editorial editorial
A emergência de uma rede social, política e económica
E
sta seria uma revista comemorativa dos 50 anos de atividade da Câmara de Comércio e Indústria LusoEspanhola. Seria uma revista de balanço, em que puxaríamos o filme atrás, até 1970, para recordar os momentos que, a partir dessa data, marcaram as relações ibéricas. Se fizermos mentalmente esse exercício, teremos que nos lembrar de uma outra Espanha e de um outro Portugal. Teremos que nos lembrar que os dois países conseguiram reconquistar a democracia, que voltaram a dar as mãos, que juntos abraçaram o compromisso europeu, que ambos passaram por crises económicas, que recuperaram… Que recuperaram. Este número da revista iria viajar ao passado, mas também iria tentar perspetivar o futuro: o futuro da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola e o futuro da Península Ibérica… Porém, o presente impôs uma agenda diferente à revista Actualidade, à Câmara de Comércio e Indústria Luso
Espanhola e ao mundo inteiro... Nesta edição não podemos passar ao lado dos efeitos que a pandemia Covid-19 poderá ter na economia, das medidas que Governos e instituições europeias já anunciaram para mitigar o impacto negativo da doença, em quase todas as áreas económicas, mas sobretudo na indústria e no turismo. Portugal e Espanha estão entre os destinos turísticos mais visitados, pelo que estarão também entre os mais penalizados pelo inevitável abrandamento do setor. Como sugere o mais recente filme promocional do Turismo de Portugal: é tempo de parar, de esperar, de pensar, de reequacionar. A pandemia que, alegadamente, começou com um pangolim na China, enviou uma mensagem inequívoca ao mundo. Mesmo que queiramos evitar a metáfora, a verdade é que este estado de emergência sanitária pôs o planeta em descanso: geramos, neste período, menos um milhão de toneladas de dióxido de carbono por dia para a atmosfera, de
acordo com dados compilados pela agência Lusa com base em relatórios internacionais. Quando ainda se fazem contas às vidas perdidas é, por ventura, insensível, contabilizar ganhos, porém, o planeta, a nossa casa comum, sai mais forte desta crise, o que beneficiará os seus habitantes. A Terra continuará, com ou sem habitantes. O futuro do planeta nunca esteve em perigo. As condições de habitabilidade da Terra é que estão a ser ameaçadas. O pangolim, o coronavírus e a Terra obrigaram-nos a abrandar. Os que sobreviverem a esta crise herdam um planeta mais saudável do que o que tinham antes dela, herdam a obrigação de o respeitar, de se respeitarem, de trabalhar em equipa, de “forma coordenada”, como sugeriu António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. O mesmo responsável também deixou claro que é preciso que os mais fortes ajudem os mais fracos. Não restam dúvidas de que o que afeta um lugar do mundo, afeta, potencialmente, o mundo inteiro. Não restam dúvidas de que quando os países mais fortes ou mais bem preparados ajudam os mais débeis, estão a acautelar o seu próprio futuro. Por agora, estamos unidos por um inimigo comum. O sentido comunitário nunca foi tão forte e a rede social, política e económica nunca foi tão emergente. No futuro, teremos um desafio comum: manter essa rede social e essa coesão, porque crescemos melhor quando crescemos juntos. Tem sido essa a missão desta Câmara. É assim que entendemos o futuro. E-mail: smarques@ccile.org
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ABRIL DE 2020