Revista J.P | Edição 151

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VIEIRA SOUTO 458 POR LUI TPS

SEMICONSCIENTE

Ela se dizia vegana, mas não perdia o steak tartare do L’Avenue, de Paris. Conheça Patricia, a blogueira “semi” tudo

Não era só na alimentação que Pati tinha seus hábitos. Neta de políticos baianos, recentemente adotara o candomblé como religião. Fazia oferendas semanais aos orixás, publicava posts com os pais de santo no terreiro e jogava búzios para consultar seu futuro. É claro que era contra macumbas e o sacrifício de animais – ela era uma candomblé vegana. Também não acreditava tanto em vida após a morte. E então, como não seguia todas as crenças, considerava-se semicadomblé. Assim também ninguém podia criticá-la. Pati era devota de Iemanjá, seu orixá. Ia regularmente na festa da rainha das águas em Salvador, quando se vestia toda de azul com flores brancas na cabeça e levava sua oferenda ao rio Vermelho. Só procurava não incluir muito plástico no barco que jogava ao mar. Patricia, aliás, também era uma grande defensora do meio ambiente.

Semiblogueira, Pati fazia posts semanais em seu Instagram orientando seus seguidores sobre a acidificação do oceano, a poluição do mar e a redução da biodiversidade de nossos oceanos. Condenava quem usava canudos ou bebia em garrafas de plástico e demonstrava seu apoio total às instituições de proteção à vida marítima em suas mídias sociais. Só não media cuidado ao dirigir seus carros importados pela cidade, emitindo dióxido de carbono por aí, ou mesmo evitando o consumo exacerbado de produtos cosméticos. Não estava nem aí para as micropartículas. Beleza em primeiro lugar. Por essas e outras também se considerava uma semidefensora do meio ambiente. n

CARIOCA, LUI TPS É FINANCISTA E AUTOR DO ROMANCE VIEIRA SOUTO 458, FICÇÃO SOBRE A EXTRAVAGÂNCIA E A DECADÊNCIA DA JUVENTUDE DOURADA DO RIO DE JANEIRO

8 J.P ABRIL 2019

FOTO DIVULGAÇÃO

Há dois anos, Patricia havia se tornado vegana. Ou melhor, semivegana. Não consumia quase nada de fonte animal ou que explorasse os bichinhos. É claro que não abria mão de um jantar no Nagayama, seu restaurante japonês favorito em São Paulo. Carne apenas o steak tartare do L’Avenue uma vez ao ano quando fosse a Paris. Fora isso, seguia uma dieta rígida de fonte vegetal. Aliás, além de estar fazendo bem ao planeta, essa prática a deixava magra como Gisele, de quem havia seguido o estilo de vida. Também havia começado a evitar o consumo de roupas feitas a partir de animais. É claro que a regra não se aplicava a vestidos de seda ou bolsas de grife. Mas criticava abertamente em seu blog as garotas que usavam jaquetas de couro ou compravam casaco de pele. Ela até usava o dela nas esquiadas com a família na Suíça, mas, como herdara da avó, não tinha problema. O problema era quem comprava.


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