ISSN 2525-4006
Ano V [2020] Vol.1 Núm.5
Foto: Hélia Sheppa
Aurora
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Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco
GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO Governador | Paulo Câmara Vice-Governador | Luciana Santos SECRETARIA DE CULTURA Secretário de Cultura | Gilberto Freyre Neto Secretária Executiva | Silvana Meireles Chefe de Gabinete | Anita Carneiro Gerente Geral de Articulação Social | Anibal Accioly Gerente de Formação e Projetos Especiais | Tarciana Portella Gerente de Políticas Culturais | Diego Santos Gerente de Planejamento | Fernanda Laís de Matos Gerente de Administração e Finanças | Manoel Araújo Assessor de Comunicação | Rodrigo Coutinho FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO - FUNDARPE Presidente | Marcelo Canuto Vice-Presidente | Severino Pessoa Chefe de Gabinete | Patrícia Bandeira Gerente Geral de Preservação do Patrimônio Cultural | Celia Campos Superintendente de Planejamento e Gestão | Gustavo Leite Superintendente de Gestão do Funcultura | Aline Oliveira Cordeiro Gerente de Ação Cultural | André Brasileiro Gerente de Produção | Julio Maia Gerente de Administração e Finanças | Jacilene Oliveira EQUIPE DA GERÊNCIA GERAL DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL
Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco EDITORA Renata Echeverria Martins
TEXTOS DO GIRO Renata Echeverria Martins
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Íkaro Santhiago Câmara
Todos os direitos reservados. Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe Rua da Aurora, 463 - Boa Vista Recife/PE - CEP: 50.050-000 [81] 3184.3000 - 3184.3061 www.cultura.pe.gov.br/patrimonio preservacao@fundarpe.pe.gov.br
Amanda Paraíso, Augusto Paashaus, Celia Campos, Cristiane Feitosa, Débora Nadine, Elinildo Marinho, Eva Passavante, Íkaro Santhiago Câmara, Izabel Paashaus, Jeniffer Ferreira, José Sabino, Marcelo Renan, Maria José Agra, Nazaré Reis, Neide Fernandes, Nilson Cordeiro, Raphaela Rezende, Renata Echeverria Martins, Roberto Carneiro, Rosa Bomfim, Suzana Santos, Vera Lúcia Batista
REVISTA DA SEMANA DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE PERNAMBUCO. Recife: FUNDARPE, v.1, n.5. 2020. 100p.
Capa
Roda de Coco
Anual ISSN 2525-4006
Foto: Hélia Scheppa
1. PATRIMÔNIO CULTURAL. 2. 12ª SEMANA DO PATRIMÔNIO CULTURAL. CDD 363.69
Aurora 463
Revista da Semana do PatrimĂ´nio Cultural de Pernambuco Ano V [2020] Vol.1 NĂşm. 5
Recife Fundarpe 2020
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO Gilberto de Mello Freyre Neto Marcelo Canuto Mendes --------------------------------------------------------------------------------
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EDITORIAL Renata Echeverria Martins ----------------------------------------------------------------------------- 10
CONFERÊNCIA DE ABERTURA O ENGENHO E A CASA GRANDE: AS EXPRESSÕES DA CULTURA DE UM POVO Renata Echeverria Martins ----------------------------------------------------------------------------- 14
GIRO NO PATRIMÔNIO Brincar com o patrimônio----------------------------------------------------------------------- 18 Experimentar o patrimônio --------------------------------------------------------------------- 22 Interpretar o patrimônio-------------------------------------------------------------------------- 26 Pensar o patrimônio -------------------------------------------------------------------------------- 30
RELATO PROJETO EM BUSCA DO PATRIMÔNIO: ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO PESQUISANDO CONHECENDO, EXPERIMENTANDO E VALORIZANDO O PATRIMÔNIO IMATERIAL DE PE Anselmo Cabral da Silva -------------------------------------------------------------------------------- 36
ARTIGOS ACADÊMICOS REPATRIAÇÃO DIGITAL DO ACERVO AFRO PERNAMBUCANO Charles Douglas Martins; Daiane Carvalho e Maria Elisabete Arruda de Assis -------------------------------------------------------
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NOTAS SOBRE PATRIMÔNIO, DERRUBADA DAS ESTÁTUAS E VIDAS PRECARIZADAS Hugo Menezes Neto ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 55
“SÃO GESTOS QUE EDUCAM MAIS QUE CARTILHAS” EXPERIÊNCIAS EM PRÁTICAS EDUCATIVAS E SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO NO CENTRO DE CAPOEIRA SÃO SALOMÃO Izabel Cristina de Araújo Cordeiro e Ricardo Dias de Sousa Pires --------------------------------------------------------------------------------- 66
NOTAS SOBRE O I SEMINÁRIO DE PATRIMONIALIZAÇÃO E MUSEALIZAÇÃO DE BENS CULTURAIS DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA EM RECIFE/PE Juliana da Mata Cunha e Elinildo Marinho de Lima ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 81
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Museu do Barro em Caruaru Aurora 463 Revista da Semana do PatrimĂ´nio Foto: PH ReinauxCultural - Secultde PEPernambuco | Fundarpe Fundarpe, Recife, v.1, n.5, 2020
APRESENTAÇÃO Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.5, 2020
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APRESENTAÇÃO
Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco
A Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco transformou-se, com o passar dos anos, num dos principais eventos do calendário estadual quando o assunto é o debate sobre a preservação dos nossos bens materiais e imateriais. Neste sentido, a Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), promovem, há mais de uma década, uma rede de conexão em parceria com os diversos órgãos, entidades e atores envolvidos na salvaguarda dos patrimônios do Estado. Em 2019, na sua 12ª edição, a Semana do Patrimônio Cultural abriu um amplo e qualificado debate sobre os desafios das relações entre os territórios da Educação e da Cultura, bem como suas potencialidades para a valorização dos bens culturais, por meio de ações distribuídas em quatro eixos: Brincar com o Patrimônio, Experimentar o Patrimônio, Interpretar o Patrimônio e Pensar o Patrimônio. Um dos destaques foi a mesa redonda Territórios Educativos e Culturais: Diálogos Possíveis, realizada no Centro Comunitário da Paz (Compaz) Ariano Suassuna, no Recife, com a presença de vários fazedores de cultura e uma belíssima apresentação do Mestre Zé de Bibi, do Cavalo Marinho Boi Tira Teima, que recebeu, em 2018, o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Outro momento importante foi o 5º Seminário Gênero e Patrimônio Cultural, promovido pela Secretaria da Mulher de Pernambuco, em parceria com a Secult-PE e Fundarpe, propondo uma reflexão sobre a questão de gênero no campo da Cultura por meio da participação de representantes de manifestações ligadas ao Frevo, Maracatu Nação, Literatura de Cordel, Quadrilhas Juninas e às Religiões Afro-indígenas Brasileiras. Numa parceria com a Secretaria Estadual de Educação (SEE), realizamos o IV Seminário de Educação Patrimonial, com uma palestra do professor Dr. Hugo Menezes Neto (UFPE) na presença de dezenas professores da rede pública. Este Seminário é a culminância de todo um trabalho que a Unidade de Educação Patrimonial da Fundarpe desenvolve ao longo do ano, e teve a proposta de levantar questões sobre como abordar a educação patrimonial em sala de aula.
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Gilberto de Mello Freyre Neto Marcelo Canuto Mendes
A entrega dos seis novos títulos de Patrimônio Vivo e o anúncio dos vencedores do Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho, que já fazem parte da programação da Semana do Patrimônio Cultural, compõem outro marco que se tornou possível graças a uma política pública implementada há vários anos em Pernambuco. Vale destacar que somos o primeiro estado brasileiro a estabelecer uma política como essa e o que mais investe nos seus patrimônios registrados. Depois de uma intensa maratona de atividades, a Semana chegou ao fim com a realização do 1º Seminário A Patrimonialização e Musealização de Bens Culturais de Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, no Sítio Pai Adão, no Recife. Este encontro evidenciou temas como o tombamento de terreiros, a musealização e a repatriação de bens culturais afro-religiosos. É importante pontuar também o reconhecimento da Casa Xambá como Patrimônio Vivo de Pernambuco, em 2018, e o tombamento estadual, desde 1985, do Sítio de Pai Adão - tombado nacionalmente pelo Iphan, também em 2018. Como resultado da temática escolhida, agrupamos uma significativa base de ideias para o estabelecimento, continuidade e comprometimento do diálogo entre os campos do Patrimônio Cultural e da Educação. Esta edição traz um panorama sobre os encontros que aconteceram durante a 12ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, servindo de fonte para que os territórios educativos e culturais sigam despertando afetos, valorizando e preservando os bens culturais que são legados da sociedade.
Gilberto de Mello Freyre Neto
Marcelo Canuto Mendes
Secretário de Cultura de Pernambuco
Diretor Presidente da Fundarpe
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EDITORIAL
EDITORIAL A Edição número cinco da Revista Aurora 463 tem um significado extremamente importante para a equipe da Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe - GGPPC e Secretaria de Cultura do Estado. Ao resgatar e registrar as memórias da 12ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, realizada em 2019, quando abordamos o tema: Territórios Educativos e Culturais: Diálogos Possíveis, abrimos promissores espaços de convivências e discussões, com a proposta de estabelecer um amplo e qualificado debate sobre as relações entre os territórios educativos e culturais e suas potencialidades para o Patrimônio Cultural. A temática agrupa significativa importância para o estabelecimento, continuidade e comprometimento do diálogo entre os campos do Patrimônio Cultural e da Educação. Esta edição da revista faz um resgate histórico de discursos e provocações logo na abertura do evento, quando o conferencista, Prof. Dr. e membro da Academia Brasileira de Letras Joaquim de Arruda Falcão, no auditório É do Povo, do Museu Cais do Sertão, fez uma proposta aos presentes: registrar como patrimônio cultural imaterial dois livros, “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre, e “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. Aqui trazemos o relato da riquíssima instigação feita pelo orador, momentos que ainda estão muito vivos na memória afetiva e visual de todos, ao testemunharmos, também, pela primeira vez, nesses mais de dez anos do evento, a belíssima apresentação da irmandade Confraria do Rosário, do município de Floresta, Patrimônio Vivo de Pernambuco desde 2007. Outro momento também marcante na trajetória da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, realizada em 2019 e relatada aqui pelos pesquisadores Juliana da Mata Cunha - Iphan e Elinildo Marinho de Lima - Fundarpe, foi a realização do I Seminário de Patrimonialização e Musealização de Bens Culturais dos povos e comunidades tradicionais de Matriz Africana em Recife/PE. Migramos das salas tradicionais de eventos deste tipo para “novos territórios culturais”, como o Sítio de Pai Adão - Terreiro de Ilê Obá Ogunté, no Bairro de Água Fria, no Recife. Na seção, Giro no Patrimônio, a diversidade da Revista Aurora 463 ganha novas cores por meio de atividades distribuídas nos eixos de ação: Brincar com o Patrimônio, Experimentar o Patrimônio, Interpretar o Patrimônio e Pensar o Patrimônio. Um panorama imagético que revela a criatividade e a oferta de ações propostas por 29 municípios do Estado. Além do Recife, a programação da 12ª
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Edição contou com atividades em Abreu e Lima, Afogados da Ingazeira, Águas Belas, Água Preta, Araripina, Arcoverde, Bezerros, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Caruaru, Catende, Escada, Fernando de Noronha, Garanhuns, Gravatá, Igarassu, Ilha de Itamaracá, Jaboatão dos Guararapes, Limoeiro, Nazaré da Mata, Olinda, Palmares, Paudalho, Paulista, Petrolina, Salgueiro, Santa Maria da Boa Vista e Toritama. No índice Relato, destacamos a abordagem sobre a temática dos territórios educativos e culturais feitos pelo professor de História da Escola de Referência em Ensino Médio José Vilela, Anselmo Cabral da Silva, intitulado - Projeto em busca do patrimônio: Estudantes do ensino médio pesquisando Conhecendo, experimentando e valorizando o Patrimônio Imaterial de PE. Entre os artigos acadêmicos que ilustram esta quinta edição estão: Repatriação digital do acervo Afro pernambucano, cujo objetivo foi identificar e digitalizar todos os objetos dos terreiros do Recife, salvaguardados pela Missão Folclórica Mário de Andrade, inclusive em 3D (objetos tridimensionais) e atualizar sua documentação museológica. Projeto de pesquisa que contou com recursos da Lei de Incentivo à Cultura do Estado de Pernambuco - Funcultura; Notas sobre patrimônio, derrubada das estátuas e vida precarizadas, temática bastante pertinente no contexto atual contemporâneo, escrito pelo professor do Departamento de Antropologia e Museologia (DAM) da Universidade Federal de Pernambuco, Hugo Menezes Neto, e o artigo, “São gestos que educam mais que cartilhas”: experiências em práticas educativas e salvaguarda do patrimônio no Centro de Capoeira São Salomão, produzido pela Mestra de Capoeira e Professora Adjunta da ESEF/UPE, Izabel Cristina de Araújo Cordeiro e pelo Mestre de Capoeira, também do Centro São Salomão, Ricardo Dias de Sousa Pires. A 5ª Edição da Revista Aurora 463, publicada no dia 21 de agosto de 2020, durante a 13ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, é a afirmação de mais um compromisso da equipe de profissionais da Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural - GGPPC/Fundarpe, com as memórias e as histórias de todas as pessoas envolvidas e comprometidas em compreender, difundir, valorizar, reconhecer, preservar e salvaguardar o Patrimônio Cultural dos 185 municípios pernambucanos. Boa leitura! Renata Echeverria Martins
Jornalista
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Exposição Semana do Patrimônio Cultural de PE Hall do Auditório É do Povo - Cais do Sertão Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
CONFERÊNCIA DE ABERTURA Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.5, 2020
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CONFERÊNCIA DE ABERTURA
O ENGENHO E A CASA GRANDE: AS EXPRESSÕES DA CULTURA DE UM POVO O Prof. Dr. e membro da Academia Brasileira de Letras Joaquim de Arruda Falcão proferiu a conferência de abertura da 12ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, que aconteceu às 15h, do dia 12 de agosto de 2019, no auditório do Museu Cais do Sertão. O tema abordado pelo professor levantou discussão interessante sobre a inclusão da literatura na categoria de patrimônio cultural imaterial. Ao destacar que Pernambuco sempre saiu na frente na democratização de seu patrimônio cultural, tomando como referência o legado deixado por Aloísio Magalhães, Joaquim Falcão fez uma proposta: registrar como patrimônio cultural imaterial dois livros, “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre, e “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto.
Conferência de Abertura - Auditório É do Povo - Cais do Sertão Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
“São livros que nos interpretam e, mais além, nos explicam. O senhor de engenho e o retirante. A opulência e a sobrevivência. Magnífico ensaio histórico sociológico, e contundente poesia social. São os nossos extremos que ainda nos fazem. Sem eles somos menos”, discursou, brilhantemente, o professor doutor. Polêmicas à parte, Joaquim Falcão lançou o desafio aos presentes, entre eles, o Secretário de Cultura de Pernambuco Gilberto Freyre Neto e o Presidente da Fundarpe, Marcelo Mendes Canuto. A programação de abertura contou ainda com os lançamentos dos livros: Teatro em cena - tipologia dos edifícios e salas de espetáculos do Recife a partir
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do século XIX, de Luiza Feitosa Andrada; Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares no Recife - a arte da Imagem, de José Luiz Mota Menezes; A casa de Oliveira Lima e os Conselhos do Estado de Pernambuco, de Terezinha Silva e O legado do Padre Henrique como patrimônio, de Terezinha Silva.
Joaquim de Arruda Falcão Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
O hall do auditório É do Povo recebeu a exposição comemorativa dos 10 anos da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco e da conquista do 31ª Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, instituído pelo Iphan. A mostra, composta por 77 painéis adesivados em PVC, conta a trajetória do evento por meio de fotos, linha do tempo e relatos dos parceiros. A Exposição itinerante já foi montada na 19ª edição da Fenearte, na 29ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns, no Parque Dona Lindu, no Recife, e nos municípios do Brejo da Madre de Deus, no Agreste Central e Tamandaré, Zona da Mata Sul do Estado.
Apresentação da Confraria do Rosário Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
Um dos momentos emocionantes da festa de abertura foi a apresentação da irmandade Confraria do Rosário, do município de Floresta. Vestidos em azul e branco, os confrades se apresentaram ornados com manto, cetro e coroa, cantando e louvando Nossa Senhora do Rosário. A comunidade, formada por quilombolas, é símbolo de resistência negra há mais de 200 anos no Sertão de Itaparica. A Confraria do Rosário recebeu o Registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco no ano de 2007. Ao final da apresentação os componentes, homens e mulheres, distribuíram doces e salgados típicos da região. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.5, 2020
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Encontro de Cavalo Marinho na Casa da Rabeca - Cavalo Marinho Boi Tira Teima - ZĂŠ de Bibi Foto: Jan Ribeiro - Secult PE | Fundarpe
GIRO NO PATRIMÔNIO Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.5, 2020
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BRINCAR COM O PATRIMÔNIO
Exibição do Filme - Uma balada para Rocky Lane - Museu do Trem Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Exibição do Filme - Uma balada para Rocky Lane - Museu do Trem Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Apresentação do Coral do Ginásio Pernambucano Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
O Coral do Ginásio Pernambucano abriu e fechou a Semana do Patrimônio Cultural da instituição, no dia 12 de agosto. No dia 15 de agosto, na Estação Central Capiba - Museu do Trem, foi exibido o documentário - Uma balada para Rocky Lane (2016) de Djalma Galindo, com direito a bate papo com o diretor após a sessão. Ainda no dia 15 o Cinema São Luiz recebeu os estudantes de escolas públicas estaduais para a exibição do filme Estou me guardando para quando o Carnaval chegar, com direção de Marcelo Gomes.
Exibição do Filme - Estou me guardando para quando o Carnaval Chegar - Cinema São Luiz Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
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Apresentação de Galo Preto - Biblioteca Pública de Pernambuco Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
A abertura das ações na Biblioteca Pública do Estado, no dia 13 contou com a apresentação de Galo Preto, Patrimônio Vivo de Pernambuco. Ainda no dia 13, no Compaz Ariano Suassuna, no Cordeiro, após a Mesa Redonda - Territórios Educativos e Culturais: diálogos possíveis, houve a apresentação do Cavalo Marinho Boi Tira Teima de Mestre Zé de Bibi, Patrimônio Vivo de Pernambuco.
Cavalo Marinho Boi Tira Teima - Copaz Ariano Suassuna Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
Apresentação de Galo Preto - Biblioteca Pública de Pernambuco Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Apresentação de Galo Preto - Biblioteca Pública de Pernambuco Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Cavalo Marinho Boi Tira Teima de Mestre Zé de Bibi - Copaz Ariano Suassuna Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
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Oficina - Reprodução de abrigo sob rocha com pinturas rupestres - Caruaru Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Trupe do Patrimônio - Casa da Cultura Foto: Fernando Figueirôa - Secult PE/Fundarpe
No dia 17 de agosto foi apresentado o espetáculo “Trupe do Patrimônio”, às 10h30, na Casa da Cultura Luiz Gonzaga, no bairro de Santo Antônio, no Recife. Em Caruaru nos dias 15 e 16 de agosto, os alunos da escola de Referência Padre Zacarias Tavares e de Escola Municipal Belmiro Gonçalves, participaram de uma oficina onde foi executada a reprodução de um abrigo sob rocha (caverna) com pinturas rupestres.
Oficina - Reprodução de abrigo sob rocha(caverna) com pinturas rupestres - Caruaru Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
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I Festival de Bois de Caboclinho de Vila da Paz - Limoeiro Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
I Festival de Bois de Caboclinho de Vila da Paz - Limoeiro Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
O I Festival de Bois de Caboclinho de Vila da Paz, na Praça João de Lima, em Limoeiro, foi realizado no dia 25 de agosto. As apresentações culturais foram conduzidas pela por Preto da Vila da Paz, liderança da cultura popular na comunidade, com a parceria do Boi Teimoso, João Monteiro e a Associação Cultural Plataforma Itinerante de Limoeiro. O evento teve abertura às 15h, com a participação do Coco - Pirão Bateu, composto por jovens da comunidade Xambá de Olinda, primeiro Quilombo urbano do Brasil. I Festival de Bois de Caboclinho de Vila da Paz - Limoeiro Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
I Festival de Bois de Caboclinho de Vila da Paz - Limoeiro Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
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I Festival de Bois de Caboclinho de Vila da Paz - Limoeiro Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
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EXPERIMENTAR O PATRIMÔNIO
Visita guiada a obra de restauro da Faculdade de Direito do Recife Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Visita guiada a obra de restauro da Faculdade de Direito do Recife Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
As visitas mediadas às obras de restauro e conservação, coordenadas pelos técnicos da Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe, foram realizadas a partir do dia 13 de agosto nos seguintes locais: Faculdade de Direito do Recife, Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, Teatro do Parque e Rua da Moeda, nº 50. Visita guiada a obra de restauro da Faculdade de Direito do Recife Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Visita guiada a obra de restauro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
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Visita guiada a obra de restauro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
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Visita guiada a obra de restauro na Rua da Moeda, nº 50 Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Visita guiada a obra de restauro na Rua da Moeda, nº 50 Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Em Jaboatão dos Guararapes, no dia 14 de agosto aconteceu a visita técnica e histórica a bens tombados e passíveis de tombamento no Sítio Histórico do Jaboatão Antigo (Jaboatão Centro). E no dia seguinte, ocorreu um debate sobre o processo de urbanização do Sítio Histórico do Jaboatão Antigo visitado anteriormente.
Debate - A Urbanização do Sítio Histórico do Jaboatão Antigo - Jaboatão dos Guararapes Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Visita Técnica - A Urbanização do Sítio Histórico do Jaboatão Antigo - Jaboatão dos Guararapes Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
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Visita Técnica - A Urbanização do Sítio Histórico do Jaboatão Antigo - Jaboatão dos Guararapes Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
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Oficina de Taxidermia - Ginásio Pernambucano Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Oficina de Maqueteiros Patrimoniais - Ginásio Pernambucano Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
No dia 15 de agosto foram realizadas no Ginásio Pernambucano, no Recife, três oficinas: de Taxidermia; de Maqueteiros Patrimoniais e de Conservação de papel. As atividades reuniram 71 participantes. De 12 a 17 de agosto a Casa da Cultura Luiz Gonzaga, Cais da Detenção, recebeu a Exposição A Cultura de Ana: Fernando de Noronha e o seu Patrimônio.
Oficina de Maqueteiros Patrimoniais - Ginásio Pernambucano Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Exposição - A Cultura de Ana: Fernando de Noronha e o seu Patrimônio - Casa da Cultura Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
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Exposição Fotográfica - Águas Belas Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Exposição Fotográfica - Águas Belas Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Em Águas Belas, de 12 a 15 de agosto, ficou em cartaz uma exposição fotográfica, na Sede da Prefeitura Municipal. A visita guiada ao ateliê de Lula Vassoureiro (Patrimônio Vivo de Pernambuco) ocorreu em Bezerros, no dia 14 de agosto. Ainda em Bezerros, na Estação da Cultura (Estação Ferroviária) aconteceu uma formação de professores da área de humanas.
Visita Guiada ao Atelie de Lula Vassoureiro (Patrimônio Vivo de PE) - Bezerros Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
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Formação de professores da área de humanas - Bezerros Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
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INTERPRETAR
Patrimônio Vivo - Maracatu Cambinda Brasileira Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
Patrimônio Vivo - Maracatu Cambinda Brasileira Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
O PATRIMÔNIO
O Dia Nacional do Patrimônio Histórico, 17 de agosto, teve comemoração antecipada, no dia 16, no Teatro de Santa Isabel, no Recife. A celebração teve início às 9h da manhã e contou com a entrega do 4º Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho de Preservação do Patrimônio Cultural e com a diplomação dos seis novos Patrimônios Vivos de Pernambuco: Caboclinho Carijós, Mestre Aprígio, Mestre Assis Calixto, Mestre Nado, Mestre Saúba e Sociedade Maracatu de Baque Solto Cambinda Brasileira.
Novos Patrimônios Vivos de Pernamuco - Mestre Assis Calixto, Mestre Nado, Mestre Aprígio, Mestre Saúba,o Caboclinho Carijós e Maracatu Cambinda Brasileira | Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
Patrimônio Vivo - Caboclinho Carijós Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
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Patrimônio Vivo - Mestre Calixto Assis Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
Patrimônio Vivo - Caboclinho Carijós Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
Vencedores do 4º Prêmio Ayrton Almeida de Carvalho Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
Patrimônio Vivo - Maracatu Cambinda Brasileira Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
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Documentário - Mulheres de lança, Coração de Baque Solto - Museu do Trem Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Documentário - Mulheres de lança, Coração de Baque Solto - Museu do Trem Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
O documentário “Mulheres de Lança, Coração de Baque Solto” foi exibido na Estação Central Capiba - Museu do Trem, no Bairro de São José, no Recife, no dia 13 de agosto, das 9h e as 14h. A programação ainda contou com uma roda de conversa depois de cada sessão. Pela manhã, o Centro de Artesanato de Pernambuco recebeu uma visita guiada com direito a demonstração do processo de confecção do artesanato em cerâmica apresentada pelo artesão, Mestre Uruda, do Cabo de Santo Agostinho. Oficina de Cerâmica com Mestre Aruda - Centro de Aretsanato de PE Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
Exposição Pissica - Caruaru Foto: Claúdia Pinto
Oficina de Cerâmica com Mestre Aruda - Centro de Aretsanato de PE Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
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Oficina de Cartografia Afetiva - Biblioteca Popular de Afogados Foto: PH Reinaux/ Secult PE - Fundarpe
Nos dias 02 e 10 de setembro, ocorreram Oficinas de Cartografia Afetiva, mediadas por Amanda Paraíso e Sandro Vasconcelos para estudantes de escolas estaduais na XXX e na Biblioteca Popular de Afogados e na Biblioteca Popular de Casa Amarela. A Roda de Diálogo - Identidade cultural na coletividade, aconteceu no dia 22 de agosto, na Sede do Cariri Olindense. O objetivo do encontro foi mostrar a importância de fazer a preservação e transmissão de sabares para manutenção das práticas da cultura popular e também estimular o sentimento de pertencimento. Oficina de Cartografia Afetiva - Biblioteca Popular de Casa Amarela Foto: PH Reinaux/ Secult PE - Fundarpe
Roda de Diálogo - Sede da Troça Cariri Olindense Foto: Acervo Fundarpe
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Roda de Diálogo - Sede da Troça Cariri Olindense Foto: Acervo Fundarpe
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PENSAR O PATRIMÔNIO
Mesa Redonda - Territórios Educativos e Culturais: diálogos possíveis - Compaz Ariano Suassuna - Cordeiro Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
A Mesa Redonda - Territórios Educativos e Culturais: diálogos possíveis, foi realizada no dia 13 de agosto, no Compaz Ariano Suassuna, no Cordeiro. Participaram o Secretário de Cultura do Estado do Ceará, Fabiano Piúba; o Secretário de Segurança do Recife (Compaz), Murilo Cavalcanti e a Coord. de Programas da Associação Cidade Escola Aprendiz de São Paulo, Raiana Ribeiro. A mediação foi feita pelo Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, Gilberto Freyre Neto.
Mesa Redonda - Territórios Educativos e Culturais: diálogos possíveis - Compaz Ariano Suassuna - Cordeiro Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
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Mesa Redonda - Territórios Educativos e Culturais: diálogos possíveis Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
Mesa Redonda - Territórios Educativos e Culturais: diálogos possíveis - Compaz Ariano Suassuna - Cordeiro Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
Mesa Redonda - Pernambuco Literário: cordel e cangaço na arte escrita - Biblioteca Pública de PE. Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Mesa Redonda - Pernambuco Literário: cordel e cangaço na arte escrita - Biblioteca Pública de PE Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
A Mesa Redonda - Pernambuco Literário: cordel e cangaço na arte escrita, aconteceu no dia 13 de agosto, na Biblioteca Pública Estadual, em Santo Amaro e contou com os palestrantes: Rosa Bezerra, psicóloga, especialista em Cangaço; Felipe Junior, filósofo, especialista em Poesia de Cordel e Adriano Macena, historiador e escritor da cultura pernambucana.
I Seminário - A patrimonialização de bens culturais de povos e comunidades tradicionais de matriz africana Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
I Seminário - A patrimonialização de bens culturais de povos e comunidades tradicionais de matriz africana Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
I Seminário - A patrimonialização de bens culturais de povos e comunidades tradicionais de matriz africana Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
Nos dias 29 e 30 de agosto, no Sítio de Pai Adão, aconteceu o I Seminário - A patrimonialização de bens culturais de povos e comunidades tradicionais de matriz africana. No primeiro dia participaram da Mesa de Abertura: Manoel Papai, do Sítio de Pai Adão; Renata Duarte Borba, do Iphan-PE e Gilberto Freyre Neto, Secretário de Cultura de PE. No segundo dia aconteceram várias Mesas Redondas. O encerramento contou com a apresentação de cânticos sagrados.
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O IV Seminário de Educação Patrimonial - Práticas Educativas e Patrimônio Imaterial: saberes e diálogos, foi realizado no dia 14 de agosto, das 9h às 17h, no Memorial da Medicina, no Derby. A conferência de abertura foi feita pelo Prof. Dr. Hugo Menezes Neto da UFPE. Em Caruaru no dia 20 de agosto, na Casa do Cordel (ACLC), aconteceu a 1ª Reunião de Salvaguarda da Literatura de Cordel de PE, e no dia 21, ocorreu a Palestra sobre o processo de Registro da Literatura de Cordel como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, no Museu do Cordel Olegário Fernandes que celebrava 20 anos de existência. IV Seminário de Educação Patrimonial - Memorial de Medicina - Derby Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
1ª Reunião de Salvaguarda da Literatura de Cordel de PE - Casa do Cordel (ACLC) - Caruaru Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
Celebração dos 20 anos do Museu do Cordel Olegário Fernandes - Caruaru Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
No dia 17 de agosto, Dia Nacional do Patrimônio Histórico, A Igreja São Pedro dos Clérigos, no Pátio de São Pedro, no Recife, recebeu o 3º Encontro - Reflexões acadêmicas sobre o patrimônio cultural: produção dos cursos de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco. Participaram do evento as instituições: DAMAS, ESUDA, FOCCA, UFPE, UNICAP e UNINASSAU. A palestra de abertura, foi realizada pelo grupo Ôxe, Minha Cidade é Massa. 3º Encontro Reflexões acadêmicas sobre o patrimônio cultural - Igreja São Pedro dos Clérigos Foto: Fernando Figueirôa - Secult PE/Fundarpe
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No dia 22 de agosto, as Secretarias de Cultura e Turismo de Paudalho promoveram o Seminário - Patrimônio material e imaterial como seguimento para o desenvolvimento do local, que reuniu 106 participantes, entre estudantes, professores, proprietários de antigos casarios, gestores municipais e fazedores de cultura. O evento, que também contou com representantes da Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe, aconteceu na Igreja Santa Tereza. Seminário - Patrimônio material e imaterial - Paudalho Foto: Acervo Fundarpe/Secult PE
No dia 15 de agostso o Museu de Arte Sacra de Pernambuco - Maspe, em Olinda, promoveu das 14h30 às 17h, a palestra - Conservar para não restaurar, com Mila Arcoverde. Palestra - Conservar para não restaurar - Museu de Arte Sacra de Pernambuco - Maspe Foto: Fernando Figueirôa - Secult PE/Fundarpe
A Roda de Diálogo: Construção e Transmissão de Saberes Patrimoniais no Terreiro da Xambá de 1930 aos dias atuais como patrimônio de conhecimento e educação, foi realizadas no dia 17 de agosto, no Terreiro Xambá, em Olinda. No mesmo dia também aconteceram uma visita ao Memorial Severina Paraiso da Silva e uma apresentação musical do Afoxé Ylê Xambá e do Coco Miudinho da Xambá.
Roda de Diálogo - Construção e Transmissão de Saberes Patrimoniais - Terreiro Xambá Foto: Fernando Figueirôa - Secult PE/Fundarpe
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Roda de Diálogo - Construção e Transmissão de Saberes Patrimoniais - Terreiro Xambá Foto: Fernando Figueirôa - Secult PE/Fundarpe
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Peça Nuestra Senhora de Las Nuvens no Teatro Luiz Souto Dourado - FIG463 2018 Aurora Foto: Rodrigode Ramos - Secult PE Revista da Semana do Patrimônio Cultural Pernambuco
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RELATO
PROJETO EM BUSCA DO PATRIMÔNIO: ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO PESQUISANDO CONHECENDO, EXPERIMENTANDO E VALORIZANDO O PATRIMÔNIO IMATERIAL DE PE O projeto Em busca do Patrimônio foi criado como forma de sistematizar as atividades da disciplina de Metodologia de Pesquisa da EREM José Vilela, existente entre as disciplinas eletivas do programa de Educação Integral. Esta disciplina, já criada e oferecida, com sucesso, aos estudantes deste Unidade Escolar desde 2010, demandou, para este ano de 2019 um ajuste metodológico no sentido de favorecer aos estudantes formas mais diversificadas e efetivas de construir o conhecimento científico entrando em contato o máximo possível com o patrimônio cultural de Pernambuco por meio de contatos pessoais e experiências com diversos agentes diretos ou indiretos relativos aos objetos de pesquisa escolhidos por nossos estudantes pesquisadores no nível do Ensino médio. Desde que iniciamos a oferta desta disciplina, quisemos, por meio da pesquisa incentivar os jovens para a leitura e o acesso de diversificadas fontes de pesquisa no sentido de otimizar um talento próprio da juventude para a aquisição de conhecimento na rede internacional de computadores e outros meios digitais, mas também favorecer que entrassem em contato ampliado com outras fontes, como documentos físicos e relatos orais por meio de visitações e entrevistas para os exercícios da observação, do diálogo e da sistematização da pesquisa fundamentais para seu desenvolvimento estudantil e o avanço de sua proficiência leitora. Desse modo, o projeto Em busca do Patrimônio, foi implantado no intuito de incentivar os nossos estudantes pesquisadores a identificarem horários fora de seu expediente escolar para agendarem visitas in loco aos seus objetos de pesquisa e, com a autorização de seus pais e/ou responsáveis, realizarem observações de paisagens, acervos, monumentos, e também coletarem informações por meio de entrevistas e conversas com pessoas que lidam profissional e ativamente com o patrimônio cultural escolhido como tema de pesquisa de cada dupla de estudantes. Assim, diversas sedes de entidades culturais e museus foram visitados e as informações coletadas se apresentaram de maior riqueza no resultado final das pesquisas desenvolvidas e apresentadas. No ano de 2019, escolhemos como tema gerador para o desenvolvimento dos trabalhos da disciplina de metodologia de pesquisa O Patrimônio Cultural Imaterial
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de Pernambuco, de modo que precisamos esclarecer em nossas aulas presenciais dentro da grade curricular da escola não apenas o conceito e a importância de patrimônio, mas ainda distinguir e exemplificar as diferenças entre materialidade e imaterialidade o que nos exigiu um esforço interdisciplinar com a História, as Artes, a Sociologia, a Filosofia e a Educação Física, assim nessas diversas disciplinas os professores da ERREM José Vilela ofereceram oportunas e criativas incursões de conteúdo e atividades que tornassem nossos estudantes familiarizados e preparados para o contato mais fluente com seus projetos. A construção dos projetos aconteceu sistematicamente nos dois semestres da disciplina e pelas três séries do Ensino Médio, de modo que novatos e veteranos pudessem interagir, trocar informações e conhecimentos, sanar dúvidas com o professor da disciplina e entre si mesmos no tocante aos diversos itens do projeto já que muitos dos estudantes dos primeiros anos estão sempre realizando seus primeiros contatos, em nossa Unidade de Ensino, com as exigências da sistematização científica da abnt. Essa interação entre os estudantes das três séries, favorece o protagonismo e a prática de cooperação entre os jovens ajudando-nos, inclusive, a identificar talentos, lideranças e possíveis encaminhamentos vocacionais, dado a desenvoltura que os estudantes despertam e apresentam para esta ou para aquela área do conhecimento mediante o trato que estabelece e o olhar que escolhe no trato de seu objeto de pesquisa, as metodologias escolhidas para seu projeto e também na forma como interage com os novatos. Julgamos necessário informar, no entanto, que para a facilitação na construção dos projetos de pesquisa, criamos desde o momento da oferta da disciplina um formulário que os estudantes preenchem a partir da explicação de cada item do projeto. Sob o incentivo e o apoio da Fundarpe e da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco com a criação da Rede Estadual de Educadores Patrimoniais, da qual fizemos parte, tivemos, enquanto escola e mediante os trabalhos da disciplina de Metodologia de Pesquisa o objetivo Geral de levar nossos estudantes a conhecerem e sistematizarem conhecimentos sobre o Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco entrando em contato, quanto possível, não apenas com informações teóricas por Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.5, 2020
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meio de leitura de textos, mas sobretudo com o contato pessoal e direto com os temas escolhidos por cada dupla de estudantes, sob a orientação dos professores orientadores de cada turma. Nossos objetivos específicos foram: 1. Produzir, desenvolver e apresentar projetos de pesquisa sobre um patrimônio cultural imaterial de Pernambuco; 2. Oportunizar aos estudantes o contato com conhecimentos relativos ao patrimônio cultural imaterial do Estado em diferentes disciplinas da grade escolar; 3. Disponibilizar materiais em diferentes meios digitais e analógicos para facilitar a pesquisa dos alunos na biblioteca da escola e no laboratório de informática; 4. Melhorar nos estudantes a proficiência leitora, a interpretação de mundo e competências relativas à escrita e à oralidade. 5. Realizar duas jornadas de pesquisa, uma por bimestre, para a apresentação dos trabalhos de pesquisa produzidos nas categorias ORAL ou BANNER. 6. Publicar os trabalhos dos alunos no caderno de resumos de cada Jornada de pesquisa. 7. Selecionar os melhores trabalhos para serem reapresentados na 12ª. Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco 8. Publicar o informativo PATRIMONIAR com os resumos científicos dos trabalhos a serem apresentados na 12ª. Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco.
Informativo Patrimoniar com os resumos científicos dos trabalhos apresentados Foto: Acervo Fundarpe
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METODOLOGIA: DIVERSIDADE DE FONTES E PESQUISA IN LOCO PARA INTERPRETAR E EXPERIMENTAR O PATRIMÔNIO IMATERIAL DE PERNAMBUCO A partir das aulas na disciplina de Metodologia de Pesquisa e da construção dos projetos por dupla e sob a orientação dos professores orientadores por turma, os estudantes pesquisadores seguiram para o cumprimento de uma metodologia que buscou o conhecimento básico de cada tema pesquisado através de leituras e coletas de dados em livros e jornais, sites e outras fontes digitais, mas foram orientados para, a partir desses dados primários, irem à campo, para realizar observações e coletarem informações, entrevistando pessoas ligadas ao patrimônio escolhido como tema de pesquisa e, quando fosse possível, visitar lugares como sedes institucionais, agremiações e/ou museus para experimentarem de perto a vida e a energia do patrimônio imaterial pernambucano, de modo a não terem apenas informações teóricas sobre o assunto pesquisado mas adquirirem também impressões cidadãs sobre processos de conservação, valorização, restauro, tombamentos, etc.
Apresentação de banners pelos estudantes da EREM José Vilela Foto: Acervo Fundarpe
Vale salientar que encontramos algumas dificuldades quanto ao agendamento e à realização de algumas visitas, impedimentos e às vezes má vontade de algumas instituições em receber estudantes. Mesmo assim, procuramos, quando houvesse qualquer tipo de impedimento institucional consultar outras fontes de pesquisa, e assim fizemos entrevistas e produzimos fotografias com brincantes e admiradores que pudessem fornecer informações outras, também úteis para a realização dos projetos.
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Destacamos ainda a inteira disponibilidade do Museu da Cidade do Recife, na pessoa do seu gerente de pesquisas o professor Sandro Vasconcelos, em atender diversos de nossos alunos e fornecer além de entrevistas, também livros e fotografias digitalizadas para o entendimento sobre temas variados. O atendimento no Museu da Cidade do Recife, possibilitou aos nossos estudantes o contato com a prática e os métodos da pesquisa institucional, exigências, seriedade e protocolos. Dos trabalhos apresentados na 11ª Jornada e Pesquisa da Erem José Vilela foram selecionados sete para a apresentação em forma de banner no Memorial de Medicina, durante a 12ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco: 1. O homem da meia noite: significados do calunga, do bloco e do museu Adrielle Samara e Felipe Diogo; 2. A história dos bonecos gigantes - Edeilson Jr e Pedro Vilela; 3. Galo da Madrugada: o maior bloco carnavalesco do mundo - Lucas Marcos e Pedro Henrique; 4. Patrimônio Cultural e imaterialidade - Williane Lira e Alyson Vinícius; 5. Quadrilhas juninas: história e evolução - Rhian Nascimento e Caio Santana; 6. Caboclos de lança: significados culturais - Eudes Clóvis e João Guilherme; 7. Bajado: Um artista de Olinda - Igor Mateus e Igor Vasconcelos. Além da apresentação dos projetos com grande qualidade na própria escola, os trabalhos selecionados também foram revisados após avaliação da banca e fizemos ensaios antes da apresentação fora do ambiente escolar, no memorial de Medicina de Pernambuco. E como forma de enriquecimento os estudantes selecionados para esta apresentação externa participaram da oficina de Cartografia afetiva ministrada pelos educadores Sandro Vasconcelos e Jordy Kiarelly do Forte das Cinco Pontas.
Oficina de Cartografia Afetiva com o educador Sandro Vasconcelos Foto: Acervo Fundarpe
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A experiência da apresentação dos banners durante todo o dia no salão de exposições do Memorial de Medicina durante a Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, significou para todos nós, estudantes e professores, equipe gestora e pais da EREM José Vilela um momento de reconhecimento pelo trabalho que realizamos com muito esforço e comprometimento efetivo e afetivo na formação de nossos estudantes; uma valiosa experiência que sem dúvida, incentivou nossos jovens para continuarem a prática da pesquisa cientifica no universo acadêmico e o fortalecimentos dos nossos laços com a riqueza do patrimônio cultural imaterial do nosso Estado. CONSIDERAÇÕES FINAIS A cada ano verificamos o valor precioso da disciplina de Metodologia no Ensino Médio no sentido em que coloca o estudantes diante da possiblidade de ampliar seu universo de ação educacional por meio da realização de projetos que demandam necessariamente a construção de habilidades e competências que completam e otimizam sua formação na educação básica e na conclusão desta etapa escolar tão importante. Ao mesmo tempo, percebemos que por causa desta disciplina muitos jovens despertam para interesses profissionais de forma mais autêntica já que entram em contato com ambientes e pessoas que os estimulam a fazer escolhas mais conscientes. Concomitantemente, a temática do patrimônio Cultural imaterial suscitou experiências enriquecedoras não apenas do ponto de vista artístico, o que já seria de fundamental importância no reconhecimento de nossos valores e práticas culturais, mas também na formação cidadã dos estudantes e no contato com diversas instituições culturais, seus objetivos e formas de desenvolver e preservar nosso patrimônio. A experiência de pesquisa de nossos jovens com este tema, fortalece em nós a esperança e a certeza de que nos apropriando do patrimônio podemos valorizá-lo e, como cidadãos, lutar pela preservação dos aspectos culturais do nosso povo pernambucano. Anselmo Cabral da Silva
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1 Professor de História (especialista pela UFRPE) da Escola de Referência em Ensino Médio José Vilela.
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Museu Regional de Olinda Aurora Mureo 463 Revista da Semana do PatrimĂ´nio Cultural deIsabella Pernambuco Foto: Valle Fundarpe, Recife, v.1, n.5, 2020
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REPATRIAÇÃO DIGITAL DO ACERVO AFRO PERNAMBUCANO Charles Douglas Martins1 Daiane Carvalho2 Maria Elisabete Arruda de Assis3 RESUMO Este artigo apresenta o Projeto “Repatriação Digital do acervo afro Pernambucano sob a guarda do Centro Cultural São Paulo”, com recursos da Lei de Incentivo à Cultura do Estado de Pernambuco - Funcultura, cujo objetivo foi identificar, digitalizar todos os objetos dos terreiros do Recife, salvaguardados pela Missão Folclórica Mário de Andrade, inclusive em 3D (objetos tridimensionais) e atualizar sua documentação museológica. A perspectiva foi mapear, pesquisar, registrar e salvaguardar a memória do povo de terreiro de Pernambuco, assim como salvaguardar as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas das comunidades afrodescendentes de Pernambuco. O conjunto de fotografias, produzidas durante a pesquisa, passou a compor o acervo digital do MAB e o inventário do Museu Afrodigital. O resultado deste trabalho, além de permitir ao público Pernambucano o acesso ao acervo que se encontra distante, nos dá a possibilidade de resgatar memórias sociais em torno das perseguições das expressões religiosas de matriz africana, ocorrida nos anos 1930 em Recife e denunciar a violência perpetrada pelo Estado ao povo de terreiro. Esta, talvez, a maior contribuição: possibilitar o conhecimento sobre episódios do passado, que não devem ser esquecidos, para que evitemos que ele se repita no presente e no futuro. Neste sentido, proporcionar o incentivo ao incremento de políticas públicas que protejam e garantam o direito constitucional de liberdade de escolha e de expressão da religião. Palavras-chave: Terreiros. Perseguição. Acervos. Fotografia. Documentação. Museu. 1 Graduada em História, granduando Tecnologia da informação, com Mestrado em Antropologia. Tem experiência na área de museus virutais, coordenador do Museu Afrodigital - Estação Pernambuco e pesquisador pelo Observamus - Observatório de Museus. Atualmente trabalha no núcleo NTVRU Núcleo de TV e rádios universitárias da UFPE. 2 Graduada em Museologia, com Mestrado em Ciência da Informação. Tem experiência na área de documentação de acervo, com ênfase em levantamento e inventário. Atualmente trabalha no Museu da Abolição (desde 2011), onde desenvolve atividades de pesquisa e documentação do acervo. 3 Graduação em Ciências Sociais, mestrado (1996) e doutorado (2007) em Antropologia. Ocupou o cargo de Chefe de Pesquisa da Coordenação de Estudos SócioEconômicos e Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM (de julho de 2010 a janeiro de 2012), e diretora do Museu da Abolição em Recife - PE (de janeiro de 2012 a janeiro de 2019).
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Charles Douglas Martins; Daiane Carvalho e Maria Elisabete Arruda de Assis
INTRODUÇÃO O projeto “Repatriação digital do acervo afro Pernambucano”, teve por objetivo principal a repatriação dos objetos confiscado dos terreiros Pernambucanos que se encontram na Coleção Missão Folclórica Mário de Andrade, sob a guarda do Centro Cultural São Paulo - CCSP, utilizando técnicas de fotografia em 360 graus e 3D, assim como a constituição de acervos digitais relacionados ao patrimônio cultural afrobrasileiro, para o Museu da Abolição e para o Museu Afrodigital (PPGA/UFPE). Foi financiado com recursos da Lei de Incentivo à Cultura do Estado de Pernambuco - Funcultura. O projeto “Repatriação Digital” identificou e digitalizou todos os objetos dos terreiros do Recife, salvaguardados pela Missão, inclusive em 3D (objetos tridimensionais) e atualizou sua documentação museológica. A equipe foi coordenada por Maria Elisabete Arruda de Assis, organizadora do projeto; Daiane Carvalho, que atuou na identificação do acervo e informações nos catálogos da Missão, DVD e hotsite (sobre os objetos tridimensionais, fonográfico - entrevistas e cânticos - e fotográfico), na emissão do laudo de estado de conservação e na atualização da documentação museológica; Fabiana Sales, que desenvolveu e executou o planejamento educativo; Charles Martins, proponente ao Funcultura, e quem empreendeu os registros fotográficos, a arte mídia para a expografia e apresentação no site; e Marcela Camelo que atuou no desenvolvimento da montagem tridimensional dos acervos em exposição e na pesquisa fotográfica dos objetos. O conjunto de fotografias, produzidas durante a pesquisa no CCSP, passou a compor o acervo digital do MAB e o inventário do Museu Afrodigital. O resultado deste trabalho, além de permitir ao público Pernambucano o acesso ao acervo que se encontra distante, nos dá a possibilidade de resgatar memórias sociais em torno das perseguições das expressões religiosas de matriz africana, ocorrida nos anos 1930 em Recife. A partir do resultado deste projeto é possível realizar pesquisas mais aprofundadas sobre aquele fato histórico, inserindo a perspectiva das vítimas daquela violência física e simbólica: o povo de terreiro. Da mesma forma, nos dá a oportunidade de, ao resgatar esta memória, denunciar a violência perpetrada pelo Estado ao povo de terreiro. Esta, talvez, a maior contribuição: possibilitar o conhecimento sobre episódios do passado, que não devem ser esquecidos, para que evitemos que ele se repita no presente e no futuro. Neste sentido, proporcionar o incentivo ao incremento de políticas públicas que protejam e garantam o direito constitucional de liberdade de escolha e de expressão da religião. Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.5, 2020
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O Museu da Abolição (MAB), instituição beneficiária do projeto, é vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e tem suas ações norteadas pelos princípios da Sociomuseologia. Criado por Lei Federal na década de 1950, em homenagem aos abolicionistas João Alfredo e Joaquim Nabuco, foi efetivamente implantado em 1983. Desde 2005, sob inspiração da nova Política Nacional de Museus, o MAB iniciou um processo participativo de elaboração do seu Plano Museológico, com ampla mobilização dos setores sociais, como protagonistas da construção da memória e do patrimônio museológico. O Museu Afrodigital, museu virtual desenvolvido em pesquisa no departamento do grupo de estudos do LEC - Laboratório de Estudos Contemporâneos faz parte do acervo digital do DAM - Departamento de Museologia e Antropologia da UFPE e compõe a Rede de Museu Afrodigital desenvolvido em cooperação com pesquisadores de várias universidades do Brasil (UFPE-UFBA-UFMA-UFRJ) os quais desenvolveram suas próprias estações e se encontram atualmente desenvolvendo pesquisas sobre acervos e sua relação com o público. Desenvolveu a pesquisa para além de explicar como é possível se construir um museu virtual, explorar as tecnologias empregadas na construção ou especulações sobre o futuro dessa vertente de museu: busca revelar fenômenos e impasses entre a musealidade e seus atores. Sobre a temática, a professora Myrian Sepulvda, do Museu Afrodigital - Estação UFRJ, comenta: O museu digital pode ser entendido como um lugar democratizante em que se produzem relações de alteridade, construções identitárias, de reconhecimento e pertencimentos locais, regionais e nacionais. Pela sua própria natureza, e um dispositivo de fácil, dinâmico, gerador de interatividade, que espelha o cotidiano e a cultura de diferentes grupos sociais, de minorias etnicas, de grupos marginalizados que se reconhecem por meio de valores, pertencimentos locais comuns, memórias individuais e coletivas”. (...) “O arquivo digital que esta sendo criado irá disponibilizar acervos diversos, presentes no Brasil e no exterior, que dizem respeito a historia, a cultura e ao cotidiano das populações afrobrasileiras. Algumas iniciativas já foram realizadas, e outras estão sendo encaminhadas, como o desenvolvimento de um sítio ou plataforma digital eletrônica, a criação de um conselho consultivo internacional, a montagem de uma central itinerante de digitalização e o desenvolvimento de aportes juristas, de um termo para a formalização de cessão, doação e, quando for o caso, repatriação digital de documentos e materiais de vários tipos”. (SEPULVDA,2010, pág. 75).
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A digitalização em 3D dos objetos de terreiro que compõem a coleção da Missão de Folclórica Mário de Andrade possui um importante papel na restituição da memória dos objetos para as comunidades afrodescendentes, a quem tais acervos de fato pertencem, e para fins educativos e de cidadania. Com isto, o MAB buscou assegurar a sua política de constituição de acervos digitais, que tem por princípio ético a restituição e devolução digital do patrimônio cultural às comunidades afrodescendentes. O MAB entende que o patrimônio cultural afrodescendente é o resultado de um complexo processo de práticas sociais que envolvem diferentes modos de agenciamentos de políticas públicas, à base de conflitos, de negociações e de construções culturais, refletindo anseios de novos atores sociais que reivindicam para si a guarda e preservação de memórias sociais. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO REPATRIAÇÃO DIGITAL DO ACERVO AFRO PERNAMBUCANO SOB A GUARDA DO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO A Missão de Pesquisas Folclóricas foi uma expedição idealizada para coleta de expressões da cultura popular das regiões do Brasil que não tinham contato com o exterior e corriam o risco de desaparecer com a crescente urbanização e industrialização do país, por iniciativa de Mário de Andrade que se encontrava no Departamento de Cultura da cidade de São Paulo. O objetivo primordial da Missão era “incrementar o acervo da Discoteca Pública Municipal com gravações de folclore musical brasileiro”. A divulgação do acervo registrado pela expedição contribuiria para suprir a carência de documentos musicais destinados aos estudos etnográficos e ao aproveitamento artístico de melodias folclóricas pelos compositores eruditos. Em virtude da implantação do Estado Novo no país, a Missão foi abortada com a saída de Mario de Andrade Departamento de Cultura da cidade de São Paulo. Todavia, conseguiram visitar 28 cidades dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Maranhão e Pará. O acervo da Missão de Pesquisas Folclórica Mário de Andrade é composto por mais de mil peças catalogadas entre objetos etnográficos, instrumentos de corda, sopro e percussão; 1.500 melodias registradas em discos de vinil; 1.126 fotografias; 17.936 documentos textuais (entre cadernetas de anotações, cadernos de desenhos, notas de pesquisas, notações musicais, letras de músicas, versos da poética popular e dados sobre arquitetura) e 19 filmes de 16 e 35 mm. Uma das finalidades do projeto “Repatriação digital do acervo afro Pernambucano sob a guarda do Centro Cultural São Paulo” foi realizar pesquisa no
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ARTIGOS ACADÊMICOS
acervo da Coleção, na qual se encontra parte dos objetos confiscados dos terreiros de Pernambuco, durante o Estado Novo, nos anos 1930/40. Este acervo em específico (objetos confiscados dos terreiros pernambucanos) foi forjado no bojo do governo de Getúlio Vargas que permeou sua atuação sob um Estado intervencionista, marcado por uma forte aproximação com a igreja católica e de seus valores. Em Pernambuco, Agamenon Magalhães atuou no governo consolidando um vasto programa de reformas e realizações nesta nova perspectiva do Estado, dentre as quais a política de perseguição aos cultos de matriz africana. Dentro desse contexto, Estado e Igreja se juntaram numa caçada a todos aqueles que ameaçavam a ordem estabelecida. Dessa forma, ao objetivarem empreender uma caçada aos inimigos da Igreja, que automaticamente eram considerados inimigos do Brasil, elegeram as religiões afro-brasileiras como uma das mais perigosas práticas anticatólicas na sua luta contra todos os ‘elementos dissolventes de nossa civilização’ (CAMPOS, 2001, p. 213).
Foi com este sentido que “Em 1938, o Secretário de Segurança Pública e congregado mariano Etelvino Lins baixou uma Portaria proibindo em todo o estado de Pernambuco o funcionamento das ‘seitas africanas’ e gabinetes de ‘ciências herméticas’” (CAMPOS, 2001, p. 213). A perseguição aos cultos e religiões de matriz africana ocorreu não só em Pernambuco, mas em outros estados e regiões do Brasil, não só com o apoio da igreja católica, mas, sobretudo, com o apoio do próprio Estado. A ordem era o fechamento de terreiros, a prisão de seus líderes e a apreensão dos objetos rituais como prova do crime. Todos os objetos confiscados pela polícia, durante suas ações, tiveram três destinos: 1) foram queimados, conforme afirma a matéria do jornal Folha da Manhã (“Outra casa de magia fechada pela polícia”. Recife, 24 out. 1940, p. 4. Edição Vespertina in CAMPOS, 2001 p. 213): “todo o ‘material’ foi levado para a Delegacia de Vigilância Geral e Costumes, a fim de ser incinerado”, sob a perspectiva de “extinguir o mal”; 2) foram enviados para delegacias, como prova do crime; 3) ou foram enviados à Diretoria de Higiene Mental do Serviço de Assistência a Psicopatas, como prova de doença mental dos praticantes das religiões perseguidas. Posteriormente, a Diretoria de Higiene Mental do Serviço de Assistência a Psicopatas criou um Museu para onde enviou os objetos sob a sua guarda. Em um segundo momento, estes foram levados para o Museu do Estado, quando da sua criação, e constituem hoje a “Coleção Xangô de Pernambuco”... Alguns dos objetos
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que estavam em delegacias foram doados à Missão de Pesquisa Folclórica do Norte e Nordeste, em 1938, visto que: A manifestação folclórica de maior interesse etnográfico para a Missão, em Recife, era o Xangô. A delicadeza da situação política dificultava a obtenção de autorização oficial prévia, cedida pela Polícia da capital, necessária para registro dos cultos de feitiçaria afro-brasileira. No entanto, apesar da radicalização do processo empreendido pelos Católicos Marianos, no sentido de apagar da sociedade todo e qualquer tipo de manifestação religiosa afrobrasileira, os integrantes da Missão conseguiram permissão para que fosse realizado um toque de Xangô para efeito de filmagem (CAMPOS, 200. p. 220).
Esta “doação”, que denominamos “expatriação”, foi intermediada por Ascenso Ferreira e Waldemar de Oliveira, da qual constaram 519 objetos, escolhidos pelos integrantes4 da Missão, entre os objetos que estavam entulhados no pátio da SSP. Além desta coleta, a equipe da Missão conseguiu autorização para documentar o canto, a dança, as orações e expressões do xangô Recifense, a partir de entrevistas, fotografias e gravações de áudio. Após recolhidos, os objetos foram identificados e catalogados, com a ajuda de alguns babalorixás entrevistados pela Equipe da Missão, e, posteriormente embalados e enviados a São Paulo para Mário de Andrade. Com a finalização da Missão, toda a coleta realizada pelos pesquisadores passou a compor o acervo da Coleção Missão Folclórica Mário de Andrade, sob a guarda do Centro Cultural São Paulo (CCSP). Examinando alguns documentos e jornais da época, que constam do acervo da Missão, e os que estão disponíveis on line (Diário da Manhã), observamos que no dia 13 de fevereiro de 1938 a Equipe da Missão desembarca no Recife, e, nesta mesma data, os jornais da cidade noticiavam as seguintes manchetes: “Fechadas pela polícia várias casas de Xangô” (Diário de Pernambuco); “Xangô, babalorixá e policia: Importante diligência da Delegacia de Investigações e capturas” (Diário da Manhã). Na noite do dia anterior, 12 de fevereiro de 1938, 24 terreiros foram invadidos e os jornais noticiam o fato, na manhã seguinte, fartamente ilustrado com fotografias dos objetos confiscados. Além disto, divulgaram também os endereços dos terreiros invadidos naquela noite, e seus respectivos babás e iaiás. Ao ler as notícias, a equipe da Missão se interessou pelos objetos e pelas pessoas que 4 A equipe da Missão era composta por: Luiz Saia (Chefe da Missão); Martin Braunwieser (técnico musical); Benedito Pacheco (técnico de som) e Antonio Ladeira (ajudante geral).
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sofreram aquela violência, o que os motivou a visitar a Secretaria de Segurança para conhecer o fruto dos confiscos e a empreender a salvaguarda de parte daqueles objetos. Possivelmente os mais bem conservados. Existem vários acervos no país, já mapeados por pesquisadores, forjados na mesma condição: fruto de perseguições, de violência e força bruta, e da discriminação e intolerância religiosa. A escolha pelo acervo que se encontra no CCSP, que é o recorte estabelecido, deveu-se a dois motivos: primeiro por ser de Pernambuco e por ter sido expatriado. Segundo pelo fato da inacessibilidade do povo pernambucano em geral, e do povo de terreiro em particular, uma vez que este acervo não estava mapeado dentro da coleção, e, portanto, não estava acessível, além da distância geográfica entre Recife e São Paulo. Apenas um trabalho de pesquisa poderia identificar, mapear e dar acessibilidade a este acervo, a partir do deslocamento até o local. Durante os contatos iniciais estabelecidos com o CCSP obtivemos a informação de que estes objetos estavam dispersos em meio aos demais objetos coletados durante a Missão Folclórica Mário de Andrade e que para identificar cada um deles seria necessário um trabalho de pesquisa in loco, uma vez que a coleção é mais abrangente e composta por outros temas e diversos tipos de acervos de outras cidades das regiões norte e nordeste. Este acervo possui um significado afetivo e simbólico enorme para o povo de terreiro de Pernambuco, entretanto, permanecia inacessível mesmo depois de décadas de confisco e do seu envio para São Paulo. A proposta, portanto, foi dar conhecimento e acessibilidade aos pernambucanos não só quanto à existência deste acervo, mas, sobretudo, disponibilizar informações mais detalhadas sobre cada um dos objetos, a partir da pesquisa proposta. O conjunto de objetos levados para São Paulo é composto por peças de diversos suportes: cerâmica, madeira, madeira e couro, metal, tecido, material orgânico, metal e madeira, ferro e papel. Entre os objetos estão instrumentos musicais, imagens de santos católicos, resplendores, espadas, abebés, pilões, setas, facões, imagens de santos católicos, bancos de pegí, chifres de madeira, miniaturas ou “brinquedos de orixá”, quartinhas, alguidares de madeira e cerâmica, documentos e roupas dos filhosde-terreiro. Observando a documentação museológica, identificamos cinco “seitas” das quais faziam parte aqueles objetos: Xangô, Xambá, Nagô, Gêge e Mirê. Entre os orixás, aos quais são atribuídos os objetos, ou nos quais têm inscrições, estão: Yemanjá, Xangô, Xangô Bacele, Oxum, Oxum Timi, Oxum Pandá, Oxum Fá Miló, Oxossi, Aloiá, Ogum, Exu, Oxalá, Odê Bombôchê, Odê, Omulu e Oiá. A pesquisa “Repatriação Digital” foi fundamental para identificar e iniciar um melhor conhecimento sobre os objetos e sobre o contexto no qual eles foram
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confiscados. Entretanto ainda existe a necessidade de pesquisas mais aprofundadas para ampliar este conhecimento. De fato, as ações possíveis de serem realizado com o Projeto foram: - Visita técnica ao Centro Cultural São Paulo para os trâmites inicias de formalização e realização do projeto; - Pesquisa documental no acervo do Centro Cultural São Paulo: Um primeiro levantamento foi realizado, a partir das cadernetas de campo dos pesquisadores, que estão digitalizadas e reunidas em um DVD organizado pelo CCSP, e nos dois catálogos publicados sobre o acervo; - Levantamento e identificação do estado de conservação dos objetos; - Higienização dos objetos: limpeza mais leve como a retirada de poeira ou sujidade superficial; - Catalogação fotográfica e atualização documental dos objetos; - Inventário digital de acervo afrobrasileiro em 3D: disponibilizado na plataforma Afrodigital (www.museuafrodigital.com.br). - Elaboração de programação expográfica e educativa para utilização das informações e levantamentos realizados; - Abertura de Exposição do MAB e Museu Afrodigital (28/11/2017) - Realização do seminário com o tema “Memórias da Intolerância, Inventário Digital de Acervo Afrobrasileiro e sua Contribuição à Diversidade Cultural Brasileira e ao Diálogo Intercultural” (28/11 e 01/12/2017); - Realização de rodas de diálogos com o povo de terreiro de Pernambuco para identificação dos objetos do acervo e produção de memórias sociais, com vistas a recompor identidades coletivas e demandas por reconhecimento (maio e junho de 2018 nos terreiros de Pai Adão, Xambá e Tenda de Umbanda e Caridade Caboclo Flecheiro). Dentre as ações realizadas dentro do projeto, merece destaque o seminário Memória e Resistência do Povo de Terreiro ocorrido no MAB entre 29 e 30 de novembro de 2017, e as rodas de diálogos ocorridas entre maio e junho de 2018 nos terreiros de Pai Adão, Xambá e Tenda de Umbanda e Caridade Caboclo Flecheiro. Nestes espaços, os integrantes das comunidades participantes identificaram a necessidade de reivindicar ao CCSP que o acervo seja restituído para um museu Pernambucano sob os cuidados das comunidades dos terreiros. Em contrapartida, a coordenadora do acervo histórico da discoteca Oneyda Alvarenga, Wilma Martins
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de Oliveira, da qual faz parte a coleção da pesquisa das Missões Folclóricas relatou a relevância de manter este acervo na reserva técnica do Centro Cultural São Paulo, defendendo a importância de conservar os fatos e narrativas históricas contidas na trajetória desta coleção. Ela também destacou a dedicação da equipe no CCSP para manter o bom estado de conservação dos objetos. Neste sentido, a demanda surgida é a repatriação dos objetos para os terreiros de Pernambuco, e, como alternativa ao CCSP foi indicado que a coleção original passasse a utilizar as fotografias destes objetos em seu lugar. Várias sugestões foram apontadas para a recepção deste acervo em Pernambuco, todavia nenhuma ação foi adotada neste sentido. Este é um debate importante que merece ter uma atenção especial, a ser realizado no país, uma vez que existem diversos, especialmente de comunidade de terreiros, mas há também acervos de povos indígenas, que foram expropriados e mantidos distantes dos seus herdeiros. Outra questão que merece destaque foi a conquistado do prêmio Ayrton de Almeida Carvalho/2018 de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco na categoria Promoção e Difusão, pelo projeto Repatriação Digital, por garantir a acessibilidade dos objetos a pesquisadores, descendentes de terreiros e públicos em geral. O prêmio levou em consideração sua inovadora expografia, concebida e executada por Charles Martins, que utiliza fotografias em 360º/3D. A proposta do museu afrodigital é conectar dois importantes acervos representativos da intolerância religiosa em Pernambuco: o acervo do CCSP, disponível no endereço eletrônico museuafrodigital.com.br/repatriacaodigital e o da Coleção Xangô do Museu do Estado de Pernambuco - MEPE, oriundo do mesmo período e contexto do acervo do CCSP, composto de 306 peças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Examinado as fotografias dos jornais e as fotografias realizadas pela Equipe da Missão, e comparando-as com as coleções do MEPE e do CCSP, podemos observar que vários dos objetos fotografados compõem hoje estas duas coleções. Esta informação é uma importante pista para a realização de pesquisas que vinculem os objetos aos terreiros de onde saíram, ou, de outro modo, nos leva a considerar que é possível realizar o mapeamento dos descendentes daqueles 24 terreiros invadidos na noite de 12 de fevereiro de 1938, e, a partir deste mapeamento, identificar de onde os objetos foram arrancados. Além disto, durante a exibição das imagens deste acervo, nas
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rodas de diálogos realizadas com o povo de terreiro, foram identificados a pertença deles a alguns dos terreiros. Essa identificação foi superficial, e foi realizada a partir da estética, das cores e das inscrições existentes nos objetos, o que demonstra que é possível aprofundar o conhecimento sobre os mesmos. Este é, possivelmente, um caminho para a reconstituição da memória daquele trágico acontecimento, agora sob o ângulo dos que sofreram a violência. A reconstrução da memória em torno destes objetos, a partir do olhar destes grupos sociais, é algo a ser desenvolvido, e é um dos desdobramentos da pesquisa que o Museu da Abolição e o Museu Afrodigital estão empenhados em realizar. A parceria desenvolvida entre o MAB, o Museu Afrodigital e o CCSP, traz a oportunidade de fomentar a reativação de memórias das comunidades de terreiro ao mesmo tempo em que compõe importante ferramenta educativa e política, com usos práticos em escolas públicas da rede municipal, estadual e federal. Esta ferramenta também auxilia na consolidação da Lei nº 10.639 que assegura o ensino da história e da cultura afrobrasileira nas escolas, ao mesmo tempo em colabora com as Nações Unidas para ampliar ações na instituída Década Internacional dos Afrodescendentes (2013- 2022). Neste sentido, o resultado das pesquisas e digitalização do acervo afropernambucano, que se encontra no CCSP, se consubstancia em importante subsídio para o debate sobre o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais, assim como a garantia de igualdade das expressões religiosas das culturas que compõe a sociedade brasileira, os quais são princípios diretores da Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, adotada pela UNESCO e ratificada pelo Brasil. O Museu da Abolição, assim como o Museu Afrodigital pretenderam, com o projeto “Repatriação Digital”, a partir das pesquisas e da exposição, assegurar o direito à memória das experiências vivenciadas pelas comunidades afrodescendentes, e, acima de tudo garantir o respeito às expressões religiosas dos povos tradicionais do Brasil. REFERÊNCIAS Alvarenga, Oneyda (Org.). Melodias registradas por meios não mecânicos, São Paulo, Departamento de Cultura, 1946. . Registros sonoros de folclore musical brasileiro - Xangô, São Paulo, Departamento de Cultura, 1948a.
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. Registros sonoros de folclore musical brasileiro - Tambor de Mina e Tambor de Crioulo, São Paulo, Departamento de Cultura, 1948b. . Registros sonoros de folclore musical brasileiro - Catimbó, São Paulo, Departamento de Cultura, 1949. . Catálogo ilustrado do Museu Folclórico, São Paulo, Departamento de Cultura, 1950a. . Registros sonoros de folclore musical brasileiro - Babassuê, São Paulo, Departamento de Cultura, 1950b. . Registros sonoros de folclore musical brasileiro - Cheganças de Marujos, São Paulo, Departamento de Cultura, 1955. CAMPOS, Zuleica Dantas Pereira; O combate ao catimbó: práticas repressivas às religiões afroumbandistas nos anos trinta e quarenta. Recife, 2001, Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de PósGraduação em História. CARVALHO, Roseane. Comunicação e informação de museus na internet e o visitante virtual. In: XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação XIII ENANCIB 2012. SABBATINI, Marcelo. Reflexões sobre o museu virtual: a mediação edocomunicativa do objeto, da informação e do visitante em um novo espaço de representação. In: XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação 2010.
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Hugo Menezes Neto
NOTAS SOBRE PATRIMÔNIO, DERRUBADA DAS ESTÁTUAS E VIDAS PRECARIZADAS Hugo Menezes Neto1 RESUMO Este artigo traz algumas reflexões sobre o movimento de derrubada das estátuas de personagens históricos ligados ao pensamento colonial e racista que se intensificou em 2020 após o assassinato de George Floyd, no dia 25 de maio de 2020, por um policial branco estadunidense, evento desencadeador da onda de protestos antirracistas no mundo. Pensando que tais estátuas condensam sentidos de opressão e violência constitutivas da experiência social das populações negras e indígenas, o objetivo aqui é refletir sobre a relação entre patrimônio e precariedade, nos termos de Judith Butler (2019), que aponta para a reparação patrimonial como constitutiva da justiça social e de produção de cidadania. Como efeito, proponho uma ideia de educação patrimonial que se preocupe mais com a garantia da livre circulação de narrativas, memórias e reivindicações das populações subalternizadas pelo colonialismo (como estrutura de pensamento ainda vigente intrínseco ao capitalismo moderno), do que em salvaguardar estátuas coloniais. Palavras-chave: Patrimônio. Espaço público. Estátuas. Racismo. As estátuas, efígies e monumentos coloniais desempenham precisamente a função de armadilhas (Mbembe, 2014, 216)
Este artigo sintetiza ideias apresentada na palestra que proferi, em agosto de 2019, na abertura do IV Seminário de Educação Patrimonial, parte da XII Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, promovida pela Secretaria de Cultura e pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco Fundarpe, realizado no Memorial da Medicina (Recife). Naquela ocasião debati junto a setenta professores/as da rede pública de ensino a relação entre educação patrimonial e desobediência e epistêmica (MIGNOLO, 2008). Em 2020, porém, o movimento da derrubada das estátuas em espaços públicos acresce mais questões ao tema, o que me anima a elaborar, um ano depois, algumas reflexões. 1 Professor do Departamento de Antropologia e Museologia (DAM) da Universidade Federal de Pernambuco. Professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Doutor em Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/IFCS).
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Em meio aos protestos em decorrência da morte de George Floyd - homem negro violentamente assassinado no dia 25 de maio de 2020, por um policial branco de Minneapolis (EUA) - encampada pela mobilização política antirracista “Black Lives Matter”, intensificou-se o movimento da derrubada de estátuas que rendem homenagens públicas a colonizadores, personagens racistas e criminosos envolvidos com a escravidão das populações negras e indígenas e que ocupam o espaço público de grandes cidades do mundo. Tal movimento é o ponto de partida da discussão deste ensaio, entendendo que, seguindo Jeudy (2003, p. 76), a questão patrimonial é “um problema de transmissão do sentido” e que esse problema está na gestão dos repertórios imagéticos e discursivos do patrimônio cultural legitimado. Quero aqui, então, discutir uma ideia de patrimônio e educação patrimonial que atente para os sentidos transmitidos pelos bens selecionados, pensando especialmente nos sentidos relacionados com a precarização da vida de grupos historicamente oprimidos, alijados do “espaço de aparecimento”, violentados, silenciados e mortos, tais quais as populações negras e indígenas. Para esse esforço, reconheço-me fortemente inspirado nas chaves conceituais de Judith Butler (2019, 2015) sobre a precarização da vida de determinados grupos sociais, e na produção de vidas matáveis e não passíveis de luto. Também ligado às críticas ao jogo de poder constitutivas da “maquinaria patrimonial” (JEUDY, 2005) 2 e do “dever de memória” (HUYSSEN, 2000; 2004)3, fundamentados no pensamento colonial que forja nossa experiência social. Defendo que a maquinaria patrimonial no exercício de seu dever de memória colabora com a precarização da vida das populações negras e povos indígenas, e por isso a questão patrimonial deve ser tratada a luz das ideias de desobediência, produção de cidadania e enfrentamento à produção de vidas precárias (BUTLER, 2019). Comecei a palestra, em agosto de 2019, dizendo que a minha fala não seria uma celebração ao patrimônio, tentando, de antemão, não gerar expectativas naqueles que esperam defesas entusiasmadas com os rumos da discussão sobre patrimônio cultural ou acerca da eficiência das políticas públicas 2 Maquinaria patrimonial, nos termos de Jeudy (2005), grosso modo corresponde ao conjunto de atores envolvidos com o patrimônio (em suas hierarquias simbólicas e disputas); as operações tais como conceituação, definição, seleção, patrimonialização, difusão, preservação e salvaguarda; a gerência e os discursos de bens legitimados como tal. 3 Sobre a emergência da memória como uma das preocupações culturais e políticas centrais das sociedades ocidentais, ver mais especificamente Huyssen (2000 e 2014) no que ele chama de “excesso de memória”.
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de patrimonialização4. Neste ensaio continuarei na mesma perspectiva crítica à gestão da representatividade patrimonial e do controle dos discursos da esfera pública por meio dos patrimônios chancelados pelo Estado. Com a lucidez que lhe é peculiar, Achile Mbembe (2014) afirma que as estátuas coloniais desempenham a função de armadilhas. Nesses termos, há séculos estamos a elas presos, e agora tais armadilhas estão em processo de desarticulação, sendo desarmadas por meio da exposição pública do seu perigo. Em Recife-PE algumas armadilhas ainda aguardam intervenções. A capital pernambucana detém estátuas racista que relembram o tempo passado, de opressão e violência e o tempo presente, de precarização e morte. Ao invés de celebradas devem servir de exemplo paradigmático da relação dos tempos que se cruzam, pois, segundo Mbembe (2014: p. 218): “Não existe nenhuma estátua sem essa fusão de objetividade, subjetividade e moralidade. Aliás, todas as estátuas coloniais remetem para uma maneira de relembrar o tempo”. O BARÃO DE RIO BRANCO EM RECIFE E O PENSAMENTO RACISTA DE “FIGURAS ILUSTRES” Duas estátuas ocupam a famosa Praça do Marco Zero no centro do Recife, a do Barão de Rio Branco e a de Naná Vasconcelos. Começo pela exposição da nobreza racista de um barão de bronze, José Maria da Silva Paranhos Junior, que lá está desde 19 de agosto de 1917, obra do artista francês Félix Charpentier. A estátua ocupa um lugar privilegiado, com seus 2,8 metros de altura impulsionados por mais 4 metros de um pedestal de concreto. O Barão de Rio Branco foi um “ilustre” ministro das relações exteriores nos governos dos quatro primeiros presidentes da república brasileira recém-inaugurada, embora fosse monarquista declarado. Essa função lhe rendeu prestígio pois, como conta a história oficial, ele conduziu a consolidação das nossas fronteiras a partir de acordos políticos com os países vizinhos. Reparem, seu pai fora o Visconde de Rio Branco, conhecido por ser o autor da Lei do Ventre Livre. Não se enganem, o senhor Visconde não era um abolicionista, ao contrário, defendeu a referida Lei porque a considerava economicamente menos impactante do que a abolição completa e imediata, por prever 4 Patrimonialização entendida como uma operação que instaura na nossa experiência social o reconhecimento institucional de “signos identitários”, pretensamente marcadores de uma singularidade cultural, a serem conservados, exibidos e transmitidos.
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uma extinção gradual da escravidão. Segundo o historiador Luís Cláudio Santos (2018), dedicado à biografia do Barão de Rio Branco, o filho, acreditava na mesma premissa, e embora a escravidão tenha oficialmente acabado em 1888, o nobre, falecido em 1912, entendia que a abolição só deveria ter acontecido depois da morte do último escravo nascido antes da Lei do Ventre Livre, assinada pelo seu pai, o que adiaria o fim da escravidão da população negra para, aproximadamente, o ano de 1950. De acordo com Santos (2019, p. 07), no que concerne as questões acerca das mudanças sociais, ele era “um conservador no sentido estrito do termo: aceitava o mundo tal qual ele entendia que era e não se esforçava, ou considerava desejável, alterações de fundo. Recorde-se a postura, na verdade reacionária, quanto à abolição”. Palavras amenas para (não) chamá-lo de racista. É um acinte o Barão de Rio Branco dividir o espaço público do Marco Zero com a estátua de Naná Vasconcelos, músico negro, grande incentivador da cultura afrobrasileira e da ocupação do espaço público pelas religiões de matriz africana, falecido em 2016. A estátua de Naná, inaugurada em 2017, rende homenagem ao talentoso percussionista, reconhecido mundialmente por suas habilidades técnicas e pela relação com a musicalidade e o pensamento afrocentrados, artista que se dedicou nos últimos quinze anos a organizar/ensaiar/orquestrar a abertura oficial do carnaval da capital pernambucana montando um espetáculo com inúmeros batuqueiros das mais variadas nações de maracatu de baque virado, formando anualmente um conjunto plural de representantes dessa manifestação artístico-cultural registrada como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN. Naná trazia ao palco principal da maior festa do Estado, no momento de maior visibilidade pública, jovens negros/as e pobres das periferias da cidade, apresentando/ expondo/valorizando a arte e a cultura afro-brasileira, evocando a ancestralidade negra do carnaval e do repertório cultural e patrimonial de Pernambuco. Numa cidade como Recife que também tem estátuas de Solano Trindade (no Pátio de São Pedro), Chico Science (na Rua da Moeda) e Zumbi dos Palmares (na Praça do Carmo), falando apenas dos diretamente relacionados com a cultura negra e com a periferia, eu particularmente acredito que é um desperdício de bronze celebrar um racista, colonialista e antidemocrático como o Barão de Rio Branco, além de ser uma afronta aos movimentos sociais de cunho antirracista de Pernambuco. Sua presença no espaço público, entretanto, deve nos fazer pensar nos limites da maquinaria patrimonial, em suas engenharias perversas de definição, celebração e preservação dos elementos (bens, discursos e narrativas) patrimonialisáveis, nos conteúdos políticos norteadores da chancela concedida pelo poder público aos patrimonializados, e, especialmente no
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contexto atual no qual discutimos pluralidade étnico-racial e diversidade cultural, nos faz pensar na débil representatividade do patrimônio cultural nacional. Poucos frequentadores e transeuntes do Centro Histórico do Recife sabem quem foi o Barão de Rio Branco, o mesmo não pode ser dito quando falamos de Naná Vasconcelos, creio. Claro, eles se localizam em tempos diferentes e manifestam pensamentos divergentes, não quero compará-los, não faria tal desfeita com o grande Naná, porque não se compara o incomparável, assim aprendemos na Antropologia (INGOLD, 2019). Nem todos os personagens históricos ganham o status de estátua, apenas alguns escolhidos em uma determinada época saem das páginas e dos discursos da história oficial para a imortalidade em bronze, e assim, ganham o espaço público da cidade, tornando-se legítimos patrimônios. Naná Vasconcelos, Solano Trindade, Chico Science e Zumbi dos Palmares viraram estátua não pela concessão patrimonial de um Estado benevolente que resolveu por contra própria, como uma espécie de autoanálise decolonial, elaborar uma revisão histórica e uma justiça patrimonial. Eles viraram estátua devido à luta política de mobilizações sociais e movimentos ligados às questões da população negra cuja agenda, há décadas, discute memória e representatividade da população negra no espaço público. O Barão de Rio Branco, ao contrário, foi colocado em seu pedestal no Centro Histórico do Recife, no começo do século XX, à revelia da população negra, a despeito de ser um racista desejoso da perpetuação da escravidão, por ser um representante da narrativa triunfalista do empreendimento colonial/escravocrata. A educação patrimonial deveria preconizar, defender, demandar com avidez a revisão histórico-patrimonial constante, que engendraria, consequentemente uma revisão dos discursos que circulam na esfera pública por meio do patrimônio cultural. A instalação de estátuas como a do Barão de Rio Branco nas ruas das grandes cidades foi uma ação arbitrária do poder público, isso é um fato. Como desdobramento, sua manutenção por mais de um século é a questão a ser enfrentada, os sentidos transmitidos por ela são questionáveis. A revisão promove, de maneira advertida, a deslegitimação simbólica daquelas imagens, consequentemente a destituição do seu status de patrimônio, e, em seguida, a exigência imperativa de seu interdito no espaço público, sua retirada imediata. Convertidos em estátuas fincadas nas praças, ruas e lugares de grande circulação, as imagens de colonizadores genocidas, políticos racistas, militares torturadores, tornam-se patrimônios a serem preservados. A sociedade ganha, sem necessariamente solicitar, a função de guardiã desse bem, que sem a revisão contínua e crítica, é desprovido de data de validade, acobertado pela supervalorização da Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.5, 2020
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preservação, mesmo que essa sociedade-guardiã já não saiba mais quem o escolheu para ocupar o espaço público, o porquê da escolha, quem era o dito cujo petrificado e como pensava o “ilustre” patrimonializado. Com o passar dos anos a maquinaria patrimonial transforma essas possíveis indagações, e os agentes realizadores de suas operações, em uma massa amorfa, anônima, sem cor, gênero e classe social. Podemos presumir, porém, que quem escolheu transformar figuras como o Barão de Rio Branco em estátuas foram homens, brancos, ricos e heterossexuais, os que detêm o poder desde a instauração do empreendimento colonial. A derrubada das estátuas desnuda as hierarquias simbólicas e as operações de silenciamento e de interdito ao campo do aparecimento, ao espaço e a esfera pública, que atingem os grupos sociais oprimidos. A radicalidade das derrubadas é estratégica, pois partir da ação radical feita em assembleia pública, do ato sem volta da destruição, o poder de gerenciar o conjunto patrimonial é tomado por instantes e a reivindicação finalmente respeitada. Assim, concordo com Butler (2019: p. 65): “algumas vezes não é uma questão de primeiro ter o poder e então ser capaz de agir, algumas vezes é uma questão de agir e na ação se reivindicar o poder de que se necessita”. A maquinaria patrimonial é eficaz em elaborar argumentos de defesa para permanência das imagens desses homens, brancos, colonizadores e racistas, como o Barão de Rio Branco, no espaço público, argumentos envoltos a uma pretensa neutralidade política e ligados à preservação patrimonial. Os defensores de sua manutenção afirmam que essas figuras fazem parte da história brasileira de modo indelével, por isso a “derrubada” seria inútil. Ao meu ver, os manifestantes não estão inseridos numa espécie de batalha contra a história, mas mobilizados pela descolonização do patrimônio, preocupados em reocupar o espaço público com monumentos realmente representativos das memórias das populações negras e indígenas, e consequentemente, povoar a esfera pública de discursos antirracistas. Evitar a derrubada, todavia, atende a uma dupla preservação: a do personagem histórico e a da própria estátua que, no caso do Barão de Rio Branco, em seus 103 anos teria em si um (questionável) valor patrimonial-histórico-artístico. A estátua do Barão e aquelas de outros racistas espalhadas pelo Brasil tornam-se bens a serem salvaguardados, um “bem de todos”, ainda que, contraditoriamente, nem todos se sintam por ela representados, nem dela detentores. Trata-se de um patrimônio que exclui e segrega sendo, portanto, um “antipatrimônio” cuja presença no espaço público acentua as tensões sociais mais do que conjuga as diferenças ou valoriza a diversidade, premissas do patrimônio cultural.
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A derrubada parece ser a apropriação mais potente do conceito de patrimônio dos últimos tempos, uma apropriação crítica à maquinaria patrimonial, feita por aqueles que não a operam e que eram até então obrigados a acatar e preservar referências de violência, ícones do genocídio, representantes do pensamento racista que oprime, subjuga e mata até os dias de hoje. Trata-se, então, a derrubada, de um fenômeno que responde à ressignificação do conceito de patrimônio, à tomada de consciência dos jogos de poder dele constitutivos, à crítica ao autoritarismo da chancela patrimonial e à urgência da revisão dos repertórios patrimoniais em suas dimensões imagéticas e discursivas. Derrubar as estátuas de racistas e, quem sabe, substituí-las pelas imagens daqueles que lutaram por uma sociedade mais justa, engajados na luta antirracista, por direitos para as populações oprimidas, apresenta-se como uma revolução patrimonial. Os manifestantes “derrubadores de estátuas” promovem um premente debate sobre os sentidos de preservação tão caros ao campo do patrimônio, questionam paradigmas antigos (ultrapassados e politicamente reprováveis), turvam a ideia de vandalismo, e, de modo advertido fundam marcos históricos. Se a inauguração das estátuas são efemérides lembradas, suas derrubadas também devem ser. Tirá-las do espaço público, destituí-las do espaço privilegiado do aparecimento, não significa tirá-las da história, mas sim, engendrar um processo de produção de re-narrativas, proporcionando outro ponto de vista acerca da experiência de violência de nossa história. MAIS ALGUNS PONTOS SOBRE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A elite política brasileira - homens brancos, cisgenêros e heterossexuais definiu que a arquitetura colonial e seu traço europeu são naturalmente patrimônios nacionais e ainda quais os personagens do nosso passado escravocrata e genocida de povos indígenas e negros seriam homenageados e celebrados nos espaços públicos. O princípio de reflexividade (JEUDY, 2003), esse gesto coletivo e institucionalizado de olhar-se no espelho, que é um dos motores da lógica patrimonial, produziu efeitos de saturação, tal qual emblematiza o movimento de derrubada das estátuas. A noção de patrimônio, imbricada com a de representatividade, saturou-se, não pode mais ser lida por cima dos marcadores sociais de raça, gênero, sexualidade e classe social, a maquinaria não pode mais impunimente transformar o racismo, por exemplo, em elemento (para não usar a categoria bem cultural) patrimonializável. Se o patrimônio, de fato, nos fizesse pensar a história nacional, a história da
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humanidade, ao olhar para imagem do Barão de Rio Branco nos perguntaríamos sobre os Tupinambás, Tabajaras e Caetés, povos que ocupavam o litoral pernambucano, onde hoje está fincado o seu pedestal, e que foram escravizados, assassinados ou expulsos pelos colonizadores. Nos perguntaríamos pelo discurso público acerca da mão-de-obra indígena e negra utilizada de modo escravo para a produção do centro histórico onde repousa a imagem do Barão. Esse patrimônio propositalmente transmite sentidos valorativos, entre eles o do sucesso do imperialismo europeu, e o do lugar subalterno de negros e indígenas no campo do aparecimento do espaço público. Para tecer esses questionamentos e evidenciar esse jogo de valores deve servir a educação patrimonial. Nesses termos, a educação patrimonial deve ser emancipadora. Deve ensinar o pensamento crítico e o olhar descolonial, valorizar e preservar outras culturas, ontologia e epistemologias não-ocidentais dos nossos povos originários, exigir representatividade no espaço público. Educação patrimonial deve ser, fundamentalmente, uma ferramenta para a reivindicação e garantia de direitos. Não adianta patrimonializar os saberes e práticas associados ao modo de fazer bonecas Karajá ou a Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi se não conseguimos garantir com a política pública do patrimônio os direitos dos povos indígenas. Educação patrimonial deve sempre ser convertida em mobilização política, porque a vida desses povos originários historicamente oprimidos e assassinados é o próprio patrimônio da humanidade, o direito à vida. O direito a ter direitos é uma reivindicação altamente patrimonial. Ao invés disso, a maquinaria patrimonial se preocupa demasiadamente em patrimonializar, e se possível musealizar, os saberes e práticas indígenas e quilombolas, por exemplo, para transformá-los em museália ou em arquivo para pesquisa, registrando-os antes que se percam esmagados pelo “trator do desenvolvimento”. Com isso, cumpriria sua missão, construindo uma narrativa de passado histórico multiétnico e salvaguardando-a. Salvar as pessoas deve ser mais importante do que salvar os arquivos. As assembleias públicas nas ruas, como aquelas que deliberam pela derrubada das estátuas, os corpos em aliança disputando os espaços de aparecimento e também vocalizando reivindicações, são contundentes ação patrimoniais, exigem a salvaguarda da vida dos grupos sociais impactados pela precariedade, que significa, nos termos de (Butler, 2019: 40): “a situação politicamente induzida na qual determinadas populações sofrem as consequências da deterioração das redes de apoio sociais e econômicas mais do que outras, e ficam diferentemente expostas ao dano, à violência e à morte.”. Essa condição de extrema vulnerabilidade, silenciamento e exclusão do espaço público faz parte dos processos de indução da condição precária que envolve
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o Estado quando opera na lógica da negligência (ao não promover infraestrutura) ou quando não oferece instrumentos judiciais que proporcionem proteção e reparação suficientes, inclusive reparação patrimonial e o direito a gestão das suas memórias. Nesse sentido, a derrubada das estátuas expande a noção de justiça patrimonial aproximando-a da justiça social, alcançando uma pauta mais ampla que excede a perspectiva preservacionista, e se posta contra o racismo e no enfrentamento à precarização e ao extermínio da população negra. No Brasil a educação patrimonial deve conscientizar a sociedade de que o patrimônio permeia questões do cotidiano de um país desigual, tais como o racismo estrutural (ALMEIDA, 2019)5, o encarceramento em massa de homens, jovens, negros e pobres (BORGES, 2019)6, a intolerância religiosa ou racismo religioso (NOGUEIRA, 2020)7, e que o descarte ou a destruição de estátuas que representem isso são proposições patrimoniais ainda mais potentes do que a preservação acrítica. A decapitação da estátua de Cristovão Colombo (Boston, EUA), a intervenção com tinta simulando sangue na estátua de Padre Antônio Vieira (Lisboa, Portugal) e a derrubada da estátua do traficante de escravos Edward Colston (Bristol, Inglaterra) não 5 Silvio Almeida (2019: p. 15) alerta que o racismo é sempre estrutural, logo, integra e opera na organização econômica e política da sociedade. Para ele o racismo “fornece o sentido, a lógica e a tecnologia para a reprodução das formas de desigualdade e violência que moldam a vida social contemporânea”. Dessa forma, “as expressões do racismo no cotidiano, seja nas relações interpessoais, seja na dinâmica das instituições, são manifestações de algo mais profundo, que se desenvolve nas entranhas políticas e econômicas da sociedade”. 6 Segundo Juliana Borges, no Brasil, 64% da população prisional é negra, enquanto que esse grupo compõe 53% da população brasileira. Dessa forma, dois em cada três presos no Brasil são negros. Ela analisa a situação: “O sistema de justiça criminal tem profunda conexão com o racismo, sendo o funcionamento de suas engrenagens mais do que perpassados por essa estrutura de opressão, mas o aparato reordenado para garantir a manutenção do racismo e, portanto, das desigualdades baseadas na hierarquização racial. Além da privação de liberdade, ser encarcerado significa a negação de uma série de direitos e uma situação de aprofundamento de vulnerabilidades. Tanto o cárcere quanto o pósencarceramento significam a morte social desses indivíduos negros e negras que, dificilmente, por conta do estigma social, terão restituído o seu status, já maculado pela opressão racial em todos os campos da vida, de cidadania ou possibilidade de alcançá-la. Essa é uma das instituições mais fundamentais no processo de genocídio contra a população negra em curso no país”. (Borges, 2019: p. 21) 7 O racismo religioso, segundo Sidnei Nogueira (2020: p. 65), “condena a origem, a existência, a relação entre uma crença e uma origem preta. O racismo não incide somente sobre pretos e pretas praticantes dessas religiões, mas sobre as origens da religião, sobre as práticas, sobre as crenças e sobre os rituais. Trata-se da alteridade condenada à não existência. Uma vez fora dos padrões hegemônicos, um conjunto de práticas culturais, valores civilizatórios e crenças não pode existir; ou pode, desde que a ideia de oposição semântica a uma cultura eleita como padrão, regular e normal seja reiteradamente fortalecida”. A incitação ao ódio e ao racismo religioso em relação às religiões de matrizes africanas, segundo ele, parte de discursos proferidos por atores sociais de poder e visibilidade como pastores, padres, políticos e autoridades políticas e tem lastro histórico na colonização e no pensamento colonial: “Se a agenda moral é apenas uma ilusão que serve a um proselitismo eleitoral, a violência simbólica é real e segue fazendo suas vítimas”. (p.35).
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podem ser entendidas pela chave da reacionária da noção de vandalismo. Acredito que sejam melhor interpretadas como movimentos de desobediência epistêmicopatrimonial. Os efeitos da desobediência impactam as bases da educação patrimonial ao promover debates púbicos sobre representação e ocupação do espaço público em sociedades que se pensam pluriétnicas, qualificar a crítica à maquinaria patrimonial e ao dever de memória, e, principalmente, por iluminar reinvindicações de grupos historicamente oprimidos e alijados da esfera pública. Por fim, é preciso dizer que uma (nova) educação patrimonial, leia-se emancipatória e crítica, prescinde da compreensão dos problemas infraestruturais, políticos e econômicos da nossa sociedade, para conectar premissas caras ao campo, como pertencimento, identificação e preservação, com a atenção aos processos de precarização que incidem em determinados grupos sociais. Essa nova educação patrimonial deve enxergar que o Estado faz pessoas viverem sem água, saneamento, luz, segurança, comida, casa, entre outras necessidades básicas, vandaliza a vida das minorias sociais, e classifica de vandalismo derrubar estátuas que condensam os sentidos de um passado violento e de um presente de precarizado. Os sistemas econômicos e políticos implantados pelas expansões imperiais/ coloniais europeias (espanhola, portuguesa, francesa, britânica, holandesa) “derrubaram” culturas, civilizações inteiras, saquearam ontologias, destruíram formas autênticas de ver o mundo. Foram, esses sistemas coloniais, complexos de poder e degradação de vidas humanas dirigidos por figuras como o Barão de Rio Branco. Contudo, culturas indígenas e africanas, embora sabotadas em sua experiência social e exercício de cidadania, resistem desobedientemente. A própria resistência deveria ser a matéria patrimonial do povo brasileiro. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Silvio. O Racismo Estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. BORGES, Juliana. Encarceramento em Massa. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. BUTLER, Judith. Corpos em Aliança e Política das Ruas: Notas para uma teoria performativa de Assembleia. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2019. BUTLER, Judith. Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto?. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2015.
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HYUSSEN, Andreas. Seduzidos Pela Memória: Arquiteturas, Monumentos e Mídia. Rio de Janeiro: Ed. Aeroplano, 2000. HYUSSEN, Andreas. Culturas do Passado-Presente: modernismo, artes visuais, políticas de memória. Rio de Janeiro: Ed. Contraponto, 2014. INGOLD, Tim. Antropologia: Para que serve?. Petrópolis: Ed. Vozes, 2019. JEUDY, Henri-Pierre. Maquinaria Patrimonial. [Entrevista concedida a Paola Beresntein Jacques]. Revista de Arquitetura e Urbanismo (UFBA), Salvador, v. 6, n. 1, p. 74 - 79, 2003. JEUDY, Henri-Pierre. O Espelho das Cidades. Rio de Janeiro, Ed. Casa da Palavra. 2005. MBEMBE, Achile. Crítica da Razão Negra. Lisboa: Ed. Antígonas, 2014. MIGNOLO, Walter. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF - Dossiê: Literatura, língua e identidade, n. 34, p. 287-324, 2008. NOGUEIRA, Sidnei. Intolerância Religiosa. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2020. SANTOS, Luis Cláudio Villafañe G. Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco: os comentários do autor. Meridiano 47 - Journal of Global Studies, v. 20, 8 ago. 2019. SANTOS, Luís Cláudio Villafañe G. Juca Paranhos, O Barão do Rio Branco. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
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“SÃO GESTOS QUE EDUCAM MAIS QUE CARTILHAS” EXPERIÊNCIAS EM PRÁTICAS EDUCATIVAS E SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO NO CENTRO DE CAPOEIRA SÃO SALOMÃO Izabel Cristina de Araújo Cordeiro1 Ricardo Dias de Sousa Pires2 RESUMO O presente artigo levanta considerações sobre patrimônio imaterial, práticas educativas e ações de salvaguarda. Contextualiza a importância das interlocuções com o campo da educação popular, para exaltação e manutenção dos saberes e fazeres, sujeitos sociais e locais onde se vivenciam os bens de natureza imaterial. Apresenta duas experiências de salvaguarda da capoeira realizadas pelos Projetos Caxinguelês Jovem e Patrimônio, Cultura e Cidadania, com jovens, mestres e mestras no Centro de Capoeira São Salomão, através de ações socioeducativas, realizadas pelo convênio com o Funcultura. Palavras-chave: Capoeira. Educação Popular. Patrimônio Imaterial. INTRODUÇÃO As palavras da frase que tomamos de empréstimo de Miguel Arroyo, escrita no Prefácio do livro Pedagogia do Movimento Sem Terra, de Roseli Caldart, são frequentes nos dizeres das pessoas mais velhas, ao se referirem ao aprendizado pelo exemplo. Na Capoeira os mestres e as mestras nos ensinam pelas palavras (oralidade), mas também pelo não dito, pelos gestos, pelo comportamento sutil, pelo seu modo de ser e estar no mundo. Mestre Paulo dos Anjos, grande referência de mestre para nós capoeiristas do Centro de Capoeira São Salomão, sempre falou para tomarmos como exemplo tudo que ele fazia. Para nós da Capoeira a educação presente nos exemplos, nunca esteve somente ligada a instituição escola. Em nossa formação muito do que aprendemos 1 Mestra de Capoeira do Centro de Capoeira São Salomão, Professora Adjunta da ESEF/UPE. 2 Mestre de Capoeira do Centro de Capoeira São Salomão, Licenciado em Educação Física pela ESEF/UPE.
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sobre nós mesmos, nossa comunidade e nosso país, nem sempre estiveram ligados às experiências das salas de aula. Educar sempre teve um sentido familiar amplo e coletivo, um processo contínuo de se socializar em nossa cultura, a partir do lugar que ocupamos nela. Concordamos com Paulo Freire em suas palavras veiculadas na obra Pedagogia do Oprimido (2005), quando afirma que “O conhecimento emerge apenas através da invenção e da reinvenção, através da inquietante, impaciente, contínua e esperançosa investigação que os seres humanos buscam no mundo, com o mundo e uns com os outros”. É essa nossa busca por ser e estar no mundo, tratada por Freire que provoca a criação da cultura e seus conteúdos expressos nas linguagens, técnicas, crenças, valores, costumes. Uma busca que não cessa e cria “mundos” pelos quais trilhamos. O documento do Ministério da Educação, Marco de Referência da Educação Popular para as Políticas Públicas (2014, s/p) apresenta um interessante relato ao afirmar que A Educação Popular tem um longo percurso no Brasil, a partir de um conjunto de práticas e experiências que se forjaram junto às classes populares, no chão das fábricas, em sindicatos, nas comunidades de base e igrejas, nas universidades, no campo, na cidade e na floresta, com os mais diferentes grupos, os trabalhadores, especialmente os em situação de pobreza, excluídos de seus direitos básicos como também em experiências que se realizam no âmbito da educação formal e da institucionalidade de governos municipais, estaduais e federal.
É no campo da educação popular, ampla, descentrada da instituição escola, alargada nas experiências vividas nos espaços comunitários, como aldeias, terreiros de candomblé, de maracatu, coco, ciranda e nos centros de capoeira, que permanece vivo, muitos saberes e fazeres que hoje têm sido reconhecidos como bens de natureza imaterial, os quais são apreendidos principalmente nos exemplos, nos gestos de seus detentores, mestres e mestras. Pernambuco possui muitos bens imateriais que estão em processo de patrimonialização e outros que já foram patrimonializados, como: a Feira de Caruaru, o Frevo, a Capoeira (Roda de Capoeira e Ofício dos Mestres), Maracatus Nação, Maracatus de Baque Solto, Cavalo Marino, Teatro de Mamulengos e Caboclinho. Jacira França e Marcelo Souza organizaram o livro Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco (2018), que apresenta através dos escritos de pesquisadores e pesquisadoras, esses Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.5, 2020
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patrimônios imateriais do estado já patrimonializados, informando sobre a pesquisa com as comunidades produtoras e mantenedoras de cada tradição, seu processo de patrimonialização e os desafios para a salvaguarda desses patrimônios. Para nós capoeiristas, um dos desafios para a salvaguarda dos patrimônios imateriais, em especial a capoeira é a criação e ou manutenção de ações educativas que tenham como foco o reconhecimento, respeito e valorização de seus detentores, em seus saberes e fazeres. Esse é inclusive um tema recorrente nos chamados comitês de salvaguarda da capoeira ao longo do país. Ter a prática da capoeira nas escolas públicas, por exemplo, não só como tema das disciplinas curriculares, mas como ação, desenvolvida pelos capoeiristas, é uma das lutas que se coloca hoje. Ainda mais quando a lei 12288 de 20/07/2010, estabelece no Estatuto de Igualdade Racial e define que Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação nacional, nos termos do art. 217 da Constituição Federal. § 1o A atividade de capoeirista será reconhecida em todas as modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em todo o território nacional. § 2o É facultado o ensino da capoeira nas instituições públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, pública e formalmente reconhecidos.
A educação patrimonial para nós passa pelo entendimento de que se educa em vários espaços, com vários conteúdos, nos quais a ideia de sujeitos educativos também se amplia, podendo ser inclusive, um movimento social ou uma expressão cultural. Regina Caldart (2012), por exemplo pensa que: “Se o trabalho é educativo, então é possível pensar que o sujeito educativo, ou a figura do educador não precisa ser, necessariamente uma pessoa, e muito menos estar na escola ou em outra instituição...” Educar portanto, pode acontecer em qualquer espaço, sobretudo, naqueles em que se estabeleçam relações educativas de ensino e aprendizagem de modos de ser e estar no mundo. Entretanto, acreditamos que para uma educação patrimonial se efetivar é necessária uma imersão nesse campo, como diz Glória Moura ao estudar as festas quilombolas, não é possível compreendê-las sem vivenciá-las. Para a autora o modo de ser no mundo e de educar nas culturas negras perpassa por “...conhecer-lhe as festas, observar o conteúdo musical entoado nos rituais, os gestos dos corpos dançantes e as
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vestes, instrumentos utilizados, a religiosidade, os costumes” (MOURA, 2004, p.94). Assim também é educar e educar-se na capoeira e pela capoeira. É preciso estar presente nesse meio em toda inteireza, sendo partícipe da sua comunidade de aprendizagens. Observamos por exemplo, que em todos os lugares do mundo em que a capoeira se faz presente, por mais que sejam múltiplas suas práticas, eles são sempre ambientes em que se veiculam e se transformam conteúdos e formas de se cultivar a vida comunitária, ancoradas nas heranças recebidas pelos mestres e mestras dessa arte. A diversidade, elasticidade e resistência da capoeira, frente as tantas formas de perseguição sofrida historicamente por ela e seus detentores, deu uma visibilidade inegável a ela como modo de se fazer no mundo, que a levou a ser reconhecida como um patrimônio. Em 2008, a Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres, foram reconhecidos pelo Ministério da Cultura como patrimônios imateriais do Brasil. Depois de pesquisados e inventariados foram registrados no Livro das Formas de Expressão, a Roda de Capoeira e no Livro dos Saberes, Ofício dos Mestres. Em novembro de 2014 foi a vez da UNESCO reconhecer a Roda de Capoeira como Patrimônio da Humanidade. Quando estudamos sobre o tema patrimônio, observamos que sua historiografia, nos dois últimos séculos, esteve sedimentada em dois pilares: um na compreensão da herança moral universalmente partilhada; e outro no movimento por conservação. (POULOT, 2009). A capoeira, curiosamente, não se situa completamente em nenhuma dessas perspectivas historiográficas, uma vez que a herança que ela carrega (cultura negra), mesmo que partilhada onde se instala, nem sempre é aceita como tal, precisando muitas vezes se transmutar, negociar com o local e as pessoas que a buscam, precisa gingar no dizer capoeirístico. Ao mesmo tempo em que sua prática está longe de ter sua existência ameaçada, pois cada vez mais está visível o crescimento da capoeira em todos os continentes. Contudo como diz Regina Abreu e Mario Chagas vivemos o paradoxo moderno, que é de ao mesmo tempo em que estamos numa era fugaz, do instante, do descartável, a todo momento nos é colocado como tarefa: guardar, colecionar e lembrar. Nunca se colecionou tanto, nunca se arquivou tanto, nunca tantos grupos se inquietaram tanto com temas referentes a memória, patrimônio e museus. Paradoxalmente, os gestos de guardar, colecionar, organizar, lembrar ou invocar antigas tradições vêm convivendo com a era do descartável, da informação sempre nova, do culto ao ideal de juventude. (ABREU e CHAGAS, 2009, p.15)
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Foi diante dessa relação paradoxal presente no mundo moderno que surgem as políticas patrimoniais. No Brasil, em particular, as preocupações patrimoniais se construíram há muito tempo, mas com relação ao patrimônio de natureza imaterial, ficaram mais evidentes a partir da Constituição Federal de 1988, em seu artigo 216 e pelo Decreto 3551 de 4/08/2000. Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. § 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. § 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. § 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. Decreto 3551 de 4/8/2000, que institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá outras providências.
Nesse ínterim surge a preocupação de diferenciar o trato dos patrimônios materiais, dos imateriais, que para José Reginaldo Gonçalves sua diferença está em “... registrar suas práticas e representações acompanhando as mesmas e observando suas permanências e mudanças” (GONÇALVES, 2009, p.28). Foi nessa perspectiva que a capoeira foi patrimonializada e têm sido compreendidas as políticas de sua salvaguarda.
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Mesmo sabendo que todo registro de um bem é fruto de constantes disputas de narrativas, do Estado e de seus detentores e detentoras, observamos que a partir da patrimonialização da capoeira se abriram frentes para pensar e executar políticas para sua salvaguarda. Essas políticas ganharam fôlego nas gestões dos governos populares recentes no Brasil, (infelizmente até 2015), principalmente através de editais públicos de financiamento com linhas para patrimônio. Esses editais contribuíram para alavancar espaços de capoeira e trabalhos de mestres e mestras pelo Brasil, contudo, pela sua burocratização, principalmente para a prestação de contas, também deixaram muita gente de fora. Essa é uma das críticas mais recorrentes, feitas aos programas de salvaguarda dos patrimônios. Pensando criticamente nessas situações, compreendemos uma política patrimonial significativa, quando seus detentores e detentoras podem se posicionar frente as ações de salvaguarda e defini-las apresentando encaminhamentos para sua condução e sua construção como espaço de educação. No caso da capoeira pensamos que O processo de socialização na e pela capoeira pode se dá de diferentes formas. Seus conteúdos diversos e multifacetados permitem construir múltiplas possibilidades de se educar nesse meio. As histórias, os gestos, a musicalidade e a ritualidade da capoeira são ao mesmo tempo conteúdos e maneiras de educar. São referências para se estabelecer experiências educativas ligadas a uma herança cultural. (CORDEIRO, 2016, p.143)
É nesse sentido que neste escrito vamos compartilhar duas experiências educativas desenvolvidas no Centro de Capoeira São Salomão, que foram desenvolvidos a partir de políticas públicas de salvaguarda desse patrimônio. O Centro de Capoeira São Salomão é uma entidade cultural sem fins lucrativos e foi fundada em 28 de junho de 1997, tendo na época sua sede na Galeria Joana D’arc, no bairro do Pina. Sua missão prevista em Estatuto é Pesquisar, difundir, ensinar e preservar a capoeira como um grande legado cultural do povo brasileiro, utilizando essa arte como estratégia de desenvolvimento pessoal e social. Salvaguardar e incentivar a capoeira, seus mestres e mestras nas esferas municipais, estaduais, nacional e internacional.
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Por isso no contato com a comunidade do Bode, no bairro do Pina, o centro de Capoeira São Salomão desenvolveu várias ações socioeducativas com crianças e adolescentes através do Projeto Caxinguelês, o que levou a instituição a ser reconhecida pelo Ministério da Cultura em 2008, como Ponto de Cultura, tendo recebido também em 2008 e em 2010, o Prêmio de Pontinho de Cultura por fazer cumprir em suas atividades o previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Na ideia de atender também ao público jovens surge em 2012 o Projeto Caxinguelês Jovem que foi submetido e aprovado no edital de financiamento da cultura (Funcultura), na linha de patrimônio, implementado pela FUNDARPE. O Projeto se desenvolveu com sucesso no Pina e se ampliou para outras comunidades (Coque, Brasília Teimosa e Várzea, em Recife e Nova Divineia, em Jaboatão dos Guararapes) com a mudança da sede do Centro de Capoeira São Salomão do Pina para o bairro da Várzea. Nesse bairro as ações socioculturais desenvolvida pelo Caxinguelês Jovem reconhecidas pela comunidade e premiadas nacionalmente pelo IPHAN, ampliaram-se e nasceu delas a ideia prevista no Projeto Patrimônio Cultura e Cidadania, que foi submetido e aprovado, no Funcultura em 2017. O PROJETO CAXINGUELÊS JOVEM
O Projeto Caxinguelês Jovem foi desenvolvido pelo Centro de Capoeira São Salomão com objetivo de assegurar, com o implemento de ações socioeducativas realizadas durante um ano, a transmissão dos saberes e fazeres tradicionais da
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capoeira através de seus mestres e mestras à oitenta jovens da comunidade do Bode, no Pina, na faixa etária entre 14 e 25 anos. Foi realizado por meio de oficinas/vivências, rodas de capoeira, encontros de Capoeira Angola e Regional, festa de batizado, celebração de encerramento com exposição de fotos e história de vida de oito Mestres de Pernambuco. Nessas ações a relação mestres e discípulos tornou possível pela convivência a transmissão da capoeira, salvaguardando seus conhecimentos e seus sujeitos sociais, como detentores e produtores desse patrimônio, num ambiente próprio de sua prática. Empoderar ações nestes espaços é uma necessidade que se faz urgente, uma vez que, apesar da capoeira ter sido reconhecida e registrada como Patrimônio Cultural do Brasil desde 2008, ainda carece de ter locais próprios que fomentem a sua vivência, facilitando seu desenvolvimento, sua promoção e sua salvaguarda por parte da sociedade. Essa carência limita muitas vezes seu acesso, sua democratização e sua difusão como instrumento cultural de cunho educativo e de inclusão social. O cotidiano vivenciado no Projeto Caxinguelês Jovem permitiu uma aproximação entre mestres e aprendizes da capoeira, estabelecendo relações com seus saberes e fazeres, que oportunizaram não só sua vivência como prática de lazer, mas também como espaço de desenvolvimento de habilidades e competências para o enfrentamento das adversidades; colaborando com o processo de se fazer no mundo a partir de seu lugar. Os partícipes do Projeto se tornaram além de aprendizes, prováveis multiplicadores dessas tradições e dos saberes dos mestres envolvidos. Na metodologia do Projeto dividimos os jovens em turmas, que tiveram uma carga horária de cinco horas semanais, divididas em três encontros, sendo dois das oficinas/vivências, com duração de uma hora e meia cada e um de roda com duração de duas horas. Uma vez por mês, aos domingos, durante oito meses, os jovens tiveram um dia de vivência com um mestre da capoeira de Pernambuco, com duração de seis horas. Essas vivências se dividiram em dois blocos de quatro meses, nas quais os jovens tiveram a oportunidade de identificar e reconhecer os saberes e fazeres da capoeira, através da experiência específica dos diferentes mestres. Cada grupo de vinte alunos, ficou responsável pelo registro das histórias de vida de dois dos mestres convidados para as vivências. Esse registro resultou no trabalho organizado para culminância do Projeto, apresentado com exposição de fotos e das histórias de vida. Os intercâmbios mais amplos com a comunidade capoeirística aconteceram através de dois encontros: um de Capoeira Angola e outro de Capoeira Regional.
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Neles tivemos a presença de importantes mestres dessas vertentes de capoeira de outros estados da federação, que possibilitaram a ampliação das referências construídas nas aulas e nas vivências com os mestres de Pernambuco e a troca de experiências com outros capoeiristas que cultivam a prática dessas vertentes de capoeira em nosso estado. A culminância do projeto aconteceu com a festa do batizado dos jovens e a celebração de encerramento, no espaço do Centro de Capoeira São Salomão na Várzea. Na festa de batizado os jovens do Projeto Caxinguelês Jovem foram apresentados oficialmente a comunidade da capoeira, na presença de todos os mestres que participaram das ações do projeto, assim como dos seus familiares e de sua comunidade. Na celebração de encerramento foi apresentada pelos jovens as imagens captadas do dia a dia e as histórias de vida dos oito mestres envolvidos no Projeto. O trabalho desenvolvido por eles/elas e sistematizado pela equipe pedagógica, resultou na exposição fotográfica: “Menino quem foi seu Mestre” Histórias e imagens de mestres da Capoeira de Pernambuco, que teve textos coletivos dos jovens organizados e sistematizados pela Professora Izabel Cordeiro (Mestra Bel), fotografias de Roberta Guimarães e curadoria de Joana D’arc Lima. Na expressão verbal e corporal dos jovens participantes do Projeto foi possível observar a recriação de sentimentos de pertença àqueles lugares da prática da capoeira e a responsabilidade com tudo que foi apreendido, através da convivência com os mestres. Pelo Projeto os jovens puderam reestabelecer elos com a ancestralidade desse patrimônio, ressignificando memórias e histórias de vida. Em 2015 o Projeto Caxinguelês Jovem concorreu ao Prêmio Boas Práticas de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, promovido pelo IPHAN e foi premiado, tendo sido colocado em 8º lugar nacional e o 1º lugar entre as iniciativas na linguagem capoeira. PROJETO PATRIMÔNIO CULTURA E CIDADANIA O Projeto Patrimônio Cultura e Cidadania aconteceu entre agosto de 2018 e novembro de 2019 no Centro de Capoeira São Salomão, no bairro da Várzea. Foi aprovado pelo Funcultura, sendo direcionado para um público de trinta jovem em situação de vulnerabilidade social. Seu principal objetivo foi democratizar nas comunidades vulneráveis do bairro da Várzea, o acesso a capoeira e salvaguardar seus saberes e fazeres, apresentado por seus mestres e mestras, através de ações socioeducativas: aulas/oficinas, rodas de capoeira, encontros e celebrações.
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As aulas iniciaram em setembro, quando os alunos e alunas foram distribuídos nos diversos horários oferecidos no Centro de Capoeira São Salomão. Essa estratégia pedagógica foi assumida pela equipe, com o intuito de promover o aprendizado da Capoeira, usando a metodologia da ancestralidade como princípio, o mais velho acolhe e ensina o mais novo, preservando elos importantes da Capoeira, vividos como uma herança passada de geração a geração. Além disso integrou todos recém-chegados à comunidade, fortalecendo o sentimento de pertença.
Nas aulas/oficinas os alunos e alunas tiveram a presença permanente do Mestre mais antigo da casa e da monitora selecionada para o trabalho, com a colaboração dos outros professores e professoras do Centro, e colegas de turma. Houve além das aulas sistemáticas e rodas semanais, os encontros temáticos, parte da programação do Centro, quando os alunos e alunas tomaram contato com Mestres, Mestras, e capoeiristas de outros grupos e outros estados da nação, ampliando seus conhecimentos e a rede de convivência na comunidade da Capoeira. Assim aconteceu no Encontro de Capoeira Angola, no Festival Infantil de Capoeira, no Encontro de Capoeira Regional, na Festa do Batizado e Troca de Graduações e no Encontro Feminino de Capoeira. Em todos encontros e celebrações a exaltação dos saberes e fazeres da capoeira foram cultuados e cultivados, numa perspectiva crítica, e puderam também ser socializados aos familiares e amigos dos participantes e a comunidade em geral, pois esses momentos eram abertos ao público.
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A programação dos Encontros com vivências dos gestos, musicalidade e rituais da Capoeira, e as rodas de diálogo, com foco nas histórias de vida e experiências dos mestres e mestras, levou os jovens a refletirem sobre a cultura como espaço de acolhimento e de sociabilidades diversas. Em cada encontro também foi possível discutir questões específicas como gênero e raça que perpassam a prática da capoeira e a vida dos capoeiristas. Em todos os momentos do Projeto, mas especialmente nesses Encontros que aconteciam em dois ou três dias, os jovens e as jovens tiveram um contato mais próximo com esses detentores de nosso patrimônio, pois toda a programação era organizada para privilegiar a convivência, exaltando a ancestralidade como princípio e a oralidade como metodologia de transmissão. O contato mais efetivo com os mestres e mestras da capoeira de Pernambuco e do Brasil possibilitou aos jovens e as jovens das comunidades da Várzea reconhecer as potências da capoeira como educação, trabalho, fonte de saúde e lazer crítico e criativo. Foi apresentado para os jovens e as jovens outras formas de sociabilidades. Pelas ações implementadas eles e elas puderam conhecer a história do Brasil, a partir da capoeira e se reconhecerem como partícipes dessa história, de uma história viva. O Projeto Patrimônio, Cultura e Cidadania no Centro de Capoeira São Salomão preencheu uma lacuna constatada pelos fazedores da cultura popular, que é da falta de interesse e afastamento dos jovens dessas práticas, frente aos apelos da indústria cultural e principalmente, pela experiência vividas por eles e elas de uma realidade virtual através da internet. Os alunos e alunas do Projeto tiveram também a oportunidade de participar de outras atividades desenvolvidas no São Salomão, como foi o caso do Cine Club Cine Mandinga, o qual se propõe a exibir filmes da cena pernambucana, com foco na cultura popular, em especial com temáticas de raça, gênero e suas relações. Também participaram dos festivais de cultura e oficinas de teatro, dança e música. Foi possível visualizar nesses espaços, através da atitude corporal dos jovens, uma nova forma de encarar a vida, empoderados e empoderadas para falar e se expressar nas linguagens que tiveram acesso. Uma conquista significativa que merece destaque, foi a superação dos preconceitos religiosos dos alunos e alunas e suas famílias, para com a capoeira e outras expressões populares que cultivamos em nosso cotidiano; haja vista ser essa, hoje, uma barreira para a vivência das práticas populares nas comunidades desprivilegiadas social e economicamente.
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Seguem algumas falas dos e das participantes, apresentadas na festa de encerramento do Projeto que exemplificam suas conquistas individuais: Eu sou Cunhatã, filha dessa terra, descendente dos povos originários. Eu não sabia de toda força que tenho aqui dentro, da força dos meus ancestrais no sangue que corre em minhas veias. Mas eu encontrei a capoeira. E com ela a coragem pra ser quem eu sou; porque aqui eu sou o ser melhor que eu posso ser. (Camila da Silva) Eu sou Flor, Flor do Oriente. Sempre tive medo. Medo de errar, medo de cair, medo de me machucar. Aqui eu encontrei um chão e nele posso me apoiar. (Assíria Germano) Me chamo Biriba, por onde eu andava a timidez sempre teve a meu lado. Mas tudo isso mudou, quando eu encontrei a capoeira. (Jeferson da Silva) Oi, sou Tigresa, comecei a capoeira há pouco tempo, mas descobri com ela que posso fazer coisas maravilhosas com meu corpo. Até fiquei surpresa com a beleza em mim. (Larissa Campina da Silva) Olá, meu nome é Sapeca. Eu ando pelas ruas e vejo portas fechadas, eu ando pelas ruas e vejo portas fechadas. Mas na capoeira há sempre uma porta aberta. (Natasha Guimarães)
A meta inicial era matricular trinta jovens, mas optamos por atender a mais jovens, tendo sido inscritos 66 dos quais quarenta 40 frequentaram efetivamente, sendo 14 mulheres e 26 homens. Ao final do Projeto todos e todas foram iniciados na capoeira, num cerimonial próprio dessa arte, na presença de seus mestres e mestras, das famílias e da comunidade da qual fazem parte. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nas experiências com os Projetos supracitados foi possível testemunhar e documentar a força da capoeira como educação concreta, significativa. Uma educação que salvaguarda sujeitos, saberes, fazeres e lugares de memórias e histórias do povo brasileiro. Mas do que somente educar, observamos que a vinculação à capoeira colaborou para fortalecer nos jovens e nas jovens, atitudes inconformistas, possibilitando viver concretamente o sentido inacabado do ser humano, nas experiências dentro e fora da Roda de Capoeira. Uma educação para a vida, uma preparação para a luta cotidiana da vida. Compreendemos que ...em todos os momentos de sua trajetória histórica, na vivência de sua cultura, os capoeiristas aprenderam a resistir diante das
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hostilidades a que foram submetidos e construíram para esse enfrentamento, táticas de sobrevivência e novas vivências. São essas memórias compartilhadas, presentes nos gestos, nas histórias contadas e cantadas e nos rituais comungados pela comunidade capoeirística, que se consolidaram em saberes e fazeres e maneiras próprias de aprender e se situar no mundo. Esses são os patrimônios da capoeira, tradições passadas como herança às novas gerações. (CORDEIRO, 2016, p.146)
Contudo, entendemos que apesar do reconhecimento da capoeira como patrimônio, a luta dos capoeiristas e sua cultura por legitimidade social, ainda enfrentará muitas e diversas batalhas. Principalmente aquelas para o reconhecimento da ancestralidade como princípio e a oralidade como forma de se ensinar e aprender, porque ...respeitar esse princípio significa reconhecer que há um passado comum, significa cultivar e cultuar a capoeira como herança. E ainda mais, assumir que a oralidade é a principal forma de transmissão de seus saberes e fazeres, é aceitar que se aprende capoeira com o tempo, e na difícil e imprescindível arte de ouvir. É ouvindo as histórias e participando delas, que os capoeiristas reescrevem seus horizontes de expectativas individuais nessa coletividade. (Op Cit, p.151)
Portanto o jeito de ser e aprender a ser no Centro de Capoeira São Salomão trabalha com a educação pelo exemplo, dos mais velhos e mais velhas para os e as mais jovens, assim como, dos e das mais jovens, para os mais velhos e as mais velhas. É vivendo uma comunidade de aprendizagem, na qual todos e todas são importantes, que zelamos pelo nosso patrimônio. Nesse sentido através de ações organizadas em projetos permanentes e pontuais mantemos viva a capoeira, salvaguardando suas tradições diversas, seus detentores e detentoras e principalmente vamos nos colocando como lugar efetivo e afetivo para prática desse bem imaterial de Pernambuco, do Brasil e da humanidade. Como Ponto de Cultura de Capoeira, afirmamos em nosso terreiro, em cada história, em cada canto e gesto que nossa brincadeira educa, porque “Brincar é também celebrar, festejar, reunir, ensaiar; é principalmente transmitir um grande conhecimento patrimonial de uma expressão popular que se fortalece nos laços sociais e marcas de identidades.” (LODY, 2013, p.8)
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REFERÊNCIAS ABREU, Regina; CHAGAS, Mario (Org). Memória e Patrimônio. Ensaios Contemporâneos. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009 ALENCAR, Rívia (Coordenação). Programa Nacional de Patrimônio Imaterial Compêndio dos Editais - volume II, 2011 a 2015. Brasília-DF: IPHAN, 2016. ARROYO, Miguel. Prefácio. In: CALDART, Roseli. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2012. ASSMANN, Aleida. Espaços de Recordação. Formas e Transformações da Memória Cultural. Campinas: Editora da Unicamp, 2011. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília - DF: Senado Federal, 1988. CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2012. CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade: Unesp, 2006. CORDEIRO, Izabel Cristina de Araújo. “Roda de Capoeira é campo de mandinga...” Experiências dos capoeiristas do Recife para afirmação do jogo da capoeira na cidade, nos anos de 1980. Tese de Doutorado em História, Universidade Federal de Pernambuco, CFCH, 2016. FRANÇA, Jacira; SOUZA, Marcelo Renan (Org). Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco. Recife: Fundarpe, 2018. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 42a edição. São Paulo: Paz e Terra, 2005. GONÇALVES, José Reginaldo. O patrimônio como categoria de pensamento. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mario (Org). Memória e Patrimônio. Ensaios Contemporâneos. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. LODY, Raul. Imaginários de um Xangô em Pernambuco. In: GUIMARÃES, Roberta. O Sagrado, a Pessoa e o Orixá. Fotografias. Recife: 2013.
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MINISTÉRIO DA CULTURA. Dossiê Iphan 12 Roda de Capoeira e Ofício dos Mestres de Capoeira. Brasília - DF: Iphan, 2014. MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO. Marco de Referência da Educação Popular para Políticas Públicas. Brasília/DF, 2014 MOURA, Gloria. Festas Quilombolas. In: TEIXEIRA, João Gabriel et all (Org). Patrimônio imaterial, performance cultural e (re) tradicionalização. Brasília: ICS-UNB, 2004. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Estatuto da Igualdade Racial. Brasília - DF: 20 de julho de 2010. POULOT, Dominique. Uma história do patrimônio no Ocidente. São Paulo: Estação Liberdade, 2009. TEIXEIRA, João Gabriel et all. (Org) Patrimônio imaterial, performance cultural e (re) tradicionalização. Brasília: ICS-UNB, 2004.
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NOTAS SOBRE O I SEMINÁRIO DE PATRIMONIALIZAÇÃO E MUSEALIZAÇÃO DE BENS CULTURAIS DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA EM RECIFE/PE Juliana da Mata Cunha1 Elinildo Marinho de Lima2 RESUMO O artigo busca registrar alguns pontos importantes sobre o Primeiro Seminário de Patrimonialização e Musealização de Bens Culturais dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana/PMAF, ação cultural que integrou a 12ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco - Territórios Educativos e Culturais: diálogos possíveis. O evento foi realizado no Sítio de Pai Adão - Terreiro de Ilê Obá Ogunté - Recife, em agosto de 2019, reunindo gestores culturais, povos de terreiro, representantes de museus, estudantes, pesquisadores e demais interessados no tema, para refletir e debater sobre os patrimônios culturais de matriz africana, processos de identificação, reconhecimento, musealização e patrimonialização de seus respectivos bens culturais no âmbito do Estado. Neste sentido são apresentadas, no texto que segue, informações sobre a organização e realização do Encontro, bem como um resumo das principais discussões ali travadas,, quando se oportunizou a ocorrência de reflexões sobre racismo estrutural, formas de acautelamento e avaliação da gestão e salvaguarda do patrimônio de terreiros sob diferentes pontos de vista, sobretudo o das próprias comunidades tradicionais de matrizes africanas. Palavras-chave: Terreiro Obá Ogunté. Tombamento. Patrimonialização. Musealização. 1 NOTAS INICIAIS SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO EVENTO E PRINCIPAIS QUESTÕES ABORDADAS Os terreiros de matrizes africanas no Brasil são lugares privilegiados para a preservação da memória, história e diversidade cultural afro-brasileira. Entretanto, 1 Historiadora, Mestra em Preservação do Patrimônio Cultural. Atua como Técnica/Historiadora na Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Santa Catarina. Tem experiência com Política de Patrimônio Cultural Material e Imaterial, na Salvaguarda de Bens Registrados e Educação Patrimonial. 2 Turismólogo, Mestre em Ciência da Informação, Especialista em Gestão Pública Municipal, Especialista em Gestão de Políticas Culturais. Atua como técnico da Coordenação de Patrimônio Imaterial na Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe.
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também constituem-se territórios nos quais é preciso travar batalhas diárias, para resistir e manter a capacidade de resiliência de comunidades inteiras diante da intolerância religiosa e do racismo estrutural, haja vista a perseguição e violência com que sempre foram tratados os elementos simbólicos, a memória e o patrimônio cultural de Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana/PMAF3. Em oposição a esses eventos de intolerância religiosa e violência simbólica, um importante processo de reconhecimento é realizado, revigorando forças e trazendo novo ânimo em meio a tempos ainda tão difíceis para PMAF. Foi numa quinta-feira, dia 20 setembro de 2018, que o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan, em decisão unânime, determinou o tombamento federal do Obá Ogunté (Sítio de Pai Adão), localizado na Estrada Velha de Água Fria, nº 1466 - Recife-PE, RD 12 - Região Metropolitana. Reconhecimento que agregou valor e passou a somar esforços para a preservação da casa de Xangô mais antiga em funcionamento da cidade do Recife, a qual inclusive já possuía reconhecimento como patrimônio cultural do estado de Pernambuco4. De acordo com os documentos da Fundarpe e a página eletrônica Ipatrimonio5 patrimônio cultural brasileiro (beta), o Terreiro Obá Ogunté - Sítio de Pai Adão, fundado em 1875, é um dos mais respeitados e ortodoxos espaços destinados ao culto dos orixás da Região Nordeste, conforme modelo litúrgico Nagô. Como invocação principal, o terreiro é dedicado a Iemanjá. As edificações que formam o espaço ritual, assim como várias outras que servem de moradia, são singelas, executadas em materiais como tijolos, taipa de mão, telhas canal ou francesa, ladrilhos hidráulicos e também piso cimentado. O tombamento, porém, visou preservar a tradição sócio-religiosacultural que marcou profundamente a população, como uma das forças formadoras da sociedade brasileira. Objeto especial de preservação é o lroko (ou gameleira), árvore de dimensões majestosas que existe no meio do Terreiro, onde são realizados cultos ao ar livre. O fundador, Felipe Sabino da Costa, o “Pai Adão”, foi no princípio do século XX o respeitado líder do culto Nagô, pesquisador da religião e cultura africana e grande mestre na transmissão de saberes, cânticos e língua iorubá, conhecimentos 3 Povos e comunidades tradicionais de matriz africana/PMAF foi um termo cunhado no I Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana (2013-2015) e consolidado na Portaria Iphan n.º 194/2016, que dispõe sobre diretrizes e princípios para a preservação do patrimônio cultural dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana, considerando os processos de identificação, reconhecimento, conservação, apoio e fomento. 4 Em 1985, o terreiro de Pai Adão foi tombado pela Fundação do Patrimônio Artístico e Histórico de Pernambuco (Fundarpe) num ato de “reconhecimento da legitimidade de uma tradição cultural que até há pouco tempo fora objeto de discriminação e até perseguições oficiais” (LODY, 1993). 5 http://www.ipatrimonio.org/
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trazidos de sua viagem à Nigéria e compartilhados ainda hoje por seus descendentes a partir do Terreiro Obá Ogunté. Tendo em vista a recuperação da memória sobre o Terreiro Obá Ogunté, rememoramos os tristes episódios que culminaram em dois ataques criminosos ao Iroko, árvore sagrada existente no Terreiro: o primeiro ocorrido em 09 de novembro de 2018, e o segundo na madrugada do dia 08 de dezembro de 2019, quando o Iroko sofreu um novo incêndio, matando seus brotos que ressurgiam depois da ocorrência do último incêndio criminoso. Na tentativa de tecer uma explição quanto à importância dessa árvore símbolo sagrado para a comunidade do Obá Ogunté, utilizaremos como alegoria o filme de ficção científica e aventura Avatar (2009), do diretor James Cameron, que traz a história do povo na’vi, e sua relação e crença com a Eywa, também chamada de Árvore das Almas. Elemento sagrado, localizada no lugar mais central de Pandora, para os na’vi essa árvore é uma divindade que conecta tudo e todos, um dos aspectos essenciais desse artefato sagrado repleto de simbolismo e significado, e é este o mesmo sentimento e relação sacroreligiosa que os membros da comunidade do Terreiro Obá Ogunté sentem pelo seu Iroko. Atingi-lo é como atingir um ente querido, assim como também aconteceu na ficção tratada como exemplo alegórico para nosso argumento. Diante dos acontecimentos e, sobretudo, da importância do Terreiro Obá Ogunté para a cultura e os povos de matriz africana, a Fundarpe, o Iphan-PE e a liderança do terreiro, Manoel Papai, conjuntamente idealizaram o primeiro Seminário de Patrimonialização e Musealização de Bens Culturais dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana6. O evento fez parte da programação da 12ª Semana do Patrimônio Cutural de Pernambuco de 2019, organizada pela Fundarpe por meio de sua Gerencia Geral de Preservação do Patrimonio Cultural - GGPPC e suas respectivas coordenações e técnicos. A Semana do Patrimônio teve como tema central “Territórios Educativos e Culturais: Diálogos Possíveis”, tendo o próprio Terreiro sido escolhido como lugar privilegiado para sediar o Seminário. Dedicado ao tema da patrimonialização e musealização de bens culturais dos PMAF, o evento teve a pretenção de compartilhar com as comunidades de terreiro e a sociedade em geral informações sobre o 6 Gestores e povos de terreiro debatem sobre os patrimônios culturais de matriz africana. O 1º Seminário de Patrimonialização e Musealização de Bens Culturais dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana ocorreu na última quinta e sexta-feira (29 e 30 de agosto), no Terreiro Obá Ogunté. <http:// www.cultura.pe.gov.br/canal/patrimonio/gestores-e-povos-de-terreiro-debatem-sobre-os patrimoniosculturais-de-matriz-africana/> Matéria de Jan Ribeiro/Secult-PE/Fundarpe.
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processo de patrimonialização do Terreiro Obá Ogunté, assim como propor novas discussões sobre bens culturais e acervos musealizados relacionados aos terreiros no estado de Pernambuco. O evento foi aberto ao público, tendo como meta principal estabelecer um diálogo entre PMAF, órgãos de preservação do patrimônio cultural, conselheiros de cultura e preservação do patrimônio, instituições museais, universidades, pesquisadores, produtores culturais, estudantes e sociedade sobre a patrimonialização e musealização de seus bens culturais no estado de Pernambuco. Partiu-se da proposta de democratização do acesso à informação e aos bens culturais a partir de abertura e incentivo à participação social, possibilitando reflexões e discussões sobre ações e diretrizes para as políticas culturais voltadas a estas comunidades, com a garantia da valorização e respeito às suas tradições e ao patrimônio cultural. No primeiro dia, o Seminário foi destinado às falas de representantes do Terreiro Obá Ogunté, do Terreiro Xambá, do Ilê Obá Aganjú Okoloyá e do Ilê Asé Oyá Idaianã, além de representantes da Rede de Mulheres de Terreiro de Pernambuco, que versaram sobre a história de resistência das religiões de matriz africana na cidade e o papel das mulheres nesse processo. O último dia do Seminário, por sua vez, contemplou palestras e mesas redondas que trataram da apresentação dos processos de patrimonialização do Terreiro Obá Ogunté em âmbito estadual e federal, da história dos tombamentos de terreiros em âmbito nacional, das novas perspectivas para o reconhecimento de bens culturais de PMAF, da repatriação digital do acervo confiscado de terreiros pelo Museu da Abolição e do desenvolvimento do Museu Afro-digital. Para a maturação e realização do Seminário foram acionados os técnicos da Fundarpe e do Iphan-PE, além de representantes do Terreiro Obá Ogunté e da Rede de Mulheres de Terreiro. O propósito era pensar conjuntamente a programação, o público, a divulgação e temas que ecoassem e refletissem as demandas e preocupações dos terreiros com relação ao seu patrimônio cultural. Inicialmente tratamos com Manoel Papai, liderança do Sítio de Pai Adão, sobre a proposta de uma tarde de seminário, mas na perspectiva dele o evento deveria contar com a fala de mais pessoas das comunidades de terreiro, o que tornaria o evento mais interessante e possibilitaria resguardar o lugar de fala dos grupos interessados e das pessoas ligadas a eles num evento sobre seus respectivos patrimônios e políticas públicas pensadas para eles. Defendeu que o Seminário também fosse feito em homenagem à Tia Inês, fundadora do terreiro. Acolhemos com grande satisfação e interesse a proposta de um evento de dois dias, contemplando falas de representantes
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de terreiros e falas de representantes institucionais engajados em ações relevantes na musealização e preservação da cultura material e imaterial dessas casas tradicionais de matriz africana. Para a realização do Seminário foi necessário contar com uma equipe maior, tanto do terreiro como das instituições Fundarpe e Iphan. Marcelo Renan e Elinildo Marinho, da Coordenação de Patrimônio Imaterial - CPI, e Nazaré Reis, da Coordenadoria de Projetos e Obras da Fundarpe, ajudaram a repensar o título do evento e alguns aspectos da programação que buscassem contemplar a amplitude que o Seminário ganhara, tanto em termos temáticos - dada a inclusão da mesa sobre muselização digital dos bens confiscados dos terreiros pela polícia à época da perseguição aos cultos afro-brasileiros nas décadas de 1930 e 1940 - quanto em termos logísticos, de modo que se conseguisse garantir e acolher devidamente a participação ampla das comunidades de terreiro no Seminário. Nesse sentido, os integrantes do Terreiro tiveram papel fundamental na mobilização de outros membros das comunidades de terreiro para realizaçao de palestras, na divulgação, na organização do espaço do evento, na feitura de comidas de axé, nas apresentações artísticas - como o espetáculo Nagô Éta Oyá Tundê, da bailarina e coreógrafa Helaynne Sampaio, Iyabá do Ilê Obá Aganju Okoloyá, que simboliza a relação de sua mãe com a orixá Oyá Tundê -, na exposição e comercialização de artesanato e vestuário, todos os aspectos pensados para apresentar e promover a inserção dos convidados e participantes do Seminário na cultura do terreiro.
Figura 1 - Abertura do 1º Seminário de Patrimonialização e Musealização de Bens Culturais dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana Foto: Jan Ribeiro - Secult PE/Fundarpe
A Figura 1 mostra o momento de abertura do Seminário, com a presença das representações institucionais Renata Borba (Iphan/PE) e Gilberto Freyre Neto (Secult-
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PE), e de Manuel Papai, do Terreiro Obá Ogunté. O momento inicial foi marcado por uma louvação comandada pelo Babalorixá do Terreiro. Importante destacar a participação de Vera Baroni no planejamento de mesas temáticas, como a da Rede de Mulheres de Terreiro, e de Gilberto Freire Neto, então Secretário de Cultura de Pernambuco e um dos maiores entusiastas do Seminário, participando do encontro de modo integral. Como destacado por Giorge Bessoni, antropólogo do Iphan convidado para falar sobre o tombamento do Sítio de Pai Adão no evento, o encontro retomava uma tradição antiga do Terreiro, no caso, a de mobilizar outras casas tradicionais de religião de matriz africana na luta pelo reconhecimento do valor de suas tradições e pessoas, especialmente por agregar os demais grupos na discussão de pautas importantes dos terreiros junto aos representantes do Estado. Retomava-se, com o Seminário, essa postura de mediação e o lugar de fala das comunidades junto ao Estado. Bessoni ressaltou, inclusive, que o próprio Pai Adão participou da mobilização inicial do I Congresso Afro-Brasileiro realizado na cidade do Recife, no ano de 1934, sob a liderança de Gilberto Freyre - Congresso que chegou a ter segunda edição em Salvador, Bahia, em 1937. O encontro contou também com falas e participação de representantes do terreiro da Organização Religiosa Africana Santa Bárbara Nação Xambá, Ilê Axé Oyá Meguê, que reivindicaram inclusive uma segunda edição do Seminário na Casa Xambá, localizada na Rua Severina Paraíso da Silva, 65, na localidade do portão do Gelo, bairro de São Benedito-Olinda/PE. Essa reivindicação foi considerada pertinente e muito satisfatória para os organizadores, que inicialmente nem pensavam que pudesse haver uma nova edição do evento. Durante a realização do encontro foram apresentados pressupostos para a continuidade das discussões e do fomento ao planejamento de novas políticas públicas voltadas a esse segmento da sociedade, que puderam ter nesse evento um oportuno canal de diálogo, organização de redes de apoio, manifestação e reivindicação de direitos. As propostas das comunidades podem passar, assim, a compor a agenda governamental, pautando as próximas discussões no âmbito das políticas públicas e até mesmo gestão de recursos no âmbito do Estado. MUSEUS E REPATRIAÇÃO DIGITAL, REIVINDICAÇÕES A Mesa que tratou sobre o processo de repatriação digital do acervo confiscado de terreiros contou com a participação de Daiane Carvalho, então Diretora do Museu da Abolição, e do produtor cultural e antropólogo Charles Martins. O
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trabalho foi desenvolvido pela equipe técnica do Museu da Abolição e por Charles Martins, com recursos do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (FunculturaPE), consistindo na busca pela difusão, em meio digital, de informações e imagens de objetos confiscados de terreiros pernambucanos pelas autoridades policiais à época de perseguição aos terreiros - décadas de 1930 e 1940. Esse acervo, após violenta apreensão pela Polícia, foi posteriormente cedido à Missão de Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade durante sua passagem pelo Recife, em 1938, e está atualmente sob a guarda do Centro Cultural de São Paulo. Além de ampliar a acessibilidade a esse acervo, o projeto contribuiu como subsídio didático ao ensino sobre a história da cultura afro-brasileira, e para integração de dados ao acervo digital do Museu da Abolição, estando disponíveis na exposição virtual do Museu Afro Digital7. Embora a iniciativa tenha importante contribuição na difusão do acervo - tendo sido laureada, em 2018, com o primeiro lugar na categoria de Promoção e Difusão, do Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco, pela promoção e garantia de acessibilidade das informações sobre os objetos sagrados a pesquisadores, membros de terreiros e público em geral, além de ter se destacado pela própria prática inovadora na expografia brasileira com o uso de fotografias em 360º/3D -, houve bastante discussão do público presente no Seminário, especialmente entre as comunidades de terreiro participantes, que avaliaram que a “repatriação digital” não era suficiente. Tanto que em função desse debate, os membros dos terreiros tradicionais da cidade do Recife se propuseram a criar um movimento no sentido de reivindicar a repatriação física dos objetos sagrados que se encontram dispersos em acervos de Museus do Estado de Pernambuco e até mesmo de outros Estados. TOMBAMENTO ESTADUAL E NACIONAL Quanto às discussões sobre o tombamento do Sítio de Pai Adão foi ressaltado o quanto o processo de reconhecimento de terreiros como patrimônio cultural, tanto em âmbito estadual como nacional, esteve atrelado a movimentos de defesa da preservação do patrimônio cultural de PMAF. 7 Em maio de 2018, o Museu da Abolição montou a exposição “Repatriação Digital do Acervo Confiscado nos Terreiros”, exibindo a catalogação digital de mais de 400 peças pertencentes aos terreiros saqueados no Estado, na década de 1930. Apresentação disponível em: <http://www.museuafrodigital.com.br/ repatriacaodigital/>.
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Contextualizado na década de 1980, o processo de reconhecimento da casa pela Fundarpe deu-se quase que à mesma época do tombamento do Terreiro da Casa Branca (Salvador/BA), ícone da luta de movimentos sociais, artistas e intelectuais pela ampliação do conceito de patrimônio cultural e pelo reconhecimento da contribuição cultural de PMAF.
Figura 2 - Roda de Dialogos sobre: O processo de Tombamento e Patrimonialização e Musealização de Bens Culturais de Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana Foto: Fernando Figueirôa - Secult PE/Fundarpe
A figura 2 mostra a mesa composta por Nazaré Reis, da Fundarpe, Raul Lody, antropólogo, museólogo e professor brasileiro responsável por vários estudos na área das religiões afro-brasileiras, Giorge Bessoni, antropólogo do Iphan/PE e Juliana Cunha, historiadora do Iphan/PE. Quanto ao reconhecimento em âmbito nacional do Sítio de Pai Adão, podese destacar que o processo de Inventário Nacional de Referências Culturais - INRC e a construção colaborativa de normas de intervenção e gestão compartilhada para a preservação e salvaguarda do patrimônio cultural do terreiro também marcaram um novo modo de conduzir processos de tombamento pelo Iphan. Primeiro, por demarcar a importância da identificação e de estudos minuciosos sobre as interfaces materiais e imateriais dos bens culturais de uma casa religiosa de matriz africana com uso do INRC e, depois, por prever em todo o processo de instrução do tombamento o envolvimento da comunidade e, especialmente, da liderança do terreiros no estudo, identificação, reconhecimento e elaboração das propostas de intervenção e gestão do Sítio de Pai Adão enquanto Patrimônio Cultural Brasileiro. Além dessa digressão histórica e destaque aos processos de reconhecimento do Sítio de Pai Adão, também foi problematizada a atuação das representações do Governo do Estado e do Governo Federal na proteção ao patrimônio de terreiros, especialmente em função das ações de intolerância religiosa que levaram ao incêndio criminoso no
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Iroko, árvore sagrada que também estava incluída no tombamento do terreiro. Esse debate levou, inclusive, à mobilização posterior de diferentes entidades, em reunião que visava construir estratégias e ações conjuntas para proteção da casa e de outros terreiros diante das ações de vandalismo motivadas por intolerância religiosa8. CONTEXTO DE RECONHECIMENTO E SALVAGUARDA DE PATRIMÔNIO DE TERREIROS Também foi apresentado o processo histórico de reconhecimento de patrimônios de terreiro e de ampliação de ações para identificação, reconhecimento, proteção e promoção de bens culturais de PMAF por técnicas do Iphan. Foram abordados aspectos relevantes nos processos de identificação e reconhecimento, dificuldades enfrentadas no âmbito institucional frente à proteção e preservação de terreiros, assim como novas perspectivas de reorganização do órgão para consolidar o tema na agenda estratégica do Iphan e aprimorar e fortalecer capacidades técnicas para a gestão e as políticas de preservação do patrimônio cultural relacionado aos PMAF. REDE MULHERES DE TERREIRO E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL A mesa da Rede Mulheres de Terreiro tratou especificamente do papel das mulheres na valorização do patrimônio cultural de terreiro, abordando as mulheres que fizeram história na perpetuação de tradições culturais e na liderança de terreiros em Pernambuco, transmitindo saberes, disseminando axé, amor e cuidado. Também foram destacadas as relações existentes entre as casas de tradição de matriz africana do Recife com o Sítio de Pai Adão e as lutas empreendidas pela garantia da segurança alimentar e nutricional nas comunidades. Participaram da mesa: Maria Oyá, na liderança do Ilê Asé Oyá Megê, nação Xambá e de Mãe Amara e Vera Baroni, Iyagbassé do Ilê Obá Aganjú Okoloyá, que apresentou dados que ressaltaram a presença feminina enquanto liderança e o inverso paradoxo da invisibilidade da mulher negra na sociedade. Em seguida, a Iyalorixá do Ilê Asé Oyá Idaianã, Maria Conceição da Silva, apresentou um histórico das linhagens matriarcais do Sítio de Pai Adão e, por fim, a Omôrixá do Ilê Obá Aganju Okoloyá, Marília Gomes do Nascimento, doutoranda no programa de Pós-Graduação em Sociologia na Universidade Federal de Pernambuco, ressaltou o papel das mulheres 8 Reunião realizada dia 18/12/2019 no Terreiro Obá Ogunté com representantes da OAB, Museu da Abolição, pesquisadores de universidade, artistas locais, membros de outros terreiros tradicionais da Cidade do Recife, repersentantes de Conselhos de Cultura, técnicos da Fundarpe e do Iphan.
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de terreiro e suas contribuições na organização social das comunidades, destacando a importância de Mãe Amara, que há 74 anos realiza em Dois Unidos o Amalá de Xangô, reconhecido em 2014 pelo Prêmio Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). CARTA DE MANIFESTAÇÃO DO SEMINÁRIO9 A partir dos debates do Seminário também surgiu a proposta de elaboração de uma carta com as principais demandas pontuadas pelos membros e lideranças das comunidades de terreiro presentes, a ser encaminhada às autoridades de órgãos de preservação e cultura, dentre eles a Secretaria de Cultura do Estado e a Superintendência do Iphan em Pernambuco. Dentre as metas a serem atingidas e que foram pontuadas no documentos estão: - O combate ao racismo estrutural, racismo institucional e intolerância religiosa em órgãos da administração Pública Estadual; - Ampliação da divulgação e publicação da literatura afro-referenciada e produzida por escritores negros do Estado; - Aplicação da Lei Estadual nº 14. 852, de novembro de 2012, que dispõe sobre a preservação e os procedimentos de tombamento e de registro do Patrimônio Cultural de Origem Africana no Estado de Pernambuco, e dá outras providências; - Ampliação dos bens culturais reconhecidos como Patrimônio Cultural do Estado de Pernambuco; - Instauração de um comitê intersetorial visando à repatriação física dos itens religiosos apreendidos violentamente das comunidades de terreiros, identificados em coleções anexadas ao Patrimônio do Estado; - Inserção de artistas negros e objetos de arte negra nos museus do Estado, especificamente no Museu de Arte Sacra, que deve contemplar também o universo afro-religioso pernambucano; - Aplicação, no Plano Estadual de Cultura, da Ação estratégica 40 - Incentivar 9 Ao término do seminário, o babalorixá Ivo da Xambá fez a leitura da uma carta-aberta produzida durante o evento, endereçada aos gestores públicos do Estado de Pernambuco, cobrando o cumprimento de metas já previstas nos Planos Estaduais de Educação, Cultura e Promoção de Igualdade Racial, e ainda destacando pontos importantes referentes aos processos de salvaguarda do patrimônio Cultural Afro-religioso em Pernambuco. O documento será revisado por uma comissão formada pelos terreiros participantes do Seminário e deverá seguir para os órgãos da administração estadual. Texto da Carta Aberta na íntegra está disponível em: <http://www.cultura.pe.gov.br/canal/patrimonio/gestores-e-povos-de-terreiro-debatemsobre-os-patrimonios-culturais-de-matriz-africana/>.
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a criação de 02 fóruns: um de interlocução com a Secretaria de Defesa Social (SDS) para tratar da ação da Polícia Militar (PM) nos eventos culturais realizados nas comunidades rurais e urbanas, especialmente os relacionados a cultura tradicional e de matrizes africana e indígena, e outro de interlocução com todas as secretarias do Estado, para sensibilizar e socializar ações, projetos e programas culturais transversais; - Primeira revisão e atualização do Plano Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Pernambuco (2016-2018); - Mapeamento de artistas negros e negras; - Aplicação de conteúdos específicos de ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas do Estado, conforme as diretrizes do Plano Estadual de Educação de 2015-2025.
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DA PATRIMONIALIZAÇÃO E MUSEALIZAÇÃO DE BENS CULTURAIS DE PMAF Um dos momentos importantes do Seminário foi a mesa do segundo dia, que reuniu pesquisadores, agentes públicos de preservação e representantes de terreiros para debater sobre a patrimonialização e musealização de bens culturais ligados à matriz africana. A mesa configurou-se como um momento dentro do Seminário a fim de discutir propostas de patrimonialização e musealização para bens culturais de PMAF com seus principais agentes e detentores, implicando em reconhecer e valorizar o lugar de fala dessas pessoas e comunidades no processo de criação, elaboração e função social dada a esses bens, mas também reconhecer que muitas das instituições, órgãos de cultura, preservação e Museus não estão aptos a estabelecer sozinhos critérios e diretrizes especificamente voltadas à preservação, salvaguarda e difusão de tais acervos. No conjunto do tombamento do Terreiro Obá Ogunté têm destaque, na antiga capela, o museu que guarda, preserva e comunica o acervo museológico da comunidado do Terreiro. Os objetos e artefatos sacros que estão no museu retratam a memória, os ritos, costumes e crenças desse povo, que agencia por meio desses objetos suas simbologias e significados. A capela também abriga acervos de santos católicos, os quais trazem à tona a memória da perseguição aos cultos afro-brasileiros e a busca por resistência na dissimulação das crenças tradicionais. Atualmente, o espaço também é usado como espaço museal em constante elaboração para
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contação das histórias de resistência do Xangô em Pernambuco, do próprio Sítio de Pai Adão e de sua família. A musealização enquanto procedimento metodológico firmou-se como medida capaz de garantir a proteção e a salvaguarda dos objetos que estão mantidos no museu, contribuindo para a comunicação e a perpetuação da evidência física, ou seja, dos documentos bidimensionais ali presentes. Acrescentamos que, no universo da cultura, o museu assume funções das mais diversas, podendo ser uma ferramenta para além da ambiência cultural e assumindo características educativas, pedagógicas, sociais, criativas, de lazer e de sociabilidade. Destarte, o espaço museal requer uma vontade de memória, uma vontade de lembrar para não esquecer. É sem dúvida um lugar de legitimação e de verdade. Importa dizer ainda que o museu, com sua narrativa e teatralização/performance, seduz e encanta as pessoas e as conduz à procura de registros da sociedade, da cultura e do fazer humano. Neste sentido, a capela do Sítio de Pai Adão cumpre com a função social de um museu comunitário, guardando e preservando acervos importantes para a cultura e história do Xangô, seguindo parâmetros e saberes de preservação conforme os ditames existentes da própria religião. Todavia, é importante pensar também que o Sítio de Pai Adão, como um todo, guarda esse acervo maior, patrimonial e não estritamente material, uma vez que dentro de seus muros há histórias, vivências, celebrações, formas de expressão, saberes e práticas transmitidos por diferentes gerações. Há pessoas, patrimônios vivos, que garantem a transmissão e continuidade desse patrimônio imaterial em interface com toda a materialidade que lhe proporciona a produção e reprodução ao longo do tempo. No caso do Sítio de Pai Adão e de diversas casas de santo, inclusive as ainda não patrimonializadas, o próprio espaço do terreiro configura-se como museu, seja por constituir-se como lugar em que se produz a informação, o conhecimento, a pesquisa e o salvaguardar para comunicar, seja por ser historicamente um espaço privilegiado de diálogo e educação patrimonial para a sociedade e a comunidade que o cerca. A partir disso, reproduzimos aqui questionamentos e considerações feitas por Raul Lody no livro O negro no museu brasileiro (2005), página 27: [...] qual o significado e o conteúdo que poderá ter uma pedra sacralizada integrante de um culto religioso se isolada, rotulada e envitrenada? Essa pedra, se reconhecida pelos membros da sociedade que mantêm o culto religioso, sendo por isso capazes de vivificar um patrimônio estagnado numa reserva ou mesmo
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numa exposição, deverá ser passível de reivindicação quanto a sua posse enquanto bem cultural. Essa posse é o início do retomar suas funções sociais. Somente dessa forma um amplo processo de educação patrimonial, poderá ganhar as diferentes populações regionais do país.
O que propomos aqui não é necessariamente a musealização e patrimonialização de todos os terreiros nos termos técnicos, oficiais e acadêmicos, mas a ampliação do debate no âmbito da musealização e patrimonialização no sentido de ver nas práticas, espaços, lugares e territórios de PMAF, procedimentos únicos e específicos de identificação, seleção, comunicação, educação, valorização, preservação e salvaguarda de seus acervos e bens culturais. Atentamos para a importância de reconhecer que essas comunidades já trazem um legado de conhecimento consigo, no qual produzem e reproduzem conhecimentos e práticas de preservação do seu próprio patrimônio e de musealização de seus acervos. Cabe ao Estado e às políticas públicas apoiarem tais iniciativas e colaborarem com as ações já realizadas nesses espaços com recursos e políticas públicas. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O 1º Seminário de Patrimonialização e Musealização de Bens Culturais dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, ocorrido entre 29 e 31 de agosto de 2019, propôs um intenso diálogo entre órgãos de cultura, PMAF, pesquisadores, artistas e sociedade em geral. Marcou uma importante etapa no processo de reflexões sobre práticas institucionais, estratégias no âmbito das políticas públicas, necessidade de articulação de redes e articulações para novas ações e programas voltados à superação do racismo estrutural e religioso. É importante destacar a presença dos temas da patrimonialização e musealização no Seminário, pois esses assuntos trouxeram reflexões válidas e pertinentes para o entendimento desses processos na constituição da proteção e salvaguarda de nosso legado histórico e cultural e de como as comunidades de terreiro carecem de apoio às suas práticas de preservação e musealização, para garantia de valorização e proteção de suas casas e, não raras vezes, de suas próprias vidas. Por meio do Seminário ficou evidente que tanto a patrimonialização quanto a musealização são assuntos relevantes e complementares na promoção e difusão da história, cultura, memória e saberes presentes nos terreiros. Demonstrou, também, que qualquer ação, política ou programa institucional que não leve em Aurora 463 Revista da Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco Fundarpe, Recife, v.1, n.5, 2020
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consideração o lugar de fala das principais lideranças e representações de terreiro, que não tenha estratégias de empoderamento das comunidades nas políticas públicas, será falho e ineficiente. Segundo pai Ivo de Xambá, “a gente não quer mudar a fé de ninguém, a gente quer respeito, por isso mesmo não queremos falar sobre intolerância religiosa, pois não queremos ser tolerados, queremos respeito”. Em função disso, acreditamos que o Seminário ainda precisa reverberar e ter continuidade, de modo que o diálogo entre comunidades de terreiro, instituições, pesquisadores, artistas e movimentos sociais se tornem uma constante na elaboração, planejamento, tomada de decisões e gestão de recursos e políticas públicas para os PMAF. Manoel Papai, Liderança do Terreiro Obá Ogunté tem um sonho, o de criar uma escola dentro do terreiro. Sua casa sempre esteve à frente de processos de revitalização cultural e difusão de conhecimentos tradicionais sobre língua, música e cultura, sempre teve esse papel educativo. Esse Seminário foi um encontro de grandes aprendizados, também tendo conquistado sua importância pelas aproximações, reflexões e ressonância na sociedade. Acreditamos, inclusive, que este Seminário pode ser uma sinalização para criação de novos eventos, que tenham em vista outros povos ameaçados, como os povos indígenas, ciganos e ribeirinhos. Fazemos votos, sobretudo, que este Seminário possa vir a ser nosso ponto de encontro e partida para ações de fato. Aqui apresentamos, inclusive, uma nova pretensão, a de realizar um segundo Seminário durante na Semana da Consciência Negra da Cidade do Recife, com vistas a contribuir com a mobilização nacional em torno das lutas e conquistas do movimento negro em nosso país. REFERÊNCIAS Avatar. Direção de James Cameron. Produção da Lightstorm Entertainment. 20th Century Fox, 2009. Blu-Ray. BRASIL. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Portaria Iphan nº 194, de 18 de maio de 2016. Dispõe sobre diretrizes e princípios para a preservação do patrimônio cultural dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana, considerando os processos de identificação, reconhecimento, conservação, apoio e fomento. CUNHA, Juliana da Mata. Quem pode mais do que o dono da casa? Participação social
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no processo de patrimonialização do Terreiro Ilê Obá Ogunté (Sítio de Pai Adão) no Recife-PE, 2018. 138 fls. Dissertação (Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural) - IPHAN, Rio de Janeiro, 2018. FUNDARPE. Gestores e povos de terreiro debatem sobre os patrimônios culturais de matriz africana. Postado em: Fundarpe. Patrimônio Cultural. Secretaria de Cultura. Matéria de Jan Ribeiro/Secult-PE/Fundarpe, em 03 de setembro de 2019. Disponível em: <http://www.cultura.pe.gov.br/canal/patrimonio/gestores-e-povos-de-terreirodebatem-sobre-os-patrimonios-culturais-de-matriz-africana/>. ___________. Carta Aberta do 1º Seminário de Patrimonialização e Musealização de Bens Culturais dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana. Disponível em: <http://www.cultura.pe.gov.br/canal/patrimonio/gestores-e-povos-de-terreirodebatem-sobre-os-patrimonios-culturais-de-matriz-africana/> FLICKR FUNDARPE. XII Semana do Patrimônio. Disponivel em: <https://www.flickr. com/photos/fundarpe/albums/72157710271727422> IPATRIMONIO. Diário Oficial de 06 de setembro de 1985, Decreto Nº 10.712, homologa a resolução do Conselho Estadual de Cultura, de tombamento do Terreiro de Obá Ogunté. Dinponível em: <http://www.ipatrimonio.org/wp-content/uploads/2017/07/ imggaleria_34920.jpg> _____________. Recife - Terreiro Obá Ogunté. Disponível em: <http:// w w w. i p a t r i m o n i o . o r g / r e c i fe - t e r r e i r o - o b a - o g u n t e / # ! / m a p = 3 8 3 2 9 & l oc=-8.021607999999993,-34.895248,17> IPHAN. Terreiro Ilê Obá Ogunté Sítio Pai Adão (PE) recebe proteção do Iphan. Matéria disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4841> LODY, Raul. O negro no museu brasileiro. Construindo identidades. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. MUSEU AFRODIGITAL. Exposição Repatriação Digital do Acervo Afro Pernambucano soa a Guarda do Centro Cultural São Paulo. Acervo Confiscado nos Terreiros, exibindo a catalogação digital de mais de 400 peças pertencentes aos terreiros saqueados no Estado, na década de 1930. Disponível em: <http://www.museuafrodigital.com.br/ repatriacaodigital/>.
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Sandro Vasconcelos da Silva; Henrique Costa Lourenço e Lucas José do Nascimento
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