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O MOLDE N125 | 04.2020
DESTAQUE HIGHLIGHT
O SECTOR FALA DE… ECONOMIA CIRCULAR É PRECISO CRIAR CONDIÇÕES PARA INCREMENTAR O REGRESSO DOS PRODUTOS À CADEIA DE PRODUÇÃO
Helena Silva* * Revista “O Molde”
Quando pensamos em economia circular aplicada à indústria de moldes, o plástico é uma questão incontornável. As empresas produtoras de artigos de plástico estão, naturalmente, preocupadas com a forma como o tema está a ser tratado pelas autoridades e olhado pela opinião pública. Lembram as vantagens deste material que, consideram, não tem substituto. Defendem ainda que a investigação de novos tipos de resinas, a partir de reciclados, é uma realidade e tem dado passos. Mas o mais importante, dizem, é conseguir criar mentalidades mais amigas do ambiente e sistemas de recolha de resíduos mais eficazes, de forma a que os vários tipos de materiais possam voltar à cadeia de produção. No caso dos moldes, os fabricantes asseguram estar atentos e a preparar-se para a chegada de novos tipos de polímeros. GLN, Plásticos Santo António e Vipex partilham a sua visão e experiência. “Esta questão da economia circular e do plástico é uma questão muito mais profunda do que a ligeireza com que tem vindo a ser tratada. O plástico é um material incontornável e, que se saiba, não existe, nos próximos anos, nenhum material que o possa substituir”. Quem o diz é Jorge Santos, da empresa Vipex. O responsável adianta que, para evitar o alarmismo social, é preciso que o assunto seja “tratado com seriedade e serenidade. E não está a ser”. Depois, sublinha, é preciso que, na discussão, se trabalhe com “informação completa”. Ou seja, “evitar tratar-se este assunto com precipitações e dogmatismos que é o que tem acontecido”. Até porque, lembra, há vários tipos de plástico. No caso do de uso único (ou descartável), defende que “é preciso haver sistemas de recolha eficazes”. “Isso é fundamental para a economia circular funcionar”, frisa, advertindo que, contudo, “em Portugal, não existe uma recolha eficaz. Para o ser, é preciso que seja fácil para o utilizador colocar os resíduos para recolha”. Mas é necessária também “uma grande sensibilização das pessoas”. Sem estas duas, garante, “nenhum sistema de recolha é eficaz. E, sem ele, não podemos falar de economia circular”. É que só depois desse passo, esses materiais podem ser revalorizados. Contudo, isto acaba por ser apenas o primeiro (e mais importante) passo. Este sistema de recolha, lembra, “tem de ser feito com regras”. Cita, como exemplo, o caso dos produtos alimentares. Nestes, é preciso ter muito cuidado com o tipo de materiais que se usam no seu acondicionamento e conservação. E no que se está a trabalhar para tornar o plástico mais amigo do ambiente? Jorge Santos conta que está em curso bastante investigação e está a trabalhar-se em formas de juntar os materiais e fazer a decomposição deles, para utilizar na construção de novos produtos. Ou seja, “fazer novas matérias-primas”, sublinha.
FABRICAR NOVOS MATERIAIS Conta que “já há fornecedores a trabalhar nisso”, considerando que “têm de ser os grandes transformadores de matérias-primas a fazê-lo”. “Sejamos realistas: não se espere que seja um fabricante como a Vipex, ou outro da mesma dimensão, que vá trabalhar nisso. O que podemos fazer é criar alguma pressão junto dos fornecedores, e estão a ser pressionados, para podermos reutilizar esses materiais”, sustenta. O objetivo é que, quando estão a construir novos materiais, passem a incluir componentes de materiais reciclados. Depois, quando forem adquiri-los, as empresas produtoras de plásticos possam optar por esses materiais. “Quando isto acontece, esses materiais vão reentrar na cadeia”, conclui. E Jorge Santos adianta que, hoje em dia, “nós já temos fornecedores destes e estamos a preparar-nos para comprar materiais que têm, por exemplo, 25% de origem em materiais reciclados. Ou seja, aproveitar aquilo que é um resíduo e transformá-lo num valor”. Contudo, o responsável esclarece que o processo para se chegar aí não é simples. Pelo contrário. “Fazer o processo simples de moer o produto e voltar a utilizá-lo não é fácil, na maior parte dos produtos, porque os processos de produção são diferentes, não existe homogeneidade, as especificações de resistência (e outras) são diferentes”, explica. E por isso considera que “do ponto de vista prático, há aqui grandes desafios que têm de ser trabalhados. E isto é muito importante por parte dos transformadores”. OS LIMITES DA REUTILIZAÇÃO A forma como a sociedade olha para o plástico sente-se no dia a dia da empresa. Jorge Santos conta que “sentimos, da parte dos clientes e da nossa parte também, uma preocupação e uma exigência. No âmbito da sua estratégia, as empresas pedem-nos soluções e nós passamos essa pressão para os nossos fornecedores”. Adverte que “estamos preocupados com a questão da economia circular, mas sejamos realistas: a nossa empresa tem de estar dentro de um sistema que possa fazer a economia circular. Nós podemos utilizar rejeitados da produção mas com determinados limites, entre os quais, os técnicos”. É, portanto, utópico pensar numa reutilização de rejeitados a 100%, explica. E exemplifica: “dos nossos resíduos, se calhar reutilizamos 50%. Mas um resíduo de um produto alimentar (por exemplo, uma garrafa), não pode voltar a utilizar-se na área alimentar. Só por aí tem limitações. E há muitas”. De acordo com Jorge Santos, a Vipex tem implementado medidas e procurado introduzir melhorias. “Somos das primeiras empresas a