Revista Setor Agro&Negócios

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ANÁLISE DE MERCADO Por Felippe Serigati e Roberta Possamai

INFLAÇÃO DE ALIMENTOS TEMPORÁRIA E SEM DISSEMINAÇÃO (ATÉ O MOMENTO)

MERCADO INTERNO DE ALIMENTOS AQUECIDO

No momento em que este artigo é escrito já é possível afirmar com segurança que a economia brasileira tecnicamente já saiu da recessão e que alguns setores já operam em nível superior àquele do período pré-pandemia. Os números do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) deixam claro que a economia brasileira tem crescido desde o mês de maio. É importante ter claro que, apesar dessa recuperação, a economia brasileira, como um todo, ainda opera em um

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nível bem inferior ao período pré-pandemia e deverá encerrar o ano menor do que era em 2019 - de acordo com a mediana das

projeções da Pesquisa Focus do Banco Central, o PIB brasileiro deverá contrair em torno de 5% em 2020.

ÍNDICE DE ATIVIDADE ECONÔMCA (IBC-BR):

VAR. MENSAL (% A.M.) COM AJUSTE SAZONAL

1,06%

-5,93%

Por trás desse processo de recuperação, merecem destaque as políticas de transferência de renda adotadas pelo Governo Federal, notadamente, o Auxílio Financeiro Emergencial. De acordo com a previsão orçamentária da Secretaria Especial de Fazenda, do Ministério da Economia, o volume de recursos alocados com medidas socioecômicas deve somar R$ 445.3 bilhões de reais até o final do ano. Desse montante, o Auxílio Emergencial deve responder sozinho por R$ 321.8 bilhões, atendendo mais de 65 milhões de pessoas. Esse expressivo volume de recursos tem aquecido o mercado interno para alguns produtos, entre eles, os alimentos. De acordo com o Índice de Produção Agroindústrial (PIMAgro) do FGV Agro, a produção de Pro-

Ago-20

Jul-20

Jun-20

Mai-20

Abr-20

-9,27% Mar-20

Fonte: Banco Central

5,33% 3,71% 1,68%

0,11% 0,41%

Fev-20

8% 6% 4% 2% 0% -2% -4% -6% -8% -10%

Jan-20

(% a.m.)

C

ertamente, a inflação de alimentos foi um dos temas mais discutidos ao longo do segundo semestre. De fato, nos últimos 12 meses, enquanto a inflação geral medida pelo IPCA acumulou uma alta de 3.1%, os alimentos ficaram, na média, 11.8% mais caros. Há vários fatores que explicam essa forte elevação do preço dos alimentos, entre eles: • Demanda mais aquecida no mercado doméstico devido aos programas de transferência de renda, com especial destaque para o Auxílio Emergencial; • Elevação das cotações das commodities agrícolas no mercado internacional, resultado tanto do início do processo de recuperação da economia mundial quanto da recomposição dos estoques de alimentos em alguns países; • Exportações agropecuárias brasileiras mais aquecidas, pressionando os preços no mercado interno; • Dólar mais caro no mercado cambial brasileiro. Sem dúvida, a elevação do preço dos alimentos é algo que pode trazer desconforto para os domicílios, porém, em geral, são choques temporários, ou seja, é uma inflação que deve se dissipar nos próximos meses e, até o momento, não deve mudar a atual política de juros do Banco Central.

dutos Alimentícios já acumula uma alta de 5.8% em 2020 (entre janeiro e setembro). Ou seja, apesar da pandemia, a produção desse segmento da agroindústria deve registrar expansão robusta este ano.

DÓLAR ALTO, RECUPERAÇÃO ECONÔMICA MUNDIAL E RECOMPOSIÇÃO DOS ESTOQUES = EXPORTAÇÕES AQUECIDAS

De acordo com os números da pesquisa do Desempenho Comercial do Agronegócio, do FGV Agro, as exportações do universo agro brasileiro já acumulam uma alta de 5.8% em 2020 (entre janeiro e setembro). Considerando apenas os produtos agropecuários (ou seja, deixando de lado os produtos agroindustriais), essa expansão já supera 13.3%.


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