Memórias do Comércio | Campinas

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Hércules Florence, aventureiro e inventor Em abril de 1824, depois de 45 dias de travessia do Atlântico, atracou no Porto do Rio de Janeiro a fragata francesa Marie Thérèze. O navio trazia a bordo um rapazola de 20 anos, o aprendiz de marinheiro Antoine Hercule Romuald Florence, nascido em Nice, em 1804, filho de um professor de desenho e uma pintora, dono de um pendor incontrolável pela aventura e pelas novas descobertas. O Marie Thérèze estava no início de uma viagem de circunavegação do globo, mas algo naquela cidade à beira-mar, abençoada pela natureza, capital de um país emancipado da Coroa portuguesa havia menos de dois anos, chamou a atenção do jovem. A atração tropical foi tão intensa que ele abandonou a Marinha francesa e decidiu fixar-se no Rio. Para sobreviver, empregou-se na loja de modas de um certo Sr. Dillon e, em seguida, na livraria de um outro patrício, o Sr. Plancher. Foi na livraria que tomou conhecimento de um anúncio que circulou nas folhas da época: Hércules Florence, exemplo de maturidade em ciência

“Naturalista russo em viagem pelo Brasil precisa de pintor”. Com o talento herdado dos pais e boa mão para o desenho, candidatou-se e foi aceito, em setembro de 1825, contratado como segundo desenhista – o primeiro era Aimé Adrien Taunay – da nascente missão científica do barão russo Georg Heinrich von Langsdorff (1774–1852). Um trabalho com o gosto irresistível da aventura. Em 1824, com a devida autorização do imperador D. Pedro I, Langsdorff já havia percorrido Minas Gerais em pesquisas científicas. Agora, pretendia atingir a região amazônica a partir do interior paulista. Em setembro de 1825, o escalão precursor – Florence incluso – desembarcou no Porto de Santos. Langsdorff conhecera, em Itu, o botânico austríaco Karl Engler, que lhe sugeriu empreender viagem pelo Rio Tietê até Cuiabá e, dali, para o norte do país, também por via fluvial. Engler indicou pessoas com as quais o barão deveria manter contato na etapa dos preparativos, entre elas o médico e líder político Francisco Álvares de Machado e Vasconcellos, morador de Porto Feliz. Florence foi despachado para Porto Feliz com a tarefa de auxiliar na organização da expedição. Nesse tempo, ocorreram dois fatos que marcariam sua vida para sempre. Um: durante a viagem, conheceu a Vila de São Carlos e encantou-se com as campinas à sua volta. O outro: hospedado na casa de Francisco Álvares, trocou os primeiros olhares com Maria Angélica, filha única do médico, moça com quem se casaria em 1830.

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