LIU XIAODONG BRUCE NAUMAN JOAN MITCHELL WALTER GRAMATTÉ WASHINGTON DA SELVA
Almeida Junior, O importuno, 1898.
EM MARÇO E ABRIL DE 2021 A ESCOLA DASARTES APRESENTA NOVOS CURSOS DA SÉRIE 20 ARTISTAS:
20 ARTISTAS: MODERNOS NACIONAIS ACADÊMICOS INTERNACIONAIS
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Capa: , A MEXICAN Family, The MARTINEZ, 2019. Courtesy the artist and Massimo De Carlo, Milan/London/Hong Kong.
DESIGNER Moiré Art moire@moire.com.br REVISÃO Angela Moraes PUBLICIDADE publicidade@dasartes.com SUGESTÕES E CONTATO info@dasartes.com VERSÃO IMPRESSA assinatura@dasartes.com Doe ou patrocine pelas leis de incentivo Rouanet, ISS ou CMS/RJ
Contracapa: Walter Gramatté, Rosa Schapire, 1920 © Hamburger Kunsthalle / bpk. Foto: Christoph Irrgang.
LIU XIAODONG 10
BRUCE NAUMAN
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Agenda
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De Arte a Z
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WALTER GRAMATTÉ
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Resenhas
JOAN MITCHELL
WASHINGTON DA SELVA
RESENHAS
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AGEnda
Na individual que ocupa espaço no Centro Cultural Correios RJ, a artista Carla Carvalhosa deu asas à , nome da exposição. Literalmente. As asas se fazem presentes em algumas obras apresentadas, bem como na grande instalação construída com embalagens de detergente líquido reaproveitadas, o ápice da mostra, que convida o público a interagir. Sob curadoria de Márcia Costa, foram reunidas ao todo 30 telas de estilos variados – realismo, hiper-realismo, impressionismo, cubismo, abstracionismo e modernismo – e técnicas diversas, além de duas esculturas compostas, tridimensionais, 6
de papietagem em jornal e papel machê. “Ministro cursos de pintura há 30 anos. A meu ver, tenho uma performance bastante eclética, em parte, talvez, pela diversidade de artistas que venho acompanhando durante todas essas décadas. Gosto dessa liberdade de pintar e modelar o que me emociona e não encaro apenas como uma obra, mas sim como uma parte de mim que se materializa em forma de reflexão”,
CARLA CARVALHOSA: LIBERDADE • CENTRO CULTURAL CORREIOS • RIO DE JANEIRO • 3/2 A 21/3/2021
de arte
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AZ
PELO MUNDO • Nova mostra coloca Emma Amos, artista pioneira dos direitos civis e movimentos feministas, no cânone do século 20. A artista era membro do grupo feminista anônimo Guerrilla Girls. Emma morreu em maio de 2020, aos 83 anos. Pintora, gravadora e tecelã, Emma tinha conhecimento de que sua carreira de sete décadas estava finalmente à beira de sua primeira retrospectiva, no Museu de Arte da Geórgia.
CURIOSIDADES • Escultor e ex-artista de efeitos especiais de cinema cria próteses para tons de pele mais escuros. John Amanam de 33 anos e da cidade de Uyo, no sul da Nigéria, tornou-se rapidamente um pioneiro no design de próteses hiperrealistas. Seu trabalho - abrangendo próteses de mãos, pernas, dedos das mãos, pés, orelhas, narizes e seios - era tão raro que ele precisou registrar uma patente sobre sua inovação na Nigéria no ano passado.
GIRO NA CENA • Um triplex recémcolocado à venda por US$ 7,9 milhões em Tribeca-NY, vem com um mural de Keith Haring já pintado na entrada. A obra, datada quando Haring era um estudante na Escola de Artes Visuais de Nova York, em 1979, foi redescoberto em uma casa, 20 anos atrás. Os arquitetos Todd Ernst e Frank Servidio estavam construindo o apartamento quando descobriram que o local foi usado como espaço pra uma galeria. 8
MODA E ARTE • O designer e artista Virgil Abloh está leiloando jaquetas, camisas, suéteres e paletós exclusivos criados pelo artista britânico Damien Hirst junto com o estilista de Los Angeles Tetsuzo Okubo, que adicionou seus toques característicos (como slogans e ) para as roupas. Hirst também usava muitas dessas roupas em seu estúdio, por isso elas costumam estar sujas de tinta. A linha se chama Beverly Hirst Recycler, um derivado da marca da Okubo, Beverly Hills Recycler, especializada em peças reaproveitadas e customizadas.
VISTO POR AÍ
NOVO ESPAÇO • A Simões de Assis inaugura novo espaço em Curitiba, projetado especialmente para acolher a nova da sede da galeria. Esculturas e pinturas de Gonçalo Ivo (imagem) e de fotografias de André Nacli podem ser visitadas com agendamento pelo site da galeria em www.simoesdeassis.com.
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• DISSE O QUÍMICO Mas Subramanian em um estudo sobre o composto YInMn, o primeiro novo pigmento azul em dois séculos, disponível agora para artistas.
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CApa Tom, his Family, and his Friends, 2020. Courtesy the artist and Massimo De Carlo, Milan/London/Hong Kong
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LIU xiadong
LIU XIAODONG: BORDERS É A MAIS NOVA EXPOSIÇÃO DO PINTOR CHINÊS, FAMOSO POR OBRAS QUE REGISTRAM A DRAMÁTICA VIDA DAS PESSOAS COMUNS
". Liu Xiaodong A ARESTAS DO MUNDO fronteiras, sussurrem-nos que repensar os espaços é Exibida no Dallas Contemporary (Texas), a mostra reúne pinturas, anotações de diário e vídeos desenvolvidos a partir de centenas de desenhos, fotografias e filmagens que o artista angariou em duas viagens de pesquisa por cidades da fronteira EUA-México, em 2019. A mostra traz ainda o documentário sobre a experiência dele na região, filmado pelo cineasta Yang Bo. Assim, o público da mostra compartilha de modo vívido as descobertas das viagens. Adepto da pintura figurativa na qual o espectro fotográfico domina, Xiaodong é um pintor da vida contemporânea. Ele caminha entre o artifício e a realidade; entre fato e ficção. Suas obras servem como 12
lJuarez At the Casa del Migrante in Juárez, 2019,(Detalhe) Ex. Unique Courtesy the artist and Massimo De Carlo, Milan/London/Hong Kong
POR ALECSANDRA MATIAS DE OLIVEIRA
Chatting, 2020.
uma espécie de pintura histórica para o mundo emergente. Ele se preocupa com aqueles que foram deixados para trás pela modernização e globalização; ele está atento às arestas, às margens e aos ignorados. Seu compromisso de “ver as pessoas como elas realmente são” aponta para o legado do realismo socialista chinês; suas composições em grandes telas têm pinceladas soltas e camadas espessas de tinta a óleo que dão força e significado às cenas. E por que a escolha pela fronteira EUA-México? Talvez, Xiaodong tenha se motivado pela célebre frase de Porfírio Díaz: “pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos EUA”. Nada mais limítrofe do que as relações entre o centro do capitalismo, representado pelos EUA, e a periferia, evidenciada pelo México. Mas o nosso artista não está restrito às demandas econômicas ou às ideologias; ele segue atrás da complexidade dos lugares. Durante as viagens de pesquisa, Xiaodong se inseriu nas comunidades da região, residindo temporariamente em cidades, tais como, Eagle Pass, Piedras Negras, El Paso, Ciudad Juarez, Laredo, Nuova Laredo e Marfa – o que lhe interessa são as consequências das questões transnacionais sobre os cotidianos. 14
A Wall that Can Turn Around, 2019.
Não é de hoje que ele “vai a campo” para conhecer outras culturas e realidades – aqui a expressão não é de graça! Em muitos trabalhos, ele se instala ao ar livre, em um estúdio provisório, colocado em local improvisado, e permanece nessa residência algumas semanas ou meses. Foi assim que ele retratou a vida na China, Itália, Cuba, Japão, Coreia, Índia, Tailândia, Indonésia, Alemanha, Grã-Bretanha e Groenlândia. Em cada projeto, o pintor se confronta com a vida comum das populações locais e os efeitos dos fluxos globais, incluindo, nessa categoria, crises ambientais, turbulências econômicas e grandes intervenções urbanas. As impressões dele emergem em pinturas, diários e documentários. Em 2012, esse esforço do artista resultou, por exemplo, na série , com imagens sobre a região de mineração de jade da província de Xinjiang, além de obras que registraram as comunidades deslocadas pela Barragem das Três Gargantas no rio Yangtze, zonas de conflito israelense-palestinas, paisagens sul-africanas, os povos do Tibete, trabalhadores siderúrgicos de Bangladesh e o cotidiano de profissionais do sexo, órfãos e desabrigados. Nesse percurso, uma 2010), que traz como tema central das pinturas mais conhecidas é 15
sete mulheres jovens em uma paisagem de Sichuan, região atingida por um terremoto devastador dois anos antes, no qual 23 mil pessoas perderam as vidas. Com atenção à humanidade dessas mulheres, Xiaodong lhes atribui traços fortes, ao passo que, ao segundo plano, está a cambaleante e destruída paisagem. O desejo de revelar a história por traz da imagem pode ter vindo da origem de nosso pintor. Liu Xiaodong nasceu em 1963, em Jincheng, uma cidade industrial no norte da China, dependente da manufatura de papel e celulose – anos mais tarde, o artista voltou à cidade natal para retratar amigos e familiares em um lugar em decadência pelo fechamento da fábrica de papel. Voltando à biografia do pintor: na tentativa de um futuro diferente e mais promissor, os pais dele o enviaram, aos 17 anos, para morar com o tio, que havia se formado em pintura. Em Pequim, Xiaodong aprendeu a usar aquarelas para copiar os mestres britânicos e a tradicional escola de pintura russa. Em 1980, foi admitido na Escola Secundária afiliada ao Instituto Central e, posteriormente, frequentou a Academia Central de Belas-Artes, onde se formou em 1988. Durante o tempo na Academia, estudou pintura a óleo e foi então profundamente influenciado pela tradição do realismo socialista. Porém, o jovem pintor viveu a ruptura do chamado movimento de 1985, marcado pela influência da arte moderna ocidental. Somem-se às inovações estéticas as manifestações estudantis de 1989 e o massacre da Praça Tian An Men. De 1993 a 1994, Xiaodong passou vários meses pintando e viajando pelos EUA, onde se casou com o artista Yu Hong. Ao retornar à China, tornou-se professor do Departamento de Pintura a Óleo da Academia Central de Belas-Artes. 16
Out of Beichuan, 2010. Courtesy the artist and Massimo De Carlo, Milan/London/Hong Kong.
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Asphalt Air and Hair, 2017, ARoS Triennial THE GARDEN, Dänemark © Katharina Grosse und VG Bild-Kunst, Bonn, 2019. Foto: Nic Tenwiggenhorn.
Policemen in the Park, 2019. Courtesy the artist and Massimo De Carlo, Milan/London/Hong Kong
Alguns críticos encontram nos trabalhos dele forte influência de Lucian Freud, pintor e desenhista, especializado em arte figurativa, conhecido como um dos principais retratistas do século 20. Os retratos de Freud são densamente empastados, muitas vezes inseridos em interiores e paisagens urbanas inquietantes – características que, talvez, sejam traços semelhantes entre os dois pintores. Porém, as obras de Freud são conhecidas pela penetração psicológica e sensação desconfortável entre artista e modelo. Ele era conhecido por pedir sessões extensas e punitivas aos seus retratados. Já Xiaodong faz o exercício da empatia entre pintor e modelo. Quando se instala em algum lugar, estabelece laços de amizade com os locais; ele escreve em seus diários todas as pequenas impressões sobre aquela realidade. Ele afirma que “o público vai olhar para minha arte e pensar em si mesmo”. Em algumas entrevistas, nosso pintor se diz inspirado por Paul Cézanne. Esse aspecto nos parece verossímil, quando observado o tratamento da paisagem em suas telas. Nelas, o 19
A MEXICAN Family, The MARTINEZ, 2019. Courtesy the artist and Massimo De Carlo, Milan/London/Hong Kong.
profundo estudo e os valores plásticos evocam “o pai de todos nós”, como diriam Picasso e Matisse. O trabalho ao “ar livre” também é outro indicativo herdado de Cézanne. Nós últimos cinco anos, Xiaodong tem colaborado com uma equipe de tecnologia para pintar remotamente com robôs. As explorações multidisciplinares dele não apenas chamam a atenção para a vida das pessoas comuns, mas também desafiam os limites da pintura tradicional. Assim, ele criou uma máquina de pintura automatizada. Em (2016), nosso pintor transformou um vídeo digital em fluxos e, depois, em pinceladas. Tudo isso em tempo real, formando, então, um novo corpo de pinturas. Nesse sentido, ele reavalia a e do pintura na era da algoritmo, invocando a condição presente, na qual humanos e outros objetos co-criam reciprocamente o mundo. Na exposição as telas de Xiaodong documentam os indivíduos e a sociedade contemporânea em curso nos dois lados do Rio Grande. Suas pinturas se tornam mensagens contra os estereótipos e contam histórias pessoais que ele testemunhou durante o tempo vivido na fronteira. Entre essas histórias, merece destaque o encontro com o xerife Tom Schmerber e família – mesmo discordando da política agressiva de fechamento à época, o xerife tinha como tarefa impedir a entrada de imigrantes no território norte-americano – essa dicotomia tão humana surge nos trabalhos de 22
Boundary River, 2019. Courtesy the artist and Massimo De Carlo, Milan/London/Hong Kong.
Xiaodong. Desse modo, o pintor descreve um lugar rico por sua diversidade, onde os valores familiares e coletivos formam a base da , há comunidade. Adjacente ao tema de os recentes episódios da história dos EUA: o emblemático muro entre as fronteiras, as políticas anti-imigração, o conflito entre policiais e imigrantes e, por fim, a saída da extrema direita da presidência – algo que pode mudar a atual situação fronteiriça. tem curadoria partilhada entre o artista e Peter Doroshenko, diretor executivo do Dallas Contemporary. Originalmente, estava programada para abril de 2020, porém, os acontecimentos decorrentes da pandemia ocasionada pelo coronavírus transferiram a abertura da mostra para 2021. Durante esse intervalo, Xiaodong e família não regressaram à China, passando uma temporada forçada em Nova York. Desse isolamento, novas obras surgiram, mas essas contam outra história.
Alecsandra Matias de Oliveira é doutora em Artes Visuais pela ECA USP (2008). Professora do CELACC ECA USP, membro da ABCA e pesquisadora do Centro Mario Schenberg de Documentação da Pesquisa em Artes. Autora do livro Schenberg: crítica e criação (EDUSP,
LIU XIADONG • BORDERS • DALLAS CONTEMPORARY ART • TEXAS • EUA • 30/1/21 A 30/5/21 24
In Marfa, 2019. Courtesy the artist and Massimo De Carlo, Milan/London/Hong Kong.
DEStaque
BRUCE
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nauman
Falls, Pratfalls and Sleights of Hand, 1993.
POR ANDREA LISSONI
On Fire at 80. © Judy Chicago
O interesse de Bruce Nauman (nascido em 1941, Fort Wayne, Indiana, EUA) pela ambiguidade e matizes de significado se relaciona com a experiência humana cotidiana, na qual a certeza nem sempre é garantida. A exposição no Tate Modern explora como Bruce tem se preocupado com temas como o estúdio do artista, o corpo, a linguagem e o controle. O trabalho dele é cheio de ideias e muitas vezes descrito como “conceitual”, mas ele também gosta de brincar com o material e fazer objetos no estúdio. Durante a longa carreira, Bruce se recusou a atribuir significados específicos às obras de arte dele. Assim, ele incentiva os espectadores a trazerem suas próprias experiências para o trabalho e a criarem leituras alternativas: “Isso me ajuda a ter um senso de lugar e segurança para ir ao estúdio, porque é o lugar onde você se torna inseguro.” 28
The True Artist Helps the World by Revealing Mystic Truths (Window or Wall Sign).
POR MAIS DE 50 ANOS, O ARTISTA BRUCE REINVENTOU E TESTOU NAUMAN CONTINUAMENTE O QUE UMA OBRA DE ARTE PODE SER. É DIFÍCIL LIMITAR O TRABALHO DELE A QUALQUER MOVIMENTO, GÊNERO OU MEIO. NO ALTAMENTE ABORDAGEM A ENTANTO, EXPERIMENTAL O TORNA UMA FIGURA-CHAVE DENTRO DA ARTE HOJE
exemplifica a curiosidade de Bruce sobre os aspectos geralmente esquecidos do mundo ao seu redor. Sete grandes projeções de vídeo apresentam diferentes visões dentro do estúdio de Bruce, no Novo México, EUA. Todos foram filmados à noite durante um período de várias semanas. O assunto é particularmente mundano. Como consequência, sempre que um rato, mariposa ou gato entra no , torna-se um evento. Bruce descreveu como, ao visualizar os canais individuais desta obra, é difícil focar em qualquer parte de uma imagem. “Você tem que não assistir a nada, então você pode estar ciente de tudo”, aconselhou. Como o título sugere, as imagens às vezes são “invertidas” ou “falhadas” digitalmente – viradas de trás para a frente ou de cabeça para baixo. A cor muda gradualmente conforme o sol nasce, aumentando a consciência da passagem do tempo. O título também se refere ao compositor experimental John Cage (1912-1992). Cage era conhecido por explorar ideias de acaso, silêncio e nada em sua música e escrita. Juntamente com a paisagem sonora da obra, reconhece que o silêncio completo em qualquer ambiente é muito raro. 30
My Name As Though It Were Written on the Surface of the Moon, 1968. Abaixo: Mapping the studio II, 2001.
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One Hundred Live and Die, 1984.
PRIMEIROS TRABALHOS “[Se] eu fosse um artista e estivesse no estúdio, então tudo o que fizesse deveria ser arte.” Após os estudos de pós-graduação em Belas-Artes na University of California, Davis, Bruce já estava experimentando uma variedade eclética de mídias. Fez performances que gravou em filme de 16 mm e em vídeo, e criou esculturas com materiais do cotidiano. Desde o início, ele teve um interesse incomum por som. Uma série de obras revelam como Bruce também fez uso do próprio corpo. Ele testou a resistência e capacidades dele por meio de trabalhos que envolvem repetição e manipulação. Entre as preocupações de Bruce nessa época estava a questão fundamental do que significa ser um artista fazendo trabalho em um estúdio. Trabalhando em relativo isolamento e com meios modestos, Bruce explorou os desafios de ser um artista, como a ansiedade criativa e a pressão para fazer um trabalho original.
NEONS Bruce fez seus primeiros trabalhos em neon em 1965. Ele se refere a eles como “sinais”. Muitas vezes são baseados em texto, contendo jogos de palavras como trocadilhos, anagramas ou palíndromos. Eles podem ser considerados trabalhos conceituais, jogando com a natureza formal e psicológica da linguagem. Quando Bruce começou a estudar arte na Universidade de Wisconsin-Madison, o único curso inicialmente disponível para ele era “fontes”. Isso forneceu uma base improvável para suas obras baseadas em texto. É claro que ele entende a importância da tipografia, valendo-se das emoções e associações evocadas pelas diferentes formas das letras. A corrente ao vivo dentro do neon cria um zumbido, que é especialmente aparente em obras maiores, evocando uma sensação de perigo. 33
“ ”
WALKS IN WALKS OUT, 2015 , Bruce usou a própria altura como guia para a instalação, Em entrando e saindo das projeções de vídeo de alta definição apresentadas na galeria. O artista é mostrado como um gabarito vivo, demonstrando pessoalmente a escala correta para projetar a obra no espaço. , portanto, serve como uma ponte para obras desde o início da carreira de Bruce, quando a escala era frequentemente determinada pelo tamanho e pelas proporções de seu próprio corpo. 34
CLOWN TORTURE, 1987 Desde seus primeiros trabalhos, Bruce frequentemente explorou a resposta do corpo à pressão física e psicológica. Aqui, em contraste com os palhaços encontrados no entretenimento infantil, ele explora o lado ameaçador desse arquétipo. O palhaço é interpretado por um ator. , há muita crueldade e Bruce disse, “quando você pensa em um palhaço maldade... Então há a história do palhaço infeliz”. A obrigação do palhaço de atuar e obscurecer o “verdadeiro eu” interessava a Bruce. 35
MUSICAL CHAIRS, 1983 Os dois objetos em forma de cadeira neste trabalho têm apenas duas pernas e não têm assentos e encostos, tornando-os inadequados para seu propósito original. Pendurados em ângulos estranhos, há a chance de que eles colidam com as vigas de aço, cumprindo a descrição do título. No trabalho de Bruce, a cadeira frequentemente representa uma figura humana ausente. Aqui, as formas das cadeiras são perturbadoras. Os críticos sugeriram que eles são substitutos das vítimas de tortura política. Embora seu trabalho raramente seja abertamente político, Bruce falou sobre o impacto de Reading sobre os métodos de punição judicial usados por regimes políticos na América do Sul durante os anos 1970. O título também se refere ao jogo infantil de cadeiras musicais. O trabalho de Bruce revela repetidamente os aspectos mais sombrios dos jogos infantis. Descrevendo a crueldade das cadeiras musicais, Bruce afirmou: “Alguém é sempre deixado de fora. O primeiro a ser excluído sempre é terrível.” 36
À esquerda: Musical Chairs, 1983. Abaixo: Anthro/Socio (Rinde Spinning), 1992.
ANTHRO/SOCIO (RINDE SPINNING), 1992 Projetada em três lados da sala está a cabeça giratória e sem corpo de um homem. Grita “Alimente-me, Coma-me, Antropologia”, “Ajude-me, Machuque-me, Sociologia” e “Alimente-me, Ajude-me, Coma-me, Machuque-me”. Agressivo e inquietante, o artista de Bruce clama pela realização dos instintos humanos mais básicos. O intérprete neste trabalho é o ator e cantor Rinde Eckert, com formação clássica. As habilidades de Eckert como artista são evidentes. Ele mantém uma expressão consistente e severa, enquanto ele está gritando, fazendo parecer que a voz dele está separada do corpo. 37
Hanged Man, 1985.
HANGED MAN, 1985 O de neon é baseado no jogo infantil Forca. Um jogador tenta identificar todas as letras de uma palavra na mente de seu oponente. Suposições incorretas contribuem gradativamente para o esboço de um , vemos enforcado. Como em o interesse de Bruce nos aspectos perturbadores do entretenimento infantil. O jogo original tem um título de gênero, “Hangman”, mas o sexo da figura geralmente não é definido. Ao acrescentar a genitália, de acordo com o mito de que uma ereção se segue à morte de um enforcado, Bruce dá ao neon dele uma dimensão erótica na qual sexo e morte se entrelaçam.
Andrea Lissoni é diretor artístico da Haus der Kunst, Munique, e excurador sênior de Arte Internacional na Tate Modern.
BRUCE NAUMAN • TATE MODERN • REINO UNIDO • 7/10/2020 A 21/2/2021
Girl at the keyboards, 1922 © Hamburger Kunsthalle / bpk. Foto: Christoph Irrgang
FLASHback
WALTER gramatté
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EXPOSIÇÃO EM HAMBURGO RELEMBRA A OBRA DO PINTOR, DESENHISTA E ARTISTA GRÁFICO ALEMÃO WALTER GRAMATTÉ (1897-1929), CUJO ESTILO AUTÔNOMO NA DÉCADA DE 1920 OSCILAVA ENTRE SIMBOLISMO, EXPRESSIONISMO E SURREALISMO
POR NICHOLAS ANDUEZA
O Hamburger Kunsthalle exibe, até 24 de maio, a mostra , que conta com 75 obras de Gramatté, artista alemão do início do século 20. A exposição é motivada por uma recente doação que reforça o acervo já extenso desse pintor e desenhista no museu de Hamburgo, estreitando laços históricos entre o artista e a cidade. Servindo-se de um arquivo com mais de 120 obras à disposição, o curador Andreas Stolzenburg nos convida a caminhar por entre pinturas, desenhos e trabalhos gráficos de Walter Gramatté. No sentido dessa relação entre o artista e a cidade, uma pintura que chama atenção é , ou simplesmente , pintada, em 1918, por Gramatté. Dominada por tons vermelhos, azuis, verdes e róseos alaranjados, vemos ali a cena de um estabelecimento que recebe poucas pessoas sob uma luz fraca. Trata-se de uma pintura composta em pelo menos três planos: o fundo, mais bem iluminado (alaranjado), cujas figuras não têm contornos definidos e as pinceladas se misturam; um plano intermediário mais apagado (azulado-esverdeado), onde vemos uma mulher e um homem conversando à 42
Café, 1918 © Hamburger Kunsthalle / bpk. Foto: Christoph Irrgang
UM ARTISTA E UMA CIDADE
Abaixo: Almería, 1927. À direita: Granada, 1925. © Hamburger Kunsthalle / bpk. Foto: Christoph Irrgang
mesa; e, finalmente, o primeiro plano da mesa em que se senta o observador-pintor. É um quadro pintado em primeira pessoa, inserindo factualmente o pintor neste café de Hamburgo. Atesta-se uma relação com essa cidade, não só biográfica, mas também pictórica. E, ao contrário da Königsberg de Kant, cidade que se tornou o mundo do filósofo, dado que ele jamais saiu dela, a Hamburgo de Gramatté não foi o mundo dele, mas a capital. Pois, apesar das fragilidades de saúde, o artista viajou bastante ao longo da década de 1920. Prova disso é, por exemplo, a paisagem de Granada, pintada em 1925 com aquarela, ou mesmo a belíssima paisagem de Almería, de 1927, pintada em tons pastéis com óleo sobre tela. Além de localidades espanholas, Gramatté visitou também cidades francesas e italianas; para além das cidades alemãs, como Berlim (onde nasceu) e Ahrenshoop. Mas foi em Hamburgo que o artista fez seus contatos mais fortes com as artes, particularmente através de Rosa Schapire, retratada duas vezes pelo artista em 1920. É também em Hamburgo que Walter Gramatté veio a falecer, em fevereiro de 1929, com apenas 32 anos e uma saúde 45
A nova escultura Salome, 1893. Foto: © InGestalt / Michael Ehritt.
“ ”
Rosa Schapire, 1920 © Hamburger Kunsthalle / bpk. Foto: Christoph Irrgang.
muito debilitada – devido a uma tuberculose intestinal e a ferimentos do serviço militar prestado à Alemanha na Primeira Guerra. O Hamburger Kunsthalle já havia investido no artista enquanto ele ainda era vivo, adquirindo vários desenhos e trabalhos gráficos de algumas galerias em Hamburgo, como a Commeter (ainda ativa) e o Salão de Arte Maria Kunde. O Kunsthalle também fez uma mostra dedicada exclusivamente a Gramatté na primavera de 1933. Mas este foi também o sombrio ano em que Hitler tomou o controle político da Alemanha, e, como se sabe, pouco depois o organizaria a infame exposição daquilo que chamou (1937), organizando ataques de censura a Gramatté e outros artistas modernistas. Assim, Walter Gramatté faz parte da “geração esquecida”, a qual, por ter sido perseguida e silenciada (violentamente) pelos nazistas, só passou a ganhar notoriedade artística após a Segunda Guerra Mundial. Mas durante o período nazista, os trabalhos gráficos de Gramatté arquivados no Kunsthalle foram mantidos a salvo. Recentemente, em 2019, a generosa doação da Fundação Eckardt-Gramatté, 47
Dreaming boy, 1921 © Hamburger Kunsthalle / bpk. Foto: Christoph Irrgang.
sediada em Winnipeg, Canadá, trouxe mais 47 desses trabalhos gráficos e uma paisagem ao acervo do artista no Kunsthalle. O fortalecimento dos laços entre esse museu e o artista espelha a relação íntima que o próprio Gramatté mantinha com a cidade de Hamburgo, capital do seu mundo. Como provavelmente todos os grandes nomes do expressionismo alemão, Walter Gramatté não poderia ser reduzido ao rótulo de expressionista simplesmente. Durante a década de 1920, o artista fez várias incursões em trabalhos de caráter simbólico, ampliando seus horizontes estilísticos para referências do Surrealismo, da Nova Objetividade e do Realismo Mágico – sem jamais estacionar. É o que vemos bem exemplarmente em (1921): um menino de traços estilizados, com os olhos fechados, segurando o que parece ser uma pena, sentado na relva e entre as árvores, sorrindo, apesar da noite lúgubre, por receber um sopro 48
Tired Flower Girl, 1922 © Hamburger Kunsthalle / bpk. Foto: Christoph Irrgang.
do frágil brilho lunar. Podemos citar também (1922), pintada também à noite, mas de modo bem menos otimista que o menino sonhador: cabisbaixa, séria; abandonada pelos tons púrpuros que se misturavam a verdes e azuis no caso do menino, a pequena florista está francamente azulada – uma noite gélida e anônima na cidade ao seu entorno. Com efeito, se ao vislumbrarmos um Van Gogh é imprescindível notarmos os seus amarelos, no caso de Gramatté, perderemos uma boa parte das suas obras se não atentarmos às nuances dos azuis – construídas pelas ricas associações com tons verdes ou róseos. É por isso que as pinturas noturnas de Gramatté são tão impressionantes e imersivas. E o azul (particularmente o azul esverdeado) é tão presente em seus trabalhos que ocupa uma recorrência relevante mesmo nas produções gráficas, que não demandam necessariamente coloração. Vejamos, por 49
A Crucificação de Cristo, 1890.
Tired Flower Girl, 1922 © Hamburger Kunsthalle / bpk. Foto: Christoph Irrgang.
exemplo (1923). Se tentarmos abstrair a cor, veremos simplesmente duas mulheres nuas partilhando a cama – talvez conversem, talvez se atraiam eroticamente (a da esquerda, com a cabeça baixa, poderia estar indo em direção ao corpo da companheira). Mas, com a aplicação nuançada do azul, que enriquece a cena de volumes e texturas, cria-se também outra atmosfera, densa, sóbria, melancólica, noturna. A cabeça baixa da moça passa a ter o teor de uma reflexão silenciosa. E, assim, a cor muda a cena. A maior parte do acervo de Gramatté no Hamburger Kunsthalle é de gravuras e desenhos. Há ali paisagens, autorretratos e retratos variados (dos quais uma boa parte é dedicada à esposa Sonia Fridman, compositora, intérprete virtuosa no piano 50
Girl making music - violin girl - Sonia Gramatté, 1927 © Hamburger Kunsthalle / bpk. Foto: Christoph Irrgang.
e no violino). Muitos desses trabalhos não têm cor, permitindo que observemos de perto o traçado do artista. Notamos então uma mão veloz, mais interessada em materializar a ideia ou a visão do que em recuperar cada detalhe do mundo exterior com esmero absoluto e demorado. São representações claramente breves e fragmentárias, e ao mesmo tempo sintéticas, isto é, precisas. Içadas à condição de obra de arte (e não de meros rascunhos), denotam o caráter verdadeiramente moderno de Gramatté. E isso se potencializa com relação às gravuras, por sua técnica da cópia mecânica, que, como aponta o clássico texto de Walter Benjamin, revoluciona radicalmente a noção da obra de arte na modernidade.
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Trinker, 1922. © Hamburger Kunsthalle / bpk. Foto: Christoph Irrgang.
A continuidade da vida de um artista, por mais breve que tenha sido, está nas obras deixadas ao mundo. Cada obra estendendo não só simbolicamente, mas materialmente a existência de seu criador – em retribuição ao fato de ele ter provocado pessoalmente a existência de cada uma de suas obras. Assim, abrigado em Hamburgo por meio do Kunsthalle, esse acervo de Walter Gramatté refaz os passos do artista e finca essa cidade como a capital de seu mundo. Nessas obras, caminham rastros não só de um artista, mas de sua relação com uma cidade específica – Hamburgo.
Nicholas Andueza é doutorando em Comunicação e Cultura/UFRJ, com especialização em cinema, corpo e imagem de arquivo. Mestre em Comunicação Social/PUC Rio (2016)
WALTER GRAMATTÉ AND HAMBURG • HAMBURGER KUNSTHALLE • ALEMANHA • 11/1/21 A 24/5/2021 52
Sofia Borges, Dança Escultórica #3, da série Ensaio para Degas, 2020.
ALTO relevo
mitchell
JOAN,
NASCIDA EM CHICAGO, JOAN MITCHELL PASSOU BOA PARTE DA VIDA NA FRANÇA, O QUE NÃO IMPEDIU QUE SUA OBRA REFLETISSE O EXPRESSIONISMO ABSTRATO CARACTERÍSTICO DE SEU PAÍS NATAL. NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, TORNOU-SE UM ÍCONE DO MOVIMENTO DE REVALORIZAÇÃO DE MULHERES ARTISTAS, ALCANÇANDO O STATUS DE ESTRELA NO CIRCUITO E NO MERCADO DE ARTE
“Poxa, Joan, se você fosse francês, homem e morto...”, teria dito um negociante de arte a Joan Mitchell na década de 1950, em Nova York. Por um tempo bem mais que aceitável, os cânones masculinos da “boa arte” silenciaram a expressão feminina nos espaços artísticos e cultivaram uma assombrosa desproporção numérica entre as obras de homens e mulheres nos acervos de galerias e instituições. Para além do desconforto das estatísticas que envolvem o desequilíbrio de gênero na arte, restou às novas gerações o árduo trabalho de investigação dos porquês desse silenciamento e resgate de um sem número de artistas que poderiam ter enriquecido livros e aulas de história da arte. O nome de uma delas é Joan Mitchell, norte-americana de temperamento abrasador que desafiou o cobiçado mundo masculino da pintura abstrata do século 20. Os anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial podem ter sido a era de ouro para os Estados Unidos, mas foram cruéis para as mulheres na pintura. Participar de uma exposição ou obter um elogio genuíno da crítica era um feito para poucas. Por isso, 56
Straw, 1976. Pág. Anterior: City Landscape, 1955. © Estate of Joan Mitchell.
POR IASMINE SOUZA
Sunflowers II 1992 from the ‘Sunflowers’ series 1992. © Estate of Joan Mitchell.
principalmente no que diz respeito ao expressionismo abstrato, não se culpe ao lembrar apenas de nomes como Jackson Pollock ou Willem de Kooning. Suas lembranças estão moldadas pelas imagens de um movimento altamente masculinizado. Afinal, em um ambiente em que ser homem é privilégio, foi fácil transformá-los em mitos que atuam em uma espécie de transe de energia, paixão e criatividade. Fizemos desse agir masculino o símbolo do momento – aqui, é bom lembrar Pollock executando movimentos em volta e sobre à tela –, e criamos os gênios da abstração que ainda reinam insistentemente e únicos no nosso imaginário. Joan e outras mulheres, contudo, estavam bem mais engajadas na arte desse período do que poderíamos imaginar. Isso tudo não significa que falamos aqui de uma artista que carregou bandeiras feministas. Não se pode querer impor essa marca à vida e ao trabalho de Joan. Ela definitivamente não o fez. O certo é que ela era uma mulher extremamente complexa, que travou inúmeras batalhas consigo mesma, desde menina, ainda na esfera familiar. E por isso não surpreende que tenha reagido ao campo majoritariamente dominado por homens com pouquíssima (ou nenhuma) doçura. 58
Trees III, 1992. © Estate of Joan Mitchell.
Se as coisas estavam duras para as mulheres, elas deveriam ser duras com as coisas, pensava. Joan, que já carregava o fardo da vigilância e da crítica paterna – foi a segunda filha, quando o pai aguardava ansiosamente por John –, não era exatamente o que a sociedade esperava de uma “dama”. Era independente, durona e colecionava discussões acaloradas. Fumava, bebia, caprichava nos palavrões. Ela nasceu em 1925, em uma família de boa condição financeira da alta sociedade de Chicago. A tensão do relacionamento conflituoso e competitivo com o pai James, médico, entusiasta da arte e pintor amador, marcou profundamente a infância e juventude dela. Ele nunca superou o nascimento de uma menina. Desafiava os talentos dela, criticava a aparência, roupas – ela gostava de usar camisas e calças, por baixo de um –, e até o jeito que movimentava o corpo. Nem os troféus atléticos que conquistou para atender às expectativas do pai bastaram. Sobre pintar, ele dizia: “você nunca poderá ser tão boa assim, porque você é mulher”. Quando finalmente percebeu que nada deixaria James satisfeito, decidiu se tornar pintora, ainda aos 12 anos de idade. 59
Após a graduação no Art Institute of Chicago seguiu para estudar na França, onde, entre idas e vindas, passou boa parte da carreira. Isso não a impediu de conquistar notável reconhecimento na cena artística nova-iorquina. Joan Mitchell estava entre o punhado de mulheres que expôs , mostra que na consolidou o expressionismo abstrato, ao lado de Pollock, De Kooning e Hans Hofman. O primeiro casamento, com Barney Rosset, fundador da editora Groove Press, chegou ao fim em 1952. Em 1955, quando já tinha conquistado atenção da crítica e das galerias de Nova York, ela conheceu o artista canadense Jean-Paul Riopelle, com quem partiu para a França. É lá que ela viveu definitivamente até 1992, ano de sua morte, aos 67 anos. Já consagrada, abria constantemente a casa que construiu em Vétheuil, perto de Giverny, para muitos pintores emergentes, mantendo-os sob sua proteção, amizade e financiamento. A Fundação Joan Mitchell, criada em 1993 para atender ao desejo declarado da artista em testamento, ainda hoje perpetua sua generosidade, apoiando artistas em todos os estágios da carreira, concedendo bolsas e patrocinando o desenvolvimento de programas de arte. É impossível colocar a obra de Mitchell em uma caixinha. Embora seja comum vê-la rotulada como expressionista abstrata da “segunda geração”, junto a Helen Frankenthaler e Grace Hartigan, ela recusou terminantemente o rótulo. Joan não estava interessada em se enquadrar no espetáculo romantizado da ação gestual a serviço da pintura, como muitos pares masculinos, tampouco em se associar à obra de outras mulheres (isso, aliás, o senso de competição implantado pelo pai jamais permitiria). Em seus trabalhos, a intensidade emocional não é transferida para a superfície da tela de forma descontrolada ou automática. Em 60
Ladybug, 1957. © Estate of Joan Mitchell.
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Asphalt Air and Hair, 2017, ARoS Triennial THE GARDEN, Dänemark © Katharina Grosse und VG Bild-Kunst, Bonn, 2019. Foto: Nic Tenwiggenhorn.
Noël, 1961–62. © Estate of Joan Mitchell.
vez disso, a pintura de Mitchell é guiada por um excepcional equilíbrio que não entrega inteiramente as emoções que participaram do processo. “Não fecho os olhos e espero o melhor”, disse, certa vez. Uma memória precisa permitiu que ela invocasse experiências com letras, músicas, cores e paisagens. Como um álbum de fotografias, a mente dela carregava com detalhes uma gama de vívidas imagens particulares. Memórias do lago Michigan da infância em Chicago e de Vétheuil, onde morou na França, por exemplo, estão entre os temas revividos nas obras dela. Mas não era só. Mitchell tinha sinestesia, uma rara condição neurológica que a possibilitava vivenciar sensações de uma forma surpreendente: distinguir emoções e letras em cores específicas e perceber músicas em formas consistentes. Uma verdadeira mistura de sentidos. Isso não esgota ou explica inteiramente a arte dela, mas esses cruzamentos especiais do cérebro de Joan certamente ampliavam a capacidade sensorial e afetavam a forma como aplicava as cores sob um fundo branco. 63
Iasmine Souza Encarnação Novais é Procuradora do Município de São Paulo, entusiasta da história da arte e autora do perfil @minutodearte.
JOAN MITCHELL: WORLDS OF COLOR • NATIONAL GALLERY OF AUSTRALIA • 13/2 A 26/4/21 66
Bedford I, 1981 from the 'Bedford' series 1981. © Estate of Joan Mitchell
Ela abraçou influências como Van Gogh, Cézanne e Picasso, até Kandinsky e Willem De Kooning. Logo cedo, decidiu que nunca mais pintaria a figura humana e foi fiel à abstração, dando vida a um trabalho majestoso, vasto e dinâmico, que envolve painéis – muitas vezes vários deles –, gravuras e aquarelas. Pintou com liberdade de gesto, usando os dedos, pincéis, trapos, salpicando ou espremendo a tinta na tela. E não poderia ser diferente: na pintura abstrata, finalmente fazia algo que o pai dela não podia criticar. A partir deste mês, algumas gravuras da fase final da sua carreira serão objeto de . As obras são parte da exibição na coleção de Kenneth Tyler, figura marcante na arte americana do pós-guerra, e fruto de uma colaboração de trabalho bem-sucedida entre os dois, abusando das mais inovadoras técnicas de impressão da época. São gráficos poderosos que exploram memórias da natureza, cores, formas e espaços, com uma energia arrebatadora, típica de seu trabalho. A duras penas, Joan Mitchell faz parte de um seleto grupo de mulheres que desfrutou de um nível de aceitação incomum e obteve aclamação da crítica e do público. Atingiu o sucesso comercial em vida, mas só agora começa a ter o que merece. As obras dela estão femininos presentes nos mais renomados museus e lideram de vendas em leilões, a despeito de trabalhos produzidos por homens ainda representarem de forma esmagadora as cifras estratosféricas (nesse ponto, estejamos atentos às hipocrisias do mercado, ainda concentrado em um número muito pequeno de mulheres). Uma famosa história de bastidores entrega que, quando Joan Mitchell e Elaine de Kooning foram questionadas em uma festa: “O que vocês mulheres artistas pensam ”, Joan, que desejava ser lembrada naturalmente como um entre os artistas ali presentes e detestava essa categorização, agarrou o braço da amiga e bradou: “Elaine, vamos dar o fora daqui”. Nesse novo panorama em que as problemáticas de gênero que tanto a incomodavam ainda estão longe de ser superadas, é difícil dizer se a reação poderia ser diferente.
Atravessadores 2, 2020.
GARimpo
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WASHINGTON da selva
CONHEÇA A DELICADA E CONTUNDENTE OBRA DO ARTISTA WASHINGTON DA SELVA, UM DOS DOIS VENCEDORES DO PRÊMIO DASARTES 2021 PELO VOTO POPULAR
POR LEANDRO FAZOLLA
Em uma consulta ao dicionário, vemos que a palavra “origem” poderia designar o “ponto inicial de uma ação ou coisa que tem continuidade no tempo e/ou no espaço; ponto de partida; procedência”. Já na linguagem da matemática, uma sucessão de pontos é o que originaria uma linha reta. Quando me deparo com a poética de Washington da Selva, um dos dois vencedores do Prêmio Dasartes 2021 por voto popular, algo me faz retornar por diversas vezes às palavras origem e linha. No desfiar do trabalho do artista – que com uma simples troca de letras em seu sobrenome de batismo (da Silva) criou uma espécie de deslocamento ao forjar sua persona artística (da Selva) – parece que de alguma forma suas origens se fazem sempre presentes, sendo um dos pontos fulcrais de sua produção. Nascido na cidade do Carmo do Paranaíba, em Minas Gerais, filho de trabalhadores da terra (como ele gosta de chamar), Washington cresceu no modelo chamado de agricultura familiar, segundo o qual os próprios membros da família operam em diferentes funções da produção das terras. Arar, plantar, lavrar, colher, cultivar, ordenhar; todos esses verbosações eram pontos que se uniam na construção familiar de Washington. Esta origem no campo se reflete claramente na 70
Social jungle 1, 2019. Todas imagens: cortesia do artista.
Acima e à direita: Lastro, 2019.
série de trabalhos chamada , de 2019, composta por 30 comprovantes de registro de ponto que o artista acumulou em seu último emprego, com impressões de imagens de trabalhadores rurais exercendo algum tipo de trabalho braçal, colhidas no Acervo Digital do Museu da Imigração. O que poderia soar nostálgico em um primeiro momento, ganha também ares de reflexão sobre a precariedade do trabalho, as condições de emprego oferecidas a migrantes no Brasil, entre outras questões bastante pertinentes ao século 21. As formas de elaboração da poética do artista também acentuam esta densidade: não apenas os comprovantes já estão desgastados pelo tempo, como recebem impressões imperfeitas, com falhas, manchas que parecem contribuir no peso que tais objetos adquirem, em um limite tênue entre poesia, denúncia, memória e política. 72
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Familiar Screen, 2019.
Acima: Vick Rockets, (Vick Garaventa), 2011. À esquerda: The Shining, (Tom Inari), 2020.
Graduado no curso Interdisciplinar em Artes e Design e mestrando em Artes, Cultura e Linguagens na Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF, é importante refletir como Washington traz questões espinhosas a partir de uma visualidade tão delicada. Na série , transforma em bordados cenas obtidas pela câmera de segurança instalada na casa onde morava em sua cidade natal. Originalmente enviadas por sua mãe, as imagens ganham uma série de contrastes. Se por um lado, o bordado remete a uma tradição secular, que sobreviveu ao passar dos anos, Washington faz questão de emoldurar cada cena com o desenho de um celular, destacando personagens coloridas em uma paisagem prata e cinzenta do mundo contemporâneo. Se os registros trazem o cotidiano bucólico de uma cidade do interior, vale lembrar que tais imagens foram obtidas através de câmeras de segurança, o que traz de alguma forma um dado de violência iminente. Em meio à pandemia do novo coronavírus, que trancou a todos dentro das próprias casas, os bordados produzidos pelo artista se atualizam e remetem ainda a esse novo mundo impedido, onde o “fora” só 75
Á esquerda: Vendo lugares no vazio, 2018. Abaixo: Sonda nº 3 (queda), 2020.
nos chega mediado por telas. Entretanto, ao mesmo tempo em que tais telas parecem distanciar, são elas a costurar a distância entre esse núcleo familiar separado pelas normas de segurança em uma realidade pandêmica, a unir Juiz de Fora, onde atualmente mora e trabalha Washington, à Carmo do Paranaíba de sua infância. Tal qual na mitologia Teseu se embrenha por um labirinto tendo em mãos o fio de Ariadne que garantirá seu retorno, à medida em que avança em suas pesquisas, o artista e pesquisador aprofunda temas como trabalho, deslocamento e paisagem, desbrava novos caminhos (retos e sinuosos) em sua produção, sem, entretanto, nunca perder de vista os elementos que o ligam ao seu ponto de origem.
Leandro Fazolla é ator, historiador e produtor cultural. Mestre em Arte e Cultura Contemporânea, na linha de pesquisa História, Teoria e Crítica de Arte. Bacharel em História da Arte. Ator e produtor da Cia. Cerne, com a qual foi contemplado no edital Rumos Itaú Cultural. 77
GARlimpo
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Resenhas
POR SYLVIA CAROLINNE
A SUBSTÂNCIA DA TERRA: O SERTÃO OS DIFERENTES USOS DA TERRA
A exposição , com curadoria de Simon Watson, no Museu Nacional da República, em Brasília, traz a terra como elemento principal de ligação entre os artistas e seus trabalhos, não só no nome, mas também em seu eixo. Vindos de quatro diferentes regiões do Brasil, Bené Fonteles, Lídia Lisboa, Leandro Júnior e João Trevisan têm, nesta componente, o mote para explorarem cada um a seu modo uma cultura brasileira enraizada em um Brasil profundo, o sertão. Sertão esse ermo, apartado dos grandes centros urbanos, de beleza inóspita, onde a riqueza de detalhes escapa à sensibilidades acostumadas a entendê-lo como mero deserto. A terra, elemento mais imediato de reconhecimento visual da região, é usada como matéria-prima, inspiração, modelo ou memória, expondo o sertão em sua própria materialidade física. Utilizada de diferentes formas, revela ainda força do conceito de comunidade, da prática de um comum, que é essencial e primordial para os que lá vivem. A exposição, pensada em forma de representação típica de uma habitação do sertão, integra as peças desses artistas formando uma , sem perderem sua individualidade e seu conceito próprio, 78
da mesma forma que vemos acontecer na rica proliferação de comunidades sertanejas, marcadas por sua unicidade. Bené Fonteles, artista com toque xamânico, apresenta ideias sucintas, com o uso da terra e frutos que a natureza nos oferece pousados sobre tela ou tecido. Suas obras trazem imagens claras de um homem ligado intrinsecamente à terra, seja por sobrevivência, seja por sua própria natureza. Por meio de esculturas bordadas em tecido, Lídia Lisboa busca nos transportar para lugares onde a noção entre comunidade e sobrevivência se misturam. Reprodução com livre associação aos cupinzeiros espalhados
por este Brasil afora, expõem através de seus a necessidade da manutenção de uma cadeia com fortes elos e clara distribuição de responsabilidades. Assim, mantém-se o sistema criado: protegido, nutrido e próspero. Com clara inspiração em sua própria comunidade, com uso de matéria-prima local, seu próprio barro, Leandro Júnior nos oferece um passeio de vida pulsante, dos filhos da terra a celebrarem cada dia, pontuados por um céu de luminosidade única. Em uma palheta de cores diretas, exprime um contraste desconcertante de texturas entre a áspera e compacta terra o leve e aveludado céu. O gesto meditativo de João Trevisan, utilizando uma palheta uníssona em tons de preto colorido, com pinceladas pousadas, manipuladas com rigor cirúrgico e pensadas para transportar o viajante (espectador) no tempo, revela suas memórias de infância. Nelas, o preto nos remete ao caminho forjado parece saltar em para os trilhos e o cada passada de cor, dissimuladas no preto, a buscar a vibração do metal sobre metal, seja dia ou noite, frio ou calor. Nas esculturas e instalações, vemos a concretização de todo o imaginário gerado por suas pinturas. O nosso encontrou uma interessante representação vinda de um olhar estrangeiro. Instigado pelo que viu durante uma viagem ao vale do Jequitinhonha, há dois anos, Simon Watson sentiu a necessidade de aprender mais sobre a região das primeiras minerações portuguesas, onde trabalharam inúmeras gerações de escravos e cujas tradições e histórias pertencem às comunidades locais. Nesse aprendizado, Watson conheceu
vários artistas, visuais e literários, cujas obras retratam a região e sua complexidade. A exposição se encontra em seus últimos dias em Brasília mas, se não conseguir visitar por aqui, fica a dica: em abril, a mostra segue para Nova York, Estados Unidos.
Sylvia Carolinne é artista visual, graduada em Engenharia civil, Ilustração, Moda e correspondente internacinal da Dasartes.
À esquerda: Bené Fonteles. Abaixo: Leandro Júnior. Fotos: Diego Bressani.
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GARlimpo
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Resenhas
POR MARIA TERESA DÖRRENBERG
NATUREZAS IMERSIVAS FAROL SANTANDER PORTO ALEGRE
A exposição , aberta ao público de forma presencial e virtual, de 25 de fevereiro a 25 de abril, no Farol Santander de Porto Alegre, desperta-nos para questões de debate e reflexão sobre o mundo que habitamos como “casa coletiva”. Instalações, vídeos e poemas sonoros nos fazem pensar se tudo em torno de nós, neste mundo, está certo e de acordo. A curadora Daniela Bousso nos apresenta os artistas Ricardo Siri, Katia Maciel, Raquel Kogan e Rejane Cantoni, que propõem múltiplas leituras na relação arte-natureza em composição em suas obras. Utopias? A fim de chamar nossa atenção para a natureza fazendo parte de nós, a exposição acentua o alerta a respeito do que é necessário à conservação da vida no planeta, frente às mudanças climáticas e seu atual impacto sobre a terra, a destruição ambiental e a poluição produzida pelo ser humano. O artista Ricardo Siri trabalha com os saberes das florestas ao construir ninhos manufaturados com barro, galhos, penas e plumas, cera de abelha, madeira e outros materiais, introduzindo ainda instrumentos musicais e composições sonoras nos trabalhos. As quatro obras recentes – , , e – compõem a 80
poética do universo primitivo e a combina com o mundo tecnológico atual, mostrando que é possível um mundo onde o primitivo e o tecnológico caminham de mãos dadas. Katia Maciel é artista e poetisa, sensível àquilo que está em torno de nós e, às vezes, esquecemo-nos de perceber, ver , a artista e ouvir. No vídeo extrapola o uso da câmera que, pelo seu movimento de aproximação e distanciamento ao filmar a copa de uma árvore, imita o movimento da respiração humana, propondo-nos uma nova e poética narrativa e chamando nossa atenção para a árvore, a floresta que produz o ar que respiramos. A flora, a fauna, o ar e a água integram o vídeo , além de seus poemas e nos fazem pensar que precisamos construir outras e novas subjetividades. As artistas Raquel Kogan e Rejane Cantoni nos jogam no , uma instalação que têm a poética visual e o efeito lúdico da
À esquerda: Raquel Kogan e Rejane Cantoni. Abaixo: Ricardo Siri. Fotos: Farol Santander
interação como focos. Em uma superfície espelhada e flexível, o visitante é convidado a adentrar o espaço e alterá-lo, bem como a modificar as reflexões espelhadas que a luz incidente provoca através da movimentação do visitante. A instalação convida vários usuários a brincar com e na instalação, afetando-nos mutuamente nesse estar e agir juntos. Tal experiência sensória, pois que tátil, suscita outros sentidos que experimentamos no mar, na piscina ou numa poça d’água. Acompanhando a exposição, a equipe do Farol media e orienta o visitante, apresentando três propostas para discussão: O antropoceno é um alarme; Exercitando subjetividades coletivas; Estamos juntos. As fontes de vida apresentadas nessa exposição sob novas roupagens despertam diferentes sensibilidades e nos alertam para a necessidade de construir outra concepção sobre nós e sobre o universo em que estamos inseridos. Como assinala Maciel em seu poema, “precisamos ajustar as lentes”.
Maria Teresa Santoro Dörrenberg vive em Berlim, Alemanha, é escritora, curadora e pesquisa o corpo na arte, nas mídias e tecnologias contemporâneas.
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Lançada em 2008, a Dasartes é a primeira revista de artes visuais do Brasil desde os anos 1990. Em 2015, passou a ser digital, disponível mensalmente para tablets e celulares no site dasartes.com.br, o portal de artes visuais mais visitado do Brasil. Para ficar por dentro do mundo da arte, siga a Dasartes.
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