Revista OM Line - 15ª Edição

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Rei da tolerância

Certa vez eu ouvi contar sobre um rei que era mestre em tolerar O seu reino era bem longe daqui Lá todos tinham harmonia entre si Se alguém errava ele dava o seu perdão Demonstrando paciência e compaixão Esse exemplo pelo reino se espalhou e a tolerância a todos coroou Tolerância é aceitar os outros como são Celebrando, assim, as diferenças em um só coração Música de Alex Pochat, do CD “Criança vive cantando”, da editora Brahma Kumaris Clique no ícone acima para ouvir a música


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CARTA AO LEITOR *

gue ou não, em família e uma casa, seja ela grande ou pequena, em lar! Mas para lograr êxito nessa importante tarefa é muito importante ter atitude nos relacionamentos. Que tipo de atitude? Positiva! Substituir competição, comparação e crítica por cooperação, cumplicidade e compaixão. Essa edição da Om Line traz valiosas dicas para que você consiga ser bem sucedido nessa importante tarefa! Lembre-se: a caridade começa em casa!

Saudações de Paz! Já estamos no segundo ano de uma pandemia sem precedentes e devido a necessidade de isolamento social, a maioria de nós está muito mais tempo em casa, convivendo com os familiares. Tempo muito importante para afinar os relacionamentos familiares e criar um ambiente harmonioso, já que seria insuportável transformar os poucos metros quadrados do lar em Goreth Dunningham um campo de batalha! É a união, o e Equipe Om Line amor e o respeito que tornam um grupo de pessoas do mesmo san-


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SUMÁRIO *

32. MATÉRIA DE CAPA Atitude e vibrações mudam o mundo Patrícia Carvalho

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8. OM PRIMEIRA PALAVRA

46. OM INSPIRAÇÃO

Teorias, crenças e desculpas Ken O’Donnell

Fonte de felicidade BK Surendran

12. OM ESTILO DE VIDA

54. OM VIRTUDES

Como tratar-se com leveza Brijmohan

Virtudes & Relacionamentos Paulo Sergio Barros

20. OM TRANSFORMAÇÃO

58. OM COMIDA PURA

A vida em equilíbrio Charlie Hogg

O sabor de fazer o bem Ana Paula Paixão

28. OM ATITUDE

60. OM ÚLTIMA PALAVRA

Atitude nos relacionamentos Maureen McCaldin

Sabedoria prática Dadi Janki

36. OM CONHECIMENTO

68. MEDITAÇÕES OM LINE

Administrando a raiva Yogesh Sharda

O relacionamento com a Alma Suprema Luciana Ferraz

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ESPAÇO DO LEITOR *

OM SHANTI!

EXPEDIENTE Editora: Goreth Dunningham Design e diagramação: Felipe Arcoverde Revisão: Valéria Ferreira Amores Site: Ricardo Skaf Mídias Socias: Naiara Rios Colaboração: Samanta Brandão e Sandra Costa Ilustrações: Freepik.com

Envie para nós os seus e-mails, dúvidas e sugestões, através do Facebook e Instagram ou e-mail: revista.omline@br.brahmakumaris.org Facebook.com/omlinebrahmakumaris Instagram.com/omlinebrahmakumaris www.brahmakumaris.org.br/revista

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LIVE OM LINE *

As lives da Om line acontecem todos os sábados às 17h, direto pelo instagram @omlinebrahmakumaris

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A arte de manter bons sentimentos por todos

Silenciar para acessar o coração

Como ir além das influências

Litsa Silva bancária, graduada em Letras pela USP e pós-graduada em Administração pela FGV. Praticante e professora de meditação Raja Yoga.

Mariana Santos estuda e pratica a meditação Raja Yoga há 9 anos e é professora em São Paulo-SP. Atua profissionalmente como designer gráfica.

Benedita Sousa comerciária, praticante de meditação há 29 anos e professora de Raja Yoga em Fortaleza-CE.

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OM PRIMEIRA PALAVRA * por Ken O’Donnell

Teorias, crenças e desculpas Praticamente todas as nossas crenças populares ainda são apenas teorias

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- Que somos os descendentes dos macacos; - Que nossos ancestrais eram habitantes de cavernas; - Que o universo começou com um big bang ou por algum ato divino; - Que tal e tal fundador de uma religião é o único representante legítimo da verdade; - Que todos nós somos iguais; que a violência é natural para o ser humano. A lista de nossas crenças em nível pessoal continua... As crenças sobre o que pode nos fazer felizes são em sua maioria um monte de premissas, baseadas mais na esperança do que em uma percepção real do mundo e de nossos relacionamentos. As teorias não são verdades absolutas. Um bom exercício seria percorrer nossas teorias convenientes, porém basicamente infundadas, sobre crenças e reescrevê-las: - Meu marido, esposa é ... - Minha religião, minha raça, minha cultura é melhor do que... - Eu não consigo mudar... - Eu sou preguiçoso demais...

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OM PRIMEIRA PALAVRA * por Ken O’Donnell

O que temos que fazer é aprender a explicar honestamente quaisquer falhas que possamos ter.

Nenhuma crença ou teoria é fixa para sempre. Se pudéssemos realmente ir a um nível mais profundo de percepção, provavelmente as mudaríamos. Se tivéssemos o poder, também seríamos capazes de ver como as desculpas são as principais armas de nossas premissas instáveis e como as desculpas realmente bloqueiam a verdade. Recentemente, encontrei uma frase de uma fonte anônima: “As desculpas são ferramentas de incompetência. Elas constroem pontes para o nada e monumentos do nada”. Eu iria um passo além e sugeriria que as desculpas são mentiras maiores e menores para escapar da responsabilidade, do constrangimento ou da realização da extensão de algum mau hábito. O que temos que fazer é aprender a

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explicar honestamente quaisquer falhas que possamos ter. Comi essa terceira fatia de pizza porque queria agradar à pessoa que a fez. Não. Realmente o fiz por causa da gula não mitigada. Eu não me levantei esta manhã para minha prática de meditação porque ontem tive um dia difícil. Na realidade, eu realmente não me levantei por causa da pura preguiça. A frase, sei que tive que fazer X, mas fiz Y por causa de..., só é real se o Y era tão importante ou inevitável que eu não podia fazer mais nada. Não deveria ser uma tentativa fuleira de evitar a vergonha ou a revelação de minha incompetência. Se eu me tornar um especialista em arranjar desculpas, duas coisas acontecerão: - Vou começar a acreditar nelas. - O verdadeiro autoprogresso vai parar.

Se eu continuar sempre dando desculpas, então raramente conseguirei algo que valha a pena. Se eu aprender a esclarecer honestamente o que realmente acontece, aprenderei com isso, manterei meu autorrespeito e realmente contribuirei para um eu melhor e um mundo melhor. *

Ken O’Donnell é praticante e professor de meditação há mais de 40 anos. É autor de 18 livros sobre desenvolvimento pessoal e de organizações. Atua profissionalmente como consultor internacional nas áreas de planejamento e gestão. É Coordenador da Brahma Kumaris para a América do Sul.

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OM ESTILO DE VIDA * por Brij Mohan

Como tratar-se com leveza Texto retirado e traduzido da revista “Retreat Magazine”, edição nº 3

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Uma mente sobrecarregada pode proporcionar momentos de prazer de curta duração, mas não pode proporcionar felicidade verdadeira. Permanecer sempre leve é a chave para a felicidade. Nas condiçoes de hoje, manter a habilidade de tratar a si e aos outros com leveza, talvez seja a capacidade numero um que devemos cultivar. Há uma necessidade vital de desenvolver poderes interiores para “agir com calma” aconteça o que acontecer. Entende-se amplamente que o estado mental de alguém depende de sua atitude em relação às pessoas, objetos presentes e aos eventos que ocorrem ao seu redor. Há também um ditado que diz: “Você não pode mudar os

eventos, mas pode mudar sua atitude em relação a eles.” Ainda assim, quando situações reais surgem, uma mudança de atitude é difícil porque há mentalidade pré formada. Essa atitude é determinada por orgulhos e preconceitos, desejos e ambições, prioridades e preferências, necessidades e compulsões. Esses, por sua vez, entre outros fatores, são influenciados por hábitos e adições, aprendizagens e dependências, crenças e perspectivas, caprichos e fantasias. As predisposições assim formadas, produzem certos “puxa e empurra” mentais que determinam respostas e reações a situações externas. É por isso que as atitudes

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OM ESTILO DE VIDA * por Brij Mohan

em direção a um mesmo evento variam de pessoa a pessoa. Novos paradigmas são necessários para romper a velha mentalidade e criar capacidades internas que possam automaticamente dar conta de tudo com o que você se depara. A primeira mudança de atitude fundamental para permanecer “leve” é sempre manter uma firme resolução de fazer isso. Conforme você pensa, se torna. A palavra “leve” (“light”) no sentido espiritual, também significa iluminação que dissipa a escuridão interior da ignorância, ilusão, dúvida e confusão. Isso nos capacita a visualizar as coisas em sua forma verdadeira.

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Como resultado, o engano é eliminado. Confiança e clareza mudam as condições de medo e ansiedade em júbilo e felicidade. A partir disso, segue-se uma segunda mudança de atitude: considerar a vida como uma celebração e não como uma luta ou zona de guerra. Saudações e bons votos trocados em celebrações são sempre uma fonte de grande júbilo e felicidade. De igual modo, tornar-se um doador de bons votos a todos é o meio mais fácil de tornar sua vida uma celebração. Na raiz de sua atitude encontram-se seus sistemas de crença. A falha básica maior e mais


A falha básica maior e mais comum no sistema de crenças de hoje é a consciência de corpo, ou seja, identificar-se com o corpo mortal ao invés de com a entidade imortal chamada “alma”, o que realmente somos.

comum no sistema de crenças de hoje é a consciência de corpo, ou seja, identificar-se com o corpo mortal ao invés de com a entidade imortal chamada “alma”, o que realmente somos. Essa crise de identidade é a mãe de todas as outras crises. O você eterno – a alma – é uma entidade autoconsciente, um ponto de luz imperecível. Suas qualidades inatas originais são amor, paz, felicidade e bem-aventurança. Contanto que

você permaneça estabilizado no estado de consciência de alma, e use seu corpo como um instrumento, você permanecerá leve porque, primeiramente, sua própria existência é a de ser uma luz autoconsciente e, em segundo lugar, seus pensamentos, palavras e atos serão conforme suas qualidades inatas. Por ser feito de matéria, o corpo e seus órgãos dos sentidos podem apenas proporcionar praze-

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OM ESTILO DE VIDA * por Brij Mohan

res sensoriais de curta duração e dependentes de fatores externos. A consciência de corpo conduz à adoção de valores materiais que afetam a mente, destruindo sua pureza original das suas qualidades inatas e, de fato, o processo inteiro de pensamentos. Como resultado, inveja, ódio, raiva e outros tipos de negatividade conduzem a pensamentos e ações prejudiciais. A negatividade produz pensamentos inúteis e aumenta o número e velocidade dos pensamentos. Isso dilui a qualidade dos pensamentos, e, consequentemente, a qualidade de vida.

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Pensamentos inúteis produzem doenças de atitude como dúvidas, apreensões, medos etc e removem todo o ânimo e entusiasmo da vida. Isso resulta em letargia e preguiça. Desse modo, a negatividade enfraquece a mente e a mente se torna propensa a sofrer influências externas. A autorrealização ou consciência de alma, por outro lado, conduz à verdade de que as qualidades originais da alma de amor, paz, felicidade e bem-aventurança são todas não-materiais como a própria alma. Mesmo os traços negativos ou perversões como arrogância,


raiva, ódio, inveja ou os estresses e tensões produzidos por esses vícios são de natureza imaterial. Desse modo, a ação corretiva necessária em relação a isso, tem de ser essencialmente tomada ao nível das nossas crenças básicas. Uma jornada interior é, portanto, um pré-requisito essencial para desfrutar de uma jornada externa feliz por essa vida e além. A autorrealização nos capacita a facilmente largar o passado. Ao invés de arrepender-se, ela nos capacita a ganhar experiência valiosa a partir dos erros passados e aumenta nossos poderes de tole-

rância, paciência. Quando começamos a aprender com os erros, o ditado “Tudo o que acontece é o melhor”, torna-se claro. Os erros não são repetidos. A atenção ajuda a evitar a tensão. A redução de pensamentos inúteis melhora a qualidade dos pensamentos. A força de vontade dá lugar a todos os seus poderes internos como tolerância, discriminação, julgamento, concentração, cooperação. A vontade de uma pessoa com um bom reservatório de poderes internos, sempre prevalecerá. Vem daí o ditado: “Onde há vontade há um caminho”. Uma

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OM ESTILO DE VIDA * por Brij Mohan

Ânimo e entusiasmo são o resultado natural do sucesso e se tornam, por sua vez, o poder motivador de sucesso adicional. Andar de sucesso em sucesso sempre nos manterá de bom humor.

força de vontade firme nos capacita a transformar uma situação de possível fracasso em sucesso; assim como num jogo de cricket um bom batedor converte uma bola difícil num ponto certeiro com uma mera tacada de seu bastão. Uma força de vontade firme não apenas nos protege de influências externas adversas, mas nos empodera a exercer influência sobre o ambiente exter-

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no, do mesmo modo que uma semente de roseira produz rosas fragrantes a partir de um monte de esterco. Ânimo e entusiasmo são o resultado natural do sucesso e se tornam, por sua vez, o poder motivador de sucesso adicional. Andar de sucesso em sucesso sempre nos manterá de bom humor. Essa é a fórmula para permanecermos leves e felizes em todas as circunstâncias.


Mas como aumentar a força de vontade? Ela não é um poder físico a ser adquirido por quaisquer meios materiais. Os pensamentos inúteis e negativos têm de ser eliminados para aumentar a força de vontade. O dilema, no entanto, é que eles surgem quando a força de vontade é enfraquecida quando é necessário haver força de vontade firme para destruí-los. Então, como fazer isso? Assim como a negatividade reduz a força de vontade, é o pensamento positivo que a gera. A assimilação de virtudes como humildade, con-

tentamento, desapego e compaixão, um estilo de vida simples, boa companhia, pureza de alimentos e tornar-se um doador de bons votos a todos nos ajuda a fazer isso. *

Brij Mohan é editor do jornal “Purity” e secretário da Fundação de Raja Yoga e Pesquisa Educativa.

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OM TRANSFORMAÇÃO * por Charlie Hogg

A vida em equilíbrio Alguns incidentes na infância deixam impressões profundas. Eu tenho a memória profunda de um programa de TV que mostrava um equilibrista numa corda bamba cruzando as Cachoeiras Niágara. Fiquei fascinado ao vê-lo cuidadosamente colocando um pé na frente do outro, num estado de total concentração. Às vezes, ele parava para reequilibrar-se e reavaliar sua posição. Ape-

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nas uma escorregadela ou um leve desequilíbrio e ele poderia ter caído centenas de metros nas águas brancas turbulentas abaixo. Era de tirar o fôlego. Alguns de nós sentem que a vida se assemelha a isso. Encontrar nosso equilíbrio interno enquanto vivendo entre muitos extremos, como o equilibrista na corda bamba, pode ser precário. Pode criar tensão extraordinária. Vivemos num mundo de dualidade e a cada segundo temos de tomar decisões sobre onde nos posicionar entre tantos extremos. Eu deveria tolerar a situação em silêncio ou enfrentá-la e expressar o que realmente sinto? Estou partindo de um ponto de autorrespeito ou estou apenas sendo arrogante? Estou sendo egoísta ou estou apenas sendo sensato e cui-

dando das minhas necessidades? Quando eu deveria deixar as coisas apenas serem e quando deveria impor o que quero? A filosofia taoísta expressa esses dilemas no antigo símbolo yin/yang. Em quase cada segundo nos deparamos com a dualidade dos opostos. Infelizmente, não há uma fórmula para encontrar o equilíbrio certo. Cada situação requer uma mistura diferente de forças aparentemente diametralmente opostas. Algumas situações requerem que sejamos totalmente assertivos e expressemos nossos sentimentos. Outras, requerem que larguemos algo em favor das necessidades e desejos de outros, e outras vezes, uma mistura dos dois. Cada situação depende da nossa habilidade de ver objetivamente a situação e discernir o caminho do

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OM TRANSFORMAÇÃO * por Charlie Hogg

meio. Na minha experiência, o caminho do meio significa encontrar um ponto de silêncio a partir do qual observo todas as marés das influências e opiniões. A partir desse ponto, vejo claramente o caminho a seguir. A maioria de nós considera a vida um malabarismo constante no qual tentamos cumprir muitas responsabilidades. Primeiramente, com nossa família e amigos – a maioria de nós sente que os relacionamentos são a prioridade mais alta. Em segundo, nossas responsabilidades na carreira escolhida. Em terceiro, com os nossos outros interesses, sejam serviço comunitário, esportes ou simplesmente recreação. Negligenciar um desses pode criar estresse. O maior estresse não vem do excesso de trabalho, mas da preocupação de que estamos negligenciando

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uma área de nossa vida. Todos sabemos que os workaditos (pessoas que são viciadas em trabalho) que podem ser brilhantes em sua área, frequentemente fogem de áreas de suas vidas que consideram difíceis. Talvez haja conflito em casa, ou até mesmo falta de autoestima. Entrar num extremo é geralmente um sinal de estar encobrindo uma falta em outra área. Parecemos buscar as coisas nas quais somos bons, mas, com muita esperteza, criando nossa vida a fim de evitar as coisas que nos desafiam e consideramos difíceis. Um palestrante renomado certa vez me disse que se sentia muito seguro na frente de uma multidão, mas quando a comunicação era um a um, ele frequentemente se sentia totalmente inadequado e por isso a evitava. O resultado? Desequilíbrio!


Eu adotei a prática de meditação quando tinha vinte e um anos. Um dos maravilhosos benefícios da meditação que descobri foi a arte de me ver objetivamente como membro de uma plateia assistindo ao meu próprio desempenho no palco. Enquanto me observava, podia ver quão duramente estava tentando agradar aos outros, constantemente comprometendo o que eu realmente queria ou precisava. Era mais importante buscar o respeito dos outros do que o de mim mesmo. O resultado? Mais desequilíbrio. Então, tenho uma responsabilidade comigo. Qual é ela? Quantos de nós alcançamos um ponto onde a ansiedade de fazer malabarismo com nossas diversas responsabilidades alcança um extremo? É frequentemente nesse ponto que

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OM TRANSFORMAÇÃO * por Charlie Hogg

reavaliamos nossas prioridades. Um pesquisador social australiano chamado Hugh Mackay, descreveu os anos 80 como “os ansiosos 80”. Ele observou que muitas pessoas estavam optando pela “jornada interior”; uma total mudança de atitude onde começamos a olhar para dentro para resolver nossa ansiedade e extremismos. Incriminar os outros e as situações é o caminho do autoengano, enquanto assumir responsabilidade sobre como me sinto é meu verdadeiro caminho. Eu nem resisto aos desafios que a vida me traz, nem sou subjugado por eles. MAS COMO ENCONTRAR NOSSO PONTO DE EQUILÍBRIO EM CADA SITUAÇÃO? Precisamos nos arrancar totalmente da influência, opiniões e até mesmo

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percepções passadas e assumir uma “visão de helicóptero”. A partir dela podemos ver com clareza o quadro completo. O desapego sempre foi a marca dos grandes pensadores porque apenas quando vemos a situação como um observador desapegado, podemos perceber a verdade. De outro modo, nossas emoções, desejos ou apegos nublam nossa clareza. O desapego é tão necessário para encontrar o verdadeiro equilíbrio, para muitos de nós, porém, ele pode parecer frio e sem alma. É por isso que o primeiro e principal equilíbrio é entre amor e desapego. Amor é a maior necessidade. Aqueles que sempre expressam seu amor com motivação pura sempre se sentem cheios de amor. Mas para ser verdadeiramente


amorosos, precisamos de desapego. Quando estamos desapegados dos outros não ficamos irritados ou afetados por suas ações, de modo que podemos manter nosso amor. Nosso amor não é condicionado às respostas dos outros. Não estamos negociando no comércio do amor que diz “Se você fizer isso, apenas então receberá meu amor.” Às vezes temos de mostrar amor e apoio totais, outras vezes, temos de dar um passo atrás e permitir que os outros se apoiem sobre seus próprios pés. Aqui, nosso desapego pode ser uma forma de respeito, quando os outros podem se virar sem nós. Ser amoroso e desapegado é como uma proteção de diferentes influências e atmosferas onde os humores, imprecisões e percepções dos outros não são ca-

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OM TRANSFORMAÇÃO * por Charlie Hogg

pazes de perturbar nossa clareza. A prática da meditação nos leva naturalmente à “visão de helicóptero”, a partir da qual você pode ver o quadro completo e tornar-se uma pessoa mais equilibrada. Algumas áreas nas quais você encontrará equilíbrio são: ANÁLISE E ACEITAÇÃO Algumas situações requerem análise clara, mas a análise não encerra a questão. A mente repete eventos de novo e de novo e tentamos manter nossa objetividade. Porém, a aceitação pode “limpar” sentimentos subjetivos e nos permitir seguir com a vida. Aceitação não significa negação ou repressão, mas uma sabedoria mais profunda que entende que nada mais pode ser feito. Tudo o que podemos fazer é extrair a li-

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ção do que aconteceu e progredir em direção ao futuro. HUMILDADE E AUTORIDADE Quando temos autorrespeito, nossas palavras e atos expressam humildade. Alguns dizem que admiram a humildade, e ainda assim, sentem que as pessoas humildes podem se tornar capachos. A verdadeira humildade, porém, é um ponto de força e autoridade gentil. Isso é auto autoridade, não uma autoridade que impõe controle sobre outros. Alguém que é humilde falará com verdade, mas sua autoridade não ferirá os corações dos outros. Os outros admirarão a dignidade e auto segurança dessa pessoa. O equilíbrio entre humildade e autodomínio é a fundação de um grande líder.


SATISFAÇÃO E AMBIÇÃO Algumas pessoas nunca ficam satisfeitas. Não importa o quanto elas tenham, querem sempre mais. É um tipo cancerígeno de falta de paz interior que nunca lhes permite acalmar-se e desfrutar do presente. Outras parecem não ter motivação para melhorar em qualquer nível. Um dos benefícios da prática de meditação é descobri uma consciência profunda do nosso eu espiritual e nosso relacionamento com Deus. Isso esfria a ambição de reconhecimento e cria uma sensação de plenitude e contentamento. No entanto, mesmo com essa satisfação interior, pode ainda haver a ambição de melhorar nossa vida e ajudar outros. Mas essa não é uma ambição que busca a aprovação dos outros – vem de um ponto de genuína benevolência. *

Charlie Hogg é praticante de meditação há mais de 40 anos, vive em Sydney, coordenador nacional da Brahma Kumaris na Austrália. Tem participado de fóruns, seminários, retiros e workshops em mais de 60 países.

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OM ATITUDE * por Maureen McCaldin

ATITUDE NOS RELACIONAMENTOS Texto retirado e traduzido do Blog BK Inspired Stillness

Nossa atitude cria nossa percepção do que está acontecendo nos nossos relacionamentos e em nossa vida. Se tenho a atitude de que algo é irritante, sempre encontrarei algo irritante no comportamento dessa pessoa, de modo que minha atitude é um enquadramento mental que determina minha experiência do relacionamento. Essa atitude de

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irritação vem do ego. A atitude do ego é de egoísmo e se baseia nos eventos de vida limitados nesse mundo físico; enquanto a atitude de um anjo, nossa identidade verdadeira, é benevolente e altruísta, de doar e aceitar os outros como são, e estar ciente do quadro maior além dos eventos do mundo físico – a história do drama.


Relacionamentos Todos são anjos?

Todos nós somos almas e, portanto, seres angélicos que têm as adoráveis qualidades da alma – paz, amor, felicidade. Esse entendimento nos capacita a apreciar a beleza natural da identidade verdadeira de todos.

Drama da vida

De onde vêm nossos gostos e desgostos? Os gostos e desgostos pessoais vêm quando o ego apenas vê o papel que o outro está desempenhando e não vê o ser angélico/ alma. Numa peça de teatro, podemos gostar de Cinderela e não gostar das Irmãs Más, mas os atores não são esses papéis que estão desempenhando. Do mesmo modo, nós, as almas, somos todos atores desempenhando nossos papéis nesse drama da vida. De modo que nós, as almas-atores, podemos ter uma atitude de aceitação em relação a todos porque entendemos que cada alma está desempenhando seu papel acuradamente e o papel que elas estão desempenhando não é quem elas são. edição 15 / ano 04

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OM ATITUDE * por Maureen McCaldin

Opiniões do ego De onde vêm as opiniões?

Nós criamos uma estrutura de crenças a partir de todas as influências externas que experimentamos, a partir da cultura na qual crescemos. A maioria das pessoas são influenciadas por seus pais, seu grupo de pares e outras coisas como a mídia. A partir desses sistemas de crença, vêm as opiniões. Os gostos e desgostos são opiniões do ego. As opiniões não são a verdade porque podem mudar (e a verdade é o que não muda). Também, os outros podem desgostar daqueles que gostamos e gostar daqueles de quem não gostamos. Quem está certo?

Expectativas do ego O que eles são?

As expectativas são uma forma de desejo. O ego tem a atitude de que as pessoas com as quais interage deveriam preencher suas expectativas que são geralmente centradas em como o ego gostaria que o outro fosse. O ego cria apegos com a atitude de que “eu amarei você, mas apenas se você me amar.” O ego dará amor apenas com a expectativa de que receberá amor, pois precisa de afirmação constante de que é digno de ser amado. Se o amor não é retornado, o ego procurará em outra parte ou se vingará de que alguém não está retornando o seu amor, por exemplo, recusando-se a falar com o outro por uma semana ou mais. O mesmo se aplica ao respeito. O ego cria expectativas de que receberá respeito dos outros e depende de receber esse respeito para ajudá-lo a parecer digno.

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Consciência

Onde se encontra o seu poder? Quando criamos uma dependência de expectativas, ou seja, nossa felicidade se tornou dependente de um outro, damos ao outro nosso poder de experimentar felicidade. É como se o ego estivesse sinalizando que todos lá fora são responsáveis pela nossa felicidade quando na realidade, todos sabemos que apenas nós mesmos somos responsáveis pela nossa felicidade – ninguém nos torna infelizes. Nós sempre temos de voltar ao entendimento de quem realmente somos, a alma-ator eterna desempenhando um papel no drama da vida. O papel não é quem somos, mas o ego assumiu o controle do nosso senso de “eu” e colocou esse senso de “eu” nos papéis que desempenhamos. Consequentemente, podemos ficar presos em relacionamentos no drama e nos tornar dependentes deles. Quando despertamos e entendemos que somos seres espirituais e não um papel no drama, compreendemos que o amor serve aos relacionamentos e não o ego.

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MATÉRIA DE CAPA * por Patrícia Carvalho

ATITUDE E VIBRAÇÕES MUDAM O MUNDO 32


“Atitude é uma pequena coisa que faz uma grande diferença” Clarice Lispector

Atitude pode ser definida como uma predisposição interna, que determina a nossa percepção, e por consequência, a forma como interagimos com as diversas situações e pessoas que encontramos nessa jornada da vida. Uma forma fácil de entendê-la é descrever a atitude como as lentes através das quais vemos o mundo. Se as lentes são cor de rosa, tudo à nossa volta será colorido. Se as lentes são pretas tudo vai parecer sombreado. Atitude é a semente que uma vez plantada pode nos dar o fruto correspondente. Se a atitude é negativa, dificilmente o resultado será felicidade, leveza, sucesso. E se a predisposição interna frente à uma situação é positiva certamente haverá aprendizado, aquisição, cooperação, superação, humildade, conquista. Também podemos afirmar que a atitude está diretamente relacionada às escolhas que fazemos. Não apenas escolhas externas, mas escolhas internas. Podemos escolher atuar a partir de velhos traços de personalidade ou hábitos que edição 15 / ano 04

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MATÉRIA DE CAPA * por Patrícia Carvalho

tendem a nos aprisionar em resultados limitados, tingidos de passado, carregando consigo rancor, medo, insegurança, ou podemos escolher agir fora da caixa, treinar novas maneiras de ser, acionar novos espaços internos, mais arejados, impregnados de novidade, de criatividade, e estarmos assim abertos para que novas experiências surjam. Podemos escolher aplicar um ponto final ao segundo que acabou de passar e começar a escrever uma nova linha a cada nova palavra no horizonte da vida. Fica fácil estabelecer a relação entre atitude e relacionamentos. Primeiro, porque atraímos pessoas e situações a partir da nossa energia mental. E se nossa energia flui com leveza e liberdade, seremos capazes de atrair pessoas que estejam vibrando na mesma polaridade, ou que tenham isso como meta, e talvez se aproximem de mim para também se libertarem 34

do passado. Logo, podemos afirmar que atraímos ao nosso convívio a companhia que quisermos. E se sentimos que precisamos mudar de companhia, uma boa idéia é começar a mudar a si mesmo. Você é o imã. Depois, uma atitude positiva, de aceitação e não julgamento cria um ambiente favorável para que não apenas as outras pessoas possam expressar o melhor de si mesmas, ou seja, aquilo que elas realmente são, e que tem um valor inestimável, permitindo também que você encontre o seu propósito. Aquilo que é singular em você e que nunca vai se manifestar enquanto você tentar ser alguém que você imagina que irá agradar alguém mais. Uma outra atitude saudável nos relacionamentos é o respeito pela individualidade alheia. Podemos compartilhar momentos de nossa vida, mas a jornada de cada um é in-


dividual. Não possuímos ninguém, e libertar-se de dependências também garante o fluxo. Nesse caso, ter a clareza de que sou o suficiente. E não poderíamos deixar de mencionar a atitude de resiliência. Capacidade de levantar-se de novo, não importa qual tenha sido a situação que derrubou você. Levantar-se de novo sem desconectar-se de seu valor, de sua singularidade, de sua beleza original, de sua essência, de sua doçura. Ou como dizem: “Hay que endurecer-se, pero sin perder la ternura jamás”. Che Outros ingredientes importantes para manter relacionamentos saudáveis são: a cooperação – quando ajudo o outro , ganhamos todos, crescemos juntos – a apreciação, identificar a singularidade de cada um, fé, a convicção na benevolência, empatia, ferramenta de conexão, confiança, a capacidade de nunca questionar as intenções do outro.

Importante mencionarmos que atitude é uma prática, um ato, uma resposta, uma postura frente à vida. Atitude é ativa, e por isso transformadora. Transforma minhas possibilidades, abre caminhos em direção à plenitude de ser. E ainda mais importante: Nunca é tarde para recomeçar. A hora é agora. *

Patrícia Carvalho é cirurgiã-dentista, praticante de meditação Raja Yoga há 30 anos.

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OM CONHECIMENTO * por Yogesh Sharda

ADMINISTRANDO A RAIVA Texto retirado e traduzido da revista “Heart & Soul”, edição nº 16

Se perguntássemos a um grupo de pessoas o que dispara sua raiva, suspeito que haveria uma ampla gama de respostas. No entanto, uma coisa de que estou certo é que, seja qual for a causa, mesmo uma única palavra falada com raiva, pode deixar uma impressão no coração de uma pessoa que permanecerá por um longo tempo e poderá arruinar a beleza de qualquer relacionamento. Um sábio famoso certa vez disse “Como pode haver paz na terra se os corações das pessoas são como vulcões?” Apenas quando dentro das pessoas há paz e liberação de raiva, elas


podem viver em harmonia com os outros. Então, como podemos criar esse sentimento de paz dentro de nós? Isso começa com a compreensão de que, de fato, temos a escolha de pensar e sentir como queremos. Se olhássemos para o que nos torna raivosos, poderíamos descobrir que não há nada que tenha o poder de nos fazer sentir assim. `Podemos apenas permitir que algo dispare nossa raiva – a raiva é como respondemos a algum evento ou a alguém. Porém, porque estamos tão acostumados a reagir por impulso, esquecemos de escolher como queremos nos sentir e, então, respondemos inapropriadamente e ficamos com sentimentos raivosos. Alguma vez você ouviu alguém dizer “Eu odeio quando você fala assim comigo?” Uma lição que aprendi é que por mais que eu tente não posso controlar circunstâncias, pessoas e situações, pois elas estão constantemente mudando. A única coisa que posso controlar é o modo como decido responder. Apenas eu posso aumentar minha capacidade de tolerar; apenas eu posso desenvolver minha habilidade de entender; e apenas eu posso nutrir meu amor pelos outros, independente de se um dia eles me elogiam e no dia seguinte, difamam. A vida atual vem com um conjunto de desafios. Ao enfrentá-los, vi que cada ação dentro do nosso mundo faz parte de um grande drama ou jogo. E dentro desse drama,

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OM CONHECIMENTO * por Yogesh Sharda

cada indivíduo particular tem seu papel único a desempenhar, o que é, essencialmente, uma expressão do seu próprio eu interior. Quando aceito isso, ao invés de usar meu tempo mantendo um olhar no que os outros estão fazendo, posso começar a usar minha energia para desempenhar meu próprio papel o melhor que eu puder. Compreendo que não posso possuir ou ser dono do comportamento dos outros, porque, se o fizer, isso provocará conflitos. Ao invés disso, preciso praticar o entendimento de que, independentemente de qual ação alguém possa estar fazendo, de acordo com seu próprio papel dentro da peça, há alguma razão pela qual eles estão se comportando assim. Portanto, devo tentar não saltar a conclusões muito facilmente; e ao invés de tentar controlar o comportamento de uma outra pessoa, será mais fácil e produtivo focar minha energia nas minhas próprias ações. Então, o que há de tão errado em julgar as ações dos outros? Há um perigo de que se nos tornemos preocupados demais com a atividade dos outros, podemos começar a sentir raiva das pessoas, o que pode nos levar a desprezá-las. Nós as colocamos numa espécie de caixa e colamos nela um rótulo. Então, sempre que entramos em conato com essa pessoa, a vemos à luz do seu erro passado. Ao fazer isso, porém, estamos efetivamente aprisionando-a em suas ações passadas. No entanto, se permitimos à pes-

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soa a dignidade de realmente aprender com seus erros – se nossa visão lhes permite fazer isso – então, cedo ou tarde, é possível que essa pessoa se transforme. Esse conceito da vida ser um drama, pode nos ajudar a desapegar do que está acontecendo ao nosso redor, e, esse desapego ou espaço é de grande ajuda para aprender a não julgar os outros rapidamente. Se criamos um pequeno espaço, um espaço saudável entre nós e o drama da vida, vemos que esse espaço age como um amortecedor. Nem iremos saltar e apertar a garganta de alguém, nem o drama da vida será capaz de nos pegar desprevenidos. Esse é um dos muitos benefícios de praticar meditação. Ela nos ajuda a criar um espaço pessoal dentro de nós de modo que temos a chance de olhar e pesar a situação e responder de acordo, permanecendo num estado de autocontrole. Quando temos raiva, não temos autocontrole. Naquele momento, estamos num estado de caos interior e a raiva pode ser uma força destrutiva. Diz-se frequentemente, que a raiva pode ser útil. As pessoas dizem “Veja todos os problemas que há no mundo, certamente a menos que alguém fique com raiva, nenhuma atitude será tomada.” Isso me lembra da história sobre um sábio sentado à beira de um rio falando com um grupo de discípulos. Um inseto rastejou até sua mão e o mordeu fortemente. Enquanto fazia isso, escor-


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OM CONHECIMENTO * por Yogesh Sharda

regou e caiu no rio. O sábio viu o inseto se debatendo no rio, então o pegou e colocou de volta no chão. Alguns minutos depois, o mesmo inseto rastejou até a mão e do sábio, mordeu seu dedo, e de novo escorregou e caiu no rio. O sábio pegou o inseto e o colocou de volta no chão. Quando isso aconteceu pela terceira vez, um dos discípulos lhe disse “Mestre, por que estais fazendo isso? O inseto vos morde e ainda assim o salvais. Por que não o deixais se afogar e então ele não poderá mais morder-vos?” Ele respondeu “É a natureza do inseto morder, e é a minha natureza salvar.” Similarmente, a natureza de alguém pode ser de criticar ou caluniar ou até mesmo nos desafiar. Ainda assim, isso está completamente fora do nosso controle. Podemos fazer apenas o que temos de fazer. Não podemos justificar uma ação negativa dizendo “Você também faz isso.” Se dizemos isso, estamos dizendo “Eu apenas crescerei e mudarei quando você decidir crescer e mudar. Está nas suas mãos.” Mas pode haver qualquer crescimento assim? Se esperamos pelos outros mudarem teríamos de esperar um tempo demasiadamente longo. A raiva é, às vezes, usada como uma espécie de mecanismo de autodefesa, uma sentinela postada frente às paredes da fortaleza do nosso eu interior. Quando qualquer um tenta nos atacar ou criticar, a raiva emerge e reage: “Quem você pensa que é?


“Raiva é a emoção que tenta manter unidas todas as outras ilusões. Se alguém tenta atacar aquilo em que acreditamos ou com o que nos importamos, a raiva emerge para perseguí-los. Esse é um exemplo de como usar a raiva para proteger nosso eu simulado, nosso senso de ego. No entanto, nos reconhecendo como seres espirituais e através da consciência e experiência da beleza da nossa natureza verdadeira, nossa dependência da aprovação de outras pessoas reduz, à medida em que redescobrimos uma quietude e estabilidade interiores. Sendo assim, a necessidade da raiva como protetora é eliminada. Essa forma de estabilidade pode criar uma fundação firme, uma espécie de teimosia positiva. Os outros podem dizer o que quiserem, e isso também pode ser verdade, mas não perdemos nossa paz ou felicidade por razão alguma. Isso é respeitar o que é eterno dentro de cada um de nós. Nos damos a oportunidade de manter nossa paz mental, porque, convenhamos, ninguém vai aparecer na sua porta com uma caixa cheia de paz e dizer “Eu acho que você poderia precisar de um pouco disso hoje.” Há uma história sobre Buda que ilustra um princípio importante. Buda estava sob a árvore da iluminação quando alguém que tinha ouvido que ele era uma pessoa iluminada, apareceu para testar seu autocontrole. Essa pessoa chegou na frente de Buda e come-

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OM CONHECIMENTO * por Yogesh Sharda

çou a xingá-lo, chamando-o de todos os nomes possíveis e ainda assim não houve reação. Após algum tempo, essa pessoa ficou um pouco cansada e foi embora e descansou um pouco e então voltou para uma segunda carga. Ele abusou da família de Buda, e lançou cada insulto que podia haver, mas ainda não houve reação. Ele ficou cansado e disse a Buda “Eu estou difamando você de todos os modos possíveis, e ainda assim você não diz nada em retorno.” Buda olhou para ele e disse “Se alguém lhe dá um presente, mas você não o aceita, com quem ficará o presente? “Isso ressalta um insight crucial. Nós temos escolha. Se aceitamos tristeza de alguém, não podemos incriminar a outra pessoa e dizer “É culpa sua, você falou comigo assim primeiro”. Reconhecemos que, de fato, temos uma escolha a cada momento. Podemos usar nosso intelecto como um filtro para decidir o que vamos permitir entrar e o que vamos impedir que entre e nos afete. Amplamente falando, há dois métodos pelos quais as pessoas sugerem que deveríamos lidar com a raiva. Alguns dizem que se você está sentindo raiva, então fique com raiva como um modo de expressão – deixe-a sair. E de fato, naquele momento, nos toramos livres da raiva, porque a deixamos ventilar. No entanto, à medida em que aprofundamos nosso entendimento e experiência do modo como a nossa consciência funciona, compreende-

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mos que quanto mais fazemos algo, mais profundo esse hábito se torna. Então, no dia seguinte, sentiremos que é mais fácil ficar com raiva porque já fizemos isso no dia anterior. É como um fumante tentando largar o cigarro. Quando sente vontade de fumar, ele fuma, e então, não sente mais vontade de fumar. Mas ao invés de remover esse desejo, o ato de fumar apenas temporariamente o satisfaz, e o hábito o agarrou ainda mais firmemente, de modo que amanhã, o desejo será ainda mais forte. Então, a expressão não transforma o hábito ou o sentimento. Uma outra sugestão que as pessoas podem dar é que você deveria reprimir sua raiva. Se você sente estar começando a ficar com raiva, interrompa isso, reprima. Mas essa é a situação “panela de pressão”. Eu apenas me torno cada vez mais esquentado internamente, até que um dia, explodo! Eu posso apenas reprimir por um certo período. E na verdade, quando estou reprimindo, estou realmente empurrando esses medos e emoções para dentro do meu subconsciente, a partir do qual eles emergirão em algum momento. Há, porém, um terceiro método que poderia ser descrito como sublimação ou mudança de forma. Através da prática diária e aplicação de princípios espirituais, a experiência da nossa paz interior pode se tornar natural. Desse modo, assim como a forma da água pode ser mudada de sólido a líquido, a gás, do mesmo modo, a


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OM CONHECIMENTO * por Yogesh Sharda

energia que estava anteriormente sendo usada para expressar e alimentar a raiva, pode também ser mudada numa força por trás da expressão da determinação ou coragem. Ao invés de ficar com raiva de alguém para provar um argumento, podemos aprender a ser assertivos. A assertividade contém respeito pelo eu, enquanto a raiva não mostra respeito por nada. Apenas nos libertando da raiva podemos nos tornar livres para experimentar a paz da nossa natureza espiritual verdadeira. Há uma história sobre Alexandre o Grande, quando ele estava prestes a voltar da Índia para a Grécia. Alguém lhe aconselhou a levar da Índia consigo um yogue, então ele saiu a procura de um numa floresta. Eventualmente, encontrou um yogue sentado sob uma árvore e sentou-se ao seu lado. Depois de algum tempo, o yogue abriu os olhos. Alexandre disse a ele “Eu quero que você venha comigo para a Grécia.” O yogue apenas olhou para ele. Alexandre continuou, “Se você vier comigo terá seus próprios criados para cuidar das suas necessidades e será famoso por toda a terra.” Ainda assim, o yogue explicou que não tinha desejo de ir. Então o exasperado Alexandre sacou sua espada e gritou “Você não compreende quem eu sou? Eu sou Alexandre o Grande Conquistador e posso cortar você em pedaços!” O yogue sorriu


e respondeu, “Você fez duas declarações, nenhuma das quais é verdadeira. Primeiro, você não pode me cortar em pedaços; você talvez possa ferir o meu corpo, mas eu sou a alma eterna imortal. E em segundo, você diz que é Alexandre o Grande Conquistador, mas posso dizer que você, de fato, não passa de um escravo do meu escravo.” Alexandre apontou a espada ao yogue e exigiu que ele se explicasse. O yogue disse “Eu conquistei a raiva através do processo da meditação, e ainda assim, veja quão facilmente a raiva vence você. A raiva é minha escrava e você se tornou um escravo da raiva.” Eu nunca descobri o que Alexandre fez em retorno.

Yogesh Sharda é professor de meditação e desenvolvimento espiritual e é coordenador da Brahma Kumaris na Turquia.

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OM INSPIRAÇÃO * por BK Surendran

Fonte de felicidade Texto retirado e traduzido da revista “The World Renewal”, vol.50, número 8

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Certa vez Thoreau observou que “Dinheiro não é necessário para comprar nem mesmo uma só necessidade da alma.” Desejar significa querer. Aquele que tem muitos desejos, é como um mendigo. Quando uma pessoa está desejando algo, não pode ser feliz. Quando falamos sobre ser livres de desejos, não significa que não deveríamos ter necessidades. Porém, deixemos que as necessidades não venham às custas do nosso contentamento interior, bem-estar e equilíbrio mental. Deveríamos nos esforçar para sa-


tisfazer nossas necessidades, mas falhar em fazer isso não deveria nos roubar da nossa propriedade preciosa do contentamento. Normalmente, situações e pessoas difíceis tentam impedir nosso contentamento. A aplicação do conhecimento certo, porém, é necessária. O conhecimento oferece soluções. Felicidade não é a ausência de problemas e dificuldades, é resolver problemas com sucesso e praticar efetivamente superar as dificuldades. Conhecimento divino e prática de meditação raja yoga são a panaceia para todos os problemas e doenças mentais. Pensamento positivo Para nos estabilizar em contentamento, devemos ser pensadores positivos. Sempre pondere o lado positivo do que acontece de adverso e coloque um ponto final ao pensamento inútil. Pese os méritos em cada caso e situação e explore

a máxima vantagem para seu autoprogresso. Pensar é um processo natural. Temos de nos certificar que pensamentos negativos e inúteis não sejam criados. Novamente, os pensamentos positivos são os que se relacionam ao autoprogresso, consciência de alma, consciência de Deus, bem-estar dos outros etc. Temos de converter o negativo em positivo – arrogância em amor; ganância em generosidade; etc. Aceite a variedade de sanskars Normalmente, quando interagimos com outros, temos muitas expectativas sobre eles. A variedade é o tempero da vida. Todos estão lutando para se livrar de seus hábitos e sanskars (traços de personalidade) arraigados. Quando olhamos para os sanskars dos outros não deveríamos ficar aborrecidos. Ao invés disso, deveríamos olhar para dentro – quais são os meus sanskars, dos quais estou edição 15 / ano 04

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OM INSPIRAÇÃO * por BK Surendran

tentando me livrar ao longo dos anos, mas com pouco sucesso? Consequentemente, seja simpático às pessoas que estão em situação similar. Dê apoio mental de modo a ajudar a pessoa a superar suas fraquezas, enquanto reforçando sua qualidade inata de compaixão e amor. Seja consciente do fato de que nosso trabalho é transformar nossos sanskars e, consequentemente, ser pacientes. Seja flexível e tenha uma natureza que se molda. Aprenda novas lições a partir dos maus sanskars dos outros e modele o eu. Dores e sofrimentos As dores e sofrimentos servem para nos dizer que estamos no processo de acertar nossas contas. Devemos dar as boas-vindas ao sofrimento, às dores e às tensões e enfrentá-los com coragem e paciência. É uma ocasião para praticar introspecção. Temos de 48

nos colocar aos cuidados de Deus e enfrentar os sofrimentos com felicidade. O peso dos nossos delitos está sendo reduzido através do sofrimento. Estamos sendo redimidos. Mantenha seu equilíbrio e satisfação na vida. O sofrimento é uma realidade – aceite-a. Deixe que não haja arrependimentos. Deus não gosta que soframos. Ele está presente para aliviar nossa carga. Sua doce lembrança é o mecanismo de absorção de choque. Tenha coragem e paciência. As coisas mudarão para melhor. Nós frequentemente esquecemos que somos almas, filhos espirituais eternos do Pai e Mãe Supremo. Crise financeira inesperada Uma crise financeira ou outros tipos de perda, é sempre uma eventualidade esperada na vida. Portanto, esteja sempre preparado para elas. É tempo de ter pensamento construtivo e intencional


A atitude correta é “O que acontece é sempre o melhor”. Não permita que pensamentos inúteis e negativos entrem na sua mente. Aplique um ponto final. Nós não estamos sozinhos. Deus é nosso Companheiro.

com uma cabeça fria. Planejamento e trabalho duro são necessários. Também é possível que isso aconteça para o nosso próprio progresso. A atitude correta é “O que acontece é sempre o melhor”. Não permita que pensamentos inúteis e negativos entrem na sua mente. Aplique um ponto final. Nós não estamos sozinhos. Deus é nosso Companheiro. Não O torne um espectador, torne-O um Companheiro. Ele não nos decepcionará. Ele não gosta de nos ver tristes. Seja um companheiro de Deus. Nosso trabalho duro com bênçãos divinas pagará ricos dividendos num futuro próximo. Pobreza Todo mundo é pobre num sentido mundano. Nós até mesmo deixamos aqui o nosso próprio corpo e partimos sem posses. Se temos muitas posses mundanas, isso não nos ajuda. A pobreza nos aproxima edição 15 / ano 04

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OM INSPIRAÇÃO * por BK Surendran

de Deus. As pessoas pobres são livres das várias inebriações da riqueza, poder, posição etc. É uma bênção. Os pobres se colocam aos pés do Senhor, colocam-se à disposição do Senhor. Sua vida é sublimada pelo bem-estar do mundo. Temos de nos sentir afortunados por ter nascido pobres, pois isso nos fez render a Deus. É uma bênção disfarçada. Permaneça feliz. Morte de entes queridos e próximos O conhecimento da alma e de seu papel é a luz e a força que derivamos no momento da morte de entes queridos e próximos. Ninguém morre. De fato, é uma redenção de escravidão. Cada alma tem seu próprio papel. Ninguém pode ter controle sobre sua própria vida, quanto mais sobre as vidas dos outros. Há eventos inevitáveis na vida mundana. Observe a realidade da vida sobre a terra 50

Cada alma tem seu próprio papel. Ninguém pode ter controle sobre sua própria vida, quanto mais sobre as vidas dos outros. Há eventos inevitáveis na vida mundana.


e seja um espectador silencioso. Não há razão para aborrecimento ou perturbação. É um drama. Há apenas um relacionamento que é permanente – o relacionamento com o Supremo. Renove o relacionamento perene com Ele e o torne vívido. Esse exercício nos torna desapegado dos relacionamentos corpóreos enquanto vivemos juntos. Esteja no oceano da vida, mas não permita que a água do oceano da vida entre no seu barco e o faça afundar. Tenha a atitude de ser um instrumento. Investindo Felicidade Alguém é feliz apenas quando há satisfação e contentamento em sua vida. É necessário, portanto, salvaguardar a felicidade. É uma virtude. Nesse contexto, temos de pensar sobre como podemos investir felicidade para o nosso futuro. Quando temos muito dinheiro, investimos para dias futu-

ros. Do mesmo modo, podemos também investir/depositar felicidade, investir felicidade significa dar felicidade aos outros. Temos de tornar os outros felizes. Porém, podemos tornar os outros felizes apenas quando nós mesmos estamos felizes. Temos de nos verificar – quanta felicidade eu tenho no meu armazém mental? Um enquadramento mental equilibrado estável é um reservatório de felicidade. Nossa atenção focada dever ser sobre como podemos tornar os outros felizes. Quando mantemos atenção nisso, nunca ferimos os sentimentos dos outros, os criticamos ou nos tornamos arrogantes. Não faremos nada que torne outros tristes. Sempre olharemos para o lado belo mais brilhante dos outros. A quantidade de felicidade que damos aos outros é o saldo bancário que supera nossas contas negativas. Esse investimento não pode ser edição 15 / ano 04

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OM INSPIRAÇÃO * por BK Surendran

Mesmo quando ficarmos doentes, não sentiremos as dores da doença. Passaremos pelos sofrimentos com felicidade. O sofrimento se tornará apenas uma formalidade. Não haverá qualquer mudança na nossa atitude mental de estar “sempre feliz”.

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roubado, saqueado ou destruído. Estará sempre presente para onde quer que vamos. Não há sequer necessidade de sacá-lo, ele automaticamente nos mantém felizes e contentes. Mesmo quando ficarmos doentes, não sentiremos as dores da doença. Passaremos pelos sofrimentos com felicidade. O sofrimento se tornará apenas uma formalidade. Não haverá qualquer mudança na nossa atitude mental de estar “sempre feliz”. A força da doença não será sentida por uma pessoa que tem um imenso estoque de felicidade em sua conta. Isso também se aplica a circunstâncias adversas. As circunstâncias se moldarão a nosso favor e um problema que é como uma montanha será reduzido a um montinho. O que damos para esse mundo é nosso. Torna-se nossa propriedade real, que nos acompanha em nossa jornada.


No entanto, nossos empenhos de doação de felicidade não deveriam ter propósitos negativos. Deus nos deu orientações sobre como viver bem. Nós, portanto, não apoiaremos as propensões viciosas de ninguém para derivar felicidade ou satisfazer desejos físicos ou alimentar as adições dos outros que destroem suas vidas. Tornar os outros felizes de novo significa transformar suas vidas, de modo que eles também se tornem felizes. A fonte última de felicidade e contentamento é o conhecimento divino. Conhecimento é o néctar da vida. Conhecimento é luz e força. Conhecimento é poder. O poder do conhecimento é a iluminação. A ignorância é tristeza. A vida é bonita quando aliada à doce e amorosa lembrança de Deus. A fonte última de alegria, portanto, é a lembrança do Supremo através da prática de meditação raja yoga. Relembremo-nos que Deus

é nosso Pai e Mãe eterno, nosso Professor Supremo e Preceptor Supremo. O serviço divino é uma fonte de grande alegria. Ele nos capacita a doar a outros, uma vida de grandeza e alegria. Não há nada que se compare. Pratiquemos essa lembrança. * edição 15 / ano 04

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OM VIRTUDES * por Paulo Sergio Barros

Virtudes & Relacionamentos

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“A vida é relacionamento” Anthony Strano

Quando conheci os Brahma Kumaris, na minha juventude, lembro-me que em uma aula a professora me perguntou qual era a minha virtude locomotiva, ou seja, aquela que se destacava e que impulsionava meus esforços espirituais. Eu não soube responder. De fato, eu sequer costumava pensar sobre minhas virtudes. Tempos depois, outra professora de meditação lançou a mesma pergunta em outra atividade que eu participava. Eu já estava há alguns meses praticando meditação e já havia aprendido algo sobre meus pensamentos e minhas virtudes. Contudo, naquele momento eu ainda não tinha uma resposta, tinha dúvidas. Seria a paz, a cooperação ou a tolerância? Aquelas dúvidas eram sinais de que a meditação havia provocado mudanças na minha consciência. Eram indícios de que eu tinha começado a praticar uma nova forma edição 15 / ano 04

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OM VIRTUDES * por Paulo Sergio Barros

de relacionar-me comigo, com os demais e com Deus (sobre quem tinha dúvidas sobre sua existência). Eu trabalhava como professor e facilitador de cursos de formação sobre educação e valores humanos para professores. Essa interação constante ajudava-me, pouco a pouco, a me certificar de que eu prosperava na prática de algumas virtudes. Minhas reações de intolerância, impaciência e arrogância diminuíam na proporção em que eu começava a ouvir comentários sobre algumas práticas virtuosas na minha fala e atitudes. As dúvidas diminuíam e cresciam as certezas de que a meditação Raja Yoga que eu aprendia com os brahma kumaris estava causando um impacto positivo na minha vida. A partir dessas experiências meditativas e da relação com as pessoas, sentia que três virtudes eram a força motriz para os meus empenhos espirituais: o respeito, 56

a paz e a compreensão. As três passaram a ser as qualidades matriciais nos meus pensamentos e nos relacionamentos intrapessoais e interpessoais. Logo percebi que o ego é um vício que tira o brilho e o poder das virtudes. Portanto, agreguei a humildade como uma virtude seminal para o meu progresso espiritual. Acredito que há uma variedade de virtudes em nossa personalidade com belezas e intensidades diferentes. Mesmo depois de muitos anos de prática de meditação continuo, cotidianamente, a focalizar minha mente nelas. Pois sei que da mente elas se expressarão em palavras, ações e interações. Elas ficavam mais claras e fortes à medida que me relaciono espiritualmente comigo, com os outros e com Deus. Hoje vejo o respeito como uma virtude sobressalente no meu percurso. A energia do respeito atrai


a paz, o amor, a verdade, a compreensão, a empatia, a generosidade, a amizade. Enfim, compõe um buquê de virtudes que embeleza a vida. Nos relacionamentos espirituais comumente usamos a tríade eu, outro e Deus. Como o respeito me ajuda a prosperar espiritualmente nessa perspectiva?

Paulo Barros é educador, escritor e professor da Brahma Kumaris em Fortaleza-CE.

EU Respeito pelas minhas qualidades, meus processos, dificuldades, facilidades. Enfim, pela personalidade que sou hoje, resultado dos meus empenhos espirituais.

OUTRO Respeito pela diversidade, visões de mundo, qualidades e os processos pessoais de cada indivíduo. Não conseguiremos progredir sozinhos. A vida é relacionamento, é alteridade.

DEUS Respeito pela personalidade suprema e as relações afetivas inerentes ao seu papel nas nossas vidas: o amor da mãe, a proteção do pai, os ensinamentos do professor, a compreensão do amigo, a condução do guia...

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OM COMIDA PURA * por Ana Paula Paixão

O sabor de fazer o bem E se eu te disser que tudo que você coloca no prato influencia o mundo? Já que estamos falando de relacionamento, que tal refletirmos sobre nossa relação com os alimentos e seus impactos? Uma alimentação balanceada a base de plantas supre todas as nossas necessidades nutricionais e protege a natureza. Estudos mostram que economizamos em média 2000 litros de água por dia, salvamos vários animais por ano e ainda cortamos nossa pegada de carbono pela metade. Na mente ela também tem uma influência super positiva, mantendo os pensamentos mais pacíficos e leves, auxiliando na meditação. Bom né? O sabor da comida vegetariana supera qualquer outro porque é um sabor que vai além das papilas gustativas. É o sabor de fazer o bem para mim, para os animais e para o mundo. Vamos juntos? * 58


PASTEL ASSADO DE LEGUMES*

Massa

Recheio

01 xícara de farinha de trigo integral 01 xícara de farinha de trigo branca 01 colher (chá) de fermento químico em pó 01 colher (chá) de sal 100ml de água

Aqueça o azeite em uma panela e coloque o curry. Acrescente todos os legumes e refogue-os até que fiquem bem firmes. Coloque uma pitada de sal e reserve.

Misture todos os ingredientes secos em uma tigela de vidro e vá juntando a água aos poucos. Misture bem e dívida a massa em 20 partes iguais. Abra cada parte com um rolo até formar rodelas finas e coloque o recheio em cada uma. Dobre-as ao meio e feche as bordas com o auxílio de um garfo. Coloque os pasteis em uma assadeira antiaderente e pincele uma mistura de azeite e shoyu. Leve ao forno até ficarem dourados.

02 colheres de sopa de azeite 02 xícaras de couve-flor em buquês ¼ xícara de pimentão vermelho picado ¼ xícara de milho verde 01 colher (chá) de curry Sal a gosto

* Receita do livro “Alimentação não violenta”, Editora Brahma Kumaris

Ana Paula Paixão pratica meditação Raja Yoga há mais de 10 anos. É designer, culinarista e encantada com a natureza.

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OM ÚLTIMA PALAVRA * por Dadi Janki

Sabedoria prática Texto retirado e traduzido da revista “Retreat Magazine”, edição nº 2

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Sobre felicidade Saiba como usar cada momento em felicidade. Você experimenta felicidade quando cada momento está sendo usado de uma maneira proveitosa. Por exemplo, quando você tem tolerância, é capaz de permanecer calmo e feliz internamente. Para permanecer felizes, precisamos de poder. No momento em que nos tornamos fracos, nos tornamos secos. No momento em que somos fortes, sentimos que tudo está bem, não importa o que aconteça. Sejam aqueles que permanecem felizes e doem felicidade a sua religião. Permanecer feliz e partilhar essa felicidade com outros é o maior ato de caridade. A arrogância nos faz insultar os outros. Tenham amor pela humildade, a humildade os ajudará a permanecer feliz. Deus não gosta de um rosto triste. Por que deveríamos nos tornar infelizes? Isso é apenas um hábito. Mantenham-se felizes internamente.

Sobre paz Para ter paz e amor você precisa ter paciência. Ter paciência de uma maneira profunda traz todas as virtudes. Não importa quanto amor alguém possa ter por Deus, sem paciência, não podem experimentar paz. Deixe que haja amor pela paz. Quando experimento paz, uma atmosfera de paz é criada em todo o redor. Dentro da paz há doçura, felicidade e facilidade. Você deveria experimentar que a paz é uma guirlanda ao redor do seu pescoço. Torne a paz um tesouro imenso para você.

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OM ÚLTIMA PALAVRA * por Dadi Janki

Sobre amor O amor de Deus nos dá poder. Instile o hábito de ser repleto de amor e paz. Deixe que o rio do amor e sabedoria flua. Não sejam rios secos. Nós não somos policiais que têm de ser sérios e dominadores, nós somos filhos de Deus. Podemos partilhar o amor que recebemos da Mãe e Pai. Se tenho amor incógnito por Deus, nunca posso entrar sob a influência de ninguém. É quando paramos de dar amor que não conseguimos mais aceitar amor dos outros. Então, nos sentimos vazios. Nós não deveríamos ter amor maior por uma pessoa e menor por outra. Quando você permanecer desapegado será capaz de dar e receber amor.

Sobre Deus Conhecendo e entendendo Deus, obtemos as qualidades Dele. Onde há um relacionamento com Deus há uma vontade de atrair Suas virtudes e poderes para dentro do eu. Quando Deus é o seu companheiro, Ele o guia pelas tempestades da vida. Não largue da companhia de Deus, da companhia da mão de Deus. Faça essa promessa. Não importa qual seja a nossa idade, somos os filhos pequenos de Deus. Mesmo se uma criança não é digna, os pais ainda lhe dão amor. Eu posso ter dúvidas em mim, mas Deus não tem. Veja-se como Deus o vê e veja os outros como Deus os vê. Os sentimentos que Deus tem em relação a nós, deveríamos ter em direção uns aos outros. Deus tem amor por todas as almas do mundo e nós temos de desenvolver essa natureza também. Temos de gostar daquilo que Deus gosta. Ninguém deveria duvidar que é um filho de Deus. A beleza da Alma Suprema é tão elevada, então apenas pense o que você se tornará considerando-se um filho de Deus.

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Sobre caridade Fazendo algo bom você ganha força. Não tenha o desejo de ser elogiado pelo que você faz. Deus sabe quem são Seus ajudantes, você não precisa ter nome e fama. Muitos ajudam Deus através do seu corpo, riqueza e cabeça, mas não do seu coração. Deveria haver benevolência para cada alma. Ao levar benefício a outros, considere a tristeza dos outros como sua própria e ajude-os. Isso não significa absorver a tristeza dos outros, mas ter amor para substituí-la. Permanecendo na lembrança de Deus, você é capaz de elevar almas. As almas que elevam outras têm muito amor pelos outros. Por causa desse amor elas consideram mesmo aqueles que as difamam como seus amigos. Revanche não entra nos pensamentos daqueles que têm amor, compaixão e misericórdia. Constantemente tenham um coração grande.

Sobre pensamentos Não criem pensamentos negativos, pois eles alcançarão outros. Ao invés disso, deixem que seus bons pensamentos alcancem outros. Mesmo se houver apenas um pequeno pensamento fraco, terminem com ele. “Como” usar nossos pensamentos depende de nós. Se você tem um pensamento positivo de fazer algo, preencha-o com o poder do amor. Não tenham muitos pensamentos inúteis. Você pode não ter pensamentos ruins, mas se eles não têm o poder do amor, serão secos. O pensamento é a semente e o amor é a água. Seus pensamentos deveriam ter poder e tornar-se práticos. Se o sucesso estiver atrasado, entre em silêncio e pense sobre isso e você encontrará a razão. Não comece a incriminar os outros ou o lugar, mas olhe para seu próprio eu. Aqueles que aprenderam a arte de criar pensamentos puros tornam-se livres de pensamentos inúteis para sempre. Dia após dia, deveríamos entender o valor dos nossos pensamentos.

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OM ÚLTIMA PALAVRA * por Dadi Janki

Sobre virtude Os outros não deveriam contar a você sobre seus defeitos – você deveria checar seu próprio eu. Para checar-se, permaneça silencioso. Não fique feliz apenas com o esforço que você está fazendo. Assimile todas as virtudes divinas. Apenas veja especialidades. Seus olhos são feridos quando você vê defeitos; treine seus olhos a não ver os defeitos dos outros. Quando você olha para si, internamente, há humildade e o desejo de aprender. Ter paciência de uma maneira profunda promove todas as virtudes. Tem de haver o interesse de tornar-se completo com todas as virtudes. Reconheça as virtudes de todos e doe virtudes. Preste atenção ao eu e permaneça satisfeito com o eu, e os outros permanecerão satisfeitos com você. Aprenda a manter seu rosto e atividade como os de uma divindade. Uma virtude bonita que é essencial é nunca ficar aborrecido com o eu ou os outros.

Sobre silêncio Aqueles que são maduros permanecem silenciosos: um silêncio no qual algo é obtido. Seja qual for a situação que surja, entre em silêncio profundo em um segundo e veja o poder que surge daí. Não entre muito rapidamente em pensamentos ou palavras. Extraia doce silêncio de Deus, o Oceano de Silêncio e permaneça nessa atmosfera. Nós deveríamos espalhar ondas de silêncio e amor. A experiência de doce silêncio dá a você o poder de empacotar seus pensamentos e acomodar tudo.

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Sobre a mente Preocupar-se é ruim para a alma e a torna fraca e confusa. Seus pensamentos deveriam refletir fé. Deixe que não haja espaço para nada negativo. O que dizemos para a nossa mente deveria ser útil. Por que pensar sobre o passado? Você não pode forçar seu corpo a trabalhar, mas pode fazer sua mente funcionar. Você não deve permitir que nem mesmo um pensamento seja desperdiçado. Cada ser humano tem de manter sua própria mente sob controle. Às vezes, nossas mentes não nos permitem pensar positivamente. De fato, se a mente aceitasse o que Deus diz ao invés de o que os humanos dizem, ela se tornaria mais forte ao invés de mais fraca. Tornem sua mente completamente cheia de bons votos.

Sobre meditação Meditar é sentar-se e pensar. Esqueça do corpo físico e foque a mente no centro da testa. Na meditação, foque a atenção em quem você é – a alma. Apenas quando permanece consciente de ser uma alma, você é capaz de permanecer como uma corporificação de paz, felicidade, amor e bem-aventurança. Sem prática, você é incapaz de criar esse estado mental. Nos primeiros tempos dessa universidade, nós apenas abordávamos a questão da alma. Tudo o que partilhávamos era “Eu, a alma, sou uma corporificação de paz e poder”, e ainda assim, experimentávamos isso muito profundamente. Dizendo “Eu sou” você se torna isso.

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OM ÚLTIMA PALAVRA * por Dadi Janki

Sobre o tempo Dê tempo para si. Isso não é egoísmo, e é melhor do que desperdiçar tempo com questões inúteis. Fofocar é um grande erro, portanto, não desperdice seu tempo nisso. Se você não tem o hábito de aplicar um ponto final, desperdiça muito tempo e energia. Tempo, pensamentos e respiração não deveriam ser desperdiçados. Se algo não for necessário, não faça. O tempo não espera por nós, então, por que não usar nosso precioso tempo em ser feliz? Você não deveria esperar por um tempo no futuro para transformar-se: é agora ou nunca. Se você faz isso agora, recebe força e inspira outros também. Nós não deveríamos dizer “espere” por qualquer razão, deveríamos estar prontos antes do tempo.

Sobre honestidade Se você tiver honestidade, obterá chances de aprender. Aquele que é honesto não fala sobre os outros. A honestidade fica aparente no seu rosto. Os outros não ficam impressionados pelas suas palavras ou mesmo pelo seu rosto, mas por sua honestidade e verdade. Assegure-se de que seus relacionamentos sejam preenchidos com honestidade. Há muita nobreza na honestidade. Se você tiver um coração honesto, estará pronto para agradar a Deus.

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Sobre autoconsciência Considere-se uma alma e pense sobre o seu corpo e relacionamentos corpóreos como algo que você tem de cuidar como um tutor. Nada realmente pertence a você. Se você diz “meu”, há apego a isso. A arrogância nos torna cegos. Abra seu terceiro olho de sabedoria e veja quem você realmente é. A alma é como um pássaro. Esses corpos são criados e cremados e a alma voa embora. Quanto mais você permanecer consciente de alma, mais feliz permanecerá.

Dadi Janki, yogini indiana, líder espiritual da Brahma Kumaris, foi considerada pelo Instituto de Pesquisa Médica do Texas como a mente mais estável do mundo. Deixou o corpo físico e ascendeu ao mundo espiritual em 27 de março de 2020.

edição 15 / ano 04

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MEDITAÇÕES OM LINE * por luciana ferraz

O relacionamento com a Alma Suprema Meditação retirada do CD “Raja Yoga”, da Editora Brahma Kumaris. Clique no ícone ao lado para ouvir a meditação

Deixe que a atenção vá naturalmente para a região das sobrancelhas, para aquele sentimento genuíno de que você é diferente do seu corpo. Você é o ser brilhante no centro da testa... Este é o seu eu verdadeiro: um ser pacífico, puro, poderoso. Agora você volta a encontrar sua verdadeira identidade e internamente você pensa e experimenta: eu sou uma alma pacífica. Conforme me torno estável nessa consciência, já não tenho mais que procurar pela paz porque ela já é algo que existe dentro de mim. Sou uma alma pura e a pureza é a mãe da paz... Luciana Ferraz é socióloga, coordenadora da Brahma Kumaris no Brasil, tem mais de 40 anos de prática de meditação Raja Yoga, ministra palestras em muitos países e é membro do comitê internacional de Meio Ambiente da BK.


Clique na imagem na tela do tablet para ver o vídeo de apresentação da Editora Brahma Kumaris


OM line é uma revista digital para quem almeja restaurar o equilíbrio interno.

Uma publicação da Brahma Kumaris Brasil brahmakumaris.org.br/revista


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