front-end (FEED) para a Terminal de LNG da Matola de Beluluane, liderada pela Companhia de Gás de Beluluane, foi publicamente confirmada a sua conclusão e o início da produção, previsto para ocorrer em 2024. O que significa que o fecho financeiro do projecto está previsto para meados de 2022. Adicionalmente, a 6ª ronda de licenciamento foi anunciada pelo Instituto Nacional de Petróleo (INP), em Novembro de 2021, onde é expectável o licenciamento de 16 blocos adicionais de Petróleo e Gás até Agosto de 2022, os quais serão distribuídos pela Bacia do Rovuma, Angoche, Zambeze, Delta e Bacias Save. Com o acordo celebrado entre o Governo de Moçambique (GdM), o Ruanda e a SADC, bem como com o apoio à formação oferecida por Portugal e pela União Europeia para Cabo Delgado, o sentimento em relação à continuidade do projecto LNG de Moçambique melhorou consideravelmente ao longo do segundo semestre de 2021. A confirmação expressa por Patrick Pouyanné, CEO da Total Energies, de que o primeiro gás www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


O desempenho da economia moçambicana em 2022 será marcado pela exploração do gás natural

do projecto está previsto para 2026, dois anos antes da sua data original de 2024, veio reforçar os indícios de que o projecto de LNG de Moçambique será reiniciado durante 2022. Com a chegada do Navio FLNG Coral da ENI à costa moçambicana no início de Janeiro deste ano, e com a primeira produção agendada para o segundo semestre, tal como inicialmente previsto, a contribuição fiscal que acompanha a produção deste projecto traduzir-se-á em receitas anuais do Governo (ou seja, Imposto sobre as Sociedades, Royalties e Participação nos Lucros do Governo) de mais de mil milhões de dólares durante o seu pico. Os executivos do Grupo ExxonMobil reuniram-se com o GdM em Novembro de 2021, com o compromisso de utilizar a tecnologia de Captura de Carbono para o projecto Rovuma LNG reforçando, desta forma, o comprometimento de ambos com as preocupações climáticas globais. O projecto de exploração do Angoche A5A da ENI deverá ter lugar este ano, após a pandemia da COVID-19 ter perturbado o plano original, que estimava o início no segundo semestre de 2020. A embarcação Saipem 12000 encontra-se actualmente na África Ocidental com a previsão de regresso a Moçambique durante este ano, a fim de iniciar a sua actividade de perfuração em Angoche. A Buzi Hidrocarbonetos já deu início à segunda fase da perfuração na bacia de Moçambique. Porém, o sucesso desta fase significaria um eventual anúncio de Decisão de Investimento Financeiro (FID), que impulsionaria ainda mais o IDE e o crescimento económico. Ainda em 2021, a Vale anuncia a venda do seu activo multibilionário Moatize à Vulcan (Jindal Group) por 270 milhões de dólares, o que se enquadra na sua powww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

lítica Environmental, Social and Governance (ESG). O grupo mineiro brasileiro registou uma taxa de imparidade na ordem de 2 mil milhões de dólares proveniente desta venda de activos. Este activo continuará a ser uma importante fonte de moeda estrangeira para a economia, uma vez que as vendas de exportação em 2020 foram de 648 milhões de dólares, e atingiram 804 milhões de dólares em Setembro de 2021. A expectativa é que este activo continue a atrair moeda estrangeira para a economia, uma vez que a procura de carvão da Índia e da China continuará a ser elevada durante as próximas décadas, apesar da transição energética e das questões climáticas. A Tesla anunciou também o seu acordo de compra de grafite da Syrah Resources da Austrália, o que sinaliza tanto um crescimento potencial das receitas de exportação como a apetência do sector financeiro para apoiar o projecto. Apesar dos vários factores positivos destacados que irão melhorar a Balança de Pagamentos do País (BdP), as condições fiscais continuarão a ser o desafio. O programa do FMI foi outro factor que poderia trazer estabilidade económica e a sua discussão com o GdM está marcada para Janeiro de 2022, onde este último procura assegurar o financiamento. O GdM também pediu aos credores chineses que guardassem os seus 1,6 mil milhões de dólares para uma moratória de seis meses, o que lhes daria espaço para respirar. O Clube de Paris aprovou igualmente uma moratória de seis meses, que permitiu canalizar recursos para áreas prioritárias, tais como o programa de vacinação COVID-19 e questões de segurança alimentar para Cabo Delgado. Enquanto o mundo continua a combater a pandemia da COVID-19, Moçambique

apresenta uma vantagem sobre muitos países, pois, de uma população de cerca de 30,8 milhões de pessoas, apenas 30% estão baseadas em áreas urbanas, enquanto a restante reside em áreas rurais de baixa densidade. Entretanto, o Ministério da Saúde do País anunciou, no final de 2021, que mais de 8 milhões de pessoas, residentes nas zonas urbanas, iniciaram o programa de vacinação contra a COVID-19, das quais 5 milhões encontram-se já totalmente vacinadas. Desta forma poder-se-á assumir que estes 3 milhões de pessoas parcialmente vacinadas acabarão por o ser totalmente até meados de 2022, à medida que a hesitação diminui. Embora as variantes emergentes da COVID-19, como a Omicron, continuem a acrescentar complexidade à questão, o facto de ter 88% da população urbana totalmente imunizada deveria, em certa medida, posicionar o País para resistir a ondas futuras, o que se traduziria em menos restrições relacionadas com a COVID e, consequentemente, impulsionava o crescimento do PIB do País. Ou seja, para 2022 prevê-se o crescimento do PIB de Moçambique para cerca de 3,8%, uma vez que a economia continua a ser moldada pela produção de LNG. O ano de 2022 assistirá a uma recuperação de uma forte contracção, após vários anos de choques económicos. É pouco provável que o Banco de Moçambique alivie as políticas, uma vez que se espera que o mundo enfrente pressões inflacionistas resultantes das perturbações da cadeia de fornecimento causadas pela pandemia da COVID-19, onde os preços dos bens e serviços aumentaram nas principais economias, por sequência da escassez de produção e mão-de-obra. Uma economia importadora líquida como Moçambique continuará a enfrentar pressões inflacionistas. É provável que a inflação se situe em média em torno dos 4,3%, com um aumento de 4,8% de ano para ano. O crescimento do PIB poderá ajudar na redução da percentagem da dívida pública para cerca de 112,7%, partindo dos níveis de 2021 de 113,7%. O aumento da procura de importações desencadeado pelas importações de equipamento e maquinaria dos projectos de LNG e energia, bem como a pressão de pagamento da dívida pública, são susceptíveis de contribuir para uma possível depreciação da nossa moeda dos actuais 63.20MZN/USD para uma média de 67.65MZN/USD em 2022. Queremos, com este artigo, apresentar a narrativa por detrás das nossas perspectivas económicas para o ano de 2022.

39


NAÇÃO | OUTLOOK 2022

Orçamento de 2022. Querer Será, Necessariamente… Poder? Se antes da pandemia havia 30 milhões de ideias diferentes sobre como gastar o Orçamento do Estado, imagine agora! Com toda a incerteza trazida pelo covid-19, as opções multiplicaram-se levando ao aguçar das dúvidas sobre o País que teremos este ano Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R

S

e antes da pandemia havia 30 milhões de ideias diferentes sobre como gastar o Orçamento do Estado, imagine agora! Com toda a incerteza trazida pelo covid-19, as opções multiplicaram-se levando ao aguçar das dúvidas sobre o País que teremos este ano O Governo tem manifestado grande vontade de fazer caber todos os seus programas anuais dentro de um orçamento deficitário, num esforço que divide opiniões entre os diversos segmentos da sociedade. Agora, com a pandemia, a dificuldade de aglutinar as diferentes ideias sobre os eventos que devem caracterizar o percurso social e económico do País ficou ainda mais evidente. Sobre o que o Governo propõe fazer e o que efectivamente deveria fazer num contexto como o actual, especialistas reuniram-se, recentemente, para a “Análise da Proposta do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado – PESOE 2022”. Das discussões, contudo, vieram vários questionamentos. O primeiro faz menção a uma das acções de destaque: a que o Governo introduz a tributação de indivíduos de alto património líquido, que constitui um dado novo e que inclui uma série de programas como a formalização do sector informal. Trata-se de uma questão que, a concretizar-se, responderia à tão ansiada necessidade de alargar a base tributária. Mas ocorre que, sendo discutida há tanto tempo, pouco ou nada ainda foi feito, o que leva os especialistas (na sua maioria economistas e pesquisadores de instituições da sociedade civil) a questionarem

40

como tal ideia será materializada em 2022. Afinal, o próprio PESOE não se refere a quaisquer acções concretas a serem levadas a cabo para atingir este objectivo. Ou seja, não se sabe o que o Estado vai fazer para incentivar a criação de mais cooperativas, nem o que vai fazer para tributar pessoas de alto património líquido, pelo que era necessário perceber e alinhar todas estas acções com as actividades e dentro do orçamento previsto. Despesas públicas O PESOE 2022 prevê um total de mais de 450 mil milhões de meticais (40,1% do PIB), um aumento de 11% em relação ao nível de despesas previstas para 2021, que vai reflectir-se no crescimento do défice orçamental, apesar do aumento das receitas. A economista Estrela Charles considera que, quanto ao défice orçamental, há uma contradição em relação ao que consta no PESOE e no Cenário Fiscal de Médio Prazo 2022-2024 (um instrumento de planificação e orçamentação trienal, através do qual são organizadas as opções estratégicas do Executivo). Enquanto o primeiro indica um défice de 11,1%, o segundo apresenta um défice de 13,5%, o que, desde já, denuncia a necessidade de alinhar os dois documentos orientadores. A especialista também menciona o que considera ser “um problema constante”: as despesas de funcionamento absorvem grande parte das despesas públicas. Para 2022, as despesas de funcionamento devem situar-se em 63,2% em relação à despesa total, contra os 61% do ano passado, “mostrando que o País não está a investir em áreas produtivas”. Reconhecendo

que o próprio Ministério da Economia e Finanças tem conhecimento desta lacuna e garantindo que trabalha para mudar a situação, criticou o facto de esta questão não estar reflectida no documento. Défice e financiamento do orçamento Moisés Siúta, economista e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), questiona o critério que o Estado usou para definir as suas despesas de 2022, assumindo que as receitas não são definidas por si só, mas incluem um conjunto de dinâmicas relacionadas com o comportamento da economia. Também questiona o porquê de se fixar um défice muito alto. “O Estado, não podendo fazer tudo o que todos os moçambicanos desejam, tem de reconhecer os seus limites financeiros”, argumenta o economista. Também entende que, num contexto em que os donativos estão a diminuir, o recurso ao crédito para financiar expectativas de défices cada vez mais elevados funciona como ́pedra de tropeçoˊ para a economia como um todo. “Porquê? Porque precisamos de mecanismos para melhorar as receitas públicas no contexto de crise e isso não é possível quando o Estado vive de impostos e estes são produzidos pelas empresas e por www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


ORÇAMENTO MAIS FORTE? Em termos nominais há um aumento visível do Orçamento do Estado de 2022, alimentado pelo aumento das receitas do Estado Em mil milhões de meticais

32,5

40,1

368,6

450,6

2021

2022

RECEITAS DO ESTADO 23,4

26,6

265,6

298,9

2021

2022

FINANCIAMENTO EXTERNO

Especialistas levantam questionamentos sobre como é que o Parlamento aprovou um Orçamento que carece de aprofundamento

53,1

40,9 rendimentos de singulares”, explicou, para a seguir questionar: “Se o Estado tem a alternativa de se financiar por meio da dívida, porque é que precisa de cobrar impostos mais altos para garantir o seu funcionamento?” Alocações para investimentos Ainda de acordo com este economista, “o PESOE contém questões sobre o debate em torno das prioridades orçamentais na Educação, Saúde ou Protecção Social, mas isso nunca deve ser à custa da sustentabilidade das contas do Estado no geral”. E avança um exemplo: “Com o covid-19, em 2020, as despesas de investimento fixaram-se em cerca de 227 mil milhões de meticais e subiram para 231 mil milhões em 2021, e depois vão aumentar para 284 mil milhões em 2022. Porque precisamos deste aumento todo? Porque é que não se pode manter as despesas de funcionamento sob controlo? Vai-se argumentar que é preciso aumentar salários da função pública entre outros aspectos. Mas será que é isso que o Estado precisa? Por que www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

motivo não discutimos as prioridades como País para aliviar a carga do Estado, de modo a que as necessidades de recursos – por via de crédito ou de impostos – permitam o crescimento do sector privado?”, questionou mais uma vez, apelando a uma reflexão que conduza à correcção efectiva destes desajustamentos. Ainda sobre a questão das alocações para investimentos em 2022, uma análise feita pelo Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO), em quatro distritos das províncias do Niassa e Cabo Delgado, concluiu que nos últimos cinco anos não tem havido qualquer investimento no sector da Saúde. Na Educação o investimento tem sido muito baixo, maioritariamente com recurso a financiamento externo e com tendência a diminuir. “Isso é muito preocupante e problemático, considerando que, se não há investimento nestes sectores, não há como responder às necessidades e prioridades dos cidadãos”, observou André Manhice, do Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil

4,7

3,6

2021

2022

RECURSOS EXTERNOS 5,3

8,8

98,3

59,5 2021

2022

DÉFICE ORÇAMENTAL -13,5

-9,1

102,9 2021

151,6

2022

% do Total

41


NAÇÃO | OUTLOOK 2022

NOS PRIORITÁRIOS O “BOLO” CRESCE Especialistas entendem que, em 2022, a Educação e a Saúde deviam merecer mais atenção por causa do covid-19 Em mil milhões de meticais

Educação 23,9

22,5

63,9

70,2

2021

2022

Saúde 14

13,5

37,4

42,1

2021

2022

Agricultura

15,1

10

26,7 2021

47,3

2022

% do Total FONTE PESOE 2022

(CESC), organização que faz parte do FMO. Este fenómeno, segundo o especialista, desvaloriza todo o trabalho que é feito pelos Conselhos Consultivos locais e que consiste em ouvir as dificuldades das populações para resolver as suas preocupações junto das estruturas que dirigem os distritos. Consta, igualmente, que as prioridades dos distritos de Montepuez e Ancuabe, ambos na província de Cabo Delgado, foram devolvidas quando chegaram às estruturas de nível provincial. “Estes distritos só vão receber recursos para pagar salários, combustíveis e outras despesas ligadas à gestão do pessoal, o que vai dificultar o melhoramento dos serviços presta-

42

dos pelas comunidades em todos os sectores”, defende. Para resolver esta questão, o FMO defende ser necessário que a Assembleia da República discuta como as alocações orçamentais devem ser feitas aos vários níveis dentro dos sectores, porque acaba por atribuir grande parte dos recursos no funcionamento e não no investimento. O que será da Educação? O representante do CESC também entende que, apesar de ser o sector que mais recursos do Orçamento do Estado recebe, por ser um dos prioritários, a Educação experimentou uma redução do peso desses recursos, que

passou de 23,9% em 2021 para 22,5% este ano. “Isso é preocupante tendo em conta que o sector em si, apesar dessa aparente grande absorção de recursos, é diferente dos outros pelo facto de uma das suas componentes ser, por exemplo, a contratação de professores, o que acaba por diminuir em grande medida o dinheiro que seria investido noutros aspectos relevantes dentro da Educação como a construção de salas de aula, aquisição de carteiras escolares e de outro material didáctico”, justificou. Também critica a redução da contratação de professores de 9700 em 2021 para cerca de 6400 em 2022, o que contraria os desafios actuais. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

43


NAÇÃO |OUTLOOK 2022

Mundo em 2022: da Convalescença ao Poder do ‘Metaverso’ Projecta-se uma recuperação da economia global que, sem a erradicação do covid-19, não vai possibilitar uma fácil correcção de eventuais desequilíbrios face a riscos como o da inflação. Mas o ambiente tecnológico deve testemunhar avanços verdadeiramente disruptivos Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R

O

mundo deve andar a múltiplas velocidades durante o ano que agora começa, com os principais eventos a serem marcados, obviamente, pelos países desenvolvidos, segundo sugerem várias publicações citando entidades oficiais, numa visão a que a revista portuguesa Exame também faz uma análise substancial. Depois da profunda recessão pandémica de 2020, o ano passado trouxe uma forte retoma da economia mundial, com as instituições internacionais a estimarem um crescimento entre os 5,6% e os 5,9%. É o ritmo mais elevado dos últimos 40 anos. Até por isso, não é uma surpresa o abrandamento esperado para 2022 que, ainda assim, deverá trazer uma variação do PIB global superior ao período pré-crise. Será provavelmente o último fôlego da retoma, antes de regressarmos à velocidade de criação de riqueza a que o século XXI nos habituou. A principal diferença está nos países mais ricos do mundo. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), as economias avançadas cresceram a um ritmo de 2% ao ano entre 2010 e 2019. Os dados estimam que, após a contracção de 2020, estes países vão crescer 5,2% e 4,5% em 2021 e 2022, respectivamente. Para 2023, espera-se um regresso à tendência da História recente destas regiões, com um crescimento económico próximo de 2%. Os EUA, em específico, deverão voltar a ter um novo ano muito positivo, prevendo-se que a sua economia dê um salto de 5,2%, depois de ter crescido uns robustos 6% em 2021. Valores que comparam com 4,3% (2022) e 5% (2021) da zona euro. Portugal ficou

44

abaixo da média da moeda única em 2021 (4,4%), mas deverá superá-la ao longo deste ano (5,1%), de acordo com o FMI, instituição menos optimista sobre a evolução da economia portuguesa. Mas o Banco de Portugal, que publicou as previsões mais recentes, espera um crescimento de quase 6%. Retoma a duas velocidades Apesar de os números das economias emergentes serem mais impressionantes, ficam mais próximos da sua tendência histórica. Entre 2010 e 2019 estas economias cresceram 5% ao ano, enquanto a recuperação de 2021 ficou nos 6,4% e a de 2022 deve ficar nos 5,2%. É importante notar que este ímpeto vem quase todo dos emergentes asiáticos, onde estão integrados países como a China e a Índia. Outras regiões do mundo vão recuperar-se menos. A África Subsaariana não conseguirá chegar aos 4% em nenhum dos anos. O Médio Oriente e a Ásia Central ficam pouco acima disso. Várias instituições internacionais têm alertado que a retoma a duas velocidades é, em parte, explicada por ritmos muito díspares de vacinação. O continente africano, por exemplo, não tem sequer 10% da sua população totalmente vacinada contra o covid-19, o que compara com quase 50% na totalidade do mundo. Este atraso não só deixa estes países mais vulneráveis aos efeitos negativos do coronavírus – perda de vidas humanas, saturação de serviços de saúde e perdas económicas –, como os deixa como fábricas de variantes que, inevitavelmente, acabam por ser exportadas para o resto do mundo. “A recuperação mundial continua a avançar, mas perdeu ímpeto e tem ficado cada vez mais desequilibra-

da. Segmentos da economia mundial estão a recuperar rapidamente, mas outros estão em risco de serem deixados para trás, especialmente países de baixo rendimento, onde as taxas de vacinação são baixas e as empresas e trabalhadores estão em sectores de contacto intensivo em que a retoma ainda não se verificou totalmente”, lê-se no outlook da OCDE, publicado em Dezembro. A Ómicron pode ameaçar o primeiro trimestre, ao mesmo tempo que os obstáculos logísticos e de transporte ainda não desapareceram, sendo que se adensam as dúvidas acerca da inflação, que pode ser menos temporária do que se pensava. Tudo isto, segundo a OCDE, “torna o Outlook (panorama) mais incerto e cria desafios políticos consideráveis”. Riscos de inflação Saber o que acontecerá à inflação ajudaria a responder a perguntas como o que fazer aos estímulos orçamentais. E aos juros. Ou se os programas de compra de activos deverão terminar mais cedo. Mas prevalecem dúvidas inquietantes quanto à evolução dos preços. Depois de anos em que a inflação se mostrou totalmente controlada e baixa para os objectivos dos bancos centrais, a retoma da pandemia www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


ÁFRICA VAI RECUPERAR MENOS O FMI estima que o crescimento das economias estará, em parte, dependente do avanço das campanhas de vacinação, que é muito mais célere noutras partes do mundo do que em África Taxa de crescimento do PIB em %

Economias avançadas

Economias emergentes 6,4 5,2

5,2 4,5

África Subsaariana

3,7

2021

2022

2021

2022

2021

3,8

2022 FONTE: FMI

trouxe-a de novo à tona. Este período envolveu uma recuperação mais lenta da produção do que do consumo de bens, que disparou, nos últimos meses, provocando um desencontro entre oferta e procura. Ao mesmo tempo, a dependência de cadeias de abastecimento muito complexas e as dificuldades no transporte marítimo criaram mais fricção nas entregas, o que agravou o problema de escassez e pressionou ainda mais os preços. Ao longo de 2021, os responsáveis dos governos e dos bancos centrais têm sublinhado que se trata de uma situação passageira, argumentando que assim que a actividade económica normalizar (mais produção, menos consumo), os preços regressarão a níveis aceitáveis. Mas o que se verifica na prática é a escalada contínua da inflação, alimentando cada vez mais dúvidas quanto à sua dimensão temporária. Em Novembro, a inflação nos EUA disparou 6,8%, o valor mais alto desde o início da década de 80. Na Zona Euro, os preços também estão a evoluir a um ritmo mais rápido das últimas décadas. As variações são mais modestas do que nos EUA (4,9% em Novembro) e mais explicadas pela evolução dos preços na energia, mas não deixam de preocupar países e governantes mais www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

avessos à inflação. A persistência desta subida deu origem a um debate intenso, principalmente nos EUA, acerca das políticas económicas que devem ser seguidas neste contexto. Algumas vozes – sobretudo as mais conservadoras – defendem que está na altura de tirar o pé do acelerador dos estímulos monetários e orçamentais, isto é, travar as medidas de apoio às famílias e empresas e os megaprogramas de investimento público, ao mesmo tempo que se deve começar ou apressar a retirada de programas de compra de activos por parte dos bancos centrais. Em alguns casos, argumentam, pode fazer sentido subir os juros. O BCE, visto no passado como o mais conservador dos grandes bancos centrais, parece ser hoje um dos mais resistentes a essa narrativa. A Reserva Federal dos EUA anunciou uma redução mais rápida do ritmo de compra de activos e a intenção de subir juros em 2022. O Banco de Inglaterra já o fez no final de 2021. O BCE prefere, por agora, manter as suas opções em aberto. Na última reunião, Christine Lagarde explicou que, “dada a incerteza, quisemos ter a maior flexibilidade possível. Vamos reavaliar a situação e ajustar-nos em qualquer direcção.” Para já, as previsões continuam a assumir que estamos perto do pico

dos preços. A OCDE espera que este seja atingido no primeiro trimestre de 2022, na maior parte das economias, e que se normalize perto do final do ano. A mesma instituição espera que a inflação esteja um pouco acima dos 4% nos Estados-membros em 2022. A Zona Euro está entre as regiões menos pressionadas. Pressão sobre os bancos centrais As autoridades monetárias enfrentam um dilema difícil de resolver: endurecer as políticas para controlar a inflação ou manter as políticas expansionistas para não comprometer a recuperação económica e a estabilidade financeira? Após uma década de políticas pouco convencionais e ultra expansionistas – que foram aceleradas para manter a economia global a funcionar durante a pandemia –, a pressão para fechar a torneira da nova liquidez e começar a pensar em tirar as taxas de juro dos actuais mínimos intensificou-se. O dilema com que as autoridades monetárias se confrontam não tem solução fácil. Por um lado, a retirada dos estímulos e o início da subida de juros ajudam a conter a ameaça de se perder o controlo da inflação. Por outro, seguir este guião pode tirar força à

45


NAÇÃO | OUTLOOK 2022 recuperação económica pós-pandémica e cria o risco de as autoridades monetárias regressarem quase à estaca zero. Para já, os maiores bancos centrais mundiais vão a ritmos diferentes para a normalização da política monetária. A Reserva Federal dos EUA anunciou, no passado mês de Dezembro, que iria apressar o programa de compra de activos que criou para ajudar a economia a suster o impacto da pandemia, e sinalizou que poderia subir três vezes a taxa dos fundos federais em 2022. O Banco de Inglaterra foi ainda mais longe e aumentou os juros no final de Dezembro, tornando-se a primeira autoridade monetária do G7 a fazê-lo desde o início da crise causada pelo covid-19. E o Banco Central Europeu (BCE) irá encerrar, no final do próximo mês de Março, o programa de emergência de compras pandémicas (apesar de continuar a reinvestir até 2024 os títulos que detém e que cheguem entretanto à maturidade). Tecnologia dará passos mais consistentes Enquanto as outras áreas da macroeconomia não permitem ver claramente o que vai acontecer, em 2022 o desenvolvimento tecnológico poderá conhecer um salto nunca antes visto. O Facebook – uma das empresas mais poderosas do mundo – teve a ideia de ajudar a construir o metaverso (espaço colectivo e virtual compartilhado, constituído pela soma de realidade virtual, realidade aumentada e Internet), o que incluiu mudar o próprio nome corporativo para Meta. Mark Zuckerberg, seu fundador, acredita que esta nova tecnologia será a sucessora da internet móvel e irá ligar milhares de milhões de pessoas. E não está sozinho na corrida. A Microsoft e outras Tecnológicas estão também a investir fortemente para terem um papel essencial nesse novo mundo. Caso a visão de Zuckerberg se concretize nos próximos anos, não serão necessários teclados para escrever nem monitores para ver televisão ou jogar online. A ideia é estar mesmo lá, nesse mundo massivo online. Conseguiremos estar na nossa casa a receber os nossos amigos que se encontrarão noutra parte do mundo, mas que nos aparecerão sob a forma de hologramas, e com quem iremos interagir como se estivessem fisicamente presentes. Sem sairmos de casa, poderemos ir ao escritório no metaverso,

46

Na era do metaverso, conseguiremos receber em casa amigos de outras partes do mundo que nos aparecerão sob a forma de hologramas, e com quem iremos interagir como se estivessem fisicamente presentes

onde teremos reuniões e poderemos conviver com os colegas. Na saúde, será possível ter consultas de maior qualidade à distância. As possibilidades são quase infinitas e ajudarão a criar um novo tipo de economia, em que o peso dos bens digitais será cada vez mais importante e poderá rivalizar com o dos bens físicos, o que terá um grande impacto na forma de se fazer negócios. Para que este mundo e esta nova economia se desenvolvam, será necessário, muito provavelmente, que a tecnologia blockchain evolua ainda mais. Os tokens não fungíveis (NFT) serão essenciais no atestar da propriedade dos bens digitais e o dinheiro que será usado poderá ser uma ou várias criptomoedas, descentralizadas ou controladas pelas empresas que erigiram o metaverso. O Facebook já investiu dez mil milhões de dólares neste projecto – valor que deverá ser reforçado nos próximos anos – e tem comprado empresas essenciais na concretização dessa visão. Em 2022, a corrida ao metaverso deverá acelerar e ser um grande tema de investimento. “A nossa esperança é de que, na próxima década, o metaverso abranja mil milhões de pessoas, alber-

gue centenas de milhares de milhões de dólares em comércio digital e apoie o emprego de milhões de criadores e programadores”, projecta Zuckerberg. A concretizar-se, esta poderá ser uma das revoluções tecnológicas com maior impacto na sociedade, na economia e na forma de se fazer negócios desde, pelo menos, a criação do iPhone, há quase 15 anos. Mas a inovação tecnológica está bem longe de se circunscrever à construção do metaverso. Elon Musk e Jeff Bezos têm protagonizado outro tipo de corrida, a da conquista do Espaço, que tem acelerado o investimento aeroespacial. Têm existido também avanços em áreas essenciais para a Humanidade e que poderão acelerar em 2022. Na saúde, por exemplo, as vacinas mRNA ajudaram a mitigar as consequências do covid-19 e a validação dessa tecnologia abre agora a porta a que possa ser usada noutras doenças, como alguns cancros. A terapia genética também tem apresentado avanços. O contra-relógio para a descarbonização deverá acelerar a pesquisa de tecnologias de armazenamento de energia verde e a aposta em novas fontes de energia. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

47



POWERED BY

especial inovações daqui 50

NFTS

A era das ‘Web3’ e das ‘token economics’. Como a tecnologia está a transformar a forma de estar da sociedade moderna

54 DREAM SOLUTION

Um Empreendimento Que Inovou na Venda de Bilhetes e Revolucionou o Entretenimento

56 PANORAMA As Notícias da Inovação em Moçambique, África e no Mundo


BLOCKCHAIN

50

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


POWERED BY

Bem-Vindos à ‘Web3’ e à Era ‘Token Economics’. Mas, o Que é Que Isso Implica? Os entusiastas da criptografia vêem um futuro em que a Internet funciona com tokens baseados na blockchain. Não entendeu? Bem, o que está aqui em causa é uma completa mudança de paradigma em que as grandes plataformas perdem importância e em que o utilizador é incontornável. Também ao nível das receitas. Pode parecer utopia, mas vale a pensa imaginar como será o mundo quando cada um tiver os seus meios de produção de renda, ou até a sua própria moeda, dentro da sua própria net TEXTO Pedro Cativelos • FOTOGRAFIA Istock Photo, D.R

N

o início de 2020, um Bitcoin valia pouco mais de 7 000 dólares. Hoje, está a ser transaccionada a cerca de 40 000, e o valor agregado de todas as moedas criptográficas existentes, das quais a Bitcoin é uma entre muitas, é de cerca de $2,3 biliões de dólares, um crescimento exponencial que levou muitos a prever um futuro radicalmente diferente para o sistema financeiro e a questionar as crenças de longa data sobre o valor do dinheiro. Todo este novo universo é, na verdade, um mundo (digital) em que os pro-

da vez mais frequentemente daqui para a frente. Para alcançar uma rede descentralizada estável e segura, os participantes da rede (desenvolvedores) são incentivados a competir para fornecer serviços da mais alta qualidade a qualquer pessoa que utilize o serviço. Não é por acaso que começámos por falar da bitcoin para explicar a web3, porque a moeda criptográfica desempenha um papel principal em muitos dos protocolos. Proporciona um incentivo financeiro (tokens) a qualquer pessoa que queira participar na criação, go-

Socialismo digital ou capitalismo individual? O fundador da BitClout criou a rede social em que qualquer pessoa cria a sua própria moeda... gramadores não costumam construir e implementar aplicações que funcionem num único servidor ou que armazenam os seus dados numa única base de dados (geralmente alojada e gerida por um único fornecedor de cloud computing). Em vez disso, as aplicações web3 ou funcionam em blockchain, redes descentralizadas de muitos nós (servidores) peer to peer, ou uma combinação dos dois, formando um protocolo criptoeconómico. Estas aplicações são frequentemente referidas como dapps (aplicações descentralizadas), um termo a que teremos de nos habituar, porque vai ser usado cawww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

vernação, contribuição, ou melhoria de um dos próprios projectos. Estes protocolos podem muitas vezes oferecer uma variedade de serviços diferentes como computação, armazenamento, largura de banda, identidade, alojamento, e outros serviços web que, antes, eram fornecidos em cloud, por exemplo. Em todo este contexto, qualquer pessoa poderá ganhar a vida participando no protocolo de várias formas, tanto a nível técnico como não técnico. E os consumidores do serviço normalmente pagam para utilizar o protocolo, de forma semelhante à forma como

51


pagariam a um fornecedor de cloud como a AWS (da Amazon). Excepto que na web3, o dinheiro vai directamente para os participantes da rede e não para uma big tech. Revolucionário não é?

Histórias de sucesso

Uma das maiores histórias do ano foi a Chipper Cash que angariou um total de 250 milhões de dólares este ano. Ainda em Novembro, esta fintech africana angariou 30 milhões de dólares na série B ,liderada pela Ribbit Capital, com a participação da Bezos Expeditions - o fundo de capital de risco pessoal do CEO da Amazon, Jeff Bezos. Fundada em São Francisco, em 2018, pelos ugandeses Ham Serunjogi e Ghanaian Maijid Moujaled, a empresa oferece serviços de pagamento P2P em sete países, sem taxas, com base em telemóvel: Gana, Uganda, Nigéria, Tanzânia, Ruanda, África do Sul e Quénia. Paralelamente à sua aplicação P2P, a empresa também executa Chipper Checkout - um produto de pagamento baseado em taxas e centrado no comércio que gera as receitas para apoiar o negócio de dinheiro móvel gratuito da Chipper Cash. A empresa aumentou para três milhões o número de utilizadores na sua plataforma e processa uma média de 80 000 transacções diárias. Agora, a empresa planeia expandir os seus produtos e o seu âmbito geográfico, com soluções de pagamento empresarial, opções de negociação de moeda criptográfica e serviços de investimento. “Seremos sempre uma plataforma de transferência financeira, mas temos tido procura dos utilizadores para oferecer outros serviços de valor, como a compra de activos em moeda criptográfica e a realização de investimentos em acções”, disse Serunjogi numa entrevista à TechCrunch.

‘Back to basics’

Tudo isto tem, então, por base o carácter ‘revolucionário’ das cripto, e especialmente da moeda criptográfica original, concebida como dinheiro electrónico para troca directa entre pessoas que não precisam de confiar umas nas outras, ou em qualquer outra, e que em vez disso depositam a sua fé na blockchain, uma cadeia redes de computadores descentralizada e de código aberto. Existem agora milhares de tokens diferentes baseados na blockchain circulando continuamente em locais com diferentes graus de regulação e supervisão. Isto é o que é conhecido como “web3”, o nome

52

A Miramax processou Quentin Tarantino pela sua proposta de leilão dos “Pulp Fiction” NFTs. O primeito grande processo judicial do género... adoptado para uma Internet descentralizada executada tendo por base fichas criptográficas. Os seus apoiantes, (há-os sempre fervorosos nestas tendências como também os eternamente cépticos), dizem que democratizará tudo, remodelando a arte, o comércio e a tecnologia, deslocando os intermediários e colocando as pessoas mais directamente no controlo dos seus destinos. A web3 começa a parecer uma espécie de novo socialismo tecnológico. Mas não é. Até porque são os capitalistas de risco que estão a investir. E fortemente. Em 2021, foram investidos mais de 27 mil milhões de dólares em criptografia e projectos relacionados, mais do que nos 10 anos anteriores combinados, de acordo com o PitchBook. Sim, face a isto temos de levar o conceito um pouco mais a sério. E os maiores investidores e players da indústria estão também a fazer lobby em Washington para influenciar regras que favoreçam a sua visão futurista da ‘tokenomics’, o que já pode ser visto em algumas comunidades em expansão, onde a

web3 não é um conceito abstracto, mas já tem aplicabilidade na vida quotidiana.

Dentro da economia do NFT

Tokens não fungíveis ou NFTs, são pedaços de código únicos numa blockchain associada a uma imagem, um vídeo, áudio ou alguma outra coisa. Em Outubro, Cam Rackam, um artista, vendeu 10.000 NFTs ligadas a imagens baseadas em memes do quadro de mensagens da Reddit’s Wall Street Bets, ganhando 2,5 milhões de dólares. Como pintor “relativamente bem-sucedido” ao longo de uma carreira de 18 anos, Rackam “nunca foi bem recebido” no mercado da arte, dizia ele. Mas com os NFTs, o quadro mudou, e agora são os artistas tradicionais que começam a “a sentir-se um pouco deixados de fora”, diz, numa entrevista ao NY Times. Até agora, em 2021, cerca de 27 mil milhões de dólares de criptografia foram movimentados nas principais plataformas de NFT, de acordo com Chainalysis. Isso representa um aumento em relação aos 114 milhões de dólares em towww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


POWERED BY

um botão de diamante que permite a outros partilharem um pouco de criptograma dependendo da apreciação do que quer que faça ou diga. “A grande maioria dos benefícios vai para os criadores mais pequenos que as pessoas sempre quiseram apoiar”, reitera Al-Naji. “Aqui basta atirar-lhes alguns diamantes, ou comprar a sua moeda, o que pode ser considerado um investimento”.

Regras antigas... novas ferramentas

do o ano de 2020. Os NFT, que já abordámos na edição de Outubro neste mesmo espaço, são a prova pública da propriedade e autenticidade de um artigo, que pode ou não incluir direitos de autor — tal como no mundo físico um artista pode vender uma obra mas manter a propriedade intelectual. No mês passado, a Miramax processou o director Quentin Tarantino por causa da sua proposta de leilão de “Pulp Fiction” NFTs, que estavam ligados a digitalizações de alta resolução a partir do seu guião original manuscrito. A empresa alega que a utilização da marca e da imagem do filme violava os seus direitos. Este é um dos primeiros casos associados aos NFT e a forma como este se desenrola pode revelar-se significativo. Porque muitas empresas ainda estão a tentar descobrir o que é, na verdade, um NFT e porque é que as pessoas os estão a comprar: “Estão a perguntar-se: ‘Será isto o futuro? Será que vamos ter de fazer isto?” Mas a sensação que paira no ar é a de uma revolução que já está em marcha. A mentalidade datada que rejeita novas ideias sobre arte e valor está... isso mesmo, datada. Como já estava, no tempo em que as pessoas também não entenderam o valor da arte criada por Andy Warhol de imagens comerciais comuns como as latas de sopa Campbell’s Soup, também. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

Social media descentralizados

Outro conceito da web3 que desafia as convenções é o das redes sociais descentralizadas, onde os utilizadores ganham e comercializam a sua criptografia. No DeSo, uma rede para aplicações baseadas em blockchain, os utilizadores são pagos pela popularidade, participação, postagens e trabalho. O seu fundador, Nader Al-Naji, um antigo engenheiro do Google, acredita que os utilizadores da Internet vão querer contornar as preferências de Twitter e TikTok, que ganham dinheiro servindo-lhes anúncios, e captar este valor directamente para si próprios. Faz sentido. E deve ser o próximo passo dos media sociais. Agora, dentro dessa lógica, está a desenvolver a BitClout, uma aplicação onde as pessoas criam as suas próprias fichas e moedas personalizadas ligadas a semelhanças entre si e figuras da cultura pop, cujos valores sobem e descem com base na sua utilização. Gerou controvérsia quando foi lançado em Março, com alguns a chamar-lhe uma “rede social distópica” mas a verdade é que está a crescer. Mas o criador da app, e a rede mais vasta a que pertence, disse que há um “renascimento” dos conceitos, que sustenta no facto de qualquer utilizador pode ser recompensado pelas suas reflexões, música ou simples presença através de tokens ou “gorjeta sem fricção” (“frictionless tipping”), com

Na Securities and Exchange Commission, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, a função de Gary Gensler é assegurar que as empresas criptográficas operam dentro de um quadro regulamentar. Para desgosto de muitos apoiantes da Web3, Gensler, o presidente da agência acredita que as regras antigas ainda se aplicam às novas ferramentas o que implica que muitos, se não a maioria, dos activos criptográficos serão títulos que, mais tarde ou mais cedo, deverão ter de ser registados para assegurar as divulgações adequadas e a protecção dos investidores, com todos os custos e escrutínio que isso implica. Independentemente do seu estatuto legal, a utilidade de alguns sistemas baseados em blockchain está a ser debatida, e não é pouco, ao contrário do que se possa pensar. “Normalmente há uma razão pela qual as pessoas querem ter um registo centralizado”, dizia Gensler à DealBook em entrevista, observando que os registos distribuídos mantidos por milhares de computadores acabam por ter “custos”. Sobre a moeda, prossegue, “associo-me mais à opinião de Platão sobre dinheiro do que à de Aristóteles”, assinalou na mesma entrevista. Aristóteles, continua, “acreditava que o dinheiro tinha quatro características — portabilidade, durabilidade, divisibilidade e valor intrínseco. Mas Platão só aceitou as três primeiras, e defendia que não tinha valor inerente, e que era apenas um símbolo”. Quando ministrou cursos sobre criptofinanciamento no Massachusetts Institute of Technology (MIT) pouco antes de liderar a Agência, Gensler disse aos seus alunos para perguntarem: “Onde está a proposta de valor? Será que todas as fichas criptográficas que estão a competir com o dólar, ou a formar a base de uma aplicação, são de facto valiosas? A resposta à pergunta vale bem mais do que um milhão de dólares. “Talvez”, diz. “Mas haverá espaço para 6000 delas? É altamente improvável”.

53


empresas STARTUP

dream solutions

Sonhar Com Soluções? Sim, é Verdade A venda de bilhetes online pode não parecer nada de novo em outros mercados, mas em Moçambique é uma ideia TEXTO Yana de Almeida • FOTOGRAFIA Mariano Silva

I

nspirado pelas ideias de empreendedorismo apreendidas durante o seu mestrado em gestão e apoiado pela irmã e um grupo de colegas, na altura estudantes universitários do curso de informática, Estácio Rajá idealizou, ainda em 2009, uma loja online originalmente moçambicana. A fim de materializar o seu desejo, começaram por desenvolver a empresa que daria vida aos seus sonhos, foi assim que, no mesmo ano, surgiu a Dream Solutions Enterprise . Após uma pesquisa de mercado, aperceberam-se dos desafios de

54

materialização da ideia de loja virtual, principalmente no que se refere à questão logística muito ligada à entrega física dos produtos. Com o objectivo de colmatar as dificuldades identificadas, pensaram em vender produtos que não fossem físicos. E porque na época os eventos culturais estavam em alta, surgiu a ideia de passar vender de “forma mais inteligente” bilhetes para esses eventos dando vida, desta forma, à plataforma bilhetes online. Lançada em 2010, a plataforma permite aos internautas comprar bilhetes e inscreve-

rem-se em eventos que decorrem no território moçambicano a partir da web em qualquer lugar do mundo. “Esta plataforma foi concebida para responder às necessidades de dois grupos: os promotores de eventos e os seus consumidores. Ela torna essa união possível”, disse o co-fundador e director-geral da Dream Solutions Enterprise, Estácio Rajá. Desenhada para ser simples e fácil de usar, para além de ajudar na promoção de eventos, o site bilhetes online.co.mz procura ajudar na gestão dos eventos www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


POWERED BY

B

EMPRESA Dream Solutions Enterprise Limitada FUNDAÇÃO 2019 FUNDADOR Estácio Rajá e Mandona Rajá SISTEMA Bilhetes online

fornecendo dados importantes para o efeito na plataforma. “A plataforma de bilhetes online oferece ferramentas para os promotores de evento poderem criar os seus eventos dentro do site, vender os seus bilhetes, acompanhar a venda em tempo real e até poder fazer o controlo das entradas dos bilhetes no local do evento spor meio de um QR Code que autentica a validade dos bilhetes”, disse. Através desta solução digital, os promotores de evento podem acompanhar o relatório das vendas, a lista dos compradores e após a realização do evento www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

a plataforma também exibe dados sobre os compradores que participaram ou não, as horas em que chegaram, ou seja, fornece um conjunto de informações úteis para o promotor tomar decisões e ajudar a fazer a gestão do seu evento. Se em 2019 a plataforma registou um grande crescimento em termos de utilização, o mesmo não pode ser dito dos anos seguintes. Com a pandemia, a realização de eventos de entretenimento com destaque para os espectáculos, ficou condicionada colocando também o sucesso da plataforma em causa. Sem-

pre activo na busca de soluções tecnológicas para os problemas, a Dream Solutions já tem ideias para contornar o actual cenário. “Estamos agora focados em tornar a plataforma adaptável para outras situações e tentar entrar noutros mercados que usam a mesma filosofia, por exemplo, vender bilhetes para transportes. Embora a plataforma já estivesse preparada para vender bilhetes para eventos desportivos, conferências, queremos fazer uma maior aposta nesse tipo de eventos menos impactados pela covid “, concluiu.

55


PANORAMA

Saúde

Covid-19: Moçambique promove ensaio clínico para avaliar combinação de duas vacinas O Instituto Nacional de Saúde (INS) deu início a um estudo para avaliar a segurança e imunogenicidade de um esquema usando as vacinas Vero Cell e Johnson & Johnson, administradas com 28 dias de intervalo. Quem o disse foi o director-geral do INS, Ilesh Jani, que falava durante o lançamento da pesquisa. Liderada pelo INS, a pesquisa conta com o financiamento da Coligação para a Inovação na Preparação de Resposta às Epidemias (CEPI) e o apoio do Instituto Internacional de Vacinas (IVI).

Segundo Jani, caso seja constatada a eficácia nos resultados da pesquisa, o país assará a ter uma nova resposta aos problemas de disponibilidades das vacinas. Ainda sobre o covid-19, Moçambique aderiu, recentemente, à plataforma digital africana que permite a verificação da autenticidade dos resultados dos testes PCR do novo coronavírus, anunciou o Ministério da Saúde. trata-se de uma plataforma que visa garantir a segurança e qualidade dos laudos de testagem.

Formação Ciência de dados

Huawei quer reforçar literacia digital entre as mulheres em África

Moçambicanos criam plataforma D4WN para alavancar a eficiência dos negócios informais O elevado nível de informalidade da economia inspirou a criação da Data for Workforce Nurturing (D4WN). Trata-se de um projecto desenvolvido e implementado por um consórcio multinacional liderado pela Fundación Capital, UX Information Technologies e Data Elevates. Com a iniciativa, estas organizações procuram criar um impacto social e económico positivo na vida das pessoas que vivem na pobreza, alavancando os dispositivos de informação e tecnologia de comunicação mais acessíveis – os telemóveis – e aplicando técnicas de ciência de dados à informação gerada por estes dispositivos. A D4WN é uma base de dados num conjunto de ferramentas de dados especialmente concebidas para agregar os dados gerados pelos utilizadores do Biscate (um marketplace de trabalho a partir de tecnologia USSD/SMS) e Com-Hector (um assistente virtual via WhatsApp para trabalhadores em Moçambique). A D4WN analisa os dados destas duas plataformas utilizando técnicas de ciência de dados, incluindo visualizações de dados, machine learning e algoritmos de recomendação, e cria inteligência de negócios para melhorar o desempenho e a prestação de serviços de ambas plataformas. A ideia é também aumentar os rendimentos dos informais.

56

A empresa chinesa de telecomunicações Huawei intensificou a formação e tutoria dirigida às mulheres e raparigas africanas, a fim de aumentar as suas competências digitais e melhorar a sua empregabilidade nas indústrias do futuro.

A Huawei afirmou numa declaração em Nairobi, a capital do Quénia, que estava empenhada em colmatar a assimetria do género no que diz respeito às competências digitais em toda a região da África Subsaariana. Através do seu programa emblemático denominado “Sementes para o Futuro”, Huawei estabeleceu uma parceria com governos africanos para oferecer formação especializada em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) a mulheres e raparigas. Já 14 países da África Subsaariana, incluindo o Quénia, Uganda, Gana e Malawi, se mobilizaram por trás da iniciativa de formar mais de 200 mulheres em áreas relacionadas com as TIC, segundo Huawei. O empoderamento da mulher é uma questão bastante levantada enquanto travão do desenvolvimento em Moçambique, e várias iniciativas tem sido levantadas como solução.

Inovação

WhatsApp testa acesso aos áudios ao mesmo tempo que se manuseia a App O aplicativo de mensagens WhatsApp está a trabalhar numa actualização da ferramenta de áudios. De acordo com o site WABetaInfo, uma versão beta está a ser lançada para que os usuários tenham a possibilidade de escutar áudios enquanto trocam conversas. A novidade está disponível somente para alguns usuários iOS e deve che-

gar para mais e mais pessoas nas próximas semanas. Não há uma data de lançamento prevista para o recurso no App beta para Android, mas já está em desenvolvimento. Pelo menos por enquanto, o recurso se limita ao aplicativo, ou seja, ainda não é possível sair do WhatsApp pelo smatphone e continuar a escutar o áudio, mas isso tem dias contados! www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


POWERED BY

www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

57


OPINIÃO

Um Olhar em Retrospectiva de 2021

A

Wilson Tomás • Research, Banco BIG Moçambique

Apesar dos impactos da COVID-19, do conflito militar, dos atrasos dos investimentos nos projectos de LNG, e do fraco desempenho do sector do turismo, o PIB apresentou um crescimento positivo

58

pós a retoma do crescimento económico na segunda metade de 2020, motivado pela reabertura gradual das economias e adaptação de novas formas de trabalhar, o início de 2021, ficou marcado pelo arranque massivo e global da vacinação contra o Covid-19, numa altura em que se vivia a terceira vaga da pandemia. O acelerar das campanhas de vacinação a nível mundial aliado à continuação de políticas monetárias expansionistas e manutenção dos estímulos fiscais, potenciaram uma retoma da actividade económica a ritmos mais acelerados, com um maior destaque para os países desenvolvidos. Como reflexo desta retoma económica, os mercados de matérias primas sofreram disrupções nas cadeias de abastecimento que motivaram uma inflação dos preços das commodities energéticas, metálicas e agrícolas, levando os preços a ultrapassar os níveis pré-pandémicos. Essa tendência de subida dos preços prevaleceu durante todo o ano, alimentada por um aumento tímido da oferta, dado os desafios nas cadeias de abastecimento, que só é expectável que possam estar completamente ajustadas à nova realidade em meados de 2022. Os principais mercados accionistas tiveram um ano muito positivo, como resposta a melhorias nos resultados das empresas cotadas nas principais bolsas. O S&P 500, principal índice bolsista norte americano, terminou o ano com uma valorização de +27%, enquanto o Nasdaq, índice onde populam as principais tecnológicas mundiais, valorizou cerca de +23%. Para o mercado de dívida, o movimento foi inverso com uma tendência clara de aumento das taxas de juro principalmente na parte final do ano. O ano ficou marcado também por um

ressurgimento da inflação, que chegou a ultrapassar, no último trimestre do ano, os níveis das crises dos anos 80 e 90, nos EUA, Europa e Japão. Em finais de novembro, a Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) estimou que o comércio global devera alcançar a marca de USD 28 trilhões em 2021, 23% e 11% acima dos anos de 2020 e 2019, respetivamente. As regiões com maior crescimento no fluxo de comércio foram: Taiwan, China, Vietnam e Brasil. No final do ano fomos brindados com o surgimento de uma nova variante de Covid-19: Ómicron, que levou muitos governos a mudarem a sua postura quanto à vacinação, passando alguns a tornar o processo obrigatório ou a reforçarem as suas campanhas de vacinação. Dado o ritmo de transmissibilidade, muitos países fecharam as suas fronteiras aos países da SADC criando constrangimentos nas economias locais. Os mercados financeiros e de matérias primas sofreram choques com o surgimento das notícias relacionadas à nova variante, mas não foram suficientes para mudar as suas trajectórias de subida de preços. Em Moçambique, apesar dos impactos da COVID-19, do conflito militar em Cabo Delgado, dos atrasos dos investimentos nos projectos de LNG, e do fraco desempenho do sector do turismo, o PIB apresentou um crescimento positivo. O PIB do país registou aumentos trimestrais crescentes de 0,12%, 1,97% e 3,36%, justificados principalmente pelos desempenhos dos sectores da agricultura, indústria mineira, indústria transformadora, indústria hoteleira e de restauração. Este mesmo desempenho foi impulsionado por um aumento das exportações até Setembro de 2021 na indústria extractiva (+69,7%) seguido pela indústria transformadora (+26,5%). A inflação anual no país, apresentou www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


O mercado financeiro nacional tem sido um dos motores da resiliência da economia aos diversos choques que se experimentam

também uma tendência crescente chegando a 6,74% no mês de Dezembro, influenciado pelas tendências de subida dos preços internacionais. Por outro lado, a taxa de câmbio do metical teve uma primeira metade do ano muito volátil face às principais divisas transaccionadas no país, tendo, contudo, estabilizado na segunda metade do ano. O Mercado Financeiro Moçambicano teve o maior volume dos últimos anos. No Mercado Monetário In-

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

terbancário, as emissões de Bilhetes de Tesouro totalizaram USD 3,395 milhões para as 3 maturidades, um montante +112,0% e +78,0% acima do que foi emitido em 2020 e 2019, respectivamente. Quanto ao Mercado de Capitais, no mercado primário, o Estado Moçambicano através do Departamento do Tesouro conseguiu-se financiar em mais de USD 580 milhões, com os 22 leilões de Obrigações de Tesouro que reali-

zou ao longo ano, abaixo do valor previsto no Orçamento do Estado de USD 642 milhões. No Mercado Secundário, o volume de transações aumentou significativamente na segunda metade do ano, totalizando USD 181,15 milhões. Este volume transaccionado foi 2,3x superior ao verificado em 2020, tendo as Obrigações do Tesouro (97,2%) sido os activos mais transaccionados durante o ano. As Obrigações Corporativas (2,4%) e Acções (0,3%) no total não fizeram mais do que 2,7% do volume total do mercado secundário em 2021. Finalizado o ano 2021, as baterias apontam-se agora para 2022 que se espera que seja um ano bem mais positivo para a maioria dos países globalmente. Para Moçambique a expectativa também é alta, com o início da produção do projecto Coral FLNG na 2ª metade do ano, e com a esperança que finalmente o Covid-19 deixe de ser uma pandemia, e que se torne uma doença endémica que teremos de lidar com maior normalidade. Votos de que 2022 seja um ano de prosperidade e muita saúde para todos nós.

59


MERCADO & FINANÇAS

“Vamos Lançar a ‘Casa das PME’ em 2022. É um Segmento Essencial Para o Desenvolmimento do País” O Société Générale (SG) Moçambique é um dos bancos mais recentes do sistema financeiro nacional, mas nem por isso menos ambicioso, até pela experiência secular do grupo em África. Sterghios Dassarecos, CEO do SG, explica a estratégia do banco e como ela vai mais além do que apenas os projectos de oil & gas, passando pelo apoio às PME e pelo desenvolvimento das principais cadeias de valor Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva

É

um banco global presente em 66 mercados e, portanto, com uma experiência profundamente enraizada na Europa, Ásia, África e América do Sul e do Norte. Olhando para o continente africano, onde o grupo está há mais de um século, o projecto global, passa, em traços gerais, por fomentar o apoio financeiro às PME e ao empreendedorismo, sem esquecer os grandes projectos estratégicos. E Moçambique não escapa a esta lógica. Mas qual é a sua ambição em Moçambique e que mais-valias o mercado tem ou terá pela sua presença?

Qual é a visão e estratégia em relação à presença e posicionamento do SG no mercado nos próximos anos? Há mais de seis anos que operamos no mercado e, ao longo deste período, o banco tem vindo a consolidar a estratégia ao nível local, centrada em torno do segmento da Banca de Empresas, incluindo as PME. Introduzimos, em 2021, a nossa oferta denominada premium banking, especialmente concebida para o nosso segmento de retalho. O nosso modelo de negócios consiste em assistir as grandes empresas moçambicanas e internacionais, apoiando os seus negócios ao longo da sua cadeia de valor, o que temos sido capazes de implementar com sucesso, devo dizer. Temos crescido em várias dimensões e continuamos a crescer. Nos últimos anos, duplicámos a nossa mão-de-obra, abrimos quatro novas agências, investimos no desenvolvimento de novos produtos e serviços bem como em soluções de sistemas inovadoras, tudo com o objectivo de fornecer um serviço de excelência aos nossos clientes. Queremos ser um banco de referência no mercado, reconhecido pela qua-

60

lidade do serviço que prestamos e pelo empenho das nossas equipas em apoiar os nossos clientes no desenvolvimento dos seus negócios.

Após os acontecimentos recentes com o sistema bancário moçambicano, há uma tendência para focar cada vez mais as acções do banco na ética como valor central na relação com o cliente. Concorda? Deve ser sempre esse o caso e é assim para o SG Moçambique. O grupo está particularmente empenhado na integridade das nossas práticas, uma componente essencial na confiança depositada em nós pelos nossos clientes, contrapartes e autoridades reguladoras. Ter um impacto positivo no nosso ambiente, sendo solidários e atentos aos vários intervenientes no nosso ecossistema global. É assim que interpretamos a nossa missão enquanto banqueiros responsáveis. Ao agir de forma ética e diligente, o Grupo SG é capaz de ligar o seu modelo de desenvolvimento integrado e diversificado, os seus objectivos de responsabilidade social da empresa e as suas políticas e processos internos de uma forma mais coerente. Isto aplica-se quer se trate de nos protegermos contra a corrupção, quer no exercer conscienciosamente a nossa devida diligência ou de avaliar os riscos. Como filial directa do SG, aderimos e respeitamos o Código de Conduta do Grupo que orienta o comportamento e a actividade profissional das nossas equipas. A protecção dos nossos clientes, neste contexto, é também da maior importância para nós e estamos empenhados em salvaguardar os seus interesses com a implementação da constante formação, iniciativas de sensibilização e reforço das regras internas.

Em que medida é que a estratégia do SG em Moçambique que, como sabemos, tem questões e desafios muito própros, está alinhada com a visão do grupo para África e de que forma é que o banco pode ser uma plataforma para a expansão das empresas nacionais no exterior? Hoje, o SG é um dos grupos bancários internacionais mais fortemente estabelecidos em África, resultado de uma longa história e de um compromisso com o continente, onde operamos há mais de cem anos. A nossa presença em 19 países confere-nos um posicionamento único em África, permitindo-nos oferecer aos clientes a perícia e o know-how de um banco internacional e a proximidade de um banco local. Em África, o grupo acompanha as economias locais e serve 4,1 milhões de clientes, incluindo 175 mil empresas. Na prática, esta vasta rede permite-nos apoiar empresas que estão presentes em vários países e que pretendem entrar no mercado moçambicano, uma vez que ter um parceiro bancário internacional serve como um apoio significativo na fase de expansão e no desenvolvimento de negócios. Por outro lado, somos capazes de apoiar clientes em Moçambique a fazerem crescer as suas operações em outros mercados africanos ou internacionais, ajudando-os com soluções nas suas relações com os seus parceiros comerciais ou potenciais clientes.

Com o regresso aos projectos de GNL, dos quais o SG é um dos parceiros estratégicos (projecto da Área 1, liderado pela também francesa Total), e com o fim da pandemia que já se vislumba, qual é a sua opinião sobre o impacto no sector www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


“O modelo de negócio consiste em assistir as grandes empresas moçambicanas sem esquecer as PME e as cadeias de valor” bancário em particular, e na economia nacional, no próximo ano? Pela sua dimensão mundial, os projectos de LNG são fundamentais para o desempenho da economia nacional nas próximas décadas, todos o sabemos. No entanto, há uma contribuição significativa a ser dada por vários sectores produtivos do País, e não apenas por aqueles directamente ligados à extracção de gás. E o nosso objectivo, desde o início da actividade do banco em Moçambique, tem esse, de participar no crescimento da economia enquanto um todo, sendo relevante ao longo da cadeia de valor dos diferentes segmentos, www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

apoiando as PME a fazer negócios com grandes empresas locais e multinacionais. O impacto económico da pandemia tem sido sentido em todo o mundo e Moçambique não é excepção. O recente e progressivo levantamento de medidas restritivas, está a estimular a economia de volta à normalidade, com o segundo trimestre de 2021 a registar um crescimento do PIB de 2%, que é o melhor desempenho desde o segundo trimestre de 2019. Esperamos que a campanha nacional de vacinação em massa lançada pelo Governo continue a apoiar a contenção das infecções e, por conseguinte, a contribuir, espera-

-se, para um ambiente económico e social mais estável em 2022. O sector bancário reflecte, em grande proporção, o ritmo da actividade económica no País. O regresso às operações em vários negócios que tinham suspendido as suas actividades ou operavam com capacidade parcial contribuirá, certamente, para um melhor desempenho dos bancos. A pandemia tem servido de catalisador para o crescimento de soluções bancárias digitais diferenciadas, e esperamos que os canais remotos continuem a dominar cada vez mais a forma como fazemos operações bancárias no futuro.

Qual é o posicionamento actual do banco relativamente às cadeias de valor fundamentais e às PME que nelas operam, sendo este um segmento fundamental (é unânime), no desenvolvimento económico e social do País? O nosso objectivo é ser um participan-

61


MERCADO & FINANÇAS te activo e contribuir para o desenvolvimento da economia moçambicana e para o crescimento do sector privado, mais especificamente. A nossa banca corporativa é desenvolvida através de uma abordagem sectorial que analisa os sectores-chave da economia do País, nomeadamente agro-negócios, transportes e logística, infra-estruturas, integrando grandes, médias e pequenas empresas nessa abordagem. Em linha com o Grupo Société Générale e a nossa iniciativa Grow With Africa (Crescer com África), as PME são um segmento-chave para nós. Representam 90% das empresas privadas e contratam 70% da população rural. São, portanto, essenciais, especialmente na emergência da classe média e para um amplo acesso ao emprego. Temos uma equipa dedicada e soluções feitas à medida para as necessidades específicas deste segmento.

Por vezes, as PME têm potencial, mas falham na sua ligação com o investimento, os mercados, as certificações ou a conformidade para trabalhar com as grandes empresas. Como poderia o sistema bancário ajudar nisso? Ao nível do Grupo, desenvolvemos a tal iniciativa de investimento de 1,5 mil milhões de euros chamada Grow with Africa, que se destina precisamente a enfrentar esse problema e ajudar as PME a ultrapassar os seus desafios, com o objectivo de contribuir colectivamente para o desenvolvimento sustentável do continente africano, em parceria com actores locais, bem como com peritos internacionais, estabelecendo o diálogo, ouvindo e partilhando meios e abordagens inovadoras. Agora, ao nível local, seguimos esta iniciativa através da criação de parcerias, tais como a linha de financiamento que temos com o KFW, fornecendo crédito a uma taxa competitiva para as PME, e o acordo de partilha de risco com a AFD/ Proparco para apoiar empresas e PME lideradas por mulheres. E posso anunciar que, este ano, o banco irá implementar a ‘Casa das PME’, um espaço que vai dedicar parte integrante da oferta dedicada a este segmento em outras subsidiárias do Grupo SG em África. Neste espaço, o banco pretende, juntamente com outros parceiros, colocar à disposição destas empresas uma vasta gama de serviços de consultoria especializada. Na essência, queremos trabalhar em estreita colaboração com as PME, estabelecer parcerias e estar envolvidos no seu desenvolvimento que,

62

“Em linha com o Grupo e a iniciativa Grow With Africa (Crescer com África), as PME são um segmento-chave para nós” no final, será o desenvolvimento da economia moçambicana como um todo.

Este é um ano fulcral para a Estratégia Nacional de Inclusão Financeira. Qual é visão do banco relativamente a este tema? Nos países em que o SG está presente no continente africano, participa no desenvolvimento de instituições de microfinanças a fim de contribuir, através delas, para a inclusão financeira da população local que tem pouco ou nenhum acesso aos serviços bancários. Esta intervenção toma a forma de concessão de linhas de crédito, através de participações de capital, bem como através do desenvolvimento de soluções inovadoras, tais como a solução de carteira móvel Yup, lançada pelo Grupo em África, em 2020. A Yup foi criada com o objectivo de fornecer produtos quase-bancários sim-

ples e acessíveis a uma vasta população, dos quais a maior parte não tem ligação com o sistema financeiro mais formal, digamos assim. Esta solução está hoje presente no Senegal, Costa do Marfim, Burkina Faso, Camarões, Gana, Madagáscar e Guiné, e esperamos replicar algumas destas iniciativas em Moçambique e estabelecer parcerias com actores relevantes, com o objectivo de apoiar a inclusão financeira no País. Posso adiantar que temos uma agência no distrito de Mecuburi, aberta juntamente com a nossa agência em Nampula, alinhada com a estratégia do Banco Central para a bancarização das zonas rurais.

Sendo um banco relativamente recente no mercado (completou cinco anos em 2021), gostaria de lançar um desafio à Société Générawww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


le: qual é, de facto, o factor diferencial do SG no mercado interbancário em Moçambique? Pretendemos acrescentar valor aos nossos clientes, colaboradores e accionistas e ter um impacto positivo no mundo à nossa volta, ajudando indivíduos e empresas a realizar os seus projectos e a construir o seu futuro. Este é o sentido que atribuímos à nossa existência como banco. Somos uma subsidiária directa do Grupo SG, uma entidade com notação A (S&P), o que atesta a solidez da nossa instituição. Subsequentemente, regemo-nos por um controlo rigoroso, normas de governação e pelas melhores práticas, dando uma garantia extra aos depositantes em relação à segurança dos seus fundos. Acreditamos também no desenvolvimento de soluções feitas à medida dos nossos clientes. A nossa abordagem baseia-se na compreensão estrutural do negócio do cliente, aliada a um conhecimento especializado e aprofundado da indústria e dos produtos e serviços relevantes à mesma, proporcionando, assim, uma solução adequada às necessidades e exigências únicas de cada cliente. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

OP



ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

66 Malange: uma aventura por uma das sete maravilhas de Angola

g

e 68 Como os melhores chefs de cozinha devem encarar a gastronomia em 2022

69 Conheça o projecto que adiciona condimentos tecnológicos ao prazer da degustação


Angola

As Maravilhas de Malanje ANGOLA

Uma aventura por uma das sete maravilhas do país

e

66

ao aterrarmos em malanje, Angola, descobrimos uma cidade onde passado e presente se cruzam. Primeiro, destacam-se edifícios da ocupação colonial bem preservados e que se sucedem ao longo da Avenida Comandante Dangereux, que atravessa a cidade, cruzando-se com o rio Malanje no seu percurso entre a Lagoa da Guiné e o Kwanza, onde desagua. Bem no centro urbano encontramos as sedes do Banco Nacional, do Governo Provincial, o verdejante Jardim Municipal em frente à moderna estação dos comboios e a imponente Sé Catedral, classificada, em 2017, como património histórico-cultural de Angola. Nas redondezas descobrimos construções e condomínios modernos que revelam o crescimento recente da cidade, elevada a esta categoria no dia 13 de Fevereiro de 1932, e que está agora empenhada numa reconstrução que a torne cada vez mais apelativa. E é a partir daqui que saímos à descoberta das várias atracções da província, um território com uma diversidade de paisagens, de fauna e flora capazes de encantar quem o

visita. A primeira paragem da viagem está marcada para a vila de Cacuso, em cujo centro encontramos ainda muitos edifícios típicos da época colonial. Rumamos ao sul, em direcção às famosas Pedras Negras de Pungo Andongo. Após alguns quilómetros, começamos a vislumbrar no horizonte de uma das intermináveis rectas da estrada, a silhueta das formações rochosas que, ao longo de milénios, os elementos se encarregaram de arredondar e que testemunharam momentos fulcrais da História do país. Atravessamos a planície, que começa a ser rasgada por gigantescas pedras com formas curiosas onde tentamos “encaixar” animais e objectos para, em poucos quilómetros, desviarmos à esquerda, onde somos recebidos por uma placa de boas-vindas na estrada que dá acesso aos pontos mais espectaculares da região. Percorremos a pé um corredor de pedra a partir do qual temos uma vista única sobre o vale onde o rio Kwanza se espalha, bloqueado poucos quilómetros à frente pela Barragem de Capanda cuja albufeira também podemos visitar

na fronteira com a província do Kwanza Sul. Protegidas por estruturas simples de cimento, encontramos as míticas pegadas impressas nas rochas que o povo garante serem dos reis Ngola Kiluanji e da sua filha, Njinga a Mbande, que reinaram nas terras do reino Ndongo — aliás, o nome original do lugar é precisamente Pungo-a-Ndongo. Dedicámos o segundo dia ao património natural, que inclui várias reservas naturais, como as do Luando e Milando, onde se procura preservar a rica fauna da região. Na impossibilidade de visitarmos todas, optamos pelo Parque Nacional de Kangandala, que, em 2005, ganhou enorme importância quando por ali foram avistados exemplares de palancas negras gigantes, subespécie rara de antílope, endémica de Angola, exclusiva da província de Malanje e que se julgava extinta. Embora seja ainda considerada como em perigo crítico de extinção, a palanca negra gigante encontra neste espaço um santuário que poderá representar a sua sobrevivência. É na expectativa de podermos observar um destes magníficos animais que chegamos ao mais pequeno de todos os Parques Nacionais de Angola,

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022


estabelecido em 1970. Não temos a sorte de ser premiados pela esquiva estrela do parque, mas descobrimos outros exemplares da fauna local. Aproveitamos a proximidade para um salto à zona dos impressionantes rápidos do rio Kwanza, que ali ganha fôlego na sua rota em direcção ao Oceano. A atracção que nos levou a Malanje fica reservada para o fim. De manhã cedo, dirigimo-nos para norte, em direcção às famosas quedas de água da Kalandula. Eleitas uma das Sete Maravilhas Naturais de Angola, têm no currículo o título de serem as segundas maiores de África, com as águas do rio Lucala a espalharem-se ao longo de mais de 400 metros de comprimento para se despenharem de uma altura de mais de 100 metros, num espectáculo único. Assim que paramos o carro no estacionamento próximo do miradouro, somos abordados por jovens guias que se oferecem para nos mostrar os melhores ângulos das cascatas, enquanto no antigo parque de merendas algumas mulheres vendem ginguba e outros petiscos para ajudar a enganar a fome. À medida que nos aproximamos do miradouro ouvimos o trovão crescente da queda das águas e vislumbramos a névoa que resulta dos pingos que se soltam do imenso caudal. Em dias de vento, alguns são projectados para cima, dando aos visitantes a sensação de uma “chuva que sobe”. No cacimbo, quando o caudal é menor, podemos aventurar-nos a caminhar sobre as rochas do leito a que as correntes deram formas intrigantes, arredondadas e suaves. Olhando para o vale à frente, deixamo-nos encantar com a imagem do Lucala seguindo tranquilo o seu caminho, depois das dramáticas quedas, num curso que o levará até ao Kwanza. Estas cataratas atraem muitos visitantes seduzidos ao primeiro contacto. TEXTO Susana Gonçalves FOTOGRAFIA D.R. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

“Dirigimo-nos para o norte, em direcção às famosas quedas de água da Kalandula. Eleitas uma das Sete Maravilhas Naturais de Angola têm no currículo serem as segundas maiores de África ROTEIRO COMO IR A partir de Luanda, o acesso por estrada até Malanje é feito através da EN 120, numa viagem de cerca de cinco horas para cumprir os quase 400 kms de distância. A nova rota da TAAG operada pelos Dash 4-800 reduz consideravelmente este tempo, levando-nos até Malanje de forma tranquila em apenas 45 minutos. O QUE FAZER Na cidade de Malanje procure as iguarias locais em restaurantes como “O Quintal”, na Rua Sacadura Cabral; “O Triângulo”, na Rua 28 de Maio; ou “O Kapri”, na Rua Comandante Dangereux. Na Pousada da Calandula o restaurante está aberto ao público. ONDE COMER A Pousada da Calandula oferece a possibilidade de acordar com vista para uma das mais belas paisagens de Angola: as quedas da Kalandula. Na cidade de Malanje as opções podem passar pelos hotéis Palanca Negra, Portugália, Regina II ou Njinga Hotel.

67


GOURMET

Nem mesmo depois do covid-19 o sector da restauração voltará a ser o mesmo

g a conceituada revista norte-americana food & wine, fundada em 1978, especializada em dicas de culinária, críticas de restaurantes, combinação e degustação de vinhos e até em viagens apresentou, recentemente, o panorama do que se pode esperar da postura dos restaurantes ao longo deste ano, desde os aspectos organizacionais até às opções gastronómicas de eleição. O ponto de partida é o facto de que o covid-19 alterou a maneira de estar no sector, introduzindo grandes inovações na forma como se opera e se consomem produtos dos restaurantes. Então, a Food & Wine pediu que alguns dos melhores chefs e proprietários de restaurantes espalhados pelo mundo revelassem qual seria o panorama de 2022. A primeira novidade

Tendências da Gastronomia é que os investidores diversificarão os seus modelos de negócios como resultado da pandemia. Ou seja, haverá muito mais híbridos de venda a retalho (tendência de fazer colaborar as opções físicas e digitais) do que conceitos tradicionais de restaurante, uma vez que este modelo não é mais sustentável num ano em que os restaurantes abrirão menos dias da semana (a previsão é de que a maior parte dos restaurantes opere quatro ou cinco noites por semana). Também se espera um 2022 de muito mais colaboração entre os chefs, que acreditam que uma grande tendência do presente ano sejam os jantares colaborativos, nos quais dois ou mais chefs se reúnem pa-

Também se espera um ano de 2022 de muito mais colaboração entre os chefs, em jantares colaborativos

68

em 2022 na Voz dos Melhores Chefs ra criar menus de degustação, que combinem os seus estilos únicos. Com convidados desejosos de interacções sociais e chefs famintos por serem criativos após um longo período de sobrevivência, esses jantares são a oportunidade perfeita para a diversão, sem falar na vantagem de poderem atingir o dobro do público que um chef sozinho não conseguiria. Além disso, 2022 será marcado pelo regresso dos jantares finos e sofisticados. A ideia apresentada pelos especialistas baseia-se na experiência de que as tendências dos restaurantes nos períodos pós-turbulência social, como o 11 de Setembro ou a crise económica de 2008, são marcadas pelo retorno aos restaurantes super sofisticados e criativos na cozinha. Os chefs entendem, por isso, que este momento é propício para esse retorno, já

que as pessoas estarão dispostas a sair, reunir-se em torno de uma experiência de jantar mais formal e gastar mais. Também será, definitivamente, o ano da comida caseira. É que, ao longo do último ano e meio, as pessoas voltaram-se para alimentos reconfortantes e isso continuará em 2022, até mesmo porque que muitos chefs qualificados preparam-se nesse sentido utilizando os melhores ingredientes e técnicas para executar confortos simples nas refeições. Muitos dos especialistas que falaram à Food & Wine acreditam que a pandemia trouxe várias alterações irreversíveis à forma de estar no sector da restauração em todo o mundo.

TEXTO Redacção FOTOGRAFIA D.R

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2021


A centenária casa de Vinho do Porto e Douro, Poças, lançou um novo projecto com um vinho que pretende proporcionar ao consumidor uma experiência diferente do habitual

Trava-Línguas, o Vinho Que o trava-línguas tinto doc 2019, produzido pela Douro, a centenária casa de Vinho do Porto, foi recentemente colocado no mercado. Produzido pela Poças, este vinho representa uma aposta num segmento de consumidor mais jovem e aponta para um consumo descontraído e descomplicado. Mais do que o próprio vinho em si, importa destacar a ousadia que lhe está associado, ao juntar a um produto tipicamente conservador como o vinho, uma imagem contemporânea e irreverente. Elaborado a partir das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, apresenta cor rubi brilhante. Tem aroma intenso a frutos vermelhos e do bosque, com notas de chocolate e leve especiaria. Na boca revela-se envolvente e elegante, com corpo médio, taninos bem integrados, final fresco e persistente. Poderá acompanhar bem petiscos e cozinha italiana, e tem o preço de venda ao público recomendado de 6 euros. O projecto Trava-Línguas tem por base, como o nome indica, a exploração dos tradicionais trava-línguas de que a língua portuguesa, certamente à semelhança de outras, é rica. Para a primeira edição deste vinho foi escolhido o famoso “o rato roeu a rolha da garrafa de rum do rei da Rússia”, cujo rótulo foi concebido e ilustrado pelo artista André da Loba, que apresenta uma interpretação gráfica do trava-línguas. A novidade consiste numa APP, desenvolvida pela consultora de tecnologia criativa BOUND, que permite a visualização de uma animação em realidade au-

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

Nos Leva ao Universo Das APP´s mentada no espaço do rótulo do vinho. Para isso é necessário instalar a APP Poças Wines AR, através do QR code presente no contrarrótulo (acessível a Android ou IOS). Ao apontar o smartphone com a aplicação aberta para o rótulo do vinho, este torna-se no écran de uma animação visual, que complementa a ilustração visível do rótulo. Por outras palavras, o rótulo abandona o seu caráter estático e transforma-se no palco de uma narrativa visual que abre portas para novas interpretações e perceções e transporta o consumidor para uma experiência imersiva original e inovadora. A própria aplicação permite gravar e partilhar a experiência nas redes sociais. Pedro Poças Pintão, director de marketing e comunicação e Presidente do Conselho de Administração da Poças refere que “o lançamento do Trava-Línguas permite-nos mostrar um lado mais descontraído do vinho, aproximando o vinho das pessoas, de uma forma divertida”. Um produto claramente direcionado para um público jovem e cosmopolita, ao juntar a tecnologia e a arte, num vinho destinado a momentos informais de convívio e descontração. Para além do acesso à narrativa visual de André da Loba, a APP apresenta outras funcionalidades, como um add-on de gamificação, com um jogo, que poderá ser partilhado com amigos, que apresenta vários trava-línguas que surgem aleatoriamente e convida o jogador a pronunciá-los correctamente.Também neste caso a experiência poderá ser gravada e partilhada nas redes sociais. Para além do jogo, a aplicação apresenta o projecto e o artista e dá acesso aos pontos de venda do produto. Pedro Poças Pintão acrescenta que está em curso a colaboração com ilustradores reconhecidos nos vários países onde o vinho venha a ser lançado: “Fizemos também uma versão em inglês – o Tongue Twister – para apresentação nos mercados internacionais e já estamos a preparar o lançamento no Canadá, com rótulo e animação ilustrados por um artista local”. Trata-se do ilustrador do Québec, Julien Posture, que aceitou conceber um rótulo baseado num trava-línguas local, na língua francesa. O objetivo, conclui, Pedro Poças Pintão, passa pela criação de uma maior empatia com o consumidor “com a utilização de trava-línguas de cada país ou região”. A Poças é uma empresa familiar que produz vinhos do Porto e Douro. Fundada em 1918, por Manoel Domingues Poças Júnior, é uma das poucas empresas do sector que se mantém na mesma família desde a sua fundação.

69



FOTOGRAFIA

A exposição “O Mais Belo Fim do Mundo” estará patente no Centro Cultural Português, até 12 de Fevereiro de 2022

“O Mais Belo Fim do Mundo” o mundo já o conhecia por meio das palavras, mas a arte que insiste em penetrar nas suas veias obrigou-o a mergulhar num mar de significados onde a imagem iria agora falar mais do que algum dia as letras o fizeram. José Eduardo Agualusa marcou, desta forma, a sua estreia na fotografia por meio da exposição intitulada “O Mais Belo Fim do Mundo” patente no Centro Cultural Português, em Maputo. Duas expressões artísticas marcam este momento de exaltação da cultura lusófona: a literatura (a sua marca registada) e a fotografia, expostas em salas distintas. Na primeira sala, o público pode contemplar retratos de vários escritores de língua portuguesa, registados por Agualusa em diferentes ocasiões, acompanhados de um texto do seu grande amigo escritor moçambicano Mia Couto. Na segunda sala são exibidas imagens da Ilha de Moçambique

Pelas Lentes de Agualusa onde vive actualmente Agualusa. O escritor angolano define a exposição fotográfica como uma celebração do amor pela sua esposa e pela Ilha de Moçambique. “O Mais Belo Fim do Mundo é uma história de amor pela Yara. A maior parte destas fotos e poemas foram feitas durante o período em que a Yara estava grávida da Kianda. Durante esse tempo fui fazendo estas imagens e escrevendo estes versos”, acrescentou. O preto e branco das fotografias que compõem a exposição ajudam a descrever a “ilha dos poetas”, onde a natureza fala mais alto e o texto complementa o que a imagem quer dizer. Para Mia Couto, autor do texto de apresentação da exposição, há nesta mostra uma recriação de uma fronteira nova entre o mar e o céu. “Não são fotografias, são histórias.

“O Mais Belo Fim do Mundo é uma história de amor pela Yara. A maior parte das fotos foram feitas quando ela estava grávida...” www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022

São declarações de amor à Yara. São conversas secretas com a ilha. Estas fotografias precisam de ser lidas e não apenas vistas, precisam de ser escutadas. Porque há aqui uma voz que denuncia esse lado de escritor que o Zé, quando fotografa, não revela”, esclareceu o escritor moçambicano. Para o embaixador de Portugal em Moçambique, António Costa Moura, “O Mais Belo Fim do Mundo” é uma celebração da amizade construída por meio da língua portuguesa. “Celebramos hoje a amizade entre vários mundos, mundos que estão unidos por uma mesma língua. Eduardo Agualusa é um provocador, ele provoca-nos e remete-nos para belos fins do mundo”, concluiu. O projecto artístico desta exposição esteve a cargo da curadora e editora brasileira Lucia Bertazzo. José Eduardo Agualusa nasceu na cidade do Huambo, em Angola, a 13 de Dezembro de 1960.

TEXTO Yana De Almeida FOTOGRAFIA Mariano Silva

71


MERCEDES BENZ O Vision EQXX terá um consumo aproximado de 10 kWh a cada 100 km, superior ao já famoso EQS da marca que faz médias de 16 kWh.

v

72

Mercedes-Benz Vision EQXX, a mercedes-benz revelou, finalmente, o seu mais novo carro eléctrico — o Vision EQXX. Segundo a gigante alemã, trata-se do veículo zero emissão com melhor eficiência energética do mercado, além de ser o Mercedes mais competente quando pensamos no mix de consumo, desempenho e tecnologia. Numa apresentação realizada de forma online logo no início do presente ano, 3 de Janeiro, directamente da sua sede em Stuttgart, na Alemanha, a Mercedes foi bem directa quanto ao que o seu produto vai entregar aos usuários quando chegar ao mercado. A montadora tratou de mostrar todo o aparato tecnológico do veículo e focou muito o tema que mais a preocupa quando pensamos em carros eléctricos: a autonomia. O Vision EQXX é um carro

o Eléctrico com Autonomia de Mil Quilómetros eléctrico com condições de trafegar por 1000 km com uma única carga, mas dentro da medição europeia, a WLTP, ou seja, com percursos que privilegiam a cidade e não a estrada. No entanto, na apresentação, a montadora deixou claro que o seu sedan zero emissão será o automóvel eléctrico ideal para viagens. Segundo a Mercedes-Benz, o Vision EQXX terá um consumo aproximado de 10 kWh a cada 100 km, superior ao já famoso EQS, sedan grande eléctrico da marca que faz médias de 16 kWh. Além dessa economia, o automóvel conta com uma bateria compacta, que permitiu à engenharia trazer um carro de dimensões amigáveis, além de um peso inferior. Para chegar a essa autonomia, considerada excelente, a

empresa não investiu apenas nas baterias. Cada detalhe do Vision EQXX foi pensado para melhorar a sua eficiência, como o seu formato aerodinâmico, materiais utilizados na construção e também em adições tecnológicas relevantes, como um painel solar localizado no tecto, que pode acrescentar 44 km de autonomia ao veículo, e peças impressas em 3D. Segundo a marca, a Fórmula 1 também foi utilizada como inspiração para trazer todos esses benefícios num carro relativamente compacto. A Mercedes, porém, não revelou quais as medidas do Vision EQXX, mas, a julgar pelas imagens, trata-se de um sedan médio com porte semelhante ao Classe C, seu principal produto globalmente.

O Vision EQXX foi pensado para melhorar a sua eficiência, como o seu formato aerodinâmico, materiais utilizados na construção e em adições tecnológicas...

A empresa também não revelou o preço, nem versões nem data de lançamento do Vision EQXX, nem tão pouco os mercados em que estará presente, prometendo revelar todos estes dados em breve.

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.