Hidromassagem
nº.18 Escritores brasileiros contemporâneos
Tépido vapor envolve o Box Displicente dispo roupas suadas e empoeiradas e as atiro no cesto. Com elas também me dispo dos problemas, do cansaço. É tão suave o aroma que se eleva da água aromada pelos óleos e pelos sais perfumados que não resisto ao convite e mergulho com prazer. A espuma forma bolhas diáfanas e coloridas que eu sopro levemente. E sorrio qual criança, a criança que já fui que ainda reside em mim e às vezes, por vergonha, impeço de aflorar. Lentamente, minhas mãos mornas e ensaboadas vão percorrendo meu corpo e os fortes jatos de água me transmitem energia. Sinto-me então renovada sem medos, sem incertezas. Somente a cabeça emerge da espuma relaxante. Leve, eu semi-adormeço e os pensamentos libertos não encontrando barreiras, voejam qual borboletas, livres e sem limites. Perdida a noção de tempo e a temperatura da água, um leve tremor no corpo indica o fim do relax. Aqui estou eu, sozinha. Eu e somente eu. Bendigo estes instantes de solidão benfazeja e reencontro comigo. O morno encontro da água com as marcas de meu corpo, sinais do tempo passado e muitos anos vividos, eu com ninguém divido. São meus e de mais ninguém.
Dezembro/2020
Nina de Lima
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