Bertran Romero Sala Alguns jornais, online, insistem em transmitir ao vivo o centro das cidades vazias. E a legenda é alguma coisa parecida com “Incrível, a cidade como nunca a tínhamos visto”. Mas não é verdade, estamos habituados a vermos as ruas vazias, as multidões com medo,
estamos habituados aos filmes apocalípticos que periodicamente passam nos cinemas, com aquelas cidades instaladas no desastre. É inegável, há algum prazer na destruição, mesmo que seja para ver como os Estados Unidos têm
problemas dentro de casa em vez de exportá-los, ou porque estamos fartos de como se organiza o mundo. Mesmo entre o público norte-americano estas imagens apocalípticas têm certo sucesso. Talvez seja porque se não temos uma ameaça constante à nossa normalidade não podemos viver tranquilos? Porque o medo de perder os nossos privilégios é o motor para justificá-los sem pensar muito? Mas, realmente, sabemos que as ameaças de destruição são coisa de filmes, que não estamos perto do colapso e que isto vai continuar em frente para sempre. Afinal, estes filmes são bem úteis! O medo é a ferramenta mais eficaz contra a liberdade, o medo controlado ao irreal, à possibilidade impossível dum apocalipse à Hollywood: evita que pensemos nos medos reais, nos apocalipses possíveis (por muito que menos espectaculares), evita que vejamos o sofrimento dos outros, ocupados como