Sesc Parque Dom Pedro II: transições culturais da cenografia à arquitetura

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tangencia o designado como perímetro no sentido norte–sul, é acompanhada por um enredado sistema viário cujo objetivo é garantir a presença do transporte público de massa. Portanto, refletem-se no Arco Norte questões do funcionamento urbano associadas à localização próxima do terminal Dom Pedro II. Do ponto de vista funcional, outra característica importante do Arco Norte é a contiguidade com setores urbanos de comércio popular. Além do Mercado Municipal, no interior do perímetro, há um amplo conjunto de ruas comerciais, conhecido genericamente como “região da rua 25 Março”. Trata-se de um dos mais tradicionais e mais frequentados setores comerciais atacadista e varejista da metrópole. O fluxo de transporte público e veículos de carga mais a multidão de frequentadores atraídos pelas atividades ali concentradas geram um ambiente urbano ao mesmo tempo vivo e muito desordenado. O acesso cotidiano a essas ruas flui de diversos pontos, em especial do terminal de ônibus Dom Pedro II e da estação de metrô São Bento. Completando tal caracterização, inclui-se o grande contingente de usuários com origem externa à metrópole que aflui em numerosos ônibus fretados. São consumidores que chegam e partem no mesmo dia. O desembarque, o estacionamento e o embarque nos fretados são improvisados nos espaços livres da antiga área de manobra junto à ferrovia no Pátio do Pari. É dali que a multidão de visitantes caminha para as ruas comerciais. A dispersão dos acessos aos transportes públicos no setor norte do Parque cria intensa circulação de pedestres, expondo seu caráter disfuncional. O foco na demanda permanente de maior capacidade para o tráfego de veículos afastou qualquer tentativa de oferecer qualidade aos percursos de pedestres. As características espaciais e funcionais que ali vigoram cabem bem na definição de espaço urbano implodido. Portanto, considerar os problemas situados fora do

perímetro do Arco Norte é indispensável para que as propostas feitas no seu interior ganhem coerência.

CONDICIONANTES DAS PROPOSTAS DO ARCO NORTE A análise urbana do Arco Norte parte das condicionantes previamente estabelecidas pela PMSP: desapropriação das quadras 34, 35 e 36, entre a avenida Mercúrio, a avenida do Estado e a praça São Vito, onde estavam localizados os edifícios São Vito e Mercúrio; e a demolição do viaduto Diário Popular. A programada demolição dos edifícios Mercúrio e São Vito, seguida pela integração de seus terrenos ao novo parque, possibilita uma nova articulação e a abertura de vias transversais para transpor o rio Tamanduateí, criando condições para uma relação entre o setor norte de outros logradouros, interiores ou adjacentes ao Parque. O partido assumido pelo Projeto é, neste caso, criar relações de continuidade entre espaços importantes que hoje estão desconectados entre si.

AS PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO URBANA As intervenções urbanas no Arco Norte são pautadas por relações multifuncionais que têm no espaço público o seu agente de organização. A circulação de pedestres é o leitmotiv das propostas. Como usuário do transporte público e frequentador de todas as atividades oferecidas, são protagonistas das intervenções. Por se tratar de um movimento de rearticulação, que visa conter ou corrigir a implosão espacial e funcional, as propostas se concentram em enfrentar os problemas existentes, e potencialmente facilitar o acesso aos equipamentos que serão ali instalados. Antecipam estrategicamente um espaço público capaz de receber as novas atividades oferecidas pelos novos equipamentos: Senac e Sesc.

A PRAÇA DO MERCADO COMO PONTO DE CONVERGÊNCIA DA CIRCULAÇÃO PEDESTRE Como histórico equipamento público que permanece pleno de vitalidade, o Mercado Municipal se tornou o centro da reorganização urbana proposta pelo Plano, como detalhado no projeto do Arco Norte. Sua complexidade funcional é enorme e não foi suficientemente enfrentada no belo restauro do edifício realizado pelo poder público no início dos anos 2000: as questões de carga e descarga de mercadoria, mais a presença diária de compradores e frequentadores, ampliadas depois do restauro, exigem ainda transformações estratégicas. Inaugurado em 1933, o Mercadão é um foco do partido para as propostas das transformações urbanas que as análises indicaram. Desde sua inauguração mantém sua atividade de forma muito intensa. Embora o imponente e inovador projeto tenha ocupado toda uma quadra, hoje está bastante cerceado em relação ao seu entorno imediato, carente de um destaque urbano claro, que identifique seus acessos. Essa função é contornada por entradas laterais diretamente ligadas à rua, sem nenhuma transição entre o exterior e o interior. A atual implantação urbana não corresponde a sua importância histórica e merece ser explorada neste Plano e no Projeto para o Arco Norte. A análise urbana conduziu à premissa: o Mercado merece conviver de forma mais destacada com o espaço público no qual está inserido. Deve desempenhar um papel articulador entre os edifícios e os espaços públicos do seu entorno. A realização dessa proposta está condicionada à desapropriação de uma das quadras laterais ao Mercado, a fim de criar um espaço público contíguo ao edifício, a Praça do Mercado. Com mais de 9 mil metros quadrados, essa praça, além de desafogar e demarcar uma passagem clara, permeável entre o espaço externo e interno, terá suas funções ampliadas

ao receber outros acessos, a começar de um estacionamento subterrâneo, já hoje bastante demandado. Outro elemento completará o novo espaço público com a inclusão da estação de metrô Mercado, prevista a partir da futura Linha 19. O impacto dessa nova praça no seu entorno deverá ser considerável. Com a estação, a Praça do Mercado ganhará características de nó de articulação de um sistema de espaços públicos mais qualificado para a circulação pedestre. As novas atividades propostas para o Arco Norte deverão ampliar a sua diversidade funcional em horários mais estendidos. A articulação dos novos equipamentos de cultura, lazer e atividades esportivas, com o transporte público e demais equipamentos e atividades, se tornou uma meta a ser explorada. A proposta privilegiou os acessos aos novos equipamentos, as continuidades do sistema de circulação de pedestres em função do transporte público de massa, incluindo a vizinhança imediata, entre outros edifícios históricos que já possuem programas de lazer e cultura, com destaque para o Museu Catavento e o futuro Museu do Estado, na Casa das Retortas.

LIGAÇÕES TRANSVERSAIS E UMA REDE DE PERCURSOS UNIFICADOS As futuras vias transversais transpondo o Rio Tamanduateí, a interligação do Parque com o Arco Norte e o próprio Centro da cidade configurarão uma única quadra que englobará as duas ruas locais do Arco Norte. O rebaixamento da avenida do Estado irá aproximar o vértice do Arco Norte, que coincide com a ponta norte do próprio Parque e o Mercado Municipal. A partir das possibilidades abertas por essas intervenções propõe-se uma nova rua transversal, de caráter local, separando a nova quadra do Parque. Irá cruzar o rio e fazer a ligação entre as ruas da Figueira e da Cantareira. O rebaixamento da avenida do Estado permitirá também a construção

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