REVISTA PODER | EDIÇÃO 152

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ISSN 1982-9469

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R$ 26,90

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N.152

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PROPÓSITO, INCLUSÃO E ESPERANÇA

TIPO HOLLYWOOD O storytelling recebe upgrade: agora leva histórias com ação e emoção para os processos internos das empresas DEDO VERDE Após passagem pelo governo de São Paulo, PATRICIA ELLEN

arma hub para acelerar a descarbonização da economia

A RECEITA DO BOLO

Em busca dos próximos unicórnios, ROMERO RODRIGUES, RODRIGUES, criador do Buscapé – uma das primeiras startups de sucesso do Brasil –, volta à cena com fundo milionário

E MAIS

MARTHA LEONARDIS e a agenda de

responsabilidade social no mercado financeiro; a polivalência do ator ENRIQUE DIAZ; o encontro da fotógrafa CLAUDIA ANDUJAR com os YANOMAMIS; JONATHAS DE ANDRADE na Bienal de Veneza e o que faz a cabeça da chef HELENA RIZZO

JOGO DO CONTENTE Felicidade demais pode fazer mal? Saiba o que é a happycracia, o paradoxo do mundo atual CONTROLE REMOTO Conheça SHARI REDSTONE, a mulher mais poderosa da indústria de entretenimento, herdeira e comandante da Paramount


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EDITORIAL COLUNA DA JOYCE A VOLTA DO CRIADOR DE UNICÓRNIOS

Primeiro entre os empreendedores brasileiros a ter sucesso com startups, Romero Rodrigues vira sócio em fundo milionário 20

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NA ERA DA HAPPYCRACIA

O peso do pensamento positivo no ambiente de trabalho 32

A LÍDER DE AUDIÊNCIA

Quem é Shari Redstone, a mulher mais poderosa da indústria do entretenimento, herdeira e comandante da Paramount Global 38 40

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RESPIRO FUTURO VERDE

Patricia Ellen aposta na economia

ENSAIO

Com uma carreira premiada como diretor de teatro e novela, Enrique Díaz brilha como ator com seus múltiplos personagens 50

CANTO DE PODER

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MULHER MODO ON

Head de responsabilidade social e eventos do BTG,

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NEGÓCIO ENCORPADO

Os planos de Evino e Grand Cru agora como Víssimo Group 56 57

O espaço de trabalho do fotógrafo Claudio Edinger

SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA

Para criar engajamento de colaboradores, o storytelling ganha espaço nas empresas

Martha Leonardis atua para furar o bloqueio masculino no mercado financeiro

verde para fazer do Brasil líder de uma revolução

MULHERES QUE AMAMOS OPINIÃO

Ana Fontes explica por que empreender é verbo feminino 60

FERVE

Os bastidores do prêmio Person of the Year, em Nova York FOTOS PAULO FREITAS; LEO AVERSA; GETTY IMAGES

SUMÁRIO

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PODER VIAJA

De Volvo pela famosa Rota 40,

OPINIÃO

Lua Nitsche e a relevância do projeto arquitetônico

OPINIÃO

Renato Ochman conta como Israel se transformou na nação startup 66

uma das estradas mais cênicas do mundo, a imensidão e a beleza da Patagônia argentina são ainda mais impactantes

DE GERAÇÃO PARA GERAÇÃO

Com gestão pautada por colaboração, Sandi Adamiu transforma o Sandi Hotel em grife de charme internacional

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SOB MEDIDA TECNO CULTURA INC. ÚLTIMA PÁGINA

ROMERO RODRIGUES POR PAULO FREITAS

NA REDE: /revista-poder-joyce-pascowitch @revistapoder @_PoderOnline /Poder.JoycePascowitch


JUNH O 2 02 2

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PODER EDITORIAL

O

s males do Brasil vão muito além da pouca saúde e das muitas saúvas, como escreveu Mário de Andrade. Novas dores exigem novos antídotos e cuidadores atentos. É hora de homenagear quem abre caminhos olhando o Brasil na real perspectiva do século 21. Como Romero Rodrigues, jovem fundador do Buscapé, primeira startup a dar certo no país. Depois de vendê-la para a sulafricana Naspers, Romero iniciou sua vida de criador de unicórnios ao investir em várias startups ainda no começo – iFood e Gympass inclusas. Agora, por meio de sua gestora Headline e junto com a XP, Romero coloca um fundo de quase R$ 1 bi no mercado para semear uma nova safra de startups. São histórias inspiradoras como a do Romero que gostamos de contar aqui – e são elas que podem gerar mais engajamento e produtividade no ambiente de trabalho, especialmente quando formatadas com ação e emoção. É essa, aliás, a base do storytelling, ferramenta cada vez mais usada pelas empresas. Faz sentido. E se João Doria teve de abandonar suas pretensões políticas, seu governo e secretariado viraram benchmarks. Grata surpresa da pasta, a ex-secretária de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen, por exemplo, busca acelerar a descarbonização da economia. Ela está à frente da Aya Initiative, de que você vai ouvir falar muito. Outra liderança feminina, Martha Leonardis, head de eventos e responsabilidade social do banco BTG, vai no mesmo passo e fala da urgência da agenda ESG. Mais mulher? Temos – e no melhor estilo Succession. Shari Redstone, herdeira e comandante da Paramount, que administra um império global de mídia de US$ 22 bilhões. Felicidade no trabalho é bom e a gente gosta, certo? Sim, mas exageros sobre o tema já levaram a uma, digamos, positividade tóxica. O fenômeno tem nome: happycracia. Por aqui ainda passam o Ator com A maiúsculo Enrique Diaz – ás também como diretor de teatro –, o fotógrafo Claudio Edinger, que mostra seu ambiente iluminado de trabalho, a chef Helena Rizzo, abrindo suas afinidades eletivas, o reencontro da fotógrafa Claudia Andujar com o povo yanomami e a Patagônia argentina – vista, luxo só, a bordo de um Volvo híbrido. As fotos são do nosso Paulo Freitas, que também fez a capa e outros retratos desta edição. Tá feliz? Vai ficar mais virando a página – mas sem excessos, lembra?

R E V I S TAP O D ER . C O M . B R


COISAS DO CORAÇÇÃO

Embora muito se comente que as novelas não são mais as mesmas, tem pelo menos um telespectador atento e muito conhecido no mundo empresarial que defende o hábito de assistir diariamente às suas preferidas: trata-se de RUBENS OMETTO, presidente do conselho de administração e controlador do grupo Cosan, um dos homens mais poderosos do Brasil. Ele sempre foi fã das telelágrimas, inclusive o livro sobre a sua vida foi escrito por Aguinaldo Silva. Hoje em dia, além de defender Pantanal, Ometto reconhece que a sua preferida, na grade, é a novela das 6 – Além da Ilusão, da TV Globo. Como não consegue acompanhar quando vai ao ar, ele dá um jeito de assistir no trânsito, na volta do trabalho para casa. E não poupa elogios para a trama sobre a vida amorosa de um mágico ilusionista.

TELEFONE SEM FIO

Integrantes do clã BOLSONARO estão insatisfeitos com o trabalho do marqueteiro Duda Lima, que vem atuando na área de audiovisual da campanha da reeleição. A avaliação é que os vídeos produzidos seriam muito longos e rebuscados, o que impossibilitaria o uso do material devidamente reeditado nas redes sociais, campo que Bolsonaro domina – e no qual Carlos Bolsonaro é responsável pela articulação. Duda é indicação de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e está em rota de colisão com Zero Dois.

PORTA ABERTA

A possibilidade da nomeação da advogada VERA LÚCIA SANTANA DE ARAÚJO para a vaga de ministra substituta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) marca um avanço nas questões de representatividade e democracia. Ela é a primeira mulher negra a compor a lista tríplice num cenário no qual, atualmente, os sete ministros que fazem parte da corte eleitoral são homens brancos. Com 40 anos de atuação, Vera Lúcia coordenou a área jurídica de diversas campanhas políticas e faz parte da Executiva Nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e da Frente de Mulheres Negras do Distrito Federal e Entorno. O prazo para a decisão, que caberá ao presidente Jair Bolsonaro, não foi divulgado.

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INTERCÂMBIO

A Universidade Harvard criou recentemente o curso The Master in Real Estate (MRE), um programa de 12 meses para pessoas que desejam aperfeiçoar as competências necessárias sobre real state e tudo o que está relacionado ao mercado imobiliário. Liderado por JEROLD S. KAYDEN, professor de planejamento e design urbano, a ideia é ir além do básico, que sempre aborda apenas a parte comercial, mostrando como o negócio se intercala com política, design, economia urbana e ética.

RODA-GIGANTE

Nunca é tarde para começar algo novo: que o diga ABILIO DINIZ. Quem convive com o empresário tem se contagiado com seu nível de animação: aos 85 anos, ele virou apresentador de televisão e tem gostado da nova função. Passa boa parte do tempo na produção de Olhares Brasileiros, na CNN, seu atual xodó, e resolveu até entrar para o TikTok, onde divulga conteúdos sobre qualidade de vida, liderança e histórias de sua rotina. Detalhe: em seu perfil, Abilio se apresenta como pai de seis filhos, marido, empresário e professor na FGV.


NÊUTRON

FOTOS DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; UNIVERSIDADE DE HARVARD; ACERVO PESSOAL; PAULO FREITAS; MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL; PEDRO GONTIJO/SENADO FEDERAL; RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; DIVULGAÇÃO

Ainda que o União Brasil tenha lançado LUCIANO BIVAR como pré-candidato ao Palácio do Planalto, a candidatura dele não será a prioridade do maior partido da Câmara nas eleições deste ano. Segundo caciques da sigla, com 1% nas pesquisas, Bivar terá a missão de livrar alguns de seus principais filiados da polarização entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro, líderes nas pesquisas de intenção de voto. É o caso, por exemplo, de ACM Neto. Précandidato ao governo da Bahia, seus aliados avaliam que o eventual apoio do ex-prefeito de Salvador a Lula ou Bolsonaro poderia prejudicá-lo eleitoralmente.

SONO DOS JUSTOS

O presidente do Senado, RODRIGO PACHECO, não emplacou como o nome da tal terceira via, mas nem por isso pretende abrir mão de uma renovação profissional. Nos bastidores, comenta-se que o senador tem o sonho de ser ministro da Justiça. Pacheco é advogado criminalista de formação, já foi conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e atuou em casos ligados ao mensalão. O senador evita falar se buscará a reeleição à presidência da casa em 2023. De acordo com ele, o foco é o atual mandato.

SOB MEDIDA

“Amai-vos e não armai-vos” foi a benção do casamento do ex-presidente LULA com a socióloga ROSÂNGELA SILVA, a Janja, no mês passado. Para quem não entendeu muito bem o fato da festa ter acontecido em plena corrida eleitoral, a explicação por parte de aliados petistas é que seria melhor, em termos estratégicos, encarar uma campanha devidamente casado – e não apenas um compromisso menos formal. Imagem é tudo.

ALÉM DO HORIZONTE

O grupo DC SET, do empresário DODY SIRENA, que há mais de 40 anos atua com entretenimento no Brasil, está otimista com o retorno dos eventos depois de uma pausa de dois anos por conta da pandemia de Covid-19. A empresa prevê um investimento em torno de R$ 1 bilhão até 2024, com a meta de vender, este ano, 5 milhões de ingressos. Dody, empresário e produtor cultural, é conhecido por produzir shows de grandes artistas nacionais e internacionais, como Van Halen e Julio Iglesias, e, há 30 anos, é empresário do cantor Roberto Carlos.

CANASTRA REAL

Um dos destinos mais procurados nos últimos tempos, Dubai está prestes a ganhar um hotel com assinatura de um dos grupos mais tradicionais do mundo. A DORCHESTER COLLECTION, que tem em seu estrelado portfólio nove hotéis, entre eles The Dorchester, em Londres, Plaza Athénée, em Paris, e The Beverly Hills, em Los Angeles, chega aos Emirados Árabes com o THE LANA. “Hoje Dubai é uma parada estratégica. Um hub entre China, Índia, Rússia e África. O perfil dos viajantes que vão a Dubai inclui executivos e turistas. Para mim a maior atração é que tem sol o ano todo”, pontua François Delahaye, COO do grupo The Dorchester. Ele avisa que o empreendimento ultraluxuoso, projetado pelo premiado escritório de arquitetura britânico Foster + Partners, tem inauguração prevista para o início de 2023. PODER JOYCE PASCOWITCH 9


A guerra é o que acontece quando a linguagem falha. MARGARET ATWOOD, ESCRITORA CANADENSE

SAS

3 PERGUNTAS PARA...

TÁKI CORDÁS, psiquiatra, coordenador da assistência clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, professor na Universidade de São Paulo e autor de Grandes Epidemias e Pandemias

Houve uma grande mudança no pilar de saúde mental em todas as instituições de saúde – públicas e privadas. De um lado, vimos a piora dos sintomas nas pessoas que já estavam em tratamento e, de outro, o início de quadros psiquiátricos em quem nunca teve nada semelhante. Da mesma forma que os transtornos alimentares, área que eu também atuo, pioraram. Além disso, o alcoolismo e o uso de drogas se intensificaram. O uso de maconha, por exemplo, aumentou em torno de 20%. E ainda veremos mais problemas. Estudos mostram que o estresse traumático pode aparecer até três anos depois de uma época difícil. O que vem por aí é uma epidemia de transtorno mental. COMO SURGIU A IDEIA DO SEU LIVRO?

Da observação desse cenário e de todo o caminho profissional que percorri – parte acadêmica, clínica, de pesquisa e de mais de

PANORÂMICA

40 livros publicados. Somado a isso, comecei a achar que estava fazendo pouco pelo que o país precisava. Há uma frase de Dante Alighieri que diz: “Os lugares mais sombrios do inferno são reservados àqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise”. E eu precisava ter uma atitude mais ampla e política. Abri, inclusive, meu Instagram para falar sobre o tema. O livro mostra como as pessoas lidaram com as grandes pandemias da história, como a peste em Atenas, gripe espanhola e a Covid-19. E há pilares muito parecidos. O primeiro é que todos os povos tentam achar um culpado. Na gripe espanhola, por exemplo, as pessoas diziam: “Não tome a vacina da Bayer, pois é produzida na Alemanha e a Aspirina de lá vem com o vírus da gripe”. Aqui chegamos a falar “vírus chinês” para nos referirmos ao coronavírus. Ou seja, buscamos sempre um bode expiatório. O segundo é o negacionismo. Alguns chegaram a dizer, até, que a Covid não passava de uma “gripezinha”. Já o terceiro é encontrar curas milagrosas. Na peste,

O GRUPO TERRAVISTA, referência em Trancoso para quem busca luxo e sossego do sul da Bahia, além de muita sofisticação – entre as propriedades da marca estão dois condomínios, um dos melhores campos de golfe da América do Sul, aeroporto e teatro – prepara um plus: o lançamento de um hotel com bandeira internacional que promete mexer com toda a concorrência turística no Nordeste.

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as pessoas consultavam oráculos e na gripe espanhola diziam que colocar a cabeça para fora do carro e acelerar faria o vírus sair pela narina. Por outro lado, nesses momentos, há muita mobilização e revolução da sociedade. ACREDITA QUE TEREMOS ALGUMA REVOLUÇÃO POR AQUI?

Eu ainda não vi nenhuma. No começo, os otimistas diziam que, depois da pandemia, iríamos nos tornar pessoas mais empáticas e melhores. Não acredito nisso. Pelo contrário, vamos voltar a ser o que éramos e, talvez, até mais egoístas. O que está acontecendo é que estamos esquecendo que temos mais de 660 mil mortes e há culpados; pessoas contribuíram com isso. Basta pensar no caos que Manaus passou. Mas, talvez, 30% da população não tenha percebido. Ou não queira perceber.

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO APPLE TV

COMO VOCÊ VÊ HOJE, PASSADOS DOIS ANOS, OS EFEITOS DA PANDEMIA NA SAÚDE MENTAL DAS PESSOAS?


ESTE MÊS A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... ACOMPANHAR o

encontro musical de João Bosco com a Orquestra Ouro Preto em Gênesis, concerto gravado ao vivo no ano passado que agora ganha versão em CD, DVD e nos serviços de streaming. Os arranjos são do maestro Nelson Ayres e regidos por Rodrigo Toffolo

OUVIR o novo álbum do ex-Oasis Liam

Gallagher: C’mon You Know. Com 14 faixas, o disco conta com a colaboração de Dave Grohl, do Foo Fighters, que coescreveu e tocou bateria em uma das faixas

VISITAR e garantir os ingressos da

nova temporada do projeto Fronteiras do Pensamento. A edição deste ano receberá 12 palestrantes, com destaque para o filósofo francês Luc Ferry, o americano Steven Johnson, considerado o “Darwin da tecnologia”, e a psicanalista Élisabeth Roudinesco, tida como a mais importante historiadora da psicanálise

FAZER escolhas com a leitura de

Choose Possibility, livro de uma das principais líderes em tecnologia, Sukhinder Singh Cassidy, com uma nova abordagem para assumir riscos na carreira e prosperar (mesmo quando você falha). Ainda sem tradução para o português, pode ser adquirido na Amazon

ADENTRAR o universo de Bob

Dylan com a inauguração do museu em sua homenagem na cidade de Tulsa, Estados Unidos. Desenhado pelo escritório de arquitetura Olson Kundig – especializado em design de exposições –, o Bob Dylan Center

contém mais de 100 mil itens que ilustram a trajetória e o processo criativo do artista – inclusive o talento pouco conhecido do seu lado pintor LER TikTok Boom (ed. Intrínseca),

livro-reportagem do jornalista Chris Stokel-Walker que analisa como a rede social chinesa desafia a hegemonia tecnológica dos EUA e o fenômeno das novas celebridades criadas pelo aplicativo

BAIXAR o Cataki, app que conecta

pessoas com consciência ambiental e catadores de materiais recicláveis. Ele traz um mapa com locais de atuação e mostra o contato dos catadores mais próximos do usuário. O app também possibilita consultar foto, biografia e telefone do profissional que fará o serviço de coleta, assim como informa o tipo de material que ele deseja recolher. Para Android e iOS

MARATONAR Ruptura (Severence), série distópica supercotada para ser a

mais prestigiado do ciclismo de estrada mundial. Dividido em 21 etapas, a largada este ano acontecerá em Copenhague, na Dinamarca, e a chegada na famosa Champs Élysées, em Paris. Entre os dias 1º e 24 de julho ASSISTIR Lendas em Fiji, série do canal

Off. Com nomes marcantes do surfe brasileiro dos anos 1970, como Rodrigo Resende, Picuruta Salazar, Daniel Friedman, Ricardo Bocão, Otávio Pacheco e Lipe Dylong, os amigos percorrem de catamarã o entorno do arquipélago em busca de ondas incríveis

CONHECER o novo restaurante Fasano em Nova York. Seja para um almoço ou para um jantar, seja na parte da frente, no bar, para pratos mais corriqueiros, ou no salão, um dos mais bem frequentados de Manhattan atualmente. Vale a visita AJUDAR com doações para entidades que cuidem de moradores de rua neste inverno. É possível fazer via pix para vários grupos, como a Central Única das Favelas (Cufa) e para o padre Júlio Lancellotti, entre outros VER Sarah Jessica Parker e Matthew

melhor do ano, que acompanha uma equipe de funcionários cujas memórias são cirurgicamente divididas entre vida profissional e pessoal. O elenco estelar tem Patricia Arquette, Christopher Walken e John Turturro, e a direção é de Ben Stiller. Na Apple TV PREPARAR a torcida para a 109ª edição do Tour de France, o evento

Broderick juntos em Plaza Suite, espetáculo na Broadway em que interpretam três casais com olhar agitado e intenso do dramaturgo Neil Simon em relação ao amor. Ingressos entre US$ 100 e US$ 500

com reportagem de carla julien stagni, caroline marino e dado abreu PODER JOYCE PASCOWITCH 11


NEGÓCIOS

A VOLTA DO CRIADOR DE

UNICÓRNIOS Primeiro entre os empreendedores brasileiros a ter sucesso com startups, Romero Rodrigues vira sócio em fundo milionário para alavancar os “buscapés” dos próximos anos POR PAULO VIEIRA

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FOTOS PAULO FREITAS


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S

e contar, ninguém acredita, mas no Brasil em que deputados aprovam urgência para não se mexer na Bíblia, em que empresários aplaudem discursos controversos, em que juízes e militares preservam suas aposentadorias especiais, quinquênios e outras regalias até em tempos de austeridade fiscal, em que “nova política” é ter o Centrão na Casa Civil, nesse mesmo Brasil frutificou um universo de startups, um conjunto de empresas que, iniciando praticamente do zero, logo alcançaram protagonismo continental ou global e receberam aportes estrangeiros milionários. E nesse ambiente, ou ecossistema, como se diz, o jovem paulistano Romero Rodrigues é semideus. Com outros três colegas da engenharia elétrica da Escola Politécnica da USP, a famosa Poli, aos 21 anos Romero fundou, em 1998, o Buscapé, site de comparação de preços que em meros dez anos chegou ao éden do universo digital brasileiro: em 2009, 91% da empresa foi vendida por US$ 342 mi para a Naspers, companhia de mídia sul-africana pioneira do e-commerce chinês. A compra do Buscapé foi o maior negócio do nascente ecossistema nacional, remunerou com sobras todos os investidores que apostaram na companhia e acabou por mostrar a quem hesitava em lançar sua própria startup no Brasil que sí, se podía. Nos cinco anos seguintes em que atuou como executivo da Naspers, Romero dublou como mentor informal – e investidor-anjo – de outros fundadores de startups, e isso definiu para sempre seus novos caminhos. Em 2014, já divorciado dos sul-africanos, ele deixou o diletantismo e profissionalizou a atividade que alguns gostam de chamar de “empreender empreendedores”. E o fez no padrão ouro: com a gestora global Redpoint eVentures, colocou no mercado dois fundos de venture capital que somaram juntos R$ 1,5 bi e irrigaram meia centena de startups latino-americanas. Algumas alcançaram o tão almejado título de unicórnio quando passaram a ter valor de mercado bilionário (em dólar), caso de Gympass, Rappi, Creditas, Olist. Dos atuais 24 unicórnios brasileiros, Romero investiu em nove. Com tal quantidade de acertos na carreira, seria compreensível que Romero decidisse pegar o boné e passasse alguns anos à beira do Índico estudando o fluxo migratório dos papa-moscas, mas não é

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assim que as coisas costumam funcionar. Em 2022, à frente do braço brasileiro da gestora global Headline, ele decidiu ressetar sua vida de investidor de startups, agora trazendo para a barca a pantagruélica XP, que pela primeira vez coloca à disposição de seus clientes um produto de venture capital. Em sociedade com a corretora de Guilherme Benchimol, Romero cuidará do destino de uma carteira de R$ 915,7 mi, valor 10% maior ao originalmente submetido à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Caberá a ele como “managing partner” da XP selecionar as startups que ficarão com a grana e, mais do que isso, fazê-las crescer e entregar o retorno, em dez anos, para numerosos investidores. As startups precisam já ter lançado um produto ou serviço viável no mercado, ou seja, necessitam apresentar alguma vivência. Os fundos de Romero atuam no que o setor chama de “early stage” – que vem logo depois do “capital-semente” e é anterior às rodadas de crescimento (chamadas de “growth”). Parece fácil, mas o negócio é espeto. “Se a gente soubesse quais startups iriam dar certo, investiríamos somente nessas”, disse Romero a PODER, numa sala do 30º andar de um espigão em que a XP mantém seu QG high-tech em São Paulo. “Olhamos 1.500 empresas para investir em seis ou sete por ano. E de cada três em que aportamos, apenas uma dá certo – a outra anda de lado e a terceira morre.” O trabalho não se limita à curadoria obrigatoriamente matadora, requer ainda “interação de quatro a seis meses” entre a equipe de Romero e os destinatários da grana. Tudo para “aumentar a chance de construção de uma empresa grande”. Para Romero, o papel do bom gestor pode ser traduzido pela expressão “remoção de riscos desnecessários”. Na anamnese que ele empreende nos primeiros dias, busca ver o “tamanho da dor que se está atacando”, a qualidade do “time” e, finalmente, o comportamento do líder – que tem de saber escutar e motivar e, sobretudo, possuir a “ambição de construir”. Ele não pode ser o cara, como diz Romero, que lá na frente vai querer vender a empresa e “colocar 5 milhões no bolso”. Às vezes, um muito célere diagnóstico já exclui candidatos, como, num exemplo hipotético, uma startup com dois CEOs – “nítido problema de liderança”, situação só menos dramática do que, brinca Romero, quando marido e mulher são sócios.


Crises são benéficas para startups e para o venture capital. Empresas inovadoras são mais eficientes em ambientes austeros

PODER JOYCE PASCOWITCH 15


ESCALADA As conversas entre Romero e Benchimol ficaram mais sérias em 2021, muito antes de a taxa de juros praticados no Brasil escalar de novo, chegando ao atual patamar de 12,75% ao mês, o que diminuiu a atratividade do novo produto para o cliente basicão da XP, que poderia muito bem achar que faria melhor negócio mantendo o patrimônio nos fundos de renda fixa e multimercado ou, até mesmo, num defensivo VGBL. Mesmo com o valor do investimento inusualmente baixo em se tratando de um produto de venture capital – R$ 25 mil –, o investidor poderia não se deixar seduzir por algo que prometia entregas incertas de longuíssimo prazo. Mas o encerramento da bem-sucedida captação no começo de junho mostrou que a história de sucesso de Romero falou mais alto. O gestor sempre expressou otimismo, mesmo com os juros batendo de novo no teto. “Na nossa visão, crises são benéficas para startups e para o venture capital. Na crise do petróleo dos anos 1970, surgiu a Apple; no estouro da bolha da internet na virada do século, apareceram o Google e a Tesla, e, aqui no Brasil, o ‘Buscapezinho’. Empresas inovado-

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ras são mais eficientes em ambientes mais austeros. Já surgem otimizando o capital.” O mundo vive um momento particularmente ruim, com elevação da taxa de juros também nos Estados Unidos, quebra da cadeia global de suprimentos e uma guerra deixando milhares de mortos e destruição em plena Europa. A isso se somam as múltiplas trapalhadas de gestão macroeconômica feitas nos últimos anos no Brasil, que contribuem para afastar o capital estrangeiro. As startups daqui, que gostam de ostentar suas taxas pirotécnicas de crescimento, passam por um inédito momento de contração, com numerosas demissões mesmo em alguns famosos unicórnios (veja boxe). Mas nada parece incomodar Romero, que enxerga enorme potencial para os negócios no Brasil, dado o tamanho da população e as demandas ainda não atendidas em vários setores. As “teses” de investimento que ele pretende acolher em seus fundos são generalistas, aquelas que, independente do setor de atuação da empresa, traduzem-se por produtos e serviços de ampla aceitação entre a população. E isso aparece, ele cita, em fintechs, e-commerce, healthtechs e blockchain, por exemplo. O blockchain merece uma deferência especial, não obstante Romero ter evitado apostar lá atrás nas

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NUVENS NEGRAS

Um gestor de capital tem até por dever de ofício ser otimista, especialmente quando a fase de captação do fundo que irá gerir ainda não chega a termo, como quando Romero Rodrigues concedeu esta entrevista a PODER. O problema é que as notícias vindas do ecosecossistema de venture capital, território de atuação de RoRomero, não são – ou eram – as mais alvissareiras. Depois de investir em publicidade mainstream, algo estranho para o segmento, um dos unicórnios brasileiros, o QuintoAndar, anunciou um “downsizing”, eufemismo para demissões em massa. A empresa falou num corte de 4% do time, em total discrepância com notícia pupublicada em abril pelo jornal O Estado de S. Paulo, Paulo, que dava conta de 800 demitidos – 20% do quadro de cocolaboradores. A Olist, outro unicórnio que teve aportes lá atrás de fundos de Romero, também viveu momenmomento conturbado. Criada para facilitar o acesso de lojislojistas ao marketplace, a empresa teria cortado cerca de 10% de seu quadro, número também contestado pela startup. Loft e Zak também afiaram o facão – no cacaso da última, de soluções digitais para o e-commerce, o corte teria sido sangrento, de 40%. Mas nada disso parece perturbar Romero. Além do argumento de que startups têm vantagem competitiva em tempos de cricrise por conta de sua natural agilidade, ele acredita que a correção dos “valuations”, os valores de mercado das empresas digitais, que cresceram muito na pandemia, também é benéfica para o setor.

Se a gente soubesse quais startups iriam dar certo, investiríamos somente nessas. Olhamos 1500 para investir em seis ou sete duas maiores startups de “cripto” brasileiras – criptoativos, como se sabe, utilizam-se da tecnologia de rastreamento do blockchain. A justificativa para a dupla negativa, segundo o empreendedor, foi o fato de não ter ficado claro para ele qual das empresas sob escrutínio iria se destacar por aqui. Nesse caso, para Romero, o vencedor acabaria por ficar com tudo – ou, em inglês, como na música do Abba, “the winner takes it all” –, e isso faria com que um dos investimentos inexoravelmente se perdesse. MINHOCÁRIO Discreto, de estatura mediana e integrante de uma família paulistana de classe média alta – que lhe possibilitou estudar no colégio Porto Seguro e mais tarde ser aprovado num dos vestibulares mais concorridos do país –, Romero desde a infância já cogitava empreender. Tornou-se mítico em seu círculo o plano de negócios feito por ele, quando tinha apenas 10 anos, de uma futura empresa que forneceria minhocas à sua avó. Na imaginada startup – a expressão ainda não existia –, que se chamaria RoAn, Romero teria como sócio seu irmão André, três anos mais novo, que deteria 25% de participação. Wilson Ruggiero, professor do departamento de engenharia de computação da Poli e coordenador do Laboratório PODER JOYCE PASCOWITCH 17


de Arquitetura e Redes de Computadores da faculdade, local em que Romero estagiou e o Buscapé foi gestado, estima que seu ex-aluno faça parte de um grupo de no máximo 5% dos estudantes com “proatividade, iniciativa e gana de empreender”. Em números absolutos, isso significaria apenas três a cada 70 alunos que entram em seu curso todos os anos. “Naquela época, a escola preparava o engenheiro para comandar um projeto, não exatamente para empreender. Isso mudou, o mercado se organizou em cima das startups e nós também introduzimos a disciplina de empreendedorismo”, disse o professor a PODER. “O Buscapé foi uma das iniciativas mais notáveis feitas aqui. O sucesso do Romero realimenta novas iniciativas”, completa Ruggiero, também ele um empreendedor de êxito. Nos anos 1980, o professor fundou a empresa pioneira no Brasil de computadores Scopus, mais tarde vendida ao Bradesco. Discorrendo sobre sua carreira em artigo publicado em uma conhecida revista de administração, Romero já disse que não há um “momento eureka” na vida do empreendedor, quando um toque de genialidade (ou do Sobrenatural de Almeida, como diria Nelson Rodrigues) supostamente faria com que ele concebesse um produto revolucionário, o “latest craze” do ecossistema. “Meu momento eureka foi um processo de erros e acertos, uma busca incessante que tinha se iniciado dez anos antes [da fundação do Buscapé]. Se você não estiver treinando diariamente para enxergar o seu negócio, ele poderá passar na sua frente e você não irá perceber.”

WALKING THE TALK COM SÊNECA

A definição pode ser um tanto redutora, mas obter prosperidade – ou melhor, felicidade – em meio a um ambiente inóspito ou estressante, explica razoavelrazoavelmente bem o estoicismo, sistema filosófico admiraadmirado e estudado por Romero Rodrigues e que tem cocomo figura central o filósofo, dramaturgo e conselheiro político Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.). O preceptor do imimperador Nero – que depois assinaria sua condenação – preocupou-se menos em criar ou validar um sistema filosófico do que pensar soluções para a vida comum. Sêneca escreveu sobre a amizade, a posse e a finitude da vida, entre outros temas que insistem em se manter em cartaz. A perspectiva estoica ensina que buscar alealegria no meio de preocupações é “mera causa de dor” e que o limite da riqueza é “contentar-se com o sufisuficiente ou com o necessário”. É um ensinamento que se aplica perfeitamente à tão propalada (e pouco exeexecutada) economia do stakeholder. Pode-se dizer que o autor também prenunciou o princípio do “walk the talk”, mantra corporativo hoje: “É o mais alto dever e a maior prova de sabedoria que ações e palavras estejam em acordo”, escreveu em Cartas de um Estoico.

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Se não estiver treinando diariamente para enxergar o seu negócio, ele poderá passar na sua frente e você não irá perceber Em sua nova carreira como empreendedor de empreendedores, Romero precisa como nunca treinar os olhos para enxergar bons negócios e reduzir os riscos de investimentos que podem, por conta de uma ou duas decisões mal tomadas, colocar tudo a perder. Não é desse treino que obviamente se trata, mas muito diferente de tantos executivos com que convive, ele não malha o corpo intensamente, e, em vez de praticar triatlo ou spinning, prefere usar a bicicleta apenas como modal de transporte. Romero ainda dedica algum tempo a estudar a filosofia estoica e a ler versos dos Vedas, os textos ancestrais e sagrados do hinduísmo (veja boxe). Talvez por isso ele goste de contar que, dentre as startups mais bem-sucedidas que ele ajudou a transformar em unicórnios, utilize hoje em dia bem mais os serviços oferecidos pelo iFood do que pelo Gympass. Seja como for, a pedido de PODER, ele selecionou uma passagem das Meditações, de Marco Aurélio, para ilustrar esta reportagem. “Tudo que ouvimos é opinião, não um fato. Tudo que vemos é perspectiva, não a verdade.” Polêmica para alguém que precisa convencer investidores da correção de suas “teses”, mas a biografia – a do Romero, no caso – joga a favor do biografado n


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PAPO RETO

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Para ajudar a criar engajamento dos colaboradores e melhorar práticas internas, o storytelling ganha espaço no dia a dia das empresas POR PAULO VIEIRA

sta história é conhecida: interessada em criar uma imagem mais persuasiva e positiva, uma empresa de sorvetes recriou a história do avô de um de seus fundadores. O “nonno” era o sujeito visionário da família que, na Itália, lá atrás, já fazia sorvetes usando água da neve – o ancestral tinha nome e retrato no site da companhia, ambos falsos; algo semelhante aconteceu com uma companhia de sucos de caixinha, que formulou uma história e deu nome prosaico a apenas um de seus fornecedores de laranja. Nos dois casos, as empresas tentaram usar o storytelling – a contação de histórias – para fazer a mensagem gerar empatia e tornar-se mais presente na memória do consumidor. Pois bem: o storytelling, que utiliza elementos próprios de uma narrativa clássica – ação, conflito, superação desse conflito –, agora vem ganhando espaço nos processos internos das empresas. O objetivo é gerar mais engajamento dos colaboradores, ou seja, mais produtividade. Desde, claro, que as histórias sejam verdadeiras. A transacional P&G utiliza a ferramenta para fixar histórias modelares, facilitar a transferência de conhecimento e criar esse tão almejado engajamento. “O storytelling está em tudo o que fazemos”, disse a PODER a diretora de comunicação da operação brasileira, Marjorie Teixeira. “A gente sempre trabalhou para criar histórias para o consumidor, e hoje PODER JOYCE PASCOWITCH 21


‘‘É muito comum encontrar diretores e gerentes que sabem tudo de suas áreas, mas não conseguem comunicar o que fazem” Bruno Scartozzoni, consultor de storytelling

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ao contrário de relatórios quantitativos. E isso vale para o código de conduta de empresa, que pode – e deve – ser trocado por uma história modelar que o traduza; ou mesmo de conversas, ainda que informais, entre setores que não costumam se falar, como os departamentos de compras e vendas de uma mesma companhia. Com isso tudo, ficou pequeno para o famigerado Power-

Point: como já havia intuído há décadas Jeff Bezos, quando os slides são trocados por depoimentos de pessoas de carne e osso, o impacto da mensagem e sua longevidade são muito maiores. Pioneiro do storytelling no Brasil, o quadrinista Bruno D’Angelo ajudou a Embraer a recuperar certo orgulho ferido de seus colaboradores quando da operação frus-

‘‘O storytelling está em tudo que fazemos. Até o time de finanças conta histórias com contexto, ação executada e resultado” Marjorie Teixeira, diretora de comunicação da P&G Brasil

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO; ARQUIVO PESSOAL

vejo isso acontecendo em todas as áreas. Até mesmo o time de finanças conta histórias que tenham contexto, ação executada e resultado.” O modelo clássico em “três atos” emula a famosa jornada do herói e tem o condão de se fixar com muito mais propriedade na mente das pessoas do que, por exemplo, dados de um relatório em que os “protagonistas” são cifras e relações numéricas. As razões já estão bem estabelecidas pela ciência. Fatos envoltos em narrativas tendem a ser relembrados 20 vezes mais, segundo o teórico da educação Jérôme Bruner. Narrativas que contêm ações estimulam o córtex frontal, área do cérebro também responsável pelas ações motoras. O estadunidense Paul Smith, que passou boa parte de sua vida profissional na P&G, tornou-se teórico do storytelling. No livro Lead with a Story (não traduzido para o português), Smith enfileira estratégias administrativas que têm o storytelling como técnica central. A partir do sistema clássico, o mesmo usado pela P&G, que ele chama pelo acrônimo CAR (de contexto, ação e resultado), ele mostra como narrativas tendem a se perpetuar,


trada de venda para a Boeing, no começo da pandemia, em 2020. Ele cocriou o curta de animação de 14 minutos O Voo do Impossível, que mostra as sagas de Ozires Silva, fundador da Embraer, e de seu amigo Zico, que acabou por morrer antes de ver o sonho de ambos se concretizar. O sonho, fabricar aviões no Brasil, embala a narrativa, que é tocante mesmo para quem não tem qualquer relação com a Embraer. Bruno recentemente abriu uma empresa de fomento de produções de entretenimento, uma área em que o storytelling é central, e que, ao menos no Brasil, sofre com problema crônico de subfinanciamento. Ele define sua Wip como uma espécie de “aceleradora de estórias” que atua na descoberta e formação de novos roteiristas e outros criadores de narrativas; na resolução de questões de direito autoral; e, para retroalimentar o ciclo, na captação de recursos de patrocinadores como Netflix, Discovery e a ONG Gerando Falcões. Em entrevista a PODER, Bruno definiu o poder do storytelling com ajuda da teoria da evolução e de Yuval Harari, o autor de Sapiens: “O diferencial do ser humano como espécie é contar e entender histórias”. Sem remontar exatamente ao tempo das cavernas – e das histórias plasmadas pelas pinturas rupestres –, Bruno Scartozzoni, outro pioneiro do storytelling no Brasil, também perdeu a conta do número de empresas em que mostrou o poder da contação de histórias. “É muito comum encontrar diretores e mesmo gerentes que sabem tudo de suas áreas, especialmente as mais técnicas, mas não conseguem comunicar bem o que fazem”, disse a PODER. O profissional, que trabalhou em agências de publicidade e curiosa-

‘‘O diferencial do ser humano como espécie é contar e entender histórias ” Bruno D’Angelo, fundador da aceleradora de “estórias” Wip e pioneiro da difusão do storytelling no Brasil

mente é formado em administração pública, vem agora ajudando algumas companhias a entender a natureza do próprio negócio, às vezes pouco clara para seus colaboradores – e por vezes ainda mais confusa para o público externo. “Isso acontece bastante com startups de NFT e criptomoedas.” Bruno atua também no que é chamado de “knowledge management”, gestão de conhecimento em que conceitos e práticas são replicados pelos vários estamentos de uma empresa, na tentativa de impedir que esse saber se concentre em poucas figuras. O storytelling, para ele, significa “colocar emoção nos dados e nos fatos” e o princípio deve ser enfa-

tizado inclusive na temerária hora das apresentações, dada a paúra que as pessoas normalmente têm de falar em público. “A boa apresentação depende de como você fala, de como encadeia ideias, da linguagem corporal”, diz. “Não é o caso de eliminar o PowerPoint, mas fazer com que as pessoas deixem de se esconder por trás dele.” Em seu livro Comunicação Inteligente e Storytelling, o jornalista paranaense Rafael Arruda conta uma história definitivamente emocionante que qualquer empresa gostaria de ver acontecer em seus domínios. É a de “dona” Gláucia Maria, que procura o vendedor de uma loja varejista do interior do Paraná na qual ela havia comprado eletrodomésticos. “Marquinhos”, o vendedor, era a única pessoa em quem Gláucia confiava para ensi-

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‘‘Histórias podem mostrar que o que parece uma simples venda é, na verdade, criação de valor e oportunidade para as pessoas”

nar a ela como usar o celular de última geração que teve de adquirir. O aparelho permitiria que ela se comunicasse com a filha, que havia mudado para os Estados Unidos e lá tido seu primeiro filho – justamente o primeiro neto da avó distante. Marquinhos, segundo Rafael, “mudou a visão de mundo daquela senhora humilde” e a empresa em que trabalhava teve nas mãos a oportunidade de mostrar que o que “parece uma simples venda é, na verdade, criação de valor e oportunidades para as pessoas”. Eis o storytelling, pode-se dizer, em sua essência. Em entrevista a PODER, Rafael, que tem um segundo livro sobre o assunto pronto para ser lançado, expôs visão otimista sobre os negócios. Ele vê na base de qualquer transação comercial a “tentati-

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va de ajudar alguém de alguma forma”, ideia que a história de Marquinhos e Gláucia sintetizaria à perfeição. Histórias pessoais, nem sempre ocorridas no ambiente de trabalho, também são boas de contar quando um líder vai se apresentar a seu time ou a outras instâncias da empresa. Smith recomenda em seu livro que as equipes contem histórias pessoais. “Quanto mais pessoal, melhor”, escreve. Marjorie, da P&G, diz que a empresa, conhecida segundo ela por formar e reter talentos, estimula esse tipo de approach nas apresentações pessoais, tarefa a que os colaboradores se acostumam desde a chegada à companhia. Ela, que é baiana, gosta de dizer de onde veio e

de usar fotos que exibem situações vividas em família. O princípio também tem respaldo na consultoria transnacional KPMG, que vê o storytelling crítico na hora do “onboarding”, a apresentação dos novos ingressantes na corporação. Luciene Magalhães, head de capital humano da operação brasileira, mostrou a PODER uma linha do tempo com seus próprios altos e baixos em uma jornada de mais de 33 anos na empresa, algo que ela costuma exibir nesses encontros. Suas marcas vermelhas, de menor produtividade, coincidem com anos de profundas transformações pessoais. “Nessa hora a empresa vê nossa história inteira, não apenas uma fotografia do momento. Há outro comprometimento de liderança quando a gente fala para os outros quem somos – e como somos.” n

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Rafael Arruda, jornalista e autor de livros sobre comunicação organizacional


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PECUÁRIA SUSTENTÁVEL:

PRODUTIVIDADE COM EQUILÍBRIO Evento reúne os maiores especialistas do mundo para debater desafios, metodologias e soluções para a redução das emissões de metano do gado bovino

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o ano passado, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), o Brasil e mais de 100 países firmaram o compromisso global para a redução de 30% das emissões de metano até 2030. Segundo maior contribuinte para o aquecimento do planeta, o gás é altamente poluente e estima-se que 70% das suas emissões provenham de atividades humanas, entre elas os aterros sanitários, a queima de combustíveis fósseis e a pecuária. Com o objetivo de promover debates e reflexões sobre essas emissões na cadeia bovina e das medidas que podem ajudar a frear o aumento da temperatura global, no mês passado aconteceu o Fórum Metano na Pecuária – O

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Caminho Para a Neutralidade Climática, promovido pela JBS, líder global em alimentos à base de proteína, em parceria com a Silvateam, maior produtora mundial de extratos vegetais utilizados na alimentação animal. O evento contou com a participação de empresas públicas, privadas, instituições e órgãos de pesquisas, reunindo em São Paulo durante dois dias os maiores especialistas internacionais no tema. Na pauta, as soluções disponíveis para mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEEs), casos de sucesso de iniciativas públicas e privadas e as oportunidades para financiamento e créditos de carbono. “A JBS assumiu o compromisso de zerar o balanço líquido de emissões

de gases de efeito estufa”, disse Fábio Dias, diretor de relacionamento com pecuaristas da JBS. “Parte desse desafio envolve as emissões de metano da cadeia bovina, para o qual já estamos desenvolvendo projetos de mitigação. Ainda assim, sabemos que não temos todas as respostas. É por isso que promovemos um evento desse porte, com o objetivo de reunir alguns dos maiores nomes do planeta nessa missão crucial.” Uma das grandes referências no assunto, Frank Mitloehner, professor chefe do departamento de Conscientização e Pesquisa Ambiental (Clear) da UC Davis (Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos), explicou que os GEEs fun-

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O caminho para a neutralidade climática: fórum com os maiores especialistas no tema foi uma iniciativa da JBS e da Silvateam


cionam como uma espécie de cobertor ao redor da atmosfera. O metano, especificamente, é um cobertor 28 vezes mais grosso que o dióxido de carbono (CO2). No entanto, por ser eliminado em um período de dez a 12 anos, enquanto o CO2 permanece estocado por cerca de 100 anos. Reduzir as emissões de metano é uma das formas mais eficazes e rápidas para desacelerar as mudanças climáticas. “Temos olhado para o metano incorretamente quando se trata de reduzir o aquecimento. É importante entendermos que ele é muito diferente de outros gases”, alertou Mitloehner. “Em um rebanho de gado, após dez anos de emissões de metano, que é o tempo que o metano leva para ser eliminado da atmosfera, o aquecimento é neutro se as emissões permanecerem constantes. Isso porque a quantidade que está sendo emitida é igual à que está sendo eliminada. Consequentemente, o aquecimento é neutro”, detalhou, ressaltando que se as emissões forem reduzidas podem também desacelerar o aquecimento global. Segundo Frank, o Brasil, por ter um dos maiores rebanhos de gado do mundo, precisa enxergar o cenário como uma oportunidade e não como uma ameaça. E o segredo disso passa pelo bom manejo da pecuária, pelo adequado uso do solo e pela busca da eficiência energética. Quem também trouxe importantes reflexões durante o Fórum Metano foi a nutricionista Diana Rodgers. Ela é coautora do livro best-seller e do documentário Sacred Cow (Vaca Sagrada, em tradução livre), um exame aprofundado das controvérsias nutricionais, ambientais e éticas em torno da carne no mundo moderno. A especialista defende que uma dieta isenta de proteína animal pode ser mais nociva para o planeta do que a criação sustentável de gado. “As pessoas estão indo contra a carne

de uma forma emocional e pouco científica, sem argumentos embasados. A carne é um dos melhores alimentos que temos, pois podemos produzi-lo usando energia solar e uma série de iniciativas sustentáveis”, disse ela, ressaltando “a importância única da carne para a saúde humana”. Entre as soluções tecnológicas apresentadas no Fórum Metano na Pecuária, um dos destaques ficou para inovações promissoras de aditivos alimentares que in-

rurais a se integrarem às demandas globais e destacou a importância de gerar conhecimento para a criação de uma pecuária ainda mais sustentável. “Neutralizar as emissões de toda a cadeia produtiva é o grande desafio a ser enfrentado por todos. É o grande desafio da humanidade, da civilização. Nós, da JBS, temos como essência a produção de alimentos. O nosso sistema é biogênico e por isso tomamos a decisão de ser net zero em 2040. Tenho certeza de que vamos vencer esse compromisso e te-

“Nosso compromisso é ser net zero em 2040. Tenho certeza que teremos um planeta mais sustentável para as próximas gerações” Gilberto Tomazoni, Tomazoni, CEO global da JBS

fluenciam numa melhor digestão dos animais, o que, consequentemente, pode reduzir as emissões de metano. Exemplos de produtos com essa finalidade são os ingredientes naturais e ecologicamente corretos da Silvateam e o Bovaer, lançado pela empresa de nutrição animal DSM. O CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, também participou do fórum e falou das iniciativas da companhia para ajudar produtores

remos um planeta mais sustentável para as próximas gerações”, garantiu o executivo. O Brasil é responsável por 3% da emissão de GEEs no planeta, sendo que parte vem da pecuária. Por isso é tão importante tornar mais acessível o conhecimento sobre práticas sustentáveis. A pecuária pode ser parte da solução climática, desde que tenha acesso aos recursos técnicos e financeiros para transformar sua produção. PODER JOYCE PASCOWITCH 27


OUTRO OLHAR

NA ERA DA HAPPYCRACIA

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As lições de autoajuda estão disseminadas em todo planeta. Basta visitar qualquer livraria e você encontrará uma infinidade de títulos que vendem o pensamento positivo como uma ferramenta para transformar desejos em realidade. Mas qual o peso do copo meio cheio no ambiente de trabalho? POR CAROLINE MARINO

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asta pensar positivo. Muitas vezes você já deve ter ouvido esse conselho depois de relatar uma operação que não está dando certo na empresa ou uma experiência pessoal frustrada. É como se bastasse acreditar para as atividades darem certo. Inúmeros livros de autoajuda foram lançados nos últimos anos com receitas para a felicidade plena e para abafar os pensamentos negativos. Isso sem contar as redes sociais, recheadas de vidas incríveis, trabalhos perfeitos e pessoas realizadas. Em meio a tanta perfeição vista no mundo virtual, muita gente passou (e ainda passa) a acreditar que a vida do vizinho ou do colega de trabalho é bem melhor. Essa falsa sensação de que a maioria está se sentindo plena e feliz impele o “descontente” a mudar e a transformar a sua

vida também, tendo como uma das estratégias para isso... pensar positivamente. De tão compartilhada, essa forma de encarar os problemas tem levado muitos especialistas a tratar da positividade tóxica. É a happycracia. Apesar de ainda não haver uma definição científica, de maneira simples, trata-se de uma abordagem disfuncional do gerenciamento emocional, que exagera no lado positivo suprimindo os aspectos negativos relacionados. Ela diz que as pessoas devem focar sempre nas coisas boas e deixar os problemas de lado, pois, se pensar em pontos negativos, eles ficarão ainda maiores. A psicanalista Claudia Cavallini, consultora e professora na HSM Educação Executiva, explica que esse comportamento tem origem na psicologia positiva, difundida a partir do fim da década de 1990 pelo psicólogo Martin Seligman que, na época, era presidente da Associação Americana de Psicologia. Segundo ele, devemos deixar de olhar para os pilares negativos e focar nos positivos. Essa seria a ciência da felicidade e o que levaria ao sucesso e à motivação. “Com isso, a fala do negativo começou a perder espaço nas empresas, que passaram a usar discursos como ‘você consegue’ ou ‘vai dar certo’, mesmo diante de metas impossíveis. E quem ia contra esse movimento era considerado reativo e pessimista”, afirma Claudia. De acordo com ela, com a pandemia, percebeu-se que a angústia e os problemas estão perto de todos e essa positividade excessiva foi questionada. “A vida não é legal sempre e problemas existem. Hoje, o que não é positivo é um líder que não acolhe os sentimentos das pessoas”, diz.

O SEGREDO É O EQUILÍBRIO

Ninguém está falando em não pensar positivo. Isso faz sentido e ajuda em muitos momentos, mas começa a dar errado quando você passa a jogar para debaixo do tapete as questões negativas e as dificuldades. “É perfeitamente legítimo pesquisar os fatores que aumentam o bem-estar, fornecem ‘experiências ótimas’ e melhoram os níveis de desempenho. Mas, nas mãos de consultores e coaches — e de gestores entusiasmados que frequentaram breves cursos de ‘liderança positiva’ —, a psicologia positiva rapidamente foi reduzida a uma ferramenta para calar as críticas”, diz Svend Brinkmann, professor de psicologia da Universidade de Aalborg e autor de Positividade Tóxica – Como Resistir à Sociedade do Otimismo Compulsivo (Ed. BestSeller). PODER JOYCE PASCOWITCH 29


Carla Furtado e Claudia Cavallini, especialistas em felicidade nas organizações: bloquear emoções negativas pode gerar problemas de saúde

fica Journal of Personality and Social Psychology mostra que pessoas que evitam entrar em contato com sentimentos negativos têm mais problemas de saúde mental do que as que costumam aceitar todas as suas emoções. Isso porque, tudo levado ao extremo é prejudicial. Algumas análises científicas apontam que a maioria das pessoas perde muito

práticas incríveis de gestão, mas quando realizamos a escuta de sofrimento do trabalho, uma prática clínica, ouvimos muita dor”, afirma a psicóloga Carla Furtado, fundadora do Instituto Feliciência e autora do livro Feliciência: Felicidade e Trabalho na Era da Complexidade (Ed. Actual). Os números mostram isso. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior incidência de ansiedade e o quinto com mais pessoas sofrendo de depressão. Já a síndrome de burnout, de esgotamento no ambiente de trabalho, nos coloca em segundo lugar, de acordo com a International Stress Management Association (Isma-BR).

Um levantamento feito pelo especialista Rob Kaiser, presidente da Kaiser Leadership Solutions, que atua na avaliação e desenvolvimento de líderes, mostra que mesmo as competências adaptativas se tornam inadequadas quando levadas ao extremo. Isso quer dizer que forças excessivas podem se tornar fraquezas. E calar as críticas e bloquear emoções negativas pode ter um preço caro para a sua saúde. Um estudo publicado na revista cientí-

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tempo insistindo em objetivos irreais. Mesmo quando comportamentos passados sugerem que é improvável que as metas sejam atingidas, o excesso de confiança e um grau acima da média de otimismo fazem com que as pessoas desperdicem energia em tarefas inúteis. “Há narrativas exaustivas de vidas incríveis. E isso acontece também no trabalho. Nas mídias sociais vemos tudo fantástico, com pessoas satisfeitas e orgulhosas e

Além dos problemas de saúde mental, Maria Candida Baumer de Azevedo, sócia da People & Results, especializada em carreira e cultura empresarial, explica que a positividade tóxica faz com que as pessoas percam a oportunidade de usar as dores e dificuldades para evoluir profissionalmente. “Se sempre penso que tudo vai dar certo, não aprendo e paro no tempo”, diz. Segundo ela, ao olhar as duas metades do copo – cheia e vazia – é possível exercitar o senso crítico, tão importante para conseguir tomar boas decisões e evitar ciladas. Além disso, ajuda na inovação, na criatividade e na solução de problemas. Outro perigo da positividade tóxica é fechar os olhos para os problemas

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CARREIRA PREJUDICADA


“Se sempre penso que tudo vai dar certo, não aprendo e paro no tempo. Ao olhar as duas metades do copo – cheia e vazia – é possível exercitar o senso crítico, tão importante para tomar boas decisões” Maria Candida Baumer de Azevedo, consultora de carreira

FUJA DO OTIMISMO DESENFREADO Veja como não ser tomado pela positividade tóxica

e Se permita ficar triste. É essenessencial aceitar que nem sempre as coicoisas são como gostaríamos; e Nunca leve uma opinião isolaisolada à risca. Sempre busque saber se mais pessoas acreditam no mesmo que você. Só depois disso encare como real o que está pensando; e Desconfie de pessoas que nunnunca enxergam o lado ruim das coisas; e Tenha ao seu lado colegas crícrí ticos e exigentes para contrapor a visão positiva demais; e Entenda que problemas e ponpontos negativos sempre vão existir. Se você não os enxerga de primeira, deve buscá-los para ter uma visão real da situação; e Nunca se deixe levar pelas apaaparências. Nenhuma vida é perfeita, nem do seu chefe, nem do CEO da empresa e de famosos. Fonte: Maria Candida Baumer de Azevedo, sócia da People & Results

que podem prejudicar a carreira. Ela dá dois exemplos. “Quando você vê tudo com olhos de Poliana pode insistir em projetos que não têm futuro, prejudicando os resultados e sua imagem profissional, ou cometer um erro e não se dar conta, o que pode gerar até uma demissão”, diz. O que acontece é que esse discurso de “precisamos ser positivos” vem, muitas vezes, da liderança. “Apesar desse modelo estar ultrapassado, ainda vemos uma geração de gestores com esse pensamento, no qual nem ele mesmo pode desacreditar da meta que estipulou, por exemplo. Trata-se de uma liderança tóxica e que não ajuda nos resultados”, conta Claudia. Segundo ela, os novos lí-

deres admitem a vulnerabilidade, olham o lado humano entendendo que o outro sofre em alguns momentos. “Sai de cena o super-herói e entra o gestor colaborativo e empático”, revela. Na visão de Carla, com essa busca desenfreada pela positividade em tudo, estamos impingindo um sofrimento desnecessário às pessoas. “Quando exigimos que os profissionais não sejam humanos, ou seja, não tenham medo ou angústia, isso gera dor”, afirma. E todos perdem: o profissional, que fica doente; a família, que se preocupa; e a empresa, pois o funcionário vai se afastar, o clima fica pesado e os resultados são prejudicados. “Quanto custa para as empresas não cuidar das pessoas?” Essa é a pergunta que deve ser respondida. n PODER JOYCE PASCOWITCH 31


ANTENA

Quem é Shari Redstone, a mulher mais poderosa da indústria de entretenimento, que comanda a Paramount Global, um império de mídia avaliado em US$ 22 bilhões e presente em mais de 180 países POR ANDERSON ANTUNES

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m meados de fevereiro deste ano, diante de um grupo de investidores formado majoritariamente por homens, Shari Redstone afirmou com uma certeza contagiante o quão animada estava com o futuro da empresa sob sua gestão indireta há anos, a então gigante de mídia americana conhecida como ViacomCBS, e rebatizada dias depois daquele discurso como Paramount Global. O momento marcou uma vitória pessoal da executiva de 68 anos, que apenas dois anos antes lutava para manter o controle da companhia em suas mãos, uma batalha à la Succession que a colocou em alguns momentos contra seu próprio pai, o lendário magnata do entretenimento Sumner Redstone, e a obrigou a enfrentar o ex-todo-poderoso de Hollywood Les Moonves, que durante mais de duas décadas foi o chefão da rede de televisão CBS, a maior dos Estados Unidos, e parte do conglomerado que agora ostenta o nome de um dos estúdios de cinema mais famosos do país. Mais do que vitoriosa, Shari não somente venceu a disputa corporativa sem precedentes contra todos que passaram por seu caminho como, de quebra, também acabou se tornando a mulher mais poderosa da indústria de entretenimento global. Não por acaso, a guerra na qual ela levou a melhor serviu de inspiração para a premiada série Succession, sucesso da HBO, que trata de uma guerra familiar recheada de personagens ricos, herdeiros, esnobes e pouco confiáveis, pelo comando de um império de comunicação bastante parecido com a Paramount Global – suas subsidiárias mais famosas, além da CBS, incluem canais como MTV e Nickelodeon, a editora Simon & Schuster, o estúdio Paramount Pictures e a plataforma de streaming Paramount+, recém-chegada ao Brasil que conta atualmente com mais de 62 milhões de usuários pagantes e compete de igual para igual com Netflix e Disney+.


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Acima, com o rapper Snoop Dogg na festa de inauguração da sede da Viacom, em 2017, em Hollywood, casa dos canais Comedy Central, MTV e VH1. Ao lado, algumas das marcas de sucesso do conglomerado de mídia

timentos que controla os interesses dos Redstone. Considerado um dos últimos barões da mídia tradicional dos Estados Unidos, o magnata foi adquirindo outras empresas por anos até formar o que acabou se tornando, conforme orquestrado por Shari, a gigante ViacomCBS. Na Succession da vida real, Shari não teve vida fácil ao chegar no topo. Isso porque os investidores, os mesmos que a encontraram no começo de 2022, passaram a cobrá-la cada vez mais por resultados e, principalmente, pela elaboração de um plano de negócios capaz de preparar a ViacomCBS para o futuro, que neste caso significava o avanço das plataformas de streaming. O resultado disso foi a criação da Paramount Global, que nasceu com o objetivo de preparar a empresa antecessora, com seus mais de 170 canais e 700 milhões de telespectadores em 180 países, para o amanhã da grande mídia, uma das indústrias em maior transformação atualmente no mundo.

SOBRENOME EXPERIÊNCIA

Nas mãos, Shari tem um grupo de marcas famosas, todas pertencentes ao catálogo da Paramount Global, com valor de mercado de apro-

FOTOS GETTY IMAGES; FREEPIK;

Shari Redstone começou a sua luta que culminou com a criação da Paramount Global em 2018, quando iniciou as tratativas para fundir a Viacom com a CBS, ambas pertencentes ao pai, Sumner, que morreu em 2020 aos 97 anos. A ideia da executiva era reunir as duas companhias para criar sinergia, e, consequentemente, diminuir o poder de Les Moonves, uma espécie de “Boni” (ex-diretor da Rede Globo) da TV americana, no que diz respeito à sua relevância no meio, que fez de tudo para impedir o negócio. É ou não uma trama e tanto? Para o azar dele, e sorte de Shari, Moonves se tornou alvo de várias acusações de assédio sexual no auge do #MeToo, e se viu forçado a renunciar ao cargo de CEO da CBS que ocupava desde 2003. O executivo de mídia, no entanto, continuou sendo um dos maiores conselheiros de Sumner, que a essa altura já não mandava mais em suas empresas e havia passado o bastão para a filha, embora mantivesse o cargo de presidente do conselho da ViacomCBS e, vez por outra, desse mais valor às observações de seu subordinado famoso do que as de Shari. Ela, porém, não desanimou, e no fim conseguiu tirar a fusão do papel criando uma nova corporação de US$ 30 bilhões de um jeito que surpreendeu até mesmo os mais experientes players do showbiz americano, que a partir daí deixaram de vê-la apenas como uma herdeira nascida em berço de ouro. A Viacom surgiu no início dos anos 1950, a partir de uma rede de cinemas comprada por Sumner, a National Amusements, que hoje funciona como o veículo de inves-


ximadamente US$ 22 bilhões. Por números, é possível dizer que ela está dando conta do recado, afinal, a Paramount Global terminou 2021 com receitas de US$ 28,6 bilhões e um lucro líquido de US$ 4,5 bilhões, além de um caixa forte com US$ 5,3 bilhões disponíveis. Tais cifras foram notadas até mesmo por Warren Buffett, o maior investidor das bolsas mundiais, que em março comprou US$ 2,6 bilhões em ações da mega-holding. Formada em Direito pela Boston University School of Law, Shari se especializou em arbitragem corporativa, o que veio a calhar em sua cruzada que resultou na criação da Paramount Global. Descrita por quem a conhece bem como “extremamente competente” e “destemida”, ela já deu provas suficientes de que sua experiência vale muito mais do que seu sobrenome, e também que desafios a atraem mais do que lhe dão medo. Sua nova guerra agora é outra, basicamente a mesma pela qual passam todas as grandes empresas de mídia no planeta. Nesse caso, o que está em jogo é o reposicionamento da Paramount Global diante de um novo mercado consumidor de entretenimento dominado pela Netflix e afins, que para a sorte de Shari já despontou em larga vantagem, graças ao acervo de títulos do conglomerado e de seu poderio financeiro. O plano da executiva é conquistar 100 milhões de assinantes do Paramount+ ainda no primeiro semestre de 2023, um objetivo ousado, mas que ela garante ser possível de alcançar. Antes dela, apenas Mary Pickford, cofundadora da United Artists, e

Na imagem acima, na companhia do filho, Brandon Korff, uma foto de fã com o ator, diretor e produtor de televisão Jon Hamm, o Don Draper de Mad Men. Men. Abaixo, Shari e diretores da Paramount com Tom Cruise, o astro de Top Gun: Maverick

Lucille Ball, fundadora do estúdio Desilu, tiveram tanta influência nos bastidores de Hollywood. Shari Redstone entende muito bem a complexidade de seu cargo e a importância das decisões que tomará daqui para frente, mas também garante que é capaz de atingir todos os resultados necessários para manter a Paramount Global bem posicionada

entre seus pares. “Nós temos a capacidade de chegar lá e focamos nisso. Com certeza vamos conseguir entregar a vocês exatamente aquilo que merecem”, disse, na apresentação em fevereiro, para os executivos investidores que a ouviram em silêncio e ao fim do discurso a aplaudiram. Outra vez a dona do controle remoto provou ter razão. n PODER JOYCE PASCOWITCH 35


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RESPIRO

OS COWBOYS DA MEIA-NOITE A tradução para Perdidos na Noite definitivamente não entrega o plot de Midnight Cowboy, o filme de John Schlesinger em que Dustin Hoffman e Jon Voight interpretam uma dupla improvável de rufiões – os caras malvados da Times Square num tempo em que a Times Square tinha caras malvados. Mas é mesmo pouco verossímil que um caipira recém-chegado do Texas (Voight) torne-se subitamente o rei da noite da capital do mundo apenas lançando mão da meritocracia e de uma improvável amizade com o hustler local (Hoffman), e o herói e seu chapéu de vaqueiro acabam enveredando por um caminho pouco glamouroso. A Academia talvez não estivesse em seus melhores dias em 1970, e achou o longa tocante o suficiente para conceder-lhe o Oscar de melhor filme mesmo diante de concorrentes de peso como Butch Cassidy, Z e Hello, Dolly!


FOTO GETTY IMAGES



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NOVO HORIZONTE

uturo verde Após deixar junto com João Doria o Palácio dos Bandeirantes, Patricia Ellen, ex-secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, aposta em frentes de impacto ambiental para fazer o Brasil liderar mundialmente a transição para a economia verde POR DADO ABREU FOTO PAULO FREITAS

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á algo que tem tirado o sono de Patricia Ellen da Silva. Desde que deixou o comando da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, quando foi peça-chave na equipe do exgovernador João Doria, a executiva decidiu empreender na chamada economia verde. Ela aposta no potencial do Brasil como protagonista global da transformação para um mundo de baixo carbono. O tema faz parte da agenda estratégica dos CEOs das grandes empresas e promete ser fator decisivo para a sobrevivência das organizações – e da humanidade – nos próximos anos. Se migrou para um setor tão estratégico e necessário, qual o motivo de preocupação? Patricia diz que falta “entendimento e consciência” da urgência do tema. “Não temos tempo de esperar as eleições ou um novo governo. O Brasil pode, deve e merece liderar essa transformação em prol da descarbonização e se tornar uma superpotência verde”, disse, em entrevista a PODER. Ela agora ataca em duas frentes. A primeira é a Aya Initiative, um ecossistema digital e colaborativo em que ela pretende juntar empresas, ONGs, startups e instituições para criar soluções de descarbonização da economia; a segunda é a Systemiq, consultoria internacional na qual a ex-secretária acaba de assumir a presidência da operação brasileira. A seguir, confira os principais trechos da conversa com a PODER:

NOVA ECONOMIA

“Entrei fundo no trabalho de desenvolvimento econômico sustentável no governo de São Paulo. Viajei o mundo inteiro com essa agenda e vi como o Brasil virou pária na questão. Estudei o projeto e, hoje, se tem algo que me tira o sono é a falta de entendimento e de consciência na urgência em tratar o tema. Não podemos esperar as eleições, não dá para aguardar um novo governo. O setor privado tem de liderar essa transição, daí minha decisão de recuar estrategicamente da gestão pública. Quero ajudar empresas que estejam comprometidas com a descarbonização da economia. Cuidar da intersecção envolvendo justiça social, justiça climática e tecnologia.” PODER JOYCE PASCOWITCH 41


NÃO OLHE PARA CIMA

“Criamos [Patricia e o empresário Alexandre Allard] a Aya Initiative, um hub de soluções para descarbonização da economia, um ecossistema colaborativo em que grandes empresas, instituições e ONGs vão convergir para criar a espinha dorsal da transformação para o baixo carbono no Brasil. Trabalhando em três esferas: convocação e convening; conteúdo e avaliação; e as soluções. Vamos juntar os formadores de opinião e os principais tomadores de decisão para que eles tenham acesso a um conteúdo rico de relatórios e informações sobre a descarbonização e os desafios de cada setor. Lançamos uma parceria com o Pacto Global da ONU, com a Future Carbon, e precisamos juntar mais forças. O Brasil tem que se unir e liderar essa agenda, senão seremos liderados. Quem hoje mais compra crédito de carbono barato na Amazônia? A Amazon. É isso que a gente quer? Não está claro para o empresariado como estamos nos enfraquecendo, é como no filme Não Olhe para Cima – o asteroide já está aqui e estamos brigando por bobagens.”

UNIÃO SISTÊMICA

“Não quero trabalhar sozinha, queremos estar juntos com os melhores do mundo. Tenho uma enorme admiração pelo impacto que a Systemiq causa e por isso aceitei o desafio de comandar a operação no Brasil. É uma consultoria global com operações no Reino Unido, Holanda, Alemanha, Indonésia e Brasil que se propõe a resolver problemas sistêmicos complexos para uma economia de baixo carbono. Tenho dito, brincando, que entrar de sócia foi a parte mais fácil, difícil foi convencer os europeus de que o Bra-

sil precisa liderar a transformação verde. Montei um plano de negócios para quadruplicar a operação no Brasil nos próximos dois anos, trazendo sócios estrangeiros para cá, investindo pesado na transformação. E eles toparam, aprovaram por unanimidade a minha entrada e o business plan. Foi muito bonito. Pretendemos lançar o maior relatório sobre a Amazônia ainda este ano, na COP27 [Conferência da ONU sobre Mudança do Clima, que acontecerá em novembro, no Egito].”

O CHAMADO

“Sempre fui uma pessoa que recorre à natureza como cura na vida. De tudo. Desde sempre. Minha avó era indígena e meu avô garimpeiro, por parte de mãe. Por parte de pai, meu avô trabalhava em uma fazenda, em Sergipe, e minha avó veio para São Paulo criar 16 filhos às margens do rio Pinheiros. Meu pai, sempre que tinha uma oportunidade, transformava qualquer terreno baldio em horta. Então essa proximidade com a natureza, essa necessidade, é uma coisa muito forte em toda a minha família – imagine que meu avô, aos 78 anos, com esclerose, andou 15 km sozinho e foi morrer dentro de um rio em Uberaba. Na pandemia eu passei por um processo muito desafiador: pessoal, profissional, físico e emocional. Em julho do ano passado, quando as coisas começaram a melhorar, falei para o governador [João Doria]: ‘Preciso de uma semana de folga’. Fui para a Chapada Diamantina (BA) e a conexão com a natureza me tocou muito, fiquei extremamente emocionada. Depois, em outubro, fui para o Acre e atravessei de Rio Branco até Cruzeiro do Sul vendo o desmatamento da Amazônia. Cheguei a uma aldeia dos shanenawas

Patricia Ellen com Luiza Trajano em recente viagem a Nova York e com parceiros para tentar conduzir o Brasil para a economia verde

42 PODER JOYCE PASCOWITCH


“Não tinha ideia que a política podia ser tão territorialista, machista. Me formei em Harvard, mas pessoas estavam preocupadas com meu sobrenome, Da Silva” e àquele processo de desconectar, de vivenciar a cultura de um povo. Percebi que queria dedicar todo meu tempo, não parte, a esse resgate da sociedade com a natureza. E que talvez fosse a hora de integrar tudo o que eu já fiz na vida, que a melhor forma de contribuir era voltando às grandes empresas, onde passei 20 anos da minha carreira, acelerando o processo de descarbonização.”

FOTOS ARQUIVO PESSOAL

SERVIÇO PÚBLICO

“O serviço público te dá senso de propósito. Saí do governo com vários sentimentos. Primeiro, gratidão. Não teve um dia, mesmo nos mais difíceis da pandemia, que eu não me senti grata por estar ali, por estar viva. Fico até emocionada. Acho que a gente, às vezes, tenta esquecer o que passou, estivemos no limite entre a vida e a morte por um período muito longo. Um segundo sentimento vem de dever cumprido. Foi difícil? Sim. Maior desafio da minha vida? Sim. Mas eu estava no lugar certo para ajudar muita gente. Não tinha intenção político-partidária, estava totalmente presente, era a minha escolha. E tinha conhecimento, havia acabado de liderar uma empresa de tecnologia em saúde, por isso teve essa sincronicidade especial. Fui enviada para uma guer-

ra, sem saber que tinha ido para uma guerra, mas confiante porque estava preparada para a trincheira. Saí, sem dúvida, com sentimento de dever cumprido. Foi um enorme privilégio poder executar o verdadeiro significado do serviço público. Ter dedicado três anos sem esperar nada em troca.”

MUNDO CÃO

“Não tinha ideia que a política era tão dura, que podia ser tão territorialista, machista, classista. Me formei em Harvard, mas as pessoas estavam preocupadas com meu sobrenome, ‘Da Silva’. Aí você começa a entender e viver de perto a história da política brasileira, das famílias, que há 20, 30, 40 anos estão ali, possuem fazendas nos mesmos lugares, é tudo muito amarrado. O governador João Doria me deu muita autonomia, confiança, uma relação de muito respeito, mas o entorno era o típico da política, de um estado muito conservador como São Paulo, em todas as formas, que nunca teve sequer uma vicegovernadora mulher.”

VERDE É FEMININO

“Tenho trabalhado muito com a ideia de que o futuro é verde e feminino. Meu objetivo é trazer mulheres para a pauta da descarbonização de uma forma mais técnica. A descarbonização global é um espaço de hegemonia masculina, isso é evidente até na Europa, que está na vanguarda da transformação energética. Precisamos mudar isso. Quando a gente ocupa espaço, criamos um precedente que abre outros espaços para ainda mais mulheres. Porque não adianta apenas ocupar, é preciso mais, é preciso abrir espaços.”

NO CONTRAFLUXO

“A política ambiental do Brasil é um grande desafio para acelerar a descarbonização, um entrave. Ainda mais se compararmos com países europeus que têm avançado bastante na regulação, nos incentivos. Nas minhas viagens, pude perceber como a imagem do Brasil se deteriorou de 2019 para 2021. Mas não temos tempo para lamentar, nem de esperar outra eleição. Por isso tenho me cobrado tanto nesse lugar, em me colocar à disposição para unir o empresariado, mostrar que esse futuro verde já é um presente, é agora, e que o Brasil pode, deve e merece liderar essa transformação com ou sem política pública. É muito grave o que está acontecendo. Cientificamente, a janela global, para a reversão desse processo, é de três a cinco anos. O futuro chegou. E ele é verde.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 43


ENSAIO

Com uma carreira premiada como diretor de teatro e novela, Enrique Diaz brilha também como ator com seus múltiplos e cativantes personagens – principalmente os de caráter duvidoso por

AMAURI ARRAIS

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fotos leo aversa

styling ale duprat

á uma reação comum de fãs de novelas e séries quando veem os personagens de Enrique Diaz: uma certa simpatia natural, como se fossem aquele conhecido boa- praça que sempre consegue nos arrancar um sorriso. Foi assim com o Durval de Amor de Mãe (2019), um pai meio relapso que abandona o lar; e com Plínio, o delegado canalha da série Onde Nascem os Fortes (2018). Ambos são figuras mais fáceis de detestar, mas que conquistaram o público. O ator e diretor de 54 anos enxerga nessa resposta do público um efeito da sua tentativa de conferir certa humanidade aos personagens, sejam as falhas morais, o excesso de inocência ou mesmo a violência. “A humanidade sempre vai dar vários lados e produzir empatia. Não é uma questão de estratégia, mas de visão de mundo mesmo”, garante. Enrique reconhece que o humor também permeia as visões de quase todas as figuras que encarnou. A exceção mais recente foi Gil, o marido de Maria Marruá (Juliana Paes), que arrancou elogios da crítica e dos espectadores com uma atuação comovente na primeira fase da nova encarnação de Pantanal. O papel do lavrador que perde o filho e depois é morto no conflito por terra tinha uma carga simbólica para Diaz, que interpretou o filho do personagem, Chico, na novela original da extinta TV Manchete. O ator, que tinha 23 anos à época, diz que reviu cenas da trama, menos para estudar e mais por uma inevitável curiosidade sobre a passagem do tempo. “Tem uma perplexidade de me ver ali 30 anos antes, uma coisa de vida muito bonita.” Enrique Diaz nunca esteve longe da televisão, embora nos últimos tempos tenha emendado um bom personagem no outro. Depois da participação em Pantanal, está escalado para Mar do Sertão, próxima novela das 6 da Globo, num papel que descreve como uma espécie de João Grilo, o sertanejo trapaceiro e de bom coração de O Auto da Compadecida.




Do outro lado das câmeras, dirigiu as novelas A Regra do Jogo e Joia Rara, vencedora de um Emmy internacional. Essa alternância entre atuação e direção é parte da trajetória de Enrique Diaz, ou Kike, como é também chamado, que diz ter aprendido mais a atuar dirigindo colegas de profissão. “Sinto bastante a presença da minha experiência como diretor. Como ator, eu vou sempre tentar pensar a cena, que é diferente de pensar só no meu personagem. Se a função do meu personagem naquela cena é periférica, entendo isso e me coloco no lugar mais justo.” Com sua Companhia dos Atores, que fundou e dirigiu durante 24 anos, montou Shakespeare e Tchekhov, além de clássicos da dramaturgia nacional como O Rei da Vela e O Bem-Amado, e arrebatou todos os principais prêmios das artes cênicas do país. Anos antes de fincar seu grupo teatral na Lapa carioca, com apenas 30 anos, foi convidado para dirigir Fernanda Montenegro em outro clássico de Tchekhov, A Gaivota. Mesmo inseguro no início, chegou a estudar o texto, mas acabou declinando do convite “irrecusável” para atender a um chamado do cinema. “Não me arrependo, acho que eu ia fazer mal o trabalho”, diz, modesto. Foi durante as filmagens do longa Kenoma que conheceu a atriz Mariana Lima, sua companheira há 25 anos. Nos ensaios, os dois atores, que fariam um par romântico, beijaram-se e nunca mais se desgrudaram, como lembrou em uma declaração recente para a amada no seu Instagram. O encontro, que Diaz chama de “o fenômeno Mariana em minha vida”, rendeu parcerias também na televisão e nos palcos, além de duas filhas, Elena e Antonia, que o casal levou desde cedo em turnês teatrais pela Europa e Estados Unidos. Mas, para além das afinidades e admiração mútua, a relação requer uma sintonia fina. O casal vive hoje em casas separadas, embora, como afirma, essa não seja uma decisão inteiramente assentada. “A gente está em movimento, experimentando e vendo o que é melhor. Isso [de morar separados] faz parte dessa fase dos últimos anos. Podemos vir a morar juntos de novo, assim como se separar algum dia. Essa escuta permanente é honesta, ajuda a assumir que estar nesse movimento quase arriscado é mais legal do que não ter isso. A gente fica numa dança, é fascinante.” O casal que prega a liberdade de repensar constante-

mente o modelo de relação também destoa de muitos colegas no uso das redes sociais para dizer o que pensa. Apesar de deixar claras suas convicções, Diaz afirma não se achar “nem um pouco militante” e diz ter despertado tarde para os impactos da política na vida diária. Nascido em Lima, no Peru, filho de um funcionário da OEA, a Organização dos Estados Americanos, ele chegou ao Rio de Janeiro com 1 ano de idade. Começou a fazer teatro por influência do irmão, o também ator Chico Diaz, e conta que, até os “20 e tantos anos” não se interessava muito por política, achava que o Brasil, esse conhecido pela classe média, nunca ia mudar. “Com a Era Lula, com toda sua complexidade, vi uma possibilidade de mudança real que me espantou profundamente. Isso não me fez ficar ligado a nenhuma militância, mas perceber que nosso movimento é vivo e influencia a realidade”, afirma. Hoje, diz estar mais em sintonia com os meandros da política, mas prefere se expressar por meio do trabalho e considera truculenta a pressão que muitos colegas enfrentam para se manifestar sobre os mais variados temas, sob risco de serem os próximos “cancelados” nos tribunais das redes. “Essa época de cancelamento é muito nociva em vários sentidos. Um convite à conversa é diferente dessa fogueira que se cria para que as pessoas tenham que se manifestar o tempo todo”, conta. É nos palcos e sets que o ator e diretor manifesta sua resistência aos ataques que a arte e a cultura vêm sofrendo nos últimos anos. Seu mais recente projeto na direção, após um tempo afastado, é um espetáculo protagonizado pelas atrizes Marieta Severo, Andrea Beltrão, Renata Sorrah e Ana Baird, que marca a reabertura das salas do Teatro Poeira, fundado por Marieta e Andrea, no Rio. “Será um reencontro com o público, com o Brasil, que foi se transformando nessa coisa indigesta, em que artistas e cultura são demonizados”, diz ele, que se considera um otimista, mas um pouco reticente sobre o futuro. “Sou otimista por natureza no sentido de que estamos fazendo o que temos que fazer. Vejo vibrações muito positivas, mas também essa alma tacanha com uma presença muito grande. Torço para esse período não ser longo porque estou ficando velho, quero ter períodos longos e bacanas de delícia.” n


Beleza: Vini Kilesse Edição de arte: David Nefussi


FOTOS DIVULGAÇÃO

(*) Uitto J. The role of elastin and collagen in cutaneous aging: intrinsic aging versus photoexposure. J Drugs Dermatol. 2008;7(2 Suppl):s12-s16 (**)Goldberg D, Guana A, Volk A, Daro-Kaftan E. Single-arm study for the characterization of human tissue response to injectable poly-L-lactic acid. Dermatol Surg. 2013;39(6):915-922

SEGREDOS DE PELE

PODER

Cuidar da saúde da pele é importante para INDICA todo mundo, mas é a partir dos 30 anos que o corpo começa a diminuir a produção de colágeno*. Essa diminuição fica mais acentuada conforme vamos avançando na idade. Com isso, a pele vai perdendo aos poucos sua firmeza, elasticidade e sustentação. Além do envelhecimento, outros fatores contribuem para acentuar a flacidez como emagrecimento, esportes de alta performance, pós-parto, entre outros motivos. A GALDERMA, maior empresa independente de dermatologia do mundo, apresentou no mês passado as suas soluções estéticas e tópicas para o cuidado com a pele em Sabrina Sato entre Fabiana Justus e Bruna Unzueta diferentes idades durante um superevento realizado no espaço Cubo do Shopping JK, em São Paulo. Dentre os produtos indicados, o bioestimulador de colágeno Sculptra®, o portfólio de preenchedores à base de ácido hialurônico Restylane® e o grande lançamento de Cetaphil®, a linha de séruns para o rosto e olhos e o creme facial hidratante Optimal Hydration, foram os destaques. Acompanhado de perto por PODER, o evento trouxe um bate-papo que reuniu Juan Gaona, gerente-geral da Galderma Brasil, as influencers de beleza e embaixadoras da Galderma Fabiana Justus e Bruna Unzueta, os dermatologistas Alberto Cordeiro e Daniela Pimentel e o cirurgião plástico Luddi Oliveira. A conversa foi mediada pela apresentadora Sabrina Sato, também embaixadora da marca, que falou sobre a sua rotina de skincare. “Utilizo Cetaphil® há anos e Sculptra® de balde!”, brincou. Ela conta que coLuddi Oliveira, Daniela Pimentel, Juan Gaona e Alberto Cordeiro meçou o tratamento com Sculptra®, um bioestimulador de colágeno capaz de aumentar em 66,5%** a produção textura leve e rápida absorção, todos turbinados com o natural da proteína, por indicação médica quando desejou complexo HydroSensitiv™, composto pela Blue Daisy, um resultados mais potentes depois da gravidez, o que a aju- ingrediente botânico considerado calmante natural, e com dou a retomar a firmeza da pele, do corpo e da face. ácido hialurônico, que promove aparência rejuvenescedora Além de usar o bioestimulador, Sabrina revela que tam- e hidratação profunda. “Não deixa aquela sensação pegajobém faz uso do preenchedor à base de ácido hialurônico sa e a absorção é super-rápida”, disse Bruna Unzueta. Restylane®. “Com o tempo, parece que o nosso rosto vai Seja qual for a sua idade, estabelecer uma rotina de skindando uma murchadinha. O meu dermatologista usou o áci- care é importante para a saúde da pele. Além do cuidado do hialurônico da Galderma, o Restylane®, para dar uma le- diário, o uso de produtos de qualidade é fundamental. O vantadinha no meu rosto e aumentar um pouco o volume da resultado é uma aparência mais jovem, leve e revigorada. Sculptra® e Restylane® são produtos utilizados em minha boca. Os tratamentos com Restylane® duram até 36 meses. A última vez que fiz meu lábio já faz uns dez meses, e procedimentos estéticos não cirúrgicos, que devem ser ainda estou com a boca preenchidinha”, revela. realizados em consultório por profissionais da saúde de Entre as novidades, Cetaphil® apresentou a linha Optimal sua confiança habilitados à prática de injetáveis. Hydration, que conta com três produtos para o rosto com +GALDERMA.COM / @GALDERMA.AESTHETICS.BR


CANTO DE PODER POR ALINE VESSONI

FOTOS CL AUDIO EDINGER

FOTOGRAFIA POR TODA PARTE

Em seu escritório, Edinger (no destaque) tem algumas de suas fotos expostas, imagens de figuras ligadas à tradição védica, como Ganesha e sua calopsita, o Lahiri

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Quem entra no prédio em que mora o artista e fotógrafo Claudio Edinger, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, já no hall começa a adentrar ao seu local de trabalho. “Tenho um escritório dentro de casa, mas, na verdade, minha casa toda é meu estúdio, porque eu aprendo muito quando coloco uma foto na parede, olho para ela todos os dias. A fotografia vai ganhando outros significados”, conta ele que, ao conversar com os vizinhos, conseguiu angariar espaço no hall social do edifício e pendurar ali alguns de seus cliques. Mas o local não é suficiente, já que em casa também divide o espaço com o trabalho da mulher, a fotógrafa Betina Samaia. Em meados da década de 1970, Edinger começou a frequentar o Edifício Martinelli, no centro da cidade, para fotografar o que ele chamou de “microcosmos de São Paulo” – basicamente porque o prédio representava o que era viver na capital –, uma edificação que havia sido construída para o luxo e se transformara em cortiço. “Sempre me interessei por esses paradoxos da vida, porque me identifico com isso. Eu vivia cercado de contradições, não me encaixava em lugar nenhum”, explica. Com vários questionamentos e uma câmera na mão, Edinger produziu incontáveis ensaios primorosos mundo afora – da comunidade judaica ortodoxa de Nova York ao hospital psiquiátrico do Juqueri – trabalhando com afinco em uma “busca infinita pela imagem universal, que é o tipo de imagem que vai criando novos significados com o tempo, como a Mona Lisa [de Leonardo da Vinci]”. Fazer arte está sobreposto diretamente no seu modo de viver. “Artista não trabalha das 9h às 18h. Tudo o que eu faço está relacionado com o meu trabalho.” E é categórico em afirmar que não se cansa da fotografia. Afinal, se enfadar do trabalho é para quem não gosta do que faz. n

Em sentido horário: o hall de entrada do prédio com imagens do fotógrafo, sua biblioteca pessoal, a sala de estar do apartamento e uma mesa com recordações de viagens

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ESG

Head de responsabilidade social e eventos do BTG, Martha Leonardis atua para furar o bloqueio masculino do mercado financeiro, setor em que é comum estar “com dez homens numa sala”, e tenta fazer o banco manter em 2022 o mesmo patamar de investimento social dos primeiros anos da pandemia

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POR ALINE VESSONI

ead de responsabilidade social e eventos do banco BTG Pactual, a advogada formada pela Faap Martha Leonardis chegou à instituição há 11 anos, após carreira em escritórios de advocacia e entidades do Terceiro Setor. E é no mercado financeiro que ela trabalha “com o que ama”, como disse a PODER, a despeito de ter conhecido nesse setor, como em talvez nenhum outro, a verdadeira discrepância de gênero. “Quando cheguei aqui, eu era uma figura diferente para o banco, e ninguém me dava oi”, diz. “Mas com o tempo você se acostuma a estar com dez homens numa sala.” Hoje, daria até para dizer que em seu “job description” figura a missão de promover ações para atrair mulheres para o ecossistema do banco – colaboradoras e clientes – e diminuir a percepção dos stakeholders de que a Faria Lima não é o clube do Bolinha. Martha está à frente de uma série de iniciativas com essas finalidades, como programas de informação financeira para clientes – e suas filhas –, e ações afirmativas na captação de agentes autônomas atreladas ao BTG. O caminho é árduo e precisa de alguma proatividade. “Muitas universitárias nem enviam seus currículos porque acreditam que o ambiente aqui é muito masculino”, diz ela, que já foi mentora em programa do banco para atrair formandas e recém-formadas. “É possível ter mu-

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lheres em cargos de liderança do mercado financeiro”, resume, prescindindo de dar o exemplo óbvio que ela mesma incorpora. Mas a sub-representação feminina não é sua única questão, especialmente nestes tempos de pós-pandemia – “pós” talvez não seja o prefixo adequado. Em 2020 e 2021, o BTG aumentou seu investimento social, fazendo com que os aportes nesse “diretório” mais que triplicassem. O novo patamar, de R$ 7 bi, deve passar a ser o novo normal – Martha “tomou como responsabilidade” manter esse nível doravante. “Na pandemia, chamou a atenção da sociedade o impacto e a transformação que o setor privado pode e deve fazer”, diz. A executiva conta que o BTG “atacou muitas frentes”, incluindo o envio de um avião para fornecimento de oxigênio à rede hospitalar de Manaus, quando da explosão da variante gama no Amazonas, em janeiro de 2021. Além dos aportes financeiros, o BTG vem requalificando e refazendo sua curadoria de ONGs, visando profissionalizá-las para multiplicar seu alcance. A ideia é trocar aquelas dotadas apenas de “boa vontade” por entidades com maior dinamismo e capacidade de atuação. O programa, chamado BTG Soma, “analisa” o que falta às organizações e, por meio de mentorias, faz as capacitações necessárias. Ao fim desse processo, são realizados aportes financeiros e, ainda, a emissão de um “selo de qualidade” do programa, cuja função é auxiliar as ONGs em novas rodadas de captação de recursos junto ao mercado. Martha conta que o tema já não é visto pela sociedade como mera filantropia, tornando-se quase um novo “produto” dentro do BTG, na medida em que a preocupação com a responsabilidade social passou a ser uma demanda dos clientes, que podem preferir ou preterir o BTG exatamente por isso – num mercado marcado pela hiperconcorrência, trata-se de mais um componente na decisão de investimento. Além disso, fortalecer as ações em prol da sociedade ajuda na construção de uma cultura corporativa – e, portanto, no aumento da produtividade da tigrada. “Muitos colaboradores querem fazer

FOTO PAULO FREITAS

MULHER MODO ON


alguma coisa e não sabem como. Aqui eles se juntam e se sentem com um propósito”, diz. Martha relata com alegria à reportagem a viagem de um grupo de crianças que viam, na ocasião, o mar pela primeira vez, um entre tantos eventos patrocinados pela área que lidera.

CONCERTAÇÃO

Em maio, a profissional esteve outra vez no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e pôde atestar que, apesar da emergência climática e da guerra

na Ucrânia, há uma certa concertação mundial prósociedade no ar. “Os investidores querem saber o que a sua empresa está fazendo pela sociedade”, conta. “Responsabilidade social virou pauta estratégica dentro dos negócios.” Num momento de profunda preocupação com a economia mundial, com repique dos juros nos Estados Unidos, algo que não se via há quatro décadas, ou, com o “longo inverno” que se avizinha, na expressão que Martha colheu entre seus pares na Suíça, não deixa de ser um alento. n PODER JOYCE PASCOWITCH 53


RESERVA

rença para um setor cada vez mais ssim como na boa mesa, a Sob o comando do diversificado, que demanda as harmonização no mundo empresarial é capaz de gerar ne- CEO Alexandre Bratt, melhores experiências aos clientes onde quer que eles estejam. E gócios excepcionais. No primeiro seVíssimo Group se a holding está alinhada com essas mestre deste ano o Víssimo Group surgiu com o propósito de facilitar o posiciona como a maior necessidades”, destaca o CEO. nos canais B2B on-liacesso às experiências gastronômicas varejista de vinhos no neAtuando e off-line, além do B2B on-tracom soluções e produtos – incluinBrasil com blend que de e off-trade, o Víssimo recedo muito vinho, claro – para tornar recentemente o aporte de R$ os momentos à mesa mais prazeroune dois dos maiores beu 650 milhões aplicado pelo fundo sos. A holding nasceu após a aquisição players do mercado: Vinci Partners com o objetivo de de 100% das operações da Grand Cru sustentar o plano de crescimenpela Evino, casando dois dos maiores Evino e Grand Cru to. O grupo pretende investir em players do mercado de vinhos no Brainovação e melhores experiênsil, e uma estimativa de faturar R$ 800 POR DADO ABREU cias de consumo e atendimenmilhões com 20 milhões de garrafas to aos clientes e tem como próvendidas e o portfólio mais completo do país. Um blend encorpado com aroma de sucesso. ximos passos a aquisição de outras empresas para “O grupo foi criado com o foco em curadoria e de- complementar o negócio. “A expectativa é aumentar senvolvimento de mercado para aproximar pessoas, gradativamente o leque de marcas, sempre com foprazeres, histórias e relações. Nosso objetivo é ser co em proporcionar uma experiência superlativa ao o maior varejista de vinhos, alimentos e bebidas do cliente”, revela Bratt. O mercado de vinhos no Brasil vem crescendo aciBrasil. O superlativo do nome está relacionado exatamente a esse propósito”, afirma Alexandre Bratt, CEO ma da média internacional. De acordo com a consuldo Víssimo Group, cuja expectativa é ampliar a base toria Wine & Spirit Research (IWSR), o consumo brade clientes, atualmente com 1,5 milhão de pessoas, sileiro da bebida aumentou 28% em 2020, enquanto explorando as sinergias entre os dois negócios e ace- no mundo caiu 6,5%. Esse crescimento se deve a dilerando a omnicanalidade com aumento da presença versas mudanças estruturais no comportamento do digital da Grand Cru, hoje a principal importadora e consumidor, incluindo o uso cada vez maior dos cadistribuidora de vinhos premium do Brasil, e levando nais digitais: hoje, mais de ¼ dos consumidores de via Evino, o maior e-commerce do setor na América La- nhos no país adquirem a bebida por meio das lojas tina, ao mundo físico com a abertura de sua primeira virtuais, isso representa um total de mais de 10 miloja ainda este ano em São Paulo e um plano de ex- lhões de consumidores, o que faz do Brasil o terceiro maior mercado virtual de vinhos do mundo, ficando pansão desenhado no modelo de franquias. “Uma das atrações do Víssimo Group é ser um gru- atrás apenas da China e dos Estados Unidos. “O mundo do vinho mudou e o cliente brasileiro po que nasceu com o DNA que mescla o digital e o físico: somos a única empresa verdadeiramente om- também. Na pandemia tivemos mais de 3 milhões nichannel do mercado de vinhos. Isso faz toda a dife- de novos bebedores. Estar em casa, desfrutando da

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FOTO PAULO FREITAS

A

NEGÓCIO ENCORPADO


NÚMEROS DA HOLDING

R$ 800 milhões

é o faturamento esperado para este ano

600 funcionários no grupo 150

lojas físicas até o fim do ano

20 milhões de garrafas vendidas como meta anual

1.500 rótulos no portfólio

gastronomia, mostrou-se um momento propício para beber vinho”, explica. “Mas é uma mudança cultural, e toda mudança cultural leva um tempo para acontecer.” Segundo Bratt, o custo do vinho fino no Brasil, tanto nacional quanto importado, por mais que tenha se tornado cada vez mais acessível, ainda é um impeditivo para saltos maiores. “Consumimos menos de 3 litros per capita. Se comparamos a qualquer país que tenha alguma cultura de vinho, estamos muito aquém.” Portugal (51,9 litros per capita ao ano), França (46,9 litros) e Itália (46 litros) lideram o ranking dos países que mais bebem no mundo. Dentre as primeiras ações do Víssimo Group para acelerar essa mudança está o incentivo na comer-

cialização dos vinhos premium, que fez com que as vendas desses rótulos disparassem. Chamado de Grand Sélection, o projeto unificou em um canal modelos selecionados do portfólio da Grand Cru e rótulos importantes da Evino. O resultado foi um aumento de 434% das vendas dessa categoria em comparação ao mesmo período do ano passado. “Se trata de uma ação que só foi possível pelo tamanho e abrangência de portfólio e mercado que nós temos. Negociando as duas marcas de forma unificada no B2B, encontramos o ritmo ideal para aumentar os números de ambas, que seguem, dessa maneira, com suas atuações separadas e complementares, mantendo, cada uma, o DNA e a melhor entrega e experiência para cada público”, conclui Alexandre Bratt. No portfólio o Víssimo Group acaba de anunciar parceria de exclusividade com a centenária vinícola Nieto Senetiner, de Mendoza, uma das mais tradicionais da Argentina e com grande aderência entre os consumidores brasileiros. A vinícola é dona de rótulos de entrada já consolidados entre o público nacional, como os vinhos Benjamin e Fran. n PODER JOYCE PASCOWITCH 55


JUNE NEWTON

MULHERES QUE AMAMOS

(ALICE SPRINGS)

FOTO REPRODUÇÃO

Com estilo marcado pela sofisticação, June Newton, fotógrafa australiana conhecida artisticamente como Alice Springs, foi retratista de celebridades como Yves Saint Laurent, Catherine Deneuve e Madonna para as revistas Vanity Fair, Elle e Vogue. Começou por acaso na fotografia, em 1970, quando Helmut Newton, fotógrafo renomado de moda e também seu marido, passou mal às vésperas de uma campanha e acabou sendo substituído por ela. Havia algo de Newton em seu trabalho, como a contenção e a preferência pelo preto e branco, mas uma visão autoral se impôs. June/Alice extraía de suas modelos certa verdade, quem sabe uma leveza essencial. June, que gostava de dizer que tentava “roubar” a alma de seus retratados, teve via longeva: morreu ano passado, aos 97 anos.


OPINIÃO

NEGÓCIOS: UM ASSUNTO DE MULHERES POR ANA FONTES

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

(...) Porque empreender do jeito feminino tem características próprias, particulares, diferentes do empreender masculino. Inúmeras vezes ouvi muita gente dizer que não fazia sentido apoiar mulheres, pois empreender era igual para qualquer um, não importava o gênero. E, nesses anos todos que estamos na estrada, comprovamos que, definitivamente, não é a mesma coisa.” O trecho acima faz parte do primeiro capítulo do Negócios: Um Assunto de Mulheres, livro recém-lançado por mim, escrito no auge da pandemia e publicado pela Jandaíra, editora que tem à frente uma empreendedora mulher que, como eu e muitas, tomou coragem e tirou uma ideia do papel. O livro, que fala sobre o empreendedorismo feminino, foi todo realizado por mulheres, da editoração, passando pela pesquisa, re-

visão, projeto gráfico e ilustração. Vocês devem se perguntar qual é a relevância disso. Bem, é importante porque o mercado editorial, assim como outros mercados, como o da tecnologia, por exemplo, sempre foi e ainda é dominado por homens. Então, para mim, idealizar e realizar um projeto literário, com essa qualidade, é uma realização que venho sendo cobrada há anos… afinal, lugar da mulher é onde ela quer estar. No empreendedorismo, essa luta não é diferente. Antes de tudo, as motivações para a mulher empreender diferem das do homem. Geralmente, para as mulheres o propósito vem antes de qualquer motivação financeira. Ao criar um negócio, a mulher olha para o impacto que vai gerar no entorno em que vive, no seu bairro e na sua comunidade, bem como na família e na educação dos filhos e na ajuda a outras mulheres. Isso gera um círculo positivo no entorno. Assim como as motivações são diferentes, os desafios para empreender também. Em pesquisas realizadas pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora, comprovamos que a mulher tem mais dificuldade para ter acesso a recur-

sos financeiros; que ela, ainda em 2022, precisa equilibrar o tempo entre os cuidados com a família e com o negócio; que ainda não se sente segura com assuntos financeiros ou de tecnologia. Embora o livro não seja sobre a minha vida, reflete também parte de minha experiência no mundo corporativo. Porque se o empreendedorismo feminino é um terreno ainda desigual para a mulher, as coisas também não andam bem no mercado de trabalho. Se por um lado conquistamos um certo espaço nas nossas atividades profissionais, ainda não chegamos lá quando falamos de igualdade com os homens. Ganhamos menos em funções equivalentes e não somos promovidas a cargos de liderança na mesma proporção deles. Estudos do IBGE, de 2019, apontam que a mulher ganha 77% do salário masculino para desempenhar a mesma tarefa. A diferença é ainda maior em cargos de liderança, como diretorias e gerências, com 62%. Mostrar essa desigualdade e essas dificuldades me motivaram a escrever um livro. Mas também quis mostrar a relevância do empreendedorismo feminino para a economia brasileira e dar visibilidade a muitas e muitas histórias de mulheres que transformaram sua vida e a de outras pessoas. Quer conhecer mais sobre o empreendedorismo feminino? Negócios: Um Assunto de Mulheres está disponível nas melhores livrarias. n Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME), delegada líder BR W20/G20, eleita uma das mais poderosas do Brasil e Top Voicers LinkedIn 2020

PODER JOYCE PASCOWITCH 57


FERVE

PODER PRA ELAS

Mesmo com o avanço nas discussões sobre a presença feminina em cargos de liderança, a equidade de gênero no mercado de trabalho ainda precisa avançar no Brasil. O caminho para promover a diversidade foi o tema do talk “Liderança Feminina: Conquistas e Desafios”, realizado no Teatro Unimed, com mediação de Joyce Pascowitch e participação de Ana Eliza Angelieri, diretora de novos negócios da ONG Orientavida, e Susana Martins Carvalho, diretora-executiva na JBS Novos Negócios.

ISA MEIRELLES E LISIANE LEMOS EMILY EWELL

DEBORAH SILVEIRA

ANDREA TCHALIAN CONDE E CLAUDIA BURMAIAN FÁTIMA ZORZATO


CAROL SANDLER, GABRIELA BAUMGART, ANA FONTES E DILMA SOUZA CAMPOS

LILIANE ROCHA E LÍDIA ABDALLA

SUSANA MARTINS CARVALHO, JOYCE PASCOWITCH E ANA ELIZA ANGELIERI CAROL MALUF

MONICA BLATYTA, ALICE COUTINHO E GABRIELA BAUMGART MARIA ISABEL HUMBERG

FOTOS PAULO FREITAS

LÉIA SGRO, YAKINI RODRIGUES E PAULA PRATES

CLAUDIA PAGNANO

SIMONE ARGILES


MADE IN BRAZIL

LUIZA HELENA TRAJANO, COM O FILHO FRED E O NETO PEDRO

PREMIAÇÃO DE LUIZA HELENA TRAJANO BRUNO GARFINKEL, BRUNO SENA E BRUNO SETUBAL

DANIEL GOLDBERG

CHIEKO AOKI E ALCIONE ALBANESI

FOTOS JOYCE PASCOWITCH; COMITÊ DE PRÊMIOS PERSON OF THE YEAR AWARDS

A empresária Luiza Helena Trajano foi o centro de todas as reverências em evento da Câmara do Comércio Brasil-Estados Unidos, que aconteceu no mês de maio, em Nova York. Nomeada ao prêmio Person of the Year, ela recebeu a honraria frente a uma plateia repleta de empresários e integrantes do Grupo Mulheres do Brasil, presidido por ela. Em seu discurso, a presidente do Conselho do Magazine Luiza agradeceu às brasileiras: “Vocês não imaginam o quanto elas se sentem representadas”.


LUIZA HELENA COM CONVIDADAS DO EVENTO BATE-PAPO DE PODEROSOS

CAROLINA E BENJAMIN STEINBRUCH ANDRÉ ESTEVES

ALICE COUTINHO E JOYCE PASCOWITCH

FAFÁ DE BELÉM

GERAL DA MESA ANTES DO JANTAR ANTOINE E PEDRO TRAJANO

JUNIA HERMONT

ELEAZAR DE CARVALHO E SONIA QUINTELLA

ANA LUIZA E LUCIANA TRAJANO


CONEXÃO

DE GERAÇÃO PARA GERAÇÃO Com gestão pautada por colaboração e empatia, o empresário Sandi Adamiu transforma o Sandi Hotel, ícone de tradição e hospitalidade em Paraty, em grife de charme internacional

A

TEXTO ALINE VESSONI

trajetória profissional do empresário Sandi Adamiu, hoje à frente do Sandi Hotel, um ícone em Paraty, se mistura com a história de sua família, e certamente poderia ser contada como um filme dos anos 1960. Tudo começou com a visita de seu avô materno, Joviro Foz, à cidade colonial com o amigo Jamil Klink (ele mesmo, pai do navegante Amyr Klink). Joviro se apaixonou pela natureza paratiense e comprou seu pedacinho de terra – onde hoje é a Villa Bom Jardim, primeiro negócio da família na região e uma das mais charmosas propriedades à beira-mar. A paixão se estendeu para todos os descendentes e os Foz passaram a veranear por aquelas bandas. Foi assim que Alexandre Adamiu, filho do imigrante judeu Sandi Adamiu (de quem o neto, hoje responsável pelo hotel, herdaria o nome) e fundador da lendária distribuidora Paris Filmes, também se encantou pelo paraíso. O ano era 1986. Alexandre, empolgado pela arte de receber, e ao lado de Sandra Foz, sua esposa, decidiu ampliar as posses do casal e transformá-las em negócio: comprou dez imóveis no centro da cidade, fez uma bela reforma e inovou profundamente o setor hoteleiro de Paraty. O casal costumava receber muitos amigos, incluindo artistas internacionais. “Minha mãe sempre recebeu muito bem, ela é a rainha do negócio. O DNA do hotel vem dessa propriedade inicial que era o refúgio da nossa família”, conta Sandi.

FOTOS PAULO FREITAS

Alexandre, no entanto, morreu jovem e o filho Sandi teve que assumir os negócios antes do previsto. “Fui apadrinhado por um grande amigo do meu pai, Lírio Parisotto – a quem eu devo muito. Ele me ajudou a estruturar os negócios e foi muito importante na minha vida”, diz. Mas o empresário estava acostumado com desafios e a se dedicar ao trabalho desde cedo, algo que atribui à origem judaica. “Desde os 13 anos já fazia estágio nas empresas da família”, conta. “Passei por várias áreas, sempre observando como meu pai tocava os negócios.” Inspirado, portanto, pelo pai e capacitado por tudo que observou ao longo dos anos, Sandi Adamiu seguiu com a empresa, sempre com uma dose extra de inovação. Corta para 2020. Pandemia de coronavírus: cinemas e hotéis fechados, os dois negócios da família em xeque. “Com a pandemia, os cinemas fechados, concentrei todo meu esforço no hotel para uma virada de marca. E eu só poderia contar nossos 35 anos de história se conseguisse beneficiar outras pessoas. Assim, arrisquei fazer algo grande, trazendo muita gente comigo para essa transformação”, revela. Uma das estratégias foi a mudança da cara do negócio, que passou de uma pousada de luxo simpática para um hotel-butique de padrão internacional. Sandi costuma dizer que se Trancoso tem o Quadrado, agora é a vez de Paraty também ter o seu Quadrado Mágico. “Com esse


Ao fundo, tecido baseado no casario de Paraty criado por Gregorio Kramer e Attilio Baschera

JOYCE PASCOWITCH


“Desde os 13 anos já fazia estágio nas empresas da família, sempre observando como meu pai tocava os negócios” conceito do Quadrado Mágico, geramos valor para o hotel e benefício para o hóspede”, informa. “Agora, o elegantíssimo casarão do centro histórico ficou com este ‘quadrado’ aberto para a rua do comércio, e os serviços são acessíveis a hóspedes e outros turistas.” Para a mãe e também proprietária Sandra Foz, o momento atual é um certo resgate do projeto inovador da pousada. “Estamos fazendo o que ninguém fez e isso foi a mesma coisa 35 anos atrás, quando a Pousada do Sandi foi a primeira de luxo do litoral. Temos certeza que teremos sucesso pelos próximos 35 anos”, acredita.

FOCO SOCIOAMBIENTAL

Além da reforma do espaço, Sandi Adamiu focou em ações de ESG. O “S”, de responsabilidade social, é bem representada pelo esforço na criação da Associação dos Amigos da Orquestra, que ajuda a manter a Orquestra Sinfônica de Paraty, e também leva música clássica para crianças e jovens da rede municipal de ensino. “Até me arrepio em dizer que agora essas crianças farão a abertura do [12º] Bourbon Festival Paraty”, emociona-se o empresário.

MAPA DA MINA

Para passar muito bem em Paraty Pippo Ristorante: restaurante siciliano Apothekario: bar conceito e novo hotspot da cidade Nectar Experience: agência que customiza passeios por Paraty e região Kopenhagen: a franquia na cidade fluminense é certeira para um café Gelateria Miracolo: a sorveteria mais famosa da cidade agora está na Pousada do Sandi. Os hóspedes recebem um “welcome ice cream” ao chegar ao hotel

64 PODER JOYCE PASCOWITCH

Outra ação que envolve sustentabilidade (o “E” do ESG) é a iniciativa em investimento em uma fazenda marinha para movimentar a economia solidária e beneficiar os trabalhadores locais. Em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Sandi trouxe sementes de vieira de Florianópolis e conseguiu fazer a produção de Paraty crescer rapidamente. “A fazenda marinha Coquille da Cajaíba sustenta, atualmente, uma família inteira do Pouso da Cajaíba e ainda emprega outras três pessoas”, explica ele. “Brinco que, na pandemia, vivi os melhores e os piores dias da minha vida. Ao mesmo tempo que perdi muito dinheiro, estava em um lugar privilegiado, no meio da natureza, reestruturando o meu negócio e ainda ajudando muita gente”, diz o empresário. “Eu sabia que poderia investir pensando em como esse dinheiro reverberaria na vida de outras pessoas e, dessa maneira, acabaria por escrever uma história linda”, completa. n


OPINIÃO

INOVAÇÃO É PRIORIDADE DE TODOS RENATO OCHMAN

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

C

omo Israel, um país de 9,2 milhões de pessoas, com somente 74 anos de existência e sem nenhum recurso natural, produz mais startups do que nações como Estados Unidos, Japão, China e Índia? Chamado de Startup Nation (Nação Empreendedora), Israel é o país que concentra a maior média de empresas de tecnologia por habitante, 1 a cada 1.400 pessoas. As principais empresas de inovação do mundo possuem hubs no país e muitas das startups israelenses vêm rapidamente ganhando alcance mundial. Foi justamente para entender essa equação e fazer um mergulho no ecossistema empreendedor do país que acompanhei a II BTG Tech Trip Israel, missão organizada pela Câmara Brasil-Israel (Bril Chamber), em parceria com o banco BTG Pactual, que levou 35 empresários e CEOs brasileiros a Israel no fim de março. Eu me juntei a esse incrível grupo que cumpriu uma extensa agenda. Foram mais de 25 encontros com autoridades, empresas especializadas em high-tech e fundos de investimentos e de venture capital. Os participantes foram conhecer o país e, em busca de novos negócios, voltaram extremamente entusiasmados. Muitos já embar-

caram focados, sabendo quais eram as empresas e fundos de seu interesse, e ao término da missão, disseram já estar em tratativas de negócios para investir em empresas de tecnologia em Israel. Além do encontro com autoridades como o embaixador Gerson Menandro Garcia de Freitas, o doutor Ami Appelbaum, cientista chefe e chairman of

the board da Israel Innovation Authority, e com o ministro das Comunicações, Yoaz Hendel, o grupo visitou os principais pontos turísticos tanto para o judaísmo (Muro das Lamentações, Memorial do Holocausto), como para cristianismo (Via Dolorosa, Santo Sepulcro, Monte das Oliveiras, Nazaré, Cafarnaum, entre outros) além de Tel-Aviv, Jaffa, Herzliya e Cesareia. O desenvolvimento tecnológico faz hoje de Israel um grande exemplo para o mundo. O pequeno país sempre deu um peso enorme aos estudos, à formação profissional e às universidades, para que se tenha novas descobertas tecnológicas. Isso é uma questão de base e esse é o maior exemplo conceitual que Israel pode dar não só para o Brasil, mas para o mundo. Hoje uma das coisas que me deixa muito orgulhoso, que tenho observado e acho fantástico: ninguém sai de casa sem um produto israelense, pois as inovações da Startup Nation já são parte integrante do nosso cotidiano – de mobilidade à cibersegurança, bem-sucedidas no mercado global: Waze (navegação), Moovit (mobilidade) Cybereason (segurança), Intervyo (recursos humanos). Posso afirmar que retornei ao Brasil orgulhoso e com a sensação de dever cumprido. n *Renato Ochman é presidente da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria (Bril Chamber)

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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN

DESERTO BRANCO

Viajantes que estão sempre procurando expedições no fim do mundo, mas não abrem mão de conforto, atentai! Em novembro, a White Desert, companhia que sabe tudo de Antártida, lança seu terceiro ecocamp no continente gelado. Inspirado em uma viagem espacial, o Echo terá seis pods high-end aquecidos, claro, com janelões de vidro para admirar o visual. Durante o dia, os viajantes partem em aventuras como passeios de fat bike e 4x4, além de hikings pelas paisagens fascinantes da região +WHITE-DESERT.COM

Fica em Arequipa, cidade histórica cercada por vulcões e protegida pela Unesco, um dos segredos mais bem guardados do Peru. Com apenas 11 suítes, o CIRQA é um hotel intimista, construído em um mosteiro da época da fundação do destino, em 1540. Como destaque, um projeto arquitetônico minucioso, que combina resquícios intactos da pedra vulcânica que é símbolo da região com toques contemporâneos. Tem rooftop com vista para o centro e um restaurante delicioso, com o melhor da cozinha peruana moderna. Vale saber: Arequipa é a última parada do incrível trem Belmond Andean Explorer e pode ser uma boa pedida combinar os dois. +CIRQA.PE

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FOTOS DIVULGAÇÃO; FREEPIK

REFÚGIO


ZIRIGUIDUM

Tem design brasileiro no novo bar do Hôtel du Cap-Eden-Roc. A arquiteta Patricia Anastassiadis é quem assina o projeto do Eden-Roc Lounge, rooftop do hotel na Riviera Francesa. Há pouco tempo, o icônico endereço celebrou seus 150 anos com uma restauração que também contou com o toque de Patricia em seus restaurantes, incluindo o Louroc, comandado pelo chef francês Éric Frechon. E, para quem não se lembra, essa não é a primeira vez que ela trabalha com os hotéis da Oetker Collection: o paulistano Tangará também tem o dedo da arquiteta em diversas áreas. +OETKERCOLLECTION.COM

SAVOIR-FAIRE Viajar a bordo do Venice Simplon, um dos trens mais icônicos da Orient

MAIS UM

Boa notícia para os eternos fãs do Mandarin Oriental. Em breve, o grupo hoteleiro inaugura mais uma unidade em Londres – o endereço do Hyde Park é um dos nossos favoritos. A novidade promete: fica em plena Hanover Square, em Mayfair, e terá o primeiro restaurante do estrelado chef Akira Back no Reino Unido. Além dos quartos e residências privativas, todos com obras de artistas ingleses, o novo Mandarin terá um spa com piscina coberta, sauna e piscina dedicada à vitalidade.

Express na Europa, ganhou um sabor especial. Isso porque a composição agora tem sua culinária assinada por Jean Imbert. O francês, que ganhou os holofotes ao vencer o programa Top Chef, é o queridinho do momento lá fora – os restaurantes do Plaza Athénée e do Monsieur Dior, em Paris, estão sob seu comando. Além de cuidar de todos os pratos que saem dos três vagões do Venice, Imbert ajudou a repensar o design dos espaços gastronômicos do trem, lançado em 1920. +BELMOND.COM

+MANDARINORIENTALBRAZIL.COM

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VIAGEM

hia , compan s a h l e v o grupo de ada Pequeno ao longo da estr da inespera

ENTRE MONTANHAS E LAGOS

AZUIS

Pela famosa Rota 40, uma das estradas mais cênicas do mundo, a imensidão e a beleza da Patagônia argentina são ainda mais impactantes TEXTO CAROLINE MARINO

FOTOS PAULO FREITAS

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O lago Hermoso, de nome autoexplicativo, uma das muitas atrações da região pontuada por lagos de San Martín de los Andes

I

magine uma estrada que contorna lagos de águas cristalinas que se perdem no horizonte e montanhas encimadas por neve. É essa a Rota 40, uma das estradas mais cênicas do mundo, que tem como uma de suas grandes atrações a região de San Martín de los Andes e Villa la Angostura, nas próximidades de Bariloche, na Patagônia argentina. A rodovia corre paralela à Cordilheira dos Andes e, no caminho, há parques nacionais e lagos profundíssimos (onde, dizem, existe até uma versão argentina do monstro do lago Ness escocês, o Nahuelito). Deixar o hotel Correntoso Lake & River Hotel, nosso ponto de partida nesta viagem, nas margens do lago

FOTOS ARQUIVO PESSOAL; GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

A neve pontilha de branco as margens da estrada e os topos das montanhas; abaixo, visão bucólica sob frio (quase) polar

PODER JOYCE PASCOWITCH 69


DE VOLVO NA ROTA 40

À convite da Volvo, PODER foi à Patagônia argentina conhecer o novo motor T8 híbrido com que a renomada montadora sueca equipa os SUVs premium XC60 e XC90 da linha 2023. A escolha do local não foi à toa: a região é conhecida pelo compromisso ambiental e pela sustentabilidade. Apenas com o motor elétrico, os carros ganharam mais de 65% de potência e a capacidade da bateria aumentou 62%. Isso se reflete diretamente na autonomia dos modelos, que passaram a ter cerca de 78 km no XC60 (+73%) e cerca de 71 km no XC90 (+61%). Com mais pessoas comprando esses carros e optando pelo modo de direção elétrico, a Volvo estima uma redução de 50% na emissão de CO 2 na atmosfera. Segundo João Oliveira, diretor-geral de operações e inovação da Volvo Car Brasil, a meta da empresa é, em 2025, chegar a 50% do volume de vendas dos carros 100% elétricos; cinco anos depois, a ideia é dobrar esse objetivo.

Belezas da Patagônia argentina, visitada pela PODER a bordo das novas versões dos SUVs XC60 e XC90, da Volvo

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Nahuel Huapi e do rio Correntoso, em Villa la Angostura, é uma ótima maneira de descortinar as belezas da região. A estação de esqui Lago Hermoso Mountain Park, no caminho, vale a visita. A estrada, cheia de mirantes, a todo momento convida para mais uma parada para (só mais uma) foto. Mas cuidado para não se perder por aí. Durante a viagem, é comum cruzar com ovelhas e vacas circulando tranquilas pela estrada. Voltando à Villa la Angostura, aproveite para curtir o centrinho de compras, os bons restaurantes e tomar um chocolate quente. A temperatura nesta época do ano tem variado entre zero e -3 graus durante o dia, caindo para algo em torno de -10 graus à noite. Siga o conselho da sua avó e leve mais alguns casaquinhos. Afinal, como diziam sabiamente os portugueses, a lã jamais pesa ao carneiro. n


OPINIÃO

O MAESTRO ARQUITETO LUA NITSCHE ILUSTRAÇÃO JOÃO NITSCHE

FOTO DIVULGAÇÃO

D

urante a pandemia a consciência e a sensibilidade do nosso espaço doméstico ampliou-se bastante. Para muitos, esse momento despertou um desejo de repensar o espaço da casa. Novas ideias e sonhos invadem nosso pensamento no sentido de renovação da vida. É precisamente nesse momento, em que a sensibilidade para o espaço aflora, que o projeto de arquitetura ganha relevância. Além de ser o conjunto de desenhos informativos que guiam a obra, assim como as partituras guiam os músicos, o projeto de arquitetura é, acima de tudo, um processo de articulação do fazer e do construir. O arquiteto é o maestro que vai conduzir esse processo organizando e traduzindo os desejos em possibilidades espaciais, reais e concretas. As plantas, cortes, elevações e imagens são a síntese de uma série de informações necessárias para aquilo que almejamos como o melhor possível da construção. Em um mundo excessivamente rápido, onde instantaneamente acessamos milhares de imagens e aceleramos áudios, o projeto surge como um desafio de concentração e tempo. Ao contrário do mundo virtual, que hoje ganha formas no metaverso, a casa real é feita de materiais que têm peso, textura, desempenho termo-acústico e uma série de outras propriedades físicas com as quais os arquitetos e engenheiros estão familiarizados.

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A escolha de soluções tecnicamente adequadas ao clima (o sol, a chuva, o calor, o frio, o vento), ao solo, ao custo e à durabilidade envolve uma constante pesquisa de materiais e formas de construir. Acrescentemos a isso o aumento da diversidade de produtos da indústria da construção civil realizada nos últimos 20 anos. Não à toa, feiras e lojas de construção se tornaram “megaeventos”. Nesse contexto, por vezes confuso, de múltiplas possibilidades, o arquiteto seleciona e orienta escolhas harmônicas e favoráveis ao projeto como um todo. Cabe a ele garantir a visão holística do processo. A escolha de soluções também envolve aspectos ergonômicos, estéticos, culturais e ecológicos – o planeta também é a nossa casa! Afinal, quantos de nós não perceberam a importância de uma cadeira adequada à altura da mesa de trabalho na pandemia (ergonomia)? Mais além, quantos de

nós conhecem o tipo de fundação necessária para manter uma casa sem trincas? E quais as soluções para uma cobertura eficiente? Uma cobertura que não permita entrada de água, não transmita calor e barulho e não exija manutenção constante? Um bom arquiteto terá as respostas! Portanto, não podemos desconsiderar a importância da parceira nesse caminho, no percurso do fazer da arquitetura. Isto é projeto. Um processo que envolve articulações entre sonho e realidade. O melhor projeto será aquele em que a imaginação conecta-se com o real por meio de decisões felizes! n Lua Nitsche é arquiteta e urbanista formada pela Universidade de São Paulo, sócia da Nitsche Arquitetos Associados em parceria com o irmão Pedro Nitsche e professora de projeto na Escola da Cidade - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

PODER JOYCE PASCOWITCH 71


SOB MEDIDA POR ALINE VESSONI

HELENA RIZZO

A chef de cozinha – e apresentadora do MasterChef – gosta da simplicidade. Para a primeira refeição, café coado; para o dia a dia, rock’n’roll nas caixas e um look despretensioso, com calça jeans e camiseta básica. Simplicidade é o que ela espera também do mundo, mas há bastante complexidade no que ela faz à frente do Maní, seu restaurante paulistano com uma estrela no badalado Guia Michelin MELHOR MOMENTO DO DIA: Depende

do dia (risos).

MELHOR LUGAR DO MUNDO: Aqui e agora. UM(A) CHEF INSPIRADOR(A): Neide Rigo. VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ? Das lideranças

reacionárias. ÍDOLO: Patti Smith, cantora, compositora e escritora. PIOR DEFEITO: Cíume. COZINHAR É: Conexão. UM DISCO: Rat Farm, do Meat Puppets.

As do Deixa Quieto, disco do Macaco Bong. O QUE TE DEIXA DE MAU HUMOR? Insônia. LOOK PREFERIDO: Calça jeans e camiseta. BELEZA PÕE MESA? Não! UMA RECEITA (FÁCIL) DE FAMÍLIA:

Crumble de maçã.

SEGREDO CULINÁRIO: Não tenho nenhum. SÉRIE PARA MARATONAR DE NOVO:

Ugly Delicious [Netflix].

ONDE E QUANDO É MAIS FELIZ: Na praia ou

no mato com família e amigos.

O QUE FALTA REALIZAR: Escrever um livro. A ÚLTIMA COISA QUE COMPROU: Calcinhas. UM MEDO: Perder a curiosidade. SE NÃO FOSSE CHEF GOSTARIA DE SER:

O que ainda não fui.

PRIMEIRA COISA QUE FAZ AO CHEGAR NO TRABALHO: Varia conforme o dia. CONCILIAR MATERNIDADE E TRABALHO:

Desafio.

O QUE VOCÊ ESPERA DO FUTURO? Menos

pobreza e mais simplicidade e generosidade.

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FOTOS ROBERTO SEBA/DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; ARQUIVO PESSOAL; RENATO PARADA/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

MÚSICA PARA OUVIR NO TRÂNSITO:


INGREDIENTE PREFERIDO:

Caju. A VIAGEM DOS SEUS SONHOS:

UMA CIDADE: São Francisco.

Sou doida para conhecer a Tailândia. HOBBY: Desenhar.

SONHO DE INFÂNCIA:

ENTRADA, PRATO E SOBREMESA: Ceviche,

PF e torta de maçã.

Já quis ser bailarina.

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escritora Giovana Madalosso @ gmadalosso.

UMA DESCOBERTA RECENTE: Podcasts. LIVRO PREFERIDO:

A Louca da Casa, da Rosa Montero. O QUE NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA MANHÃ: Fruta e café passado.

MÚSICA PARA OUVIR NO TRABALHO:

The Ramones. PODER JOYCE PASCOWITCH 73


HIGH-TECH POR CARL A JULIEN STAGNI

DIRETO PARA O FUTURO

O advento da casa inteligente já é uma realidade. Luzes que acendem e entram no ritmo de sua música favorita, um aparelho que estimula a meditação e outro que faz seus “bons drinques” ao toque de um botão. Ar puro e gadgets que otimizam seus exercícios também fazem parte do pacote

REMADA

Que tal remar sem sair de casa, mas com a impressão de estar em um rio de verdade? O Hydrow é um aparelho para se exercitar com dispositivos sensoriais que faz com que a prática indoor seja mais próxima da feita ao ar livre. A começar pelo movimento que, por ser eletromagnético e controlado por computador, faz com que seja semelhante a estar na água. Uma tela 22” sensível ao toque e alto-falantes frontais trazem o rio para sua sala. É possível escolher atividades imersivas em Miami, Boston, Escócia, Londres, entre outros destinos. O design do Hydrow também é um ponto a se destacar por ser arrojado e não fazer feio na decoração da casa. HYDROW.COM PREÇO: R$ 11 MIL

ARCO-ÍRIS

MÚSICA BOA

Para quem faz questão de som puríssimo em suas experiências musicais e até de streaming, o Walkman® WM1ZM2 Signature Series tem chassis em OFC banhado a ouro. Com isso a pureza do som foi aumentada para 99,99%. Os graves são nítidos e poderosos, a atmosfera é mais expansiva e os médios e agudos perduram de forma agradável. A qualidade é compatível com wi-fi para transferência e streaming. Tem capacidade de 256 GB e ranhura para cartões SD. SONY.COM PREÇO SOB CONSULTA

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A iluminação inteligente pode criar climas inesperados. Entre as novidades para esse fim está o Nanoleaf Shapes. São painéis modulares com formatos diferentes que permitem a cada pessoa criar layouts exclusivos. O Nanoleaf reage ao toque, pode ser conectado a músicas e acompanhar o ritmo, e conta com 16 milhões de cores. NANOLEAF.ME PREÇO: R$ 689


SONINHO BOM

Um insone crônico decidiu unir práticas de respiração da meditação, ioga, entre outros, à tecnologia. Com a ajuda de um grupo de designers industriais, depois de dois anos de pesquisa e inúmeros protótipos, nasceu o Dodow Sleep Aid Device. O gadget auxilia a pessoa a entrar em um ritmo ideal de seis respirações por minuto para colocá-la em estado de repouso e reequilibrar seu sistema nervoso autônomo. Cada expiração é 50% mais longa do que a inspiração para cansá-la. Funciona sincronizando à respiração com um pulso de luz lento e constante. O efeito hipnótico ajuda a relaxar rapidamente. MYDODOW.COM PREÇO: R$ 230

CORRIDA INTELIGENTE

Nurvv é um wearable esportivo premiado que mede sua corrida a partir do ponto de impacto. Palmilhas inteligentes contam com rastreadores leves que se adaptam a qualquer tênis e fornecem insights, orientações e treinamento para ajudar o usuário a otimizar a experiência, treinar de forma mais saudável, melhorar a performance... graças ao fornecimento de métricas exclusivas, como passada, pronação e equilíbrio, além de sinalizar quais áreas do corpo estão sob risco de lesão e maneiras específicas de evitar isso. É compatível com sistemas iOS: 12 ou mais, Android™ 6.0 ou mais, Apple Watch Series 3, ANT+ Garmin e Bluetooth HRM. NURVV.COM PREÇO: R$ 1.300

* PREÇOS PESQUISADOS EM MAIO, SUJEITOS A ALTERAÇÕES; FOTOS DIVULGAÇÃO

AR PURO

O ventilador purificador Dyson Purifier Cool Formaldeído™ TP09 (Níquel/Ouro) detecta, captura e retém automaticamente poluentes para um ar mais limpo, purificando o ambiente. O sistema de filtragem mais avançado da Dyson combina um sensor com filtro catalítico que destrói continuamente o formaldeído. O filtro de carvão ativado remove gases e odores e um filtro HEPA captura 99,97% das partículas de 0,3 mícron. O controle do ventilador é compatível com serviços de voz Amazon Alexa, Apple Siri e Google Home. DYSON.COM PREÇO: R$ 3.400

CHEERS

Um bar em casa que não precisa de mixologista. Sim, esse sonho já é realidade. Com o toque de um botão, o Bartesian Cocktail Maker 720 é capaz de produzir seu drinque favorito. Basta abastecer a máquina com suas marcas favoritas de vodka, tequila, uísque, gim ou rum, além de água, e inserir a cápsula do cocktail que quer fazer, que contém bitters, extratos, concentrados de suco e misturadores. Uma vez que a cápsula é inserida, a bebida é identificada via código de barras. Dá até para personalizar a intensidade, variando de mocktail a forte.

BARTESIAN.COM/ PREÇO: R$ 1.800

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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA

ESQUINA DE MUNDOS Em Gyuri, a cineasta pernambucana Mariana Lacerda filma o reencontro da fotógrafa Claudia Andujar com o povo yanomami, uma relação construída de intimidade e admiração mútua

E

m 2018, a documentarista pernambucana Mariana Lacerda encontrou, em um catálogo de uma exposição da fotógrafa Claudia Andujar, um relato escrito por ela em 1975: “Constato que me sinto à vontade neste mundo yanomami. Não me sinto mais uma estranha. Este mundo ajuda a me compreender e a aceitar o outro mundo em que me criei. Os dois mundos estão se juntando num grande abraço. É, para mim, um mundo só”.

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É essa relação entre dois mundos que Mariana retrata em Gyuri, seu primeiro documentário em longa-metragem. “Um filme que, ao narrar Claudia, cria um mundo onde homens, mulheres e crianças possam viver colhendo da terra o alimento; do ar e do balançar das folhas, o sopro da vida”, afirma. Lançado durante o 25º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, o filme registra encontros. No início, Claudia, nascida na Suíça, conversa em húngaro com o filósofo Peter Pál

Pelbart e revisita cenas de sua infância e dos horrores da Segunda Guerra Mundial. “Sugeri que Claudia voltasse a essa sua primeira língua como maneira de alcançar outras formas de fazer emergir a sua história de vida, singular, mas que, quando narrada, nos faz semelhantes a ela”, diz a cineasta. “Percebi, dois anos depois, o que se tornaria para mim o real exercício de fazer documentários: abrir um espaço para que o outro venha, permitir-me o tempo do outro e assim devolvê-lo a ele mesmo, que também já não é mais o mesmo.”


Claudia Andujar em cena do documentário Gyuri,, de Gyuri Mariana Lacerda (na foto abaixo)

“Não me sinto mais uma estranha. Este mundo ajuda a me

compreender

e a aceitar o outro mundo em que me criei”

FOTOS DIVULGAÇÃO

Claudia Andujar, fotógrafa, sobre o povo yanomami, “mundo” que ela conheceu nos anos 1970

É nessa conversa que Claudia conta a história do menino judeu Gyuri, que lhe deu o primeiro beijo. Aos 90 anos, ela ainda guarda consigo a foto de Gyuri e de seu pai, ambos levados ao campo de concentração de Auschwitz. Da rememoração da infância em fuga, o filme passa a acompanhar o reecontro dela, em 2018, com o povo originário yanomami, que conheceu no início dos anos 1970. Ali Claudia registrou, por anos, a rotina na floresta e na maloca. O trabalho fotográfico foi ferramenta ativa pela proteção da comunidade, ameaçada

por doenças e pela violência provocada pela expansão da atividade garimpeira. No retorno de 2018, Claudia é recebida pelo xamã, escritor e líder político Davi Kopenawa, uma das lideranças responsáveis pela demarcação do território yanomami em 1992, e pelo ativista Carlo Zacquini, missionário católico defensor dos povos originários. Previsto para estrear no dia 7 de julho, o filme aparece em um momento crítico para o povo yanomami, no aniversário de 30 anos da demarcação de suas terras. Nos últimos

quatro anos, eles sofreram diversos ataques do garimpo ilegal, agravado em 2020 com a Covid-19, levada pelos invasores. Em abril passado, houve a denúncia de estupro e morte de uma menina yanomami. Em maio, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos solicitou à Corte Interamericana de Direitos Humanos uma intervenção para proteger os direitos à vida da população yanomami em razão da “situação de extrema gravidade e urgência de danos irreparáveis aos seus direitos no Brasil”. n PODER JOYCE PASCOWITCH 77


EXPOSIÇÃO

NA BOCA

DO POVO Em fotografias, esculturas e vídeo, Jonathas de Andrade leva 250 expressões populares do Brasil para a 59ª Bienal de Veneza

N

ó na garganta. Cara de pau. Olho do furacão. Expressões populares no Brasil, ditas e ouvidas pelos quatro cantos do país, e que se utilizam de partes do corpo humano, estão representadas no Pavilhão do Brasil na 59ª Bienal de Veneza – a mais antiga e uma das mais influentes mostras de artes visuais do mundo, que segue até 27 de novembro. A instalação Com o Coração Saindo pela Boca reúne 250 obras confeccionadas pelo alagoano Jonathas de Andrade. “Entendi que a partir de exemplos de expressões de usos corrente temos acesso aos sentimentos e situações vividos no Brasil de hoje”, diz o artista. “O mesmo corpo que está angustiado e acuado pelo presente é também o corpo que ama, que se apaixona, e que tem a potência para se reinventar coletivamente.” O projeto foi concebido a partir do convite de Jacopo Crivelli Visconti, também curador da 34ª Bienal de São Paulo, ano passado. A exposição é composta por impressões fotográficas, esculturas e um vídeo. “Decidimos manter uma tradução literal das expressões para o inglês e italiano em vez de buscar maneiras similares em outras línguas”, explica Jonathas. “A ideia é conservar

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O artista e sua obra


PODER É

FOTOS DIVULGAÇÃO; LEVI FANAN/ DIVULGAÇÃO; INSTITUTO MOREIRA SALLES

PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA Um livro sobre família, amor, memória e ausência. Juliana Leite, vencedora do Prêmio Sesc de Literatura de 2018, lança em julho Humanos Exemplares (Companhia das Letras, R$ 69,90). O romance segue Natália, uma mulher já idosa que passa horas e horas sempre solitária, movendo-se entre a janela da sala e a mesa da cozinha, em meio às memórias ainda cultivadas.

tudo que é potente no absurdo e nonsense que elas carregam. Esse jogo de impossibilidade de tradução é arrefecido e complexificado com os exemplos que contam tantas histórias polifônicas de amor e de dor deste Brasil atual, que ecoa com tantas instâncias históricas, sociais, raciais.” O tema da bienal deste ano, O Leite dos Sonhos, baseado na artista surrealista inglesa Leonora Carrington, dialoga com o trabalho de Jonathas. “O sonho e a fantasia são uma dessas estratégias, mas sem perder lastro com o delírio amargo que estamos passando no momento”, informa o artista. “Acho que busco apresentar alegorias do corpo que são também alegorias de Brasil, possivelmente inspirado também pelo nosso Carnaval”, revela. A festa, segundo ele, “historicamente lança mão de alegorias para absorver engasgos e alegrias que há que se assimilar e superar”. Tudo isso para, como diz, “seguir desenhando e reinventando um futuro como coletividade”.

HISTÓRIA NA OBJETIVA O Instituto Moreira Salles lançou o site Testemunha Ocular, que reúne parte do vasto material fotojornalístico sob guarda da instituição. Apenas dos Diários Associados, o IMS adquiriu, em 2016, cerca de 900 mil imagens. O trabalho de outros seis fotojornalistas – entre eles Evandro Teixeira e Walter Firmo – contribuiu para a criação do site. A página está no endereço testemunhaocular.ims.com.br. REVELAÇÕES Uma seleção de cartas escritas por Burle Marx para seus familiares e amigos como o arquiteto alemão Walter Gropius é o mote do livro Folhas em Movimento (ed. Luste), uma organização de Guilherme Mazza Dourado. As correspondências mostram um novo olhar sobre a trajetória do paisagista e revelam informações pouco conhecidas. Entre elas, o forte engajamento na defesa ambiental e as suas excursões botânicas. BIENAL TALKS A programação da Bienal de São Paulo não para com o fim da mostra, que ocorreu no fim do ano passado. O programa Pavilhão Aberto convida especialistas para debates sobre arte, cidade e cultura. O programa também dá aos visitantes acesso ao prédio vazio e, ali, no pavilhão desenhado por Oscar Niemeyer, tentar descobrir aspectos históricos, urbanísticos e curiosidades da bienal. No sábado, 16 de julho, ocorre uma conversa entre o padre Júlio Lancellotti e a artista multimeios Carmela Gross. A entrada é gratuita. PODER JOYCE PASCOWITCH 79


Aos 79 anos, MILTON NASCIMENTO não parece mais com vontade de, como Gilberto Gil, seguir compondo e levando ao público suas novas canções; pelo contrário, ele empreende neste 2022 a turnê final de sua vida. Deu a ela o nome de “A Última Sessão de Música”, o mesmo da faixa instrumental do icônico álbum Clube da Esquina. Não parece, tampouco, que Milton esteja apenas a iniciar sua retirada da vida artística, num processo interminável de despedidas e reencontros caça-níqueis, à maneira de um Sílvio Caldas. Tudo com Milton ganha mais densidade, gravidade, solenidade, como se suas palavras viessem acompanhadas da serração que nubla as paisagens que lhe são tão íntimas, as de Minas – tais como num retrato do mineiro Guignard. Assim, no vídeo que anuncia a turnê derradeira, trajado com uma bata cheia de sugestões a Bispo do Rosário, Milton pode estar mesmo a falar a verdade. Quem viveu, viu, ou melhor, ouviu. Se Sinatra era a voz, Bituca talvez seja... o som.

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FOTO GETTY IMAGES

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Imagens ilustrativas. O projeto encontra-se em fase de desenvolvimento e aprovação. Utilização e adesão estarão sujeitos a análise de acordo com o estatuto e regimento interno do clube.


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