Revista Elos 51 . Março - Abril | 2020

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batistas, adotam a autonomia da igreja local; portanto, suas convenções têm uma representação restrita. A maior denominação evangélica brasileira, a CGADB, é representada por uma convenção não de igrejas, mas de pastores. Já as grandes igrejas neopentecostais têm um governo extremamente personalista, centrado na figura de seus fundadores.

quem representa os evangélicos? por Sylvio Macri

A grande imprensa (Tvs, jornais e revistas) desconhece as estruturas, as características e as idiossincrasias das diversas denominações evangélicas brasileiras, e por isso tem adotado certos jargões para falar dos evangélicos como se esses fossem uma massa homogênea. Nada mais equivocado. Por exemplo, a maioria dos evangélicos brasileiros não é sionista e não reivindica a transferência da embaixada brasileira em Israel. Também não é verdade que os evangélicos são de direita. Na maioria das igrejas sérias os membros são orientados a votar de acordo com a sua consciência, não são julgados por sua ideologia política, e os líderes não indicam candidatos. Apesar do mal entendimento (e mau procedimento) de alguns de seus líderes, as denominações evangélicas defendem a separação entre a igreja e o estado, este é um item de suas declarações de fé.

Nesta época de muita confusão a respeito dos evangélicos, temos visto essa confusão ser grandemente aumentada pela visão distorcida que a grande mídia tem deles. Por exemplo, nos últimos tempos tem havido muita discussão sobre a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Uma afirmação recorrente é que esta é uma reivindicação dos evangélicos, que apoiaram o atual presidente da República quando de sua eleição para o cargo. Por essa e por outras afirmações equivocadas, acho necessário discutir a questão: Quem representa os evangélicos? Em primeiro lugar, em que pese o apoio explícito (e interesseiro) de algumas figurinhas carimbadas do meio evangélico ao presidente eleito, deve ser dito que eles representam apenas a sua própria opinião e de seus seguidores, que, aliás, nem são a totalidade dos membros das igrejas que lideram. Os evangélicos que votaram no presidente eleito, votaram não como evangélicos, mas como cidadãos identificados com uma agenda conservadora, e principalmente, como já foi dito exaustivamente, por uma espécie de medo da esquerda, medo esse misturado com ódio, alimentados por uma intensa atuação, nem sempre honesta, nas redes sociais. E isso foi afirmado a respeito de quase todos os que votaram no presidente eleito. Analistas políticos foram unânimes em dizer que não é possível identificar uma ideologia definida nesses eleitores.

Os evangélicos brasileiros não têm um projeto de poder, com exceção, talvez, da Igreja Universal do Reino de Deus. Apesar de haver um bom número de parlamentares evangélicos, seus interesses são difusos. A chamada bancada evangélica, que é identificada por alguns pontos em comum, como, por exemplo, a oposição às mudanças na legislação sobre o aborto, é uma ficção quando se trata da luta contra a corrupção, a injustiça social, a má distribuição da renda e outros temas. Pelo contrário, a maioria dos parlamentares evangélicos tem votado, por exemplo, contra a possibilidade de processos contra políticos corruptos e tem apoiado medidas que acobertam tais políticos. Aliás, alguns deles são também corruptos. É um equívoco da grande mídia atribuir aos evangélicos como um todo, certas propostas fundamentalistas, como a que proíbe completamente o aborto ou a que dá direito aos pais de educar seus filhos em casa, sem passar pela escola.

Os evangélicos brasileiros formam um grande leque, muito diversificado, que dificilmente pode ser representado em termos globais. Para fins de estudo, muitos os têm identificado como históricos, pentecostais e neopentecostais, mas estes termos são meros estereótipos. Por exemplo, em praticamente todos os históricos existem ramos pentecostais, tais como os batistas nacionais, os presbiterianos renovados e os metodistas wesleyanos.

Talvez possa ser objetado que o que acima escrevi também não representa os evangélicos, mas quero dizer que o que eu disse não é uma opinião pessoal; é a constatação do que tenho observado e lido sobre o assunto, e, ao mesmo tempo, uma contribuição e um convite aos leitores para também fazerem suas observações e suas constatações.

As denominações evangélicas são representadas, não por líderes eventuais, mas por organizações conhecidas como convenções nacionais e estaduais, concílios regionais e nacionais, sendo que a maioria tem um governo centralizado. Outras, como os

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