Revista Poder | 142

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ISSNISSN 1982-9469 1982-9469

R$ 19,50

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FEVEREIRO 2021 N.142

F EV EREI RO 2 02 1 N.14 2

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PROPÓSITO, INCLUSÃO PROPÓSITO, E ESPERANÇA INCLUSÃO E ESPERANÇA

O ENIGMAO DAENIGMA ESFINGE DA ESFINGE

Império do agronegócio ouagronegócio ou Império do economia diversificada? economia Tentamos diversificada? Tentamos entender qualentender é a do Brasilqual é a do Brasil

A CASA DASAMOEDAS CASA DAS MOEDAS

O economistaORAUL economista VELLOSO RAUL VELLOSO acha que emitir acha dinheiro que emitir dinheiro pode ser uma pode realidade ser uma realidade

A GRANDE RESSACA A GRANDE RESSACA

MODO MODO AVIÃO AVIÃO

HÉLIO HÉLIO ROTENBERG ROTENBERG , ,

CEO CEOdada Positivo Positivo Tecnologia, Tecnologia, eea aincrível incrível história história do do grupo grupo educacional educacional que ele que ele transformou transformou no grande no grande fabricante fabricante de PCs de PCs e e smartphones smartphones do país do país

EEMAIS MAIS

BOZOMA BOZOMA SAINT SAINT JOHNJOHN , a executiva , a executiva da Netflix da Netflix

que queescolhe escolhe o que o que você você vê; o cantor vê; o cantor

WESLEY WESLEY SAFADÃO SAFADÃO no topo; no topo; a voltaaaos volta aos céus céus dede MARCOS MARCOS AMARO AMARO ; as preferências ; as preferências dadachef chef JANAINA JANAINA RUEDA RUEDA e o melhor e o melhor da CES, da CES,

a amaior maior feirafeira de tecnologia de tecnologia do mundo do mundo

Como anda a saúde Como anda a saúde mental dos líderes mental – dos líderes – e dos lideradose–dos em liderados – em tempos de pandemia tempos de pandemia

BANDEIRA VERDE BANDEIRA VERDE O psiquiatra

O psiquiatra

RODRIGO BRESSAN RODRIGO BRESSAN

explica a diferença explica a diferença nada sutil entre nada sutil entre otimismo e esperança otimismo e esperança




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SUMÁRIO 4 8 12

EDITORIAL COLUNA DA JOYCE POSITIVO OPERANTE

Como Hélio Rotenberg transformou um grupo educacional no grande fabricante de computadores do país 20

CAIXA-FORTE

Na visão de Raul Velloso, especialista em contas públicas, o Brasil pode – e deve – abrir o cofre para enfrentar a pandemia 25

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A DONA DO STREAMING

Quem é Bozoma Saint John, a poderosa e hypada CMO da Netflix 43

OPINIÃO

Nina Silva apresenta a Wolo TV, a primeira plataforma com conteúdo focado na população negra 44

DE VOLTA AOS ARES

O retorno de Marcos Amaro ao mercado da aviação 46

RESPIRO

A brisa e a bossa de Johnny Alf 50

VAI SAFADÃO

Wesley Safadão, o cantor que mais toca no Brasil, no Ensaio de PODER

CRER PARA VER

O psiquiatra Rodrigo Bressan explica a importância em manter a esperança em tempos tão duros

VAI DAR BOM

Listamos 21 razões para acreditar que 2021 será um grande ano

ALUGA-SE UM PAÍS

O Brasil está quebrado? Analistas discorrem sobre o assunto

EU SOZINHO LTDA.

O mundo corporativo de olho na saúde mental dos CEOs

OPINIÃO

Ney Figueiredo lembra causos de um presidente inesquecível 26

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HÉLIO ROTENBERG POR ROBERTO SETTON

AGENDA PODER

DOCTHOS + docthos.com.br FABRIZIO ALLUR + fabrizioallur.com GALLAGHER ALFAIATARIA + gallagheralfaia-

taria.com.br ORIBA + oriba.com.br PRADA + prada.com RICARDO ALMEIDA + ricardoalmeida.com.br VERT + vert-shoes.com.br VIVARA + vivara.com.br

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UM MULTIARTISTA DE SEU TEMPO

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O vanguardismo de Waldemar Cordeiro

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FOTOS PEDRO DIMITROW; GETTY IMAGES; MARCELO HALLIT/DIVULGAÇÃO CASA DO SABER; DIVULGAÇÃO

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60

MULHERES QUE AMAMOS

A atriz Anne Bancroft 61

UNIÃO DE FORÇAS

Como duas irmãs estão mobilizando voluntários do Brasil todo em resposta à Covid-19 62

IMENSIDÃO AMAZÔNICA

Um mergulho fotográfico pela região de Anavilhanas 66 68 71

PODER VIAJA MOTOR OPINIÃO

Claudio Thebas desmistifica a obrigação de ter que ser feliz 72

SOB MEDIDA

As escolhas da chef Janaina Rueda 74 76 79

HIGH TECH CULTURA INC. OPINIÃO

Mario Sergio Andrade Silva dá a receita: máscara, álcool e esporte 80

ÚLTIMA PÁGINA

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PODER EDITORIAL

A

visão do Brasil como uma grande fazenda não faz justiça com o ambiente diverso de negócios que o país vem construindo desde a redemocratização. Temos startups que rapidamente se tornaram unicórnios e possuem ambições globais; e há aqui um fabricante de computadores cujos notebooks são mais lembrados pelo consumidor brasileiro do que os da Apple: são os da Positivo, que também produz smartphones e tablets e investe cada vez mais em soluções para casas inteligentes. Trata-se de um case nacional, tendo sobrevivido ao Plano Collor, a diversas variações cambiais e à fome dos concorrentes estrangeiros. Seu presidente, Hélio Rotenberg, é um visionário: aos 27 anos, sugeriu a seus futuros empregadores, todos professores, criar dentro do grupo educacional Positivo uma indústria de computadores. E entre a fazenda e a eletrônica, qual a vocação do Brasil? É essa a discussão que o editor Paulo Vieira propõe a consultores e acadêmicos numa reportagem motivada pelo anúncio da saída da Ford e por mais uma frase polêmica do presidente Jair Bolsonaro (O Brasil está mesmo quebrado?). Para o economista Raul Velloso, figura central do Ministério do Planejamento do governo Sarney, aqui entrevistado por Armando Ourique, nossa vantagem comparativa está mesmo nas commodities agrícolas e minerais – e uma boa alavancagem para esses tempos difíceis pode estar nas nossas amplas reservas cambiais. Se é tempo de pensar na saúde do país, é mais ainda de pensar na do brasileiro. No trabalho, saúde mental passou a ser um tema decisivo para os gestores, que às vezes se esquecem da sanidade deles mesmos. Afinal, é preciso lembrá-los de que eles não são super-homens. Na mesma linha, o psiquiatra Rodrigo Bressan alerta que é tempo de procurar cenários positivos – olha aí de novo o nome da empresa de tecnologia. Esta PODER ainda lista 21 motivos para acreditar que 2021 pode ser um ano bom. Mostra também quem escolhe o filme que você vai assistir na Netflix – uma executiva interessantíssima, filha de imigrantes ganeses, viúva e poderosa, Bozoma Saint John – e os cenários exuberantes do rio Negro em Anavilhanas. Falamos da volta de Marcos Amaro, filho do famoso comandante Rolim que criou a TAM, aos céus do Brasil e o cantor Wesley Safadão, no topo do ranking das plataformas musicais, em um ensaio fotográfico clicado por Pedro Dimitrow. Alguém achou pouco? Tem a chef Janaina Rueda, reconhecida internacionalmente, apontando suas preferências e também o escritor e palhaço Claudio Thebas falando sobre a alegria e mais, muito mais. Venha, 2021. Estamos juntos.

R E V I S TA P O D ER . U O L. C O M . B R



JOYCE PASCOWITCH

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CONDOMÍNIO 5 ESTRELAS

PODER INDICA

O Brasil tem assumido um papel importante no mercado imobiliário português. De acordo com o levantamento da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (Apemip), os brasileiros são os maiores investidores estrangeiros nas cidades de Lisboa e do Porto. Atentos ao ritmo crescente desses investimentos, o Elegant Group, proprietário do MARTINHAL HOTELS & RESORTS, acaba de lançar um novo empreendimento tendo o país como um dos mercados prioritários. Previsto para ser entregue no início de 2022, o MARTINHAL RESIDENCES, localizado no bairro mais moderno e um dos centros de negócios de Lisboa, o Parque das Nações, é um branded hotel residences de alto padrão que alia o luxo à funcionalidade e oferece todo o serviço cinco-estrelas da marca. São 14 andares contemplados por estúdios a partir de 38 m2 até apartamentos de 196 m2 e quatro dormitórios, todos entregues com cozinha mobiliada e equipada com os mais modernos eletrodomésticos. Do 1º ao 4º andar serão vendidos sob a opção de investimento do Martinhal; a partir do 5º os apartamentos terão a marca dos serviços da companhia, incluindo o clube infantil, espaço de trabalho, concierge 24 horas, serviço de limpeza, serviços de informática e serviços de manutenção. Tudo cuidadosamente pensado na comodidade do morador para um estilo de vida livre de problemas. Quem assina o projeto de arquitetura de vanguarda é o mundialmente conhecido Eduardo Capinha Lopes, que, juntamente com os idealizadores Chitra Stern e Roman Stern, optou pela fachada moderna e verde, a qual será um futuro marco em Lisboa. Para os brasileiros, além de ser um ótimo investimento imobiliário, com retorno garantido, o projeto possibilita adquirir a autorização de residência em Portugal através do “ Golden Visa”. + MARTINHALRESIDENCES.COM @MARTINHALRESIDENCES


A guerra travada entre o fisco e a Rede Globo esquentou. PODER teve acesso a um relatório da Receita Federal onde ela acusa o presidente do grupo, JORGE LUIZ NÓBREGA, e os diretores Carlos Schroeder, Rossana Fontenele e Marcelo Mendes de serem os responsáveis pela fraude e sonegação supostamente ocorrida nos diversos contratos de trabalho que a emissora firmou com o seu elenco. Segundo a representação encaminhada ao MPF, a Globo teria tramado uma combinação para diminuir o pagamento dos tributos devidos e os valores poderiam ultrapassar R$ 10 milhões por artista – a defesa mantém sigilo, mas já se sabe que Deborah Secco, Reynaldo Gianecchini, Malvino Salvador, Maria Fernanda Cândido, entre outros, foram fiscalizados. Como a emissora não poderia sofrer penas numa ação criminal, a Receita indicou ao Ministério Público os nomes dos executivos que, nas palavras do órgão, seriam aqueles responsáveis pelo “conluio”. As penas imputadas pela prática supostamente criminosa podem chegar a dez anos de reclusão.

CÃO DA GUARDA

Você sabia que o cavalier king charles spaniel, uma das raças de cachorro preferida da rainha Elizabeth 2ª, é também uma das prediletas do... ex-presidente do Banco Central HENRIQUE MEIRELLES? Atual secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo, ele é um dos mais antigos criadores desses cães no Brasil e tem cinco deles em casa. Meirelles costuma compartilhar fotos dos pets nas redes.

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BATUCADA...

Enquanto nas arquibancadas mais ideológicas esquentam os tamborins para colocar o impeachment na agenda do país, a cúpula do Judiciário ainda não se emocionou com o assunto. Com diferentes argumentos, a ideia é a de que não é hora de mexer o caldo, sobretudo quando a curva da Covid-19 empina e a influência do presidente JAIR BOLSONARO nas grandes questões reduziu-se a frases de efeito na mídia. As questões de fundo, na prática, estão nas mãos... veja só: do STF.

...SILENCIOSA

E se o termômetro do impeachment sobe, nos bastidores do Planalto assessores do presidente não demonstram qualquer preocupação. O motivo é que o vice HAMILTON MOURÃO, que assumiria a Presidência em tal eventualidade, não é tido como digno de confiança política por parte da maioria dos parlamentares. Seu partido, o PRTB, é inexpressivo e ninguém sabe como ele seria como presidente, diferentemente de Michel Temer, um articulador com ótimo trânsito no Congresso.

BLUE EYES

Figura mítica do mercado financeiro, o banqueiro e megainvestidor DANIEL DANTAS sumiu de cena depois que seu nome foi envolvido em diversos escândalos de corrupção e investigações como a Satiagraha e a Chacal. Hoje em dia, o fundador do Banco Opportunity vive reservado em Paris, virou avô e continua treinando seus dotes vocais. Cantor amador, Dantas é especialista em Frank Sinatra. A música preferida? “Fly Me to the Moon”. Em tempo: apesar das polêmicas, ele foi absolvido de todas as acusações.

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ROTEIRO ADAPTADO


EM BLOCO

Com as novas lideranças no Congresso Nacional, grandes empresários do país estão articulando para a criação de uma Frente Parlamentar dos Negócios e do Empreendedorismo, nos moldes da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária). A ação é uma iniciativa do Instituto Unidos Pelo Brasil, fundado em abril do ano passado por Nabil Sahyoun, Antonio Castilho e MARLY PARRA com a missão de fomentar o ambiente empresarial. O grupo irá trabalhar desenvolvendo estudos técnicos que embasem as propostas do Congresso, pressionando pela votação das reformas e de diversos projetos que estão engavetados. Para que a frente tenha força eles esperam cativar ao menos 253 parlamentares.

ÍMÃ

No condomínio de Interlagos, morada dos ricos em Salvador, quem tem desfilado todos os dias pela praia de tênis e meia é o engenheiro e delator da Lava Jato RICARDO PESSOA (ex-presidente da UTC Engenharia). O motivo? Tentar esconder o uso da tornozeleira eletrônica, como também fazem outros colegas do condomínio, caso do publicitário João Santana (ex-marqueteiro do PT). Detalhe: os dois precisam evitar um encontro nas caminhadas para que o alarme não soe na Polícia Federal.

LINHA VERDE

O anúncio do pacote de US$ 2 trilhões assinado pelo presidente americano Joe Biden para enfrentar a crise climática atingiu pesado a indústria de gás e petróleo. A expectativa agora é que os carros elétricos ganhem estrada e nesse cenário a Tesla, valiosa montadora de ELON MUSK, estuda abrir uma fábrica na América do Sul. O território ainda é incerto e o Brasil foi consultado, mas para isso terá que mudar radicalmente a sua política ambiental. Ou então se contentar com veículos importados da Argentina.

PRIMEIRA-DAMA

Enquanto no Brasil as contratações de líderes negros e negras pelas grandes empresas ainda são vistas com críticas por alguns, como o caso envolvendo um programa de trainees do Magazine Luiza, nos Estados Unidos a situação é bem diferente. Nova CEO da Walgreens, ROSALIND “ROZ” BREWER não apenas acaba de se tornar a primeira executiva negra no comando de uma das 500 maiores empresas de capital aberto de lá como ainda fez o valor de mercado da rede de farmácias na Nasdaq saltar 11% no fim de janeiro só por causa de sua contratação. De origem humilde, a executiva agora tem nas mãos um gigante com faturamento de quase US$ 140 bilhões em 2020. Muito marmanjo treme só de pensar.

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MARK TWAIN

SAS

3 PERGUNTAS PARA... HEITOR REIS REIS,, colecionador de arte e responsável pela criação do primeiro fundo de investimentos em arte do Brasil, o Brazil Golden Art QUAL A IMPORTÂNCIA DO FUNDO?

O fundo foi uma iniciativa do Banco Plural e, quando nós fizemos, não existiam outras iniciativas de fundos de arte como produtos financeiros. Acho que o balanço é positivo. Nós atualmente contamos com um acervo de 500 peças, que são dos cotistas, todos com uma parte dessa coleção representativa da arte contemporânea brasileira. Entre todas as obras, estimo que houve uma valorização entre 60% e 100%, algumas valorizaram mais, outras menos e não temos no nosso histórico de ativos nenhum artista que tenha sofrido desvalorização ao longo desse período. CERTA VEZ VOCÊ DISSE QUE, APESAR DA CRISE QUE ATINGE PRATICAMENTE TODOS OS SETORES DA ECONOMIA, “A ARTE PASSOU À MARGEM”. COMO AVALIA A RESPOSTA ATUAL?

Em 2008, na época da crise econômica, a arte brasileira estava alavancada, não havia um histórico de desvalorização a não ser por

pouquíssimos artistas. De lá para cá continua assim. Mesmo na crise de 2014 e agora, na pandemia, os preços continuam subindo, o que significa que tem demanda, tem oferta e procura. A arte está passando ao largo da crise. No leilão da Bolsa de Arte de São Paulo, A Caipirinha Caipirinha,, de Tarsila do Amaral, foi vendida por R$ 57,5 milhões. Uma pintura de Botticelli, leiloada pela Sotheby’s, em Nova York, também foi arrematada por US$ 92,2 milhões. Tanto fora, como no Brasil, você vê que os grandes negócios foram na área das artes, e as grandes galerias tiveram aumento no seu faturamento. O Leo Castelli [marchand ítaloamericano, da galeria Castelli] dizia: “Guarde arte porque pode salvar sua vida”. A arte, historicamente, não se desvaloriza. Para quem sabe escolher, é um investimento muito seguro. VOCÊ MENCIONOU QUE A ARTE NÃO DESVALORIZA, É UM INVESTIMENTO SEGURO, MAS PARA QUEM SABE ESCOLHER. O QUE SUGERE PARA QUEM DESEJA INVESTIR EM ARTE?

visitar as galerias de arte, os museus e acompanhar todo o circuito para ter um entendimento melhor sobre o processo. Mas diria também que a melhor forma de ter resultado é comprar o que gosta, se identifica, se emociona, porque a felicidade também conta como valor e, como não há desvalorização, sempre haverá um resultado positivo. Acho até mesmo que um sintoma desse período de pandemia, com a produção crescente de obras e resultados positivos no mercado, talvez venha do fato das pessoas serem obrigadas a ficar mais em casa e com isso tenham sentido a necessidade de ocupar o vazio do lar com arte. É uma tese sociológica que vamos saber apenas depois, mas me parece sintomática.

Participar de cursos e discussões,

COMPOSIÇÃO

Boa-nova no mercado das artes: FABIOLA CENI, mulher do artista plástico Daniel Senise, acaba de entrar de sócia na Nara Roesler, uma das principais galerias do país. Fabiola trabalhava lá desde 2009 e agora se junta à sociedade nos espaços de São Paulo e Nova York.

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FOTOS ERIKA MAYUMI/DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; DIVULGAÇÃO NETFLIX; DIVULGAÇÃO; EKATERINA NESTEROV/DIVULGAÇÃO;

A gentileza é uma linguagem que o surdo pode ouvir e o cego pode ver


CENÁRIO DE FILME

A ORNARE acaba de aportar em The Hamptons, o grupo de vilas de alto luxo localizado em Long Island, a 170 km de Nova York, habitado por herdeiros famosos, ricaços de Wall Street e celebridades de Hollywood. Na região sofisticada, famosa pelas praias deslumbrantes e a noite agitada, o showroom apresentará destaques da coleção e peças assinadas por Patricia Anastassiadis e Guto Indio da Costa. Haverá ainda o lançamento da linha desenhada por Ricardo Bello Dias, diretor de arte da marca.

EM FEVEREIRO A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... OUVIR o novo álbum do trompetista Wynton Marsalis em parceria com a famosa orquestra de jazz do Lincoln Center em Nova York RECAPITULAR a história do maior

jogador de futebol de todos os tempos

uma lista com seus preferidos agora compilada no livro Bowie’s Bookshelf: The Hundred Books that Changed David Bowie’s Life DECIFRAR o poeta em Oscar Wilde para Inquietos (ed. Sextante), um pequeno manual que reúne 99 aforismos no qual ele discorre sobre assuntos variados, como amor, dinheiro, amizade e convívio social LER O Esplêndido e o Vil, uma Saga

e sua busca pela perfeição até alcançar o status de “Rei”. O filme Pelé entra em cartaz dia 23 na Netflix ESCOLHER uma nova atividade física

para praticar. A Organização Mundial da Saúde (OMS) subiu de 150 para 300 minutos semanais o tempo de exercício para combater o sedentarismo APOIAR organizações como a Médicos Sem Fronteiras. Segundo a ONU, 235 milhões de pessoas precisarão de ajuda humanitária em 2021 DESCOBRIR os

100 livros favoritos de David Bowie (1947-2016). Apaixonado pelo conhecimento, o Starman deixou

Sobre Churchill, Família e Resistência, de Erik Larson. Best-seller instantâneo nos EUA, revela os bastidores de como Churchill uniu a Grã-Bretanha durante o pior momento da Segunda Guerra Mundial ASSISTIR a Umbrella, curta brasileiro de animação qualificado a entrar na corrida pelo Oscar. Dirigido por Helena Hilario e Mario Pece. No YouTube RECALCULAR a carteira de investimentos diante do cenário imprevisível para a economia e o quadro fiscal do país. Segundo as casas de análise, 2021 será caracterizado como um ano favorável para a renda variável

ESCUTAR os podcasts da QCODE,

companhia que aposta em audiosséries com grandes estrelas de Hollywood. O mais recente lançamento é o drama de ficção científica From Now, com Brian Cox (Succession) e Richard Madden (Game of Thrones). Disponível nos principais serviços de streaming MONTAR uma playlist baseada nos momentos desafiadores vividos em 2020 CURTIR o verão em casa e sonhar com

os destinos que irão aproveitar quando a pandemia passar ACOMPANHAR

o Australian Open, o primeiro Grand Slam da temporada. Os tenistas Novak Djokovic, Rafa Nadal e Dominic Thiem têm presença garantida. E Serena Williams luta pelo oitavo título em Melbourne. Até 21 de fevereiro COMEMORAR os 120 anos de nascimento de Henriqueta Lisboa com o lançamento da obra completa da poeta, tradutora, ensaísta e professora mineira. Em edição especial da ed. Peirópolis, separada em três partes: prosa, poesia e poesia traduzida ESCOLHER um curso virtual com tema distante da sua área de conhecimento e colocar o cérebro para funcionar

com reportagem de carol sganzerla, dado abreu, nina rahe e paulo vieira PODER JOYCE PASCOWITCH 11


Hélio Rotenberg, que em 1989 decidiu criar uma empresa de tecnologia que se tornaria o grande player brasileiro

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TECNOLOGIA

GIGABYTE

POSITIVO OPERANTE

Maior fabricante nacional de computadores pessoais, a Positivo Tecnologia nasceu quase que por milagre, de um braço de um grupo educacional paranaense. Mas o sucesso que a fez crescer na pandemia e se tornar mais lembrada em notebooks do que a própria Apple é bem terreno e tem um responsável de carne e osso: seu presidente, Hélio Rotenberg por paulo vieira fotos roberto setton

E

mbora sejam várias as parábolas contadas para motivar times corporativos, elas derivam de poucos temas. Ora são situações que lembram combates bélicos, ora que evocam disputas esportivas renhidas. Há ainda a simulação de desafios que emulam perrengues vividos na natureza. O que poucos autores dessas dinâmicas motivacionais usam como fonte de inspiração são hagiografias – biografias de santos ou outros livros que dão conta de milagres e eventos que demandam mais fé do que entendimento, mais convicção do que lógica. Mas como explicar que uma empresa nascida em Curitiba, de capital nacional, tenha se tornado player no Brasil na fabricação e venda de computadores pessoais, tablets e smartphones senão apelando para um certo misticismo? Num mundo dominado por

gigantes como Samsung, Apple, Dell, Acer, Lenovo, Huawei e com poucos concorrentes dentro do Brasil, a história da Positivo é positivamente singular. A empresa, que começou como escola de ensino médio nos anos 1970 e passou a fabricar computadores para atender as demandas de seus próprios alunos, tem hoje uma fatia significativa do mercado de PCs do Brasil. Entre os computadores de entrada, de preço máximo de R$ 1.400, a fatia é na verdade quase o bolo todo: 83,1%, segundo dados públicos da Positivo a partir de aferição da consultoria IDC. Não à toa, a empresa aparece na última pesquisa Top of Mind, levada à cabo pelo Datafolha, que certifica as companhias mais lembradas em vários segmentos. Em “computador e notebook”, a Positivo, sempre equipada com processadores Intel, tem 10% das menções, à frente da Apple e da LG.


Mas excluída talvez a gênese desta história, não há qualquer conjunção mística na trajetória de sucesso da Positivo no mercado brasileiro. Houve, sim, bastante resiliência para enfrentar crises diversas – do Plano Collor à desvalorização do real no fim do segundo governo FHC – e há também o que o eterno presidente da empresa, o curitibano Hélio Rotenberg, considera a grande vantagem comparativa: o entendimento de quem é o consumidor da marca. A Positivo Tecnologia, que se desmembrou do grupo educacional inicial e tem inclusive outra composição societária, fatura cerca de R$ 2 bi anuais, possui

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fábricas em Manaus, Ilhéus e Curitiba, dois escritórios na China e atua em joint venture na Argentina e em três países africanos. A pandemia fez bem à empresa, que teve performance favorável na venda de seu carro-chefe, o notebook, muito em razão da adesão massiva e inesperada ao home office e ao homeschooling, o que obrigou empresas a renovar ou distribuir computadores para seus colaboradores e levou os pais a comprá-los para seus filhos. Os números do terceiro trimestre de 2020, os últimos publicados, apontam elevação de faturamento e ebtida, recuperação da rentabilidade e redução da dívida da


‘‘É preciso de escala nesse mercado, e nós nos apropriamos dela no momento certo. Isso nos deu longevidade. Além disso, soubemos nos especializar no nosso target, o brasileiro de classe média. Soubemos entender seus gostos e especificidades” empresa, que se mantém numa relação saudável, de 1,3. Para chegar a esses resultados foi preciso tomar decisões estratégicas, e ter assistido à paralisação das indústrias chinesas quando a pandemia se circunscrevia ao país asiático, ajudou bastante. Se tudo isso parece, e é, muito mais terreno do que etéreo, vamos logo ao milagre de exceção – e de origem. Voltando a Curitiba de seu mestrado em informática na PUC-RJ, em 1989, Hélio soube que o grupo educacional Positivo contratava professores de sua especialidade. Aos 27 anos, teve uma conversa com um dos fundadores, o hoje senador Oriovis-

to Guimarães (Podemos), e sugeriu que a Positivo, que lidava com apostilas e cursos de programação, passasse a fabricar computadores; mais ainda, que ele, que nunca havia feito nada parecido em sua vida, chefiasse essa divisão. Oriovisto e seus sócios, todos professores, concordaram. Hélio comanda a empresa desde aquela conversa de 32 anos atrás. Pode-se argumentar que nada é casual, e que a confiança inusitada no próprio taco fazia do candidato um profissional que qualquer patrão ou sócio daria um baço para encontrar; mas é mais justo com a história dizer que o investimento a ser rateado entre os sócios era baixo, e valia o risco. Difícil era imaginar que daria tão certo. Para Hélio, a Positivo cumpriu sua trajetória especialíssima no mercado brasileiro por um conjunto de razões, entre as quais a informalidade da concorrência, que foi afundando especialmente nos tobogãs das variações cambiais. “É preciso de escala nesse mercado, e nós nos apropriamos dela no momento certo. Isso nos deu longevidade”, disse a PODER, de sua casa em Curitiba, por videochamada. “Além disso, a gente se especializou no nosso target, os brasileiros da classe média. Soubemos entender seus gostos e especificidades. Às vezes, os importadores traziam [equipamentos] com dourados e prateados, e o brasileiro não gosta disso.” Como tantas concorrentes, a Positivo também foi alvo da cobiça estrangeira e recebeu uma oferta firme da chinesa Lenovo no fim de 2008, quando já havia aberto capital na bolsa de São Paulo, mas a proposta foi recusada e a negociação empacou. “O mercado é dominado pelas multinacionais. Poucos países têm empresas que se sobressaem no mercado de computadores”, diz Hélio. Se cresceu e se solidificou na esteira da classe C, que viveu seu grande momento justamente na primeira década deste século, a Positivo soube diversificar seu portfólio de produtos em busca de um público de padrão de consumo mais elevado. Assim, em 2015, assinou acordo com a japonesa Vaio, que é conhecida pela elegância do design, pela robustez da configuração e principalmente pela parceria já desfeita com a Sony, que fez a fabricante famosa no mundo inteiro. Os Vaio da Positivo são vendidos no e-commerce da empresa a partir de R$ 4 mil, mais do que o dobro de uma linha como a Motion Q, que tem configuração mais modesta. PODER JOYCE PASCOWITCH 15


Operários na linha de montagem da fábrica de Manaus, uma das três da Positivo no Brasil, uma lâmpada que pode ser programada para acender ou apagar sozinha e, abaixo, a pulseira Schood, solução 100% própria que permite geolocalização de alunos em escolas

CABO DAS TORMENTAS É difícil imaginar o que pode ser pior para a economia de um país e para a vida de suas empresas do que o Plano Collor, que confiscou patrimônio de tantas pessoas físicas e jurídicas do Brasil – o tal “ippon” que o ex-presidente Fernando Collor prescreveu para combater a renitente inflação do Brasil pré-real –, mas a Positivo enfrentou seu verdadeiro Cabo das Tormentas bem mais recentemente, há cerca de cinco anos, quando o mercado de PCs do Brasil estreitou-se para um terço do que era (veja boxe na pág. 19). Além da crise econômica, pesou o avanço cavalar do smartphone, que a Positivo passou a fabricar, junto com o tablet, produtos que ainda não são dominantes no portfólio da empresa: os dois respondem hoje por apenas 1/3 das vendas de notebooks e desktops.

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Embora a companhia tenha se reequilibrado em torno de certa ressurreição do PC em 2020 com a pandemia – um crescimento projetado de 6% para uma previsão, antes da Covid-19, de 0,7% –, estes últimos anos foram de boas novidades. Servidores, serviços de storage (infraestrutura para estocagem de dados) e projetos especiais obtiveram relevância. A Positivo desenvolveu máquinas de cobrança da Cielo e ganhou licitação para equipar o TSE com urnas eletrônicas, vencendo uma concorrência vultosa contra um grupo estrangeiro em que ao fim da oferta não faltaram fake news dignas do gabinete do ódio (veja boxe pág. 17). Além disso, entrou na Internet das Coisas (IoT) e desenvolveu lógica (software) e produtos para casas inteligentes, como lâmpadas que acendem ou apagam segundo uma programação predefinida pelo usuário.


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O mercado de informática brasileiro dispõe de certos privilégios fiscais que, se estão longe de ser dignos da indústria automotiva nacional (veja a reportagem “Aluga-se um país” na pág. 26), vem ajudando seus players ao longo dos anos. Mas o que vale para a Positivo vale para os estrangeiros que produzem peças ou montam seus computadores aqui – seja em fábricas próprias, seja através de terceiros. Da mesma forma, vantagens que poderiam ser obtidas quando o dólar se aprecia demais – e que torna inatingíveis objetos de desejo como, por exemplo, o iPhone 12 – são anuladas porque toda a concorrência que vende em real surfa o mesmo swell de maneira equivalente. “É uma briga de “foice”, diz Hélio. Se a Covid acabou gerando boas notícias econômicas para a Positivo, o repique da doença em todo o Brasil e especialmente em Manaus, onde estão 540 funcionários, gera muita preocupação. Com o lockdown na capital manauara, o turno noturno de trabalho teve de ser encerrado e foram implementados protocolos de segurança inimagináveis, como baias individuais de acrílico no refeitório e transporte próprio para a massa. De toda forma, se a Positivo foi muito afetada pela pandemia, ela foi, principalmente, comenta Hélio, “pelo excesso de demanda”. “Fazer a empresa crescer e motivar todo mundo a partir do home office foi um grande aprendizado. Teve adrenalina para todos os lados.” Com todo o time administrativo em suas casas desde março, o presidente só foi conhecer o novo CFO da empresa recentemente. Houve também ações fora do “pipeline” que ajudaram a salvar vidas. Em abril, a Positivo se juntou a outras como Suzano e Embraer para multiplicar a capacidade produtiva brasileira de ventiladores pulmonares, numa ação emergencial celebrada pelo então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que chamou a Positivo de “gigante brasileira”. Hélio considera que a principal função do líder é “tomar decisões” para apontar ao time o caminho a ser seguido. Para ele, omitir-se é o pior dos mundos, pior até do que tomar as decisões erradas – e corrigi- las depois, claro. Mesmo assim, não sabe opinar sobre o “dilema ético” da compra das vacinas contra a Covid-19 pelas empresas, que parece ter defensores e detratores em igual medida. De qualquer forma, o assunto vem sendo discutido pela associação empresarial do setor e também em conversas internas. Hélio teme que a decisão, por exemplo, de respeitar a precedência do sistema público na vacinação, possa não

ser levada a cabo por um concorrente, e isso conturbe o ambiente interno. “É um tema que não é muito preto no branco.” Quanto à diversidade, assunto com o qual qualquer executivo brasileiro hoje tem de lidar, a Positivo vai à frente. O setor de tecnologia no Brasil é predominantemente masculino, mas a empresa tem mulheres no C-Level. “Nunca fomos agnósticos nisso. Das seis pessoas do comitê executivo, duas são mulheres, isso é inédito na nossa área”, diz o presidente. Equidade racial é uma questão mais espinhosa, segundo ele, pela conformação populacional de Curitiba, uma cidade “predominantemente branca”. “Mas temos vários não brancos na empresa.” Raros são os segmentos econômicos que se transformam mais rápido do que o de tecnologia e, para Hélio, o maior risco que corre, 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano, é se tornar obsoleto. Por isso, diz, há a manutenção dos dois “branchs” na China, as visitas à CES, a grande feira de tecnologia aplicada ao consumidor de Las Vegas, e o estímulo para que seus executivos viajem. Ele não consegue visualizar a Positivo daqui a dez anos,

URNAS DA DISCÓRDIA Uma certa obsessão faz com que Jair Bolsonaro veja nas urnas eletrônicas a potencial fonte de fraude que pode pôr em risco sua reeleição. Assim, ter pedido o retorno do voto impresso, ou ao menos a comprovação em papel dos votos de cada urna eletrônica, não só ficou no campo da tagarelice como se tornou uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-SP), PEC que pode vir a entrar na pauta a depender dos humores e da subserviência do novo comandante do Legislativo. A Positivo, que desenvolve urnas eletrônicas segundo as especificações do TSE para 2022 – e pode oferecer nessas urnas a entrada para a impressora desejada –, participou de um certame e foi vencedora com uma proposta de R$ 800 milhões, cerca de metade da concorrente. Quando isso aconteceu, uma bateria de fake news foi disparada dando conta de que a Positivo havia sido adquirida por uma empresa da China, o país das bestas-feras. E a suposta compradora era a mesma Lenovo, que, de fato, chegou a iniciar negociações com a brasileira, mas em 2008. A narrativa deu corda aos apoiadores bolsonaristas e foi cabalmente desmentida por Hélio Rotenberg. Ainda que o tema seja de competência legislativa, o senador Oriovisto Guimarães preferiu não conversar com a PODER. Ex-fundador da Positivo, o parlamentar não tem mais participação acionária na empresa.

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‘‘Fazer a empresa crescer e motivar todo mundo a partir do home office em que estamos desde março foi um grande aprendizado. Teve adrenalina para todos os lados”

TEMPOS FAVORÁVEIS A pandemia foi benéfica para a indústria brasileira de computadores pessoais. Segundo dados da consultora internacional IDC, de uma previsão antes da Covid-19 de crescimento de 0,7%, o resultado final deverá ficar em 6%. O coronavírus mudou tudo, criando abruptamente uma enorme demanda para o trabalho doméstico e para o homeschooling. “E há uma previsão de que o setor no Brasil cresça em 2021 8% sobre 2020, enquanto neste ano o mercado global não cresce”, disse a PODER Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa e consultoria desse segmento da IDC. Reinaldo comenta que a demanda por desktops ou notebooks em 2020 foi tão intensa que os fabricantes de componentes básicos como processadores não deram conta dos pedidos que chegavam de todo o mundo. As cadeias globais, assim como no caso dos insumos da indústria farmacêutica, começam na Ásia, China especialmente, onde esses produtos são fabricados. Os players não chegaram a perder negócios, mas houve atrasos, e a situação só deve se normalizar no Brasil a partir de março. Mas mesmo com tantas boas notícias, o mercado doméstico de computadores pessoais deve fechar 2020 com a venda de 6 milhões de unidades, um número diminuto diante de 2011, quando foram comercializados 15,8 milhões desses aparelhos. A partir de pesquisas do IDC, Reinaldo comenta que as motivações de compra eram principalmente “navegar na internet” e “utilizar redes sociais”. Quando foi possível fazer tudo isso no celular, uma nova era se abriu. Hoje, a cada computador pessoal vendido, nove smartphones chegam às mãos dos brasileiros.

mas as variáveis a enfrentar até 2026 já vão sendo esquadrinhadas num plano estratégico que visa solidificar a posição da companhia nos mercados em que atua, além de dar ênfase no ecossistema geral mais ampliado – da casa inteligente à armazenagem de dados e desenvolvimento de soluções específicas, como as para a Cielo e para o TSE. Com tudo isso, para quem imagina encontrar nas fábricas de computadores da Positivo cenários que possam evocar a casa dos Jetsons, a fotografia real pode ser pungentemente século 20. Mesmo com a crescente automação das linhas, o futuro, como em todo lugar, vai se infiltrando aos poucos, nas mentalidades, na incubação de startups, nos insights produzidos em reuniões de rotina e, às vezes, muito às vezes, na própria materialização de um produto ou solução 100% pensada para as demandas nacionais, como uma pulseira de geolocalização para ser usada por alunos, dando tranquilidade a pais e informações relevantes para gestores. O maior inimigo do Schood, o nome do artefato, foi paradoxalmente a “aliada” Covid-19, que tornou a invenção ociosa em 2020. Felizmente, pandemias vêm e vão, e o que poderia ser obsolescência é apenas, digamos, ostracismo. Surfar o futuro pode ser, assim, menos glamouroso do que parece, talvez se traduza apenas por saber criar as condições para não ser pego no contrapé no dia seguinte. Pensamento positivo é bom, mas nem sempre é suficiente. n PODER JOYCE PASCOWITCH 19


ZINCO

CAIXA FORTE

Para o economista Raul Velloso, um dos maiores especialistas em contas públicas do país, o Brasil pode – e deve – emitir muito mais moeda para combater a pandemia. Em entrevista a PODER o ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento critica os que defendem a manutenção do teto de gastos e aponta a necessidade de investimentos como forma de retomada no pós-crise POR ARMANDO OURIQUE

A

ntes mesmo de conceder esta entrevista, Raul Velloso, Ph.D. em economia pela Universidade de Yale, nos EUA, avisou que havia acabado de fazer uma reviravolta nas suas ideias sobre economia. “Não sou mais um fiscalista”, anunciou. “Discordo do que o mercado financeiro está pedindo”, disse, referindo-se à aprovação urgente de reformas econômicas, de redução de gastos e de alta das taxas básicas de juros. Até novembro de 2020 um dos mais ortodoxos defensores do rigor fiscal, Raul Velloso, presidente no Fórum Nacional do Inae (Instituto Nacional de Altos Estudos) e um dos maiores especialistas em contas públicas do país, passou a defender a chamada Teoria Monetária Moderna (TMM), sustentada no exterior por nomes como Jason Furman e Larry Summers. Sem temer um surto inflacionário, Velloso acha que o Brasil pode e deve, diante da segunda onda da pandemia, emitir muito mais moeda e títulos de curto prazo para financiar programas de saúde e de auxílio emergencial. Com a sua habitual inteligência e clareza de raciocínio, Velloso, que foi secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento durante o governo Sarney e é desde a década de 1980 um dos principais analistas da economia brasileira e de sua conjuntura, oferece nesta entrevista comentários sobre diversos assuntos. Mas talvez as

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FOTOS AILTON DE FREITAS

suas observações mais contundentes girem em torno do significado de o Brasil ter hoje quase US$ 400 bilhões em reservas internacionais e capacidade de a longo prazo gerar moeda forte com as suas competitivas exportações de commodities. Para ele, essa nova posição internacional do país permite manter juros baixos, enfrentar satisfatoriamente as calamidades impostas pela Covid-19 e retomar no ano que vem, quando a pandemia tiver sido superada, um robusto crescimento econômico. PODER: COMO O SENHOR AVALIA O DESEMPENHO DA EQUIPE ECONÔMICA ANTES E DURANTE A PANDEMIA? RAUL VELLOSO: Nada garante que o que o ministro Paulo

Guedes estava fazendo antes da pandemia era o que precisava ser feito. O pior é que as chances de ele aprovar [no Congresso] o que pensava eram muito baixas. A criação do Ministério da Economia foi o primeiro grande erro do [presidente] Bolsonaro. Magnificou a probabilidade de erro. Juntaram tudo e aquilo se tornou uma coisa grande, errada e ruim. Salvo a Reforma da Previdência, que já vinha sendo discutida, não havia um ambiente preparado para implementar aquelas mudanças radicais que o ministro queria. Por isso, quando veio a pandemia foi fácil dizer que ela não deixou as outras reformas serem aprovadas e o crescimento mais vigoroso acontecer. Na gestão Bolsonaro,


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Paulo Guedes não compreendeu a natureza da situação emergencial que estávamos vivendo. Ele não queria cuidar da pandemia, foi o Congresso que reagiu. Ao ser chamado na Câmara, informou que pretendia gastar entre R$ 3 bilhões e R$ 5 bilhões para aniquilar a pandemia. Hoje já gastamos quase R$ 500 bilhões. Pressionado, Guedes queria conceder um auxílio emergencial de R$ 200. O Congresso elevou para R$ 500 e o Bolsonaro fixou em R$ 600, para tentar recuperar o protagonismo político. PODER: QUAL O IMPACTO DO CONJUNTO DAS MEDIDAS COMPENSATÓRIAS QUE EVENTUALMENTE FORAM ADOTADAS? RV: O FMI, o Banco Mundial e todos estavam projetando

uma queda do PIB no ano passado de 9%. Virou 4,5%. A julgar por isso, vamos mostrar um desempenho melhor do que esperavam. Ninguém imaginava que o Brasil, na situação fiscal que estava, fosse se dispor a gastar muito para fazer o que fez. É que as forças políticas no país são atuantes e o governo Bolsonaro politicamente fraco, não conseguia impor nenhuma política. O Paulo Guedes não conseguiu fazer nada a não ser tocar mais ou menos a Reforma da Previdência, que na verdade foi tocada pelo Congresso. Ele entrou de carona, com o agravante: sequer fez que ela valesse automaticamente para estados e municípios, onde o problema previdenciário é maior. E sobre o auxílio emergencial vemos que a situação hoje é pior do que em 2020. Os depoimentos das pessoas que atendem na área de assistência médica são de chorar. Não dá mais para R$ 300, vão ter que fazer algo como R$ 450.

PODER: E AS CONTAS PÚBLICAS AGUENTAM ESTE AUXÍLIO EMERGENCIAL ADICIONAL? RV: Aguentam. Tivemos por muito tempo resultados fiscais

até razoáveis, com superávit primário positivo e déficits nominais não tão altos. Isso mudou uns cinco ou seis anos antes da pandemia por três motivos: gastos previdenciários crescentes, subida da Selic (taxa básica de juros) e a queda do PIB, que puxou para baixo a arrecadação. A arrecadação deverá ficar no nível do ano passado. A previdência continua mal. Os principais estados e municípios continuam quebrados do mesmo jeito. É importante registrar que no ano passado a situação se deteriorou, a Selic desabou e não aconteceu nada de ruim. A Selic está hoje a 2%, quando há pouco já esteve a 14%. PODER: O BC CONSEGUE MANTER A SELIC NESSE PATAMAR? RV: Temos próximo de US$ 400 bilhões de reservas

internacionais no BC. Se você gastar (para proteger os juros baixos) US$ 100 bilhões, ainda ficará com US$ 300

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bilhões. Na verdade, você pode ficar com bem menos do que US$ 300 bilhões. Esta é uma das grandes vantagens do Brasil: não dependemos do exterior para financiar a dívida pública. É o oposto da Argentina. Não precisamos bater na porta do FMI para pegar dólar para rolar a dívida. A dívida pública brasileira é toda em reais. Se [o BC] torrasse US$ 100 bilhões de reservas, com dólar a R$ 5, teríamos R$ 500 bilhões. Não estou dizendo que vamos fazer isso deliberadamente. Mas suponha que a gente perca US$ 100 bilhões, se muita gente estiver abandonando o Brasil. Sabemos que não precisa disso para gerir as contas externas, que vão superbem. Veja a produção agrícola, as exportações. A demanda externa por alimentos continua. PODER: A BOA SITUAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES AGRÍCOLAS NÃO PODE SER PREJUDICADA PELA HOSTILIZAÇÃO DA FAMÍLIA BOLSONARO À CHINA, QUE PODE VIR A INCENTIVAR O PLANTIO DE SOJA EM OUTROS PAÍSES? RV: Não dá tempo, o Bolsonaro sai antes de conseguir

fazer isso. Não me preocupo com essa possibilidade. O Brasil pode emitir muito mais moeda do que se imaginava. Estudos do Jason Furman e do Larry Summers, macroeconomistas de peso nos EUA, na linha da Modern Monetary Theory (MMT), demonstram isso. Furman disse que a questão de que mais se arrependia na vida era o fato de que defendia há muito tempo a redução da razão entre a dívida pública e o PIB. Eles descobriram que nós estávamos usando um conceito errado, porque não se pode comparar um estoque, que é a dívida, com um fluxo, que é o PIB. Estou dizendo que o aumento da razão dívida-PIB (para 100%, como pode acontecer com o forte aumento dos gastos públicos) não é motivo para parar de dormir. PODER: O BRASIL NÃO EMITE MOEDA FORTE. A SUA AUTONOMIA MONETÁRIA, PORTANTO, NÃO É RELATIVA? RV: O Brasil hoje é uma potência em moeda forte

estrangeira, sem emitir uma, e está caminhando para um dia se tornar um país de moeda forte. Mas ele já é uma potência porque ainda tem quase US$ 400 bilhões de reservas no caixa. Não tem dívida externa pública e tem uma máquina de fazer dólar que cada ano aumenta mais, que é a indústria do agronegócio, com os portos e com as ferrovias que estamos adicionando a cada ano. PODER: O SENHOR DIZ QUE NÃO DEVERÍAMOS ESTAR PREOCUPADOS COM A RAZÃO DÍVIDA-PIB SUBIR PARA 100% EM FUNÇÃO DAS POLÍTICAS ADOTADAS DIANTE DA PANDEMIA? RV: Sim. Temos que ter o PIB crescendo mais do que a taxa

de juros real. Emergencialmente [é necessário que] aumente


a razão dívida-PIB e na hora que a emergência passar você começa a trabalhar para a razão da dívida-PIB cair. O que não é difícil, porque a taxa de juros real hoje é quase zero. É só não deixar a taxa de juros subir absurdamente. PODER: MAS QUEM VAI CONFIAR EM VIR PARA O BRASIL PARA REABRIR A FORD, POR EXEMPLO? RV: A Ford é outra história. A indústria não é prioridade para

o Brasil. Estamos sustentando uma indústria ineficiente há muito tempo e a nossa vantagem comparativa não é a indústria. Somos o país das commodities, dos recursos naturais, dos minérios. Essa que é nossa grande vantagem comparativa, que gera essas divisas. E do que a maioria dos países subdesenvolvidos morre de inveja. Quem tem proteção natural é o setor de serviços. Você não pode importar um aeroporto. Mas estamos na Idade da Pedra no diagnóstico e no conhecimento das coisas do Brasil.

PODER: O ECONOMISTA ANDRÉ LARA RESENDE ADVOGA QUE DÉFICIT PRODUZIDO POR INVESTIMENTO PÚBLICO BEM-FEITO É UM DÉFICIT, DIGAMOS, “SAUDÁVEL”. CONCORDA? RV: Sim. Mas não é que o déficit seja saudável, sou menos

radical. Onde tem oportunidade para investir associado ao setor público? O que podemos fazer para atrair esse

investimento? Se precisar emitir moeda para que isso aconteça, vamos emitir. Não há problema nenhum porque no fim vai gerar um resultado positivo de ganho de competitividade e produtividade, que compensa qualquer pressão em outro segmento que essa emissão fizer. PODER: MUITAS PESSOAS AVALIAM QUE TEREMOS AUMENTO DA INFLAÇÃO, DESEMPREGO E ATÉ MESMO RISCO DE CALOTE DA DÍVIDA PÚBLICA SE O CONGRESSO NÃO APROVAR REFORMAS QUE O GOVERNO PROPÕE. ISSO O AFLIGE? RV: Eles falam isso, mas ninguém comprova que vai

acontecer. Esse temor é um discurso que foi criado. Se acontecer essa premissa é preciso que alguém com dinheiro aplicado em título público resgate e fuja do Brasil. Mas ele vai perder, se fizer isso. Ameaçam, mas ninguém quer perder dinheiro. O Brasil não deve em dólar. Isso [risco de calote da dívida] é ameaça, é chantagem. Diante de pressão por aumento de juros o BC deveria apenas encurtar os prazos dos títulos.

PODER: E NÃO LHE PREOCUPA O ENCURTAMENTO DO PRAZO DA DÍVIDA? RV: Ele só me preocuparia se conseguisse estabelecer

que existe um elo entre isso e o aumento da taxa de

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{ { “Vou me preocupar porque o mercado está fazendo chantagem e querendo que as taxas de juros subam? Banana pra ele”

inflação. Elo este que não se estabeleceu em 2008. Os bancos centrais dos EUA e da Europa aumentaram a base monetária em mil por cento para socorrer os bancos. O que aconteceu com a inflação depois disso? Caiu. O encurtamento de prazo, o aumento dos títulos de curto prazo ou da base monetária na composição do setor público não causa inflação. Inflação não decorre do aumento do grau de liquidez dos ativos públicos. PODER: VOCÊ ACHA POSSÍVEL MANTER JUROS BAIXOS E RECUPERAR A CAPACIDADE DE INVESTIMENTOS PÚBLICOS? ESTAMOS CRIANDO BASES PARA UM CRESCIMENTO MAIS FORTE DA ECONOMIA BRASILEIRA? RV: Sim, a partir do momento que a gente se livrar da

pandemia. É preciso separar com nitidez a emergência do novo normal. Na emergência você só não pode matar a mãe, no mais tudo é permitido. Você faz o que for preciso para evitar a morte. O que está em jogo hoje é morrer muito mais ou emitir moeda. Eu prefiro emitir moeda. Ou as pessoas acham que com essa segunda onda da pandemia a economia brasileira vai “bombar”? Não vai. Não temos um programa de vacinação de qualidade, vamos ter um ano muito difícil. Nós precisamos gastar, não podemos deixar as pessoas morrerem. Por enquanto elas estão morrendo nos hospitais de Manaus, daqui a pouco vão morrer nos hospitais dos estados mais pobres. E depois as pessoas vão morrer nas ruas, porque elas não vão ter dinheiro para comer. Não pode faltar dinheiro para sustentar o sistema de saúde, nem para as pessoas comerem. É tão simples quanto isso. No ano que vem faremos um balanço. Até lá

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não quero saber de novo normal. Vamos emitir moeda, financiar os auxílios, financiar os hospitais. A economia, coitada, vai funcionar aos trancos e barrancos. Não há como ela funcionar bem em um quadro de calamidade. PODER: O QUE VOCÊ ACHA DAS DEMANDAS POR AUMENTO DAS TAXAS BÁSICAS DE JUROS? RV: Eu vou me preocupar porque o mercado financeiro

está fazendo chantagem e querendo que as taxas de juros subam? A gente emite moeda e dá uma banana para o mercado financeiro. Desculpe a indignação, mas não tem outro jeito.

PODER: QUAL SUA PREVISÃO PARA O CRESCIMENTO DO PIB? RV: Impossível estimar. Ao comparar a média das previsões

com a do ano passado, dá um carry over de 2,5%. Mas se a pandemia vier com muita força, até que as vacinas façam efeito, ao invés de ter o carry over poderemos ter o “carry down”. Podemos voltar a próximo de zero.

PODER: DURANTE O GOVERNO GEISEL, O II PND (PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO) DO SEU IRMÃO, JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO (MINISTRO DO PLANEJAMENTO NA ÉPOCA), ENFATIZAVA UMA POLÍTICA ECONÔMICA DE ESTÍMULO A INVESTIMENTOS NA INDÚSTRIA. ELE NÃO PENSAVA NA AGRICULTURA, COMO VOCÊ ESTÁ PROPONDO. RV: Pensava sim. Convivi tanto com ele que estou pensando

em recuperar a visão que tinha. Sobre a indústria, tinha uma atenção especial, mas não para dar uma proteção forte. O BNDES foi o grande financiador da siderurgia, que não era indústria de transformação. Fertilizantes e defensivos agrícolas estavam no II PND. A justificativa era economizar divisas, esses programas eram destinados a substituir as importações. A grande preocupação dele era o Brasil não ter dólares. Hoje não precisamos nos preocupar tanto porque o agronegócio tomou conta, mas sua grande fixação era resolver o problema da escassez de divisas. PODER: O FATO DE O BRASIL HOJE NÃO TER PROBLEMA DE DIVISAS É O QUE O FAZ SER DIFERENTE EM RELAÇÃO A 1980? RV: Em 1982, o Paul Volcker [presidente do FED dos

EUA] levou a taxa de juros acima de 20% e o Brasil não tinha um tostão no caixa, zero. O Langoni, presidente do BC, ficava na agência do Banco do Brasil em Nova York nos piores dias da crise de liquidez no telefone pegando dinheiro no overnight para fechar o overnight do Brasil. Hoje tem quase US$ 400 bilhões de reservas e não tem um tostão de dívida pública em dólar. Então temos que dar banana para o mercado financeiro quando ele quiser fazer chantagem. n


MEU PRESI DENTE

INESQUECÍVEL POR NEY FIGUEIREDO ILUSTRAÇÃO DAVID NEFUSSI

FOTOS GETTY IMAGES; FREEPIK

D

ois dias após a posse de Itamar Franco em substituição a Fernando Collor, recebi um telefonema do senador Albano Franco, então presidente da CNI (Conf. Nac. da Indústria), pedindo que procurasse Henrique Hargreaves, chefe da Casa Civil da Presidência da República, um velho conhecido. Como consultor da CNI cabia a mim coordenar as pesquisas de opinião realizadas pela entidade para seu uso próprio e, também, servir aos poderosos de plantão. Assim que comecei a ler o esboço do questionário, Augusto Marzagão, secretário de Comunicação da Presidência, conhecido pelos Festivais Internacionais da Canção, interrompeu-me: “Pode parar. Itamar vai achar esse questionário um desrespeito”. Tentei argumentar que havia seguido um caráter absolutamente técnico, a exemplo do que havia feito para outros ocupantes do Planalto. Marzagão, de quem me tornei amigo, disse que não duvidava da minha competência profissional, mas que precisávamos fazer duas pesquisas: uma contendo as perguntas aceitáveis para Itamar e outra com as questões corretas. Depois do susto, vi que teria uma pedreira pela frente. De outra feita quem me acionou foi Mario Amato, presidente da Fiesp.

OPINIÃO

Queria que, na qualidade de secretário-geral do Fórum Informal de Empresários, eu reunisse um grupo representativo para uma audiência com o presidente. Convoquei figuras de diferentes setores da economia. A missão era sugerir o nome do presidente Albano Franco para um ministério. Itamar, após ouvir a exposição de Mario Amato, respondeu: “Gosto muito do Albano, mas a família Franco já está representada no meu governo”. Surpreso Albano perguntou: “Mas como, presidente?”. “Acabei de nomear sua mulher, Leonor, para o Ministério do Bem-Estar Social”, respondeu Itamar. Albano quase caiu da cadeira. Gestos como esse se multiplicavam no dia a dia. Uma vez fui incumbido de convidar para o Ministério da Cultura o empresário e intelectual José Mindlin, que declinou do convite. Itamar era totalmente imprevisível. Certa feita participei de um almoço em Portugal a convite de Jorge Bornhausen, então embaixador do Brasil em terras lusitanas. Presentes, entre outros, Almeida Braga, o Braguinha, e um oficial do Exército português, que

servia de assessor e motorista na embaixada. Lá para as tantas, depois de algumas garrafas de vinho, o sujeito começou a contar histórias de Itamar quando embaixador. Uma delas dava conta que um dia Itamar faltou a um compromisso oficial sem dar explicações. Foi uma correria na embaixada e só mais tarde descobriu-se que tinha ido ao cinema com a namorada. Por diversas vezes FHC disse-me que lhe tinha grande respeito, mas achava que os amigos tratavam-no como se fosse uma criança mimada, o que as vezes ele era, como quando cismou que a Volkswagen tinha que trazer o “fusquinha” de volta. Itamar Franco talvez tenha sido o nosso presidente mais desequilibrado, mas não podemos esquecer suas virtudes de homem simples, honesto e bem intencionado. O Brasil lhe deve parte dos méritos na criação do Plano Real, que derrubou a nossa inflação secular. n Ney Figueiredo é consultor político e cientista social. Escreveu diversos livros, entre eles Diálogos com o Poder (ed. Cultura).

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CONJUNTURA

ALUGA-SE

UM PAÍS Saída da Ford e declaração de Bolsonaro de que o Brasil “está quebrado” colocam em dúvida viabilidade econômica do gigante eternamente adormecido. Mas muita gente acha que não é bem assim POR PAULO VIEIRA ILUSTRAÇÃO DAVID NEFUSSI

FOTO GETTY IMAGES

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or pouco não foi “just in time”. Na primeira terça-feira do ano, voltando de férias onde aglomerou na Praia Grande e divertiu-se no gramado da Vila Belmiro, em Santos, Jair Bolsonaro disse que o Brasil estava “quebrado”. Seis dias depois, a transnacional Ford, presente no Brasil há um século, anunciou que fechava suas unidades fabris, desempregando 5 mil funcionários no país e em outros territórios vizinhos. Mesmo para o repertório incomum do presidente, declarar que o país que dirige está quebrado é uma extravagância. Pouco adiantou dizer, na manhã seguinte, que o Brasil estava “uma maravilha” e responsabilizar outra vez a imprensa pelos problemas nacionais. O comunicado da montadora dias depois veio dar-lhe alguma razão. Na opinião do ex-presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, o fechamento da Ford demonstrou a “falta de credibilidade do governo brasileiro, de regras claras, de segurança jurídica e de um sistema tributário racional”. Mas nem todos os empresários, dirigentes e pensadores do país viram no bye, bye da Ford, justamente a empresa que criou o modelo de produção dominante na primeira metade do século 20 – e que virou até substantivo, o “fordismo” –, uma demonstração cabal de que o Brasil trança as pernas. PODER JOYCE PASCOWITCH 27


Se houve quem se apressou a identificar no “custo Brasil”o vilão de sempre, análises menos alarmistas colocaram em perspectiva a profunda transformação por que vem passando a indústria automobilística mundial, com a necessidade de grandes investimentos para fazer frente à eletrificação de motores e à concorrência dos novos players, como a Tesla, uma das empresas de maior valorização em 2020. Além disso, havia a perda de competitividade da própria Ford no Brasil, que viu sua participação de mercado refluir significativamente desde os anos 1990. A montadora fabrica aqui automóveis de entrada, como se diz no mundo automotivo, com margens de lucro reduzidas, que exigem vendas massivas para custear esse modelo, o que, evidentemente, não vem acontecendo. Assim, à despeito de todas as dificuldades sempre elencadas pelo empresariado para produzir no Brasil – Rodrigo Maia voltou a usar a expressão “manicômio fiscal”, ecoando

A perda de terreno do Brasil em relação a esses países emergentes é endossada pelos economistas. Sempre tomando como base o PIB per capita americano, o poder de compra de um brasileiro correspondia a 40% em 1980 e hoje caiu para pouco mais de 25%; nos mesmos períodos, o PIB per capita chinês passou de 2,5% para 28,9%, e o coreano, de 17,5% para 66%. Trata-se do que o economista Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, chamou, utilizando uma palavra um tanto fora de moda e que evoca tempos muito sombrios do país, de um sintoma de “subdesenvolvimento”.

GRANDE FAZENDA

Diretamente atingido pela decisão da Ford, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), lamentou a decisão da montadora, cuja principal fábrica no Brasil fica em Camaçari, a cerca de 50 quilômetros de Salvador. “O

‘‘Não dá para fazer tudo, é preciso descobrir a própria vocação. O Brasil leva vantagem por ser grande, ter uma enorme população, cuja diversidade cultural só ajuda” o que dizia o ex-senador e farol do liberalismo brasileiro Roberto Campos --, não é hora ainda, aparentemente, de, como na música do Raul Seixas, “alugar o Brasil”. “Não dá para todos os países fazerem tudo”, disse a PODER Ricardo Bacellar, líder do setor de mercados industriais e automotivo da consultoria KPMG, apontando que é preciso entender – ou descobrir – a “vocação” do Brasil, e investir nela. “Como aconteceu aqui com a agricultura, que teve um salto de produtividade por conta dos aportes em tecnologia e da criação do Embrapa.” O consultor aponta que falta uma “política de estado”, uma visão que “transcenda os governos de turno, especialmente aqueles de vieses excessivamente ideológicos”, uma vez que não se desenvolve um setor “do dia pra noite”. “O Brasil leva uma vantagem por ser um país grande, de enorme população, cuja diversidade cultural só ajuda”, diz, mas ressalva que um certo trabalho de base precisa ser feito. “Quando somos comparados à China e à Coreia do Sul, que eram muito diferentes três décadas atrás, conseguimos ver que o nosso calo é a educação”, conta.

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que pensamos nos últimos cinco anos para aumentar o investimento em tecnologia e em industrialização? Nada. Estamos satisfeitos em nos tornarmos uma grande fazenda”, disse ao jornal Folha de S.Paulo, validando a declaração a PODER semanas depois. “O Brasil se tornou um país de alto risco.” Ter investido pesadamente em certos setores, como o da indústria naval, talvez sem entender direito a tal vocação apontada por Bacellar, da KPMG, é identificada por muitos como uma das grandes razões de o Brasil sustar sua trajetória de crescimento e embicar numa espiral de más notícias e débâcle econômica. Para o superintendente de inovação e mercados do Ibre, Pedro Guilherme Ferreira, que concorda com a busca da vocação – ou “vantagem comparativa”, como prefere –, o primeiro trabalho a ser feito, como disse a PODER, é “desanuviar” ou “limpar” o ambiente tributário hostil brasileiro, com impostos que se sobrepõem e incentivos que mudam de acordo com estados e setores. O economista Samuel Pessôa, também da FGV, crítico

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Ricardo Bacellar, KPMG


O governador Rui Costa, para quem o Brasil virou uma “grande fazenda”, manifestação na Ford, Bacellar, da KPMG, e Ferreira, do Ibre, que quer reforma tributária

agudo da tentativa de dirigir a economia dos anos Lula-Dilma, vê enormes deficiências no setor automotivo brasileiro, cujo nível de utilização de capacidade de produção instalada, segundo dados citados pelo acadêmico em artigo intitulado “Crônica de uma morte anunciada”, também na Folha, caiu de 83% dos primeiros 13 anos deste século para 70% entre 2014 e 2020. Pior, a proteção ao setor chegou a ser de 200%. “Se uma indústria precisa de 100%, 200% de proteção para se manter competitiva, há grave problema estrutural.” Para o economista, “ao tentarmos fazer tudo, acabamos fazendo tudo muito mal”. Ainda que a crise da Covid-19 possa ser evocada como justificativa, o investimento estrangeiro no setor produtivo brasileiro em 2020 caiu à metade, para cerca de US$ 34 bi, em relação a 2019, segundo dados divulgados pelo Banco Central. O montante já foi quase o triplo disso em 2011. O movimento do capital foi claramente de fuga em 2020, o que vai de encontro ao que sugere

a música de Raul Seixas, que fala que os brasileiros devem “dar lugar para os gringos entrar”. A visão entreguista de Seixas, uma sátira do compositor que talvez só os Chicagoboys endossem, não é, obviamente, a solução. A boa notícia, e ela pode inclusive ser encontrada na própria indústria automotiva brasileira, é que há gente que vê espaço no Brasil para produzir os lenços que enxugam as lágrimas proverbiais dos céticos. O presidente da Volkswagen Brasil, o argentino Pablo de Si, revela que parte dos US$ 70 bi que a montadora alemã irá investir nos próximos anos em carros elétricos e híbridos será destinada ao Brasil. Ele já vê um crescimento da indústria automotiva brasileira em 2021 de 15% a 20% em relação a 2020 e, mais do que isso, acredita que o país pode assumir um papel de vanguarda mundial no uso do etanol – uma alternativa à geração de eletricidade por fontes poluidoras como o carvão. Bacellar, da KPMG, é um entusiasta desse caminho e relata que o Brasil já desenvolve em São Paulo uma geração de etanol capaz de decuplicar o rendimento do combustível hoje vendido nas bombas. “Temos um potencial gigantesco.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 29


PSIQUE

CRER PARA VER

FOTO MARCELO HALLIT/DIVULGAÇÃO CASA DO SABER

Mesmo depois de um ano desafiador, em que a saúde mental se tornou tão incerta quanto o nosso futuro, o psiquiatra Rodrigo Bressan, presidente do Instituto Ame Sua Mente, responde as questões que não saem da nossa cabeça com esperança para 2021. “Temos que procurar cenários positivos e ter objetivos claros de como persegui-los” POR FERNANDA GRILO

A

s doenças mentais devem atingir até 25% da população mundial em um horizonte próximo. Apesar disso, o entendimento e a normalização dessas patologias ainda estão longe do ideal, tanto pela classe médica quanto pela sociedade. Em um momento tão desafiador, ainda é possível ser uma pessoa esperançosa e manter a cabeça em ordem? O psiquiatra Rodrigo Bressan, Ph.D. pelo King’s College London, professor da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e presidente do Instituto Ame Sua Mente, que estuda como a esperança atua na prevenção, tratamento e até cura de transtornos mentais, conta qual a diferença entre ter otimismo e esperança, ainda mais agora com as questões que nos rodeiam como pandemia, vacina, crise econômica, instabilidade política, trabalho, família, administração do tempo e saúde mental – nunca nos preocupamos tanto com ela. Isso tudo somado à mudança radical na rotina e nos hábitos – imposta pela proliferação da Covid-19 – que fez com que o mundo tivesse que aprender a lidar com situações completamente desconhecidas, o que aumentou a pressão diante da dúvida. “A saúde mental entrou pela porta da frente na pandemia porque 100% das pessoas tiveram que lidar com a ameaça à vida, incerteza do que vai acontecer e muito mais. Os hábitos e a rotina foram tirados de nós, e isso é o que mais protege a saúde mental, pois não precisamos ficar gastando cérebro, ele já vai no automático”, explica o psiquiatra, e afirma que, por outro lado, são nesses casos que a criatividade floresce: “As pessoas se veem sem saída e aí vem a criatividade para mudar isso, a racionalidade permite a criatividade”, diz.

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Outro ponto importante do trabalho realizado por Bressan é levar o conhecimento para diminuir o preconceito contra as enfermidades do cérebro, tanto que recebeu a medalha do Mérito Legislativo (a mais alta comenda da Câmara do Deputados) pelo projeto de educação em saúde mental


“A saúde mental entrou pela porta da frente na pandemia porque 100% das pessoas tiveram que lidar com a ameaça à vida” nas escolas. “Muitos médicos ainda têm preconceito com doenças mentais e isso leva, mesmo que sem querer, uma desesperança aos pacientes, que não falam, mas enxergam e percebem”, explica o psiquiatra, que ressalta: “O corpo fala”. Para esclarecer os temas da atualidade que não saem da nossa cabeça, como um futuro melhor, o fim da pandemia, doenças mentais, gatilhos, redes sociais e até Síndrome de Burnout, o médi-

co responde a PODER que é possível manter a esperança, mesmo diante do cenário catastrófico. PODER: EXISTE DIFERENÇA ENTRE OTIMISMO E ESPERANÇA? RODRIGO BRESSAN: O otimista tem a crença de que vai

dar tudo certo, já o esperançoso sabe que tudo pode dar certo, mas também pode dar errado, e porque tem esperança procura caminhos para que dê certo e mantém a tenacidade para chegar lá. Para diferenciar: PODER JOYCE PASCOWITCH 31


o que tem muito otimismo é aquele que corre o risco de achar que não vai chover e tomar chuva, já quem tem esperança pensa que não vai chover, mas leva o guarda-chuva para caso apareça uma situação difícil. Para lidar com a realidade, uma atitude esperançosa é muito mais inteligente e com melhores desfechos do que simplesmente ser otimista de “oba-oba”. E o que acontece com relação às doenças psiquiátricas é que muitos médicos ainda têm preconceito e isso leva, mesmo que sem querer, uma desesperança aos pacientes, que não falam, mas enxergam as reações.

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PODER: É POSSÍVEL COBRAR ESPERANÇA NESTE MOMENTO QUE A HUMANIDADE ATRAVESSA? RB: Agora é a hora de cobrar esperança. Temos que procurar

cenários positivos e ter objetivos claros de como persegui-los. Lógico que para ter esperança não basta acreditar que não será infectado pelo coronavírus e sair por aí achando que está tudo bem. É preciso saber que você pode pegar o vírus e saber como lidar da melhor maneira com essa possibilidade.

PODER: E ESPERANÇA EM UM MUNDO MELHOR, NÓS PODEMOS TER?

FOTO MARCELO HALLIT/DIVULGAÇÃO CASA DO SABER

“Agora é a hora de cobrar esperança. Temos que procurar cenários positivos e ter objetivos claros de como persegui-los”


RB: Certamente. A gente se levanta pela manhã para construir alguma coisa melhor, não simplesmente para sobreviver. Todos nós podemos contribuir. A principal literatura de esperança está em pessoas com câncer terminal, que mesmo sabendo da finitude entendem que podem acrescentar algo no mundo e deixar uma contribuição. É absolutamente chave ter esperança. PODER: QUAIS SÃO AS DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS HOJE MAIS DESAFIADORAS PARA A MEDICINA? RB: Certamente, os transtornos bipolares são

muitos desafiadores, principalmente a depressão bipolar em que existe o risco de suicídio. A esquizofrenia também representa muito obstáculos, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) quando grave e as depressões agudas que, dependendo do grau, podem ser muito difíceis de tratar. PODER: COMO É POSSÍVEL PERCEBER A CHEGADA DE UMA CRISE DE ANSIEDADE? RB: A grande definição de transtorno é a

incapacidade de superar uma situação. Porque é preciso explicar que alguns momentos do nosso cotidiano naturalmente nos deixam mais ansiosos, ou mais para baixo, mais down. Eles fazem parte. Mas, quando são proporcionais ao estímulo está tudo bem, não é crise. Porém, quando a situação se estende e você não consegue sair dela, aí sim é preciso buscar ajuda de um profissional e fazer um diagnóstico mais preciso.

PODER: QUE TIPO DE GATILHO DEVEMOS EVITAR PARA MANTER A SAÚDE MENTAL? RB: Não evitamos os gatilhos por definição, o

que existe são situações de estresse que vêm por aí. O autoconhecimento é o principal aliado para entender onde a pessoa vai bem ou mal, que situações estressam muito e assim conseguir entender o próprio caso e criar uma estratégia individual de defesa. PODER: SOBRE O USO DAS REDES SOCIAIS: QUAIS SÃO OS PROBLEMAS CAUSADOS NO BEM-ESTAR DA HUMANIDADE? RB: São muitos. Aumento do consumo de tempo,

com a diminuição de tempo ocioso, dependência e, como consequência, piora da autoestima e redução do espectro de pessoas com quem convive. Ainda não está claro para a ciência se as mídias sociais levam à depressão ou são resultado da depressão. Um estudo do qual eu participo sugere que quem está deprimido usa mais rede social e não que a rede social causa mais depressão, pelo menos é o que apontam os dados iniciais. PODER: COMO SERÁ A PÓS-PANDEMIA COM RELAÇÃO À SAÚDE MENTAL? RB: Teremos uma pandemia de saúde mental, que

já começou. O que acontece é que entramos nela ao mesmo tempo em que estamos vendo aumentar a onda infecciosa da Covid-19. Lá na frente, certamente essa pandemia será um dos nossos maiores desafios.

Pelo trabalho de educação e combate ao estigma, Rodrigo Bressan recebeu recentemente a medalha do Mérito Legislativo – a mais alta comenda da Câmara dos Deputados do Brasil – com a publicação de Saúde Mental na Escola – O que os Educadores Devem Saber. Como diferenciar transtornos mentais, como o transtorno de déficit de atenção, de características do desenvolvimento normal, como agitação? Essa e outras questões são respondidas por Bressan no livro escrito em parceria com o também psiquiatra Gustavo M. Estanislau. “O objetivo não é fazer com que os professores deem um diagnóstico psiquiátrico, mas que estejam bem informados”, explica Bressan.

PODER: E COMO MANTER A MENTE SAUDÁVEL NESTE MOMENTO TÃO DIFÍCIL? RB: Cuidar da mente é como cuidar do

coração. Você precisa se alimentar bem, fazer atividades físicas – 100% dos meus pacientes saem do consultório com prescrição de atividade física cinco vezes por semana –, cultivar os relacionamentos e dormir bem. E mais: desfrutar de momentos fora do trabalho; é legal trabalhar com o que a gente gosta, mas a vida não pode se resumir a isso. E, para finalizar, evitar álcool e drogas. Essas são algumas das chaves para manter a mente saudável. n PODER JOYCE PASCOWITCH 33


C-LEVEL

EU SOZINHO LTDA.

A pandemia colocou a saúde mental no centro do mundo corporativo, que se preocupa cada vez mais em criar ambientes saudáveis para seus colaboradores. Agora chegou a vez de os líderes e CEOs mostrarem que não são super-heróis e também se sentem vulneráveis

ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES

POR NINA RAHE


uando era CEO da Nextel, cargo que ocupou por seis anos, Sérgio Chaia costumava viajar duas vezes por ano para visitar as 40 filiais da empresa de telefonia. Na viagem que durava cerca de duas semanas e incluía duas cidades a cada dia, ele e o vice-presidente da companhia assumiam uma rotina pesada com reuniões matutinas e vespertinas, além de almoços e jantares com equipes que chegavam a reunir 200 pessoas. “Era quase uma campanha política. E enquanto para os colaboradores aquela era a primeira reunião do dia, para mim era o vigésimo encontro e precisava me comportar como se fosse o primeiro”, lembra

Chaia. “Havia um consumo de energia brutal e a intenção era aprender, trocar, motivar. Por isso, se eu fizesse de forma protocolar, o efeito seria justamente o contrário.” Para aguentar a empreitada, ele investiu em um combo de atividades, que incluíam alimentação saudável, meditação e exercícios físicos. “Era algo muito estruturado, com consciência de que era preciso gerar energia para poder dar aos outros mais energia”, explica. Sua estratégia, inclusive, era fazer academia de forma fracionada, meia hora pela manhã e meia hora durante a tarde, o que o ajudava a recarregar

os ânimos para mais uma bateria de encontros e reuniões. “Eu tinha essa preocupação porque via como um ciclo. Se você está bem e feliz, irá trabalhar melhor, gerar mais resultados, sua empresa irá crescer e dará oportunidade para o colaborador crescer também”, relembra. “Como CEO, você se impõe uma obrigação de ser uma referência para os colaboradores, de resiliência, inspiração, mas essa imposição logicamente traz um custo.” Nessa época, entre 2006 e 2012, pouco se ouvia falar de saúde mental dentro das companhias. Algo que mudou drasticamente com a Covid-19. De acordo com Daniela Diniz, diretora de conteúdo e relações institucionais da Great Place to Work (GPTW), até pouco tempo atrás não havia referência ao tema nas pesquisas desenvolvidas por eles – uma consultoria global que apoia organizações a serem melhores lugares para trabalhar. “Tínhamos pouquíssimas citações, a expressão saúde mental era inexistente no nosso banco de dados, e agora observamos que houve um boom a respeito”, diz. O aumento é visível na recém apresentada Pesquisa de Tendências de Gestão de Pessoas 2021, realizada no ano passado com 1.704 participantes, na qual o tópico “criar programas e benefícios voltados para a saúde mental” apareceu em quarto lugar entre as 13 opções destacadas como principais desafios relacionados à gestão

de pessoas na pandemia, perdendo apenas para “flexibilizar a estrutura do trabalho home office, horário flexível, modelo de trabalho híbrido etc.”; “fazer uma comunicação interna eficiente (tanto do RH quanto entre a equipe)”; e “criar a mentalidade digital entre a liderança”. A quarta posição no ranking foi tanto para os colaboradores como para a liderança, que esteve representada nas respostas de 355 participantes, entre diretores, CEOs, presidentes e C-Levels – a saúde mental também figurou em quinto lugar na resposta referente aos principais temas de gestão de pessoas a serem trabalhados em 2021. Entre outras questões levantadas, 71% respondeu que as lideranças são fundamentais no rastreio e promoção de saúde mental entre suas equipes. “A responsabilidade recai sobre o líder, mas não vi nenhum lugar colocando a lupa nele, embora a gente saiba que as lideranças foram alvo de estresse gigantesco porque tiveram que aprender a coordenar e liderar equipes de forma totalmente diferente”, explica a diretora da GPTW. “Um ponto importante é que a


‘‘O funcionário de base pode falar dos seus problemas, mas existe um freio maior na medida em que a pessoa sobe na hierarquia da empresa”

pandemia colocou esse tema de forma mais leve, e isso foi um ganho, porque ainda há um peso em falar de saúde mental dentro do trabalho e imagina então falar disso em relação à liderança, que precisa se mostrar forte e ser o exemplo.” Para o psiquiatra Wagner Gattaz, presidente do conselho diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e CEO da Health & Results, empresa que oferece programas de saúde mental corporativa, a alta demanda de trabalho pode ser combatida em três dimensões, que visam aumentar a autonomia do funcionário, trabalhar em um programa de comunicação positiva, com sentido colaborativo e construtivo, e criar uma rede de apoio no ambiente corporativo. “Essas são as três maiores armas que nós temos para enfrentar o estresse pelo excesso da demanda”, explica. Ele ressalta, no entanto, que um dos preços que se paga pelo sucesso é a solidão. “Enquanto o funcionário de base pode falar dos seus problemas, existe um freio muito maior na medida em que a pessoa sobe na hierarquia.

É claro que a nossa rede de apoio social é formada pelos nossos pares e, na base, a rede é maior do que no topo da pirâmide.” Nos cursos oferecidos pela Health & Results, o foco está em colocar os líderes em condições de detectar o momento e a hora em que precisam de ajuda, assim como torná-los hábeis na promoção da saúde dos colaboradores. A companhia também realiza programas antiestresse que procuram aumentar a capacidade de resiliência, com técnicas de relaxamento e mindfulness. “O líder é ensinado a perceber que não é um super-homem, mas que continua sendo um ser humano, com forças e fraquezas”, finaliza Gattaz. Entender que os líderes são também humanos tem sido um processo contínuo dentro do mundo corporativo. Tanto para eles como para os seus colaboradores. “A pandemia trouxe a absoluta falta de controle que nós temos do mundo e os CEOs têm um perfil eminentemente controlador. Saber lidar com o descontrole para quem é controlador é duríssimo e por isso é fundamental achar fóruns ou espaços para refletir e agir. Porém, acho difícil que seja de forma institucional, porque há coisas que eles não podem falar com chefes, colaboradores, ninguém”, ressalta Sergio Chaia, que desde 2017 abandonou o C-Level para atu-

ar como coach e mentor de CEOs. “O grande aprendizado que a pandemia trouxe é ‘não se agarre à sua autossuficiência’, porque ela já não é mais suficiente. Se abrir para ser ajudado não é mau, pelo contrário, fará até que o CEO tenha uma performance melhor”, conclui. Quando foi convidada para realizar um workshop sobre as novas relações de trabalho, em novembro passado, Daniela Diniz pesquisou alguns cases de saúde mental para apresentar a cerca de 100 lideranças. A empresa de biotecnologia Roche Genentech, por exemplo, produziu vídeos em que líderes falavam sobre sua saúde mental. As pílulas foram compartilhadas na intranet da companhia como parte de uma campanha chamada #Let’sTalk. A ideia era que, quando os gerentes descrevem seus desafios, sejam eles relacionados à saúde mental ou não, eles parecem humanos, relacionáveis e corajosos. Na EY, empresa multinacional de consultoria e auditoria, que lançou em 2016 o programa We Care com o objetivo de reduzir o estigma da saúde mental, os líderes frequentemente compartilham suas histórias, falando inclusive sobre como enfrentaram casos de ansiedade e depressão. CEO da empresa global de saúde Novo Nordisk no Brasil, Allan Finkel tem aderido à mesma prática. Além

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Wagner Gattaz, presidente do conselho diretor do Instituto de Psiquiatria do HC e CEO da Health & Results


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1. Allan Finkel, CEO da Novo Nordisk no Brasil; 2. Daniela Diniz, diretora de conteúdo e relações institucionais da Great Place to Work, 3. Sergio Chaia, ex-CEO da Nextel e atualmente coach de CEOs

de participar de grupos de discussão com presidentes de outros setores, ele produz semanalmente vídeos para compartilhamento interno, nos quais conta como foi sua semana de trabalho e fala com franqueza sobre suas incertezas e preocupações. A solução para períodos difíceis, segundo ele, é sempre a comunicação, o que o ajudou até mesmo a enfrentar, como porta-voz de uma empresa em que trabalhou no passado, um período em que a companhia precisou superar uma crise de imagem associada à questão ambiental. “Acredito muito que o executivo deve mostrar sua vulnerabilidade, porque não existe executivo perfeito. Em algumas empresas, os líderes têm medo de se abrir e perder o respeito, mas acho que é importante criar um ambiente de transparência, onde as pessoas vejam que existem líderes, presidentes e CEOs, mas são todos seres humanos”, diz Finkel. n


VAI DAR BOM

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21 motivos para acreditar que 2021 vai valer a pena

Temos vacina. Se em 2020 fomos surpreendidos pela chegada da Covid-19, começamos este ano com a esperança de ver o início do controle da pandemia

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A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) anunciou no fim do ano passado o pagamento de diárias iguais para homens e mulheres na seleção Canarinho

Com o isolamento social, descobrimos o que realmente precisamos para viver – e dá para viver com menos, de forma simples, exercendo o consumo consciente e repassando bens para quem mais precisa

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A Argentina legalizou o aborto no país, transformando-se na 67º nação a permitir a interrupção da gravidez – nesse caso, até a 14ª semana de gestação

No mundo, as infecções por HIV caíram 23% desde 2010 e o número de pessoas com acesso a tratamentos retrovirais triplicou

No Paquistão, a Suprema Corte aprovou uma lei declarando que um marido não tem direito sobre as propriedades de sua esposa sem o consentimento dela

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Um passo importante foi dado para a cura de pacientes portadores de HIV. Pela primeira vez no mundo, experimento de pesquisadores brasileiros da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) conseguiu eliminar o vírus do organismo de um paciente soropositivo por meio de medicamentos

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A perspectiva de ter um evento como a Olimpíada de Tóquio e toda a alegria que cerca o encontro dos principais atletas do mundo. É a esperança de ver o primeiro acontecimento global desde o início da pandemia

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Pela primeira vez uma mulher ocupa a cadeira da Vice-Presidência dos EUA. Kamala Harris, negra e asiática, filha de pais imigrantes, se tornou símbolo de um governo mais diverso e pautado na agenda da igualdade racial

A principal economia do mundo trocou seu comando com a saída de Trump e a chegada de Biden. Muitas das decisões do ex-presidente foram revogadas, como a construção do muro na fronteira com o México e a medida que proibia transgêneros no Exército


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O primeiro acordo de desarmamento nuclear em mais de duas décadas entrou em vigor no mês passado. O Tratado de Proibição de Armas Nucleares foi celebrado pela ONU e também pelo papa Francisco

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A pandemia fez com que os brasileiros praticassem mais a solidariedade, a empatia e incorporassem as doações no dia a dia

A sigla ESG já não é tão desconhecida como no ano passado, o que garante um ambiente corporativo mais favorável e dá uma sobrevida ao planeta Terra, que anda tão castigado

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Vegetarianos já são quase 30 milhões no Brasil. Seja por amor aos animais ou por questões ambientais, há um crescimento volumoso no número de adeptos à dieta

O STF tornou inconstitucional a proibição de doação de sangue por homossexuais

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Honestidade cívica está em alta. Um experimento realizado em 40 países mostrou que a maioria das pessoas (72%) está disposta a devolver uma carteira perdida – especialmente se ela estiver cheia de dinheiro

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A política alemã para ajudar refugiados tem se mostrado relativamente exitosa. Em 2015, o país abriu suas fronteiras para 1,7 milhão de imigrantes. Hoje, mais da metade trabalha e paga impostos e 10 mil estão na universidade

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O debate racial não está mais restrito ao mês da Consciência Negra e a pauta, uma ferida aberta no Brasil, está na agenda de grandes empresas

O Quênia registrou recorde de nascimento de elefantes em 2020. Nas últimas três décadas, o número de animais, antes ameaçados de extinção, cresceu de 16 mil para 34 mil

Nos tornamos mais adaptáveis às adversidades, agora estamos mais preparados para enfrentar outros períodos desafiadores que possam vir

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Está mais próximo o momento de reencontrar os amigos e as pessoas queridas que ficamos um tempão sem ver

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TECHNICOLOR

A DONA DO ouve uma época em que o poder de Estrela no Vale do Silício, Dr. Dre comprada em 2014 pela Apple em um acordo de US$ 3 bilhões. Há algumas personalidades era medido com base na quantidade de pessoas viúva e poderosa: conheça quem diga que foi Bozoma que prepaa empresa para o “abate” da fabricujos destinos eram influenciados, de Bozoma Saint John, a rou cante do iPhone – que a contratou tão um jeito ou de outro, por suas decisões. Levando isso em conta nos dias atuais, executiva que escolhe o que logo o negócio foi efetivado. Estados Unidos é creditada dá para dizer que a executiva americana você assiste na Netflix porNosfazer uma ponte entre os inteBozoma Saint John é uma das mulheres resses daqueles que trabalham no mais poderosas do mundo. E, apesar disPOR ANDERSON ANTUNES Vale do Silício, a região do país que so, é possível que você nunca tenha ouconcentra as sedes das principais vido falar no nome dela. companhias de tecnologia, e os do Aos 44 anos e com uma trajetória digpúblico em geral, que ela entende como poucos. Consina de roteiro de filme hollywoodiano, Bozoma foi alçada derada uma das 100 pessoas mais criativas do mundo peao posto de chefe de marketing da Netflix (CMO) em jula revista Fast Company, adora participar de eventos nos nho do ano passado. E, no cargo, sua função é basicamente decidir o que os quase 183 milhões de assinantes que quais fala sobre suas estratégias e conquistas. Recentemente, ela lançou um evento virtual – o #Sharepagam pelos serviços da gigante do streaming devem asTheMicNow – no qual mulheres negras são incentivadas a sistir. De fato, não é para qualquer um. usar o Instagram para promover hits criados por artistas neCom mais de duas décadas de experiêcia na área, Bozogras. No primeiro ano, a iniciativa com pegada empoderama tem passagens de sucesso por outras grandes compadora rendeu mais de 17 bilhões de interações na rede social. nhias internacionais, como a Endeavor (onde dava expeDe certa forma, a contratação da CMO pela Netflix é um diente até ser contratada pela Netflix), além da WME, da sinal de uma tendência cada vez mais em alta entre os prinIMG, da UFC, da Professional Bull Riders, da empresa que cipais players do showbiz: foi-se a época dos executivos enadministra os concursos Miss Universo, e também da Uber gravatados que não sabem se comunicar com os próprios e da Apple Music. Considerada uma das maiores experts clientes e pensam apenas em satisfazer os acionistas. do mundo no novo jeito de se consumir entretenimento “Estou emocionada de me juntar à Netflix, especial– hoje tem muita gente experiente em Hollywood que ainmente no momento em que criar narrativas é extremada duvida que plataformas virtuais como a Netflix e afins mente importante para o nosso bem-estar social e glovieram para ficar – tem chamado cada vez mais atenção no bal”, afirmou Bozoma em comunicado. “A cultura pop universo corporativo dos Estados Unidos. e o entretenimento podem ser vistos como superficiais Filha de um casal de imigrantes de Gana que escolheu vipor algumas pessoas, mas estão longe de ser isso. São, ver na região de Colorado Springs, no estado americano do na verdade, a língua que todos falam, um ponto de coColorado, quando tinha 12 anos, ela costuma dizer em ennexão entre as pessoas de todos os lugares do planeta.” trevistas que seu pai, um tocador de clarinete, foi sua maior Seu maior desafio será fazer frente a Disney+, serviço de inspiração. Formada em língua inglesa pela tradicional Wesstreaming lançado há menos de um ano pela Walt Disney leyan University de Connecticut, em 1999, começou a carCompany (a maior empresa de mídia do mundo), que conta reira como funcionária da PepsiCo, na qual coordenou o com quase 74 milhões de assinantes em vários países (incluprojeto de um festival de música, e de lá não parou mais de sive no Brasil, onde se associou à Globoplay). crescer. O emprego seguinte foi como diretora de marketing “Bozoma Saint John é uma profissional de markeda Beats Music, a fabricante de fones de ouvido do rapper

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STREAMING


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Bozoma Saint John, CMO da Netflix ting exemplar que entende como conduzir debates sobre a cultura popular melhor do que quase todo mundo”, elogiou, também em comunicado, o todo-poderoso Ted Sarandos, diretor de conteúdo da Netflix e número 2 no comando da empresa depois do CEO e acionista controlador Reed Hastings. Dizer que Bozoma faz sucesso porque sabe transformar o tão comentado e, por vezes, demonizado “politicamente correto” em lucros não seria um exagero. Por mais clichê que possa parecer, a responsabilidade social das grandes empresas de uns tempos para cá se tornou fundamental para que as megacorporações mantivessem suas atividades e ainda pudessem ter perspectiva de futuro. Em resumo, ninguém quer mais consumir produtos e serviços de companhias que não prezam pelo bem comum.

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Viúva desde 2013, depois de perder seu marido, Peter Saint John, para um câncer, e mãe de uma filha que costuma chamar de “maior conquista” de sua vida, Bozoma acredita que seu trabalho como promoter de séries e afins se torna fácil diante do catálogo de atrações hypadas de sua empregadora, mas também traz grandes responsabilidades. “Marcas são como pessoas: têm personalidade única, e como tal erram e acertam. Precisam entender como estar em sintonia com os temas atuais e que não dá para se esconder de pautas difíceis. É melhor falhar logo, corrigir rapidamente e aprender com esses erros. Mais: é preciso encorajar esses temas difíceis”, ela disse, também em nota, sobre o novo desafio. “O termo diversidade não significa nada como pauta. Temos de ser mais específicos: precisamos trazer para a conversa mais negros, latinos e LGBTs. Ao falarmos de diversidade, é comum as pessoas pensarem que não fazem parte do problema. Mas se questione. Se todos os seus amigos são parecidos com você, você faz parte, sim, do problema. Significa que não está atuando para mudar a situação. Contrate pessoas diferentes das usuais porque existem muitos pontos de vista”, completou a estrela em ascensão. Por enquanto, o público concorda com ela, e só mesmo o tempo dirá se sua simpatia e talento continuarão tendo o efeito positivo que se viu até aqui. n

FOTOS REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL

‘‘O entretenimento é uma língua que todos falam, um ponto de conexão com o planeta”


OPINIÃO

O QUE O BRASILEIRO QUER ASSISTIR? POR NINA SILVA

FOTOS FREEPIK

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pandemia nos isolou, mas não restringiu nossa comunicação. Ficamos muito mais conectados e interativos. De casa vimos os serviços de streaming crescerem e se consolidarem, representando hoje a segunda maior audiência do mercado de entretenimento brasileiro – as gigantes Netflix, Amazon Prime Video, entre outras, acumularam, nos primeiros três meses da quarentena, 15% de market share e uma média de sete pontos no Ibope, um total que só é superado pelos números da TV Globo. Mas o boom do streaming vai além de superar as novelas reprisadas ou os jogos de futebol. O cliente, além de se identificar, quer se ver representado no discurso e na ação e é por isso que o serviço tem ameaçado a audiência das grandes redes. E, mesmo com a expectativa da vacina e um possível retorno gradativo das atividades e relações presenciais, o streaming ainda possui muito espaço para crescimento no país. Mas o que o brasileiro quer assistir, ou melhor, interagir? A programação sob demanda traz consigo a inovação de conteúdos e formatos mais próximos da realidade e linguagem do consumidor. Exemplo disso é o lançamento recente da Wolo TV, a primeira plataforma de streaming com conteúdo focado na população negra. Assuntos como cultura urbana, diversidade regional e de narrativas fazem parte

do seu conteúdo exclusivo. A plataforma, que representa 119 milhões de pessoas no Brasil, estreou com o lançamento da série de comédia Casa da Vó, estrelada pela cantora e atriz Margareth Menezes ao lado de atores e influenciadores digitais como Dum Ice, Johnny Kleiin, Jessica Cores, Dj Pelé, Sol Menezzes, entre outros, e conta também com a participação do rapper Rincon Sapiência – uma estratégia de trazer artistas representativos para a população negra, além de talentosos e populares. Segundo Leandro Lemos, CTO da companhia, a Wolo TV tem o objetivo de ser uma plataforma com a cara do Brasil, país que tem a maior população negra fora da África, entretanto, onde a comunidade negra é sub-representada pela mídia. “A população negra consome em média R$ 1,9 trilhão por ano, mas ainda não vemos séries de TV que mostram famílias negras em posição de sucesso. É por isso que decidimos desenvolver um conteúdo audiovisual inovador e de alta qualidade que nos represente como população”, ressalta Lemos. “No Brasil, um jovem negro é morto pela polícia a cada 23 minutos. Isso é real, o mundo não sabe disso. Para mudar essa realidade, precisamos mudar a política, a mídia e como pessoas negras são representadas”,

afirma Licínio Januário, COO, ator e diretor de Casa da Vó. O primeiro episódio da série está disponível gratuitamente e os quatro seguintes são liberados mediante pagamento único a preço popular. Outras séries e filmes originais já estão em produção. Conteúdos próprios, vividos, narrados e realizados por quem conhece o seu público e faz parte dele. A Wolo TV é um exemplo de que o streaming no Brasil tem tudo para assumir a dianteira na guerra por nossa audiência frente ao formato tradicional das grandes emissoras de TV. 2021 é o momento de pegar a pipoca e assistir a essa jornada. n

Nina Silva é especialista em inovação e tecnologia, board member e uma das fundadoras do Movimento Black Money, um hub de inovação pautado na autonomia da comunidade preta

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CHECK-IN

– até 50 horas por ano. O modelo nquanto os números da aviação Marcos Amaro, herdeiro uso pretende atrair aqueles que necessicomercial estão nublados e os do fundador da TAM, tam pontualmente de uma aeronave, aeroportos seguem esvaziados mas não querem possuir o bem. Em devido à crise instaurada pela pandeaterrissa no mercado tempos de pandemia a opção tem se mia, uma parte específica do fluxo aéreo de aviação executiva mostrado também uma boa saída patem encontrado ventos mais favoráveis. Não que seja um céu de brigadeiro, mas com empresa focada no ra reduzir os gastos fixos, manter o a chamada aviação geral – que engloba patrimônio, permitir o tempo de uso segmento de propriedade adequado e ainda evitar contratemvoos particulares, executivos e táxi-aéreo – tem visto poucas nuvens da cabine pos da aviação regular e os temores compartilhada que e ganhou fôlego com um verdadeiro hode contágio da Covid-19. promete ser a maior rizonte de oportunidades. A Amaro Aviation nasce com E nesse cenário acaba de aterrissar a uma frota de três aviões: um turdo país Amaro Aviation, nova empreitada do boélice PC-12 (com cotas aproempresário Marcos Amaro, filho do coximadamente no valor de US$ 1 POR DADO ABREU mandante Rolim Amaro (1942-2001), milhão) e um jato PC-24 (cotas fundador da TAM Linhas Aéreas e miem US$ 2 milhões), da fabricanto da aviação comercial brasileira, que chega para atuar no te suíça Pilatus, conhecidos por sua robustez e casegmento de propriedade compartilhada e gerenciamento pacidade de operar em pistas de terra, além de um de aeronaves, setores que ainda engatinham por aqui. Gulfstream G550 para voos mais longos. Desde que a “A aviação nunca saiu de dentro de mim. Mas a decisão empresa passou a comercializar as cotas das aeronade voltar ao mercado aconteceu exclusivamente pela opor- ves, em janeiro, cerca de dez já foram vendidas. tunidade que se apresentou”, conta Marcos, que desde que “Esperamos chegar a uma dezena de aeronaves fracionavendeu sua participação na TAM para os irmãos (que se das ainda este ano e, futuramente, ter aeronaves próprias uniram à chilena LAN dando origem à Latam) se tornou na frota. Estamos em processo para obtermos as licenças investidor, colecionador de arte, galerista e artista plástico. necessárias para nos tornarmos uma empresa de táxi-aéEle revela que um encontro em especial, ocorrido em reo e, então, poderemos também vender horas de voo sem 2019, foi fundamental para apostar todas as suas fichas necessariamente fracionar as cotas da aeronave”, projeta no novo projeto. Amaro estava na Art Basel, a maior fei- Marcos, que tem entre os sócios no negócio o ex-CEO da ra de artes do mundo, na Suíça, e se deparou com um dos TAM e um dos fundadores da GOL, David Barioni, e Frandiretores da NetJets, a principal empresa de propriedade cisco Lyra, da CFly Aviation, uma empresa de gestão de aecompartilhada do planeta, com mais de 700 aeronaves e ronaves que atua há 45 anos e foi incorporada com todos os que tem o megainvestidor Warren Buffett como o maior seus clientes pela nova companhia. acionista. “Perguntei se eles pretendiam operar no mercaDuas mudanças regulatórias recentemente aprodo brasileiro e a resposta foi negativa”, lembra. “Foi nessa vadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) hora que decidi entrar no negócio.” prometem destravar o mercado trazendo céus ainda O negócio em questão, comum no exterior, é a proprie- mais favoráveis. A primeira é a que responsabiliza indade fracionada de aeronaves, na qual até oito pessoas di- tegralmente o operador de fractional (empresas como videm cotas de um avião através de uma SPE (Sociedade a Amaro Aviation) pela operação, inclusive criminalde Propósito Específico) e compartilham o seu tempo de mente, e não os proprietários da aeronave, regra que

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FOTOS BRUNO SANTOS/DIVULGAÇÃO; PILATUS AIRCRAFT/DIVULGAÇÃO

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DE VOLTA AOS ARES


“A aviação nunca saiu de dentro de mim. Mas a decisão de voltar ao mercado aconteceu pela oportunidade que se apresentou”

Amaro Aviation aposta nos jatos da fabricante suíça Pilatus Aircraft: PC-24 (acima) e PC-12 (abaixo)

traz segurança jurídica para o investidor, que passa a ter uma estrutura mais leve. A outra é a que libera vendas de assentos individuais para passageiros, abrindo um nicho de mercado para as empresas de táxi-aéreo e criando uma nova possibilidade de receita. “Para abrir um negócio você tem que ter duas coisas: encontrar o timing certo e o feeling para realizá-lo. Essa combinação é o caminho para o sucesso e nós acreditamos que estamos trazendo um modelo original, único no país, no momento certo”, diz o empresário, com o conhecimento de quem, em 2008, aos 23 anos, adquiriu a Óticas Carol por R$

40 milhões e a transformou na maior rede do ramo no país até vendê-la ao grupo italiano Luxottica pelo triplo do valor investido. Atualmente, Marcos vive e trabalha entre o Brasil e Suíça e tem se dedicado ao mundo das artes. Ele criou o Fama Museu – Fábrica de Arte Marcos Amaro – em Itu, São Paulo, onde abriga seu acervo de colecionador e artista, e inaugurou a Kogan Amaro, galeria com espaços em São Paulo e Zurique. Um livro sobre a sua trajetória artística acaba de ser lançado pela Editora Cobogó, mas isso fica para outro capítulo. Porque a Amaro Aviation já vai decolar. n PODER JOYCE PASCOWITCH 45


RESPIRO

A bossa nova estava no Rio, mas ele veio para São Paulo. Enquanto o barquinho ia, era no bar Baiúca, numa praça Roosevelt sem qualquer malemolência, que JOHNNY ALF, nascido Alfredo José da Silva, no Rio, filho de empregada doméstica e de um cabo do Exército que ele só viu até os 3 anos, se radicava. As dissonâncias estavam em “Rapaz de Bem”, composta em 1953, muito antes de “Chega de Saudade”, e seu piano já encantava Tom Jobim em Copacabana. Mas o gênero que impressionou o mundo não foi “cool” com Alf, cuja introversão – longe ainda da sociopatia tardia de João Gilberto – tornava sua integração ao amor, ao sorriso e à flor virtualmente impossível. Alf, que amava Farney e Sinatra demais, foi maverick à sua maneira, fez sua carreira muito longe do Carnegie Hall e do Canecão, e até o fim de seus dias apresentou-se em pequenas casas de São Paulo.

FOTO FOLHAPRESS

ELE E A BRISA



FOTO DIVULGAÇÃO

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NA LINHA DE FRENTE Carolina Kordon, diretora comercial da MChecon

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m 2020 a MCHECON chegou aos 15 anos de história consagrada como a maior empresa de cenografia do Brasil. O sucesso pode ser creditado, também, a Carolina Kordon, atual diretora comercial do grupo que há mais de uma década acompanha o fundador e CEO Marcelo Checon na tarefa bem-sucedida de revolucionar o mercado de eventos. “Nosso propósito está no sucesso dos clientes. Um valor que não abrimos mão e sabemos que a nossa entrega interfere diretamente nos resultados deles”, conta Carolina, responsável direta por 30% do faturamento da empresa em 2019. O resultado comercial, somado ao perfil multitasking da executiva – conhece os diferentes tipos de material de produção, domina custos, orçamentos, estruturas e cada etapa do processo de montagem – e à agilidade com que entrega soluções foi o que a levou à diretoria do departamento comercial da MChecon um mês antes da pandemia devastar o setor, que acabou sendo um dos mais atingidos. Foi quando ela se deparou com seu maior desafio. “Me lembro da quantidade de projetos e ideias que tive ao iniciar no novo cargo e logo veio a pandemia. Foram momentos de colocar em prática minha resiliência, respirar fundo e reorganizar as estratégias comerciais”, lembra Carolina. “Mas seguimos em frente. Com a crise enxergamos uma grande oportunidade de repensar a nossa matriz de risco, a composição de equipes e processos. Posso dizer que aprendemos muito e conseguimos ultrapassar 60% da nossa meta.” Ela explica que resetar a máquina e o mindset em tempos que exigem mudança foi a grande sacada encontrada pela equipe da MChecon para driblar o momento adverso. E deu certo. Entre os projetos realizados no ano passado, destaque para as duas montagens com caráter humanitário dos hospitais de campanha do Ibirapuera e de Heliópolis, ambos na capital paulista, e a 23ª edição do São Paulo Boat Show, a maior feira náutica da América Latina, que marcou em definitivo a entrada da MChecon no segmento de montagens básicas. “Vencemos os obstáculos da pandemia e chegamos aos 15 anos de MChecon cheios de energia. Agora já estamos planejando os próximos 30 com novos valores e um exclusivo formato de atuação no mercado. Nos sentimos mais preparados do que nunca para a grande retomada”, completa, antes de soltar um breve spoiler do quem vem pela frente: um projeto embrionário que quebrará paradigmas e fronteiras no mercado de eventos.

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Blazer Ricardo Almeida


ENSAIO

No topo do ranking das plataformas musicais, o cantor sertanejo Wesley Safadão mobilizou o público com suas lives solidárias e aguarda o retorno aos palcos por denise meira do amaral fotos pedro dimitrow styling cuca ellias

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earense nascido em Fortaleza e criado na fazenda da família, em Aracoiaba, Wesley Safadão passava as férias de infância correndo atrás de galinha, tomando banho de rio e brincando de bila, a versão regional de bolinha de gude. “O único perigo na época era de arrancar o dedo na pista chutando o chão”, brinca o cantor de 32 anos antes do início da sessão de fotos, seu terceiro compromisso de uma quarta-feira de fevereiro. Ele conta que começou a trabalhar ainda menino na sucata de lixo reciclável de sua mãe, e tinha a tarefa de molhar pilhas de papelão com uma mangueira. Quando não estava c0m ela, ajudava na arrumação da casa onde morava com os pais e os três irmãos. Foi aos 12 anos que começou a cantar, ao lado dos irmãos e de primos, na banda de forró Garota Safada, criada por sua mãe, Maria Valmira Silva, a dona Bill, que chegou a ser vice-prefeita de Aracoiaba. Na época, a família não tinha nem carro. “Precisava pedir pros tios levarem a gente, metade em um carro e metade no outro”, lembra rindo, e se dando conta, hoje, da trajetória que construiu desde que estourou em 2015 com o hit “Camarote”. Pai de três filhos, Yhudy, 10 anos, Ysis, 6, e Dom, 2 – o mais velho fruto do casamento com a influenciadora Mileide Mihaile, e os mais novos da atual mulher, Thyane Dantas, também influencer –, Wesley procura oferecer formação igual a que recebeu. “Mesmo tendo condições melhores, me policio porque não quero que eles achem que a vida é fácil. O mais velho já acorda e arruma a cama”, conta. Após as duas semanas iniciais da quarentena, no ano passado, o músico partiu para um período na fazenda da família, onde as crianças aprenderam a tirar leite de vaca e conviveram com porcos e cavalos. “Foi o maior ganho que tive. Estou



“O maior ganho da pandemia foi ficar com meus filhos. Tenho saudades dos palcos, mas fico triste longe deles” Colete e camisa Docthos, calça Gallagher Alfaiataria, tênis Vert, relógio Vivara, óculos Prada


com saudades dos palcos, mas fico triste em ter de ficar longe deles”, entrega. Percebendo que a pandemia duraria mais do que o previsto, após dois meses na fazenda, Wesley retomou o trabalho e começou a fazer lives – uma delas foi histórica e teve duração de dez horas, chegando a 1,8 milhão de visualizações simultâneas e arrecadando mais de 350 toneladas de alimentos. Em janeiro passado, em campanha capitaneada pelo comediante Whindersson Nunes, Wesley doou 20 cilindros de oxigênio para Manaus no segundo pico da crise de Covid-19. Depois de presenciar o terror ao assistir o vídeo de um amigo em um hospital da cidade, ele arrecadou mais de 1.300 cilindros em uma live solidária. “Na última ação que fizemos, entrei na casa de uma senhora que não tinha nem cama. E eu às vezes reclamo que não durmo bem se não tenho quatro travesseiros. Rapaz, é muita besteira da gente, uma vaidade besta. Isso me tocou muito”, conta. Wesley, que já teve Covid e ficou assintomático, não vê a hora de receber a vacina. “Já tomei tanta coisa ruim, não vou tomar vacina? Eu tomo é logo nos dois braços”, conta erguendo os ombros. “Não vou tomar só para me proteger, mas para cuidar do próximo.” Evangélico, ele diz orar para que a pandemia acabe logo, com o mínimo de perdas possíveis. “Já sofremos muito com isso”, diz. Questionado sobre a atuação do presidente Jair Bolsonaro, ele desconversa. “Rapaz, entendo pouco de política. Tem hora que eu acho bacana, mas tem hora que não. Tem muita coisa errada. Se você me perguntar: ‘Você votaria nele?’. Respondo: ‘Depende de quem vier com ele [adversário]’. Às vezes, a gente fala: ‘Ah, acho aquele cara legal’, mas no outro dia ele faz merda. O sistema é corrupto. Por isso é delicado falar.” Com mais de 32 milhões de seguidores no Instagram e no topo do ranking das músicas mais tocadas em janeiro deste ano pelo Spotify com “Ele É Ele, Eu Sou Eu”, Wesley sonha agora em consolidar sua carreira como empreendedor. O cantor é dono de marcas de festas consagradas com ingressos que vendem como água, a exemplo da WS On Board, que acontece dentro de um cruzeiro, da Garota White, com todo mundo de branco, e da Garota Vip, que segue até depois do sol nascer, com forró, sertanejo e axé. Só a edição de 2019 desta última, no Rio de Janeiro, contou com mais de 80 mil pagantes. “Somos o maior festival no Brasil depois do Rock in Rio e do Lollapalooza”, diz Wesley, espalhando música nordestina mundo afora. Vai, Sadafão. n


“Já tomei tanta coisa ruim, não vou tomar vacina? É para me proteger e para cuidar do próximo. Já sofremos muito com isso”

Blusa Ricardo Almeida, calça Fabrizio Allur. Na pág. anterior, tricô Oriba, calça Ricardo Almeida, tênis Vert, relógio Vivara Beleza: Lucas Evaristo Sena Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Assistente de produção de moda: Marina Araújo Assistente de fotografia fotografia:: Adrian Ikematsu


VANGUARDA

UM MULTIARTISTA

DE SEU TEMPO

Com espírito inovador e vanguardista, Waldemar Cordeiro desembarcou no Brasil vindo da Itália disposto a inovar. Transitou pelo abstracionismo, concretismo e paisagismo, tornando-se importante figura da arte brasileira do século 20 POR ANA ELISA MEYER


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igura importante da arte brasileira do século 20, o artista plástico, jornalista, crítico de arte e paisagista Waldemar Cordeiro transitou como poucos por muitos campos da produção artística, assim como da reflexão teórica. Explorou com entusiasmo algumas das principais correntes da época, a exemplo do expressionismo, do abstracionismo e do concretismo. Nascido na Itália, em 1925, filho de mãe italiana e pai brasileiro, estudou quando jovem no Liceu Tasso e na Academia de Belas Artes, em Roma. Em 1946, veio para o Brasil, fixando residência em São Paulo no início da agitada e inovadora década de 1950. Foi nesse momento que abandonou as características expressionistas de seus primeiros trabalhos e ingressou no abstracionismo, convicto de que arte deveria ter um papel transformador, não apenas permanecer uma mera repetição de padrões estéticos antigos, mas algo efetivamente novo. Em 1949, Cordeiro participou da mostra inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), intitulada Do Figurativismo ao Abstracionismo. Em 1951, mesmo mantendo uma postura crítica em relação ao projeto da 1ª Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo – que posteriormente tornou-se a festejada Bienal Internacional de Arte de São Paulo –, fez parte dessa primeira exibição, tornando-se assíduo participante das edições subsequentes.

Waldemar Cordeiro na década de 1960. Abaixo, a obra Auto- Retrato Probabilístico, 1967. Na pág. anterior, o trabalho Untitled, 1952

FOTOS REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

UM MANIFESTO

No ano seguinte, juntamente com Geraldo de Barros, Luiz Sacilotto, os artistas poloneses Anatol Wladyslaw e Leopoldo Haar, o austríaco Lothar Charoux e o húngaro Féjer, inaugurou a exposição Ruptura – mesmo nome do grupo dos sete concretistas –, onde lançou um manifesto que marcou o início oficial da arte concreta no Brasil. Redigido por Cordeiro e diagramado por Haar, o documento estabeleceu uma posição firme contra as principais correntes no país, como o realismo social – característico de obras de artistas como Portinari e Di Cavalcanti – e uma não aceitação explícita da abstração informal. Foi neste momento em que Cordeiro rejeitou a ideia de arte como representação, como sensibilidade estética, e passou a defendêla como um processo de conhecimento. Para ele, o objeto artístico ganha autonomia, transformando-se em uma realidade em si. Com a utilização de materiais e instrumentos vindos da indústria, utilizando apenas cores primárias, o denominado grupo Ruptura prega a PODER JOYCE PASCOWITCH 57


Em sentido horário: O Beijo, 1967; A Mulher Que Não É BB, 1973; paisagismo para a residência Ubirajara Keutenedjian, São Paulo, 1955; jardim projetado na década de 1950

necessidade de criar uma arte acessível a todos, na qual o caráter autoral e decorativo dá lugar a uma ação real de transformação estética do mundo.

DO CONCRETISMO À ARTEÔNICA

Politicamente engajado e defensor da arte como elemento fundamental do processo de mudança, Cordeiro passou a abordar em seus trabalhos, na década de 1960, os problemas sociais, criticando a alienação do indivíduo e o consumismo imposto pelos meios de comunicação de massas. Dessas questões nasceu a série Popcreto, criada conjuntamente por ele e pelo poeta objeto, não é uma coisa, é uma proposta para o homem, uma proposta para a sociedade”, explicitou sua postura em depoimento gravado em 1970.

concretista Augusto de Campos. Em 1968, iniciou um terceiro movimento de radicalização em sua carreira como um pioneiro da arte computacional, denominada por ele de arteônica. Acreditava ser essa uma consequência lógica do concretismo. Algo que anteciparia o impacto que o surgimento das novas tecnologias (a imagem virtual, manipulada e transcodificada) teria na arte contemporânea e na vida. “Fundamentalmente é uma atitude que conta – uma obra de arte não é um

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Não tem como dissociar a obra de Waldemar Cordeiro de seus projetos paisagísticos. Usou de forma intensa os princípios de semelhança e proximidade da Gestalt Visual já empregados no concretismo que estão presentes tanto nos seus quadros como nos seus jardins. Em seus projetos geometrizados, era intencional aliar as questões práticas e conceituais da arquitetura com a disposição dos elementos paisagísticos – plantas, água, pedras. Iniciado em 1952, seus estudos nesse campo permearam de forma forte e com grande reconhecimento nos meios artísticos em toda sua carreira até sua morte, em 1973. n

FOTOS REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

PAISAGISMO


CONSUMO

LUMINÁRIA Lumini preço sob consulta lumini.com.br

POR ANA ELISA MEYER

ABOTOADURA Cartier preço sob consulta cartier.com

RELÓGIO Jaeger-LeCoultre preço sob consulta jaeger-lecoultre. com

BLAZER Ermenegildo Zegna preço sob consulta zegna.com PUFE Ále Alvarenga preço sob consulta alealvarenga.com

ESTANTE Geraldo de Barros na Dpot preço sob consulta dpot.com

TAPETE By Kamy preço sob consulta bykamy.com.br

MOCASSIM Salvatore Ferragamo preço sob consulta ferragamo.com

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MULHERES QUE AMAMOS

Durante os mais de 50 anos em que atuou no cinema, no teatro e na TV, a atriz americana se notabilizou por seu desempenho nos mais variados papéis – e pela pesquisa que empregou em cada um deles. Nos ensaios para o filme O Milagre de Anne Sullivan, por exemplo, ela colocou uma fita adesiva nos olhos para entender melhor a situação de Helen Keller, a jovem cega que iria contracenar com sua personagem. A atriz, no entanto, seguiu a vida sendo lembrada como a sedutora Sra. Robinson em A Primeira Noite de um Homem, o que a deixava frustrada, sem entender como “as pessoas ainda não haviam superado” a personagem. Apesar disso, em uma entrevista de 2003, ela ponderou o fato de que, nesse papel, deu voz ao medo que todos nós temos “de chegar a um certo ponto em nossa vida e perceber que todas as coisas que dissemos que faríamos nunca se realizaram – e que somos comuns”. Essa percepção, certamente, não foi a de Anne Bancroft.

FOTO GETTY IMAGES

ANNE BANCROFT


ESPELHO

UNIÃO DE FORÇAS

FOTO IARA MORSELLI/ARQUIVO PESSOAL

Em meados de janeiro, quando os hospitais de Manaus entraram em colapso com o aumento de internações por Covid-19 e a escassez de oxigênio, o telefone da empresária paulistana Tatiana Monteiro de Barros tocava sem parar. As ligações vinham da Secretaria de Saúde de Manaus, com pedidos de cilindros de oxigênio – e de socorro. Tatiana, então, acionou os colaboradores do UNIÃO BR, movimento voluntário formado no início da pandemia, e conseguiu realizar o envio do primeiro carregamento à capital do Amazonas. “Até agora enviamos mais de 400 cilindros e algumas usinas geradoras de oxigênio, que servem enfermarias e UTIs”, conta Tatiana.

As irmãs Tatiana e Marcella Monteiro de Barros estão à frente do Movimento União BR

Promover pontes entre os mais vulneráveis e aqueles que têm os recursos é rotina das irmãs Tatiana e Marcella Monteiro de Barros desde que a chegada do novo coronavírus escancarou a desigualdade social do país. “As empresas e pessoas físicas que podem contribuir não têm uma visão clara de como fazer isso, e quem precisa de ajuda não tem o networking”, diz Marcella, atual head de Social Impact da XP e ex-líder de projetos especiais do programa Caldeirão do Huck. Em março do ano passado, criou um grupo de WhatsApp para mobilizar voluntários no Rio de Janeiro, onde reside, e em pouco tempo formou-se o União Rio, com apoiadores como Wolff Klabin e Paulo Moll. Uma das primeiras ações foi reativar leitos de UTIs no Hospital do Fundão, da UFRJ. Marcella logo chamou Tatiana para estruturar o modelo em São Paulo, criando o União SP, e, posteriormente, replicá-lo em quase todo o Brasil – a rede está presente em 21 estados, e conta com o União Pantanal e o União Amazônia Viva. Até agora, o movimentou arrecadou R$ 160 milhões e beneficiou mais de 9 milhões de pessoas, com a doação de alimentos, itens de higiene, máscaras de proteção, álcool em gel e mais. “Nosso objetivo é salvar vidas. E o sucesso do movimento se deve, principalmente, à parceria com as ONGS locais, que sabem as reais necessidades de cada região. Somos mais de 4 mil voluntários trabalhando intensamente”, diz Marcella. Em dezembro, o União BR ganhou o Prêmio Empreendedor Social do Ano 2020 em Resposta à Covid-19, da Folha de S.Paulo. “O reconhecimento foi muito importante para dar credibilidade ao movimento”, afirma Tatiana. “Acredito que mudamos o patamar da cultura de doação no Brasil. As pessoas perceberam o papel que têm e o profissionalismo das ONGs. Temos que resolver esse problema estruturante da fome, da desigualdade, da educação. Tem que ser um compromisso como sociedade”, finaliza Marcella. n POR CAROL SGANZERLA

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VIAGEM


IMENSIDÃO

AMAZÔNICA

Em uma imersão pela Amazônia, PODER foi explorar Anavilhanas, o segundo maior arquipélago fluvial do mundo. Partindo do município de Novo Airão, muitas travessias de barco, banhos de rio, noites na floresta, caminhadas no Parque Nacional do Jaú e visita à comunidades indígenas - uma viagem pelo olhar da advogada Camila Hsu Guimarães e de Tomas Orsini FOTOS TOMAS ORSINI

Na foto maior, primeiro local de acampamento no arquipélago de Anavilhanas; à esq., bar flutuante do hotel Anavilhanas Jungle Lodge e tipo de bagre amazônico encontrado no mercado municipal Walter Rayol, em Manaus


Parada em banco de areia no meio do rio Negro. “Diferente do que pensávamos, a floresta conta com praias enormes, mas só na época da seca. No período da cheia, todas as praias desaparecem completamente. Então, o cenário se modifica totalmente dependendo da época do ano”

Em frente à sumaúma, considerada a maior árvore da Amazônia com alturas que variam de 60 m a 70 m

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Detalhe de casa tomada pela floresta na cidade de Ruínas de Airão Velho


Vista aérea da região de Anavilhanas, que conta com um complexo de mais de 400 ilhas e 60 lagos

Raízes de árvores na região da Floresta Encantada. “Essa floresta é quase toda submersa na época da cheia , portanto, as árvores têm um aspecto ‘queimado’, embora floresçam todo ano na época da seca”

Pôr do sol no rio Apuaú. “Soubemos que o pH da água do rio Negro é muito ácido, o que não permite a existência de muitos mosquitos, é quase um paraíso!”

Tucunaré na brasa no acampamento na Ilha do Gavião

“O guia nos fez colocar a mão no formigueiro do que eles chamam de formiga elétrica. Os indígenas utilizam essas formigas como repelente e como forma de disfarçar o próprio cheiro antes das caçadas”

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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN

LAGOA AZUL

Aos fãs de Fernando de Noronha, atenção. Com vista para o Forte Nossa Senhora dos Remédios, a Maria Flor é a nova pousada do ator e empresário Bruno Gagliasso na ilha. São apenas 12 suítes, piscina e um restaurante comandado pela chef Gabi Freire e pela nutricionista Cynthia Howlett. Para coroar, que tal aproveitar os fins de tarde em um mirante com vista privilegiada do arquipélago? +@POUSADAMARIAFLORNORONHA

+BULGARIHOTELS.COM

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LISTA DE ESPERA

Dois bons motivos para os hotel-maníacos planejarem uma viagem para Paris em 2021. O tão aguardado Cheval Blanc será inaugurado em um edifício histórico às margens do Sena e pertinho do Louvre, restaurado pelo arquiteto Peter Marino. Promete virar ponto de encontro inclusive entre os locais, já que terá spa by Dior, gastronomia encabeçada por Arnaud Donckele – três estrelas Michelin – e um jardim tipo encantado no famoso rooftop de vidro do prédio. Já na região de Triangle d’Or Cheval Blanc Bulgari será a vez do Bulgari mostrar sua versão parisiense. Entre os destaques, spa, piscina semiolímpica e restaurante italiano contemporâneo do chef Niko Romito – também Michelin. +CHEVALBLANC.COM


VAGÃO

Ainda não é possível realizar todas as viagens desejadas, mas por que não aproveitar o período de pausa para planejar passagens por destinos que precisam de antecedência na programação? O Vietnã faz parte dessa lista e a boa notícia é que, em breve, será possível percorrer um trecho do país a bordo de um trem deluxe. O lançamento, dirigido pelo grupo hoteleiro Anantara, fará passeios diários entre Da Nang e Quy Nhon para 12 viajantes. O trajeto, que passa por paisagens como campos de arroz e costas paradisíacas, poderá ser acompanhado de vinhos, refeições deliciosas e massagens. +ANANTARA.COM

PASSAPORTE VERDE

Muito mais do que uma tendência, viajar de maneira mais responsável tornou-se uma necessidade. Por conta disso, vale ficar de olho em iniciativas como a JED, lideradas por comunidades de quatro vilarejos de Bali. Na direção oposta ao turismo de massa, a companhia oferece roteiros que conectam os viajantes com os locais realmente engajados com o futuro do destino. Para completar, a renda arrecadada é revertida para programas de conservação cultural e ambiental. Na lista de experiências, visitas a vilarejos absolutamente remotos e ao programa de preservação de tartarugas marinhas.

VISTA CENTRAL

Desde que foi lançado, o grupo Aman tornou-se referência por instalar hotéis mágicos em terrenos afastados do burburinho. Porém, uma vez em Nova York, a história é outra. Previsto para ser inaugurado na próxima primavera, o Aman da cidade fica na esquina da Fifth Avenue com a 57th Street. A vista é para o Central Park, claro, e o estilo que consagrou a marca promete seguir firme, oferecendo um respiro bem-vindo ao frenesi de Manhattan. A lista de atrativos é extensa e inclui um spa de 2 mil metros quadrados, quartos generosos, rooftop e um clube de jazz. Em tempo: o hotel Fasano promete desembarcar ainda este

mês na cidade. Exclusivo para sócios, a novidade também terá vista para o Central Park. +AMAN.COM +FASANO.COM.BR

+JED.OR.ID

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MOTOR

LUXO AO MAR Não se pode ter mais de um superiate do que cinema ao ar livre. Embarque nos lançamentos dos salões náuticos e sinta-se hospedado em um seis estrelas POR DADO ABREU

Destaque da Azimut Yachts na última edição do Genoa International Boat Show, o Magellano 25 Metri foi desenvolvido em parceria com Vincenzo De Cotiis, designer e arquiteto italiano de renome internacional. O projeto se baseia em torno de uma superestrutura envidraçada, criada para transmitir a sensação de uma cobertura com vista para o mar. O iate tem 25 metros e utiliza os mais recentes aparatos tecnológicos, incluindo um sistema de higienização do ar baseado em uma patente da Nasa e a opção hotel mode que garante que o Magellano 25 Metri fique ancorado com emissão zero. No deque inferior há quatro cabines, incluindo duas vips, uma com cama de casal e outra com camas de casal deslizantes. A velocidade de cruzeiro é de 20 nós e a máxima de 25 nós. AZIMUTYACHTS.COM

FOTOS DIVULGAÇÃO

MAGELLANO 25 METRI


MAZU 82

A Turquia é o hotspot global para projetos de superiates e um de seus principais construtores de cruzeiros incorporou recursos e a tecnologia de ponta dos enormes navios em um casco muito menor. O Mazu 82, da Mazu Yachts, tem 24 metros de design moderno e uma estrutura de carbono que lhe confere velocidade de cruzeiro de 35 nós e máxima de 40 nós. O interior é projetado pelo designer turco Tanju Özelgin e o charme reside nos detalhes: a começar pelo cinema ao ar livre na proa, o teto retrátil no leme e salão principal que proporciona vista ampla para o céu. O iate acomoda seis pessoas em três camarotes, incluindo uma suíte máster que ocupa toda a boca (largura) do iate, um camarote vip e outro duplo. Destaque é o convés principal nivelado, sem degraus. MAZUYACHTS.COM

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O Azimut Grande 27 Metri tem 88 pés e a assinatura do arquiteto italiano Achille Salvagni, especialista em design de interiores. Com custo inicial em R$ 40 milhões, a embarcação tem cerca de 350 m2 de área, até cinco suítes e sistema elétrico de navegação que se adapta ao perfil do comandante e às condições do mar – a inovadora direção eletrônica assistida EPS Optimus Electronic Power Steering confere ao leme uma sensação semelhante àquela que se sente quando se guia um automóvel de luxo. Em termos de configurações, a proa é um terraço para o mar, incluindo área de convivência e descanso. No flybridge estão o posto de comando e ambientes como sala de jantar, espaço gourmet, além de locais para relaxamento e banhos de sol com jacuzzi e bar ao ar livre. AZIMUTYACHTS.COM

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AZIMUT GRANDE 27 METRI


OPINIÃO

ALEGRIA DE NÃO TER QUE SER POR CL AUDIO THEBAS

ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES

E

u já tenho que ser muita coisa. Já tenho que ser competente, produtivo, responsável. Tenho que ser bom pai, bom filho, bom marido, bom cidadão. Por favor, não me digam que além de tudo eu tenho que ser feliz. Não coloquem a minha sagrada felicidade no baú da obrigação. Uma coisa não combina com a outra. Trabalho no fortalecimento de grupos faz muitos anos e volta e meia me perguntam: “O que podemos fazer para que o nosso dia a dia seja mais descontraído?”. A resposta é sempre a mesma: o ambiente só será descontraído se ninguém tiver a obrigação de estar descontraído. Poucas coisas são mais tensas do que ter que estar alegre, feliz e animado. Para mim, estar sempre com um sorriso congelado no rosto é sinal de autenticidade de menos ou botox de mais. A verdadeira descontração só rola em ambientes em que nos sentimos seguros e acolhidos para podermos simplesmente estar, seja qual for o sentimento que vem depois do verbo. Felicidade, medo, raiva, saudade e ela, o patinho feio, a tristeza – sentir-se triste não é defeito de fabricação. A alegria só será plenamente vivida se nos acolhermos por inteiro. Sem ter que ser nada. Sempre que associamos

nossa felicidade ao verbo “ter” armamos uma arapuca para nós. Felicidade não está em possuir, mas sobretudo na habilidade de desapegar. As coisas são efêmeras. Amores para toda vida teimam em ser passageiros e toda viagem tem uma hora que termina. Por medo do que vem depois, acabamos não vivendo plenamente o agora. Mas a felicidade não está na viagem. A felicidade está em viver a viagem. Olhe a sua volta. Quantos objetos te deixaram muito feliz na hora que você ganhou ou comprou, mas, passado um tempo, estão aí, esquecidos. Mas, se você conseguir por um instante se desvencilhar do tumulto dos seus pensamentos e afazeres e se conectar por um breve momento com a história desses objetos, seu coração vai se encher de boas memórias. Aqui já podemos pensar na diferença entre alegria e felicidade. Alegria é um estímulo, felicidade um estado. A alegria pode brotar no estímulo de ganhar ou comprar um objeto. Já a felicidade reside na história que ele contém. E isso depende de como vivemos a história e de como nos relacionamos com a lembrança dela. Olhando para essa definição de alegria e felicidade, me arrisco a dizer que tenho uma boa e uma má notícia para te dar. A má: você não pode deixar ninguém alegre ou feliz. A boa: você não pode deixar ninguém triste ou infeliz. O que fazemos é oferecer estímulos. E sobre eles somos responsáveis. Mas o que fazem com esses estímulos é responsabilidade de cada um. A consciência disso retira um peso enorme sobre nossos ombros.

Estamos no meio de uma pandemia que transformou nossas vidas. Em quase um ano já podemos olhar para as experiências vividas e colher o que aprendemos sobre o desafio de encontrar frestas de alegria no meio dos estímulos do caos. Reuni algumas pistas: viva e acolha sinceramente o que você sente; partilhe o que sente com pessoas que acolham e legitimem seus sentimentos; brinque, invente situações que tragam a ludicidade. Brincar, sobretudo em tempos sombrios, é ter a ousadia de viver pequenas histórias de subversiva felicidade. E essas histórias, bom... essas histórias ninguém jamais vai tirar de você. n

Claudio Thebas é escritor, educador e fundamentalmente palhaço. É fundador do laboratório de Escuta e Convivência e da Inputz, empresa especializada no desenvolvimento da escuta, do diálogo e da implantação de cultura colaborativa.

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SOB MEDIDA POR FERNANDA GRILO

RECEITA QUE MARCOU SUA VIDA:

Os cozidos da minha avó e da minha madrinha. Ambas eram espanholas, e esses cozidos me deram a base para a minha cozinha de arrozes caldosos, guisados, além de marcar muito da minha personalidade. MOMENTO DE MAU HUMOR:

Ler fake news e saber que são fake news. Mentiras e inveja me tiram do sério e baixam a minha energia. O QUE NUNCA FALTA NA SUA CASA:

Amor e vontade de acertar. PRIMEIRA COISA QUE FAZ QUANDO CHEGA AO TRABALHO:

Falo “bom dia” a todos. FRASE PREFERIDA:

“Quem não luta está morto”, frase linda da Carmen Silva, líder do MSTC [Movimento dos Sem-Teto do Centro] e da Ocupação 9 de Julho. O QUE FALTA REALIZAR:

Um refeitório de cozinha coletiva, no centro de São Paulo, na tentativa de ajudar tantas ONGs na diminuição da vulnerabilidade dos moradores de rua da região. MANIA:

Um fuxico que tenho desde infância e carrego até nas viagens. QUALIDADE:

Esquecer as coisas ruins que me fizeram. Sou zero rancorosa, zero invejosa. Zer0! DEFEITO:

Ser intolerante com os intolerantes. Vestido com estampa de onça. SER BEM-SUCEDIDO É:

Ter tempo para aproveitar os curtos momentos que a vida nos proporciona, como tomar uma simples e maravilhosa sopa em família com paz no coração. MEDO:

De adoecer antes dos 80 anos. COM O QUE SE PREOCUPA:

Em deixar uma história bonita, um legado para minhas próximas gerações, e em contribuir para um mundo melhor. COMO SOBREVIVER À PANDEMIA?

JANAINA RUEDA

Cozinheira autodidata, criada na Mooca, ela comanda os premiados Bar da Dona Onça e A Casa do Porco, ao lado do marido, Jefferson Rueda. No ano passado, venceu o American Express Icon Award, concedido pelo Latin America’s 50 Best Restaurants, um dos mais prestigiados prêmios da gastronomia mundial. E isso é só o começo

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Estamos passando pelo pior momento dos últimos 100 anos, uma guerra invisível, silenciosa, dolorosa e que ainda não acabou. Rezemos e torcemos para que tenhamos saúde para sobreviver. O QUE FARIA SE FICASSE INVISÍVEL POR UM MINUTO:

Tentaria voar o mais alto possível. O FIM DO MUNDO ESTÁ PERTO?

O mundo nunca vai acabar, nós é que morremos e acabamos. O mundo só sobrevive porque morremos.

FOTOS GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; DIVULGAÇÃO

PEÇA DE ROUPA:


ONDE E QUANDO É MAIS FELIZ:

Com meus dois filhos e meu marido no Sítio Rueda [em São José do Rio Pardo, interior de São Paulo], criando, plantando, colhendo, produzindo e cozinhando. PESSOA QUE TE INSPIRA:

Luiza Helena Trajano.

ESTAR ENTRE OS MELHORES RESTAURANTES DO MUNDO É...

Ser reconhecida. Dá ânimo de ser porta-voz do que acredito. A Casa do Porco é mais do que um restaurante, é um conceito, uma forma de viver a cozinha brasileira.

PECADO GASTRONÔMICO:

Leite condensado.

DESEJO PARA O FUTURO...

Conseguir romper as barreiras das desigualdades.

MELHOR HORA DO DIA:

Seis da tarde. Amo o pôr do sol, melhor hora da vida.

COZINHEIRO QUE TODO MUNDO DEVE CONHECER:

Jefferson Rueda.

LUGAR PREFERIDO NO MUNDO: NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA MANHÃ:

Ovos, café e frutas orgânicas do nosso sítio e de pequenos produtores dos arredores.

Brasil, o melhor lugar do mundo disparado.

LIVRO:

Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. MELHOR FILME:

ÍDOLOS:

Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky.

POLÍCI VÍCIO:

Beber uma dose de uísque para dormir.

A SONHO DE INFÂNCIA:

Ser delegada.

Dona Carmen Silva, do MSTC [Movimento dos SemTeto do Centro] e da Ocupação 9 de Julho, e Rodrigo Lombardi, nosso grande ator brasileiro.


HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI

O FUTURO DAS COISAS

Não foi só a vacina que evoluiu rápido no combate à pandemia. Separamos os gadgets mais legais apresentados na última edição da CES (Consumer Electronics Show), a principal feira de tecnologia do mundo, que prometem facilitar – e proteger – a sua vida

BRAÇO DIREITO

Já que a ordem é ficar em casa, que tal ter um simpático Bot Handy para deixar tudo mais prático e organizado? Ainda em desenvolvimento, o robô apresentado pela Samsung utiliza inteligência artificial avançada para reconhecer e recolher objetos de vários tamanhos, formas e pesos e, com isso, ajudar na arrumação da casa. Sua precisão é tamanha que o robozinho consegue até colocar e tirar louça da máquina de lavar. Isso sim que é ter um braço direito. PREÇO NÃO INFORMADO SAMSUNG.COM.

TELA QUENTE

TV transparente é a grande novidade da LG. Com o conceito smart bed, o aparelho se integra à cama e ocupa menos espaço no quarto. São três configurações: display “escondido” – para visualização de informações –, um modo onde a tela sobe parcialmente e outro no qual aparece inteira. Na primeira, funciona como a barra de status de um smartphone e pode exibir players de música. Já na segunda, traz dados como a qualidade do sono e oferece a leitura de livros. PREÇO NÃO INFORMADO LGDISPLAY.COM

SMART MASK

Marca conhecida no mundo gamer, a Razer desenvolveu um protótipo de máscara inteligente, transparente e reutilizável para proteção contra a Covid-19. Com design centrado em cinco áreas-chave, sistema de filtragem N95 e ventilação ativa, ela garante o mais alto grau de segurança com a melhor qualidade de vida. O produto é feito em material translúcido, com bordas de silicone e – que maravilha! – já vem com amplificador de voz para facilitar a comunicação. Para completar, acompanha uma caixa equipada com luz UV que mata bactérias e vírus enquanto carrega a bateria. PREÇO: NÃO INFORMADO RAZER.COM

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CAMPAINHA ANTICOVID

Sem previsão para o fim da pandemia, a Alarm criou uma campainha anticovid. O novo interfone não precisa ser tocado com as mãos para ser acionado. O produto é equipado com uma câmera e um capacho que indica onde o visitante precisa ficar. Quando a câmera detecta uma pessoa, é emitido um alerta sonoro na casa e uma notificação no celular do morador. A empresa diz que essa é a primeira campainha que toca “sem exigir qualquer contato”. PREÇO NÃO INFORMADO ALARM.COM

* PREÇOS PESQUISADOS EM JANEIRO, SUJEITOS A ALTERAÇÕES .

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BANHO DE TECNOLOGIA

A Kohler apresentou uma banheira inteligente, que pode ser controlada por aplicativo no celular ou por comandos de voz acionados pelas assistentes virtuais da Amazon ou do Google. Inspirada no banho de floresta japonês, ou shinrin-yoku, ela converge água, luz, névoa e aromas para criar uma jornada imersiva dos sentidos e relaxar o corpo, descansar a mente e renovar o espírito. A PARTIR DE R$ 48 MIL KOHLERCOMPANY.COM

LUZ DE EMERGÊNCIA

GRAUS AJUSTÁVEIS

Com a pandemia e o isolamento, a visita ao oculista vai ficar para depois. A startup Voy criou um par de óculos versátil, chamado Tunable Glasses, ou “óculos ajustáveis”, em tradução livre, feito para quem tem dificuldades de enxergar de perto e de longe. Ele possuiu um botão de ajuste do foco das lentes, corrigindo de 5 graus de miopia a 2 graus de hipermetropia. A intenção é ajudar pessoas que sofrem de presbiopia, popularmente conhecida como “vista cansada”.

Para promover ambientes de trabalho mais seguros, a Targus apresentou esta luminária UV-C capaz de desinfectar superfícies como teclados, mouses, notebooks, celulares e o que mais for necessário. O aparelho funciona de forma automática, durante cinco minutos a cada hora, e vem com sensores de detecção de movimento que fazem a luminária desligar quando alguém movimenta os objetos. R$ 1.600 TARGUS.COM

R$ 450 VOYGLASSES.COM

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CULTURA INC.

ESPELHO DO TEMPO POR LUÍS COSTA

The Brown Sisters, as irmãs fotografadas há mais de 40 anos: (da esq. para dir.) Heather, Mimi, Bebe e Laurie

O fotógrafo americano Nicholas Nixon, consagrado pelo retrato e pelo trabalho com o tempo, expõe pela primeira vez um projeto panorâmico no Brasil, no Instituto Tomie Ohtake 76 PODER JOYCE PASCOWITCH

N

icholas Nixon fotografa a vida como ela passa aos seus olhos. Quando os filhos estavam na escola primária, fotografou escolas. Voluntário em uma casa de repouso, retratou idosos. O premiado fotógrafo americano, de 73 anos, chega a São Paulo pelo Instituto Tomie Ohtake, em uma exposição panorâmica com acervo da Fundación Mapfre, da Espanha, em cartaz até 18 de abril.

A mostra traz 182 imagens, divididas em nove núcleos. Seus temas tocam em questões como envelhecimento, família, afeto, cumplicidade e solidão. Entre as séries mais celebradas, está Aids, de 1990, na qual documentou o estado terminal de pessoas com a doença. A década anterior havia revelado o vírus HIV e estigmatizado a comunidade LGBT+, então sua principal vítima. “Foi muito fácil para a clas-


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se média americana dizer ‘não sou como eles, que usam drogas, fazem sexo gay’”, afirma. “Eu esperava que, se os mostrasse como indivíduos, isso faria diferença, revelaria sua humanidade.” Na série, Nixon fotografava pacientes no intervalo de uma semana a um mês, e construía com eles uma relação em um destino já traçado com a morte iminente. “Todos com HIV morriam em cinco anos. Sabia que viveria mais e esse foi o fato entre nós”, conta. A mais famosa de suas séries é, provavelmente, The Brown Sisters, também exposta em São Paulo. Nixon fotografa, há mais de 40 anos, sua mulher e as três irmãs dela, juntas e na mesma ordem, todos os anos, desde 1975. O conjunto é considerada pelo estudo singular do retrato e do tempo. Nixon começou a fotografar a sua mulher desde que se conheceram, nos anos 1970; seu filho Sam desde o nascimento, em 1983; e dois anos depois sua filha Clementine. Dos retratos nos lares de Nicholas Nixon idosos às fotos da intimidade familiar, estabeleceu-se sobretudo como retratista e um especialista no uso de grandes formatos. E na aproximação com personagens revelou-se um grande negociador. “Negociação significa que ambos temos algo que queremos e somos egoístas sobre isso, não queremos algo que seja bom para nós dois. Acho que em uma conversa o objetivo é algo que é bom para ambos. É como eu abordo”, diz o fotógrafo, que conhece os personagens pelo nome, por suas histórias e dramas. “Acho que a foto pertence um pouco mais a mim do que ao retratado. Sei que provavelmente não é a coisa certa a se dizer, mas sou aquele que descobriu. A identidade pertence à pessoa, é claro. Eu não roubei”, afirma Nixon. n

PODER É TERRA PROMETIDA A saga de 23 judeus que, em 1654, deixaram o litoral pernambucano, fugindo da Inquisição, e partiram em direção à costa leste americana, onde hoje é Nova York, é o mote do novo livro de Lira Neto, Arrancados da Terra (Companhia das Letras, R$ 84,90). O autor da premiada trilogia Getúlio (2014) articula as biografias desses pioneiros às histórias do Brasil e da América. DENTE POR DENTE Com Renata Sorrah, Paolla Oliveira e Juliano Cazarré, o thriller Dente por Dente (Júlio Taubkin e Pedro Arantes) chega aos cinemas com a história de Ademar, empresário que precisará investigar o desaparecimento do sócio, em um suspense investigativo com toques de horror entre as avenidas, hotéis e construções da capital paulista. FILOSOFIA E MÚSICA O filósofo e compositor Vladimir Safatle, professor titular da USP e pianista, lançou o single “O Amor Vai Desterrar Nossos Corpos”, do novo álbum autoral Tempo Tátil (Selo Sesc), disponível nas plataformas de streaming. A música é uma composição a partir de poema do romeno Paul Celan e tem parceria da soprano Caroline De Comi e do violinista Renan Vitoriano. DIVERSIDADE Com curadoria de Renan Quinalha, a mostra Orgulho e Resistências: LGBT na Ditadura, no Memorial da Resistência de São Paulo, revisita livros, cartazes, músicas, filmes e fotografias que, durante a ditadura militar, confrontaram a censura e levantaram questões de gênero e autoritarismo. Até 26 de abril. PODER JOYCE PASCOWITCH 77


LIVRO Escritor português Valter Hugo Mãe relembra infância e juventude em novo livro

Valter Hugo Mãe foi à infância e à adolescência para contar histórias que ajudam a desfiar sua literatura. Em Contra Mim (Biblioteca Azul, R$ 54,90), uma espécie de autoficção, o escritor português, vencedor do Prêmio José Saramago de 2007 e autor de mais de 30 livros, refaz episódios e nomes dos primeiros anos, que lhes dariam a matéria-prima para seus enredos, personagens e temas. Escrito durante a pandemia de Covid-19, o livro aproveita o confinamento para uma autoanálise nos seus 49 anos de idade: seus pais, o irmão morto antes de ele nascer, a descoberta do corpo e da sexualidade. “Estamos sempre à procura das nossas grandes crianças. Essas que começamos por ser e que se tornam paulatinamente inacessíveis, como irreais e até proibidas. Crianças que caducaram, partiram, tantas por ofensa, tantas apenas por esquecimento”, escreveu Hugo Mãe. Nessa busca, a infância retratada pelo autor passeia por Portugal e sua história recente – o fim do Império Colonial na África, a Revolução dos Cravos e seus desdobramentos e a influência da cultura brasileira em terras lusitanas – como pano de fundo e moldura para o retrato de um menino e sua mitologia particular. “Regalou-nos uma potente memória que se fez nossa. E, enquanto pautava feitos biográficos, desfiou o mistério da criação com a voz profética e imaterial do verbo. Ofertou-nos uma arte que o projetou para a grandeza literária”, escreve Nélida Piñon, da Academia Brasileira de Letras, no prefácio do livro. A capa é da artista Adriana Varejão.

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TOM ZÉ – O ÚLTIMO TROPICALISTA PIETRO SCARAMUZZO (EDIÇÕES SESC SP)

De vez em quando uma grande biografia ajuda a reduzir a vasta lista de vidas brasileiras que precisam ser contadas. Escrita por um italiano “cabra da peste”, esta faz jus à vida e à obra de Antônio José Santana Martins, o genial baiano de Irará que fez a cabeça de meio mundo. Prefácio de David Byrne. COZINHA PANTANEIRA: COMITIVA DE SABORES PAULO MACHADO (BEI EDITORA)

Um registro pioneiro de uma tradição gastronômica que está mais viva na memória e na ponta da língua do que nos livros. Entre cozinhas de fazenda, festas, mercados e costumes regionais, o livro mapeia receitas surgidas no cruzamento das diferentes culturas que inundam o Pantanal, bioma devastado por incêndios em 2020. TRÊS IRMÃS JUNG CHANG (TRAD: ODORICO LEAL) (COMPANHIA DAS LETRAS)

A irmã mais velha, casada com o homem mais rico do país, foi intérprete e conselheira do supremo mandatário chinês, Chiang Kai-shek, marido da mais nova. A do meio pertenceu aos altos círculos do poder maoísta. Com sabor de série de TV, um épico de não ficção sobre “as três mulheres que definiram a China moderna”. ASFALTO SELVAGEM NELSON RODRIGUES (HARPERCOLLINS)

Este folhetim profético e alucinado começa em tom de tragédia, no pacato Espírito Santo dos anos 1950, e desemboca no abafado e delirante Rio da década seguinte, povoado por figuras sensacionais – a musa Engraçadinha, o ridículo e babão juiz Odorico Quintela e até mesmo colegas de redação que Nelson gostava de sacanear.

+ Conheça a revista dos livros em quatrocincoum.com.br

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O MAIS PESSOAL

As escolhas literárias do mês pelo editor Paulo Werneck


OPINIÃO

SEM TEMPO RUIM POR MARIO SERGIO ANDRADE SILVA

O

ILUSTRAÇÕES GETTY IMAGES

ano de 2020 foi embora sem deixar saudades e este início de 2021 serve bem para a gente renovar votos de mudanças ou melhorias pessoais. Muitas dessas promessas têm relação com a perda de peso, com a adoção de uma atividade física e coisas do tipo. Para quem já pratica exercícios, há sempre a vontade de melhorar, de conseguir ganhos de performance. E isso não deixa de ser um alento em relação ao ano passado, quando foi preciso demonstrar grande resiliência e determinação apenas para manter o hábito esportivo. O que vimos durante a pandemia é que a máquina, digo, o nosso corpo, não pode e não deve parar de se movimentar. Ele tem de ser sempre estimulado. A atividade física não só fortalece nosso sistema imunológico como induz a uma regularização hormonal, dentre muitos outros benefícios. E isso nos prepara para enfrentar um vírus tão forte como esse

causador da Covid-19. Além do mais, como se sabe, tudo aquilo que não é usado em nosso corpo tende a enfraquecer. Mas, e agora, com a inesperada continuação da pandemia e a aparição de novas cepas, como fazer? Fácil: treinar. As diretrizes do American College, que são seguidas amplamente pelos educadores físicos no Brasil, prescrevem 150 minutos de atividade aeróbica semanal leve ou moderada (situação em que é possível conversar durante o treino). Deve-se complementar essa receita com duas sessões de força semanais de 30 a 45 minutos – vale musculação, treino funcional, ioga, crossfit, pilates. Importante é sempre procurar se movimentar, mesmo no escritório ou no home office e evitar ficar longos períodos sentado. Sim, temos de nos cuidar sempre e seguir o protocolo contra a Covid-19, evitar aglomeração, usar máscara, lavar as mãos constantemente. Mas tão importante quanto tudo isso é continuar a treinar, de maneira consistente e com regularidade. É essa a vacina possível para milhões de brasileiros que seguem ainda sem acesso

à CoronaVac, ao imunizante do consórcio reunindo Fiocruz e Oxford/AstraZeneca ou a quaisquer outras vacinas que surgirem. Para os que sempre precisam de um objetivo ou de um desafio para começar a treinar, que tal pensar nos atletas olímpicos, aqueles que, apesar de todas as dificuldades, da falta de equipamentos, do isolamento social e, pior, da rescisão de contratos, conseguiram treinar em alto nível para se manter competitivos na Olimpíada de Tóquio? Mesmo que ao fim os Jogos não acabem acontecendo (toc-toc-toc), não é com essa perspectiva que os atletas trabalham. Devemos deixar claro que não são apenas os atletas de elite que precisam de resiliência, disciplina e foco para não deixar a peteca cair. Todos nós, sem exceção, precisamos. Com isso, passada a pandemia, voltaremos melhores e mais fortes. Levanta, sacode a poeira e bora treinar! n

Mario Sergio Andrade Silva é educador físico e sócio-fundador da RunFun, que há 27 anos tira pessoas do sofá para fazer delas corredores, ciclistas, atletas amadores de aventura e pessoas melhores

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Apesar dos swinging sixties, das lojas da Regent Street e das Spice Girls, Londres demorou para se livrar do peso da tradição, do jantar às sete da noite, dos patos reais do Hyde Park e dos pubs claustrofóbicos. O encontro da cidade com sua faceta mais vibrante e global se deu pela internacionalização do mercado financeiro e a consequente chegada de uma nova leva de imigrantes. É difícil dizer quando a capital britânica desbancou Nova York como capital do mundo. Há quem diga que foi quando Guy Ritchie casou com Madonna; há quem veja esse momento quando a segunda máquina de café expresso – a primeira, do Bar Italia, no Soho, não conta – da cidade passou a operar. Seja como for, a decisão dos britânicos em plebiscito de deixar a União Europeia e a vontade política do premiê Boris Johnson de cumprir os prazos do Brexit estão levando Londres de volta para um tempo bem menos hype. Cerca de 700 mil estrangeiros deixaram Londres entre 2019 e 2020, mais da metade do êxodo de todo o Reino Unido nesse período. Além do Brexit, pesou a resposta econômica ruim do país à pandemia e o aumento do desemprego. O Reino Unido deixou a União Europeia em 31 de janeiro de 2020 e no primeiro dia de 2021 deveria começar a valer o novo acordo comercial entre o país e o bloco de que já não faz mais parte.

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FOTO REPRODUÇÃO

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Revista J.P venceu o 34° Prêmio Veículos de Comunicação na categoria Revista Mercado de Luxo

Luxo mesmo é levar informação, charme e propósito aos leitores. Obrigada a todos que nos ajudaram a conquistar esse prêmio. /revista-joyce-pascowitch

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