A guerra é o que acontece quando a linguagem falha. MARGARET ATWOOD, ESCRITORA CANADENSE
SAS
3 PERGUNTAS PARA...
TÁKI CORDÁS, psiquiatra, coordenador da assistência clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, professor na Universidade de São Paulo e autor de Grandes Epidemias e Pandemias
Houve uma grande mudança no pilar de saúde mental em todas as instituições de saúde – públicas e privadas. De um lado, vimos a piora dos sintomas nas pessoas que já estavam em tratamento e, de outro, o início de quadros psiquiátricos em quem nunca teve nada semelhante. Da mesma forma que os transtornos alimentares, área que eu também atuo, pioraram. Além disso, o alcoolismo e o uso de drogas se intensificaram. O uso de maconha, por exemplo, aumentou em torno de 20%. E ainda veremos mais problemas. Estudos mostram que o estresse traumático pode aparecer até três anos depois de uma época difícil. O que vem por aí é uma epidemia de transtorno mental. COMO SURGIU A IDEIA DO SEU LIVRO?
Da observação desse cenário e de todo o caminho profissional que percorri – parte acadêmica, clínica, de pesquisa e de mais de
PANORÂMICA
40 livros publicados. Somado a isso, comecei a achar que estava fazendo pouco pelo que o país precisava. Há uma frase de Dante Alighieri que diz: “Os lugares mais sombrios do inferno são reservados àqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise”. E eu precisava ter uma atitude mais ampla e política. Abri, inclusive, meu Instagram para falar sobre o tema. O livro mostra como as pessoas lidaram com as grandes pandemias da história, como a peste em Atenas, gripe espanhola e a Covid-19. E há pilares muito parecidos. O primeiro é que todos os povos tentam achar um culpado. Na gripe espanhola, por exemplo, as pessoas diziam: “Não tome a vacina da Bayer, pois é produzida na Alemanha e a Aspirina de lá vem com o vírus da gripe”. Aqui chegamos a falar “vírus chinês” para nos referirmos ao coronavírus. Ou seja, buscamos sempre um bode expiatório. O segundo é o negacionismo. Alguns chegaram a dizer, até, que a Covid não passava de uma “gripezinha”. Já o terceiro é encontrar curas milagrosas. Na peste,
O GRUPO TERRAVISTA, referência em Trancoso para quem busca luxo e sossego do sul da Bahia, além de muita sofisticação – entre as propriedades da marca estão dois condomínios, um dos melhores campos de golfe da América do Sul, aeroporto e teatro – prepara um plus: o lançamento de um hotel com bandeira internacional que promete mexer com toda a concorrência turística no Nordeste.
10 PODER JOYCE PASCOWITCH
as pessoas consultavam oráculos e na gripe espanhola diziam que colocar a cabeça para fora do carro e acelerar faria o vírus sair pela narina. Por outro lado, nesses momentos, há muita mobilização e revolução da sociedade. ACREDITA QUE TEREMOS ALGUMA REVOLUÇÃO POR AQUI?
Eu ainda não vi nenhuma. No começo, os otimistas diziam que, depois da pandemia, iríamos nos tornar pessoas mais empáticas e melhores. Não acredito nisso. Pelo contrário, vamos voltar a ser o que éramos e, talvez, até mais egoístas. O que está acontecendo é que estamos esquecendo que temos mais de 660 mil mortes e há culpados; pessoas contribuíram com isso. Basta pensar no caos que Manaus passou. Mas, talvez, 30% da população não tenha percebido. Ou não queira perceber.
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COMO VOCÊ VÊ HOJE, PASSADOS DOIS ANOS, OS EFEITOS DA PANDEMIA NA SAÚDE MENTAL DAS PESSOAS?