Molde N.º 128 - janeiro 2021

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MARKETING & PROMOÇÃO ENTREVISTA AO PRESIDENTE DA AICEP FABRICO ADITIVO: O FUTURO DA EXCELÊNCIA EM TODAS AS ETAPAS DA PRODUÇÃO E INJEÇÃO DE MOLDES

SUÍÇA: SITUAÇÃO ECONÓMICA E PERSPETIVAS

Nº ISSN 1647-6557

ANO 32 . 01 2021 . N128

01.2021 ANO 32 . N128 . €4,50

CEFAMOL ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE MOLDES

Periodicidade Trimestral

ESPECIAL /



ÍNDICE / CONTENTS

36 MARKETING & PROMOÇÃO

DESTAQUE / HIGHLIGHT

60 INOVAÇÃO / INNOVATION

O QUE AS EMPRESAS CONCEBEM DE FORMA SINGULAR E INOVADORA WHAT OUR COMPANIES CONCIEVE IN A SINGULAR AND INNOVATIVE WAY

66 TECNOLOGIA /

03

Editorial

04

Notícias CEFAMOL

22

Notícias da Open

23

Notícias dos Associados

24

A Indústria à Lupa

30

Formação na Indústria

37

Entrevista ao presidente da AICEP – Luís Castro Henriques

40

Marketing e promoção da indústria de moldes

43

Comunicação e marketing: novos desafios para as empresas de moldes e ferramentas

45

Reforço de imagem é chave para a promoção internacional

49

Webinar reflete sobre Internacionalização

50

Ferramentas digitais para a internacionalização

52

Marketing digital em tempos de pandemia

54

Empresas têm como desafio pensar estrategicamente e agir taticamente

56

Marketing digital apoia mas não substitui ações físicas de divulgação

61

O Desempenho ambiental das tecnologias de fabrico aditivo

65

O projeto COVID Porta Aberta

67

Fabrico aditivo: o futuro da excelência em todas as etapas da produção e injeção de moldes

70

Aditivos para polímeros: uma perspetiva

76

Cibersegurança: boas práticas para navegar em segurança

81

Portugal 2030 – antecipar o futuro na indústria de moldes e plásticos

84

Suíça - situação económica e perspetivas

91

Toxicidade cristalizada - em 2021 temos de ter coragem de a confrontar!

92

Falta cumprir-se a comunicação estratégica

TECHNOLOGY

EQUIPAMENTOS . PROCESSOS . CONHECIMENTO EQUIPMENT . PROCESSES . EXPERTISE

80 NEGÓCIOS / BUSINESS

ECONOMIA . MERCADOS . ESTATÍSTICAS ECONOMY . MARKET INFORMATION . STATISTICS

90 GESTÃO DE PESSOAS / PEOPLE MANAGEMENT

94 REFLEXÕES FICHA TÉCNICA

PROPRIEDADE CEFAMOL - Associação Nacional da Indústria de Moldes • CONTRIBUINTE 500330212 • SEDE DO EDITOR, REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Av. D.Dinis, 17 / 2430-263 MARINHA GRANDE - PORTUGAL / T: 244 575 150 / F: 244 575 159 / E: revista_omolde@cefamol.pt / www.cefamol.pt • FUNDADOR Fernando Pedro • DIRETOR Manuel Oliveira • CONSELHO EDITORIAL António Rato, Eduardo Pedro, Luís Abreu e Sousa, Manuel Oliveira, Maria Arminda • TEXTOS Alzira Marques, Ana Carreira, Ana Maria Rosas, Ana Timóteo, Andreia Jotta, Artur Ferraz, Cecilia Vicente, Diogo Maurício, Fernanda Marques, Helena Silva, Joana Gouveia, João Faustino, João Sobral, José Ferro Camacho, Liliana Ramos, Luís Oliveira, Nuno Fidelis, Pedro Brandão, Sílvia Esteves, Vítor Ferreira • PUBLICIDADE Rui Joaquim • PRODUÇÃO GRÁFICA Colorestúdio – Artes Gráficas, Lda / Zona Industrial Casal da Azeiteira, Pav. 3 - Quintas do Sirol - 2420-345 St.ª Eufémia - Leiria / T: 244 813 685 / E: colorestudio.lda@gmail.com • PERIODICIDADE Trimestral • TIRAGEM 500 exemplares • DEPÓSITO LEGAL 22499/88 • REGISTO ERC 113 153 • Nº ISSN 1647-6557 • Estatuto Editorial encontra-se disponível em www.cefamol.pt

ANUNCIANTES Talentum 2; 95 / SB Molde 7 / Maq Center 9 / Eurocumsa 13 / Fluxoterm 17 / S3D 19; 77 / Arburg 21 / GrandeSoft 27 / FerrolMarinha 29 / Simulflow 31 / Isicom 33; 59 / Cadsolid 35; 47 / Cheto 39 / Sqédio 41 / Sigmasoft 43 / Tecnirolo 51 / Fuchs 53 / Millutensil 55 / Newserve 57 / Inovatools 61 / DNC Técnica 63 / TCA 67 / AHP Merkle 69 / Schunk 71 / TTO 73 / Knarr 75 / Hasco 79 / RTC 81 / Maquinser 83 / Moldmak 85 / Open Mind 93 / Centimfe capa interior / Siemens contracapa interior / Tebis contracapa



REVISTA MOLDE CEFAMOL

CEFAMOL NEWS /

EDITORIAL Manuel Oliveira Secretário-geral da CEFAMOL

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MARKETING & PROMOÇÃO A aposta na promoção da imagem internacional da Indústria de Moldes

Acreditamos que nada substitui o contacto pessoal, a comunicação e

é fundamental para o posicionamento de destaque que Portugal tem

interação “olhos nos olhos”, principalmente num negócio onde o que

vindo a assumir nesta área. A visibilidade e reconhecimento que o

vendemos é, essencialmente, confiança. Assim o foi desde os primórdios

nosso sector obteve ao longo das últimas décadas, está intimamente

do sector e, certamente, assim o será no futuro, mais concretamente,

ligado ao esforço que as entidades representativas da indústria

logo que toda a situação pandémica estiver controlada e a “normalidade”

e as empresas colocaram no marketing e na promoção das suas

estabelecida. Mas, toda a estratégia a desenvolver pelas empresas para

capacidades e competências.

chegar a este momento presencial deverá ser trabalhada previamente, utilizando diferentes meios para nos diferenciarmos de todos os

No final de um ano que pôs à prova a resiliência empresarial e que

outros num ambiente altamente concorrencial. É neste contexto, que

nos apresentou toda uma nova série de desafios, torna-se agora

o digital e o presencial se complementam e deve ser essa a orientação

essencial, identificar, rapidamente, oportunidades que gerem novos

comunicacional a seguir pelo sector.

negócios, seja junto dos clientes e mercados tradicionais, seja em áreas até agora não exploradas ou com um impacto mínimo no volume de

Coloquemo-nos agora na posição de cliente de qualquer produto: não

vendas das empresas, mas que podem ajudar a desenvolver novas

é uma notícia numa publicação online ou num post que nos chama

aptidões – a recente intervenção de muitas empresas de moldes na

atenção para um determinado tema e nos aguça a curiosidade, para

conceção e produção, quer de equipamentos de proteção individual,

consultar websites dedicados ou seguir links que nos permitem

quer de dispositivos médicos para combate à pandemia é disso um

obter informação adicional? Numa segunda fase, e percebendo que

excelente exemplo.

determinada solução nos interessa, não vamos contactar com o fornecedor dessa solução ou dirigir-nos a um local especializado para

É, pois, crucial voltar ao mercado, às ações promocionais, ao contacto

conhecer desenvolvimentos adicionais? Então, numa perspetiva de

com clientes e àqueles que apresentam potencialidade para o ser.

comportamento de consumidor, em que é que se difere o comprador

Temos consciência que este regresso, na vertente presencial, será

de um computador (apenas para dar um exemplo) ou de um molde?

progressivo e, eventualmente, lento, quer pela imprevisibilidade da evolução da pandemia - embora com uma expectativa positiva em

Cada vez mais, o caminho para chegar ao cliente é semelhante para

função do processo de vacinação que agora se inicia - quer também

diferentes áreas de negócio e o marketing digital veio potenciar e

pelos índices de confiança que o mercado terá que apresentar para

estreitar este percurso. Há, então, que trabalhar na conjugação das

tudo “voltar ao normal”.

duas vertentes (presencial e digital), no âmbito da estratégia de marketing e promoção, sendo este um novo desafio para a indústria

Nesta nova realidade, devemos ter em atenção o surgir de todo um

de moldes do qual temos já consciência haver várias empresas a

conjunto de ferramentas de marketing que foram potenciadas ao

trilhar este caminho.

longo dos últimos meses – feiras e missões virtuais, webinares, conferências online, presença nas redes sociais, entre outros. Sabemos que muitos destes instrumentos já existiam, mas este período permitiu dar visibilidade, expandir e incrementar a sua utilização, criando uma panóplia de soluções e oportunidades promocionais que não podemos, nem devemos descurar. Não raras vezes ouvimos dizer “essas ferramentas são muito interessantes,

mas

não

se

aplicam

a

negócios

industriais,

nomeadamente no business to business (B2B)”, mas, será mesmo assim?


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CONTROLO E GESTÃO DE DADOS SÃO GARANTE DE UMA ESTRATÉGIA EMPRESARIAL EFICAZ ‘ Sistemas de Controlo e Gestão de Dados’ foi o tema do primeiro de um conjunto de três webinares integrados no fórum Tech-i9, organizado pela CEFAMOL. A sessão decorreu no dia 24 de novembro, reunindo uma plateia virtual composta por sete dezenas de profissionais do sector.

antigos que levantam alguns constrangimentos na forma como poderão ser adaptados para trabalhar nesta nova realidade. Como exemplo de uma solução promissora que permite isso mesmo, o professor apontou o OPC UA, um protocolo de comunicação entre sistemas industriais.

Os oradores, Cláudia Novo (Erofio), Carlos Neves (Politécnico de Leiria), Miguel Lima (Moldoplástico), Valdemar Duarte (DRT) e Nuno Archer (Winsig) foram unânimes em concluir que uma recolha e tratamento eficazes dos dados são fundamentais para a tomada de decisão e garante de uma estratégia empresarial mais robusta.

Destacou ainda os desafios que, nesta matéria, se colocam às empresas: a segurança, a privacidade, a heterogeneidade tecnológica, a qualificação dos recursos humanos ou a necessidade de investimento.

“Isto é o fundamental: os dados servem-nos para tomar decisões”, considerou o primeiro orador, Carlos Neves, que fez o enquadramento do tema. Sublinhou que, por esse motivo, “a gestão de dados é fundamental para qualquer empresa”. Lembrando que os dados são, afinal, informação que, depois de recolhida, precisa de ser tratada para que se consiga, com ela, gerar conhecimento e com este tomar decisões, o professor defendeu que os dados servem, de uma forma mais prática, para controlar e dirigir uma organização para que alcance os objetivos pretendidos. A relevância dos dados varia de organização para organização, salientou, uma vez que a sua importância é definida pela “estratégia, pela cultura ou pelos objetivos das pessoas”. O ideal, no seu entender, é que a recolha ocorra de forma automática, de maneira a evitar o erro e tornar o processo mais célere. As organizações, sustenta, têm de definir uma estratégia prévia de recolha e tratamento, assente na resposta a duas questões essenciais: que dados recolher e com que objetivo. A partir do momento em que esteja definido o que recolher e analisar, pode, também, definir-se uma outra questão: que dados são desnecessários. “Numa abordagem coerente, que não dependa das pessoas, os dados estão sistematizados e isso torna a empresa mais robusta”, considerou. E é aí que se inclui o conceito da Indústria 4.0. Carlos Neves afirmou que, no novo paradigma industrial, os sistemas têm de comunicar uns com os outros, sendo fulcrais questões como a interoperabilidade ou a operação em tempo real. No entanto, devido ao ritmo próprio de cada organização, há empresas com equipamentos

MUDAR HÁBITOS E MENTALIDADES Lançadas as principais questões, seguiu-se o momento de debate entre as empresas representadas, moderado por Cláudia Novo, da Erofio. Os produtores de moldes deram conta de duas realidades em relação à questão da recolha e tratamento de dados: há empresas que optam por criar a sua própria solução e há, também, as que procuram no mercado soluções mais abrangentes desde que possíveis de enquadrar à sua realidade. Valdemar Duarte, da DRT, explicou que a dificuldade de implementar um sistema de recolha e tratamento de dados se prende, sobretudo, com a quantidade de informação recolhida quando, na prática, apenas 20% dela é útil à empresa. Sublinhou que a sua empresa, que desenvolveu o seu próprio programa (e o disponibiliza ao mercado), está, neste momento, a trabalhar em algoritmos que permitam melhorar a triagem dos dados.


Já Miguel Lima, da Moldoplástico, contou que o sistema que a empresa utiliza foi adquirido no mercado, está implementado há cerca de dez anos e tem como objetivo uma gestão integrada que permita o controlo de custos e a definição de meios para lá chegar. “Poder antecipar o que podemos melhorar é a nossa meta”, clarificou. Nuno Archer, da Winsig, considerou que neste necessário processo de mudança, o mais difícil é conseguir modificar as mentalidades das pessoas e alterar hábitos enraizados. Defendeu que para conseguir introduzir com êxito um processo deste tipo, é preciso que “exista vontade da gestão de topo para mudar”. Considerou ainda que, numa grande parte das empresas, o que falta, hoje, para melhorar é avançar para a automatização deste processo. Este é um passo fundamental, no seu entender, para evitar a recolha manual de dados e as desvantagens que isso implica.

MELHORAR E OTIMIZAR Miguel Lima adiantou que é fundamental “definir objetivos claros”, de forma a evitar a recolha de dados em demasia e o tempo consumido em filtragem.

Valdemar Duarte, por seu turno, defendeu a necessidade de se avançar para soluções que conectem as pessoas com as ‘coisas’ e com os processos. Enquanto o software da sua empresa está a ser trabalhado neste sentido, o empresário lembrou que é, na essência, o conceito da Indústria 4.0 e que este, apesar de recente, “tem de ser interiorizado pelas empresas sem hesitações”. “É preciso aprimorar processos, melhorar e otimizar o que está mal”, sublinhou. Cláudia Novo falou da necessidade que as empresas têm de pessoal qualificado, defendendo que, nesta matéria, deveria existir uma ligação ainda mais estreita entre as escolas e a indústria, e que esta deve começar o mais precocemente possível. A afirmação foi aproveitada por Carlos Neves, que elencou um conjunto de ações que os alunos desenvolvem em conjunto com as empresas, frisando que o objetivo do Politécnico de Leiria é formar profissionais preparados para a realidade industrial. Na parte final da sessão, os oradores foram confrontados com muitas questões colocadas pelo público online. Concluíram, de forma unânime, que o custo com este tipo de soluções é, afinal, um investimento que permite às empresas melhorar a sua estratégia e eficácia.

CÉLULAS DE PRODUÇÃO FLEXÍVEL SÃO FUNDAMENTAIS PARA O CRESCIMENTO DAS EMPRESAS As células de produção flexível são um investimento essencial para assegurar o crescimento e rentabilidade das empresas. Esta foi a principal conclusão do webinar ‘Integração de equipamentos em células de produção flexível” que, organizado pela CEFAMOL e inserido no Fórum Tech-i9, teve lugar no dia 25 de novembro. Os oradores da sessão foram ainda unânimes em alertar que, para que a introdução das células seja eficaz, é essencial ter recursos humanos preparados, a solução a adotar deve ser selecionada com o apoio de parceiros especializados e é fundamental assegurar que o volume de trabalho justifica o investimento. Foi um debate muito dinâmico, com uma interessante troca de opiniões em jeito de conversa, o que reuniu Eugénio Santos (Geocam) e João Faustino (TJ Moldes) – moderadores – João Teodósio (Moldes Catarino), Paulo Henriques (Ribermold) e Paulo Ferreira (Isicom). Antes do debate, a introdução ao tema foi assegurada por Norberto Pires, professor da Universidade de Coimbra. A sessão contou ainda com uma plateia virtual composta por mais de oito dezenas de profissionais do sector. Desde logo, os oradores refletiram sobre a vantagem que tem a indústria de moldes em adotar as células de produção flexível. Paulo Ferreira, da Isicom, representando no debate o fornecedor das soluções, defendeu que a instalação tem grandes vantagens, quer de produtividade ou redução de tempos de fabrico, considerando mesmo que “chegaremos a um ponto em que se assumirá vital a sua adoção como garantia de viabilidade das empresas”. Eugénio Santos, da Geocam, manifestou ter dúvidas em relação à integração dos equipamentos e a adoção de processos standardizados numa indústria que fabrica, afinal, um produto que é único e não se repete: o molde. “Parece-me que para chegar a um momento em

que estes dois conceitos funcionem em pleno temos pela frente um caminho longo e difícil”, sustentou. Paulo Henriques, da Ribermold, considerou que é “preciso pensar e implementar as soluções com calma”, aconselhando as empresas a rodearem-se de parceiros especializados que possam apoiar na tomada da melhor decisão. Sublinhou a dificuldade que existe, em muitos casos, para conseguir integrar nas células os equipamentos, lembrando que “estamos, muitas vezes, a falar de equipamentos muito distintos”. Por isso, a sua principal chamada de atenção foi para a necessidade de preparar os recursos humanos para que sejam uma mais valia, quer na vertente mecânica, quer na informática. João Teodósio, da Moldes Catarino, concordou com a necessidade de apostar na formação das pessoas, sublinhando que, apesar da automatização do processo, as pessoas serão sempre imprescindíveis. As suas competências é que têm de ser ajustadas à nova realidade, uma vez que as máquinas farão o trabalho repetitivo, frisou. “Mas é preciso pessoas que façam trabalhos mais qualificados, uma vez que é preciso

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fazer com as células sejam cada vez mais produtivas para delas se tirar rendimento”, defendeu. Lembrou ainda que é necessária uma criteriosa escolha de parceiros para a instalação das células. No seu entender, “já foi percorrido um caminho e há hoje soluções e parcerias, sobretudo no que diz respeito à robotização, que importa ter em conta”. No caso da standardização, considerou ser esse “o caminho perfeito” para a indústria, no sentido em que confere homogeneização ao trabalho e evita os erros.

MUDAR MENTALIDADES Paulo Ferreira salientou, ainda, as barreiras que muitas empresas ainda colocam à adoção destas tecnologias, sobretudo por desconhecimento, mas também por receio da mudança. Uma outra dificuldade que diz encontrar reside nas características dos equipamentos que, por vezes, não permitem qualquer tipo de acesso, sendo, por isso, muita complexa a sua integração em células. João Faustino, da TJ Moldes, considerou que a introdução das células na produção tem vantagens, mas também o seu oposto. Sublinhou que, em função de como for implementado o processo, a empresa pode ganhar ou perder competitividade. Tem, no seu entender, de ser um processo calculado e bem concretizado. Salientou que, quando se introduz uma alteração no processo de fabrico, é necessária “uma adaptação e esta tem de ser contínua”. Paulo Henriques levantou o tema da Inteligência Artificial (IA), ao considerar que esta pode vir a ‘roubar’ algumas tarefas de preparação dos trabalhos. Contudo, no seu entender, e reportando-se à indústria de moldes, “nunca a IA substituirá o Homem na conceção do projeto do molde”.

Face a todas estas mudanças que estão a alterar a indústria, Eugénio Santos defendeu que as pessoas “têm de sair da sua área de conforto e aprender, constantemente, coisas novas, porque tudo está a mudar muito rapidamente”. Paulo Ferreira chamou ainda a atenção para a necessidade das empresas se equiparem com bons softwares, que permitam ‘guardar’ o conhecimento. Este, alertou, “não pode estar centralizado na cabeça de uma pessoa que, um dia, se vai embora e deixa a empresa sem esse conhecimento”, adiantou. Reportando-se ao futuro, considerou que a solução ideal para qualquer empresa é que “toda a fábrica seja uma célula de fabrico flexível”, na qual os humanos interajam com as máquinas e que sejam ambos coordenados pelo mesmo sistema. Esta sua visão acabou por ir ao encontro do que, momentos antes, o professor da Universidade de Coimbra, Norberto Pires, tinha exposto na sua intervenção: a necessidade de integrar processos, de forma a que as empresas se tornem mais competitivas. Apresentou como exemplo um projeto, no qual participa e através do qual foi desenvolvida uma célula de produção, com a integração de uma multiplicidade de processos. Sublinhou que para instalar um sistema deste tipo, ou de outro, é necessário fazer-se rodear de vários parceiros, especializados em áreas diversas. Na sua intervenção de contextualização ao tema, Norberto Pires, levou os assistentes a fazer uma viagem histórica pelas características de cada revolução industrial, até chegar à Indústria 4.0. O grande desafio que, no seu entender, se coloca atualmente às empresas é conseguirem integrar equipamentos e pessoas. Um dos exemplos que apresentou foi o fabrico aditivo. O especialista considerou mesmo que, a este nível, “Portugal tem condições de ser líder”.

FUTURO PASSA POR INTERLIGAR A PESSOA À MÁQUINA E CRIAR FÁBRICAS INTELIGENTES ‘I4.0 e a indústria de moldes’ foi o tema do último de um conjunto de três webinares que, organizado pela CEFAMOL, e integrado no Fórum Tech-i9, decorreu no dia 26 novembro, com uma assistência ‘virtual’ composta por cerca de 90 profissionais do sector. Foi de olhos postos no futuro que decorreu esta sessão. Não no futuro longínquo, mas naquele que está já à porta de cada empresa. Falar de Indústria 4.0 é “falar da era da indústria conectada: a ligação entre pessoas, máquinas e organizações”. O mote foi lançado, desta forma, por Tiago Sacchetti, da Bosch Portugal, a quem coube fazer o enquadramento do tema. No seu entender - e lembrando que a indústria de moldes é das mais competitivas e procura estar, desde há muito, na vanguarda da tecnologia - há três atitudes que podem determinar o sucesso de uma empresa no que à I4.0 diz respeito: as que avançam ponto a ponto, em função das exigências do mercado; as que vão somando tecnologias às que detêm; e aquelas que olham e adotam tecnologias com o intuito de transformar e incrementar a atividade. E são as últimas, sublinhou, que se encontram melhor posicionadas para agarrar o futuro. Mas para aqui chegar, salientou, é preciso estratégia. É necessário que a organização defina o que quer e onde quer chegar. E a meta,

considerou, é ter, num reduzido espaço de tempo, um cenário onde “o mundo físico da produção e o mundo do IT caminhem juntos, no sentido da concretização da fábrica inteligente”. E se este desígnio é válido para qualquer sector, é-o sobretudo, na sua opinião, para os moldes. Quando comparada com outras, a indústria de moldes almeja também incrementar qualidade, reduzir custos e ganhar competitividade. “O I4.0 vai ajudar-nos a lá chegar”, defendeu, salientando ainda a importância das pessoas neste processo. São, no


CEFAMOL NEWS / seu entendimento, “um fator-chave” para tornar possível este caminho. Sublinhou ainda ser necessário garantir que a organização é robusta o suficiente para suportar a integração da tecnologia.

COMUNICAÇÃO Seguiu-se o debate, tendo como intervenientes o moderador, Pedro Pereira (SET), Jorge Cardoso (SF Moldes) e José Carlos Gomes (GLN). Enquanto o responsável da GLN, José Carlos Gomes, apresentou a sua visão da I4.0 como uma indústria totalmente conectada, mecanizada e automática, na qual CAM e CAD se interligam e o projeto pode ser feito sem intervenção humana, Jorge Cardoso olha para uma indústria onde a comunicação deve centrar-se nos sistemas. “Quando esta comunicação começa a acontecer, é dada resposta aos dados que recolhemos e o que fazemos com eles”, defendeu, adiantando que a I4.0 assume-se, dessa forma, como “uma combinação de várias filosofias, como a conectividade, automação e robotização”. E no seu entender, desta forma o fabrico ganha, desde logo produtividade e mitigação do erro. Salientou que, nas empresas de moldes, “já muito foi feito”, defendendo a necessidade de um sistema que una todos os processos e equipamentos e que se seja escalável. José Carlos Gomes defendeu, por seu turno, a necessidade de criar um caminho nas fábricas que “tem de centrar-se no produto e pensar como o produzir inteligente”. Uma outra questão que se coloca com a mudança é a segurança. O responsável da GLN considerou-a como “um desafio”, destacando a necessidade de trabalhar em colaboração estreita com os parceiros tecnológicos para acautelar essa questão. É que, sublinhou, “o valor das empresas está cada vez mais naquilo que circula entre os computadores”.

A INFORMAÇÃO Para Jorge Cardoso, a dependência do IT “é cada vez maior”, defendendo que “é preciso estarmos atentos e atualizados sobre todas as soluções para tornar o nosso negócio o mais seguro possível”. José Carlos Gomes acrescentou como “essencial” nesta questão a formação dos utilizadores, enquanto Tiago Sacchetti alertou as empresas para o risco de a segurança ser extensível às máquinas. A conectividade faz com que “também as máquinas sejam vulneráveis a ataques” que, num caso extremo, poderão paralisar uma empresa ou mesmo colocar em risco os operadores dos equipamentos. Pedro Pereira realçou que algumas empresas do sector viram já a sua atividade paralisada devido a ataques, ao que o responsável da Bosch acrescentou que o risco da conectividade é grande, uma vez que “quando o sistema falhar, paramos tudo”. No entanto, salientou que “aquilo que vamos ganhar compensa largamente o risco”, mas que é preciso “minimizá-lo através da segurança”. Jorge Cardoso defendeu, ainda, a necessidade que diz sentir de os criadores dos sistemas terem um conhecimento mais profundo da indústria de moldes, de forma a que o sector deixe de trabalhar com soluções para as quais tem de estar constantemente a procurar adaptações. José Carlos Gomes concluiu sublinhando que a informação, por si só, não tem utilidade. É preciso que as empresas consigam “fazer algo com ela”. E quando isso acontece, a informação transforma-se “no mais importante”. O ciclo de webinares inserido no Fórum Tech-i9 decorreu entre os dias 24 e 26 de novembro. As três sessões realizadas contaram com grande afluência de profissionais do sector que, acompanhando online os debates, tornaram dinâmicas as ações, ao colocar questões e partilhar opiniões com os oradores.


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PROTOCOLO + INDÚSTRIA: VIII ENCONTRO APRESENTA NOVAS REGRAS DE ATRIBUIÇÃO DE BOLSAS 08 É um projeto que se tem afirmado pelo crescimento, ano após ano. Resultante de um protocolo firmado entre a CEFAMOL, a NERLEI e o Politécnico de Leiria, o ‘+Indústria’ chega à sua oitava edição, criando uma nova modalidade na atribuição de bolsas de estudo (patrocinadas por empresas): em lugar de serem selecionados jovens acabados de sair do ensino secundário, como vinha acontecendo, os alunos apoiados são agora os que registem um excelente desempenho académico no decorrer do primeiro semestre da licenciatura e desenvolvam experiências imersivas nas empresas. No decorrer do VIII Encontro do programa, que teve lugar no dia 16 de novembro, realizado online devido à pandemia de Covid-19, Ana Sargento, vice-presidente do Politécnico de Leiria, explicou que esta mudança na atribuição das bolsas pretende, por um lado, “suscitar maior procura e adesão por parte das empresas” e, por outro, garantir que os jovens apoiados sentem, de facto, interesse pela indústria. “A média do jovem no secundário nem sempre significava uma maior ligação às empresas” patrocinadoras das bolsas, revelou. Ana Sargento adiantou que o contexto de pandemia acabou por possibilitar uma reflexão mais profunda sobre o projeto entre os promotores do projeto, realizando até inquéritos aos alunos agraciados em anos anteriores. Concluiu-se pela mudança e esta possibilitará às empresas direcionar as bolsas para vários anos e cursos, com uma graduação de valores que deixa de estar indexada à propina: 500 euros para alunos do primeiro ano; 600 para os do segundo e 700 euros para os do terceiro ano. A seleção dos jovens terá em consideração critérios de desempenho académico, mas também de experiência nas empresas.

APOIO CRESCENTE A sessão teve como objetivo, também, fazer o balanço do último ano deste protocolo que, para além das bolsas (inseridas na área ‘responsabilidade social’), prevê ainda os aspetos de ‘formação em contexto empresarial’ e a ‘partilha e valorização do conhecimento’. Assim, no ano letivo 2019/2020, e ainda no que diz respeito às bolsas, foram apoiados 53 jovens por um total de 39 empresas, muitas delas dos sectores de moldes e plásticos. Um valor que, sublinhou, tem vindo sempre a crescer, ano após ano. Saliente-se que este projeto, resultante do protocolo entre estas três entidades, teve início em 2013/2014 tendo sido, então, atribuídas sete bolsas por igual número de empresas. Apesar de, a partir de agora, a seleção dos jovens não ser diretamente vinculada às escolas secundárias, estas continuarão a ser reconhecidas em função do mérito dos seus alunos neste programa, assegurou. Para além das bolsas, referiu a vice-presidente do IPL, foram realizadas no último ano letivo cerca de 60 visitas a empresas, mais de mil estágios curriculares e 143 projetos de parceria, entre outras ações. Para este ano letivo, está também prevista a continuidade do apoio a um programa de mestrados (‘+ Inovação’) e ainda ao nível do labelling, permitindo a remodelação de quartos das residências de estudantes,

permitindo que as empresas que patrocinem possam ter o seu logotipo aí afixado por um período de dez anos.

MAIS-VALIA NAS EMPRESAS João Faustino, presidente da CEFAMOL, sublinhou o “importante papel’ que tem tido este projeto na “aproximação das empresas à academia”, salientando ser “bastante positivo o balanço deste protocolo”. Lembrou que as empresas têm, atualmente, grandes desafios pela frente. Exemplificou com a ‘Indústria 4.0’, salientando que esta implica “fazer mais, melhor e em menos tempo”. E é precisamente neste aspeto, considerou, que os jovens têm e terão um papel fundamental. São, no seu entender, “uma enorme mais valia para a competitividade das empresas”. Já Rui Pedrosa, presidente do Politécnico de Leiria, considerou que o balanço deste protocolo, pela forma como tem vindo sempre a crescer, é um inequívoco “sinal da vitalidade desta região”. Considerou mesmo que a ligação entre estas três entidades é “uma ‘troika’ virtuosa que coloca em relação de proximidade o IPL e as empresas da região”. Lembrou ainda que o protocolo permite garantir uma formação de quadros de acordo com as necessidades do território e do mercado, possibilitando também o incrementar de projetos de investigação e desenvolvimento, o que se traduz num aumento de oportunidades e de inovação. Enalteceu também a postura das empresas que, apesar de estarem a passar por um contexto muito exigente devido à pandemia, mantém o seu compromisso de apostar nos jovens e, com isso, no futuro da atividade. “Este protocolo é um sinal do compromisso de todos”, sublinhou. Para António Poças, presidente da NERLEI, trata-se de um projeto que, ao longo destes sete anos, tem provado ser “muito meritório” para a região e a indústria. Mostrou-se igualmente satisfeito por, apesar das incertezas em relação ao futuro como consequência do contexto pandémico, estas três instituições terem conseguido manter este projeto. No seu entender, acaba por se tratar do contributo dos três signatários do protocolo no afirmar da região pela sua dinâmica empresarial. O +Indústria’ tem ainda a particularidade, concluiu, de demonstrar a dimensão mais solidária do tecido empresarial, proporcionando “um mar de oportunidades a todos os alunos”.



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AVALIAR A MATURIDADE TECNOLÓGICA DAS EMPRESAS PERMITE GANHAR COMPETITIVIDADE 10 A apresentação de um conjunto de soluções que permitem aumentar a competitividade das empresas foi o principal foco do webinar ‘Ferramentas de Gestão de Inovação e Indústria 4.0’, que decorreu no dia 12 de novembro, organizado pela parceria constituída pela CEFAMOL, a COTEC - Associação Empresarial para a Inovação e a NERLEI - Associação Empresarial da Região de Leiria. Lembrando a “exigência que caracteriza os dias de hoje”, Jorge Portugal, diretor-geral da COTEC, salientou a importância que tem, no mundo empresarial, a inovação tecnológica. E nesse aspeto, considerou de grande relevância o conjunto de soluções que a COTEC disponibiliza às empresas, sobretudo no que diz respeito ao processo de avaliação de maturidade tecnológica das organizações, passo que classifica como “fundamental” no caminho da inovação. “Sabemos que a inovação é um processo, uma competência empresarial que permite revitalizar as margens de negócio; permite crescer com rentabilidade”, destacou, frisando que uma empresa que não inove“ pode, até, ter algum tempo de mercado, mas inevitavelmente vai ficar sujeita à concorrência e isso acaba por se traduzir no declínio das margens”. Ou seja, no seu entender, “crescer é importante, mas o mais importante é fazê-lo com rentabilidade”. Isso só é possível com inovação, frisou. E esta é, defendeu, uma competência de gestão das organizações que se reflete num conjunto de passos que assentam no planeamento estratégico e que este permite definir o rumo e o caminho para alcançar um futuro de sucesso. Neste percurso, lembrou a importância que assume também a escolha dos parceiros. “É tudo isto que as nossas ferramentas permitem fazer de uma forma estruturada e sistemática”, assegurou.

INOVAÇÃO “Sabemos que algumas empresas já têm muito trabalho feito em termos de planeamento estratégico, mas aquilo que temos visto, no contacto com o tecido empresarial é que, normalmente, esse planeamento não abrange a inovação”, sublinhou. Por isso, foi em resposta a esta necessidade que a COTEC criou ferramentas de ‘avaliação da maturidade’ das empresas no que diz respeito à Indústria 4.0 e também de construção de caminhos de ‘transformação e de gestão da inovação’.

“Sabemos que algumas empresas já têm muito trabalho feito em termos de planeamento estratégico, mas aquilo que temos visto, no contacto com o tecido empresarial é que, normalmente, esse planeamento não abrange a inovação” Nesse sentido, foram apresentadas, com maior rigor, duas soluções que, entre si, se complementam: a “Theia” e o “Innovation Scoring”. Apresentados por Irina Filipe e Armindo Carvalho, da COTEC, os dois sistemas permitem a realização de um autodiagnóstico à maturidade dos processos das empresas. “Mais do que dar o ‘rating’ de cada organização, esta solução permite dar uma ambição de melhoria, e os processos a seguir para lá chegar”, enfatizou Jorge Portugal. “É esta projeção do futuro, de forma sistemática, que qualquer destas ferramentas possibilita. Com isto, a empresa pode, de forma estruturada, definir quais os seus investimentos seja em inovação, em capacidade dos seus colaboradores, dos processos que necessita de alterar ou mesmo a relação com os fornecedores e/ou os clientes”, salientou, acrescentando que “cada empresa terá a sua própria realidade, uma vez que estas ferramentas não foram desenvolvidas para um sector especifico; são transversais a várias atividades”. Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL, e Henrique Carvalho, diretor executivo da NERLEI, manifestaram-se convictos de que com esta sessão a meia centena de participantes no webinar ficaram mais elucidados em relação às potencialidades destas ferramentas, bem como o contributo que estas podem dar à melhoria do seu processo produtivo e organizacional.


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INTERLIGAÇÃO ENTRE CAD E CAM ASSEGURA GANHOS DE QUALIDADE E TEMPO 11 Foi através de uma simulação bastante semelhante ao frenesim normal da fase inicial de produção de um molde numa qualquer empresa do sector, que Nuno Pereira e Marco Almeida, da CadSolid, desenvolveram o webinar ‘Trabalhar num software de CAM integrado com o CAD: Ganhe tempo, reduza erros’. Não faltaram as muitas alterações ao molde, as correções e necessidade de modificações, numa ‘correria’ para conseguir cumprir o prazo. E no final, o objetivo foi alcançado. Organizado pela CEFAMOL, em conjunto com a empresa CadSolid, este webinar técnico teve lugar no dia 27 de outubro. A CadSolid, empresa criada em 2004, deu conta aos cerca de 50 profissionais do sector presentes ‘virtualmente’ na sessão, da solução ‘TopSolid’ que disponibiliza ao mercado e que permite “ganhar tempo e qualidade” na produção do molde, ao estabelecer uma comunicação permanente entre o CAD e o CAM. As vantagens, de acordo com os dois profissionais que realizaram esta apresentação, são evidentes: desde logo, a solução permite que vários utilizadores trabalhem em simultâneo, na mesma base de dados. Cada um deles pode realizar modificações e alterações e todas elas vão sendo atualizadas, de forma a que CAD e CAM estejam sempre em comunicação, o que permite ganhar tempo. Nuno Pereira salientou que “uma das diferenças na utilização deste software é que deixa de ser necessário exportar ou importar ficheiros, o que evita os tempos não produtivos que, nas contas finais, representam um ganho grande para as empresas”. Por outro lado, salientaram os dois, trata-se de um software versátil, que pode ser adaptado à realidade de qualquer empresa e que garante melhorias na produtividade, interligação, diminuição do erro, segurança, gestão de dados e backup da informação.

“Uma das diferenças na utilização deste software é que deixa de ser necessário exportar ou importar ficheiros, o que evita os tempos não produtivos que, nas contas finais, representam um ganho grande para as empresas” GESTÃO INTEGRADA E foi precisamente isso que demonstraram, ao longo da apresentação, simulando a criação de um projeto e as sucessivas alterações necessárias. Uma das principais questões a que procuraram dar resposta foi a razão para escolher esta solução. Explicaram que a empresa dá prioridade à satisfação das necessidades dos clientes, promovendo um acompanhamento e formação intensivos para que o resultado se traduza num trabalho de excelência que, asseguram, o seu software proporciona. Destacaram a importância da gestão integrada da informação, garante de qualidade da produção de um artigo, desde uma fase embrionária até à passagem pelas várias etapas de produção: engenharias, design, simulação, CAM, moldes e elétrodos. Num fabrico mais convencional, sublinharam, qualquer problema detetado no CAM teria de ser reportado ao CAD, sendo necessário andar com o processo para trás. No entender de Nuno Pereira e Marco Almeida, este recuo não faz sentido, aportando até algum ‘caos’ ao processo produtivo. Por isso, consideraram ter a solução ideal para evitar esse retrocesso. A CADSolid, presente em Leiria e em Vila Nova de Famalicão, é composta por uma equipa de 25 pessoas, 16 das quais são técnicos. Está neste momento a preparar a transição para novas instalações. A indústria de moldes é uma das indústrias-alvo, mas a CadSolid disponibiliza também as suas soluções aos sectores da mecânica de precisão e aeroespacial, bem como outras áreas como as construções metálicas. Para além destas áreas, esta empresa dedica-se também à formação, sendo certificada pela DGERT. Prepara para breve o lançamento de uma plataforma de formação online.


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WEBINAR DÁ A CONHECER BENEFÍCIOS DO FABRICO ADITIVO NA INDÚSTRIA DE MOLDES

12 ‘From conventional to digital factory in the mould industry: Industrial 3D printing with advanced materials’, foi o tema de um webinar, no dia 8 de outubro, que, organizado pela empresa alemã EOS, foi promovido em conjunto com a CEFAMOL, dando a conhecer ao sector os benefícios do fabrico aditivo na produção dos moldes. A sessão decorreu a várias vozes, com alguns dos responsáveis desta fornecedora de soluções de fabrico aditivo a desenvolverem o tema do fabrico convencional ao digital na indústria, bem como a revelarem resultados e casos práticos de aplicações das mais recentes tecnologias de impressão 3D com diferentes tipos de materiais. Aplicando essa tecnologia à indústria de moldes, Davide Iacovelli, Detlef Scholz, Thomas Weitlaner e Victor Paluzie – todos da EOS -, enumeraram, nas suas intervenções, as principais vantagens do fabrico aditivo, seja nos metais ou nos polímeros, revelando ter instalados atualmente mais de 3.500 sistemas em 68 países. No caso do metal (sinterização a laser) para a indústria de moldes, a tecnologia tem vindo a ser aplicada sobretudo para a execução de sistemas de refrigeração e, segundo os responsáveis da empresa alemã, garantindo resultados muito positivos. Hoje em dia, o grande ‘problema’ do molde, frisaram, são os sistemas de controlo de temperatura, que influenciam os tempos dos ciclos de produção (na injeção). E nesse aspeto, defenderam, o fabrico aditivo é a melhor solução. Coube a Detlef Scholz falar sobre os desafios que, nesta temática, se colocam à indústria de moldes. No seu entender, a solução digital tem de valorizar várias questões essenciais como o material (o pó que pode ir do aço mais duro até outros metais como o alumínio), a qualidade das máquinas e softwares, o desenvolvimento do processo, mas também a monitorização constante para assegurar a qualidade e o apoio pósvenda para garantir a rentabilidade. E tudo isso, explicou, é garantido pela EOS. “A perfeita ligação do material ao equipamento e ao processo é fundamental para alcançar a qualidade”, referiu, sublinhando que a empresa testa e assegura essa qualidade, seja dos equipamentos, seja dos materiais utilizados. Como exemplo, regressou aos sistemas de

“Hoje em dia, o grande ‘problema’ do molde, frisaram, são os sistemas de controlo de temperatura, que influenciam os tempos dos ciclos de produção (na injeção). E nesse aspeto, defenderam, o fabrico aditivo é a melhor solução.”

refrigeração dos moldes, explicando que quando estes são produzidos por tecnologia aditiva conseguem atingir ganhos de eficiência na ordem dos 60%. Para além disso, salientou a qualidade destas peças e a sua durabilidade, aspetos em que, no seu entender, são também superiores às soluções convencionais.

TECNOLOGIA DE FUTURO Davide Iacovelli destacou a relevância que tem já a impressão 3D. Deu como exemplo a importância que teve esta tecnologia na construção de viseiras e equipamentos para proteção, pouco depois da pandemia de Covid-19 ter chegado à Europa. A pandemia, considerou mesmo, alterou toda uma lógica de modelo de negócio, considerando que este é hoje muito mais local do que global. Ou, como referiu, a Covid-19 trouxe uma passagem da “globalização para a glocalização”. É preciso, por isso, construir “cadeias de produção e de abastecimento mais resilientes e sustentáveis”, salientou. Os responsáveis da empresa falaram também do futuro, considerando que estas tecnologias estarão, cada vez mais, presentes na indústria. A EOS, asseguraram, está em constante evolução e a criar novas soluções para corresponder às necessidades dos seus clientes. Como exemplo, fizeram a apresentação de novos sistemas que serão lançados no mercado, já a partir de 2021. Victor Paluzie, representante da empresa alemã na Península Ibérica, lembrou que, devido à velocidade com que, atualmente, tudo evolui, “as empresas são forçadas a inovar constantemente”, sublinhando que “cada vez mais, apostam no aditivo”. Apresentou como exemplos os sectores aeronáutico, da saúde, da energia ou da mobilidade, nos quais, sustentou, “os ganhos da utilização do aditivo são já muito grandes”. Falou ainda da forte ligação que, em Portugal e Espanha, a empresa tem mantido com universidades e centros de saber, de forma a disseminar o conhecimento das vantagens destas tecnologias. Davide Iacovelli e Detlef Scholz destacaram os “desafios enormes que as empresas têm”, entre os quais, o de preservação ambiental, frisando que esta é uma tecnologia que, por evitar o desperdício, dá resposta também a esse desígnio. “Queremos ajudar os nossos clientes a melhorar e tirar o máximo rendimento desta tecnologia”, explicou Davide, ao que Detlef acrescentou que “procuramos dar a conhecer, não apenas os equipamentos, mas sobretudo as vantagens e a forma como as empresas podem crescer com estas tecnologias que as preparam para o futuro”, concluiu Davide Iacovelli. Duas empresas de moldes da Marinha Grande, a BBE e a Unite (do grupo DRT) apresentaram o seu testemunho em relação à tecnologia aditiva, partilhando com a plateia ‘virtual’ – composta por mais de quatro dezenas de pessoas – as inúmeras aplicações que as soluções permitem. Ambas as empresas concordaram que, “apesar de ser considerada ainda uma tecnologia não muito barata, a fabricação aditiva representa benefícios que acabam por justificar o investimento”.


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SOFTWARE ESPECÍFICO PARA OS MOLDES GARANTE VERSATILIDADE NA PRODUÇÃO

14 ‘Automatização na Produção 2.5 eixos’ foi o tema do webinar técnico que, organizado pela CEFAMOL, decorreu no passado dia 28 de outubro, reunindo na assistência ‘virtual’ cerca de quatro dezenas de profissionais do sector. Marco Silva e Ivan Silva, da S3D, apresentaram algumas das soluções que a empresa disponibiliza para a indústria de moldes, centrando a sua intervenção no software ‘Cimatron’. É, segundo os dois oradores, “uma solução ‘tudo em um’, que assegura as melhores respostas, desde o desenho ao fabrico, desenvolvimento de peças e preparação para a impressão metálica”. Ivan Silva explicou que se trata de um software “integrado que assegura a resposta desde a modelação à produção”, sublinhando que entre 60 a 70% das características desta solução foram criadas tendo em conta as necessidades específicas dos moldes de injeção. Adiantou, depois, os passos fundamentais do processo produtivo, nos quais o software “pode, efetivamente, fazer a diferença”. De entre estes, salientou a integração entre CAD e CAM, o que possibilita “rapidez no reconhecimento de alterações de engenharia”, “evita o erro e traz segurança ao processo”. O orador defendeu também a importância das empresas apostarem em sistemas de posicionamento rápido, considerando que “há ainda algumas que não o fazem”. No seu entender, esta medida “é muito importante”, uma vez que assegura “maior rapidez nos setups”. Destacou como é importante a livraria de ferramentas. No caso do software que a S3D disponibiliza, “é fundamental que esta livraria esteja bem construída, de forma a possibilitar a maior rentabilidade da nossa solução e o aumento de produtividade”. É a livraria que, salientou, “permite a integração com as ferramentas de gestão”. Ainda sobre o software, realçou duas características que, no seu entender, o tornam bastante vantajoso: a deteção e maquinação geométrica inteligente e a medição na máquina. Permitindo detetar automaticamente a geometria, seja pela cor, seja pela forma, a capacidade de reconhecimento permite atribuir técnicas de

“A integração entre CAD e CAM, o que possibilita “rapidez no reconhecimento de alterações de engenharia”, “evita o erro e traz segurança ao processo.”

maquinação mediante as propriedades. Já o sistema de medição tem, entre outras características, a possibilidade de compensação das ferramentas 2D e 3D em todos os tipos do programa e executa relatórios do que foi medido. Em síntese, destacou que um software como o Cimatron, orientado especificamente para a indústria de moldes para injeção permite, em comparação com outros idênticos, uma “maior versatilidade”, bem como “uma grande liberdade de ação a quem trabalha com ele”. Salientou que pelas suas características, pode adaptar-se de forma vantajosa à realidade de cada empresa.

AS MELHORES SOLUÇÕES Coube a Marco Silva fazer a demonstração prática do funcionamento do software, simulando a criação e alterações numa peça, desde o CAD ao CAM. Ao longo da sua exposição, foi destacando que o software tem vantagens, como a facilidade de gerar ou importar peças, a rapidez na execução e na atualização e o reconhecimento inteligente, que possibilita enormes ganhos de tempo. Já no momento do webinar dedicado a perguntas e respostas, João Ferreira, responsável da empresa que dinamizou a sessão, usou da palavra para reforçar que cabe a cada empresa escolher o investimento em função das soluções que são oferecidas e dos benefícios que trarão à produção. Salientou, no entanto, que os produtores de moldes “devem estar abertos a novas opções”. Isto, no seu entender, “é naturalmente um risco que temos de correr, de forma a assegurar que as nossas empresas estão a competir da melhor forma”. Fundada em 1993, a S3D tem sede na Marinha Grande. É uma empresa que se dedica à comercialização, consultoria, desenvolvimento de software, serviços de engenharia e formação. Disponibiliza ao mercado soluções específicas para os mais variados processos dentro da produção do molde, como caracterização de materiais, análises dinâmicas 3D, análises de deformação, fotometria e engenharia inversa, entre outras.


TECNOLOGIAS DE SIMULAÇÃO DÃO RAPIDEZ E QUALIDADE AO PROCESSO PRODUTIVO

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15 “As inovações têm pautado o nosso caminho: hoje não podemos falar delas sem pensar na digitalização” e o grande desafio que se coloca às empresas é “ligar o mundo virtual com o real: ou seja, as máquinas reais produzem enquanto as virtuais servem para fazer testes e garantir a qualidade do processo”. Foi este o mote, lançado por Nélson Bruni, da Siemens (Alemanha), que serviu de contextualização para mais um webinar, que decorreu dia 29 de outubro, organizado pela CEFAMOL. ‘Como a digitalização e os CNC Sinumerik podem colaborar para uma maior produtividade na indústria de moldes’ foi o tema da sessão, de carácter bastante internacional, uma vez que os seus três oradores – Beatriz Salvador, Nélson Bruni e Marino Gustavo – estavam localizados, respetivamente, em Portugal, Alemanha e Brasil. Também na assistência, composta por cerca de seis dezenas de pessoas, houve profissionais de fora de Portugal, sobretudo do Brasil. Usando a indústria automóvel como exemplo para concretizar o que defende em relação à digitalização, Nélson Bruni apontou a importância que assume hoje a conectividade, ilustrando com os casos dos carros autónomos ou do ‘car sharing’. “A inovação associada à digitalização é visível em todos os sectores”, sustentou. E num mundo onde as barreiras de esbatem cada vez mais, lembrou a importância da internacionalização. Citou como exemplo a pandemia de Covid-19 e todos os desafios inerentes, mas também o caso da indústria de moldes portuguesa e a força da sua marca coletiva ‘Engineering & Tooling From Portugal’, considerando que a internacionalização é um dos aspetos que influencia a mudança na indústria. Outros exemplos que contribuem para esta mudança, sublinhou, são as tecnologias emergentes, como o fabrico aditivo, o 3D ou a robótica. Considerou que a resposta a todos estes desafios passa pela “integração”. Do quê? No seu entender, do “mundo virtual com o real”. Enquanto a máquina real produz, a virtual destina-se a fazer simulações e testes, de forma a garantir a qualidade da produção e evitar perdas de tempo. E, salientou, é precisamente neste aspeto que se insere o software que a Siemens disponibiliza ao mercado e que foi apresentado durante esta sessão: o Sinumerik One. Com uma nova versão prevista para novembro deste ano, este software, considerou Nélson Bruni, permite, entre outros aspetos, identificar o erro, diminuir o tempo de instalação da máquina, garantir conexão e transparência. E tudo isto, frisou, “de uma forma simples e rápida”.

“O grande desafio que se coloca às empresas é ligar o mundo virtual com o real: ou seja, as máquinas reais produzem enquanto as virtuais servem para fazer testes e garantir a qualidade do processo” QUALIDADE E TEMPO Coube a Marino Gustavo fazer, a partir do Brasil, a descrição do software, ao mesmo tempo que apresentou as várias características da ‘família’ Sinumerik (que assinala este ano seis décadas no mercado), com especial incidência para as que se destinam à indústria de moldes, mas lembrando que têm utilização em vários outros sectores. Já na demonstração, exemplificou a facilidade de manuseamento e as vantagens da simulação 3D. Marino Gustavo deu conta ainda de que o software assegura ganhos de qualidade e velocidade, mas também no acabamento. “A Siemens pensa na produtividade e funcionalidade do CNC para que não se perca tempo”, salientou, explicando, passo a passo, a forma prática e facilidade, bem como as potencialidades do Sinumerik One. Esta solução, no seu entender, “torna as máquinas-ferramenta mais produtivas: mais rápidas, flexíveis e eficientes”. Revelou ainda que a empresa tem, online, vários módulos de treino que podem ser utilizados de forma gratuita. Presente em Portugal há mais de 115 anos, a Siemens tem marcado o desenvolvimento de infraestruturas nas áreas da energia, indústria, mobilidade e tecnologias para edifícios. Emprega, no seu universo, mais de 2.615 profissionais.


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TENDÊNCIAS DE MERCADO NA EUROPA FORAM TEMA DE WEBINAR DA ISTMA 16 Até final do ano 2020, as exportações, dentro e fora do mercado europeu, deverão sofrer um decréscimo de 15 a 20%. Esta foi uma das principais conclusões do webinar ‘Europa: Estatísticas e Tendências’ que, organizado pela International Special Tooling and Machining Association (ISTMA), decorreu no dia 1 de outubro. Este é um cenário que tem vindo a ser apontado por muitos sectores industriais, mas que José Camacho, da BIID, orador convidado da sessão, confirmou com os números que apresentou. Contudo, fez uma ressalva ao longo da sua intervenção: a incerteza é a única coisa que a economia tem como garantida, num momento único da História como a pandemia de Covid-19. O webinar contou com a participação de representantes de empresas e associações de diferentes países que, em conjunto, revelaram sentir os mesmos desafios: um decréscimo de encomendas, sobretudo da indústria automóvel, e uma enorme pressão nos preços. Bob Williamson, presidente da ISTMA World, deixou uma nota de esperança. Na sua intervenção, a encerrar a sessão, revelou haver sinais, ainda que ténues, de incremento da atividade no sector dos moldes e deixou dois conselhos às empresas: que se foquem na agilidade, de forma a satisfazer as necessidades dos seus clientes, e procurem desenvolver métodos de melhorar os tempos de resposta. “Vamos conseguir ultrapassar estas adversidades, mas temos de ser fortes e resilientes”, sublinhou. “Muitas vezes, no passado, dissemos que considerávamos estar a passar pelos tempos mais complexos. Ora, isso não podia ser mais verdadeiro hoje”. Com esta referência, logo no início da sua intervenção, José Camacho, chamou a atenção para “a incerteza que caracteriza o mundo”, deixando marcas em todos os sectores e alterando a forma como a sociedade olha para várias questões, entre as quais e sobretudo, a economia. Tendo presente a “incerteza”, o orador destacou três conceitos que devem ser levados em conta: a resiliência, a flexibilidade e as vantagens competitivas. No seu entender, é preciso que as empresas tenham “capacidade de recuperar rapidamente das dificuldades, de se transformar e melhorar”, mas que “mantenham a eficiência” durante o

“É preciso que as empresas tenham “capacidade de recuperar rapidamente das dificuldades, de se transformar e melhorar”, mas que “mantenham a eficiência” durante o processo”

processo, bem como a capacidade de criar soluções para ultrapassar os obstáculos. Dessa forma, considerou, conseguirão manter “a sua posição competitiva mesmo quando confrontadas com adversidades”.

AUTOMÓVEL EM QUEDA Este período de incerteza é acompanhado, sobretudo, por mais interrogações do que respostas. E deu conta de algumas que, salientou, devem ser ponderadas pelas empresas. “Quando terminará esta pandemia e que consequências e mudanças trará à sociedade e à economia mundiais? Como manter a atividade e recuperar face à demora da evolução dos negócios? Há lugar para a adaptação? Como diversificar produtos, mercados e atividade? Quais os fatores de competitividade que resultarão depois desta situação? E como lidar com a competição e concorrência?”, questionou. Partiu, depois, para a apresentação dos dados estatísticos que compilou, manifestando o desejo de que “possam contribuir para reduzir algumas incertezas”. Direcionando a sua apresentação à indústria de moldes e tomando como ponto de partida o seu principal cliente, a indústria automóvel, deu nota de um dado: que o registo de veículos na Europa diminuiu “quase 80 por cento em abril” e que, em agosto, “mantinha quebras de cerca de 20%”. Numa visão mais micro, destacou que nesta e noutras matérias, o ritmo de crescimento dos vários países é diferente, considerando que “há várias velocidades na Europa no que diz respeito à recuperação económica”. E isto deve-se, sublinhou, também à especialização da indústria. Porque se o sector automóvel mostrou quebras generalizadas, noutros sectores, como a embalagem, a situação foi diferente. José Camacho chamou ainda a atenção para um aspeto que considerou importante: antes do período Covid-19, a economia europeia já mostrava sinais de abrandamento. Por isso, “quando falamos em recuperação, temos de ter em conta algo mais profundo que não é apenas a pandemia, mas também os resultados do que tínhamos antes”, enfatizou. Lembrou, como exemplo, o abrandamento de países como a Alemanha ou Itália que foi já percetível em 2019. Ilustrando o que aconteceu a nível da Europa, revelou que “a produção e o consumo baixaram, em 2019, cerca de 10% e as exportações diminuíram 8%”. Em euros, isto significa cerca de um bilião de euros de redução”. Ora, em contrapartida, “as importações (de fora da Europa) não diminuíram”, salientou. E as previsões, anunciou, apontam para que não diminuam. “Em 2025, estas importações vão chegar a 70% do consumo europeu”, enfatizou, sublinhando que são oriundas, sobretudo, dos mercados chinês e coreano. Um outro exemplo sectorial que apontou foi o mercado da estampagem e fundição. Lembrou que a Alemanha é hoje o maior produtor da Europa, “mas as importações de fora da Europa pressionam e, em 2025, 25% vai ser assegurado por produtores não europeus”.


Defendeu ainda que o Brexit “pode ser um problema sério”, uma vez que, até agora, a “cadeia de valor industrial na Europa estava muito bem integrada”. “Se não se conseguir lidar com esta mudança, isso pode traduzir-se num grande problema”, afirmou.

para recuperar, mas estamos preparados para enfrentar os desafios que, no nosso caso, são diários”, declarou, sublinhando que, “em Portugal, um dos nossos grandes desafios é não poder fazer viagens como sempre fizemos neste negócio”.

APREENSÃO

De desafios e dificuldades falou, também, Julia Moore, da GTMA, do Reino Unido. Explicou a grande dependência que o sector tem da indústria automóvel e da aerospacial, enfatizando que são as duas principais áreas a que se dedicam os produtores que compõem a associação que representa. E deu conta de como, com a pandemia, foram apanhados de surpresa. E se uma parte significativa sofreu com isso, uma outra parte – composta pelas pequenas e médias empresas – conseguiu manter-se ativa e até com resultados positivos. É que, neste caso, a sua dependência não é da indústria automóvel. São empresas que, contou, asseguram “95% da produção da indústria médica” no seu país. E mesmo algumas destas, que dependiam de outros sectores, conseguiram reconverter-se rapidamente e continuar a laborar, até no pico da pandemia.

Pelas estatísticas que apresentou, aconselhou a indústria a ponderar soluções. Até porque, salientou, até final deste ano está prevista uma redução das exportações na ordem dos “15 a 20%”. E no futuro, frisou, é expectável que o time to market (por exemplo da indústria automóvel) seja cada vez mais demorado. Uma tendência que, lembrou, já se nota. “Podemos considerar que as marcas estão à espera de sinais de recuperação para ver o que vai acontecer. E estão também a tentar perceber quais serão as alterações de consumo que podem aparecer no futuro”, considerou. Um aspeto, sublinhou, é evidente que será, cada vez mais, uma aposta de futuro para as empresas: a digitalização. No início do debate, Joaquim Menezes, presidente da ISTMA Europe, deixou como conselho que o estudo apresentado por José Camacho seja analisado pelas associações dos vários países e que sejam apresentadas as conclusões resultantes dessas análises na próxima reunião da ISTMA Europe, a qual decorrerá a 12 de novembro. Voltou, depois, a sua atenção para a indústria de moldes em Portugal, afirmando que o mês de outubro poderá servir como um barómetro para os próximos meses. “Vemos alguma evolução na quantidade de encomendas”, admitiu, acrescentando que, no entanto, “não são ainda suficientes para nos manter satisfeitos”. “Temos um longo caminho

Em termos de futuro, não escondendo a apreensão, deu conta da importância crescente que começa a ter no Reino Unido o hidrogénio associado à mobilidade, por exemplo ferroviária. O mesmo acontece com os veículos elétricos que, disse, têm representado um mercado crescente, apesar de ainda incipiente. Julia Moore revelou ainda que as empresas do sector começaram a notar, em setembro, alguma recuperação da indústria automóvel e de outras áreas industriais. “Temos a sorte de ter no Reino Unido diversos sectores manufatureiros que têm conseguido fazer manter a atividade dos nossos associados”, afirmou.

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DESAFIOS NA ALEMANHA

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Alfred Zedtwitz, da VDMA (associação que representa mais de três mil pequenas e médias empresas do sector da metalomecânica e moldes), contou que, “para além da instabilidade da economia, os nossos associados deparam-se com outros problemas, como os pagamentos atrasados de alguns clientes, o que dificulta a sua atividade”. “As empresas têm grandes desafios”, salientou, exemplificando que muitas estão sem trabalho e a “necessitar de receber algum apoio”. “É preciso manter as empresas vivas”, defendeu. Apesar disso, revelou que, nos últimos dias, “começamos a ver alguma movimentação, com o surgimento de novos projetos, a maioria ligados com a mobilidade”. “Parece haver uma tendência para melhorar, mas aguardam-se decisões”, explicou.

“A pressão dos preços obriga a fazer muitos cálculos, mas esperamos que as coisas comecem a mexer”, afirmou. Destacou, contudo, que as alterações que se notam não são oriundas do sector automóvel alemão. “A esse nível, a Alemanha está parada, mas noutros mercados, como o chinês ou americano, segundo alguns dados estatísticos da indústria automóvel, o mercado está a mexer”, declarou. A conclusão da sessão esteve a cargo do presidente da ISTMA World, Bob Williamson, da África do Sul, que fez uma breve síntese das ideias principais discutidas durante a sessão que contou com a intervenção de cerca de 50 participantes oriundos de diferentes nacionalidades. Nota também para a referência feita no decorrer da sessão por Joaquim Menezes, deixando uma nota de pesar e palavras de apreço a Shoichi Kuroda, recentemente falecido, e que foi presidente da ISTMA entre 2001 e 2004.

Uma visão mais positiva do sector na Alemanha foi deixada por Ralf Durrwachter, da VDWF (associação que representa pequenas e médias empresas alemãs de moldes e ferramentas). Contou que no Norte e Este do país, os produtores começaram a sentir melhorias logo após o verão. ”Apesar da maior parte dos produtores se situar no sul, no norte os nossos associados dizem começar a ver a luz no fundo do túnel. Têm trabalho. Muitos deles, até dezembro ou meio de janeiro do ano que vem”, contou, adiantando que “o único senão são os preços”.

WEBINAR DA ISTMA ANALISA INDÚSTRIA DE MOLDES NAS AMÉRICAS “Não esperem pelas oportunidades: vão procurá-las; desenvolvam as vossas competências, melhorem o que for possível e, acima de tudo, acreditem nas vossas capacidades”. Esta foi a principal mensagem deixada por Bob Williamson, presidente da International Special Tooling and Machining Association (ISTMA) aos fabricantes de moldes do continente americano, em particular, mas também a todos os que, pelo mundo, se dedicam a esta atividade. O responsável falava no encerramento do webinar ‘Americas: Statistics & Trends’ que, organizado pela ISTMA, decorreu no dia 9 de dezembro, contando com uma assistência ‘virtual’ composta por mais de 80 profissionais do sector, oriundos de vários pontos do globo, desde Portugal até ao Japão. Na sessão, José Camacho, orador convidado, apresentou os dados económicos de quatro países do continente americano que se fizeram representar no debate através das suas associações: Estados Unidos (NTMA), Brasil (ABINFER), Canadá (CTMA) e México (AMMMT). Na sua intervenção, José Camacho deu ênfase ao papel da Covid-19 na quebra das economias dos quatro países, considerando que a doença continua a ser, ainda, uma preocupação. Salientou que cada

país tem diferentes dinâmicas em relação à pandemia, o que os coloca com ritmos económicos diferentes. A vacina da Covid-19 tem ainda, no seu entender, muitas incertezas pelo que estima que, em 2021, todo o continente americano (e o mundo) vá passar por um longo período de combate à pandemia, não se conseguindo ainda prever quando é que a economia regressará aos valores da era pré-Covid. De igual forma, sublinhou que também não é possível, ainda, antever se o consumo, no futuro, terá mudanças significativas. Reportando-se aos quatro países americanos, revelou que as estatísticas colocam Canadá e Estados Unidos como os que vão, economicamente, recuperar mais rápido, enquanto Brasil e México sentirão uma retoma mais lenta. Apresentou também dados relativos à indústria automóvel, afirmando que as previsões apontam para que a tomada de decisões acerca da nova mobilidade possa estender-se no tempo, entre os anos de 2022 a 2024. Este delay pode, no entanto, ser revertido se, por exemplo, surgirem mais certezas e mais confiança em relação à evolução (positiva) da pandemia.


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DIVERSIFICAR Já o momento do debate e dando conta da redução da atividade sentida pelos fabricantes, como resultado da pandemia, Roger Atkins (USA) defendeu que as empresas têm de “começar a posicionar-se agora para a recuperação da economia” que, no seu entender, acontecerá num futuro próximo. A formação dos colaboradores e o incremento das capacidades das organizações são, no seu entender, fundamentais para fazer face ao período que se segue à pandemia. Já Rob Cattle (Canadá) destacou que, no seu país, muitas empresas do sector conseguiram crescer ao enveredar por outras áreas alterando o foco que tinham colocado na indústria automóvel. Por isso, considerou que “diversificar é o caminho a seguir” para recuperar a atividade. E nesse sentido, exortou os fabricantes a apetrecharem-se com as tecnologias adequadas para isso. Para Chistian Dihlmann (Brasil), existe no seu país uma necessidade enorme de apostar em formação, de forma a melhorar a qualificação dos profissionais, sobretudo os que, acentuou, “estão à frente dos negócios”. É que, sublinhou, muitos fabricantes “não estão bem preparados para a problemática situação que se gerou últimos meses”. Melhorar é, no seu entender, a possibilidade de ter futuro. Eduardo Medrano (México) – que foi o moderador do debate – contou que o sector vive, no seu país, um período complicado, devido, sobretudo, à demora no lançamento de novos modelos nos sectores automóvel e aeronáutico. Mas quando essa situação se alterar e o mercado retomar a atividade, advertiu, os fabricantes “têm de estar preparados e, para isso, têm de começar a apostar já nessa preparação”. Profissionais bem formados e tecnologias que assegurem maior eficiência são, no seu entender, fundamentais. Antes do final do debate, Joaquim Menezes, presidente da ISTMA Europa usou da palavra para partilhar algumas das preocupações que sente em relação ao sector. “Muitos fabricantes não vão conseguir resistir a este período, acabarão por morrer, mas as boas empresas sobreviverão”, salientou.

“Não esperem pelas oportunidades: vão procurálas; desenvolvam as vossas competências, melhorem o que for possível e, acima de tudo, acreditem nas vossas capacidades”


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N 128 JANEIRO 2021

PROGRAMA TALENTUM: EMPRESAS DEVEM DELEGAR E PREPARAR ESTRATÉGIAS DE SUCESSÃO 20 Da delegação de atividades à preparação e profissionalização da sucessão. Foram três dos grandes desafios que se colocam às empresas, os que estiveram em destaque nas últimas sessões do Programa Talentum, a encerrar o ano de 2020. ‘Processos de Delegação de Atividades’, ‘Governance e Gestão: Um desafio organizacional’ e ‘Família e profissionalização das empresas’ foram os temas dos webinares que decorreram, respetivamente em outubro, novembro e dezembro, organizados pela CEFAMOL. Artur Ferraz, da International Business Consulting (IBC) foi, como vem sendo hábito, o dinamizador de serviço, exortando as organizações a olharem de forma mais atenta para estas questões. Os webinares contaram com a presença ‘virtual’ de dezenas de profissionais do sector. A sucessão é “um processo que exige preparação e planeamento”, exortou Artur Ferraz. Lembrando que, em muitos casos, o fundador da empresa mantém, durante anos, o foco no seu crescimento e nunca pára para pensar neste tema, salientou que este processo implica que esse gestor tenha a disponibilidade para avaliar quem o substituirá, dando prioridade, na sua decisão, à sustentabilidade da organização. “A sucessão é um processo complexo, mas vai ser fundamental para garantir a continuidade das organizações”, considerando que, nesta questão, estratégia, médio prazo e consolidação são, as palavraschave e a evidência é uma: as empresas que preparam a sucessão de forma sólida são as que conseguem ter mais sucesso. Admitindo que este é um tema “nem sempre fácil de abordar” pelas estruturas familiares, é “necessário criar um plano estratégico que ligue o ponto em que a empresa se encontra na atualidade, com a missão de definir o seu posicionamento a longo prazo”. O foco deve ser colocado nas empresas e não nas pessoas, considerando que, por mais que os fundadores desejem que os projetos sejam seguidos no seio da família, isso só deve ser aplicado, de forma a ter sucesso, com a devida preparação da geração seguinte. Para isto, é fundamental que exista comunicação nas organizações. Não apenas operacional, mas plena e eficaz. O desafio está centrado na própria família. E esta deve, por fases, conseguir profissionalizar a gestão, implementar processos rigorosos de tomada de decisão, saber separar os papéis dos seus elementos e garantir canais adequados de comunicação para todos.

PARAR, PLANEAR, AGIR

geração, 12% à terceira e somente 3% duram até à quarta geração e seguintes. A mesma entidade revela que o controlo de uma empresa familiar permanece no núcleo da família durante, em média, 60 anos. Face a isto, é sublinhada a necessidade de pensar em formas de tornar as empresas mais resilientes e sustentáveis a longo prazo. “Esta deve ser uma preocupação contínua”. O período que vivemos, com os negócios mais estagnados devido à pandemia de Covid-19, pode ser aproveitado para fazer esta reflexão e planear a mudança nas empresas. O fundamental é deixar claro o papel de cada um na organização, bem como as responsabilidades que lhe são inerentes. “Muitas vezes, confunde-se a gestão com a operacionalidade, o que, em muitos casos, torna as empresas ineficientes”. Como exemplo, uma outra fragilidade que as empresas familiares por vezes apresentam: a indiferença à evolução tecnológica. À medida que a liderança vai envelhecendo, tem tendência para ir mantendo os processos e técnicas que provaram ser eficazes ao longo da história da empresa.

GERIR E CONTROLAR Considerando que, de uma maneira geral, nas empresas “trabalhase pouco a componente da cultura e mais a estratégia”, foram apresentadas algumas dicas sobre a estrutura de ‘corporate governance’, ou seja, o sistema que permite gerir e controlar a organização. É ela que reflete a relação entre os detentores do negócio, os seus colaboradores, clientes ou fornecedores. É preciso definir de forma clara a estrutura da organização, mas também a distribuição dos direitos e responsabilidades de cada um. E esta definição tem de assegurar, entre outras questões, que há “equidade no tratamento de todas as pessoas que se relacionam com a empresa”, que “há transparência na gestão”, que há alinhamento de interesses na organização e que cada um tem noção clara das suas responsabilidades. Depois, é preciso estabelecer um rumo estratégico, executar essa estratégia gerindo os riscos e garantir que tudo está a ser executado de acordo com as normas e regras definidas (recorrendo, inclusivamente, a entidades externas para realizar esta avaliação). Ou seja, “é preciso saber quem define as regras, quem as aprova e quem as executa”.

Para se entender esta dificuldade, é necessário atender às características da maioria das empresas em Portugal, normalmente de pequena e média dimensão e, de entre elas, 70% têm uma estrutura familiar. Este ‘negócio de família’ é também dominante na União Europeia, onde 60% das organizações tem cariz familiar. Estas empresas, 85% de pequena e média dimensão, são responsáveis por cerca de 50% dos empregos europeus.

Para que este modelo seja possível de concretizar, é necessário que, de forma atempada, as administrações das empresas “tomem consciência da importância de preparar o processo de sucessão no negócio”. Mas não só. É preciso ir preparando ações necessárias ao desenvolvimento e transformação da cultura empresarial. É fundamental, também, preparar as pessoas para assegurar a sucessão.

A prioridade que estas organizações dão à manutenção da gestão na família cria algum risco. É que, segundo a organização ‘Family Business Alliance’, apenas 30% das empresas sobrevive à segunda

Por isso, é necessário recuar no processo e, antes da definição da estratégia de sucessão, é fundamental um outro passo: delegar atividades.

DELEGAR


Lembrando que delegar é, na sua essência, atribuir a responsabilidade a alguém, isto deve ser feito de forma clara, para que cada pessoa saiba exatamente a função que lhe compete. Para além disso, é necessário também saber apresentar resultados. Ou seja, delegar é preparar profissionais para saberem atuar em ambientes de grande mutação. “Precisamos de focar as pessoas para que estas se foquem também no essencial”, defendeu, considerando que “este foco nas pessoas incrementa o cuidado ao cliente”, aumentando a rentabilidade das empresas. Para além disso, o cuidado às pessoas “permite também a preparação de futuros líderes”. Por oposição, delegar “não é anular o colaborador, não é abdicar ou abandonar a responsabilidade e não é a perda de controlo por parte do chefe, nem tão pouco a fuga à decisão”. E que vantagens tem, afinal, a delegação de competências? Desde logo, o maior foco nas atividades prioritárias; depois a maior rentabilidade e preparação em formação de futuros líderes. Lembrou que este último passo é muito importante, mas essa formação tem de ser feita na organização, desde a entrada e durante todo o percurso da pessoa. Para as chefias, delegar permite um maior foco nas atividades que geram resultados, bem como o fortalecimento das equipas e a obtenção de um maior nível de cooperação. Quanto às vantagens desta delegação para os colaboradores, destaca-se o “sentir que alguém confia neles”. Depois, este processo permite uma clarificação das responsabilidades e atividades de cada um, bem como a satisfação das necessidades individuais de reconhecimento, consideração, autonomia e progresso. Por tudo isto, a delegação de competências “permite desenvolver as pessoas e garantir a sustentabilidade do negócio”. É que “as pessoas comprometidas geram valor à organização”.

“É PRECISO PERSISTIR PARA QUE A MUDANÇA OCORRA” Eventos como os webinares do Programa Talentum, “sendo feitos de forma continuada e sistemática, promovem mudanças internas nas empresas”, considera Artur Ferraz, em jeito de balanço, no final de mais um ano de programa. “Muitas pessoas têm referido que, no seguimento destas ações, têm lançado a discussão internamente com as suas equipas”, sublinhando que “este era o grande desafio: fazer mexer em assuntos importantes e fazer acontecer, lançar a discussão interna”. No entanto, salientou, “temos consciência que estes processos são lentos pois muitos hábitos estão cristalizados”. Por isso, defende, “é preciso persistir para que a mudança ocorra”. O Programa ‘Talentum’ está a decorrer desde o início de 2019, tendo como prioridade abordar e sensibilizar as empresas para as áreas de Inovação Organizacional e Gestão de Pessoas, seja através destas sessões (atualmente online devido à pandemia de Covid-19), seja com ações concretas ou planos de intervenção realizados diretamente nas empresas. Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL, afirmou, no final do último webinar de 2020 que a Associação tem como objetivo manter este programa no próximo ano, de forma a trabalhar novos temas, seja através de sessões/webinares, seja no contacto mais direto com as empresas.

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/ NOTÍCIAS DA OPEN

PROJETO ‘DÁ-TE A CONHECER’ PREMIOU EMPREENDEDORISMO 22

Roque, empreendedor do Fundão (no ramo da cutelaria) e Roberto Santos, de Montemor-o-Novo (que, com a empresa 2Remember, criou uma caixa de distribuição de produtos regionais portugueses). “Somos sonhadores, temos um projeto, mas não estamos bem preparados e esta iniciativa tem sido uma ajuda muito grande”, considerou Roberto Santos. Os responsáveis dos municípios parceiros também se congratularam com o trabalho desenvolvido e na forma como tem impulsionado o empreendedorismo nas suas regiões.

SINERGIAS

Três jovens empreendedores, da Marinha Grande, Fundão e Montemor-o-Novo, viram os seus projetos premiados pela iniciativa ‘Dá-te a Conhecer’, dinamizada pela incubadora OPEN da Marinha Grande. A entrega dos prémios deste concurso de ideias inovadoras decorreu no dia 28 de novembro, na gala (online) de encerramento desta iniciativa, que juntou, para além dos galardoados, os municípios parceiros: Marinha Grande, Fundão, Montemor-O-Novo e Oliveira de Azeméis. Joaquim Menezes, presidente do Conselho de Administração da OPEN, destacou o papel cívico desta iniciativa que nasceu, em 2012, no seio da incubadora, mas que rapidamente contou com o apoio, não apenas dos municípios parceiros e de outros que com ele colaboraram, mas também de algumas das cidades estrangeiras geminadas com o município marinhense como La Granja de San Ildefonso (Espanha), Tarrafal (Cabo Verde) ou Fontenay Sous Bois (França). Visando a partilha de experiências e boas práticas entre empresas dos vários municípios, o ‘Dá-te a Conhecer’ continua a crescer, sublinhou, dando como exemplo o protocolo com a Associação de Diplomados Portugueses em França (AGRAFr), que possibilitará criar condições para o desenvolvimento de trabalhos conjuntos entre empreendedores dos dois países. No âmbito deste projeto, contou ainda, foi criado um ‘Guia do Investidor’, documento que pretende atrair investimento, talento e empreendedorismo à Marinha Grande. Marlene Rosa, da empresa premiada Agilidades (que, a partir da Marinha Grande, desenvolve terapêuticas para os idosos) manifestou-se grata com a distinção, adiantando que o prémio lhe dará a oportunidade de “alavancar e melhorar” o seu projeto. O mesmo afirmaram Telmo

O ‘Dá-te a Conhecer’, dinamizado pela Incubadora OPEN, e assente em quatro eixos (Economia, Cultura, Turismo e Educação), visa a partilha de experiências, observação de boas práticas e identificação de potencialidades de complementaridade entre municípios, criando sinergias e potenciando trocas económicas. De entre as ações realizadas no âmbito desta iniciativa, destaque para, entre outras, a organização de ‘missões diplomáticas’ e de representações dos agentes locais, motivados para esta iniciativa; promoção e utilização, conjunta ou articulada, de saberes e equipamentos já instalados, que possam favorecer a disseminação, incubação e instalação de empresas no território, visando a cooperação ativa e criativa intermunicípios e, idealmente, as suas populações e empresas; e potenciar e alargar as relações multipartidas já estabelecidas ou a estabelecer pelos diversos agentes económicos locais.

“O ‘Dá-te a Conhecer’, dinamizado pela Incubadora OPEN, e assente em quatro eixos (Economia, Cultura, Turismo e Educação), visa a partilha de experiências, observação de boas práticas e identificação de potencialidades de complementaridade entre municípios”


NOTÍCIAS DOS ASSOCIADOS /

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FRUMOLDE: RIGOR E QUALIDADE CONQUISTAM MERCADO HÁ TRÊS DÉCADAS

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Foi em fevereiro de 2008, que a Frumolde adquiriu a totalidade da empresa de produção. Em 2013, são adquiridas as atuais instalações (na Martingança) e, no ano seguinte, as duas empresas passam a funcionar lá. Até 2020, a Frumolde foi funcionando numa lógica de grupo, composto pelas duas empresas, sendo a de produção gerida por Ricardo Domingues, atualmente um dos sócios. Contudo, na passagem dos 30 anos, as duas empresas são fundidas numa só, assumindo a designação Frumolde Tooling.

Dedicação ao cliente. Competência. Profissionalismo. São estas algumas das principais características que têm permitido à Frumolde conquistar a sua posição na área dos moldes e, 30 anos depois da sua criação, continuar a dar passos no sentido de aumentar a sua capacidade instalada, buscar novos mercados e crescer para outros sectores, como os dispositivos médicos. Na celebração do aniversário, a empresa decidiu juntar as suas duas áreas de atividade numa só, integrando a Top View no que passa a ser, a partir de agora, a Frumolde Tooling. Mário Frutuoso tinha 30 anos quando criou a empresa que, este ano, comemora as três décadas de atividade. Uma coincidência de números onde está refletido o empenho e dedicação que o fundador colocou no projeto, permitindo-lhe crescer de forma sustentada e alcançar a posição de destaque que hoje assume no sector. Mas, sublinha, foi um caminho nem sempre fácil. “Na verdade, nunca pensei chegar aqui. Nesta nossa área, não se pensa, trabalha-se o dia a dia, luta-se todos os dias para que as coisas aconteçam”, afirma. O período que recorda como tendo sido o “mais árduo” situou-se nos três primeiros anos de vida da empresa. A Frumolde foi criada a 10 agosto de 1990, tendo iniciado a atividade no dia 1 de outubro. Tinha, então, dois sócios e, apenas como curiosidade, destaca que o capital social foi de 400 contos (cerca de dois mil euros). Foi como único funcionário, a trabalhar sozinho num espaço cedido no interior de uma empresa de um amigo, que Mário Frutuoso iniciou a atividade, centrada no marketing e comercialização de moldes. Pouco tempo depois, em abril de 1992, mudou para um outro espaço, na Rua das Portas Verdes, na Marinha Grande. A equipa começou a crescer, o capital social foi aumentado e mudou, em outubro de 2000 para um espaço na Martingança (Alcobaça), próximo do que ocupa atualmente. Em 2002, obteve a primeira certificação ISO 9001:2000. No ano seguinte, estendeu a atividade para a produção, adquirindo parte da empresa que viria a ser a TopView Tools. “Na altura, entendi que, para ter futuro nesta atividade, precisava de alargar a oferta para a área da produção”, conta.

APOSTA EM TECNOLOGIA Mário Frutuoso explica que, neste percurso, foi tendo “muita importância” a forma calculada como todos os passos foram sendo dados, com o intuito de fazer crescer o grupo. O investimento em máquinas e na criação de serviços e tecnologia, como os estudos reológicos e o know-how em várias tecnologias, são, apenas, alguns dos exemplos - “Fomos melhorando, sempre a pensar nos clientes, mas também nos nossos funcionários”, sublinha. A empresa é composta, atualmente, por 40 pessoas. E, ao contrário dos primeiros anos de atividade, em que prestava serviço nos mais variados sectores, centra agora a sua atividade no desenvolvimento de soluções para a indústria automóvel. Esta área representa cerca de 70 a 80% do total da produção. Nos últimos tempos, a empresa tem intensificado o seu esforço no sentido de encontrar uma alternativa ao automóvel, como, por exemplo, na área dos dispositivos médicos. Geograficamente, cerca de 70% da sua produção tem como destino a Europa, sobretudo a Alemanha, a Suíça e Áustria. Apesar da pandemia de Covid-19 que arrefeceu a economia mundial, a Frumolde alcança, em 2020, melhores resultados do que no ano anterior. “Isto deixa-nos otimistas em relação ao futuro”, considera Mário Frutuoso, salientando que “todos os dias, lutamos para que a Frumolde seja uma empresa bem vista e integrada no grupo de fabricantes de topo, pela qualidade e bom serviço que presta”.


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DIGIMOLD: EMPRESA DE SOLUÇÕES DÁ PRIORIDADE AO RIGOR NA RESPOSTA AO CLIENTE 24 PRIORIDADE À SOLUÇÃO Tendo a indústria automóvel como principal mercado (representa cerca de 80%), a Digimold implementou, em 2019, um Sistema de Gestão da Qualidade visando o referencial normativo NP EN ISO 9001/ 2015. Com isso, procura fortalecer a aposta na ligação a este exigente mercado, no qual é dada prioridade ao rigor e à elevada qualidade. Com uma quota menor, mas não menos importante, a Digimold desenvolve projetos para indústrias diversas como a embalagem, jardim, caps & closures, entre outros, assumindo-se como “uma empresa de soluções em que todos os projetos são importantes, não obstante o volume ou a função a que se destinam”.

Fevereiro de 2008. Nasceu na Marinha Grande a Digimold, dedicada à engenharia e desenvolvimento do projeto na indústria de moldes. De então para cá, a empresa foi ganhando dimensão e trilhando um caminho de sucesso, alicerçado, em grande parte, na experiência de quase quatro décadas que o seu fundador, Paulo Coutinho, leva no sector. A capacidade de afirmação com que a empresa é vista no mercado deve-se à prioridade que coloca no relacionamento de proximidade e resposta eficaz ao cliente. A história da Digimold começou a ser escrita na cidade da Marinha Grande, em fevereiro de 2008. Paulo Coutinho, profissional com larga experiência na área dos moldes, concebeu este projeto em nome individual, procurando criar um inovador relacionamento de grande proximidade com o cliente e uma aposta numa resposta de elevada qualidade. Hoje, ao olhar para trás, Paulo Coutinho é perentório: a Digimold foi, sem dúvida, “uma aposta arrojada”. É que a empresa deu os primeiros passos em pleno período de crise económica que, então, muito abalou a indústria mundial. Contudo, a jovem empresa conseguiu superar este período e prosseguir o seu caminho, com passos seguros suportados por uma grande capacidade de resiliência, associada a uma elevada competência que sempre colocou em cada projeto. A Digimold foi crescendo. É composta atualmente por seis colaboradores dedicados e focados nas necessidades dos seus clientes. Para o fundador, tem conseguido consolidar a sua posição na comunidade industrial local, bem como junto dos seus clientes espalhados já por mais de 25 países. Direcionada para a engenharia e desenvolvimento de projetos completos, “tem vindo a oferecer ao mercado nacional e internacional um conjunto de soluções, o que lhe confere hoje uma posição preferencial junto dos seus clientes, resultado de um claro comprometimento com a garantia de satisfação integral das suas necessidades”, conta Paulo Coutinho, adiantando que a empresa se orgulha, também, “de manter o mesmo rigor com os seus fornecedores”. Exigência, acompanhamento permanente e cumprimento dos prazos são, no entender do responsável, os fatores de diferenciação da empresa.

Geograficamente, os principais mercados localizam-se na Europa, nomeadamente na Alemanha, República Checa, Suíça e Áustria. Paulo Coutinho olha para o futuro com otimismo, afirmando-se convicto de que a empresa continuará a pautar-se pela “constante superação na busca de métodos e soluções”. A pandemia de Covid-19, na qual o fator incerteza passou a ser a única certeza que existe, está, no entender do responsável, a ser uma ‘prova de fogo’. Isto fá-lo acreditar que “não existem certezas absolutas, mas apenas etapas que têm de ser geridas em função do momento, visando a continuidade” não apenas da sua empresa, mas de toda a indústria de moldes em Portugal. Ao nível dos negócios, a pandemia provocou algum arrefecimento, sentido sobretudo antes do verão. “Os projetos da indústria automóvel ‘travaram’ a fundo”, ironiza. No entanto, lentamente o mercado começou a movimentar-se e a poucas semanas do final do ano, o empresário considerava estar a passar por um “período bastante promissor”. Por isso, defende que “o receituário para o futuro assentará essencialmente na capacidade de gestão e na busca incessante de soluções que possam contribuir para a diferenciação na prestação de serviços de qualidade ao mercado”. Fazendo uma analogia com os Descobrimentos Portugueses, sublinha que “navegando por mares nunca dantes navegados, seguramente chegaremos ao nosso porto seguro rumo ao sucesso”. E este, sublinha, é “o legado que deixaremos às futuras gerações”.


A INDÚSTRIA À LUPA /

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ÉVORA TOOLINGS, MOLDS & ENGINEERING (EVT): PERCURSO DE EXCELÊNCIA NOS MOLDES PARA A INDÚSTRIA DE ALUMÍNIO

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Fundada em 2016, a Évora Toolings, Molds & Engineering (EVT) desenvolve a sua atividade na construção de moldes para a exigente indústria de transformação de alumínio. Criada no universo do grupo Aluthea, com o objetivo de construir alguns dos moldes metálicos utilizados nas empresas do grupo, a EVT tem percorrido um caminho de crescimento e afirmação, fruto da excelência com que desenvolve os seus projetos. Localizada em Évora, esta jovem empresa tem nos seus quadros nove pessoas, entre projetistas, programadores e técnicos de maquinação CNC. O seu nome vem, precisamente, da localização: Évora. Foi em 2016 que a EVT foi fundada naquela cidade, tendo iniciado a atividade no ano seguinte. É um percurso de três anos: curto, mas de evolução sustentada pelo rigor e qualidade do que produz. Exemplo disso é que terminou o último exercício fiscal (que findou em março de 2020) com um volume de negócios de mais de 1 milhão e setecentos mil euros. Dedicando-se à construção de moldes metálicos, a empresa nasceu no universo do Grupo Aluthea, nomeadamente na Fundição de Évora, com o objetivo de construir alguns dos moldes metálicos utilizados, sobretudo, nas unidades do grupo, seja em Portugal, seja em França ou na Tunísia. Marco Vasconcelos conta que a localização periférica da cidade de Évora, e a inexistência de qualquer empresa do género a sul do Tejo, criaram “algumas dificuldades na contratação de pessoal especializado para este sector específico”. Mas a empresa conseguiu fazê-lo. Iniciou a atividade com cinco pessoas, tendo, atualmente, nove efetivos nos seus quadros, entre projetistas, programadores, e técnicos de maquinação CNC. O responsável revela que “o volume de negócios do último exercício foi assegurado integralmente pela Fundição de Évora que, devido ao seu ano excecional na conquista de novos projetos, ocupou na totalidade a capacidade instalada (da EVT)”. Contudo, salienta, no exercício anterior a empresa “produziu moldes para outras unidades do grupo, em França e na Tunísia”. Marco Vasconcelos sublinha que a EVT tem como meta, no futuro próximo, “poder continuar a suprir as necessidades do grupo em termos de moldes, recorrendo cada vez menos a subcontratações e integrando uma parcela cada vez maior no seu seio”. O reforço da equipa de projetistas, bem como a utilização de softwares e equipamentos cada vez mais avançados, permite a que, neste momento, “a equipa da EVT seja encarada e utilizada pelo grupo Aluthea como um polo importante de desenvolvimento”, destaca ainda.

Defendendo que um dos elementos diferenciadores para o futuro será “o trabalho em estreita colaboração com o cliente”, Marco Vasconcelos considera que só havendo uma relação de entreajuda entre cliente e fornecedor se conseguem “otimizar processos de ambos os lados e reduzir tempos de desenvolvimento e produção”. Por isso, a empresa procura dar uma resposta cada vez mais completa às necessidades dos seus clientes, proporcionando acompanhamento técnico que se estende desde estudos de viabilidade de peças, ensaios de enchimento, sugestões de design e de ligas a utilizar ou mesmo produção de protótipos em impressora 3D. No entanto, no seu entender, a verdadeira diferenciação não se faz pelos equipamentos. “Se em termos de equipamentos, a generalidade das empresas pode ter acesso, dentro dos possíveis, ao mesmo tipo de maquinaria, o fator diferenciador terá de ser sempre o elemento humano, nas suas vertentes de capacidade, competência e comprometimento”, enfatiza, sublinhando que “as tecnologias irão sempre evoluir no sentido da eficiência produtiva e energética, mas é na valorização da competência humana e no espírito de equipa que pensamos estar o segredo do nosso futuro”. E é com alguma ansiedade que esta jovem empresa encara esse futuro. Isto porque a pandemia de Covid-19 criou na economia uma incerteza que dificulta o planeamento a prazo. O responsável conta que a EVT está, neste momento, a otimizar processos internos, de forma a reduzir custos sem mexer no seu quadro de pessoal. É que, sustenta, “dada a impossibilidade de poder controlar os custos dos fatores produtivos mais impactantes, o futuro terá de ser obrigatoriamente baseado na racionalização e na obtenção da maior rentabilização possível de todos os meios, sejam eles humanos, sejam equipamentos”. Apesar de, durante este ano de 2020, a empresa não ter sentido quebras significativas na sua atividade, há, contudo, alguma preocupação. “A falta de visibilidade dada pelos clientes em relação a projetos futuros impede a planificação a médio prazo da produção e condiciona o desenho concreto do plano de investimento para os próximos anos”, explica, sublinhando que, a somar a estas questões, “temos o aumento de preço dos fatores produtivos, nomeadamente custo da mão de obra, energia e matéria-prima, que fazem com que as margens sejam mais estreitas e só possam ser compensadas por aumentos de produtividade, nem sempre fáceis de obter”. Por isso, considera que “o desafio maior será, depois de ultrapassar a crise pandémica, esperar a retoma da economia e do investimento das empresas”.


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NATRATER: QUALIDADE NO FABRICO DE ACESSÓRIOS DEDICADOS À INDÚSTRIA DE MOLDES 26

Para além dos acessórios, a empresa presta também serviços de torneamento, retificação e tratamentos térmicos, para além de fabricar e disponibilizar uma linha de acessórios normalizados.

Qualidade. Rapidez de resposta. São as duas prioridades que a Natrater coloca no seu serviço. Por isso, há quase quatro décadas que a empresa é um fornecedor de excelência da indústria de moldes, através dos acessórios que produz e na prestação de serviços. Com sede na Marinha Grande, tem atualmente cerca de 30 colaboradores. A Natrater foi fundada para servir a indústria de moldes. E é precisamente o que faz há já quase 40 anos, através dos acessórios que produz e na prestação de serviços. A empresa é símbolo de um percurso sólido, assente nas duas premissas que coloca em tudo o que faz: qualidade e rapidez de resposta. No seu entender de F. Barros, o trajeto de sucesso da empresa devese, sobretudo, à confiança que os seus clientes nela têm depositado ao longo dos anos. “Os nossos clientes estão fidelizados há muitos anos e sentimos que estão, cada vez mais, connosco”, afirma F. Barros, adiantando que um outro pormenor tem sido também fundamental para o crescimento da empresa: a dedicação dos colaboradores. São hoje cerca de 30 e, muitos deles estão na empresa quase desde a sua fundação. Por estas duas características, F. Barros considera que, quer clientes, quer colaboradores, fazem todos parte da Natrater como se de uma família se tratasse. “Esta confiança que nos é depositada, seja pelos clientes, seja pelos nossos colaboradores, enche-nos de orgulho e motiva-nos a fazer sempre mais”, afirma.

Mantendo a qualidade na resposta, a empresa dá prioridade, desde sempre, a um investimento constante em tecnologias. Um dos exemplos disso é o projeto de investimento (de cerca de um milhão de euros), aplicado num aumento da capacidade instalada, melhoria das condições de trabalho e novas máquinas. Estava inicialmente previsto para ter lugar no ano de 2020, mas a pandemia de Covid-19 veio trocar as voltas ao rumo estabelecido e o projeto será concretizado em 2021. “Não avançámos com este investimento porque tivemos algum receio. A pandemia trouxe uma estagnação enorme na economia e muita incerteza em relação ao futuro”, explica. No entanto, a Covid-19 acabou por não provocar um impacto significativo na atividade da Natrater que, conta o seu responsável, “apesar de decrescer, foi tendo sempre trabalho”.

MERCADO NACIONAL A maior fatia do que a empresa produz (cerca de 90%) destina-se à indústria portuguesa de moldes. Tem nas regiões da Marinha Grande e Oliveira de Azeméis a larga maioria dos seus clientes. No entanto, a Natrater também exporta uma pequena fatia da sua produção para o mercado espanhol. Revelando que “a maior parte do ano de 2020 foi difícil para muitos fabricantes de moldes”, F. Barros considerava, no final do ano, notar alguma atividade no mercado, o que, no seu entender, pode indiciar que o ano de 2021 seja “um ano de retoma”. Isto porque, sustenta, “a economia vai ter de começar a mexer”. É por isso, com otimismo, que olha para o futuro. E salienta que a Natrater projeta manter o seu caminho de crescimento, sustentado numa aposta “em competências, em qualidade e nas pessoas”.



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INOGRAVE: EMPRESA DE TEXTURAS COM APOSTA SÓLIDA NA VANGUARDA TECNOLÓGICA 28

O responsável sublinha que a empresa “tem como apanágio, marcar pela diferença e pela exclusividade nos seus serviços”.

Fundada em 2004, a Inograve é especializada em texturas, desenvolvendo soluções para a indústria de moldes. Com uma aposta firme na inovação tecnológica e tendo como prioridade a excelência, a empresa opera nos sectores alimentar, automóvel, calçado e jardinagem. Com oito colaboradores, a Inograve estabeleceu, em 2020, uma parceria com a Reichle, com o objetivo de consolidar o seu posicionamento no mercado. A Inograve foi criada em 2004, em Oliveira de Azeméis, dedicandose, nesta década e meia que leva de atividade, a fornecer as melhores soluções na área das texturas. É uma empresa especializada em texturas químicas, texturas e gravações a laser 5 eixos. Desenvolve a sua atividade para os sectores alimentar, automóvel, calçado, jardinagem e todo o tipo de indústria relacionada com a indústria de moldes. Geograficamente, os seus principais mercados são Espanha, França, Alemanha, Itália e Dinamarca. A evolução tecnológica foi, desde sempre, a grande prioridade da Inograve, tendo sido, até, pioneira na aquisição de uma máquina a laser de 5 eixos. “Ao longo dos anos, a Inograve foi acompanhando a evolução da tecnologia nesta área, tendo apostado na compra de uma máquina a laser 5 eixos, cuja finalidade é prestar serviços de excelência aos seus clientes”, conta António Pereira, fundador e gestor da empresa, adiantando que “esta tecnologia permite-nos criar texturas sem limites e estarmos na vanguarda desta área de atividade”.

Centrando a sua aposta na prestação de um serviço onde a qualidade é uma das palavras-chave, a empresa é certificada pela ISO 9001:2015. Tem, atualmente, oito colaboradores que colocam em cada projeto a prioridade “da satisfação dos seus clientes”.

PARCERIA A pandemia de Covid-19 teve impacto na produção da empresa. António Pereira lembra que todo o sector “está a atravessar uma fase mais delicada”. No caso da Inograve, “houve muitos projetos que foram cancelados, o que se traduziu num abrandamento acentuado nos serviços”, adianta. No entanto, e tendo em conta a sua vasta experiência no sector, o responsável afirma-se otimista em relação ao regresso da atividade económica, acreditando que “já em meados do próximo ano haja uma retoma no mercado mundial”. Ainda em 2020, a Inograve estabeleceu uma parceria com uma empresa de texturas a laser 5 eixos, a Reichle que, conta o responsável, tem mais de 40 anos de provas dadas no mercado mundial. Em 2021, a empresa espera consolidar mais esta parceria, bem como o seu posicionamento no mercado. António Pereira esclarece que, “devido à globalização, as empresas têm que criar parcerias a nível mundial”, de forma a “melhor competir neste mercado cada vez mais diversificado e exigente”.



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POLITÉCNICO DE LEIRIA LECIONA EM INGLÊS MESTRADO EM ENGENHARIA DE DESIGN DE PRODUTO 30

Product Design Engineering. Assim se designa o mestrado que o Politécnico de Leiria leciona há já uma década, na sua Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG), direcionado para a indústria. No início, as aulas eram realizadas em português, mas há cerca de seis anos, todo o curso mudou para a língua inglesa. Com isto, para além de abrir perspetivas internacionais aos alunos portugueses, o mestrado começou a atrair estudantes estrangeiros. Muitos deles já passaram, em estágios, por empresas da indústria de moldes. Foi o primeiro mestrado da ESTG, tendo sido, então, criado a pensar nas necessidades da indústria, não apenas - mas também - os sectores de moldes e plásticos. A transversalidade dos conteúdos, aliada a uma vertente muito prática, tem atraído muitos estudantes, não apenas jovens a prosseguir a formação académica, mas também quadros de empresas da região. Fábio Simões é, desde há quatro anos, coordenador deste mestrado que já leva uma década de existência. Do nome inicial, ‘Engenharia da Conceção e Desenvolvimento do Produto, o curso mudou a sua designação, há cerca de seis anos, para ‘Product Design Engineering’, assumindo uma vertente mais internacional, com aulas exclusivamente em língua inglesa. Os professores, conta o responsável, são portugueses que passaram por um período de formação e obtiveram uma certificação para lecionar na língua inglesa. O curso tem dois anos de duração, destacando-se do que, tradicionalmente, caracteriza um mestrado pelo conteúdo do currículo do primeiro ano. É, de acordo com Fábio Simões, um curso que abrange uma panóplia de temas. Ou seja, “é mais lato do que outros mestrados da escola”, afirma, salientando que “conseguimos juntar na mesma sala de aula, engenheiros e outros profissionais, como designers ou arquitetos”, que trabalham em conjunto, com o intuito de complementarem as competências da sua formação.

Os engenheiros mecânicos passam a ter formação, por exemplo, em desenvolvimento do produto ou marketing, enquanto os designers passam a receber valências de engenharia mecânica. Isto, no entender de Fábio Simões, é a grande mais-valia do curso, que tem em conta uma série de fases de engenharia e design do produto, desde o processo de criação, passando pelo marketing, tendo em conta os materiais e processos de fabrico, e dando foco à sustentabilidade, economia circular e eficiência energética. Um outro aspeto que o coordenador destaca é a ligação estreita com o Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentável do Produto (CDRSP), de forma a permitir que os alunos usufruam dos seus laboratórios e apoio para trabalhos práticos, mas também adquiram competências de investigação, concretamente durante o 2º ano.

OS ESTÁGIOS O primeiro ano do curso centra-se no ‘Global Work’. Os alunos têm de desenvolver um produto ao longo do ano e as competências são dadas pelas várias unidades curriculares do plano de estudos. “Cada unidade curricular contribui para este trabalho de desenvolvimento de produto”, salienta, explicando que os alunos aprendem, entre outros aspetos, a investigar, tratar a informação, desenvolver o produto e criar a sua estratégia de marketing. Há depois um outro conjunto de temas de estudo que variam entre automação, produção, reciclagem e fabrico rápido. No segundo ano, a exemplo de outros mestrados, os alunos podem optar entre uma dissertação, projeto ou estágio. O estágio tem sido uma das preferências, sobretudo entre os alunos que já se encontram a trabalhar e que, com o curso, podem melhorar a sua situação profissional ou o seu papel dentro da empresa onde estão colocados. Mas os estágios têm sido, também, um aspeto que, nos últimos anos, tem atraído muitos alunos estrangeiros. Fábio Simões exemplifica com o caso de um conjunto de estudantes indianos que procuraram este curso por ter, precisamente, o que não encontravam no seu país: os


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estágios. Muitos deles, conta, estagiaram em empresas de moldes da região de Leiria, tendo muitas vezes vindo a integrar os seus quadros, após o término do estágio. O curso tem atraído também jovens de outras nacionalidades, como do Canadá, da Bulgária, Espanha ou México, entre outras, pela sua originalidade e diversificação de conteúdos.

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Uma vez concluído o mestrado, adianta o coordenador, “os alunos ficam habilitados a desenvolver produtos em qualquer contexto”. É que “os seus conhecimentos são bastante latos e conseguem fazer uma quantidade de coisas, ou seja, têm valias transversais a várias fases do processo de desenvolvimento e fabrico”.

PROXIMIDADE COM EMPRESAS Nos últimos cinco anos, foram cerca de uma centena os alunos que passaram por este mestrado. Este ano letivo, a pandemia de Covid-19 levou a uma redução no número de estudantes. São dez no primeiro ano e têm as aulas repartidas entre o presencial e o online. No segundo ano estão, este ano, 31 alunos. Uma parte tem como objetivo avançar com estágio em empresas, uma situação que já foi ponderada e definida conjuntamente entre a escola e o tecido empresarial.

Fábio Simões destaca que “este é um ano atípico: o ano letivo passado foram 61 os estudantes, nos dois anos de mestrado”. Uma parte significativa deste número, cerca de metade, são profissionais a trabalhar em empresas e que procuram alargar a sua formação, revela. O coordenador do curso adianta ainda que tem existido uma relação de proximidade com as empresas da região, que se tem traduzido em boas experiências para os alunos.


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O PENSE INDÚSTRIA ESTÁ DE VOLTA EM VERSÃO I4.0 32

Cecilia Vicente*, Ana Carreira*, Fernanda Marques*, Liliana Ramos* * CENTIMFE – Centro Tecnológico da Indústria de Moldes Ferramentas Especiais e Plásticos

Nos próximos 3 anos, o projeto Pense Indústria volta a integrar as atividades do Centimfe e a levar aos jovens estudantes da nossa região, novos conhecimentos, agora em versão Indústria 4.0. Nos últimos anos, assistimos a uma verdadeira Revolução Tecnológica: > as empresas estão mais modernas e mais digitais; > os produtos estão mais inteligentes; >a sustentabilidade dos recursos está na ordem do dia; >a economia circular e o design para a circularidade estão presentes na conceção e desenvolvimento de novos produtos; >a inteligência artificial e a robótica facilitam a vida das pessoas nas mais diversas atividades; >o mundo digital está acessível a todos. No entanto, para que as economias progridam num mundo cada vez mais global e digital, onde tudo acontece de forma rápida e fácil, é preciso investir na CAPACITAÇÃO de RECURSOS HUMANOS para os desafios da digitalização. E porque a indústria vai precisar cada vez mais de RECURSOS HUMANOS com competências técnicas, sentido crítico, consciência ambiental, vamos começar a construir o FUTURO, sensibilizando-os desde o ensino básico, para que Portugal se afirme como um país industrializado e competitivo a nível global.

// Pense Indústria - Fotos de Arquivo

O Pense Indústria vai ter enfoque na indústria 4.0 através das seguintes atividades: • Sessões de Sensibilização com Demonstração de Tecnologias i4.0

Contamos consigo para fazer este caminho! O Pense Indústria i4.0 regressa como uma ação coletiva em copromoção, com 7 Centros Tecnológicos: CENTIMFE; CITEVE; CATIM; CTCV; CTIC; CTCP e CTCOR. O projeto Pense Indústria i4.0 foi aprovado para o período de 2020 a 2023 e estão a decorrer as reuniões com as escolas para planeamento dos trabalhos, num regime misto entre o presencial e à distância, devido as restrições impostas pelo Covid-19. O projeto tem como objetivo, sensibilizar, orientar, atrair e capacitar os jovens do 3º ciclo do ensino básico e secundário para as áreas de saber e profissionais no âmbito da tecnologia, indústria, inovação e empreendedorismo, contribuindo para a sua orientação vocacional.

• Laboratórios de Tecnologias i4.0 e Visitas de Imersão a Empresas/ Centros Demostradores i4.0; • Concurso de Ferramentas Digitais i4.0 e Empreendedorismo: F1inSchools; • Concurso Nacional “Isto é Uma Ideia IoT”.

O PROJETO O projeto Pense Indústria i4.0 é estratégico e tem como objetivo principal a atração de jovens para a indústria, demonstrando oportunidades de desenvolvimento profissional aliciantes e dando-lhes acesso a experiências motivadoras. Com atividades dinâmicas, o projeto atua ao nível da sensibilização, atração e capacitação dos jovens do 3º ciclo do ensino básico e ensino


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secundário, para as áreas de saber e profissionais no âmbito de IoT, tecnologias, digitalização, inovação, empreendedorismo, design e criatividade, descarbonização e transição energética, economia circular e sustentabilidade.

ATIVIDADES 1. SESSÕES DE SENSIBILIZAÇÃO COM DEMONSTRAÇÃO DE TECNOLOGIAS I4.0 Esta atividade contempla a promoção de palestras, ações de demonstração e de experimentação sobre a indústria 4.0 a realizar nas escolas, recorrendo a equipamentos “transportáveis” alusivos à digitalização e outras tecnologias da indústria 4.0. Devido às contingências provocadas pela Covid-19 estas sessões podem realizar-se em ambiente web com recurso a vídeos e exercícios interativos. Alguns exemplos de equipamentos a utilizar nas sessões:

// Exoesqueleto


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Visitas de imersão a empresas/centros demonstradores Esta atividade compreende visitas de imersão a empresas, ecossistemas empreendedores, feiras ou exposições sectoriais, centros de inovação e instituições de ensino superior ou eventuais TED talks, onde é possível demonstrar conceitos e tecnologias da i4.0, integrados em processos de investigação, desenvolvimento e inovação e/ou em processos industriais.

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Estas visitas são uma oportunidade única para os jovens observarem a realidade industrial e perceberem a importância das tecnologias e da inovação na competitividade empresarial.

// Robótica

O contacto com as empresas é fundamental na motivação dos jovens, porque além de observarem os processos de fabrico, os materiais e os produtos, também podem contactar diretamente os empresários e tomar conhecimento das diversas oportunidades de emprego qualificado que existem na indústria.

3. CONCURSO DE FERRAMENTAS DIGITAIS I4.0 E EMPREENDEDORISMO: F1INSCHOOLS (Concursos de ferramentas digitais i4.0 e empreendedorismo)

// Impressora 3D

O F1 in Schools é um Concurso internacional multidisciplinar, onde equipas de jovens competem entre si, na construção de um carro de Fórmula 1 em miniatura, de acordo com regulamentos específicos, tendo em conta fatores de sucesso de uma empresa de base tecnológica (tecnologias, manufatura aditiva, comunicação, gestão, marketing e empreendedorismo). As equipas têm 3 a 6 alunos e contam com o acompanhamento de um professor.

// Realidade Aumentada

2. LABORATÓRIOS DE TECNOLOGIAS I4.0 E VISITAS DE IMERSÃO A EMPRESAS E CENTROS DEMONSTRADORES I4.0

Estão previstas competições “Finais Regionais”, nas áreas de influência dos Centros Tecnológicos, de forma a selecionar as equipas que competirão na “Final Nacional”. A equipa vencedora nesta Final Nacional, representará Portugal na Prova Final Mundial em local a designar pela entidade internacional gestora deste desafio (Fundação Engineering in Montion).

A atividade Laboratórios de Tecnologias i4.0 consiste na promoção de sessões de demonstração em laboratórios e/ou contextos produtivos ou de prototipagem para incrementar nos jovens um espírito crítico e criativo, tendo sempre presente a estratégia pedagógica de “mostrar como se faz” para depois “fazer”. Estas sessões vão decorrer no Laboratório Pense Indústria do Centimfe, que dispõe de instalações de excelência e equipamentos de demonstração, permitindo o contacto dos jovens com um ambiente tecnológico, propício a atividades inovadoras, experiencias de “fazer-aprendendo” e assim, dinamizando o desenvolvimento de competências relevantes para o seu futuro profissional, relacionadas com os desafios da Indústria 4.0 Nestas sessões, são abordados temas como a Robótica, Modelação 3D, Prototipagem, Nanotecnologia, Digitalização, Sustentabilidade, Economia Circular, entre outros.

4. ISTO É UMA IDEIA IOT O concurso nacional para apresentação de ideias/soluções inteligentes e exequíveis baseadas em IoT (Internet of Things), onde os jovens são desafiados a conceber uma nova solução com conexão via internet, que torne o dia-a-dia mais smart e simples e que preferencialmente também contribua para a sustentabilidade.


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Estão previstas Provas “Finais Regionais”, nas áreas de influência dos Centros Tecnológicos, de forma a selecionar as equipas que participarão na “Final Nacional” anual. São atribuídos Prémios às melhores ideias!

A PARTICIPAÇÃO NO PROJETO PENSE INDÚSTRIA i4.0 É GRATUITA Para mais informações: Contacte a equipa de suporte ao projeto no Centimfe: Fernanda Marques Ana Carreira Liliana Ramos inovacao@centimfe.com | 244545600 https://www.facebook.com/penseindustria/


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MARKETING & PROMOÇÃO

ENTREVISTA AO PRESIDENTE DA AICEP – LUÍS CASTRO HENRIQUES MARKETING E PROMOÇÃO DA INDÚSTRIA DE MOLDES COMUNICAÇÃO E MARKETING: NOVOS DESAFIOS PARA AS EMPRESAS DE MOLDES E FERRAMENTAS REFORÇO DE IMAGEM É CHAVE PARA A PROMOÇÃO INTERNACIONAL

WEBINAR REFLETE SOBRE INTERNACIONALIZAÇÃO

FERRAMENTAS DIGITAIS PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

MARKETING DIGITAL EM TEMPOS DE PANDEMIA EMPRESAS TÊM COMO DESAFIO PENSAR ESTRATEGICAMENTE E AGIR TATICAMENTE MARKETING DIGITAL APOIA MAS NÃO SUBSTITUI AÇÕES FÍSICAS DE DIVULGAÇÃO


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HIGHLIGHT /

ENTREVISTA AO PRESIDENTE DA AICEP LUÍS CASTRO HENRIQUES

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Portugal tem vindo a mostrar ao mundo a qualidade e inovação dos seus produtos e a capacidade inegável das empresas e dos empresários nacionais em competir com os melhores. Aliás, o sector dos moldes é um dos melhores exemplos deste facto e estão de parabéns por isso! A indústria dos moldes caracteriza-se pela inovação, nomeadamente tecnológica, e pela qualidade do seu produto, características que as empresas devem continuar a apostar e reforçar, pois se esta era uma receita vencedora antes da pandemia, não há razão para que não continue a sê-lo.

Como é que a AICEP tem acompanhado a evolução da indústria de moldes no que diz respeito ao seu posicionamento e dinâmica de promoção internacional? A indústria dos moldes tem vindo a crescer e a consolidar a sua imagem internacional de forma consistente. De acordo com os dados do International Trade Center, nos anos de 2018 e 2019, Portugal foi o 7º exportador mundial de moldes para injeção de plásticos. O sector registou um crescimento em volume das exportações de 2015 a 2018, tendo registado nesse último ano a marca histórica em valor das exportações de 640 milhões. No entanto, em 2019, houve uma quebra de 17%, uma evolução negativa nas exportações também registada pelos principais concorrentes de Portugal: a Alemanha com menos 7% e a Itália com menos 20%. De salientar que a variação das exportações mundiais de moldes para injeção de plásticos, em 2018 e em 2019, foi praticamente nula. Para explicar estes dados contribui a situação atual do sector automóvel e o peso deste nas exportações de moldes nacional. A recuperação do sector depende, por um lado, da evolução da atividade do sector automóvel, e por outro, da reação das empresas de moldes, em termos comerciais, a esta circunstância, designadamente no seu esforço de diversificação de clientes e mercados. Tal como até aqui, a indústria de moldes tem sido capaz de provar a sua qualidade, resiliência e inovação, pelo que tudo nos leva a crer que assim continuará e que será capaz de ultrapassar mais este desafio. De que forma a AICEP enquadra a indústria de moldes na sua estratégia, quer da promoção do País, quer na vertente da atração de investimento estrangeiro?

Além disso, temos assistido a uma maior diversidade de serviços de valor acrescentado, sofisticados e de forma mais integrada que incorporam cada vez mais engenharia, design e desenvolvimento de produto, prototipagem ou processos de industrialização. Julgo que podemos afirmar que as empresas do sector dos moldes competem hoje com as melhores do mundo. Claro que o contexto de pandemia nos trouxe incerteza no futuro e, por isso, é fundamental que as empresas consigam ser ainda mais ágeis e flexíveis, capazes de uma resposta rápida e procurando novas formas de contacto com o cliente. Nesta perspetiva de minimização de risco, mais do que nunca, é muito importante intensificar a estratégia de diversificação: de mercados e clientes. Diria que este ponto é fundamental. No que toca ao investimento, a AICEP tem conseguido atrair cada vez mais e melhores projetos para o País, de maior valor acrescentado e baseados num fator competitivo chave: o talento. Apesar da pandemia, desde o início do ano, a Agência conseguiu angariar 23 novos investimentos para o País, principalmente na área dos Centros de Serviços e Desenvolvimento. Alguns processos de investimento foram feitos completamente de forma digital, o que só prova a confiança que os investidores mantêm em Portugal, uma confiança que, acreditamos, se estende às empresas do sector dos moldes. A CEFAMOL tem trabalhado em parceria com a AICEP há várias décadas na promoção do sector. Como vê esta relação e quais considera ser as principais áreas de cooperação e de trabalho conjunto para o futuro? A AICEP tem vindo a trabalhar em parceria com a CEFAMOL no âmbito da promoção da indústria nacional dos moldes em mercados internacionais. A AICEP intervém, enquanto Organismo Intermédio, ao nível do conjunto de incentivos à Internacionalização do Portugal


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2020 (projetos individuais, projetos conjuntos, vales e ações coletivas), promovendo a complementaridade destes instrumentos. É neste contexto que analisa e faz o acompanhamento das candidaturas apresentadas pela Associação ao SIAC e ao SI Qualificação - Projetos Conjuntos. Com regularidade é disponibilizado um conjunto de informação, nomeadamente sobre mercados externos, dados estatísticos de comércio de Portugal e internacional, que visam o apoio à execução dos projetos. Presentemente a AICEP está a colaborar com a CEFAMOL na implementação de uma campanha promocional do sector dos moldes nos seguintes mercados: Alemanha, França, Espanha, Reino Unido, Hungria, Suíça, Eslováquia, Polónia, República Checa, Roménia, México e EUA. Esta campanha passa pela identificação de revistas e outras plataformas digitais nos mercados referidos onde a Associação possa realizar ações de promoção do sector; além da identificação de organismos institucionais e de empresas na área dos plásticos, automóvel, embalagem e dispositivos médicos. Este trabalho permitirá a realização de sessões de apresentação do sector em mercados/empresas alvo. Poderão ainda organizar-se Open Days e missões inversas. A AICEP, conjuntamente com a Cefamol, tem efetuado ações de vigilância de mercado através da realização de Webinars dedicados a mercados alvo e com enfoque em sectores estratégicos para o sector, além de missões de prospeção (ex. Irlanda na área de Dispositivos Médicos). De referir ainda que a AICEP tem colaborado com a revista Molde, editada trimestralmente pela CEFAMOL, através da elaboração de artigos sobre mercados, elencando os seus principais desafios o que, no contexto de pandemia, é fundamental para as empresas. As empresas do sector veem a promoção internacional como uma componente fundamental da sua estratégia. Quais os principais desafios que irão enfrentar nesta área? A promoção é crucial na atividade empresarial e, no contexto atual, é necessária a devida adaptação no que concerne à forma de prospeção (presencial/digital), mercados, sectores clientes. A adaptação já se verifica no sector, como é o caso da Fakuma (feira na área dos plásticos que conta com a participação de empresas nacionais), cuja edição deste ano foi virtual. Sei também que estão a surgir novas soluções de procurement industriais com o recurso à Inteligência Artificial como é o caso da Scoutbee. Algo que se afigura fundamental nesta fase é, sem dúvida, a manutenção do contacto com os clientes habituais, especialmente através de conteúdos para promoção digital. Uma vez que a captação de novos clientes é mais difícil, pela falta do contacto presencial, a manutenção dos clientes habituais é de extrema importância. Além disso, a Digitalização abrangendo várias áreas do negócio passou a ser uma prioridade imposta pela necessidade de distanciamento e pela limitação de viagens. A tendência da Digitalização já vinha a ser uma aposta da AICEP nos últimos dois anos, com uma série de novos produtos e serviços, como a aposta no E-Commerce e na capacitação das empresas. Vamos continuar a reforçar o apoio às empresas que terão na AICEP um apoio fundamental nesta fase mais complexa. Ações coletivas vs sector individuais. Como devem as empresas estruturar a sua intervenção promocional contemplando as duas vertentes? Numa economia globalizada e cada vez mais competitiva é natural que as empresas adotem diferentes estratégias de cooperação. Estas estratégias permitem às empresas, apesar de concorrentes, reunirem

esforços para a sua expansão. Estes esforços terão resultados mais evidentes em sectores onde a inovação tecnológica e os custos de I&D são mais elevados. A indústria dos moldes tem assegurado a sua competitividade através do desenvolvimento tecnológico, do correto planeamento da produção e controle de qualidade, da modernização constante dos equipamentos em utilização e do investimento na formação profissional. Num sector como os moldes em que, de facto, a inovação tecnológica e recurso a I&D são cruciais, torna-se pertinente que as empresas criem relações de cooperação, em particular nas áreas de desenvolvimento de produto, conhecimento de mercados e financeira. Assim, acreditamos que é possível ganhar escala e potenciar uma oferta mais abrangente e completa ao cliente. No ano 2020, o online e o e-commerce assumiram um papel de relevo devido, sobretudo, à pandemia de Covid-19. Como vê esta alteração, nomeadamente em negócios B2B e como as empresas poderão aproveitar novas oportunidades nesta área? No que toca à ação da AICEP, não parámos e adaptámos o apoio às empresas com novos produtos e serviços, com uma forte aposta no Digital. Por exemplo, lançámos o Acelerador das Exportações Online, uma nova funcionalidade da Plataforma Portugal Exporta, que apoia as empresas portuguesas a exportar online, também com recurso a Inteligência Artificial. Através do Acelerador das Exportações Online, as empresas acedem a recomendações de mercados digitais customizadas para o seu perfil e podem criar um plano de internacionalização digital acompanhado pela AICEP. Também desenvolvemos uma ferramenta de Diagnóstico para o E-Commerce que permite a cada empresa perceber qual o seu nível de preparação para iniciar a exportação online e receber um relatório com recomendações sobre como se preparar ou como começar a tirar partido da exportação online. Esta ferramenta de autodiagnóstico das empresas para o E-Commerce está disponível para qualquer empresa, na Plataforma da AICEP Portugal Exporta - https://www.portugalexporta.pt/ Além disso, preparámos uma série de novos produtos e serviços para capacitação das empresas, em particular com foco no E-Commerce e nos Mercados Externos, como os Webinar Market - com a participação dos Delegados da Rede Externa da AICEP, presente em diversos Países, para esclarecer as empresas sobre o impacto da pandemia Covid-19 no respetivo mercado. Houve inclusivamente um Webinar Market dedicado ao sector dos moldes para o mercado polaco e, para quem não assistiu, poderá fazê-lo aqui: https://www.portugalexporta. pt/agenda/webinar-market-polonia-2020. Outras ações incluíram a AICEP Rede Online - onde as empresas puderam ter reuniões diretamente com os Delegados - e as Missões Virtuais, como alternativa às habituais missões aos mercados.


HIGHLIGHT / Também disponibilizámos no site da AICEP toda a informação sobre os mercados internacionais, por exemplo sobre sectores com maiores constrangimentos, principais dificuldades a nível logístico, maiores barreiras à exportação, produzida pelas nossas Delegações. Esta foi uma das áreas mais visitadas do site, durante o período de confinamento, pelo que nos parece que a informação disponibilizada terá sido útil às empresas. Temos vindo a atualizar a informação regularmente. Considera que após a pandemia, esta ‘nova’ forma de promoção à distância tenderá a manter-se? Ou, no caso da indústria de moldes ou outras similares, o contacto direto com os mercados e os potenciais clientes irá prevalecer? Acredito que será um misto. Tal como mencionei, captar novos clientes é mais difícil num formato exclusivamente digital e as formas de contacto presencial, como as feiras e missões, continuam a ser uma vertente muito relevante da promoção internacional em diversos sectores, como é o caso dos moldes. No entanto, a Digitalização de alguns processos e o E-Commerce têm as suas vantagens, complementando a exportação tradicional. De facto, a Exportação Online deve ser cada vez mais encarada como uma evolução e complementaridade natural para as empresas, especialmente as PME. Como vê no futuro o papel da AICEP no apoio à indústria de moldes e qual a intervenção que preconiza nesta matéria para as delegações espalhados pelo mundo? Acreditamos que, no processo de crescimento, as empresas beneficiarão em apostar na inovação, flexibilidade e qualidade do produto/serviço. E a indústria de moldes tem evidenciado estes fatores ao longo do tempo. Portanto são de manter! Destes, de facto a inovação é o fator que destacaria para o desenvolvimento de uma empresa de moldes, e é aquele que requer mais recursos. Em primeiro lugar, cabe à empresa avaliar se tem meios financeiros, tecnológicos e humanos, capazes de encetar processos de inovação e, não tendo algum destes meios, as empresas podem e devem olhar para a AICEP como uma parceira, designadamente através dos incentivos ao investimento e à internacionalização. A AICEP apoia igualmente as empresas no desenvolvimento do seus negócios em mercados externos, nomeadamente através das suas Delegações que cobrem mais de 50 mercados internacionais, podendo prestar serviço de informação, de capacitação, ou através de outros apoios ou incentivos que gere. Acreditamos que o trabalho que tem sido desenvolvido pela Rede Externa da AICEP ao longo destes anos, em conjunto com as Representações Diplomáticas do nosso País no exterior, são uma peça fundamental para a captação de investimento e para o processo de internacionalização das empresas portuguesas, seja através de ações de identificação de oportunidades de negócio, match making com compradores e da promoção da oferta nacional, seja pela organização de missões empresariais aos mercados externos e acolhimento de missões empresariais de empresas estrangeiras a Portugal. Caso alguma empresa do sector dos moldes ainda não tenha contacto com a AICEP, sugiro que o faça para que possa receber um apoio o mais especializado possível.


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MARKETING E PROMOÇÃO DA INDÚSTRIA DE MOLDES

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Manuel Oliveira * * Secretário-geral da CEFAMOL

Ao longo da última década assistimos a um período de crescimento assinalável da Indústria Portuguesa de Moldes, originando, por um lado, a duplicação do valor de exportações do sector (entre 20102018), e por outro, o aumento da capacidade produtiva instalada, por via dos investimentos das empresas em tecnologia, equipamentos e sistemas organizacionais, permitindo alargar a sua cadeia de valor e reforçar o posicionamento no mercado internacional. Nos últimos dois anos, esta situação veio a alterar-se significativamente, quer pela instabilidade dos mercados (ex. conflitos comerciais EUAChina, Brexit), quer pelas mudanças estratégicas que o principal cliente do sector (indústria automóvel) tem vindo a sofrer - com claras indefinições, não só ao nível das motorizações, mas também dos novos conceitos de mobilidade, que têm levado a uma redução significativa do lançamento de novos projetos nesta área -, seja pelas políticas e restrições ambientais, seja pela introdução de novas tecnologias e materiais ou, mais recentemente, pelos nefastos efeitos causados na economia pela pandemia de Covid-19. Todos estes desafios têm vindo a ocorrer num curto espaço de tempo, obrigando o sector a, rapidamente, reorientar a sua estratégia de intervenção no mercado, a reposicionar-se junto de áreas industriais em constante mutação, acompanhando a introdução de novos conceitos ou todo um novo conjunto de atores que vão surgindo. Por outro lado, há que perceber e acompanhar as transformações visíveis em alguns “produtos tradicionais” que fornecemos, levando as empresas a procurar mercados e/ou clientes alternativos.

ESTRATÉGIA Nesta linha de ação, a estratégia do sector passará por reforçar a promoção em mercados tradicionais, com claro impacto em mercados de oportunidade, face à relevância e abrangência da sua atuação (ex. ações dinamizadas em França poderão ter impacto em Marrocos). Desta forma, serão conquistadas e consolidadas áreas de negócio, tecnicamente mais complexas, alargando a base exportadora por via da intervenção em cadeias de valor que se estão a desenvolver em torno destes novos conceitos (ex. soluções de propulsão diferenciadoras, infotainment ou a utilização de “materiais leves”). Tal abordagem será reforçada por uma intervenção direcionada a mercados sectoriais, quer aqueles que são atualmente o seu principal cliente, mas que passam por uma fase de grande transformação (ex. automóvel), quer por áreas industriais onde a expressão do sector é ainda residual (dispositivos médicos ou embalagem), mas onde existem grandes potencialidades de crescimento e/ou diversificação de mercados. Neste sentido, há que dinamizar a procura de novos clientes, mercados e áreas industriais mais complexas, consolidando a internacionalização da Indústria Portuguesa de Moldes, através de uma intervenção promocional inovadora, concertada e contínua, reforçando desta forma a notoriedade e posicionamento das empresas como fornecedores de soluções integradas.

Esta abordagem deverá focalizar-se no conceito “Engineering & Tooling from Portugal”, o qual procura evidenciar o alargamento da oferta sectorial, quer a montante, quer a jusante, e o desenvolvimento de um conjunto alargado de produtos e serviços que vão muito além do fabrico de moldes. Por outro lado, o reforço da utilização dos canais e plataformas digitais permitirão intensificar a visibilidade e alcançar potenciais clientes, sendo esta uma prioridade para a promoção institucional do sector e das suas competências. Tais ações de marketing digital serão apoiadas por uma ativa criação e disseminação de conteúdos (noticias, artigos, vídeos).

O PAPEL DA CEFAMOL A CEFAMOL tem assumido um papel fundamental na definição e implementação de uma estratégia concertada do sector, quer ao nível da sua promoção internacional, quer ao nível da prospetiva e análise de tendências, desenvolvendo estudos e atividades que permitem acompanhar a evolução das tecnologias, dos mercados, das principais indústrias clientes e concorrentes internacionais. Em paralelo, tem assumido a organização de ações coletivas de marketing internacional, principalmente através da realização de projetos integrados de promoção, desenvolvidos em parceria com empresas do sector, a AICEP ou outras associações sectoriais, motivando as empresas a trabalhar em rede, cooperando na partilha de recursos e obtenção de resultados – a participação em feiras ou encontros bilaterais, a organização de missões empresariais ou missões inversas têm sido alguns dos exemplos de ações realizadas. Tais intervenções têm dinamizado e apoiado as empresas a entrar em novas áreas de negócio, na procura de mercados, clientes e/ ou sectores industriais, promovendo a sua internacionalização e o alargamento da presença a nível global, potenciando a identificação de novas oportunidades de negócio para o sector. A CEFAMOL tem sido um elemento estratégico para o reforço e visibilidade das capacidades e competências da Indústria Portuguesa de Moldes, dinamizando ações que permitam às empresas capacitar os seus recursos para esta intervenção e aumentar a sua competitividade internacional. Simultaneamente, tem acompanhado a evolução do mercado, divulgando e disseminando conhecimentos e experiências adquiridas, facilitando a definição de prioridades para a sua presença global. É neste sentido que se prepara para lançar uma nova fase da campanha promocional do sector, que coloque no terreno um conjunto de ações que, de forma objetiva, sistemática e dinâmica responda às necessidades da indústria, robustecendo a sua visibilidade e reconhecimento internacional.



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AS AÇÕES E OS MERCADOS

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Em termos geográficos, a estratégia de intervenção protagonizada pela CEFAMOL vai concentrar-se em duas áreas: Europa e América do Norte, não deixando de estar atenta a oportunidades que possa identificar em outras regiões fruto da sua atividade de vigilância de mercado. Dando continuidade à campanha de imagem que tem vindo a ser dinamizada nos últimos anos, a Associação irá realizar ações coletivas de promoção e prospeção que permitam incentivar as empresas a reforçarem o seu processo de internacionalização, facilitando o acesso a potenciais clientes de diferentes áreas. Assim, e ao nível da indústria automóvel, pretende-se consolidar o posicionamento junto da cadeia de valor dos principais construtores e reforçar a imagem junto dos atuais promotores da transformação do sector. Para tal serão organizadas as seguintes iniciativas: • “Portuguese Toolmaking Days” - sessões de apresentação das empresas e suas competências através de contactos bilaterais com first e second tiers da indústria automóvel (Alemanha); • Missões Empresariais – permitindo conhecer e contactar novos players do mercado, apresentando soluções inovadoras e integradas das empresas nacionais (EUA, Reino Unido); • Encontros Bilaterais – participações coletivas de empresas nacionais em eventos que possibilitem o alargamento das áreas de intervenção do sector (Espanha, Polónia e México); • Vigilância de mercado – promoção de visitas a eventos que permitam conhecer novas tendências e tipologias de produtos, dinamizando o estabelecimento de contactos com novos players do mercado (Alemanha, Japão e China). Outra intervenção inovadora passará pela abordagem consistente e sistemática à indústria de dispositivos médicos, uma área que hoje ainda é um nicho, mas que apresenta grandes oportunidades para as empresas de moldes. Mais concretamente, prevê-se a realização de: • “Portuguese Toolmaking Days” – sessões de apresentação das empresas e suas competências, seguidas de contactos bilaterais com players da indústria de dispositivos médicos. O foco de intervenção para esta iniciativa será o mercado dos EUA; • Vigilância de mercado – organização de visitas a eventos, onde se possam conhecer tendências e dinamizar contactos com empresas que operam nesta área e que possam gerar oportunidades de negócio (ex: T4M - Alemanha); • Missões Empresariais – permitindo conhecer e contactar o mercado, apresentando soluções inovadoras e integradas das empresas nacionais. Ação prevista realizar na Irlanda; • Feiras Internacionais – dinamizar a participação coletiva de empresas em certames orientados para esta área industrial. O alvo identificado nesta fase será a Compamed na sua edição de 2022. Em paralelo, encontra-se também a organização da participação de empresas nos mais importantes eventos dedicados a esta indústria, permitindo abordar não só os sectores acima indicados, mas outras áreas industriais com potencial, como é o caso da embalagem ou eletrónica. Assim, e no período 2021 e 2022, prevê-se a participação nas feiras Fakuma, Glasstec, Moulding Expo e K’, a realizar na Alemanha, a FIP e os Plastic Meetings em França, a Equiplast em Espanha, a Plastpol na Polónia, a NPE nos EUA, a Plastimagen no México ou a Interplastica na Rússia.

Pela sua relevância e visibilidade internacional, a presença do sector nestes eventos apresenta-se de enorme relevância para a sua promoção, permitindo uma divulgação em plataformas de negócio de abrangência regional e, em alguns casos, mundial, resultado do carácter cada vez mais internacional dos expositores e, principalmente, dos seus visitantes. Está ainda prevista a realização de Missões Inversas (ou virtuais) que permitam apresentar a oferta nacional a potenciais clientes que ainda não trabalhem com o nosso país, ou que possuam pouca experiência com as nossas empresas. Os mercados-alvo para esta iniciativa serão República Checa, Eslováquia e a Roménia. A utilização de canais e plataformas digitais para reforçar a visibilidade e alcançar novos clientes será também uma prioridade para a promoção do sector e as suas competências nos próximos anos. A iniciativa “Moldes360º”, pretende, ao nível do marketing digital, promover ações de interação com potenciais clientes internacionais, seja na organização de missões inversas, seja na promoção de contactos com empresas participantes no projeto. É intenção da CEFAMOL que esta iniciativa seja um upgrade digital a toda a estratégia promocional desenvolvida, apostando em elementos distintivos, recorrendo em parte a boas práticas identificadas noutros sectores de atividade. Tal intervenção será ainda complementada com a criação de notícias, vídeos e artigos promocionais da indústria para publicação em revistas técnicas (ou sites) internacionais, suportada pelo lançamento de uma newsletter mensal, em formato digital, com o intuito de promover o sector, suas atividades e boas práticas

CONCLUSÃO Em suma, pode referir-se que as iniciativas aqui elencadas e que servirão de base ao novo plano de promoção da Indústria Portuguesa de Moldes, liderado pela CEFAMOL, terão como principais objetivos: • Incrementar as exportações, apoiando as empresas no seu processo de internacionalização, integrando-as em redes de fornecedores, promovendo a prospeção e desenvolvimento de oportunidades comerciais e de parceria nos mercados-alvo; • Conquistar cadeias de valor globais e mercados tecnicamente mais complexos, diversificando simultaneamente os mercados sectoriais onde atua; • Dar continuidade à campanha de imagem, a nível internacional, que tem vindo a ser desenvolvida ao longo dos últimos anos; • Implementar uma campanha de marketing digital que promova as capacidades e competências da indústria, reforçando a sua notoriedade e, principalmente, a interação com potenciais clientes e stakeholders; • Constituir um observatório de tendências e análise de concorrência que disponibilize informação atualizada sobre as melhores práticas e que mantenha o sector informado sobre os resultados de excelência para os quais devem orientar a sua atividade; Esta intervenção visa apoiar e complementar as estratégias individuais das empresas, reforçando o posicionamento do sector em cada mercado e área de atividade, como resultado das várias iniciativas de promoção internacional. Tais iniciativas facilitarão a definição de estratégias de abordagem promocional, comercial, de marketing e de imagem por parte das empresas e, serão fundamentais para o aumento das exportações nacionais, consolidando a sua intervenção em mercados tradicionais e penetrando em novos mercados de elevado valor acrescentado.


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José Ferro Camacho * * Professor de Economia e Gestão no IADE-Universidade Europeia

1. A DOIS TEMPOS A Covid-19 introduziu dificuldades adicionais à actividade das empresas. Estas dificuldades resultam, a um primeiro nível, da redução do consumo e das suas consequências nos sistemas industriais a montante. A um segundo nível, desenvolveu vários elementos de incerteza: 1) a duração do período de combate; 2) o número, a dimensão e as consequências económicas e sociais das ondas de infecções; 3) o nível final da recuperação do consumo e do investimento e, por último, 4) as mudanças nos padrões de consumo. A incerteza é um dos piores inimigos do sector dos moldes e ferramentas. Pela natureza da actividade, posicionada no núcleo do investimento em novos produtos, a incerteza anula ou atrasa estes desenvolvimentos. Neste contexto, a comunicação e o marketing envolvem dois tempos. Um primeiro, de curto-prazo, que equaciona uma reposta aos níveis de incerteza e posiciona as empresas portuguesas para o ciclo pós-Covid: necessita de investimento, coordena os instrumentos existentes,

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COMUNICAÇÃO E MARKETING: NOVOS DESAFIOS PARA AS EMPRESAS DE MOLDES E FERRAMENTAS

missões e encontros, e articula as actividades com a promoção da marca coletiva, Engineering & Tooling from Portugal. A um segundo tempo, de longo-prazo, que promove as transformações necessárias a um novo ciclo de actividade, assente na renovação das vantagens competitivas.

2. DESTINATÁRIOS Ao longo dos anos, as empresas do sector dos moldes e ferramentas alargaram a sua cadeia de valor, desenvolveram novas competências, estabeleceram componentes de serviço e aprofundaram os modos de relacionamento com os seus clientes. Trabalhar com uma empresa do sector pode ser uma experiência marcante, pela riqueza das interacções. Contudo, o marketing e a comunicação das empresas, como uma montra para o mundo, estão ainda muito longe da complexidade e da sofisticação desta experiência. Esta lacuna pode fazer a diferença junto de clientes. Num futuro já presente, esta omissão diminuirá igualmente a capacidade de atrair e de reter novos colaboradores, novos talentos.


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O mercado é conhecido mas, para as empresas industriais, novos formatos de comunicação e marketing podem ser um desafio. No entanto, este passo pode ser indispensável quer porque os competidores se estão a mover neste sentido, quer porque face aos concorrentes asiáticos este pode ser um elemento diferenciador. No mundo actual, é insuficiente a descrição dos equipamentos, a ilustração das certificações ou a lista de clientes. Que características podemos encontrar neste domínio? • Os intervenientes do lado do cliente tomam decisões em nome de organizações, empresas, muitas vezes com valores monetários substanciais; • Contudo, são pessoas singulares, que muitas vezes podemos nomear uma-a-uma; • As necessidades estão mais claras e são específicas; • O ciclo de interacção e vendas é longo; • Os produtos apresentam-se complexos; • Existem habitualmente várias pessoas envolvidas, direta ou indiretamente. E, apesar da evidente componente tecnológica, uma boa comunicação continua a requerer simplicidade, que fique na memória e que estabeleça um vínculo emocional. Perguntemos aos comerciais que saberão clarificar este último aspeto. As empresas competem entre si, e com outros sectores, para contratar e reter pessoas com as competências adequadas. É uma tarefa sempre inacabada. Contudo, quase tudo o que for produzido, incluindo o núcleo da estratégia de comunicação e marketing, vai ter impacto sobre futuros trabalhadores e quadros da empresa. Eles vão ler e avaliar todo este conjunto de elementos na altura de escolher onde trabalhar. Estas mensagens são-lhes também destinadas.

3. FERRAMENTAS Embora os instrumentos habituais como missões comerciais, presença em feiras ou um bom flyer institucional e / ou comercial se mantenham, outras ferramentas começaram a tomar lugar num acelerado processo de transformação. Uma parte importante da possível resposta está online, pela reorientação da atenção, que parte de um esforço nos instrumentos tradicionais para uma ênfase em conteúdos educacionais, demonstrativos, no portal da empresa. Com que objetivo? Criar atenção e confiança. O B2B (business-to-business) actual assenta, de uma forma crescente, na selecção de fornecedores que começa antes do contacto comercial, na procura dos traços de confiança que a presença do fornecedor nos mercados e online criou. Esta avaliação comporta: • A presença no mercado • O portal da empresa • A marca e a reputação • O desempenho e os trabalhos anteriores • A presença nas plataformas digitais e sociais Quais são as pessoas que interessam? Como conseguir a atenção e os acessos destas pessoas? Para esta abordagem, para esta identificação, não é possível ser abrangente, é necessário ser específico na sua caracterização e na

utilização de instrumentos e de conteúdos que captem a sua atenção e confiança. Este grupo de pessoas inclui, não só os decisores diretos, que assinam o contrato, mas também o conjunto de pessoas que no âmbito dos clientes toma decisões parcelares ou que influencia o curso das escolhas. Nesta perspetiva, o conjunto da jornada, de todo um ciclo, que começa por uma percepção / reconhecimento inicial até à instalação e lançamento em produção, necessita de ser caracterizado e os intervenientes relevantes identificados. Instrumentos como as Personas podem dar uma ajuda importante. São representações semi-ficcionais dos interessados ideais, construídos com base na informação já existente na empresa e complementada com estudos e dados específicos. Permitem direcionar as acções e os conteúdos para personagens específicos ao longo do ciclo. O inbound marketing tem sido, igualmente, objecto de crescente adopção. O inbound marketing procura despertar o interesse do cliente com conteúdos pertinentes para o direccionar para o produto e para a empresa. Contrasta com o outbound marketing, mais tradicional, que favorece o uso de publicidade física ou digital. Esta atração é promovida através de conteúdos para o público pertinente da empresa. Deste modo, é necessário que estes conteúdos sejam de qualidade e que comuniquem com as pessoas certas. Como a ideia principal é atrair o público e despertar nele um interesse verdadeiro nos produtos ou serviços da empresa, é preciso compreender quem são esta pessoas. Quais são os seus interesses, questões e desafios é o primeiro passo para disponibilizar materiais/ conteúdos que os ajudem a solucionar os problemas que tem ou a oferecer uma resolução ainda não identificada e que coincide com o serviço/produto que a sua empresa oferece. Depois é necessário converter estes “leads” para formatos de interação como email ou outros que favoreçam a interação personalizada. O processo está modelado por duas características: 1) esta é uma comunicação que pode ser caracterizada como uma “conversa” com pessoas muito concretas inseridas numa rede de relações interior e exterior à empresa que ajudam a formar a confiança; 2) estes intervenientes trabalham e vivem num ambiente formado por outras experiências pessoais ou profissionais; não esperam uma menor qualidade de interacção só porque é proporcionada por uma empresa industrial.

4. COMO AVANÇAR No mercado, as condições competitivas estão a endurecer e impulsionam transformações na combinação das vantagens competitivas necessárias a este novo ciclo. Esta formulação introduz uma linha de continuidade de intervenção que necessita do estabelecimento de uma estratégia materializada num plano e em objetivos que maximizem a eficiência. Este passo estende-se na adoção de abordagens, ou combinação de abordagens específicas — personas, conteúdos, inbound marketing, etc. — que permita atingir os objetivos e seja consistente com a atividade da empresa. Destes recursos constam: website; email; passa-a-palavra; marketing digital; webminar; conteúdos educativos; vídeos; casos de estudo; presença em feiras e em exposições. A sua correta selecção estabelece a eficácia e a congruência com o posicionamento da empresa. A sua adequada implementação e sequência define a eficiência. O sucesso desta combinação de abordagens tem uma métrica: gerar o maior número de contactos de interessados ao longo de todas as etapas do processo de trabalho do cliente, para aumentar a oportunidade de obter projetos e negócios e melhorar a possibilidade da sua adequada execução.


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REFORÇO DE IMAGEM É CHAVE PARA A PROMOÇÃO INTERNACIONAL

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Helena Silva * * Revista “Molde”

TRABALHO DE EXCELÊNCIA DAS EMPRESAS NACIONAIS É A MELHOR PROMOÇÃO DO SECTOR NO ESTRANGEIRO A opinião é unânime entre as empresas do sector: o sucesso da indústria de moldes nacional resulta de uma relação de confiança, proximidade e em constante diálogo com os clientes. Ora, num momento em que o contacto direto é travado pela pandemia, como conseguem as empresas promover-se e conquistar clientes? Com muito trabalho, criando formas originais de chegar aos mercados. Mas também beneficiando do rasto de qualidade que os moldes portugueses têm deixado pelo mundo, criado pela excelência que as empresas colocam em tudo o que fazem. Esta marca do sector, resultante de um esforço concertado entre empresas e instituições, é valorizado pelo conjunto de organizações que ouvimos. A maioria diz que o trabalho feito tem permitido, em muitos casos, conquistar a confiança de mercados, ainda que à distância. Tem sido um trabalho hercúleo. Com viagens, visitas e todos os eventos programados a ser cancelados devido à pandemia de Covid-19, as empresas tiveram de se reinventar. Isso foi o que aconteceu à Imtec, segundo conta António José. A empresa, diz, “teve de se reinventar, ou seja, os nossos comerciais têm sido incansáveis na procura de trabalho, tanto de novos clientes, como no fortalecimento de laços com os nossos clientes habituais”. As viagens reais, adianta, foram substituídas pela navegação virtual, na internet.

REGRESSO DAS VIAGENS Reconhecendo o trabalho de promoção dos moldes portugueses, António José considera, contudo, que nesta questão, poderia haver algum incremento. “Um maior contributo seria sempre bem-vindo, a nível de imagem do sector, promovendo-o a nível internacional”, diz. Sugere, como exemplo, que a própria associação, a CEFAMOL, possa, de forma mais intensa e regular, “arranjar estrategicamente mercados e convidar as empresas vocacionadas para esse tipo de mercados, como moldes técnicos, automóvel, eletrodomésticos, medicina, entre outros”, e proporcionar essa ligação entre uns e outros. António José acredita que, já em 2021, as empresas possam voltar a viajar e visitar clientes e mercados. “Penso que os mercados irão abrir mais um pouco”, explica, salientando que a empresa está preparada para essa possibilidade. “Vamos ter de ir à luta, esperando que tudo volte à normalidade, mesmo que o flagelo da pandemia não se vá embora de vez”. Mas deixa uma nota de otimismo: “Temos que voltar a viajar e fazer visitas aos nossos clientes habituais, mas também visitar os clientes que contactámos ao longo desta fase de pandemia, porque temos a convicção de que 2021 vai ser o ano da afirmação da nossa empresa no mercado mundial”.

Com isto, e apesar da grande diferença que implica na relação com os clientes, a ligação tem, no entanto, continuado “coesa, fruto de um bom trabalho de qualidade”. E, no seu entender, qualidade é, neste caso, a palavra-chave. A criação dessa imagem, nos últimos anos, tem sido a prioridade da empresa. E tem conseguido, através do trabalho e da satisfação dos clientes. Tem sido essa imagem que a empresa tem mostrado ao mundo. “A imagem da Imtec tem sido levada aos mercados, quer de uma forma direta - como a participação em feiras e visitas a empresas, enquanto isso foi possível -, quer de uma forma mais indireta, através da divulgação nas redes digitais”, conta, explicando que “o retorno deste trabalho é demorado, mas vai acontecendo e vamos seguindo com a nossa identidade e evolução estratégica”. E estrategicamente a empresa foi-se posicionando em vários tipos de produtos, abarcando diversos mercados e não dependendo em exclusivo da indústria automóvel, ao contrário do que acontece com outras empresas do sector. Aliás, sublinha António José, “tivemos de criar mais duas empesas, para dividir os sectores, e isso tem vindo a ser uma mais-valia para o grupo”. Seja na conquista de novos mercados, seja no aumento do portefólio de clientes.

/ / António José - IMTEC

MOLDWORLD: DISTÂNCIA NÃO ESTIMULA CONFIANÇA São novos tempos. E, com eles, nascem novos paradigmas. E sobretudo muitas incertezas. Paulo Ferreira Pinto, da Moldworld, não tem dúvidas de que, com este distanciamento entre fornecedor e cliente, imposto pela pandemia de Covid-19, a imagem das empresas dificilmente chega ao seu destino de forma eficaz. “Não é espectável que num momento de tão baixa procura, a promoção tenha um efeito concreto”, considera. Dito de outra forma, no seu entender, “não é de esperar que uma empresa coloque uma primeira encomenda num fornecedor, numa altura destas”. E vai até mais longe: “Com toda a franqueza, se uma empresa nos vier colocar uma primeira encomenda, interrogo-me em relação à razão, porque é muito improvável”.


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E isto porque o relacionamento entre fabricantes de moldes e clientes é estruturado numa base forte de confiança. “Fazemos produtos de engenharia, logo, quando um cliente nos coloca um pedido, está a colocar um voto de confiança na capacidade da empresa em executar essa ferramenta que criará o seu produto”, reforça, lembrando que só se consegue isto havendo confiança e que esta só se conquista ao longo do tempo. E é, sobretudo, sustentada em relações presenciais. Por isso, num período como o que o mundo vive, defende que “este é o momento de capitalizar com as relações estáveis que se conseguiram desenvolver nas fases positivas”. E de sobreviver a este período. “O efeito da promoção neste momento é muito menos interessante do que nos momentos positivos. Aí é que tem de se alargar portefólio, de conseguir solidificar e consolidar relacionamentos, criando uma imagem positiva que se possa usar em alturas como esta”, enfatiza.

NOVO RELACIONAMENTO Não tem, por isso, qualquer hesitação em considerar que o momento pandémico criou alterações neste relacionamento com os clientes. “A partir do momento em que deixa de haver possibilidade de viajar e de contacto físico ou presencial, claro que há alterações”, considera, frisando que os meios habituais de contacto à distância não substituem essa proximidade que tem o encontro real. “O impacto que isto possa vir a ter nos relacionamentos de futuro é ainda desconhecido”, sustenta, considerando que “isso está dependente do tempo que durarem estas restrições, mas também da forma como vá regressar a estabilização, aquilo que consideramos o voltar ao normal”.

MOLDOPLÁSTICO: DIVERSIFICAR ATIVIDADE PARA ALCANÇAR NOVOS MERCADOS A Moldoplástico construiu e consolidou uma imagem de qualidade, reconhecida pelos mercados e que sido um dos importantes fatores de atração de clientes. A empresa, que comemorou os seus 65 anos, em 2020, teve, com as restrições impostas pela pandemia de Covid-19, de alterar alguns procedimentos e metodologias e criar novas formas de se posicionar no mercado, conta o seu administrador Carlos Silva. “Muitas das vezes, como se diz na gíria popular, não tínhamos de pegar na mala e ir à procura de trabalho, o facto de sermos uma empresa reconhecida internacionalmente, fazia com que fossemos procurados e abordados por muitas empresas, em alguns casos até por quem não mantínhamos quaisquer relações comerciais e mesmo com os “picos” de maior ou menor trabalho, frequentes neste sector, a verdade é que eramos considerados no momento da decisão independentemente de esta ser ou não favorável. Agora tudo está a mudar, fruto das muitas indecisões e principalmente da incerteza que esta pandemia nos trouxe, as consequências são muito gravosas porque a escassez de trabalho é transversal a todos e obviamente que a concorrência e competitividade é muito maior e mais agressiva.

E esse normal pós-pandemia pode, por exemplo, traduzir-se naquilo que designa como “uma moralização das viagens”. Ou seja, que estas se restrinjam ao estritamente necessário. “É que também é verdade que temos vindo a assistir a algum excesso e, muitas vezes, exagero. É possível que se venha a assistir a um novo ‘bom senso’ na forma como vamos viajar”, explica. Até chegar esse momento, considera que qualquer estratégia é uma boa estratégia desde que a empresa fornecedora consiga alcançar os seus clientes. Defende, por isso, que desde o online ao presencial, todas as ações realizadas acabam por dar os seus frutos, considerando apenas que as tradicionais feiras foram, com os anos, perdendo a sua capacidade de gerar negócios. E tornaram-se em quê? No seu entender, são, por um lado, a possibilidade de conseguir uma primeira abordagem em mercados onde a empresa não está; e, por outro, são um evento social onde as empresas já têm a sua posição consolidada. “Uma vez que a participação em feiras tem um custo expressivo, é importante termos este aspeto em consideração”, adverte, sublinhando que se esses custos forem, de alguma forma, diluídos por se tratar de uma participação coletiva (exemplifica com as ações que, a este nível, a CEFAMOL promove) esta pode “ser uma forma interessante porque aumenta a importância da participação, que passa a ser coletiva, afirmando os moldes portugueses como um todo”. E a construção desta imagem a nível internacional é, para si, vital. “Uma imagem de prestígio, notoriedade e visibilidade internacionais: isto é extremamente importante para todas as empresas”, sublinha, adiantando que, no seu entender, “isto tem sido, genericamente, bem feito”.

/ / Carlos Silva - MOLDOPLÁSTICO

Com esta pandemia tivemos de nos adaptar, o contacto directo quase não é possível, pela limitação e restrições das viagens, pelos receios de viajar, pela ausência de feiras e por isso, fazemos o possível aproveitando as ferramentas digitais que temos ao dispor tais como, vídeoconferências, apresentações virtuais da empresa e com as quais procuramos dar-nos a conhecer, reuniões de trabalho online e até ensaios virtuais, entre outras metodologias que tivemos que adoptar”, explica, sublinhando que “no fundo, acabamos por usar ferramentas que antes não eram assim tão normais porque havia o contacto presencial tradicional e que sempre foi o mais privilegiado”. Mas esta nova forma de comunicar aplica-se, sobretudo, aos clientes habituais, salienta. Para chegar a novos destinos, a empresa tem procurado implementar estratégias diferentes, quase todas assentes em ferramentas e plataformas digitais. Não tendo a sua atividade centrada exclusivamente na indústria automóvel, a Moldoplástico opera em vários sectores de atividade. Apesar disso, refere Carlos Silva, “A nossa política sempre foi a de diversificar e de procurar novos nichos e novos mercados, esta filosofia


de actuação deve-se essencialmente ao facto da tipologia de moldes que fabricamos e à nossa capacidade de fabricar moldes de grande dimensão. O problema é que “quando há falta de trabalho, assim de uma forma generalizada, tudo é bem mais difícil, porque o mercado torna-se mais aberto, mais concorrencial e mais especulativo”. Uma das mudanças que a empresa procurou implementar nestes últimos tempos, e que já havia sido utilizada no passado foi a de encontrar parceiros e representantes em países estratégicos e, com isso, contrariar o tal distanciamento “Temos vindo a procurar quem nos possa representar em alguns países que identificámos como chave, isto é algo que já tivemos há muitos anos, mas que, de alguns anos a esta parte, por vicissitudes diversas deixamos de ter” conta. “Esta medida visa sobretudo permitir a tal proximidade, e todos sabemos o quanto esta é extremamente importante e por vezes determinante para se conseguir fechar negócios”, relata, frisando que “os vídeos e as apresentações à distância são úteis, mas por vezes não reflectem a realidade e a capacidade real das empresas”.

A LIDERANÇA As feiras internacionais eram, no período pré-pandemia, uma das grandes apostas da empresa. “Participámos em praticamente todas as feiras internacionais, pelo menos as de grande dimensão e as que mais se adequavam ao perfil da nossa empresa, aliando-nos, nisso, à CEFAMOL”, conta, salientando que esta promoção sempre se mostrou eficaz, uma vez que abria portas a contactos, visitas e novas oportunidades de negócio.

Contudo, lembra que a atividade no sector já começava a mostrar sinais de abrandamento antes da pandemia. E isso levou a que a empresa procurasse desenvolver uma atitude comercial mais agressiva. “Hoje, a situação é bem diferente e por isso temos de procurar trabalho de forma insistente, a estabilidade deu lugar à instabilidade, e à que procurar alternativas e soluções”, enfatiza. Mas não só. Em paralelo, procuram “perceber, junto de clientes e de outras entidades e organizações, o que vai acontecer no período pósCovid e qual será a evolução deste sector”. Isso vai permitir “de uma forma estruturada perceber qual vai ser a realidade pós-pandemia e, com isso, dentro das possibilidades ter a empresa preparada”. Lembra ainda que, neste momento, a indústria de moldes nacional se debate com um problema que é, ironicamente, o oposto dos anos mais recentes, o excesso de recursos humanos para a quantidade de trabalho que existe. “Esta situação acarreta um desafio enorme, que tem a ver com a liderança das empresas”, afirma, considerando que, “as empresas têm de se reorganizar e de criar e definir estratégias que possam ser ajustáveis e adaptáveis à incerteza dos tempos actuais. Privilegiar o capital humano ou recorrer a serviços externos?”. A nível global, no seu entender, a indústria de moldes portuguesa necessita de reforçar a sua imagem internacionalmente e de uma vez por todas dar sinais inequívocos da sua qualidade e da sua força. Exemplifica com o que se passou num passado bem recente com outras indústrias, como a da cortiça, o vinho e o calçado que, no seu entender, “souberam vender bem a sua imagem no estrangeiro e que são consideradas hoje de forma unânime de grande qualidade” isso é

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inquestionável. A indústria de moldes nacional precisa urgentemente de fazer o mesmo, para que os clientes, quando pretendem comprar um molde pelo menos “vacilem” no momento da tomada de decisão, a qualidade e a segurança de fazer um molde em Portugal têm de ser sempre pontos a nossa favor, quando este compara com as propostas de outros fabricantes”, defende.

WEMOLD: SINAIS POSITIVOS EM 2020 ABREM BOAS PERSPETIVAS DE FUTURO E&T, AFR, Tecnifreza e Planitec. São as quatro empresas que compõem o grupo WeMold. Apesar de diferentes nas suas estratégias, mercados e objetivos, todas procuram, naturalmente, alcançar os melhores resultados. A pandemia de Covid-19 trouxe grandes restrições à circulação, o que levou a um arrefecimento dos negócios num sector onde o presencial é, ainda, o motor da confiança entre o fornecedor e o seu cliente. É por isto natural que o grupo sinta alguma dificuldade em concretizar o que é um dos seus anseios: a conquista de novos clientes. “É muito importante estar sempre ativo e ir conquistando novos clientes e novas áreas. Por outro lado, há mercados que temos intenção de desenvolver, nos quais ainda temos uma presença reduzida”, explica Joe Santana, CEO do grupo. Por enquanto, com as deslocações suspensas, as empresas vão procurando incrementar formas, online, de comunicar com os clientes habituais e, sobretudo, de procurar cativar novos.

atividade, lembra. Por isso, as empresas do grupo que trabalham áreas mais diversificadas e abrangem os sectores da indústria médica ou packaging “têm sofrido menos com a situação da Covid-19”. Joe Santana manifesta-se “otimista”, explicando estar convicto de que, nos primeiros seis meses de 2021, esta fase de adormecimento começará a desvanecer e será substituída pelo surgimento de nova dinâmica económica. “Há muitos projetos que foram postos em espera e que, esperamos, serão ativados nessa altura”, considera, salientando que, com isso, “a indústria começará novamente a crescer”. Contudo, no seu entender, trata-se de um processo que será gradual e caminhará lentamente. No seu entender, uma coisa é certa: no final de 2020, voltou a vislumbrar-se um sinal de confiança nos mercados. E isso, diz, “é um sinal positivo”.

COMUNICAÇÃO Não vendo as redes sociais como uma grande oportunidade para a indústria de moldes, Joe Santana relata que “há outras estratégias, algumas delas digitais, que estamos a usar no grupo e que já usávamos antes da pandemia”. O essencial, considera, é “pôr uma ênfase mais forte na comunicação: temos de ser bons comunicadores”. Por isso, considera que uma vez terminada a pandemia, algumas destas ferramentas vão continuar a ser usadas como meios privilegiados de comunicação. Até porque, salienta, têm vantagens. “Às vezes, as dificuldades criam oportunidades e melhoram as nossas capacidades. Conseguimos fazer melhor certas coisas porque estamos a viver momentos mais difíceis, o que nos faz aprender mais e mais depressa”, defende, adiantando que este momento pandémico pode ser encarado como um desses exemplos. Antes da Covid-19, relata, as feiras internacionais – nas quais as empresas participavam – sempre demonstraram ter impacto positivo na atividade. “Quando se fazia o contacto com cliente, havia o encontro na feira. Era um complemento. E as feiras eram uma oportunidade única de ter uma comunicação direta com clientes e mercados”, explica, frisando que, com a suspensão da realização destes eventos, “tudo isso desapareceu”. Por isso, assegura, “estamos ansiosos que as feiras voltem”. Mas as presenciais porque em relação às feiras virtuais que se têm realizado, Joe Santana conta não ter ficado, até agora, com boa impressão sobre o seu resultado.

/ / Joe Santana - WEMOLD

O responsável admite que esta não é tarefa fácil, tanto mais que as restrições à circulação, levaram à criação de um novo paradigma de negócio no qual todos estão a aprender, passo a passo. “Tentamos ser mais agressivos”, explica. E isso, no seu entender, implica “conseguir implementar uma certa criatividade, que permita conquistar, quer os já clientes, como chegar a outros que têm algum potencial”. As quatro empresas têm características diferentes, mas, em comum, partilham a importância dada à indústria automóvel. “É natural porque é o sector mais importante a indústria de moldes nacionais”, justifica. Mas este é, precisamente, o sector que mais tem refreado a sua

Nessas feiras internacionais e um pouco por todo o mundo, Joe Santana diz ter encontrado sempre uma opinião muito boa dos moldes portugueses. “A ideia com que fiquei sempre é que Portugal tem uma reputação enorme em relação ao cluster dos moldes, criado na Marinha Grande e em Oliveira de Azeméis”, considera, contando que “muitas vezes, quando falo com clientes e potenciais clientes, Portugal e os moldes são considerados como uma força grande”. Isso, no seu entender, é resultado de um “trabalho bastante bom” de promoção internacional. E essa imagem, defende, “é, seguramente, muito benéfica para as empresas de moldes”. Na sua opinião, o caminho, a este nível, está a ser bem construído. Mas é essencial que esta promoção internacional tenha sempre grande ênfase em questões como a inovação e a tecnologia, e nunca pelos preços. “Portugal tem crescido exponencialmente neste sector e esta força industrial tem de continuar a ser promovida de forma a ganhar ainda mais força”, defende.


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WEBINAR REFLETE SOBRE INTERNACIONALIZAÇÃO

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Uma “prudente esperança” de que nos próximos seis meses, Portugal e o mundo estejam em melhor situação, seja económica ou seja de controlo da pandemia de Covid-19, foi manifestada por Paulo Portas no decorrer do webinar ‘A internacionalização do seu negócio passo-a-passo’ que, organizado pela CEFAMOL e a Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), decorreu no dia 16 de dezembro. Paulo Portas, vice-presidente da CCIP, sublinhou que, na ótica de quem sofreu, e ainda sofre com a pandemia de Covid-19, “não é uma banalidade pensar que, em 2021 possa ter início a etapa final de uma perturbação da vida a todos os níveis”. Por isso, enfatizou, “em princípio, 2021 será melhor e 2022 ainda melhor”. No entanto, fez questão de chamar a atenção para um facto: o arranque das economias não terá lugar de forma simétrica. Pelo contrário, será marcado por diversas assimetrias. Como exemplo, lembrou que a pandemia foi propagando o seu impacto, primeiro na Ásia, depois na Europa e a seguir nas Américas e assim sucessivamente, em diferentes vagas. Ora, no seu entender, no que toca à retoma económica, os Estados Unidos da América estão em melhor condição de ascender, uma vez que a quebra na economia, este ano, ascenderá a cerca de 4%, metade do que cairá a economia europeia (cerca de 8%). Por contraste, destacou, a economia chinesa crescerá em 2020, entre 1 a 2%.

DESAFIOS Nesta sessão, que contou com a presença ‘virtual’ de cerca de 130 participantes, foram abordadas diversas perspetivas dos mercados internacionais para 2021, bem como o posicionamento da indústria de moldes no contexto mundial. A esse nível, João Faustino, presidente da CEFAMOL, salientou que a Associação “terá um papel estruturante na nova dinâmica que se prevê para o sector”. Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL, deu conta dos desafios que o sector tem pela frente ao nível dos mercados, destacando a indefinição no automóvel (o principal mercado dos fabricantes de moldes portugueses), as mudanças nas cadeias de valor nessa indústria, assim como o surgimento de novos players ou os novos conceitos de mobilidade. Destacou o importante papel que já tem e continuará a ter a digitalização, no futuro das empresas e deu conta também da estratégia que a Associação tem para os próximos dois anos: consolidar os mercados tradicionais e conquistar e reforçar a sua posição noutros, como os Estados Unidos ou México, e, em simultâneo diversificar e penetrar em novas áreas de atividade. Para isso, a CEFAMOL tem calendarizadas várias ações, ao longo dos dois anos, que passam por marcar presença nos principais eventos mundiais do sector, bem como promover encontros entre fabricantes e fornecedores, seja dos atuais, seja de novos mercados geográficos. No webinar, Andreia Jotta, diretora de Marketing da CCIP, apresentou um conjunto de ferramentas digitais que, a baixo custo, estão ao dispor das empresas para que incrementem a sua posição online e a internacionalização dos seus negócios.

/ / Paulo Portas - CCIP

Ainda sobre a economia europeia, advertiu que “o que nos interessa é saber se em 2023 já vamos estar ao nível de 2019”. Considerou, a este nível, que o Plano de Recuperação criado para apoiar, nesta fase, os 27 países foi “um progresso em relação à Europa que tínhamos antes”. Em relação a Portugal, salientou que o país necessita da globalização para voltar a crescer e, sobretudo, da “confiança das empresas”. Exortou, por isso, os empresários a recorrer aos apoios que tiverem ao seu alcance, frisando que no caso da indústria de moldes, esta está bem posicionada para o fazer, uma vez que esteve sempre inserida nos dois eixos principais deste programa de apoio: digitalização e economia circular. Paulo Portas manifestou ainda preocupação em relação ao impacto que está a ter a pandemia em África, defendendo que é necessário que os países das economias mais desenvolvidas tomem medidas para “não sufocar a economia africana”.

Já Pedro Magalhães, diretor de Comércio Internacional da CCIP, elencou algumas das ações que a instituição tem promovido como forma de apoiar as empresas portuguesas a encontrar parceiros/ clientes em vários mercados pelo mundo. E apresentou um conjunto de missões previstas para decorrer no ano de 2021 em diversos países de África, do Médio Oriente, da América do Sul ou da Europa. Na sua opinião, a pandemia de Covid-19 veio dar maior destaque aos eventos, no entanto “muitos negócios ainda dependem da ação presencial para terem sucesso”. E é nesse ponto que assentará a estratégia de promoção da CCIP para 2021. A sessão contou ainda com a presença de Alexandra Morais, coordenadora comercial de negócio internacional na direção de Marketing de Empresas da Caixa Geral de Depósitos que apresentou um conjunto de ferramentas e operações bancárias que, na sua opinião, constituem um suporte fundamental no comércio internacional, uma vez que, e entre outros exemplos, tornam as operações (como pagamentos e recebimentos) mais seguras.


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FERRAMENTAS DIGITAIS PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO

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Andreia Jotta * * Diretora de Marketing e Comunicação na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa

Google Trends ou Market Finder são algumas das opções a considerar. Permitem segmentar as nossas pesquisas por palavras-chave por país e idioma, indicam a quantidade de pesquisas locais mensais e o grau de competição com outras marcas. Também nos ajudam a conhecer a sazonalidade do volume de pesquisa de determinados produtos ou serviços e segmentar por idioma ou localização geográfica. Através do Answer the Public conseguimos introduzir palavras-chave e ele devolve-nos uma lista de perguntas que os utilizadores fazem relacionadas com ela. É uma ferramenta muito interessante para sabermos quais as perguntas que o nosso público-alvo está a fazer nos motores de pesquisa. / / Andreia Jotta - CCIP

A pandemia de Covid-19 alterou as formas de trabalho e relacionamento e contribuiu para acelerar a transformação digital já em curso em muitas organizações. As empresas agora, mais do que nunca, têm de tirar partido de uma presença digital para promover os seus negócios, e nos negócios internacionais não é diferente. A implementação de uma estratégia de marketing digital internacional é uma ferramenta indispensável para qualquer empresa que queira internacionalizar. Não só permite que seja possível efectuar validações sobre ideias, produtos ou serviços que pretendemos exportar, mas também efetuá-lo com um custo reduzido para as organizações. Não é surpresa para ninguém que a grande maioria dos consumidores ou compradores profissionais utiliza a Internet (motores de busca, redes sociais, etc.) para encontrar informações sobre fornecedores, produtos, marcas, concorrentes, etc. Por isso, nós também temos de lá estar! O marketing digital é uma poderosa alavanca para a internacionalização. Mas quais são as ferramentas e opções que tenho à minha disposição? Não basta “traduzir” o nosso site e lançá-lo para conquistar novos mercados. Precisamos de implementar estratégias concretas através de ferramentas concretas. A redes sociais são um “altifalante” perfeito para atingimos um público enorme. Se, além disso, realizarmos um estudo preliminar do mercado em que queremos ter presença e conhecermos e analisarmos sua cultura, hábitos de consumo, o seu “modo de vida”, poderemos implementar estratégias de marketing mais precisas. É importante adaptarmos as comunicações ao mercado para onde vamos bem como os conteúdos do nosso site, nomeadamente até ponderar utilizar domínios locais como .es, .fr, entre outros. Mas não basta adaptarmos o nosso site, temos de o dar a conhecer, posicionar e alcançar as primeiras posições nos motores de busca. Nesta vertente, uma boa estratégia de SEO desempenha um papel fundamental. Existem também algumas ferramentas gratuitas que nos ajudam a fazer uma primeira validação da receptividade do nosso produto ou serviço no mercado-alvo.

Agora que já temos um overview do nosso mercado e analisámos as pesquisas, o objectivo é captar a atenção desse público. Podemos optar por uma estratégia de anúncios pagos, nomeadamente o Facebook Ads, que possibilita uma grande segmentação internacional, seja por sexo, gostos, localização geográfica ou interesses. Ou pelo LinkedIn, numa perspectiva de captação de leads, nomeadamente através de campanhas in-Mail com formulário disponibilizado pela própria rede, que têm uma elevada taxa de conversão, e permitem, segmentarmos a nossa mensagem tendo em conta variáveis como localização geográfica, tipologia de empresa, cargo, entre outras. Tudo isto deverá estar enquadrado no âmbito do marketing inbound, uma metodologia comprovada tanto para as empresas B2B como B2C, que procuram atrair mais tráfego da web, gerar leads de qualidade e aumentar as vendas internacionalmente. Esta estratégia representa a mudança das empresas em “tentar encontrar clientes” para “serem encontrados por potenciais clientes qualificados”. Na sua essência, o inboud marketing é o marketing de conteúdo e tem por base a capacidade de as organizações criarem e partilharem conteúdo relevante para atrair clientes ideais (“buyers personas”). O marketing de conteúdo vai permitir a angariação de leads qualificadas para alimentar o nosso funil de vendas. Após a criação desta base de dados, está na hora de tirarmos partido do emailmarketing e iniciarmos uma conversação com esses contactos por forma a atrairmos e convertermos os nossos potenciais clientes. Por último, temos de monitorizar, avaliar e corrigir, se necessário, todas estas estratégias que planeámos, seja através do Google Analytics no qual podemos visualizar de onde nos estão a chegar os clientes / potenciais clientes (país, região, cidade, tipo de acesso, sistema operativo, etc.) ou via redes sociais, através da utilização de plataformas como o Swonkie ou o Hootsuite. Na prática, é essencial que a estratégia de marketing digital internacional esteja integrada na estratégia nacional, efectuar uma validação prévia dos mercados-alvo, gerir e promover conteúdos, gerar leads e analisar métricas para depois tomarmos a decisão de ir ou não para o mercado de forma sustentada.



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MARKETING DIGITAL EM TEMPOS DE PANDEMIA 52

Alzira Marques * * CARME, ESTG do Politécnico de Leiria - Coordenadora da pós-graduação de Marketing Digital

A crise causada pela pandemia Covid-19 é sem dúvida uma das maiores

O movimento acelerado da digitalização dos negócios e do marketing

crises globais dos últimos 50 anos. O SARS-CoV-2 criou confusão em

desencadeado pela Covid-19 não pode ser parado e cabe às empresas

todos os continentes, paralisando as atividades sociais e económicas.

tirar proveito deste movimento, formulando uma estratégia de

Indivíduos e organizações privadas e públicas tiveram que responder

marketing digital que passa por:

com medidas sem precedentes. - Melhorar o branding na internet, melhorando a identidade visual e Ninguém estava à espera de uma pandemia e quando se começou

definindo uma estratégia para a marca/insígnia. O valor da marca e

a falar dela na China, muitos de nós achámos que era tão longe que

a confiabilidade de uma empresa são fundamentais para fidelizar

não chegava cá, mas chegou! Veio mudar completamente a nossa

clientes em tempos de crise e num cenário de eCommerce;

vida. Mudou a vida dos trabalhadores e empresários e mudou o comportamento de clientes/consumidores. À conta disso, as empresas viram os seus negócios afetados e muitas fecharam as portas. Ninguém sabe por quanto tempo continuam fechadas ou se conseguem recuperar o negócio e isto resulta em perturbações económicas e sociais, com mudanças permanentes para as pequenas

-Melhorar a comunicação. Este é o momento de rever as estratégias de comunicação e determinar a melhor mensagem de marca de modo a gerar confiança nos clientes. É tambem a altura de rever os meios usados para comunicar com os clientes. A tecnologia digital permite maior segurança sanitária, para além de permitrir estreitar e

empresas.

personalizar a comunicação. Em tempos de incerteza a comunicação

Todos nós nos temos de reinventar para a que pandemia não tenha

o marketing nas redes sociais são agora ferramentas para estreitar o

efeitos devastadores. Numa “economia Covid-19”, repensam-se as relações laborais, as relações comerciais aparecem novos produtos e serviços, satisfazendo necessidades de nichos. Os gestores admitem que haja necessidade de repensar a estratégia da empresa e o seu posicionamento no mercado, havendo ainda quem considere a

com o cliente deve ser regular sem ser intrusiva. O email marketing e relacionamento com os clientes; - Melhorar a presença da marca/insígnias nas redes sociais. Naquelas onde os clientes-alvo das empresas de moldes têm presença. No caso das empresas que competem no B2B as redes sociais mais adequadas

necessidade de rever o modelo de negócio.

talvez sejam o Linkedin, YouTube e o Twitter. As redes sociais são usadas

A conveniência facilitada pela internet, há muito reclamada por

website da marca/insígnia, geração de leads e de conversão;

clientes/consumidores, ganhou um sentido de prioridade e urgência com a pandemia. Verificou-se a dinamização das comunicações online e a proliferação de websites de e-commerce que viram o crescimento da sua atividade acelerado com a pandemia de

para pesquisa, relacionamento/engajamento, geração de tráfego no

- Melhorar conteúdos é condição fundamental para valorizar a marca/ insígnia, melhorar a comunicação e melhorar os resultados orgânicos nos motores de busca (SEO). São exemplos ferramentas de SEO as

Covid-19.

disponíveis nos seguintes websites: https://trends.google.pt, https://

As empresas que competem no mercado B2B, de que são exemplo

e https://www.woorank.com/pt. Outra forma de ver o seu website na

as empresas de moldes, viram a sua forma de fazer negócio alterada pela pandemia. Antes fazia-se negócio seguindo a abordagem clássica, isto é, de pessoa para pessoa, fosse em reuniões, fosse em feiras/mostras. No entanto, a pandemia Covid-19 moveu quase todos os contactos e vendas para plataformas digitais. No início estranhou-se, mas agora constata-se que há vantagens, é mais cómodo, rápido e barato, daí que os intervenientes nestes processos parecem estar a gostar destas novas formas de fazer negócio, preferindo as interações digitais. Videoconferências e chats estão a ajudar as empresas a fechar negócios, as ligações tradicionais são agora o último recurso. As reuniões por videoconferência cresceram exponencialmente e os aplicativos como o Zoom e o Teams são agora amplamente usados.

pt.majestic.com, https://pt.semrush.com, http://seositecheckup.com/ primeira página do mecanismo de pesquisa resultados é comprar de anúncios pay-per-click (PPC) no Google Ads (https://ads.google.com ) (SEA – Search Engine Advertising); -Melhorar o relacionamento com o cliente com base em ações de email marketing para manter o negócio nas mentes dos clientes. Há ferramentas gratuitas ou baratas que podem ser usadas fazer marketing por email, como Mailchimp e o e-goi. O relacionamento com clientes também pode ter como suporte o mobile marketing e alguns aplicativos como o WhatsApp. Estes recursos fornecem aos clientes uma linha de comunicação aberta, representando uma conexão instantânea e económica. Todavia, convém diferenciar os clientes e comunicar de forma individualizada cultivando uma compreensão das suas necessidades de modo a garantir relacionamentos mais duradouros;


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REVISTA MOLDE CEFAMOL

- Melhorar a qualidade do website depois de o analisar, usando, entre outras, as seguintes ferramentas: https://analytics.google.com; https:// www.similarweb.com e https://www.appannie.com para conhecer as apps mais instaladas pelos utilizadores nos seus smartphones. E, em http://tools.seobook.com/analytics-tools/ encontram uma lista de ferramentas gratuitas e pagas que podem ser usadas para medir o tráfego dentro de um website;

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- Pensar – definitivamente – mobile first: a maioria do tráfego é feita em dispositivos móveis. Faz sentido secundarizar o telemóvel nas estratégias de comunicação? Já não. Estamos num mundo “mobile first” em todos os ângulos. Do design às funcionalidades, passando pela velocidade do website e outras potencialidades da mobilidade faz todo o sentido e é urgente. Começar por ter um website que funciona (muito) bem num smartphone é o primeiro passo. https://www.statista. com/statistics/277125/share-of-website-traffic-coming-from-mobiledevices/

Google Search Console) permitem acompanhar as métricas SEO, de modo a tomar decisões mais adequadas à realidade e eliminar erros que o website possa apresentar, impedido a sua visibilidade nos

- Implementar uma cultura empresarial orientada para o cliente, colaborativa e orientada para resultados. Isto implica uma organização ágil, horizontal em vez de vertical, orientada por projetos e processos, cujo objetivo último é superar as expectativas dos clientes. Convém pensar em metodologias como Agile/scrum: http://www. scrumportugal.pt/scrum/ Para promover a colaboração podemos usar as

e, neste caso, o Google Analytics e Google Search Central (antigo

plataformas

https://trello.com/home

ou

https://www.

atlassian.com/software/jira e o Confluence https://www.atlassian. com/software/confluence/pricing (que tem uma versão gratuita). Por último, interessa monitorar o negócio, quer offline, quer online

motores de pesquisa. Concluindo, com ou sem Covid-19, uma coisa é certa: vivemos na era do always on (sempre ligados), dos multi (multiconectados, multicanais e multitarefas) e a digitalização é uma realidade em movimento, que não vamos conseguir travar, portanto o melhor que temos que fazer é rendermo-nos à evidência, tirar proveito desse movimento e fazer as coisas bem feitas, usando as plataformas colaborativas, redes sociais e as ferramentas disponíveis para estreitar relacionamentos e dinamizar negócios, no contexto da implementação de estratégias de negócio e de marketing.


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EMPRESAS TÊM COMO DESAFIO PENSAR ESTRATEGICAMENTE E AGIR TATICAMENTE

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‘Marketing: Inovação e Posicionamento’, foi o tema de um webinar que, organizado pela CEFAMOL, decorreu no dia 20 de outubro, contando com a presença ‘virtual’ de cerca de oito dezenas de pessoas - a maioria profissionais dos sectores de moldes e plásticos. Moderada por Ana Vieira, da Moldoeste, a sessão teve como orador principal Paulo de Vilhena da ‘Business Excelerators’ e um painel composto por Hugo Pinto, da JDD Moldes, e Rui Marques, da AES Molds.

comerciais estruturados não da forma mais eficaz. “A indústria em Portugal foi sendo construída pelas necessidades do mercado”, lembrou, frisando que o mundo foi mudando e a forma de fazer negócios também; no entanto a atuação das empresas nem sempre acompanhou essa mudança”. “Hoje, as empresas são forçadas a organizar-se comercialmente e a ter uma organização mais consistente”, considerou, defendendo ser necessário “apostar no marketing de forma mais eficaz”.

Paulo de Vilhena, especialista no crescimento empresarial, começou por explicar que “há 16 anos” que tem como missão “ajudar empresas a crescer e gerar valor financeiro”. Algumas, salientou, são do sector de moldes, pelo que admitiu ter algum conhecimento das características empresariais desta indústria. E, começou logo por advertir, “os ‘estrangulamentos’ que encontramos no marketing (destas empresas) são sintomáticos dos desafios a montante, ou seja, da origem das empresas”.

“O mercado de ‘nicho’ é, hoje, estrategicamente o mais interessante para as empresas MERCADO DE NICHO Declarou ainda que em lugar de pensar em táticas que possam gerar negócios na hora, as empresas devem manter o seu foco no futuro, de forma mais estruturada. Ou seja, ter uma estratégia. A partir daí, é necessário definir o rumo e o ‘nicho’ que constiui a aposta da organização. “O mercado de ‘nicho’ é, hoje, estrategicamente o mais interessante para as empresas porque, no século XXI, vivemos numa economia de nichos”, afirmou.

Sublinhou que se tratam de organizações de pequena e média dimensão, de características “tipicamente familiares” e, na generalidade dos casos, “mais vocacionadas para o trabalho técnico e a ação tática do que assentes numa estrutura com visão estratégica”. Este é, no seu entender, um dos principals problemas, defendendo que “o desafio é conseguir pensar estrategicamente (a longo prazo) e agir taticamente”. E como muitas das empresas não estão a conseguir fazer este processo, o seu crescimento apresenta limitações, alertou. Indicou, então, quais são, no seu entender, os principais erros que as empresas cometem na área do marketing. Desde logo, considerou que a maior parte não aposta nesta vertente de forma consistente e tem, inclusivamente, os departamentos

Paulo de Vilhena considerou também que é importante que as empresas usem várias táticas e várias ferramentas de marketing para conseguir fazer chegar a sua mensagem a bom porto. Aquilo a que chamou “a regra das 10 estratégias”. Devem existir porque, caso falhe uma ou outra, a empresa dispõe sempre de várias opções para “enfrentar o mercado”, explicou. Centrando-se na indústria de moldes, advertiu que a generalidade das empresas tende a “comunicar as suas características técnicas” quando, em termos de comunicação, “o mercado compra benefícios”. Por isso, aconselhou as empresas a adequar a estratégia, associando características técnicas, mas evidenciando os seus benefícios. Lembrou ainda que este elemento contribui para uma outra necessidade que é a criação de reputação no mercado. “Vejo poucas empresas preocupadas em criar reputação no mercado, mas esse aspecto tem grande importância e peso”. E lembrou o peso que têm, nesta questão, as plataformas online e as redes sociais.


Defendeu também a importância das empresas definirem orçamentos de marketing, sejam anuais ou trimestrais, sublinhando que “as empresas raramente fazem isso, estando apenas preocupadas em reunir contatos e gerar vendas”. Por último, alertou que é fulcral saber a quem se dirige cada ação de marketing realizada. “Tem de estar direcionada para que saibamos exatamente o que pretendemos alcançar”, salientou. Com tudo isto, afirmou, uma empresa conseguirá encadear as ações, ganhar dimensão e consistência nos seus resultados.

EXPERIÊNCIA DO SECTOR Hugo Pinto e Rui Marques, moderados por Ana Vieira, partilharam a sua experiência e das suas empresas na área do marketing, concluindo que a indústria de moldes ainda tem um caminho a percorrer. “O marketing é algo que temos de colocar na equação, quando pensamos no negócio dos moldes”, considerou Rui Marques. Já Hugo Pinto defendeu que as principais empresas do sector têm estratégias definidas nesse domínio, enquanto a maioria ainda não. “Já estamos a assisitir a muita mudança, a nível mundial, e o marketing é fundamental para que quem nos procura saiba aquilo que somos e o que valemos”, defendeu. Centrando-se na sua experiência, explicou que a estratégia da empresa passa por direcionar a sua ação para o nicho de mercado onde opera, dentro da indústria automóvel.

Ana Vieira referiu que a Moldoeste tem uma estratégia de marketing, com plano e orçamento definidos, da qual é ela própria a responsável. Rui Marques considerou, por seu turno, que a pandemia de Covid-19 levou as empresas a “abrirem os olhos”. “Há outras perspectivas de mercado e é necessária uma visão de longo prazo”, disse. As redes sociais, as plataformas online e as feiras virtuais foram defendidas pelos oradores como aspetos positivos e com potencial para explorar. A sessão suscitou grande interesse por parte do público que colocou várias questões aos oradores. No final, Paulo de Vilhena afirmou, em jeito de conclusão, considerar que “aquilo que falta às empresas será, talvez, uma visão estratégica de longo prazo” que incorpore o marketing como algo imprescindível, sobretudo o digital que, “é o que, atualmente, se traduz em melhores resultados”.

REVISTA MOLDE CEFAMOL

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MARKETING DIGITAL APOIA MAS NÃO SUBSTITUI AÇÕES FÍSICAS DE DIVULGAÇÃO 56

Helena Silva * * Revista “Molde”

As empresas têm de organizar-se comercialmente, definir estratégias e equipas consistentes, e apostar no marketing de forma mais eficaz, sobretudo no digital. Este é, atualmente, um dos grandes desafios que se coloca à indústria de moldes. A pandemia de Covid-19 despertou a importância do digital que era, até há pouco tempo, encarado como um complemento na estratégia das organizações. Em pouco tempo, feiras, missões e outras ações assumiram um carácter virtual. Numa atividade centrada no business to business, como podem as empresas beneficiar com as ferramentas online que são, hoje, muitas e variadas? De uma maneira geral, dizem as empresas, o digital apoia mas não substitui as ações presenciais de divulgação. “A pandemia de Covid-19 colocou-nos a pensar mais digital, a rever as ferramentas disponíveis e a dar-lhes mais importância”. Pedro Conde, da Fozmoldes, sustenta desta forma a importância que o digital passou a assumir na atividade da empresa, considerando, até, que no futuro, estas ferramentas “aumentarão o seu peso na estratégia de promoção”. “Penso que o online veio para ficar”, defende, considerando que “a Covid-19 fez mais por isso do que todas as estratégias de marketing/ digitalização da indústria que se tentaram implementar até hoje (transversal à economia e não só nos moldes)”. Nesse âmbito, afirma, “vamos pesar melhor as nossas decisões: ir ou fazer um webex vai passar a ser equacionado”. Por outro lado, adianta, “penso que acrescentámos ferramentas ao nosso portfolio, bem como etapas ao ciclo de conquista e fidelização de clientes. A nossa empresa tem-se adaptado com facilidade, a necessidade aguça o engenho, e a abertura por parte dos clientes é grande para este novo tipo de abordagens”. Mas deixa uma ressalva: “no entanto, não vejo (estas ferramentas) como o elemento-chave”. Isto porque, no seu entender, o contacto pessoal é “determinante” e, assim que possível, essa voltará a ser a forma de divulgar a empresa nos vários mercados. “Nada substitui o contacto pessoal, o sentir as pessoas, o pisar o chão de fábrica, o sentir a cultura e dinâmica de uma organização in loco”, enfatiza. Salienta que foram as limitações impostas às deslocações a casa do cliente (e vice-versa) que determinaram que o marketing digital passasse a ser “a ferramenta preponderante na estratégia de divulgação” da empresa. No período pré-pandemia, recorda, já existiam muitas destas ferramentas e o digital já era utilizado, mas “como complemento”. Redes sociais, sites, emails, reuniões e ligações virtuais com clientes: tudo isso existia e era usado. A diferença? É que essas são, agora, as únicas possibilidades de comunicar a empresa para o exterior, destaca.

APOSTA NAS FEIRAS Ora, no seu entender, se esta dependência do virtual passar a ser a ‘nova realidade’, todas estas ferramentas terão de ser “repensadas” e terão, até, de ser criadas novas soluções que permitam, de algum modo, “colmatar a falta do presencial”. Se essas opções vierem a materializar-se, entende que, nesse caso, as viagens e visitas a clientes poderão vir a perder algum peso. Por enquanto, Pedro Conde conta que a distância física tem grande impacto na estratégia de divulgação da empresa. “O presencial representa entre 60 a 70% no esforço aplicado à conquista de novos clientes”, esclarece, adiantando não ter ainda dados que permitam concluir qual o impacto do virtual nesta aritmética. “Ainda não tivemos tempo e nem iniciativas suficientes para conseguir aferir isso”, explica.

/ / Pedro Conde - FOZMOLDES

As feiras internacionais foram, desde há muito, uma das apostas definidas pela Fozmoldes para a conquista de novos clientes. “No plano de marketing para o ano de 2020, tínhamos agendada a participação em quatro feiras que, de repente, foram canceladas”, relata, frisando até que “grande parte do plano de divulgação da empresa estava alicerçado nelas”. Algumas foram transformadas em ações virtuais. Ainda sem saber o impacto que estas podem vir a ter na obtenção de novos clientes, Pedro Conde salienta que têm, desde logo, um aspeto atrativo. “Esta abordagem tem vantagens em termos de custos e disponibilidade”, explica. Para que sejam mais funcionais, sugere que possam integrar meios de, por exemplo, “filtrar os contactos que interessam”. Com aspetos como este a serem melhorados, acredita mesmo que “no futuro, podemos vir a ter, em lugar de apenas feiras físicas, algumas serem virtuais”. É que, conclui, “esta parece ser uma boa ferramenta: rapidamente conseguimos dar a volta ao mundo e sem necessidade de ter custos com viagens”.

EXPOMOLD: CONTACTOS DIGITAIS NÃO SÃO TÃO FORTES COMO OS PESSOAIS Helder Fortunato, da Expomold, é perentório: “o digital é, neste momento (em tempo de pandemia), o único recurso de que dispomos para fazer chegar a nossa imagem aos clientes”. E isto apesar de, no seu entender, os contactos digitais terem um senão: “não são tão


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/ / Helder Fortunato - EXPOMOLD

fortes como os contactos pessoais”. Mas são os possíveis e assim sendo, defende, é necessário torná-los “o mais eficazes possível”. “As viagens foram canceladas; temos de chegar ao destino sem sair do lugar”, salienta, adiantando que, nesta matéria, ferramentas como as redes sociais, os telefones ou os emails são “as hipóteses possíveis de divulgação”. Helder Fortunato adianta que, com os clientes habituais, já era frequente usar algumas destas ferramentas. Mas para chegar a contactos ainda desconhecidos, é necessário, no seu entender, refinar a utilização. No caso da Expomold, esse esforço tem sido incrementado em redes como o LinkedIn. “Ainda não conseguimos realizar, por exemplo, vídeoconferências quando estamos perante clientes novos”, explica, considerando que “não é fácil, numa fase destas, confiar em quem não se conhece: possivelmente, 99,9% não vão optar por novos fornecedores”. Por isso, sustenta, “a via digital dá resultado, mas não substitui, de maneira alguma, o contacto direto”.

CONQUISTAR CONFIANÇA Adverte, no entanto, que o digital tem outras limitações. Exemplifica com o caso da utilização de determinadas redes sociais, onde a quantidade de empresas a promover soluções idênticas é de tal ordem que, considera, “é quase como participar nas feiras internacionais de maior dimensão, nas quais há tanta oferta que nem sabemos a quem comprar”. A concorrência é, portanto, considerável e, por isso, é necessário pensar bem a estratégia a utilizar. “Não estando frente e frente com a pessoa, é difícil estabelecer a confiança e temos, de alguma forma, que tentar conquistar isso com os meios digitais”, afirma. Dá como exemplo as missões virtuais, contando que a empresa já participou em algumas. “São missões que juntam compradores e fornecedores, mas há muita confusão. Para além de muita gente a oferecer o mesmo produto, não temos oportunidade de aprofundar e explicar convenientemente a nossa estratégia”, enfatiza. Por isso, conta que estas participações não têm, até à data, resultado em grandes contactos. Aguarda com expectativa o final da pandemia, acreditando que, lentamente, os negócios, tal como eram feitos, regressarão ao “normal”. Mas acredita também que as ferramentas digitais vieram, entretanto, “abrir os horizontes a muitos de nós, mas, especialmente, a alguns dos nossos clientes que as viam com desinteresse”. Por isso, considera que algumas destas soluções se manterão em utilização. Por enquanto, e para que a estratégia de marketing digital seja eficaz, defende serem necessárias nas empresas “pessoas praticamente


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dedicadas inteiramente a esse trabalho”. No entanto, sublinha que este poderá não ser o melhor momento para concretizar essa aposta. “Devido ao adormecimento da economia, as empresas não estão com grande disponibilidade para contratar pessoas desta área, mas é certo que estão muito mais necessitadas de se promover”, explica, salientando que, nos últimos anos, “a maior parte das empresas não deu prioridade a esta questão e, por isso, apenas algumas estarão a trabalhar bem essa questão”. “Quando há muito trabalho no mercado, as empresas não valorizam o marketing porque, aparentemente, não precisam. Só que quando se chega a um momento desafiante como este, concluem que era, afinal, necessário e tentam fazer o que podem”, conclui.

MOLDOESTE: É PRECISO ARRISCAR E CONFIAR NO DIGITAL

DESPERTAR EMOÇÕES E, por isso, as limitações do digital são, precisamente, “tudo aquilo que nós, enquanto seres humanos precisamos muito: tocar, expressar emoções, abraçar ou dar um aperto de mão”. Por isso, o objetivo de cada empresa é, através do digital, “descobrir formas de despertar algumas dessas emoções”. E este, admite Ana Vieira, “é um grande desafio”. No caso da Moldoeste, a estratégia de marketing digital é trabalhada pela própria Ana Vieira, já há algum tempo. No seu entender, é necessário ter um conhecimento da indústria – cuja essência é o business to business – para conseguir desenvolver uma boa estratégia de marketing, agora mais do que nunca focada no human to human. É isso que procura fazer diariamente.

“O presente é digital e, por isso, este é o tempo de arriscar, inovar e confiar”. Ana Vieira, da Moldoeste defende, desta forma, a importância do marketing digital na vida das empresas.

A equipa responsável por desenvolver as ações deve, no seu entender, fazer parte da empresa, de forma a ter dela um conhecimento grande. A área comercial, salienta ainda, tem de fazer parte integrante desta estratégia. Uma vez afinado este ponto, é imperioso apostar no digital, diz ainda.

“Com este novo paradigma, que nos impede de ir a feiras, de visitar e contactar diretamente com os clientes, é vital que usemos, a nosso favor, as ferramentas digitais que temos ao nosso alcance”, sublinha. Estas soluções são, no seu entender, o meio de fortalecer uma marca e, com isso, projetar o ADN da empresa, fazendo-o chegar a clientes e mercados.

“Não se pode esperar mais: para vendermos, temos de dizer que existimos e qual a nossa especialização. Se não estamos a conseguir fazer isso, não vamos vender”, adverte, reforçando que, neste momento, “não temos os instrumentos tradicionais, como as feiras, as visitas ou os encontros”. Por isso, é preciso avançar sem receios para as ofertas virtuais – sejam feiras ou missões – entretanto criadas. “Estão ainda numa fase muito embrionária, mas, apesar disso, este é o momento de avançar”, defende. Até porque, considera, quando a pandemia de Covid-19 terminar, “o digital irá manter-se e, possivelmente, a sua importância vai, até, aumentar”.

RECTIMOLD: APOSTA NO DIGITAL COMO REFORÇO DA MARCA

/ /Ana Veira - MOLDOESTE

No seu entender, a pandemia veio realçar a importância destas tecnologias. Contudo, algumas empresas – entre as quais a Moldoeste – já vinham trabalhando o digital. “Já havia um despertar, ainda um bocadinho residual, quer em Portugal, quer lá fora, para a utilização das redes e outras ferramentas digitais como meio de divulgação das empresas”, afirma, exemplificando com o caso da Alemanha que, “apesar de ser um mercado um pouco conservador, já apostava nas redes sociais, inclusivamente na criação de uma delas (Xing)”. E neste caminho, onde ainda tão poucos passos foram, afinal, dados, considera que “não há receitas certas de utilização do digital”. Cabe a cada empresa definir a sua, sendo certo, contudo, que a sua utilização tem de fazer parte da estratégia. Apesar disso, admite, o recurso a estas ferramentas não substituirá nunca o contacto físico. No seu entender, esse é, no sector dos moldes, o meio privilegiado que as empresas têm de fazer a sua promoção. “O digital não consegue substituir o pessoal”, enfatiza, considerando que, por isso, um profissional desta área “tem de ser um bom conhecedor de mercados, mas sobretudo um bom conhecedor de pessoas”. É que, por detrás das empresas, há pessoas.

A Rectimold é o exemplo de uma empresa que, após vários anos no mercado, conseguiu, com uma nova gestão, recriar-se. Bruno Mesquita explica que desde que chegaram, há cerca de dois anos e meio, os novos gestores perceberam que a mudança era inevitável. “A cultura da empresa era tradicional, em grande parte idêntica às restantes empresas na área dos moldes. E embora tivesse uma carteira de clientes e uma rede de contactos, entre clientes e fornecedores, muito sólida e eficaz, a estratégia de promoção estava muito assente no ‘passa-palavra’; os clientes e fornecedores foram, ao longo do tempo, recomendando a empresa e ela foi crescendo e consolidando assim a sua posição”, relata. Apesar de tentar manter esta forma de divulgação, a nova equipa tem, sobretudo, procurado estimular outras formas de divulgação. O digital foi sempre uma delas, tendo vindo a ser incrementado devido aos impactos da pandemia de Covid-19. “O marketing digital entra como uma tentativa de cimentar a marca, que é aliada a um grande profissionalismo”, conta, explicando que foi feita uma mudança de imagem, criado um novo site, bem como uma newsletter mensal, de forma a melhorar a comunicação. Bruno Mesquita é, na empresa, o responsável por essa área, defendendo como fundamental “criar uma estratégia assente no enquadramento, na necessidade e na importância dos meios digitais para o reforço da nossa marca e o aumento da credibilidade dela no mercado”. Mas no centro de tudo, considera, continua a estar o relacionamento pessoal.


HIGHLIGHT /

/ / Bruno Mesquita - RECTIMOLD

“O digital nunca vai conseguir substituir a parte presencial. Essa é uma componente essencial neste negócio, sobretudo numa fase inicial. É importante que os clientes venham à nossa fábrica e, com isso, percebam o nível de rigor que imprimimos no trabalho ou as tecnologias que temos”, salienta.

INTEGRAÇÃO No seu entender, é possível transpor algumas destas particularidades para o digital, mas “isso não é suficiente”. O marketing digital tem, então, como importante função “melhorar a comunicação com clientes e parceiros”. A estratégia, conta, está assente, por um lado, numa perspetiva de comunicação para fora da empresa, na qual representa um papel primordial tudo aquilo que está ligado à Indústria 4.0. Ou seja, para além de receber a informação da empresa através das suas redes sociais ou demais veículos digitais, cada cliente pode ligar-se diretamente e estar em permanente comunicação, através de uma aplicação que “permite fazer a gestão e o planeamento da produção, bem como dar acompanhamento aos nossos clientes”. Com isto, o cliente segue em tempo real a evolução do seu molde, desde a conceção ao ensaio. E esta ligação, sustenta, é essencial para a eficácia da estratégia de marketing. “Para fazer sentido, tudo isto tem de estar integrado numa lógica de comunicação”, defende. A prova de que este é o rumo certo está patente num exemplo que apresenta: em 2018 e 2019, quatro novos clientes referiram ter chegado aos negócios com a empresa após se terem identificado numa publicação que esta fez numa rede social. Um outro aspeto desta estratégia é comunicar para dentro, usando as redes sociais e newsletters para uma maior ligação com os colaboradores da empresa. “O marketing digital, sobretudo por causa da questão da pandemia, é cada vez mais importante”, enfatiza, considerando ser vital “transmitir uma imagem estruturada, organizada, mas integrada numa comunicação digital assertiva e com a qual os clientes, mas também os colaboradores, se sintam identificados”. Bruno Mesquita defende ainda que, no futuro, a preponderância do digital vai aumentar, até porque este tem como uma grande vantagem proporcionar uma redução de alguns custos com a promoção, uma vez que as ferramentas online não são muito onerosas. No que diz respeito às competências dos fabricantes de moldes para esta questão, é da opinião o trabalho deve ser desenvolvido por uma equipa externa, com especialização nessa área, mas que funcione em grande articulação com a equipa comercial. “As empresas tendem a contratar uma única pessoa para o marketing e esperam que ela faça tudo. Contudo, essa suposta ‘solução’ terá, por certo, um mau resultado”, afirma, considerando que o mais acertado será “subcontratar o serviço, como forma de estratégia de promoção da empresa, aliando o digital com o conhecimento desta área de negócio que é tão particular”.


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INOVAÇÃO

O QUE AS EMPRESAS CONCEBEM DE FORMA SINGULAR E INOVADORA WHAT OUR COMPANIES CONCIEVE IN A SINGULAR AND INNOVATIVE WAY

O DESEMPENHO AMBIENTAL DAS TECNOLOGIAS DE FABRICO ADITIVO

O PROJETO COVID PORTA ABERTA


REVISTA MOLDE CEFAMOL

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O DESEMPENHO AMBIENTAL DAS TECNOLOGIAS DE FABRICO ADITIVO Joana Gouveia*, Luís Oliveira*, Sílvia Esteves*, João Sobral* 1 INEGI - Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial

O fabrico aditivo tem vindo a quebrar convenções e a revolucionar o universo da manufatura graças ao seu baixo custo, flexibilidade nos materiais usados e rapidez de impressão de peças – independentemente da complexidade de geometrias ou da personalização necessária. Também conhecida como impressão 3D, esta tecnologia disruptiva permite uma produção essencialmente isenta de resíduos com uma poupança na energia necessária por peça. Possui potencial para reduzir o consumo de recursos durante o processo de fabrico e aumentar a produtividade, sendo uma possível ferramenta para enfrentar o desafio da “Fabricação-Zero defeitos”, à qual o projeto TOOLING4G Advanced Tools for Smart Manufacturing pretende dar resposta. Este projeto mobilizador traz às empresas parceiras a oportunidade de se posicionarem como elos importantes nas cadeias de fornecimento de produtos complexos e alargar o seu portefólio para vários sectores,

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como o automóvel, dispositivos médicos, aeronáutica, entre outros. É o resultado de uma dinâmica coletiva, que nasceu a partir do cluster Engineering & Tooling, e pretende criar e transferir tecnologias inovadoras para que as empresas se destaquem no mercado internacional [1]. O projeto TOOLING4G pretende dinamizar a transição para a Indústria 4.0, criando e desenvolvendo soluções de tooling avançadas e agregando diferentes tecnologias numa só ferramenta de trabalho. Os parceiros pretendem demonstrar o potencial tecnológico do fabrico aditivo de metais, através da sua aplicação na reparação de moldes danificados. Com a impressão 3D, é possível reabilitar estes moldes, aumentando o seu tempo de vida útil e reduzindo a sua pegada ambiental. Evita-se assim o consumo de recursos para produzir um novo molde, ao mesmo tempo que nasce a possibilidade de uma nova área de atividade dentro das empresas do sector.


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62 // F-3 . Etapas do ciclo de vida, de acordo com a ISO 14040 [2].

// F-1 . Braço robot do sistema DED com laser incorporado, no interior da célula de segurança.

Para tornar este cenário realidade, é utilizada a tecnologia DED (Direct Energy Deposition), que consiste na fusão e deposição de pós metálicos através da energia fornecida por um feixe de laser de elevada potência (Figura 1). Este sistema inovador híbrido (pois possibilita a adição e subtração de material) foi desenvolvido pelo INEGI, que operacionalizou a primeira estação laboratorial de DED em Portugal. A tecnologia permite elevadas taxas de deposição de material de peças com dimensões até 2000 mm por 1000 mm, e inclui um pós-processamento para acabamento (por via subtrativa) e controlo dimensional, com elevado grau de precisão e qualidade. Paralelamente à operacionalização, o projeto TOOLING4G procurou contribuir para a compreensão da performance ambiental desta tecnologia, de forma a identificar potenciais fontes de melhoria e otimizar o seu desempenho.

A primeira é a Definição do Objetivo e Âmbito. Nesta etapa, o propósito e o âmbito do estudo são descritos, bem como as fronteiras do sistema em análise e a unidade funcional, que é utilizada como valor de referência para os fluxos energéticos e mássicos contabilizados e os consequentes impactos ambientais. Seguidamente, no Inventário do Ciclo de Vida, é feita a recolha dos dados necessários para a identificação, descrição e quantificação das várias entradas e saídas, sejam de energia ou materiais, que ocorrem dentro da fronteira definida. Esta etapa é crucial, pois é a partir da informação recolhida que os impactos vão ser quantificados. A quantidade e a qualidade dos dados adquiridos definem a robustez do estudo, o grau de certeza e a fiabilidade dos resultados. Findo a recolha de dados, avança-se para a Avaliação de Impactos do Ciclo de Vida, que consiste no cálculo dos potenciais impactos ambientais derivados dos fluxos previamente quantificados. Por fim, na Interpretação, são apresentadas as análises e conclusões dos resultados obtidos, bem como as limitações e suas causas. Sempre que possível, na interpretação são fornecidas recomendações que servem de orientação para alterar, corrigir e afinar as fases anteriores, tornando a metodologia internamente interativa.

// F-2 . Ciclo de vida de um produto ou sistema.

Com este objetivo, realizou-se um estudo para quantificar os impactos ambientais da produção de peças metálicas por fabrico aditivo, através da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), uma metodologia normalizada [2, 3] e amplamente utilizada para identificar e quantificar os potenciais impactos ambientais de um determinado produto ou sistema – desde a extração da matéria-prima, ao seu processamento, transporte, transformação, utilização, tratamento e deposição final (Figura 2). A ACV assenta nas leis da Termodinâmica, permitindo não só a avaliação, mas também a comparação entre seleções de produtos ou sistemas, de forma a determinar qual a opção com menores impactos ambientais, dentro de um âmbito previamente definido. Um estudo de Avaliação do Ciclo de Vida é composto por quatro etapas, interligadas entre si para assegurar uma melhoria contínua do estudo (Figura 3).

// F-4 . Fronteiras dos sistemas em análise.

Com o objetivo de quantificar a pegada de carbono resultante da reparação de uma peça metálica através da tecnologia DED, o estudo de ACV analisou um processo de fabrico híbrido de reparação de um postiço genérico de aço para moldes, de forma a comparar com o processo convencional de descarte e produção de um novo postiço. Ressalva-se que o sistema em causa é uma demonstração laboratorial, com alguns dados hipotéticos e como tal, não está preparada para produções de grande escala. As fronteiras do sistema apresentam-se na Figura 4. O caso de estudo analisado é um postiço de aço inoxidável (Figura 5), produzido de forma convencional, que sofre uma quebra ou defeito durante a sua utilização. Seguindo o business-as-usual (BAU), o postiço seria descartado. Com esta nova tecnologia, o postiço


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// F-5 . Postiço danificado.

danificado é direcionado para o processo de fabrico híbrido onde é efetuado o corte da zona afetada, seguindo depois para o sistema DED onde é depositado pó de aço inox fundido na peça, reconstituindo a parte previamente cortada em apenas 30 segundos. Findo o processo de fabrico aditivo, o postiço é de novo maquinado para dar a forma e acabamento necessário, sendo posteriormente enviado para o utilizador, que usufruirá da peça durante mais tempo. Esta abordagem permite um menor tempo de resposta na reposição do componente. O estudo de ACV focou-se nos processos que ocorrem quando o postiço chega já danificado ao processo de fabrico híbrido, ou seja, nos processos de corte, fabrico aditivo com a tecnologia DED, e acabamento por fresagem. Também foi analisado o cenário BAU do fabrico convencional de um novo postiço através de maquinagem para efeitos de comparação. A unidade funcional selecionada – para a qual serão quantificados os fluxos energéticos, mássicos e os resultantes impactes ambientais – é um postiço operacional, com uma massa de 64 gramas de aço inox. Na construção do Inventário, a informação recolhida teve origem, maioritariamente, no trabalho de campo realizado para construir o sistema no laboratório do INEGI e dos dados de fabricantes relativos aos subsistemas e componentes. Foram também recolhidos dados relativos ao consumo de material, eletricidade e de árgon durante o processo de impressão 3D. Para o processo de fabrico aditivo, foi contabilizado o pó de aço 316L [4], produzido através de atomização [5]. Sempre que necessário, foram utilizados dados de componentes similares e aproximações mássicas para colmatar a falta de informação. De forma a contabilizar os fluxos decorrentes da extração e produção dos materiais e componentes em análise, após a recolha de dados primários, foi feita a correspondência com os materiais e processos existentes para o contexto europeu na base de dados de ciclo de vida Ecoinvent v3.6 [6]. A partir desta base de dados, foi possível estimar os fluxos resultantes da produção de aço inoxidável, bem como dos processos de corte, fresagem e tratamento para fim de vida de aparas e pó (enviado para sucata) para cada cenário. O processo de consumo de eletricidade em Portugal foi adaptado para o mix energético existente entre agosto de 2019 e agosto de 2020, através da informação disponibilizada pela APREN [7] e a DGEG [8]. No cenário BAU, assumiu-se uma massa de 117 gramas para a peça a ser maquinada por fresagem para formar o novo postiço. Findo o Inventário, a quantificação das emissões de gases de efeito de estufa foi realizada com uso do software Simapro v9.1.0.7 e do método ReCiPe 2016 v1.1. Midpoint (H) [9], através da categoria de impacte GWP (Global Warming Potential – Potencial de Aquecimento Global), expressa em quilogramas equivalentes de CO2 (kg CO2 eq) por


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// F-8 . Exemplos de peças de maiores dimensões reparadas com fabrico aditivo. // F-6 . Comparação entre os potenciais de Aquecimento Global da reparação por processo híbrido e a produção convencional, expressos em kg de CO2 eq por unidade funcional – um postiço operacional.

postiço operacional. Os resultados estão apresentados na Figura 6 para o fabrico convencional de um novo postiço por maquinagem e a reparação através do processo de fabrico híbrido. Observando o gráfico, verifica-se que o processo híbrido possui mais impactes do que o processo convencional. Contabilizando o corte, fabrico aditivo e maquinagem, o processo de reparação gera cerca de 0,99 kg de CO2 eq. Neste cenário, o processo de fabrico aditivo domina os restantes devido ao consumo de árgon e a utilização de aço 316L. O corte da parte danificada não possui uma contribuição relevante para os impactos totais do processo (0,01 kg de CO2 eq) e a maquinagem neste cenário de reparação contribui com 0,11kg de CO2 eq. Por sua vez, o potencial de aquecimento global do processo BAU gera 0,78kg CO2 eq, considerando uma massa inicial de 117g de aço inox na peça a maquinar. A diferença de 21% entre o processo convencional e o processo híbrido, apesar de ser considerada relevante, gera a necessidade de uma análise de sensibilidade aos pressupostos tomados inicialmente. Um dos principais dados para o cálculo dos impactes do cenário BAU é a massa inicial da peça a maquinar. Neste caso, assumiu-se uma peça com um volume muito próximo da peça final, mas esta situação nem sempre acontece. A variação dos resultados com o aumento da massa inicial da peça a maquinar é apresentada na Figura 7, de forma a compreender a importância deste parâmetro nos resultados do estudo. Os impactos do cenário BAU vão aumentando à medida que se acrescenta mais massa da peça a maquinar, devido ao aumento proporcional do consumo de energia e materiais lubrificantes e à geração de aparas que seguem para deposição final. A partir de uma massa de cerca de 148 gramas, o processo de fabrico híbrido passa a ser a opção mais favorável a nível ambiental, numa diferença de apenas 31 gramas para o inicialmente considerado (27%).

// F-7 . Variação dos resultados com o aumento da massa inicial da peça a maquinar.

Ou seja, o cenário de reparação tem elevado potencial para melhorar o desempenho ambiental do postiço analisado. Extrapolando para outros casos, com peças maiores que necessitem de reparação (exemplo na Figura 8) a tecnologia de fabrico híbrido tem potencial para não só reduzir os impactos gerados pelo fabrico e substituição destas peças, como também reduzir custos e tempo de espera na reposição da peça. Através desta análise de sensibilidade, é evidente o potencial de melhoria do desempenho ambiental dos processos decorrentes na indústria dos moldes através da utilização de tecnologias de fabrico híbrido. Apesar desta análise incidir sobre uma peça de pequenas dimensões e a reparação ocorrer sob condições laboratoriais, a diferença entre cenários foi mínima. À medida que as especificações geométricas da peça se tornam mais complexas, a tecnologia de fabrico aditivo torna-se mais vantajosa, melhorando o desempenho ambiental e reduzindo o tempo de processamento face às tecnologias de produção convencionais. Assim, ao possibilitar a redução do tempo de manutenção e custos associados, esta tecnologia permite aumentar a disponibilidade e capacidade de resposta do sistema onde se insere o componente. Com os resultados obtidos, verifica-se assim que a tecnologia de fabrico híbrido é uma ferramenta potenciadora de inovação para o desenvolvimento de um ecossistema industrial mais económico, competitivo, circular e sustentável. Este trabalho foi elaborado no âmbito do Projeto Mobilizador TOOLING4G. Projeto N.º POCI-01-0247-FEDER-024516 financiado pelo Programa Operacional Competitividade e Internacionalização e Programa Operacional Regional de Lisboa, PORTUGAL 2020, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).

[1] – Projeto Tooling4G. Disponível: https://tooling4g.toolingportugal.com/ [2] – ISO 14040, Environmental management - Life Cycle Assessment - Principles and Framework, vol. 1997. 2006. [3] – ISO 14044: 2006b, “Environmental Management - Life Cycle Assessment – Requirements and Guidelines,” 2006. [4] – AZOM Materials. [Online]. Disponível: https://www.azom.com/article.aspx?ArticleID=2382. [Acedido: 6-Nov-2020] [5] – Z. Liu, Q. Jiang, W. Cong, T. Li, and H. C. Zhang, “Comparative study for environmental performances of traditional manufacturing and directed energy deposition processes,” Int. J. Environ. Sci. Technol., vol. 15, no. 11, pp. 2273–2282, 2018. [6] – G. Wernet, C. Bauer, B. Steubing, J. Reinhard, E. Moreno-Ruiz, and B. Weidema, “The ecoinvent database version 3 (part I): overview and methodology,” Int. J. Life Cycle Assess., vol. 21, no. 9, pp. 1218–1230, 2016. [7] – APREN, “Balanço da Produção de Eletricidade de Portugal Continental (agosto de 2020),” 2020. [Online]. Disponível: https://www.apren.pt/pt/energias-renovaveis/producao. [Acedido: 14-Set-2020]. [8] – Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), “Produção anual e potência instalada,” 2019. [Online]. Disponível: https://www.dgeg.gov.pt/pt/estatistica/energia/eletricidade/producao-anual-epotencia-instalada/. [9] – M. A. J. Huijbregts et al., “ReCiPe2016: a harmonised life cycle impact assessment method at midpoint and endpoint level,” Int. J. Life Cycle Assess., vol. 22, no. 2, pp. 138–147, 2017.


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O PROJETO COVID PORTA ABERTA

SISTEMA DE APOIO À ABERTURA DE PORTAS: QUANDO EMERGE A URGÊNCIA DE REPENSAR OS PUXADORES DE PORTAS DE LOCAIS DE GRANDE AFLUÊNCIA Diogo Maurício*, Nuno Fidelis*, Liliana Ramos* * CENTIMFE – Centro Tecnológico da Indústria de Moldes Ferramentas Especiais e Plásticos

O projeto COVID Porta Aberta, constituído pelo consorcio, Shapetek, IPC- Instituto Politécnico de Coimbra (ISEC e ESEC), Centimfe e a empresa Sandredy, tem como propósito desenvolver e fabricar um dispositivo que permita a abertura de portas sem utilizar as mãos, mas sim os braços. É pretendido um produto versátil, acessível, de fácil instalação e baixa manutenção e que pretende evitar a propagação de agentes patogénicos. Este projeto surge num contexto de uma pandemia, cujo agente patogénico se transmite de pessoa para pessoa através de duas formas: Contacto direto: Disseminação de gotículas respiratórias produzidas quando por exemplo, uma pessoa infetada tosse, espirra ou fala, e podem ser inaladas ou pousar na boca, nariz ou olhos de pessoas que estão próximas (< 2 metros).

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Em outubro 2020, no seguimento dos desenvolvimentos realizados pelo consórcio chegaram-se a algumas soluções/protótipos que foram oportunamente apresentados à Ministra de Coesão Territorial, Ana Abrunhosa. No decorrer de uma visita que a mesma realizou à empresa Shapetek, soluções essas que mereceram elogios e encorajamento. Os protótipos obtidos serão exaustivamente testados por meios computacionais e experimentais, melhorados nos aspetos que apresentarem maiores fragilidades num ciclo contínuo de aperfeiçoamento até se chegar a uma solução ótima que responda a todas as exigências funcionais e normativas. Existem também contactos e manifestações de interesse vindo de meios industriais a demostrar interesse no trabalho desenvolvido e que poderão vir a permitir uma maior escalabilidade do presente projeto, assim que o mercado o permita/ requeira e a solução desenvolvida o possibilite.

Contacto indireto: Através do contacto das mãos com uma superfície ou objeto contaminado com o vírus e que, em seguida, contactam com a boca, nariz ou olhos. https://www.sns24.gov.pt/tema/doencas-infecciosas/covid-19/ transmissao/ É neste último campo - contacto indireto – que este dispositivo irá atuar, permitindo que o contacto com um objeto como o puxador de portas, que foi originalmente configurado para ser acionado com as mãos, deixe de ser tocado por estas. Um local de grande potencial de aplicação deste tipo de dispositivo são os hospitais onde ocorre a transmissibilidade cruzada de diversos agentes patogénicos e que são também locais de grande afluência de público. Outros locais de interesse para implementação desta solução estão também identificados, tais como lares, centros de saúde, centros de reabilitação, zonas comerciais, entre outros. O desenvolvimento desta solução está assente nas disciplinas de design e engenharia, com intuito de obter uma nova solução para este desafio – um dispositivo que permita a abertura de portas sem usar as mãos. Esta solução contempla uma forte incorporação de design metodológico, conceptual e de projeto mecânico. Foi dada extrema importância à vertente ergonómica, nas suas dimensões cognitiva, física e antropométrica, respeitando normas vigentes em termos de segurança e procedimentos, bem como grande foco no valor estético e funcional e elevada usabilidade.

O projeto “COVID Porta Aberta”, iniciado em junho 2020, irá decorrer até fevereiro 2021, com o apoio da Agência Nacional de Inovação, no âmbito do programa Centro 2020, e é cofinanciado pelo FEDER, ao abrigo do Aviso n.º 15/SI/2020 SI I&D que procurou alavancar o desenvolvimento e implementação rápida de soluções inovadoras de resposta à pandemia.


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EQUIPAMENTOS . PROCESSOS . CONHECIMENTO EQUIPMENTS . PROCESSES . EXPERTISE

FABRICO ADITIVO: O FUTURO DA EXCELÊNCIA EM TODAS AS ETAPAS DA PRODUÇÃO E INJEÇÃO DE MOLDES ADITIVOS PARA POLÍMEROS: UMA PERSPETIVA CIBERSEGURANÇA: BOAS PRÁTICAS PARA NAVEGAR EM SEGURANÇA


TECHNOLOGY /

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Luís Oliveira * * Engenheiro especialista em Fabrico Aditivo no INEGI

A indústria dos moldes de injeção de plástico em Portugal consolidase, ano após ano, como um dos sectores mais robustos da economia nacional. É reconhecida pela qualidade dos seus produtos, tanto o produto injetado, como no molde que lhe dá forma. Não obstante, o sector assenta a sua estratégia competitiva na constante procura de melhorias. Tudo isto resulta num sector com um forte pendor de inovação, que encoraja a criação de novos e inovadores produtos, e processos de fabrico cada vez mais otimizados, mais precisos, e com maior qualidade. Entre as tecnologias que marcam este percurso de inovação nos últimos anos, destacam-se os processos de otimização avançados baseados em técnicas de fabrico mistas. Estas otimizações têm por base a combinação de tecnologias de fabrico de moldes, com a introdução de tecnologias de fabrico aditivo (também conhecida por impressão 3D) nos processos convencionais de fabrico (fresagem CNC, por exemplo) [1].

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FABRICO ADITIVO: O FUTURO DA EXCELÊNCIA EM TODAS AS ETAPAS DA PRODUÇÃO E INJEÇÃO DE MOLDES

MAIOR COMPETITIVIDADE COM A REDUÇÃO DO TEMPO DE CICLO Tendo como objetivo aumentar o nível de competitividade dos produtos - do molde, e consequentemente do produto injetado - nos mercados nacional e internacional, estas otimizações centram-se na redução dos tempos de ciclo, com foco no arrefecimento, e no aumento do ciclo de vida do molde através de um maior número de ciclos da cavidade moldante. Com a introdução de tecnologias de fabrico aditivo torna-se possível a construção de elementos complexos, impossíveis de fabricar por tecnologias de subtração. Isto possibilita a criação de moldes com áreas de transferência de calor muito superiores aqueles produzidos convencionalmente, já que uma maior taxa de arrefecimento se traduz numa redução significativa dos ciclos de arrefecimento, que viabilizam a ação sob o valor acrescentado do produto injetado.


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Com o fabrico aditivo, conseguimos hoje em dia injetar peças e geometrias, que com processos convencionais eram até então impossíveis ou muito dispendiosas de conseguir. Este facto deve-se á impossibilidade de se efetuarem canais conformais de refrigeração, em dimensões e direções, reduzidas e complexas ao mesmo tempo. Neste âmbito, a produção de postiços e insertos é tipicamente obtida por sinterização seletiva de metal (SLM). Camada a camada, partindo de uma “cama” de pó metálico, e sintetizando cada camada no sentido vertical - o pó metálico dará origem ao futuro componente do molde [2].

TEMPOS DE VIDA MAIS LONGOS COM DED E IMPRESSÃO MULTIMATERIAL Para aumentar o ciclo de vida do produto, a tecnologia de fabrico aditivo mais adequada é a deposição direta de metal (DED), que consiste na deposição de pós ou fio metálicos fundidos por laser numa superfície metálica. Aplicado aos moldes, o princípio de aplicação ainda se torna mais versátil, pois a tecnologia tem uma vertente multimaterial, ao contrário da sinterização seletiva de metal, que permite a impressão em distintos materiais, mas apenas de um único material por cada impressão. A deposição direta de metal possibilita a mistura de dois tipos diferentes de materiais metálicos, de modo a combinar materiais com propriedades que favorecem certas zonas do molde em termos de performance, e otimizar por outro lado, zonas do molde não tão “nobres” ou de requisitos não tão exigentes. Podemos assim utilizar um material nas zonas críticas do molde, e utilizar outro, tipicamente de valor inferior, nas zonas menos solicitadas. Por outro lado, pode também ser favorável usar dois materiais “nobres” para responder a diferentes níveis de performance. Uma cavidade moldante com necessidades específicas de arrefecimento, pode, por exemplo, ter uma superfície depositada em H13 e, logo de seguida, um material mais condutor, como cobre puro, na direção para o exterior do molde . O INEGI - Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial instalou recentemente a primeira célula laboratorial DED em Portugal, que possibilita o fabrico aditivo metálico para peças complexas de grande dimensão (2000 x 1000 x 500 mm). Com vista à otimização da sua qualidade, precisão dimensional e

geométrica, estão em curso vários projetos de investigação, inovação e desenvolvimento tecnológico, que pretendem criar soluções para que as empresas portuguesas possam integrar estas tecnologias nos seus processos de produção. São exemplo disso os projetos mobilizadores TOOLING4G - Advanced Tools for Smart Manufacturing ou o Add.Additive - add additive manufacturing to Portuguese industry, financiados ao abrigo dos programas Compete 2020, Portugal 2020 e Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

FABRICO ADITIVO COMO PROCESSO COMPLEMENTAR A possibilidade de combinar materiais tridimensionalmente, através da deposição direta de metal, permite ainda uma gestão mais eficaz da durabilidade e eficácia térmica do molde em geral. Também o combinar de tecnologias, tal como a sinterização seletiva de metal e deposição direta de metal, permite obter ganhos significativos em termos de curso e tempo [3]. Estas ferramentas, a par de outras tecnologias como o laser cladding, podem ainda ser aplicadas para a requalificação de superfícies de moldes. Ao melhorar o seu revestimento, o molde vê a sua vida útil estendida e, por conseguinte, o seu custo total é amortizado por mais peças injetadas. Todas estas vantagens revelam uma natural conclusão: as tecnologias de fabrico aditivo potenciam o desenvolvimento de novos e melhores moldes, nos diferentes estágios que compõe o processo. Desde a prototipagem de componentes individuais, até mesmo moldes impressos em resinas fotossensíveis para pequenas séries - as tecnologias aditivas não estão presentes para competir com a injeção, mas sim, de mão dada, para melhorar todos os processos envolvidos [4]. ​ [1] J. M. Flynn, A. Shokrani, S. T. Newman, and V. Dhokia, “Hybrid additive and subtractive machine tools - Research and industrial developments,” Int. J. Mach. Tools Manuf., vol. 101, pp. 79–101, 2016, doi: 10.1016/j.ijmachtools.2015.11.007. [2] M. Amend, “Expanding the Design Space: Forging the Transition from 3D Printing to Additive Manufacturing,” University of Washinton, 2016. [3] A. Bandyopadhyay and B. Heer, “Additive manufacturing of multi-material structures,” Materials Science and Engineering R: Reports, vol. 129. Elsevier Ltd, pp. 1–16, Jul. 01, 2018, doi: 10.1016/j. mser.2018.04.001. [4] M. Kafara, M. Süchting, J. Kemnitzer, H.-H. Westermann, and R. Steinhilper, “Comparative Life Cycle Assessment of Conventional and Additive Manufacturing in Mold Core Making for CFRP Production,” Procedia Manuf., vol. 8, pp. 223–230, 2017, doi: 10.1016/j.promfg.2017.02.028.



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ADITIVOS PARA POLÍMEROS: UMA PERSPETIVA 70

Pedro Brandão * * Formador e Consultor Técnico especializado na área dos plásticos e moldes.

1. INTRODUÇÃO Os plásticos adquiriram desde há cerca de oitenta anos, sobretudo a partir do fim da segunda guerra mundial, um estatuto de materiais insubstituíveis em muitas peças quer isoladas ou como componentes de objetos que utilizamos constantemente. Praticamente não há domínio de aplicação onde não estejam presentes, sendo por isso fastidioso enumerar aqui o que todos conhecemos. Ao longo destes anos o crescimento da investigação em Química Macromolecular aumentou fortemente a invenção de novos polímeros que, pelas suas propriedades permitiram não só abrir imenso o leque de aplicações ao permitir a substituição de materiais convencionais desde a argila, madeira, porcelana, metais, vidro, etc, como aumentar cadências de produção que respondessem a uma demanda do consumo de bens que anteriormente estavam apenas disponíveis a um segmento muito restrito da sociedade.

Eu diria que sim, mas tenho de o fundamentar ao longo deste texto esperando que os pacientes leitores me deem razão no fim da sua leitura. Para isso é preciso reduzir do papel dos polímeros enquanto matéria-prima isolada sem aditivos para o fabrico de plásticos. Convém diferenciar entre polímero que é uma entidade química e plástico que é todo o material capaz de mudar de forma por uma ação externa de pressão e temperatura. Mas os dois conceitos fundem-se naturalmente na linguagem corrente, e não se condena ninguém por isso quando se trabalha com plásticos, seja na sua transformação industrial, projeto e conceção de moldes e ferramentas e outras actividades correlacionadas. Há, contudo, alguma injustiça quando valorizamos a performance de muitos plásticos mencionando-os apenas pelo nome do ou dos polímeros que o compõem e não nos detemos noutros constituintes sem os quais a aplicação falharia em vários requisitos que eram pedidos.

2. IMPORTÂNCIA DAS CARGAS, REFORÇOS E ADITIVOS A possibilidade de melhorar a performance de muitos polímeros recorrendo à sua associação com outros materiais permitiu ainda estender a aplicação dos materiais plásticos sobretudo nas aplicações automóvel, embalagem, elétricas e eletrónicas, construção, alimentando a imaginação de designers.

// Interruptor de porcelana (até aos anos 1930) (ciclo de produção, 3 a 4 minutos, 1 cavidade)

Basta lembrar por exemplo as limitações do polipropileno e do polietileno, de longe os polímeros de maior consumo, no que concerne a resistência à oxidação térmica, que sem aditivos específicos se degradariam em algumas semanas. E não se pode omitir o papel que alguns aditivos conferem à facilidade de processamento e consequente aumento de produtividade. Uma definição formal e até certo ponto oficial, na Comunidade Europeia, é a que classifica como carga, reforço e aditivo toda a substância que, quando incorporada num composto plástico, se destina a conseguir um determinado efeito técnico no produto final.

// Interruptor em PC/ABS nos nossos dias (ciclo de produção < 30 seg , várias cavidades)

Um exemplo simples de que nem sempre nos lembramos é o de que em Portugal nos anos 60 do século passado circulava um automóvel por 10 habitantes e hoje a relação é de cerca de 6 ou 7 para 10. E isto passa-se em muitos outros países. O consumo anual de materiais plásticos no mundo já ultrapassou os 300 milhões de toneladas.

Para simplificar a abordagem sintética de um tema como este que pode ser vastíssimo, (pois implicaria, só cada tipo de aditivo, vários artigos e sempre em permanente actualização), subdividimo-los em quatro grandes grupos: a) Reforços e cargas de Fibras (vidro, carbono, etc) b) Reforços e cargas de materiais não fibrosos (talco, carbonato de cálcio, etc) c) Aditivos funcionais (anti-UV’s, auto-extinguíveis, pigmentos, etc) d) Auxiliares de processamento (lubrificantes, plastificantes, etc)

É neste momento que quem trabalha com plásticos se interroga: e isto é bom?


3. FIBRAS A variedade de materiais em forma de fibra que podem ser aditivados a polímeros é muito grande, mas a fibra de vidro é dominante e é sobre esta que nos deteremos mais. De facto, a fibra de carbono é também muito utilizada e sobre ela falaremos adiante. Além destas são já usadas atualmente fibras sintéticas, fibras de aço, fibras de algodão, fibras de celulose modificada, sisal e juta, embora o caso específico de fibras de origem vegetal venha a ser abordado mais adiante num capítulo específico dedicado a aditivos de origem biológica. A fibra de vidro é bem conhecida de quase todos os que projetam e desenvolvem peças plásticas e ainda melhor por quem tem de processar esses materiais. O objetivo principal é conseguir aumentar o módulo de elasticidade, isto é, a rigidez, aumentar a resistência à rotura e em certa medida aumentar a dureza superficial. Os valores que normalmente são adicionados podem ir dos 10% até aos 65%, embora nos casos de percentagens muito elevadas, seja recomendável que a matriz polimérica tenha uma estrutura molecular adequada, como existe em algumas especialidades de poliamidas já presentes no mercado.

a embebe. A informação desta característica deve constar na ficha técnica do material normalmente com a referência “quimicamente ligada” ou em inglês “chemically bonded). Mas este não é único problema porque a contração esperada para a peça depende muito da orientação espacial das fibras na peça. Como se pode ver na fig.1 a contração é menor no sentido do fluxo do que no sentido transversal quando o polímero não tem fibra e o contrário nos composto com fibra. A esta dificuldade acresce levar em linha de conta em vários parâmetros do processo para evitar fragilidades nas linhas de união e de soldadura. Também constitui dificuldade se a peça tem requisitos de aspeto superficial devido à migração das fibras para a “pele” das peças

A maior dificuldade associada a esta carga é o processamento do composto onde está presente, pela geometria da fibra e a falta de afinidade desta para se ligar ao polímero base. Para tentar diluir melhor a fibra e conseguir uma distribuição menos anisotrópica é recomendável que a fibra esteja embebida num ligante (normalmente um silano) para que quando se dá a plastificação a fibra mantenha o mais possível a posição relativa no polímero que

// Fig.1

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A eficácia da aplicação de fibras de vidro aos polímeros depende muito do comprimento que adquire depois de passar todos os obstáculos desde a tremonha até ao molde. A fibra isoladamente é muito frágil e quando tem em média um comprimento de 4 mm no granulado da matéria-prima é aceitável que preencha a cavidade com um comprimento médio de apenas 1mm. A necessidade de conseguir para muitas aplicações valores altos das propriedades mecânicas atrás mencionada levou a desenvolver compostos com fibras longas de vidro, que partem de um comprimento inicial médio de 12mm para chegarem ao molde com um comprimento médio de 4mm. É aceitável processar estes compostos em equipamento convencional dado que estas fibras não são mais abrasivas que as normais, mas é recomendável reduzir os estrangulamentos do percurso da massa fundida usando para tal bicos de diâmetro nunca inferiores a 5,5mm. A aplicação destas fibras não é recomendável para peças com espessuras de parede muito variável, mantendo-se idealmente entre 3mm e 2mm. O projeto do molde recomenda um estudo mais aprofundado que se afasta do objetivo deste texto, mas deve alertar-se para alguns requisitos específicos para evitar o corte excessivo das fibras. Outros tipos de fibras usadas em muito menor escala, como as fibras de aramida conferem às peças as propriedades já descritas atrás mas em valores muito mais elevados, sobretudo na resistência ao impacto e dureza superficial. Têm muito menor densidade, mas são muito mais caras e os problemas de processamento também se multiplicam. As fibras de carbono, para além da sua propriedade semicondutora que veremos adiante, são aplicadas principalmente quando se quere associar essa propriedade às que já referimos. São muito caras, mas permitem criar compostos com polímeros de uso comum com aplicações na indústria aeronáutica e aeroespacial. O processamento de compostos de fibra de carbono tem condições muito exigentes, sendo de realçar o grau de anisotropia que ocorre na sua distribuição na peça.

4. REFORÇOS E CARGAS DE MATERIAIS NÃO FIBROSOS Como se viu no ponto anterior, um dos maiores problemas da adição de fibras é a sua distribuição anisotrópica na peça injectada, levando a que esta possa ficar desequilibrada nas suas propriedades mecânicas. O recurso a cargas de geometria esférica ou próxima, vem resolver parte desse problema, e nalguns casos até com economia. Isto explica o sucesso de dois reforços bem conhecidos, o talco e o carbonato de cálcio. Ambos têm como objetivo reforçar propriedades mecânicas das peças tal como a fibra de vidro, no entanto têm performances diferentes e nem sempre são bem distinguidos quanto às suas principais propriedades. Convém aqui mencionar que o talco tem uma forma física mais lamelar e o talco mais esférica, daí o talco conferir maior rigidez e maior resistência à temperatura, mas menor resistência ao impacto. Por exemplo nos compostos de polipropileno, adições elevadas de carbonato de cálcio, até 35% não afecta muito a sua resistência ao impacto; esta afirmação é mesmo válida para peças de paredes muito finas. Os dois minerais conferem resistência à deformação pelo calor, mas o talco permite transmitir maior estabilidade dimensional às peças quando submetidas a variações de temperatura. Esta propriedade é aplicável a polímeros semi-cristalinos como o polipropileno. Polímeros amorfos não adquirem esta vantagem.

Deve ainda referir-se que outra solução para reduzir a anisotropia característica da adição de fibras de vidro, é associá-la ao carbonato de cálcio e, se o custo do projeto suportar, pode recorrer-se a composto em que a fibra de vidro é substituída em parte ou no todo por microesferas de vidro (um preço possível ronda os 80€/kg) com diâmetros que podem variar entre 25 e 150 micra. Além destas soluções falta ainda referir a mica, que tem uma estrutura lamelar, mas é sobretudo usada em aplicações específica, como por exemplo em isolamento sonoro e eléctrico. Na tabela 1 faz-se um resumo comparativo das vantagens e desvantagens das cargas e reforços mais comuns atrás descritas. Propriedade

ISOTROPICA (Carbonato de cálcio)

LAMELAR (talco, mica)

FIBRAS

Módulo

+

++

+++

Resistência à rotura na cedência

-

+

++

Alongamento na rotura

-

--

---

Resistência ao impacto

+-

-

-

Deformação pelo calor (polímeros amorfos)

-

-

-

Deformação pelo calor (polímeros semi-cristalinos)

+

++

+++

Permeabilidade ao ar

-

--

---

// Tabela 1

5. ADITIVOS Os aditivos atuam principalmente como agentes de proteção a fatores externos e para melhoria da performance de físicas e do aspeto visual das peças. Outros são usados como auxilares de processamento. Considera-se sempre como a questão mais importante na escolha de um aditivo, estar seguro de que as normas de proteção da saúde são cumpridas, sobretudo nos casos em que possa ocorrer migração do aditivo para alimentos contidos nas peças usadas na sua embalagem. A preocupação com a reciclagem está também sempre presente e orientada para a melhoria do ambiente. Felizmente os temas relacionados com a toxicidade e a segurança são convenientemente avaliados por quem faz o desenvolvimento de novas aplicações procurando sempre as soluções mais sustentáveis. Do ponto de vista técnico a variável mais importante a avaliar é a energia superficial de interação polímero/aditivo. É fundamental conseguir uma interação eficaz entre o polímero matriz e o aditivo para obter a melhor dispersão, admitindo que o aditivo pode ser aplicado na forma sólida (pó ou granulado) ou líquida; por vezes além do aditivo funcional é necessário adjuvar um dispersante, (afinal mais um aditivo) para impedir a agregação quer em processamento quer em zonas diferenciadas nas peças. Além destes requisitos convém lembrar ainda os seguintes: eficiência na sua função, estáveis durante o processamento, estáveis nas condições de serviço, económicos, não se tornarem voláteis nem migrar para a superfície das peças (exceto quando é esse o objetivo), não contaminar as paredes do molde e terem baixa pressão de vapor a alta temperatura. Dada a extensão do número de aditivos funcionais, é mais fácil sistematizá-los nas tabelas 2 e 3 registando alguns aspetos importantes e sugerindo o seu estudo ou formação específica mais tarde a quem quiser aprofundar o conhecimento deste tema.



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Aditivos funcionais

Função

Tipos (exemplos)

Estabilizantes Antioxidantes (Oxidação térmica)

Aditivos que protegem os plásticos e outros materiais contra a oxidação termicamente induzida. A oxidação leva a um conjunto vasto de efeitos indesejáveis, como a descoloração, alterações de viscosidade, deterioração das propriedades mecânicas. Estes efeitos nefastos da oxidação oxidativa e térmica ocorrem logo no processo de fusão do plástico e durante o seu uso em peças ou mesmo na armazenagem prolongada. A oxidação é uma reacção química em cadeia. O aditivo antioxidante inibe esse processo usando moléculas químicas com essa propriedade.

Primários (misturas de sais metálicos), compostos fenólicos Secundários (fosfitos orgânicos)

Estabilizantes Antioxidantes (Oxidação atmosférica)

O processo de oxidação do ponto de vista químico é também um processo de degradação reduzindo o peso molecular médio

Idem

Desactivadores de metais

Eliminam os resíduos de metais usados na reacção de polimerização, que ficando retidos na matriz polimérica inciam um processo degradativo. Também se usam quando o polímero está em contacto com metais.

Quelatos (complexos azotados, fosfina, etc)

Anti envelhecimento Anti UV’s. Antimicrobianos

Reduzem amarelecimento, atenuam a formação de fissuras e consequente redução de propriedades mecânicas. Os antimicrobianos diminuem a actividade de microorganismos.

Negro de fumo, Benzofenonas, Benzotriazóis

Anti-estáticos

São produtos químicos destinado a aumentar a conductividade eléctrica do polímero dissipando a electricidade estática. São principalmente usados em PE, PP, PS, ABS, ABS/PC, Nylons, Poliésteres, Acrílicos. Impedem a deposição de poeiras. Moléculas polares em que o pólo hidrófilo migra para a superfície, atraindo água e dissipando a electricidade estática.

Aminas, compostos de amónio, fosfatos, ésteres

Agentes condutivos

Acção mais potente que os antiestáticos para aumentar a resistividade superficial e reduzir interferências em equipamento electrónico como por exemplo na embalagem e transporte de circuito e placas electrónicas

Negro de fumo, fibras de carbono, fibras de aço

Modificadores de impacto

Conferir às peças maior resistência a agressões mecânicas, como por exemplo em capacetes, párachoques, etc. São polímeros ou copolímeros que se misturam no polímero matriz com grande afinidade química e que estabelecem “pontes” elásticas entre as suas moléculas.

Evidências

Partículas de butadieno em SAN

Retardantes de chama

Inibem a propagação da chama quando a peça deixa de estar submetida à fonte de ignição

Actuam por isolamento, arrefecimento endotérmico ou encapsulamento

Agentes de deslizamento (slip) e antiblock

Reduzem o coeficiente de fricção que impede o deslizamento de duas superfícies de plástico em contacto (exemplo em filme de PE ou PP) ou em engrenagens mecânicas. São normalmente alcoóis de alto peso molecular, Carbonato de cálcio, molibdénio, sais metálicos, ácidos gordos, ceras.

Corantes e pigmentos

Usados para colorir polímeros na massa ou em processamento. Boa dispersão para evitar manchas. Devem ter boa resistência à luz.

Master batch. Pigmentos em pó. Corantes líquidos

Auxiliares de processamento

Função

Tipos

Lubrificantes externos

Reduz a fricção entre o polímero fundido e as superfícies metálicas. Evita a adesão às peças metálicas. Têm baixa compatibilidade com o polímero. Reduzem a viscosidade da massa fundida e aumentam o output. Melhoram o acabamento superficial e o brilho.

Sabões metálicos: Estearato de zinco Estearato de cálcio Estearato de magnésio Ceras

Melhoram o escoamento reduzindo as forças coesivas entre as moléculas do polímero, reduzindo a interacção entre elas. Actuam reduzindo a fricção intramolecular antes e depois da fusão, melhorando a fluidez da massa polimérica. São normalmente compostos de baixo peso molecular e com grupos polares.

Ceras Ésteres de cadeia longa Glicéridos Ácidos gordos e Amidos Estearatos de zinco

// Tabela 2

Lubrificantes internos

Evidências

Lubrificante externo Acção nos polímeros amorfos Acção nos polímeros semicristalinos

Plastificantes

Melhoram o processamento reduzindo a Tg (temperatura de transição vítrea). São solventes não voláteis com elevado ponto de ebulição. São compostos do tipo éster orgânico de alto peso molecular e polares. Reduz a fricção interna (entre as moléculas do polímero).

Ftalatos (com limitações) Fosfatos Adipatos Trimelitatos

Agentes nucleantes

Aceleram a solidificação durante o arrefecimento e uma distribuição homogénea da cristalização do polímero

Benzoato de sódio, lítio ou potássio. Pó inorgânico “farinha de argila ou silício.

// Tabela 3


Não ficam por aqui os aditivos disponíveis. Há mais especialidades de aditivos para modificar os polímeros como agentes expansores, quando se pretende criar micróporos no interior da massa polimérica e aditivos para criar aromas, para eliminar cheiros durante a armazenagem, repelentes de roedores, de formigas e até de pássaros, alguns com curiosas soluções. A pressão sobre o efeito do uso dos plásticos pela humanidade tem levado a intensificar o desenvolvimento em materiais plásticos com propriedades que permitam a sua reciclagem ou eliminação após uso por processos de biodegradação. Esta reação consegue-se com aditivos adequados a cada tipo de polímero e, tal como os não biológicos, são severamente controlados quanto à sua perigosidade para os humanos e necessariamente para o ambiente. Atualmente, os aditivos de base biológica já conhecidos são plastificantes, corantes, agentes antimicrobianos ou biocidas, antiestáticos, lubrificantes, retardantes de chama e supressores de fumos e estabilizantes (antioxidantes, anti-UV). A tabela 4 inclui apenas reforços e aditivos de base biológica aplicáveis em termoplásticos comercialmente ativos ou com potencial para entrar no mercado. Deve notar-se que sendo produtos com desenvolvimento recente devido à pressão ambiental, sobre alguns deles ainda há bastantes dúvidas quanto à sua sustentabilidade. Voltamos à questão que nos colocámos inicialmente, isto é, será bom continuar a usar plásticos como fizemos (e ainda fazemos) e consequentemente piorar a situação ambiental do planeta?

Tipos

Origem biológica

Aplicações

Plastificantes

Óleo de Soja (o mais barato) Óleo de Palma Óleo de linhaça Óleo de Girassol Óleo de Rícino (Castor) Sebacatos Citratos Adipatos

Versões óleo epoxidado. Alguns próprios para produtos médicos

Pigmentos

Antraquinona (de origem natural)

Tintos para têxteis Muito segredo nas formulações

Antiestáticos

Erucamide (Óleo de colza) Canola (Colza do Canadá) Glicerol (subproduto biodiesel) Sorbitol (Celulose) Negro de fumo (origem biológica)

Antifogging

Lubrificantes

Sebos e outras gorduras animais ricos em ácido esteárico e palmítico

Ceras e parafinas

Autoextinguíveis

Carvão vegetal (lenhite) Vegetais ricos em fósforo

Cresol

Antioxidantes (só primários)

Lenhite (derivados) Castanha de caju

Fenólicos de origem vegetal

Fibras

Cuarurá

Com propriedades muito semelhantes à fibra de vidro e já usada em peças automóveis

// Tabela 4

Não é fácil imaginar a humanidade a viver sem plásticos, mas o problema está muito mais nas pessoas e no seu comportamento do que nos plásticos em si. Os bioplásticos e os aditivos de origem biológica poderão aliviar alguma pressão, mas tal como o petróleo, são recursos limitados pela capacidade de produção da natureza. A ciência, a tecnologia e a atitude comportamental têm muito pouco tempo para reagir.

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CIBERSEGURANÇA: BOAS PRÁTICAS PARA NAVEGAR EM SEGURANÇA 76

Brigada de Investigação de Criminalidade Informática da Polícia Judiciária de Leiria

A revista MOLDE inicia nesta edição a nova rubrica ‘CYBER SECURITY: Boas práticas para navegar em segurança’. Ao longo das próximas edições, com a colaboração da Brigada de Investigação de Criminalidade Informática da Polícia Judiciária de Leiria, vamos apresentar um conjunto de pequenas dicas e sugestões para que navegar no ciberespaço se torne mais seguro.

do histórico dos ataques dos últimos 30 dias em cada país, apresenta também um inventário das três atividades que atraem maior número de intrusões (malware, phishing e exploit), bem como das indústrias mais atacadas e os tipos de programas maliciosos mais usados. Possibilita ainda afinar a busca e visualizar a incidência de ocorrências em cada país.

Nesta edição, damos a conhecer um conjunto de ferramentas online, seguras e gratuitas (são, apenas, alguns exemplos; há outras que permitem realizar as mesmas operações) e que permitem avaliar, entre outras questões, a segurança das passwords (palavras-passe) ou a quantidade de tentativas de ataque das quais as nossas contas de email (correio eletrónico) foram alvo. Todos eles permitem um modo gratuito de consulta inicial ou, numa versão premium (paga) possibilitam afinar pesquisas ou ativar diversas soluções para evitar problemas.

2.

Sendo que um dos pilares da segurança informática são os utilizadores, a rubrica apresenta um conjunto de sites de acesso fácil e intuitivo que as empresas podem divulgar junto dos seus colaboradores para que estes possam estar mais alertados acerca da navegação na internet. Dão a conhecer a dimensão da utilização da internet, a nível mundial, e permitem perceber que ‘seja o que for que nos lembremos e que necessitemos online, já alguém teve a ideia de o criar’. Basta pesquisar para encontrar.

https://www.internetlivestat.com/ Este é mais um site que permite perceber a dimensão e o impacto da internet nas nossas vidas. Tem vários contadores, em tempo real, que mostram, em crescendo e ao minuto, a evolução da quantidade de utilizadores, o número de emails enviados [ao segundo], as pesquisas no Google, as interações nas redes sociais e web sites pirateados. As estatísticas não se ficam por aí. Possibilita ainda perceber o número de computadores, tablets e smartphones vendidos, a quantidade de eletricidade consumida pela internet e as emissões de CO2 libertadas, entre outros.

Sublinhando que quando se fala em ciber-ataques, a questão não é ‘se’ vão ocorrer, mas ‘quando’ ocorrerão, a PJ aconselha a investir quinze minutos do seu tempo a divulgar e experimentar estas ferramentas e recorda a importância de manter uma atenção permanente e, socorrendose das ferramentas possíveis, complicar o acesso aos atacantes.

1. https://threatmap.checkpoint.com/ Esta página dá a perceber o mundo da criminalidade online. Permite visualizar, em tempo real, a quantidade, o tipo de ataques, a sua velocidade e dispersão geográfica, que estão a ser levados a cabo, por todo o mundo. Para além da listagem dos países mais atacados,

3. https://www.security.org/how-secure-is-my-password/ Esta é uma ferramenta de inquestionável utilidade: permite avaliar a segurança de cada password (palavra-passe) e testar várias, em tempo real, de forma a conseguir criar uma que seja a mais segura possível. O que torna este site interessante é que mostra, para cada palavra passe, qual o tempo que demora a descobri-la com os recursos computacionais atuais. Para além do mostrador de teste, apresenta ainda um tutorial com um conjunto de conselhos para tornar as palavras-passe mais robustas e seguras. Se cada um de nós pensa que tem essa questão assegurada, uma consulta a esta ferramenta pode ser muito elucidativa.


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4. https://haveibeenpwned.com/ Esta é uma outra ferramenta extremamente interessante. Para cada endereço de correio eletrónico ou URL que se introduza no site, permite perceber, com detalhe de data e de tipo, se algum deles foi alvo de tentativa ou mesmo de ataque bem-sucedido. Caso o endereço de correio eletrónico introduzido, tenha sido alvo de ataque bem-sucedido, a cor de fundo do site muda para vermelho e é apresentado um relatório sobre a intrusão, onde consta a respetiva data, e se a palavra passe foi ou não comprometida. Apresenta, ainda, uma listagem das quebras de segurança, elencando os ataques mais frequentes, bem como de um conjunto de conselhos para corrigir ou tornar os domínios/emails mais seguros.

5. https://www.virustotal.com/ Esta ferramenta permite uma verificação, seja de ficheiros (armazenados online ou em PC), seja de links, seja de endereços de IP ou domínios de internet, para perceber se são seguros ou se estão infetados com vírus informáticos. É certo que cada utilizador terá,


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pelos menos, um antivírus instalado nos seus equipamentos, mas esta página permite que o ‘documento’ em análise seja verificado por cerca de 70 antivírus (na versão gratuita; esse número aumenta se se optar pela versão paga). É, sem dúvida, uma forma rápida e intuitiva de multiplicar por muito a segurança. Extremamente acessível e fácil de utilizar.

NOTA: Para transformar um NIB em IBAN, para contas bancárias portuguesas, basta acrescentar, no início PT50.

6.

Na página inicial do navegador Google, clicar em imagens (canto superior direito). Na página apresentada, clicar no ícone que representa uma máquina fotográfica. De seguida é só colocar o URL da imagem pretendida ou procurar o ficheiro de imagem, armazenado em PC e que se pretende pesquisar. Em alternativa e muito mais prático, clicar com o botão direito do rato em qualquer imagem online, e escolher a opção, “Pesquisar imagem no Google”, como exemplificado na figura abaixo.

https://br.qr-code-generator.com/ QR-Code: Código gráfico, bastante compacto, que permite o envio e leitura, através de dispositivos informáticos, de forma praticamente instantânea, de grandes quantidades de informação. Além da rapidez, elimina o fator erro humano na transcrição de informação, por exemplo moradas, contactos telefónicos e referências bancárias.

8. https://www.google.pt/ A pesquisa por imagens do Google é muito fácil de utilizar:

Figura exemplo

Esta é uma ferramenta que permite gerar QR Codes a partir dos mais variados formatos (texto, imagens, cartões de visita, URL, endereços de correio eletrónico, bitcoins, etc). É muito prático e apresenta várias possibilidades, mesmo na versão gratuita. Trata-se de uma forma eficaz de assegurar que a informação que se pretende transmitir/dar a conhecer é segura e fidedigna e permite evitar o erro de comunicação.

7. https://www.ibancalculator.com/ Para as empresas, esta é, talvez, das mais interessantes ferramentas. Trata-se de um validador de IBAN. Ou seja, permite perceber se uma qualquer conta bancária (nacional ou estrangeira) existe, se é real e qual a entidade bancária onde se encontra domiciliada. Para contas bancárias nacionais, indica a morada da agência onde se encontra domiciliada. Sempre que um IBAN levanta suspeitas ou curiosidade, basta introduzi-lo no site para tirar algumas dúvidas. A versão paga possibilita, ainda, mais profundidade na pesquisa.

Esta pesquisa é válida para qualquer imagem, seja em sites (anúncios de vendas, bancos, empresas), ou redes sociais virtuais (Facebook, Twitter, Instagram, tik tok…) Em casos de perfis falsos de Facebook e anúncios fraudulentos de vendas de automóveis, por exemplo, habitualmente as imagens ali colocadas, são retiradas da Internet, dos sites e perfis legítimos. O resultado da pesquisa por imagem indica, todos os sítios online, onde esta foi usada. É possível assim aferir a sua verdadeira origem. Em alguns casos, permite evitar a concretização de algumas burlas, por exemplo, envolvendo pessoas que não são quem dizem ser. Pode ser também útil para detetar falsos perfis em redes sociais (e evitar alguns dissabores futuros) ou perceber se há usurpação de imagens de, por exemplo, logotipos ou imagens corporativas das organizações, entre outras utilizações.



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NEGÓCIOS

ECONOMIA . MERCADOS . ESTATÍSTICAS ECONOMY . MARKET INFORMATION . STATISTICS

PORTUGAL 2030 – ANTECIPAR O FUTURO NA INDÚSTRIA DE MOLDES E PLÁSTICOS

SUÍÇA - SITUAÇÃO ECONÓMICA E PERSPETIVAS


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BUSINESS /

PORTUGAL 2030 – ANTECIPAR O FUTURO NA INDÚSTRIA DE MOLDES E PLÁSTICOS Vítor Ferreira * * Diretor Executivo Startup Leiria / Docente Politécnico de Leiria

Dez anos nos separam desta data. Os números redondos são atrativos para agendas e objetivos de política. Portugal em 2010, 2020 e agora a agenda 2030. Uma das coisas que a evidência nos mostra é que, no nosso país, estamos constantemente a correr sem sair do lugar. O próximo período de dez anos será marcado por novos desafios e velhos problemas. O primeiro desafio é o pós-pandemia. Com várias vacinas no horizonte teremos uma recuperação em “V” ou em “U”? E o turismo, recuperará? Não sou arauto dos que dizem que a aposta em turismo é errada (não é, temos vantagem comparativa) ou que devemos apostar na re-industrialização (já escrevi várias vezes que a indústria do futuro é intensiva em I&D e conhecimento e não temos capital humano ou dimensão empresarial suficiente). Os países europeus continuam atrás dos EUA e da China no que concerne à capacidade de inovar em áreas como a inteligência artificial ou TI como um todo.

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As empresas americanas conquistaram a liderança da economia intangível (90% do valor das empresas vem, no século XXI, de intangíveis – capital humano, patentes, marcas, dados, algoritmos) e irão continuar a dar cartas a nível global (a não ser que sejam divididas pelas leis anti monopólio). Até na clássica indústria automóvel, a Tesla se tornou a maior empresa em capitalização de mercado. As apostas europeias e nacionais, ainda que acertadas no que concerne à criação de negócios sustentáveis, tecnologias verdes, maior intensidade de conhecimento, não têm respondido totalmente ao que são os drivers da competitividade de países e nações. Leiria tem também de fazer uma transição para uma região de alta tecnologia, com reconfiguração de parte dos seus sectores (industriais, agrícolas, etc.) para a indústria 4.0. No entanto, o pós-crise parece que irá gerar alguns fenómenos positivos. A União Europeia decidiu-se finalmente por uma maior


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harmonia de política económica e já não é tabu falar de obrigações europeias ou de uma “proto” segurança-social europeia. Por outro lado, o investimento verde é uma aposta fundamental para algo que pode significar uma pandemia de décadas ou, quem sabe, triénios (as alterações climáticas). Simultaneamente, dos EUA surgem bons sinais, de uma reabertura económica e menos protecionismo (e populismo), que tem prejudicado o comércio mundial (e, indiretamente, alguns sectores da região de Leiria). O trabalho, um pouco por todo o mundo, parece que irá reconfigurar-se para um misto de digital e físico, com recurso a realidade aumentada que permitirá reuniões quasepresenciais, com novos softwares de interação, mas também maior liberdade para o bem-estar. Mas o que quer isto dizer para indústria de moldes e plásticos e quais as tendências a antecipar? 1. Sustentabilidade Uma pequena amostra regional permite-nos perceber que a maioria das empresas não está preparada para um dos desafios que se colocam nesta nova década. Não só existe alguma miopia no concerne a tendências inexoráveis (a procura por parte dos consumidores de produtos mais verdes não vai recuar, vai apenas acelerar), como alguma falha a antecipar alterações políticas e regulatórias. Quer a nível nacional, quer a nível europeu, várias alterações se anteveem, desde a proibição de plásticos de uso único, ao aumento da exigência do grau reciclabilidade de produtos finais, passando pela reconversão energética e até pela proibição de fabricação de carros com motores de combustão. Aparentemente, na nossa indústria (mas também em alguns fabricantes europeus) continua a pairar a dúvida sobre tudo isto, o que tem atrasado as suas ações estratégicas. Juntemos a isto a obrigatoriedade de respeitar requisitos de sustentabilidade social e ambiental para aceder a fundos, para compras públicas e aos próprios programas do “2030” que terão a sustentabilidade como mote, e então hoje deveríamos estar todos a preparar este futuro. 2. Alterações da cadeia de valor Uma lição que se retira da ascensão da Tesla passa pela reconversão das cadeias de valor. A extrema atomicidade das cadeias de valor do sector automóvel com alargadas redes de subcontratação, vai dar lugar a alguma internalização de processos, uma vez que a lógica de produção de um carro em que todos os elementos são ligados por software obriga a um maior controlo de todo o processo de desenvolvimento. As empresas da indústria automóvel estão hoje a recrutar milhares de engenheiros informáticos, para desenvolver novos projetos de raiz. Por outro lado, as cadeias passaram a estar completamente interligadas digitalmente, com o cliente final acompanhar todo o processo, do desenho do molde, à injeção, à montagem e ao transporte de componentes.

3. Empresas de conhecimento e I4.0 As empresas do sector serão cada vez menos tangíveis, e cada vez mais intensivas em conhecimento. A integração de sistemas ciberfísicos, os dados, a otimização, a integração de todas as etapas da fábrica num ERP que pode ser otimizado transformam cada vez mais as empresas de produção em empresas de TI/engenharia. E as empresas têm de saber investir e evoluir nas tecnologias certas. Aquilo que se apelida de transformação digital da indústria está apenas no início, com imensas possibilidades futuras que têm de ser corretamente acompanhadas. Isto tem consequências em vários aspetos, desde a forma como criamos valor, aos colaboradores que necessitamos, à necessidade de treinar antigos colaboradores, à competição pelo talento (existirá, inevitavelmente, uma ainda maior escassez de talento adequado a esta nova realidade). Por outro lado, pessoas altamente criativas e qualificadas e tarefas cada vez menos repetitivas e físicas, obrigam a um estilo de gestão que parece estar ainda ausente da nossa indústria. Novas formas de gestão e organização são necessárias (maior autonomia, mais oportunidades de formação, maior transversalidade, mais incentivos) para esta nova realidade. É sempre de realçar que, apesar de tanto alarido e incentivo, os EUA e o Japão (com a China bem próxima) lideram os investimentos naquilo que pode ser entendido como Indústria 4.0, o que pode consubstanciar uma ameaça ainda maior para a fabricação europeia, que parece ficar cada vez mais para trás. 4. Guerras comerciais? Nunca nada de bom veio do protecionismo (aliás, as duas grandes guerras do século XX são prova disso). A própria União Europeia, nascida como CEE, é uma tentativa de criar paz pelo derrube de barreiras comerciais e económicas, juntando povos em vez de os colocar em competição. No entanto, por mais que a situação com os EUA melhore (com óbvios benefícios para a nossa indústria), a verdade é que a competição com a China parece ter vindo para ficar. Esta competição é uma excelente oportunidade para ocupar um vácuo, abrindo a possibilidade para as empresas nacionais substituírem importações de maior valor acrescentado, mais verdes e mais próximas do mercado europeu. Obviamente existem outras tendências a acompanhar de perto, mas estas necessitam de uma reflexão urgente para desenhar o futuro. Contudo, parece-me que, politicamente, continuamos um pouco a leste de resolver problemas de competitividade antigos e centrados em mega-projetos (TGV, aeroporto), que, ainda que necessários, não serão os que nos colocarão em 2030 sem necessidade da agenda 2040.



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SUÍÇA - SITUAÇÃO ECONÓMICA E PERSPETIVAS 84

Ana Maria Rosas * * Delegada da AICEP na Suíça

“A economia Suíça é uma das mais competitivas do mundo, principalmente graças ao sector de serviços. Comparando ao nível internacional, a dívida pública suíça é relativamente baixa. Além disso, a Suíça dispõe de um sistema tributário competitivo. Composta principalmente por pequenas e médias empresas, a economia suíça é baseada na exportação.” – é assim que a Suíça se apresenta oficialmente. Em termos gerais verifica-se no 4º trimestre de 2020 que a contração económica na Suíça será menor do que o temido. A previsão de queda anual do PIB é agora de -3,8% (em junho perspetivava-se -6,2%) enquanto que a taxa de desemprego médio anual esperada de 3,2%. Resta ainda aferir integralmente o impacto da 2ª vaga de Covid-19 que surpreendeu a Suíça pela sua rapidez e amplitude.

KOF – Barómetro conjuntural e série de referência: De qualquer forma, a retoma económica ainda é incompleta, sendo que na maior parte dos sectores económicos, o nível do ano precedente não foi atingido e prevê-se que não o seja integralmente até 2022, isto no pressuposto de que nem a Suíça, nem os seus principais parceiros económicos tenham de instaurar um novo confinamento em larga escala. A redução de -3,8% do PIB prevista para 2020 é a mais forte redução desde 1975.

Com o relaxamento das medidas de política sanitária a partir do fim do mês de abril, a economia suíça iniciou um processo de rápida recuperação logo a partir do profundamente negativo segundo trimestre de 2020 (-7,3%PIB), tanto no âmbito do consumo, quanto no âmbito do investimento. Como consequência, o recurso aos instrumentos de apoio à manutenção dos postos de trabalho e às linhas de financiamento colocadas à disposição das empresas foi substancialmente menor do que o projetado. A recuperação acelerou ao longo do 3º trimestre. Assim, alguns sectores económicos, como por exemplo os da restauração e hotelaria (fora dos principais centros urbanos) beneficiaram do facto de os suíços terem viajado menos para o exterior e feito férias na Suíça. Outros sectores, como por exemplo a indústria manufatureira, mais dependentes da conjuntura internacional, recuperaram a uma taxa mais lenta. O mesmo acontecendo com sectores que sofreram um impacto direto da pandemia e das medidas tomadas para a conter, como o turismo internacional, a cultura e os grandes eventos.

// A vermelho – A conjuntura suíça e medidas para o crescimento do PIB (série de referência SECO/KOF). É aqui representada sobre forma estandardizada (média=100, desvio padrão=10) A verde – Barómetro KOF Conjuntural (médio de longo prazo 2010-2019 =100) Gráfico KOF Barómetro, 2010-20 (100=média 2010-19)

Até ao final do ano, os peritos preveem a continuação de um crescimento da economia a um ritmo moderado e projetam para 2021 um crescimento do PIB em torno de 3,8%, abaixo dos 4,9% de crescimento apontados em Junho deste ano. Em 2021 a situação internacional será provavelmente caracterizada por uma certa heterogeneidade sendo que na perspetiva da Suíça,


os países do sul da Europa, particularmente dependentes do turismo, sentirão de forma agravada a crise da pandemia; outros países entre os quais os EUA e a Alemanha deverão recuperar-se mais rapidamente. No global, a economia mundial deverá recuperar de uma forma lenta o que se refletirá na fortemente exportadora economia suíça. Quanto ao mercado do trabalho, a situação deverá melhorar, mas lentamente, assim o desemprego deverá atingir em 2021 os 3,4% (a previsão feita em Junho era de 4,1%), enquanto o aumento do número de postos de trabalho será moderado. Relativamente aos riscos conjunturais, apontam-se a pandemia Covid-19 e as reações dos círculos económico e político como o principal risco. Certo é que a Covid-19 trouxe um novo ritmo à economia. Um ritmo de “stop-and-go”, em que se sucedem a pequenas acelerações, momentos de “travão a fundo”. Este é um ritmo de consequências desconhecidas, imposto por três atores

imprevisíveis: o vírus, as medidas governamentais e a resposta dos atores económicos. Mas é também um ritmo que é divergente no seu impacto na sociedade, existindo aqueles que se mantêm a trabalhar ao longo de todo o processo e aqueles que param e arrancam. Na Suíça, o “stop” corresponde à recessão da primavera quando o PIB Suíço caiu 7,3% e o “go” à retoma de 5,5 a 6,5% verificada no 3º trimestre. Amplitudes trimestrais nunca registadas anteriormente. O 4º trimestre será de novo um trimestre de “stop”. Mas espera-se que a vacina permita superar o ritmo.

RELAÇÕES BILATERAIS PORTUGAL-SUÍÇA A Suíça ocupa uma posição relevante no ranking do comércio internacional de bens com Portugal: em 2019 subiu para o 13º lugar e posiciona-se até setembro de 2020 em 12º lugar como cliente; enquanto como fornecedor subiu para o 30º lugar em 2019 e, até setembro de 2020, para 28º.

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A balança comercial de bens tem sido favorável ao nosso país: em 2019, as exportações portuguesas totalizaram 622,5 M€ e as importações 286,5 M€, com crescimentos médios de, respetivamente, 8,1% e 2,2% desde 2015. Até Setembro de 2020 e comparativamente a igual período do ano transato, as exportações portuguesas de bens para a Suíça caíram -1,4%, e as importações portuguesas da Suíça cresceram 11,7%, essencialmente por força do aumento das vendas de produtos químicos (medicamentos). A evolução da balança comercial nos últimos anos tem sido acompanhada pelo aumento do número de empresas exportadoras, que passaram de 3.836, em 2015, para 4.350, em 2019.

De janeiro a setembro de 2020 observaram-se reduções de -25,1% e -17,0%, respetivamente nas exportações e importações de serviços, face ao período homólogo do ano anterior, o que se atribui à pandemia, designadamente à quebra das viagens e turismo que, em 2019, representaram 44,9% das nossas exportações de serviços.

/ / Fonte: Banco de Portugal; Unidade: Milhões de euros Notas: (a) Média aritmética das taxas de crescimento anuais no período 2015-2019 (b) Taxa de variação homóloga 2019-2020

/ / Fonte: INE - Instituto Nacional de Estatística; Unidade: Milhões de euros Notas: (a) Média aritmética das taxas de crescimento anuais no período 2015-2019 (b) Taxa de variação homóloga 2019-2020 (2015 a 2019: resultados definitivos; 2020: resultados preliminares)

A Balança Comercial de Bens e Serviços de Portugal com a Suíça apresenta uma quebra de -18,8% nas exportações portuguesas relativas aos três primeiros trimestres de 2020, comparativamente com igual período de 2019, e quanto às importações, a quebra é de -8,9%. O saldo da balança mantém-se positivo, apresentando um coeficiente de cobertura de 232,9%.

Principais grupos de produtos exportados em 2019: Destacamos os Veículos e outro material de transporte (18,5%), Máquinas e aparelhos (12,1%), Alimentares (10,7%), Plásticos e borracha (8,9%) e Metais comuns (7,5%). Em 2020 (até ao final do 3º trimestre) manteve-se o 1º grupo de produtos, mas os alimentares transitaram para 2º lugar. Principais grupos de produtos importados em 2019: Destacamos os Produtos químicos (53,7%), Máquinas e aparelhos (22,9%), Instrumentos de ótica e precisão (6,6%), Metais comuns (5,2%) e Plásticos e borracha (3,0%). Comércio de Serviços Os serviços têm-se afirmado como a principal componente do relacionamento bilateral entre Portugal e a Suíça, tendo o total dos fluxos nos dois sentidos atingido os 1,84 mil M€ em 2019. As exportações portuguesas de serviços assumem uma particular relevância: em 2019, o valor das exportações de serviços (1.326 M€) foi superior ao dobro do valor das exportações de bens (622,5 M€).

/ / Fonte: INE

/ / Fonte: Banco de Portugal; Unidade: Milhões de euros Notas: (a) Média aritmética das taxas de crescimento anuais no período 2015-2019 (b) Taxa de variação homóloga 2019-2020 Devido a diferenças metodológicas de apuramento, o valor referente a “Bens e Serviços” não corresponde à soma [“Bens” (INE) + “Serviços” (Banco de Portugal)]. Componente de Bens com base em dados INE, ajustados para valores f.o.b.

RELAÇÕES BILATERAIS NO SECTOR DE MOLDES O peso da Suíça no comércio internacional de Portugal nos sectores de moldes e plásticos apresenta-se conforme o quadro seguinte: Verificamos, especificamente no que diz respeito aos moldes que Portugal exportou entre 2016 e 2019 para a Suíça, valores anuais entre 7,6 M€ (2016) e 11,2M€ (2019), apresentando taxas de crescimento anuais entre 10 e 18%, após uma quebra substancial entre o ano de 2015 e 2016. A Suíça representa em 2019, 1,83% das exportações portuguesas de moldes.


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87 / / Fonte: INE

/ / Fonte: INE

/ / Fonte: INE

A evolução das importações portuguesas de moldes da Suíça, apresenta o mesmo sentido positivo, mas é muito menos representativa. Portugal importa em 2019, 2,4 M€. Como fornecedor de moldes, atinge em 2019, 1,39% do total exportado por Portugal. Dado o comportamento atípico de 2020, quisemos introduzir os dados mais recentes de que dispomos e apresentamos de seguida um quadro e dois gráficos com a evolução mensal das exportações portuguesas de plásticos e moldes. A evolução é evidente num ano de particular dificuldade para o sector, onde agosto se destaca pelo aumento abrupto das exportações de moldes portugueses para a Suíça. Agosto corresponde também ao período de abrandamento do número de novos casos de infeção e internamento por Covid-19, em que a Suíça pôde viver um momento tranquilo, mais esperançoso e, claramente, projetar melhor a recetividade de venda internacional dos seus produtos. Podemos talvez daqui retirar a ilação de que quando a pressão da pandemia abrandar, existirão condições para a intensificação de trocas comerciais entre os 2 países neste sector.

/ / Fonte: INE

/ / Fonte: INE

Em geral, perspetiva-se que em 2020 a exportação de moldes não registe uma variação notória relativamente ao ano anterior.

O SECTOR SUÍÇO DE MOLDES E PLÁSTICOS Em final de julho de 2020 a associação sectorial do cluster dos plásticos – Kunststoff.Swiss – publicou a usual análise do sector, atualizando os dados e comentários, por forma a abranger o comportamento em 2019, que foi já um ano de alguma retração comparativamente ao excelente ano 2018. Esta retração deve-se sobretudo ao sector automóvel que perdeu tração arrastando os fornecedores.


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88 / / Fonte: Kunstoff. Swiss

No total, o sector de plásticos suíço faturou cerca de CHF 15.191 mil milhões, o que representou uma quebra de -5,5% relativamente a 2018. No sector de moldes, tal como nos sectores de prestações de serviços e empresas de reciclagem, as alterações são menos percetíveis. A quebra maior, de -8,5%, foi sofrida pelo sector de máquinas e equipamentos periféricos relacionados com o sector de plásticos (em geral o sector de máquinas e equipamentos recuou -12% nas suas vendas, em igual período). A quebra de vendas no sector de fornecedores de matéria prima deve-se sobretudo à baixa de preço. Ainda assim, o número de empresas e de trabalhadores do cluster aumentou ligeiramente.

As exportações do sector representam cerca de 22,3% do total de faturação em 2019, cresceram em percentagem relativamente a 2018 (21,8%). Atendendo exclusivamente ao sector de moldes constatamos que os principais 10 mercados de exportação da Suíça são: Os principais 10 mercados de importação de moldes são:

Em consonância, a utilização de plástico caiu cerca de -3,4%, de 775.181 ton. para 748.906 ton., mas, em sentido contrário, a borracha aumentou 3,2% para 43.537 ton., talvez devido ao sector da construção. Evolução de vendas do sector de plásticos e borracha na Suíça – do 1º trimestre de 2017 ao 2º trimestre de 2020 (comparativamente a trimestre semelhante de ano anterior):

/ / Sources: ITC calculations based on Administration fédérale des douanes (AFD) de Suisse statistics since January, 2015. ITC calculations based on UNCOMTRADE statistics until January, 2015 Unidade: Euro mil Produto: 8480 Moldes caixas para fundição de metal; bases de moldes; moldes patterns; moldes para metal (outros…)

/ / Fonte: Statista 2020

Quanto à distribuição de aplicações/destino de utilização dos materiais plásticos verifica-se que em 2019 os sectores de Embalagem e Construção representam em conjunto quase 78%, sendo que o sector automóvel/mobilidade representa 7% aproximadamente o mesmo que o sector da saúde/dispositivos médicos. É provável que em 2020 a paridade entre os dois sectores se tenha alterado e o sector de dispositivos médicos tenha crescido. Distribuição de aplicações dos plásticos:

/ / Sources: ITC calculations based on Administration fédérale des douanes (AFD) de Suisse statistics since January, 2015. ITC calculations based on UNCOMTRADE statistics until January, 2015 Unidade: Mil Euros Produto: 8480 Moldes caixas para fundição de metal; bases de moldes; moldes patterns; moldes para metal (outros…)

Ainda especificamente sobre os moldes, verifica-se ao longo do período 2015 a 2019 o aumento de “vendas por funcionário”: de CHF 192.000 em 2015 para CHF 210.000 em 2019, de qualquer forma muito abaixo da média do cluster de plásticos que varia de CHF 422.000 a CHF 448.000 durante o mesmo período. Em termos dos processos produtivos mais preponderantes na cadeia de valor indústria de plásticos suíça, destacam-se a moldação por injeção (14,7%), a assemblagem (10,7%), a termoformagem (7,3%), hot stamping e impressão (6,2%), e a extrusão (6,2%). O fabrico de moldes, representa 9,6%. / / Fonte: Kunststoff.Swiss


e vê reforçada a sua importância ao longo de 2020. A influente associação sectorial https://www.swiss-medtech.ch/en aconselha a Confederação Suíça na rápida renegociação de acordos-quadro com a UE, neste momento em curso. Parece-nos existir, no âmbito do equipamento médico, eventuais oportunidades de negócio carecendo, no entanto, Portugal de reforçar a sua imagem e encontrar formas de investigação aplicada conjunta. Potenciais entidades do sistema tecnológico e científico suíço podem encontrar-se aqui: - https://www.swiss-medtech.ch/en/memberlist?f%5B0%5D=member_special_field%3A47. As empresas do sector associadas encontram-se aqui: https://www. swiss-medtech.ch/en/member-list?f%5B0%5D=member_special_ field%3A37. A abordagem através de parceiros do sector dos plásticos ou moldes, parece recomendar-se. / / Fonte: Kunststoff.Swiss

Recentemente a associação Kunststoff.Swiss organizou um inquérito sobre o prognóstico de evolução do sector em 2020, não refletindo ainda o efeito da pandemia Covid-19. Na altura 40% dos associados esperavam um aumento de vendas, 43% a sua manutenção e apenas 17% uma quebra. O diretor geral da associação afirmava em julho que o impacto da Covid-19 terá com certeza alterado estes prognósticos, mas mantém-se expectante uma vez que a pandemia também trouxe novas áreas de negócio e as empresas aproveitaram o momento para se adaptarem.

SECTORES DE OPORTUNIDADE A Suíça encontra-se num caminho de digitalização; enfoque em temáticas de sustentabilidade e proteção ambiental; melhoria da saúde e qualidade de vida em geral e aumento da mobilidade. E estas tendências, ancoradas num ambiente de forte, contínua e consistente inovação incremental, orientam-nos para falarmos de oportunidades de negócio na Suíça: Digitalização: Permitindo uma abordagem à distância ainda mais eficaz do que até agora, esta tendência obriga a cautelas e procedimentos especiais dado a Suíça não fazer parte da UE e manter ativos procedimentos protecionistas da sua economia e fiscalidade. Soluções de IA – Inteligência Artificial para melhoria de identificação de parceiros e de procedimentos e abordagens, podem ser trabalhadas a favor do sector português de moldes.

Mobilidade: O sector automóvel Suíço, muito dependente da vizinha Alemanha, atravessa momentos de algum desalento. No entanto, os sectores de “duas rodas” (motorizadas ou não, ligadas à mobilidade urbana ou ao desporto) e de “comboios” estão em franca expansão comercial, pelo que constituem hipóteses de oportunidades comerciais relevantes. Por outro lado, a Suíça continua a apostar na criação e requalificação de túneis e infraestruturas ferroviárias. Particularmente nesta última perspetivam-se ligações internacionais aos países vizinhos e à UE em geral que abrem hipótese de novos negócios. A aicep encontra-se naturalmente disponível para apoiar o sector de moldes português na sua abordagem ao mercado suíço. Num recente webinar organizado pela The Economist foram apresentados os seguintes 2 slides que podem servir de mote à identificação de sectores de oportunidade:

Sustentabilidade: A título de exemplo sobre a importância do tema, a House of Switzerland abre o seu site com uma notícia em evidência sobre reciclagem de plásticos, consultável em https://www.houseofswitzerland.org/ swissstories/environment/swiss-start-ups-reinvent-plasticsindustry, mas a sustentabilidade é motivo de conversas políticas e investimentos privados e públicos. A reutilização e o desperdício zero impregnam a economia suíça transversalmente. Especificamente no âmbito das energias, a Suíça procede a investimentos no sentido de fontes mais sustentáveis de energia. Abrem-se aqui oportunidades de negócio. Saúde e qualidade de vida: Tendência consubstanciada num cluster, composto por um sector industrial, de serviços e de formação/investigação fortíssimos na Suíça, ancora a sua positiva evolução na contínua aposta em inovação

Links úteis: Swiss-Form - https://www.swiss-form.ch/ Kunststoff.Swiss - https://kunststoff.swiss/ Swiss Plastics Cluster - https://swissplastics-cluster.ch/ Revista KunststoffXTRA - https://www.kunststoffxtra.com/

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GESTÃO DE PESSOAS

TOXICIDADE CRISTALIZADA - EM 2021 TEMOS DE TER CORAGEM DE A CONFRONTAR!

FALTA CUMPRIR-SE A COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA


PEOPLE MANAGEMENT /

Artur Ferraz * * Consultor Internacional em Gestão de Pessoas

O ano de 2020 ficará registado como um marco, um ano diferente de todos os anteriores. Já muito se escreveu sobre o quanto as nossas vidas mudaram ou irão ainda mudar. Assistimos a braços de ferro entre países, blocos económicos, partidos políticos, grupos de pressão, antigos e outros mais recentes, opiniões fundamentadas em evidências efetivas, outras baseadas em pouco mais que conjeturas e muitas, profundamente, erradas e desconcertantes. Produziram-se documentos e fizeram-se apresentações sobre tudo e mais alguma coisa. Os efeitos internos nas organizações e, mais precisamente nas pessoas, não estão, em muitos casos, a ser acautelados. Décadas de práticas organizacionais pouco orientadas para o desenvolvimento de ambientes de trabalho saudáveis e isentos de toxicidade criaram organizações cristalizadas, nas quais a procura da melhoria contínua e a orientação para resultados são meros requisitos para responder a um qualquer processo interno. É claro que não podemos generalizar estas práticas, mas em muitas organizações, pequenas, médias, grandes isto é uma realidade. Realidade essa que, com a pandemia, permitiu a emersão de uma série de acontecimentos que estavam resguardados dos olhares dos quadros das empresas. Os processos cristalizados têm destas coisas, a realidade está tão escondida nos procedimentos que é necessário acontecer uma hecatombe para esses problemas virem ao de cima. E agora que vieram, como lidar com eles? Encontramos os culpados habituais ou colocamos os dedos nas feridas e tentamos ver mais fundo? Em muitas organizações, estou certo, irão ser usadas as velhas pomadas para tratar destes assuntos, deixando que os problemas permaneçam e se continuem a manifestar. Mas para quem olhar para 2021 como o ano de superação de desafios terá, igualmente, de ultrapassar estas questões, para nos tonarmos mais competitivos e conseguimos atrair as pessoas/as competências que precisamos para desenvolver a nossa atividade. O mercado global está a mudar, a pressão da competitividade é cada vez mais intensa, as nossas organizações têm de olhar para os seus processos de trabalho e mexer em hábitos enraizados e saber questionar da sua importância e interesse para a organização.

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TOXICIDADE CRISTALIZADA EM 2021 TEMOS DE TER CORAGEM DE A CONFRONTAR!

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O ano de 2021 será crítico para o desenvolvimento de pessoas com competências de diferenciação, competências que permitam às organizações criar valor e riqueza, através da agilidade dos seus processos internos e formas de organização. Neste processo, precisamos de promover nas pessoas três competências fundamentais: capacidade empática, pensamento crítico e resiliência. A capacidade empática permite-nos “sentir” as pessoas, “ler” as dinâmicas organizacionais. Sem esta capacidade não conseguimos estabelecer conexões entre as pessoas e o meio que nos rodeia. Podemos, frequentemente, não concordar com posições assumidas por outros, mas reconhecer a existência de diferentes posicionamentos, permite-nos conhecer os motivos, os factos, as emoções subjacentes à discórdia. Este momento é, muitas vezes traumático e difícil de ultrapassar, podemos sentir alguma dificuldade em ligar pontos relativos ao nosso conhecimento anterior, mas é por isso que a resiliência é tão importante. Iremos, sem sombra de dúvida, precisar dela para redesenhar uma “nova realidade” e garantir, posteriormente, a construção de um posicionamento comummente aceite pelas partes envolvidas. Este processo de conhecimento é lento e, muitas vezes, complexo. Para entendermos melhor as suas especificidades precisamos de promover o pensamento crítico e a análise de problemas complexos, antecipando cenários e promovendo ações de reflexão sobre as consequências das tomadas de decisão atuais. Para isso precisamos de equipas capazes de refletir sobre os problemas longe dos dogmas habituais. Estas três competências são os pilares dos processos de mudança efetiva e real. Qualquer ação que não as contemple terá uma forte probabilidade de falhar, logo no curto-prazo, e as nossas organizações não se poderão dar ao luxo de não agarrar a oportunidade que se nos afigura no horizonte próximo. O século XXI é o século das Pessoas autónomas, das organizações altamente motivadas e direcionadas por valores humanistas materializados através de políticas orientadas para atrair profissionais que se movem por ideais de trabalho desenvolvimentistas, para concretizar esta visão temos de derrubar a toxicidade cristalizada!


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FALTA CUMPRIR-SE A COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA 92

Ana Timóteo * * CEFAMOL

IMPROVISAR, ADAPTAR, ULTRAPASSAR. Desde o início da pandemia de Covid-19 parece ter sido esta a estratégia comummente aplicada nas organizações revelando, contudo, que há ainda uma parte do tecido empresarial com uma insuficiente articulação da comunicação estratégica na sua atividade. A comunicação estratégica representa um tipo de comunicação crucial, visto que cada ação comunicativa é alinhada com os objetivos organizacionais, através da coordenação da interação estabelecida entre os stakeholders internos e externos, promovendo um relacionamento saudável. Uma comunicação incoerente, insuficiente ou, pior, inexistente, provoca instabilidade nas equipas e uma grande ansiedade nos colaboradores, que atualmente já são frequentemente expostos a notícias negativas. Tudo isto refletir-se-á numa performance pouco satisfatória e na perda de credibilidade junto dos acionistas e clientes. Um plano de comunicação estratégica surge precisamente para transmitir as guidelines de atuação necessárias e apoiar na gestão de uma situação de crise. Como, então, elaborá-lo? Reveja os básicos. Quem e como são os seus públicos interno e externo? Conheça as necessidades e expectativas de ambos, a forma como a empresa é percecionada por eles (estudo da reputação e do clima e cultura organizacionais) e o que pretende comunicar (as mensagens têm conteúdos informativos ou persuasivos, funcionais ou simbólicos?). Construa um template intuitivo. Um modelo de fácil conceção é o dos 5W’s (Who, What, When, Where, Why) e 2H’s (How, How much). Esquematicamente ser-lhe-á possível definir quem é o recetor de uma determinada mensagem e por que razão a está a receber, quando é que a mesma será transmitida, através de que meio e ainda a forma como será comunicada e se terá, por ventura, algum custo alocado. Reflita sobre mensagens relevantes. Frequentemente os nossos meios de comunicação são inundados de informação, por isso garanta que os seus emails são abertos, ou que as páginas das suas redes sociais e website são visitadas com mensagens que atentem no fator WIIFM (What’s In It For Me?). Tendo auscultado previamente os seus públicos, saberá que tipo de conteúdos são do seu interesse e, assim, mantém a relevância e eficiência da sua comunicação. Determine a estratégia de comunicação. As estratégias de comunicação garantem que as mensagens são transmitidas aos públicos-alvo certos e são entendidas como táticas que visam afetar a consciência, o conhecimento e o comportamento dos diferentes

stakeholders. Pode delinear uma estratégia informativa, com a qual transmite notas corporativas através de, por exemplo, memorandos ou newsletters; uma estratégia persuasiva, em que pretende afetar comportamentos e solicitar feedback, utilizando, para tal, campanhas publicitárias (público externo), reuniões (público interno) ou campanhas educativas (público externo e/ou interno); ou pode promover uma estratégia de diálogo, para motivar o envolvimento (engagement) dos colaboradores, algo que, em contexto de pandemia e com equipas em teletrabalho, pode ser alcançado com a exploração de ferramentas como, por exemplo, o Workplace, desenvolvido pelo Facebook e com uma interface semelhante, permitindo criar grupos, iniciar conversas e partilhar fotografias e imagens de âmbito laboral. Especialistas que contribuem para a MIT Sloan Management Review defendem que o «[d]esenvolvimento de uma abordagem integrada e estratégica da comunicação será crítico para o sucesso» das organizações. Importa, por isso, conceber um plano holístico, a 360 graus, no qual se tenha envolvido uma equipa multidisciplinar, composta por profissionais de áreas distintas e não somente dos gabinetes de recursos humanos e de comunicação, e convocar igualmente os quadros superiores que serão, derradeiramente, o rosto da comunicação. Não deve ser subestimado o impacto de um plano de comunicação estruturado na gestão das operações de um negócio, ou na gestão das suas pessoas, sobretudo agora que se impõe uma rápida adaptação ao novo paradigma da organização do trabalho e considerando que as tendências para 2021 não supõem um retrocesso (manter-se-á a digitalização de processos, o remote work, eventos virtuais, entre outros). Um plano de comunicação estratégica é essencial a qualquer organização, independentemente da sua dimensão e área de atuação, pois promove um alinhamento com os valores, objetivos e estratégia da empresa e, em situação de crise, viabiliza uma eficiente gestão da mesma, uma vez que impede uma transmissão confusa e esquizofrénica de mensagens. No entanto, na generalidade dos casos, ainda se observa nas organizações a predominância de uma comunicação voltada para as vendas, uma estratégia de comunicação exclusivamente de marketing externo e apenas pontuais ações internas. Falta planear e cumprir uma abordagem integrada que contemple o marketing externo e interno (ou endomarketing) e que permitirá alcançar resultados mais sólidos. Falta cumprir-se a comunicação estratégica.



N 128 JANEIRO 2021

/ RFLEXÕES

COMO ESTAMOS E PARA ONDE VAMOS? 94

João Faustino * * Presidente da CEFAMOL

O mundo está do avesso em muitos e variados temas que obrigam

atividade sem exceção (financeiro, industrial, mobiliário, comunicações,

a uma análise geral e profunda dos mesmos. Para isso, é necessário

saúde) colocando-nos, assim, numa dependência sem precedentes.

que sejam feitas reflexões no âmbito pessoal, empresarial, económico, técnico, sanitário, entre muitos outros.

As empresas de moldes têm vindo a modernizar-se para se tornarem mais competitivas, mais transparentes e mais dinâmicas. Não

Todos os dias, somos confrontados com notícias que nos deixam

obstante, os ganhos já conseguidos são apenas o início de muitas

alarmados sobre o estado das coisas e as incertezas que as mesmas

transformações necessárias, a todos os níveis, com objetivos claros

provocam. Por mais otimistas que sejamos, o desenvolvimento dos

na otimização, standardização e automatização, sendo que a

aspetos negativos provocado pela terrível pandemia com que vivemos

redução de custos e aumento da eficiência são fundamentais agora

leva a que tudo seja uma incógnita de futuro a nível mundial, nas

e no futuro.

pessoas, nas empresas e nos países. Temos contra nós a difícil situação do nosso principal cliente Não temos a possibilidade de usufruir da convivência, de algumas

estar a atravessar uma crise de identidade, colocando-nos sérios

liberdades de movimentação quando falamos de viagens de negócios,

problemas da sustentabilidade por via da falta de encomendas. Este

da interação presencial para a análise de soluções ou discussão de

problema, comum e geral a todas as empresas do sector, conduz-

problemas, da participação de eventos porque foram cancelados

nos a uma apreensão económica refletida diariamente nos clientes e

etc. etc. As empresas por todo o mundo, estão a sofrer com a falta

fornecedores.

de atividade, fazendo com que as leis da oferta e da procura tenham contornos abusivos, que direcionam para o abismo e a desacreditação

O alinhamento estratégico das (e nas) empresas, em conjunto com

dos valores morais e éticos de quem trabalha e tem no trabalho o seu

todos os stakeholders são uma necessidade fundamental para

meio de sustentabilidade.

se poderem enfrentar os desafios constantes com que somos confrontados diariamente. Paradoxalmente nós somos apenas um

A Europa, ou muitas empresas desta região, teimam em continuar

sector de atividade, entre muitos outros, que têm também problemas

a direcionar as suas compras para fora do continente. As instâncias

diários de sustentabilidade face às condicionantes dos tempos atuais

governativas falam de reindustrialização para agregar desenvolvimento,

e à apatia dos mercados. A crise com que nos deparamos tem efeitos

tecnologia, emprego, disseminação de conhecimento, gerando valor

nefastos nas contas pessoais, empresariais e públicas. O facto das

acrescentado. No entanto, e por muito que se fale da reindustrialização

exportações do país continuarem em queda faz com que o nível de

estamos cada vez mais dependentes da agressão económica da China

confiança dos consumidores dos produtos de longa duração tenha

com todas as ameaças que isto representa. A continuar a situação

um efeito retrógrado e transversal a muitos sectores de atividade,

vigente, o impacto económico nas famílias, nas empresas e nos países

causando incertezas de retoma a curto, médio e longo prazo.

será brutal, sem alternativas credíveis para o marasmo a que todos estamos sujeitos.

O nosso sector nunca foi conotado com o desânimo, em primeira instância. Perante esta virtude, continuamos empenhados em

A não ser feito nada, em termos de obrigatoriedade por parte das

aprender mais, a aprofundar conhecimentos, a mudar conceitos, a

empresas europeias, vamos assistir a que uma grande maioria

transformar ideias, a pensar de forma diferente para que tudo não

dos novos fundos europeus venham a ser direta ou indiretamente

passe de mais uma pedra encontrada no caminho, igual a muitas

direcionados para compras naquele que é o maior fornecedor

outras de menor ou maior dimensão. O problema atual não é bom

concorrente da indústria, em geral, e da Indústria Portuguesa de

para ninguém, não sendo possível perspetivar, planificar e executar

Moldes, em particular.

com a expressão normal que nos é habitual. Só a nossa confiança e persistência poderão ser o apoio que necessitamos, para ultrapassar

A inação é e será um ponto fraco, face a um adversário maior que tem a

os tempos adversos que enfrentamos e definir os caminhos onde

favor um país que procura interferir e interagir em todos os sectores de

estamos, como estamos e para onde vamos.



N 128 JANEIRO 2021

/ RFLEXÕES

EXPECTATIVAS 96

João Faustino * * Presidente da CEFAMOL

O Mundo mudou ao longo do último ano. Esta mudança afetou tudo e

moderação e ponderação necessária. No entanto, não podemos ter

todos de tal forma que, em muitos casos, a perca do rumo foi continua

ilusões, nós somos apenas alguns milhões em milhares de milhões.

e persistente, onde as únicas certezas eram, e são, as incertezas.

Tal facto, faz com que a vacinação não ocorra de um dia para o outro, tendo de haver naturalmente rigor e ética nas prioridades.

Mudanças na economia, nos empregos, no trabalho, nos hábitos, nos afetos, nos comportamentos têm provocado graus de stress,

Não sabemos como será o novo futuro e quais as reações a todas

saturação, incongruências impróprias para quem tem expectativas no

as alterações que irão ocorrer a nível político, económico e sanitário,

futuro, na eficácia, nos resultados, no sucesso, no bem-estar ou pura e

contudo, estamos expectantes para que os resultados da vacinação

simplesmente, na sustentabilidade e no progresso.

sejam positivos e um caminho para acabar com esta pandemia. Se tal acontecer a indústria com certeza, irá lançar melhores produtos, com

As expectativas económicas dos cidadãos, das empresas e dos países

preços mais atrativos e design mais apelativo, obrigando a indústria

não têm sido favoráveis devido a um conjunto de fatores exógenos

de moldes a ter forçosamente de continuar a reinventar-se para poder

que não têm sido possíveis de controlar ou parar. O fator pandémico

fazer face aos desafios constantes a que será exposto.

conseguiu baralhar e desequilibrar as políticas publicas, a legislação, os direitos, os objetivos, provocando um mau estar generalizado e

Perseverança, consistência e dedicação não são expectativas, são

originando estados de alerta e medo.

atitudes já anteriormente interiorizadas, tendentes a ser cada vez mais customizadas numa lógica de continuidade e sobrevivência. Reduzir

O mês de novembro ficou marcado pelo anúncio, por parte de um

os custos de produção, gerir os mesmos em tempo real, melhorar a

conjunto de laboratórios, da notícia que constitui a maior expectativa

qualidade do produto fabricado, associados à interação de tecnologias

dos últimos tempos, aquela que todos valorizamos face ao impacto

digitais eficientes, são a essência das expectativas daqui para a frente.

que esta pandemia está a ter a nível mundial - a vacina. Para a utilização plena de todos os recursos produtivos (pessoas, A tão esperada vacina, será o marco, a partir do qual poderemos

máquinas e materiais) queremos ter a expectativa de que os nossos

reformular as nossas expectativas. Até ao momento, nada está certo

clientes irão ter planos dinâmicos e estratégicos de desenvolvimento

ou seguro, no entanto, face às taxas de sucesso anunciadas pelos

de novos e inovadores produtos ou soluções, capazes de alterarem o

laboratórios, desejamos que os resultados sejam os melhores face às

nosso estado de alma, a desmotivação, preocupação e angústia dos

incertezas que nos rodeiam.

últimos tempos.

A Indústria de Moldes e o Cluster Engineering & Tooling, tem à sua

Acreditamos no futuro e que com o empenho, dedicação e esforço de

volta uma quantidade anormal de obstáculos, cujos efeitos negativos

todos, poderemos vir a ultrapassar esta fase alarmante.

e impacto no desenvolvimento da atividade tem levado, em alguns casos, ao desanimo e à angústia. Temos a expectativa que, daqui para a frente, a situação possa apresentar melhorias, ainda que ténues, mas que alavanquem a continuidade da evolução das “coisas”. Todos gostaríamos de ver os sectores de atividade com evoluções sustentadas pela desejada reindustrialização da Europa em vários domínios (eletro/ eletrónica, embalagem, automóvel, médica, eletrodomésticos, etc.) suportadas pela tecnologia digital. Esperamos (e criamos expectativas) que possamos vir a ter, dentro de algum tempo, patamares de sustentabilidade e razoabilidade que permitirão almejar níveis de desenvolvimento otimistas, com a

“Perseverança, consistência e dedicação não são expectativas, são atitudes já anteriormente interiorizadas, tendentes a ser cada vez mais customizadas”



MARKETING & PROMOÇÃO ENTREVISTA AO PRESIDENTE DA AICEP FABRICO ADITIVO: O FUTURO DA EXCELÊNCIA EM TODAS AS ETAPAS DA PRODUÇÃO E INJEÇÃO DE MOLDES

SUÍÇA: SITUAÇÃO ECONÓMICA E PERSPETIVAS

Nº ISSN 1647-6557

ANO 32 . 01 2021 . N128

01.2021 ANO 32 . N128 . €4,50

CEFAMOL ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE MOLDES

Periodicidade Trimestral

ESPECIAL /


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