Revista Poder | 142

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ZINCO

CAIXA FORTE

Para o economista Raul Velloso, um dos maiores especialistas em contas públicas do país, o Brasil pode – e deve – emitir muito mais moeda para combater a pandemia. Em entrevista a PODER o ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento critica os que defendem a manutenção do teto de gastos e aponta a necessidade de investimentos como forma de retomada no pós-crise POR ARMANDO OURIQUE

A

ntes mesmo de conceder esta entrevista, Raul Velloso, Ph.D. em economia pela Universidade de Yale, nos EUA, avisou que havia acabado de fazer uma reviravolta nas suas ideias sobre economia. “Não sou mais um fiscalista”, anunciou. “Discordo do que o mercado financeiro está pedindo”, disse, referindo-se à aprovação urgente de reformas econômicas, de redução de gastos e de alta das taxas básicas de juros. Até novembro de 2020 um dos mais ortodoxos defensores do rigor fiscal, Raul Velloso, presidente no Fórum Nacional do Inae (Instituto Nacional de Altos Estudos) e um dos maiores especialistas em contas públicas do país, passou a defender a chamada Teoria Monetária Moderna (TMM), sustentada no exterior por nomes como Jason Furman e Larry Summers. Sem temer um surto inflacionário, Velloso acha que o Brasil pode e deve, diante da segunda onda da pandemia, emitir muito mais moeda e títulos de curto prazo para financiar programas de saúde e de auxílio emergencial. Com a sua habitual inteligência e clareza de raciocínio, Velloso, que foi secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento durante o governo Sarney e é desde a década de 1980 um dos principais analistas da economia brasileira e de sua conjuntura, oferece nesta entrevista comentários sobre diversos assuntos. Mas talvez as

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FOTOS AILTON DE FREITAS

suas observações mais contundentes girem em torno do significado de o Brasil ter hoje quase US$ 400 bilhões em reservas internacionais e capacidade de a longo prazo gerar moeda forte com as suas competitivas exportações de commodities. Para ele, essa nova posição internacional do país permite manter juros baixos, enfrentar satisfatoriamente as calamidades impostas pela Covid-19 e retomar no ano que vem, quando a pandemia tiver sido superada, um robusto crescimento econômico. PODER: COMO O SENHOR AVALIA O DESEMPENHO DA EQUIPE ECONÔMICA ANTES E DURANTE A PANDEMIA? RAUL VELLOSO: Nada garante que o que o ministro Paulo

Guedes estava fazendo antes da pandemia era o que precisava ser feito. O pior é que as chances de ele aprovar [no Congresso] o que pensava eram muito baixas. A criação do Ministério da Economia foi o primeiro grande erro do [presidente] Bolsonaro. Magnificou a probabilidade de erro. Juntaram tudo e aquilo se tornou uma coisa grande, errada e ruim. Salvo a Reforma da Previdência, que já vinha sendo discutida, não havia um ambiente preparado para implementar aquelas mudanças radicais que o ministro queria. Por isso, quando veio a pandemia foi fácil dizer que ela não deixou as outras reformas serem aprovadas e o crescimento mais vigoroso acontecer. Na gestão Bolsonaro,


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