VOLARE
Marcelo Drescher marcelodrescher@gmail.com
Verdade de Rebanho O episódio, ainda não findo, da pandemia mundial de COVID-19, trouxe escassas melhorias, algum retrocesso e muitas, mas muitas, suposições e “certezas” que não se confirmaram. Nada surpreendente, pois a qualquer ser pensante, eram óbvios os motivos que invalidavam as conjecturas, tais como o propalado “novo normal” que, não existiu e, portanto, jamais constituiria futuro breve. Não se muda a cultura de um povo, em tão pouco tempo. Não se alteram hábitos em instantes e sequer globalmente, por motivo de indisposições temporárias. A humanidade já passou por inúmeras fases de decadência, crises, e mantém os velhos maus hábitos com regular insanidade. Certamente, isso se vincula ao fato de que num mundo cada vez mais inundado de informações irrelevantes, qualquer um pode julgar-se com habilidade e conhecimento para o debate, sem dar-se conta de que lhe falta profundidade para desenvolver uma visão lúcida. Hoje, ainda mais se revela valida essa afirmação, pois vivemos assoberbados em face de demandas que nos impomos. Deste modo, cada vez menos tempo dedicamos ao necessário crescimento pessoal, embora, com total insensatez, nos julguemos aptos a recomendar mudanças de caráter coletivo. Ainda bem que, nem sempre a maioria é fator determinante às mudanças estruturais, pois o mundo já seria uma rede social, comandado por algoritmos, no qual fantoches humanos viveriam em eterno êxtase ante a possibilidade de observar a vida alheia, simular realidades e, sobremaneira, massagear o ego a cada “selfie”. Como sei que não existe mais espaço para sonhos nostálgicos, não vou fazê-lo nesse texto. Porém, ao desenvolvimento do tema vou pinçar o raciocínio de Nietzsche quanto a uma antiga e recorrente postura do ser humano que julgo fundamental: A 16 | agairupdate.com | Português
insuficiência da verdade. Em síntese, o filósofo desenvolve o raciocínio de que a verdade não passa de uma multidão móvel de metáforas, conceitos e proposições estabelecidas nas relações humanas, que arranjadas pela retórica, poesia e linguagem, depois de um tempo de uso, estabilizam e se tornam obrigatórias ao olhar de um povo. Assim surge a “verdade de rebanho”. Não podemos esquecer que, em maioria, as verdades são ilusões das quais esquecemos a origem anêmica, frouxa, fraca como moeda que perdeu sua efígie e que não é considerada mais como tal, mas apenas como metal, de pouco ou nenhum valor. Por que digo isso? Minha atividade profissional me faz ver que, de tempos em tempos, uma “onda” parece surgir ao acaso. Não sei se por ímpeto à solução de problemas, ou em razão de que o setor aeroagrícola, por suas características e preocupações inerentes, reserva inúmeras brechas para ações “pirotécnicas”. De modo recorrente parece recrudescer a preocupação com alguns aspectos que não deveriam ser objeto de qualquer inquietação enquanto são mantidos em repouso outros que se constituem motivo de grande apreensão. Para ser prático, posso me referir, por exemplo, a situação de dois profissionais definidos na legislação do setor aeroagrícola, no Brasil: O Agrônomo Coordenador e o Técnico Executor em Aviação Agrícola. O primeiro, não precisa de qualquer treinamento específico para exercer legalmente sua atividade, bastando o diploma universitário, embora sua relevância. O segundo necessita de treinamento peculiar, que apesar de realizado, na prática se revela inútil em face das atribuições conferidas ao profissional. Ora, em relação a este, se assim está é porque o exercício da atividade revela a desnecessidade do treinamento ou do técnico que a teoria preconiza. ➤