Material Digital do Professor Adriano Messias
SUMÁRIO CARTA AO PROFESSOR................................................................ 3 PROPOSTAS DE ATIVIDADES I.....................................................12 Linguagens e suas tecnologias: Língua Portuguesa.......................................12 Pré-leitura..............................................................................................12 Leitura...................................................................................................12 Pós-leitura..............................................................................................12 Atividade 1: Metamorfoses – perspectivas e significações de mundo.....13 Atividade 2: Manifestações artísticas, culturais e festivas.......................14 Atividade 3: Ética na internet................................................................16 Língua portuguesa: Todos os campos de atuação social...................................17 Atividade 4: Animais em contos brasileiros...........................................17 Atividade 5: O dito e o não dito em um texto literário..........................19 Língua portuguesa: Campo de atuação na vida pública................................20 Atividade 6: Intervenção artística – Bestiário........................................20 PROPOSTAS DE ATIVIDADES II................................................... 21 Ciências da natureza e suas tecnologias.........................................................21 Atividade 1: Antropoceno – desafios e dilemas para a humanidade.......21 Ciências humanas e sociais aplicadas.............................................................22 Atividade 2: Retirantes..........................................................................22 APROFUNDAMENTO..................................................................... 24 SUGESTÕES DE REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES............. 26 BIBLIOGRAFIA COMENTADA...................................................... 28
Carta ao professor Caro professor, Aluado e outros contos de alumbramento é uma obra de ficção voltada aos anos do Ensino Médio e contempla os temas 2.6.7.1 Projetos de vida, 2.6.7.2 Inquietações da juventude, 2.6.7.6 Bullying e respeito à diferença, 2.6.7.7 Protagonismo juvenil, e 2.6.7.10 Ficção, mistério e fantasia, todos eles caros à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Neste material, você encontrará subsídios para desenvolver várias atividades em sala de aula, bem como para se aprofundar em alguns tópicos derivados das propostas de trabalho com o livro. Não deixe também de aproveitar as sugestões de referências complementares. Como parte desta carta de abertura, você tem a palavra do autor e do ilustrador a respeito de si mesmos, de seus trabalhos e da criação do livro Aluado e outros contos de alumbramento.
Aos doze anos, escrevi meus primeiros contos com a intenção de ser escritor. O curioso é que, com aquela idade, eu já queria escrever para crianças e adolescentes. Amava os romances e os contos, as histórias de mistério, mas, também, as crônicas de humor. E, aos quatorze anos, atrevi-me a ler um senhor que passou a ter lugar de destaque em minha vida: Sigmund Freud. Hoje, vivo rodeado por livros: os que li, os que estou lendo, os que releio e os que quero ler. Aprendi que, quanto mais livros de boa qualidade você tem ao redor de si, mais segura é sua vida emocional e mais conteúdos você dispõe para compartilhar com os outros. A leitura nos proporciona prazer, mas também senso crítico e capacidade de reflexão. Em especial, reflexão política, pois somos uma espécie gregária, que se movimenta por redes e abomina a solidão. Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
© Adriano Messias – arquivo pessoal
O autor
A leitura nos assegura um lugar como sujeitos no mundo. Nos ensina a pensar por nós mesmos. Fosse o brasileiro um leitor com melhor formação, certamente estaríamos hoje em um país com mais capacidade de estabelecer diálogos, apesar das diferenças. Neste sentido, ler nos liberta, por um lado, e, por outro, nos torna absolutamente responsáveis pela construção do mundo que nos cerca. Algumas de minhas referências literárias estão nos bons autores clássicos portugueses e brasileiros: de Gil Vicente a Alexandre Herculano, de Machado de Assis a Guimarães Rosa. Adoro os contos de Murilo Rubião, a poesia de Carlos Drummond 3
de Andrade e de Manoel de Barros, as crônicas de Rubem Braga e de Millôr Fernandes, o teatro de Nelson Rodrigues e de Ariano Suassuna. Tive igualmente uma formação francófila, esta última motivada exclusivamente por meu interesse pessoal em relação à cultura francesa. Por isso, desde muito jovem, aprendi francês com uma bolsa de estudos e li os grandes autores no idioma original, de Júlio Verne a Vítor Hugo, de Voltaire a Alexandre Dumas (o Pai e o Filho), e também os escritores que marcaram a literatura fantástica e gótica daquela cultura: Guy de Maupassant, Prosper Mérimée, Théophile Gautier, Charles Baudelaire... E, claro, ler as revistas de Astérix e Obélix na língua de origem faz muita diferença. Esses encontros interlinguísticos reforçaram meu viés de tradutor e adaptador, além de escritor. Sou igualmente apaixonado pelos grandes autores e compiladores de contos provenientes da oralidade: aqueles materiais que se tornaram preciosos contos de fadas recompilados, mas que vieram originalmente da boca de simples aldeões, e teriam se perdido se não fossem pessoas como Giambattista Basile, os Irmãos Grimm e Câmara Cascudo, por exemplo. Sou encantado por toda essa literatura ao estilo de contos maravilhosos, como As mil e uma noites, os fabliaux e bestiários medievais, as coletâneas mitológicas, as facécias à Roman de Renard e as peripécias de viajantes a reinos e impérios inimagináveis.
Sempre e cada vez mais, tenho a meu lado também o pensamento de Sigmund Freud, Slavoj Žižek e Giorgio Agamben. Podemos dizer que somos feitos, em grande medida, por aqueles que lemos. Pelas histórias, nos constituímos como Homo sapiens, essa espécie capaz de representar o que não se faz presente, de pressupor, de prever, de inventar. Em suma: somos seres de falta, conscientes da finitude e, por isso também, linguageiros. Aluado e outros contos de alumbramento é um livro de contos em que figuram os seres fantásticos que tanto aprecio e pesquiso vida afora. E o monstruoso permite ao leitor participar da obra, imaginando e construindo suas próprias ideias e teorias sobre os personagens e os prováveis elementos sobrenaturais dos diversos enredos.
Em minhas estantes, também têm lugar Borges, Shakespeare, Cervantes, Gustavo Bécquer, os jovens surrealistas... Paralelamente à ficção, atuo como pesquisador nas áreas de semiótica, psicanálise e comunicação. Muito do que sou devo aos escritos de Jacques Lacan, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Didi-Huberman, dentre vários outros. Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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Carlos Caminha nasceu em Caxambu, sul de Minas Gerais, e desde criança gosta de desenhar. Passou pela Escola de Belas-Artes da UFMG, na década de 1980, e pela Escola Guignard, já nos anos de 2000. Trabalha no mercado editorial há dezessete anos, fazendo ilustrações para os mais diversos projetos, desde livros infantis e de poesia, a obras didáticas. Seu estilo vai dos traços livres ao realismo, e varia enormemente as técnicas. Desenvolve ainda um trabalho em artes plásticas que tem como principal característica a forte expressividade no uso de tintas, principalmente aquarela, acrílico, nanquim e grafite. Também usa colagens e outras tecnicas. Seu objeto preferido de pesquisa é o corpo e sua imensidão íntima, na busca por uma poética que vive e que também se deixa desvanecer. Suas influências vão desde artistas do Renascimento até os modernistas. Aprecia os desenhos e pinturas de Egon Schiele, as “pinturas” de Anselm Kiefer, e as obras contemporâneas de Jenny Saville. Em ilustração, possui grande influência das histórias
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em quadrinhos, sua paixão desde a infância e que se desenvolveu graças aos quadrinistas das décadas de 1970 e 1980. Procura utilizar os materiais mais variados e, há algum tempo, tem focado na pintura e no desenho com materiais não convencionais, a exemplo de chaves de fenda, ferro em brasa, borra de café, arame, pedras, tijolos, pigmentos naturais e até patas sujas de uma cachorrinha. Para Aluado e outros contos de alumbramento, Caminha criou imagens com um clima sombrio e mais tenso. Para tanto, realizou esboços a lápis, fez pintura digital e colocou texturas, fazendo então os acertos ou as alterações de cores e efeitos de luz e sombras. HQs de terror antigas e atuais, como Tales from the Crypt, Calafrio, Hellboy, Dylan Dog, e ainda a saga do Monstro do Pântano, foram algumas das referências para essas ilustrações.
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© Carlos Caminha – arquivo pessoal
O ilustrador
A obra Aluado e outros contos de alumbramento é um livro de 140 páginas com sete contos que tratam do universo dos jovens. Além dos contos, existe também uma apresentação no início da obra, intitulada “Adolescendo”, escrita pelo próprio autor. As ricas ilustrações de Carlos Caminha enriquecem as narrativas e tornam o livro mais atraente. No projeto gráfico, evidencia-se a opção editorial de oferecer uma obra que possa ser colorida e muito agradável esteticamente, mostrando que a literatura fantástica juvenil nem sempre tem de se refugiar nos traços em preto e branco. As ilustrações, nesse sentido, complementam os temas, dos quais emergem angústias existenciais muito próprias da faixa etária à qual os contos se direcionam. Os enredos também privilegiam um Brasil interiorano, profundo, miscigenado e sertanejo, muitas vezes esquecido em narrativas mais contemporâneas. É com os adolescentes desse Brasil tão multifacetado que Aluado e outros contos de alumbramento também conversa. A seguir, está uma breve contextualização de cada conto: Aluado
O passarinho de Tiziu
Um rapaz pressente a chegada da adolescência a partir das transformações que acontecem em seu corpo, somadas a reflexões sobre a vida. Pelos crescem por toda parte e sua roupa se rasga quando ele ganha tamanho, transformando-se em um lobisomem-guará, criatura fantástica do cerrado. Uma moça o espreita, curiosa com aquele rebuliço que se dava toda vez que a lua era cheia.
Este conto, um tanto patético e carregado de humor, traz um diabinho da garrafa, o famaliá caipira, o qual aparece como figurante na trama que alinhava metaforicamente o tornar-se rapaz com o despertar do desejo. E é uma adolescente que chega repentinamente para uma visita de domingo quem faz com que Tiziu, o primo desajeitado, sonde – ainda que aos atropelos – o que de fato lhe vai dentro do coração e da calça do pijama.
A alma do boi
Gente-bovina
Do alto do telhado da casa do sítio dos avós, enquanto faz reflexões sobre os parentes mais velhos, um rapaz observa a vida. Ele ainda presencia um boi fantasma se acendendo perto da porteira, e tece considerações sobre os familiares, o tempo e o amor.
Um pai de família tem de abandonar a roça e se mudar com a esposa e a filharada para a cidade. O texto traz meditações feitas durante a viagem em carro de boi, na qual os meninos e a única filha soltam comentários daqui e dali, algumas vezes carregados de
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questionamentos que a própria vida lhes impõe. A narrativa apresenta as vidas também secas daqueles novos retirantes que rumam para um lugar de incertezas. A noite das aleluias
Um rapaz adentra de noite a antiga casa rural dos avós, então abandonada. Lá, ele se encanta com um fenômeno biológico: centenas de cupins alados são atraídos para a luz, que inexplicavelmente se acende na grande sala. Porém, o bullying sofrido no passado de colegial também faz sua cabeça girar. O fêmur do lobo
Dois adolescentes se encontram com uma amiga na ilha em que o tio mantinha uma casa de veraneio. A infância de fato havia passado para os três que, entretidos com um misterioso osso encontrado num farol, se veem cada vez mais distanciados da doce época em que se embalavam com as brincadeiras na casa da árvore.
Por outro, oferece ideações e falsos conceitos que seduzem. E os estudantes são capazes de refletir esse Zeitgeist, esse “espírito do tempo” – que, na contemporaneidade, se mostra tão multifacetado e complexo. As sete narrativas expressam descobertas, estranhamentos, separações e encontros, em meio a uma natureza que participa com força impressionista e até mesmo surreal. O leitor jovem encontrará fantasmas de várias espessuras, emanados das angústias, mas, também, das soluções criadas pelos personagens. Esta é, portanto, uma obra que enfatiza o terror e o mistério dotados de carga psicológica, e evidencia que viver é, antes de tudo, um ato que nos pede coragem e otimismo.
O pinto que o menino fez crescer
O protagonista deste conto é um garoto que cresce rodeado pelas adulações familiares, até que decide percorrer o mundo por si mesmo. Ele tenta se livrar dos assombros da infância, mas não conseguirá viver sem eles. Entretanto, os espantos e medos se transformarão em deliciosos monstros que seguirão o personagem vida afora, metáforas da fortaleza e da coragem. Como fica evidente, estes são textos de literatura fantástica com abordagens de questões existencialistas, de angústias em torno do corpo que se transforma, e dos sofrimentos que podem arrebatar o adolescente. Um educador sabe como é complexo passar por essa fase da vida. Por um lado, o mundo cobra posturas e comportamentos. Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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Estilo e gênero literário O estilo literário dos contos de Aluado... se volta a um leitor do Ensino Médio fluente e capaz de apreciar narrativas curtas mais densas e com maior multiplicidade temática. Este provavelmente já traz conhecimentos básicos de fenômenos literários e de produções textuais, advindos dos anos finais do Ensino Fundamental. Aguçado pelo mundo multimidiático e pós-digital que o cerca, este jovem certamente já enveredou pelo campo do fantástico várias vezes,
seja na literatura, nos filmes e séries, nos jogos de videogame e nas HQs. Sem dúvida, o grande protogênero que é o fantástico é predileção entre os jovens. Neste escopo, o livro aproxima o leitor de uma leitura mais exigente, que lhe apresentará alguns termos não tão usuais, ao mesmo tempo em que oferece uma agilidade narrativa que o adolescente contemporâneo espera de uma obra ligada ao fantástico.
O conto como gênero De forma clássica, pode-se definir o conto como um texto de menor extensão do que um romance ou uma novela, tendendo igualmente a oferecer um número menor de personagens e um enredo mais enxuto, sem muitas tramas secundárias e, geralmente, propondo uma história com um único clímax. Neste sentido, um conto pede concisão. Entretanto, o universo dos contos possui uma grande flexibilidade, o que se evidencia nos autores, estilos, escolas de época, tendências e movimentos que impulsionaram o gênero. Na tradição literária nacional, os contos sempre estiveram muito presentes desde o Romantismo. Dentre alguns de nossos contistas, não podemos nos esquecer de Álvares de Azevedo – que transitou até mesmo pela esfera gótica –, Machado de Assis e Júlia Lopes de Almeida – que nos deixaram alguns bons contos de assombro e mistério –, Murilo Rubião – conhecido por seus contos fantásticos –, e também Guimarães Rosa, Hugo de Carvalho Ramos, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Conceição Evaristo e Cora Coralina – que passeou pelas histórias de assombração. De origem oriental e popular, detecta-se no conto uma confusão semântica histórica, já que, na Idade Média, qualquer narrativa ganhava o nome de “conto”, que, posteriormente, ficou associado a um relato curto mas, também, excessivamente fantasioso, com a finalidade de distrair e ocupar o tempo dos ouvintes e leitores (a exemplo de Contos da Mamãe Ganso, de Perrault, Contos de fadas, de Madame d’Aulnoye, Contos das mil e uma noites, traduzidos por Antoine Galland, Contos da Alhambra, de Washington Irving, e os populares “contos maravilhosos”, “contos de assombração”, “contos ao redor da fogueira”, associados à tradição oral). Existem as subcategorias do gênero, a exemplo de “conto realista”, “conto filosófico”, “conto fantástico” ou “conto de fadas”, mas elas funcionam mais com a finalidade de orientação temática sobre um determinado texto do que qualquer coisa, já que não há, a rigor, uma classificação que abarque todas as variações. É importante entender que todo gênero é híbrido e sofre influências e contribuições as mais diversas. Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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O conto fantástico como subgênero O conto fantástico pode ser definido como aquele em que o enredo apresenta situações inexplicáveis, muitas vezes vinculadas ao sobrenatural, rompendo com as leis que supostamente deveriam coordenar a realidade do mundo comum e partilhado por todos. Algumas características do fantástico seriam a presença de conflitos entre o possível e o impossível, quase sempre em decorrência de um mundo excessivamente atravessado por um desejo de explicações racionalistas. E os limites entre o fantástico e o chamado realismo muitas vezes são bem porosos. Jorge Luis Borges acreditava ser impossível fugir do inverossímil. Para ele, o que hoje comumente se chama de literatura realista seria não mais do que um hiato na história literária desde sempre, composta, em sua maioria, por elementos do fantástico. O próprio Machado de Assis é considerado muitas vezes antirrealista, tendo sido um crítico tanto do Realismo de Eça de Queirós quanto do Naturalismo de Émile Zola. E o Bruxo do Cosme Velho nos deixou quinze contos que são inseridos pelos críticos no rol da literatura fantástica. Classicamente, são três os principais tipos de narrador: narrador personagem (em primeira pessoa), narrador observador e narrador onisciente (estes dois últimos, em terceira pessoa). O narrador é a “voz do texto” e a escolha de um dos tipos determina o que se chama foco narrativo. Os contos de Aluado... podem se dividir da seguinte maneira quanto aos tipos de narrador: Narrador onisciente (verbos em 3ª pessoa): não participa da história, mas conhece o passado e o futuro, bem como os “pensamentos” dos personagens.
• Aluado • O passarinho de Tiziu • Gente-bovina • A noite das aleluias • O fêmur do lobo • O pinto que o menino fez crescer
Narrador personagem (verbos em 1ª pessoa): ele participa do enredo que narra.
• A alma do boi
Apesar da tipologia dos narradores, precisamos considerar que os contos contemporâneos apresentam multiplicidades e maleabilidades narrativas, tornando-se às vezes difícil delimitar quando se trata apenas de um narrador onisciente ou um narrador observador. Aos seis contos com narrador em terceira pessoa de Adriano Messias, pode-se também adequar a nomenclatura narrador onisciente múltiplo, este influencia o leitor quanto a seu posicionamento na história, apresentando pontos de vista variados e relatando minúcias dos sentimentos e desejos dos personagens. Pode-se dizer que, em sua maioria, os narradores de Adriano Messias passeiam por digressões e por diferentes perspectivas – influência tanto Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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machadiana quanto roseana na formação literária do escritor. Tais recursos narratológicos podem aumentar a tensão e criar suspense, ao mesmo tempo em que aproximam o leitor do fato narrado e favorecem a cumplicidade para com diferentes personagens. Com isso, rompe-se com um ideal de unidade, o que condiz com a desconstrução ontológica do humano verificada em nossa época. É como se nos perguntássemos: quem narra agora? Para quem narra? O que uma virada narratológica propicia? O que isso quer nos dizer? Os narradores de Adriano Messias também são preenchidos de uma plasticidade formal
que lhes permite alterações, e tais recursos dialógicos são um elemento importante e enriquecedor para a literatura. De um narrador onisciente em terceira pessoa, podese passar para um narrador mais intimista e confessional, testemunha do fato narrado, ou, ainda, para um narrador pseudo-onisciente, mais analítico e interpretativo. Neste sentido, todo narrador é também um “enganador”: ao ser desmontado, o que resta é a constatação de o quanto a civilização pode ser sintetizada em movimentos ficcionais de várias ordens. E não seria exagerado dizer que a continuidade de nossa espécie só se deu por conta de sua peculiar capacidade de narrar e ficcionar.
Construção dos personagens Em todos os contos, há personagens que estão na faixa etária de alunos do Ensino Médio: alguns mais jovens – como o garoto primogênito de Gente-bovina –, outros mais velhos, como Cássio. Há alguns que parecem estar justamente na transição do Ensino Médio para o mundo universitário – como o protagonista de Aluado e de O pinto que o menino fez crescer, por exemplo, que saem de casa para trilharem os próprios caminhos. Estes dois são os personagens que revelam um arco mais denso de maturidade emocional e física, em comparação com outros. Há personagens que têm ainda algumas etapas pela frente, como o tímido Tiziu, que está se descobrindo em muitos aspectos, assim como o narrador de A alma do boi, que parece estar se desprendendo do ninho familiar, que de repente se tornou muito pequeno. Em O fêmur do lobo, por sua vez, conhecemos os conflitos e estranhamentos de três amigos adolescentes que, ao final do conto, são projetados até mesmo em um futuro adulto e não ausente de frustrações. Podemos considerar que os personagens de Adriano Messias se mostram movimentados pela surpresa e pelo inesperado. Isso muitas vezes torna as narrativas vertiginosas e cheias de meandros. E evidenciam-se objetivos dramáticos na criação de cada qual, ou seja, nenhum deles está lá apenas por estar. Reconhece-se um arco para cada protagonista no Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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âmbito da exegese dos contos, os quais nem sempre são finalizados da forma clássica. Faz parte do jogo ficcional dos contos de Aluado... “puxar a página” do leitor, oferecendo-lhe às vezes um final abrupto, em aberto – como no caso de Aluado, Gente-bovina e O passarinho de Tiziu. No âmbito do pacto narrativo com o leitor, a inverossimilhança, fundamental ao fantástico, se apresenta nas diversas ambientações espaço-temporais: é o caso do lobisomem-guará, do boi fantasma, do diabinho da garrafa, do suposto bezerro assombração, mas também das aleluias e das larvas que irrompem avassaladoramente na noite em que Cássio invadiu o casarão abandonado, e, sobretudo, nos bicharocos e na cambada de monstrengos que acompanham Martim no último conto. O único texto que foge de uma narrativa mais caracterizadamente TÍTULO DO CONTO
fantástica seria O fêmur do lobo. Ainda assim, o osso encontrado no farol se mostra revestido por uma aura de fantasmagórico mistério, bem ao gosto da literatura gótica dos séculos XVIII e XIX, por exemplo. O que marca os contos de Aluado..., em termos de ambientação, é que os lugares em que as histórias se passam são bem familiares, mas sempre incômodos. Eles participam das angústias dos personagens e, algumas vezes, fomentam-nas, o que confirma a teoria freudiana presente no célebre ensaio O estranho familiar, o qual mencionamos nas referências bibliográficas: podemos encontrar algo de perturbador em lugares que tantas vezes deveriam ser os mais acolhedores para nós. A seguir, está um quadro com as ambientações de cada conto: AMBIENTAÇÃO PRINCIPAL
Aluado
Campo, cerrado
A alma do boi
Sítio em zona rural
O passarinho de Tiziu
Casa em zona rural
Gente-bovina
Mudança de zona rural para a cidade
A noite das aleluias
Casa rural abandonada em um brejo
O fêmur do lobo
Farol abandonado em uma ilha
O pinto que o menino fez crescer
Casa no interior do país
Tempo das narrativas O tempo da narrativa de cada conto é o contemporâneo, mas não há precisões históricas. Pode-se dizer que os enredos se desenrolam no século atual, mas alguns permanecem em uma espécie de limbo atemporal que pode ser a década de 1980 ou a de 1990, por exemplo. Algumas expressões nos diálogos de O fêmur do lobo, bem como a presença das tecnologias (o automóvel e a luz elétrica em A noite das aleluias), facilitam alguma localização temporal. Outros textos até mesmo parecem um pouco imersos em décadas anteriores, como Gente-bovina, que dialoga com o êxodo rural do Brasil dos anos de 1960 e 1970, e O passarinho de Tiziu, que tem um sabor retrô. Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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Propostas de Atividades I Linguagens e suas tecnologias: Língua Portuguesa Pré-leitura Professor, a pré-leitura é o momento em que você apresentará a obra aos alunos. Você pode realizar, nesse momento, um bate-papo sobre o que vem a ser a literatura fantástica, comentando sobre os tipos de obras do fantástico que os estudantes conhecem e já leram, bem como seus respectivos autores, enfatizando a literatura fantástica nacional. Também aproveite para explicar sobre o fantástico como um protogênero que abarca vários outros (ficção científica, terror, mistério, suspense, etc.). Além disso, para construir essa introdução à literatura fantástica, você pode se basear nos textos: Fantástico, um conceito plural (MESSIAS, 2016, p. 31-33); O fantástico na literatura (MESSIAS, 2016, p. 34-42); A literatura fantástica e o jovem leitor do século XXI (MESSIAS, 2019a, p. 149-159) e O desejo no meio do redemoinho (MESSIAS, 2019c, p. 67-94). As obras estão todas indicadas nas “Referências bibliográficas comentadas”. Algumas das atividades propostas neste material podem ser adaptadas para serem usadas como estimuladoras na pré-leitura.
Leitura
Pós-leitura
Combine com os alunos um prazo específico para que eles possam ler Aluado e outros contos de alumbramento (uma a duas semanas, por exemplo).
Um primeiro encontro de pós-leitura será reservado para uma aula específica, em que todos farão seus comentários sobre o livro. Nesse momento, você pode empregar um quadro no qual, mediante o que os alunos disserem, fará uma espécie de classificação e sinopse de cada conto, semelhante ao que consta na Carta ao professor deste material.
Enumere no quadro alguns aspectos que os estudantes podem observar nos contos enquanto estes forem lidos: a) tempo e espaço narrativo; b) tipo de narrador; c) eixo temático principal; d) manifestações do fantástico (tanto mais explícitas quanto mais implícitas). Peça também para que eles estabeleçam relações dos contos com livros, filmes, séries e jogos com os quais tenham algo em comum no âmbito do gênero, da temática e da forma.
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Também considere que algumas das atividades propostas a seguir são sugeridas tanto para leitura quanto para pós-leitura. Sinta-se livre para fazer as adaptações que julgar convenientes.
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Atividade 1: Metamorfoses – perspectivas e significações de mundo COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 2 Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza. (BRASIL, 2018, p. 490)
HABILIDADE (EM13LGG202) Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e verbais), compreendendo criticamente o modo como circulam, constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.
Professor, esta atividade é sugerida para pré-leitura. Entretanto, você pode adaptá-la para uma atividade de leitura ou de pós-leitura. O livro Aluado... reúne contos que apresentam a adolescência em diversos níveis, sempre com ênfase na tríade das transformações emocionais, sociais e corporais. Nos textos, essas transformações também se mostram presentes por meio de algumas figuras de linguagem, sobretudo a da metáfora da metamorfose. Para preparar os alunos para um entendimento melhor da obra, você vai propor o contato deles com obras artísticas variadas e de períodos diferentes. Elas devem apresentar, de forma evidente, o tema da metamorfose. Sugestões: a. alguns dos primeiros parágrafos do livro A Metamorfose1, de Franz Kafka (em toda a obra, o inseto em que Gregor se transforma condensa uma crítica ao capitalismo, aos modelos de trabalho, à constituição familiar, etc.); b. o conto O ex-mágico da Taberna Minhota, de Murilo Rubião (em que um mágico tem o poder de transformar o mundo, mas não se adapta a esse mesmo mundo, metamorfoseando-se numa alegoria da impotência do homem perante a cultura); 1
Sobre as obras citadas nas atividades, verificar sempre a “Bibliografia comentada” ao final deste material.
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c. o filme brasileiro O coronel e o lobisomem2, de Maurício Farias (2005) é baseado no romance de José Cândido de Carvalho; d. alguma pintura mostrando o episódio em que o jovem Acteão, da mitologia, é transformado em cervo pelas ninfas3 (para conhecer mais sobre este encontro mitológico, leia o texto “Diana e Acteão” na página 24 da seção “Aprofundamento”). Estimule os estudantes a tecerem relações entre as obras lidas/ assistidas/ apreciadas, buscando fazer com que eles apontem não apenas usos e costumes, mas também relações de poder e perspectivas de mundo – variantes de acordo com a época e com o local. Tente fazer com que eles discutam como essas visões são capazes de reproduzir concepções ideológicas que podem estar mais ou menos presentes na contemporaneidade.
Atividade 2: Manifestações artísticas, culturais e festivas COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 6 Apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e culturais, considerando suas características locais, regionais e globais, e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar significado e (re)construir produções autorais individuais e coletivas, exercendo protagonismo de maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas. (BRASIL, 2018, p. 490)
HABILIDADE (EM13LGG602) Fruir e apreciar esteticamente diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, assim como delas participar, de modo a aguçar continuamente a sensibilidade, a imaginação e a criatividade.
Professor, esta atividade é sugerida para leitura e pós-leitura e deve ser realizada externamente. Nos contos de Aluado..., existem referências e alusões a comemorações e festas, dentre elas, o domingo de Páscoa, com a missa da manhã e o almoço (O passarinho de Tiziu), além do Carnaval, que pode ser entendido metaforicamente na parada dos monstros que caminham juntos a Martim, quando o rapaz sai de casa para ganhar o mundo em O pinto que o menino fez crescer. O Brasil possui festividades de origens variadas. Algumas delas, infelizmente, estão se perdendo. E quase todas possuem referências a animais em sua simbologia (indumentárias, danças, comidas, etc.). Pode-se dizer que, desde o início da humanidade, a cultura desenvolveu ritos de zoomorfização, ao mesmo tempo em que busca antropomorfizar a natureza. Isso se faz evidente já na raiz dos cultos totêmicos e, posteriormente, nas primeiras religiões. 2
Sobre os filmes citados nas atividades, verificar sempre a seção “Sugestões de referências complementares” do material.
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Há referências variadas que podem ser encontradas pela internet. A seguir, estão listados dois links: https:// fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:Jean-Fran%C3%A7ois_de_Troy_-_Diane_suprise_par_Act%C3%A9on,_1734.jpg e https://musees.ville-senlis.fr/Collections/Explorer-les-collections/Rechercher-une-oeuvre/Musee-de-la-Venerie/ Diane-et-Acteon
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Esta atividade tem como objetivo fazer com que os alunos pesquisem e conheçam alguma manifestação artística e cultural do local em que moram, em geral ligada a celebrações mais tradicionais. Além do contato com a festa em si, eles deverão ir além, buscando participar da mesma, dentro do possível. Como parte da atividade, está o reconhecimento de figurações e representações animais – metafóricas ou alegóricas, por exemplo – no contexto artístico da festa escolhida. A seguir você encontrará o quadro “Orientação para pesquisa de atividade artística, cultural e festiva”, um roteiro com perguntas que pode ser usado para que os alunos se orientem melhor durante esse trabalho de campo. O resultado dessa pesquisa coletiva com os alunos pode se transformar em fontes a partir das quais você e os estudantes podem se aprofundar. Algumas sugestões de festas populares: Lavagem do Bonfim, Encomenda das Almas na Quaresma, Festival Folclórico de Parintins, Círio de Nazaré, Carnaval, Festa de Iemanjá, Festa do Divino, Reisado, Congado, Folia de Reis, Cavalhada, Fogaréu, Boi-Bumbá, Festas Juninas. Orientação para pesquisa de atividade artística, cultural e festiva Denominações da atividade artística, cultural e festiva Origem Quando acontece? Onde ocorre? Quem pode participar? Há vestimentas específicas? Quais? Há comidas e bebidas típicas? Quais? Há ritos religiosos ou ligações com alguma religião? Quais? Como a comunidade participa da atividade? Há plena aceitação da mesma? Há preconceitos ou intolerâncias? Como são evidenciados? Por que ocorrem? Existem referências ou alusões a animais no âmbito da atividade? Como elas se evidenciam? Qual a importância desta atividade para o patrimônio artístico cultural nacional?
A atividade se encerrará com uma aula em que todos deverão apresentar seus relatórios, comentando a experiência que tiveram.
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Atividade 3: Ética na internet COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 7 Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as dimensões técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir as formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e coletivas, e de aprender a aprender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida pessoal e coletiva. (BRASIL, 2018, p. 490)
HABILIDADE (EM13LGG701) Explorar tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC), compreendendo seus princípios e funcionalidades, e utilizá-las de modo ético, criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes contextos.
Professor, esta atividade é sugerida para leitura e pós-leitura. Os adolescentes são grandes consumidores e usuários das novidades tecnológicas. Eles participam ativamente de redes sociais e, muitas vezes, criam seus próprios canais e conteúdos. Esta atividade busca proporcionar reflexões sobre o fazer ético que deve estar por trás de cada incursão no mundo da internet. Peça para os alunos selecionarem e indicarem quais são seus canais prediletos no YouTube e por qual motivo. Enquanto forem mencionando suas preferências, tente organizá-las no quadro por tópicos. Por exemplo: a) canais de entretenimento (músicas, filmes, jogos, etc.); b) canais de informação (jornais, canais críticos, canais de discussão sobre temas atuais, etc.); c) canais de educação (canais de professores, de filósofos, de áreas específicas, como História e Geografia, de cursos, de profissões, de dicas para o ENEM e para os vestibulares, etc.). Estimule-os a comentar sobre quem apresenta cada canal, qual a linguagem que emprega, e se o canal já passou por alguma controvérsia ou polêmica. Pergunte também se alguém tem um canal no Youtube e do que se trata. Em seguida, levante questões ligadas à ética digital e explique à turma que a internet tende a facilitar a desresponsabilização do sujeito, dando a este a falsa sensação de estar acima da lei (devido ao aparente anonimato, à Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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sensação de que não se pode ser punido, à dificuldade em se mensurar as consequências do que se diz, escreve, mostra ou faz pela internet, etc.). Oriente o debate e tente obter conclusões claras e precisas sobre este aspecto tão importante de nossas relações humanas. Você também pode trabalhar com seus alunos algum trecho do livro A ética é possível num mundo de consumidores?, do filósofo Zygmunt Bauman, referenciado na bibliografia. A atividade finalizará com uma produção criativa, na qual cada estudante escolherá um dos três adolescentes do conto O fêmur do lobo para usar o ponto de vista do personagem. O texto pode ser na forma de e-mail, de chat, ou de alguma outra linguagem ligada às tecnologias digitais.
Então, o personagem escolhido fará contato com os outros dois colegas de infância e adolescência. Terão se passado alguns anos já desde o último encontro na ilha e o personagem contará aos amigos como está, como vive, o que tem feito da vida, e tecerá algumas reflexões sobre o passado. Os alunos que quiserem podem ler suas produções para o restante da turma escutar.
Língua portuguesa: Todos os campos de atuação social Atividade 4: Animais em contos brasileiros PRÁTICAS Leitura, escuta, produção de textos (orais, escritos, multissemióticos) e análise linguística/ semiótica. (BRASIL, 2018, p. 503)
HABILIDADE (EM13LP03) Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permitam a explicitação de relações dialógicas, a identificação de posicionamentos ou de perspectivas, a compreensão de paráfrases, paródias e estilizações, entre outras possibilidades.
Professor, esta atividade é sugerida para leitura e pós-leitura. Nesta atividade, os alunos deverão estabelecer relações de intertextualidade e interdiscursividade entre algum(ns) conto(s) de Aluado... e algum(ns) conto(s) de nossa literatura, sobretudo no que diz respeito à representação e a figuração de animais. Para isso, segue um quadro para sua orientação. Os contos são apenas sugestões e você pode escolher um ou mais de um dentre os que estão sugeridos. Você ainda pode decidir trabalhar apenas com trechos dos contos que por acaso considere muito grandes, considerando-se o tempo de aula disponível. Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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CONTOS DE ALUADO...
A alma do boi O passarinho de Tiziu Gente-bovina O pinto que o menino fez crescer
CONTOS NOS QUAIS OS ALUNOS DEVERÃO LOCALIZAR INTERTEXTUALIDADES 4
ASPECTOS QUE PODEM SER ABORDADOS
A dança dos ossos (Bernardo Guimarães);
a) Que animais aparecem com destaque em cada conto?
Uma galinha (Clarice Lispector);
As formigas (Lygia Fagundes Telles), Pelo Caiapó Velho (Hugo de Carvalho Ramos5); O burrinho pedrês e Conversa de bois (Guimarães Rosa)
b) Como esses animais são apresentados (são personagens, têm protagonismo, são humanizados, são apenas alegóricos, são sobrenaturais, etc.)? c) Os animais são capazes de metaforizar dramas humanos e questões existenciais? Como? Quais? d) Quais são os aspectos em comum, entre os contos escolhidos, no que diz respeito à inserção de figuras de animais? E quais são os aspectos em que estes se diferem? e) O que os animais dos contos representam no âmbito das tradições orais do Brasil?
A atividade se encerrará quando os alunos tiverem apresentado a contento suas argumentações e inferências intertextuais e dialógicas.
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Os contos de outros autores estão referenciados na bibliografia no fim do material.
Hugo de Carvalho Ramos é um autor goiano que merece ser lembrado e entrar nas salas de aula. Alguns de seus melhores contos foram escritos entre os quinze e os dezesseis anos de idade. Suas obras já estão em domínio público, dentre elas, Tropas e boiadas (1917), na qual está o conto mencionado. 5
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Atividade 5: O dito e o não dito em um texto literário PRÁTICAS Leitura, escuta, produção de textos (orais, escritos, multissemióticos) e análise linguística/ semiótica. (BRASIL, 2018, p. 503)
HABILIDADE (EM13LP06) Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da linguagem, da escolha de determinadas palavras ou expressões e da ordenação, combinação e contraposição de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de uso crítico da língua.
Professor, esta atividade é sugerida para leitura e pós-leitura. Para esta atividade, você pode escolher um ou mais contos do livro para proporcionar uma análise, junto aos seus alunos, dos efeitos de sentido advindos de determinadas escolhas linguísticas que, por sua vez, têm consequências na experiência estética do leitor. Para isso, na seção “Aprofundamento”, página 25, você vai encontrar um texto intitulado “Umberto Eco e a leitura”. Você também pode empregar esse texto com sua turma. Ai, que ardente era o calor que lhe cobria a face naquelas noites de lua vermelha! Aquele anel em volta do astro, coisa que se vê antes na roça do que na cidade, era também uma aura que firmava seus pés no chão. Fincava-os bem na terra, e depois, a contragosto, passava a girar e a esfregar o ventre sobre o capim baixo, em movimentos de vaivém. Contorcia-se convulso, e era como se uma pequena morte o invadisse após o frenesi. Apesar de prazeroso, era assustador começar a entender das coisas de lobo. (Aluado, p. 15) Ela puxou o rapaz para si e deu-lhe um beijo na boca com a desculpa de apalpá-lo e solucionar o mistério. Foi assim que entendeu que Tiziu trazia um pobre de um passarinho desesperado no bolso da calça frouxa e feia.
Num ímpeto, a prima distante enfiou uma das mãos pela abertura do tecido e puxou a avezinha para fora, esganando-a quase. Depois que olhou aquilo por algum tempo, curiosa e radiante, soltou-o. O bichinho agradecido foi embora para sempre.
Foi deitar seus cantos oitavados em outros vales.
Aline, que escondia os primeiros raios de mulher que lhe vieram naquela manhã por trás do grosso macacão masculino, sentia-se constrangida por estar fisicamente próxima aos rapazes e, por isso, se aconchegou ao cabo do machado. Não o fez porque temesse os dois, mas porque percebeu, de fato, que toda mulher obrigatoriamente deveria ter as próprias defesas no mundo. Os garotos, um bocado abobados pela incomum beleza da acompanhante, ruborizavam e riam tolamente o tempo todo, até que decidiram que era a hora de voltar. Ficariam encharcados.
Porém, antes de o pé d’água cair, as atenções se dirigiram a um constrangimento inesperado: o tal osso que, por alguns anos, iria acompanhá-los e selar a amizade do trio. Amizade que, após o vestibular, se desfaria como se jamais tivesse existido. Qual a areia de uma ampulheta quebrada que se entranhasse nas brechas das tábuas do chão. Ou como a casa da árvore, que, com aquela chuva de inverno das goiabas, iria-se de vez, e, levada ao mar, se desmancharia indignamente na costa angolana semanas depois. (O fêmur do lobo, p. 104)
Tiziu, não tendo onde enfiar a cara, deixou para ser homem mais tarde: quis mesmo foi voar pela campina.
Deslizou por entre os galhinhos tenros dos mamoeiros, serpenteou pelas copas dos araçareiros, bicou frutinhas do mato, pousou num cacho de mamonas. No fim da tarde, foi piar num capinzal ao lado do valo velho da linha do trem. Felicidade! (O passarinho de Tiziu, p. 50) Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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Explore interpretações sobre os trechos com seus alunos, considerando sempre as escolhas expressivas do autor. Você pode fazer alguns recortes mais específicos, como os três a seguir: “Contorcia-se convulso, e era como se uma pequena morte o invadisse após o frenesi. Apesar de prazeroso, era assustador começar a entender das coisas de lobo”; “Foi assim que entendeu que Tiziu trazia um pobre de um passarinho desesperado no bolso da calça frouxa e feia”; “Aline, que escondia os primeiros raios de mulher que lhe vieram naquela manhã por trás do grosso macacão masculino, sentia-se constrangida por estar fisicamente próxima aos rapazes (...)”. A partir daí, peça aos estudantes para enumerarem alguns recursos
estilísticos que foram usados para retratar as descobertas da adolescência pelos diferentes personagens. Você pode selecionar outros trechos dos contos de Aluado..., se quiser. Investigue sobretudo os aspectos do “não dito”, ou seja, aquilo que pode ser lido nas entrelinhas, e anote no quadro os comentários feitos pela turma. Depois, solicite aos alunos que escrevam um miniconto fantástico, no qual empreguem recursos estilísticos para tratarem de alguma descoberta da adolescência (em nível emocional, relacional, social, corporal, etc.). Reserve um momento para que cada um possa ler sua produção literária.
Língua portuguesa: Campo de atuação na vida pública Atividade 6: Intervenção artística – Bestiário PRÁTICAS Leitura, escuta, produção de textos (orais, escritos, multissemióticos) e análise linguística/ semiótica. (BRASIL, 2018, p. 507)
HABILIDADE (EM13LP24) Analisar formas não institucionalizadas de participação social, sobretudo as vinculadas a manifestações artísticas, produções culturais, intervenções urbanas e formas de expressão típica das culturas juvenis que pretendam expor uma problemática ou promover uma reflexão/ação, posicionando-se em relação a essas produções e manifestações.
Professor, esta atividade é sugerida para leitura e pós-leitura. Peça aos alunos para listarem todos os animais e todos os seres fantásticos presentes nos contos de Aluado... A partir daí, eles desenvolverão alguma atividade artística de comum acordo e que possa resultar em uma intervenção urbana. Sugestões: a) grafitti; b) exposição de desenhos; c) curtas-metragens; d) dança; e) esquetes teatrais. As intervenções também podem misturar diferentes formatos artísticos. O objetivo é envolver os alunos com a comunidade, permitindo que seus talentos sejam revelados. Esta atividade dialoga com outras do material e que também trabalham perspectivas estéticas em torno da metamorfose, dos animais e de suas representações na cultura brasileira. Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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Propostas de Atividades II Ciências da natureza e suas tecnologias Atividade 1: Antropoceno – desafios e dilemas para a humanidade COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 2 Analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e fundamentar e defender decisões éticas e responsáveis. (BRASIL, 2018, p. 553)
HABILIDADE (EM13CNT202) Analisar as diversas formas de manifestação da vida em seus diferentes níveis de organização, bem como as condições ambientais favoráveis e os fatores limitantes a elas, com ou sem o uso de dispositivos e aplicativos digitais (como softwares de simulação e de realidade virtual, entre outros).
Professor, esta atividade é sugerida para leitura e pós-leitura. Releia com seus alunos o conto A noite das aleluias, pedindo para eles marcarem os trechos que descrevem um mundo que parece estar se decompondo organicamente ao redor do personagem. Em seguida, proponha a eles a leitura do conto Demônios, de Aluísio Azevedo, também solicitando que ressaltem as partes que assinalam um mundo que se desfaz. Exemplos de dois trechos que podem ser inter-relacionados nesta atividade: Ao fechar o carro, tropeçou na enorme bolota de um cogumelo, grande como um pneu velho. Depois, teve de vencer o emaranhado de teias de aranha tecidas entre touceiras de taboa que cresciam no terreno que minava água, bem em frente à casa velha. […] Ele viu nas paredes muitos quadros de Veneza, a cidade dos canais, todos obscuros e já carcomidos por carunchos. (p. 69) […] apenas sentia claramente que, pelas paredes, o bolor principiava a formar altas camadas de uma vegetação aquosa, e que meus pés se encharcavam cada vez mais no lodo que o solo ressumbrava. […] Era preciso, pois, não perder um segundo; não dar tempo ao bolor e à lama de esconderem de todo o chão e as paredes. (AZEVEDO, p. 23).
Os alunos deverão comparar os excertos extraídos de ambos os textos, ao mesmo tempo em que deverão empregá-los Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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como pontos de partida para estudarem o Antropoceno, a nova era “humano-geológica” que tem preocupado cientistas do mundo todo. Sobre esse tema em especial, não deixe de consultar as indicações bibliográficas no final do material.
em que as condições ambientais parecem ter se rompido (Demônios) ou estar paulatinamente se rompendo (A noite das aleluias). Em um tal contexto, também participam os personagens com suas respectivas questões existenciais.
Pode-se dizer que, nos dois contos, tanto o do século XIX quanto o do século XXI, a vida se demarca por muita umidade, fungos e seres invertebrados. Há referências que podem ser bem aproveitadas nesta atividade, como a das pessoas inexplicavelmente mortas em Demônios, ou a dos quadros de Veneza na parede carcomida (A noite das aleluias). Sabe-se que essa cidade italiana sofre com frequentes inundações, consequência também das alterações climáticas.
A atividade se dará por encerrada quando os alunos tiverem conseguido partir dos contos para caracterizarem o Antropoceno no atual estágio da humanidade. Para tanto, eles também terão de levantar hipóteses sobre a continuidade de diversas formas de vida no planeta com base em leituras de artigos científicos sobre o tema, salientando os perigos iminentes que comprometem a continuidade de vários ecossistemas e dos seres que o constituem.
Em suma, nos contos, faz-se a sugestão de algo incomodamente distópico, espécie de fábula planetária tanto moderna (Demônios) quanto pós-moderna (A noite das aleluias),
Por se tratar de uma atividade mais complexa e que exige uma dialogia transdisciplinar, tente reservar algumas aulas para seu desenvolvimento.
Ciências humanas e sociais aplicadas Atividade 2: Retirantes COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 1 Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir de procedimentos epistemológicos e científicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente com relação a esses processos e às possíveis relações entre eles. (BRASIL, 2018, p.570)
HABILIDADE (EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de natureza qualitativa e quantitativa (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos, gráficos, mapas, tabelas etc.).
Professor, esta atividade é sugerida para leitura e pós-leitura. Releia com os alunos o conto Gente-bovina e também proponha a leitura de algum dos capítulos do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos. Os alunos deverão relacionar ambos os textos no que diz respeito ao tema do êxodo rural e do fenômeno dos retirantes. Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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No Brasil, houve uma forte corrente de êxodo rural na segunda metade do século XX. Oriente os alunos para que eles estabeleçam os antecedentes socioeconômicos e naturais que motivaram esse tipo de alteração demográfica e humana. Também apresente à turma o quadro Retirantes, de Candido Portinari, que hoje compõe o acervo do MASP, o Museu de Arte de São Paulo (cuja imagem está disponível no site: https://masp.org.br/acervo/obra/retirantes). Depois, peça aos alunos para preencherem uma ficha de análise semelhante à que está adiante: Obra
Gente-bovina
Vidas secas
Retirantes
Fenômeno social apresentado Personagens De onde vêm os personagens e para onde estão tentando ir? Em qual região do Brasil se desenvolve a trama? Há explicações para os personagens estarem mudando de local?
Você também pode utilizar com os alunos o texto “Urbanização”, de Rafaela Sousa, disponível no site: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/urbanizacao.htm Ele será muito proveitoso para que todos entendam melhor o tema abordado. A atividade se encerrará quando os alunos tiverem discutido os diversos fatores que ocasionaram ondas de êxodos rurais no Brasil em diversos momentos da história recente, bem como as implicações humanas e ambientais dessas correntes migratórias.
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Aprofundamento Diana e Acteão Acteão era um jovem caçador de cervos, cuja excelente educação se devia ao centauro Quírion. Era filho de Aristeu que, por sua vez, era filho de Apolo e Cirene. A mãe, Autônoe, era filha de Cadmo, o rei que fundou Tebas, e de Harmonia, filha de Ares e Afrodite. Diana – em algumas versões, a Ártemis grega –, além de deusa romana, era uma rainha caçadora, conhecida por valorizar a própria virgindade. Em um bosque de ciprestes, ao redor de uma gruta, havia uma fonte onde as ninfas iam se banhar com as deusas. Ao se despir, Diana deixou as armas e as vestes com as companheiras. Nesse ínterim, Acteão, que se perdera dos companheiros, surpreendeu-a sem querer. Todas correram para junto da deusa, tentando ocultar sua nudez. Como seu arco e flecha estavam distantes, Diana não conseguiu atirar no rapaz, mas, apanhando um pouco de água, jogou-a no rosto do visitante dizendo, de forma sarcástica, para ele ir contar a todos que tinha visto a deusa desnuda. Instantaneamente, cresceram chifres de cervo na cabeça do caçador. Depois, seu pescoço se alongou, aumentaram-se-lhe as orelhas e os braços e as pernas se transformaram em patas. E, sobre a pele, apareceu-lhe um pelo manchado. Assustado, o animal fugiu. Porém, os próprios cães de caça de Acteão avistaram o belo cervo e o perseguiram. Em vão, ele tentou dizer quem era. Acabou sendo morto. Esse encontro fatal está retratado por Eugène Delacroix em um belo quadro que serviu de inspiração para “o Verão” no concerto “As quatro estações”, de Antonio Vivaldi6. Existem várias referências a metamorfoses na literatura e que estão ligadas a interdições que mulheres impuseram aos homens, as quais não foram cumpridas, a exemplo da história de Melusina, de Jean d’Arras, do conto Dama Pé-de-Cabra, de Alexandre Herculano, e de lendas brasileiras em torno da Mãe d’Água que se casa com um caipira e depois lhe traz a ruína. Confira algumas dessas obras nas referências bibliográficas deste material.
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O quadro pode ser apreciado no link: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f6/Delacroix_-_o_ver%C3%A3o.jpg
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Umberto Eco e a leitura Umberto Eco já havia defendido, em sua obra Lector in fabula, que o leitor, como destinatário, atualiza a cadeia de sentidos produzida por um texto a partir de uma participação que deve ser ativa. Um texto é incompleto porque não se refere apenas ao que o escritor pretendeu escrever. Existem múltiplas leituras e interpretações, das quais o autor sequer desconfia. Um texto também pede que seu destinatário faça as devidas aferições ao código linguístico em questão, e isso depende do quão fluente e avançado é este leitor no âmbito do idioma, em amplo sentido: quanto mais se lê, mais capacidade de interpretação e significação o sujeito tende a ter. O semioticista italiano vai tratar também do “não dito”, ou seja, ele propõe que todo texto é um material a ser trabalhado e significado por quem o lê, e essa “outra leitura”, advinda de parcerias do inconsciente, é inevitável para um encontro mais complexo entre obra e leitor.
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Sugestões de referências complementares A seguir, está reproduzido o quadro da Atividade 2 do bloco 1, “Orientação para pesquisa de atividade artística, cultural e festiva”. Ele é uma sugestão para que você o utilize com seus alunos tal qual está ou, então, de forma adaptada. Tome-o como uma fonte primária para encontrar fontes secundárias e complementares, como a que se segue neste link: https://www.institutoqualibest.com/blog/dicas/7-dicas-para-criar-um-bom-questionario-de-pesquisa/ Orientação para pesquisa de atividade artística, cultural e festiva Denominações da atividade artística, cultural e festiva Origem Quando acontece? Onde ocorre? Quem pode participar? Há vestimentas específicas? Quais? Há comidas e bebidas típicas? Quais? Há ritos religiosos ou ligações com alguma religião? Quais? Como a comunidade participa da atividade? Há plena aceitação da mesma? Há preconceitos ou intolerâncias? Como são evidenciados? Por que ocorrem? Existem referências ou alusões a animais no âmbito da atividade? Como elas se evidenciam? Qual a importância desta atividade para o patrimônio artístico cultural nacional?
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Filmes O coronel e o lobisomem (Maurício Farias, 2005). Baseado no livro homônimo de José Cândido de Carvalho, este filme gira em torno da disputa no tribunal entre um coronel, inábil administrador rural, e seu irmão de criação, Pernambuco Nogueira, que salvou a fazenda da falência. Invejoso e esquisito, ele se torna o principal suspeito de ser o lobisomem que assombra a região. Anos mais tarde, retorna para se vingar. Este filme é uma sugestão para a primeira atividade deste material. Na companhia dos lobos (The company of wolves, Neil Jordan, 1984). Este filme antológico dos anos de 1980 tem alta qualidade estética. A trama se baseia em um conto de Angela Carter inspirado na história da Chapeuzinho Vermelho. Essa autora foi uma destacada pós-feminista e recompilou contos de fadas utilizando uma linguagem jovem e adulta, nos quais são denunciados, sobretudo, padrões machistas e patriarcais historicamente perpetuados. O filme proporciona boas intertextualidades com Aluado e outros contos de alumbramento. Além disso, os alunos conhecerão uma obra que expressa padrões artísticos de uma época anterior à do cinema digital.
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Bibliografia comentada ARRAS, Jean d’. Romance de Melusina ou A História dos Lusignan. São Paulo: Martins Fontes, 1999. Com prefácio do grande historiador Jacques Le Goff, esta narrativa medieval foi adaptada para os nossos dias retratando a origem, a maldição e a metamorfose da rainha Melusina, bem como seu casamento e sua prole. São de interesse sobretudo as primeiras páginas, as quais sintetizam a lenda. O livro permite boas intertextualidades com os contos de Aluado... AZEVEDO, Aluísio. Demônios. São Paulo: Martins Fontes, 2007. Este excelente conto fantástico de Aluísio Azevedo proporciona intertextualidades com o conto A noite das aleluias, de Adriano Messias. É considerado um precursor da ficção científica nacional. BARING-GOULD, Sabine. O livro dos lobisomens. São Paulo: Aleph, 2008. Esta obra traz várias informações históricas e mitológicas sobre a licantropia e sua presença na imaginação humana. É um bom livro informativo sobre a temática. BAUMAN, Zygmunt. A ética é possível num mundo de consumidores? Rio de Janeiro: Zahar, 2011. Este livro foi indicado na atividade 3: Ética na internet, na página 16. Ele traz conferências do filósofo em torno da ética e da lógica contemporâneas, incluindo, dentre outros temas, a impossibilidade de se debater a liberdade em um mundo marcado pelo medo e pela insegurança. A obra também ressalta a necessidade de se desenvolver uma atitude ética em um século dominado por forças antagônicas, como a globalização. BORGES, Jorge Luis. O livro dos seres imaginários. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Neste delicioso livro, o grande escritor argentino nos oferece um compêndio divertido e erudito, no qual nos apresenta seres fantásticos e sua impossível classificação. Há mitos e lendas universais, além de um fichário de figurações do monstruoso em várias obras literárias e filosóficas. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/ CONSED/ UNDIME, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Acesso em: 22 out. 2020. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. CARTER, Angela. 103 contos de fadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Este livro da renomada pós-feminista Angela Carter oferece uma ampla gama de contos de fadas, de variados povos, tais como eles foram recolhidos, ou seja, sem o “edulcoramento” pelo qual muitas histórias passaram para que fossem aceitas nas sociedades ocidentais mais conservadoras. Vários desses contos podem despertar ideias para atividades intertextuais com a obra Aluado e outros contos de alumbramento. Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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CASCUDO, Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 1978. Um clássico sobre o folclore nacional. Nesta obra de referência, Câmara Cascudo nos oferece verbetes com comentários, análises e comparações. Essencial para os que trabalham com o fantástico brasileiro. DARRIEUSSECQ, Marie. Porcarias. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Este romance francês explora o processo de metamorfose no escopo da ampla linhagem literária que vai de Ovídio a Kafka. Com humor, a autora conta a história de uma vendedora cujo corpo vai mudando, até que ela se vê transformada em porca. Dentre outras coisas, o livro faz uma sátira à sociedade que cultua corpos impossíveis enquanto esta caminha para o fascismo e para a perversão. A obra permite boas intertextualidades com os contos de Aluado... ECO, Umberto. Lector in fabula. São Paulo: Perspectiva, 2002. Uma das obras que não podem faltar nas estantes dos educadores. Lector in fabula tem um capítulo especialmente interessante dentro do escopo das atividades deste material, O leitor-modelo. FREUD, Sigmund. O infamiliar [Das Unheimliche], seguido de O Homem de Areia, de E. T. A. Hoffmann. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. FREUD, Sigmund. O estranho (1919). In: Edição Standard das Obras completas de Sigmund Freud, v. XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. O estranho, O estranho familiar, ou, ainda, O infamiliar, é um dos mais importantes textos de Freud para o entendimento da literatura fantástica e um belo exercício interpretativo a partir do conto O Homem de Areia, de E. T. A. Hoffmann. O leitor entenderá melhor como o processo criativo mantém íntima relação com a máquina do inconsciente de um autor. GUIMARÃES, Bernardo. A dança dos ossos. Domínio público. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000038.pdf Acesso em: 3 dez. 2020. Este conto de Bernardo Guimarães está indicado para a atividade 4: Animais em contos brasileiros, página 17. É uma interessante história sertaneja sobre um caçador que, certa noite, tem um encontro sobrenatural com ossos dançantes. HERCULANO, Alexandre. A Dama Pé-de-Cabra. In: Lendas e Narrativas. Tomo I. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ws000002.pdf Acesso em: 3 dez. 2020. Bela lenda medieval que retrata a metamorfose de uma misteriosa dama que se casa com um fidalgo. Permite boas intertextualidades com os contos de Aluado... JACOBS, W. W. A pata do macaco. In: WELLS, H. G. et al. Clássicos do sobrenatural. São Paulo: Iluminuras, 2004. Nesta coletânea de contos universais do fantástico, A pata do macaco pode oferecer boas intertextualidades com os contos de Aluado..., em especial com O fêmur do lobo. Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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KAFKA, Franz. A metamorfose. Rio de Janeiro: Antofágica, 2020. Quando Gregor Samsa desperta certa manhã, nota que muita coisa mudou: seu corpo é o de um enorme inseto. Porém, o mundo também está diferente. Aos poucos, ele vai acompanhar as reações da família ao perceberem em que criatura estranha ele se tornou. Esta obra revolucionou a literatura desde seu lançamento, em 1915 e é indicada como sugestão para a primeira atividade deste material. Permite boas intertextualidades com os contos de Aluado... LISPECTOR, Clarice. Uma galinha. In: Laços de Família. Rio de Janeiro: Rocco, 2020. Este conto de Clarice Lispector está indicado para a atividade 4: “Animais em contos brasileiros”, página 17. MACIEL, Maria Esther. Literatura e animalidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. Este livro analisa a relação da literatura com a animalidade em uma abordagem inovadora, na qual os animais atuam como instrumentos para a revisão das alteridades. São analisados textos de Kafka, Borges, Clarice Lispector, Murilo Mendes e Guimarães Rosa, dentre outros. MAGALHÃES, Célia. Os monstros e a questão racial na narrativa modernista brasileira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. Este livro analisa a monstruosidade como tecnologia de produção de sentidos em narrativas literárias muito diversas, a exemplo de Drácula, de Bram Stoker, e Macunaíma, de Mário de Andrade, apresentando interpretações de determinados monstros como representantes do parasitismo pós-colonial. MARINHO, Carolina. Poéticas do maravilhoso no cinema e na literatura. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. Este livro, fruto de pesquisa acadêmica, aborda o conceito do maravilhoso na literatura. Há um capítulo especialmente voltado aos contos, além de uma análise de A Bela e a Fera e Eros e Psiquê. MESSIAS, Adriano. A literatura fantástica e o jovem leitor do século XXI. In: Comunicação e Antropoceno. Os desafios do humano. São Paulo: Educ, 2019a. Neste capítulo, o autor comenta como a literatura fantástica é historicamente depreciada na educação formal e na vida literária brasileira, sendo colocada em um plano menor em relação ao chamado “realismo”. Dentre os tópicos abordados, está o da “colonização do leitor”, no qual se discutem as lacunas na formação do leitor em nosso país e os desafios que o educador tem pela frente. MESSIAS, Adriano. Comunicação e Antropoceno. Os desafios do humano. São Paulo: Educ, 2019b. Este livro aprofunda e complementa o tema do Antropoceno incluído na atividade de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, ao mesmo tempo em que traz temas pertinentes ao contemporâneo, como nossas relações com a tecnologia e com a alteridade. MESSIAS, Adriano. Será a condição humana uma monstruosidade? São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2019c. Este livro trata de questões pertinentes ao mundo de hoje, como ética, cultura e tecnologia. Além disso, a obra traz referências sobre filosofia, cinema e psicanálise, questionando a todo instante o alto nível de violência que nossa espécie apresenta perante o planeta. Ele complementa o conhecimento do educador sobre vários tópicos abordados neste material. Aluado e outros contos de alumbramento – Material Digital do Professor
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MESSIAS, Adriano. Todos os monstros da Terra: bestiários do cinema e da literatura. São Paulo: Educ/ Fapesp, 2016. Esta obra se divide em três grandes partes, todas elas abordando a literatura e o cinema fantástico, em intertextualidades variadas com outros campos do saber, como história, geografia, filosofia e idiomas. Ela complementa o conhecimento do educador sobre vários tópicos abordados neste material. PLANCY, J. Collin de. Dicionário infernal. Repertório universal. São Paulo: Edusp; Brasília: Editora Universidade de Brasília; Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2019. Uma das obras máximas de referência e pesquisa sobre o sobrenatural, contendo quinhentas e cinquenta gravuras. O autor viveu no século XVIII e deixou uma compilação essencial sobre monstros para todos os que se interessam pelo assunto, com abordagem multidisciplinar. RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2019. Este livro magistral de Graciliano Ramos é uma boa oportunidade para que os alunos estabeleçam interdiscursividades com o conto Gente-bovina, em especial por ambos os textos animalizarem a condição humana. RAMOS, Hugo de Carvalho. Pelo Caiapó Velho. In: Tropas e boiadas. Domínio público. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cb000001.pdf Acesso em: 3 dez. 2020. Este conto do autor goiano está indicado para a atividade 4: “Animais em contos brasileiros”, página 17. ROSA, João Guimarães. O burrinho pedrês; Conversa de bois. In: Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. Estes dois contos clássicos de Guimarães Rosa estão indicados para a atividade “Animais em contos brasileiros”, página 17. RUBIÃO, Murilo. O ex-mágico da Taberna Minhota. In: Obra completa. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009. Publicados a partir de meados dos anos de 1940, os imperdíveis trinta e três contos fantásticos de Rubião são uma das boas pedidas para se adentrar o gênero em nossa literatura. O autor antecipou até mesmo o que autores como Gabriel García Márquez e Julio Cortázar fariam anos mais tarde. O conto em questão é indicado como sugestão para a primeira atividade deste material e permite boas intertextualidades com as histórias de Aluado... TELLES, Lygia Fagundes. As formigas. In: TAVARES, Braulio (Org.). Páginas de sombra. Contos fantásticos brasileiros. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. Este conto de Lygia Fagundes Telles está indicado para a atividade 4: “Animais em contos brasileiros”, página 17.
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Este Material Digital do Professor foi elaborado por Adriano Messias. Adriano Messias é pesquisador nas áreas de semiótica, educação e ciências da comunicação. Tem pós-doutorado e doutorado em comunicação e semiótica, tendo sido pesquisador visitante em várias universidades estrangeiras, dentre elas, a Universidade Paris 8 e a Universidade Autônoma de Barcelona. É também autor de mais de cem livros de ficção e ganhou prêmios importantes, como o Jabuti. Conteúdo baseado na obra Aluado e outros contos de alumbramento, do autor Adriano Messias, com ilustrações de Carlos Caminha. Créditos do Material Digital Editor: Mário Vinícius Silva Produção editorial: Rafael Borges de Andrade Supervisão pedagógica: Maria Zoé Rios Fonseca Assistente editorial: Olívia Almeida Preparação de texto: Alice Bicalho Revisão: Olívia Almeida Ilustrações: Carlos Caminha Projeto gráfico: Mário Vinícius Silva Diagramação: Elen Carvalho/ Formata Aluar Editora Ltda. Rua Helium, 119 – sala 01 – Nova Floresta Belo Horizonte/MG CEP: 31140-280 aluareditora@aluareditora.com.br