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GAIO – ROSÁRIO: LEITURA DO LUGAR Câmara Municipal da Moita | Frederico Vicente e Ana Filipa Paisano
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O conceito de largo, pela conluência de ruas, desenha-se como uma área urbana espaçosa. Antes, a estrada era um eixo reto de ligação entre pontos – no caso da estrada que sobe, a comunicação entre as portas do Gaio, a Moita e o Rosário – agora a estrada completa a paisagem, tomando formas e cadências desaceleradas. O percurso é demorado na chegada ao Rosário, porque é interrompido, ora por janelas ao rio, ora por bolsas que se abrem – semelhante ao percurso no sítio das salinas, junto do moinho, no caminho que vem da Moita. O jardim das Canoas é um outro exemplo e reforça o compasso. Implanta-se a uma cota mais baixa que a estrada e pouco mais alta que a água, que nos toca os calcanhares. Podemos airmar que esta estrada tem peril de rua mais próximo do promenade, distante da estrada do alto, que se aigura à escala da viatura. Em qualquer um dos casos, o sentimento de isolamento toma forma, como um gradual afastamento dos prédios urbanos para os rústicos. O Gaio é jovial e alegre, é um pássaro no campo, ou numa embarcação. Trata o campo como uma oicina de múltiplos trabalhos. Ali a relação com o rio é ampla, porque o rio é sereno e confunde-se com os campos. A dada altura não sabemos ao certo os limites de cada um.
2. O ROSÁRIO O Rosário, mais do que o Gaio, apresenta uma tipologia e morfologia própria: a povoação é concêntrica, conduzida por um eixo urbano. Anteriormente referimos, que no Gaio a construção é dispersa. As casas surgem individualizadas na paisagem, ao longe, em posições relativas nos terrenos – excluindo o caso especíico do largo do estaleiro naval – ou em linha pela estrada do alto – fruto do planeamento e desenvolvimento urbano. No Rosário as casas formam um casario e por consequência uma unidade de paisagem. Se a chegada ao Gaio é anunciada pela frente ediicada e bifurcação da via, no Rosário é o oposto. Os dois arruamentos conluem numa triangulação que origina uma única rua. Sem desconsideração pela actual toponímia, a noção de estrada municipal pareceu-nos desde sempre mais próxima da experiencia e do percurso no lugar. Com a utilização da referência Estrada Municipal 506, pretendemos reforçar o quanto esta é estruturante na constituição do Gaio-Rosário como um todo, ligando duas partes, num circuito fechado. É a espinha dorsal do território, conluindo pontos numa viagem de ida, entre a Moita e o Rosário, e de volta, por um outro trajeto, um aluente do mesmo. A estrada municipal 506 tem esse sentido peninsular, de via que nos leva e nos traz de volta.