Alberto Arecchi (1947) é um arquiteto italiano, mora na cidade de Pavia. Tem uma longa experiência em projetos de cooperação para o desenvolvimento em vários países africanos como especialista em tecnologias apropriadas para o planejamento de habitat. Presidente da Associação Cultural Liutprand, edita estudos sobre a história local e as tradições, sem descurar as relações inter-culturais (site: https://www.liutprand.it). Escreve contos e poemas em italiano, português, espanhol e francês.
A GAROTA DE BILIBIZA Festejei meu trigésimo aniversário em Pemba, Moçambique, na costa africana do Oceano Índico, na cidade que os colonos chamavam Porto Amélia. Lembro-me do avião pousando sobre uma rocha em forma de crescente que se projetava no mar. Na luz dourada do fim da tarde, o promontório aparecia coberto de belas árvores de baobá (imbondeiros). Era novembro, estávamos mesmo na curta temporada, quando aquelas árvores têm folhas. O baobá é considerado uma árvore sagrada, inspirando poemas, ritos e lendas. No breve período de uma noite as árvores se cobrem com um manto de flores brancas e se animam, porque suas flores atraem uma fauna diversificada: morcegos, pássaros e outros pequenos animais. Os mais velhos acreditavam que aqueles animais encarnassem os espíritos da natureza e as vozes dos antepassados. O mito das origens queria que todos os homens tivessem saído, junto com os animais da floresta, por uma montanha, em que Deus os tinha feito, como rebentos de uma grande árvore de baobá. Nos dias da minha estada, no entanto, estava proibido falar sobre os mitos antigos e as crenças mágicas. Qualquer desvio arriscava de ser severamente punido, em nome do materialismo histórico. 7