Eu Fadista Me Confesso - Fotobiografia de Manuel de Almeida

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MANUEL D E ALMEI DA

1937

Dedicatória/Autógrafo

Moldando a graça dos tons Às rimas de uma cantiga É dos poucos e dos bons Fadistas à “moda antiga”

Não canta para iludir Nem ilude p’ra agradar Tem coração p’ra sentir Alma e voz para cantar

Só p’la fibra com que expande Todo o sabor do passado

Manuel de Almeida é grande Entre os grandes que há no Fado!

Carlos Conde

Poeta de Fado (Carlos Augusto Conde (22/11/1901 -13/07/1981)

Índice Prefácio O Fadista Autor e Compositor Atleta e Aficionado Discografia Homenagens Troféus Placas e Medalhas Aniversário Ausente 7 11 61 103 115 131 141 149

Prefácio…

Um homem a recordar – Raoul Mesnier du Ponsard (Porto 1848 – 1914 Inhambane – Moçambique). Engenheiro português, filho de pais franceses que concebeu o Elevador ou Ascensor da Bica, um funicular inaugurado a 28 de Junho de 1892 e tornado Monumento Nacional desde Fevereiro de 2002. Situase na Rua da Bica de Duarte Belo e serve um dos Bairros mais Lisboetas e aguerridos de Lisboa.

A 27 de Abril de 1922 nasceu na Calçada da Bica Grande, Bairro da Bica, Freguesia de S. Paulo, hoje (depois da reorganização administrativa de 2013) Freguesia da Misericórdia, um individuo do sexo masculino, filho de Manuel de Almeida e Belmira Ferreira, a quem foi dado o nome de Manuel Ferreira de Almeida. Ainda muito pequeno, seus pais mudam-se para a Rua da Bica de Duarte Belo, 45 – 1º, ex-libris do Bairro e da Cidade, onde em 8 de Junho de 2017, foi colocada uma placa para assinalar o facto.

Raoul Mesnier du Ponsard
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Não é a Maria Edite… é o Manuel de Almeida com 1 ano de idade. Era assim, naquele tempo.

Com 8 anos envergando a farda de marinheiro. Contudo, com 21 anos serviu o Exército.

Pouco interessado nos estudos, com apenas 10 anos de idade já circulava, quase clandestinamente, pelos retiros de Fado. Aos 12 anos é-lhe imposta uma profissão: desenhador de calçado de senhora!

Vem o serviço militar e logo a seguir, em 7 de Agosto de 1947, o seu casamento com Maria Manuela Teodoro. Dois anos depois é pai “babado” duma menina a que deram o nome de Maria Edite. Manuel diria “… foi o 2.º dia mais feliz da minha vida!”

Manuel com 2 meses.
1922 1923 1930 11
“Este foi o dia mais feliz da minha vida” , Viria a enviuvar em 1978.
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O Fadista…

O Fado estava-lhe no sangue. Como amador percorre os caminhos abertos por aqueles que ele tanto admirava. Vai cantando um pouco por todo o lado. Aqui e ali vai deixando a sua emoção e vai emocionando.

Muito solicitado de Norte a Sul do País, Manuel de Almeida percorreu e cantou em Restaurantes Típicos e Retiros, até se fixar como Fadista residente em diversos espaços em Lisboa e Cascais.

Jornal “Canção do Sul” de 16/06/1948. Cartaz de 05/02/1950. Manuel de Almeida apresentado como “Cantador e Poeta” . 28/01/1954 – Anúncio da presença de Manuel de Almeida no “Solar da Saudade” ao lado de Aura Ribeiro (irmã de Alberto Ribeiro).
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28/01/1954 – Anúncio da presença de Manuel de Almeida no “Solar da Saudade” ao lado de Aura Ribeiro (irmã de Alberto Ribeiro).

Dois nomes incontornáveis da canção portuguesa:

Em 1956 foi considerado “A Revelação do Ano”. Com tal “título” percorre Portugal de Norte a Sul. Jornal “Festa” de 20/04/1956. Acompanham Manuel de Almeida à guitarra Francisco Carvalhinho e na viola Pais da Silva. Helena Tavares e Manuel de Almeida.
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Anúncio da presença de Manuel de Almeida no “Cozinha Real do Fado”, Porto.

Elenco de “A Tipóia” no tempo de Manuel de Almeida. Reconhecem-se (da esquerda para a direita) Adelino dos Santos, guitarra portuguesa, Filipe Pinto, Adelina Ramos e Natália dos Anjos, fadistas; Miguel Ramos viola de fado e compositor.

A Tipóia

Manuel de Almeida; (pela direita) o popular cantor da época Luís Mariano (Mariano Eusébio González y Garcia, 1914-1970, tenor basco que viveu e fez a sua carreira em França) ao lado de Adelina Ramos; Mali Socorro (Maria Emília Soares dos Santos, 1928-2009); (pela esquerda) Américo Coimbra, português, actor de cinema, Alice Maria, fadista.

Manuel de Almeida, Adelino dos Santos, guitarra, e Miguel Ramos, viola. Revista “Século Ilustrado” de 05/11/1955. Adelina Ramos e Manuel de Almeida receberam e cantaram para o nosso actor de cinema, internacional, António Vilar (António Justiniano dos Santos, Lisboa 1912 – 1995 Madrid).
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Adelina Ramos.

Diz-se ter sido a fadista Maria Pereira (1914-2003) quem o incentivou a cantar pública e profissionalmente na casa onde então trabalhava “A Tipóia” – Restaurante Típico – fundado em 1950 pela “fadista de raça”, como era tratada, Adelina Ramos (1916-2008) e por seu marido José Maria Baptista Coelho “o calcinhas”. A casa encerrou com esta gerência em 1975.

“Fui, cantei dois fados.

Desde logo passei também a participar do elenco da Tipóia”

Assim, em 1951, Manuel de Almeida, com 29 anos de idade, torna-se profissional auferindo um cachet de 60$00 (sessenta escudos) por noite. Permanece ali durante algum tempo. Mas a sua presença era muito solicitada e Manuel de Almeida parte para outros espaços e lugares.

“A Tipóia” era famosa pela sua “cozinha” e pelo elenco artístico de “primeira água”. Assim, a melhor sociedade e os artistas das mais variadas áreas eram frequentadores assíduos.

Depois desta primeira experiência em local fixo, Manuel de Almeida deixa a “A Tipóia”, onde voltará mais tarde para permanecer cerca de 12 anos, indo aceitar cantar em outros espaços e assim fazer valer o seu mérito e cachet. Cantou no “Retiro

Manuel de Almeida in “Diário Ilustrado” de 31/05/1960. Adelina Ramos, Marques Vidal (Produtor, Locutor); Sophie, Manuel de Almeida, Joselito - o “menino prodígio” - (José Jiménez Fernandez), Maria da Fé e Quinita Gomes (Joaquina Gomes dos Santos – 1917-2001 - a “voz velada e triste”. do Malhão”, no “Estribo”, “Olímpia Clube” e “O Faia”.
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Maria Pereira. Acompanhado à guitarra portuguesa por Francisco Carvalhinho (José Gonçalves de Carvalho, 1918-1990) e na viola Paquito (Francisco Perez Andion, 1935-2004).
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Jornal “Diário Ilustrado” 1960. Entrevista em “A Tipóia” na presença do guitarrista/compositor Casimiro Ramos (1901-1973). Acompanhado à guitarra portuguesa por Adelino dos Santos. 1956 - Manuel de Almeida, acompanhado na guitarra portuguesa por Liberto Conde e na viola Orlando Silva, marca presença na Festa das Bodas de Prata da mundialmente reconhecida acordeonista/ compositora Eugénia de Jesus Lima (1926-2014).
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Eugénia Lima.

Cedo Manuel de Almeida começou a usufruir do reconhecimento público – privado ou institucional – homenageando-o sem reservas. Foi um caso de discreta popularidade. Assumidamente conservador quer nos hábitos, nos sentimentos ou nos princípios morais. Em tudo o que se lê nas suas entrevistas, realça a coerência. No Fado é tradicional, castiço e até inovador, mas sempre com a chancela do primordial.

Respondendo às mais diversas solicitações, Manuel de Almeida é presença que ninguém dispensa.

21/10/1957 lê-se na Placa “Homenagem da Empresa do Luso ao Cantador Manuel D’ Almeida”.

30/11/1960, Cartaz das Festas de Sporting Clube de Rio Seco. Interessante, mais vozes masculinas.

13/01/1962, Cartaz duma Noite da Canção Nacional. Manuel de Almeida tratado por “Rei do Fado Castiço” e a querida Helena Tavares (1932-1980) “Vedeta da Canção”.

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O Pavilhão dos Desportos (hoje Pavilhão Carlos Lopes) foi pequeno para tanto publico e tantos colegas: uns brindaram--no com os seus fados, outros com os seus aplausos.

Reconhecem-se Maria Leonor, Artur Alves, Filipe Pinto (de costas) que lhe coloca na lapela uma simbólica “Guitarra de Ouro”. Em fundo, o Grupo de Marchantes da Bica.

de Artur Alves e Manuel Celeiro, ambos locutores, o abraço terno e inesquecível de Maria Leonor (Maria Leonor Leite Pereira Magro, 1920-1988)“Mestra” do saber na Arte de comunicar (Locutora/Apresentadora).

Jornal “Record” de 17/11/1962. Na presença
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Fernanda Maria, Simone de Oliveira, Carlos Ramos e Manuel de Almeida. Revista “Flama” de 07/02/1964. Manuel de Almeida, o “Cantador”, felicita a distinguida desse mesmo ano como “Cantadeira”: Fernanda Maria. Revista “Rádio & Televisão” de 08/02/1964.
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1964, Jornal “Diário de Lisboa”.

O “Óscar da Imprensa – 63”

1964- Fevereiro Pavilhão dos Desportos, Lisboa

Um grande espectáculo no Pavilhão dos Desportos celebrava “os melhores” nas suas categorias. Fernanda Maria e Manuel de Almeida no Fado; na Música Ligeira, Simone de Oliveira e Rui de Mascarenhas (Rui de Pinho Ferreira, 1929-1987) que, por se encontrar a trabalhar no Canadá, delega como seu representante o Guitarrista/Fadista Carlos Ramos (1907-1969).

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Um palco cheio de celebridades do Desporto, da Rádio, da Tauromaquia, do Teatro Declamado, do Teatro Ligeiro, da Televisão, do Cinema, da Música Ligeira e do Fado. Revista “Flama” de 07/02/1964.

Lisboa à Noite

Em 1965 Manuel de Almeida torna-se cantador residente no Restaurante “Lisboa à Noite” onde permaneceu onze anos. “Lisboa à Noite” era o local preferido dos empresários e políticos; dos amantes do “castiço” e dos deslumbrados por Fernanda Maria. Quem visitava Lisboa era convidado a jantar e a escutar Fado naquele espaço, na Rua das Gáveas, 69, no coração do Bairro Alto

Manuel do Almeida acompanhado pelo exímio Guitarrista Jaime Santos, pelo Prof. Martinho D’Assunção na Viola e Liberto Conde na viola-baixo. Manuel de Almeida, Michel e Conchita Bauptista - cantores internacionais espanhóis - Fernanda Maria, ??, Zélia Lopes, fadista, Jaime Santos e Martinho D’Assunção (sentado).
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Manuel de Almeida e Filipe Pinto recebem Madalena Iglésias que sempre ali ía “matar saudades”!
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E esta? Manuel de Almeida despede-se, à porta do “Lisboa à Noite”, do astronauta norte-americano Neil Alden Armstrong (1930-2012) o 1.º homem a pisar a Lua. Manuel de Almeida com a famosa cantora/actriz italiana, Gigliola Cinquetti vencedora em 1964 do Festival da Eurovisão (Copenhague). …nem sequer é preciso saber falar francês. Basta que saiba cantar e os “bons no ofício” reconhecem-se… com Charles Aznavour cantor francês de origem arménia…. Era muito fácil para Manuel de Almeida fazer amigos…aqui com o brasileiro Cauby Peixoto…
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…ou com a B.B. “sex-symbol”. Brigitte Bardot, quando veio a Lisboa apresentar o filme “Babette vai à guerra”.

Meu querido Manuel de Almeida !

Começo por agradecer a oportunidade que me é dada para falar um pouco de tão brilhante colega e tão caro amigo.

Estou numa posição privilegiada. Fui sua colega e empresária durante anos (11!) e desse tempo guardo a recordação do homem “cavalheiro”, bem humorado, afectuoso e profissional.

Manuel de Almeida foi um intérprete com “alma”. Daqueles que nos fazem reconhecer que - tal como ele cantava“…não é fadista quem quer / mas sim quem nasceu fadista”.

Ali, no coração do Bairro Alto, no meu Restaurante “Lisboa à Noite”, foram passadas noites, meses… anos de franca e leal camaradagem. Ninguém competia com ninguém e todos se entregavam ao Fado e a quem o escutava, dando o seu melhor.

O “Manel” – como era carinhosamente tratado por nós – arrastava para o ouvir o que podemos chamar de “nobres e plebeus”.

A sua figura era imponente e o seu estilo/modo de cantar era pessoalíssimo. Não lembrava ninguém; não imitava ninguém.

Afastada que estou das chamadas “Casas de Fado”, não sei como se vivem hoje esses ambientes, mas desejo, sinceramente, que não se tornem muito diferentes do que eram então – lugares onde se trabalhava com requinte, camaradagem e profissionalismo.

Um saudoso beijo, Fernanda Maria Fadista /Autora Lisboa, 2016

Ao Manuel de Almeida

Pela colaboração honesta, leal e amiga Prestada ao “Lisboa à Noite” de 10 de Setembro de 1965 a 31 de Outubro de 1976.

O reconhecimento dos seus proprietários.

Fernanda e Romão

Fernanda Maria Romão Martins

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Rádio e Televisão

Manuel de Almeida foi um dos fadistas que em 1956 apareceu nas sessões experimentais da RTP. A partir de então a sua presença foi regular em muitos programas. Recordemos alguns para também recordar quem o acompanhava musicalmente e quem com ele partilhava o ecrã.

Programa partilhado com Natércia da Conceição (f. 2009). Acompanhantes: na guitarra José Nunes e na viola Júlio Gomes. Acompanha Manuel da Almeida neste programa, que tão brilhante realização tinha, a “rainha” do Fado Menor Mariana Silva. Na guitarra José Fontes Rocha e na viola Júlio Gomes. Manuel de Almeida apresentando, na RTP, os Fados que acabara de gravar. Revista “Plateia” de 11/02/1969.
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Dia de Festa na RTP! Manuel de Almeida é um dos convidados. Reconhecem-se o produtor Melo Pereira, António Calvário e Cidália Meirelles (1925-1972), importante dinamizadora da música portuguesa.

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Ao microfone da RDP – Rádio Difusão Portuguesa – Programa Implacável – Manuel de Almeida concede uma grande entrevista ao locutor Manuel Seleiro, na presença do jornalista Carvalho Ramos que reproduziu para a Revista “Plateia” extractos dessa entrevista. (“Plateia” de 01/03/1977).

O Jornal “Diário Popular” de 15/03/1970 noticiava a presença de Manuel de Almeida no Programa “1-8-0” em transmissão exclusiva durante 3 horas na Rádio Peninsular, com boletim noticioso em directo a partir da redacção do Jornal “Diário Popular”. Manuel de Almeida foi acompanhado à guitarra por Jorge Fontes (1935-2019) e à viola por José Maria Nóbrega.

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Placa de agradecimento da Casa do Pessoal do Rádio Clube Português, 15 de Outubro de 1964.

Muitas foram as entrevistas radiofónicas e os programas de fados em que Manuel de Almeida participou. A Rádio, quer em disco vinil ou em directo, não o dispensava. Era presença “obrigatória” porque a comunicação social e o público assim o exigiam.

Programa “Rua da Esperança”. Reconhecem-se a acompanhar Manuel de Almeida, na guitarra J. Fontes Rocha e na viola-baixo Joel Pina. RTP Programa de “Fados”, com realização de Luís Andrade (1935-2013).

Jornal “Diário Popular” de 15/05/1971. Manuel de Almeida actuando perante as câmaras da RTP Açores. Acompanham-no José Parcana e Fontes Rocha à guitarra, Manuel Martins na viola e Gago da Câmara na viola-baixo. 1944 – RTP, Programa “Zona +” de Carlos Cruz. Manuel de Almeida é acompanhado pelos jovens Ricardo Rocha e Paulo Parreira na guitarra portuguesa e Guilherme Carvalhais na viola.
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Na Estação Emissora do Clube Radiofónico de Portugal com o locutor/ produtor Luís Mendonça.

Moçambique, 1971

“Manuel de Almeida não confinou a sua arte e o seu Fado apenas aos Retiros, às Casas de Fado, às Salas de Espectáculos, à Rádio ou à Televisão. Ele percorreu Portugal Continental, Insular e Ultramarino. Ele também teve a sua Internacionalização!

Manuel de Almeida e Ada de Castro foram convidados como “atracção” para cantarem o “seu” Fado na F.A.C.I.M. – Feira Agrícola, Comercial e Industrial de Moçambique, Lourenço Marques (hoje Maputo). Aproveitando a estada foram cantando até à Cidade da Beira e passearam-se pelo Parque Nacional da Gorongosa…

Sem perda de tempo, começaram as entrevistas, ali mesmo no aeroporto…

Jornal “Diário Popular” de 26/05/1971. Chegada a Lourenço Marques…
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Manuel de Almeida e Ada de Castro deslocaram-se à redacção do “Notícias”, acompanhados pela cantora moçambicana Natércia Barreto, a fim de apresentarem cumprimentos ao director Dr. Domingos Mascarenhas.

Quando o Fado é Fado…

Restaurante “Muimbeleli”, instalado na F.A.C.I.M., onde decorreram os espectáculos. Ao lado dos Fadistas actuou ainda o cantor brasileiro Agnaldo Timóteo.

Eis o cartaz!
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Com intérpretes assim, o êxito até parece fácil…

A foto de notícia publicada pelo Jornal “Notícias de Lourenço Marques” de 27/05/1971.

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Falar do Manuel de Almeida não é tão simples como pode parecer.

Não foi mais “um” fadista. Foi “o “ Fadista!

Se o Fado tem príncipes, ele foi e será sempre, para mim, um Príncipe no Fado.

O Manuel tinha características que o distinguem entre os demais. Criou um estilo próprio de interpretação; foi poeta e compositor e, além de tudo isto, senhor duma enorme personalidade como homem e como profissional.

Actuei com ele em vários espectáculos na nossa terra, no Ultramar - recordo com particular destaque Moçambique e Gorongosa – e no estrangeiro, Alemanha.

Escusado será dizer que ele agradava imenso mas não era arrogante nem vaidoso. Dava segurança aos colegas, estimulava as nossas capacidades. Para mim, nas viagens ele era muito protector. Protegia-me de tudo e de todos. Eu era muito novinha e ele aconselhava-me. Emanava dele a segurança do homem experiente, amigo e paternal.

Com ele dificilmente alguém arranjava conflitos. Era calmo e apaziguador. Cultivava o bom humor com respeito e alegria. Primava pelo companheirismo.

Fazem sempre falta colegas e homens assim.

Seres como o Manuel não morrem, vivem sempre na nossa saudade.

Ou não fossemos Fadistas!

Até sempre,

Ada de Castro

Fadista/Compositora Lisboa, 2017

“Manel, Obrigado, Pela Pessoa humana que foste

Pelos momentos das tuas actuações

Pela tua simpatia

Pelo bom ambiente que criavas nos nossos convívios

Pela tua generosidade para com os teus colegas

Por teres sido um amigo sincero

Por teres deixado que te amasse

Por me teres deixado entrar no teu coração

Por tudo isto.

Foste o Príncipe do Fado.

Ada de Castro

Dedicatória gravada na recordação do 20.º Aniversário Ausente. Festa realizada no Restaurante “Quinta do Cortador”, Cascais, 27 de Abril de 2015.

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A comitiva composta por Adelino dos Santos (guitarra portuguesa), Manuel de Almeida, Lucília do Carmo e Américo Silva (viola) à chegada ao aeroporto de Lourenço Marques. Jornal “Notícias de Moçambique” de 27/05/1973.

Jornal “Notícias de Moçambique” de 29/05/1973
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O cartaz.

Moçambique, 1973

De novo e de novo mais sucesso

Manuel de Almeida recebe novo convite para actuar na F.A.C.I.M. Anunciado o seu nome e a lotação no “Muimbeleli” esgotou! Desta feita foi acompanhado pela não menos querida Lucília do Carmo (Lucília Nunes Ascensão do Carmo/ 1919-1998).

Notícia da partida. Jornal “Diário Popular” de 26/05/1973,

Manuel de Almeida e Lucília do Carmo recebem cumprimentos de António Luís Rafael, na altura locutor da Rádio Clube de Moçambique.
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Jornal “Norte Desportivo” de 03/07/1966

Jornal “Época” de 06/12/1972

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Falava assim Manuel de Almeida nos anos 60 do século XX. Será que algo de bom, de lá para cá, aconteceu? Revista “Plateia”, entrevistador Carvalho Ramos.

Fala de “Fado” quem sabe...

Todos nós (portugueses) nos arrogamos (mais ou menos) de perceber de Fado. Desde inventadas a cientificas explicações, passando pelas “descobertas” origens do Fado, muitos livros se têm escrito, muita tinta tem corrido. É bom! Enquanto se fala não se mata. Quantas vezes tentaram “matar” o Fado (das mais variadas formas)? Ora, investindo contra os autores/compositores e intérpretes; ora destruindo o património físico e testemunhal das suas existências. Mas, como diz o Povo – e o Povo é quem mais ordena – “enquanto houver portugueses…” haverá Fado, contestação, revelações de poetas, músicos e intérpretes, inovações e evoluções. O Fado a tudo resistirá porque ele é, na sua essência, a alma do Povo que o canta. Depois vem sempre a “peneira” do tempo que deixará para testemunho o nome, a voz, o carisma e a arte dos Melhores.

O mesmo entrevistador e o mesmo entrevistado. Revista “Crónica Feminina” de 26/08/1976.

Em certa altura alguém perguntou a Manuel de Almeida:

R - Que pensa o Manuel de Almeida da evolução do fado? Dos seus novos intérpretes?

MA – Acho que o fado não muda. Os intérpretes é que podem modificar-se. Sempre têm aparecido e aparecem novos fadistas. Só é pena que muitos deles não tenham ou não procurem ter personalidade própria, estilo pessoal. Tentam imitar, fazem mal .O fado vive, essencialmente, da inspiração de cada fadista

– Que diria Manuel de Almeida na actualidade…?

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“Obrigada”

Serão, talvez, a genuína simpatia e admiração que nutro, desde sempre, pela memória de Manuel de Almeida, que fazem surgir estas oportunidades, não apenas de o recordar, mas também de escrever algumas linhas que ele me continua a inspirar.

Já o escrevi, noutras alturas, sobre o encantador e consensual afecto que tinha o condão de despertar ao seu redor. Mas hoje, creio vir mais a propósito falar um pouco do fado que Manuel de Almeida me deu a conhecer, onde a tradição tinha um cariz tão profundamente vincado e, em simultâneo, se descobre uma alma aventureira que o impeliu a abraçar a audácia e risco de fazer um disco com o Rão Kyao, com sonoridades provavelmente inesperadas na sua voz e percurso, apesar do reconhecido e absoluto respeito do Rão pelas raízes do nosso Fado. Um respeito que se percebe numa produção que convida à permanência de uma voz e expressão tão genuínas como sempre, mas num som que traz em si actualidade e modernidade.

Quando nos conhecemos pessoalmente, e perante a minha total inocência e inexperiência no universo do Fado, diria que foi essa soma de tradição, verdade e originalidade que, a par de outras referências, me ajudou a sempre procurar um caminho onde a minha expressão se inspirasse no que de melhor se fazia, mas onde houvesse também a busca de algo “novo”, ou pelo menos tão personalizado quanto possível. E honesto.

Algo que hoje é muito corrente nos depoimentos das novas gerações, a referência a essa busca pela novidade e renovação, acaba assim claramente reconhecido como um fenómeno transversal a outros tempos e, afinal, um processo vivido e conquistado já por tantos outros artistas, em épocas onde os meios de divulgação eram incomparavelmente menos diversos que actualmente, mas onde a criatividade e inconformismo eram encaradas com a mesma coragem e tenacidade. Mas sempre com as fronteiras mais respeitadas talvez porque a natureza do artista permanecia inquestionada. Manuel de Almeida era um fadista e fadista seria para sempre.

A sua “música” teria de nascer sempre do seu Fado e a ele regressar. Qualquer experiência musical deveria transparecer essa clara hierarquia de valores e nunca lançar a menor dúvida sobre qual a expressão maior na sua vida. O seu timbre, o fraseado, a projecção, a respiração, o que o inspirava e escolhia para dizer cantando, tudo reconhecia, sem concessões, quem era Manuel de Almeida. E Manuel de Almeida era um fadista.

Talvez seja esta a grande diferença entre novas gerações que continuamente surgem no fado, procurando e advogando essa originalidade, nalgum momento do seu percurso e as gerações que já construíram um legado inquestionável, como a do Manuel de Almeida e outros. E incluo-me na primeira, naturalmente,

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pela natureza “inquieta” que tenho tido enquanto intérprete de fado. Porque se de alma e emoções sempre fui fadista, sei que o mesmo não se aplica nas escolhas artísticas que escolhi ir fazendo, bem como outros artistas, onde o horizonte de outras referências que temos nos leva a experimentar sem definir com clareza o que é Intocável. Serão os tempos e as suas diferenças o motivo para tal? Será uma necessidade interior de uma transformação maior? Será pura irresponsabilidade ou simples ingenuidade? Ou apenas a transformação natural no percurso de cada um e, em última instância, num estilo que se vai moldando para resistir aos tempos?

Não tenho sequer a veleidade de julgar ter a resposta. O certo é que, nem sempre conseguindo aclarar esse dilema que às vezes me atravessa, descubro que também não sinto grande necessidade de o fazer. De continuamente justificar ou aclarar qual a melhor definição de Fado. De fado novo ou fado antigo. De Fado que é ou não é.

Prefiro, cada vez mais, quando me perguntam o que é Fado, ir em busca desta ou daquela pérola, daquela fracção de segundos que me roeu por dentro, daquele fraseado que me cortou a respiração, daquela figura que me arrepia sem explicações. Da memória que tenho recheada de imagens, aromas, pessoas, músicos, tempos e que acorda, vibrante, assim que oiço: “... Obrigado pelos amigos que encontrei.”.

A melhor explicação sobre o que é fado? Chama-se “pele de galinha”. As novas gerações ainda precisam descobrir a arte de a provocar com igual autenticidade e frequência com que o faziam os antigos.

E aprender com Manuel de Almeida será sempre tanto uma honra quanto um privilégio. Porque o seu Fado não carece de mais nenhuma explicação.

Mafalda Arnauth

Fadista/Compositora Lisboa, 2017

Um Ser de excepção

Uma voz ímpar

Uma generosa e contagiante humanidade de alma Uma rara e gentil elegância, Um exemplo para sempre. O Homem e o Fadista. Para todos quantos com ele privaram.

Manuel de Almeida será sempre

Um símbolo de amizade, Grandeza e dignidade... E todos nos sabemos mais ricos Por termos cruzado o seu caminho, nesta vida.

Mafalda Arnauth

Dedicatória gravada na recordação do 19º Aniversário Ausente. Festa realizada no Restaurante “Quinta do Cortador”, Cascais, 27 de Abril de 2014.

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A coerência nas palavras e nas atitudes. As suas verdades ditas sem hesitação. Jornal “Barricada” de 01/11/1979.

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O Picadeiro

Em 1973, associando-se a António Chaínho (guitarra) e a Raul Silva (viola), Manuel de Almeida torna-se co-proprietário de “O Picadeiro”, ali para a Boca do Inferno, Estrada da Torre, Cascais.

Jornal “Diário Popular” de 12/11/1976. Jornal “Record” de 05/12/1976. “Com profunda amizade do Lar de Veteranos Militares nas comemorações do 150º aniversário”, 25/07/1977. 1978 Associação Humanitária soa Bombeiros V. de Cascais.
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Barcelona – À descoberta de Colombo seguiu-se a descoberta de Manuel de Almeida… Encontram-se pela primeira vez em Barcelona e mais tarde ela viria a Lisboa. Maruja Garrido vedeta de Los Tarantos . Jornal “Diário de Lisboa”, 1976.
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Madrid, Jornal “Hoja Del Lunes” de 29/03/1976.

Espanha

Desde 1966 que Manuel de Almeida ía frequentemente a Espanha para cantar em festas particulares (revista “Flama” de 16/12/1966).

O campeão das gravações discográficas chega a Barcelona para gravar dois LP´s para a etiqueta Belter.

Foi na 2.ª Semana Gastronómica Portuguesa que Manuel de Almeida debutou em Madrid “…com el mayor êxito de critica y publico”

Madrid, 30/03/1976.

Madrid, Abril de 1976. Manuel de Almeida é cumprimentado pelo Dr. Menezes Rosa, Embaixador de Portugal em Madrid na presença do Director-Geral do Turismo Dr. Cristiano de Freitas e do Dr. António Vieira Pereira.
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SPIC – Madrid, Maio de 1976. Embora a foto tenha sido publicada invertida, com mãos exímias foi, certamente, Manuel de Almeida acompanhado à guitarra e à viola.

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1977 – Teatro Municipal São Luiz, Lisboa,

4 de Junho - 18h00

Testemunhos de organização de espectáculos organizados pela Radiodifusão Portuguesa com a colaboração da Câmara Municipal de Lisboa. Cabeças de Cartaz: O Fadista Manuel de Almeida e a Cançonetista Maria de Lourdes Resende. Espectáculos de Variedades aconteciam todas as semanas. Ora, em Pavilhões Desportivos ora em Ginásios de Liceus, como era o caso do Serão para Trabalhadores gravado no Liceu Camões ou no Palco de “A Voz do Operário”.

O mais esperado e empolgante espectáculo do ano era sem duvida a grande festa do Natal dos Hospitais. O País parava para ver e ouvir os seus artistas, apresentadores/locutores.

Eis o Programa do Espectáculo de 1977, transmitido do Hospital de Santa Maria, Lisboa.

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Jornal “Diário de Notícias” de 04/06/1977.

África Do Sul

Cartaz anunciando a continuação das celebrações do Dia da Lusitanidade, no domingo, dia 19, no Pavilhão da União Portuguesa em Joanesburgo (África do Sul), 1977.

Para recordar a presença de Manuel de Almeida em Joanesburgo, 1977.

10 de Junho! Em todo o mundo onde houver um Português, está Portugal!

10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Tal como outros grandes nomes da nossa música, também Manuel de Almeida comemorou o Dia do orgulho Pátrio em terras longínquas onde vivem e trabalham portugueses.

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Alemanha

A primeira vez que se deslocou à Alemanha, Manuel de Almeida foi participar nas festas de “Lar Português de Iserlohn”, assim o atesta o Diploma que lhe foi entregue.

Em 1978, Manuel de Almeida volta à Alemanha para desta vez confraternizar com os portugueses residentes em Estugarda.

10 de Junho – Dia de Portugal para unir portugueses! Dia de Camões para celebrar a Alma Lusa e a essência do nosso “Destino--Fado”.

Iserlohn, 10 de Março de 1972.

Cartaz de divulgação das comemorações de 10 de Junho no Anfiteatro da Universidade de Stuttgard. 10 de Junho de 1978, às 16h00.

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Colegas devo Respeito e Admiração. Aos Amigos Solidariedade e Afecto”.

Manuel de Almeida

“Aos
Fernando Tavares Farinha (1928-1988) e Manuel de Almeida. Os dois “Miúdos (d’ouro) da Bica”. Com o inspirado autor Jerónimo Bragança (1920-2003) e a cançonetista madeirense Cecília Cardoso. Com a colega Florinda Maria, fadista, a quem todos carinhosamente chamam de “a cachorinha”.. Com Tony de Matos (1924-1989). Aqui com Vicente Maria do Carmo de Noronha da Câmara (1928-2016).
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Manuel de Almeida com o célebre cantor brasileiro Agostinho dos Santos (1932-1973).

Em 1979 Manuel de Almeida faz as malas e com a família deixa “a sua Bica” e parte para Cascais. Aceita o desafio do seu amigo e colega Rodrigo e instala-se no Restaurante “Forte de D. Rodrigo” onde permanece 16 anos, isto é, até ao final da sua vida física.

Amigos para sempre!

Manuel de Almeida, José Luís Nobre Costa (1948-2014), guitarrista; António Parreira, executante e professor de guitarra portuguesa; Tó Moliças (António Pires Assunção, 1937-2014) viola; Francisco Gonçalves, viola e Rodrigo, fadista.

Casa cheia, todas as noites!
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Não passa um dia sem que me lembre dele!

Pode parecer exagero, mas é fácil de explicar. Mesmo ao lado do meu computador, onde me sento horas a fio, tenho uma fotografia dele emoldurada e ampliada. Isto, só por si, comprova o que acabo de referir.

Falar sobre o Manuel de Almeida é como falar de um familiar muito próximo a quem queremos bem. Sobre o fadista não haverá muito mais a acrescentar. Apenas gostaria de realçar o estilista que foi e a escola e seguidores que deixou. Como chefe de família, exemplar!

Dono de um riquíssimo e raro sentido de humor, deixou-nos momentos e situações vividas irrepetíveis que só podem ser comparadas à filha Edite que herdou esse dom: perspicácia, sentido de oportunidade com uma graça inexcedível. Porém, de todos estes atributos quero aqui vincar o mais importante : o carácter em toda a sua plenitude, quer fosse no relacionamento com o seu semelhante, como no profissionalismo e no sentido de justiça. Manuel, obrigado por tudo!

Tenho saudades tuas!

Rodrigo Fadista Cascais, 2016

Dedicatória gravada na recordação do 15.º Aniversário Ausente. Festa realizada na “Oficina das Artes – Bar Restaurante”, 27 de Abril de 2010.

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Estados Unidos da América

1985/1986 – A convite de José Elmiro Nunes, Manuel de Almeida foi em dois anos seguidos até S. José da Califórnia onde, como sempre, foi recebido pelos seus compatriotas de braços abertos, corações disponíveis e ouvidos atentos.

Manuel de Almeida com o viola José Elmiro e o casal Sousa, proprietários do Restaurante onde foi actuar.
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“Sousa’s Restaurant” – Manuel de Almeida acompanhado à guitarra portuguesa por Leonel Medeiros e na viola José Elmiro.

1986 – Coreia do Norte

Pyongyang, “April Spring Friendship Art Festival”

Manuel de Almeida recebe o Convite com alguma incredibilidade.

Como todos os participantes Manuel de Almeida recebe o seu Diploma numa capa cartonada com 23 x 22 cm.
15 de Abril de 1986 55
5 de Abril de 1986, Pyongyang- Postal endereçado a sua filha “Ditinha”: “ Cheguei bem (…) muitos beijinhos” Valiosa recordação.

1993 – Ville de Saint-Sever

Região de Aquitânia, Landes, França

“Les plus grands noms de la musique, dans des genres très différents, passent à Saint-Sever. Le festival est né sous l’impulsion de Jean-Claude Brèthes, alors maire, avec le soutien du Conseil général des Landes (…)”

Palavras de Maria Edite de Almeida:

Em 1993 veio a Portugal um representante do Secretariado da Cultura de Landes procurar um intérprete que se enquadrasse no espírito do Festival, isto é, música que vive da interpretação do cantor. Sei que visitou algumas Casas de Fado de Lisboa e já no fim da sua estada, quase de partida, alguém o levou a Cascais, ao Forte D. Rodrigo. Aí, encontrou o que procurava. Falou com o meu pai que, como sempre, de imediato disse não. Porém, o Rodrigo estava presente e como atento e conhecedor da importância daquele convite, ofereceu-se para tratar de tudo e convenceu-o a ir. Acompanhado por Paulo Parreira na guitarra e Guilherme Carvalhais na viola lá foram. Não havia um único português na Sala.

Meu pai cantou durante um hora! Foi um êxito! Graças a Deus.

Entre os muitos intérpretes de toda a Europa, foi atribuído ao meu pai o “Prémio de Interpretação Masculino”.

Estes êxitos valeram-lhe outros contratos para França. Não temos noíicias escritas, apenas uma linhas num Jornal, porque ninguém na comitiva portuguesa entendia o suficiente de francês…

Pelo texto acima, ficamos a saber que na organização não existiu qualquer intervenção portuguesa

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Convite oficial para o “Festival dês Musiques Croisées”

Programa do Festival. Manuel de Almeida actuou no dia 4 pelas 21 horas, abrindo o espectáculo a que se seguiram os representantes da Irlanda, Bretanha, Córsega, Bulgária e Euskadi (País Basco).

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Musicas cruzadas… sem perder o tradicional, o genuíno, o Fado de Manuel de Almeida. Apenas se aperceberam que falava de Manuel de Almeida por verem a foto…Jornal “Courrier Français” de 22/08/1993.

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Medalha da Cidade Jornal “Courrier Français”, 22/08/1993.

1994 – Côtes – D’Armor

Capital Saint-Brieuc, Região da Bretanha, França

Calendário de “Musiques Aimées en Mai”. De 7 a 31 de Maio de 1994. Um Festival que assume “ sensibilizer le public à l’art d’aujourd’hui”

13 de Maio, às 21 horas. Convite para uma noite de Fado em que “Manuel D el Almeida” deixa “Un parfum du Fado”

Interior

Informa sobre o local e hora das actuações de Manuel del(!) Almeida e no texto pode ler-se: ” Este artista é um dos últimos representantes do fado tradicional (…)”. Desconhecemos quem assina o texto mas vale a pena ler”

do programa do evento.
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Conheci o Manuel de Almeida em 1973, no restaurante típico “Lisboa à Noite”, propriedade da fadista Fernanda Maria, e a partir daí ficámos muito amigos. Quis o destino que, em 1979, o Manuel integrasse o elenco da casa de fados “Forte D. Rodrigo”, onde eu era o guitarrista e, desde então, até à sua partida a 3 de Dezembro de 1995, nunca mais nos separámos.

Dono de uma cultura vastíssima, recordo-o com uma enorme saudade, pelas suas qualidades enquanto fadista, poeta, compositor, estilista e intérprete multifacetado (gravou um disco de tangos!) mas, acima de tudo, pela sua personalidade: era um homem genuinamente bom, humilde, de uma honestidade ímpar e com um sentido de humor invulgar. Prova disso era quando eu precisava de um guitarrista para me substituir no “Forte D. Rodrigo” durante um par de horas – algo que, naquele tempo era dificílimo de arranjar – o Manuel prontificava-se a fazê-lo, apesar de só saber tocar os Fados Menor, Mouraria e Corrido. O fadista Rodrigo, proprietário da casa e um cultivador do fado, achando piada a esse facto, pegava amiúde noutra guitarra e, apesar dos poucos conhecimentos, acompanhava-o na brincadeira, para gáudio da clientela que delirava com o espectáculo.

O Manuel de Almeida era, por natureza, bem-disposto e não me recordo de o ver triste ou zangado. Desarmava-nos por completo com o seu humor, legado esse herdado por sua filha, Edite de Almeida.

Em 1993, participou no Festival Internacional de Music Croisée em Saint Sever, ao lado do meu filho mais velho, Paulo, guitarrista que ele mais gostava que o acompanhasse, e pelo violista Guilherme Carvalhais, onde ganhou um prémio de interpretação e a Medalha da Cidade. Até o meu filho mais novo, Ricardo, na altura com dez anos de idade, fez dois espectáculos com ele!

Durante dezoito anos, acompanhei o Manuel não só no “Forte D. Rodrigo”, como noutros espectáculos em Portugal e no estrangeiro. Era um fadista querido por toda a comunidade do Fado e pelo público. Em 1994, a CML prestou-lhe uma homenagem pelos seus 50 anos de carreira, onde eu tive o prazer de ser o guitarrista residente e onde todos os fadistas estiveram presentes a prestar tributo.

Tantas coisas mais poderiam ser ditas por mim sobre o Manuel. Durante vinte e dois anos de amizade, houve sempre tempo para trocas de impressões sobre o Fado, aprendemos um com o outro, rimos, emocionámo-nos e construímos um laço tão forte que nem o fado da morte poderia alguma vez quebrar. Mas. Não era só o Fado que nos unia… duas vezes por semana fazíamos “tour” de ciclismo Cascais/ Sta. Iria da Azóia/ Colares/ Sintra/ Cascais. No Estádio Nacional (Cruz Quebrada/Vale do Jamor) todos os domingos – o Sr. Domingos – permitia que utilizássemos a pista de tartan para fazermos 6 kms de corrida.

O Manuel de Almeida deixou-nos há 22 anos, mas o seu legado perdurará na História do Fado e de Portugal. Até sempre, meu amigo!

António Parreira

Guitarrista

Lisboa, 2016

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Autor e Compositor

Antes de cantar o Fado profissionalmente, Manuel de Almeida já era autor. Inscreveu-se na SPA - Sociedade Portuguesa de Autores (Crl fundada em 1925) em 19 de Junho de 1956, atingindo o estatuto de cooperante n.º 409.

E o autor foi longe. Em 1995, “Ala Arriba”, por exemplo, mereceu a atenção dos japoneses. Através da SPA foi solicitada ao autor autorização para uso de um excerto desta obra num spot televisivo destinado a publicitar uma companhia financeira.

ALA ARRIBA

Ala arriba é o grito dos poveiros

Que o mar misterioso nos quer roubar

O grito dos fortes aventureiros

Heróis do sacrifício de além mar

Lá partem nos veleiros, sorridentes

Na conquista do pão e de agasalho

E os calos que mostram aváramente

São medalhas sagradas do trabalho

Refrão

Arriba

“Ala Arriba” seria entre nós interpretada e gravada em disco por Alberto Cardia com assinalável sucesso. Podemos escutar este tema e intérprete nos arquivos da Rádio “Sim”.

É o grito murmurar

Do velho lobo do mar

Nas tempestades d’além

Arriba

Tem cuidado ó pescador

Olha que o mar é traidor

E não respeita ninguém

Óh! almas peregrinas aqui vos louvo

Dos loucos vendavais com emoção

Filhos do povo que lutam para o povo

Escravos do dever e da razão

Já vibra na alvorada o raio fecundo

Da marcha triunfante do regresso

E os seus músculos sagrados são no Mundo

As fortes alavancas do progresso

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AGORA

Agora já não há meio

Do nosso amor renascer

Depois de tantos fracassos

Agora seria feio

Só de pensar em te ver

Novamente nos meus braços

Agora não há remédio

Que sacuda este tédio

Que trago dentro de mim

Agora queira ou não queira

Não imagino a maneira

De me ver, sem ser assim

Agora nem a saudade

Me prende a uma amizade

Que perdi sem me perder

Agora já não me oponho

Tudo isto foi um sonho

Um sonho, p’ra esquecer

ORA BEM

Ora bem, se Deus quisesse Eras minha, eu era teu Mas Deus, ao que parece Ou não quis ou se esqueceu

Suspenso nos sonhos meus Acreditar não consigo Será p’los pecados meus Ou Deus não está comigo

Se Deus o Mestre Divino Criou as almas aos pares Porquê nós dois sem destino Duas almas, dois penares

Marcado p’los revezes

A minha voz brada aos Céus Deus me perdoe, mas às vezes Parece que não há Deus

Se Deus o Mestre maior Com seu enorme saber Se vê que assim é melhor Que seja como Deus quer

UM DIA POR MIM PASSADO

Vou descrever neste fado Fado simples que alimenta

A saudade em que mergulho

Um dia por mim passado

Isto nos anos sessenta

Geração de que me orgulho

De manhã tal como era

Da praxe, fui a uma espera

De toiros e com firmeza

Saltei tronqueiras montadas

Nas ruas engalanadas

Da Sevilha portuguesa

À tarde minh’alma arranca

Num desprezo p’lo revez

Nem à vida pedi contas

Na praça de Vila Franca

Entre palmas e olés

Lidei um novilho em pontas

À noite que burburinho

Eu mais uma companheira

Numa adega, até ser dia

Entre canjirões de vinho

Cantei à minha maneira

O corrido e o mouraria

Cantigas, mulheres e toiros

São legendas, são tesouros

Que eu a cantar recordei Ó distante mocidade

Confesso sinto saudade

Desse dia que passei

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FADISTAS DO MEU PASSADO

Fadistas do meu passado

Que eu recordo tanta vez

O que fazem? Onde estão?

Eu ando preocupado

Porque se foi com vocês

O amor á tradição

Ainda trago nos sentidos

Fadistices que marcaram

Noitadas que deram brado

Ausentes adormecidos

Não dão conta, não reparam

No fado tão maltratado

Essa geração fadista

Cada um era um estilista

A nenhum eram iguais

Carlos Ramos, Silveirinha

Tristão, Fernando Farinha

Marceneiro e tantos mais

Aos fadistas do presente

Eu presto a minha homenagem

E deixo neste recado

Que mesmo em tempo diferente

O fado não perca a imagem

Do fado do meu passado

AMIGOS

Amigos não quero mais

Sem lhes estudar primeiro

A sua forma e maneira, Que os amigos actuais, Só dependem do dinheiro

Que trazemos na carteira

Era feliz com os amigos

Não conhecia inimigos

Julguei que o Mundo era pouco

Eu era amigo de todos

Gastava dinheiro a rodos Inda me chamavam louco

Já não tilinta o ruído

Do metal apetecido

A vida tem seus perigos

Pl’a mágoa que me consome

Hoje só me resta a fome

E não encontro os amigos

Vergado ao peso inclemente

Do desgosto mais profundo

Da própria vida receio

Sou um vencido, um descrente

Pois vejo que anda meio mundo

A enganar outro meio

Tudo passa tudo corre

Tudo foge, tudo morre

Tudo se extingue e arrefece

Dei p’rá lama a falsa queda

Foi-se a última moeda

Hoje ninguém me conhece

POR TRANSFORMAÇÃO EXISTO

Por transformação existo

No Mundo que não tem fim

Que serei eu depois disto? Que fui eu antes de mim?

Ninguém me diz donde vim E com dúvidas me visto

Se fui outro e sou assim, Por transformação existo

Sem saber ao que cheguei Vivo a duvidar de mim

E nem sei como fiquei

No Mundo que não tem fim

Quando a vida me deixar

Terei vivido só isto, Ou morrerei a pensar

Que serei eu depois disto?

Se o meu presente é passado, Não há futuro com fim

E se vim sem ter chegado Que fui eu antes de mim?

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AQUELES AMIGOS

Aqueles amigos reles

Que me chamaram bandalho

Na minha sorte ruim

Foram maus, eu fugi deles

P’ra lhes poupar o trabalho

Deles fugirem de mim

Era melhor que ninguém, Defeitos não me apontavam

Era bom, diziam eles, Amigo de fazer bem, Com desplanto afirmavam

Aqueles amigos reles

Esses amigos, os tais

A quem servi de espantalho

Vendo do dinheiro o fim, Foram tao bons, tão leais

Que me chamaram bandalho

Na minha sorte ruim

Amigo, tens um amigo

Diziam cinicamente

Quando eu gastava com eles.

Cada amigo um inimigo

Abandonei essa gente

Foram maus, eu fugi deles

Sou um vencido, um descrente

Nada tenho, nada valho

Tanto que pensei assim, Fugi deles, simplesmente

P’ra lhes poupar o trabalho

Deles fugirem de mim

CAPRICHOS DE MULHER

Vi-te passar na rua, qual vistosa rainha! Passaste porque eu vi por entre a multidão Lamento ao recordar que tu já foste minha E o nosso viver foi apenas ilusão

Só pensava vestir bons casacos de peles Era demais para mim eu não podia dar-tos Dizias não querer viver sempre no reles Por isso procuraste outros homens mais fartos

Já trajas a rigor tens figura, és bonita Entras em toda a parte e vives n’alta roda Já não calças chinelas nem vestidos de chita Mas tu p’ra mim não passas dum manequim da moda

Os cremes, os batons com que te mascaras São a vil mascarilha do teu viver faustoso

Hoje tudo possuis joias e sedas caras

Tens tudo e até tens um porte duvidoso

Segue portanto enfim o teu cruel viver

P’ra sempre terminou nosso viver ruim

Vou procurar agora uma outra mulher

Que não pense em dinheiro e goste mais de mim

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Revista “Rádio & Televisão”

JURA

Juraste a Nossa Senhora

Que bem ceguinha ficasses

Se deixasses de ser minha, Como sei que és pecadora,

Tive pena que jurasses,

Pois podes ficar ceguinha

De mãos erguidas aos céus, Rezaste na capelinha

Numa prece sedutora, Pela luz dos olhos teus

Que eras minha só minha, Juraste a Nossa Senhora.

Mulher, a vida é impura

Tem cuidado não te enlaces

Na maldade mais daninha

Lembra-te sempre da jura

Que bem ceguinha ficasses

Se deixasses de ser minha

Disseste sempre que sim

Que seria bem sagrada

Tua jura, mas embora

Vocês são todas assim

Tanto te sei bem fadada

Como sei que és pecadora

As mulheres são a meu ver

Moeda de duas faces

Que de mão em mão caminha

E como sei que és mulher

Tive pena que jurasses

Pois podes ficar ceguinha

LISBOA BERÇO DO FADO

Lisboa berço do fado

Dos boémios e artistas

E dos recantos bairristas

Que nos falam do passado

Dos meus tempos de menino

Das procissões a passar

Das guitarras a trinar

O fado que é meu destino

Lisboa

Tu és por tudo e por nada

Uma menina prendada

O ai Jesus dos fadistas

Lisboa

Orgulhosa do passado

Vai a uma espera de gado

Canta o fado e dá nas vistas

Lisboa namoradeira

Garrida cheia de cor

Tens a mais linda trapeira

Onde mora o meu amor

E p’ra dar luz à viela

Já depois do arrebol

A luz fica de vela

Enquanto não chega o sol

BALÃOZNHO

Para deitar um balão

Acendi uma fogueira, Na noite de S. João

Lá na minha parvalheira

Mas logo a pequena altura

Tal balãozinho ardeu

Fiquei cheio de penura, Vendo o que aconteceu.

Mas fui logo teimar

A deitar outro balão

Mas foi tamanho o azar, Que se queimou logo no chão.

E se teceiro deitar, Vou ter a maior cautela Posso nas mãos apanhar Uma grande queimadela.

Subiu, subiu, subiu, No ar o balãozinho, (BIS)

E logo que partiu Ficou todo queimadinho

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MARIA TOMA CUIDADO

Maria toma cuidado

Vê como pisas o chão

Se dás um passo mal dado

Pisas o meu coração

O capricho e a maldade

São a sombra do pecado

Não brinques com a mocidade

Maria toma cuidado

Caminha de fronte erguida

Com aprumo e direcção

Na grande estrada da vida

Vê como pisas o chão

A maldade e o fatalismo

Seguem-te p’ra todo o lado

Podes cair no abismo

Se dás um passo mal dado

Podes sofrer um percalço

E com ele a decepção

Se dás um passo em falso

Pisas o meu coração

MINHA MÃE

Tem tanta ruga no rosto

Minha mãe que o pranto enxuga

Cada lágrima um desgosto Cada desgosto um ruga

Vergada ao peso do tempo

Caminha a esmo, sem gosto

A traduzir sofrimento

Tem tanta ruga no rosto

Tem a vida quase gasta

Na crença que a subjuga

P’los seus filhinhos se arrasta

Minha mãe que o pranto enxuga

Ora chorando, ora rindo

Desde manhã ao Sol-posto

As lágrimas vão caindo

Cada lágrima um desgosto

Mão delicada ao de leve Lágrimas do rosto enxuga

O tempo passa e descreve

Cada desgosto uma ruga

MORENA DAS TRANÇAS PRETAS

Morena das tranças pretas

Tuas tranças sem favor

Foram p’ra mim as grilhetas

Que me prenderam d’amor

Por elas quanto sofri

Morena não acreditas

E juro que nunca vi

Umas tranças tão bonitas

Morena das tranças pretas

Tenho saudade das tuas tranças

Duas pequenas lembranças

Da risonha mocidade

Sempre que o vento embalava

Tuas tranças inquietas

Morena das tranças pretas

Era assim que eu te chamava.

Sinto uma tristeza infinda

De não ver ao vento brando

Na tua cabeça linda

As tranças pretas bailando

Era lindo o teu cabelo

Encanto d’alto valor

Agora faz pena vê-lo

Sem tranças e d’outra cor

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MOLEIRA DE SANTO ESTEVÃO

Moleira de Santo Estevão

De olhar meigo e gracioso

Branquinha como o arminho

Não há pincéis que escrevam

O quadro maravilhoso

Contigo junto ao moinho

Quando ela passa singela

Envolvida de farinha

Logo no meu pensamento

Faz lembrar uma donzela

Saindo da capelinha

No dia do casamento

Quando passa junto ao adro

Tão pura tão sedutora

Conduzindo o seu burrito

Faz-me recordar o quadro

Da Virgem Nossa Senhora

Na fuga para o Egipto

SENHORA DAS DORES

Nossa Senhora das Dores

Tem sete espadas no peito

Sete letras tem saudade Que ferem do mesmo jeito

Em frente do Teu altar

Rodeado de flores

Com devoção vou rezar Nossa Senhora das Dores

O sagrado monumento

De humildade e respeito

A traduzir sofrimento

Tem sete espadas no peito

Quando a Virgem contemplei

Com fervor e magnidade

Ao mesmo tempo pensei

Sete letras tem saudade

Quando as saudades se abrigam Num desventurado peito São como espadas, castigam Que ferem do mesmo jeito

SOL DA MOURARIA

Esta Lisboa fadista

Anda triste quem diria

Por saber que a Mouraria

Até mesmo a tradição

Vai morrendo dia a dia

Lisboa do coração

Por favor não digas não

Um adeus à Mouraria

Mouraria

Tuas vielas estreitinhas

São recordações velhinhas

Onde o fado teve abrigo

Mouraria

Se as tuas pedras falassem

Talvez que a chorar contassem

Coisas que a cantar não digo

Mouraria das vielas

E dos beijos ao luar

Aonde à luz das estrelas

Fadistas iam cantar

E já se diz no entanto

Que nesse bairro sombrio

A luz não brilha tanto

E até o Sol quando passa

O seu calor tem mais frio

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Há alguns anos atrás estava eu com o Carlos Zel, grande, marcante e saudoso Fadista, que ia, naquela altura, editar um novo disco.

Perguntei-lhe: -Tens temas inéditos? Quais são os clássicos? É Fado, Fado? Tás contente com o resultado?

Ele respondeu: -Vou dar o disco ao Manel pra ele ouvir e se ele gostar, não quero saber de mais nada e tá ganho!

Esta história vem-me á cabeça como definição daquilo que nós sentimos acerca do Manuel de Almeida. Vinda de onde vem, fala por si.

Uma amiga minha, cantora, decidiu, para melhorar e aprofundar a sua relação com a Música, ir receber aulas de canto de uma professora, interprete de grande classe e renome, da área da Música Clássica.

Em dada altura pediu à Maestrina se lhe poderia sugerir alguns nomes de cantores/as para ela ouvir com atenção e dessa maneira complementar o seu estudo musical.

Sugeriu-lhe ela vários intérpretes da clássica e para espanto da minha amiga disse: - Há um Fadista chamado Manuel de Almeida que eu recomendo a todos os meus estudantes, pois é um intérprete e cantor extraordinário!

É também esta história que nos indica a riqueza do Manuel de Almeida.

É ele uma combinação da procura incessante da verdade na interpretação da letra e da emoção contida no seu Fado com uma Voz que Deus lhe deu, que é aclamada por uma grande professora do canto clássico e por inúmeros amantes da grande Música.

Chamamos-lhe, entre nós, o Presidente e o nome ficou e diz tudo.

Tive a alegria de muito conviver com ele e colaborar em dois dos seus discos mais recentes.

É uma inspiração fortíssima e constante na nossa Música. Um gigante do nosso Fado.

Que seja por Deus sempre abençoado

Rão Kyao Músico / Compositor Lisboa, 2016

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Placa oferecida por Rão Kyao 16.º Aniversário Ausente 27 de Abril de 2011.

Além de autor, Manuel de Almeida era igualmente um bem sucedido compositor para o Fado. Para ele não foi necessário saber escrever música. Ele sentia-a e transmitia-a no seu “estilo”. A melodia cingia-se ao que se chama “estilar”. Hoje pouca gente sabe esta técnica auto-didacta!

“Voltar a trás” – letra de Manuela de Freitas e música de Manuel de Almeida

“São Horas” – letra de Artur Ribeiro e música de Manuel de Almeida
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QUERO CANTAR

O fado tenho cantado

No meu estilo verdadeiro

A ele me tenho dado

E entregue de corpo inteiro

Com a esp’rança prometida

Fiz do fado com prazer

O jeito de estar na vida

Enquanto vida tiver

Quero cantar

Recordando sonhos meus

E de mim só peço a Deus

Que o fado nunca se queixe

Quero cantar

Quero cantar livremente

Ao meu povo à minha gente

Até que a voz me deixe

Quando um dia se calar

Para sempre a minha voz

A guitarra há-de lembrar

O amor que houve entre nós

Vergado ao peso da culpa

Se culpa houver Meu Senhor

Ao fado peço desculpa

Por não ter feito melhor

MINEIROS

Entre os filhos do povo que labutam

Os mineiros rescendem valentia

São nobres, muito nobres, porque lutam

Na conquista do pão de cada dia Nas cavernosas minas, na penumbra, Fugindo ao Mundo, à Vida e à claridade

É lá que arranca o oiro que deslumbra, A sedução da pobre Humanidade

Mineiros

Que nessas lutas insanas

Sois, as toupeiras humanas

O trabalho vos domina

Mineiros

Gente rude, braço forte

Que nunca temeis a morte

Nas profundezas da mina

Trabalhar, ter um lar, esposa e filhos

Eis a nobre divisa do mineiro

Audaz batalhador de rudes trilhos

Dum ‘sforço omnipotente e altaneiro

Vossas mãos calejadas do tormento

De quem moureja pão e agasalho

Vós sois, a legião do sofrimento, Os operários forçados do trabalho

NÃO CHORES

Eu não te quero ver chorar

Mas em teu peito, a alma anda abalada Não posso ouvir, assim teu soluçar, Esse sofrer, vivendo abandonada Um dia, tudo acabará.

Toda a tristeza que em ti se escondia Teu coração, não mais lamentará Teu sonho chegará Vivendo essa alegria.

Eu não te quero ver chorar, Pois sinto em mim, a mesma tua dor Teu coração, alegre irá ficar, Vivendo enfim, no seu esplendor, E agora, esse teu viver

Que tu julgaste para sempre perdido

Irá de novo, em ti feliz nascer, Para mais feliz viver, Com esse amor querido

Não chores não, Essa tua sorte

Gozarás feliz então, Num amor inda mais forte

Não chores não

Findou toda a tua dor

Pois que no teu coração

Vive de novo o amor

“As Nossas Vidas” – letra de Artur Ribeiro e música de Manuel de Almeida
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“Tempo que não Vivi” – música e letra de Manuel de Almeida.
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“Preciso de Ti” – música e letra de Manuel de Almeida.

COMO SE CANTAVA D’ANTES

Fadistas venham comigo

Numa enfeitada carroça

Recordar o tempo antigo

Porque a noite vai ser nossa,

Numa tasca decorada

De palmeiras verdejantes, Cantamos à desgarrada Como se cantava dantes

Fadistas de Alfama e da Madragoa

Fadistas doutros bairros de Lisboa

Venham comigo p’ra farra

Até ao romper do dia

Cantar ao som da guitarra

O fado da mouraria

E numa adega enfeitada

De castiça tradição

Haverá sardinha assada

Pimentos e carrascão

Depois vamos de abalada

Num passeio original

Numa alegre burricada

De Cacilhas ao Pragal

Fadistas de Alfama e da Madragoa

Fadistas doutros bairros de Lisboa

Depois de tanta verdade

Nestas coisas que não vi

Eu chego a sentir saudade

Dos tempos que não vivi

PRECISO DE TI

Preciso de de ti

P’ra afastar a solidão

Das minhas noites vazias

Preciso de ti

P’ra sacudir a pressão

Que prende os meus longos dias

Preciso de ti

P’ra viver na certeza

Que o Mundo não me esqueceu

Preciso de ti

P’ra correr com a tristeza

Que a tua ausência me deu

Preciso de ti

P’ra que o Sol brilhe mais

Nas minhas horas sem luz

Preciso de ti

Porque sem ti é de mais

O peso da minha cruz

Preciso de ti

P’ra voltar à realidade

E chorar os meus fracassos

Preciso de ti

P’ra correr com a saudade

Que anda a seguir os meus passos

O TEMPO QUE NÃO VIVI

No domingo passei com uns amigos

A tarde numa adega de Caneças

Motivo p’ra lembrar tempos antigos

De farras com cantigas e promessas

Falámos entre dois copos de vinho

Das tardes no Gingão e no Sisudo

Das noitadas de fado no Charquinho

E na dança da Bica no Entrudo

Baile dos Quintalinhos tão cantado

As festas d’Atalaia e das Mercês

Bons tempos quando o fado era mais fado

E o amor mais amor mais Português

Destas coisas que o povo consagrou

Que apenas pela história conheci

Chego a sentir fadista como sou

Saudades dos tempos que não vivi

75

ANDO Á PROCURA DE MIM

Ando à procura de mim, Que eu sou outro, bem o sei Fui ao fim dum sonho lindo, E nem assim me encontrei…

Percorri sítios antigos, Por onde me perdi já…

Encontrei velhos amigos, E só eu não estava lá.

Eu era bom, que eu sei, Puro e leal Mas desde que te encontrei, Mudei, foi o meu mal. Hoje desiludido, Triste será meu fim. Ando por aí vencido, Perdido, Nem sei de mim.

Fui passar naquela rua Onde era nosso costume, Alta noite, à luz da Lua, Trocamos beijos de lume!

Procurei por toda a parte, E vi então que talvez, Só conseguindo encontrar-te, Me encontrarei outra vez!

ADEUS COIMBRA

Coimbra, nome sagrado Coimbra terra querida Mas nunca por mim ‘squecida. Terra de lindas tricanas, Estudantes e doutores, Em teu choupal te ufanas, Nas conquistas dos amores!

Não posso mais esquecer-te Coimbra! Sempre adorada. Hei-de sempre reviver-te. Ao som duma guitarrada. Coimbra! Quanta saudade, Sinto por ti ao partir Meus dias de mocidade Que vão sem tornar a vir.

Adeus Coimbra, Adeus Mondego, Adeus escolas Da mocidade, Adeus tricanas Vosso amor foi meu enlevo, Adeus Choupal, Adeus Penedo da Saudade!

AQUELA MÃO

Aquela mão carcomida

Que tu vês enegrecida

Pedindo esmola a quem passa

É descendente de nobres

Já fez bem a muitos pobres

E acarinhou a desgraça

Com luxuosos castelos

Teve os palácios mais belos

Da vida tudo gozou

Teve joias e brazões

Possuiu oiro aos montões

E tudo o vento levou.

Hoje passa despercebida

Aquela mão carcomida

Sem encontrar um amigo

Na crença que desconforta

Vagueia de porta em porta

Pedindo pão e guarida

Hoje é pranto que se solta

Nessa mão enegrecida Que até já tenho pensado Que o Mundo dá tanta volta

E ninguém sabe na vida

P’rá ‘quilo que está guardado

76

LÁ VEM ELA RUA FORA

Noite d’inverno arrefece

Cai a chuva na viela

O vento passa sem p’rigo

No silêncio que adormece

Lá vem uma sombra d’ela

Lá vem ela ter comigo

O seu mal não tem perdão

Gostei dela mas agora

Tenho-lhe tédio a valer

Perdida na escuridão

Lá vem ela rua fora

Perdida como qualquer

Vem de cabeça pendida

E de joelhos dobrados

Procurando um peito amigo

Arrastando a cruz da vida

No calvário de pecados

Anda a cumprir o castigo

Tem a vida quase gasta

Jesus perdoa-lhe agora

Já chega tanto sofrer

Para castigo já basta

Do mal que me fez outrora

Por não saber ser mulher

AS POMBINHAS

Oh! minhas lindas pombinhas, Que tanto voais no espaço, Batendo as vossas asinhas, Sem nunca mostrares cansado, Oh! Quem me dera um dia, Esse espaço atravessar Pombinhas… sempre diria; Eu quero, convosco voar!

Por esse Mundo voando, Essa grande imensidade

E tantas vezes deixando Aos nosso olhos saudades, Se vós pudésseis ouvir, Falar o coração meu, Pombinhas! … quero subir Convosco, voando p’ró céu.

Voai, voai

Sempre voando, Voai, voai

Nunca parando. Voai voai

Oh! Cordeirinhas, Voai voai,

BEM JUNTINHO AO TEU OUVIDO

Não adivinhas, Maria

Nem podes valha-te Deus

As coisas que eu e diria

Se fosse um brinco dos teus

Bem juntinho ao teu ouvido

Sempre a bailar com fervor

Que lindas trovas de amor

Te cantava enternecido!

E, depois de amor vencido

Rendido aos encantos teus

Contava-te os sonhos meus

Que tu, por estranha ironia

Não adivinhas Maria

Nem podes, valha-te Deus!

Contava-te que essa boca

Que não se deixa beijar

Traz minha alma a palpitar

Dentro de mim, perdida e louca

E que um beijo, coisa pouca

Era tal bênção dos Céus

E, cobrindo o amor de véus

Da mais linda fantasia

As coisas que eu te diria

Se fosse um brinco dos teus!

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“Não Negues a tua Mão” – música e letra de Manuel de Almeida.

NÃO NEGUES A TUA MÃO

Não negues a tua mão

Não negues o teu amor

Vê em todos um irmão

Sem olhar à sua cor

Cansado de não ser gente

E de batalhas perdidas

Minha voz andou ausente

De palavras prometidas

Minha longa madrugada

Meu silêncio de morrer

Minha feliz alvorada

Meu direito de viver

FOI UM BEM CONHECER-TE

Foi pouca sorte encontrar-te

Mas foi um bem conhecer-te

O que perdi em achar-te Ganhei depois em perder-te

Como vês não estou mudado Nem descrente, nem vencido Nem sequer surpreendido Dum sonho mal acabado

Apenas estou conformado Conformado de perder-te Por isso quero esquecer-te E ao mesmo tempo lembrar-te

Foi pouca sorte encontrar-te Mas foi um bem conhecer-te

Se é Deus quem manda, afinal, Dando almas irmãs à gente Nossas almas certamente Não eram o par ideal Portanto, ponto final. Mas olha quero dizer-te Sem pretender defender-te Defender-te ou criticar-te O que perdi em achar-te Ganhei depois em perder-te

Recordando o que passei Fico a pensar sem saber Porque foi que te encontrei Se tinha que te perder

CAÇA

Com tantas peles trajada

Donde virás tu meu bem

Ou vens d’alguma caçada

Ou ‘stás p´ra caçar alguém

Duas vidas se consomem Por essas peles, que graça O homem anda na caça

Tu andas na caça do homem

Essa raposa que era

Uma fera destemida

Hoje, depois de curtida

Anda a cobrir outra fera

Os teus olhos tentadores

São duas balas certeiras

Apontados às carteiras

D’ infelizes caçadores

És mais baixa do que a relva Que tu pisas com vaidade

Mas tu fera da cidade

És mais fera que as da selva

Já vai longe a madrugada

E eu fico a pensar, porém

Que vens d’alguma caçada Ou ‘stás p’ra caçar alguém

79

JOÃO NINGUÉM

Operários que formais o Mundo novo

Arautos defensores duma nação

As raízes do povo, que p’ lo povo, São escravos do dever e da razão

Ergueste com amor e dignidade

As cidades, aldeias, catedrais

Construiste com fé e humildade

Escolas, monumentos, hospitais

Com devoção

Caminhas de fronte erguida

Na grande ‘strada da vida

Em busca de luz e pão

E podes crer

Ó mensageiro do bem

Tu és um João Ninguém

Que se arrasta p´ra viver

Teus braços são

Alavancas que produzem

E que na vida traduzem

Progresso, Civilização

Diariamente

E apenas porque trabalhas

Tuas mãos têm medalhas

Que guardas avaramente

Levantaste bem alto o Mundo inteiro

Defendeste com alma a pátria amada

És grande ó meu errante caminheiro

És grande podes crer e não és nada

Neste Mundo perverso, falso e louco

Mantens por tradição esta divisa:

- De trabalhar bastante e ganhar pouco

Enfim… quem mais trabalha mais precisa

JANELA DA VIDA

Da janela da vida eu debrucei-me um dia A ver passar na rua a grande multidão Fiquei surpreendido de tanta fantasia Passar p’la minha vista em denso turbilhão

Uma figura passa, uma linda mulher Tem dois filhos, é mãe, é esposa, tem ventura Sendo mãe e casada gostava de saber Com que intuito ela encobre o rosto de pintura

Agora um pobre passa ‘stendendo a negra mão Pede esmola , talvez mas ninguém a concede Quem sabe se já foi rico de coração No entanto enxovalhos é tudo o que recebe

Agora o nobre espada o matador de toiros Que ganha rios de oiro apenas por matar Que desce ao meio da arena na conquista de loiros Só por ter a mestria dum toiro dominar.

Agora surge, dum doido num louco gargalhar Que apontando para mim gritava furibundo Fecha-me essa janela não queiras ver passar P’las ruas d’amargura a podridão do Mundo

Ao vê-lo sofrer tanto, rindo p’ra não chorar Meti-me para dentro ao som da sua voz

Eu, fechei a janela, mas fiquei a pensar Que o doido não é ele, os doidos somos nós

80

DUAS CRUZES

Senhor dos Passos da Graça

Tua cruz já carcomida

Sendo pesada é mais leve

Que a cruz que arrasto na vida

Tua cruz sem artifício

A traduzir-nos desgraça

Mostra bem teu sacrifício

Senhor dos Passos da Graça

Vergada ao peso da idade

Pelo tempo envelhecida

Encerra tanta humildade

Tua cruz já carcomida

E como o ódio profundo

O Mundo jamais deteve

Comparada à cruz do Mundo

Sendo pesada é mais leve

Quando o Calvário descreve

Tua cruz enegrecida

Reparei, que era mais leve

Que a cruz que arrasto na vida

NOITES PERDIDAS

Anda amigo vem comigo Esquecer um pouco a vida Anda ver o grande p’rigo Que há numa noite perdida

Fortunas num só minuto Anda ver como se perde Como um homem se faz bruto Na mesa do pano verde

No mundo mesquinho e torpe

Na penumbra dos cafés Crianças vendendo o corpo Nos bailes e cabarés

Anda ver pelo caminho Como aprendes a esquecer

A traição duma mulher

Num simples copo de vinho

Crianças esfarrapadas Perdidas na escuridão Dormitando p’las escadas Sem luz, sem lar, e sem pão

E num curto itinerário Verás no palco da vida

O infamante cenário Que há numa noite perdida

TU NÃO TE LEMBRAS

Tu não te lembras

Das juras que me fizeste

Das esp’ranças que me deste

E das promessas sem fim

Tu não te lembras

Daquele amor tão antigo

E p’ra meu maior castigo

Já não te lembras de mim

Tu não te lembras

E ainda bem que esqueceste

Todo o mal que me fizeste

Em troca do bem que fiz

Tu não te lembras

Que essas ilusões perdidas

Já foram arrefecidas

P’lo muito que te quis

Tu não te lembras

Duns beijos que tinham lume

Envolvidos em ciúme

Decerto já te esqueceste

Tu não te lembras

Daquelas horas felizes

Essas horas que tu dizes

E afirmas que não viveste

Tu não te lembras

E ainda bem que esqueceste

Todo o mal que me fizeste

Numa paixão que findou

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Reconhece-se Amália Rodrigues.

NÃO TE ESQUEÇAS DE MIM

Na hora da tua partida, Deixa-me soltar os meus ais, Eu sempre serei tua amiga

E não te esquecerei jamais. Deus que é grande e é bondoso

Ao meu coração já diz:

Será ele o teu esposo, E sempre serás mui feliz.

Eu quero que o meu coração, Vá muito unido ao teu;

Que eu fico em perene oração, De mãos erguidas ao céu, Contigo vai minha saudade, A triste flor do meu jardim, Crê na minha lealdade

Mas não te esqueças de mim!

Refrão

Enquanto só Esperarei.

Pois só a ti amarei, Meu doce bem, Minha paixão, Será teu, meu coração!

Sozinha te deixo ficar, Sem ti sou forçado a partir, Mas quando um dia voltar, A ti eu me quero unir.

Eu levo-te no pensamento Oh! minha imagem querida, Não te esqueço um só momento

Em ti penso toda a vida

A isso eu sou obrigado, De ti não me posso esquecer

De em breve te ter a meu lad

Será p’ra mim grande alegria, Quando à minha pátria voltar, Aguardo ansioso o dia, De te poder abraçar.

Refrão

Serás só minha

Até morrer, Quero contigo viver; Minh’alma querida

P’ra ti serei, Pois eu por ti morrerei!

ATÉ SEMPRE

Quando chegar a hora da partida Ordenada por Deus omnipotente Quando os anjos cantarem nova vida O meu fado talvez seja diferente

E quando for a festa do meu dia No Mundo imaginário que sonheia Quero beber o vinho d’alegria E abraçar os amigos que encontrei

Suspenso no meu fado, nem reparo No tempo de marcar a minha vez Quero morder o pão que me foi raro Nesta minha passagem com vocês

E quando for a noite do meu fado Fado que me foi dado de raiz Quero cantar até ficar cansado Uma canção de amor ao meu país

BAIRRO ALTO

Música de Adelino dos Santos

Meu Bairro alto

Apontamento do fado

Onde não falto

P’ra te cantar o passado

Casas velhinhas

De janelinhas bizarras

Ruas estreitinhas

Onde passeiam guitarras

Meu Bairro Alto

Das tradicionais tipóias

Dos fidalgos das rambóias

Dos boémios do passado

Meu Bairro Alto

Recanto de tradições

Que prendes os corações

Na voz dolente dum fado

À luz da Lua

Há sardinheiras bailando

De rua em rua

Passam fadista cantando

Duas vielas

Onde o fado se abriga

São aguarelas

Da nossa Lisboa antiga

83

CAMPINO DO RIBATEJO

Campino do Ribatejo

Sempre firme na montada

Alegre como te vejo

Bem conduzindo a manada

Manejando a tua vara

A saúde te sorri

Não sabes voltar a cara

Se um toiro investe p’ra ti

Alegre te vejo

P’ los campos do Ribatejo

Num boi montado

Cavalgando atrás do gado

Dominas bem os pampilhos

Jogas o pau, és castiço

Tratas por tu os novilhos

Nasceram-te os dentes nisso

Com altivez e ligeiro

Alegre, desempenado

És o Ribatejo inteiro

Num fandango bem dançado

NÃO PEÇO A DEUS MELHOR SORTE

Não peço a Deus melhor sorte

Que ouvir as minhas cantigas

Na hora da minha morte

Nos lábios das raparigas

Para justo cumprimento

Do que penso eternamente

Declaro solenemente

Que é este o meu testamento

Eu não quero monumento

Mas que um coval me conforte

Ao pé do lobo mais forte

Que haja no topo da serra

E se for na minha terra

Não peço a Deus melhor sorte

E tu mulher só desejo

Que não perturbes meu sono

Só quero o teu abandono

Dado o teu último beijo

E alegre como te vejo

Te veja sempre de sorte

Que tendo sido o meu Norte

Na luta do dia a dia

Sejas a minha alegria

Na hora da minha morte

NAZARÉ

Amigo se tu fores um dia à Nazaré

Esse belo cenário digno d’admirar Verás com devoção vencida pela Fé

A grandeza do homem em luta com o mar.

Heróis do sacrifício, soldados do dever

Que sabem definir hombridade e razão

Os bravos guerrilheiros que até sabem morrer, Na mais rude batalha p’ la conquista do pão

Nazaré, és berço de pescadores

Homens que sabem lutar

D´ alma rude e braço forte

Nazaré, palco de tantos horrores

Onde os lobos do mar

Desafiam a morte

Sabes quem é amigo que a rir ou a cantar

Se expõe aos vendavais numa luta rasgada

São eles, somente eles os gigantes do mar

São grandes, podes crer e afinal são nada

As rugas tatuadas do esforço fecundo

E os calos que orgulhosos ostentam com provento São deles as medalhas que traduzem ao Mundo Audácia, valentia, arrojo e sofrimento

84
Manuel de Almeida com Raúl Nery e Joel Pina

OLÁ FADISTAS

Vamos fadistas

Alugar uma tipóia

E abalamos p’ra ramboia

Em camaradagem franca sem dar nas vistas

Saímos do Bairro Alto

Para Carriche e num salto

Iremos a Vila Franca

E hão-de notar, como consigo

Em recordar o tempo antigo

Olá fadistas

Ponham fitas nas guitarras

Vistam de novo as samarras

Como se fez no passado

Olá fadistas

Revivam-se as horas- mortas

Vamos p’ra fora de portas

Cantar e bater o fado

Vamos cantar

O velho fado corrido

Bem gingado bem batido

Numa taberna bairrista

E recordar

Esse brilhante passado

Tempo em que o fado era fado

E o fadista mais fadista

Que o fado é divino altar

Onde os fadistas vão rezar

TRISTE CENÁRIO

A pobre a doentinha

Tem os pulmões desfeitos

Leva as noites a tossir

Ó morte tem compaixão

Sossega-lhe o coração

Deixa a doente dormir

Uma mesa, pouca luz,

Uma cama enxovalhada

Mais ao centro uma mesinha

Na parede o Bom Jesus

E num bercito deitada

A pobre da doentinha

Foi-se a Fé, também a crença

Da medicina o conceitos

Nada podem conseguir

É triste sua doença

Tem os pulmões desfeitos

Leva as noites a tossir

E aquela pobre inocente

Paga com a vida, o inclemente

Crime que não tem perdão

E a pôr fim á negra sorte

Resta-lhe apenas a morte

Ó morte tem compaixão

Junto ao berço da criança

A pobre mãe não descansa

Seu doloroso carpir,

Pede a Deus com devoção, Sossega-lhe o coração

Deixa a doente dormir

PARIS

Rompe o Sol, Paris desperta Surgem no Céu aviões Riscando traços funérios

E as sereias do alerta

Avisam as multidões

Contra os ataques aéreos

Manhã cedo, cai a neve O vento sopra ao de leve

Em Paris, a cidade aberta

E o turbilhão d’operários Seguem os seus itinerários

Rompe o Sol, Paris desperta

Paris, cidade da luz

Em vez de lindas canções

Há gritos, prantos, mistérios, E numa ofensa a Jesus

Surgem no Céu aviões Riscando traços funérios

Aproxima-se combate, Hora de p’rigo, hora incerta

Alarme… nos corações

Tocam sinos a rebate

E as sereias do alerta

Avisam as multidões

Após as rudes matanças

Das luta co’os inimigos, As ruas são cemitérios

Homens, mulheres e crianças, Recolhem-se nos abrigos Contra os ataques-aéreos

85

EU FADISTA ME CONFESSO

Eu fadista me confesso

P’ra cantar à minha gente

A canção do meu país

Desta forma reconheço

O jeito de estar presente

No meu fado de raiz

E ao passar os olhos meus

P’lo distante amanhecer

Do tempo da minha vez

Quero agradecer a Deus

O ter-me dado nascer

P’ró fado e ser português

Obrigado

P’los amigos que encontrei

P’las mulheres que beijei

Nas minhas noites d’amor

Obrigado

Por essas palmas amigas

Entre copos e cantigas

Obrigado meu Senhor

COM CONTA PESO E MEDIDA

Todo o vinho que se bebe nas adegas

Com conta peso e medida

É um bem que se recebe

São achegas

A dar vida à própria vida

Seja velho seja novo

É um bem que não dispenso

O vinho é sangue do povo

Desse povo a que pertenço

Vamos saudar

Com vinho vida

E numa pipa esgotar

O cantar na despedida

E não me espanta

Esta verdade

Pois quando canta

Também canta felicidade

Tristezas e alegrias, quem diria Dá o vinho é bem de ver

Esta vida são dois dias

E um foi feito para beber

E julgo não ser pecado

Entre amigos, num grupinho

Um fadinho bem cantado

Entre dois copos de vinho

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“Eu Fadista me Confesso” – letra de Manuel de Almeida e música de Rão Kyao

“Com Conta Peso e Medida” – música e letra de Manuel de Almeida

87

VARINA DE OLHAR GAIATO

I

Varina de olhar gaiato

Insinuante varina

Tu és o vivo retrato

Desta Lisboa traquina II

Dessa gente humilde e sã

Do meu bairro sonhador

Tu és o despertador

Ao despertar da manhã

Risonha, alegre e louçã

Sempre picante no trato

Há lá viela ou recato

Que o teu pregão não aqueça

Que esse olhar não endoideça

Varina de olhar gaiato III

Quem é? Quem é? Que advinha

Quantos segredos de amor

Tu ocultas com fervor

Dentro dessa canastrinha

Lamento por sorte minha

Ser tão pobre por má sina

Senão dava-te ladina

Se possuísse um tesoiro

Uma canastrinha d’oiro

Insinuante varina

Se à espera duma traineira

Tu apareces na lota

Lembras alegre gaivota

A volejar na Ribeira

Não olhes dessa maneira

Que apesar de eu ser sensato

Fazes-me perder o tacto

E um dia não sei que faça

Dos mil encantos da raça

Tu és o vivo retrato

Falte embora a luz da Lua

Deixe o Sol de brilhar

Mas não deixes de passar

Um só dia à minha rua

Pois somente a graça tua

Mais do que o Sol ilumina

Minha rua pequenina

Onde levas a voz fresca

Toda a graça pitoresca

Desta Lisboa traquina

TRISTE SEM TE VER

Eu ando sempre triste sem te ver Meu peito vive em eterna escuridão, Mas ver-te sinto em mim um tal prazer, Que me enche de alegria o coração.

Pois penso só em ti todo o momento, Só tu, és para ti a imagem querida, Aquela que me dá todo o alento, Aquela que me alegra toda a vida.

Sim! Só tu és minha alegria, Sim! Só tu és o meu viver Sim! Em ti penso noite e dia, Sim! Junto a ti não há sofrer.

Ao ver-te já não tenho mais tristeza, Só tu és para mim meu bem estar; Vivendo o nosso amor nessa certeza, De junto à tua imagem me encontrar.

E assim meu coração não é mais triste, Ao ver a linda luz do teu olhar; Por isso meu coração não resiste, De a ti e só a ti eu sempre amar.

IV
V
88

VIRA DE PORTUGAL

O vira, vira no mundo, ó-ai

O vira nunca aborrece, O desgosto mais profundo, ó-ai, Ao som do vira esquece.

Faz esquecer as fadigas, ó-ai, A quem gosta de virar; As suas lindas cantigas, ó-ai, Nem tristezas faz vibrar.

O vira com seus descantes, ó-ai Alegria só encerra; Mesmo em terras distantes, ó-ai, Faz lembrar a nossa terra.

Ó vira só tu encantas, ó-ai, O vira não tem rival; Ó vira tu só levantas, ó-ai, O nome de Portugal!

ESTRIBILHO

Ó vira, ó vira O vira é assim, Eu viro p’ra ti Tu viras p’ra mim!

ORAÇÕES DE AMOR

As orações que aprendi Troquei-as por beijos teus Quem for beijado por ti Até se esquece de Deus

Com devoção e fervor Em frente ao altar de Deus As minhas juras de amor Troquei-as por beijos teus

Do teu amor e encanto Só agora compreendi, E nunca pode ser santo Quem for beijado por ti

Todo aquele que beijar Com fervor os lábios teus Decerto tem que pecar, Até se esquece de Deus

QUADRAS SOLTAS

Quero dizer muitas vezes

Às almas aficionadas

Enquanto houver portugueses Há-de haver fado e toiradas

Por muito que se disser O fado é canção bairrista Não é fadista quem quer Mas sim quem nasceu fadista

Se um dia o Sol se apagar No infinito dos céus Quero a luz do teu olhar

E o calor dos lábios teus

89
90

FADO RONDA

Fado dizes, fado escreves Fado sentes fado cantas Todas as penas são leves Quando voam das gargantas

Quando da noite perdida

Tens a Aurora conquistada Ganhas o Norte da vida

E a estrela da madrugada

Fado dizem que é tristeza, Eu digo que é liberdade Só tenho uma realeza

A de cantar a verdade

E ter a funda certeza

De viver com a luz do Sol De ter uma Lua presa Nas dobras do meu lençol

E na noite prolongada P’la saudade sentida, Ver a vida ser mudada Ver a morte ser vencida

MEU ROSTO

Meu rosto como tu ‘stás

Velhinho e desfigurado

És a sombra do passado

Dos teus tempos de rapaz

Ao ver-me ao ‘spelho, notei

No meu rosto macilento

A traduzir sofrimento

Das loucuras que enfrentei

Bem dizia a minha mãe

Tem cuidado meu rapaz, De voltar ao tempo atrás

Tento fazer um esforço

Confesso sinto remorso.

Meu rosto como tu ‘stás

As mulheres essas serpentes

Beijavam-te com arrojo

Hoje julgo terem nojo

Não se mostram sorridentes

E afirmam por entre os dentes

Que és um louco um desgraçado

Hoje que estás acabado

Já sentem por ti revez

Ou é por verem talvez

Velhinho e desfigurado

Caíste duma altitude

Donde ninguém quer cair

Tudo enfim viste fugir

O dinheiro, a juventude

Até a própria saúde

Te deixou abandonado

És um caso liquidado

Que do vento anda à mercê

Quem te viu e quem te vê

És a sombra do passado

Os amigos, esses tais, Que amigos teus se disseram

Bem depressa se ‘squeceram

Dos teus conceitos leais

Foram falsos, desleais

Já não sabem onde ‘stás

Foste sempre pertinaz

Conselhos, nunca quiseste

Lastimo o mal que fizeste

Nos teus tempos de rapaz

91

CANTARES DA VILARINHA

Vilarinha, Vilarinha, Tu és a nossa paixão

Andas sempre metidinha, Cá no nosso coração

Estás rodeada de campos, Todos cheios de verdura, Assim mostras teus encantos, E as moças, a formosura.

P’ra ti vai nosso respeito

Tens em nós bons amiguinhos, Grava bem dentro em teu peito O grupo dos Bigodinhos.

Vilarinha quem te deu

Esse teu nome imortal

Inda não apareceu

Mais lindo em Portugal

POR TE QUERER TANTO

Música: José Lopes

Quero tanto aos olhos teus como o céu quer ás estrelas adoro essas feições belas como o crente adora deus

Desde a hora em que te vi m’ alma anda presa á tua como eu ando atrás de ti anda o sol atrás da lua

Se um dia o sol se apagar no infinito dos céus quero a luz do teu olhar e o calor dos lábios teus

Por te querer tanto afinal ando a triste a perguntar como é possível gostar de quem nos faz tanto mal

FADO E TOIROS

Quanta beleza emotiva

Há numa espera de gado

Tipoias em roda viva Fadistas cantando o fado

Tudo é fogo tudo brilha

Na praça tudo se solta

E até brilha a bandarilha Colocada à meia volta

Retintos e bem armados

Da manada do Paulino

Domingo serão lidados

Dois toiros de sangue finos

Já aprendi a maneira

De cravar com arte e brilho

Um ferro, ali à estribeira

Mesmo na cruz do murrilho

Se anda algum toiro fugido

Pode vir quando quiser

Custa-me mais ser colhido

P’los olhos dum mulher

92

FADO ANTIGO (Velho Fado Corrido)

Música: Martinho D’ Assunção (pai)

Meu velho Fado Corrido Logo havia um cantador, Se foste dos mais bairristas Dando um tom de certo perigo, Porque te mostras esquecido Provocava o inimigo

Na garganta dos fadistas Num cantar à desgarrada Até às vezes com “lambada”

Explicou-me um velho amigo Tinha graça o Fado antigo Como o Fado era tratado

Tinha graça, o Fado antigo Pouco tempo decorrido

Da forma que era cantado

Cheia a taberna se via P’ra escutar a cantoria

Um ramo de loiro à porta Ao som do fado corrido

Indicava uma taberna

À noite era uma lanterna

Todos prestavam sentido

Com sua luz quase morta Quando alguém cantava o Fado, O tocar era arrastado Como ao Fado tudo “importa”

O estilo dava a garganta

Foi sempre a taberna abrigo E hoje pouco gente o canta

Do meliante ao mendigo

Da desgraça e da miséria

Da forma que era cantado

Também tinha gente séria, Escutei com atenção

Explicou-me um velho amigo Um cantador do passado

E a sua linda canção

Sob os cascos da “vinhaça” Prendeu-me para sempre ao Fado Deitada em forma bizarra, Estava sempre uma guitarra Por muito que se disser Para servir de “negaça”

O Fado é canção bairrista

Não é fadista quem quer

O canjirão da “murraça” Mas sim quem nasceu fadista

Do tosco barro vidrado, Andava sempre colado

Aos copos pelo balcão

E era assim nesta função Como o Fado era tratado

Se aparecia um tocador

Às vezes até “zaranza”

Pedia ao tasqueiro a banza

P’ra mostrar seu valor

93

AGUARELA FADISTA

Música: Fado Alexandrino

Tu levas o teu xaile eu visto uma samarra

E vamos de abalada aqui aos arredores

Bater o fado antigo ao som duma guitarra

E beber água-pé numa adega de Loures

Quero levar também calça à boca de sino

Chapéu á manzantine, uma camisa branca

E vamos de manhã os dois muito cedinho

Assistir á chegada do gado a Vila Franca

À tarde na corrida, a praça engalanada

Sob um Sol escaldante que p’la arena se espalha

Hás-de ver um toureiro sobre a sua montada

Altivo e destemido lidar toiros do PALHA.

À noite num retiro havemos de cantar

O fado rigoroso, o mais castiço fado

E em quadros de improviso havemos de invocar

Os tempos que lá vão, recordando o passado

COMO TE QUIS E TE QUERO

Música: Casimiro Ramos

Amei-te com desespero

Mais do que eu ninguém te quis

E agora que te não quero

Vejo as figuras que fiz

Adorei-te noite e dia Com toda a força da alma

Ninguém me levava a palma

A querer-te como eu te quis

A minha vida daria

P’lo teu amor de raiz

Vivi um sonho feliz

Feliz e belo também

Amei-te como a ninguém

Mais do que eu ninguém te quis

Mas a vida atroz, medonha

Quis este amor terminar

E não chorei com vergonha

Que alguém me visse chorar

O que eu sofri a pensar

Na crença com te quis

Com razão o mundo diz

Que o meu amor foi sincero

E agora que te não quero

Vejo as figuras que fiz

Sofri bastante, confesso Agora que te perdi

Mas se voltasse ao começo

Tornava a gostar de ti

94

ROMANCE INCOMPLETO

Letra: Manuel de Almeida

Música: Casimiro Ramos

I

O mais profundo desdém

Ou a mais sentida dor

É nós gostarmos d’alguém

Que não quer o nosso amor

II

Se há no Mundo tanta gente

Que não sabe o que é a dor

P’ra quem tudo é felicidade

Também há infelizmente

Os que padecem d’amor

E os que morrem de saudade

III

Se a dor e a saudade andam a par

Do pranto da descrença e da tristeza

Porque será que a gente há-de gostar

D’alguém que não nos quer e nos despreza

IV

Amar e não ser amado

É cruel desilusão

É como andar naufragado

Caminhar desamparado

Perdido na escuridão

V

Eu sofro como ninguém

Do amor suas paixões

Quero-te tanto meu bem

E só me dás ralações

É A SAUDADE

Letra: Manuel de Almeida

Música: Casimiro Ramos

Esta tristeza

Que não me deixa um momento

E que me prende

No mais atroz sofrimento

Esta loucura

Que persegue os teus carinhos

E que se arrasta

Na solidão dos caminhos

... É a saudade

Que tenho do teu amor

Que anda a seguir os meus passos

E acompanha a minha dor

É a saudade

Que não se quer ir embora

Que só me fala de ti

A toda a hora

Esta tristeza

Que a tua ausência me deu

Nasceu em mim

Quando o teu amor morreu

Esta tristeza

Que às vezes sorri sem querer

Para que os outros

Não riam do meu sofrer

NÃO VALE A PENA

Letra: Manuel de Almeida

Música: Casimiro Ramos

Quis seguir-te a vida inteira

E fugiste ao meu carinho

Hoje restas-me a poeira

Que deixaste no caminho

E nessa nuvem tão escura

Envolvi os sonhos meus

E jurei que nunca mais

Seguiria os passos teus

Não vale a pena portanto

Voltarmos ao tempo antigo

Já basta p’ra meu castigo

O saber que te quis tanto

Por favor deixa-me só

Nessa dor que me condena

Se entre nós tudo acabou

Recordar o que passou

Não vale a pena

Não vale a pena lembrar

Os momentos que perdi

E jamais quero pensar

Que um dia pensei em ti

Como chamar-te à razão

Hoje um remorso te acena

Mas perdoar isso não

Agora não vale a pena

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TEUS OLHOS SÃO DOIS GAROTOS

Letra: Manuel de Almeida

Música: Popular

Teus olhos são dois garotos

Cheios de mimo e de graça

Porque se metem na rua

Com toda a gente que passa

Deixa de preces não rezes

Erguendo os olhos ao Céu

Deus me perdoe mas às vezes

Tenho ciúmes de Deus

Um lenço branco de neve

Acenando junto ao cais

Ou quer dizer até breve

Ou quer dizer nunca mais

Nesta triste despedida

Nem sei o que hei-de fazer

Levar-te não é possível

Deixar-te não pode ser

PRAGA

Letra: Manuel de Almeida

Música: Júlio Proença

Por ter no peito uma chaga

Minh’alma a cicatriz

Dum amor desventurado

Vou-te rogar uma praga

Deus te faça tão feliz

Quanto eu sou de desgraçado

Foste má, foste ruim

Não se perdoa portanto

Tão ingrato proceder

Vocês são todas assim

Desprezam quem lhes quer tanto Amam, quem as faz sofrer

Mas se alguma vez na vida

Te sentires arrependida

Entregue à tua saudade

Vem que eu faço o que puder

Não por amor, podes crer

Apenas por caridade

QUADRAS AO VENTO

Letra: Manuel de Almeida

Música: Popular

Chego a andar o dia inteiro

Atrás de ti para te ver

Se acaso o tempo é dinheiro

Serei pobre até morrer

Esta profunda tristeza

Que sinto quando te vais

Não é amor com certeza

Com certeza é muito mais

Gosto de ti com firmeza

Embora pouco te veja

Há tanta gente que reza

E pouco vai à igreja

Tu não me chames senhor

Eu não sou tão velho assim

Ao pé de ti meu amor

Não sou senhor nem de mim

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NÃO OLHES P’RA MIM NÃO OLHES

Letra e Música: Manuel de Almeida

Não olhes p’ra mim não olhes

Eu vivo tão bem assim

Olha lá p’ra quem quiseres

Mas não olhes mais p’ra mim

Ando no Mundo enganado

Tu, com calma melhor escolhes

Se p’ra ti não valho nada

Não olhes p’ra mim não olhes

Se por mim sentes tristeza

Não tenhas pena de mim

Pois digo-te com franqueza

Que vivo tão bem assim

E se coração tiveres

Faz-me esta vontade, enfim

Olha lá p’ra quem quiseres

E não olhes mais p’ra mim

MENINA DO LENÇO PRETO

Letra: Manuel de Almeida

Música: Maria Tereza Cavazzini

O meu destino é amar

Ai amor quisera eu

Ir ao céu agradecer

O destino que me deu

Menina do lenço preto

Tenha cuidado consigo

Vão dizer que tomou luto Por estar zangada comigo

Partiste fiquei chorando Voltaste chorando estou

Voltou a tua presença

Teu coração não voltou

As esperança é como o Sol Que nos enche de alegria

Se ela parte faz-se noite

Se ela volta é logo dia

HÁ MUITO QUEM CANTE O FADO

Letra: Manuel de Almeida

Música: D. Pedro de Bragança

Não é fadista quem quer

Quando um dia o fado canta

O ser fadista é trazer

O fado preso à garganta

Ninguém duvide, ninguém

É do povo este ditado

Há muito quem cante o fado

Mas pouco quem cante bem

E sou firme podem crer

Neste meu ponto de vista

Fadista nasce fadista

Não é fadista quem quer

O velho fado corrido

Por ser gingão e bairrista

Jamais pode ser esquecido

Na garganta dum fadista

Ser fadista é ter expressão

É sentir tudo o que canta

É trazer o coração

E a alma presa à garganta

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Revista “Rádio & Televisão”

de 08/03/1958. Jornal “A Voz de Portugal” de 20/08/1965.
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“Tempos que já lá vão” - José Marques / Manuel de Almeida

ADEUS À MOCIDADE

Letra: Manuel de Almeida

Música: Popular

Disse adeus à mocidade

Entre lágrimas e ais

O tempo, grande verdade

Passando não volta mais

Passa breve a mocidade

O tempo de ilusões feito

Só não passa esta saudade

Que trago dentro do peito

Vocês devem perdoar-me

Umas certas liberdades

Eu bem sei que ando a matar-me

Mas ando a matar saudades

Não sei contudo entender

Estes balanços da sorte

Estou cansado de viver

Mas tenho medo da morte

SE UM DIA VOLTASSE ATRÁS

Letra e Música: Manuel de Almeida

Não olhes p’ra mim não olhes

Eu vivo tão bem assim

Olha lá p’ra quem quiseres

Mas não olhes mais p’ra mim

Depois de tudo acabado

Entre nós mais nada existe

Recordar um amor triste

Não te esqueças que é pecado

No mundo por Deus criado

Tudo tem começo e fim

E quando passares por mim

Na certeza que bem escolhes

Não olhes p’ra mim não olhes

Eu vivo tão bem assim

Voltar atrás era asneira

Sou firme, não tenhas dó

Vale mais uma dor só

Que sofrer a vida inteira

Nosso amor foi qual fogueira

Que se apagou, teve fim Mas a vida é mesmo assim

E sendo assim se preferes

Olha lá p’ra quem quiseres

Mas não olhes mais p’ra mim

Se um dia voltasse atrás Esquecendo o que sofri Confesso que era capaz De ter olhos só p’ra ti

UM DIA NO RIBATEJO

Letra: Manuel de Almeida

Música: Jaime Santos

Fui certa vez ao Ribatejo entusiasmado

P’la mais castiça das festas tradicionais

Que grande dia que dia tão bem passado Um desses dias que a gente não esquece mais

Vi curiosos toureando com destreza Numa largada de toiros ao romper d’alva E assisti numa corrida à portuguesa Toda a beleza do toureio marialva

Vi um forcado dando ao toiro meia praça Batendo as palmas numa coragem das raras Entusiasmando a multidão impondo a raça E a valentia que há numa pega de caras

E numa adega bem castiça a recordar Outras noitadas com fidalgos e artistas Cantei o fado rigoroso p’ra mostrar À gente nova que ainda existem fadistas.

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Quando o entrevistado sabe falar e do que fala, escusam-se as palavras de terceiros e dê-se espaço ao discurso directo. Entrevista assinada por A.D.S. para a Revista “Nova Gente” de 15/04/1987.

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“Eu fadista me confesso”

Que melhor título para esta fotobiografia do que a confissão do seu protagonista?

“Eu fadista me confesso” teve como produtor o músico Rão Kyao, companheiro/amigo/irmão. Jornal “Correio da Manhã” de 02/03/1987.

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Entrevista assinada por Carlos Correia em Revista “Maria” de 01/04/1987.

O Jornal “Diário de Notícias” de 18/02/1987 notícia que “Eu fadista me confesso” é o nome do mais recente disco – o décimo nono – de Manuel de Almeida …” apresentado à comunicação social e ao público em geral no Restaurante “Páteo Alfacinha”, Lisboa. Este viria a ser o seu último disco, infelizmente.

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Notícia na Revista “Nova Gente” de 25/02/1987.

Atleta e Aficionado

Segundo os entendidos, o grande fôlego de Manuel de Almeida provinha da prática desportiva. Ginástica, corrida, ciclismo, tudo era invariavelmente “cumprido” no seu dia-a-dia. Os seus companheiros não variavam muito. A “equipa” era formada por músicos e por outros colegas de Fado. A disputa era leal e a recompensa a amizade.

Dois símbolos de Arte e Humildade – dois ícones nas suas especialidades. Manuel de Almeida - Sportinguista “convicto”– Eusébio (da Silva Ferreira, 1942-2014) Benfiquista “praticante”.

Amizade e bom senso e as diferenças são anuladas. Outro benfiquista de grata memória – Germano (Luís de Figueiredo, 1932-2004).

Num jogo Rádio v/s Teatro, o Capitão Manuel de Almeida pela Rádio e o actor Américo Coimbra pelo Teatro. Aplausos e flores das colegas Luísa Neves e Maria Dulce Andrade Ferreira Alves Machado Ribeiro (1936- 2010).
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Manuel de Almeida canta na festa das “Bodas de Prata” do jornal “A Bola” (fundado em 1945) acompanhado por António Chaínho na guitarra portuguesa e José Maria Nóbrega na viola de fado.
SCLV 107
“Sou o Guarda-Redes titular da Equipa dos Fadistas”. Revista “Diário Ilustrado” de 31/05/1960.

O Estádio Nacional foi o palco diário onde Manuel de Almeida “exibia” a sua capacidade atlética. Tendo os amigos por testemunhas, ei-lo em acção…

Capa e entrevista na Revista “Rádio & Televisão” n.º 451 de 24/04/1965. 5000 metros. Uma longa corrida para ensaiar um “Fado Corrido”? Revista “Plateia”, 1967. Revista “Álbum da Canção” n.º 48 de 01/02/1967.
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Corta-mato: resistência e músculos. Salto em comprimento.

A 25 de Outubro de 1997, o Núcleo Sportinguista de Cascais torna-o Sócio Honorário.

Equipados a rigor e prontos para a “competição” (da esquerda para a direita) José Luís Nobre Costa, Manuel de Almeida, Tó Moliças e Domingos Manuel, músicos e Fadista. Afinal não o acompanhavam só a cantar…

O ciclismo foi prática que Manuel de Almeida nunca abandonou.
Manuel de Almeida cumpria o ritual Cascais-Sintra-Cascais e o guitarrista José Luís Nobre Costa era seu cúmplice…
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“Sou um grande aficionado e amigo de todos os toureiros”

Manuel de Almeida, Revista “Álbum da Canção” n.º 48 de 01/02/1967.
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1962, Praça de Toiros do Montijo. Eis o garbo do “matador”. Olé Manel! Revista “Álbum da Canção” n.º 48 de 01/02/1967.

Manuel de Almeida não estava só nesta sua paixão. Tinha um grande amigo e colega “o outro miúdo da Bica” – Fernando Farinha. Fado e Toiros!

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Manuel de Almeida não era só aficionado para diversão e convívio. Era um homem solidário. Nunca recusava uma participação ou apoio a quem o procurava. Revista “Burladero” nº108 de Abril de 1994.

1965, Revista “Rádio & Televisão”.

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Manuel de Almeida fazia questão nas recordações dessas tardes e dos amigos que ia granjeando. Sei, que se estivesse entre nós, me pediria para os lembrar. Não estarão, certamente, aqui todos. Mas recordemos o possível.

Manuel de Almeida, aqui com Rhodes Sérgio (1913-1978) afamado Cabo do Grupo de Forcados Amadores de Santarém.
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Manuel de Almeida com o então jovem cavaleiro de Montemor-O-Novo, Luís Miguel Pimenta de Aguiar da Veiga. Manuel de Almeida com o cavaleiro José Samuel Pereira Lupi
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Manuel de Almeida com o “Diestro” Amadeu dos Anjos.

Discografia

“O Fado Não Está Em Crise, Tem Épocas…!”

Manuel de Almeida, Revista “Maria” de 01/04/1987

Vale a pena um pouco de história, quando o carácter e o esforço dos homens deixam para a posteridade Obra realizada que perdurará a favor da comunidade. É o caso do Sr. Manuel Simões que, por vontade expressa, deixou aos vindouros a sua Fundação, sob a directriz e devoção da sua sobrinha Sra. D. Rosa Amélia Piegudo. Deixou também outro sonho – em Sintra instalar O Museu Dona Maria Teresa de Noronha (Maria Teresa do Carmo de Noronha Guimarães Serôdio – -1918-1993)

Manuel Simões (1917-2008) era natural de Pedrógão Grande. Torna-se empresário em 1934. Em 1947, em Espanha, encontrou discos de 78 rpm de Hermínia Silva e Irene Isidro, entre outros, nunca comercializados entre nós. A sua inteligência e vitalidade empresarial levam-no, na década de 1950, a inaugurar em Vila Franca de Xira a sua própria fábrica de discos. Assim nasceu a etiqueta “Estoril” e para ela gravaram grandes nomes como Maria de Lourdes Resende, Tristão da Silva, Berta Cardoso, Maria José da Guia, Alfredo Marceneiro, Anita Guerreiro, Manuel Fernandes, Argentina Santos, o Maestro Belo Marques e Manuel de Almeida. Na década de 1960 abre a Discoteca do Carmo (Rua do Carmo Lisboa) que mais tarde vem a encerrar dando lugar à Discoteca Amália (Rua do Ouro, Lisboa). Com a criatividade de sempre, coloca um “calhambeque” na Rua do Carmo, lançando para o éter os sons do Fado que tanto preservou, defendeu e amou. Bem-haja!

Manuel Simões
118
1952 – Manuel de Almeida. Etiqueta “Estoril” MS 1030, Alta Fidelidade, EP - 45 rpm.

Etiqueta “Continental”, S. Paulo, Brasil.

Lado A – “Dias de Feira da Ladra”

(M – Alfredo Correeiro / L – Gabriel de Oliveira) e “As Minhas Penas”

(

M – Pedro Rodrigues / L – Gabriel de Oliveira).

Lado B – “Longe de Ti”

(M – Martinho D’ Assunção / L – Manuel de Almeida e “Fado Pechincha”

(M – João do Carmo Noronha/ Popular).

Disco EP, etiqueta “Rapsódia” . “Voltar atrás”, letra de J. Freitas / música e interpretação de Manuel de Almeida.

“Fado e Toiros”, letra e música de Manuel de Almeida.

“Confissão Fadista”

L – Manuel de Almeida

/M – Martinho D’ Assunção (pai).

Gravação etiqueta “Imavox”. Inclui uma letra de Silva Ferreira com música de Manuel de Almeida.

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Etiqueta “Marfer”, Madrid.
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Etiqueta “Orfeu”, edição Arnaldo Trindade, Porto.

“São Horas”, letra de Artur Ribeiro / música e interpretação de Manuel de Almeida. Este disco inclui ainda o “Fado Ronda”, com letra e interpretação de Manuel de Almeida / música de Carlos Gonçalves. Etiqueta “Alvorada” (Rádio Triunfo, Porto),

EP editado pela etiqueta “Alvorada”.

EP Editado pela etiqueta “Alvorada”, incluindo ainda a interpretação e autoria de Manuel de Almeida para o tema “Lá vem ela rua fora” com música de Pedro Rodrigues.

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EP Etiqueta “Alvorada”.

Manuel de Almeida partilha este EP, para a etiqueta “Alvorada”, com três senhoras de grande qualidade vocal e popularidade. Nada as confundia. As cançonetistas Maria de Lourdes Resende e Maria Clara e a Fadista Ada de Castro.

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Etiqueta “Alvorada”, Rádio Triunfo, Porto.
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LP etiqueta “Alvorada”, Porto.

Etiqueta “Estúdio”.

Etiqueta “Estúdio”.

Etiqueta “Estúdio”.

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Falar de Manuel de Almeida não é difícil.

O meu amigo Manuel de Almeida sabia fazer amigos. O seu bom humor, a sua alegria de estar na vida e a sua honestidade para com os amigos, faziam deste grande homem e grande fadista, não só o “desejável” amigo, mas também um dos maiores intérpretes do Fado da sua geração.

Conheci-o antes de iniciar a minha vida de editor de discos e proprietário da Etiqueta “Estúdio”. Admirei o seu estilo muito próprio. Inimitável. Cantava o Fado Corrido e o Triplicado como ninguém. Quem sabe cantar, sabe do que estou a falar. Ainda hoje alguns o tentam imitar, sem conseguirem!

Era o que se pode afirmar um verdadeiro “estilista” do Fado. Como se impunha. Para alem do Fado, que amava intensamente, o “Manel” confessava ter mais outros três amores: A sua querida filha; andar de bicicleta e o “seu” Sporting!

Não resisto a contar uma atitude que o Manel teve e que muito me marcou.

Numa das minhas noites fadistas – eram 2 horas da manhã – fui até ao Restaurante “Lisboa à Noite” onde ele estava a actuar. A casa estava para fechar, tinham saído os últimos fregueses e eu, preparei-me para não entrar.

Mas, o Manuel – meu querido amigo – não deixou. Convidou-me a ficar e cantou apenas para mim três fados com a mesma garra da sua alma fadista como se a casa estive repleta (como era hábito!).

Foi a mais sentida e das melhores noites de Fado que vivi.

Ainda hoje lhe reconheço o gesto e o bendigo.

Por tudo e tanto, Obrigada Manel!

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Etiqueta “ Estúdio”, Lisboa.
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Texto de Fernando Namora. LP etiqueta “Rossil”. LP’s gravados para a etiqueta “Estúdio”, Lisboa. LP etiqueta “Metro-Som”.
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LP etiqueta “Fado e Folclore”, Riso & Ritmo, Lisboa. 1969 LP para a etiqueta “Belter”, Barcelona, Espanha. 1.º Disco gravado por Manuel de Almeida para a etiqueta “Alfabeta”. Revista “Rádio & Televisão” de 02/12/1972.
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1968 LP para a etiqueta “Belter”, Barcelona, Espanha.

EP editado pela etiqueta “Alfabeta”. Lado A: “Agora que nada somos”, letra de Artur Ribeiro / música de Adelino dos Santos; “É certamente o meu Fado”, letra de M. Crisantina / música de Adelino dos Santos – Lado B: “Que seria de mim”, letra e música de Artur Ribeiro; “As nossas vidas”, letra de Artur Ribeiro / música de Manuel de Almeida.

Manuel de Almeida afirma: ” Trabalho intensamente desde há três décadas para que falem sempre de mim com carinho (…) estive muito tempo sem gravar, não por falta de convites (…) não me sinto a contento nas gravações, prefiro actuar ao vivo para o público (…)”.

Entrevista obtida no Restaurante “Lisboa à Noite”, Bairro Alto. Jornal “Barricada” de 23/10/1980. (Desconhecem-se os autores do texto e da foto).

LP etiqueta “Alfabeta, Lisboa.
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A Era do CD

Manuel de Almeida continua a ser presença assídua nas compilações das mais diversas etiquetas discográficas.

1994 “O Melhor dos Melhores”, etiqueta “Movieplay”, Lisboa.

1996 “Fados do Coração”, etiqueta “Strauss”, Lisboa, sob Licença da etiqueta “Belter”, Barcelona.

1998,”É Fado! É Um Estilo!”, etiqueta “Metro-Som”, Lisboa

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Editado em 1992 pela etiqueta “Philips” PolyGram este CD inclui ainda o tema “QUERO CANTAR”, letra de Manuel de Almeida / música de António Parreira com texto de Miguel Esteves Cardoso.

1995 “Fado” CD gravado para a etiqueta “Movieplay”.

Este CD foi, infelizmente, o último trabalho de Manuel de Almeida.

Nele se inclui o tema “Alma de Ganhão” (Fado do Alentejo) com letra de Rosa Lobato de Faria (Rosa Maria de Bettencourt Rodrigues Lobato de Faria – 1932-2010) e música de Rão Kyao.

“Alma de Ganhão” viria a ser o tema genérico da telenovela “Roseira Brava”, criação de Tozé Martinho, Sarah Trigoso e Cristina Aguiar; realização de Jorge Paixão da Costa e direcção de actores por Armando Cortez.

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Homenagens

Festa de Homenagem

1994 – Teatro S. Luiz

Lisboa, 21 de Fevereiro, 21h45

Eis o desdobrável do programa informando sobre a Comissão de Honra e Executiva. Nome dos partipantes cantores e apresentadores. 22 Fadistas, 8 Músicos e 14 Locutores.

Cartaz do Espectáculo.
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Com a colega e amiga Maria Armanda.

Bodas de Ouro Artísticas

A toda a página num artigo escrito pelo jornalista Vitoriano Rosa. Jornal “Correio da Manhã” de 11/02/1994. Manuel de Almeida com Nuno Salvação Barreto destacada figura do mundo taurino da 2.ª metade do séc. XX – a Arte de pegar toiros. Jornal “O Título” de 17/02/1994. “Fadistas Homenageiam Manuel de Almeida” expressão de admiração e respeito. 50 anos a cantar, a escrever e a viver o Fado. Jornal “Capital” de 21/02/1994.
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Jornal “Sporting” de 22/02/1994.

Belissíma reportagem fotográfica que nos relata a Festa dos 50 Anos de Fado de Manuel de Almeida. Podemos reconhecer e recordar as presenças de figuras relevantes da cultura e do desporto – Amigos!

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Revista “Eles & Elas”, Maio de 1994.
A imagem
por si. 137
Destacamos o 1.º da esquerda – Jorge Morais Rosa (Poeta e Cenógrafo – 1930-2001) e o último da direita José Sousa Cintra (Presidente do Sporting Clube de Portugal).
fala

Prémio de Fado Manuel de Almeida

Teatro Gil Vicente

12 de Dezembro de 1996, 21h30

Teatro Gil Vicente, inaugurado em 1869 às expensas do cascalense Manuel Rodrigues Lima, era Cascais ainda uma aldeia de pescadores. Ali actuaram grandes nomes da cena portuguesa.

O Teatro alterou a vida de Cascais, dos seus naturais e dos seus visitantes. A admiração que causou levou, em 1870, o Rei Dom Luiz I e a Corte a escolherem Cascais como estância de veraneio.

Destacamos o texto escrito por José Jorge Letria, então Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Cascais, por ser explícito na intenção e finalidade.

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Prémio de Fado Manuel de Almeida

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Teatro Gil Vicente 4 de Dezembro de 1997, 21h30

Cascais e Alcabideche guardam entre as suas ruas a memória do Fadista.

Em 2006, o “Museu do Fado”, no seu Auditório, e em colaboração com a Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (fundada em 1994) prestaram-lhe Homenagem.

Diariamente, nas Estações de Rádio de todo o País, Manuel de Almeida é homenageado pelos ouvintes que solicitam escutar as suas interpretações.

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Teatro Armando Cortez

Lisboa, 2 de Fevereiro de 2015, 21h00

A Apoiarte / Casa do Artista (inaugurada em 1999), por iniciativa da sua direcção e com produção e realização de Maria de Lourdes De Carvalho, presta homenagem a Fadistas consagrados pelo grande público, iniciando o ciclo com Manuel de Almeida.

Pedro de Castro, guitarra portuguesa; André Ramos, viola e Francisco Gaspar, viola baixo. Rão Kyao, Maria Armanda, Rodrigo, Maria Mendes e Joana Amendoeira.
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Maria João Gama e Aurélio Carlos Moreira, apresentadores. “Álbum da Canção” n.º 48 de 01/02/1967.

Troféus, Placas e Medalhas

”Mérito e Dedicação”, Casa de Fado “Nau Catrineta”. 1961/1963. Assinalando a presença de Manuel de Almeida nas “Bodas de Prata” do locutor/produtor Marques Vidal, 25 de Abril de 1964.
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Gedenktuin. Lourenço Marques, 1968 De todos os quadrantes chegam homenagens ao Fadista, ao desportista e, sobretudo, à generosidade da gratuita dádiva da sua Arte. Clube Operário Futebol, 15/01/1972. “Com profunda amizade do Lar de Veteranos Militares nas comemorações do 150º aniversário”, 25/07/1977. 1978 Associação Humanitária soa Bombeiros V. de Cascais. Exemplo de “fair play” (jogo limpo/respeito).
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Fados na “Adega do Tomas” 06/06/1987 Agradecimento.
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A gratidão manifestada em recordações. Salva oferecida pela Rádio Sintra FM em 1989.

Algumas recordações duma noite inesquecível... Teatro S. Luiz, 21 de Fevereiro de 1994

“Os colegas de estrada desejam até aos cem anos uma forte pedalada ” Teatro S. Luiz, Lisboa 21/02/1994.

Prémio da Associação de Ciclismo de Lisboa. Na Festa de Homenagem a Manuel de Almeida ocorrida em 21 de Fevereiro de 1994 no Teatro S. Luiz, Lisboa.
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RCS – Rádio Clube de Sintra (91.2FM). “Os 10 Mais do Fado” – Top Sintra 94/95. “O Tocador” Oferta a Manuel de Almeida.
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Montepio Geral – Troféu Gratidão – Manuel de Almeida – Casa da Imprensa, 1992. Federação Portuguesa de Ciclismo.
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Placa “Prémio de Carreira” atribuído, a título póstumo, pela Casa da Imprensa em 28/06/1996.

Aniversário Ausente

“Cantando espalharei por toda a parte…” Camões

Manuel de Almeida é um Ser dos evocados por Camões quando em “Os Lusíadas” – Canto I, os enobrece dizendo “Aqueles que por obras valorosas se vão da Lei da Morte libertando…”. Tudo é relativo. O Fado também precisa de acção, defesa e actos valorosos. Será talvez por isso que passados tantos anos os amigos e admiradores de Manuel de Almeida não deixam esquecer o seu nome e as suas obras. Provam-no a realização das festas de “Aniversário Ausente”

Manuel de Almeida é um caso raro de aceitação e memória. Desde o seu falecimento em 3 de Dezembro de 1995 que um Grupo de Amigos e Admiradores, de todas as idades, etnias e credos, impulsionados por Humberto Rosa, Suzy Paula, José Novaes, Júlio Ribeiro e Rui Gomes Pereira, formando a Comissão Organizadora, brindam-no, anualmente, com uma festa de aniversário – 27 de Abril de 1922 – que reúne à volta do seu nome cantores, músicos, gente que com ele conviveu e público em geral, não deixando cair no esquecimento o seu nome e o seu Fado.

Desde 1996 até ao presente, as palavras que lhe dedicam são gravadas em “memórias” que os próprios lhe oferecem como “presente”.

Estiveram presentes, além de muitos mais, Jesus Correia (hoquista), Maria Edite Almeida (filha de Manuel de Almeida), Humberto Rosa, Francisco “Chico” Dias (organizadores), Rui Vieira Nery (musicólogo), Natalino Duarte e Carlos Zel (fadista – António Carlos Pereira Frazão 1950-2002) e a esposa Branca Zel (sentada). 1.º Aniversário Ausente “Amália Clube de Fado” Quinta da Bicuda, Cascais - 27 de Abril de 1996
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1997 - 2.º Aniversário. Oferta de A. Frazão (António Frazão) pai do guitarrista Alcino Frazão e de Carlos Zel, fadista. 3.º, 4.º e 5.º Aniversários Ausente. Anos de 1998, 1999 e 2000 realizado no “Forte D. Rodrigo”, Cascais. Ofertas do músico Tó Moliças. 2001 - 6.º Aniversario. Oferta de Júlio Ribeiro, proprietário do Restaurante-Bar “O Arreda”. 2002 - 7.º Aniversário. Recordação da amiga Maria Luiza Diniz. 2003 – 8.º Aniversário. Recordação de Carlos Escobar, Locutor da Rádio Clube de Alcoutim. 2004 – 9.º Aniversário. Homenagem do também fadista Manuel Domingos (1948-2010). 2005 – 10.º Aniversário. António Queiroz, guitarrista.
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2006 – 11.º Aniversário. Quim Ramalho, amigo. 2007 – 12.º Aniversário. Rui Gomes Pereira, cantor. 2008 – 13.º Aniversário. Nani Nabais, cantor. 2012 -17.º Aniversário. Chico Madureira, fadista. 2013 – 18.º Aniversário. Bela Bueri, empresária do “Amália Clube de Fado”, Cascais. 2016 – 21.º Aniversário. Alice Pimenta, empresária e fadista. 2017 – 22.º Aniversário. José Mouro, fadista. 2019 – 24º aniversário. José Elmiro Nunes 2018 – 23º aniversário. Filipe Duarte
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27 de Abril de 2009 - Placa comemorativa do 14.º Aniversário Ausente. Oferta do Dr. Artur Lopes, ao tempo Presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo.

Sinto-me como que se fosse uma árvore toda feita de fadistas.

Falar de Manuel de Almeida é falar de uma das mais profundas raízes através da qual vou beber a essência que dá depois vida ao meu fado. E tal como uma árvore de ramos erguidos ao céu, estendo os meus braços em jeito de homenagem e agradecimento pelos ensinamentos e fados que fez florescer e deixou plantados nos campos da natureza fadista.

Consoante a estória que escutamos através da voz de Manuel de Almeida, tanto podemos vislumbrar o dramatismo de uma tempestade como a calmaria de uma tarde quente de Verão. Foi assim, e é assim que a sua verdade ficou gravada nas suas interpretações, simples, pura e por isso facilmente nos chega ao coração!

André Baptista * Cantor / Fadista

Lisboa, Abril de 2017

*Prémio Revelação

Prémios Amália Rodrigues 2014

IX Gala Amália

São Luiz Teatro Municipal, 04 Novembro

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Recordo-te, Pai

Recordar o pai é fácil e difícil, pois não chegam as palavras para o fazer. Agradeço a Deus, todos os dias, pelo pai que me deu.

Dizer que foi o melhor pai do mundo, será lugar comum, mas é pouco, é muito pouco. Foi um pai maravilhoso. Benevolente, companheiro, cúmplice, amigo, educador, sem exigir nem repreender.

Desde sempre o acompanhei, pois entendíamo-nos tão bem que adorávamos sair juntos quer fosse para o desporto, cinema ou na vida profissional, no país ou no estrangeiro. Divertíamo-nos imenso.

Sentia-me orgulhosa pelas gentes interessantes que conhecíamos e como todos lhe tinham amizade, admiração e respeito. Não só pelo seu talento mas também pelo seu bom carácter e humor. Ainda hoje é recordado como tal.

Agora sinto, pelo vazio e as saudades que deixou, que os seus amigos transferem para mim o carinho e amizade que lhe tinham.

Assim agradeço-o e retribuo.

Sinto-me sensibilizada e agradecida, por todas as homenagens de que tem sido alvo e a que tenho assistido.

Aqui mesmo, a todos os intervenientes na feitura e/ou na leitura desta fotobiografia. Ao Museu do Fado pelo apoio e á Maria de Lourdes De Carvalho pelo empenho e amor dedicados ao projecto. É com muito agrado que vejo a carreira, que meu pai tanto amou, poder ser recordada e partilhada.

Com o coração, sinceramente,

Maria Edite de Almeida Cascais, 2017

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“HÁ MUITO QUEM CANTE O FADO”

Devo confessar que o Manuel de Almeida me surpreendeu. Modesto, humilde e bom conversador, nunca me falou dos seus êxitos além fronteiras. Limitava-se a agradecer a Deus e a dizer “correu bem”.

Quando mergulhei na tarefa desta fotobiografia, ao mais fundo que me foi possível, deparei-me com provas de uma vida profissional que para qualquer um teria sido a “bandeira” da exibição gratuita e que para ele foi “trabalho”. Manuel buscava apenas a realização pessoal e a honra de tudo fazer com honestidade.

Intérprete, autor e compositor; Uma quase centena de letras; Uma vida de paixão fadista; Um nome que a história do Fado não pode esquecer, correndo o risco de perder um dos seus mais emblemáticos criadores.

Como intérprete está perpetuado nas diversas gravações que hoje, em todos os formatos da modernidade, podemos escutar, ver, lembrar e, porque não, aprender!

Como homem do Fado, a sua imponente figura, os seus “tiques”, a sua voz rouca e quente, deixaram nos olhos e ouvidos de quem com ele conviveu, o sagrado sabor do “fado-raiz”.

Como compositor e autor, durante a sua vida foi “muito usado” e “pouco considerado”. Hoje a nova geração recria-o e canta-o. Bem-hajam!

Os seus versos falam da vida comum, dum homem comum que olha, vê e sente. Passam pela sensibilidade do momento que vive, quer na visita a uma cidade; numa corrida de toiros; numa tertúlia de amigos ou ainda, no aconchego dos braços duma mulher. Em qualquer circunstância é intenso, é verdadeiro.

Obrigada Manuel de Almeida por ter sido meu amigo, por ter cantado meus versos, por me ter admitido como sua produtora discográfica.

Obrigada pelas longas noites no “nosso” “Lisboa à Noite” (Fernanda Maria, Jaime Santos, Martinho D´ Assunção e Liberto Conde).

Obrigada por ter sido tão Fadista.

Maria de Lourdes De Carvalho Autora, 2018

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AGRADECIMENTOS

Manuela Rego

Ada de Castro

Alda De Carvalho

Alda Goes

André Baptista

António Parreira

Emídio Mateus

Fernanda Maria

José Frade

Mafalda Arnauth

Maria Edite Almeida

Rão Kyao

Renato da Silva

Rodrigo

Os versos da autoria de Manuel de Almeida foram cedidos pelo seu Grupo de Amigos, pela sua filha e pela SPA – Sociedade Portuguesa de Autores.

Os textos são da responsabilidade de quem os assina.

Nota: A autora não seguiu as regras do novo acordo ortográfico.

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CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS

Apollo, Dário, Foto Ilustrado, Lobo Pimentel, J. Testa Santos, Estúdios Roma, Jorge Jacinto, Carlos C. Nunes, Agência Valverde, A. R. Figueiredo, Gabinete Fototécnico Industrial, Freijota, Martins & Barata, N. Tavares, Vítor Alfaia, Orlando Teixeira, F.G. Almeida, J. Silva, J. Marques, Lino Pepe, Carlos Nunes, Rui Renato, Victor Fernandes, Pedro Cláudio, Luís Vasconcelos | Alfredo Cunha, Mário Cabrita Gil, Aurélio Vasques, José Frade, Cifesa, Agência Potuguesa de Revistas, Álbum da Canção, Márcia Filipa Moura, Homem Cardoso, D.R., Inácio Ludgero, Jaime Serôdio.

Nota – Tudo fizemos para a maior identificação dos autores fotográficos. Porém, muitas fotos não estavam assinadas. Assim, se os seus autores as reconhecerem, agradecemos a comunicação.

FICHA TÉCNICA

Titulo | “Eu Fadista me Confesso”

Uma Edição: EGEAC | Museu do Fado antes da autora

Autora | Maria de Lourdes De Carvalho (SPA 0/1080)

Prefácio | Sara Pereira

Produção Executiva | Patrícia Parrado

Transcrição musical | Rão Kyao e Renato da Silva

Grafismo musical | António Parreira

Imagens do Arquivo do Museu do Fado

Imagens do Espólio de Maria Edite Almeida

Design Gráfico | Luís Carvalhal

Impressão |

Tiragem | 300 ex.

Selo Digital SPA

Depósito Legal |

ISBN |

1.ª Edição: 2021

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“Cantando espalharei por toda a parte…” Camões

4min
pages 152-155, 157-161

Prémio de Fado Manuel de Almeida

0
page 138

A Era do CD

0
pages 130-131

“O Fado Não Está Em Crise, Tem Épocas…!”

3min
pages 118-129

“Sou um grande aficionado e amigo de todos os toureiros”

0
pages 111-115

Atleta e Aficionado

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pages 106-109

1994 – Côtes – D’Armor

2min
pages 60-61

1993 – Ville de Saint-Sever

1min
pages 56-59

Colegas devo Respeito e Admiração. Aos Amigos Solidariedade e Afecto”.

1min
pages 51-53

Alemanha

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page 49

1977 – Teatro Municipal São Luiz, Lisboa,

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page 47

Fala de “Fado” quem sabe...

4min
pages 39-42

Rádio e Televisão

2min
pages 28-36

Lisboa à Noite

1min
pages 24-27

O Fadista…

2min
pages 14-22

Prefácio…

1min
pages 10-11

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