O Molde n.º 125 - abril 2020

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ÍNDICE CONTENTS

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EDITORIAL

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NOTÍCIAS CEFAMOL

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NOTÍCIAS CENTIMFE

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NOTÍCAS OPEN

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NOTÍCIAS DOS ASSOCIADOS

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ANIVERSÁRIO DOS ASSOCIADOS

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FORMAÇÃO NA INDÚSTRIA DE MOLDES

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A economia circular nas empresas de moldes e de injeção

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A economia circular no sector dos plásticos

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Indústria de moldes na era da economia circular

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Economia circular? O que temos a ver com isso?

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O impacto de um design of experiments na indústria dos plásticos e na economia circular

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O Sector fala de… economia circular

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O Molde 4G | Uma resposta aos desafios para a sustentabilidade

INNOVATION

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Controlo dinâmico de temperatura no processo de moldação por injeção

O que as empresas concebem de forma singular e inovadora What our companies concieve in a singular and innovative way

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WOOD.SHAPE 4.0 | Intelligent injection moulding on wood veneers aided by cyber-physics systems

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Cadeias Globais de Valor

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Irlanda: Indústria de Moldes e Plásticos

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ECONOMIA CIRCULAR DESTAQUE HIGHLIGHT

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INOVAÇÃO

NEGÓCIOS

BUSINESS

Economia | Mercados | Estatísticas Economy | Market information | Statistics

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REFLEXÕES

FICHA TÉCNICA

PROPRIEDADE CEFAMOL - Associação Nacional da Indústria de Moldes • CONTRIBUINTE 500330212 • REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Av. D.Dinis, 17 / 2430-263 MARINHA GRANDE PORTUGAL / T: 244 575 150 / F: 244 575 159 / E: revista_omolde@cefamol.pt / www.cefamol.pt • FUNDADOR Fernando Pedro • DIRETOR Manuel Oliveira • CONSELHO EDITORIAL António Rato, Eduardo Pedro, Luís Abreu e Sousa, Manuel Oliveira, Maria Arminda • TEXTOS António Baptista, António Pontes, Armando Ferreira, Artur Mateus, Bruno Pereira da Silva, C. Araujo, Carlos Patacas, Cláudia Macedo, Daniel Fonseca, Diana Duarte, Dulcínia Santos, Filipe Vaz, Florindo Gaspar, Francisco Diz, H. Silva, Horácio Silva, Joana Gouveia, João Paulo Dias, Jorge Laranjeira, Luís Faria, Luís Oliveira, Luís Reis, Mihail Fontul, Nânci Alves, Nuno Aguiar, Nuno Fidelis, R. Alves, R. Batista, Ricardo Alexandre, R. Marques, Ricardo Simoes, Sara Campos, S. Cruz, Sílvia Esteves, Tânia Viana, Vítor Ferreira, Victor Neto• PUBLICIDADE Rui Joaquim • PRODUÇÃO GRÁFICA Colorestúdio – Artes Gráficas, Lda / Zona Industrial Casal da Azeiteira, Pav. 3 - Quintas do Sirol - 2420-345 St.ª Eufémia - Leiria / T: 244 813 685 / E: colorestudio.lda@gmail.com • PERIODICIDADE Trimestral • TIRAGEM 450 exemplares • DEPÓSITO LEGAL 22499/88 • REGISTO ERC 113 153 • Nº ISSN 1647-6557 • Estatuto Editorial encontra-se disponível em www.cefamol.pt ANUNCIANTES GrandeSoft 2 / S3D 5; 63 / DNC Técnica 7 / Universal Afir 9 / Yudo 11 / Deibar 13 / Moldmak 15 / Schunk 17 / Simulflow 19 / Hasco 21 / Trumpf 23 / Fuchs 25 / Norelem 27 / Oerlikon Balzers 29 / FerrolMarinha 31 / Fluxoterm 35 / Tecnirolo 37 / RTC 39 / Apoio Jurídico 40 / Open Mind 41 / Tecmill 43 / Sew Eurodrive 51 / TCA 53 / Millutensil 55 / Jerónimo 57 / Mater 59; 79 / Cheto 61 / Newserve 65 / Caasee 69 / Knarr 71 / OHAI 73 / SB Molde 75 / TTO 77 / Hotel Mar&Sol 80 / Eurocumsa capa interior / MAQ contracapa interior / Tebis contracapa

• Nenhuma parte desta revista, pode ser reproduzida, sob quaisquer meios e para quaisquer fins, sem a autorização escrita da CEFAMOL. • Conteúdos conforme a nova ortografia, salvo se os autores não o autorizarem.



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EDITORIAL

manuel oliveira*

*Secretário-geral da CEFAMOL

Um Mundo em Mudança No primeiro trimestre deste ano, o mundo acordou para uma nova realidade com o surgimento de um vírus, que inicialmente parecia focalizado numa região, mas que rapidamente se espalhou pelos diferentes continentes, afetando a vida económica e social de muitos países e sectores industriais.

A Changing World During the first quarter of 2020 the world has awoken to a new reality with the emergence of a virus. Although it initially appeared to be focused in one region, it spread quickly across the different continents, affecting the economic and social lives of many countries and industrial sectors.

A globalização dos negócios, a interação das cadeias de valor ou, até mesmo, a dependência de recursos, produtos ou componentes oriundos de diferentes partes do globo, tornaram-se evidentes e fazem-nos pensar se não haverá alternativas aos modelos de desenvolvimento económico que têm vindo a ser seguidos. A mobilidade e o contacto social, elementos tão apreciados e fundamentais para o relacionamento, quer nos negócios, quer na nossa vida pessoal, tornaram-se de repente fatores de risco. Este é, sem dúvida, um mundo em mudança.

The globalisation of business, interaction between value chains and even our dependence on resources, products and components sourced from different parts of the globe, have become particularly evident under these new circumstances, leading us to consider whether any alternatives can be found to the economic development models followed to this point. Mobility and social contact, elements we value deeply and that are fundamental to both business and personal relationships, have suddenly become risk factors. We are living in what is undoubtedly a changing world.

A indústria de moldes não foi (não é) imune a esta situação. Fruto do seu posicionamento na cadeia de valor e desenvolvimento de vários produtos a nível global, sofreu os impactos desta desaceleração do mercado que, a acumular com a situação que tem vindo a acontecer ao longo do último ano e meio, nomeadamente com as indefinições e atraso no lançamento de novos projetos da indústria automóvel, torna muito mais desafiante a sustentabilidade e crescimento das empresas.

The mould industry is not and has not been immune to this situation. As a result of its position in the value chain and the development of a number of products on a global scale, it has been affected by the impact of this market slowdown. This, combined with the circumstances it has faced over the last year and a half caused by the vagueness and delays in the launch of new projects in the automotive industry, has proved to be yet one more challenge to the sustainability and growth of companies in the industry.

O mercado está a mudar, é cada vez mais volátil, e a única coisa que temos certa é a incerteza. O sector, ao longo dos últimos anos, investiu fortemente em novas tecnologias e equipamentos, integrou novas competências, mas agora terá que as compatibilizar com processos organizacionais que permitam responder a novos desafios do mercado, onde os preços são baixos, os prazos de execução curtos e a concorrência feroz. A flexibilidade e adaptabilidade das empresas serão o elemento diferenciador e as competências e motivação das pessoas que as integram, o motor para que tal possa ser conseguido. É neste contexto de otimização dos recursos, de redução de desperdícios, onde as questões ambientais assumem preponderância junto dos consumidores finais, que, por sua vez, influenciam produtores a desenvolver novas soluções que vão ao encontro dessas pretensões e expectativas, que surgem novos conceitos e políticas, como é o caso da “economia circular” a que damos especial destaque nesta edição da revista “O Molde”. Este é um tema com aplicabilidade na nossa indústria? Como é que está a influenciar o desenvolvimento do mercado? Que oportunidades este conceito trará para o lançamento de novos produtos que utilizarão os nossos moldes? Que conceitos poderemos utilizar para otimizar processos e recursos das nossas empresas e assim ser mais competitivos pela redução dos custos de produção? Para responder a estas questões, convidámos empresas, investigadores e centros de saber, a falar sobre este assunto e partilhar com os leitores as suas opiniões ou demonstrar boas práticas que estão já a ser implementadas na nossa indústria. Esperamos que as mesmas possam ajudar na disseminação do conceito, levando o nosso sector a ser mais competitivo, ao mesmo tempo que contribui para termos um mundo melhor, apesar da constante mudança.

The market is changing. It is increasingly volatile. The only thing we can be sure of is uncertainty. In recent years the sector has invested heavily in new technologies and equipment and has integrated new skills. Now, however, it must make them compatible with the organisational processes that will enable it to respond to new market challenges, where prices are low, execution times are short, and competition is fierce. Flexibility and adaptability is what will make companies stand out from the rest while the skills and motivation of their staff is the engine that powers them, propelling them towards meeting these goals. It is in this context of resource optimisation and waste reduction, in which environmental issues take precedence with the final consumers who, in turn, encourage producers to develop new solutions that meet these claims and expectations, that new concepts and policies, such as the “Circular Economy”, emerge, which is the special focus for this issue of “O Molde”. Is the concept applicable to our industry? How does it influence market development? What opportunities will this concept bring for the launch of new products that will use our moulds? Which concepts can we use to optimise our processes and resources and thus become more competitive by reducing production costs? To answer these questions, we invited companies, researchers and knowledge centres to speak about this subject and share their opinions with readers, while also demonstrating good practices that are already being implemented in our industry. We hope they will contribute to our understanding of the concept and our ability to share knowledge, making our sector more competitive while also contributing to making a better world: albeit one that is in constant change.


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NOTÍCIAS NEWS

EMPRESAS DE MOLDES E PLÁSTICOS ATRIBUEM BOLSAS A ESTUDANTES DO IPL Subiu para 53 o número de bolsas atribuídas por empresas da região a estudantes do Politécnico de Leiria (IPL), no âmbito do programa ‘Bolsas + Indústria’ que celebra a proximidade entre a instituição de ensino e as empresas da região, como fator diferenciador. Uma dezena e meia (do total das 39 empresas que aderiram ao programa) pertence aos sectores dos moldes e plásticos, o que é bastante revelador do interesse das empresas neste projeto que resulta de um protocolo firmado entre a CEFAMOL, a Associação Empresarial da Região de Leiria (NERLEI) e o Politécnico de Leiria. Teve início em 2013/14 tendo sido, então, atribuídas sete bolsas por igual número de empresas. De então para cá, o número de empresas participantes e de bolsas tem crescido consideravelmente, a cada edição. Trata-se de uma iniciativa de cariz inédito no nosso país, como fez questão de realçar Rui Pedrosa, presidente do IPL, na cerimónia de entrega das bolsas, que decorreu no dia 3 de março, em Leiria. O responsável considerou que este programa “não tem paralelo no país” e que só é possível “por esta proximidade, pelo compromisso dos nossos professores e investigadores, dos empresários e do poder autárquico”. “É este o grande fator diferenciador de regiões como a de Leiria e do Oeste: a proximidade entre instituições de ensino superior, municípios, entre empresas, entre atores do sistema cultural, do sistema social”, destacou ainda o presidente do IPL, reforçando que “é esta proximidade que fica à distância de um telefonema, que permite a mobilização de empresas, de estudantes, de professores, de investigadores, que faz a diferença. E isso não é possível fazer nas grandes cidades”. Na sua intervenção, o presidente do Politécnico de Leiria, destacou ainda o alargamento deste projeto, que agora tem uma presença maior no território, “de norte a sul do distrito de Leiria, com mais empresas e mais cursos envolvidos”, de quatro escolas

do Politécnico de Leiria, mas também com a nova componente de “responsabilidade social, além da atribuição das bolsas de reconhecimento do mérito”. Exemplo disso, referiu Rui Pedrosa é o projeto desenvolvido por três estudantes da Escola Superior de Artes e Design do Politécnico de Leiria (ESAD.CR) para a remodelação do mobiliário de quartos, com o apoio das empresas. Esta ação, sublinhou, permite que “estudantes com mais necessidades económicas possam usufruir e sentir o compromisso de atração de talento e de responsabilidade social das empresas”. Integrar academia e indústria Presente na cerimónia, Pedro Pereira, vice-presidente da CEFAMOL, considerou que “as pessoas, o seu conhecimento e competências técnicas e comportamentais assumem um papel estruturante” para as empresas, destacando ser “fundamental integrar o mundo académico e empresarial, enquadrando as duas realidades, pois só assim seremos mais fortes e competitivos a nível global»”. Para o representante da CEFAMOL, “esta iniciativa contribui decisivamente para este objetivo”. No entanto, alertou que “as bolsas terão de ser complementadas com a proatividade de todos: pelos alunos no seu percurso com as empresas, mas também das próprias empresas ao saber acolher e integrar os estudantes, permitindo à academia adaptar os seus conteúdos pedagógicos às necessidades das empresas”. Por sua vez, António Poças, presidente da NERLEI, destacou que “o sucesso desta região, no futuro, será a capacidade de atrair pessoas” e recordou que as empresas associadas da NERLEI referem que precisam de mais pessoas qualificadas. “É um desígnio que as entidades da região têm procurado articular para trazer mais pessoas”, referiu, adiantando que “estar a acolher um conjunto de pessoas que vêm estudar para a região é um bom sinal do que podemos fazer todos os dias”.


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Já Gonçalo Lopes, presidente da Câmara Municipal de Leiria, considerou que a região “é um território onde a representação, o empreendedorismo e o poder das empresas é uma imagem de marca”, e que “a indústria faz parte do nosso DNA”, assumindo orgulho em presidir a uma autarquia de “uma região onde o sector industrial é uma referência a nível nacional, com uma forte vocação exportadora, com empresários que não viram a cara à luta e que, nos momentos difíceis, contribuem para a recuperação do país”. O autarca reforçou ainda que “Leiria tem na área da ciência, na área do ensino, na área da inovação, um Politécnico capaz de poder afirmar-se no contexto nacional para atrair jovens para os seus diversos cursos”. Apoio a mais de 180 estudantes As ‘Bolsas + Indústria’ são financiadas pelo tecido empresarial da região de Leiria desde 2013. O programa então inaugurado tem procurado envolver a indústria, em parceria com o Politécnico de Leiria, a desenvolver ações que aproximem a academia da realidade industrial, a promover a formação em contexto empresarial, a disseminar o conhecimento e tecnologia, e a realizar ações de responsabilidade social conjuntas, beneficiando estudantes, professores e empresas. Ao abrigo do protocolo ‘+Indústria’, foram já apoiados, desde 2013, 184 estudantes, por cerca de 60 empresas. Nesta edição, foram atribuídas nove bolsas ao curso de Engenharia Mecânica, também nove ao curso de Engenharia e Gestão Industrial, sete foram atribuídas ao curso de Engenharia Eletrotécnica de Computadores, cinco ao curso de Engenharia Alimentar, quatro ao curso de Engenharia Informática, três ao curso de Contabilidade e Finanças, três ao curso de Design Industrial, duas bolsas ao curso de Engenharia Civil e duas ao curso de Marketing. Os cursos de Fisioterapia e Gestão receberam uma bolsa cada e foram, ainda, atribuídas duas bolsas a dois cursos de Mestrado (uma ao de Engenharia Informática e de Computação Móvel e outra ao de Engenharia Mecânica e Produção Industrial) e outras cinco bolsas para remodelação de quartos nas residências de estudantes do IPL. Integram esta ação 39 empresas da região. Esta parceria resulta de um trabalho de proximidade desenvolvido entre as empresas, através da CEFAMOL, NERLEI, e o Politécnico de Leiria, assente na confiança mútua e no reconhecimento da complementaridade entre estes dois tipos de instituições. Esta proximidade traz benefícios importantes para a academia e para as empresas. Por um lado, a formação ministrada é mais ajustada à realidade das empresas, permitindo aos diplomados uma melhor inserção no mercado de trabalho. Por outro lado, o maior envolvimento do tecido empresarial em projetos conjuntos de investigação e inovação potencia os processos de partilha e valorização do conhecimento, fundamentais para a melhoria dos seus produtos e processos, assim como para o reforço da sua capacidade competitiva.

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VISITA DA MEDTRONIC A PORTUGAL Depois do sucesso da missão empresarial à sede da multinacional americana Medtronic, em Minneapolis (EUA), realizada em junho de 2019, liderada pelo secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, decorreu uma missão inversa de representantes dessa empresa a Portugal, entre os dias 2 e 4 de março. Com o objetivo de demonstrar a capacidade e a qualidade da oferta portuguesa de moldes para a indústria de dispositivos médicos, o programa, coorganizado pela CEFAMOL e AICEP e com o apoio da Medtronic Portugal, teve início no Ministério dos Negócios Estrangeiros, com uma reunião com o secretário de Estado da Internacionalização e previu a visita às empresas que fizeram parte da “Missão aos EUA” em 2019: Celoplás, Famolde/GLN, MoldesRP, Set/Iberomoldes, Socem e Ribermold. O HCP-Health Cluster Portugal, parceiro da AICEP para a Fileira da Saúde acompanhou também esta missão na perspetiva de potenciar o sector da saúde nacional no âmbito da I&D para a área dos dispositivos médicos. A multinacional Medtronic é líder mundial em soluções, serviços e tecnologia médica.

‘MISSÃO INVERSA DA POLÓNIA’ CONTOU COM A PARTICIPAÇÃO DE ONZE EMPRESAS Onze empresas da indústria de moldes (dez localizadas na Marinha Grande e uma em Oliveira de Azeméis) participaram na ‘Missão Inversa da Polónia’, que decorreu entre 28 e 30 de janeiro. Tratou-se de uma organização conjunta entre a CEFAMOL e a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), que trouxe ao nosso país representantes de três empresas polacas. Patrício Tavares, da CEFAMOL, classificou a ação como “muito positiva”, contando que as empresas nacionais se mostraram satisfeitas com a iniciativa, “não só por aquilo que (as empresas polacas) representam em termos comerciais, mas também pelo profissionalismo demonstrado pelos seus representantes durante toda a semana em que visitaram potenciais fornecedores”. Por outro lado, sublinhou, também as empresas visitantes demonstraram satisfação pela deslocação a Portugal. Manifestaram apreço, desde logo, “pelas capacidades e competências das nossas empresas no que respeita a instalações, maquinaria e condições de trabalho”, considerando que correspondem à oferta e aos serviços específicos que procuravam.

“Podemos dizer que regressaram à Polónia com uma imagem muito positiva, não só da nossa indústria, mas também do trabalho promovido pela CEFAMOL e pela AICEP”, adiantou Patrício Tavares. Erofio, Fozmoldes, Moldes RP, Moliporex, PMM, Ribermold, RKP Moldes, Socem, SRFam, Steelplus e VL Moldes foram as empresas nacionais a participar nesta ação.


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TREINADOR LUÍS CASTRO DEU PISTAS PARA UMA BOA LIDERANÇA E GESTÃO DE TALENTO A importância de “liderar com o coração” e “manter as equipas motivadas” foram duas das principais mensagens, deixadas por Luís Castro, o treinador português, atualmente, ao comando da equipa de futebol do Shakhtar Donetsk (Ucrânia), no decorrer da conferência ‘Liderança e Gestão do Talento’. Organizada pela CEFAMOL, a palestra do treinador decorreu no dia 16 de janeiro em São Pedro de Moel, e contou com a participação de mais de meia centena de pessoas, grande parte gestores e quadros de empresas da indústria de moldes. “Só sei liderar com o coração”, salientou o palestrante que, durante o evento partilhou várias experiências que teve, durante o tempo em que jogou futebol, mas, sobretudo, enquanto treinador. Esta forma de liderar é, para si, “um princípio claro”. Tal como são também a boa relação com todos os seus jogadores, de forma a que se sintam confortáveis para contar os seus problemas para que possam ser ajudados na sua resolução. Um outro princípio que destacou como fundamental é “ter a certeza de que todos os jogadores sabem claramente quais são os nossos principais objetivos”, bem como “que percebam claramente a minha linguagem sobre a forma de os alcançar”. “Todos têm de estar conscientes do nosso caminho e para onde queremos ir”, enfatizou. Estabelecendo um paralelo entre a sua atividade e a indústria, considerou ser fundamental a partilha dos objetivos de uma empresa por todos os seus colaboradores. E assegurar isso é, no seu entender, o papel de um líder. “Se a liderança falha, falha tudo”, destacou. Para Luís Castro, liderar é algo que não está ao alcance de todos. “Liderar é algo que nasce connosco. Acho que o líder pode ser construído - como muitos defendem - mas tem de ter algo inato que o leve a liderar”, defendeu. Ilustrou com o seu caso, contando que “desde muito cedo, senti que poderia liderar equipas”. Por isso, enquanto jogador, foi capitão nas várias equipas por onde passou. E o passo seguinte foi ser treinador. Na sua intervenção, da liderança passou para as equipas, destacando a importância das pessoas se sentirem felizes e valorizadas pelo seu trabalho. “Quando a boca não ri, os pés não jogam bem”, afirmou. E para conseguir essa motivação, considerou, “é preciso um contexto diário” de forma a atrair talento. Com isso, gera-se valor. Fundamental para as equipas de futebol, mas também para as empresas. “No futebol, nós recrutamos, trabalhamos, desenvolvemos, rentabilizamos e vendemos”, sublinhou, lembrando que, para isso, é preciso um trabalho diário de motivação e rentabilização do talento. “É preciso dar condições para que o talento se manifeste”, aconselhou. E, para além do recrutamento, considerou fundamental que existam pessoas capazes de desenvolver esse talento. Defendeu ainda que, no caso das coisas não correrem bem, o líder deve assumir sempre a maior responsabilidade. “Quando tudo corre bem, devemos partilhar os louros com a equipa. Mas quando as coisas correm mal, eu, enquanto líder, assumo toda a responsabilidade por isso”, afirmou.

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PROGRAMA TALENTUM A conferência foi aproveitada pela CEFAMOL para lançar a nova fase do Programa Talentum que, criado o ano passado, vai prosseguir este ano, com novas ações de sensibilização e medidas concretas de apoio às empresas. Trata-se de uma iniciativa centrada na importância das Pessoas nas organizações. Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL, fez a apresentação do programa e das ações previstas para este ano, das quais se destaca a realização de um concurso, denominado ‘Pessoas na Indústria’, que tem como objetivo promover, divulgar e premiar as boas práticas de Gestão de Pessoas nas empresas. As regras serão definidas no decorrer do primeiro semestre do ano. Quanto aos vencedores, serão premiados no decorrer de uma gala, a realizar no mês de novembro, com o sugestivo tema ‘Pessoas que Moldam’. A realização desta ação é o concretizar de uma das linhas de ação definidas pelo Grupo de Trabalho que, no âmbito deste programa, foi criado o ano passado, envolvendo várias empresas. Para além desta iniciativa, está previsto ainda o regresso das ações mensais de sensibilização, dando continuidade ao trabalho realizado o ano passado. Em fevereiro, teve lugar a primeira sessão subordinada ao tema ’Desenvolver equipas, alcançar resultados’. Até final do ano (com exceção do mês de agosto), decorrerão sessões, com os seguintes temas: - ’Ligar equipas de produção: competências e ferramentas’; - ’Reuniões para ganhar tempo’; - ’O report funcional e de gestão: ferramentas’;

- ’Definir responsabilidades, criar critérios de avaliação e saber dar feedback’; - ’Família e profissionalização das empresas’; - ’Governance e gestão: um desafio organizacional’; - ’Preparar processos de delegação de atividades’; - ’Promover ações de envolvimento nas equipas: desenvolver um sentido de pertença’; - ’Formar pessoas para a indústria’. Terão lugar ainda várias ações integradas nas áreas da ‘Atração e recrutamento de talento’ e ‘Gestão e retenção do talento’, bem como intervenções diretas nas empresas que se mostrem interessadas.

SEGUNDA EDIÇÃO DO PROGRAMA TALENTUM SEGUE VERTENTE MAIS PRÁTICA Foram duas sessões bastante informais, as que marcaram o regresso do Programa Talentum que, organizado pela CEFAMOL, aborda a questão do papel das Pessoas nas organizações. ‘Desenvolver equipas, alcançar resultados’, foi o tema da primeira sessão, que decorreu a 12 de fevereiro; enquanto a segunda, subordinada ao tema ‘Ligar equipas de produção, competências e ferramentas’, se realizou a 11 de março. Nesta segunda, os participantes foram agrupados num círculo para uma interessante partilha de opiniões e experiências entre todos. Artur Ferraz, da International Business Consulting (IBC) foi um dos dinamizadores da sessão que contou, ainda, com a participação de Gonçalo Duarte, da Eugster/Frismag.

Na sua intervenção, Gonçalo Duarte começou por alertar que, na indústria de moldes, a sua perceção é que “a gestão das pessoas está a ser um pouco descurada”. E isso nota-se, no seu entender, na visível diferença entre o investimento (seja financeiro, seja a nível de importância) que é feito em máquinas e o que é dedicado à temática das pessoas. Por isso, defendeu ser necessária uma alteração de ‘mindset’, que permita valorizar e motivar mais os recursos humanos das empresas. Um dos exemplos, sublinhou, é a formação que “deve ser direcionada e incidir em algo que faça efetivamente falta na organização e sirva para fazer evoluir as pessoas”. Sugeriu ainda que os colaboradores mais antigos nas empresas passem a ser transmissores de conhecimento para os elementos mais jovens. Uma espécie de passagem de técnico executante a formador da nova geração. Desta forma, defendeu, consegue reter-se o conhecimento na organização e elevar-se a motivação das pessoas. E ‘motivação’ foi uma das palavras que sobressaiu no momento de partilha de opiniões entre os oradores e os participantes (quase três dezenas de pessoas, oriundas de várias empresas da indústria de moldes). De uma maneira geral, todos os responsáveis pelas respetivas áreas de recursos humanos procuram criar formas de


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motivar os colaboradores, sejam jovens recém-chegados, sejam elementos mais antigos. Anuindo que a mudança é necessária no que toca à gestão das pessoas, Artur Ferraz considerou que para que tal aconteça é necessário “existir vontade de quem toma as decisões”. Este é, no seu entender, o primeiro passo para a mudança e, sem ele, será difícil conseguir alterar as situações. Difícil, mas não impossível, reforçou. E, nesse sentido, considerou que um segundo passo é “conseguir mobilizar e agrupar as pessoas no sentido de fazer coisas positivas”, tendo sempre presente a realidade da empresa, os seus objetivos e posicionamento. Depois, prosseguiu, é preciso ir avaliando o processo, alterando o que for necessário, de forma a que possa ser implementada a mudança que faça a diferença necessária. E, lembrou, “é preciso ir sempre alimentando este caminho porque o processo de mudança tem de ser contínuo”. “A indústria tem de conseguir ver onde está e para onde vai, de forma a perceber quais são as competências que vai precisar no futuro. Sem isto, corre o risco de colocar em causa o seu futuro”, advertiu Artur Ferraz.

Juntar equipas para alcançar resultados A primeira sessão deste ano, realizada no dia 12 de fevereiro, foi ainda mais prática, uma vez que, sob o tema ‘Desenvolver equipas, alcançar resultados’, se traduziu numa sessão de teambuilding. Entre desafios e enigmas para “salvar a Humanidade da extinção”, os participantes - cerca de duas dezenas de profissionais da indústria - foram convidados a agrupar-se em equipas para, em conjunto, encontrar as melhores soluções. No final da sessão, constataram que, como sublinhou o dinamizador, “na base de uma grande vitória está sempre uma grande equipa” e que, muitas vezes, “é preciso afastar-se do problema para se ter uma visão diferente e, com ela, a solução”. Com um Artur Ferraz caracterizado para o ‘futuro’, todo o exercício decorreu de forma muito animada e descontraída, estimulando entre os presentes os sentidos de “cooperação, alinhamento, comunidade, conhecimento e missão”. “O sucesso desta tarefa é a prova que, nas empresas, é necessário por as várias secções a conversar de forma a encontrar soluções, mantendo o foco no objetivo final que é o sucesso”, referiu na sua intervenção final. Logo no início de cada sessão, Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL, explicou que esta segunda edição do ‘Programa Talentum’, que vai decorrer durante todo este ano, pretende ter uma abordagem “mais prática”, mas não deixando de lado as apresentações dos temas mais importantes no que diz respeito à “Gestão de Pessoas” nas organizações.

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WORKSHOP APRESENTA MODELO PARA ALCANÇAR EXCELÊNCIA NA GESTÃO ‘Trabalho Colaborativo e Orientação para Resultados: o Modelo de Excelência da European Foundation for Quality Management (EFQM) na Indústria de Moldes’, foi o tema de um workshop que, promovido pela CEFAMOL, decorreu no dia 28 de fevereiro, no auditório da associação, na Marinha Grande. Integrada no projeto “Tech-i9”, esta sessão foi dinamizada por José Morais, formador e consultor certificado pela EFQM. Explicando que, desde que foi criado, o modelo EFQM é “uma referência para as organizações”, possibilitando o desenvolvimento de uma cultura de melhoria e inovação, José Morais sublinhou que a utilização deste modelo se traduz numa preciosa ajuda para que as empresas alcancem o sucesso. No decorrer do workshop, foi apresentada a origem do modelo EFQM: uma iniciativa de 14 CEO de grandes empresas europeias que, em 1989, tinham como preocupação “incrementar a competitividade das instituições na Europa”. Porque, sublinhou, aquilo que se pretende com a adoção deste modelo é “alcançar a gestão de excelência nas organizações”. Foi criada a fundação, sem fins lucrativos, e que tem sede em Bruxelas.

O modelo EFQM foi usado, inicialmente, pelas grandes empresas. Contudo, a constatação da sua importância enquanto ferramenta de apoio à melhoria da gestão, acabou por determinar que passasse a ser utilizado também por organizações mais pequenas e até pela administração pública, em vários países. Para além da Europa, o modelo foi-se estendendo, gradualmente, pelo mundo. Ao longo dos anos, o modelo foi sofrendo algumas alterações mas, até novembro de 2019, a versão em vigor datava de 2013. Com as alterações que o mundo sofreu desde então, explicou José Morais, tornou-se necessária uma atualização do modelo. E foi sobre ela que se debruçou, explicando que se reforçaram vários aspetos, de forma a que os conceitos fundamentais possibilitem atingir “agilidade na gestão”, tendo êxito “através do talento das pessoas” e procurando “acrescentar valor ao cliente”, tendo sempre presente a meta de “construir um futuro sustentável”. No novo modelo, as ferramentas disponibilizadas (muitas delas podem ser consultadas on-line na página da EFQM) têm como meta “ajudar a empresa a estabelecer orientações”, procurando envolver, de forma colaborativa, os vários stakeholders, integrando-os na estratégia de evolução. Depois, o modelo centra parte da sua ação no desenvolvimento de aspetos como a liderança, a cultura organizacional e a definição de um rumo que tem como meta a excelência. Neste caminho, salientou José Morais, é fundamental que “as empresas olhem para si de forma crítica e, sobretudo, que tenham tempo para pensar sobre as melhores formas de incorporar valor”. Esta “Tech Session” foi concluída com a apresentação de casos de empresas reconhecidas nos vários níveis de evolução do modelo EFQM, parte das quais com sede em Portugal e algumas na indústria de moldes.

ALUNOS AMERICANOS VISITARAM INDÚSTRIA DE MOLDES Da América até à Marinha Grande. Vinte e sete alunos da Universidade de Western Michigan, nos Estados Unidos da América, visitaram a Indústria de Moldes, no dia 3 de março. A deslocação dos jovens, alunos de várias áreas de saber daquela universidade, centrou-se num circuito que permitiu dar a conhecer a história e a importância do sector dos moldes, quer na região, quer no nosso país. Nesse sentido, o grupo, que incluía também alguns professores e elementos da Fundação Luso-Americana, visitou o Grupo Iberomoldes, o Centimfe e também a exposição ‘Esculpir o Aço’ (no edifício da Resinagem, na Marinha Grande). Neste espaço, numa visita guiada por Eduardo Pedro (da revista “O Molde”), os jovens mostraram-se interessados, curiosos e muito atentos. E manifestaram-se bastante satisfeitos ao saber que os Estados Unidos da América foram, no início da história dos moldes em Portugal, o principal mercado e que contribuiu de forma incontornável para o desenvolvimento deste sector no nosso país.

A Marinha Grande foi, contudo, apenas uma das paragens dos alunos que permaneceram em Portugal durante 10 dias, ao abrigo de um programa de intercâmbio existente entre aquela Universidade e a Fundação Luso-Americana.



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WORKSHOP ANALISOU IMPORTÂNCIA DA “SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL” ‘A simulação computacional nas indústrias de moldes e plásticos’, foi o tema de um workshop que, integrado no âmbito do projeto Transcontech (Transferência de Conhecimento Tecnológico no cluster ’Engineering & Tooling’), decorreu nos passados dias 20 e 27 de fevereiro, respetivamente no Centimfe (Marinha Grande) e no Centro de Negócios da Área de Acolhimento Empresarial de Loureiro (Oliveira de Azeméis). Na Marinha Grande, e na apresentação de alguns casos práticos, Nelson Novo, da empresa Erofio, concluiu que o processo de simulação, desde que aplicado numa fase inicial, representa “visíveis ganhos de produtividade”. “A simulação permite-nos obter vantagens para as situações que enfrentamos todos os dias no desenvolvimento do projeto. Se não houvesse simulação, aconteceriam os erros que ocorriam antigamente, por vezes até nas peças mais simples”, reforçou. Apresentou três exemplos de aplicação, com êxito, da simulação: no enchimento, na refrigeração e no empeno, contando que a empresa Erofio já usa esta ferramenta há mais de oito anos, dispondo na sua equipa de uma pessoa dedicada a ela. Explicou que, atualmente, no dia a dia da empresa, procuram aplicar a simulação “cada vez mais cedo”, de forma a obter melhores resultados. Contudo, advertiu, “nem sempre o mercado nos disponibiliza tempo para realizarmos todas as simulações que precisamos”. Ainda assim, sublinhou, a simulação “é uma maisvalia para quem projeta peças”. “Hoje, todos os moldes passam por simulações. É essencial fazê-lo até porque a maioria dos clientes pede”, explicou, considerando que “é muito arriscado para uma empresa estar no mercado sem fazer simulações”.

Mónica Oliveira e Tatiana Zhiltsova, da Universidade de Aveiro, destacaram também a importância da simulação no fabrico do molde, apresentando casos práticos de estudos desenvolvidos em conjunto com empresas da região. Em alguns casos, a simulação permitiu perceber atempadamente os pontos críticos dos moldes e foi possível corrigi-los atempadamente, contaram. Mónica Oliveira salientou que os estudos possibilitam criar históricos, o que permite reduzir o erro e, com isso, a empresa consegue “ter impactos financeiros positivos”. Já Tatiana Zhiltsova falou das vantagens da simulação, entre as quais, a garantia de fiabilidade. Contudo, advertiu para a necessidade de haver algumas cautelas, como “a caracterização rigorosa dos materiais e a validação experimental (em conjunto com a simulação)”. Abordando o tema ‘O papel das diferentes físicas no desenvolvimento de produto’, João Caseiro, do Centimfe, classificou a simulação como “uma ferramenta valiosa para o projeto de moldes”. Na sua exposição, apresentou os resultados do projeto ‘Tooling 4G’, desenvolvido no âmbito de um consórcio alargado, e que, entre outras questões, permitiu analisar e reduzir o ruído no ventilador de um automóvel. Por último, João Magrinho, também do Centimfe, destacando que a indústria de moldes tem como prioridades a produtividade e a qualidade, deu conta dos resultados de uma simulação comparativa do arrefecimento de um componente do molde por processo convencional e por fabrico aditivo. Concluiu afirmando que “a simulação numérica é fundamental no projeto do sistema de arrefecimento, para garantir o desempenho estrutural do molde”. Esta ação contou com a presença de vários profissionais do sector, em representação de diversas empresas de moldes.



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CENTIMFE DISPONIBILIZA SERVIÇO DE APOIO À INDÚSTRIA NO ÂMBITO DA CIBERSEGURANÇA “A cibersegurança é uma questão cada vez mais relevante nas organizações e descurá-la pode por em risco a própria competitividade”. Esta foi a principal conclusão do workshop ‘Cibersegurança’ que, organizado pelo Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos (Centimfe), teve lugar no dia 28 de fevereiro, juntando, no mesmo painel, vários especialistas nesta temática. E a questão é de tal forma importante que o Centimfe vai, antes do final do primeiro semestre deste ano, disponibilizar à indústria um serviço de apoio no que diz respeito à segurança informática das empresas. Ricardo Freitas, do Centimfe, explicou que estão a “preparar uma consulta às empresas de moldes e plásticos. Às que aceitarem, faremos uma análise, tendo como base um conjunto de referenciais, entre os quais a norma 27.001 que é a dedicada à da segurança da informação”. Depois, adianta, “com base nesses referenciais e nessa norma, o objetivo é aferir qual o nível de maturidade das empresas nesta questão”. E, por último, “com esta ferramenta, o nosso objetivo é definir algumas ações que as empresas possam tomar de forma a melhorar”. Ou seja, com este plano o Centimfe pretende disponibilizar um serviço completo, abrangendo “desde a pesquisa, consulta de diagnóstico e, depois, a ajuda na implementação de medidas”, sublinha Ricardo Freitas, precisando que o objetivo final é “definir, em conjunto com as empresas, um plano de ação e acompanhar a sua implementação”. “O principal problema no que diz respeito a cibersegurança está, genericamente, no comportamento das pessoas nas organizações. No entanto, muitas vezes isso acontece porque a empresa não está desperta e preparada para algumas das questões”, adverte. Como exemplo, contou que, no dia anterior ao workshop, entre as zero e as 14h50, o Centimfe foi alvo de 97.744 tentativas de ataque ou intrusão. Competitividade Também o Centro Nacional de Cibersegurança, preocupado com estas questões, criou e disponibiliza no seu site, on-line, um conjunto de referenciais e ferramentas para capacitar, sobretudo as organizações, no que diz respeito à segurança informática e de informação. Esta foi a principal mensagem deixada por Pedro Mendonça, do Centro Nacional de Cibersegurança que, no workshop, abordou a questão da ‘Utilização do Ciberespaço de forma Livre, Confiável e Segura’. Lembrando que, hoje em dia, com a dependência que as empresas têm nos sistemas informáticos e na internet, esta questão deve ser encarada como “um fator económico”, uma vez que pode pôr em causa a própria competitividade das empresas. Por isso, alertou, “é fundamental antecipar e preparar as empresas para se protegerem”. Aconselhou a consulta aos vários documentos que o Centro tem publicados, entre os quais o Quadro Nacional de Referência para a Cibersegurança, no qual é possível encontrar medidas e orientações, elaboradas a partir das melhores normas internacionais. Referiu ainda que o Centro tem disponível também um quadro de avaliação das capacidades de segurança que permite perceber em que nível

de desenvolvimento a organização se situa. “Há custos muito grandes ligados à falta de segurança”, concluiu. Ataque e pedido de resgate Eugénio Santos, da Geocam, partilhou esta conclusão, ao relatar o ataque de que a sua empresa foi alvo em 2019, ano em que celebrava o 20º aniversário. O empresário contou que, na ocasião, acreditava ter implementado um sistema de proteção seguro. No entanto, piratas informáticos conseguiram paralisar toda a produção e exigiram um resgate para voltar a ligar os sistemas. A empresa não cedeu e acabou por, gradualmente, ir conseguindo recuperar a laboração. Mas os prejuízos foram avultados, afirmou. Para Eugénio Santos, é muito importante que, se passar por uma situação destas, a empresa partilhe a sua experiência, de forma a alertar, quer clientes, quer fornecedores, e até outras empresas. Foi o que fez. E, adiantou, a partir dessa experiência, todas as ações relacionadas com informática e internet “mudaram radicalmente”. Contou ainda ter investido em sistemas mais seguros de forma a “proteger mais e melhor”. Contudo, advertiu, “é preciso estar sempre muito atento e precavido porque, nesta questão, nunca estamos seguros”. Formar os utilizadores Fábio Ribeiro, da empresa WatchGuard, concordou, adiantando, contudo que “podemos estar mais seguros se apostarmos não apenas em uma, mas em várias camadas de segurança”. Lembrou que, sejam pequenas ou grandes, todas as empresas são alvos de ataque. E a base da segurança está, no seu entender, “na formação dos utilizadores”. No entanto, lembrou que esta é uma batalha permanente, uma vez que os vírus informáticos estão “cada vez mais inteligentes e passam por mutações constantes”. “As empresas não gostam de investir em tecnologias de informação, veem isso como um custo, mas é necessário investir. E não apenas nos sistemas, também nas pessoas”, sublinhou. A finalizar o workshop, Olegário Sousa, inspetor-chefe da Polícia Judiciária (PJ) e Nobre Francisco, inspetor, deram conta das dificuldades que a polícia tem em investigar os casos de ataques informáticos que, na maioria dos casos, têm origem em países estrangeiros. São casos que, por vezes, levam dois ou três anos a investigar, contaram. “Um ataque informático é como andar de moto: a questão não é se vamos cair, mas sim quando vamos cair”, afirmou Olegário Sousa, lembrando que, tal como nas motos, também é preciso investir em sistemas de segurança para proteger das quedas. Já Nobre Francisco revelou que, em 2017, o cibercrime ultrapassou financeiramente, a nível mundial, o tráfico de droga. “A impunidade é maior porque pode acontecer em qualquer ponto do mundo”, frisou. Deu conta dos vários tipos de ataques mais frequentes na região, chamando a atenção de que têm em comum os emails que, disse, “são o calcanhar de Aquiles das empresas”. No final, deixou aos presentes um conjunto de recomendações, entre as quais, a formação constante dos utilizadores de sistemas informáticos.



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Este projeto visa o desenvolvimento de um programa de formação para reforçar as competências da indústria de plásticos (PME) na adaptação a novos modelos de negócio e desafios lançados ao nível da Indústria 4.0. Apoiar as empresas nos seus processos de transformação digital traduz o objetivo que o Centimfe e a Pool-net visam com o projeto internacional ‘4ZEROPLAST’, o qual é desenvolvido com o apoio do programa ERASMUS +. Este projeto, que conta também com a participação da associação AVEP e a empresa NUNSYS, em Espanha, a Universidade Politécnica de Milão e a associação PROPLAST, em Itália, contempla não só o desenvolvimento de conteúdos formativos para gestores de empresas, nas áreas de Gestão, Inovação e Indústria 4.0, mas também o desenvolvimento de ferramentas inovadoras de diagnóstico, de avaliação e de formação, acessíveis através de uma aplicação móvel (APP) e uma plataforma on-line de e-learning. O projeto encontra-se numa fase muito avançada do seu desenvolvimento, iniciando-se já no segundo trimestre de 2020 a validação das ferramentas desenvolvidas por potenciais formandos, os quais serão convidados a instalar a APP do projeto, através da qual poderão efetuar testes de avaliação aos seus conhecimentos nas áreas referidas e aceder à plataforma de e-learning para enriquecer os seus conhecimentos. A aplicação permite igualmente a elaboração de diagnóstico às empresas, visualização de resultados e apresentação de recomendações. O Centimfe e a Pool-net acolheram a 3.ª reunião deste consórcio internacional, que decorreu nos dias 17, 18 e 19 de fevereiro, a qual incluiu visitas a empresas da região. Para informações adicionais, visite o website do projeto: 4zeroplast.eu


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Decorreu no dia 27 de fevereiro de 2020, nas instalações da Simoldes Aços a sessão de divulgação de resultados do projeto de I&DT em copromoção ‘#SIMOLDES4.0 – Moldes de Injeção com visão artificial e sensorização inteligente ’.

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Este projeto, liderado pela Simoldes Aços contou com a participação do Centimfe e da Universidade do Minho e decorreu entre setembro de 2016 e novembro de 2019.


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FORMAÇÃO ESPECIALIZADA NO CENTIMFE ​

O Centimfe continua com a sua missão de apoio e promoção de Formação Técnica e Tecnológica especializada dos Recursos Humanos das empresas e dos seus futuros quadros tendo iniciado no mês de fevereiro a ação “Tempos e Métodos”. ​ sta formação teve como objetivos específicos saber determinar E rácios e indicadores de desempenho dos recursos, assim como o desenvolvimento de métodos de trabalho adequados à execução das tarefas.

A 9 de março teve início a formação em “Boas Práticas de Medição e de Gestão da Metrologia Industrial”, cujo objetivo geral é dotar os formandos dos conhecimentos necessários à realização das calibrações internas e gestão dos equipamentos de medição.

PROJETO “SAP4MA – SMART AND ACTIVE PACKING FOR MARGARINES” O Centimfe esteve presente, em fevereiro, na reunião de kick off do projeto Internacional “SAP4MA – Smart and Active Packing for Margarines”, que decorreu na Turquia. Este projeto é apoiado pelo programa EURIPIDES, e integra parceiros da Turquia, da República Checa e de Portugal (Moldit, CeNTI, Centimfe).

4ZEROPLAST - 3.ª REUNIÃO DE CONSÓRCIO O Centimfe acolheu no passado mês de fevereiro a 3.ª reunião de consórcio do projeto internacional 4ZEROPLAST desenvolvido no âmbito do programa ERASMUS+, o qual visa o desenvolvimento de conteúdos de formação para apoiar as PMES na sua transição para a indústria 4.0.

7ª REUNIÃO DE ACOMPANHAMENTO PROJETO IDERCEXA O Centimfe esteve presente na 7ª reunião de acompanhamento do projeto IDERCEXA/INTERREG POCTEP, que decorreu em Badajoz. ​ reunião contou com a presença dos 17 parceiros do projeto e foi A importante para avaliar a execução e definir um planeamento fino com metas a atingir até ao final do mesmo (set. 2020).

PROJETO SIAC TRANSCONTECH - TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO E TECNOLOGIA No âmbito do projeto, o Centimfe promoveu um ciclo de workshops na Marinha Grande e em Oliveira de Azeméis, subordinado às seguintes temáticas: - ‘Economia circular: desafios para a transição de uma economia linear para uma economia circular, nas indústrias de moldes e plásticos‘ - ‘A Simulação Computacional nas Indústrias de Moldes e Plásticos‘ - ‘CiberSegurança: A informação da sua empresa está segura? Conhece os riscos a que está exposto? Sabe como prevenir e minimizar os riscos de segurança?‘

Com cerca de 200 participantes, os workshops contaram com oradores especialistas, do Centimfe, da APIP, de empresas industriais e da comunidade científica.


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OPEN E “DÁ-TE A CONHECER” EM MONTEMOR-O-NOVO Montemor-o-Novo, acolheu a OPEN e um representante do Município da Marinha Grande, para mais uma sessão de trabalhos, inseridos na iniciativa “Dá-te a Conhecer”. O evento, que ocorreu no passado mês de janeiro, permitiu ainda, a partilha de experiências e de boas práticas com empreendedores locais.

FUNDÃO RECEBE A MARINHA GRANDE E O PROJETO “DÁ-TE A CONHECER” A OPEN esteve em missão no Fundão, no âmbito do projeto “Dá-te a Conhecer”, no dia 13 de fevereiro de 2020, onde foram abordados temas para dar continuidade ao projeto. No mesmo dia, decorreu ainda uma reunião dedicada ao projeto de Formação Profissional com Cabo Verde, onde se fizeram representar os municípios parceiros (Marinha Grande, Fundão, Penela e Vagos) e outras entidades essenciais à boa continuidade do mesmo (Cenfim, Cefamol e Escola Profissional do Fundão)”.

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SETSA LIDERA PROJETO DE AERONAVE MODULAR FLEXCRAFT A SETsa, do Grupo Iberomoldes, lidera o consórcio responsável pelo desenvolvimento do projeto “FLEXCRAFT” que tem como finalidade a criação de uma aeronave, a Flexible Aircraft, assente no conceito de modularidade, que permite uma reconfiguração da cabine para diferentes missões (sejam comerciais e de lazer, de socorro e auxílio ou outras). Além disso, a aeronave tem a capacidade STOL (pode competir com soluções de asa rotativa, através de uma operação em pistas curtas, melhorando o desempenho global).

O consórcio FLEXCRAFT teve início em dezembro de 2016 e o término em março de 2020, perfazendo um total de 40 meses, adiantou Leonel de Jesus. A conclusão das atividades deste projeto serão celebradas com a sua apresentação, na exposição Aircraft Interiors, em Hamburgo, na Alemanha. Aposta na aeronáutica A equipa da SETsa ligada a este projeto é composta por profissionais de diversas áreas cientifico-tecnológicas, com competências que vão desde a definição de especificações técnicas, desenvolvimento de produto, CAD 3D, programação, maquinação, controlo, montagem/integração e passando pela, não menos importante, competência de gestão e coordenação de projeto, num total de aproximadamente 15 pessoas. Os parceiros do projeto têm alocadas cerca de 40 pessoas. São igualmente equipas multidisciplinares para desenvolvimento de tarefas, como design, engenharia de materiais, aviónica, testes. etc.

Neste projeto estão, para além da SETsa, a Almadesign, a Embraer Portugal, o Instituto Superior Técnico e o INEGI. De acordo com o site dedicado à aeronave, o FLEXCRAFT nasceu do projeto “New Face” e da sua vertente utility “com o objetivo de elevar de forma integrada as tecnologias críticas deste conceito: configuração, soluções de flexibilidade e processos de produção e materiais”. “Voo e Operação, Versatilidade e Usabilidade e Materiais e Processos de Produção são as três linhas de desenvolvimento do projeto. São validados através de três demonstradores evolutivos, nomeadamente com um veículo pilotado remotamente, uma mockup (modelo à escala real) e demonstradores de materiais e processos de produção”, refere ainda o site. Leonel de Jesus, responsável pela área industrial da SETsa, explicou que a participação da empresa “surge na continuidade de anteriores projetos realizados em parceria com outras empresas nacionais e entidades do sistema científico e tecnológico. Foi uma parceria que se estabeleceu há mais de 10 anos, e que, consecutivamente, tem vindo a ser desenvolvida e consolidada”. Assim, sublinha, “dos diversos projetos que este consórcio desenvolveu, existem três que foram fundamentais para a concretização do FLEXCRAFT, nomeadamente os projetos ‘Imperio’, ‘Life’ e ‘New Face’. Estes três projetos têm como denominador comum o facto de abordarem a mobilidade aérea, nomeadamente o tema da vigilância, logística de mercadorias, bem como o transporte de pessoas”. No âmbito do consórcio do projeto, a empresa da Marinha Grande “tem assumido, desde o primeiro projeto, o papel de coordenador responsável por todas as atividades de desenvolvimento de ferramentas de produção, bem como todas as atividades de integração de todos os componentes que incluem os protótipos desenvolvidos (mockups)”, refere ainda. Para além da componente técnica e tecnológica, a SETsa teve ainda a seu cargo a responsabilidade de coordenação técnica do projeto, tendo sido o seu promotor líder.

Leonel de Jesus sublinha que este projeto é apenas mais um exemplo da prioridade que a SETsa coloca na constante inovação. A empresa, diz, “sempre teve no seu DNA os constantes desafios de procura de novas tecnologias, novos mercados no âmbito da sua estratégia de competitividade, entendendo que o seu crescimento e desenvolvimento devem estar assentes no reforço das suas competências técnicas de inovação, design e produção de produtos e ferramentas inovadoras”. Nesse sentido, a empresa já participou no desenvolvimento e conceção de diversas aeronaves e, refere Leonel de Jesus, “tem vindo a especializar-se numa aérea da aeronáutica, que é a do desenvolvimento e produção de mockups para essa indústria”. Mas, ressalva, “esta é uma das muitas áreas que o sector aeronáutico tem e que está integrado na cadeia de desenvolvimento de aeronaves. Também, e fruto destes projetos, já desenvolvemos e produzimos mockups para clientes diretos, como foi o caso mais recente, o projeto ‘ALICE’, um avião elétrico com capacidade para 9 passageiros e 2 tripulantes”. Neste projeto, ao qual a revista “O Molde” deu destaque (em setembro de 2019), a SETsa foi responsável pela construção de todo o interior da cabine, incluindo o cockpit, de uma aeronave 100% elétrica.



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GLN APOSTA NA INTERNACIONALIZAÇÃO, INOVAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DE RECURSOS

Celebrando 6 anos de aquisição pelo Grupo Manuel Champalimaud, o Grupo GLN mantém a sua génese, de uma empresa que aposta no rigor, inovação tecnológica constante, e que, paralelamente mantém o foco no capital humano e no conhecimento organizacional proveniente de décadas de experiência. Apostando na valorização da cadeira de valor, o Grupo GLN deu o primeiro passo para a sua internacionalização em 2016, através da inauguração de uma unidade no México que se dedica à manutenção e injeção técnica, que nos permite oferecer um serviço de proximidade e dedicado às necessidades dos seus clientes/ parceiros. Regidos pelo valor da Excelência, Mérito, Ética e Responsabilidade, o Grupo GLN pretende promover o desenvolvimento profissional e aprendizagem através de uma academia de formação, que visa não só a formação contínua e a certificação de competências internamente, como a desmistificação do conceito de “indústria” tornando-o mais atrativo entre os potenciais candidatos.

Ainda neste sentido, estão a ser definidas estratégias internas, que trabalhem ao nível da comunicação e agilidade entre as unidades produtivas, com o objetivo de implementar um modelo de gestão comum, tendo como suporte as melhores práticas das várias unidades produtivas, seja ao nível do planeamento, controlo de produção, gestão de Know-how e processo de decisão, mantendo a atitude empresarial que caracteriza o Grupo. A GLN continua a reforçar a sua posição entre os players de maior destaque, através dos esforços de internacionalização, inovação e qualificação dos seus recursos.

PEARLMASTER RECONHECIDA COMO ‘PME EXCELÊNCIA 2019’

A empresa Pearlmaster, com sede nos Parceiros, Leiria, foi distinguida com o estatuto de ‘PME Excelência 2019’ depois de, o ano passado, ter sido contemplada com a distinção de ‘PME Líder’. A empresa mostra-se “muito orgulhosa” com a distinção, considerando que foi “concedido com base num exigente conjunto de critérios de performance, pois o estatuto ‘PME Excelência’ está apenas ao alcance das melhores empresas nacionais”. Para

além disso, adianta ainda que este galardão “constitui um fator de diferenciação e de notoriedade no mercado, sendo um sinal da saúde financeira das empresas junto dos seus parceiros de negócio”.



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PROAZ: 25 ANOS DE EXCELÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS E FORTE DINÂMICA COMERCIAL

Integridade. Ética. Dedicação ao cliente. Competência. Profissionalismo. São estas as principais características que têm permitido à Proaz, de Oliveira de Azeméis, trilhar um percurso de sucesso na área dos moldes e, 25 anos depois da sua criação, a empresa - que se dedica ao desenvolvimento de projeto e também à área comercial - continua a dar passos no sentido de crescer e aumentar o seu volume de negócios. A Proaz integra hoje uma equipa de dez pessoas (seis na parte técnica, duas na área comercial e duas na área administrativa), entre os quais se contam os três sócios que são o rosto do projeto - João Silva, Carlos Leitão e Elísio Ferreira. A experiência de duas décadas e meia no sector, aliada à dinâmica de uma equipa jovem e empenhada, têm conquistado clientes dentro e fora do país. O percurso da Proaz começou em 1995, com a constituição, a 24 de janeiro, de uma pequena unidade de desenvolvimento de projeto, em Oliveira de Azeméis. Na criação, estiveram envolvidos quatro sócios, todos com experiência na indústria de moldes. Procuraram que esta nova unidade desse resposta às necessidades dos fabricantes do sector, ao nível dos serviços técnicos e desenvolvimento de projetos. Um dos sócios acabou por sair, em 1998. Os restantes três mantêm-se até aos dias de hoje.

Nos primeiros anos de atividade, a empresa, de dimensão muito reduzida, funcionou, apenas com os quatro sócios, num pequeno escritório, desenvolvendo o seu trabalho para algumas empresas de moldes da zona norte, especialmente de Oliveira de Azeméis. Contudo, o projeto foi crescendo. A qualidade e o bem fazer foram conquistando novos clientes, de outras zonas do país, como a Marinha Grande, e a empresa aumentou a equipa e mudou de localização, primeiro para um apartamento e depois para um escritório de maiores dimensões, sito na Rua Bento Landureza, em Oliveira de Azeméis. É aí que ainda hoje funciona. Para além do projeto, a Proaz começou, em 1996, a enveredar também para a área comercial, angariando clientes, continuando a desenvolver os projetos e colocando os moldes a produzir em fabricantes nacionais. Manteve-se assim até 1998, data em que um dos sócios saiu. Os restantes três decidiram continuar o negócio e avançar com uma remodelação da empresa, centrando a aposta naquilo que melhor sabiam fazer: o desenvolvimento de projeto. A excelência do trabalho que protagonizaram permitiu à empresa ir crescendo e conquistando clientes. Solução comercial Foi assim que, em 2004, aproveitando a mudança para as atuais instalações, a Proaz decidiu apostar noutra área de negócio e reiniciou a sua atividade comercial. Foi, na opinião de João Silva,


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“um passo muito importante e determinante para o que a empresa é hoje”. Esta decisão deveu-se ao profundo conhecimento que os três sócios tinham dos fabricantes de moldes da região. Conheciam bem o seu trabalho, as suas especificidades e o seu valor. Sabiam também que muitos destes fabricantes, dada a sua pequena dimensão, não tinham resposta comercial ou técnica. Foi, por isso, com naturalidade que a Proaz deu o passo de procurar, no estrangeiro, clientes para os fabricantes de moldes da região. A aposta saldou-se pela positiva. Hoje, a atividade comercial representa a maior fatia do volume de negócios da empresa, que tem como principais mercados a Suíça, França, Espanha, Alemanha e, mais recentemente, a Tunísia. Estes moldes, sublinha João Silva, são dos mais variados sectores, entre os quais - mas não a sua maior parte - a indústria automóvel. “Ao contrário de outras empresas, não estamos dependentes do mercado automóvel porque entendemos, desde sempre, que diversificar é importante”, explica João Silva. Para além da indústria automóvel, têm em execução projetos para as áreas da eletrónica, eletrodomésticos, utilidades domésticas, construção ou jardim. Uma vez conquistados os projetos, os moldes são colocados a fabricar em Portugal, no conjunto de fornecedores que a Proaz

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reconhece pela qualidade do serviço que prestam. Os clientes nacionais tornaram-se, com esta aposta, também fornecedores da Proaz. Para além da angariação comercial, a empresa desenvolve todo o suporte de acompanhamento destes moldes, desde a fase do projeto ao teste final e envio aos clientes. “Não somos simples intermediários. Longe disso: oferecemos um serviço completo e, com a experiência profissional que desenvolvemos ao longo de 25 anos, o nosso trabalho é uma mais valia para os nossos clientes. A única fase do processo do molde que não fazemos dentro de portas é o fabrico”, sublinha João Silva. Para além desta atividade, a empresa mantém o desenvolvimento de projeto, para os clientes que necessitam. Tem até, neste momento, alguns clientes no estrangeiro que recorrem aos seus serviços. É desta forma conjunta que a Proaz continua hoje a dar resposta positiva às exigências dos seus clientes de moldes, assegurando o total cumprimento de parâmetros que considera fundamentais na indústria: aliar soluções rápidas e preços competitivos a uma elevada qualidade, tendo total capacidade para elaboração de todos os processos necessários ao fabrico de moldes (desde a conceção até à peça final).


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TESTE: HÁ 25 ANOS A ENSAIAR E GARANTIR A QUALIDADE DOS MOLDES NACIONAIS dia a dia, de lidar com os nossos clientes e tentar proporcionarlhes o melhor serviço, procurando ultrapassar tantos desafios que nos têm sido colocados”, sintetiza Acácio Francisco. A TESTE é, desde 1995, uma empresa vocacionada para o ensaio de moldes, com a particularidade de poder fazer pré–séries e pequenas produções. Foi criada com o objetivo de responder a uma das grandes necessidades do sector: maior qualidade e fiabilidade nos ensaios dos moldes. A laborar em instalações modernas e funcionais, a TESTE investe fundamentalmente em tecnologias de ponta, de forma a assegurar sempre a melhor resposta aos seus clientes. Tem uma equipa jovem e dinâmica, constituída por dez pessoas. Junho de 1995. A TESTE foi criada então por quatro sócios, dos quais permanecem atualmente dois na sua direção: Acácio Francisco e Gilberto Henriques. Acácio Francisco, recorda, com rigor, o momento em que a empresa iniciou a atividade, naquele dia 19 de junho pelas 13h00, após a ligação do posto de transformação (PT) que permitia fazer chegar a eletricidade à empresa que tinha, então, sede na Moita. “Já tínhamos os moldes à espera para pôr nas máquinas e fazer os ensaios”, lembra. O primeiro cliente, faz questão de referir, foi a empresa Tecnimoplás. A 13 de maio de 2002, a TESTE mudou para as atuais instalações, em Moinhos de Cima, Embra, Marinha Grande. Dos pontos mais importantes da vida da empresa, o fundador salienta o trabalho que desenvolveu com a multinacional Legrand, entre 1998 e 2005; a forma como a TESTE conseguiu ultrapassar a crise do sector, em 2008/2009, tendo adquirido até o terreno contíguo às suas instalações; e ainda o trabalho desafiante que manteve com a empresa Plasfil da Figueira da Foz. “Mas o que ressalvo de mais estimulante são os momentos bons do nosso

Aposta na qualidade técnica A empresa é hoje constituída por dez pessoas. Uma equipa técnica, jovem, dinâmica, eficiente e motivada, que tem como prioridade uma gestão orientada para as necessidades particulares do cliente, assegurando um serviço adequado no ensaio de moldes e dentro dos prazos acordados. Todos os serviços realizados na TESTE têm garantia de qualidade, sendo fornecido a cada cliente um relatório, com todos os detalhes e condições de moldação usados no ensaio dos seus moldes. De forma a prestar a melhor resposta, a empresa está dotada de um conjunto de equipamentos e acessórios, como termorreguladores de temperatura a água e a óleo, estufagem de 30 qualidades de material diferentes com temperatura individualizada, unidades de injeção, pratos rotativos, robôs de recolha de peças, tapetes rolantes, mesas rotativas para depósito de peças, desumidificadores com 10 zonas individuais e com controlo do ponto de orvalho, refrigeradores, doseador de corantes e analisador de humidade da matéria-prima, entre outros. Tem capacidade de máquinas entre as seis e as quinhentas toneladas. A maior parte do trabalho da empresa continua a ser o ensaio do molde. No entanto, surgem com frequência trabalhos de pré-séries e pequenas produções. A empresa está muito vocacionada para moldes de dois e três componentes. O cliente mais importante da empresa, diz Acácio Francisco, é o fabricante nacional de moldes. E a prioridade, destaca, “é assegurar-lhe a melhor resposta técnica”. E a experiência que a TESTE adquiriu ao longo destes 25 anos é a grande mais-valia, no que diz respeito à confiança dos clientes no bom serviço prestado.


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25 anos a inovar A história da TESTE pauta-se pelo crescimento, assente na inovação constante. Mas, sublinha Acácio Francisco, isso só se consegue com uma equipa motivada. E essa motivação tem sido uma das grandes prioridades dos dois sócios que olham para cada colaborador como um membro da família. Nesse sentido, cada atividade festiva ou extratrabalho é alargada à participação dos familiares dos colaboradores. “Cada vez que fazemos um investimento temos sempre de pensar que, na empresa, não estamos sozinhos. É preciso pensar também nas necessidades dos colaboradores e até nas suas famílias”, defende. Como exemplo, Acácio Francisco refere as celebrações dos aniversários (e no Natal), contando que a passagem do 25º será, no dia 20 de junho, “um evento para recordar”. Nos anos anteriores, dá exemplo de algumas das atividades que foram desenvolvidas nos festejos. No primeiro aniversário, a festa foi realizada na empresa; aos cinco anos, foi realizada uma visita ao Jardim Zoológico de Lisboa; na passagem do décimo aniversário, decorreu um passeio no rio Douro; aos 15 anos, foi organizado um passeio de fim-desemana à Madeira e, aos 20 anos, um passeio de fim-de-semana a São Miguel, nos Açores.

No que diz respeito aos projetos para o futuro, a TESTE vai continuar a centrar a sua ação nos valores de excelência e qualidade que a colocaram em lugar de destaque entre as empresas de ensaios de moldes. Por uma questão estratégica, a empresa adquiriu, no final do ano passado, o pavilhão contíguo às suas instalações. É que crescer também faz parte dos planos, mas com passos seguros e a devida ponderação.


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FORMAÇÃO NA INDÚSTRIA DE MOLDES

ESCOLA SECUNDÁRIA SOARES BASTO

PRIORIDADE À VIA PROFISSIONAL E TRABALHO COM EMPRESAS PARA MOTIVAR OS ALUNOS Maria José Calix conta ainda que, no ano letivo de 2017/2018, a Escola iniciou “a implementação de um modelo de gestão da qualidade, certificado e específico para o ensino profissional (Quadro EQAVET), assente na visão estratégica do Agrupamento e o nosso compromisso com a qualidade da oferta de Ensino e Formação Profissional, fomentando o lema assumido no Projeto Educativo, ‘AESB – Uma Marca na Tua Vida’, numa linha de continuidade e de desenvolvimento”. Neste momento, e direcionados para a indústria de moldes, a Escola tem em funcionamento dois cursos do ensino profissional: ‘Técnico de Produção em Metalomecânica - Programação e Maquinação’ e ‘Técnico de Transformação de Polímeros’.

A Escola Secundária Soares Basto, que integra atualmente o maior agrupamento de escolas do concelho de Oliveira de Azeméis, é uma instituição com 90 anos, sempre ligada e dedicada ao ensino, à educação e à formação. Foi criada em 1924 como Escola de Artes e Ofícios Soares Basto (situada em Palmaz) e, em setembro desse mesmo ano, assumiu a designação de Escola de Artes e Ofícios ‘O Comércio do Porto’. Iniciou a sua atividade em 8 de dezembro de 1927. Mais tarde, em 1948, deu corpo e alma à Escola Industrial e Comercial de Oliveira de Azeméis. Por ela passaram muitos, hoje ilustres membros da comunidade desta cidade, vários deles ligados atualmente à indústria de moldes. Tem, atualmente, 140 alunos a frequentar os dois cursos mais direcionados para as áreas de moldes e plásticos. Maria José Cálix, diretora da Escola, considera que “o prestígio e o crédito acumulados ao longo de mais de três gerações não resultaram do simples passar dos anos. Decorrem de uma “história de sucesso que foram sabendo construir, mantendo viva a memória do seu percurso no tempo e renovando a sua disposição de permanecer aberta a mudanças para continuar a executar, com relevância e qualidade, a sua função formadora e educadora”. A aposta na diversidade da oferta formativa e a constante aceitação de novos desafios e projetos “têm sido reconhecidas ao longo dos anos por diversas entidades nacionais, regionais e locais, ligadas ao ensino e à formação profissional e, desde 2006, frequentam o ensino profissional mais de 50% dos alunos do ensino secundário desta instituição”, salienta a responsável.

O curso de Técnico de Produção em Metalomecânica Programação e Maquinação (antigo Curso Profissional de Mecânica – Manutenção Industrial) está em funcionamento na Escola desde 2003, dando continuidade às ofertas existentes anteriormente, enquanto Escola Comercial e Industrial de Oliveira de Azeméis. Quanto ao curso de Técnico de Transformação de Polímeros, entrou em funcionamento no ano letivo de 2017/2018, para responder, diretamente, a uma necessidade identificada como prioritária na indústria local, nomeadamente das empresas do Grupo Simoldes. ALIAR TRADIÇÃO E INOVAÇÃO “Dada a importância da história desta instituição no concelho e na região, sempre ligada ao ensino e formação profissional, procuramos aliar, até hoje, a tradição à inovação”, explica a diretora da Escola, salientando que “relembramos o passado para caminhar em direção ao futuro, construindo um presente sempre atento aos anseios e expectativas do nosso tempo e do nosso território”. O percurso da Escola tem sido marcado pela aposta no ensino profissional, “sempre ao encontro das expectativas dos nossos formandos e da comunidade que servimos”, adianta. E destaca que, “nos últimos dez anos a Escola tem continuado a apostar na oferta das áreas tradicionais - área da metalomecânica e dos moldes - porque continuam a ser muito procuradas na comunidade envolvente, com elevadas taxas de empregabilidade, atual e futura”. Recorda que Oliveira de Azeméis “está no centro da inovação e do desenvolvimento tecnológico e é de uma enorme importância, no contexto económico nacional, assim como no que diz respeito à exportação e internacionalização das empresas portuguesas ligadas a este sector”.


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FORMAÇÃO NA INDÚSTRIA DE MOLDES

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140 JOVENS EM FORMAÇÃO No ano letivo 2018/2019, frequentaram, no total dos dois cursos da área, cerca de 120 alunos, distribuídos por seis turmas nos três anos de formação. Já este ano, encontram-se em formação, nos dois cursos, cerca de 140 alunos, divididos por seis turmas no curso Técnico de Produção em Metalomecânica - Programação e Maquinação e uma turma no curso Técnico de transformação de Polímeros. Desde o ano de 2006 até 2019, de entre os cursos referenciados e o de Técnico de Mecatrónica, em funcionamento no ciclo de formação 2006/2009, concluíram o ensino secundário profissional nesta Escola cerca de 350 pessoas.

Situada “em pleno coração de um dos mais importantes núcleos da indústria do país”, a Escola “procura interagir e corresponder às necessidades do tecido económico local, regional e até mesmo nacional, neste como noutros sectores, através da sua oferta formativa diversificada de cursos de Ensino e Formação Profissional”, declara.

“Se atendermos à formação ministrada a adultos (EFA), empregados e/ou desempregados de 2006 a 2012, no sector dos moldes, qualificámos cerca de 90 adultos. A partir de 2012 e até 2016, em parceria com o IEFP, qualificámos, ainda nesta área, mais 60 adultos”, adianta a responsável. “Na globalidade, estamos a falar de 500 pessoas qualificadas neste sector por este estabelecimento de ensino no período referenciado”, sublinha. Os alunos que procuram a Escola para a frequência destes cursos profissionais são oriundos do concelho de Oliveira de Azeméis, mas também de concelhos vizinhos (Albergaria, São João da


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Madeira, Santa Maria da Feira, Estarreja, Arouca). São alunos que concluíram anteriormente o Ensino Básico, que iniciam a formação profissional de nível secundário com 15/16 anos. Maria José Calix diz que, de uma maneira geral, as expectativas que estes jovens apresentam “são concluir o ensino secundário, numa via mais prática e, simultaneamente, adquirir uma formação profissional que lhes permita o ingresso no mundo do trabalho, após os 18 anos, numa área com grande empregabilidade no nosso território”. Finda a formação, uma grande parte (cerca de 85%, segundo dados de 2019) ingressa no mundo do trabalho. Contudo, há alunos que optam por continuar a estudar, para obterem uma qualificação superior na área do curso frequentado. Saliente-se ainda que, entre os jovens que, na área de moldes e plásticos, entram no mundo do trabalho, 48% têm ingressado em empresas do Grupo Simoldes e 52% estão empregados noutras empresas do concelho. MOTIVAÇÃO DOS JOVENS A Escola Secundária Soares Basto tem, ao longo da sua história, mantido uma relação e colaboração estreitas com todas as empresas do sector localizadas no concelho, seja através dos protocolos de estágios, seja nas diversas parcerias de colaboração. De entre os vários projetos que a instituição tem desenvolvido com diversas empresas, Maria José Calix destaca um protocolo de parceria e colaboração com as empresas do Grupo Simoldes, implementado nos dois últimos anos letivos. Sublinha que este grupo empresarial é constituído, apenas em Oliveira de Azeméis, por 12 empresas. Contudo, tem outras, espalhadas pelo mundo, a última das quais construída e já em funcionamento em Marrocos. “Trata-se de um protocolo assinado no dia 8 de dezembro de 2017, ato deliberadamente incluído na cerimónia de celebração dos 90 anos da Escola, que iniciou uma nova parceria entre as duas entidades - AE Soares Basto e Grupo Simoldes”, conta,

FORMAÇÃO NA INDÚSTRIA DE MOLDES

sublinhando que apesar da parceria entre as duas entidades ser antiga, “o protocolo agora formalmente estabelecido, iniciou uma mais ampla e sólida articulação e colaboração que vai muito para lá da estabelecida, anteriormente, para o desenvolvimento da componente da formação em contexto de trabalho, incluída nos planos de formação dos alunos que frequentam os cursos profissionais na nossa escola. Na verdade, a consolidação desta parceria acrescenta valor ao já elevado nível da formação dos nossos alunos”. “Existe, hoje, uma maior aproximação da formação ao contexto real de trabalho pela partilha de conhecimento, pela disponibilização de recursos, materiais e humanos, e pela planificação conjunta do desenvolvimento da formação. Com esta estreita colaboração, queremos oferecer uma formação ainda mais qualificada e mais adequada à constante evolução tecnológica, mas também, mais adequada às necessidades reais do trabalho, nunca perdendo de vista as exigências que a atual sociedade coloca aos jovens trabalhadores”, salienta. E esta é uma parceria na qual, não tem dúvidas, “todos os intervenientes ganham: a nossa Escola, que para além do prestígio que lhe confere o facto de trabalhar em conjunto com o Grupo Simoldes, passou a ter à sua disposição novos recursos, materiais e humanos, no desenvolvimento da sua formação profissional; os professores, que passam a beneficiar do trabalho colaborativo com os técnicos deste grupo, o que lhes proporciona um enriquecimento pessoal e profissional ‘sem preço’; os alunos, que ganham com a oferta de uma formação de qualidade, dedicada e muito mais próxima do contexto real de trabalho”. Todo o projeto, considera, contribui para uma maior motivação dos jovens que, considera, “ganham, também, o que hoje é muito importante: expectativas reais de emprego e condições para iniciarem ou desenvolverem os seus projetos de vida”. Maria José Calix conclui, dizendo o desígnio desta Escola é conseguir “dar um bom contributo para o desenvolvimento industrial local e regional e para a promoção e valorização do ensino profissional”.



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OS JOVENS NA INDÚSTRIA Nesta edição da revista “O Molde”, damos início a um conjunto de entrevistas a jovens técnicos que acabam de chegar à indústria de moldes. Nestas conversas, procuramos perceber como é que os profissionais que chegam, agora, ao mercado de trabalho veem o sector e como perspetivam o seu futuro profissional.

idealizado”, explica. Gostou. O seu desempenho e gosto não passaram despercebidos e acabou por ser convidado a ficar na empresa, no final do estágio. Aceitou. E conta, com orgulho que, neste momento, está a ser ultimado o primeiro molde que projetou. “É muito gratificante”, assegura.

O que têm em comum António Crespo, Diogo Parreiras e Francisco Bernardo Francisco? São os três jovens (de 24, 23 e 19 anos, respetivamente) e escolheram a indústria de moldes como o ponto de partida para as respetivas carreiras profissionais.

Para aqui chegar, considera ter sido fundamental a presença e o apoio dos profissionais mais experientes que, desde o primeiro dia, o têm acompanhado e apoiado na secção de projeto da empresa. “Estou sempre a aprender. Acho que vou estar sempre, ao longo da minha vida”, afirma, contando que, por isso, e para aumentar ainda mais as suas capacidades, está a concluir o mestrado de Produção Industrial.

António Crespo é projetista há cerca de um ano e meio, na Tecnimoplás. A curiosidade pela indústria de moldes, conta, começou no momento de decisão, no final do secundário. Foi nessa altura que começou a investigar sobre este sector, na qual trabalhava um seu familiar. Tinha de decidir, nesse momento, o que seguiria em termos de área profissional para o futuro. Optou, então, por engenharia mecânica e ingressou no Instituto Politécnico de Leiria (IPL). “Naquela altura, os moldes estavam em alta. Falava-se muito e bem sobre o sector. Hoje também, mas naquela altura isso chamou-me a atenção”, conta.

Mas o seu grande foco é continuar a aprender e a fazer cada vez mais e melhor. “No início de carreira, penso que não há nada melhor do que estarmos num sítio com pessoas dispostas a ensinar-nos e pessoas que apostam em nós, na nossa evolução”, sublinha. Apesar de ter gostado do curso que frequentou, considera que seria benéfico para todos os alunos se “o contacto direto com a indústria fosse feito mais cedo”. Ou seja, “a escola devia apostar em estágios mais cedo e não apenas no último ano”. Mas afirmase satisfeito com a escolha que fez e o resultado final da formação. “Tive a sorte de aquilo que idealizava fazer, é mesmo o que gosto de fazer”, conclui. “SINTO QUE VOU EVOLUINDO E ISSO É MUITO MOTIVADOR” Diogo Parreiras, 23 anos, é programador há quase dois anos e meio, na TJ Moldes. Foi no início da licenciatura de Engenharia Mecânica, no IPL, que teve conhecimento da indústria de moldes. Até aí, já ouvira falar de moldes, de uma forma superficial, e nunca imaginou integrar-se, um dia, nessa indústria. Imaginava, sim, integrar-se na indústria, de uma forma genérica, pois, relata, sempre teve um fascínio grande pela criação e pelo desenvolvimento de produtos.

“Fui pesquisando, de forma autodidata, para conhecer mais. Comecei a gostar do próprio conceito de criar o molde para a produção da peça plástica. E foi logo aí que nasceu o gosto pelo projeto. Acho que é o mais desafiante de todas as fases de produção do molde, apesar de haver muitos colegas que conheço a dizer que é ‘o mais secante’. Mas decidi que era o que queria”, relata. No curso de Engenharia Mecânica, os alunos realizaram algumas visitas a empresas, e, na escola, houve algumas palestras sobre a indústria de moldes. E essa proximidade acabou por o fazer gostar ainda mais. No final do curso, realizou o estágio na Tecnimoplás. Percorreu várias áreas da empresa e acabou por pedir para experimentar o projeto. “Precisava de saber se correspondia ao que tinha


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Apesar disso, defende que o curso deveria ter uma maior ligação às empresas. E explica a razão: “há pequenas unidades curriculares que, se calhar, estão um bocadinho descontextualizadas com o que é a realidade da indústria”. Diz ter notado isso, por exemplo, nos equipamentos que são utilizados. “Há uma diferença entre o contexto do curso e o da indústria. Isso solucionava-se, no meu entender, com uma maior proximidade com as empresas. Podíamos ter estágios mais curtos e mais cedo”, considera. A TJ Moldes surgiu por um “feliz acaso”, conta. Um dos seus colegas de escola tinha recebido uma bolsa, no âmbito do IPL Indústria, e tinha estado na empresa. “A forma como falou da empresa agradoume e, no momento de decidir, acabei por escolhê-la”, conta. No período de estágio, percorreu as várias áreas da empresa. No final, foi-lhe proposto ficar na área da programação. Aceitou e dois anos e meio depois, manifesta-se satisfeito com a decisão. “Considero que a fase de estágio, em que percorremos as várias secções da empresa, nos dá uma visão global que, numa fase seguinte, é muito útil. Hoje, em função desse conhecimento, sabemos quais as máquinas, as ferramentas e até as pessoas que temos na empresa. E até, numa fase mais teórica, os mecanismos que podemos adotar de forma a tornar a empresa mais eficiente. Tudo isto se consegue a partir do estágio”, explica. E sublinha também a importância do acompanhamento dos colegas de trabalho mais experientes. “Em momentos em que surgem situações novas, gosto sempre de ouvir alguém mais experiente para saber se estou a decidir pelo mais correto. E as pessoas estão sempre cá para ajudar com a sua experiência”, afirma. Mas a função permite-lhe também pensar e criar diferentes formas de fazer, tendo como meta uma maior standardização do processo. “É muito estimulante porque é sempre diferente. Sinto que vou aprendendo, evoluindo, e isso é muito motivador”, declara. Aliás, sublinha, no seu caso, “tem de haver sempre esta motivação porque eu preciso de ser constantemente desafiado para não estagnar”. E isso, assegura, tem encontrado na indústria de moldes. E é com agrado que acredita poder dar o seu contributo para o futuro deste sector, seja com o conhecimento que o curso lhe proporcionou sobre novos materiais e métodos, seja pela melhoria constante que procura implementar no seu dia a dia. “Procuro contribuir com o meu conhecimento e sinto que sou ouvido, apesar de muito jovem”, explica. “O MEU OBJETIVO É FICAR E CRESCER O MÁXIMO POSSÍVEL” Francisco Bernardo Francisco tem 19 anos. Os moldes são uma indústria que, no seu caso, já está há algum tempo na família, uma vez que o pai trabalha há alguns anos, no sector. Foi, por isso, com naturalidade que tomou a decisão, logo no nono ano de escolaridade de ingressar no ensino profissional, no Cenfim, no curso de programação CNC. Considera ter saído da formação bem preparado para começar a trabalhar. Contudo, uma vez na empresa, descobriu que a sua paixão era outra: a bancada. É nesta secção que desenvolve a atividade, há cerca de um ano na Geocam. Foi nesta empresa que fez o último estágio, ainda no âmbito do curso, e gostou tanto do ambiente que, no momento de ingressar no mundo do trabalho, candidatou-se a um lugar.

Sobre os moldes, diz ter constatado que se trata de uma indústria, sobretudo na bancada, que exige uma grande dedicação e perfeição. “De uma maneira geral, é natural termos de fazer horas para cumprir os prazos que são muito exigentes”, afirma. Para desenvolver o seu trabalho diz que tem sido de extrema importância - e admite que continuará a ser - o apoio dos colegas mais experientes. “É preciso muita dedicação mas também a sabedoria para se conseguir o rigor que é preciso”, explica. Ao final de um ano, considera que já se nota a sua evolução. Mas acredita que será necessário muito mais tempo até conseguir fazer, na perfeição, o que a bancada exige. “Ainda há muita coisa que não sei fazer sozinho. Mas acredito que esse dia vai chegar”, diz. Francisco conta que, quando pensa no futuro, se vê a continuar no sector: “é uma indústria que permite viver bem aos que forem bons profissionais. Por isso, o meu objetivo é ficar e crescer o máximo possível”. Para este jovem, que estagiou noutros locais antes de chegar à empresa onde está hoje, é fundamental que os estagiários sejam bem recebidos e envolvidos na atividade quando chegam às empresas. “Esse primeiro contacto com as empresas é muito importante. E tive casos, à minha volta, de pessoas que ficaram desmotivadas pela forma como foram recebidas e até ponderaram ir para outros sectores”, conta.


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DESTAQUE HIGHLIGHT

ECONOMIA CIRCULAR

A economia circular nas empresas de moldes e de injeção

A economia circular no sector dos plásticos

Indústria de moldes na era da economia circular

Economia circular? O que temos a ver com isso?

O impacto de um design of experiments na indústria dos plásticos e na economia circular

O Sector fala de… economia circular

O Sector fala de… economia circular nas indústrias de moldes e plásticos


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DESTAQUE HIGHLIGHT

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A ECONOMIA CIRCULAR NAS EMPRESAS DE MOLDES E DE INJEÇÃO António Baptista*, Dulcínia Santos* * CENTIMFE – Centro Tecnológico da Indústria de Moldes Ferramentas Especiais e Plásticos

As empresas portuguesas do tooling, entre fabricantes de moldes e ferramentas, de injeção e produção de peças e componentes em plástico, têm implementados sistemas de gestão que contemplam as melhores práticas ao nível ambiental com recolha seletiva de resíduos e respetivo encaminhamento, para redução do consumo energético. A implementação dos sistemas de gestão nas empresas do tooling tem contribuído para a criação de uma nova cultura entre todos os colaboradores onde estão bem presentes os princípios de sustentabilidade, que promovem a redução do uso, a separação e o encaminhamento seletivo. Por outro lado, estas empresas cumprem a legislação em vigor, tendo estabelecido vias para a regeneração, reintrodução ou encaminhamento de resíduos e materiais. Como exemplo refiram-se as limalhas de aço (Figura 1) que são um resíduo do fabrico do molde e ferramentas, e para as quais está estabelecida uma cadeia fluida entre as empresas produtoras de limalha e as empresas recicladoras, que tratam previamente os materiais e depois os encaminham para a siderurgia onde serão fundidos para produzir nova matéria-prima.

As empresas do tooling caracterizam-se por uma dinâmica melhoria contínua o que passa pela implementação de soluções de melhoria dos seus processos como metodologias de Lean Manufacturing, e pela contínua atualização tecnológica, primando por adotar as tecnologias de produção mais recentes, na perspetiva de aumentar a sua eficiência. Ao contrário do passado, hoje estas empresas selecionam os seus equipamentos atendendo ao seu consumo energético e ao seu desempenho em produção, nomeadamente os equipamentos críticos, como centros de maquinação, máquinas de injeção e compressores para produção de ar comprimido. Refirase que estes últimos são reconhecidamente um dos maiores consumidores de energia elétrica nas empresas, e dessa forma, de recursos financeiros. A economia circular prescreve a redução da incorporação de matériaprima na cadeia, privilegiando a circularidade dos materiais na cadeia o máximo de tempo possível. A este nível o trabalho inicia-se na fase da conceção, no que se pode chamar de conceção do produto para a circularidade, tratando-se de uma peça plástica, de um molde de


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F1 – Limalhas de aço provenientes da fresagem

injeção ou de uma ferramenta. Esta fase deve contemplar a redução do volume de material necessário para produzir o artigo, o que se consegue tirando partido das técnicas de CAD e CAE. Estas técnicas permitem simular as geometrias em diferentes cenários de uso (ver Figura 2) e, com os resultados obtidos, proceder ao seu redesenho, avaliar e redistribuir as cargas a que o produto estará sujeito, e daí otimizar a distribuição de material para as zonas onde realmente é necessário, e proceder à alteração de propriedades e fazer ajustes às características para responder aos desafios do produto e do mercado. De facto, é possível desenhar peças e produtos otimizados e mais resilientes ao uso, e aliar aspetos relevantes para o tratamento em fim de vida, seja reparação ou desmantelamento.

F2 – Simulação de componente de molde

Na conceção do molde, as técnicas de simulação permitem analisar a distribuição térmica na superfície moldante. Os resultados da análise permitem otimizar a arquitetura dos canais de arrefecimento de acordo com as necessidades de cada geometria e com as características de cada peça (figura 3), assumindo configurações complexas. Com isto é possível reduzir a distorção da peça e melhorar a sua qualidade geométrica e de forma, reduzir o desperdício de matéria-prima pela geração de menos produto não conforme, e reduzir o tempo de arrefecimento e o consumo de energia. Estes canais otimizados e complexos apenas podem ser produzidos pelas técnicas de fabrico aditivo. Além da produção de canais complexos, a técnica de fabrico aditivo tem um impacto relevante no fabrico do molde numa perspetiva de economia circular, pelo facto de permitirem adicionar material de forma seletiva e apenas onde é necessário. Como consequência é possível reduzir o volume de material utilizado na produção do molde, e também o material a remover em operações de acabamento, reduzindo a energia consumida, o consumo de ferramentas de corte, a ocupação de máquina, etc. Acresce que se o molde for mais pequeno poderá ser utilizado numa máquina de injeção mais pequena, o que contribuirá para a redução do consumo elétrico. A integração de matéria-prima reciclada é uma das premissas

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F3 – Otimização da arquitetura de canais de arrefecimento

de uma economia circular. Nos últimos anos tem havido alguma dinâmica para criação de soluções de Simbiose Industrial, nomeadamente pelo estudo de processos que possibilitem a utilização de resíduos para a criação de novos materiais. Refiramse como exemplo os projetos IDT em copromoção X-Nano e reGraffitti, que foram dinamizados por empresas e entidades do cluster ‘Engineering & Tooling’, e que criaram tecnologia para produzir novos materiais a partir de limalhas de aço e de grafite dos elétrodos utilizados na electroerosão por penetração. Estas dão origem respetivamente, a pós de aço que podem ser utilizados nas técnicas de fabrico aditivo, e grafeno como material do futuro com utilização em múltiplas aplicações de elevado valor. No caso da produção de peças plásticas pelo processo de injeção esta integração já ocorre em muitas tipologias de peça. No entanto, está sempre dependente da aprovação do cliente, na medida em que é necessário assegurar o cumprimento de requisitos mecânicos, requisitos estéticos, biológicos, etc., pois sabe-se que qualquer variação na composição do material ou contaminação por elementos estranhos pode comprometer o desempenho dos componentes ou o desempenho dos processos de produção. A indústria automóvel é disto exemplo, que por imposição tem vindo a incorporar maior quantidade de material reciclado. Esta indústria recorre a materiais reciclados para produzir peças e componentes não visíveis ou com menores requisitos mecânicos ou funcionais, e a matéria-prima virgem para produzir os componentes mais críticos do automóvel, como elementos de segurança ou peças estéticas. Atendendo aos factos apresentados e relacionados com a redução de matéria-prima e de energia para fabrico de moldes ou ferramentas e para a produção das peças plásticas, verifica-se um impacto económico direto nas empresas. Acresce um contributo para a economia nacional pela redução da importação de bens e recursos para a mesma tipologia de produto e pela reintegração e exportação de materiais metálicos provenientes de resíduos, e um menor impacto ambiental global pela redução da exploração de novos recursos naturais. A nível social, há o recurso a novas tecnologias que estimulam a criatividade com vista à melhoria de processos, à redução de materiais e de custos, o que contribui para a criação de emprego de elevada qualificação baseado no conhecimento. O desenvolvimento e implementação de estratégias de economia circular nas empresas do tooling promoverá benefícios económicos, sociais e ambientais significativos, baseados na eficiência de utilização de recursos e num modelo de desenvolvimento sustentável e numa economia verde e de baixo carbono, e contribuirá para o combate à depleção dos recursos naturais.

‘Tooling 4G’ | Advanced Tools for Smart Manufacturing | Projeto Mobilizador Nº 24516



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A ECONOMIA CIRCULAR NO SECTOR DOS PLÁSTICOS Bruno Pereira da Silva* * Diretor Projeto - PIEP

A valorização de um material plástico no seu fim de vida através da sua reutilização como recurso para a produção de novos produtos é uma das bases da economia circular. Os plásticos, pelas suas características únicas e quando aplicados os princípios da economia circular, serão fundamentais para a redução da pegada de carbono e, consequentemente, das alterações climáticas.

capacidade na educação superior e na investigação científica (Departamento de Engenharia de Polímeros e Instituto de Polímeros e Compósitos) e o Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros, PIEP, pela sua capacidade instalada na investigação aplicada com forte pendor na ligação e transferência de conhecimento e tecnologias ao tecido industrial.

Atualmente, face aos desafios globais do planeta Terra, a Europa e Portugal iniciaram o processo de transição de uma sociedade linear para uma sociedade circular e eficiente em termos de recursos, o que faz com que os plásticos, atendendo as suas propriedades e características únicas, possam dar um grande contributo para esta transformação social. O modelo económico da atualidade (extrair, transformar, descartar) é insustentável, pelo que, será necessário adotar uma alternativa que se encontre focada em redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade.

O PIEP, enquanto Centro de Interface Tecnológico Português para o sector dos Plásticos, consciente da importância económica do sector para o país, dos seus desafios no contexto global para uma economia circular e do seu enquadramento Europeu, tem vindo a desenvolver e a participar em várias iniciativas que permitam responder a este desígnio. De destacar a nível nacional, a sua participação enquanto membro fundador do Pacto Português para os Plásticos, o qual pretende desenvolver um conjunto de ações com vista a atingir um conjunto de metas e objetivos até 2025. Em setembro de 2019, o PIEP entre outros atores da cadeia de valor dos plásticos europeus assinou a Declaração da Circular Plastics Alliance, promovida pela Comissão Europeia, a qual estabelece de que forma a aliança prevê atingir a meta de utilizar 10 milhões de toneladas de plástico reciclado na produção de novos produtos na Europa até 2025. Esta iniciativa demonstra o quanto o PIEP e a cadeia de valor dos plásticos se encontra comprometida em aumentar a circularidade e a eficiência deste material, que oferece benefícios extraordinários para a sociedade.

Mas para isso acontecer é extremamente importante que a sociedade tenha conhecimento dos benefícios dos plásticos e de que forma a sua utilização responsável pode ajudar a esta transformação do mundo em que vivemos. O plástico, graças à sua versatilidade e alta eficiência de recursos, tornou-se um material extremamente importante e omnipresente na economia e na vida quotidiana, permitindo ajudar a enfrentar uma série de desafios com os quais se depara a sociedade. Desde a sua utilização na produção de componentes para automóveis e aeronaves, onde graças ao seu baixo peso permite poupar combustível e reduzir as emissões de CO2, passando pela sua aplicação como material de isolamento, contribuindo para poupanças nas faturas de energia, até à produção de embalagens de plástico, muito importantes para garantir a segurança dos alimentos e reduzir o desperdício destes. Assim, tornou-se um material extremamente importante para sectores como os transportes, a embalagem, a construção civil, a energia renovável, o espaço, o desporto, a saúde e os dispositivos médicos. Em Portugal, o sector dos plásticos tem apresentado um importante dinamismo e crescimento, contando hoje com aproximadamente 1.000 empresas que empregam mais de 23.000 pessoas e que geram 5 mil milhões de euros de volume de negócios, onde 3 mil milhões de euros são exportações. Atendendo à balança comercial, o sector dos plásticos apresenta-se hoje como um sector extremamente importante para a economia do país, tendo representado em 2018 aproximadamente 2,4% do PIB Nacional. Não menos significativo é igualmente o sector dos moldes em Portugal, o qual diretamente ligado ao sector dos plásticos, tem igualmente vindo a crescer ao longo dos últimos anos, sendo hoje mais de 540 empresas com um volume de negócios superior a 750 milhões de euros, onde mais de 85% são exportações. Ao nível científico e tecnológico, Portugal tem instalado no seu território um elevado conhecimento na área dos plásticos e compósitos, onde se destaca a Universidade do Minho pela sua

A IMPORTÂNCIA DA ECONOMIA CIRCULAR, A RECICLAGEM E A REUTILIZAÇÃO DE MATERIAIS Para alcançar as metas da economia circular nos plásticos, é necessário existir melhorias ao nível do design de materiais e produtos, matériais-primas recicladas de alta qualidade, uma recolha seletiva mais alargada e uma necessidade de ter uma maior quantidade de matérias primas recicladas disponíveis. Assim teremos de ter uma abordagem integrada que permita aumentar a circularidade, quer seja pelo desenvolvimento de materiais com propriedades que permitam a sua reciclagem; desenhar produtos que incentive a sua reutilização e reparação; desenvolver soluções que promovam a vida útil dos produtos em plástico; desenvolver tecnologias de reciclagem que permitam aumentar o tratamento e recuperação de resíduo plásticos; e incorporar matérias primas alternativas na produção de plásticos (matérias primas que incorporam resíduos ou subprodutos de outros sectores e processos). O sector dos plásticos em Portugal, tendo como base o conhecimento científico e tecnológico existente, a capacidade e vontade das empresas da nova cadeia de valor do sector e o envolvimento responsável da sociedade civil, será capaz de alavancar a transição para uma economia circular em Portugal com claros benefícios estruturantes para a sociedade do presente e do futuro.


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INDÚSTRIA DE MOLDES NA ERA DA ECONOMIA CIRCULAR Sara Campos*, Joana Gouveia*, Luís Oliveira*, Sílvia Esteves* * INEGI - Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial

A temática das alterações climáticas é atualmente um assunto premente e necessário. O mundo encontra-se num momento decisivo para evitar que os efeitos nefastos, até agora criados em grande parte pelo ser humano, se avolumem e agravem. A União Europeia (UE) tem vindo a realizar esforços neste sentido, o que resultou na adoção de um Plano de Ação para a Economia Circular (EC). Neste plano, a UE afirma como objetivo desenvolver uma economia neutra em termos de carbono, eficiente em termos de recursos, e competitiva. No respetivo plano de ação, a economia circular é descrita como uma economia “em que o valor dos produtos, materiais e recursos se mantém na economia o máximo de tempo possível e a produção de resíduos se reduz ao mínimo”. Neste sentido, a UE desenvolveu um quadro de controlo da EC composto por um conjunto de indicadores-chave relevantes que incidem sobre os seus principais elementos. No contexto português, o Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC) foi desenvolvido analogamente ao plano de ação da UE,

atuando a nível nacional, sectorial e regional. Dentro destes grupos destacam-se os apoios existentes para o desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras, que auxiliam a transição dos sectores industriais no contexto de uma economia linear para uma economia circular, integrando todos os fluxos económicos, sociais e ambientais. Através das medidas e ações do PAEC, o governo português pretende alcançar uma redução de 50% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) relativamente aos níveis de 2015, um aumento do PIB em 11%, bem como uma redução do consumo de matérias-primas em 32% até 2030 e 53% até 2050. Para atingir estes objetivos, é necessário responsabilizar o produtor, tendo este um papel fundamental na conceção de um produto, uma vez que as decisões tomadas durante esta fase influenciam o impacto derivado da sua utilização, tais como, a eficiência do consumo de materiais e energia, o tempo de vida útil/durabilidade, possibilidade de reparação/substituição, e opções de desmantelamento e tratamento no fim de vida.


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F1 – Equipamento DED – Direct Energy Depositon – em operação na estação laboratorial do INEGI

A produção de moldes em Portugal tem vindo a acelerar a inovação no sector desde os anos 40, num processo de crescimento e desenvolvimento contínuo. De forma a atingir a circularidade, a indústria dos moldes pode atuar em várias frentes, nomeadamente através de soluções técnicas aplicadas, impacto ambiental das atividades desenvolvidas, normalização de processos, participação ativa na legislação portuguesa, bem como a sua integração dentro do sector. O projeto mobilizador ‘Tooling 4G’ pretende dar um contributo importante para a capacitação das empresas do sector de ’Engineering & Tooling’, contribuindo para a criação de conhecimento interno que possibilite alavancar a transição para a economia circular. Através da utilização de tecnologias inovadoras, como, por exemplo, o fabrico aditivo, as soluções desenvolvidas no âmbito do projeto possibilitam a reparação de moldes danificados e, consequentemente, a extensão do tempo de vida útil do mesmo. Reduzindo assim o consumo de matéria-prima e energia necessários à produção de um molde novo, contribuindo para um melhor aproveitamento dos recursos, e menos externalidades negativas. A tecnologia DED (Direct Energy Deposition), utilizada no âmbito do projeto, consiste na deposição de um pó ou fio metálico, cuja fusão entre camadas é assegurada pela energia fornecida por um feixe de laser. A formação de uma zona de ligação é promovida pela fusão simultânea de camadas e posterior solidificação e arrefecimento controlados. Esta tecnologia está a ser desenvolvida pelo INEGI Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia

DESTAQUE HIGHLIGHT

F2 – Display do HMI – Human Machine Interface – desenvolvido pelo INEGI.

Industrial, que operacionalizou a primeira estação laboratorial DED no país, possibilitando o fabrico aditivo metálico para peças complexas de grande dimensão (até 2000mm por 1000mm), com adição de um pós-processamento para acabamento (por via subtrativa) e controlo dimensional, com elevado grau de precisão e qualidade. Uma vez que se trata de uma tecnologia recente, é importante descortinar todos os fluxos de materiais e energia envolvidos neste processo através de estudos de Life Cycle Assessment (LCA), atualmente a decorrer. Neste contexto, o objetivo passa pela avaliação da sustentabilidade, considerando as vertentes económicas, ambientais e sociais/organizacionais, avaliando todo o ciclo de vida desde a fase de design, passando pela produção e uso até ao seu fim de vida. Desta forma será possível quantificar os impactos associados a esta tecnologia, contribuindo assim para a aceleração da EC no sector. Durante a fase de utilização, e acompanhando a Indústria 4.0, o equipamento DED será assistido por um Human Machine Interface (HMI) que permitirá a monitorização e otimização dos processos de fabrico. Deste modo, o ‘Tooling 4G’ ambiciona desenvolver cadeias de produção sustentáveis “zero defeitos” e zero desperdício, contribuindo assim para o plano de ação da EC, e a longo prazo, para uma indústria circular e sustentável. O projeto mobilizador ‘Tooling 4G’ - Advanced Tools for Smart Manufacturing é financiado ao abrigo dos programas Compete 2020, Portugal 2020 e Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

Serviço exclusivo às empresas associadas.



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ECONOMIA CIRCULAR? O QUE TEMOS A VER COM ISSO? Victor Neto* * Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro

Há dias, num workshop sobre economia circular para uma plateia ligada à Indústria de Moldes e Plásticos, pedi para que a audiência definisse, em poucas palavras, o que entende por economia circular. Eis algumas das respostas obtidas: Valorizar; Circular as matérias-primas; Considerar todo ciclo de vida dos produtos; Reduzir o desperdício; Sustentabilidade; Reutilizar; Produção e reprodução sem impacto; Responsabilidade; Introduzir resíduos no processo. Todos os contributos podem ser aportados à adaptação a uma economia circular. Contudo, economia circular é mais que reduzir o impacto ambiental, reduzir o desperdício ou incorporar esse desperdício na produção. Economia circular é um MODELO DE NEGÓCIO. O modelo de negócio de economia linear é aquele em que fazemos a extração das matérias-primas, produzimos, usamos e descartamos. Nos anos 90 começou a dar-se importância económica e ambiental à reciclagem, e paulatinamente foram sendo desenvolvidos modelos de negócio assentes na economia da reciclagem. É neste contexto que surgem as entidades gestoras de resíduos, recolhendo o produto que foi usado e reintroduzindo os materiais na produção de novos produtos. O modelo de negócio de economia circular exige um pouco mais. Obviamente necessita-se de ir buscar alguma matéria-prima à natureza e proceder à produção de produtos que sejam úteis à sociedade. No entanto, a produção e utilização desses produtos deve permitir a sua reparação, devolução, reutilização e reciclagem. Para tal, o modelo de negócio tem de o permitir. Tome-se como exemplo o modelo de negócio de carrinhos de bebé. Este produto é produzido com uma série de componentes e materiais diferentes. Têm todos uma cadeia logística bem definida. Tipicamente é um produto com alguma modularidade e permite algum grau de manutenção. O carrinho é vendido e é usado durante um a dois anos. Depois é, eventualmente, guardado para um futuro bebé. Como seria um modelo de negócio circular deste produto? Seria com certeza um modelo em que, em vez de se vender o carro, era feito o seu aluguer. Aqui, enquanto promotores do modelo de negócio, teríamos o primeiro desafio: quanto estaria disposto o cliente a pagar pelo aluguer? 10 euros/mês? E esse valor seria suficiente para tornar o negócio viável? Segundo desafio: como desenvolver um produto que possa ser utilizado sucessivamente, que permita ser mantido e reparado se necessário? Como clientes, por certo não estamos dispostos a alugar um carrinho riscado ou danificado. Terceiro desafio (mas que provavelmente deveria ser logo o primeiro): como definiríamos a nossa organização interna e cadeia logística para este modelo de negócio? Será que produzir em massa, longe do mercado, continua a ser a melhor opção? Estará a empresa consciente das implicações organizativas, logísticas, e de design de produto e serviços que é necessário adotar? Voltando ao workshop, pedi à plateia para, de forma anónima, indicar em poucas palavras o que, na sua opinião, impede a sua

F1 – Modelo de negócio circular de retorno

empresa de transitar para uma economia circular. Algumas das respostas: A pouca recetividade do mercado; Dispersão da cadeia de valor; Matéria-prima reciclada insuficiente; Repensar logística; Falta de know-how; Processo de recolha do produto; A duração do ciclo de vida do produto; Requisitos funcionais e durabilidade; Pouca abertura do mercado; Concorrência vs. legislação; Estrutura organizacional; Design do produto definido pelo cliente; Processos complexos; Custos Operacionais; O atual modelo de negócio; Mindset. Efetivamente a transição e adoção de um modelo de negócio assente em economia circular não é responsabilidade de uma só entidade. É uma responsabilidade conjunta, da indústria, dos consumidores e dos governos. Pensemos na responsabilidade dos fornecedores, na sua globalidade, desde o fornecedor de matérias-primas ou componentes até ao vendedor do produto. Por um lado, pode, como ilustrado na figura 1, cada um ser responsável por receber de volta o que vendeu? Isto é, o vendedor do automóvel pode ser responsável por receber o automóvel, o fornecedor dos painéis das portas responsável por recebê-las de volta, o fornecedor do plástico responsável por receber o plástico usado? Por outro lado, pode a posse de matéria-prima ser considerada um investimento de longo prazo? Suponhamos que adquirimos hoje uma tonelada de uma matéria-prima que utilizamos para produzir um produto. Colocamos esse produto ao serviço do cliente, mas a propriedade do produto é nossa. Se essa matéria-prima tiver um aumento de preço de mercado de 10% ao ano, provavelmente estamos na posse de um interessante ativo tangível. Mas atendamos também à responsabilidade dos consumidores. Fazemos todos parte deste conjunto. Logo à partida atendemos a fatores socioculturais. É importante ter a posse de um bem material? Ou é suficiente usufruir desse bem? Como lido com a integridade e durabilidade de um bem que não é meu? Quando alugo um automóvel, tenho os mesmos cuidados que tenho com o meu? Finalmente, a responsabilidade dos governos. Aqui coloco duas dimensões de responsabilidade. A primeira, como agente que desenvolve mecanismos de promoção de modelos de negócio circulares, criando regulamentação, impondo obrigações e incentivos. A segunda, como entidade que recolhe impostos dos atuais modelos de negócio. Se transitarmos para um modelo em que a posse de um automóvel deixa de ter significado, como é que a recolha de impostos da venda de automóveis é compensada? Em conclusão, a transição para uma economia circular é inevitável. Estou em crer que daqui a umas dezenas de anos será estranho este tempo de modelos de negócio lineares. Para lá chegarmos, as empresas têm de considerar procurar desenvolver inovação organizacional, a valorização de recursos, e, porventura, a adoção de circuitos curtos de economia circular, não ignorando as limitações dos materiais, dos processos e do próprio ecossistema.



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O IMPACTO DE UM DESIGN OF EXPERIMENTS NA INDÚSTRIA DOS PLÁSTICOS E NA ECONOMIA CIRCULAR C. Araujo*, R. Marques*, R. Alves*, S. Cruz*, R. Batista**, H. Silva*** * Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros, PIEP, Universidade do Minho | ** Instituto Superior Técnico, IST, Universidade de Lisboa | *** Planimolde, Marinha Grande

RESUMO A otimização do processo de moldação por injeção possibilita à indústria a melhoria na qualidade dos componentes finais e o aumento da produtividade. A realização de um Design of Experiments (DOE) com recurso a softwares de simulação numérica, permite esta otimização do processo de um modo mais eficiente, através da redução de experimentações e de correções, traduzindo-se numa redução de custos e riscos financeiros (redução energética, redução do número de amostras e da redução do tempo necessário no ensaio ao molde antes da produção em série). Este estudo pretende demostrar a relevância que a otimização do processo pode ter na indústria e na economia circular. Palavras-chave: Moldação por Injeção; Simulação Numérica; DOE; Otimização do Processo, Economia Circular 1. INTRODUÇÃO 1.1. Design of Experiments (DOE) O DOE é uma ferramenta estatística em que, através de um plano de experiências, se analisa a influência de diferentes variáveis em simultâneo, num resultado final. O modelo desta ferramenta mais utilizado pela indústria é o método de Taguchi. Este último é composto por determinadas experiências fatoriais, cujo arranjo constituiu uma matriz ortogonal padronizada. Este método permite que o número de experiências a validar seja reduzido, de modo a se obter uma análise eficiente do processo [1-3]. A matriz ortogonal varia consoante o número de experiências (e), e estas dependem do número de fatores de controlo (f) e dos seus níveis (n): e=nf . Os fatores de controlo são as variáveis que se combinam nas experiências, e podem ser diretamente alteradas e controladas. Os níveis são os valores que se definem para cada variável: por exemplo, a uma variável, pode-se definir um valor mínimo, médio e máximo. Destas experiências são obtidos os resultados, definidos como índices de qualidade, que variam consoante os níveis dos fatores de cada experiência, e que, portanto, não podem ser controlados diretamente. O método de Taguchi é ainda diferenciado pela possibilidade de se analisar a influência dos fatores que não podem ser controlados, designados de signal-to-noise (S/N) [4]. Assim, o uso deste método é vantajoso para melhorar a qualidade dos produtos, aumentar a produtividade e, consequentemente, a diminuição de custos, sendo corrente no desenvolvimento de produtos e de processos de produção, nomeadamente na indústria da moldação por injeção de peças plásticas. Neste sentido, o estudo dos fatores de controlo (temperatura do fundido (Tf), temperatura do molde (Tm), velocidade de injeção, etc.) que mais influência têm nas respostas definidas (dimensões de peça, defeitos à superfície

da peça, etc.) de forma a otimizar o processo e a garantir a sua robustez e consistência. Existem, também, softwares de simulação numérica do processo produtivo capazes de realizar o método de Taguchi, eliminando a necessidade de recorrer à experimentação [2] [5-7]. Ou seja, um DOE vem eliminar a necessidade de recorrer à experimentação, resultando invariavelmente num tipo de redução, o que afeta diretamente em termos de impactos ambientais e económicos, reduzindo-os. Assim, a relevância económica de um DOE é, possivelmente, a consequência mais evidente na medida em que acarreta reduções de recursos energéticos, de matérias primas e redução na produção de resíduos industriais. Neste sentido, um dos princípios-chave para a promoção da economia circular é a otimização de processos, tendo em conta que este conceito assenta em 3 grandes pilares: económico, ambiental e societal. 2. CASO DE ESTUDO O objetivo deste trabalho consistiu em exemplificar de que forma um DOE pode dar suporte às empresas na otimização do processo, prevenção e eliminação de possíveis defeitos sem recorrer à experimentação, minimizando os impactos ambientais e económicos. Como caso de estudo, e com a cortesia da Planimolde Fabrico e Comércio de Moldes, S.A., usou-se uma peça complexa. A peça em estudo apresenta alguma complexidade geométrica com 10 estruturas de engate e uma parede com liberdade geométrica numa das extremidades da peça, e com variação da espessura ao longo da peça, estando compreendida entre os 1.0mm e 2.51mm. A ferramenta produtiva, constituída por duas cavidades moldantes, tem um sistema de alimentação híbrido, que inclui um distribuidor controlado termicamente e um canal frio, que divide o caudal para as duas cavidades. A entrada do material na peça ocorre através de um ataque do tipo submarino, posicionado na lateral de uma das extremidades da peça. Quanto ao sistema de controlo de temperatura (a água), responsável pelo controlo da temperatura das placas fixa e móvel das cavidades moldantes, não é simétrico. A placa móvel é constituída por dois circuitos independentes, e a placa fixa por cinco. O material utilizado para a produção das peças é uma mistura comercial de PC/ABS. 2.1. Simulação do processo Na simulação do processo de moldação por injeção, recorrendo ao software comercial Autodesk Moldflow, analisou-se o avanço do fluxo fundido durante o enchimento, o comportamento do material nas fases de compactação e de arrefecimento, e a transferência de calor da peça para a superfície do molde, sendo possível a previsão


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de possíveis defeitos e quais as variáveis com maior influência nos mesmos. Para esta análise inicial foram consideradas as condições do processo sugeridas pelo software (Tf de 270°C e Tm de 70°C). Baseado nos resultados obtidos através da simulação, foi estruturado um DOE, segundo o método de Taguchi, para a otimização do processo, melhoria da qualidade da peça, e eliminação a necessidade de recorrer à experimentação de todas as variáveis/fatores. 2.2. Design of Experiments (DOE) Para a realização do DOE foram selecionados três fatores de entrada: Tf, em °C, Tm em °C, e tempo de ciclo (tciclo), em segundos (s), e determinou-se uma variação em três níveis para cada fator. Desta forma, o nível - corresponde ao valor mínimo, o nível 0 corresponde ao valor médio, e o nível + corresponde ao valor máximo de cada fator. Os valores de cada nível, para o correspondente fator de entrada, estão apresentados na Tabela 1. Através dos fatores de entrada definidos, obtiveram-se, para cada experiência, o Desvio Padrão (DP) da contração volumétrica (Cvol) da peça, em %, e o desvio padrão (DP) da sua deformação total (Dtotal), em mm. A análise destas respostas permitiu a construção de gráficos de efeito, de forma a analisar a influência dos fatores de entrada em cada resposta, diretamente relacionadas com o empeno da peça. No final do estudo da previsão numérica e da ferramenta estatística realizou-se uma validação experimental, com o objetivo de comprovar estes resultados com os valores reais e apurar as vantagens de recorrer a ferramentas de simulação, evitando a necessidade de validar experimentalmente todo o plano de experiências desenvolvido. Fator de entrada

Nível -

Nível 0

Nível +

Tf (°C)

250

270

290

Tm (°C)

56

70

84

tciclo (s)

24

30

36

T1 – Fatores e níveis de entrada selecionados para o DOE.

3. RESULTADOS 3.1. Simulação do processo Relativamente ao estudo do perfil de enchimento, observou-se que o avanço do material não é uniforme ao longo da peça, uma vez que o polímero tem maior dificuldade em preencher as zonas de pormenores geométricos (engates rápidos). Quanto ao tempo de injeção, o enchimento das cavidades deu-se em 2s. No entanto, foi registado um enchimento não balanceado entre as duas cavidades do molde, uma vez que existe um atraso na frente de fluxo de uma peça relativo à outra. A pressão de injeção no ponto de comutação, resultante deste processo, foi de 54 MPa, valor admissível para um processo de moldação por injeção. Relativamente aos defeitos que possam advir da fase de enchimento, foi registada a criação de linhas de união de fluxo, devido aos pormenores geométricos na peça. No entanto, e uma vez que estas se formam a uma temperatura superior à temperatura de injeção do polímero, prevê-se que as linhas de soldadura não serão críticas a nível de comportamento mecânico e a probabilidade de serem

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notórias é reduzida. Verificou-se, ainda, a existência de prisões de ar, localizadas nas últimas zonas a serem preenchidas pelo fundido, sugerindo a necessidade de utilização de um sistema de escape de gases. Durante a fase de compactação, é importante analisar a contração volumétrica da peça. Neste caso, foi notória a variação da mesma, com valores superiores nas zonas de pormenores geométricos, em que ocorre a alteração de espessura. Podemos assim concluir que a contração ao longo da geometria não foi homogénea. Do mesmo modo, foi registada a possibilidade de existência de chupados, ou depressões, localizados nos mesmos pormenores da peça. Quanto ao arrefecimento, uma análise à temperatura ao longo da espessura da peça, na fase de arrefecimento, permitiu verificar que em algumas zonas, de maior espessura, o software previu a necessidade de um tempo superior (cerca de 30 s) para que adquiram a rigidez necessária à sua extração da peça. Do mesmo modo, é importante analisar a eficiência dos canais de arrefecimento, de forma a se perceber se a transferência de calor é uniforme ao longo da peça. Por fim, foi analisada o empeno resultante deste processo. A deformação total atingida pode ser influenciada pela variação não uniforme do volume especifico do material, ou devido às diferenças de temperaturas ao longo da peça. Neste caso, prevê-se a existência de empenos, onde a deformação máxima poderá atingir 2.795 mm nas últimas zonas da peça a serem preenchidas pelo fundido. 3.2. DOE Na Tabela 2 estão apresentadas as diferentes experiências simuladas e os resultados para as respostas pré-determinadas. De forma a se reduzir o empeno na peça, é importante analisar as respostas obtidas e determinar o conjunto de condições do processo que minimizam este efeito. Neste caso, valores menores e uma distribuição mais uniforme na Cvol ao longo da peça, bem como na sua Dtotal, irão promover a diminuição do empeno. DOE

Resultados

Exp.

Tf (°C)

Tentrada água (°C)

tciclo (s)

DP cvol (%)

DP Dtotal (mm)

1

250

56

24

1,37

1,24

2

250

84

36

1,15

1,41

3

290

56

36

1,75

1,47

4

290

84

24

1,48

1,44

5

250

56

36

1,4

1,2

6

290

56

24

1,69

1,6

7

250

84

24

1,13

1,43

8

290

84

36

1,5

1,42

9

270

56

30

1,59

1,2

10

270

84

30

1,33

1,45

11

250

70

30

1,26

1,22

12

290

70

30

1,6

1,52

13

270

70

24

1,44

1,64

14

270

70

36

1,46

1,5

15

270

70

30

1,45

1,59

T2 – Resultados obtidos do DOE.


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Através da comparação dos resultados, presentes na Tabela 2, pode-se afirmar que a experiência 5 apresentou o menor DP Dtotal, tendo resultado também numa distribuição reduzida da Cvol Esta experiência corresponde à simulação do processo de moldação por injeção para uma Tf mínima (250 °C), uma temperatura do fluido de refrigeração mínima (56 °C) e um Tciclo máximo (36 s). Por outro lado, de forma a se analisar a influência de cada variável do processo nos índices de qualidade selecionados, foram realizados gráficos de efeito para a Cvol e para a Dtotal. Na Figura 1 está representado o efeito da Tf, Tm e do Tciclo no DP Cvol. A Cvol corresponde à redução dimensional da geometria da peça, e ocorre devido à contração térmica do material durante o seu arrefecimento. A relação entre o volume específico de um material com a pressão e temperatura podem ser analisados nos diagramas Pressure-Volume-Temperature (PVT) de cada material [8-9].

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da pressão de compactação aplicada ao longo da peça tem influência sobre o empeno. Nas zonas junto do ponto de injeção, onde é aplicada maior pressão de compactação, existe uma maior compensação da contratação térmica do material relativamente à extremidade da peça [9]. Assim, no gráfico observa-se um aumento do DP Dtotal da peça com o aumento da Tf. Este efeito está diretamente relacionado com a variação da Cvol na peça. Por outro lado, e para este caso, não se verifica uma relação linear entre a Dtotal da peça e a Tm. Seria de esperar que, do mesmo modo, para menores variações de contração volumétrica se registassem menores variações no empeno, no entanto, do nível – para o nível 0 o mesmo não se verifica. Contudo, é de referir que o DP Dtota tem pouca variância, uma vez que a diferença máxima registada é de 0.15 mm. Por fim, e relacionado com o observado na variação da Cvol, a influência do Tciclo na Dtotal da peça não é significativa.

F1 – Efeito das variáveis operatórias no DP CVol.

Verifica-se, então, que para Tf altas, a variação da Cvol na peça é maior e que, por outro lado, o aumento da Tm leva à diminuição da variação da Cvol. A injeção de material a temperaturas mais elevadas aumenta o seu volume específico, o que resulta na entrada de menos material na cavidade, durante a fase de compactação, resultando na variação da Cvol do material ao longo da peça. Por outro lado, para este caso, o aumento da Tm provocou uma diminuição no DP Cvol. O aumento da Tm influência diretamente a temperatura do material na cavidade, por conseguinte, Tm superiores mantêm também o material a temperaturas mais elevadas. Deste modo, e como já referido, aumenta o seu volume específico. No entanto, este aumento na Tm mantém a transferência de calor da peça para o molde mais uniforme, o que resulta na homogeneização da Cvol absoluta ao longo da peça. Neste caso, a variação do Tc não apresentou um efeito significativo no DP Cvol. Uma vez que o material selecionado é amorfo, a taxa de arrefecimento não influencia a sua contração. Por outro lado, como o tempo de enchimento e o tempo de compactação se mantiveram constantes ao longo das diferentes experiências simuladas, a compactação exercida foi constante e, portanto, também estes não influenciaram na variabilidade da contração do material ao longo do processo. Na Figura 2 encontra-se o efeito das variáveis operatórias no DP Dtotal, indicativo do seu empeno. O empeno é definido pela distorção ou deformação da geometria de uma peça, e está relacionado com a contração não uniforme (variação do gradiente de temperaturas) ao longo da sua espessura. Por outro lado, também a variação

F2 – Efeito das variáveis operatórias no DP Dtotal.

3.3. Validação experimental Os resultados obtidos na simulação do processo foram validados experimentalmente num ensaio de injeção. Observou-se, assim, que o perfil de enchimento obtido foi semelhante ao previsto em simulação, tendo sido também verificado um enchimento não balanceado entre as duas cavidades. Por outro lado, foram visíveis marcas à superfície da peça, devido ao atraso do fluxo num dos pormenores da mesma. Por fim, as linhas de soldadura, tal como mencionado nos resultados da simulação, não são visíveis, e com a implementação de um sistema de escape de gases na ferramenta produtiva, as prisões de ar foram inexistentes, evitando a realização de correções ao molde e nova validação experimental. De forma a validar os resultados obtidos nas simulações do DOE, foram reproduzidas três experiências deste plano, tendo em conta os valores de Cvol e de Dtotal obtidos. As experiências reproduzidas, com os correspondentes DP Cvol e de DP Dtotal obtidos pelo DOE, encontram-se na Tabela 3, em que a experiência 0 corresponde à validação experimental da simulação inicial, anterior ao desenvolvimento do DOE. Uma vez que o tempo de compactação e de injeção foi mantido constante, a variação do Tciclo total foi feita através da variação do tempo de arrefecimento (Tarref). Após a estabilização de cada processo, foram registadas a massa de quatro peças injetadas e as pressões de injeção (Pinj) atingidas (Tabela 4).


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Exp

T f (°C)

T m (°C)

t arref (s)

DP Cvol. (%)

DP Dtotal (mm)

0

270

70

16

1.45

1.59

1

250

56

11

1.37

1.24

5

250

56

25

1.40

1.2

9

270

56

16

1.59

1.2

T3 – Experiências reproduzidas experimentalmente.

Exp.

Massa (g)

DP (g)

Pinj (MPa)

1

103.7

0.0

114.1

5

103.8

0.0

115.0

9

104.2

0.0

93.8

15

104.2

0.0

92.8

T4 – Variação da massa e da Pinj das peças produzidas.

As peças injetadas com as mesmas condições do processo (ou seja, para cada experiência) mantiveram a massa constante, pelo que se pode afirmar que se obteve um processo otimizado, sem a ocorrência de variações no fluxo do material durante a sua injeção. Com a alteração das condições do processo (diferentes experiências), observou-se que as peças injetadas a Tf e Tm mais baixas possuem uma massa inferior. A diminuição das temperaturas provoca um aumento na viscosidade do material, o que resulta na entrada de uma menor quantidade de material nas cavidades. Consequentemente, foi necessária maior pressão para que o material preenchesse as cavidades, resultando em Pinj superiores. Relativamente à deformação obtida através da digitalização das peças injetadas, a tendência da deformação ao longo da peça foi semelhante, independentemente das condições do processo utilizadas. Foram registadas deformações superiores na parede da extremidade da peça, uma vez que são zonas com menores restrições geométricas, podendo deformar livremente. Esta tendência foi, igualmente, prevista pelo software de simulação. Os valores obtidos experimentalmente estão dentro dos valores previstos. Verificou-se, ainda, que tanto experimentalmente como em simulação, a experiência 0 apresentou valores médios de deformação mais elevados. Por outro lado, os valores menores nas peças injetadas correspondem à reprodução das condições do processo da experiência 5, como tinha sido previsto pelo software de simulação. 4. CONCLUSÕES Através da validação experimental da simulação realizada à peça em estudo, foi possível afirmar que a simulação do processo fez uma previsão realista do comportamento do fundido na fase de enchimento e compactação. Verificou-se que o perfil de enchimento não é uniforme e que as duas cavidades não têm um avanço do fluxo simétrico. Relativamente ao empeno atingido nas peças injetadas, a deformação medida foi dentro dos valores previstos. Por outro lado, lado, avaliou-se o efeito das variáveis do processo na Cvol das peças, e na sua Dtotal. Através dos gráficos de efeito, concluiu-se que a temperatura do fundido foi a variável com maior

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efeito, tendo o seu aumento induzido o aumento tanto na Cvol, como na Dtotal das peças. Numa última fase, foi realizada a validação experimental do DOE, através da realização da moldação por injeção de uma seleção de experiências. A tendência na Dtotal das peças determinadas em simulação foi semelhante ao obtido experimentalmente. O conjunto de condições, previsto pelo DOE, como a experiência com menor DP Dtotal, foi também a experiência realizada experimentalmente em que se obtiveram menores valores de deformação. O mesmo se verificou para a experiência com maior deformação, que correspondeu aos mesmos valores de condições de processamento, tanto experimentalmente como em simulação. Concluindo, é possível afirmar que o planeamento de experiências e o estudo das respetivas respostas foi útil para a otimização do processo de moldação por injeção da peça em estudo, e que, tendencialmente a previsão do software da Dtotal foi semelhante ao obtido experimentalmente, apesar da diferença nos valores absolutos. Assim, o desenvolvimento e análise de um plano de experiências especificado para uma determinada resposta, permite a diminuição ou eliminação de defeitos no processo de injeção por moldação, promovendo a melhoria da qualidade da peça, o que resulta, também, no aumento da produtividade. Por outro lado, este estudo demonstra a relevância do uso de um DOE na otimização do processo para a redução de experimentações e de correções. Este planeamento conduz primeiramente a consequências positivas a nível económico. As consequências mais evidentes resultam invariavelmente na redução, quer seja em termos energéticos e de consumo de materiais, o que afeta direta e positivamente nos custos. De uma forma indireta, tem um impacto positivo a nível ambiental, pela redução dos consumos, desperdícios da indústria, garantindo uma gestão eficiente dos recursos naturais, minimizando ou erradicando a criação de resíduos. Estas medidas demonstram uma preocupação com o desenvolvimento sustentável e um compromisso com a sociedade sem comprometer o desempenho do produto final.

REFERÊNCIAS: [1] J. Antony, Design of Experiments for Engineers and Scientists, Edinburgh: Elsevier, 2014. [2] S. Dowlatshahi, “An applicatiom of design of experiments for optimization of plastic injection molding processes,” Journal of Manufacturing Techonology Management, v. 15, 445-454 (2004). [3] R. K. Roy, Design of Experiments using the Tauguchi Approach: 16 Steps to Product and Process Improvement, Jonh Wiley & Sons, Inc., 2001. [4] S. Kulkarni, Robust Process Development and Scientific Molding: Theory and Practice, Hanser, 2010. [5] C. Shen, L. Wang and W. C. &. L. Qian, “Investigation of the Effect of Molding Variables on Sink Marks of Plastic Injection Molded Parts using Taguchi DOE Technique,” Polymer-Plastics Technology and Engineering, 219-225(2007). [6] M.-C. Huang and C.-C. Tai, “The effective factors on the warpage problem of an injection-molded part with a thin shell feature,” J.of Materials Processing Technology, 1-9 (2001). [7] K. Prashantha, J. Soulestin, M. F. Lacrampe, E. Lafranche, P. Krawczak, G. Dupin and M. Claes, “Taguchi analysis of shrinkage and warpage of injection-moulded polypropylene/multiwall carbon nanotubes nanocomposites,” eXPRESS Polymer Letters, V.3, 630-638(2009). [8] T. A. Osswal, L.-S. Turng and P. Gramann, Injection Molding Handbook, Munich: Hanser, 2008. [9] D. O. Kazmer, Injection Mold Design Engineering, Munich: Hanser, 2007.


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O SECTOR FALA DE… ECONOMIA CIRCULAR É PRECISO CRIAR CONDIÇÕES PARA INCREMENTAR O REGRESSO DOS PRODUTOS À CADEIA DE PRODUÇÃO

Helena Silva* * Revista “O Molde”

Quando pensamos em economia circular aplicada à indústria de moldes, o plástico é uma questão incontornável. As empresas produtoras de artigos de plástico estão, naturalmente, preocupadas com a forma como o tema está a ser tratado pelas autoridades e olhado pela opinião pública. Lembram as vantagens deste material que, consideram, não tem substituto. Defendem ainda que a investigação de novos tipos de resinas, a partir de reciclados, é uma realidade e tem dado passos. Mas o mais importante, dizem, é conseguir criar mentalidades mais amigas do ambiente e sistemas de recolha de resíduos mais eficazes, de forma a que os vários tipos de materiais possam voltar à cadeia de produção. No caso dos moldes, os fabricantes asseguram estar atentos e a preparar-se para a chegada de novos tipos de polímeros. GLN, Plásticos Santo António e Vipex partilham a sua visão e experiência. “Esta questão da economia circular e do plástico é uma questão muito mais profunda do que a ligeireza com que tem vindo a ser tratada. O plástico é um material incontornável e, que se saiba, não existe, nos próximos anos, nenhum material que o possa substituir”. Quem o diz é Jorge Santos, da empresa Vipex. O responsável adianta que, para evitar o alarmismo social, é preciso que o assunto seja “tratado com seriedade e serenidade. E não está a ser”. Depois, sublinha, é preciso que, na discussão, se trabalhe com “informação completa”. Ou seja, “evitar tratar-se este assunto com precipitações e dogmatismos que é o que tem acontecido”. Até porque, lembra, há vários tipos de plástico. No caso do de uso único (ou descartável), defende que “é preciso haver sistemas de recolha eficazes”. “Isso é fundamental para a economia circular funcionar”, frisa, advertindo que, contudo, “em Portugal, não existe uma recolha eficaz. Para o ser, é preciso que seja fácil para o utilizador colocar os resíduos para recolha”. Mas é necessária também “uma grande sensibilização das pessoas”. Sem estas duas, garante, “nenhum sistema de recolha é eficaz. E, sem ele, não podemos falar de economia circular”. É que só depois desse passo, esses materiais podem ser revalorizados. Contudo, isto acaba por ser apenas o primeiro (e mais importante) passo. Este sistema de recolha, lembra, “tem de ser feito com regras”. Cita, como exemplo, o caso dos produtos alimentares. Nestes, é preciso ter muito cuidado com o tipo de materiais que se usam no seu acondicionamento e conservação. E no que se está a trabalhar para tornar o plástico mais amigo do ambiente? Jorge Santos conta que está em curso bastante investigação e está a trabalhar-se em formas de juntar os materiais e fazer a decomposição deles, para utilizar na construção de novos produtos. Ou seja, “fazer novas matérias-primas”, sublinha.

FABRICAR NOVOS MATERIAIS Conta que “já há fornecedores a trabalhar nisso”, considerando que “têm de ser os grandes transformadores de matérias-primas a fazê-lo”. “Sejamos realistas: não se espere que seja um fabricante como a Vipex, ou outro da mesma dimensão, que vá trabalhar nisso. O que podemos fazer é criar alguma pressão junto dos fornecedores, e estão a ser pressionados, para podermos reutilizar esses materiais”, sustenta. O objetivo é que, quando estão a construir novos materiais, passem a incluir componentes de materiais reciclados. Depois, quando forem adquiri-los, as empresas produtoras de plásticos possam optar por esses materiais. “Quando isto acontece, esses materiais vão reentrar na cadeia”, conclui. E Jorge Santos adianta que, hoje em dia, “nós já temos fornecedores destes e estamos a preparar-nos para comprar materiais que têm, por exemplo, 25% de origem em materiais reciclados. Ou seja, aproveitar aquilo que é um resíduo e transformá-lo num valor”. Contudo, o responsável esclarece que o processo para se chegar aí não é simples. Pelo contrário. “Fazer o processo simples de moer o produto e voltar a utilizá-lo não é fácil, na maior parte dos produtos, porque os processos de produção são diferentes, não existe homogeneidade, as especificações de resistência (e outras) são diferentes”, explica. E por isso considera que “do ponto de vista prático, há aqui grandes desafios que têm de ser trabalhados. E isto é muito importante por parte dos transformadores”. OS LIMITES DA REUTILIZAÇÃO A forma como a sociedade olha para o plástico sente-se no dia a dia da empresa. Jorge Santos conta que “sentimos, da parte dos clientes e da nossa parte também, uma preocupação e uma exigência. No âmbito da sua estratégia, as empresas pedem-nos soluções e nós passamos essa pressão para os nossos fornecedores”. Adverte que “estamos preocupados com a questão da economia circular, mas sejamos realistas: a nossa empresa tem de estar dentro de um sistema que possa fazer a economia circular. Nós podemos utilizar rejeitados da produção mas com determinados limites, entre os quais, os técnicos”. É, portanto, utópico pensar numa reutilização de rejeitados a 100%, explica. E exemplifica: “dos nossos resíduos, se calhar reutilizamos 50%. Mas um resíduo de um produto alimentar (por exemplo, uma garrafa), não pode voltar a utilizar-se na área alimentar. Só por aí tem limitações. E há muitas”. De acordo com Jorge Santos, a Vipex tem implementado medidas e procurado introduzir melhorias. “Somos das primeiras empresas a


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O objetivo é “fazer sempre mais” e, por isso, a Vipex tem em projeto, para 2021, a produção de energia, através de painéis fotovoltaicos. Desta forma, conclui Jorge Santos, “estamos a reduzir o impacto da nossa atividade, seja através do cumprimento da legislação ambiental em vigor, seja pela recolha seletiva e consumos energéticos. É um processo de melhoria contínua”. PLÁSTICOS SANTO ANTÓNIO: CUIDADO EM RECICLAR TEM MAIS DE SEIS DÉCADAS “Tal como a maioria dos transformadores de termoplásticos, sempre assegurámos a reciclagem interna das peças rejeitadas e, no caso das passagens de cor, reaproveitamos o reciclado para fabricar peças em negro”, conta Miguel Korrodi Ritto, da empresa Plásticos Santo António. tratar o mais possível os nossos resíduos e a tentar reduzir o nosso impacto”, assegura. No entanto, alerta, “os materiais reciclados são, de uma maneira geral, mais caros e isso vai fazer as pessoas pensarem duas vezes antes de optar por eles”. “É preciso ver tudo isto”, aconselha, anuindo, no entanto, que “apesar de tudo, tem de haver ações para mudar”. “Penso que todos nós, na indústria, estamos implicados nisso. As pessoas estão preocupadas com a sua atividade porque impacta, naturalmente, na sobrevivência do sector. Mas somos unânimes em sentir que queremos viver num planeta menos poluído”, sustenta, considerando fundamental que as empresas percebam que, para assegurar uma economia circular, têm de trabalhar em conjunto e integradas num sistema completo.

E este responsável adianta que “quando se têm estas práticas ao longo de 65 anos (a empresa foi fundada em 1955), é frustrante ver os media e o público em geral clamarem que os plásticos não são recicláveis”. Mas o cuidado desta empresa não se fica pela reciclagem interna, adianta. “Muitas vezes, conseguimos obter materiais que não podiam ser reutilizados para a indústria automóvel e que usamos para fabricar peças técnicas que integram os nossos produtos. Só para referir um caso, há 20 anos começámos a usar uma Poliamida 6.6 com fibra de vidro, proveniente de canais de injeção de um pedal de embraiagem ou de um pedal de travão de estacionamento”, explica.

E deixa um exemplo: “eu não posso ir a Espanha ou à Alemanha, ou seja onde for, buscar a minha matéria-prima reutilizada para a voltar a colocar no mercado. Isso não faz sentido, tem custos incomportáveis e não funciona. Tem de haver um sistema de recolha em cada um dos países que faça canalizar esses produtos. Não há legislação que obrigue a utilizar produtos reutilizados e, como as coisas estão, não pode haver. É que ainda não há meios de conseguir isso. A investigação, por um lado, e a produção de materiais reciclados, por outro, não são suficientes para isso”. Volta a falar do caso português, usando-o como exemplo. “Nem temos a parte mais básica que é a recolha seletiva. Ainda vão demasiadas coisas para aterro. A estrutura tem de começar por aqui e tem de ser eficaz”, afirma. Considera ainda que “a utilização de material reciclado é um negócio de futuro”, contudo tem “um problema que é não ter matéria-prima em quantidade suficiente”. REDUZIR DESPERDÍCIO No dia a dia da empresa, e já desde há muito tempo, são colocadas em prática várias medidas que procuram reduzir o desperdício. “É uma preocupação antiga desta empresa. Fomos a 47ª empresa no nosso país a ser certificada a nível ambiental, em 2002” pela ISO 14000, relata, adiantando que o tratamento dos resíduos “é apenas um dos passos: temos recolha seletiva e uma série de outras medidas, como reciclagem de lâmpadas ou materiais eletrónicos”. Mas lembra que, no caso destes últimos, “temos de pagar para os poder entregar e fazer com que o sistema os revalorize para, depois, voltarem à cadeia de produção”.

Em relação aos plásticos de uso único, a Plásticos Santo António não os produz. “Como fabricamos caixas para transporte, armazenagem e logística, e estas têm uma expectativa de vida de 10 ou 20 anos, estamos longe das críticas aos plásticos de uso único”, assegura, sublinhando que, no entanto, e em relação a esta questão “há uma grande ignorância por parte dos media e do público em geral”. PLÁSTICO RECICLADO Assegura mesmo ter consciência de que, “com o nível de desinformação que existe, será um grande desafio para a indústria conseguir transmitir a mensagem necessária”. Difícil, mas não impossível. E a empresa vai dando passos no caminho desse esclarecimento. Exemplo disso, conta, é a divulgação no site de “que os plásticos com que trabalhamos são recicláveis, e que podemos fabricar muitos dos nossos produtos em material reciclado”. E Miguel Korrodi Ritto esclarece como chegaram aqui: “Como em geral exportamos cerca de 60% da nossa faturação, há


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mais de 20 anos começámos a ser solicitados pelos clientes para fornecermos caixas em material reciclado. E, ao longo de vários anos, usámos material triturado de para-choques recusados por defeitos de pintura no então fornecedor da AutoEuropa”. Mas este percurso não tem sido fácil. “Como o Ministério do Ambiente classificava o plástico triturado como um resíduo, a certa altura, aumentaram o controlo das Guias de Resíduos, e o plástico triturado só podia ser transportado por empresas aprovadas para o transporte de resíduos, só podendo ser rececionado por empresas aprovadas para o efeito. Isso levou a que deixássemos de conseguir obter o plástico triturado dos para-choques e conduziu ao absurdo de termos que importar material virgem para fabricar peças que poderíamos fabricar em material reciclado, disponível no nosso país”, relata. Em relação à economia circular, o responsável conta que, para além da reciclagem interna, ou da utilização de materiais reciclados adquiridos a outros transformadores ou a recicladores, “há mais de 20 anos que negociamos com clientes a devolução de um parque de caixas, seja porque mudou a sua imagem (cor ou logótipo), seja por estas terem atingido o fim de vida. E reciclamos o material para fabricar caixas novas”. EXIGÊNCIAS AOS FABRICANTES DE MOLDES “Para os transformadores, uma das exigências ao material reciclado é a fluidez para encher o molde. E, no nosso caso, também usamos como fator decisivo a resistência ao impacto e o Módulo de Elasticidade”, considera Miguel Korrodi Ritto, acrescentando que os fabricantes de moldes “deverão preparar-se para construir moldes que possam injetar materiais com menor fluidez, dado que os reciclados (ao serem provenientes de muitas fontes) têm, em geral, uma fluidez limitada. Isto pode passar pela escolha de bicos de injeção com válvula, mas no caso de a relação entre o comprimento de fluxo e a espessura ser muito alta, a solução passará pela utilização de mais pontos de injeção”. Destaca um ponto negativo. “Infelizmente, as fichas técnicas dos materiais reciclados apresentam, em geral, pouca informação”. E sugere algumas opções e considerações destinadas a quem fabrica moldes. “Nalguns casos, a moldação de reciclados poderá levar à opção por moldes de construção conhecida desde há várias décadas, mas que são pouco frequentes”, declara, sublinhando que “um caso é a injeção-compressão em que a injeção com o molde parcialmente aberto permite ao material o escoamento com uma espessura maior do que a espessura final (estes moldes são semelhantes aos de compressão, com o contorno da bucha a entrar dentro do contorno da cavidade)”. Contudo, no caso de peças com grande espessura, “para a utilização de alguns reciclados poderá vir a recorrer-se à utilização de agente expansor, para moldar o que é designado por espuma estrutural, mas para melhorar o aspeto da superfície alguns clientes de moldes poderão optar pela moldação com contrapressão de gás (estes moldes levam um O-ring no plano de junta, e O-rings a vedar a caixa de extração, de forma a serem pressurizados com azoto antes da injeção, o que assegura que a ‘pele’ de plástico solidifica em contacto com a superfície do molde, e o agente expansor só vai atuar no interior da peça, formando aí a espuma estrutural)”, conclui.

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GLN: PREOCUPAÇÃO DO CLIENTE É A PEÇA PLÁSTICA O grupo GLN dedica-se ao fabrico de moldes e também à injeção das peças plásticas. José Carlos Gomes afirma que, neste momento, a GLN é “essencialmente uma produtora de plásticos”, uma vez que a área de injeção “representa já um maior volume de negócios do que a área dos moldes”. E quando a preocupação é a economia circular, este responsável conta que as diferenças na atitude dos clientes são mais visíveis “na indústria da peça plástica”, uma vez que “o molde é uma ferramenta e, assim sendo, vai-se adaptar aquilo que for o produto e à matéria-prima que se vai usar”. Ou seja, “os moldes têm de ter uma tecnologia de desenho que tem que os projetar para terem em consideração o tipo de material que vai ser usado”, defende. Para assegurar o seu bom desempenho - e isso, diz, já se passa nas empresas do grupo - “as simulações acabam por ter uma grande importância no processo de fabrico”. Tal como têm e terão no futuro, os estudos e “a investigação sobre o impacto que terá a utilização de matéria-prima reciclada”. De qualquer forma, este responsável afirma que a grande preocupação é com os plásticos e o seu fim de vida. E esta é “generalizada”. Reportando-se à experiência da GLN, José Carlos Gomes conta que, na área do plástico, desenvolve produtos para o sector automóvel, mas também para o não-automóvel. “O automóvel tem demonstrado algumas preocupações, mas noto que ainda pode haver um caminho importante para essa área, de forma a permitir uma maior facilidade de reciclagem no final de vida do carro”, afirma. Quanto aos restantes sectores, adianta, “a preocupação é muito mais presente”. Cita, a título de exemplo, o ‘packaging’, referindo que, aí, a apreensão é maior. Mas esta questão, no seu entender, prende-se com uma outra: a forma como é feita a reciclagem no nosso país. “O problema na economia circular nem é, muitas vezes, saber como é que se pode, tecnicamente, resolver a questão do plástico, mas em conseguir que o produto volte a entrar na cadeia produtiva”, defende. Ora esse, considera, “é um problema de cariz logístico”. No seu entender, enquanto “do ponto de vista técnico temos um desafio de ter componentes e peças mais simples e que possam mais facilmente ser recicladas, temos, por outro lado, uma questão social que ainda não está resolvida e que é o comportamento das pessoas”. “Evidentemente que quando misturamos materiais na construção de uma determinada peça ou outro tipo de mistura, isso dificulta o processo de reciclagem. Há aqui, portanto, uma parte do design for manufacturing que tem de ser inteligente. Tem de existir o smart design”, esclarece, considerando que “estas questões técnicas até serão rapidamente resolvidas”, mas, no entanto, “será mais complexo resolvermos o tema social que é o comportamento”. Define, então, para esta questão da economia circular, três pilares que considera essenciais e que devem funcionar em complementaridade: o técnico, o logístico e o comportamental. O técnico, diz, é de maior facilidade de resolução. “Da forma como forem pensadas e projetadas, as peças podem vir a ser mais facilmente recicladas”. Depois, na questão do desafio logístico, defende a necessidade de “incrementar as cadeias de recuperação do produto para o trazer de volta à cadeia de fabrico”. Finalmente, na questão do comportamento, considera que “o desafio social aqui é tão grande que, se conseguíssemos resolver esse aspeto, o resto seria mais facilmente resolvido”.


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RECICLAR PARA GANHAR EFICIÊNCIA Centrando-se no grupo GLN, José Carlos Gomes explica que a economia circular está presente no dia a dia de cada empresa, em todos os departamentos e tarefas. “Tudo o que podemos fazer dentro da fábrica, fazemos. Até porque se não reciclarmos, não temos produtividade e nem eficiência no nosso processo”, explica. Têm vindo a ser implementadas medidas e “hoje em dia, é proibido termos nos nossos projetos alguma coisa que se possa reciclar e que não esteja a ser reciclada”, conta, reforçando que o mindset da organização é “reciclar tudo o que é possível”. O responsável afirma ainda que, em relação à questão da economia circular, “há passos positivos até porque o alarme é, neste momento, bastante forte. Contudo, também há aspetos menos bons porque acho que se está a cair em extremos”. E isso, no seu entender, nota-se na questão ‘plástico’. Por isso, defende que “temos de voltar a discutir bem o tema e perceber o que está em causa para tomar boas decisões para a sociedade. O plástico não é a ameaça; a ameaça é o Homem e o seu comportamento”. E um dos exemplos que dá é o saco de plástico. Lembra que é um produto que “pode pesar um, dois gramas; ou seja, pesa quase nada e pode durar uma vida uma vez que pode se reutilizado várias vezes. Por outro lado, pode levar todo o tipo de coisas, é resistente e protege”. E isto para concluir que “não há outro material tão eficiente como o plástico”. Trata-se, até, de “um produto vantajoso para a sociedade”, sustenta, adiantando que aquilo que “temos de compreender

é como utilizar o plástico e o reaproveitar”. Ora, isso passa “por mudar comportamentos”, uma vez que, do lado de quem fabrica, “a tecnologia já está a ajudar”. E dá como exemplo os produtos biodegradáveis, nos quais, revela, a empresa já está a trabalhar. Mas não só. A GLN está a dar passos também na melhoria de compatibilização de polímeros, de forma a melhorar a reciclagem. Contudo, “se as pessoas não fizerem os produtos regressar ao processo produtivo, não há nada que se possa fazer”. “A sociedade só pode evoluir se as pessoas mudarem a sua mentalidade”, afirma. Contudo, nem só a vontade de mudar é o suficiente. Lembra que, no caso do grupo GLN e de muitas outras empresas, “temos de seguir o cliente e a sua vontade”. “Somos empresas pequenas e, se não fizermos isso, não sobrevivemos”, conclui.


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O SECTOR FALA DE… ECONOMIA CIRCULAR ECONOMIA CIRCULAR NAS INDÚSTRIAS DE MOLDES E PLÁSTICOS Victor Neto*, Jorge Laranjeira**, Nuno Fidelis***, António Baptista***, Nuno Aguiar**** *Universidade de Aveiro; ** Moldit; *** Centimfe; **** APIP;

PROJETAR E PRODUZIR A PENSAR NO FIM DE VIDA DOS PRODUTOS A necessidade de assumir comportamentos amigos do ambiente, seja na indústria, seja enquanto cidadãos, foi defendida por um painel de oradores que no dia 20 de fevereiro se juntou no Centimfe (e, no dia 27 de fevereiro no Centro de Negócios de Loureiro, em Oliveira de Azeméis) para debater o tema ‘Economia circular nas Indústria de Moldes e Plásticos: desafios para a transição de uma economia linear para uma economia circular’. Victor Neto (Universidade de Aveiro), Jorge Laranjeira (Moldit), Nuno Fidelis (Centimfe), Nuno Aguiar (APIP) e António Baptista (Centimfe) foram ainda unânimes em considerar que há passos que estão a ser dados pela indústria, sobretudo a nível da investigação de novas formas de fazer. Contudo, há ainda um longo caminho a percorrer e a mudança está dependente, sobretudo, da atitude quotidiana de cada pessoa. Esta ação integrou-se no programa Transcontech (Transferência de Conhecimento Tecnológico no cluster ‘Engineering & Tooling’) e contou com a presença de cerca de meia centena de pessoas na assistência, entre profissionais da indústria e estudantes do Cenfim. A sessão começou com uma intervenção do diretor-geral do Centimfe, Rui Tocha, que, considerando que a economia circular “é um tema de que se tem falado muito”, realçou ser, contudo, importante “juntar valor e conhecimento à discussão”. No seu entender, as mudanças necessárias para concretizar esta passagem de uma economia linear para a circular “não são de rotura; são de processos, de capacidade de trabalho, de atitude e de continuidade do que fazemos. No entanto, é necessário fazê-lo”. Sobre a questão, estabeleceu um paralelo com o que se passou no ano 2000, lembrando que, então, “toda a gente andava preocupada com o bug do ano 2000, havendo quem preconizasse que a informática e a internet ficariam sem possibilidade de continuar e previsse muitos problemas para as empresas e para as pessoas. Foi um momento crítico, mas que provou que as grandes roturas não existem”. No tema economia circular, realçou, grande parte das mudanças “é comportamental”. E esta é, no seu entender, “uma mudança que vai ter impactos grandes na vida pessoal, coletiva, profissional e social”. Quanto à indústria de moldes, disse, “está também em processo de mudança com alargamento da cadeia de valor à fase final, a injeção, mas também a montante com o ‘design for manufacturing’. Com isto, a indústria de moldes está a ajudar os seus clientes. E é preciso trabalhar na otimização de recursos, mas também estudar bem o problema e a solução”. Por isso, o Centimfe está a promover um ciclo de debates, a partir de um protocolo celebrado

com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro. Estas ações inserem-se no próprio papel do Centimfe que, sublinhou Rui Tocha, “é antecipar temas, gerar conhecimento e passá-lo para o tecido produtivo”. Até porque, considerou, “os centros de saber ocupam um papel de necessidade absoluta nesta construção do processo de transformação”. DAR PEQUENOS PASSOS O painel de oradores começou com Victor Neto, da Universidade de Aveiro que protagonizou uma apresentação interativa durante a qual foi colocando várias questões à reflexão e pedindo ao público por respostas. ‘Economia circular? O que temos a ver com isso?’, foi o tema da intervenção. Sublinhando que a economia circular “não é a salvação do mundo”, considerou, contudo, que se trata de “um pequeno passo e é preciso ir dando pequenos passos”. Na sua intervenção, começou por abordar o conceito de economia circular, situando-a como contraponto à economia linear. Ou seja, a atitude de “nunca descartar”, mas antes reutilizar e dar nova vida a todos os produtos. O seu exemplo foi um carrinho de bebé, que utilizou para lançar um conjunto de reflexões, desde logo a pertinência de adotar uma postura de valorizar menos ‘a posse’ dos produtos e apostar mais noutras atitudes, como o aluguer temporário. lembrou, contudo, que ao fazer esta passagem é preciso que “o modelo de negócio seja pensado para isso”. O exemplo do carrinho de bebé, sublinhou, foi pensado para uma economia linear, quer pela diversidade de produtos que junta na sua conceção, quer pela pouca rentabilização do produto que é adquirido e usado uma vez. “O que nos impede de ir para uma economia circular?”, questionou, lembrando que nada muda de um dia para o outro. E que nada é obrigatório. Reciclar, lembrou, é apenas um dos passos. Contudo, defende, “mais vale reciclar do que nada”. Ora, para avançarmos para uma economia circular, é preciso ter em conta a


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“responsabilidade dos produtores, dos que pensam os produtos”, mas também “a dos fornecedores”, por exemplo de matéria-prima, que têm de equacionar como fazem regressar os desperdícios à cadeia de valor. É preciso pensar também na responsabilidade dos consumidores. Por uma questão de mentalidade, as pessoas não tratam tão bem o que é alugado como aquilo que é comprado. São fatores sócioculturais que, no seu entender, “é preciso mudar”. Depois, há a responsabilidade dos governos que têm de criar regulamentação, com base em fundamentos verdadeiros, que leve à alteração de comportamentos. Mas, advertiu, “os governos ainda não estão preparados para isto”. Em síntese, frisou, para se chegar à economia circular, “é preciso Inovação organizacional, valorização dos recursos e circuitos curtos”. “A vida consumista tem de mudar radicalmente”. Esta foi a primeira mensagem deixada por Jorge Laranjeira, da empresa Moldit. Logo depois de a proferir, admitiu que esta premissa torna a temática “muito desafiadora”. Falando sobre ‘Desafios da economia circular na indústria de moldes: paradigma da economia circular numa empresa de moldes”, usou como exemplo a organização onde trabalha e explicou que a Moldit é uma empresa exportadora e “tem procurado estar na linha da frente destas alterações”. Exemplo disso, revelou, são os “certificados de qualidade da empresa, incluindo o da eficiência energética”.

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Considerou, no entanto, que é preciso ir mais longe. E deu como exemplo “o sistema de gestão integrado, envolvendo pessoas, ética e ambiente, dando nota das normas e procedimentos que tivemos de sistematizar. Somos dos melhores fabricantes de moldes mundiais nesta área”. Contudo, realçou, “apenas controlamos a parte da produção do molde. Não controlamos nem a matéria-prima e nem para onde vai o molde”. Defendeu que, para haver uma mudança desta situação, “precisávamos que mais empresas pensassem nisto, de forma a que, em conjunto, se conseguisse alterar”. E de que forma podem os moldes contribuir para esta mudança e para a economia circular? No seu entender, de três formas: “Primeiro, o desenvolvimento do produto para matéria-prima reciclada; depois, a otimização do desempenho estrutural das peças; e finalmente a utilização de tecnologias de injeção não convencionais que permitam reduzir a matéria-prima”. E esta redução de matéria-prima tem impactos, no seu entender, desde logo na redução do consumo de energia. Na fase da produção em fábrica, deu nota de alguns procedimentos tomados pela empresa, de forma a assumir um comportamento mais amigo do ambiente: “a racionalização e restrição do ar comprimido (o que mais energia consome), separação e recolha dos resíduos (o exemplo da limalha que tem, hoje, como solução o sucateiro), a minimização de materiais diferentes no molde para permitir o seu reaproveitamento, e a avaliação e otimização da eficiência energética dos equipamentos”.


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Considerou ainda que nesta fase da produção, é importante pensar em promover medidas de eficiência energética, como a produção de energia elétrica a partir, por exemplo, da energia solar. Mas, sublinhou, nada disto é possível de implementar se não houver o cuidado de “evangelizar os colaboradores para estas boas práticas a aplicar na empresa mas também no seu dia a dia”. Jorge Laranjeira afirmou ainda não ter dúvidas de que “a economia circular vai ser o pilar de sustentabilidade económica das empresas”, lembrando que “quem partir à frente terá vantagem competitiva sobre as outras”. “São necessários processos sustentáveis e as empresas são um veículo importante na mudança da cultura”, concluiu. INVESTIGAR PARA MELHORAR PROCESSOS O orador seguinte, Nuno Fidelis, do Centimfe, começou por chamar a atenção para “os desafios que se colocam na transição da economia linear para a economia circular” e “a necessidade de alguns resíduos gerados no fabrico de moldes serem recolocados no ciclo produtivo e na criação de novos produtos”. Abordando o tema ‘Valorização dos resíduos gerados no fabrico de moldes, introduzindo-os no seu próprio ciclo produtivo e/ou na produção de novos produtos’, falou de dois projetos nos quais o Centimfe está envolvido: o ‘Regrafitti’, envolvendo o Centimfe, a Universidade de Coimbra e a empresa Moldes RP, que tem como missão aproveitar os elétrodos de grafite e transformá-los em algo com valor acrescentado, a partir do grafeno. Este material, disse, “tem propriedades e características que importa estudar”. O segundo projeto, o ‘X-Nano’, destina-se a desenvolver soluções para as aparas metálicas que resultam do fabrico do molde. De uma maneira geral é, sempre que possível - porque, sublinhou, não é possível para todos os casos - transformar estas aparas em pó e “usá-las como matéria-prima secundária para o fabrico do molde”. No final de vários testes, contou, concluiu-se que a dureza deste metal (produzido a partir das aparas) tem características idênticas às do aço convencional, podendo ser usado em alguns casos, com sucesso. “Neste, como noutros exemplos, temos de trabalhar, pesquisar, desenvolver tecnologias para obter resultados”, defendeu. Considerou que “há ainda um caminho a percorrer”. Os testes em laboratório, disse, “têm-nos assegurado alguns valores de sucesso. No entanto, é necessário envolver, nestes processos, um conjunto de empresas para alcançar melhores resultados”. PLÁSTICO E AMBIENTE Desmistificar a imagem (errada, no seu entender) que o plástico tem, hoje em dia, no mundo, foi o objetivo da intervenção de Nuno Aguiar, da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP). Desenvolvendo o tema ‘Desafios na economia circular na indústria: a indústria de plásticos nos desafios da economia circular’, assegurou que os produtores de plástico querem fazer parte da economia circular.

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De entre os vários benefícios da utilização do plástico, destacou “a redução do consumo de energia e água e do desperdício alimentar” (o que é assegurado, precisamente, pelas embalagens que, no universo do plástico, têm sido as mais atacadas, lembrou). Como ponto mais negativo, admitiu ser “o fim de vida do produto de plástico”. Mas sublinhou que isso acontece porque o processo é mal gerido. “A poluição a que assistimos e a pressão sobre o ambiente são culpa do plástico? Não. É culpa nossa, enquanto consumidores”, sublinhou. Voltando ao sector dos plásticos, recordou que há já muito tempo as empresas têm em conta, no seu dia a dia, a economia circular. Como exemplo, apontou os resíduos resultantes da produção e que, afirmou, “já são, há muito, reutilizados internamente na generalidade das empresas”. Os desafios atuais, centram-se nas “medidas legislativas” que, disse, “fazem com que a indústria tenha de se adaptar”. Contudo, frisou, para isso acontecer “é preciso tempo, o que nem sempre acontece”. Um dos aspetos que considerou essencial nesta, que apelidou de “fase de alarmismo cego”, é “evitar que se promovam substituições de materiais sem, previamente, haver estudos e análises de impacto ambiental”. Tudo terá, no seu entender, de passar “por bastante rigor científico”. Apontou, depois, um conjunto de soluções que a indústria de plásticos está a implementar. Desde logo, o Pacto Nacional da Indústria de Plásticos para a Economia Circular e Sustentabilidade, assinado em setembro de 2019. Entre outros aspetos, tem um Observatório para a Reciclagem, com vista a incrementar esta prática e reduzir o desperdício. Depois, a elaboração de uma candidatura de um projeto que, usando inovação e desenvolvimento tecnológico, consiga alcançar “o melhor plástico”. Destacou ainda a promoção do ecodesign. O design, lembrou, está no início de tudo e é uma das áreas fulcrais. Nessa fase, disse, “é necessário que se comece a projetar para a reciclagem e a proteção do ambiente”. E sublinhou que, hoje em dia, os clientes já pensam nestas questões. “Antes, focavam-se muito na questão do preço, mas hoje vão atrás destas questões”, explicou. Falou ainda da importância de incorporar material reciclado nos produtos, classificando esta como “a batalha de todas as empresas” e que é, também, uma exigência crescente dos clientes. Contudo, salientou, há ainda questões a resolver para tornar isto possível. Apontou como exemplos a falta de matéria-prima reciclada, a necessária certificação do material reciclado e a necessidade de impulsionar o mercado dos reciclados. Assim sendo, no seu entender, “há um ciclo que é preciso que funcione para tornar possível a economia circular: as empresas têm de alterar procedimentos, a legislação tem de acompanhar, a gestão de resíduos tem de melhorar, mas o principal é a atitude de cada pessoa que tem de se alterar drasticamente”.


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REPENSAR PROCESSOS Coube a António Baptista, do Centimfe, encerrar este encontro, defendendo ser necessário repensar o processo de injeção de plástico. “É preciso redesenhar produtos e processos, minimizar a extração dos recursos e maximizar a eficiência e reutilização”, defendeu no decorrer da sua intervenção que teve como tema ‘Repensar o processo de injeção de plásticos para uma economia circular’. Com esse propósito, esclareceu, há investigação e projetos em cursos. E deu conta de alguns projetos de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico tendo como objetivo final uma produção mais amiga do ambiente. Um dos exemplos que apresentou foi o ‘Coolmould’ que visa melhorar a eficiência energética no controlo da temperatura do molde. Falou também do ‘Smart Active Mould’, que trabalha na criação de soluções para reduzir a pressão da injeção e dos tempos de ciclo, assegurando maior qualidade. E deu conta ainda de um terceiro projeto, o ‘Simoldes 4.0’. Trata-se de um sistema inteligente de monitorização do molde, assente em Inteligência Artificial. “A mudança depende de todos nós. É necessário repensar para utilizar e produzir peças de plástico em fim de vida”, concluiu.

ALEGAÇÕES FINAIS 1. Que vantagens para as empresas de moldes em apostar na economia circular? 2. Que constrangimentos existem para a sua aplicação? Jorge Laranjeira (Moldit) “É preciso colocar o foco nestas questões e nem sempre é colocado” 1. Há duas questões a ter em conta. Enquanto produto, não temos controlo sobre o molde que enviamos ao nosso cliente. É propriedade do cliente e é ele quem determina o que quer que seja feito e as suas especificações. Já no que diz respeito aos fatores de produção, isso é importante porque está diretamente ligado com a nossa eficiência. Ou seja, se pensarmos numa lógica de redução e eficiência, conseguimos ser mais eficientes. Penso que este é um aspeto muito importante da economia circular. De uma maneira geral, o que se ouve está centrado no produto, mas para o conjunto das empresas é mais importante olhar para o processo de fabrico de forma mais sustentável nas suas três vertentes. É que os fabricantes de moldes, volto a acentuar, não têm controlo sobre o produto. 2. Há pequenas ações que são relativamente simples de implementar e que, basicamente, estão presas por questões de cultura. De uma maneira geral, em Portugal temos um conjunto de ferramentas de apoio ao investimento, de conhecimento, de investigação e desenvolvimento. Esse ecossistema está todo praticamente criado. O que existe, muitas vezes, é desconhecimento, a questão da cultura e o foco que é preciso colocar nestas questões e que muitas vezes não é colocado.

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INOVAÇÃO INNOVATION O que as empresas concebem de forma singular e inovadora what our companies concieve in a singular and innovative way

O Molde 4G | Uma resposta aos desafios para a sustentabilidade

Controlo dinâmico de temperatura no processo de moldação por injeção

WOOD.SHAPE 4.0 | Intelligent injection moulding on wood veneers aided by cyber-physics systems


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O MOLDE 4G | UMA RESPOSTA AOS DESAFIOS PARA A SUSTENTABILIDADE Horácio Silva1, Mihail Fontul2, Tânia Viana2, Daniel Fonseca3, António Baptista4, Dulcínia Santos4, António Pontes5 1 - Planimolde, 2 - Iber-Oleff, 3 - Moldit, 4 - Centimfe, 5 - Universidade do Minho

O projeto mobilizador ‘Tooling 4G’ tem como propósito mobilizar competências técnicas e científicas para investigar e gerar inovações centradas principalmente nos materiais, produtos e processos, e promover a endogenização de tecnologias e paradigmas organizacionais usualmente associados ao conceito de Indústria 4.0, à digitalização da indústria, à produção zero defeitos e à sustentabilidade. O projeto é dinamizado por um consórcio alargado de empresas e Entidades não Empresariais do Sistema de Investigação e Inovação (ENE SII) que procuram responder a dúvidas e questões essenciais para a sua sustentabilidade a longo prazo.

Para Horácio Silva da Planimolde apesar de muitas tecnologias variantes da moldação por injeção já existirem há muito tempo, e outras estarem em franco desenvolvimento, a sua disseminação industrial não é muito frequente. Como exemplo, refere as tecnologias multi-material Plástico-Plástico, ou Plástico-Metal; A utilização de novos materiais/misturas em injeção como compósitos. Acrescenta que introduzir uma nova tecnologia ou um novo processo de produção na cadeia de produção tem como objetivos produzir com maior qualidade e reduzir o tempo total de produção, o que no cluster envolve: Redução de tempos de fabrico do molde; Redução dos tempo de ciclo de injeção; Durabilidade e fiabilidade do molde. Para isto, os moldes tendem a ficar mais complexos e a incorporar outras tecnologias/soluções: • Sensores para controlar o processo de injeção e monitorizar o desgaste em partes mecânicas. • Tratamentos de superfície que promovam maior duração da zona moldante (ex.: na injeção de materiais abrasivos).


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• Revestimentos que aumentam a resistência ao desgaste e minimizem as avarias e a manutenção. • Circuitos de refrigeração otimizados de forma a reduzir os ciclos de injeção. • Fabrico aditivo na produção de peças complexas.

O consórcio do projeto ‘Tooling 4G’ considera que na ausência de competências ou domínio sobre as novas tecnologias, as empresas, quer as fabricantes de moldes ou as utilizadoras, ficam excluídas das redes de negócios/ fornecimento. Para Daniel Fonseca, Diretor Industrial do Plástico na Moldit, refere que perante a crescente necessidade de personalização e a rapidez com que um design das peças se torna obsoleto, será necessário tornar os processos mais competitivos em pequenas séries (ciclos curtos, ferramentas moldantes a menor custo). A introdução de superfícies inteligentes (sensorizadas), a refrigeração por circuitos sinterizados e a diminuição do peso das ferramentas, serão, em breve, condições fundamentais para manter a competitividade desta indústria. O desenvolvimento de novos materiais poliméricos “amigos do ambiente”, o desenvolvimento e disseminação de sistemas inteligentes de monitorização do processo de produção são de extrema importância para responder aos desafios dos próximos tempos. Para Mihail Fontul e Tânia Viana da Iber-Oleff, a necessidade de redução de custos e, simultaneamente, de aumento da qualidade percetível e funcionalidade dos produtos é um paradigma crucial para a indústria dos plásticos. A nova realidade industrial não só exige maior qualidade e eficiência, como também celeridade, sendo uma das ambições da atualidade para esta indústria obter produtos da tipologia one-shot, e desejavelmente com a particularidade de apresentarem zero-defeitos. Esta pretensão suscita novos desafios a todos os níveis, quer desafios tecnológicos relacionados com a ferramenta molde e processamento, como também ao nível dos materiais. O alcance dos resultados

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pretendidos exige diversos trabalhos de investigação em busca de novas e melhores soluções, dentro dos quais se salienta a formulação de novos materiais poliméricos com propriedades avançadas que, além da melhoria das propriedades dos produtos, irão pôr fim à necessidade de operações de acabamento pósinjeção. É importante a indústria que sobrevive da moldação por injeção acompanhar as mudanças tecnológicas, e acima de tudo apostar nas novas tecnologias, pois o mundo dos plásticos, face ao crescente grau de exigência, encontra-se em forte evolução. É imprescindível as empresas adaptarem-se à nova realidade, de modo a beneficiarem das novas tecnologias e desenvolvimentos e no final poderem conferir maior valor acrescentado. O projeto mobilizador ‘Tooling 4G’ dinamiza a colaboração entre empresas fabricantes de moldes e injetoras de plásticos e ENE SII para criar novos produtos, processos e sistemas, materializados pelo ‘Tooling 4G’ ou Molde 4G - tooling de quarta geração, que ao serem endogeneizados, implementados ou produzidos pelas empresas lhes possibilite concorrer a nível global e vencer os desafios do mercado. Este projeto mobilizador tem como propósito conceber e desenvolver soluções de tooling mais flexíveis, com elevado nível de digitatalização e agregadoras de diferentes tecnologias, podendo integrar várias tecnologias ou vários processos de fabrico numa única estação de trabalho. Para investigar as soluções de suporte e criar os moldes e ferramentas da quarta geração há vários aspetos que se considerem relevantes e que se materializam em objetivos do projeto, tais como, a digitalização e a virtualização dos componentes em processo de fabrico e a interligação das etapas da cadeia de produção; a incorporação de inteligência nos próprios moldes e ferramentas de forma a adota-los de capacidades de monitorização e controlo do processo de fabrico onde são utilizados; desenvolver soluções de tooling que incorporem as novas tecnologias aditivas, tratamentos superficiais e revestimentos funcionais com as tecnologias convencionalmente utilizadas no sector; estudar, desenvolver e


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demonstrar soluções de tooling para o fabrico one-step; numa perspetiva de produção zero defeitos, pretende-se compreender e quantificar os defeitos e desenvolver soluções de mitigação de erros e não conformidades quer ao nível organizacional e dos métodos de trabalho quer ainda ao nível de desenvolvimento de soluções tecnológicas para controlo da qualidade em tempo real e on-line; desenvolver metodologias avançadas de ensaio dos sistemas tooling e de engenharia virtual do molde e do produto final com o objetivo de extrair um maior valor do processo de ensaio e do projeto da ferramenta. Especificamente pretendese criar e sistematizar conhecimento critico em diversas áreas do saber criando-se o conceito do Molde 4G que combina várias técnicas e tecnologias nomeadamente: Sistema de sensorização e atuação – O Molde 4G irá englobar uma rede, previamente simulada e analisada, de sensores que permitirão a medição dos parâmetros do processo (pressão, temperatura, velocidade, posicionamento do fuso, etc.) e também dos potenciais defeitos (contração, empeno, etc.) na peça, em tempo real, permitindo a atuação sobre o mesmo, através da máquina, de forma a limitar a taxa de rejeição de peças. Revestimento multifuncional – O Molde 4G prevê a combinação de materiais ativos e funcionais e tecnologias diversas num revestimento que apresente uma série de funções para o ótimo funcionamento do molde incluindo: a proteção da superfície do molde; o bom acabamento das peças moldadas; a sensorização e atuação direta na cavidade moldante fazendo recurso a materiais ativos e responsivos; e a atuação nas propriedades do molde, como por exemplo, na temperatura (aquecimento e arrefecimento homogéneo e rápido do molde). Conformal cooling – O Molde 4G englobará sistemas de controlo de temperatura inteligente, produzidos através de tecnologias de fabrico aditivo, para aumentar a eficiência da transferência de calor e uniformizar as temperaturas e sistemas rápidos de aquecimento e arrefecimento do molde; redução do tempo total de ciclo e custos associados; e uma excelente qualidade das peças moldadas. Automatização – O Molde 4G será incorporado no complexo moldemáquina que integrará um sistema de algoritmos desenvolvidos numa aplicação que permitam a comunicação entre o molde e a máquina para a monitorização, em tempo real, de parâmetros e defeitos do processo de injeção e o controlo dos mesmos, também em tempo real, para a otimização do processo e das peças moldadas. O Molde 4G ao agregar todo este conjunto de novas tecnologias e soluções de engenharia, materiais e abordagens inovadoras no contexto industrial representará um enorme salto na evolução do estado da arte no tooling com introdução de sistemas produtivos centrados em ferramentas inteligentes, e constituirá uma maisvalia para os copromotores, que rapidamente se estenderá à sua envolvente, contribuindo grandemente para a sustentabilidade das empresas do cluster ‘Engineering & Tooling’.

‘Tooling 4G’ | Advanced Tools for Smart Manufacturing | Projeto Mobilizador Nº 24516

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CONTROLO DINÂMICO DE TEMPERATURA NO PROCESSO DE MOLDAÇÃO POR INJEÇÃO Jorge Laranjeira1, Cláudia Macedo2, Ricardo Simoes2, Luís Faria3, António Baptista4, Armando Ferreira5, Filipe Vaz 5, Carlos Patacas6, João Paulo Dias6, Ricardo Alexandre7 1 - Moldit – Indústria de Moldes SA; 2 - IPCA – Instituto Politécnico do Cávado e do Ave; 3 - IST – Instituto Superior Técnico; 4 - Centimfe – Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos; 5 - UMinho – Universidade do Minho (Departamento de Física); 6 - IPN – Instituto Pedro Nunes; 7 - TEandM – Tecnologia e Engenharia de Materiais

INTRODUÇÃO A complexidade dos produtos tende a aumentar e, consequentemente, a indústria de plásticos procura otimizar os seus processos produtivos com o objetivo de criar produtos cuja forma se adeque o mais perfeitamente possível à função para que se destinam, conciliando as especificações técnicas e estéticas. A necessidade de conhecer e desenvolver todo o processo produtivo com elevado pormenor e rigor é uma realidade premente. A evolução do mercado consiste na otimização do sistema de controlo dinâmico de temperatura e na avaliação rigorosa dos parâmetros do processo de moldação por injeção com o intuito de produzir de forma rentável os produtos com especificações exigentes. SAM – SMART ACTIVE MOULD Em outubro de 2016 iniciou-se o projeto ‘SAM’, projeto de I&DT em copromoção envolvendo a indústria e entidades não empresariais do SI&I, com o objetivo de investigar uma solução para controlar dinamicamente a temperatura do processo de moldação por injeção de peças poliméricas. O controlo dinâmico de temperatura é uma resposta tecnológica às exigências da evolução do mercado: novos materiais a processar, produtos com especificações mais exigentes, com requisitos de qualidade e de ausência de defeitos, entre outros. O controlo dinâmico da temperatura permite que ocorra o que a física do processo de injeção sugere: o molde deverá estar a uma temperatura elevada durante a injeção para facilitar o escoamento do polímero, reduzir a pressão de injeção, uniformizar a morfologia da peça e evitar defeitos devido aos contacto com a superfície do molde e deverá estar a uma temperatura baixa e uniforme durante o arrefecimento para uma solidificação rápida, controlada e sem defeitos devido a gradientes térmicos. A indústria dispõe de um conjunto alargado de materiais e em alguns casos a variação de temperatura durante o ciclo de moldação é essencial. No entanto, o controlo dinâmico de temperatura é ainda hoje economicamente inviável devido às dimensões do molde, à sua capacidade calorífica e inércia térmica. A inovação deste projeto passa por controlar a temperatura do processo dinamicamente e de acordo com a física do processo de injeção, conservando durante o enchimento a temperatura da parede do molde elevada, próxima da temperatura do fundido

e, durante o arrefecimento, baixa, próxima da temperatura ambiente. Consequentemente, prevê-se que a pressão de injeção baixe substancialmente permitindo a aplicação do conceito de molde enquanto permutador de calor surgindo assim um sistema de arrefecimento celular com geometria otimizada produzido recorrendo à fabricação aditiva. A estratégia de controlo ótimo da pressão e da temperatura do molde foi obtida pelo desenvolvimento da tecnologia de revestimentos finos obtidos por PVD. Relativamente ao aquecimento da superfície moldante, foi utilizado o aquecimento por radiação infravermelha, tendo decorrido em paralelo o desenvolvimento de um sistema alternativo recorrendo aos filmes finos resistivos obtidos por PVD. O projeto ‘SAM’ deu por concluído o seu desenvolvimento em dezembro de 2019, tendo alcançado os objetivos inicialmente previstos, e estabelecendo a base para a aplicação industrial dos métodos e soluções propostas. Neste artigo sumariamos os principais desenvolvimentos do projeto, no sistema de aquecimento, de arrefecimento e em sensores de pressão e de temperatura baseados em filmes finos, apresentando também resultados da integração das três tecnologias na solução final. TECNOLOGIA DE RAPID HEATING AND COOLING MOLDING (RHCM) As tecnologias de controlo dinâmico de temperatura revolucionaram a indústria de plásticos. O princípio de funcionamento destas tecnologias consiste em controlar dinamicamente e ciclicamente a temperatura da superfície do molde durante o ciclo de moldação. O ciclo da moldação por injeção com a tecnologia de Rapid Heating and Cooling Molding (RHCM) é constituído por diversas fases. O ciclo de moldação com a tecnologia de RHCM apresenta uma fase adicional quando comparado com o ciclo da moldação por injeção convencional. Esta corresponde ao aquecimento da superfície do molde até à temperatura pretendia. Em seguida, ocorre a fase de injeção. Nesta, o fuso avança e obriga o polímero fundido a fluir para o interior do molde. Posteriormente, ocorre a fase de compactação para promover a compactação do polímero fundido e evitar o refluxo do mesmo. Em seguida, durante a fase de arrefecimento, a superfície do molde é arrefecida até à temperatura adequada para a extração. Posteriormente, o molde abre e o produto é removida do mesmo. Após a extração, a superfície do molde é novamente aquecida até à temperatura pretendida e, em seguida, começa um novo ciclo de moldação.


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MOLDE O molde (ver Figura 1) foi desenvolvido no âmbito do projeto com o intuito de estudar a influência do controlo dinâmico de temperatura.

F1 – Molde.

A Figura 2 ilustra a parte móvel e a parte fixa do molde.

F2 – Molde: parte móvel e parte fixa.

A Figura 3 apresenta a geometria da peça. A mesma foi desenvolvida, exclusivamente, com o intuito de estudar a influência do controlo dinâmico de temperatura.

F3 – Molde: Geometria da peça.

As dimensões da mesma estão representadas na Figura 4.

F4 – Molde: Dimensões da peça em mm: a = 5, b = 85, c = 100, d = 50, da furação = 5 e variação da espessura entre 0,5 e 1.

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SISTEMA DE AQUECIMENTO POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA O método de aquecimento por radiação infravermelha foi o método definido para promover o aquecimento das superfícies do molde. O sistema de aquecimento por radiação infravermelha é composto por uma estrutura metálica, dois refletores e por quatro lâmpadas como representado na Figura 5.

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são de extrema importância para a eficiência do sistema de aquecimento. Desta forma, o refletor é constituído por superfícies divergentes altamente polidas, como representado na Figura 7, e são responsáveis por refletir e direcionar a radiação emitidas pelas lâmpadas para a superfície do molde. SISTEMA DE ARREFECIMENTO CELULAR

F5 – Sistema de aquecimento por radiação infravermelha: (a) vista frontal e (b) vista lateral.

A estrutura metálica é o elemento central do sistema de aquecimento. Esta é responsável por suportar as lâmpadas e os refletores. Em seguida, foram selecionadas as quatro lâmpadas. Estas são fabricadas pela OSRAM e fornecidas pela LIGHTSET.

F6 – Sistema de aquecimento por radiação infravermelha: lâmpada.

A quantidade, a potência e o comprimento da lâmpada são os principais fatores para selecionar a lâmpada adequada para o sistema de aquecimento. A lâmpada exibe 100 mm de comprimento e 20 mm de diâmetro e, além disso, a mesma apresenta 1000 W e 240 V. Posteriormente, foi definido o refletor do sistema de aquecimento. O refletor é um dos elementos mais importantes do sistema de aquecimento. Este é responsável por direcionar a energia emitida pelas lâmpadas para as superfícies do molde e, por isso, a sua geometria, as suas dimensões e o seu acabamento superficial

F7 – Sistema de aquecimento por radiação infravermelha: refletor.

O sistema de arrefecimento de um molde é constituído por uma rede de canais, junto à zona moldante, onde circula um fluido de arrefecimento e por um conjunto de periféricos que controla a temperatura e o caudal desse fluido. Como o arrefecimento da peça é o principal piloto do tempo de ciclo e a origem de muitos defeitos, e por ser claramente essencial para o sucesso da tecnologia de controlo dinâmico de temperatura, o projeto ‘SAM’ dedicou uma atenção particular ao desenvolvimento de um sistema de arrefecimento com um desempenho superior aos sistemas com canais conformes, que constituem o atual estado da arte. Para projetar um sistema de arrefecimento não basta especificar a temperatura do fluido e o seu caudal, embora a temperatura de arrefecimento e a taxa de extração de calor sejam deles função. A qualidade do sistema, medida pela maximização da taxa de transferência de calor da peça e da uniformidade da temperatura da sua superfície, depende crucialmente da geometria da rede de canais. Em regra, quanto mais próximos estão estes entre si, e da zona moldante, melhor se controla a temperatura da superfície da peça. No entanto, uma extração de calor agressiva pode causar problemas de qualidade, por exemplo afetando a microestrutura da peça plástica, ou criar variações exageradas na temperatura da sua superfície que originam defeitos; além disso a proximidade dos canais da zona moldante pode enfraquecer estruturalmente o molde. O sistema de arrefecimento necessita, portanto, de ser projetado rigorosamente e não empiricamente como muitas vezes acontece. O projeto define os parâmetros associados ao fluido de arrefecimento e a geometria e localização dos canais. Como se refere na secção seguinte, a tecnologia do fabrico aditivo permite hoje em dia considerar geometrias de canais complexas, otimizadas para a extração de calor, impossíveis de conceber com a fabricação tradicional. No ‘SAM’ considerou-se que era possível ir além do conceito “canais conformes” para a definição dos canais de arrefecimento e projetou-se, analisou-se e otimizou-se uma geometria que se designou por celular. Essa otimização considerou canais em rede hexagonal e a comunicar entre si (lembrando uma estrutura celular), como ilustrado na Figura 8, em vez da solução atual dos canais conformes, que consiste em canais independentes que seguem a forma da peça.

F8 – Arquitetura de canais em rede hexagonal.


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As vantagens, confirmadas por simulação (Sistemas de arrefecimento para moldes de injeção: Tradicionais, conforme e celulares, revista “O Molde” Nº124, janeiro 2020) e experimentalmente (ver abaixo na Secção: Evolução da taxa de arrefecimento), do sistema celular em relação aos canais conformes e ao sistema tradicional, são as seguintes: i) o arrefecimento é muito mais uniforme e eficaz no sistema celular que o arrefecimento promovido pelos canais conformes, ii) a disposição em hexágonos dos canais origina um arrefecimento praticamente isotrópico e em todo o caso muito menos anisotrópico que o dos canais conformes e iii) a mistura, no sistema celular, entre o fluido que se escoa pelos diversos canais, promove a transferência de calor, especialmente se o escoamento não for turbulento. Com este desempenho térmico otimizado, os postiços que contêm os canais de arrefecimento podem ser menos espessos que os postiços tradicionais de arrefecimento, o que se traduz num custo inferior dos componentes produzidos por fabrico aditivo. Além disso, conforme se confirmou com simulações estruturais por elementos finitos, o aumento das tensões devido à aproximação dos canais da superfície moldante é reduzido, não havendo, portanto, diminuição da resistência dos postiços de arrefecimento. PRODUÇÃO DOS INSERTOS PARA O SISTEMA DE ARREFECIMENTO POR FABRICO ADITIVO Partindo dos resultados atrás referidos em termos de desempenho térmico e mecânico das configurações de canais desenvolvidas, o consórcio avançou para a produção dos insertos. Numa primeira fase procedeu a uma análise da capacidade da tecnologia SLM – Selective Laser Melting para produzir paredes de pequena dimensão para responder aos desafios de novas arquiteturas geométricas, e também de produzir canais ou furos com a geometria e qualidade geométrica e de superfície necessária para assegurar o bom desempenho do sistema de arrefecimento celular. Assim foi desenhado e produzido um provete onde se contemplaram vários diâmetros e canais com diferentes configurações, conforme a Figura 9. A análise ao provete mostrou a viabilidade da tecnologia para produzir canais com um diâmetro mínimo de 1,5 milímetros, ao mesmo tempo concluiuse que a qualidade de superfície também respondia aos desafios inicialmente assinalados.

F9 – Provete para avaliação do diâmetro mínimo dos furos produzidos por fabrico aditivo.

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O projeto ‘SAM’ debruçou-se sobre o estudo e fabrico de algumas soluções de estruturas metálicas que minimizam o material, mas respondem aos desafios estruturais e térmicos do molde. Neste âmbito, foram concebidas, analisadas e produzidas estruturas geométricas complexas para aferir da possibilidade da sua integração em moldes de injeção, atendendo aos esforços típicos observados, como representadas na Figura 10.

F10 – Provetes com geometria em treliça produzidos por fabrico aditivo no aço H13.

Finalmente e para a demonstração das arquiteturas geométricas estudadas foram produzidas por fabrico aditivo uma cavidade e uma bucha, as quais integram o molde experimental, como se mostra na Figura 11.

F11 – Pre-formas da cavidade e bucha do molde produzido em SLM.

Após a integração destes componentes no molde experimental foram realizados testes de injeção para validar o novo sistema de arrefecimento, que se caracteriza por uma nova arquitetura de canais de arrefecimento estudada no projeto ‘SAM’.

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apenas em peças com requisitos de brilho e aparência excecionais para não penalizar exageradamente o tempo de ciclo. Devido à grande inércia térmica do sistema molde/peça, não foi ainda possível alcançar na prática esse controlo pois as tecnologias existentes desqualificam o processo por caro e lento. Atualmente, o controlo destes parâmetros é feito empiricamente através dos valores estimados indiretamente a partir de medições realizadas no fluido de arrefecimento ou em sensores colocados em zonas mais ou menos afastadas da superfície moldante. No projeto ‘SAM’, para efetuar um controlo rigoroso e em tempo real da temperatura e da pressão durante o processo de injeção foi necessário integrar os sensores na superfície moldante recorrendo a filmes finos, permitindo avaliar com maior rigor estes parâmetros e, assim, controlar mais eficazmente o processo de injeção, otimizando a sua produção. Recorrendo a uma tecnologia amiga do ambiente, a deposição física em fase de vapor (Physical Vapor Deposition - PVD) permitiu desenvolver filmes finos capazes de responder a um estímulo mecânico ou térmico. O PVD consiste na produção de uma fase de vapor constituída por um material que é removido de um alvo por meios físicos (ex.: evaporação ou pulverização catódica) e que seguidamente condensa num substrato, produzindo-se assim o filme, Figura 12 [1]. O processo de PVD é, atualmente, um dos processos físicos de produção de filmes finos que mais tem crescido na indústria nomeadamente no desenvolvimento de revestimentos decorativos, sensorização, microeletrónica, células solares, entre outros [1]. Este interesse por parte da indústria nesta tecnologia deve-se à elevada qualidade e versatilidade dos revestimentos produzidos e da facilidade de controlar os parâmetros da deposição que ocorre numa atmosfera controlada. Por se tratar de um processo físico, é possível produzir uma grande variedade de revestimentos, que vão desde os metais puros, aos óxidos, nitretos e carbonetos desses metais, passando por combinações de vários metais (intermetálicos), por oxinitretos e oxicarbonetos [1]. Na técnica de PVD removem-se partículas do alvo através do impacto de partículas muito energéticas, sobretudo iões, de gases inertes que são introduzidos dentro da câmara, geralmente Árgon (Ar). Estas partículas são aceleradas por um campo elétrico gerado por uma descarga elétrica e provêm do plasma que se forma no reator, confinado entre um cátodo, o alvo, Figura 12, e um ânodo (onde se colocam as amostras). A introdução de gases reativos na câmara de deposição permite a reação de compostos, como por exemplo o N2, O2 etc...

SENSORES DE PRESSÃO E DE TEMPERATURA BASEADOS EM FILMES FINOS Na moldação por injeção, os parâmetros tecnológicos pressão e temperatura são determinantes para a qualidade do produto e desempenho global do processo. No entanto, o seu controlo atualmente é feito recorrendo a medições indiretas, ou então recorrendo à aplicação de sensores invasivos do molde. A monitorização destes parâmetros tecnológicos diretamente na cavidade moldante em contacto com o plástico revestese de grandes vantagens para o controlo e otimização global do processo. Reduções da pressão e controlo da temperatura de injeção demonstram benefícios na qualidade das peças e consequentemente na diminuição do tempo de ciclo. A indústria tem-se limitado a utilizar o controlo dinâmico de forma parcial,

F12 – Esquema do sistema de deposição por PVD, adaptado de [2].


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F13 – Sistema de sensorização integrado no molde.

Esta solução de produção permitiu a integração de sensores de filmes finos, com espessuras muito pequenas na ordem de 1 mm, na medição in-loco da pressão e temperatura da superfície do molde simplificando o controlo dinâmico da injeção, Figura 13. a) Sistema alternativo de aquecimento da superfície moldante com base em filmes finos Foi também estudado no projeto a possibilidade do aquecimento da superfície moldante não recorrer a radiação, mas com base numa solução de revestimento da cavidade, utilizando filmes finos com função de aquecimento e capazes de resistir ao ambiente termomecânico durante a moldação. Para tal foram estudadas, desenvolvidas e aplicadas soluções de aquecimento resistivo recorrendo à utilização de camadas finas com apenas alguns mícron (mm) de espessura­. Desenvolveu-se um revestimento de elevada eficiência energética, com capacidade de aquecer a superfície perto dos 200ºC nalgumas centenas de segundos e não apresentando histereses térmico relevante com os sucessivos ciclos de aquecimento e arrefecimento apresentando estabilidade no tempo e reprodutibilidade. Foi também desenvolvido o processo de fabrico para as conexões elétricas entre o filme multicamada e uma fonte de potência. Foi avaliada a integridade do sistema multicamada quando é fornecida potência crescente para aquecimento da superfície. Fixou-se a diferença de potencial nos 24 V (comum nos sistemas elétricos dos equipamentos industriais) e apenas uma potência de 13w/cm2 foi necessária para o aquecimento da superfície do molde de teste até aos 200oC. Também se avaliou a influência da espessura da camada aquecedora no valor das temperaturas atingidas na superfície, assim como foi avaliada a uniformidade de

F14 – Postiço revestido com o revestimento de aquecimento.

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temperaturas na superfície aquecida. Na etapa final foi efetuada a caracterização elétrica e desempenho do sistema multicamada após ciclos térmicos de funcionamento. O postiço final, com o revestimento de aquecimento, está representado na Figura 14. Neste momento considera-se que está efetuada a prova de conceito e a demonstração laboratorial da tecnologia (TRL 3). RESULTADOS O principal foco de análise foi a influência do controlo dinâmico de temperatura no processo de moldação por injeção no molde, pelo que se realizaram ensaios experimentais que aferissem o desempenho dos vários cenários de aplicação das tecnologias e soluções desenvolvidas.

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Os resultados mostram que a taxa de arrefecimento do sistema de arrefecimento celular é 2,0 vezes superior comparativamente ao sistema de arrefecimento convencional na parte móvel. Adicionalmente, na parte fixa a taxa do sistema de arrefecimento celular é 1,5 vezes superior comparativamente ao sistema de arrefecimento convencional. d) Evolução das propriedades mecânicas da peça A Figura 16 indica a evolução do módulo de elasticidade da peça no intervalo de temperatura entre 40 0C e 100 0C. Os resultados realçaram que a temperatura das superfícies do molde proporciona alterações no módulo de elasticidade, este tende a aumentar com a temperatura das superfícies do molde. e) Evolução das linhas de soldadura da peça

b) Evolução da taxa de aquecimento do sistema de aquecimento A Figura 15 mostra a evolução da taxa de aquecimento do sistema de aquecimento por radiação infravermelha com a variação da distância entre o mesmo e a superfície do molde.

F15 – Evolução da taxa de aquecimento do sistema de aquecimento por radiação infravermelha com a variação da distância entre o mesmo e a superfície do molde.

As análises dos resultados permitiram perceber que a distância entre o sistema de aquecimento e a superfície do molde afeta a taxa de aquecimento do sistema de aquecimento por radiação infravermelha. c) Evolução da taxa de arrefecimento do sistema de arrefecimento As análises dos resultados mostram que a substituição do sistema convencional pelo sistema de arrefecimento celular proporciona o aumento da taxa de arrefecimento.

F17 – Evolução das linhas de soldadura da peça no intervalo de temperatura entre 40 0C e 100 0C.

A Figura 17 mostra a evolução das linhas de soldadura da peça no intervalo de temperatura entre 40 0C e 100 0C. A linha de soldadura 1 não é visível quando a temperatura das superfícies do molde igual a 100 . Adicionalmente, a linha de soldadura 2 na mesma condição é menos visível. f) Evolução do empeno da peça F16 – Evolução do módulo de elasticidade da peça no intervalo de temperatura entre 40 0C e 100 0C.

A Figura 18 apresenta a evolução do empeno da peça no intervalo de temperatura entre 40 e 100 .


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A abordagem proposta, integrando aquecimento da cavidade por radiação, arrefecimento utilizando espumas metálicas, e uma sensorização mais fina do ambiente termomecânico na superfície da cavidade moldante, tem significativo impacto na pressão de injeção (nomeadamente redução de força de fecho, e menor esforço nos elementos estruturais do molde o que induz menor exigência das propriedades dos respetivos materiais, e maior tempo de vida útil do molde). É ainda possível conseguir simultaneamente uma redução de defeitos (como linhas de soldadura ou chupados), do empeno (apenas uma das consequências positivas do arrefecimento mais homogéneo por toda a peça), e de tensões residuais. Um melhor acabamento superficial pode levar à supressão de uma fase posterior de pintura em muitas peças. Por fim, nos cenários estudados, observou-se também um aumento do módulo de elasticidade do material e maior homogeneidade na microestrutura da peça (deixando-se de observar uma estrutura de casca e núcleo) quando a superfície moldante está aquecida na fase de injeção.

F18 – Evolução do empeno da peça no intervalo de temperatura entre 40 0C e 100 0C.

Os resultados evidenciaram que a temperatura das superfícies do molde proporciona alterações no empeno na peça, e que se conseguem melhorias muito significativas com o controlo dinâmico de temperatura.

Deve-se frisar que as limitações inerentes ao projeto, em abrangência de condições, geometrias, e materiais estudados, posiciona o conhecimento gerado ainda numa lógica de I&DT e carecendo, portanto, ainda de desenvolvimento industrial para se poder tomar pleno partido em ambiente industrial. Na Figura 20 pode-se observar o molde final com a integração de todos os componentes.

g) Evolução da pressão de injeção hidráulica

F19 – Evolução da pressão de injeção hidráulica no intervalo de temperatura entre 40 0C e 100 0C.

A Figura 19 mostra a evolução da pressão de injeção hidráulica no intervalo de temperatura entre 40 0C e 100 0C. As análises dos resultados da atividade mostram que a temperatura das superfícies do molde influência a pressão de injeção hidráulica. Esta é tanto menor quanto maior a temperatura das superfícies do molde e vice-versa. CONCLUSÕES Ao longo deste projeto foi possível confirmar que o controlo dinâmico de temperatura na moldação por injeção permite efetivamente reduzir pressões e melhorar a qualidade da peça, validando assim alguns dos pressupostos que o projeto inicialmente pretendia abordar.

F20 – Molde final com integração dos diversos componentes da solução de controlo dinâmico de temperatura.

AGRADECIMENTOS O projeto ‘SAM’ (nº 17620, SI I&DT Copromoção do aviso nº33/ SI/2015), foi financiado pelo FEDER através do programa COMPETE 2020. Os autores agradecem também a colaboração da ANI, na qualidade de Organismo Intermédio, e os contributos de todos os outros colegas das diversas entidades do consórcio ‘SAM’ que estiveram envolvidos no projeto.


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INOVAÇÃO INNOVATION

WOOD.SHAPE 4.0 | INTELLIGENT INJECTION MOULDING ON WOOD VENEERS AIDED BY CYBER-PHYSICS SYSTEMS Nânci Alves*, Diana Duarte*, Florindo Gaspar**, Francisco Diz**, Artur Mateus** * TJ Moldes; **CDRSP-IPL

O projeto ‘WOOD.SHAPE 4.0’ é um projeto em copromoção que envolve um consórcio constituído por quatro empresas: a TJ Moldes, a Valco, a Makertech e a Plásticos Agostinho Batista, e por três entidades não empresariais do SI&I: o CDRSP-IPL, o SerQ e a Universidade de Coimbra. O WOOD.SHAPE 4.0 surgiu da procura de valorizar um produto nacional, a folha de pinho, por parte da indústria florestal e da procura do sector industrial automóvel de novos produtos para segmentos de mercado mais exclusivos, valorizando o acabamento de peças interiores de automóveis e do sector de construção, procurando novos produtos, cada vez com maior consciencialização ambiental e personalização. F3 – Exemplo de aplicação.

F1 – Testes iniciais de adesão do plástico á folha de madeira.

O consórcio pretende desenvolver um conjunto de atividades de investigação envolvendo as áreas de projeto de molde e das tecnologias da conformação de madeira e do overmoulding, auxiliadas de sistemas automatizados de visão computacional e integração de tags RFID, com o objetivo de produzir peças com revestimento de folha de pinho e preenchimento polimérico de elevado valor acrescentado. O projeto ‘WOOD.SHAPE 4.0’ tem como objetivo a convergência com a indústria 4.0, integrando a automatização nas etapas referentes ao overmoulding, colocação da folha de madeira na máquina com tempos de ciclo reduzidos e verificando-se uma característica intrinsecamente inovadora, a integração de visão computacional no processo de seleção e classificação da folha de madeira. Estes objetivos pretendem agregar ao produto a informação sobre a seleção e classificação da madeira, dandolhe capacidades de rastreabilidade para a necessidade de substituição, transmitindo igualmente informações sobre a origem da madeira ao consumidor. ‘WOOD.SHAPE 4.0’ | Intelligent injection moulding on wood veneers aided by cyber-physics systems, Aviso Nº 03/SI/2017 projetos em copromoção, Projeto Nº 33348 SI I&DT.

F2 – Teste com retroiluminação.



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NEGÓCIOS BUSINESS Economia, mercados, estatísticas Economy, market information, statistics

Cadeias Globais de Valor

Irlanda: Indústria de Moldes e Plásticos


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NEGÓCIOS BUSINESS

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CADEIAS GLOBAIS DE VALOR Vítor Ferreira*

* D. Dinis Business School

As cadeias globais de valor (CVGs) referem-se à partilha internacional da produção, um fenómeno em que a produção é dividida em atividades e tarefas realizadas em diferentes países. Elas podem ser compreendidas como uma evolução da divisão de trabalho do século XVIII, que remonta à época de Adam Smith. No famoso exemplo atribuído a Smith, a produção de um alfinete era dividida em várias operações distintas dentro de uma fábrica, cada uma realizada por um trabalhador dedicado. Nas CVG, as operações estão espalhadas globalmente (em vez de confinadas ao mesmo local) e os produtos fabricados são muito mais complexos do que um alfinete. A produção transfronteiriça foi possibilitada pela liberalização do comércio e investimento, custos mais baixos de transporte, avanços na tecnologia da informação e comunicação e inovações na logística. Na verdade, os custos de transporte e de logística têm vindo a decrescer nos últimos 150 anos, primeiro dadas as inovações tecnológicas no transporte (mais o crescimento do tamanho dos navios), mas depois como resultado da inovação em tecnologias de informação e na criação desse herói esquecido do século XX – o contentor.

Embora a produção além-fronteiras possa não ser nova, ela expandiu-se rapidamente em muitos sectores nas últimas 4/5 décadas. Este desenvolvimento foi amplamente impulsionado por empresas transnacionais em economias industrializadas, que reestruturam continuamente os seus negócios e reorganizam/ realocam as suas operações por razões de concorrência, à procura de vantagens competitivas locais. O exemplo manifesto de realocação é a terceirização (“outsourcing”) de estágios de produção intensivos em mão-de-obra, das economias industrializadas para os países em desenvolvimento, com baixos salários e mão-de-obra abundante. As operações comerciais, no entanto, também são reorganizadas nas economias industrializadas. Além das atividades serem divididas e dispersas geograficamente, uma característica que distingue as CVG reside no facto de as atividades de produção serem, cada vez mais, realizadas por terceiros sem vínculos legais às empresas multinacionais (o que também é conhecido como terceirização internacional). Nesse sentido, as empresas multinacionais consolidaram as suas

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operações internacionais em segmentos de indústrias, refletindo os seus principais pontos fortes. Desta forma, tornaram-se mais poderosas ao controlar e coordenar as suas redes de produção internacionais (elas são, na verdade, o cérebro de uma rede de empresas, controlada por aqueles que detêm a propriedade intelectual – marcas, patentes, bases de dados). Uma estimativa sugere que as CVG ‘governadas’ pelas empresas multinacionais representam 80% do comércio mundial a cada ano. Os países participam destas CVG através de ligações bidirecionais. As ligações são criadas quando o país A usa inputs do país B para a produção doméstica. As empresas do país A podem obter inputs do país B por meio de importações diretas e indiretas, ou seja, os inputs são fornecidos por afiliadas locais de empresas transnacionais do país B ou por empresas de propriedade local que importam inputs de outros países. Ser capaz de obter inputs estrangeiros é particularmente vantajoso se os inputs necessários para a produção não estiverem disponíveis localmente ou estiverem disponíveis, mas forem deficientes em alguns aspetos (por exemplo, quantidade, qualidade e preço). Outros vínculos são criados quando o país A fornece inputs usados para ​​ produção no país B. Os bens produzidos em países estrangeiros podem ser produtos finais (para consumo e investimento local) ou produtos intermédios que são exportados para outros lugares para uso como inputs. Ser capaz de fornecer inputs para produção a empresas de outros países pode ser especialmente importante para países em desenvolvimento que procuram entrar em novas indústrias e que estão no processo de aprender a produzir e exportar novos bens (por mais simples que sejam). Esses inputs são, no entanto, igualmente importantes para economias industrializadas que fornecem inputs complexos, especializados e de alto valor. Um exemplo podia ser encontrado na China, com 80% da produção mundial de canetas esferográficas, mas que teve de importar as pontas das canetas necessárias para a produção do Japão, Alemanha e Suíça - os poucos países que realmente sabem como produzir as pontas das canetas. Os produtos atravessam várias fronteiras nas CVG em diferentes estágios de produção antes de serem transformados em bens finais. Como tal, o comércio de bens intermédios, que requerem processamento adicional e são usados ​​ como inputs para a produção (aqui incluímos tanto peças, componentes como matérias-primas), é frequentemente usado como uma medida de quantificação da importância das CVG. Desde 1995, os fabricantes de produtos intermédios representam consistentemente cerca de metade das exportações e importações de manufaturados a nível global. Existe uma óbvia disparidade entre regiões. Por exemplo, a África e a Oceânia (lideradas pela Austrália e Nova Zelândia) exportam mais bens intermédios (em percentagem das suas exportações de produtos) do que outras regiões. Isto não é surpreendente, já que a maioria das suas exportações são de bens baseados em recursos que variam de minerais a produtos agrícolas, que são usados​​ como matéria-prima para a produção. A Ásia e a Europa importam mais bens intermédios do que outras regiões. A Ásia importa visivelmente mais produtos intermédios do que exporta. Isso sugere que a região está mais envolvida em ‘montagem’ do que na produção de componentes. Um estudo do Asian Development

NEGÓCIOS BUSINESS

Bank Institute relata que a China exportou iPhones da Apple para os EUA a um preço unitário de US $179. Do valor total de cada unidade de $179, aproximadamente $172 consistiam em custos de importação de inputs ou peças estrangeiros (principalmente do Japão, Coreia, Alemanha e EUA), ou seja, o valor adicionado na China representou apenas $6,5. A China tem, desde então, obtido alguns ganhos em relação aos seus esforços para deixar de ser o ponto de montagem final de componentes produzidos em outros lugares. A participação da CVG não gera apenas resultados positivos. Alguns dos riscos incluem possível colapso na coesão social, erosão do bem-estar do trabalho e degradação ambiental, riscos que não se limitam a países cujas capacidades de governança e regulamentação são fracas. Além disso, como resultado da divisão do trabalho, existe o risco de aumentar as brechas económicas entre os países. Os países participantes das CVG podem, por exemplo, a longo prazo ver-se presos a atividades de baixo valor agregado. Esta é uma questão particularmente complexa, já que a inexistência de empresas líder pode prender as regiões nessas atividades – em Portugal isso é notório não só nos têxteis, como em outras indústrias (onde a maioria do valor criado é capturado pelo “dono” da CVG – vide o preço final de uma peça de roupa na distribuição versus o valor de referência de 1 euro na produção). A participação da CVG aumenta ainda a exposição da economia local a decisões e choques externos. Estes riscos são patentes quando uma multinacional decide procurar novos fornecedores (o que tem acontecido com os têxteis em Portugal face a Marrocos e Turquia), quando existem quebras nas cadeias geradas por fenómenos imprevistos (como é o caso do coronavírus) ou acontecimentos político-económicos (protecionismo, tarifas, etc.). Apesar dos riscos, as CVG representam uma opção relativamente atraente e direta para os países. Devido à fragmentação internacional da produção e à separação das operações, os países não precisam mais criar produtos completos ou cadeias de valor. Em vez disso, eles podem criar indústrias-alvo “inserindo-se” num estágio específico de produção ao longo da cadeia de valor que se adapte ao seu nível de capacidade existente. Existem outros benefícios em participar nas CVG. O fornecimento de inputs para as empresas que exportam aumenta as perspetivas dos países (especialmente aqueles com um pequeno mercado interno, como Portugal) para alcançar rapidamente economias de escala. A produção para exportação contribui para o crescimento económico, criação de empregos, geração de rendimento e receita tributária. A participação em CVG também abre oportunidades consideráveis​​ para transferência de conhecimento entre empresas. Essas transferências podem levar à ‘atualização’ industrial, resultando na melhoria da qualidade do produto, facilitando operações e processos e promovendo o envolvimento em atividades de maior valor na produção. Estas são algumas ideias, vantagens e desvantagens das CVG, tão faladas pela sua disrupção das últimas semanas. Fica, no entanto, no ar a ideia de que mais do que integrar ou não integrar cadeias (não é possivel não integrar e Portugal é, sobretudo, um produtor intermédio), o objetivo de política económica deve ser criar mais valor acrescentado e menos produtos e serviços de baixo valor.



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NEGÓCIOS BUSINESS

IRLANDA: INDÚSTRIA DE MOLDES E PLÁSTICOS Luís Reis*

* Delegado da AICEP na Irlanda

SITUAÇÃO ECONÓMICA E PERSPETIVAS Nas últimas duas décadas, a Irlanda sofreu uma transformação social e económica sem precedentes, posicionando-se atualmente como um dos produtores de referência mundial ao nível industrial em sectores de grande inovação como o farmacêutico e o de equipamentos médicos ou o das tecnologias de informação. Para esta alteração e performance foi decisivo o fluxo de investimento estrangeiro direto, que transformou uma pequena economia local numa das mais avançadas e abertas a nível mundial (décima terceira maior economia europeia e trigésima segunda do mundo) mas, por consequência, também uma das mais expostas e fortemente dependente do comportamento da procura global. A Irlanda exportou, em 2018, bens no valor de 167 mil milhões de USD, com destaque para os produtos farmacêuticos (32%) e os produtos químicos orgânicos (19,8%) que, no seu somatório, representaram mais de metade do valor total das exportações irlandesas. De referir ainda que a quota de exportação de produtos farmacêuticos aumentou cerca de 45% entre 2014 e 2018.

incluindo as publicadas pela Comissão Europeia, fazem projeções do crescimento real do PIB de 3,5% para 2020 e 3,2% para 2021, com um histórico recente de crescimentos de 5,6% em 2019 e de mais de 8% em 2018. Nesta fase de agravamento da situação provocada pelo COVID-19 e o inevitável impacto económico que provocará na economia europeia e mundial, estas projeções serão significativamente afetadas.

Não obstante as incertezas que o impacto do BREXIT poderá provocar na economia irlandesa, todas as previsões económicas,

Mais informações sobre o mercado estão disponíveis em https:// myaicep.portugalexporta.pt/mercados-internacionais/ie/irlanda

2018

2019

Tons

1000 EUR

% Tot

Tons

1000 EUR

% Tot

Var. %

TOTAL

33 316

669 250

100,00

29 847

611 967

100,00

-8,56

1

Espanha

6 726

120 608

18,02

8 216

143 992

23,53

19,39

2

Alemanha

6 592

144 099

21,53

4 988

115 423

18,86

-19,90

3

França

4 202

86 138

12,87

3 740

71 484

11,68

-17,01

4

República Checa

2 275

45 288

6,77

1 998

43 151

7,05

-4,72

5

Polónia

1 637

34 727

5,19

1 296

29 664

4,85

-14,58

6

Estados Unidos da América

1 896

36 614

5,47

655

18 608

3,04

-49,18

7

Eslováquia

513

11 605

1,73

881

18 511

3,02

59,51

8

Reino Unido

1 468

28 524

4,26

912

17 429

2,85

-38,90

9

Rússia

308

8 924

1,33

740

15 434

2,52

72,94

10

Itália

373

8 890

1,33

662

15 029

2,46

69,07

11

Bélgica

816

14 500

2,17

779

13 640

2,23

-5,93

12

Suiça

621

9 958

1,49

446

11 188

1,83

12,35

13

México

611

14 227

2,13

385

10 914

1,78

-23,28

14

Roménia

234

7 876

1,18

384

10 038

1,64

27,45

15

Suécia

722

10 456

1,56

463

7 648

1,25

-26,86

61

Irlanda

20

450

0,07

2

90

0,01

-80,01


NEGÓCIOS BUSINESS

RELAÇÕES BILATERAIS No somatório das exportações de bens e serviços, a Irlanda é atualmente o 12º cliente de Portugal, com 1,2% de quota das exportações nacionais, onde as viagens e turismo representam dois terços desse total, existindo potencial para o aumento das exportações de bens de consumo e industriais, mesmo considerando que se trata de um pequeno mercado com 4,8 milhões de consumidores, mas com elevado poder de compra e um forte tecido industrial em sectores de grande inovação. Ao nível da indústria de moldes, NC 8480, são praticamente inexistentes as relações comerciais entre os dois países, tendo, segundo dados do INE, Portugal exportado 450 mil euros em 2018 e apenas 90 mil euros em 2019, o que representou uma quebra de 80% face ao ano anterior, posicionando o mercado apenas como sexagésimo primeiro destino do sector. A reduzida dimensão das exportações portuguesas para o mercado são reflexo da forte concentração industrial da Irlanda no sector farmaceutico e dispositivos médicos e de muitas empresas terem privilegiado abordagens indiretas, via Reino Unido, ou dirigidas a outros sectores como o automóvel, com expressão reduzida no mercado. Em termos de importações globais de moldes, a Irlanda apresenta valores baixos (quadro Importações Irlanda NC 8480), perfazendo pouco mais de 26 milhões de euros em 2018 e uma tendência de redução das exportações desde 2016, o que reflete em parte um cluster local forte e em crescimento, totalmente integrado nas cadeias de valor industriais do mercado.

Entre os países que mais exportam moldes (NC 8480) para a Irlanda, em 2019 a Suíça teve uma quota de 30%, seguida do EUA com 15% e da China com 20%. Os 10 países que mais exportam moldes para a Irlanda representam 94% do total das importações locais.

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NEGÓCIOS BUSINESS

O SECTOR DE MOLDES E PLÁSTICOS NA IRLANDA O sector de moldes e plásticos na Irlanda apresentou, nos últimos dois anos, um crescimento de 7,7%, constituindo-se atualmente por 230 empresas, mais de 7.000 trabalhadores e um volume de negócios de 2,1 mil milhões de euros, em grande parte destinados aos mercados internacionais. De todas as empresas que constituem o sector, 53% são de injeção (122 empresas), com um peso significativo da área farmaceutica e de dispositivos médicos, e 13% são de produção de moldes e ferramentas (pouco mais de 30 empresas). A este grupo de fabricantes de moldes e ferramentas estabelecidos na Irlanda, deve considerar-se igualmente um número representativo de empresas da Irlanda do Norte com condições privilegiadas para atuar no mercado, beneficiando da óbvia proximidade territorial, cultural e linguística, ainda que, neste caso, são por norma empresas mais direcionadas para atuar no mercado aeronáutico, espacial e automóvel. Os grandes centros do sector na República da Irlanda concentram-se em Athlone, Limerick, Galway, Sligo, Dublin, Cork e Waterford. O cluster inclui processadores de todos os tipos de tecnologia, desde a injeção, sopro, extrusão, etc., fornecedores de matérias-primas, moldes, ferramentas, máquinas e componentes, para além de serviços de desenvolvimento e design que disponibilizam soluções de engenharia de polímeros e prototipagem. SECTORES DE OPORTUNIDADE Sendo a República da Irlanda um dos líderes mundiais no sector das ciências da vida e da saúde, nomeadamente na indústria farmacêutica e de tecnologia/dispositivos médicos (Medtech), existem oportunidades reais para as empresas portuguesas também conseguirem integrar esta cadeia de valor, desde o fornecimento de matérias-primas e máquinas, até moldes e ferramentas para um número crescente de fabricantes de instrumentos e aparelhos médicos. O sector Medtech na Irlanda é constituído aproximadamente por 450 empresas, que empregam 38.000 pessoas, sendo o segundo maior empregador de profissionais da área médica na Europa per capita, com exportações anuais de mais de 12,6 bilhões de euros destinadas a mais de 100 mercados em todo o mundo. Nove das dez maiores empresas de tecnologia médica do mundo (Medtech) têm uma base na Irlanda, sendo, no entanto, notável que cerca de 60% das 450 empresas de tecnologia médica são de origem local. Por outro lado, no sector farmaceutico, constata-se uma dinâmica ainda mais intensa, com mais de 4 bilhões de euros de investimento desde 2012 realizados pela área da Biofarmácia, que resultaram na criação de mais de 8.000 novos empregos diretos, numa indústria que emprega atualmente mais de 26 mil pessoas diretamente e, indiretamente, outras 25 mil.

Grandes multinacionais como a BioMarin, a Eli Lilly, a MSD Brinny, a Janssen ou mesmo a portuguesa Hovione, são apenas alguns dos exemplos mais recentes de empresas que apostaram numa presença forte e de contínua expansão num país que conta com a presença industrial e de I&D das 10 principais empresas farmacêuticas mundiais, entre mais 100 empresas instaladas na Irlanda. ASSOCIAÇÕES SECTORIAIS - Polymer Technology Ireland https://polymertechnology.ie/ - The Northern Ireland Polymers Association (NIPA) http://www.polymersni.com/



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REFLEXÕES

João Faustino*

*Presidente da CEFAMOL

ALERTA Os acontecimentos mais recentes têm apresentado sinais de alerta e preocupação para a humanidade, de uma forma provavelmente nunca imaginável neste mundo moderno e com constantes índices de progresso. O efeito coronavírus (ou COVID-19) despoletou uma campanha mundial sem precedentes com o objetivo de proteger pessoas em todos os países e regiões que, confrontados com um novo problema, desenvolveram mecanismos de alerta e proteção para aquilo que poderá ser um flagelo de contornos imensuráveis se não for muito trabalhado e cuidado em termos de combate à propagação da epidemia. Uns mais do que outros, adotaram, e continuam a adotar, medidas de contenção que, forçosamente, vão afetar, em menor ou maior escala, o desenvolvimento da atividade económica a nível global e muitos dos seus sectores. Este problema começa a ter contornos que podem colidir, em muitos casos, com o normal desenvolvimento laboral e sustentável das organizações e empresas um pouco por todo o mundo. Se considerarmos que a economia global está muito assente e dependente do que é fabricado nas regiões afetadas, é fácil depreender que a continuidade desta epidemia irá prejudicar o normal funcionamento de muitas empresas, por falta de peças, componentes ou matérias-primas imprescindíveis à montagem de mecanismos, máquinas, equipamentos, veículos, entre muitos outros. As restrições adotadas para evitar a propagação da doença, com o bloqueio da mobilidade de pessoas, técnicos e turistas, faz com que não se produza, não se venda, não se consuma, não se distribua, colocando-se um sério travão ao desenvolvimento global que afetará muitas economias. Esta crise tem levado “somente agora” algumas grandes empresas a repensar e a estudar estratégias de futuro para diversificar os seus centros de produção e voltar a aproximá-los dos centros de decisão, tal como há alguns anos atrás. Na indústria de moldes esta epidemia baralha ainda mais a razoabilidade lógica do negócio, face ao desenvolvimento da nossa atividade para um sector cliente do qual dependemos muito e que vive numa indefinição estratégica que teima em continuar. Esta conjugação de acontecimentos não facilita a resolução de problemas às empresas e é traduzida por uma redução drástica e inequívoca de atividade, capaz de limitar toda a capacidade produtiva instalada. Temos vindo a assistir a uma maior solicitação de orçamentos por parte de alguns clientes, que compravam habitualmente moldes fora de Portugal. Este cenário, sendo evidente em termos de

orçamentos, não foi até ao momento traduzido em encomendas reais, pelo que, e dependendo da evolução dos acontecimentos, obriga-nos a estar em alerta permanente para todos os panoramas possíveis. Sendo certo que o momento é de incerteza e receio, faz com que todas as projeções mundiais apontem para uma redução dos rendimentos em muitos sectores de atividade, motivada pelo decréscimo de encomendas nos mercados. Face às notícias que são divulgadas diariamente sobre o assunto, importa salientar o impacto brutal que muitas empresas estão a ter na sua atividade, enquanto fornecedoras globais. Este surto pode condicionar também no futuro, algum do investimento em países terceiros, onde Portugal está obviamente incluído. Estes alertas são temas muito atuais e consensuais que devem de ser disciplinados face aos riscos eminentes de uma propagação de consequências inimagináveis, devendo ser encarados como desígnios de responsabilidade nacional e internacional. Caso contrário, iremos ter claramente um aprofundamento das incertezas relacionadas com o futuro das economias, afetando rendimentos das organizações e pessoas. Num momento de enormes desafios, face aos novos paradigmas do desenvolvimento industrial global assentes na inovação e criação de novos de produtos e conceitos, todos os esforços têm de estar alinhados com outras orientações relacionadas com métodos, eficiência, processos, predisposição e flexibilidade. O mundo está e estará em alerta permanente e constante. No entanto, as importações e exportações do maior consumidor e produtor mundial de bens começam a ter reflexos negativos em todas as economias mundiais, e Portugal não será exceção. No cluster ‘Engineering & Tooling’ existem casos de empresas que, por causa das medidas de contenção, têm já condicionadas atividades devido à falta de peças e equipamentos imprescindíveis nos seus processos produtivos. Este problema começa a estender-se a muitas outras áreas, podendo criar problemas estruturais relevantes em muitos sectores. A indústria de moldes tem uma dinâmica ímpar no desenvolvimento de contactos a nível mundial para promover a sua atividade, mostrar competências, captar encomendas e marcar presença enquanto país que desenvolve e fabrica soluções capazes de ombrear com as melhores das melhores. Estas práticas irão certamente continuar. No entanto, com todos os alertas possíveis que devem ser sempre equacionados para o bem de todos.


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REFLEXÕES

João Faustino*

*Presidente da CEFAMOL

SUPORTES Suportes são peças aplicadas em 95% dos moldes de injeção para plástico. São peças muito simples (das mais simples que existem no conjunto de todas as peças que compõem um molde) mas que, tecnicamente, têm uma importância vital e preponderante para o bom funcionamento dos mesmos. Estas, podem ajudar a fazer a diferença na qualidade entre um mau e um bom produto final. Os nossos “suportes” têm como função ajudar no equilíbrio e sustentabilidade de forças e pressões internas exercidas durante o processo do fabrico de uma peça de plástico, seja ela para um laboratório, para um carro ou para um avião. São então, peças

simples e baratas, mas que a não aplicabilidade das mesmas condiciona, sem qualquer margem para dúvidas, o sucesso de todo o processo na cadeia de fabrico. Na indústria de moldes existem outro tipo de suportes com os quais convivemos todos os dias enquanto fornecedores de bens e compradores de serviços ou equipamentos. O suporte técnico que prestamos aos nossos clientes durante a fase de desenvolvimento de um produto ou o suporte técnico que damos quando o seu produto já está em produção contínua, são outros exemplos de suportes usados e dados através da assistência intelectual,


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REFLEXÕES

técnica ou de serviço pós-venda. Todos sem exceção, têm como objetivo captar a atenção do cliente para a diferenciação da oferta, para solucionar ou precaver problemas técnicos específicos. O e-commerce é, cada vez mais, uma atividade com índices de crescimento “descontrolados”. Hoje (quase) tudo se compra e vende através da implementação da digitalização a ocorrer nas empresas e que está acessível a qualquer um. No entanto, para que isto seja possível, em muitos casos milhares de pessoas, por detrás de grandes organizações, 24h/dia, fazem o suporte técnico inerente aos produtos e às transações dos mesmos. Linhas de atendimento próprias, emails diretos específicos, entre muitos outros, são usados(as) por empresas da banca, dos seguros, das telecomunicações, da indústria automóvel e muitas outras com o objetivo de providenciar suporte on-line dedicado aos seus serviços e produtos. Muitas das nossas ações diárias estão assentes em diferentes suportes que, alinhados e integrados, ajudam a reger o dia a dia. O suporte familiar será porventura o mais específico e importante na vida de cada um. É com base neste que construímos o modelo e o pilar de gestão da família. É também a partir do suporte familiar que se desenvolvem comportamentos, que se vão formando ao longo do crescimento, e podem ajudar a formatar a personalidade, a qual se desenvolverá de acordo com o meio social e o ambiente da convivência que o rodeia. Em resumo, o suporte familiar pode desempenhar um papel facilitador no desenvolvimento da personalidade, gerando bons profissionais ao serviço de uma causa ou de uma organização. Os suportes que montamos nos moldes que fabricamos, o suporte intelectual e tecnológico que oferecemos aos clientes, o suporte familiar que recebemos, têm todos uma função específica: fazer garantir que trabalha, que funciona, que é possível, que é eficaz e que é seguro.

A Indústria de Moldes tem desafios diários e constantes que dificilmente serão ultrapassados se não puder contar com os suportes acima referidos, sendo que, para além destes existe um outro, não menos importante, que faz mover praticamente todos os outros: o suporte financeiro. É aqui que, por vezes, as coisas começam a não ser “tão lineares” como seria desejável. As famílias, as empresas e organizações por norma devem ter uma base de rendimento ou suporte financeiro que possa fazer face às necessidades “normais”, ajustadas às circunstâncias do diaa-dia. O problema atual com a desaceleração da atividade dentro das empresas e organizações está precisamente na razoabilidade do suporte financeiro à atividade diária. Tocam as sirenes, tocam os alarmes… reduzir custos, otimizar, melhorar, rentabilizar, aproveitar, ser eficiente, ser prático, ser rápido são alguns dos temas com os quais as empresas têm obrigatoriamente de trabalhar para podermos continuar a aspirar que este período menos bom passe e cause os menores danos possíveis. O nosso desafio deve ser estar focalizado no fornecimento de alguns suportes, utilizando outros para podermos reduzir custos, otimizar, melhorar, rentabilizar, aproveitar, sermos eficientes, práticos e rápidos para que possamos enfrentar os desafios com a serenidade de outros tempos. Todos temos consciência de que o sector atravessa um período difícil relativamente a novas encomendas, prazos de pagamento e, não menos importante, o valor do pagamento. É, pois, neste contexto que todos os suportes têm a sua importância. No entanto, o financeiro deve ser gerido cautelosamente, para enfrentar o período menos bom existente e criar bases que garantam a nossa sustentabilidade.




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