A Bordo da Felicidade_Olga Tavares_01

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Copyright © 2022 de Olga Tavares Todos os direitos desta edição reservados a Olga Tavares Projeto gráfico, diagramação e capa estampapb Co-organizador José David Fernandes

Ficha catalográfica elaborada na Biblioteca Setorial do CCTA da Universidade Federal da Paraíba

T231b

Tavares, Olga. A bordo da felicidade, v.1 [recurso eletrônico] / Olga Tavares. - João Pessoa: Editora do CCTA, 2022. Recurso digital (45,8MB) Formato: ePDF Requisito do Sistema: Adobe Acrobat Reader ISBN: 978-65-5621-261-6 1. Viagens - Memórias. 2. Narrativas de viagens. I. Título.

UFPB/BS-CCTA

CDU: 910.4:82-94

Elaborada por: Susiquine Ricardo Silva CRB 15/653


Capítulos

Sumário 01

A 1ª VIAGEM: NAS ASAS DA CRUZEIRO DO SUL 12H - SÃO LUIS-RIO: 3 ANOS................05

02

EUROPA: 1ª VEZ COM CARLOS ALBERTO (LUA DE MEL)....................................................25

03

RIO DE JANEIRO/INTERIOR: SUL DE MINAS E SÃO PAULO: COM LUIZ OTÁVIO.................32

04

EUROPA COM MINHA MÃE..............................................................................................41

05

AMÉRICA DO SUL COM LUIZ OTÁVIO (ARGENTINA E CHILE)............................................71

06

FRANÇA: PESQUISA DOUTORADO. TOUR SOZINHA PELA EUROPA..................................95

07

SANTA CATARINA E RIO GRANDE DO SUL.................................................................... 150

08

NE: PB, RN, PE, PI (DELTA), CE, AL, SE (XINGÓ), BA (LENÇÓIS)/PB-RIO-SP/PB-BSB e GO/ PB-RIO-ITAJUBÁ-SP (80 ANOS PAI)/PB-SÃO LUIS (50 ANOS MÁRCIO)/RESORTS COM A FAMILIA: COM ROMILDO...............................................................................................165

09

CONGRESSOS & AFINS: MATO GROSSO DO SUL/PORTO ALEGRE/CURITIBA/NATAL /BELO HORIZONTE/JOINVILLE/RECIFE/JAPARATINGA/VIAGEM AO PROJAC....................229

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EUROPA: INGLATERRA, RÚSSIA & PAÍSES NÓRDICOS..................................................264


Capítulo 01 Você trabalha com o quê? Com vontade de viajar.

VIDA DE SOLDADO 4 | A Bordo da Felicidade


"Digo: o real não está na saída nem na chegada: Ele se dispõe para a gente é no meio da travessia". João Guimarães Rosa

P

or sugestão da amiga Rita Stano, escrevo essas narrativas de viagem porque as viagens fazem parte intrínseca da minha trajetória, pois elas foram constantes, aliando mudanças familiares, projetos acadêmicos e passeios turísticos. Sou de natureza viajante e, juntamente à leitura, aos filmes e à música, é o meu hobby favorito. A maioria dos relatos vem dos diários de viagem que faço em cada uma; contudo, há algumas viagens (as de criança) sem nenhum registro e tive que contar com a memória para trazê-las à tona. Os registros fotográficos também eram bem poucos no início destas narrativas porque não havia esse hábito de hoje e porque era um ‘hobby’ caro.

A 1ª VIAGEM: NAS ASAS DA CRUZEIRO DO SUL 12H - SÃO LUIS-RIO: 3 ANOS

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"Não há tempo para o tédio em um mundo tão lindo como este!" Anônimo

Aos três anos, fiz minha primeira viagem de avião. Com minha mãe e meu irmão Beto, saímos de São Luís-MA, para visitar os avós maternos e passar férias no Rio, voando pelas asas da Cruzeiro do Sul, em voo de 12 horas, com escalas em Fortaleza e Recife, não só para abastecer e deixar e buscar passageiros/as, mas, também, para se ir ao banheiro. (Passei anos ouvindo essa história da minha mãe...)

SÃO LUIS-RIO – 5 ANOS, NAS ASAS DA PANAIR – 12 HORAS "Muito do que somos é onde nós fomos". William Langewiesche

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A segunda viagem de avião foi aos cinco anos, partindo de São Luís-MA, de mudança para o Rio de Janeiro, a família toda, nas asas da famosa Panair, em 12 horas de voo, com banheiro a bordo. Foi a primeira viagem dolorosa para mim: despedia-me da minha avó mais querida, Dinda, que eu ainda veria algumas vezes como visita no Rio, até sua morte quando eu tinha 10 anos. A perda dessa avó foi meu primeiro grande sofrimento, que se estendeu em uma falta eterna.

RIO-RESENDE: QUATRO FILHOS SERRA DAS ARARAS/FUSCA "Viajar é colecionar memórias pelo mundo". Anônimo A segunda transferência do meu pai foi para Resende, a 2h30 do Rio. A família já tinha os quatro filhos e nos deslocamos dentro de um ônibus da Viação Cometa pela perigosa Serra das Araras, em cujas curvas fizemos inúmeras viagens depois, no Fusca comprado naquela cidade, naqueles dois anos de estada, morando na vila da Academia Militar das Agulhas Negras. Naquela época, deu-se início às diversas viagens que a família faria pelas cidades circunvizinhas, como Penedo, Aparecida, Itatiaia, Mauá, Volta Redonda. Ali tinha início meu deslumbramento pelas paisagens montanhosas que passavam pelas janelas do Fusca. Até hoje quando passo por aquelas serras fluminenses, vem-me à memória afetiva as mesmas sensações da infância.

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RIO-SÃO LUIS: DE CARRO INDIANA JONES TUPINIQUIM "A felicidade não está na estrada que leva a algum lugar. A felicidade é a própria estrada". Bob Dylan Em 1967, retornamos ao Rio de Janeiro e a uma melhor condição financeira por conta da herança materna, que possibilitou ao meu pai comprar um Opala zero km, o Flecha Dourada, por ter a pintura desta cor, que o animou a realizar muitas viagens pelo interior do Rio de Janeiro (Miguel Pereira, Petrópolis, Teresópolis, Itaipava, Friburgo, Mendes), além de tours semanais pelo Rio para conhecer seus monumentos, praças, museus etc., e ainda a empreender a primeira grande aventura de atravessar seis estados brasileiros na viagem Rio-São Luís. A partir daí, algumas outras foram feitas com o mesmo espírito

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aventureiro de conhecer um país ainda sem estradas asfaltadas, sem estrutura física de restaurantes e hotéis confortáveis pelas estradas, com poucos postos de gasolina, de cidades pobres e inóspitas. Anos depois dessas viagens que nós, filhos/as consideramos as melhores da vida, apelidamos nosso pai de “Indiana Jones Tupiniquim”, pois passamos por riscos, perigos etc., mas nunca tememos nada porque ele nos passava a energia da coragem e determinação, mesmo quando houve acidentes e problemas no carro, como a quebra do sistema de escapamento do carro, por uma pedra, e ficamos à deriva no meio do nada, depois de Petrolina-PE, em estrada de terra, pedras e buracos, aguardando a passagem de alguém. Graças à cesta-merenda da minha mãe, onde tínhamos água, frutas e pães até a chegada de um caminhoneiro, algumas horas depois, que nos rebocou, com um cabo de aço, até a cidade de Araripina-PE. E a do tanque de gasolina que foi perfurado também por uma pedra perto de Ouricuri-PE, e ali paramos para uma tarde toda de conserto. Ou da vez em que dois caminhões vinham na nossa direção em uma ladeira da BR-116, na Bahia, e meu pai teve que jogar o carro fora da estrada sem acostamento, mas, felizmente, com uma extensão de cascalho e mato. E ainda quando uma família de porquinhos iniciou a travessia da estrada e ficou um retardatário, quando não dava tempo de parar o carro, em Valença do Piauí-PI: era a vida dele ou a nossa. Ficamos inconsoláveis toda a viagem; contudo, a frente do carro foi toda destruída, mas as avarias só foram consertadas em São Luis-MA. Meu pai costumava parar no meio das estradas para vermos aqueles nordestinos de gibão, na caatinga cearense, em cima dos seus cavalos, com um vocabulário que só meu pai entendia, pois fora criado passando férias na fazenda do avô paterno. E da vez em que,na ida, passamos pelo rio Jaguaribe, no Ceará, que estava seco e Lígia e Gustavo tiraram fotos naquele leito vazio; e,na volta, o rio já estava cheio, quase batendo na ponte. Meu pai registrava tudo em fotos-slides e poucas sobreviveram às mudanças e ao mofo.

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TERESÓPOLIS – AVÓS MATERNOS

"Viva a sua vida com uma

bússola, não com um relógio". Stephen Covey

Meus avós maternos compraram um apartamento em Teresópolis, bairro Araras, para veraneio, mas acabaram morando lá, devido ao agradável clima serrano. E ali se tornou nosso ponto de férias de inverno e de fins de semana maravilhosos, subindo a Serra dos Órgãos, de mão dupla e com muitos acidentes na sua estrada sinuosa e sem acostamentos. Coincidentemente, vários/as amigos/as tinham casa de campo ali e havia sempre programas variados para fazer, como tomar banho nas cachoeiras da Cascata dos Amores e subir os morros ao redor, como a Serra do Cavalo, de onde se avistava até o Dedo de Deus. E ali eu tive o meu primeiro namorado, René, aos 15 anos.

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RIO-BSB: SAIR DO COLÉGIO/CULTURA DE CLUBE "A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos". Fernando Pessoa A segunda mudança traumática foi para Brasília. Tive que deixar o colégio de oito anos e amizades sólidas que tenho até hoje, além do ensino que me abriu o interesse para os estudos de forma prazerosa e construtiva. Brasília foi o único lugar que não gostei de morar, mas onde tenho grandes amigas/os. Dali só saía para as férias no Rio e Teresópolis. Foi o primeiro lugar que não foi desbravado pelo meu pai. Nossos fins de semana eram no Círculo Militar ou no Clube da Aeronáutica, e na boate do Iate Clube.

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SUL COM SONIA E CLAUDIA (SÃO PAULO, PARANÁ E PARAGUAI) "Daqui a vinte anos, você não terá arrependimento das coisas que fez, mas das que deixou de fazer. Por isso, veleje longe do seu porto seguro. Pegue os ventos. Explore. Sonhe. Descubra". Mark Twain Em Brasília, continuaram as viagens dos meus pais para São Luís, que eu não ia mais. Preferia passar minhas férias no Rio com os avós e ou tios/as e primas maternos. As únicas viagens significativas do período em Brasília foram feitas de ônibus com as amigas Sonia Vasconcelos e Claudia Meireles para São Paulo, Paraná e Paraguai. Neste país da ditadura de Stroessner havia toque de recolher e fomos encaminhadas por policiais à casa do meu tio Murillo por estar na rua fora do horário! Em São Paulo, andei no metrô recém-inaugurado (1977) e foi uma experiência inesquecível, com a doce amiga Angélica como nossa anfitriã e guia. No Paraná, ficamos em Curitiba, na casa de parentes de Sônia. Não me lembro de nada dali, só que não gostei da cidade (hoje, é uma das minhas preferidas). De lá, seguimos para Foz do Iguaçu, uma das maiores belezas aqüíferas que já vi na vida, sendo ciceroneadas por três tenentes do 34º. BIMTZ do Exército local, naqueles jipes que eu sonhara um dia em ter. Como havíamos deixado os namorados em Brasília, nem paqueramos os lindos tenentes, mas nos divertimos muito juntos. Ficamos hospedadas no hotel de Trânsito do quartel e fazíamos as refeições no quartel também. Foi bem inusitado e bacana. Outros hotéis de trânsito, onde me hospedei: Campo Grande, Natal, Olinda e Rio.

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BSB-EUA (SAIR DO CEUB) / EUA: NEW YORK, HANNA BARBERA, SEVEN SPRINGS, OCEAN CITY, VIRGINIA/EUA – CANADÁ "Viajar é mais do que a visão de pontos turísticos, é a mudança que acontece, profunda e permanentemente, no conceito sobre o que é a vida". Miriam Beard Em 1977, meu pai foi transferido para Washington D.C./EUA. Eu não quis ir porque iria me formar naquele ano, pois o curso de jornalismo era de três anos à época; contudo, meu pai me convenceu de que seria uma oportunidade única viver fora do Brasil, estudar comunicação em outra universidade, melhorar a língua inglesa etc.. Fomos Rio-New York pela Varig – a melhor empresa aérea que este país já teve. Era um luxo só o voo. Naquela época, havia assentos vazios a escolher, e eu viajei deitada, aos prantos, esticada em três cadeiras. De New York para -Washington D.C., fomos em uma empresa local. Ficamos hospedados no Linden Hill Hotel, enquanto o apartamento não ficava disponível. Fomos morar em Bethesda, Maryland, a quinze minutos de Washington D.C., no edifício Topaz House, na 4400 East-West Highway #332. Eu e Lígia logo fomos desbravar a capital americana nos fins de semana: o prédio do Watergate, John Kennedy Memorial, os monumentos a Jefferson, Washington e Lincoln, à Galeria Nacional, ao White Flint Mall, ao charmoso histórico bairro de Georgetown. E descobrimos as discotecas e restaurantes que freqüentamos aqueles anos: Paragon Discoteque, Winston’s, Deja Vu, Mr. Henry’s, Boccaccio e Farrel’s. A maioria já não existe mais...

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Meu pai continuou fazendo viagens no seu Malibu prateado com meus irmãos, mas eu já não ia mais. Só fui a três delas: para a estação de esqui Seven Springs, na Pensilvânia, e para New York e o Canadá, com a família da querida amiga até hoje, Denise Silveira. Fiz algumas viagens com irmãos/ã e amigos/as pelas redondezas de Bethesda-MD, onde morávamos. Fomos para Luray Carverns e Great Falls, na Vírginia, com amigos, e ao parque temático de Hanna Barbera, Kings Dominion, também na Virginia, no meu Fusca alemão “Yellow bird” – neste parque andei no looping de duas voltas e foi uma grande aventura para mim que não gosta de brinquedos ousados; para New York de ônibus algumas vezes com as amigas Alzira, Stela ou Denise; para o balneário de Ocean City, em Maryland, no velho Maverick de Moses, meu namorado; para as históricas Williamsburg, Annapolis e Yorktown, na Virginia, e para Gettysburg, na Pensilvânia, de carro com meu pai; para o Shenandoah National Park, na Virginia, de carro com Roberto e Ligia.

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Uma das maiores emoções em New York, àquela época uma cidade que praticamente tinha toque de recolher por conta da violência urbana das gangues e das máfias, foi visitar o recém-inaugurado maior prédio do mundo (1973), o World Trade Center, na Lower Manhattan. Do seu 110º. andar eu vi o mundo inteiro e escrevi uma poesia sobre essa sensação de estar no topo do mundo. O retrato das torres gêmeas feita pelo famoso fotógrafo Ralf Uicker enfeita uma das paredes da minha sala.

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RIO & BRASÍLIA: ROTEIROS FAMILIARES "O barco está seguro no porto. Mas não é para isso que os barcos são feitos". William Shedd De volta ao Rio, para morar com os tios Yvonne e Olympio, e as primas Dominique, Simone e Sonny, na Av. Vieira Souto, 208 ap.901, Ipanema – que eu costumava anunciar como “vida de barão sem gastar nenhum tostão!” A única viagem que fiz foi com eles, de 1ª classe na VARIG, para São Luís. Um espetáculo de viagem! Um luxo só! E também havia os “programas de barão sem gastar nenhum tostão”, pois ainda conheci as melhores casas de shows do Rio à época, como Canecão e Scala; restaurantes das estrelas, como Sal & Pimenta, Gattopardo e Dinho’s Place. As feijoadas de sábado do Hotel Le Méridien (o da cascata nos réveillons cariocas), em Copacabana, e os cozidos de domingo no Hotel Ceasar Park, em Ipanema. Em seguida, de volta a Brasilia, viajava pela VASP para o Rio, para São Luis e para João Pessoa. Nesta cidade, o avião sobrevoava as praias e meu pai saía para me buscar depois que via o avião passar! Roteiros familiares, aonde eu ia para passar tempo com a família e amigos/as, já que fiquei morando com a amiga de infância Cleozinha, na capital federal. Quando trabalhava na Secretaria de Comunicação (SECOM-PR), no Palácio do Planalto, peguei algumas caronas no avião presidencial que seguia para o Rio, nos fins de semana. Avião bem comum, igual ao das companhias aéreas da ocasião. A diferença era em voar juntamente com o presidente da República e ministros do Governo, algumas vezes.

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NORDESTE COM MOSES "Estou de malas prontas/Hoje a poesia veio ao meu encontro/Já raiou o dia, vamos viajar". Maysa Em 1980, meu noivo Moses estava morando em Salvador. Fui para lá para seguirmos de avião para Maceió, hóspedes do amigo José Beder, professor da UFAL, e sua família. Foram dias maravilhosos de descobrimento de um Nordeste que eu não conhecia ainda totalmente. Dali, aproveitamos para visitar minha prima Dominique, que estava morando em Olinda-PE. Ficamos em um hotel à beira-mar em Recife, que achei uma das cidades mais belas que já vira. Conhecemos a Ilha de Itamaracá, quando havia uma famosa prisão por lá e os carros eram revistados na entrada e na saída. Estendemos a viagem para as vizinhas João Pessoa e Natal – ambas muito provincianas, de bairros famosos como Tambaú e Ponta Negra, ainda sem asfalto. As areias das praias voavam pelas ruas. Não gostei de nenhuma das duas! (hoje eu adoro as duas!) Voltamos para o carnaval de rua de Salvador, quando seguíamos pelas ladeiras atrás do trio elétrico de Dodô e Osmar – um cordão de alegria, de simplicidade (sem abadás!) e já de muita gente mijando nas paredes ou nos postes! Só tenho estas duas fotos da viagem.

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Capítulo 02 Alma em voo livre.

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EUROPA: 1ª VEZ COM CARLOS ALBERTO (LUA DE MEL) "Viajar é trocar a roupa da alma" Mario Quintana

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asei-me pela 1ª vez, em 1983, e fomos passar a lua-de-mel na Europa, nove meses depois, por conta da agenda de Carlos Alberto. Foi um sonho realizado e planejado. Eu fiz o roteiro, compramos os Eurailpass de trem e seguimos no voo da TAP. Foram nove países em 30 dias! Partindo de Portugal pelo litoral norte para a Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Áustria, Grécia e Itália, voltando a Portugal pelo litoral mediterrâneo. A França que eu endeusava não surtiu tanto efeito como a Grécia dos mitos e da filosofia que eu tanto cultivava provocou em mim. Naquela época, não havia reserva de nada. Chegávamos nas estações e embarcávamos nos trens, que ainda trafegavam com cabines vazias. Muitas vezes, dormimos nos vagões em cabines exclusivas para nós dois. Os hotéis eram escolhidos também nas estações, de acordo com o valor que queríamos pagar. Havia um balcão com uma lista deles, fazia-se a escolha e a recepcionista também nos indicava o transporte a pegar. Conforto que hoje já não existe mais e que nos deixava seguros da tranqüila mobilidade. O único inconveniente desse trânsito pelos países era que tínhamos que trocar dinheiro pelas moedas locais em todos os desembarques. Naquela primeira ida à Europa, fizemos os roteiros comuns aos turistas: visitar os museus mais famosos, como ver Goya e Velazquez, e a grande emoção de ver a Guernica, de Picasso, em sala única, na qual nos sentamos por quase duas horas para refletir sobre as maldades do século 20, no Museu do Prado, em Madri-Espanha; o Louvre, em Paris-França – cuja famosa Monalisa do darling Da Vinci foi visão

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bem decepcionante, mas ainda não havia um enxame de gente a sua frente como hoje -; a Capela Sistina, no Museu do Vaticano – onde chorei bastante pela católica praticante que eu era à época e da admiração por Michelangelo-; e a Galeria degli Uffizi, em Florença-Itália – para ver o estupendo Davi também de Michelangelo. E ainda conhecer os pontos históricos mais importantes, como o bairro de Belém e da Alfama, em Lisboa; os mercados de Madri; os bairros de Marrais e da Bastilha, em Paris; o manequinho mijão em Bruxelas; os templos gregos em Atenas – onde vivi as maiores emoções desta viagem, apesar de o rolo de fotos ter sido esquecido lá...-; as charmosas ruas barrocas e as casinhas coloridas à beira-rio, em Innsbruck, capital do Tirol, e as montanhas imponentes que circundam Salzburg, terra de Mozart, na

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Áustria; a capital da Bavária, Munique – terra do meu rei preferido, o amante das artes e da música, Ludwig II-, e a famosa catedral gótica de Colônia, na Alemanha; o indescritível Moises, na Igreja de San Pietro in Vincoli, em Roma – lugar que não lhe está à altura...

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Mas já naquela época, o que eu mais gostava era andar pelas ruas das cidades, procurar seus recantos mais pitorescos ou ainda mais soturnos, como em Veneza – de canais sujos e roupas estendidas com pombas sobre elas -, e em Amsterdã – onde vi a liberdade de existir sem preconceitos e clichês sociais, como as vitrines com as prostitutas à escolha, a praça das drogas opcionais e o primeiro casal gay que vi se beijando numa esquina. E, principalmente, Roma, que é uma cidade-monumento, onde esbarramos com obras-primas ao longo dos passeios, como o Coliseu, a Fontana de Trevi, o monumento a Vittorio Emanuele II, apelidado “Bolo de Noiva”, a Praça de Espanha,com suas escadarias cheias de gente, onde passei pelo local da residência dos poetas ingleses Keats e Shelley. Da mesma forma, Paris se mostrava nas pontas da sua estrela

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com monumentos clássicos do turismo mundial: Torre Eiffel, Arco do Triunfo, Moulin Rouge, Madeleine, Montmartre, Pigalle, Ópera Nacional de Paris e ir ao túmulo de Alan Kardek, no cemitério Père Lachaise, pois Carlos Alberto era espírita. Aproveitei para ver os meus darlings literários, como Balzac, Oscar Wilde, Collete, Proust, Moliére, La Fontaine e Eluard. Comprei o mapa e passamos um dia andando pelas aléias daquele belo cemitério. Subimos na Torre Eiffel e nunca mais repeti a façanha nas vezes em que retornei a Paris, pois passou a ter filas intermináveis.

Na volta pelas estradas e ferrovias que circundavam o Mar Mediterrâneo, passamos por Nápoles e Gênova, na Itália; Mônaco, Nice – onde tomamos banho no Mar Mediterrâneo, cheio de pedrinhas, e eu de sandália Melissa dentro d’água! -, Cannes e Marselha, na França; e Barcelona, na Espanha – à época, uma cidade portuária feia e perigosa, com ameaças terroristas do movimento separatista catalão, bem diferente da Barcelona atual, elegante e cheia de atrativos, que destacam seus marcos turísticos, como as obras de Gaudi, Picasso e Miró, outrora obliterados pelo medo social. Na ida pelo litoral norte da Espanha, passamos por San Sebastian e Bilbao, com forte atuação do grupo separatista terrorista mais temido do país, o basco ETA. Essas duas cidades eram bem feinhas, praticamente de fábricas e de pesca. Hoje, são centros turísticos sofisticados e vibrantes, depois da construção do Museu Guggenheim Bilbao.

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Em todas as praias do mar Mediterrâneo as mulheres faziam topless e não havia olhares luxuriosos. Eu não fiz porque não tinha essa prática aqui; contudo, chamei atenção quando saí da praia de biquíni, em Nice, com a canga somente amarrada na cintura. Até chegar à casa-pousada charmosa com jardim e piscina, onde ficamos hóspedes, de um casal francês que nos convidou na ferroviária para ficarmos com eles a preço menor que nos hotéis que costumávamos ficar, as pessoas se viravam nas ruas para me ver “passar”. O trem passou a ser, juntamente com o carro, o transporte favorito para viajar. Também tive a primeira viagem de navio, quando atravessamos de Brindisi, depois de passar pela sonolenta e simpática Bari, na Itália, para Patras, na Grécia. Apesar de termos comprado uma cabine, eu não consegui ficar naquele espaço confinado e abaixo da água. O mar Egeu era uma lagoa linda, mas noite sem lua deixava tudo bem assustador e com a sensação de vazio absoluto. Avião e navio são os meios de transporte que uso por necessidade de continuar viajando...

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Capítulo 03 Boas viagens, muitas bagagens de histórias.

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RIO DE JANEIRO/INTERIOR: SUL DE MINAS E SÃO PAULO: COM LUIZ OTÁVIO "A felicidade é uma forma de viajar, não um destino". Roy M. Goodman

N

o namoro com Luiz Otávio já encontramos o que mais tínhamos em comum: gosto de viajar. E o fazíamos amiúde. Finais de semana, feriados e férias estávamos com os roteiros definidos. Viajamos no seu FIAT 147 beje, a Rebeca, por todo o interior do Rio de Janeiro: Cabo Frio, Araruama, S. Pedro d’Aldeia, Saquarema, Maricá, Búzios, Rio das Ostras, Macaé, Friburgo, Cachoeira de Macacu, Lumiá, Vassouras, Miguel Pereira,Petrópolis, Teresópolis, Mangaratiba, Angra dos Reis , Itacuruçá – onde andamos de saveiro uma manhã inteira e tomamos a sopa de tartaruga mais cara que já tomei, no famoso Bar do Genoval -, Ibicuí, Praia Grande. Enquanto ficamos no Rio, tínhamos também “programa de barão sem gastar um tostão” com o pai dele, o amado sogro Luiz Carlos Coutinho, que nos levava a restaurantes maravilhosos, e com nosso chefe Aristides Boyd, que trabalhava também na TV Globo, e nos levava para shows, restaurantes e bares famosos. E fomos ao “Sal e Pimenta”, ao “Alvaros”, ao “Cattleman”, ao “El Cordobes”, ao “Bel Bife”, e shows do Roberto Carlos, do Agildo Ribeiro, do Cauby Peixoto, Rita Lee, Ney Matogrosso.

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A nossa lua-de-mel foi em Guarapari-ES, lugar que ambos queríamos conhecer – presente do sogro. Hotel Porto do Sol, um paraíso sobre uma rocha, dentro de uma pequena enseada. Passeamos por Vitória, Vila Velha e pela serra de Domingos Martins. Alugamos um barco em conjunto com um casal também em lua-de-mel, Norma e Paulo,e visitamos várias praias do litoral capixaba – Praia dos Namorados, da Areia Preta, Cerca e Meiaípe.

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Casados, morando em Copacabana, vendemos a minha coleção da revista Seleções e algumas jóias para fazer uma viagem ao Nordeste, de ônibus, nas férias, parando em todos os estados da BR-101. Foi muito bacana conhecer as cidades do Sul da Bahia, como Troncoso e suas belas praias; Cabrália – que disputa com Porto Seguro a chegada dos descobridores! -e tem o cruzeiro da primeira missa no país; Porto Seguro –, com a Igreja Nossa Senhora da Misericórdia, que é a primeira igreja do Brasil (1526); Arraial d’Ajuda; Olivença; e Ilhéus –onde almoçamos no “Vesúvio”, o bar da icônica personagem “Gabriela”, de Jorge Amado-; visitar Aracaju, berço da família do meu avô Olympio de Souza Campos, cujo tio e padrinho foi governador do Estado e dá nome ao palácio do Governo, Olympio Campos; ali também jantamos no “Cacique Chá”, tradicional reduto político local, e terra do escritor Tobias Barreto: “com as pedras que me atiram, construirei um altar”. Ainda não havia aprendido a viajar com pouca bagagem e Luiz Otávio reclamou muito de ter que carregar as malas. Nos estados de AL, PE, PB e RN, só fiz reconhecer algumas cidades que já conhecia anos atrás e ver suas metamorfoses, como o asfaltamento de bairros como Tambaú e Manaíra, em João Pessoa. Minha perspectiva mudou inteiramente e passei a gostar demais de João Pessoa, onde a família estava morando em definitivo e já havia alguns sobrinhos nascidos. Para o NE, ainda fizemos uma viagem a São Luis, de ônibus, saindo de João Pessoa, com minha mãe, Wilma, Eduardo e Marcelo. Foi ótima! Nos divertimos bastante com um transporte que, no meio do caminho, dava carona aos camponeses que trabalhavam nos campos locais do CE, do PI ou do MA. Em um deles, um rapaz subiu com uma foice enorme e aí me deu bastante medo!

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Quando houve a mudança para Itajubá – onde vivi os doze melhores anos da minha vida-, compramos um Voyage vermelho e percorremos todo o Sul de Minas e o Norte de São Paulo.

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Todas aquelas encantadoras cidades do circuito das águas de Minas e de São Paulo, como S. Lourenço, Caxambu, Lambari, Cambuquira,Três Corações, Águas da Prata, Águas de Lindóia, Serra Negra, Monte Alegre do Sul, Holambra, nós visitamos. E ainda as cidades vizinhas de bons restaurantes para fins de semana, como São José dos Campos, Campos do Jordão, Aparecida, Guaratinguetá, Pouso Alegre, Santa Rita, Lorena, Brasópolis, Maria da Fé, Delfim Moreira, Paraisópolis, Monte Sião, São Francisco dos Campos de Jordão – com Gustavo, meu irmão, e a família Leal-, Monte Verde - também com a família Leal, em passeios maravilhosos, apesar das horríveis estradas!-, Varginha, Poços de Caldas. E quando recebemos a visita dos amigos Beth e Baffa, fomos comer os famosos pés-de-moleque de Piranguinho.

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Também viajamos com o casal amigo Denise e Sérgio Braga para o Natal e Reveillon de 1996, no Hotel-Fazenda Sete Lagos, em Guaratinguetá/SP, e para seu apartamento em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, algumas vezes. Voltamos à região para visitar Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Santos, partindo de Itajubá pela bela estrada Real-Cunha. As estradas sempre me seduziram bastante. Subir a Serra da Mantiqueira para Itajubá durante doze anos nunca me cansou. Conhecia cada curva e acidente geográfico daquela estrada (MG-459), e era sempre um prazer passar por ali.

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Capítulo 04 Bagagem essencial: destinos no mundo.

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EUROPA COM MINHA MÃE "Como mulher, eu não tenho país. Como mulher, meu país é o mundo inteiro". Virginia Wolf

E

m 1993, meu irmão Gustavo estava morando em Paris-França, fazendo seu doutorado em Ciência Política. Eu e minha mãe viajamos para lá no mês de julho, no MD 11 da VASP, Rio-Bruxelas, onde ficamos dois dias no Hotel Opera, 53 Rue Greny, ciceroneados por Maria Helena e esposo. Visitamos a Grand Plaza, Galerie Hubert, La Monnaie (a Ópera), o mercado das pulgas (horrível!), e o manequinho mijão que estava vestido de americano!! Fomos a Waterloo, onde Napoleão perdeu a guerra definitiva e voltamos por um parque florestal maravilhoso.

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Dali, seguimos de trem para Paris, onde nos hospedamos com Gustavo e Yone, na Av. Parmentier 118, no 11º. ème. No primeiro fim de semana, fomos para Londres com Gustavo e Yone e um casal amigo deles, Newton e Rosa. Pegamos um ônibus para Calais e de lá atravessamos o Canal da Mancha em um ferry boat para Dover, onde pegamos outro ônibus para Londres, cujo povo gostei bastante: atencioso, educado e prestativo. Ficamos no Hotel Oxford, na Penywern Rd., 24. O recepcionista era brasileiro e ele nos deu um quarto enorme ótimo, pois dormimos todos nesse quarto e foi uma farra ótima de dois dias. Os garçons no café da manhã também eram brasileiros e capricharam na quantidade de pães e geléias com café (que era só o que tinha!).

Compramos o ticket de um dia do metrô (o mais antigo do mundo e parecia que os trens eram os mesmos ainda de tão velhos!!) e fomos assistir à mudança de guarda do palácio de Buckingham, onde vive a rainha Elizabeth II; descansamos nas cadeiras do parque St. James - o mais antigo de Londres -; visitamos o British Museum, com 240 anos, onde me emocionei muito vendo a pedra de Rosetta e o que ela significou para os estudos de lingüística do mundo, bem como a primeira edição publicada de Hamlet, de Shakespeare, em 1604, além dos grandes saques arqueológicos feitos na Grécia e no Egito, com templos inteiros e objetos transpostos para as salas do museu; conhecemos a ponte móvel no rio Tâmisa, que completava 101 anos; o famoso relógio Big Ben, com

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134 anos; a Oxford Street, a rua mais movimentada da Europa à época; a Picadilly Circus; a Charing Cross Road (do sublime filme “Nunca te vi... sempre te amei”, com Anthony Hopkins e Anne Bancroff, 1987); a Tower Hill, onde morou Henrique VIII; a Igreja de St. Paul; e a Abadia de Westminster – templo das coroações, casamentos e funerais de reis/rainhas do Reino Unido. Andamos no tradicional ônibus de dois andares e muito a pé, conhecendo a cidade, o movimento da Trafalgar Square, a elegante Harrods da Brompton Road (lotada!), e entramos nas tradicionais cabines telefônicas vermelhas - ícones do design britânico. Às noites, saíamos para conhecer os pubs londrinos, alguns servindo apenas bebidas, o que achei bem bizarro. No caminho para Dover, entramos em Canterbury - dos famosos contos de Chaucer - , e conhecemos o castelo medieval de Dover, que é uma cidade muito charmosa, cheia de falésias portentosas na sua costa.

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Depois de percorrer os lugares principais que queríamos ainda conhecer em Paris, fomos a Versailles, com a esplendora sala dos espelhos e os requintados aposentos de Maria Antonieta, onde ela trocava a decoração no verão e no inverno; também ali está a Sala da Coroação, onde a tela da coroação de Napoleão, pintada por David, esteve até ser transferida para o Louvre; e depois fomos a Fontainebleau, onde morou Josefina, mulher de Napoleão– os castelos das minhas leituras sobre a França -, passando por cidadezinhas muito agradáveis como Evry e Essonnes.

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À Eurodisney, fomos eu e minha mãe, de trem, para atender à vontade dela, que percorreu todo o parque, enquanto eu só vi um filme em 3D do Michael Jackson e fiquei encantada com aquele recurso cinematográfico, no qual um dos meus cantores estrangeiros favoritos cantava quase no meu ouvido e com o microfone no meu rosto!

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Em seguida, viajamos com Gustavo e Yone para Amiens – cidade de Jules Verne-, onde o casal morou enquanto Gustavo assistia aulas na Université de Picardie Jules Verne. O que mais me impressionou era que na pequena cidade de 130 mil habitantes havia 16 cinemas, enquanto em João Pessoa, capital da Paraíba, com o dobro de habitantes, havia quatro. Curiosas são as casas mais velhas, algumas tortas e empenadas. Visitamos a casa de Julio Verne, que foi prefeito da cidade natal. De lá fomos para Rouen - capital histórica da Normandia-, onde Joana D’Arc foi presa e queimada viva em praça pública, e Heloísa de Abelardo estudou em um convento. A Catedral de Notre Dame, bombardeada na 2ª. Guerra Mundial, manteve o Cristo com os braços, as pernas e os pés quebrados. Fizemos esta viagem em um carro alugado e passamos pelas estradas nacionais, que atravessavam as pequenas cidades do percurso, a grande maioria com extensas plantações de batatas, e todas enfeitadas nas prefeituras, praças, bancos e comércios com as bandeiras e motivos patrióticos, pois se aproximava o 14 de julho, o Dia da Bastilha. Passamos por Chambourcy, Mantes, Rosny-sur-Seine, Vernon, Vironvay, St. Adrien, Anfreville, entre outras. Neste dia, ficamos na ponte Neuf- a mais antiga da cidade-, do Rio Sena, para assistir ao tradicional show pirotécnico na Torre Eiffel, que marca a data histórica. As ruas lotadas de gente com as famosas flâmulas em azul, branco e vermelho nas mãos. Como íamos passar 35 dias por lá, decidimos pegar um tour da Aliança Francesa, de dezesseis dias, pela Espanha e Portugal, de ônibus. Foi uma aventura pitoresca. A maioria dos turistas era coreano/a: supersimpáticos, educados e silenciosos. Fomos a Sevilha – capital da Andaluzia-, de onde Colombo saiu para descobrir a América e o pintor Murillo nasceu e viveu -, e que havia feito a EXPO 92: vimos uma cidade linda, bem-cuidada e apaixonante, com as mais lindas pombas brancas que já vi em volta de mim (e é um animal que não gosto!); a Córdoba – com sua ponte do século I que prova ainda a grandeza do império romano que a construiu-; Toledo – onde o ônibus não pode entrar na cidade e tivemos que subir algumas ladeiras para visitar o

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museu de El Greco e ficar numa fila à porta da Igreja de São Tomé, por mais de uma hora, para entrar e ver apenas a pintura O Enterro do Conde de Orgaz, de El Greco. Depois do almoço, sentei-me numa escadaria para escrever meu diário de viagem e os cartões que enviava para Luiz Otávio e para as amigas e familiares. Terminado, fechei o caderno e coloquei-o ao lado para admirar o movimento dos/as passantes. Quando a guia turística nos chamou para partir, eu a segui sem meu caderno e só me dei conta ao chegar no ônibus. Tive que subir as ladeiras novamente quase correndo, pensando que não veria mais meus pertences, mas os encontrei no mesmo lugar....Minha mãe torceu o pé e foi o creme de uma das turistas coreanas que lhe aliviou a dor. Na estrada para lá, na região de Castilla-La Mancha, passamos pelos moinhos de vento sobre uma colina junto a um pequeno forte, os mesmos vistos por Don Quixote, de Cervantes. Naquela época, havia a siesta em toda a Espanha: tudo fechava das 13h30 às 16h.

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Em Portugal, entramos pelo Algarve, que é a belíssima região das praias onde ingleses e alemães costumam passar o verão. Passamos por Lagos, Portimão e Quarteira, onde ficamos no Hotel Pinhal do Sol, a 15km de Faro. Eu e minha mãe resolvemos sair do hotel a pé para a cidade e foi uma ‘aventura’, pois a distância era muito grande e só nos demos conta no retorno por lugares desertos sob a noite caindo...Em Lisboa novamente revimos os lugares clássicos como o Rossio; Belém – onde não gostei do famoso pastel e me livrei daquelas intermináveis filas nos meus futuros retornos ao bairro; subimos as ladeiras do Chiado para ir ao café A Brasileira para ver Fernando Pessoa a sua porta, materializado na mais famosa escultura do país. Mas foi em Sintra, pela primeira vez, que tive a grande emoção de visitar o Palácio Nacional de Sintra, onde, na Sala das Pegas, Camões leu Os Lusíadas para D. Sebastião. Como professora de literatura portuguesa, ali foi uma conexão maior do que com Fernando Pessoa porque Camões é a tradução da narrativa lusitana. A viagem prosseguiu subindo o país

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para visitar a bela, medieval e toda murada Óbidos, cheia de buganvilles pelas ruas. Em Alcobaça, vi os túmulos dos apaixonados Pedro I e Inês de Castro, no mosteiro de Alcobaça, cuja igreja é a primeira em estilo gótico do país. Visitamos também o Convento de Cristo, na cidade templária de Tomar; o Mosteiro da Batalha, eleito uma das sete maravilhas de Portugal, em Batalha; as calçadas em ondas como as de Copacabana na famosa praia das ondas gigantes, Nazaré; e o Castelo de Leiria, na cidade do mesmo nome. Fomos também a Fátima, para ver o Santuário de uma das minhas santinhas preferidas, a missa foi em italiano! A garçonete de um café não entendeu meu português!!! Em Coimbra, andamos a pé subindo e descendo as inúmeras ladeiras parecidas com as de Ouro Preto, Olinda ou São Luis, e nos detivemos, obviamente, na Universidade de Coimbra. Voltamos à Espanha, onde assistimos um casamento lindo na Catedral Velha de Salamanca, com noivo e noiva e convidados/as se congratulando na praça em frente depois da cerimônia. Almoçamos no famoso restaurante da Sé. Descemos para Madri – onde voltava pela terceira vez -, para encerrar a viagem ibérica.

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Em Paris novamente, retomamos os roteiros turísticos. Gustavo e Yone nos acompanhavam em muitos deles, como no Fórum des Halles, Beaubourg – onde havia um marcador que anunciava os dias que faltavam para o ano 2000: 204717771 -, Marrais, Champs Elysées, Notre Dame, Sorbonne, Boulevard St. Michel, Palácio de Luxemburgo, Igreja de St. Sulpice, Montparnasse, Trocadero, Museu do Rodin. E ainda faziam almoços e jantares maravilhosos, como o gostosíssimo strogonoff de dinde – a perua francesa -, ou camarões e pescados frescos com muita salada. E ainda para fechar meu circuito napoleônico, fui ao Castelo

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Malmaison, onde Josephine também viveu e foi o palácio do Consulado do emblemático corso, e onde a ex-imperatriz faleceu, em 1814.

Eu e minha mãe ainda fizemos o passeio no bateau mouche à noite, que mostra as pontes e as ilhas mais importantes do Rio Sena, os monumentos mais famosos, a casa do darling Voltaire e o mais antigo hospital de Paris, o Hôtel-Dieu (do ano de 661). Foi supér! Também fui assistir ao meu filme preferido de todos até hoje, O Piano, de Jane Campion (Cannes 93), com Gustavo e Yone. Saí do cinema muda de emoção. Alugamos um carro para eles nos levarem de volta a Bruxelas para o voo de retorno e ainda passeamos pela capital belga.

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NEW YORK COM ADRIANA (+WASHINGTON D.C., PHILADELPHIA & BOSTON). TAMBÉM COM DARLON, HELENA & EDUARDO DAVEL "Amigos não são os que dizem: vá em frente. Mas sim os que dizem: vou com você". Anônimo De 1994 a 1999 (este com Climério e Cinthia), fui a Nova York no mês de fevereiro para assistir aos espetáculos da Broadway e para a “opera season” do Metropolitan Opera House. No primeiro ano, fui sozinha pela empresa Soletur, que vendia um pacote de uma semana por US$800. Foram os mesmos -empresa turística e hotel - desses anos todos: Days Inn, na 8th & 48th St., que já não existe mais. A partir de 1995, Adriana Candal me acompanhou também. Ela ia quase exclusivamente para fazer compras para sua loja de roupas e objetos diversos, em Itajubá. A gente se encontrava para ir ao cinema ou para algum show na Broadway, à tarde ou à noite.

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Um domingo de manhã fomos a um culto no Mount Moriah Baptist Church, de afro-descendentes, para ouvir os cantos gospels. Foi um momento de grande epifania para mim, que adoro música gospel. A pizza no John’s, na 278 Bleecker St., em Greenwich Village, era um passeio anual. Eu ainda admirava Woody Allen, seu freqüentador mais famoso. Hoje, gosto apenas dos seus filmes; não mais do ser humano. Naquele bairro charmoso, também estava o famoso Blue Note – onde lendas do jazz se apresentam desde sua inauguração, em 1981. Por ali estiveram artistas como Dizzy Gillespsie, Sarah Vaughan, Carmen McRae e o Modern Jazz Quartet. Em 1996, eu e Adriana viajamos para Washington D.C., onde recordei os anos que ali estudei na American University. O que mais me impressionou foi aquela senhora latina que ali protestava desde 1981, Conception Picciotto, contra a proliferação nuclear e a favor da paz mundial. Ela se abrigava numa barraca de lona e ali vivia. Ela faleceu em 2013, depois de 32 anos de protesto.

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Ainda fomos ao espetacular Smithsonian Institution, onde tem o Museu do Espaço com a história dos pioneiros da aviação americana. Ver a Apollo 11 foi uma emoção indescritível, pois eu tinha 11 anos quando Neil Armstrong pisou na lua (20/7/1968) e somente eu e meu pai assistíamos na TV em preto e branco da nossa sala, no EPV, Rio de Janeiro. Aquele momento ficou gravado no meu coração viageiro. Da mesma forma, foi muito emocionante ver o avião de Amelia Earhart, que sumiu no Oceano Pacífico, em um voo que pretendia dar a volta ao mundo, em 1937. Foi a primeira mulher a voar sozinha sobre o Oceano Atlântico. Linda, corajosa, admirável Amelia! E pousar novamente com a Estátua de Lincoln, meu presidente americano favorito, foi maravilhoso, pois a única foto que eu tinha ali foi toda borrada por uma caneta tinteiro que lhe caiu em cima...Outro instante especial foi ver os monumentos em memória dos/as mortos/as nas guerras do Vietnã

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e da Coréia. O que mais me emocionou foi a muralha em homenagem à Guerra da Coréia, cuja inscrição FREEDOM IS NOT FREE (liberdade não é de graça) tem sido um dos meus ‘mantras’ pessoais desde então. A obra é de uma beleza granítica clássica e elegante bem comovente.

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Em 1997, Darlon Rubinger foi a nova companhia de viagem. Divertido e ousado, Darlon gastou quase todos seus dólares no primeiro fim de semana, o que o privou de ir aos teatros e cinemas durante a semana restante comigo e Adriana. Mas atravessamos juntos o Central Park de West para East; almoçamos no restaurante “Costa Azzura”, na Little Italy; fomos ao Brooklyn a pé; comemos pizza no “Sbarro” da Broadway; e fomos ao cinema ver “In Love and war”, com Sandra Bullock, sobre o primeiro amor do escritor Ernest Hemingway, um darling amado. Neste ano, não fui a óperas (Pavarotti no Metropolitan estava “Sold Out”), só aos espetáculos. Os dois foram para a Estátua da Liberdade, mas eu não quis ir. Nunca quis ir mais depois de três tentativas infrutíferas no passado...Fui para a Universidade de Columbia e, depois, encontrá-los no Píer 17 para o almoço. Soubemos da morte do Paulo Francis e eu fiquei bem abalada, pois gostava muito dele, era um dos meus jornalistas preferidos e foi muito importante nas minhas primeiras construções intelectuais. Era mau-humorado, irascível, mas de uma inteligência privilegiada. Ele foi enterrado lá em New York. Não tenho fotos com Darlon (e ele perdeu as dele), somente a notícia da nossa viagem que saiu no único jornal da cidade, o Sul de Minas.

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Na Great Station, eu e Adriana tomamos o ônibus Greyhound para New Jersey e Philadelphia – maior cidade da Pensilvânia e que foi a primeira capital do país até Washington D.C. ser construída, passando a ser a capital em 1800. Fizemos o roteiro histórico: Monte Laurel; Camden; ver o Sino da Independência; o local onde foi assinada a Declaração e a nova Constituição, e o Museu da Independência: todos no Independence Hall (1753) – o principal prédio da Independência Americana, Patrimônio Mundial da UNESCO, em 1979 -; e a região portuária para ver o Rio Delaware, em cuja bacia existem cerca de cinquenta lagos. Pegamos o ônibus 21 para conhecer a Universidade da Pensylvania, seguimos a pé até downtown para almoçar e ver as inúmeras lojas de sapatos e casacos.

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Em 1998, viajamos eu, Adriana e Helena Lopes. Tomávamos café da manhã no Green Emporium Café, pois o hotel não o servia. Dali seguíamos para os roteiros do dia: Central Park, Greenwich Village, Soho, andar pela 5ª. avenida, ver o Rockfeller Center etc.. Fui com Helena ver A Flauta Mágica, no Metropolitan Opera House. Fomos, ainda, para Boston – capital de Massachussets-, saindo da Great Station. Lá, pegamos um city tour que nos mostrou o MIT; a Harvard University; a Biblioteca Pública; o bairro Back Bay de ruas charmosas; o bairro italiano North End; a igreja da Trindade; o maior prédio da cidade, o John Hancock Tower; o Rio Charles; e a Massachussets State House - que é o prédio mais antigo da Beacon Street, onde trabalha o Governador. A Estátua de James Adams é uma homenagem ao “pai da revolução americana” (para mim, a mais bem-sucedida de todas, pois foi feita para libertar, efetivamente, o povo americano do jugo inglês e criar uma nação de fato). Ela está na frente do majestoso prédio Faneuil Hall Boston (1743), onde James Adams proferiu vários discursos pela independência dos EUA, e é chamado de “o berço da liberdade”. Hoje faz parte do Boston National Historical Park e é um dos pontos principais da Freedom Trail – um caminho de quatro quilômetros que passa por dezesseis locais importantes da história do país, tais quais Boston Common, Park Street Church, King’s Chapel, Old State House.

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Na primeira manhã do retorno, o querido amigo Eduardo Davel estava no lobby do hotel me esperando para tomarmos café da manhã no Algonquin Hotel, mas não nos deixaram entrar, então, fomos para o Café Europa, na 6ª avenida. Depois, Eduardo deu-me de presente uma visita ao Cloisters Museum – um mosteiro medieval transportado da Europa e reconstruído no Harlem, onde almoçamos. Ele é um ramo do Metropolitan Museum of Art e é um conjunto de cinco claustros medievais franceses reagrupados no local na década de 30 (processo semelhante ao Museu Espanhol, em Miami). Tomamos o metrô para Washington Square e fomos para a biblioteca da Universidade de New

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York, onde ele fazia um curso. De lá, saímos andando pela East Village e passamos pelo famoso jornal Village Voice. No outro dia, tomamos café com Adriana e Helena no Green Emporium e seguimos para o Metropolitan Museum, onde eu finalmente consegui ver a Mulher de Vermelho, do meu darling Cézanne, como a descreveu Rilke em seu livro Cartas sobre Cèzanne, com a vigia só dizendo “no flash, no flash”. Almoçamos lá. À tarde, só eu e Eduardo, passamos horas bem agradáveis no Moma, onde vimos as pop Sopas Campbells do Andy Warhol, e assistimos a um concerto de jazz; e na livraria Rizzoli, na 57th Street (fechada em 2014, reaberta em outro endereço: 1133 Broadway 26th in NoMad) – cenário do amor de Meryl Streep e Robert de Niro, no filme “Amor à primeira vista”, de 1984. Fomos ainda assistir à ópera Turandot, no Metropolitan Opera House, no Lincoln Center.

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Com Adriana, eu flanava muito pela cidade que “a gente queria fazer parte” e que tinha uma efervescência permanente na sua sociologia urbana cotidiana, com suas limusines, grandes magazines e pessoas de todas as etnias. E vimos a homenagem a John Lennon, em frente ao prédio Dakota, onde ele morava e foi assassinado defronte – o mosaico Imagine, no Strawberry Fields, no Central Park West -; fomos ao icônico e lendário Empire State Building - um símbolo da cidade e que foi o edifício mais alto do mundo por 41 anos até a construção do World Trade Center, em 1972. Famoso especialmente pelo filme King Kong (de 1933, com remakes de 1976, 2005 e 2017) – ali estive com minha família, em 1977, assim como no World Trade Center, derrubado em 2001-; conhecemos o Radio City Music Hall – a casa de espetáculos situada no Rockefeller Center, inaugurado em 1932. O seu teatro é também o local onde se realiza o Radio City Christmas Spectacular, uma tradição do Natal de Nova Iorque desde 1933, e onde atua a equipe de mulheres de dança de precisão conhecida como The Rockettes (Wikipedia). Há fotos desses shows em várias paredes do local. Ali acontecem os MTVs Video Music Awards. Íamos andar pelo sofisticado Soho (South of Houston)– destino de compras luxuosas, de apreciar as ruas de paralelepípedos belgas e as originais fachadas de ferro fundido, e de degustar em requintados restaurantes.

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Durante esses anos de New York, que eu achava a terceira cidade mais lindo do mundo (depois do Rio e Paris) e, hoje, eu a acho uma cidade com ruídos visuais enormes, o que a torna cafona e caótica, eu assisti vários shows maravilhosos na Broadway, como Cats, O Fantasma da Ópera, A Bela e a Fera – minha história infantil preferida sem gostar do final!, queria que a bela terminasse com a fera mesmo...-, Miss Saigon, Rent, The Scarlet Pimpernel , Master Class, Os Miseráveis, Jekyll & Hide, Grease, Footloose, Chicago e Titanic. No Metropolitan Opera House, assisti às óperas sempre com muita emoção, pois adorava ópera, tinha feito o curso com Paulo Tavares, em Itajubá, sobre leitura e análise das obras clássicas, como La Traviata – minha favorita!-, Don Giovanni, Piratas de Panzance etc.. Pude, então, ver Don Giovanni, Aida, Madame Butterfly, O Barbeiro de Sevilha, Turandot e A Flauta Mágica. E visitei todos os pontos mais importantes da cidade que “não dorme”, como todos os museus existentes ali, o Central Park, os piers do rio Hudson, Brooklin, Soho, Harlem, Little Italy, Chinatown, Bronx e Queens. Sempre comprava CDs na Virgin da Times Square (fechada em 2009), ou no Record Explosion, na Broadway, que não existe mais, e livros na Barnes & Noble, na 5ª. avenida, e na Rizzoli. De qualquer forma, é uma cidade onde habita o mundo todo, em todas as suas versões: raciais, sexuais, religiosas, culturais e políticas. É um território multicultural, cujo dinamismo é contagiante e sedutor. Nestas viagens, eu já tinha o senso da bagagem essencial, que não ultrapassava 15kg, mesmo tendo direito a 60kg à época.

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SÃO TOMÉ DAS LETRAS COM LIGIA E ELIANE "Liberdade de voar num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser". Cecília Meireles Lígia, minha Sissy querida, foi me visitar em Itajubá. Como ela gosta de lugares de alto astral, energia esotérica etc., pensei em mostrar-lhe São Tomé das Letras – a cidade mística de Minas Gerais, com lendas de passagens magnéticas, portais dimensionais, discos voadores etc. Depois de duas horas e meia, nós e Eliane, querida amiga que também aprecia essas experiências, chegamos à bela e encantada cidade das pedras de São Tomé, a 1,5 mil metros de altitude. Além de percorrer suas ruas de pedras e conversar com os/as nativos/as sobre as histórias que justificam toda a curiosidade daquela visita, visitamos o Parque Municipal Antônio Rosa, percorrendo o caminho com dificuldade no Chevette 1.0 de Luiz Otávio. Castigamos o carrinho...Dali fomos em busca das inúmeras cachoeiras da região e paramos em uma totalmente deserta. Não havíamos levado roupas de banho, mas as duas se atiraram naquelas águas só de calça e sutiã. Eu fiquei vendo tudo em cima de uma grande pedra. Foi um momento muito divertido! O sufoco ficou por conta de ter que devolver o carro no horário previsto e ter voltado muitas horas depois do combinado! Mas há momentos em que não se pode contar com o previsível. A felicidade era estendida...

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Com Lígia, fiz outras viagens para o Rio, onde andávamos na pista da Lagoa todos os dias; passávamos tardes no Centro Cultural Banco do Brasil; íamos ao Real Gabinete Português de Leitura; ao Jardim Botânico; à Confeitaria Colombo para um café com bomba de chocolate; à Academia Brasileira de Letras; e assistimos à belíssima dança Rota, Deborah Colker, no Teatro Carlos Gomes. Fomos, ainda, a Caxambu-MG, de ônibus, saindo de Itajubá. Ao Rio, voltamos, em 2015, para o lançamento do seu livro Mata Atlântica nas Escolas,do qual fui revisora e tenho dois textos em conjunto com as alunas Ana Paula Azevedo e Karla Noronha, na 11ª. Edição do SOS Mata Atlântica. Também, no NE, viajamos para Pipa e Natal-RN, Recife e Bonito-PE, de carro. E também para Brasília e a Chapada dos Veadeiros e cidades circunvizinhas, Alto Paraíso e São Jorge em Goiás. E, no Nordeste na pandemia, fomos a cinco estados com David e Jamile, no Jeep Nuno desta, para conhecer as Serras da Capivara e Confusões, no Piauí, e a Serra do Araripe, no Ceará. Também fizemos o horroroso Vapor

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do Vinho do Rio São Francisco, que sai de Petrolina-PE, mas que não navega no lendário rio – apenas na represa de Sobradinho-BA -, nem tampouco sai da cidade pernambucana...Só visita a uma vinícola que também fica no município de Casa Nova, na Bahia!

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Capítulo 05 Vou dar uma olhadinha no mundo e já volto!

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AMÉRICA DO SUL COM LUIZ OTÁVIO (ARGENTINA E CHILE)

"Viajei tantos espaços/Pra você caber assim no meu abraço". Roupa Nova

E

m 1991, eu e Luiz Otávio passamos 15 dias das férias de janeiro na excursão da Soletur pela Argentina e Chile, com nove pessoas. Fomos pela aviação Ladeco São Paulo-Santiago, com um estupendo serviço de bordo, sobrevoando as Cordilheiras dos Andes, com pouca neve no topo. Andamos por toda a capital chilena de influência inglesa, mas de povo feio e arisco, trânsito tumultuado e transportes muito velhos. Conhecemos a linda Biblioteca Nacional, Palácio de la Moneda, Jockey Club, parque O’Higgins, Morro San Cristoban – onde se avista a cidade toda -, igreja de San Francisco, Universidade do Chile (onde não havia cursos de Educação), bairro Providence – o mais elegante da cidade. Cidade muito militarizada ainda. Os capacetes dos guardas eram semelhantes aos usados pelos nazistas, confirmando a formação militar prussiana que os militares chilenos tiveram. Luiz Otávio se arriscou na culinária local, mas não teve sorte com pratos cujas combinações passavam pelo milho. Não gostei da cidade. Fomos, então, de ônibus, para Valparaíso, uma interessante cidade portuária, no gelado Oceano Pacífico, onde viveu o poeta Pablo Neruda, na casa La Sebastiana. Viña Del Mar é um balneário bem charmoso que tem de melhor suas belas e urbanas praias, o relógio de flores, o cassino e a Vila Vergara –construção em estilo mourisco, feita pelo fundador da cidade , onde também é realizado o Festival de Música de Viña del Mar. Interessantes são suas casas construídas em elevações como se fossem uma escada gigante para todas aproveitarem a vista do mar. No show

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típico à noite, Luiz Otávio foi escolhido pelos dançarinos a participar. Colocarem-lhe uma coroa de flores na cabeça e ele se saiu muito bem. No caminho para essas duas cidades, paramos no Vale do Curacavi, região vinícola. O grupo que viajou conosco era de gente bacana e inteligente, todos/as de São Paulo. Havia uma moça solteira que “adotamos” como amiga, pois sentia-se isolada nos passeios. Suely acabou virando uma doce amiga de fato. Também de ônibus-leito bastante confortável (Marcopolo, made in Brazil!), seguimos para o Sul do Chile, para conhecer os lagos e vulcões da área. Em Puerto Montt, capital da região dos lagos, vimos o portentoso vulcão Osorno, cuja última erupção foi em 1961. As águas das suas lagoas são verde-esmeraldas transparentes. Um espetáculo! Adorei tomar uma sopa no restaurante “Lili Marlene”. Essa ótima viagem foi um pouco tolhida pela saúde da minha mãe, que estava operando das carótidas no Hospital Einstein, em São Paulo, e eu fiquei aflita pelas noticias que não eram fáceis à época...Porém, a travessia dos lagos andinos foi uma das coisas mais belas que já vi. Chegamos em Petrohué e pegamos um barco para atravessar o Lago de Todos os Santos. Em Peulla, almoçamos um salmão da região. Fomos de ônibus para o Lago Frias de visual magnífico, dentro do Parque Nacional Gonzáles. Atravessamos ali para a Argentina, de aduana burocrática e agentes arrogantes e autoritários, ao contrário dos cordiais colegas chilenos. Pegamos outro barco para atravessar o Lago Nahuel Huapi, que fica no parque do mesmo nome. O barco “Catedral Turismo” era enorme, muito bonito, elegante e confortável. No trajeto, as gaivotas vinham abocanhar biscoitos ou pães nas mãos dos/as passageiros/as. Atracamos em Porto de São Carlos de Bariloche, onde está a famosa estação de inverno do país portenho, margeada pelo Lago Nahuel Huapi. Luiz Otávio subiu no teleférico a 2300m de altura. À noite, fomos ao show no “El Quincho”, em frente ao nosso hotel, o “Bela Vista”. De lá fomos para Buenos Aires, onde já costumávamos passar nossos feriados de Semana Santa, e onde fomos aos mesmos shows de tango no Tango Mio, em Barracas; ver a arte popular na rua-museu Caminito com Suely, em La Boca; flanar pela Florida, a rua mais famosa do país; e lanchar empanadas e almoçar bife

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de chorizo com papas fritas nos restaurantes em San Telmo, Recoleta ou Palermo. É uma das cidades mais bonitas que conheço: sofisticada, majestosa e solar. Retornamos a São Paulo pelas Aerolíneas Argentinas, em um apertado 727. OBS.: não ficaram fotos comigo dessa viagem, somente o Diário...

BUENOS AIRES COM LUIZ OTÁVIO (5 ANOS, SEMANA SANTA)/SOLETUR/ BUENOS AIRES E MONTEVIDEO COM L.O. E TATIANA E O MARIDO "Como se escreve felicidade? V-I-A-G-E-M". Anônimo Durante cinco anos, eu e Luiz Otávio fomos passar a Semana Santa em Buenos Aires, pela Soletur. Para mim, foi uma surpresa conhecer uma cidade tão imperial, elegante e europeizada. Já a conhecíamos da excursão que fizemos pela Soletur ao Chile, mas aqueles anos em que voltamos, eu realmente me encantei pela cidade portenha. Amei a cidade e tudo que ela oferecia era de extrema qualidade e prazer.

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A gente teve momentos inesquecíveis, desfrutando de todos os famosos roteiros turísticos – Casa Rosada; Plaza de Mayo; La Bombonera; Teatro Colón; Cemitério da Recoleta, onde está enterrada Evita; Bosque de Palermo; Feira de San Telmo; Galerias Pacífico; Catedral Metropolitana; o Obelisco, no cruzamento da principal avenida da cidade e uma das mais largas do mundo, a 9 de julho, com a Avenida Corrientes; andar no metrô (“ El subte”) mais antigo da América do Sul, com a estação Colon ainda com escadas rolantes de madeira;e andar pela cultural Rua Caminito, em La Boca, e tirar foto com a histórica escultura “Esperando La Barca”, de Roberto Juan Capurro. Às noites, íamos a shows de tango ou a restaurantes, onde Luiz Otávio provava novos pratos e eu continuava no bife de chorizo com papas fritas!

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Em 1996, Tatiana G. e o namorado nos acompanharam e foi ótima a estada com a amiga da PUC-SP tão querida. Neste ano, andamos no trem de La Costa, que saia de Buenos Aires até o Rio Tigre, parando em agradáveis estações com bons restaurantes. Também viajamos com o casal até Montevideo, no Uruguai, atravessando o rio da Prata de ferry boat. Contratamos um taxista que nos mostrou os principais pontos turísticos da cidade, onde ficamos apenas um dia bem proveitoso. Visitamos o centro da cidade, onde está a Plaza da Independência e o Palácio Salvo. Conhecemos a Cidade Velha, com a Porta da Cidadela, o Teatro Solis e o Mercado do Porto, onde almoçamos. Caminhamos na orla da cidade e retornamos para o embarque de volta. Em todo lugar que vou, sempre tiro fotos diante das universidades, não foi diferente em Buenos Aires e Montevidéu.

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CIDADES HISTÓRICAS DE MINAS GERAIS: MARIANA, SABARÁ, GRUTAS DE MAQUINÉ & OURO PRETO

"Onde quer que você vá, torna-se parte de você de alguma forma". Anita Desai

Eu tinha duas férias ao ano: em janeiro com Luiz Otávio e fevereiro com amigos/as, e julho, a escolher, quando, na maioria das vezes, ia para João Pessoa ou para o Rio. Em 1994, resolvi fazer uma excursão semanal pelas cidades históricas de Minas Gerais, que eu não conhecia, pela ótima agência Soletur. Sai de ônibus do Rio para Ouro Preto, Sabará, Mariana e Grutas de Maquiné. A maioria dos/as turistas era de professoras cariocas, bem-humoradas e falantes. Havia dois casais apenas. Eu reservei um quarto só para mim (como faço em todas as excursões, exceto quando viajo com amigos/as), mas havia uma moça que insistia em querer dividi-lo porque teve que ficar só por conta de eu ter pedido quarto único. E eu tendo que explicar-lhe que gostava de ficar só e ela tentando me convencer que isso era muito ruim! Foi o único inconveniente do alegre e animado tour. Finalmente eu conhecia as cidades históricas mais famosas do país e tive emoções enormes em todas elas, tão lindas, tão graciosas, tão imponentes. Em todas, fizemos os usuais passeios turísticos nos monumentos, igrejas, museus e restaurantes mais conhecidos dos lugares, e ainda apreciar as obras de Aleijadinho e Mestre Ataíde, em Ouro Preto,por exemplo. Nas Grutas de Maquiné, em Cordisburgo, é que não teve quem me fizesse fazer o percurso completo, somente fui ao salão inicial e retornei, esperando o grupo do lado de fora. Não gosto de lugares fechados, cavernas, túneis etc.. Sou claustrofóbica... OBS.: Nesta viagem não levei máquina. Até hoje não sei por quê...

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EUROPA COM LUIZ OTÁVIO: PORTUGAL, ESPANHA COM PALMA DE MAIORCA, E FRANÇA "Nossas malas estão empilhadas na calçada de novo; nós temos lugares mais distantes para ir. Mas não importa, a estrada é a vida". Jack Kerouac Em 1997, eu e Luiz Otávio fomos passar nossas férias de janeiro na Europa, em Portugal, Espanha e França. Compramos o Eurailpass. O MD 11 da Vasp saiu de São Paulo para Barcelona, realizando o sonho de viajar com meu elegante marido pela Europa. Ficamos no Hotel Transit, perto da Saint Estacion, metrô linha azul. Barcelona estava totalmente diferente daquela de anos atrás; agora, moderna, sofisticada, segura. Os jogos Olímpicos de 1992 promoveram toda aquela mudança, mantida pelo grande fluxo turístico. Desta vez, pudemos conhecer melhor a catedral inacabada de Gaudi (desde 1882), o Templo Expiatório da Sagrada Família – ícone da arquitetura modernista catalã, ela é Patrimônio Mundial pela UNESCO, desde 2005 -; os museus dos darlings Picasso (com a ‘coleção azul’, minha preferida) e Miró, que nasceu ali – e está dentro de um parque maravilhoso, o Parc Montjuïc-; o Museu Nacional d’Art de Catalunya (MNAC, 1990) –situado no Palácio Nacional, na colina de Montjuïc: onde está uma das mais importantes coleções de arte catalã -; andar pelas ruas para ver as obras de Gaudi nas praças, nos prédios, nos monumentos, como na Via Paseo de La Gracia e ainda pela variada Las Ramblas – principal artéria de 1,3km que passa por muitos lugares importantes da cidade, como Praça de Catalunha, Mercado de La Boqueria,Mirante de Colombo -; visitar o belíssimo Palácio Episcopal; ver a Vila Olímpica; o monumento a Colombo; o Estádio de futebol do Barcelona, o Camp Nu – o terceiro maior estádio de clubes do mundo; e o Arco do Triunfo. Ir ao El Corte Inglez comprar as gravatas que Luiz Otávio adorava.

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De lá, seguimos para Paris, que ainda era a cidade dos meus sonhos e visitá-la com Luiz Otávio foi um deles. Eu estava bem resfriada e um senhor que Luiz Otávio conheceu no vagão-restaurante me deu um remédio, Nurofren 400, que me fez melhorar já na chegada! Retornei aos lugares famosos já conhecidos – Hotel de Ville, Beaubourg, Notre-Dame, Quartier Latin, Champs Elysees, Montmartre e Montparnasse, Marrais, Les Invalides, Tour Eiffel, as Galerias Lafayette e Printemps, La Defense. Luiz Otávio bateu algumas fotos com a aba da máquina sobre a lente (em Paris e Madri!)...Quel dommage! Experimentamos um bife de cavalo com fritas que me fez perder uma noite de sono. Passei muito mal, mas Luiz Otávio não teve nada. Desta vez, a maioria dos museus, galerias etc. já mostrava filas imensas que tivemos que seguir para poder cumprir os roteiros. No Louvre, tentar ver a Monalisa era tarefa hercúlea! Mas consegui tirar foto da Coroação de Napoleão, de David, e da Marianne, a liberdade,

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guiando a Revolução Francesa, de Delacroix, meus quadros preferidos ali. Eu, finalmente, conheci o Museu d’Orsay, antiga gare cujos trens iam para Orleans, que abriga a pintura impressionista, minha favorita, sendo Cèzanne meu pintor preferido. Foi emocionante ver a Olympia do Manet; o auto-retrato do atormentado Van Gogh; a Estação Saint Lazare, de Monet; os Jogadores de Cartas, de Cèzanne; entre muitos. Ali voltei muitas vezes, principalmente quando morei em Paris, no segundo semestre de 1997. Passamos uma tarde inteira no Museu de Rodin e nos seus maravilhosos jardins. Foi um momento mágico também! Conheci o histórico Théâtre de l’Atelier (1822) – ‘nascido’ Théâtre Montmartre, no qual o pintor Alexandre Fragonard (fiilho do pintor Jean-Honoré Fragonard) foi um dos seus decoradores. No famoso bairro boemio dos artistas, Montmartre, ainda fomos no Le Consulat (século XIX) – um charmoso café, cujos freqüentadores incluem os pintores Picasso, Toulouse-Latrec, Van Gogh e Monet, ele está bem perto da Place du Tertre, onde ficam os artistas e suas telas e tintas, além de músicos e artesãos/ãs, e da Basílica de Sacre Coeur. E haja subir escadas! Posar diante do prédio da Sorbonne, no Boulevard Saint Michel, no Quartier Latin – diz-se que se chama assim porque, na Idade Média, as universidades davam aula em latim e ali há uma grande concentração delas. Voltei mais uma vez no Marrais, na Rue de Rosiers, para procurar uma perfumaria maravilhosa que conheci na primeira vez que fui a Paris, que não encontrei, mas havia outras... Comprei minha caneta tinteiro Waterman – um sonho de consumo antigo. Fomos ao cemitério Père Lachaise para trocar amor eterno no túmulo de Abelardo e Heloísa (sic: o casamento acabou 5 meses depois!).

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A gare de Montparnasse, onde pegamos o trem para Madri, estava cheia de guardas, pois havia ameaças de terrorismo. Saímos no TGV para Irun, numa viagem muito chique, passando por Poitiers, Biarritz e Hundaye –cidades que havia passado em outras viagens. De Irun para Madri não foi nada agradável a viagem. Passamos por Tolosa, Miranda e Burgos, todas já na Espanha. Na capital espanhola, ficamos no Hostal Maria Luiza - C. de Hortaleza, 19, 2º. andar-, que Andréa e Renato nos indicaram. Ótimo! Pela quarta vez em Madri, revi os mesmos lugares turísticos e fui, finalmente, ao túmulo do pintor da corte de Carlos III, Goya, no Paseo de La Florida; e às estátuas do escritor Quevedo – que morreu no dia do meu aniversário, em 1645! -, e do dramaturgo e poeta Lope de Veja – fundador da comédia espanhola que infelizmente, tem na sua biografia ser oficial da Inquisição. Ainda voltei à Praça de Espanha para rever os personagens do meu darling Cervantes. Luiz Otávio continuou experimentando a culinária local e se deliciou com as paellas mais diversificadas possíveis, que eu não gostei! Eu só comia as tortillas

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de ovo e batata. Quando gosto de algo, não me arrisco com mais nada! Assistimos à estreia do filme Evita, com Madonna e Antonio Banderas. Os lugares eram marcados e havia uma moça-bomboniére transitando pelas fileiras como nos cinemas de Hollywood. O filme foi belíssimo! Compramos a trilha sonora. Ainda vimos, outro dia, um filme com Michele Pfeiffer e George Clooney, “Un dia inovidable”: muito chato e dublado! Ainda fomos, em uma noite, a um show flamenco, Tablao Flamenco, indicado pelo Senhor Pepe, gerente do hostal. O trem noturno para o Porto foi ótimo. Visitamos os tradicionais pontos turísticos: Livraria Lello; Universidade do Porto; Torre dos Clérigos – onde subimos os 225 degraus para ver a cidade toda lá de cima-; Majestic Café– freqüentado por Eça de Queiroz-; mercado do Bolhão -onde comemos os famosos “moletes” de Valongo-; passar pela Associação dos Jornalistas Homens de Letras, em um prédio decadente na rua Rodrigues Sampaio, ainda na aprazível rua do Bonjardim – da casa das bifanas, a Conga-; ver a Estátua do escritor romântico Almeida Garret, autor do delicioso “Viagens na minha Terra”; o monumento aos mortos da 1ª. Guerra Mundial; e atravessar a ponte Luiz I para conhecer as caves do vinho do Porto, em Gaia. Jantamos no restaurante Don Vitorino caldo verde, tripas e vinho. E subimos e descemos ladeiras, olhando arquitetura e azulejos parecidos com os de São Luís ou de Olinda.

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Em Lisboa, ficamos no hotel Residência Dublin, quarto 108, perto da praça Marquês de Pombal, onde me hospedo até hoje. Dali a gente saia a pé para transitar pela cidade. No almoço do primeiro dia, Luiz Otávio comeu 24 ostras sozinho! Voltei aos bairros famosos, aos museus e igrejas históricas. Desta vez, havia obras do metrô em frente ao restaurante A Brasileira e a estátua de Fernando Pessoa havia sido retirada até o término das obras. Passamos na enorme Livraria Bertrand (1732), ali no Chiado também, Rua Garret – é a mais antiga livraria do mundo em funcionamento, segundo o Guiness World Records de 2011. A Torre de Belém também estava em obras. A cidade estava em obras para a EXPO 98. Diferente das outras vezes, também saíamos às noites para shows de fado, ou para jantares e bares – a Lisboa by night que eu não conhecia. A Travessa das Queimadas tem variadas casas de fados. Gostamos mais da “Lisboa à noite”, com jantar e show, e as casas de fado vadio. No Cais do Sodré, pegamos o trem para Estoril e Cascais – duas aprazíveis e encantadoras cidades da riviera portuguesa. A viagem é de meia hora e vai toda à beira-mar. O Casino em Estoril também estava em obras. Em Cascais, tirei foto com a estátua (1980) do meu darling Camões, que fica no Largo Camões. Na estação do Rossio, pegamos o trem para Sintra, cujo Centro Histórico estava todo em obras. Andamos tudo a pé. No bar da Estação, comemos os famosos pasteís de chamuça, que eu adorei. Luiz Otávio ainda comeu bifanas – um prato típico de carne suave do porco, com alho e vinho, dentro de um pão (resumo: sanduíche de carne de porco!) -, e bebeu um imperial (um chope). Dia seguinte, tomamos a barca, na Praça do Comércio, para a Almada – na área metropolitana de Lisboa, e onde fica Costa da Caparica, nomeada cidade em 2004, e que tem muitas praias. Voltamos de ônibus, para atravessar a altíssima e bela ponte 25 de abril. Paramos na Praça de Espanha, onde pegamos o metrô rumo Liberdade para voltar ao hotel. Ainda visitamos o Estádio da Luz, do Benfica, o shopping Amoreiras e a Assembléia da República. Àquela época, ainda usávamos máquinas com filmes e tínhamos que parar em lojinhas no caminho para abastecer a máquina! Obviamente, o número de fotografias era bem menor, pois tínhamos que revelá-las e não era nada barato!

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Retornamos a Madri para pegar outro trem para Valência. Neste dia, 17/2/1997, morreu meu darling Darcy Ribeiro...Fiquei desolada. No vagão-restaurante, encontramos pessoas de várias nacionalidades – Brasil, EUA, Austrália, Guiné Bissau, Portugal e Espanha. Foi uma conversa animada, atravessada por vários idiomas. Em Valência, fiquei impressionada com a cor ocre das construções medievais, barrocas e góticas, mais lindas que já havia visto, como o palácio da Generalitat, a Catedral com seu Cálice Sagrado, a majestosa Lonja de La Seda e a Plaza de Toros. Pegamos o ônibus nº. 60 para conhecer as praias. Dali, pegamos um ferry boat vazio, o “Transmediterraneo”, para conhecer a ilha de Palma de Maiorca, onde Chopin viveu com George Sand. Eduardo, primo e compadre de Luiz Otávio, estava fazendo um curso ali com a namorada Carolina, e Mônica, mãe do sobrinho Thiago, também estava ali para o mesmo curso. Alugamos um carro Marbella, ficamos no mesmo hotel 4 estrelas que o casal estava, o Antilhas (hoje, Sol Barbados),quarto 319, com vista para o mar, e aproveitamos um fim de semana maravilhoso naquela ilha solar, elegante e tranqüila. Passeamos pela ilha toda de carro, visitamos os lugares turísticos: a Catedral gótica de 44m de altura; o Casino; o farol de Formentor – com um visual maravilhoso-; Port d’Andratx – de mar transparente e calmo; Felanitx – com seu monastério medieval, o San Salvador; Antar – uma praia acolhedora, reduto de alemães, até o restaurante que fomos, o Salinas, só tinha cardápio em alemão!; na fábrica de pérolas, Orquídea. Em Valdemosa – uma espécie de mosteiro-, vimos os lugares onde Chopin viveu um ano com George Sand, e senti grandes emoções nessas visitas. Eles ocupavam alguns quartos do mosteiro; o piano está no quarto 4. Chopin é um dos meus clássicos favoritos; ali, ele escreveu suas mais lindas composições, os Prelúdios. Às noites, íamos tomar drinks no Cabana Pub, em frente ao hotel. Também fomos a uma peça no Teatro Principal – de linda arquitetura -, que era toda em catalão e nos divertimos muito em não entender nada do que falavam! Mas ficamos

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até o final! Luiz Otávio continuou experimentando os pratos típicos locais e comemos um frito mallorquín muito bom, pois gosto muito de miúdos, e este é bem temperado e cheio de batatas – legume mais comum na comida européia, e também um “menu combinado” – prato duplo muito comum em toda a Espanha. Ele apreciava muito a culinária dos lugares pelos quais passávamos e não media gastos para termos uma refeição original e bem-feita. Ganhei de presente um colar de pérolas de Mallorca e uma boneca de Lladró – simples sonhos de consumo realizados.

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Capítulo 06 A vida é para ser vivida em milhas!

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FRANÇA: PESQUISA DOUTORADO. TOUR SOZINHA PELA EUROPA "Longa é a viagem rumo a si próprio; inesperada é sua descoberta". Thomas Mann

M

ais uma vez no MD 11 da VASP rumo a Bruxelas (a 3ª viagem ao exterior em 1997). Chamei-a de “viagem em direção a mim mesma”, pois o casamento havia acabado e eu estava no meio do meu doutorado. Não tive tempo de purgar nenhum sofrimento: dizia para mim que o casamento tinha acabado, mas o doutorado era um compromisso pessoal. Casamento depende de dois... Na estação de trem Bruxelas-MIDI peguei o TGV para a bela estação Montpellier, em Paris, onde daria prosseguimento às pesquisas e à compra dos livros que não tinha no Brasil. Fui para o Hotel Chaligny, onde já havia ficado, para aguardar o estúdio que ia alugar. Nesta temporada, o que mais fiz foi andar a pé pela cidade, percorrendo os conhecidos lugares turísticos, bem como descobrindo lugares aprazíveis para flanar mais tranquilamente, como o Parc de LaVillete, Jardin des Plantes,Parc Monceau, Parc Montsouris, Parc Buttes-Chaumont. A Estátua de Balzac – esculpida por Rodin -, no 8º. Arrondissement, é um monumento grandioso, na Praça Georges Guillaumin, na Avenue Friedland. Lady Di havia falecido,na Ponte d’Alma, no meu primeiro final de semana e eu fui ver as homenagens que lhe rendiam. Marília e Tomás Domingos, seu namorado hoje marido, foram os “anjinhos” que me deram toda assistência na cidade e conseguiram o aluguel do estúdio na Rue Dr. Touffier 4, 13éme. (US$600/mês=R$600).

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No dia do meu aniversário, dei-me de presente ver ‘As Bodas de Fígaro’, de Mozart, na Ópera da Bastille. Os/as artistas estavam em greve, não havia cenário nem vestuários, mas havia a orquestra e todos/as encenaram a ópera nos seus trajes normais, em respeito ao público. Mais chic impossível! Belíssimo espetáculo! Desta vez, consegui conhecer os túmulos de Simone de Beauvoir e Sartre, no cemitério de Montparnasse, onde também estão Baudelaire, Olga e Serge Ginsburg. No cemitério de Montmartre, meio sombrio e sujo, vi os túmulos de Berlioz, Stendhal, Fragonard e meu darling Emile Zola, que, agora, está no Pantheon.

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Consegui ver a Casa de Balzac, amado escritor da adolescência até hoje, onde fiquei muito emocionada ao ver seus manuscritos e as suas dedicatórias, a árvore genealógica dos personagens da “Comédia Casa de Balzac Humana”. A casa é simples, pequena, bege de janelas verde-água, e fica embaixo da Rue Rayonard 47. Voltei à Av. Parmentier, onde Gustavo morou, para comer spagethi na cantina “Napoles” (que não existe mais). As francesas, mesmo as jovens, só usavam cabelos curtos. Carros Mercedes e BMWs ficavam estacionados nas ruas com quilos de poeira em cima. Árabes, indianas e africanas transitavam com suas habituais roupas típicas. Gatos e cães eram mais importantes que gente: nos supermercados, havia mais gôndolas para pets do que para kids! E fora de algumas lojas ou mercados, havia ‘estacionamento’ para cães...Os caminhões de mudança também me impressionaram bastante pelo sua forma peculiar de pegar os objetos dos apartamentos. Os caminhões-limpadores-de-rua eram outra novidade para mim bem prática: havia vários pela cidade toda.

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Nos fins de semana, comecei a visitar lugares ao redor. No trem Paris-Rouen, desci em Vernon para conhecer a Fundação Claude Monet, em Giverny. Nos bancos do jardim em frente à entrada da casa do pintor impressionista, fiz as primeiras cartas para as amigas de Itajubá, e tomei meu lanche. E tirei fotos das famosas e belas ninféias, que me encheram de muita alegria.

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No primeiro mês, resolvi fazer um tour pela Europa, sozinha. Marília e Tomás me levaram à estação Gare de L’est, ainda com guardas armados por conta dos atentados de 1996. Iniciei por Luxemburgo – um pequeno país fronteiriço. Tomei um sorvete na Pizza Hut chamado Coupe Brésilienne – glace vanille, nappage caramel brésilienne (?) e chantilly. Delícia! Hospedei-me no Hotel Washeim, em frente à estação de trem (não existe mais). Cidade linda, pequena, acolhedora, parecia de brinquedo. Havia muitos portugueses ali (1/5 da população). O dono do hotel era um, vindo de Braga. Passeei pelos lugares famosos da cidade: a ponte Adolfo; avenue de La Liberté; o belíssimo Monumento da Memória, com a GelleFra – ‘a mulher dourada’, do escultor Claus Cito, símbolo da independência e liberdade do país; Place d’Armes, onde havia um karaokê no seu coreto; Palais Ducal; Catedral de Notre Dame; a Biblioteca Nacional; o Arquivo Nacional; e as impressionantes casamatas de Bock, com 23km de túneis – abrigo dos/as cidadãos/ãs durante as duas grandes guerras, nas quais não entrei por claustrofobia...Chamada a “Gibraltar do Norte”, a cidade é Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, desde 1994. Segui para Bonn, passando por algumas pitorescas e bem-cuidadas cidades alemães, como Karthaus, Triers e Koblenz, rodeadas de florestas e do rio Mosel, e com muitas áreas de camping. As estradas de carro geralmente margeavam as de trem. Impressionava-me muito era a quantidade de flores nas cidades, nos balcões das casas, jardineiras nas lojas. Na maioria dos trens, na cabine, os bancos eram de frente um para o outro e havia uma mesa no meio, onde eu escrevia os diários, os cartões, com aquele janelão todo para as paisagens. Em todos, havia sacos de lixo nos bancos – para mim, o mais top da civilização! Eu gosto muito da languidez dos trens, mesmo os mais rápidos, porque eles deslizam, têm ritmo, como se dançassem nas curvas, como se a música da natureza os deixasse ser conduzidos pelos trilhos...São muito elegantes, precisos: não tem aquela coisa de freadas bruscas, sinais de trânsito etc..É o meu transporte favorito, apesar de gostar muito de viajar de carro,pois as estradas também dão

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a sensação de liberdade, de melhores escolhas...Passei por uma linda cidade, Remagen, que quase desci para conhecer. Devia tê-lo feito... Não gostei do ambiente da estação ferroviária de Bonn e segui para Hamburgo, passando por Colônia e revendo a linda catedral gótica, Dusseldorf, Dortmund, Münster, Osnabrück -bem simpática-, e Bremen, paisagem começando a ficar inóspita e a entrar em uma região industrial, pois havia muitas fábricas.Chamou-me atenção os casais nos trens: conversavam o tempo todo, mesmo aqueles mais velhos. Coisa que não ocorria aqui no Brasil, onde casais costumam estar mudos ou só a mulher falando...Cheguei em noite chuvosa em Hamburgo e fiquei em um hotel em frente à bonita estação de trem, em um quarto enorme. Muitos jovens skin-heads pela rua, cheios de piercings no rosto, roupas extravagantes. A maioria dos homens que passavam por mim cheirava a álcool.

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Dia seguinte, subi em um trem de novo para Kopenhagen. O trem se chamava EC 182 Thomas Mann – não é o máximo? O autor-darling de uma das minhas frases de cabeceira: “É curioso como tenho sobrevivido a mim mesmo”. E eu indo rumo à realização de mais sonhos: conhecer o Castelo de Hamlet e a casa de Karen Blixen. A caminho de Puttgarden, vendo o mar Báltico. Surpresa enorme quando vi o trem entrando no ferry boat para fazer a travessia! Um marítimo me viu na cabine e pediu que eu fosse para o salão porque não era bom ficar ali só. No bar, encontrei três americanas muito simpáticas que elogiaram meu inglês! Aportamos em Nykobing – uma pequena cidade supersimpática. Passamos ainda por graciosas cidades do percurso até à capital dinamarquesa – Naestved, Hoje Taastrup, Kobe e Nhavn. Fiquei no Hotel Absalom, em Kopenhagen, bem confortável e um ótimo café da manhã. Andei pelos lugares típicos: Tivoli, Christiansborg, Ópera, Magazin Du Nord – não entrei -, e tirei foto da estátua equestre de Frederick V, toda em obras, na praça de Amalienborg, porque ela é considerada a maior peça de escultura da Dinamarca – uma obra-prima do escultor francês Jacques Saly, de estilo rococó. Nunca vi tanta gente bonita no mesmo lugar! E muito simpáticos/as. O número de ciclovias e a quantidade de bikes pelas ruas me impressionou também, tanto quanto ver mulheres arrumadas e de salto alto em cima das “magrelas”. Como a maioria dos europeus, eles/as fumam demais e também cheiram a álcool. Há vários músicos pelas ruas. Parei para ouvir um rapaz tocando um sax divinamente. É um dos meus instrumentos favoritos. Dias nublados e de muito vento. Da estação de trem fui para Elsingor, ao norte da cidade, em 40’, para ver o Castelo de Kronborg - o do Hamlet, com vista para o mar Báltico. Um dos porteiros, quando eu disse que era do Brasil, me deu “bom dia!” em português, que amável! E ele me deu todas as explicações sobre o castelo, as três torres, o salão de baile que, em 1582, era o maior do norte europeu, falou de Shakespeare...A emoção foi inenarrável! Manhã seguinte peguei o trem para Rosilke – 1ª capital da Dinamarca, fundada por Absalom. Andei bastante até chegar à casa de Karen Blixen, ou Isak Dinesen,

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minha escritora estrangeira preferida, autora de “A fazenda africana”, “Festa de Babete” e “Sombras na Relva”. A casa é simples e elegante como ela era. Tem um jardim atrás muito charmoso, onde ela está enterrada à sombra de uma bela árvore; à frente da casa, há uma baía cheia de iates e barcos. Seu escritório via-se através de um vidro e não se podia tirar fotos. Comprei os cartões. Chorei muito, completamente tomada por todo aquele ambiente sereno e delicado, mas impregnado do espírito generoso, altivo e lutador da escritora. O trem da volta se chamava Karen Blixen! Muita emoção! De Hamburgo a Berlim, o trem passou por pitorescas cidades: Wittenberg, Breddin, Falkense e Spandau –já distrito da capital alemã, onde ficaram os criminosos de guerra nazistas.

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Em Berlim, fiquei na Pensão Kassandra, semelhante ao hostal de Madri: um andar inteiro de um prédio para hospedagem. Muito bom. Andei no ônibus de dois andares (bus 100), que me deixou na Porta de Bradenburger – um dos ícones da capital alemã, onde só me lembrei dos anjos de Wim Wenders, em “Asas do Desejo” e o “Fim do Mundo”, com olhares e pensamentos sobre uma Berlim que não existe mais. Em um muro, visto do ônibus, estava escrito “The reality crashes my mind”. Fui para a Alexanderplatz – centro da Berlim Oriental, com sua exdrúxula torre de TV; a igreja Marienkirche -, mais ao Sul; a famosa estátua de Marx e Engels, com alguns retratos da luta comunista. Bem interessante e bonito. Vi também a escultura de Netuno

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em um jardim mal-cuidado. A parte oriental tinha muitas obras. Havia vários conjuntos de prédios iguais, de cores pálidas. Visitei a Staatsbibliothek – a biblioteca estatal, uma das maiores da Europa, em um belo prédio com heras pelas paredes e um chafariz no meio do pátio. Ela tem a coleção autógrafa de Goethe e uma Bíblia de Gutenberg. No Museu Histórico Nacional vi toda a história da Alemanha. Na parte de Hitler, havia um jovem professor dando aula, bastante entusiasmado, para um grupo de alunos/as ao seu redor. Eu não entendia uma só palavra, mas fiquei fascinada pelo jeito veemente da exposição. Comprei um cartão para Luiz Otávio do dia em que caiu o muro. Muito bonito. A maioria dos taxis era Mercedes ou BMWs. E lindos Porsches ficavam estacionados nas ruas com pó em cima. É duro ser rico em país rico! A quantidade de pets e seus privilégios – como em Paris -, é muito grande. Entram nos ônibus, nos trens, nos restaurantes. O Reichstag estava todo coberto por vigas de alumínio, em obras. À beira do lago do Castelo Charlottenburg- palácio real prussiano -, escrevi alguns cartões postais. Havia um cisne branco e vários patinhos no lago. Paisagem bem bucólica. Havia muitas ciclovias pela cidade e as mulheres, como as francesas, também de cabelos bem curtos e pedalando de saltos. E foi onde vi a maior concentração de homens bonitos da minha vida por metro quadrado! Uma beleza máscula-chic: elegantes, naturais e educados – e a maioria de cabelos pretos. Conheci a Universidade Humboldt, a mais antiga de Berlim; a Berliner Rathaus (prefeitura); o Memorial das Guerras, onde vi a estátua da mãe e o filho, o soldado morto, escultura de KätheKollwitz, uma pietá-símbolo de todas as mães que perderam seus filhos para as guerras, tiranias etc.. É de uma tristeza profunda. “E quanto à mãe que embala ao colo um filho morto —Todos nós embalamos ao colo um filho morto. Chove, chove.” (Fernando Pessoa). A sobrevivente igreja da Segunda Guerra Mundial – a Igreja da Memória - é um símbolo da destruição que restou daquela bela cidade. Ela foi construída em 1895 e bombardeada em 1943. Uma nova igreja foi construída ao lado, mas sua torre está ali para lembrar um passado que ninguém quer repetir.

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Em Dresden, cidade-sobrevivente às margens do Rio Elba, foi só passagem para ver a “Florença do Norte”, com o Zwinger Palace, o Versailles alemão; a Ópera Semper; e a Augustusbrücke, a majestosa ponte histórica. Fui e voltei a pé da/para a estação ferroviária. De onde segui para Praga – terra dos meus darlings Kafka, Rilke e Milan Kundera. O trem tinha uma cabine só para bicicletas. A paisagem era bem romântica, cheia de chalés, muitas árvores, morros de pedras: algo assim contos de Grimm. Em Praga, fiquei na casa de um casal idoso, que me ofereceu a estada por US$19 na estação de trem e me levou com eles. E eu fui sem medo nenhum! Peguei um ônibus na Rua Prikope no. 23, centro, para a Premiant City Tour para fazer um tour de três horas pela bela cidade (US$16);e depois fiz o passeio de barco de duas horas, pelo Rio Moldava, o Vltava (US$11). Conheci o Castelo de Praga – que levou quase 600 anos para ser totalmente construído!-, é a atual residência presidencial, com a Catedral gótica de S. Vito, com suas enormes torres e o belo túmulo de São João Nepomuceno, todo

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em prata –; o Convento de S. Jorge – onde fica o túmulo da 1ª. mártir da Boêmia, Santa Ludmila -; e o Palácio de Rodolfo II – o que foi retratado por Arcimboldo, no fantástico-natural quadro ‘Vertummus’. Estava lotado: a Europa resolveu passar o fim de semana ali, pois tinha gente de todos os idiomas. Foi dito que ele é o maior castelo do mundo (70 mil m2 de área), e é Patrimônio Mundial da UNESCO, mas não achei essas coisas, não...Em verdade, parece mais uma cidade medieval, com vários castelos, ruas pequenas, jardins, mas sem muros,é tudo aberto. Ali estava a casa-prisão de Kafka, toda azul, na linda Rua do Ouro, no. 22 (hoje é uma livraria). Ali ele escreveu “O Processo” e, provavelmente, foi a inspiração para escrever “O Castelo”. Foi o que realmente me emocionou e fez valer as quatro horas que passamos ali para ver as principais atrações de Praga, que achei uma das cidades mais lindas que já conheci: clássica, altiva, requintada e bem-cuidada – a “cidade dos cem pináculos”. No centro da cidade, vi o quarteirão judeu, onde se encontra uma escultura de Kafka, marcando a casa onde nasceu e que foi destruída; também vi o teatro onde só se apresentam obras de Mozart e palco da primeira apresentação de “Don Giovanni” – antigo Teatro de Praga, hoje Teatro dos Nobres.

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O passeio no Rio Moldava passou por todos os pontos principais da cidade: a ponte Carlos IV, o Teatro Nacional, a Universidade. A guia era uma senhora bem idosa que ficou me contando sobre o período da “cortina de ferro”, quando as igrejas não foram fechadas, mas os cultos foram proibidos e as pessoas rezavam em casa; os estudos eram todos voltados para o ateísmo e as novas gerações são atéias; mas ela também não estava satisfeita com o capitalismo, defendia sistemas espiritualistas que elevassem os homens para fazê-los viver bem consigo mesmos. Fui embora em uma manhã de sol, indo a pé para a estação. Gosto do deserto das ruas pela manhã.

Em Viena, fiquei no Hotel Admiral, na Rua Karl-Schweighofer-Gasse 7, bem confortável, em um ponto muito bom. Continuei minhas excursões a pé. Vi a Maria-Thereza Platz, com a estátua da própria cercada por dois museus; a estátua do Goethe; o palácio de Hofburg – local de nascimento de Maria Antonieta e da nossa Imperatriz Leopoldina, e onde viveu Sissi, a bela imperatriz da Áustria - hoje é a residência

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do presidente do país; a Catedral Stephansdon; a Ópera de Viena; o Burgtheater (1741) – é o teatro nacional austríaco-; a Karlplatz – onde me sentei em frente à magnífica igreja barroca Karlskirche para escrever cartões para Denise, Eduardo e Gustavo-; a estátua de Strauss no Stadtpark – onde me sentei para apreciar o relógio de flores e sentir o calor do sol . Pelas ruas, só me lembrava do filme ‘Antes do Amanhecer’, com Ethan Hawke e Julie Delpy. Tanto Praga quanto Viena têm construções muito semelhantes às de Paris. O povo também andava muito de bicicleta, com ciclovias por toda a cidade. O Banco do Brasil dali igualmente ficava em um prédio muito chic, como os de Paris, Lisboa e New York. A velha mania de comer feijão e arrotar caviar...Mas hoje quase todas essas agências estão fechadas...

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Assisti a um concerto de cello e violão, na Sala Terrena, onde Mozart tocava, com peças dele, Haydin, Beethoven e Schubert – que fazia 200 anos. O lugar era exageradamente belo: bem pequeno, com paredes pintadas em afrescos barrocos, com motivos religiosos (anjos, demônios, animais, flores). Fiquei bastante comovida, mas quase que não chego a tempo, pois fui passear no ônibus D pela cidade e me perdi. Tive que tomar carona de um rapaz, felizmente muito gentil, para não perder o show que fazia parte dos meus sonhos. Em uma noite, fui ao Johann Strauss Concerts – o Kursalon Vienna-, em um lindo prédio do Stadtpark – um dos parques mais antigos da cidade. Ali Strauss se apresentava e há uma linda estátua dele no jardim. Na sala art déco com imensos lustres de cristal, os bailarinos se apresentaram e um deles veio no mesmo metrô que eu! A maioria do público era de estrangeiros idosos. A noite acabou com a clássica “Danúbio Azul”. A cidade é muito musical e vi várias pessoas se apresentando nas ruas. Assisti a uma orquestra com os músicos uniformizados, em um praça. Vi dois rapazes, um tocando sax e o outro, teclado, tocando “Garota de Ipanema”. Para o Palácio Schonbrunn – a Versailles austríaca -, fui de metrô,apreciar os estupendos jardins floridos de diversas colorações. A maior roda-gigante do mundo – com 60 metros de altura-, àquela época, ficava no Park Prater, que é o parque de diversões mais antigo do planeta. Do alto da cabine de madeira, dava para ver boa parte da cidade. Para o Palácio Belvedere, fui no ônibus 71. Mais bonito que o Schonbrunn, o Belvedere guarda o maior acervo de arte austríaca e tem na sua coleção um dos quadros mais lindos da pintura universal: ‘O Beijo’, de Klimt. Também havia quadros de Degas, Renoir, Van Gogh, Münch. No Museu do Barroco, logo abaixo, há duas brancas esfinges nos recepcionando, que são belas e estão sorrindo. Ali eu tive a feliz e emocionante surpresa de ver o retrato mais lindo de Napoleão, pintado por David, em 1801. Bem jovem, ele está em um cavalo branco, empinado em uma pedra, com o braço direito apontando uma direção. Sentei-me em um banquinho vermelho diante dele e fiquei ali, admirando-o. O banheiro ficava no belíssimo ‘golden room’ e a sua porta era toda dourada com afrescos. Um luxo só!

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Em Budapeste, às margens do famoso Rio Danúbio, fui apenas para passar o dia, em um tour guiado. Foi muito emocionante cruzar o Rio Danúbio de trem, que ia apitando pelo caminho de paisagem um pouco árida. O país tem a maior população judia do leste europeu e tem a segunda maior sinagoga do mundo, a Grande Sinagoga (só perde para a de Jerusalém). 10% dos judeus mortos na 2ª. GM eram húngaros. Eleito o café mais bonito do mundo (2011), o ‘New York Café’ foi inaugurado em 1894, e tem colunas banhadas a ouro. A avenida Rakóczi era uma via muito movimentada, que atravessava a cidade na direção leste-oeste, com restaurantes e estações de metrô. O Városliget foi o primeiro parque público do mundo. A Andrassy Ut é a ‘champs elysees’ húngara, com prédios históricos, a ópera nacional, restaurantes e lojas. Também tem algumas embaixadas. O músico Bela Bartok morreu nessa avenida. HosokTere é a Praça dos Heróis, ladeada pelo Museu de Belas Artes e o Memorial do Milênio. MórJokay foi o mais famoso escritor da Hungria e sua portentosa escultura está localizada na Jokay St.. No bairro do Castelo de Buda está a gótica Igreja São Matias, que foi fundada há mais de 700 anos, mas destruída algumas vezes. A estrutura atual é do século XIX. Ali chorei ao ouvir um coro cantando música sacra com uma singeleza ímpar. Em torno da igreja, está o Bastião dos Pescadores, cujas sete torres homenageiam as sete tribos que fundaram a Hungria em 896. Subi para ver toda a linda cidade. O Palácio Real também estava do lado de Buda, juntamente com o Parlamento, construído à semelhança do de Londres. Em Buda, havia também os famosos banhos turcos – povo que ficou no país durante séculos. Eles têm uma arquitetura própria muito harmoniosa, como a estação de trem Keleti. A imperatriz Sissi era muito querida em Budapeste porque falava fluentemente o húngaro. Tem muitas coisas com seu nome, Margareth, pela cidade. Tomei um sorvete maravilhoso na Galeteria Italiana, em frente à estação Rennweg. De lá, peguei o ônibus 0 e fui para a estação Messe-Prater para comprar biscoitos no supermercado Billa. Na volta a Viena, desci na ponte do Danúbio e fui andando pela beira do rio, até a Kohlmarkt e a Stephansplatz – onde fica a imponente catedral de Santo Estevão.

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No trem para Zurich, um desfile de cidades lindas: Linz, Salzburg, Innsbruck, Murg, Wädenswil. Casas com sacadas de madeira cheias de flores, jardins muito floridos, telhados pretos com sótãos. Paisagem de contos de fadas, bem bucólicas, como o lago Walen e as montanhas de pedras. Neste dia, dois cavaleiros do apocalipse, fardados, entraram na minha cabine e abriram minha mala e minha bolsa, depois de ver meu passaporte e dizer ‘Brasil’. Os outros passageiros não foram revistados e ficaram impressionados com a atitude e comentaram comigo que estavam surpresos. E ficaram conversando comigo o resto da viagem, falando sobre os lugares que passávamos, dando sugestões de visitas etc.. Muito gentis. Na estação já encontrei novo anjinho da guarda, uma linda moça lourinha, que me deu 10 cents para pegar o ônibus porque eu não havia trocado o dinheiro...E ainda me deu tchau do tram – o elétrico-, que pegou. Conheci Zurich toda a pé, pois a cidade é bem pequena. Fui para a cidade antiga, flanei pela beira do rio Limmat, pela famosa e sedutora Rua Bahnhofstrasse, a igreja Grossmünster, a Casa de Ópera, achei lindas as diversas fontes pela cidade. Só não vi a Casa de Corbusier...

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Em Basel – capital cultura da Suíça-, também andei a pé a cidade toda, vendo os lugares mais importantes: como o bem-cuidado centro antigo, de casas parecendo feitas à mão, a Marktplatz, a Rathaus – o magnífico edifício vermelho art noveau, sede do governo. Sentei-me num banco à beira do Rio Reno para escrever cartões postais. Parecia que eu estava dentro de um...

A viagem sozinha acabava aqui. As informações eram de leituras sobre viagens; eu chegava nos lugares e já via os horários de saída dos trens; costumava chegar em horários bons para conseguir os hotéis, que geralmente ficavam perto das estações. Na Europa, a vida cotidiana é quase toda concentrada nos centros das cidades. Minhas anotações: “foram quinze dias ótimos, onde vivi emoções inenarráveis e fui feliz ao meu modo: vendo o que eu queria, andando kms e kms, buscando as coisas que gostava, comendo a hora que escolhia. Enfim, foi a primeira experiência totalmente sozinha no exterior e eu gostei muito. Para dividir de novo, só com alguém muito semelhante a mim porque realmente ainda sou a minha melhor companhia”.

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FRANÇA: PESQUISA DOUTORADO COM MARISA "Onde quer que nos encontremos, são os nossos amigos que constituem o nosso mundo". William James Enquanto Marisa Boccalato não chegava para dividir o estúdio comigo, eu aproveitava para ficar só em casa ou desbravar o 13ème, que era um arrondissement bem interessante e diversificado: a efervescente Place de Italie, com o MacDô e o KFC; a avenida de Gobelins, onde tem o famoso museu de tapeçarias; Parc de Choisy; Lycée Claude Monet; as Salles de Cinéma, que eu costumava ir a pé – como a Gaumont, da Avenue des Gobelins ; e o supermercado Franprix, onde fazia minhas compras básicas de alimentação. Além disso, ainda andava muito pela cidade: atravessava os Boulevards St. Martin, Montmartre, Saint Germain, Saint Michel; passava pelas ruas dos meus darlings: Rue Edouard Manet, Rue Van Gogh, Rue Victor Hugo; ou pelo Lycée Gaston Bachelard ali no bairro; pelas estátuas de Balzac, Joana D’Arc, Luis de Camões, Beethoven, Churchill, Montaigne, Rimbaud, Alexandre Dumas, Molière, Luis XIV – coisa que mais tem pelas ruas são estátuas! As livrarias FNAC do Forum des Halles – linda!-, e Monalisait, no Chatelet; Bairro Belleville – de restaurantes baratos -, com chineses e africanos transitando e fazendo comércio, além de frutos do mar, peixes e camarões frescos na Rue de Belleville. Andava muito de ônibus também para ver a cidade toda: 20, 22,27,32, 38,39, 42, 62, 63, 83 - comprei o livrinho dos ônibus com horários e trajetos – eram tours pelos lugares turísticos, eram passeios de descobertas: eu, que adoro andar de ônibus, ficava sempre encantada. Numa tarde, entrei numa fila com 20 pessoas para comprar uma baguete recém-saída do forno. A minha foi a última! Um dia a poluição chegou a altos níveis e os transportes e os estacionamentos das portas da cidade foram gratuitos. Saindo do metrô St. Mandé Tourelle, uma tarde, um cara tocava no sax “Que será, que será”, do Chico Buarque!

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Às vezes, pegava o trem e ia conhecer cidades do interior, em um bate-volta no mesmo dia, como Dijon, região da Borgonha – um mimo de lugar, com oito cinemas e dois teatros, com cerca de 2500 estudantes que se via em grupos pelas praças, parques e ruas. É a cidade das rotas do vinho, mas não fiz nenhuma, preferi andar pelas ruas para apreciar o estilo gótico e art déco (meu favorito) das lindas construções do centro histórico; o arco do triunfo; a Catedral de Notre Dame – mais antiga que a xará parisiense -; o Marchés des Halles. Comprei um potinho das tradicionais mostardas de Dijon, pois adoro a especiaria. Fui a Lille – a “Londres da França”, também uma cidade universitária, com oito cinemas, um teatro e uma ópera imponente. E também a editora Press Universitaire de Lille. Andei pelas lindas ruazinhas de estilo flamenco; pela Grand Place, com arquitetura do século XVII; pelo mercado Wazemmes, com bares e restaurantes à volta; aqui também há uma Catedral de Notre Dame; e o Palais de Beaux Arts – o 2º. maior museu da França depois do Louvre, em um prédio majestoso, mas não entrei. Fui em um TGV de dois andares (consegui ir no 2º) para Lyon –com dois mil anos de história, mas fiquei impressionada com seu desenvolvimento e modernidade. Cidade onde viveram os irmãos Lumière e onde estava o Instituto e museu Lumière, que não visitei - um "mico" para quem é amante de cinema. Entrei na igreja São Boaventura, onde um homem tocava um órgão divinamente. Fiquei lá, ouvindo um bom tempo. Meu roteiro a pé me levou ao Palácio do Comércio, Liceu Ampere, à grandiosa Ópera de Lyon, e ao Parc Tete d'Or - de beleza indescritível. Vi amor pelas coisas públicas, pois tudo era muito limpo, bem-cuidado, com indicações precisas, jardins, praças e monumentos muito bem-conservados. Lyon também é chamada de ‘capital gastronômica da França’, então, fui ver a famosa Brasserie Georges (1836) – em um lindo prédio, cuja entrada há o retrato de Gambrinus, o rei da cerveja, pois a casa fabrica a sua própria. De volta a Paris, tomei o ônibus 63, na Gare de Lyon, para ir até Alma-Marceau – roteiro urbano ótimo,passando pelos Invalides, Champs Elysées, Rue des Écoles, Carrefour Ódeon, Assembléia e vi a Tour Eifel ao longe toda iluminada

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às 21h30. No dia seguinte, fui andar de ônibus novamente. Peguei o 27 na Place d’Italie até St. Lazare,passando pelo Luxemburgo, St. Michel, Ponte Neuf, Notre Dame, St. Chapelle, Louvre, Opera. Depois peguei o 52 na Rue Victor Hugo, que percorria todo o 16ème – o bairro mais chic de Paris, passando pelas ruas Paul Valéry, George Sand, Rodin,La Fontaine, Poussin, Mozart e Michel Ange.

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Em outro final de semana, fui para Lourdes, Tolouse, Avignon e Aix-em-Provence. Em Lourdes, acompanhei a procissão das 21h. Foi um espetáculo comovente demais, chorei muito. Fui na gruta milagrosa e assisti a uma missa ao ar livre. Na Basílica, assisti ao final de outra missa. Toulouse – capital da Ocitánia, onde nasceu Carlos Gardel – era uma cidade insegura e esquisita, só fiquei andando no centro para admirar seus belos prédios de tijolos rosas e a majestosa Basílica de Saint Sernin, a maior construção românica da Europa. Em Avignon – cidade dos papas, com seu enorme Palácio Papal medieval, cercado de muralhas -, passeei ainda para ver a medieval Ponte d’Avignon (St. Bénézet) – patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO -, e o Jardim de Dom, de estilo inglês. Pequena, bela e charmosa cidade. Fui a Marselha só para pegar o trem para Aix-en-Provence. No caminho, vi o morro Saint Victoire, que Cèzanne pintou 41 vezes, em busca da luz perfeita. Fiquei deveras emocionada com a visão, pois ele é o meu pintor favorito. Muita coisa na charmosa cidade tem o seu nome. Contudo, a frustração foi grande quando a sua casa-atelier estava fechada, pois só abria às 5ªs feiras. E nunca mais ali voltei... Em casa, não havia TV, só um rádio, onde eu ouvia a France Culture e ia apurando o ouvido; mas, em verdade, eu somente lia bem a língua francesa, pois me comunicava com todos/as em inglês. Continuava dando meus passeios de ônibus.

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Quando Marisa chegou, fui buscá-la no aeroporto Charles de Gaulle e, de lá, já fomos para St. Germain de Près para tomar um vinho acompanhado de uma tábua de queijos no Deux Magots – freqüentado pelo darling Hemingway. Logo no primeiro fim de semana, fomos para Bologna no TVG Paris-Milão. Havia um Seminário do Umberto Eco na Universidade de Bologna – a mais antiga do mundo (1088), olha só que emoção! Lá encontramos meu orientador, Eric Landowski. Andamos a cidade toda para ver seus lugares principais, como a Piazza Maggiore, as Torres de Bologna, os famosos e inúmeros pórticos, o Museu Medieval. Almoçamos na Osteria Dell’Orsa, uma espécie de restaurante universitário, na Via Mentana, quase ao lado da Via Zamboni, onde fica a universidade. Ali, Marisa perdeu alguns retratos de família e lembranças. Na volta, paramos em Rimini – onde nasceu e está enterrado o cineasta Fellini-, que é praticamente uma vila. Sentamos na praça central para um café, na cafeteria Forum Imperiale, e ver o modesto movimento local. Depois seguimos para San Marino, uma república independente, a mais antiga do mundo, cercada de muralhas e com ruas de paralelepípedo em um sobe e desce sem fim. Ruas estreitas, cheias de lojinhas de quinquilharias, bem cafonas. A Basílica é imensa e linda (fechada); a Piazza de la Libertá tem a brilhante estátua da liberdade em mármore carrara; e as altas e antiquíssimas torres que despontam no céu de qualquer lugar que estejamos.

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Os trens italianos eram os piores da Europa: barulhentos, velhos e os/as passageiros/as não paravam de falar alto, de gesticularem com tudo, apesar de serem bem receptivos/as. Ficamos no Albergo Firenze, em Florença, bem charmosinho. Terra de Dante, o “sumo poeta” italiano, que desprezou o latim e escreveu sua obra em italiano, que era a língua do povo. Tomar café nas praças era de praxe. Ficamos algumas horas em um café na Piazza della Republica vendo o grande movimento de turistas. Andamos pela cidade para ver tudo de fora, como a Ponte Vecchio e suas relojoarias; a praça do Gran Hotel Minerva, tendo ao lado a maior igreja franciscana do mundo, a Basílica de Santa Croce, com os túmulos de Micheangelo, Maquiavel e Galileu – há um mausoléu vazio para Dante,pois ele está enterrado em Ravenna, mas há ainda sua estátua em frente à igreja; e a suntuosa Basilica gótica Santa Maria Del Fiore, a Duomo.

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Em Nápoles, ficamos no Hotel México, perto da praça Bellini, cheia de bares e estudantes. Fomos para lá para que Marisa conhecesse a terra dos seus avós paternos, além de querermos visitar a ilha de Capri e Pompéia. Pegamos um aerobarco para Capri, Mar Mediterrâneo sereno, dia de sol refletido na água como purpurina. A célebre Gruta Azul, onde Tibério tomava banhos, foi decepcionante para mim porque sou claustrofóbica e fiquei bem agoniada ali dentro,tanto quanto no pequeno barco, mesmo com a beleza da cor da água. Ainda bem que ficamos uns 5’ apenas por conta da maré e do fluxo turístico. O barqueiro era um estúpido e nos enrolou em 5 mil liras. Discutimos, mas não adiantou... Almoçamos à beira-mar. No continente, alugamos um taxi. Enzo era um motorista atencioso e simpático, cheio de histórias. Fomos até Sorrento, início da Costa Amalfitana, cheia de falésias e cafés na Praça Tasso. Vimos a Basílica de Sto. Antonino – padroeiro da cidade-, e a bela igreja barroca de Santa Maria Del Carmine.

SORRENTO

POMPÉIA

Dia seguinte, de trem, fomos a Pompéia, cidade do 8º. Século A.C., que, em 24 de agosto de 79 D.C. foi coberta, por sete metros, pelas lavas do vulcão Vesúvio, que nos acompanhou no caminho paisagístico desta região. Em 1600, encontraram a cidade submersa e, em 1748, iniciaram as escavações arqueológicas. Havia vários/as arqueólogos/ as, de vários países, ainda trabalhando. As imagens das pessoas petrificadas foi bastante chocante e comovente: vimos aquelas treze pesso-

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as petrificadas juntas. Andamos pelo calçamento original e irregular da cidade que estava bem vazia, mas quando passávamos pelo antigo bordel da cidade – Lupanare-, um guia italiano explicava aos turistas que ali era o lugar que pessoas iguais aos “brasiliani” de Roma ficavam. Morremos de vergonha e de indignação! A cidade era de uma grandeza ímpar, com belo Forum, a enorme Casa do Fauno, o Anfiteatro, as termas, o Templo de Apolo e o triste Jardim dos Mortos. POMPÉIA

LUPANARE, POMPÉIA

POMPÉIA

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OBRAS DE POMPÉIA POMPÉIA

Seguimos para Roma, e ficamos no Hotel Amália, a duas quadras do Vaticano. Muito bom, mas com o inconveniente de o banheiro ser no corredor. Mas como Marisa tinha que fazer suas pesquisas na Biblioteca do Vaticano, este era o mais acessível e barato. Para entrar na Biblioteca, tive que mostrar o passaporte e a carta de apresentação do prof. Landowski. Recebi uma carteirinha para a semana toda. Lá dentro, ficamos boquiabertas com a beleza das pinturas nos tetos. Deu vontade de deitar no chão e ficar admirando aquilo por horas... A biblioteca encerrava às 13h30 e a gente saía para passear pelo Vaticano e por Roma. Na Basílica de S. Pedro, a emoção foi grande novamente ao rever a Pietá, o túmulo de Pedro, o equilíbrio entre o Barroco e a Renascença, os enormes mosaicos, as pinturas dos tetos; também fomos no Castelo Sto. Angelo e na Praça Adriana. Em Roma, andávamos pela sofisticada Via Venetto – onde jantamos em um restaurante envidraçado no meio da calçada-; e pela Via Del Corso, Via Apia Nova, Forum Romano, Forum de Augusto, Coliseu. A igreja onde ficava o Moises de Michelangelo e a Vila Borghese estavam em obras. Saí sozinha um dia em que Marisa foi para a Biblioteca. Andei a pé para o ‘Bolo de Noiva’ (monumento a Vitor Emanuel II), termas de Troiano, Praça Veneza e Praça de Espanha, onde peguei o metrô até Termini,e ali o ônibus 38

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para Corso-Trevi, para encontrar Marisa que me esperava na Livraria Viela – só de literatura medieval, e que não existe mais. Voltei para a praça Veneza e fui assistir à missa das 18h na linda igreja Madona Milagrosa. Dali fui para Praça de Espanha para entrar na igreja Trinitá Del Monti – que estava fechada mais cedo -,para ver os afrescos dos séculos XVI,XVII e XVIII. Roma é uma cidade muito elegante, mas barulhenta e trânsito confuso. Fui abordada por alguns ‘lambreteros’, mas não tive coragem de realizar o sonho de dar umas voltas pela cidade em uma lambreta como nos filmes “Candelabro Italiano” ou “A princesa e o plebeu”. A 1ª. visita não-realizada às catacumbas foi cheia de imprevistos: o ônibus 81 fechou as portas na hora em que eu ia entrar e Marisa seguiu só. Peguei o seguinte, mas ela não estava no ponto. Esperei-a aparecer por ½ hora e voltei pelo ônibus 714 e passei pelas Termas de Caracalas e pelo Teatro S. Marcello. ROMA

CATACUMBAS ROMA

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No hotel, encontrei Marisa e saímos para o Congresso de Filologia Romana. De lá, seguimos a pé para o Domus Aurea - residência de Nero-, e para a Fontana de Trevi, onde tomamos um delicioso sorvete de pistache, sentadas na lateral direita da bela fonte, de guarda-chuvas abertos porque choveu um pouco e parou. Dali fomos sentar nas escadarias da Praça de Espanha para conversar mais e ver o abundante movimento dos/as passantes. Finalmente conseguimos ir à Catacumba de S. Calixto e seguimos um grupo de espanhóis. Fiquei agoniada, mas fui. A gente anda apenas pelo 2º. andar, com temperatura de 15º,onde há uma bela escultura de Sta. Cecília – mártir convertida. Ali viveram 500 mil cristãos e o lugar é cuidado pelo Vaticano. Saímos dali para o Museu Capitolino que estava com exposição de Matisse. Enquanto Marisa voltava todo dia para as pesquisas na Biblioteca, eu flanava por Roma, à beira do Rio Tibre, para atravessar suas pontes, de onde também se via alguns monumentos: Ponte Inglesa, a antiqüíssima Ponte Fabricio (ou ponte dos judeus), Ponte Sisto, Ponte Sant’Angelo - com o castelo do mesmo nome ao fundo. No último fim de semana na Itália fomos para Pisa – que só tem de especial o complexo arquitetônico que engloba a famosa Torre Inclinada (em obras), o Duomo e a muralha da cidade-, e Turim – a capital do Piemonte, sofisticada, foi a primeira capital da Itália, e é sede da FIAT -, onde fomos apenas na bela Piazza Castelo. Da Estação Porta Susa de Turim, voltamos para Paris. VATICANO

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CASTELO SANT'ANGELO


PISA CASA DE KEATS & SHELLEY

TORRE DE PISA

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A defesa de Mestrado de Tomás seria naquela semana, na Sorbonne Paris Nord, em St. Dennis – onde passamos rapidamente pela Basílica – o primeiro templo em estilo gótico da cidade-, para ver os túmulos dos reis da França, Luis VIII, Felipe IV, Carlos V e Maria Antonieta. O orientador não apareceu e a data foi transferida para dois dias depois, quando voltamos e Tomás foi aprovado e a comemoração foi no convento dos padres com os quais Tomás trabalhava, tudo sóbrio e distinto. Algumas semanas depois, oferecemos um jantar para Marilia, Tomás e Nilo, um amigo baiano fazendo doutorado na Sorbonne, no “castelo” – como chamávamos nosso estúdio. Marisa fez o strogonoff de ‘dinde’, que comemos com muito vinho nacional! "O CASTELO"

ST. DENIS, PARIS

Eu e Marisa começamos nossas pesquisas na grandiosa Biblioteca Nacional François Mitterrand, a 15’ a pé do nosso estúdio, onde a gente ficava até ela fechar, às 22h, no primeiro mês. Costumávamos comer nos restaurantes do caminho da Biblioteca, mas também comíamos em casa: eu, pratos prontos do Franprix; Marisa gostava de cozinhar e comprava frutos do mar ou scargots frescos nos mercados da Rue de Tolbiac. Nas semanas posteriores, estudávamos até 16h e saíamos para andar pela cidade a pé ou de ônibus e metrô. E ainda íamos descobrindo pontos de vendas de bolsas e malas (metrô Anvers); produtos dietéticos (Bd. Raspail); sex shops (Pigalle); pontas de estoque (Rue St. Placide); a deliciosa Sorveterie Le Flore (atrás da Igreja Notre Dame); o barato bistrô Romain, na Galerie 26 (Champs Elysées com

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Rue Du Colisée); o chocolate da Angelina (Rue de Rivoli, 226); a melhor baguete de Paris, no Lanche du Paul (Rue Auber, perto da Galerie Primtemps); a casa de chá Galerie Vivienne (Rue de La Banque, 5); os imperdíveis sorvetes Berthillon (Rue St. Louis, 31) – quando descobrimos a casa de Camille Claudel ali na Île de St. Louis-; a elegante Floricultura Patrick Allain (Rue St. Louis, 51); as fofíssimas Rue des Canettes (do século XIII), Rue de Guisarde e Rue Princesse (6éme); a sempre imperdível Shakespeare &Co (Rue de La Bucherie, 37), que fica às margens do Rio Sena, com vista para a Igreja de Notre Dame, e é uma espécie de templo da história literária da França; La Hune, uma livraria dos intelectuais franceses, que não existe mais (Bd. St. Germain, 170); o Café des Phares, onde tinha os papos ‘filôs’ dos domingos – ali sentamos na noite de Halloween, para ver o povo passar vestido de “noite do terror”-;a Galeria Véro-Dodat, charmosa, centenária (1ème, Rue de Boulois); tomar sorvete no Minimi’s (que não existe mais), ao lado do Maxim’s, na Rue Royale; andar nos Bateaux Parisiens, à noite, com os monumentos iluminados, foi espetacular – vimos o hotel onde Chopin e George Sand viveram, na Île de St. Louis; comemorar o início da temporada do vinho Beaujolais Noveau, com Nilo, na terceira quinta-feira de novembro (20/11/1997), em um bar na Bastille. Eu ainda tinha as pesquisas no CNRS e Marisa, na Biblioteca de Sainte-Geneviève, quando nos separávamos por uma manhã ou uma tarde.

BIBLIOTECA NACIONAL DA FRANÇA

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CABARET EM MONTMARTRE

METRÔ ART NOVEAU

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Nos fins de semana, fazíamos tours pelo interior francês juntas. O primeiro foi para o Vale do Loire – de trem, parando na linda Bloiscujo Chateau de Blois foi a residência principal dos reis até 1598. Toda sua mobília é autêntica. Ali pegamos uma excursão local para outros castelos, começando pelo Castelo de Amboise, às margens do Rio Loire - do século XI, onde nasceu e faleceu Carlos VIII, o castelo foi a última fortaleza medieval da França. Seu interior é rústico, sóbrio e sem exageros. Leonardo da Vinci foi hóspede do castelo e ele está enterrado na capela de St. Hubert, anexa ao castelo. O castelo de Cheverny - com o famoso balão colorido no seu jardim belo e bem-cuidado, tem arquitetura menos rebuscada. Ali chegamos na hora da alimentação dos inúmeros cães de caça da raça anglo-francesa Hound (a temporada de caça é de novembro a abril) – o canil foi criado em 1850. O interior do castelo é um tanto kitch, com excesso de dourado, muita tapeçaria nas paredes, mas tem o relógio do avô de Louis XV e uma cômoda de Louis XIV, o Rei Sol –um darling real, que inaugurou a cultura da espetacularização política (A ‘Fabricação do Rei’, de Peter Burke). A família Hurault ocupa as dependências do castelo e mantém a tradição familiar de 600 anos. CASTELO DE AMBIOSE

CASTELO DE CHEVERNY

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CHAMBORD

TOURS

Marisa quase perdeu o tour, pois se atrasou bastante e os/as turistas queriam deixá-la. E o motorista até saiu atrás dela, quando ela apareceu! Seguimos para o Castelo de Chambord – estilo renascentista-, a maior residência do Vale do Loire. Obra de François I, que também teve Leonardo da Vinci como hóspede. A escadaria aberta em dupla-hélice é a obra principal do palácio. Em forma de espiral, as hélices sobem aos três pisos sem nunca se encontrarem. O castelo tem ainda 426 quartos, 282 lareiras e 18874m² de gramados. Tudo lá é gigantesco! Achei-o meio assustador, exagerado e muito frio. O Rio Cosson foi canalizado para passar diante do Castelo. Louis XIV concluiu as obras de Chambord, em 1685. Ali Molière estreou as comédias Monsieur de Pourceaugnac e Le Bourgeois Gentilhomme; e o governo francês escondeu, na 2ª. GM, mais de cinco mil caixas com obras de artes dos museus de Paris. O Castelo de Chaumont-sur-Loire, de estilo

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medieval, quando comprado por Catarina de Médici, teve como hóspede Nostradamus. Muitos donos depois, o Castelo foi adquirido pela escritora Madame de Staël e, em seguida, pela família Broglie, que o vendeu ao Estado, em 1938. É majestoso e tem de especial a porta da ponte levadiça e as luxuosas cavalariças construídas pelos Broglies.

Dormimos em Tours e fizemos nosso próprio roteiro para conhecer a cidade-jardim da França, terra de Balzac. Foi capital da França no tempo de Louis XII. Com Henri IV é que Paris se tornou a capital do país. Andamos pelo centro medieval e vimos a Catedral de St. Gatien – nome do primeiro bispo da cidade, iniciada no século XIII e concluída no século XVI. Os vitrôs e as rosáceas são espetaculares! É uma das igrejas góticas mais antigas do país. Ao lado fica o Museu de Artes, mas não entramos. Andamos pela Rue Colbert, cheia de construções medievais, restaurantes charmosos da culinária internacional (italiano, árabe, chinês, espanhol) e muita gente transitando. Na Place Plumereau, o ‘point’ da cidade, com bares e restaurantes com mesinhas na rua e seus prédios de madeira e pedra (estilo ‘enxaimel’), paramos para almoçar e ver a cidade passar pela gente. Fomos até a Torre do Relógio e à Torre Românica Carlos Magno, na Rue des Halles, onde restam partes da antiga Basílica de St. Martin, que foi totalmente destruída no decorrer dos séculos por guerras e invasões. A nova Basílica foi construída em parte do local original. Passamos, só por fora,

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pelo deslumbrante Grande Teatro-Ópera de Tours, e atravessamos a medieval Ponte Wilson, que liga as duas margens do Rio Loire. Fazia muito frio. Dia seguinte, contratamos um taxi para irmos a Chinon, para conhecer a famosa fortaleza, onde Joana d’Arc reconheceu o Delfim da França, o futuro rei Carlos VII, mesmo disfarçado. Ele, então, confiou-lhe um exército para expulsar os ingleses do país. Foi ali que Henri II, marido de Eleonora, morreu. Andamos pela Rue Voltaire, bem medieval, com casas do século XV e XVI, ladeadas pelas muralhas da fortaleza, cuja casa de número 44 é o local onde Ricardo Coração de Leão faleceu, em 1199. É também a terra de Rabelais, e havia muitas coisas em sua homenagem: restaurantes, cafés, o hospital. O livro “Pantagruel e Gargantua” é ambientado em Chinon. Esta cidade faz parte do roteiro enólogo do país dos vinhos; então, almoçamos em um restaurante charmoso de um hotel uma carne de corça com talharim e legumes com vinho tinto local. Convidamos o gentil taxista para compartilhar nossa mesa e treinamos nosso parco francês com ele. ABADIA DE FONTEVRAUD

ABADIA DE FONTEVRAUD

Fomos para a Abbaye de Fontevraud, em Anjou, a maior e mais notável abadia medieval intacta da França. Sua imensa nave tem quatro domos e é o melhor exemplo de nave com cúpula em todo o país. Foi fundada no começo do século XII por Robert d’Arbrisse – pregador beneditino, que arrebanhou muitas mulheres da nobreza e colocou-as para serem as abadessas-chefes. A primeira foi Petronille e a segunda,

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Mathilde, que ficou viúva aos 12 anos do marido de 14! Eleonora de Aquitânia, depois de ser rainha e mãe de reis, entrou para a abadia, onde está enterrada junto ao marido Henri II, ao filho Ricardo Coração de Leão e à nora Isabele de Angoulême – que assassinou seu outro filho João Sem Terra. Eleonora era mulher de espírito independente e aprendeu a ler, o que não ocorria com as mulheres do século X: o seu túmulo destaca sua escultura em tamanho natural, com um livro às mãos. Nos jardins da Abadia, há o cemitério onde estão enterradas as monjas que o gramado cobre, somente uma placa aponta para o local. Deitamos ali para sentir a energia daquele lugar mágico. Foi uma das maiores emoções da minha vida. Uma sofisticação-singela própria dos beneditinos, cultores da beleza e da elegância com simplicidade. Grande, mas bem arejado, bem clássico.

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Às vezes, eu viajava sozinha para novas descobertas no interior da França, durante o dia, ou atravessava o túnel Paris-Londres para passar o dia na capital inglesa. Estive em Lisieux, por ser a cidade de Santa Terezinha, da qual minha mãe é devota. A Basílica se avista do trem, é belíssima. Fiquei uma manhã na igreja e só entrou uma senhora; me ajoelhei em cada capela oferecida por um país com seus santos padroeiros. Na do Brasil, não havia nada. Na cripta da Basílica havia um perfume maravilhoso no ar. Fui ao Carmel, convento das carmelitas, para ver o túmulo de Terése. Andei pela linda cidade medieval até as ruínas galo-romanas do século II, e fui à casa de Pére Zacharie, escritor satírico do século XIII. LONDRES

THE GLOBE

THE GLOBE

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Em Paris, eu e Marisa alternávamos as pesquisas com os passeios pela cidade. Íamos muito à FNAC, PUF e La Procure (da Rue de Mézières) – livraria religiosa, onde Marisa descobria a literatura da sua tese. E pegávamos o ônibus 83 para os Champs Elysées; o 42 para a Ópera, Bd de Capuccines e Tulherias, e para saltar na Av. Rapp e ver os prédios Art Nouveau; ônibus 72 para Port de St. Cloud, passando por Cours Albert – rua da Embaixada do Brasil-, Estátua da Liberdade, Maison Radio France, Trocadero; o 47 para a Gare Du Nord; o 46 para

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passar pela Av. Parmentier; o 84 para Place de la Concorde. O metrô Porte-Dauphine também era uma linda obra Art Nouveau. E íamos a museus: o Carnavalet, que conta a história da França até a Revolução; o de Picasso, que abriga os quadros que foram passados ao governo francês como pagamento dos impostos atrasados – um acervo enorme de pinturas, esculturas, gravuras, fotos, com alguns quadros dos meus períodos preferidos do pintor, o azul e o rosa; o Museu Gustave Moureau –um simbolista exagerado que pintava basicamente mulheres, a sua casa parecia com suas pinturas: cheia de quinquilharias, escura e poluída visualmente; o Museu de Art Naif, em Montmartre, onde havia exposições interessantes, como do artista Tawaian, com quadros bem coloridos, alegres, semelhantes aos do nordestino Chico da Silva; ao Museu Cluny, da Idade Média,onde tem a famosa “Dama do Unicórnio” – a majestosa tapeçaria que retrata os cinco sentidos; o de L’Orangerie – pequeno e chic -, onde estão as Ninféias de Monet último ciclo, 30 anos depois da primeira -, as que ele doou ao governo francês depois da 1ª. GM e pediu que só fossem expostas depois da sua morte, que foi em 1927. São 100 metros lineares, oito quadros pintados na própria parede, em duas salas, e não há obra de igual quilate no mundo. E íamos a igrejas: a neoclássica Madeleine,com a Coroação de Napoleão (que a construiu) pintada em sua cúpula; a barroca St. Augustin, muito escura; a barroca St. Roch, mais bela por dentro que por fora, onde se vê ainda algumas marcas das agressões sofridas na Revolução Francesa, ela também abriga os túmulos de Diderot, Corneille e Fragonard, e foi palco do casamento do Marquês de Sade; a Igreja St. Pierre de Montmartre – construída sobre a 1ª igreja merovíngia em ruínas, do século XII, e onde Loyola fundou a Companhia de Jesus; a Igreja St. Etienne, onde estão enterrados Pascal e Racine, tem o órgão mais antigo de Paris, que é um primor do século XVII; a célebre Igreja de Notre Dame estava em processo de limpeza; a medieval Igreja St. Severin, onde havia o ensaio de um coral maravilhoso, acompanhado de órgão, harpa, cello, flauta, regido por um maestro grisalho, que fiquei assistindo até o final – saí dali em total estado de graça!; a be-

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líssima Igreja St. Trinité – de fachada renascentista, palco do funeral de Berlioz. E flanávamos à procura dos darlings da literatura, pintura, música, filosofia, como no Quai d’Anjou, onde moraram Baudelaire, Rilke e Wagner; Rue Cortot 12, onde morou Renoir; Rue de Bruxelles, 21, onde morreu Zola; Place des Vosgues, onde viveu Victor Hugo; Bd. Du Montparnasse, 103, onde nasceu e viveu a infância Simone de Beauvoir (em cima do Café La Rotonde); Rue Crespin-du-Gast, 5, onde viveu Edith Piaf (nunca entrei no museu que está ali); Rue du Cardinal Lemoine, 74, onde morou Hemingway; Rue de Fleurus, 27, onde viveu Gertrude Stein. Pegávamos o destino metrô Jasmin para caminhar pelas elegantes ruas do 16éme: Av. Mozart, Av. Gautier, Av. Rodin, Av. Gui de Maupassant. E também ver o complexo de tênis de Roland Garros – meu esporte favorito-; o esmerado Hotel Mezzara, com os requintes da Art Nouveau; e uma cópia da estátua A idade do Bronze,a mais antiga figura em tamanho natural feita por Rodin, no meio da Place Rodin, em um cruzamento de carros. Duas vezes por mês, sentávamos no Café de Flore diante de duas taças de vinho tinto e uma tábua pequena de queijos, e ficávamos lembrando Simone de Beauvoir e Sartre, seus freqüentadores mais famosos. Saíamos andando a pé pelo Bd St. Germain, à época, quase sem pedestres,quando víamos o carro da Mairie, com assistentes sociais muito cuidadosas, tentando convencer os moradores de rua a ir para os abrigos naquelas noites de frio. Só iam os que realmente queriam.

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MUSÉE L'ORANGE

IG. ST. ROCHE

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E voltei ao Père Lachaise, como sempre faço, com o mapa na mão, para ver os darlings Alan Kardec, Balzac, Moliere, Oscar Wilde, Proust, Chopin, Jim Morrison; no Columbarium, estão as urnas de Isadora Duncan e Maria Callas. O grandioso cemitério estava cheio de árvores floridas pelo outono – minha estação favorita -, que colore toda a natureza de tons marrom, vermelho ocre, amarelo queimado. Eu havia ido lá nas estações do inverno e do verão. E sempre ia colhendo ‘pérolas’ pelo caminho: Hotel Elysées Ceramic, na Av. de Wagram – um prédio art nouveau lindo; a placa em memória ao homem desconhecido morto pela França no lindo Hotel Lutetia – um símbolo da resistência na 2ª. GM, em estilo art déco, onde James Joyce escreveu “Ulisses”; o histórico Hotel des St. Péres, em St. Germain dês Près– hotel do arquiteto de Luís XIV.

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HOTEL ELYSEÉS CERAMIC

A primeira vez que fui a Londres, atravessando pelo novo túnel, foi com Marisa em um tour Cityrama. Tomamos o Eurostar para atravessar o túnel Paris-Londres, um sonho que Napoleão já tinha no século XVIII. São 20’ de travessia no eurotunnel – a sensação era sempre um pouco bizarra, além da minha aflitiva claustrofobia. Descemos na Estação Waterloo e pegamos o ônibus de turismo e vimos a cidade toda sob um trânsito horrível, parando nos monumentos mais famosos para as ocasionais fotos: London Tower, alguns palácios, o Parlamento, o Big Ben, a Tower Bridge – tudo que eu já conhecia. O guia sempre falava da princesa Diana, do seu carisma, que sempre estará no coração do povo etc.. Achei interessante: ela não conquistou o coração do marido, mas conquistou o povo que ele iria governar. Cerca de duas vezes mais, eu saía bem cedo para pegar o primeiro Eurostar para atravessar o túnel Paris-Londres e flanar pela cidade. Uma delas fui apenas para conhecer o The New Globe Theater, de Shakespeare, inaugurado com a peça ‘Henry V’, em 29/6/1997, a mesma data do incêndio que destruiu o prédio em 29/6/1613. A rainha e seu esposo, o Duque de

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Edimburgo, estavam na noite de estreia. O duque é um dos membros do teatro. O senhor John Shepard foi o guia: é uma reprodução que tentou reconstruir o teatro tal qual era, como as madeiras encaixadas, sem necessidade de pregos ou colas; o teto é de um material parecido com bambu, que tem um efeito maravilhoso; o portão que dá para o cais é todo trabalhado de ferro com as figuras das obras do autor, como a coruja que remete a Hamlet; a bandeira no topo do mastro era para anunciar ao povo inculto que havia peça; o palco tem três níveis, conforme a distribuição do próprio Shakespeare – céu, terra e inferno. Era um teatro-inteligente: no incêndio, não houve mortos, todos/as se salvaram pelas duas portas de saída; hoje, há quatro e em três evacuam todos/as. Gostava de andar pela beira-rio do Tâmisa – e ver o lendário Iate Britannia, da realeza, ancorado debaixo da Tower Bridge, e ainda o Golden Hinde II, no qual Francis Drake circunavegou a Terra entre 1577-80, navio-museu, hoje; pelo mercado de Borought – o mais antigo de Londres, onde almoçava o menu “fish and chips” que adoro! Não sou uma pessoa-gourmet. Nesses passeios, eu me atinha a flanar pela cidade, não entrando mais em museus, ou galerias, ou igrejas.

Em outro fim de semana, eu e Marisa pegamos uma excursão Cityrama para ir a Chartres, ver a importante Catedral gótica, que achei feia, pesada,fiquei sufocada lá dentro...Só valeu pelos esplêndidos vitrôs, divididos em mais de 150 janelas! – são 2600 m² de vitrôs dos séculos XII e XIII. Ela é mais formosa por fora. A cidade é char-

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mosa, bonita, pequena, animada e tem muitos jovens e um comércio buliçoso, além de teatro e cinemas para 40 mil habitantes. Vimos também o monumento a Jean Moulin - herói da resistência contra ocupação alemã na 2ª GM. Marisa continuava com seus descuidos: deixou o chapéu no banco do ônibus, mas não viu; e, por sorte, pegou o mesmo ônibus depois, na volta, e sentou no banco onde o chapéu ficara!

Curiosidades: havia uma L’école du chat na rua ao lado da Dr. Touffier, que preparava os gatos para serem adotados; alguns motoristas de taxi andavam com cães no banco da frente; a maioria dos filmes americanos (e estrangeiros) era dublada; em todos os cinemas, a venda de balas e afins era na plateia por moças ou rapazes com aquelas caixas penduradas, passando pelos corredores; alguns homens mijavam nas ruas, livremente; os motoristas dos ônibus usavam terno e gravata e eram muito educados; os ônibus tinham ar condicionado no verão ou quente no inverno; a maioria das pessoas lia muito nos metrôs, nos ônibus, nos trens; toda 4ª. feira, ao meio dia, tocavam sirenes por toda a cidade para lembrar o toque de recolher dos bombardeios da 2ª. GM; também nas 4as feiras, a entrada no Museu do Louvre era gratuita. A temporada parisiense acabou com a cidade entrando no inverno, as árvores já carequinhas, um vento constante pelas ruas...Do avião tirei a prova de que Paris é realmente a ‘cidade-luz’ do mundo (literal, não filosoficamente!), pois ela brilhava. E quando o avião passou por Madri, eu me certifiquei disso. Que grande diferença...

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Capítulo 07 Viajar o mundo sozinha não significa viver uma aventura solitária.

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SANTA CATARINA E RIO GRANDE DO SUL "Viajar torna uma pessoa modesta. Vê-se como é pequeno o lugar que ocupamos no mundo". Gustave Flaubert

Q

ueria dar uma pausa nos estudos do Doutorado e resolvi conhecer dois Estados que estavam na minha lista: Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para me inspirar e relaxar para a finalização da minha tese, em 1998, fui conhecer Florianópolis-SC e Porto Alegre-RS. Na capital catarinense, como fiquei em um hotel próximo do Centro, fiz o roteiro turístico de visitar os pontos históricos principais: o maravilhoso Mercado Público Municipal de 1889, para comer pastel; a Casa Natal do pintor Victor Meirelles – cuja obra mais importante é a “Primeira Missa no Brasil” -, onde está o museu que expõe suas obras; o Palácio Cruz e Souza – antigo Palácio Rosado, que abrigava o Governo do Estado até a década de 80, e foi visitado por D.Pedro I e D.Pedro II -, hoje sede do Museu Histórico de Santa Catarina, onde ficam os restos mortais do poeta simbolista, e que está defronte da linda Praça XV de Novembro com árvores enormes; e a majestosa ponte pêncil Hercílio Luz, a mais antiga da capital e a maior ponte suspensa do Brasil, já fechada para reformas (só foi reaberta em 2019!). Ainda fiz uma excursão pelo interior para conhecer Brusque, Blumenau e Balneário Camboriú: achei tudo lindo demais e me surpreendi com a ‘estátua da liberdade’ que a loja Havan já colocava diante de seus prédios; conheci uma professora da UFPB no grupo, mas não mantive contato e esqueci seu nome...

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Em Porto Alegre, fiquei na casa da amiga de infância Aninha Moraes, que foi a anfitriã-companhia de passeios para visitar a Casa do darling Érico Veríssimo; o Hotel Majestic, onde viveu outro darling, Mário Quintana; vasculhar sebos de livros, onde ela me deu uma coleção de Josué Guimarães, autor do lindo Dona Anja – que virou um darling; conhecer o tradicional jornal Correio do Povo; e andar pelo centro movimentado da capital gaúcha, com bons cafés e restaurantes. Com ela, o marido Carlos e o pequeno filho Caco, fomos para Gramado – onde conheci o famoso e estiloso Palácio dos Festivais, onde ocorre o concorridíssimo Festival de Cinema-; Canela, com a sua catedral de pedra, a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Lourdes; e Petrópolis, que achei a mais encantadora de todas, pois é toda florida – conhecida como o “jardim da Serra Gaúcha”! Ali ficamos hospedados. Com Mariana, filha de Aninha, conheci alguns bares bem interessantes, freqüentados pelos jovens da cidade. Dessa viagem, não tenho diário e apenas poucas fotos.

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GRAMADO-RS

PORTO ALEGRE-RS

PALÁCIO DOS FESTIVAIS

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BRASILIA, BELO HORIZONTE, RIO DE JANEIRO & EUA: COM CLIMERIO & CINTHIA "As pessoas não fazem as viagens, as viagens fazem as pessoas". John Steinbeck Climério foi o melhor amigo da minha vida. Desde o primeiro ano da faculdade CEUB, em Brasilia. Fizemos o mesmo concurso para o Crédito Educativo da CEF e trabalhamos juntos. Eu fazia Comunicação e ele, Economia (mas já era o 2º. curso que fazia, pois ele era nove anos mais velho que eu). Depois fez Direito e virou um advogado bem-sucedido. Tinha verve e repertório eclético. Juntamente

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com meu pai, foi meu tutor intelectual. Ele me ajudou muito em nível intelectual, com leituras de Kafka, Jack London, Salinger, Schopenhauer e Nietzsche. Apresentou-me a Joe Cocker, a Raul Seixas e Tim Maia. Vimos vários filmes de Bergman, Woody Allen, Fassbinder, Antonioni e Jabor juntos. Já havíamos feito diversos passeios por Brasilia, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Em Brasília, tirei, finalmente, a foto diante do prédio do CEUB, hoje UniCEUB; e, outra, diante do Palácio do Planalto, onde tive meu primeiro emprego depois de formada, na Secretaria de Comunicação (SECOM-PR). Também viajamos para Goiás Velho para conhecer a casa de Cora Coralina (e não tenho uma foto sequer!). Já havíamos viajado de Itajubá a Brasilia ida e volta, atravessando Minas Gerais, no meu Gol Bolinha verde-oliva, o Recruta Zero.

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Em Belo Horizonte, encontramos minha querida amiga Regina, a historiadora que me mostrou os novos caminhos políticos que o país estava criando pós-governos-militares e me apresentou Lula, a quem passei a admirar e a participar de suas campanhas presidenciais até sua vitória, em 2002. Com ela, passeamos pelos monumentos mais importantes da elegante capital mineira, como a Lagoa da Pampulha, onde estão a Igreja de São Francisco (de 1943, projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, com painel externo em azulejo de Cândido Portinari e a Via Crucis, dentro do templo, também), o Museu de Arte Moderna (de 1957,igualmente projetado por Oscar Niemeyer) e a Casa de Kubitsccheck (meu presidente brasileiro preferido); o sortido Mercado Central; e a lendária Praça da Liberdade.

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E quando sua filha Cinthia foi morar em Tampa, na Florida, combinamos ir para lá para viajarmos com ela. Era 1999 e foi a última vez em que estive nos EUA. Alugamos um carro Cavalier da Chevrolet vermelho zero km, o primeiro hidramático que dirigi na vida. Miami Beach me encantou demais com sua arquitetura art deco – minha preferida! E sua exuberante Ocean Drive Av., perto da Via Espanhola, que percorremos tudo a pé. Mas a sensação epifânica foi andar pelo Monastério Espanhol, presente do magnata William R. Hearst para sua filha. O edifício, construído em Segóvia, em 1141, foi comprado em 1925, e foi todo desmontado e guardado em 11 mil caixas até ser reconstruído pedra por pedra no norte de Miami, em 1952. Este quebra-cabeça gigante é um dos prédios mais antigos do hemisfério oeste e, hoje, pertence ao bispado da Flórida. Já a Miami City achei muito tumultuada e cafona, cheia de lojas de todos os matizes e artigos. Gostei muito de Orlando, mesmo sem conhecer a Disney porque não gosto de parques temáticos lotados, mas fomos aos Estúdios da Universal. As estradas eram espetaculares e curti aquela liberdade dos “easyriders” americanos, com lindas paisagens, pontos de paradas limpos e práticos. Em São Petersburgo, fomos conhecer o Museu Salvador Dali, que abriga a maior coleção de obras do pintor surrealista fora da Europa (o maior acervo está no Teatro-Museu Salvador Dali, em Figueres, Espanha, sua terra natal). Em Tampa, fui conhecer a Universidade do Sul da Florida, inaugurada no ano em que nasci. As atrações mais famosas, como parques (Bush Gardens) e aquários gigantes (Florida Aquarium), estes me interessam muito pouco: do mar só gosto de praias para caminhar e mergulhar. O que mais gostei foi o pôr-do-sol no mar, na famosa Clearwater Beach, que eu não me lembrava de ter visto igual. De lá, fomos de avião para New York, onde nos hospedamos no mesmo Days Inn que sempre fiquei, na 8th Street.

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Aquela viagem era um presente para Cinthia, sua adorável e bonita filha adolescente, com quem estabeleci uma relação afetiva logo de início. Fizemos todas as vontades dela, que eram patinar na pista de gelo do Central Park, visitar a Biblioteca Pública e ir ao MOMA. Ainda fomos ao cinema ver o filme com Julia Roberts e Susan Sarandon, “Lado a Lado”, belíssimo, só eu e ela, enquanto Climério flanava pela Times Square. Passeamos muito a pé e comemos em algumas tratorias massas deliciosas. Despedi-me de Cinthia aos prantos...

Cinthia

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CIDADES HISTÓRICAS MINEIRAS APÓS O DOUTORADO "Em algum lugar, alguma coisa incrível está esperando para ser conhecida". Carl Sagan Quando eu acabei meu doutorado, tirei 15 dias para poder abstrair e purgar aqueles anos todos de muito estudo, sacrifícios e investimento pessoal altíssimo. Escolhi revisitar as cidades barrocas de Minas Gerais, que são sempre minhas preferidas em qualquer lugar que eu vá e aqui temos este acervo fantástico, famoso e à mão. Peguei meu Gol bolinha verde-oliva, meus mapas do volume da Quatro Rodas, e segui pela MG459 até Pouso Alegre e de lá peguei a Fernão Dias, BR-381, depois a MG265, rumo a Tiradentes – uma das cidades mais lindas do mundo para mim. Lá fiquei em uma pousada bem charmosa e desbravei a cidade toda a pé, como costumo fazer em lugares menores, sem me ater ao turismo. De lá, fui a São João Del Rey, terra de Tancredo Neves e de Otto Lara Resende, também para caminhar pelas ruas e ver as diversas faculdades que a definem como ‘cidade universitária’. Em Ouro Preto – terra de Aleijadinho -, toda aquela história sempre me emociona muito, tanto quanto a elegância e majestade da sua arquitetura, das ruas de pedra, dos clássicos postes de luz, afora a constante efervescência juvenil que ecoa das inúmeras repúblicas de estudantes e dos restaurantes e bares locais. Foi a primeira cidade brasileira considerada Patrimônio Mundial, pela Unesco, em 1980, mas já era Monumento Nacional, desde 1938. Como é considerada um “museu a céu aberto”, flanei pelas suas ladeiras, apreciando todo aquele esplendor arquitetônico, e também em busca de mim mesma, o que combinava muito com o espírito barroco predominante ali. Na divisa entre Ouro Preto e Mariana, avista-se o pico do

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Itacolomi. Em Mariana, novamente fiz as caminhadas habituais para apreciar a paisagem urbana e continuar minha investigação interior. De retorno, passei por Barros (Paula Candido), uma pequena e simples cidade sem atrativos, mas que me fez parar ao ouvir uma música divina saindo de uma casa. Desci do carro para ouvi-la e vi o que parecia ser uma escola de música. Fiquei encantada com aquela musicalidade especial. Em seguida, parei em Congonhas somente para visitar as esculturas dos profetas, de Aleijadinho – a maior obra barroca das Américas-, no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, também Patrimônio Mundial pela UNESCO. Dei uma volta de carro pela cidade e segui viagem de volta a Itajubá. Foi um périplo de purificação daqueles anos todos de muito esforço, fim de um casamento bacana e perspectivas de início de novas mudanças internas e externas, como de fato ocorreram com minha vinda ao Nordeste, oito meses depois. P.S.: Nessa viagem também não tirei fotos. Fui para contemplar. Coincidência de novo ser nas cidades históricas de MG.

INTERIOR MG, INTERIOR RJ, RIO-SALVADOR/ RIO-PARAIBA COM MARCOS ROGÉRIO "Só o amor me ensina onde vou chegar/ Por onde for quero ser seu par". Paulinho Tapajós Com Marcos Rogério houve muitas viagens ao redor de Itajubá, nos fins de semana: Santa Rita, São Lourenço – com Loyde, Martin, Denise e Sérgio-, São José dos Campos, Penedo, Mauá, Parati –com Andrea e Renato-, Ubatuba, e as praias de Niterói: Itaipu, Camboinhas, Piratininga – quando subíamos a linda e pequena Serra da Tiririca.

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Fomos a Salvador, para a casa das irmãs dele, com Andrea e Renato. Fomos para Itacaré, Ilhéus e Itabuna – onde morava seu pai. E fomos para o Rio, Ilha do Governador, onde morava sua mãe. Fomos do Rio a João Pessoa, passando novamente pelas casas da família até chegar na minha, de onde viajamos para Pipa e Olinda. Também fizemos Belo Horizonte e as cidades históricas de Minas Gerais em uma semana maravilhosa, onde andamos na Maria Fumaça Tiradentes-São João Del Rei – em um elegante passeio pela remanescente paisagem da Mata Atlântica -, subimos e descemos as ladeiras de Ouro Preto e, finalmente, eu tirei fotos naquelas belas cidades. O encantamento por Tiradentes se derrama ao ver que a cidade só fica mais bonita. Tiramos foto na linda Igreja Matriz de Santo Antônio e flanamos por aquelas charmosas ruas coloniais de pedras. ILHA DE ITAPARICA

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Capítulo 08 O país me chama e eu preciso ir.

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NE: PB, RN, PE, PI (DELTA), CE, AL, SE (XINGÓ), BA (LENÇÓIS)/PB-RIO-SP/PB-BSB e GO/PB-RIOITAJUBÁ-SP (80 ANOS PAI)/PB-SÃO LUIS (50 ANOS MÁRCIO)/RESORTS COM A FAMILIA: COM ROMILDO

"A jornada muda você. Ela deixa marcas na sua memória, na sua consciência, no seu coração e no seu corpo. Você leva alguma coisa com você. Com sorte, você deixa algo bom para trás". Anthony Bourdain

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odos os companheiros gostavam de viajar. Não foi diferente com Romildo. O que fez a diferença foram as viagens pelo amado NE, na redescoberta da minha terra, que me aproximaram definitivamente das minhas raízes. Tem sido o lugar onde passei o maior tempo da minha vida até agora. E eu não paro de me deslumbrar com a região cheia de contrastes, de diversidades e de belezas cruas, belezas criadas e belezas esculpidas. Desde o início do namoro que saíamos pelas cidades circunvizinhas de Natal e João Pessoa e expandimos os roteiros para um amplo número de cidades brasileiras. Às praias circunvizinhas de Natal, como Cotovelo,Tabatinga, Pirangi, Búzios e Barreta, íamos de moto. A maioria das viagens era de carro, o Curuca (Corsa Classic Chevrolet). As primeiras foram para São Miguel do Gostoso/ RN, onde o restaurante A Urca do Tubarão, do gentil Edson – amante de Augusto dos Anjos – e sua linda família, passou a ser parada obrigatória das idas àquela charmosa cidade. E íamos pelas cercanias aos fins de semana, como Pirangi, Baía Formosa, Sagi, Nizia Floresta, Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul – para comer ostras no ‘Bar da

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Ostra’, com a Lagoa de Guaraíras à frente-, e Pipa (perdemos o número de vezes que ali fomos!). Nessas primeiras viagens, Romildo iniciou o hábito de colher pequenos ramos das flores selvagens que encontrava pelo caminho. Chegava a parar o carro dezenas de vezes quando via cachos coloridos pelas estradas. Guardei todos esses “buquets” nos meus diários de viagem.

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A primeira viagem mais distante foi para Caicó/RN, passando por várias cidades, onde parávamos. A viagem levou nove horas, quando seria de quatro horas e meia. Foi naquele caminho que subimos na Torre da TV Cabugi e passamos alguns momentos interessantes com os colegas da comunicação. Em Caicó, fomos ver a peça ‘Muito barulho por nada”, com o grupo Clowns de Shakespeare, no bonito Teatro Municipal, e fomos na Boate Beer House. Almoçávamos no ‘Comilão’ , que tinha “o melhor parmegiana do Seridó”, repetia Romildo. Tomamos uma das cervejas mais geladas da vida (“cremosa”) no ‘Bar do Bistrô’, com vista para o Açude de Gargalheiras, em Acari. Comemos pastel de Tangará na ida e na volta. Havia propagandas apontando que Santana do Seridó era 100% saneada. Vimos ainda o famoso Castelo de Bivar, construído por Ronilson Dantas, em Carnaúba dos Dantas. Ali também subimos no Monte do Galo para acender velas para toda a família. Conheci a algaroba, que alimenta o gado na seca, é a “planta mágica do NE”. Ainda visitamos Santo Antonio e Nova Cruz, fronteiras com a PB. Em volta de Natal, fazíamos muitos passeios de moto: Cotovelo – onde havia todo mês o luau de Pium-, Barreta, Tabatinga, Búzios, Redinha – para comer a deliciosa ginga com tapioca-, e Pitangui. Com o amigo Ricardo fizemos uma das viagens mais gostosas da minha vida: percorremos o litoral potiguar e cearense na sua Hilux Toyota cabine dupla que atravessou os dois estados pelas areias das praias em maré baixa. Saimos de Natal, passando e parando em Rio do Fogo, Peroba,Carnaubinha, São Miguel do Gostoso, Touros, Galinhos, Macau, Porto do Mangue – onde pernoitamos-, Pedra Grande – espetacular!- , Ponta do Mel, Cristovão, Morro Pintado, Upanema, Areia Branca – onde atravessamos em uma balsa para a cidade de Grossos, quando fomos margeando o litoral e as salinas, passando por Tibau, Icapuí, Canoa Quebrada - onde ficamos na Pousada Logus e jantamos no ‘Dali’ -, Praia das Fontes – maravilhosa! - e Morro Branco – a linda Rota das Falésias. Voltamos pela estrada CE-040 para conhecer Aracati e seu elegante casario colonial. De lá, seguimos para Mossoró, pela BR-304. Ali vi o assentamento Olga Benário e os três bonitos teatros da

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cidade que enfrentou Lampião. Seguimos e almoçamos um tucunaré em Assu, indo visitar, em seguida, a Barragem Armando R. Gonçalves, em Itajá – uma maravilha! Enorme! É o maior reservatório do RN. Em 2020, a primeira hidrelétrica potiguar foi ativada nesta grande Barragem e já começou a enviar energia para o sistema elétrico nacional.

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Um mês depois, fomos, em um final de semana, só os dois, revisitar Macau, onde ficamos na Pousada ‘Pontal dos Anjos’, na tranquila praia de Camapum. O conjunto arquitetônico art déco na Rua da Matriz é muito bonito. Atravessamos de barco para a abandonada Galinhos, onde andamos de charrete com o guia Anderson. Almoçamos uma carne de sol no ‘Farol Bar’, na praia do Meio. Nas férias de final de ano, depois do Natal, fizemos o roteiro RN-CE-PI, indo primeiro para Fortaleza, passando novamente pela BR-304 e pela CE-040 para comer a famosa lagosta da Barraca do Carlinhos, na praia de Redonda, cheia de barquinhos de pescadores, e passando também na modesta Majorlândia –com suas esculturas nas falésias -, onde seus pais desfrutaram a lua-de-mel. Em Fortaleza, nos hospedamos com a adorável tia Salete e família. Retornamos para a BR-304, para visitar Sobral, terra dos parentes maternos. Bela e grande cidade, com uma nobreza realçada na sua colonial arquitetura. Almoçamos no ‘Alfonso Grill’. Experimentei pela primeira vez o famoso baião de dois, que não gostei. De lá, pegamos a horrorosa BR222, cheia de buracos, sem sinalização! Porém, a paisagem era bela, apesar da seca. Muitos morros de pedra. Vimos uma pedra em forma de santa e outra que parecia com o Pão de Açúcar carioca. Sorte que tinha pouco trânsito na estrada. Ali comecei a tirar fotos dos mortinhos nas estradas: um ritual bem interessante, tipicamente nordestino, de homenagear o morto no local em que ele faleceu. Subimos a bela Serra de Ibiapaba até Tinguá, onde fazia um frio bem agradável para dezembro! Seguimos para Ubajara, onde está o menor Parque Nacional do país. Deslumbrante! Ficamos hospedados no Marina Camping. O teleférico estava fora de serviço, pois caira uma palmeira em cima da fiação. Andamos até o mirante por uma trilha de 3km ida-volta. O lugar é bastante mágico, fiquei encantada com a beleza, a limpeza, a natureza plena e conservada da majestosa Serra de Ibiapaba.

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Fomos para Sete Cidades-PI, onde nos hospedamos no Hotel Fazenda Sete Cidades – dentro da mata, excelente! Ali também almoçamos um capote, o primeiro que comi na vida!, e gostei demais. A farofa que o acompanhava se chamava Lima Duarte. O guia Islando nos mostrou os dezenove principais pontos das Sete Cidades, como a Pedra da Tartaruga (6ª. cidade), o Arco do Triunfo (ou de desejo, tem que fazer um pedido sob ele, na 2ª cidade), a Pedra do Americano (a maior delas, com mais de 500 pinturas, mas o gringo arrancou metade da pedra!, na 2ª. cidade), o Furo Solsticial (ou Janela do Rei: em 22/6, niver de Romildo, há a passagem inverno-verão, na 3ª cidade), o Mapa do Brasil (3ª. cidade) etc.. Os índios Tabajaras habitaram as Sete Cidades. De lá, partimos para Piripiri-PI, uma cidade das minhas recordações afetivas de infância, pois ali passamos por uma situação bizarra em um pobre restaurante, quando nos serviram como galetos uns pobres ‘pintos’ que não saciaram a fome de quatro crianças. A cidade era toda em ruas de terra, sem nenhum restaurante bom, tivemos que usar o banheiro de uma mora-

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dora, um sufoco! Ela está sempre nas memórias das conversas sobre as viagens Indiana Jones Tupiniquim do meu pai. A surpresa foi por conta de encontrar uma outra cidade, toda asfaltada e bem cuidada. Inclusive a estrada para Parnaíba era ótima. Coisa que não existia há 40 anos! Somente a natureza era inóspita, muito seca. Um contraste enorme com Sete Cidades, onde tudo estava bem verde, bem exuberante. Em Parnaíba, o foco era conhecer o Delta do Parnaíba; contudo, a graciosa cidade colonial e art déco me impressionou bastante, bem como o bonito art déco Cine Delta e a barroca e neo-clássica Catedral de Nossa Senhora da Graça, construída entre 1770 e 1795, em formato de cruz, com altar-mor trabalhado em madeira e ouro. Como nas igrejas mais antigas de todo o país, em seu interior ainda se encontram campas mortuárias de pessoas de importância histórica para a cidade. Fizemos o passeio de barco pelo Rio Parnaíba até o Delta, das 8h até às 17h30 ida-volta, com bandejas de frutas e caranguejada nas refeições a bordo. O barco atracou do lado do delta maranhense, na Ilha dos Poldros, e os turistas desceram para tomar banho. Nós só caminhamos pelas dunas. Do lado do PI, há os enormes manguezais, de onde saem os famosos caranguejos piauienses. Em Parnaíba, hospedados no Hotel Toca do Coelho, lanchamos um dos melhores sanduíches da vida no ‘Dogão’, na Av. S. Sebastião. Em Luis Correia, fomos à feia praia de Atalaia. Com muita areia das dunas pela estrada BR-402, entramos no Ceará numa sequência de pedras e mais pedras. A cidade de Chaval, fronteira PI-CE, fica no meio de pedras, com algumas casas construídas sobre elas. Fomos para Camocin-CE, com suas deliciosas lagoas, onde tomamos banho o dia todo. O Mercado Público Municipal era bem arrumado. Ficamos no Hotel Ilha do Amor, à beira-mar, em frente à ‘Ilha do Amor’, um parque de dunas belíssimo. Passamos o réveillon 2004 no Hotel Camocin Park, onde só havia uma grande família em algumas mesas, e outras duas mesas com quatro pessoas, além de nós dois! Um total de 20 pessoas!!! Contudo, a ceia foi farta, a banda era muito boa e os fogos foram generosos. E entramos o novo ano às risadas por tamanho ‘mico’, haja vista termos sido enganados pelo recepcionista que nos garantiu que os ingressos já estavam ‘quase’ todos

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vendidos!!!! Dia seguinte, rumo a Granja-CE, terra da família paterna de Romildo. Tomamos uma inesquecível cerveja supergelada em um bar à beira do Açude Gangorra. A cidade era muito simples, quase toda na terra, sem nenhum atrativo afora o citado Açude. De Granja a Jijoca, a estrada era de terra. Ficamos hospedados em Jijoca-CE, no simples Hotel Tales, recém-inaugurado, para podermos ir a Jericoacoara, de ‘jardineira’ pelas dunas, para tomar banho nas lagoinhas das praias e esperar o pôr-do-sol nas dunas, coisa que não ocorreu por falta de sol forte. Não gostei da cidade pela falta de saneamento básico em metade da cidade e por estar toda na areia. É muito charmosa, tem restaurantes incríveis, lojas muito boas, mas não tem o conforto que eu gosto, como só ter o acesso pela ‘jardineira’ (ou carro 4x4), ser cheia de fossas e não ter, pelo menos, bloquetes ou paralelepípedos. É uma hippie-chic sem padrões de higiene coletivos razoáveis. No entanto, ali tomei o segundo melhor sorvete de pistache da vida! (o primeiro foi na sorveteria Berthillon, em Paris).

Quando me mudei para João Pessoa (ele continuou em Natal), começamos a fazer viagens na Paraíba: Araruna para ver a linda formação rochosa Pedra da Boca, que nos envia um beijo do alto da sua magnitude ancestral; as vizinhas D. Inês, Bananeiras, Solânea, Serraria, Arara, Alagoa Nova, Alagoa Grande, Areia, Pilões - que passaram a fazer parte da Rota Cultural Caminhos do Frio no Brejo Paraibano. Todas muito charmosas, limpas e com alguns bons restaurantes. Em Areia, conseguimos desfrutar da hospedagem do bonito Hotel Bruxaxá, com uma vista

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fantástica, administrado pela PBTur Hotéis e que, hoje, está fechado. As estradas não eram boas e algumas se atravessava na terra (como entre Araruna e Bananeiras). Em Alagoa Grande havia tido o recente rompimento da barragem de Camará, em 2004, que provocou morte e destruição. Entramos em algumas casas locais para ver o nível de alcance das águas ferozes de quase dois metros de altura. Era como se “o mundo estivesse acabando”, disseram alguns moradores que perderam móveis, eletrodomésticos, carros etc.. E a cidade ainda mostrava situação calamitosa, muito suja e com pessoas assustadas e temerosas. ALAGOA GRANDE

E os fins de semana, íamos em viagens bate-volta para Pilar – onde está o Engenho de José Lins do Rego, infelizmente todo abandonado! A cidade muito pobre não valorizou o tesouro literário que tem nas suas terras. Conhecemos a simplória Itabaiana também, no agreste paraibano, pela BR-408, caminho para irmos a Ingá ver a famosa Pedra do Ingá, a ‘pedra molhada’ – um dos cinco maiores sítios arqueológicos do país, um conjunto de pedras vulcânicas com

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pequenas quedas d’água de água morna, infelizmente abandonado e sem cuidado, com lixo nas pedras, apesar da beleza indescritível da arte rupestre. Também íamos para Baia da Traição – lugar lindo, mas feio ao mesmo tempo pelo descuido, pela sujeira, pela falta de estrutura. Uma pena! Enquanto Rio Tinto, ali bem perto, é uma graciosa cidade, fundada pelo dono das Casas Pernambucanas, Sr. Lundgren. Igual decepção foi ir a Sapé, com Carlos, Sandra e Icaro, para conhecer a cidade onde viveu meu darling Augusto dos Anjos, ver o Tamarindo ao qual ele dedicou uma linda poesia, mas o lugar é horrível, cheio de casebres, rio imundo, insalubre: tudo que AA odiaria ver se vivo fosse...

Tamarindo de Augusto dos Anjos - Sapé

Jacaré - Cabedelo

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Também passávamos fins de semana visitando cidades de PE, como Recife – para a V Feira Internacional do Livro, para visitar a Oficina Francisco Brennand e o Instituto Ricardo Brennand – dois lindos e mágicos lugares. Francisco Brennand morava e trabalhava naquele lugar especial, onde há sonho, fantasia, história, mitologia, sexo. O jardim projetado por Burle Marx é paradisíaco, com seus cisnes selvagens bem negros. Achei-o mais belo que o jardim de Rodin, em Paris. E o prédio da Academia, para lembrar Platão? E o Templo dos Sacrifícios, com os poetas trágicos a lembrar da dor do processo criativo? E ainda Bonito, Olinda, Maria Farinha e Trucunhaém – a cidade dos ateliers de artesanato de barro-, que eu queria muito conhecer e detestei, achei-a horrorosa, os ateliês famosos são feios e desarrumados. Só a entrada da cidade é bonita. No caminho para Bonito, passamos por Goiana – uma bela pequena cidade colonial, com igrejas belíssimas, como a das Carmelitas, que tem um Cruzeiro majestoso na frente. A 10km dali, paramos no bem-conservado Engenho Uruaé, uma antiga belíssima fazenda, fundada em 1736, que preserva o “quadrilátero do açúcar”: casa grande, senzala, capela e a ‘moita’, onde se produzia o açúcar. Na BR-232, almoçamos no ‘Delícias da Serra’, em Gravatá. Comemos um delicioso pernil de bode. Entramos na horrorosa Bezerros para ir ao Banco do Brasil. Em Bonito, ficamos no ‘Eco Park Hotel’. Lígia e Pablo nos acompanharam e fomos logo para a cachoeira Véu de Noiva, cheia de muriçocas. Mas era dia de lua cheia e a noite foi muito prazerosa e lanchamos ali mesmo um lanche muito saboroso. Minha resistência às dificuldades que podemos prescindir foi às alturas com os maruins pela manhã. Mas o café da manhã maravilhoso me fez esquecer os infernais bichinhos! E passamos o restante do dia nas cachoeiras de Bonito, que é tudo que existe ali. Em Igarassu só tem para ver a 1ª. igreja do Brasil, a de São Cosme e Damião, e o Convento e Igreja de Sto. Antonio. O acervo arquitetônico é bem bonito com casario colonial. A Ilha de Itamaracá foi uma decepção novamente neste retorno turístico – suja e maltratada. Fomos ainda à medonha Praia de Carne de Vaca – litoral norte de PE, divisa com PB -, cuja bela paisagem foi to-

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talmente obliterada pelo abandono do lugar, pelos sujos e barulhentos bares e pelas pessoas mal-educadas. Infelizmente, esses patrimônios naturais não têm a atenção do Estado e o povo tampouco os respeita e preserva. Praias belas, cujo turismo poderia ser efervescente, mas de frequência baixa e desprovida de cuidados e apreciação pelos lugares. Ainda fomos a um Recifolia com Lígia em um domingo de carnaval. FRANCISCO BRENNAND

Recifolia

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Nas imediações de João Pessoa, íamos para o litoral Sul, pela PB-08, em direção à Ponta Seixas, Gramame, Carapibus, Coqueirinho – para almoçar no restaurante Canyon e degustar o pastelzinho de entrada à beira-mar -, Tabatinga, Barra do Graú, Tambaba – parte de não-nudistas-, Praia Bela, Barra do Abiaí. Não havia praia que a gente não conhecesse. Em algumas, a gente fazia pic-nic com o kit que estava sempre na mala do carro: cooler, mesa dobrável com bancos e guarda-sol, churrasqueira portátil. PEDRA DA BOCA - PB

A viagem ao Sertão da PB-PE-CE foi uma das mais incríveis que fiz de carro, depois daquelas do meu pai desbravador dos cantões nordestinos. Em Campina Grande-PB, almoçamos com Carlos e Sandra, e Icaro bem pequenino. No Lajedo de Pai Mateus, só tiramos fotos e apreciamos aquelas belas pedras esculpidas por Deus, e ouvimos, do guia Paulo, a mesma história que ouvimos em Sete Cidades, do ermi-

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tão que viveu ali e tomou conta do lugar. Em Cabaceiras, a cidade do Bode Rei, não tinha hotel; então, voltamos para Boqueirão, e ficamos no Natureza Park, em cima de um morro, com uma vista espetacular para o Açude; contudo, as muriçocas tiraram o encanto do lugar, bem como as pererecas que pulavam no banheiro. A BR-230 – a Transamazônica, que tem início em Cabedelo - nos levou a Patos – a capital do Sertão-, passando pela Praça do Fim do Mundo, Boa Vista, Juazeirinho e Sta. Luzia - a gente entrava nessas cidades apenas, dando uma volta geral. Em Patos, ficamos no Hotel JK, depois de almoçar um self service no restaurante ‘Sabor do Sertão’. A cidade não tem atrativos. Fomos ao modesto shopping, ao Supermercado Guedes, à Catedral de Nossa Senhora da Guia. O calor do dia dava lugar a uma noite bem agradável. Na vizinha Teixeira, fomos conhecer a Pedra do Tendó – que tem a prática do rapel-, onde havia um bar-restaurante do mesmo nome. Em Teixeira, encontramos o jovem Piauí, que trabalhava no ‘Casarão do Jabre’ e que foi nosso guia. Subimos o Pico do Jabre na Parati Crossover 2.0, a Catita. Do ponto mais alto da PB, que fica mais precisamente em Matureia, se avistavam cidades da PB e de PE. Paisagem linda, cheia de colinas de pedras e vegetação, com muitos pequenos açudes. Voltamos para almoçar na Pedra do Tendó uma deliciosa carne de sol na brasa que levou 20’. Piauí nos deu uma muda de ipê roxo na despedida.

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PICO DO JABRE - PB

No caminho para Souza, entramos em Coremas para conhecer o grande açude, o maior da PB. Só ele, nada por perto, nem um bar e afins. Em Souza, ficamos na Pousada Vila Real, bem modesta, mas bem limpa. A cidade era horrorosa, caótica, com muitas motos e bikes, cheia de lixo a céu aberto. A intenção de estar ali era só para conhecer o Vale dos Dinossauros. O guia Jean nos mostrou dois sítios de pegadas bem chinfrim. Não havia ninguém e o lugar era malcuidado. Algo recorrente nos acervos turísticos da região. Seguindo viagem, paramos em Milagres-CE para almoçar e entramos em Juazeiro do Norte para ver o Horto do Padre Cícero, que achei deplorável: muita sujeira e miséria em volta. Um lugar de peregrinação sem higiene, onde as escadas mantinham o sangue dos peregrinos-descalços. Fiquei perplexa com tamanho descaso local. Na elegante cidade do Crato, ao pé da Chapada do Araripe, ficamos no Hotel Encosta da Serra, e passamos uma noite friazinha e silenciosa. Passando dentro do lindo Parque Nacional do Araripe, chegamos a

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Santana do Cariri, com clima de serra. Fomos a Nova Olinda, para conhecer o Projeto Casa Grande – uma ONG que ensina crianças e jovens a trabalharem com várias coisas, inclusive eles tinham uma rádio FM 104,9 e uma TV experimental. Ali havia uma biblioteca, um teatro e uma escola, que foi construída por um senhor para sua esposa Zefinha, a 1ª a se formar na cidade e a 1ª educadora da cidade. Cada sala é nomeada em homenagem a cada filho/a do casal. Dali fomos ver o Sr. Expedito, na sua oficina de sapatos, sandálias e bolsas de couro. É a grife do couro! Um espetáculo de confecção. Fotos nas paredes com alguns globais, que lhe encomendavam os produtos que ele enviava pelos Correios. E é o Sr. Expedito que atende, conversa, recebe o pagamento...Simples, educado e gentil. Em Santana do Cariri, visitamos o Museu de Paleontologia da URCA (Universidade Regional do Cariri). Eu não gosto de fósseis, mas havia uma grande variedade deles, que o guia Danilo, de não mais que 12 anos, mostrava e explicava a origem etc.. Voltamos pela mesma estrada do Ceará para Pernambuco. Em Exu, terra do “Rei do Baião”, fomos ali só para conhecer o Museu Luiz Gonzaga, onde andamos com o guia que contou a história toda do famoso sanfoneiro. Dali fomos ver a casa onde Gonzagão morou, ao lado, mostrada por D. Raimunda, que foi cozinheira da família quando o artista morou em Exu, depois de ter alcançado a fama. Almoçamos no ‘Bode do seu Bené’, na rodovia Asa Branca. Tudo na cidade gira em torno do cantor e compositor. O guia contou que aquela estrada foi conseguida por Luiz Gonzaga para que passasse ali e fosse pavimentada. TAVARES - PB

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Pegamos a ótima PE-507 com muitos trechos recém-feitos, atravessando o ‘Polígono da Maconha’. Em Salgueiro, pegamos a BR-232 para irmos a Serra Talhada e Triunfo, onde ficamos na pousada ‘Alpes de Triunfo’. Aquela foi uma das cidades mais aprazíveis que conheci, entre as centenas de cidades que já conhecia no país e no mundo. Fiquei encantada com a cidade: pequena, mas linda, limpa, bem cuidada, chic, com um açude bem no meio das lindas construções. Conhecemos seus principais pontos turísticos a pé: Igreja Matriz, Igreja N. Sra. Das Dores, cadeia pública, parque de diversões - onde andamos de roda gigante -, Museu do Cangaço, Teatro Guarany. À noite, era fartamente iluminada, com várias casas cheias de lâmpadas coloridas, pois era final de ano. Visitamos o Engenho S.Pedro, onde vimos a rapadura sendo feita; e os processos da famosa cachaça Triumpho, a 1ª a conseguir o selo do Inmetro no Brasil. Tudo muito limpo e bem decorado, além de orgânicos a cana da rapadura e da cachaça. A noite de réveillon passamos na rua, vendo os preparativos da cidade para a passagem de ano. O coral de crianças nas janelas do Teatro Guarany foi bem emocionante. Foi a queima de fogos mais bonita e mais longa (42’) que já vi! O pescoço doía!

Pela BR-426, levamos 45’ para chegar em Princesa, onde achei Justina, a gentil professora de yoga, perguntando por ela nas ruas. Tomamos um suco de acerola e nos despedimos depois de uma hora de conversa. Chegamos em Tavares em 20’. Pensei em colocar a placa do

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carro lá; contudo, a cidade é muito longe de João Pessoa e não tem estrutura nenhuma: acanhada, poucos habitantes (14 mil). Novamente encontrei minha aluna de Radialismo da UFPB, Yaponira, perguntando pelas ruas. Fomos recebidos pela sua adorável família, que nos ofereceu uma mesa de doces e eu comi musse de maracujá pela 1ª. vez! De lá, voltamos para a PE-270 e almoçamos na churrascaria ‘Carro de Boi’, entre Arcoverde e Buíque. A BR-424 passou por Pedra, que tem uma linda pedra ao fundo como moldura da cidade, que parece ser construída em cima de uma grande pedra; e por Caetés, a terra do presidente Lula – uma ‘vila’ bem maltratada e feinha; para finalmente chegar na bela Garanhuns, onde ficamos no hotel Village. A região é muito bonita, cheia de montanhas. Garanhuns estava toda enfeitada para as festas natalinas, com charme e elegância nas casas de ruas largas e limpas. Fomos tomar um caldo verde em Heliópolis, o bairro do movimento local, onde tem cinemas, bons restaurantes e o belo hotel Tavares Correia, que já foi uma casa de repouso psiquiátrico (ou seja, um sanatório). Ainda conhecemos o Santuário Mãe Rainha, o Centro Cultural na antiga estação de trem, e ao Parque do Pau Pombo. Manhã seguinte fomos para o Vale do Catimbau, passando por Vila Carneiro, Buíque e Catimbau – só miséria e sujeira. Um horror a indiferença pública com um patrimônio natural daquela grandeza. O parque fica no final dessa pocilga toda, lixo por todo lado, queimadas. No caminho, nos deparamos com o Projeto ‘Amigos do Bem’ , pareceu ser uma comunidade agrícola. Paramos em Arcoverde para tirar fotos do cine Rio Branco – o mais antigo do pais ainda em funcionamento -, e almoçar no ‘Vila Romana’, um self service honesto. Dali voltamos à Paraíba para visitar Monteiro e suas rendeiras famosas. A Associação era bem pobrezinha, mas a cidade era limpa, com largas avenidas. E passamos por Coxixola – que era a menor cidade da PB à época -, Serra Branca – onde tomamos sorvete na Panificadora Wilma-,e a simpática Sumé e suas casas art déco.

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Em outra viagem pelo litoral norte do RN e pelo CE, paramos em Mossoró, para ver a empresa exportadora de mel que nosso amigo Wagner trabalhava. Partimos passeando pela CE-040 para almoçar em Redonda, para comer a famosa lagosta gratinada do Bar do Carlinhos, que era escolhida no tanque cheio delas. Em Canoa Quebrada, ficamos novamente na Pousada Missare, cujos donos eram um casal bem simpático. Íamos à praia para caminhar, cair no mar e comer pastel de arraia com cerveja “noiva”; à noite, andávamos pela Broadway que fervia a partir das 5as feiras. Dali seguimos para Guaramiranga, na espetacular serra cearense, a 900m de altura, por estradas ótimas (BR-304, BR-116 e CE-060). Almoçamos em Baturité, na Churrascaria Feijão Verde, na CE-060, mas a chegada em Guaramiranga foi decepcionante porque não tinha hotel disponível. A 13km de lá, ficamos no ótimo Hotel do Alemão (Hofbrauhass), em Mulungu, em cima das montanhas, com um visual divino, no quarto 109, chamado ‘Barroco Colonial’ – meu estilo preferido, além do art déco! Um frio bem gos-

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toso, incluso, que possibilitou um saboroso fondue à noite no restaurante do hotel, onde deixamos nossos nomes inscritos no mural dos casais. Foi o 1º. Hotel que vi com porta-roupa no banheiro, porta-saboneteira no chuveiro, tapetes dentro e fora do box. Muito limpo, bem cuidado, melhor que muitos 4/5 estrelas que eu já tinha ido! Visitamos ainda a graciosa Pacoti – a “cidade feliz”, 19,5km de Mulungu, bem limpa e bem cuidada, achei-a melhor que Guaramiranga. Rumamos para Quixadá, berço de Romildo, e maior cidade e melhor IDH do Sertão Central. Conhecida como a “Terra da Galinha Choca”, por conta da formação rochosa em forma de galinha que é a moldura natural da cidade. Também é a terra de coração da amada Rachel de Queiroz, que ali tinha uma fazenda que visitava sempre. O Açude do Cedro é um dos pontos turísticos mais importantes por ser o primeiro do país, pois sua obra foi iniciativa de D.Pedro II. Tentamos almoçar na “Peixada Imperial”, que fica em um castelo construído em 1888. Só que, hoje, está maltratado demais pelo atual arrendatário, um sujeito irascível e mal-educado. A música era altíssima e horrível e a alternativa que ele nos deu foi apenas escolher a música e sobrou de melhor dos piores Leonardo! Nos restou desistir de ficar ali...Na saída da cidade, depois de passar pelo posto de gasolina chamado Itajubá, comemos no agradável “Polo Gril”, do simpático proprietário Moésio, que se sentou conosco e com quem tivemos agradável conversa. Dormimos naquela noite no novo Hotel São Luis, em Limoeiro. Era época de São João e saíamos atrás de festas juninas, fogueiras pelas ruas, mas não encontramos quase nada disso no CE...Voltando ao RN em estrada de terra até Soledade. O Lajedo de Soledade é igual aos outros que vimos no NE: bonito, pobre e abandonado. De Apodi a Brejo a estrada era na terra também. Almoçamos no Clube do Itans, em Caicó. Pegamos engarrafamentos na BR-230 em Galante-PB e Cajá-PB, por conta das festas de S. João.

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QUIXADÁ - CE

Outra maravilhosa viagem foi aos Canions do Rio S. Francisco, um dos lugares mais lindos que já vi na vida! Pegamos uma excursão, pela 1ª. vez. Seguimos para Recife, para pegar a BR-232, passando por Gravatá (um lanche n’O Rei da Coxinha), Garanhuns, Delmiro Gouveia (AL) , onde pegamos a Rodovia Altemar Dutra (AL-145) para Xingó. Ali ficamos, na bela e elegante cidade tombada de Piranhas, toda em arquitetura art déco, no Hotel Nosso Lar. Andamos a pé pela cidade, fomos ao Mirante Flor de Cactus para apreciar a cidade do alto e ver o majestoso Rio São Francisco às suas margens. No dia seguinte, atravessamos os cânions em um excelente catamarã, com uma professora da UNICAMP mostrando sua superioridade paulista, mas não fiquei atrás quando exibi meu currículo, minhas viagens e meu modo de vida!! E com ela tomei um barquinho tosco para ver a Gruta do Rio, quando ela a comparou à Gruta Azul de Capri, que eu também conhecia, comentei que Tibério tomava banho na Gruta Azul e Romildo completou que Lampião tomava banho ali, na Gruta do Rio!

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Depois do almoço em grupo, fomos visitar a Hidrelétrica de Xingó. Fiquei do lado de fora, vendo a grandiosidade da obra. Em seguida, fomos para o Museu Arqueológico do Xingó – espaço climatizado, bem organizado, bonito, mas com pouca coisa para ver. No dia seguinte, o grupo foi fazer caminhada, mas preferimos ir para Xingó, conhecer a cidade construída pela CHESF – sem graça, sem gente, 100 mil pessoas migraram com o fim das obras. Em Piranhas, ainda tomamos banho de rio e fiquei bastante emocionada em estar nos braços do Velho Chico, que percorre os estados de MG, GO, BA, PE, SE e AL e é considerado o rio da integração nacional. Fomos também a Angico, na Grota onde Lampião e seu bando foram tocaiados e mortos. A guia sabia tudo sobre a história do lendário cangaceiro, pena que falava errado demais e truncou a narrativa...Havia disputa de lugares na van e isso foi bem desagradável, pois quando houve parada, as pessoas pegaram nossos lugares. Mas eu pedi para sairem, pois eu estava ali desde a partida do hotel, e sairam. Detalhe: os lugares sobraram; as pessoas entraram e os deixaram livres e nós sentamos por último! Foi o único ponto negativo do passeio: um grupo mal-educado e um guia despreparado que não sabia conduzir as relações coletivas. Além do que a maioria deles já se conhecia e costumava viajar juntos; então, ficamos de ‘peixes fora d’água’...

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Saimos de Natal para conhecer algumas novas cidades do RN e da PB, e para ir a Picuí-PB somente para comer a famosa carne de sol de lá, a melhor do Estado. Pegamos a BR-226, passando por Macaíba, Tangará, Sta Cruz (e a Serra de Santana), Campo Redondo (e a Serra de S. Bento), Cel. Ezequiel (onde havia um memorial a um mortinho flamenguista), Jacanã, Nova Floresta. Aí pegamos a BR-104 para entrar na PB e chegar a Picuí, finalmente. Moradores nos indicaram o restaurante Beira Rio para comer a carne de sol, mas estava muito ruim. Cheguei a dizer que eles mandavam as melhores peças para João Pessoa! Ficamos no Hotel Dona Luzinete, muito simples, mas bem limpinho. A noite foi bem agradável, com um friozinho acolhedor. Na estrada para Picuí, havia um memorial com 12 cruzes, os “mortinhos” das estradas...Fomos a Baraúna, Cumaru (estrada de terra), Pedra Lavrada, Cubati (onde havia memorial para 8 pessoas juntas, estrada de terra também), Assunção, Soledade, Pocinhos e suas pedreiras. Paramos em Taperoá para ver os cenários da minissérie Pedra do Reino da obra do darling Ariano Suassuna; contudo, já estava quase tudo destruído, mostrando mais um descaso de um prefeito incompetente, ignorante e insensível à possibilidade turística que aquele cenário poderia levar à cidade, pois, o que restou, era deslumbrante. Almoçamos no Hotel Pedra do Reino.

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A primeira grande viagem de carro foi ao Rio de Janeiro, em setembro de 2008, na Parati Crossover 2.0, a Catita. Em Ipojuca-PE, pegamos a PE-060 e fomos pelo litoral sul, vendo Rio Formoso, Reserva Biológica de Santinho, Tamandaré com o Forte S. Inácio, Praia dos Carneiros, muito lixo na beira da estrada no km71! Na AL-101 vimos Maragogi de praia linda, a Antunes, de lugar sujo; e a charmosa pequena Japaratinga. Na AL-105, vimos Matinhas, Fleixeiras, S. Luis do Catunde e chegamos a Maceió, onde passamos a noite no hotel Escuna Praia, na Praia de Jatiúca. Fomos ao Shopping Parking enorme, todo envidraçado, mas em uma área muito suja. Maceió sempre foi assim: esgoto a céu aberto! Andamos pela calçadinha à noite, comemos em um restaurante por ali. Exaustos pelo dia todo dentro do carro, pra-

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ticamente. Dia seguinte, AL-101 passando por Pontal da Barra, Mal. Deodoro (primeira capital de Alagoas) e Praia do Francês (AL-220). Depois de Ponta Verde e Pajuçara tem uma praia linda (não tinha nome!) onde desembocava o esgoto da cidade: língua negra na água do belo mar. Uma tristeza! Na BR-101, passamos por uma cidade-favela, Matrix de Capiberibe, em contraste com a entrada de Luizópolis, toda arborizada, linda! Ou seja, cada uma tem o prefeito que merece! Passamos por Teotônio Vilela e Junqueiro, divisa com SE, que ficava depois da ponte sobre o Rio São Francisco. Havia o MST em Aquidabá. Passamos por Maruim, Laranjeiras e N. Sra. do Socorro –vimos o Parque Nacional do Ibura – uma reserva de Mata Atlântica em SE -, que fica entre essas duas últimas cidades citadas. Ele faz parte do ICMBio e tem um exuberante ecossistema: além da Mata Atlântica, tem restinga, mangues e áreas úmidas. Tinha sido recém-inaugurado (2005).

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Em Aracaju, ficamos no Hotel Mar e Sol, na praia de Atalaia, que é muito bonita, mas não boa para banhos. A orla é muito bacana, tem a Praça dos Arcos e o Oceanário. Muitas opções de barracas à beira-mar. Na BR-101 de novo, passando por Itaporanga e Estância. Pegamos a SE-318 para pegar a Linha Verde: Luzia do Itanhi – onde havia o MST -, e Indiaroba e Mangue Seco. Dando sequência à Linha Verde, entramos na Estrada do Côco, a BA-099, passando por Conde, Sauípe, Mata de S. João, Imbassaí, praia do Forte – onde fica a Reserva Nacional de Sapiranga, formada por Mata Atlântica, cachoeira e rio-, Camaçari e Salvador, onde só demos uma volta pela cidade muito difícil de estacionar. Seguimos pela BR-101, por Muritiba, Cruz das Almas, Sto. Antonio de Jesus – onde havia uma enorme favela no morro à beira da estrada -, Tancredo Neves, Teolândia, W. Guimarães – a “capital da graviola” , com uma imensa N. Sra. das Graças na entrada da cidade. Estrada horrível, toda esburacada, trânsito lento. Seguimos por Gandu, Itamarati, Aurelino Leal para chegar na adorável Itabuna – a “capital do cacau”-, onde nos hospedamos no Hotel Royal. À noite, fomos andar pela cidade depois do jantar, para ver a Catedral de S. José, as ruas antigas de comércio local e a agradável e bonita beira-rio. Na BR101, novamente, passando por São José, Arataca (com desmatamento e queimadas no km 637), Itapebi, Itagimirim (com MST), Itabela – muita plantação de eucalipto -, Itamaraju e Teixeira de Freitas, onde almoçamos. Entramos no ES, em Pedro Canário, depois São Mateus, Sooretama, Linhares, Fundão, Serra, Vitória e Vila Velha – onde fica-

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mos na Pousada do Farol, onde encontrei e lanchei com minha amiga de infância e adolescência do Colégio Sto. Amaro, a doce Rachel. Dia seguinte, pegamos a Rota do Sol e da Moqueca para as belas praias de Guarapari e Anchieta. De volta à BR-101 RJ, passamos pelas feias cidades de Conselheiro Josino, Campos de Goitacazes (com uma enorme favela na entrada, defronte a um prédio da Petrobrás!), Conceição de Macacu (onde almoçamos), Macaé – com a Reserva Biológica União, de Mata Atlântica e que era uma antiga fazenda e onde vivem os mico-leões dourados, chegados ali em 1994, pela técnica de translocação para preservação. É uma reserva do ICMbio que também preserva outros animais ameaçados de extinção como a preguiça-de-coleira, a jaguatirica e a lontra. A maior parte da sua área fica no município de Rio das Ostras, além de Macaé e Casimiro de Abreu, onde também tem a Reserva Biológica Poço das Antas, dividida ainda com Silva Jardim, e que é a 1ª. da categoria a ser criada no Brasil, com mais de 5 mil ha de área de Mata Atlântica, habitat também do mico-leão dourado. No Rio de Janeiro, cidade mais bela do mundo para mim, ficamos no Hotel Mengo, no Flamengo. Serviço ótimo, com garagem, a uma quadra do Aterro do Flamengo, do metrô, de vários bons restaurantes e bares. Paramos ali para eu ir nas comemorações do aniversário do Colégio Sto. Amaro e reencontrar as amigas de uma parte muito importante da minha vida. Beto, Wilma e Eduardo foram nos ver em uma noite livre. Caminhamos muito pelos arredores, onde ficava o Palácio do Catete e seu belo jardim; o histórico Bar-Restaurante Lamas, antigo reduto dos grandes jornalistas da cidade. O metrô a 200m nos levou para Copacabana, onde caminhamos pela simbólica calçada. Pela Rodovia Dutra (BR-116), de boas lembranças das viagens de infância, de Itajubá, do mestrado e do doutorado, seguimos para rever Itajubá depois de nove anos que saí de lá. Ali eu reencontrei as amigas mais queridas como Loyde, Andrea, Denise, Márcia e Eraídes. Passamos uma manhã no Convento São Rafael com a Irmã Emiliana. Voltamos para João Pessoa somente pelas BR-116 e BR-101, só parando para comer e dormir.

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Quase um ano sem viajar, devido ao acidente de moto de Romildo, que o deixou imobilizado durante doze meses. O retorno foi mais uma vez no circuito RN-CE-PI-MA. Saimos de Natal rumo a Mossoró, passando por Santa Maria (terra do café da manhã), Lajes,Fernando Pedrosa, Assu (terra da cerâmica e do açude) e Tibau do Norte. No CE, pegamos a CE-040 para comer lagosta gratinada no Bar do Carlinhos, em Redonda, e em Canoa Quebrada ficar na Pousada Missare. Em Fortaleza, ficamos no Hotel Heros, do tio de Romildo, Lafayete. Almoçamos no sítio do tio Wilson. O réveillon foi com tio Lafayete e família, no Beira-Mar Grill, na praia do Meireles . Ótimo serviço, buffet excelente. A noite foi muito prazerosa e feliz. No dia 1º, almoço com tia Toinha e família no condomínio Garrote Village. De lá, já pegamos a BR-222,passando por Catuana, São Luis do Curu, Umirim e Itapajé, para se hospedar na Pousada Doce Lar, onde dormimos 12 horas seguidas! Na BR-222 de novo, Forquilha (região metropolitana de Sobral, onde está o Açude Arrebita) e Sobral – trechos de estrada péssimos!

Em Ubajara de novo, o carro deu pane no alarme e, na concessionária, era o dia de folga do eletricista! Almoçamos na Pousada Gruta do Ubajara e ficamos no horroroso e caro hotel Neblina Park. No encantador Parque Nacional de Ubajara, descemos o teleférico para ir à Gruta. Eu não entrei porque sou claustrofóbica, mas Romildo trouxe uma foto com o nome Olga que algum vândalo deixou grafitado na

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rocha. Passamos de novo em Tinguá, Inharim e a charmosa Viçosa do Ceará, onde almoçamos, pela CE-232. E fomos para o PI (BR-343): Cocal, onde tem o Santuário Mãe Rainha, Buriti dos Lopes e Parnaíba, onde ficamos no Hotel Civico. Tentando consertar o alarme do carro... Fomos até Tutóia-MA, onde ficam os Pequenos Lençóis. A ideia era ir até Barreirinha, para ver os Lençóis Maranhenses, mas desistimos. Tutóia me deixou envergonhada de ter nascido no MA: cidade miserável, suja, cheia de lixo. Mas a Pousada Jagatá, onde nos hospedamos, era um lugar lindo, à beira-mar, bem cuidada, superlimpa. Um oásis em meio àquela imundície. A praia era linda, mas suja. Almoçamos no EmBar-Cação, perto da pousada, uma peixada frita muito boa com guaraná Jesus. Andamos pelos Pequenos Lençóis e foi um espetáculo, pois as dunas eram belas. Fomos no BB para tirar dinheiro e a população toda da cidade estava lá e só havia um caixa eletrônico! Desistimos, claro! Encontramos com Thais e Marina na Praia Peito de Moça, em Luis Correia (que era tio-avô de Thais), onde elas têm casa de veraneio. A cidade de Parnaíba é cheia de referências familiares das partes materna e paterna de Thais. Dormimos uma noite na casa delas. Foi ótimo! Fomos para a praia de Macapá para comer caranguejos enormes com cerveja. Ali conhecemos Vera, uma professora da UFPI, muito encantadora e bonita. Ela nos levou para conhecer sua “Casa Rosa”, linda, de portas e janelas imensas.

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Voltamos pela Rota Turistica Sol Poente (CE-085-Chaval, Camocin) até entrar na BR-402 para Granja e rever a casa do avô paterno: um abraço, um suco e pé na estrada. Fomos por Acaraú, Amontoada. CE-354 para Itapipoca – a terra dos 3 climas-, Tururu, Umirim. A BR222 de novo para São Luis do Curu para pegar a CE-040 para pernoitar em Canoa Quebrada, na Pousada Missare. Fomos à praia pela manhã e Romildo aproveitou um OLA que estava escrito na falésia e meteu um G e um R em cima do O. Voltamos pelo litoral norte até Mossoró e de lá para João Pessoa.

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A viagem a Brasília, em julho de 2010, foi a 2ª mais longa viagem que fizemos. Em Pernambuco, passamos por Palmares, que havia sido devastada por uma enchente catastrófica,em junho, quando o Rio Una transbordou. Uma cratera tomou o lugar da Praça Ismael Gouveia, no centro da cidade. Comerciantes perderam tudo; moradores/as também. A cidade parecia ter saído de um bombardeio de guerra. Fiquei arrasada com aquele cenário cruel e chorei bastante. Seguimos viagem bem transtornados com aquela situação.

Passamos por Xexéu e Campos Frios-PE, e entramos em Alagoas: Joaquim Gomes, Messias, Satuba, Pilar. Almoçamos na simplória Satuba, onde a TV mostrava a derrota da Argentina para a Alemanha de 4x0, um dia depois de o Brasil perder para a Holanda por 2x1, na Copa do Mundo 2010. Pegamos a BR-101 passando por São Miguel dos Santos, Teotonio Vilela, Povoado Olho d’Água e Junqueiro. Entrando em Sergipe, vimos Propriá, Rosário do Catete, Maruim, Itaporanga d’Ajuda e Estância – “o jardim de Sergipe”, onde nos hospedamos no Hotel Tropi-

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cal, muito bom. Lanchamos na mesma rua do hotel, na Ita Lanches, um cheersburger, feito por Cleberson, que me surpreendeu! Dia seguinte, Umbaúba, Cristianópolis-SE. Na Bahia, passamos por Esplanada, Entre Rios, Alagoinhas e Feira de Santana para pegar a BR-116. Almoçamos em Ituberaba, na Churrascaria Monte Castelo, e seguimos viagem até a esplendorosa e linda Lençóis– outro lugar que me deixou fascinada! Entrada da Chapada Diamantina, a cidade é Patrimônio Histórico Nacional e tem uma arquitetura colonial muito elegante. Ficamos hospedados na Pousada Raio de Sol, indicação da irmã Lígia, com uma vista linda da cidade e do rio Lençóis que a circunda. Fizemos uma trilha pequena do Rio Lençóis, mas não sou de ecoturismo; portanto, ficamos desbravando a cidade e seu casario, suas ruas de paralelepípedos e pedras, muito limpas. Lugar de bons restaurantes e boas lojas variadas. Sentamos no Largo do BB para tomar cerveja e admirar a arquitetura em volta e o movimento da cidade. O Largo estava todo cheio de bandeirinhas verde-amarelas penduradas entre os casarões, pois era São João e Copa do Mundo. Parecia muito com as cidades históricas mineiras. Só tinha muito cão vadio. Almoçamos no restaurante Recanto do Bode, indicado por nosso amigo Saulo. Excelente comida! Fomos ao Morro do Pai Inácio, onde subimos 1km a pé. Esforço que valeu a pena ao avistar toda a amplidão da Chapada sob o sol que se punha no horizonte. Foi um espetáculo! Neste ano, Lençóis foi eleita como um dos 10 melhores destinos turísticos do Brasil. Até aqui, as estradas foram muito boas.

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LENÇÓIS-BA

MORRO DO PAI INÁCIO-BA

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O Guia 4 Rodas me acompanhou em todas as viagens: todo ano eu comprava o novo. Contudo, entramos em uma roubada de 320km à toa por conta de roteiro mais curto do Guia, que nos colocou em estradas de terra, desertas e assustadoras no interior da BA. Ficamos bem estressados. Na BR-242 de volta, de onde não deveríamos ter saído!, almoçamos em um posto de gasolina na estrada mesmo depois do stress. Um sol de rachar! E seguimos pela BR-242: Ibotirana, Cristópolis, Barreiras – há 40 anos era uma parada horrível do ônibus que vinha do Rio -, Luis Eduardo Magalhães, onde ficamos hospedados no ótimo Hotel Paranoá e comemos o famoso acarajé da Irene, exatamente às 18h, ‘hora do anjo’, quando o sino da igreja tocou as badaladas. Essas cidades são grandes, pareciam ricas pela variedade de caminhonetes 4x4 e efervescente comércio– e haja plantação de algodão e de soja! -, mas eram todas muito feias, caóticas e cafonas. A estrada passava no meio das cidades, o que tumultuava mais ainda! A BR-020 estava em obras, mas era muito boa e quase vazia de tráfego. Uma reta só. Em Goiás, vimos Posse, Simolândia, Alvorada do Norte, Santa Maria e Formosa até pararmos em Brasília. Almoçamos na entrada de Sobradinho, no restaurante do Posto BR, muito bom, cujo dono era um gaúcho. Cleide e Mamcaz nos recepcionaram com um maravilhoso jantar. Dia seguinte, fomos ver meu terreno Chácara Olga, nas Mansões Fazendárias. De lá, fomos encontrar Lígia no Jardim Botânico, que é um lugar muito lindo. À noite, fomos para o Bar Beirute e, depois, comer o acarajé de uma baiana na SQS 112. Uma delícia! Adoro acarajé!

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CHAPADA DOS VEADEIROS

Dia seguinte, fomos para Alto Paraíso, a caminho da Chapada dos Veadeiros, com Lígia, ouvindo Bob Dylan. A região é muito bonita, mas a estrada tinha alguns buracos sinistros. Almoçamos na Oca da Lila, comida vegetariana deliciosa, oferecida por Lígia. À tarde, fomos para as cachoeiras das Loquinhas – 800m de caminho com deck, descendo para poços maravilhosos, com quedas lindas. Lígia tomou banho em todos. Ficamos na Pousada dos Guias, da recepcionista Magda, que nos deu as dicas das cachoeiras. À noite, comemos uma pizza na agradável Pizzaria 2000, que era o lugar mais cheio da cidade, que não tinha nada à noite, e era 6ª. feira! A caminhada na Chapada dos Veadeiros foi de 18km, com um grupo de ótimas seis pessoas e a encantadora guia Jô. Só o caminho de 5km e 200m levou das 10h às 15h, pois era inóspito, vegetação de cerrado que não tem árvores com copas, não tem sombras, só muitas pedras, um horror para mim! Mas, pelo menos, o caminho era todo plano. Afora a secura da região que me fez beber toda a minha água. Ao meio dia paramos em um lago para comer os sanduíches com suco de laranja que compramos. Deu para a gente descansar por ½ hora, enquanto o grupo tomava banho. Aí seguimos para a Cachoeira das Carioquinhas (que se chamava Boa Sorte, até que umas cariocas ali se perderam...) Lígia e Romildo tomaram banho e eu descansei mais ½ hora nas pedras, sob uma sombra.

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Quando o passeio ali acabou, ainda fomos para as quedas São Bento e Almacegas II, no caminho. À noite, voltamos para a Pizzaria 2000 para um jantar oferecido por Lígia: nós comemos uma picanha e ela, peixe. Na volta para Brasília a estrada estava vazia. Fomos conhecer uma cidade-satélite nova que eu não conhecia, Águas Claras, cheia de prédios iguais. Almoçamos no Restaurante Ranchão. Depois passamos em Taguatinga, que não reconheci, pois era pequena e horrorosa e, agora, está grande e ainda horrorosa! Ficamos o resto do dia em casa, conversando com os queridos anfitriões. Dia seguinte, almoçamos com os queridos tios Clenir e Murillo, na recepção elegante de sempre. Depois fomos passear no Shopping Terraço Brasil e ver Bebel, que ainda trabalhava na Radiobrás, que funcionava também ali do lado, no Venâncio 2000. À noite, recebemos nossos/as amigos/as de Brasília no Bar Beirute. Fomos a pé com Cleide e Mamcasz, passando pelo metrô da 112/212. A noite foi maravilhosa, em uma confraternização emocionante para mim, com Ioleth e Ivan, Denise e a filha Daniela, Gilson e um amigo de Romildo, o Lauro. Cleozinha, Cinthia, Bebel e Augusta não puderam ir.

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No dia seguinte, fomos para o Lago Sul, almoçar no Marieta, um buffet muito ruim, com atendimento péssimo, apesar de o lugar ser muito agradável. De lá, fomos para a Ermida Don Bosco e depois para o CCBB – onde Lula estava trabalhando. Ali havia uma exposição da expedição de Langdorf no Brasil no século XVI. Os dois lugares são lindos! Seguimos para o Portal, onde havia mais de dez noivas tirando fotos, com um staff para cada uma. Tiramos muitas fotos delas e daquele lindíssimo lugar à beira do Lago Paranoá. Fomos para o Bar Beirute para Cleide e Romildo comerem o famoso e saboroso bife à Parmegiana dali. Eu e Mamcasz comemos divinos mini-quibes recheados com hortelã e iogurte. Fomos ainda passear pela Esplanada dos Ministérios, toda iluminada em seus monumentos: a Biblioteca, a Catedral, o Congresso Nacional, o Palácio do Itamarati, o Palácio do

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Planalto. Fomos também até o Palácio da Alvorada. Dia abençoado de despedida da ótima estada em Brasília – cidade que não gosto, mas onde tenho amigos/as que amo muito.

O retorno foi pelas mesmas estradas, só parando para almoçar e dormir quase em todos os lugares em que paramos na ida, só em Lençóis que tivemos que ficar na Pousada Aguiar porque a Raio de Sol estava cheia; e em Sergipe, que pernoitamos na bem cuidada e bonita Propriá, à beira do Rio São Francisco, no Hotel Imperial, uma linda casa colonial. As bandeirinhas do Largo, em Lençóis, já haviam sido retiradas. A diferença era que a BR-242 estava muito mais cheia de caminhões do que na ida e também na BR-101 havia muitas obras que nos faziam ir mais lentamente.

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Em 2012, fomos todos para o aniversário de 80 anos do meu pai, no Rio de Janeiro. A festa foi em um condomínio próximo de onde morava meu irmão Beto e família, na Barra da Tijuca; por isso, toda a família, inclusive os Tavares de Brasília e os de São Luís, ficou hospedada no Hotel Bourbon Barra da Tijuca Residence, que fica dentro do condomínio de Beto. Foi uma estada excelente e a festa foi o reencontro dos Tavares do país todo e dos/as amigos/as mais queridos do meu pai que comparecerem, mesmo de lugares mais distantes como Brasília e Porto Alegre. De João Pessoa, foram todos os integrantes da família, com exceção de Thiago.

Passeamos por Copacabana e Ipanema. Fomos ao Centro da cidade, que é sempre esplêndido e está presente nas minhas memórias afetivas. De lá, alugamos um carro para ir a Itajubá, onde nos hospedamos, apenas por dois dias, com os amigos-irmãos Andrea e Renato, que foram ao aniversário do meu pai. Seguimos viagem para Romildo conhecer Campos do Jordão/SP. No caminho, entramos em Paraisó-

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polis/MG para procurar um hospital, pois Romildo estava passando mal. Ficamos ali umas duas horas. Fazia um frio surpreendente para o mês de janeiro e ele pegou uma virose. E conhecemos duas velhinhas simpáticas que iam ao hospital todos os dias para conversar!!!! E vimos a espetacular formação rochosa Pedra do Baú quando passávamos por São Bento do Sapucaí/MG. Na bela e elegante Campos do Jordão, ficamos hospedados na encantadora pousada Recanto Paulista. Fomos andar pela Vila Capivari com sua arquitetura estilo germânico, com os lindos chalés ornamentados de madeira trabalhada. Vimos a casa de inverno do Governador de SP, o Palácio Boa Vista – que não é tão imperial assim! Retornamos pela Rodovia Dutra para visitar o Santuário de Nossa Sra. Aparecida e agradecer pela vida abençoada que tínhamos! Ainda fomos visitar os queridos amigos Loyde e Antonio em Itaipuaçu-RJ. COPACABANA

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Em 2012, com a Fiat Adventure Locker, a Serena, também fizemos novamente o roteiro João Pessoa-Natal-Fortaleza, passando pelas mesmas estradas e cidades que já tanto conhecíamos. De novidade, o ‘shopping da vaca’, em Macaíba-RN; tomar finalmente o café da manhã em Santa Maria, a ‘cidade dos cafés da manhã’; a duplicação da estrada Mossoró-Timbau (a governadora era de lá!); o passeio de buggy com o bugueiro Didi, em Canoa Quebrada, ‘sem emoção’, bien sûr! ; a passagem por Aracati para ver o casario colonial, mas a cidade estava mal cuidada e muito suja; atravessar o Rio Jaguaribe – o maior rio seco do mundo – quase seco mesmo, como há 40 anos atrás, na 1ª. viagem Indiana Jones Tupiniquim do meu pai; a duplicação da CE-040 na entrada de Beberibe, que ficou ótima; em Fortaleza, ficar no Hotel Beira-Mar, na orla da praia do Meireles, de excelente hospedagem.

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Em julho de 2013, aniversário de 50 anos do querido primo Marcio, em São Luis, seguimos de avião, indo por Recife. Os Tavares de João Pessoa e de Brasília compareceram e ficamos hospedados no mesmo hotel também: Brisa Mar Hotel e Spa, à beira-mar de Ponta d’Areia. A festa foi maravilhosa e reunir todos/as os/as primos/as novamente sempre é uma emoção especial (só faltou Murillo Jr.). Desde crianças temos esses encontros familiares que reforçam nossos laços parentais e de amizade fraternal.

Passeamos pela cidade com os primos e sobrinhos que estavam de carro: fomos para o belo centro da cidade, para a área dos poderes governamentais, com o imponente Palácio dos Leões e a linda Igreja da Sé como a melhor recepção da beleza do lugar. Passamos pelas ruas da minha memória afetiva de infância e adolescência: Rua do Sol, Rua das Hortas, Rua Coelho Neto, Rua Rio Branco e a Praça Gonçalves Dias com a graciosa Igreja dos Remédios, onde meus avós paternos se casaram.

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Fomos no Projeto Reviver, na Praia Grande, e no imponente prédio do Ceprama, com sua majestosa chaminé, construído com telhas francesas e estruturas de ferro confeccionadas na Inglaterra –era a antiga fábrica de cânhamo do bisavô Almir Neves e associados, avô materno do meu pai -, com artesanato local um pouco diferenciado. O prédio restaurado na década de 80 é um primor da arquitetura luso-açoriana, com 3000 m², mas que se encontrava sem manutenção e com sinais de decadência. Lamentável! Dinheiro do contribuinte jogado no lixo da indiferença e do desapreço. Isso porque uma só família política ficou 60 anos no poder e tanto a cidade quanto o Estado são exemplos de má gestão e inoperância sociocultural. Em 2013, o Maranhão já liderava o ranking de “extrema pobreza do país” e, assim, o foi por sete anos seguidos (fonte: https://valor.globo.com/ brasil/coluna/extrema-pobreza-avanca-e-e-recorde-em-9-estados. ghtml ) Como maranhense, sempre senti muita vergonha por isso, pois é um lindo Estado e uma capital como poucas no país, com seu luxuoso conjunto arquitetônico colonial e seu acervo de azulejos pouco apreciado pelos políticos locais. São Luís é chamada de “a cidade dos azulejos”, inclusive.

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Em setembro de 2013, fomos passar meu niver em Porto Alegre e também as nossas férias com Vinicius, filho de Romildo, que mora naquela bela cidade. Saimos de Recife às 12h30 e chegamos em POA às 19h. Vinicius nos aguardava e nos levou para o Hotel Lido, na Rua General Andrade Neves, rua-homenagem ao avô do meu querido amigo Luiz Fernando (in memorian) – simples, mas muito limpo e bem localizado. Chegamos na Semana Farroupilha e fomos à feira quase todos os dias. O Parque Redenção é um espetáculo e andamos muito por ele. O povo gaúcho também é mal educado ambientalmente e o lago do parque estava cheio de sacos plásticos! E havia muitas latas de lixo em todo o parque...

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Dia seguinte, almoçamos com Vinicius um churrasco na Feira; depois ele nos levou na Catedral Metropolitana para agradecer mais um ano de vida. À noite, saímos com os queridos amigos Ricardo e Maró, pela beira-rio, e vimos o futuro estádio da Copa em construção e o pôr-do-sol. Maró olhou para o céu e apontou o que Lígia pediu que eu prestasse atenção naquela noite: a lua e a estrela entrelaçadas, igual ao símbolo de Canoa Quebrada. Foi meu presente de aniversário: a lua e o planeta Vênus, que é a Estrela Dalva, o planeta mais brilhante. A lua de frente para Vênus. Fomos para o Barra Shopping, onde lanchamos em uma cafeteria e depois fomos ver a Fnac, que se tornou um bazar multiuso e a livraria ficou bem pequena!

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Ao redor do hotel era o centro da cidade, com a Prefeitura, o Mercado, o Cais, a Estação de Ônibus e Trens – pelos quais andamos, tiramos fotos. O Mercado era excelente, muito sortido, limpo e agradável. Íamos fazer o passeio de barco pelo Guaíba, mas ele estava em reparos, então fizemos uma ida-volta de catamarã– uma travessia de 20’– até Guaíba. Deu para ver POA do rio. A cidade é muito bonita, o rio é lindo, apesar de sujo. De lá, tomamos o trem para São Leopoldo, mas descemos em Unisinos para ver a Universidade e voltamos, pois o trem estava muito lotado e desconfortável. Ainda fomos no Bairro Sto Antonio, onde Romildo morou. Tomamos o ônibus canal 10 ida e volta, mas o da volta quebrou e trocamos de ônibus. Foi realmente um Dia de Turista! À noite, saímos com Vinicius para o shopping Praia Belas, onde lanchamos. Ainda saímos com Ricardo e Maró para almoçar no Palácio do Buffet, um maravilhoso almoço que eles nos ofereceram. Alugamos um Gol 1.0 vermelho para viajar pelo Estado do RS. O primeiro destino foi Cambará do Sul, nos Aparados da Serra. Romildo alugou um GPS que acabou nos fazendo perdidos no roteiro. Tivemos que voltar alguns quilômetros para retomar o caminho que queríamos, que era ir por Gramado, Canela etc., com o guia 4 Rodas mesmo! Contudo, a estrada estava lotada – era um carro atrás do outro! -e levamos muito tempo para chegar em Gramado! Comemos em um restaurante na estrada mesmo, muito bom, polenta sequinha, carne suculenta, suco de vinho. As estradas eram ótimas, mas os pedágios caros não se justificavam pela quantidade de queimadas que vimos e que nos impressionou bastante.

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Cambará é uma cidade de sete mil habitantes que não tem absolutamente nada. Maltratada, feia, de casario sujo, parece que parou no tempo. No entanto, ficamos na charmosa Pousada das Corucacas, uma espécie de fazenda com criação de ovelhas e muitos pinheiros. Lugar lindo! Só faltou a TV no quarto...Fiquei lendo Fernando Pessoa, no meu tablet: “Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. Sentir tudo de todas as maneiras. Sentir tudo excessivamente...” A atração é o frio, pois chega a nevar no inverno. O que visitamos de interessante foi o Cemitério local, onde os mortos ficam em casinhas, cada uma mais linda que a outra. Elas têm portas, janelas com cortinas, telhados, são decoradas no seu interior. Achei de uma delicadeza, de uma enorme deferência aos mortos daquela pequena cidade.

Fomos, então, para os cânions do Itambezinho, em 17km de terra boa, mas dentro do parque tudo era pavimentado. Pegamos uma trilha pequena para ver os espetaculares cânions. Não havia ninguém! Íamos voltar de Itambezinho por Praia Grande, mas a estrada estava cheia de pedras e desistimos. Foi bom, pois, em Cambará, vimos o pneu furado do carro que foi consertado no posto local em 20’. Depois, pegamos a “Rota do Sol” – uma estrada fantástica! A descida da serra era muito linda! Estrada ótima, uns túneis incríveis que homens fizeram. Ai a gente tem que valorizar a grandeza dos homens que desbravam, se arriscam e constroem coisas maravilhosas assim. Paramos para conhecer Torres,

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com sua orla toda de arranha-céus. Assustadora! Vimos as Torres na praia da Guarida, que se paga R$5 para entrar. Havia muitas casas de praia também, muito bonitas, grandes, mas vazias. Muitas casas e apês à venda. No comércio também havia muita loja fechada. Os quiosques na praia estavam todos fechados. Havia um cemitério semelhante ao de Cambará. Não encontramos um restaurante bom aberto para comer. Seguimos para Shangrilá e vimos semelhanças: condomínios de casarões, paredões de edifícios – tudo vazio! Vimos mansões mesmo, com jardins enormes e piscinas totalmente fechadas. Pensamos como tinha gente rica naquela região! E que só devia aparecer ali no verão...Fomos para Tramandaí, uma cidade mais horizontal, onde encontramos vida, gente, uma orla muito simpática com casas e prédios menores. Achamos um hotel com um dono superlegal, que nos deu ótimas dicas da cidade. Mas o quarto era horrível e eu nem consegui tomar banho! Porém, o restaurante que ele indicou era de primeira. Sugeriu que fossemos conhecer a orla da barra do rio que divide Tramandaí de Imbé – outra cidade cheia de casas vazias e à venda. O proprietário do hotel nos disse que essas cidades-fantasmas mudam o cenário totalmente no verão, quando ficam cheias de gente, de engarrafamentos, de filas. Também em grandes feriados e fins de semana quentes. Outra dica boa desse senhor gentil foi subir no Mirante Osório, na Rua Romildo Basan. De lá, se via todas as praias. O caminho era deslumbrante! De volta a POA, almoçamos com Ligia, Ricardo e Maró novamente no Palácio do Buffet. De lá, eu, Romildo e Lígia fomos para a Casa de Cultura Mário Quintana, outro darling literário, na Rua da Andrada, chamada Rua da Praia. A Casa estava em obras, mas subimos até o 7º andar e descemos um por um até o 2º., onde está o quarto que o poeta morou boa parte da sua vida. Depois cada um de nós foi fazer alguma coisa particular: Ligia foi para o bairro Moinho dos Ventos encontrar um amigo, Romildo foi para a Feira Farroupilha de novo, e eu fui andar pela Rua da Praia até o Gasômetro e voltei para a Casa de Cultura para ver o filme Flores Raras, com Gloria Pires, que adorei. Depois fui encontrar Romildo e Lígia no bar em frente ao Hotel Lido, o Vienne – onde lanchamos e onde Romildo tomava seu chopp diário.

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Pegamos Claudinho, um amigo de infância de Lígia, filho de militar também, professor da UFF, mas de família gaúcha, e fomos conhecer alguns lugares da cidade. Ele foi dirigindo o Gol porque conhecia os trajetos. Pedi que fossemos ver a rua mais bonita do Brasil: a Rua Gonçalo de Carvalho, no bairro Independência, com uma quantidade grande de árvores Tipuanas ao longo dos seus 500m, que se enchem de flores na primavera. Estavam quase peladas, mas ainda assim foi a rua mais bela que já vi! Tem sites turísticos que a apontam como a mais bonita do mundo. Seguimos nosso tour, parando primeiro em Ipanema, uma praia do Rio Guaíba, que não dava mais para banho, mas era linda, com uma calçada bacana para caminhar. Atravessamos a cidade para chegar lá e vimos toda a parte sul. Passamos por um bairro chamado Tristeza. Almoçamos na Galeteria Bambino, em Petrópolis, onde comi o melhor galeto da vida, com polenta frita, salada e suco de laranja. A sobremesa era o famoso doce de leite Mumu e ambrosia. À tarde, Romildo deixou o carro na garagem, saímos a pé. Eu, Lígia e Claudio fomos para o Santander Cultural ver uma das mostras da Bienal do Mercosul. Fiquei irritada com algumas instalações guiadas: acho inoportuna e inútil uma arte que precisa ser explicada por um guia! Seguimos a pé e paramos em frente à Sede dos Correios e Telé-

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grafos para ver a performance improvisada de três jovens, criticando a desapropriação de terras em uma área da cidade para construir algo para a Copa do Mundo. Era uma crítica bem inteligente. Gostei demais! Pegamos um taxi para ir ao Gasômetro para pegar o barco para navegar pelo lindo Rio Guaíba, muito sujo e poluído, com suas dezenas de ilhas com casas muito boas e também com casas muito pobres. Passamos pela polêmica Ilha das Flores, outrora lixão da cidade, tema de filme de Jorge Furtado, considerado um dos cem melhores filmes brasileiros pela Abracine. O passeio proporciona vistas lindas da cidade. É uma cidade solar. Foi fundada por açorianos e se chamava ‘Porto dos Casais’ (de açorianos/as que ali chegaram). Ou seja, é uma cidade portuguesa, com certeza, pá! Alemães, italianos, poloneses e afins foram para o interior do Estado. Por isso, há tantas construções semelhantes às portuguesas na cidade. No Bairro de Santo Antonio, havia muitas casas iguais às de Portugal. E não há, na cidade, gente loura, e, sim, branca de cabelos pretos. E também há muitos/as negros/as. Muito bonitos/as, aliás. RUA SÃO GONÇALO DE CARVALHO

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Com Lígia e Vinicius fizemos o roteiro da Rota Romântica da Serra Gaúcha. Fomos direto para o Vale dos Vinhedos – de paisagem lindas, cheias de parreiras -, onde paramos na Vinícula Salton, onde Romildo, Vinícius e Ligia fizeram degustação e eu passei a dirigir o Golzinho duro que alugamos. De lá, fomos para o Vinhedo Miolo – um dos mais famosos do país. Fizemos o tour pelos barris. Acho tudo uma chatice muito grande, muito marketing mitológico. Os três ainda fizeram aula de degustação que durou ½ hora. Adoraram. E eu andando pela bela propriedade. Depois que li “O Andar do Bêbado”, de Leonard Mlodinow, de como o acaso determina nossas vidas, tudo isso para mim ficou mais bobagem ainda, como balançar o vinho no copo, cheirá-lo antes de provar apenas um gole, enumerar os sabores do buquet do vinho. Eu aprecio vinho, mas acho esses rituais bem enfadonhos. E o que eu gosto mesmo é de champagne! Dos vinhedos, seguimos para o caminho das pedras – cerca de 60 casas de arquitetura italiana com várias especialidades: a casa do chá, a casa da ovelha, a casa das

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massas, a casa das malhas etc.. Na casa da erva, vimos todo o processo do chimarrão. Entre elas, também está a casa do excelente filme O Quatrilho, com Glória Pires. Todos/as moram onde trabalham, são os/ as donos/as das casas. Ficamos no Hotel Primavera, em Bento Gonçalves. Fomos de taxi para a noite, onde encontramos um bar ótimo com música incrível. Até Lyniyrd Skynyrd tocou! Dia seguinte, pegamos a Maria Fumaça de Bento Gonçalves para Garibaldi. No trajeto, houve a apresentação de um grupo teatral, uma tarantela, uma dança gaúcha, músicas gaúchas – um sistema de turismo superprofissional, pessoal atencioso e educado. Foi uma boa diversão, pois o trajeto em si mostrava o fundo das cidades, como a maioria dos trens urbanos aqui no país, não havia paisagens. A última gare foi a de Carlos Barbosa – ex-governador do RS. Lá tomamos um ônibus para voltar. Em Bento Gonçalves, houve a apresentação da história da família de Lázaro Giordani – ascendente da família da empresa do tour: Epopeia Italiana, no parque temático. Eu fiquei muito emocionada porque as histórias das imigrações no Brasil são muito bonitas pela força, coragem, desprendimento de quem veio para cá. Em 1875, o RS começou a ser povoado por imigrantes italianos e, até 1900, mais de 10 mil chegaram para trabalhar nas serras gaúchas. Garibaldi, por exemplo, a capital nacional do champagne, também foi colonizada por franceses e sua uva é igual a deles. Talvez por isso possam ser chamadas de champagne, pois as outras não podem, então, chamam de espumante. Passamos por Farroupilha – a capital nacional da malha. Ali almoçamos em um buffet e depois fizemos os “Caminhos da Colônia”, sem nada de especial. Caxias do Sul é a cidade mais importante da Serra Gaúcha e é a 2ª. mais populosa do Estado. A Catedral é esplendorosa e fica na Praça Dante Aleghieri, igualmente bonita – é o espaço público mais antigo da cidade. O Monumento ao Imigrante é bem majestoso, com uma paisagem bucólica de moldura. A Casa de Pedra é a coisa mais fofa, muito bem conservada. Demos um giro apenas pela cidade, pelos pontos turísticos mais importantes. Voltamos a POA para deixar Lígia e Vinicius. Rearrumamos as malas para partir novamente no dia seguinte.

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Rumo ao Sul do RS, pela lendária e extensa BR-116, com pedágios caros em estradas de asfaltos remendados. A primeira parada foi no charmoso balneário de São Lourenço do Sul à beira da Lagoa dos Patos – a maior da América do Sul. Almoçamos em uma churrascaria à beira da Lagoa, admirando a sua grandiosidade e beleza. A cidade é mais uma ‘fantasma’, pois, como a maioria delas no litoral, o movimento é nas férias, nos feriados e fins de semana quentes. A rádio 104,3 local tem locução em português e em alemão. A partir de Pelotas – considerada uma das capitais regionais do Brasil e ‘capital nacional da doceria’ (transformada, em 2018, Patrimônio Imaterial do Brasil, pelo IPHAN, pela valorização da cultura do doce), também chamada de “Princesa do Sul”, as estradas ficaram muito boas, valendo a pena o pagamento dos pedágios. Claro que compramos muitos doces para trazer, demos uma volta na elegante cidade, entramos no lindo Mercado Central em estilo neoclássico, de 1848, localizado no Centro Histórico. No Mercado também está a tradicional Doceria Imperatriz. Em volta, vimos a Catedral Metropolitana São Francisco de Assis, o Theatro Guarany, de 1920 e o requintado Café Aquários. Mas foi na Rua do Chafariz que comi um irrestível quindim com chocolate na doceria Pingo Doce. Adoro quindim e chocolate!

PRAIA DO CASSINO - RS

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Final da tarde chegamos na maior praia do mundo, a praia de Cassino, com 220km de extensão, dos quais 180km são totalmente desertos. A cidade é pequena, mas graciosa, tem uma aleia de árvores que atravessa toda a Avenida Rio Grande, a principal. Sentamos na Choperia Sabor do Mar, nesta avenida. Cardápio do dia: ser feliz! A Rádio 97.1 de Pelotas anunciava formação de ciclones no Uruguai e uma queda de temperatura na região. A previsão era uma máxima de 13º e mínima de 7º. Realmente ventava demais em Cassino. Seguimos viagem, pela BR-471, para Chui, passando por paisagens lindas e desertas. A Reserva Nacional do Taim – o pantanal gaúcho – é uma estação ecológica localizada nos municípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, administrada pelo ICMbio. É de uma beleza inenarrável. Fiquei muito emocionada com a grandiosidade e a estrada cortando tudo aquilo, era paisagem aquífera dos dois lados. A velocidade permitida é de 60km, mas andamos muito devagar por ali, a 30/40km, exatamente porque havia algumas espécies, como as capivaras, que andavam na estrada, fora as espécies que passavam voando! O número de mortes de animal é muito grande e é lamentável, pois as pessoas não respeitam aquele santuário ecológico. Há túneis para os animais passarem, mas vai explicar para eles que devem passar somente por ali? É o espaço deles, nós somos os invasores para nutrir nossa vaidade turística. Ali deveriam ter controles de velocidade de 20km e câmeras de monitoramento! Em 2017, a Reserva foi reconhecida como uma das principais áreas ambientais do mundo. Foi um trecho da viagem de total apreciação e sintonia com aquela natureza vigorosa e bela. Na feiosa Chuí – a cidade mais meridional do Brasil, no extremo Sul -, acabamos fazendo muitas compras de perfumes franceses (será?) para mim e roupas de grife (!!!!) para Romildo, nos free shops locais. Almoçamos em uma churrascaria, do lado uruguaio (não anotei o nome! não deve ter sido bom...) e jantamos uma lasanha com vinho no acolhedor Bar Tango, do lado brasileiro. As duas Chui e Chuy são maltratadas, sujas, feias e cafonas. Trânsito intenso e se fala mais espanhol dos dois lados. Gastei meu ‘portunhol’! Ficamos em um hotel muito ruim, mas bem localizado, o Bianca Hotel. Ali não volto nunca mais...

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Salindo de la ciudad, na BR-471, paramos na Lancheria Costa Doce para tomar um suco e ver o roteiro para Rio Grande, que é a cidade mais antiga do Estado, a primeira fundada pelos portugueses na região – “é onde nasce o RS”. Passamos por Santa Vitória do Palmar, onde ouvi a rádio 90.3; por Camaquã, onde tem a fábrica da BlueVille, com dois enormes silos de arroz; por Tapes, com a BR-116 em obras para privatizar (pagamos 2 vezes para andar aqui: o imposto para o Governo Federal e o pedágio para o sortudo “amigo do rei” que vai ganhar a concessão!). Não vimos a Lagoa dos Peixes, que fica na BR-101, entrada pela cidade de Tavares – o que eu queria conhecer mesmo era a cidade do meu nome, mas ‘engolimos mosca’ neste trajeto! Rio Grande é uma cidade simples, portuária – é o 4º. porto com maior movimentação de cargas do país -, mas de importante acervo arquitetônico: vimos a linda e histórica Catedral de São Pedro, de 1755, em estilo barroco, a mais antiga do Estado; andamos para ver o casario da cidade, com predominância para o barroco e neoclássico. Adoro casarios! Vimos ainda o bonito Mercado Público - um dos mais antigos do RS, em estilo neoclássico, muito modesto por dentro; e a Praça Tamandaré, apontada como a “maior praça de uma cidade do interior do RS”. A cidade antiga tem o 1º. Farol do Estado, o Capão da Marca, inaugurado por D. Pedro II; o time de futebol mais antigo do país, o Esporte Clube Rio Grande; e que já foi capital do Estado na Revolução Farroupilha. Ali também teve a 1ª. mulher formada em Medicina, no Brasil, em 1887, Rita Lobato Velho. Na volta, paramos na Tenda do Gordo, na BR-116, KM 359, para comprar salames e torresmos. Deliciosos!

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BR-116 KM 359 Em Porto Alegre de volta, encontramos os amigos de Romildo no apartamento da doce Eunice. Fomos com Vinicius. O casal Jorge e Beth era muito alto e bonito. Eles levaram a filha Danielle. Depois chegou a divertida Soraia, com o marido Gino e o filho Tony. Pessoal supersimpático e bem-humorado. Foi uma noite maravilhosa que durou até às 4h da manhã! O tom curioso ficou por conta do jovem Tony defendendo a democracia e Jorge defendendo a ditadura de Cuba! E ainda fomos, antes de retornar a João Pessoa, até o supermercado Zafary para comprar Mumu, o doce de leite mais gostoso que já comi na vida! Depois fomos devolver o Gol vermelho que alugamos para andar nestes incríveis dias em solo gaúcho, por mais de 3 mil km. Só faltou conhecer as Missões...

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RIO GUAIBA

Além dessas viagens, havia aquelas com a minha família por hotéis e resorts por aqui pelo NE e com os/as amigos/as. Fomos para o Praia Bonita Resort, em Nisia Floresta-RN, com meus pais, irmãos e sobrinhos. Para o Serrambi Resort, em Porto de Galinhas-PE, onde até a pequena Esther – neta de Lígia - de um ano de idade foi. Também fomos para a Pousada Brisa Mar, em Barra de São Miguel-AL, somente com meus pais, que gostavam muito daquele lugar e conheciam os proprietários da simpática hospedagem. Com os/a amigos/as Sandra, Carlos e o filho Icaro, Iolanda, Elto e o pequeno Augusto fomos para a Pousada Preguiça, em Pipa, quando ali encontramos Setúbal, irmão de Romildo, e sua adorável esposa Doriana. E ainda as viagens a Natal para ver a família Setúbal e, às vezes, reuni-los juntamente com amigos/as, na área de lazer, no meu apartamento no Condomínio Natal Brisa. PRAIA BONITA RESORT - RN

SERRAMBI RESORT - PE

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Curiosidades: em todas essas viagens feitas aqui no NE, constatamos ausência total de Polícia Rodoviária Estadual na PB, PE, RN, CE, PI e MA. Contudo, muitas das estradas estaduais estavam em melhores condições que as rodovias federais que andamos. Trechos enormes sem acostamento e sem sinalização para a noite. Na maioria das PRFs, os profissionais estavam dentro das cabines. Em épocas festivas (juninas, feriados), a PRF fica sob árvores para multar cidadãos/ãs que estão acima da velocidade. Quel dommage! Placa “estrada danificada” – por que não conserta? Na BR-101 RJ km 94, havia um censor eletrônico 50km depois de uma curva. Enquanto as estradas estaduais do CE estavam em péssimas condições, o Governo do Estado comprou 200 SW4 Hilux para a PM. E o povo sem estrada para trafegar! Tirando as capitais e algumas cidades litorâneas, as cidades do interior não trabalhavam com cartões de crédito, somente dinheiro. A sinalização urbana das cidades ainda ficava muito a dever, como Recife, por exemplo, que nos fazia perder muito tempo procurando ruas que não tinham placas, lugares conhecidos que não tinham indicação etc.. Nas estradas de pedágio do RS não havia nenhum apoio como existe nas rodovias de SP e na Rodovia Dutra.

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Capítulo 09 Colecionadora de boas memórias dos melhores lugares.

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CONGRESSOS & AFINS: MATO GROSSO DO SUL/ PORTO ALEGRE/CURITIBA/NATAL/BELO HORIZONTE/ JOINVILLE/RECIFE/JAPARATINGA/VIAGEM AO PROJAC

"A viagem é fatal para o preconceito, o fanatismo e a mentalidade estreita". Mark Twain

A

ntes de iniciar minha trajetória acadêmica nas IFES, eu fui professora do Curso de Letras da FEPI – Fundação de Ensino de Itajubá, na década de 90 do século 20. Em paralelo, eu fiz os cursos de Mestrado e Doutorado na PUC-SP. Participei de muitos eventos; contudo, não há registros deles. As poucas fotos que ainda tenho são: compor uma banca de concurso para professores na Faculdade de Poços de Caldas, junto com a amiga Rita Trindade; promover uma viagem ao Rio de Janeiro com alunos/as para ver uma exposição sobre Freud, no Museu Nacional de Belas Artes; ministrar um curso de Semiótica do Discurso Político, na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul; e participar de um Seminário sobre Mitologias, no Hotel Glória, no Rio de Janeiro, com o amigo Eduardo Davel.

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Nas IFES (UFRN e UFPB), foram vários congressos, simpósios, encontros, palestras, bancas, cursos e afins durante os 20 anos de magistério (com os 11 anos da FEPI, somam 31). Vou mostrá-los aqui para conferir os lugares que estive a trabalho, sem prescindir de socializar com os pares e passear pelas cidades que eu gostava de conhecer. Infelizmente, não tenho registro de muitos desses eventos... A viagem ao PROJAC-TV GLOBO, ,em 2006, foi um convite da emissora para que um grupo de professores/as do DECOM-UFPB visitasse suas instalações, na intenção de firmar uma parceria mais amigável entre a comunidade universitária e a TV mais criticada por ela. O único efeito que surtiu em mim, crítica desta TV hegemônica e manipuladora, foi parabenizar a organização do lugar, a logística funcional, o espírito profissional e técnico que a distingue das outras emissoras.

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Com o grupo de colegas da UFPB, fizemos alguns passeios pela cidade, pois havia carro disponível para os/as convidados/as da emissora. Foram dias muito prazerosos. Houve outras viagens a trabalho que igualmente uniam o dever ao prazer, como o Intercom 2009, em Curitiba-PR, e o Intercom 2018, em Joinville-SC. Esse Congresso Nacional da área de Comunicação ocorria sempre em setembro, na semana do meu aniversário. Nesses dois anos, eu me dei de presente passar uma semana em cada lugar. No de Curitiba, andei no bus sightseeing e vi todos os principais pontos turísticos. Em um dos dias, Virginia, do Decom-UFPB, me acompanhou. Foi um dia ótimo! Fui também a Morretes em uma deliciosa viagem de trem. No de Joinville, fui ao Beto Carrero World com Norma e Isis, sua linda filha, e também fizemos um passeio no Barco Príncipe, pela Baía Babitonga, parando na Ilha de São Francisco do Sul para um passeio pelo seu Centro Histórico, que possui o maior número de prédios tombados de Santa Catarina, pelo Patrimônio Cultural, quando a professora Eliane (a Nane), da UESC-BA, nos acompanhou. INTERCOM 2018 - JOINVILLE

CURITIBA

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S. FRANCISCO DO SUL - SC

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No Congresso de Semiótica (CISECO-2018), fui no carro de David, com Suelly e Dinarte para Japaratinga-AL. A ida já foi uma “viagem”, parando em lugares ótimos para comer. Na charmosa cidade, encontramos outros/as colegas da UFPB e almoçávamos e jantávamos juntos.

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JAPARITINGA - AL

O lançamento do livro Mata Atlântica nas Escolas, organizado por Lígia Tavares, minha irmã, sob minha revisão e com alguns textos com alunas, no Rio de Janeiro, em 2015, também fez com que aproveitássemos a cidade. Hospedadas no Jardim Botânico, fazíamos caminhadas matinais ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas ou pelo Parque Lage, íamos a pé para a praia do Leblon e para o Jardim Botânico, e almoçávamos nos bistrôs criativos de Ipanema.

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Ainda unindo o dever ao lazer, a ida a São Luis-MA, com os professores David e Pilar, para a banca de professor-titular do doutor Silvano Bezerra, a qual fui presidente, onde revi a família e a querida amiga Thais e sua filha Marina, foi muito prazerosa. Silvano e Martha, sua adorável esposa, nos levaram para um tour pela cidade e foi uma manhã maravilhosa juntos.

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PORTUGAL PESQUISA PÓS-DOC: AVEIRO E VÁRIAS CIDADES DE PORTUGAL, ESPANHA E FRANÇA

"Onde meus talentos e minhas paixões encontram as necessidades do mundo, lá está o meu caminho, o meu lugar". Aristóteles Em 2010, tirei minha licença-capacitação para fazer pesquisas para o pós-doutorado na Faculdade de Comunicação da Universidade de Aveiro, em Portugal. Estava em um relacionamento sério, houve um certo stress de eu passar três meses fora, mas eu não podia perder mais essa experiência. Como viver uma temporada em Paris foi um sonho realizado, passar uns meses em Portugal seria outro sonho a realizar. Costumo dizer que os sonhos não precisam ser realizados, mas se podemos e temos como fazê-lo, por que não? Fiquei na Residência Dublin novamente, em Lisboa. O taxista que me levou do aeroporto era casado com uma moça de Ouricuri-PE e conhecia João Pessoa! Em Lisboa, passei uma semana andando pela cidade e reconhecendo seus pontos principais e suas mudanças pós-unificação europeia, com mais efervescência turística e cultural. Desta vez, como fazia em Paris, andei bastante de ônibus para ver melhor a cidade: 706 para Santa Apolônia; 794/759 para Praça do Comércio; 28E para o Parque da Estrela; 727 para Restelo e Belém. E visitei lugares que ainda não tinha ido, como Zoológico, Jardim Botânico d’Ajuda, Museu da Cidade – onde está a maquete do terremoto de 1755 -, shoppings Saldanha e Colombo. E conheci o excelente Jornal Público, mostrado pelo atencioso jornalista brasileiro que lá trabalhava, Ricardo Garcia. O debate nos jornais e nas TVs era a

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alta taxa de desemprego e o empobrecimento do povo. Havia uma carga dramática muito grande naquele povo melancólico. Como um povo que descobriu novas terras, cruzou todos os mares, dominou povos pelo mundo, sendo pequeno e tendo como maior fronteira o mar, poderia estar subordinado a países como Alemanha e França? Iniciava-se o outono...

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Em Aveiro – a “Veneza portuguesa”-, por indicação do amigo professor Severino Alves, procurei Uiara Martins – mais um anjinho da guarda no meu caminho-viajante, que estudava na Universidade de Aveiro, e ela me encaminhou à Casa 5 Bicas, que hospeda professores e convidados da UA, que foi onde fiquei por dois meses, a 30 euros/ dia, em uma suíte muito confortável, com café da manhã, TV fechada, internet e sala de estudo, a 15’ a pé da UA. Depois que fiz contato com os gentis professores Fernando Ramos e Pedro Almeida, da Faculdade de Comunicação, comecei a elaborar meu pré-projeto de pós-doc. Eles também me mostraram o CETAC-MEDIA, o excelente laboratório do curso, com atividades de investigação midiática em várias áreas. Aproveitava o tempo livre para desbravar a linda cidade, cuja Ria era um primor, cujas praias atlânticas eram enormes e de mar bravio – onde as mulheres faziam topless-, cujas ruas eram charmosas e muito bem-cuidadas (apesar das inúmeras guimbas de cigarros nas calçadas, -ainda?), com ciclovias e bugas (bikes) gratuitas para andar pela cidade toda, cujo shopping Forum era grande e agradável, com oito cinemas e uma Livraria Bertrand – a mais antiga do país (a 1ª. está em Lisboa). A cidade tinha poucos sinais de trânsito, mas todos/as paravam para a travessia de pedestres. E visitei o Museu de Aveiro – um antigo convento, com um órgão de 1784; o Museu Arte Nova; a Igreja da Misericórdia – onde assistia às missas das 11h aos domingos, onde os homens iam de blaser e o regente do coro, de terno; ao Mercado Manoel Firmino – grande, limpo e farto. As igrejas tocavam os sinos nas meia horas e nas cheias; as crianças conversavam com seus pais nos restaurantes, nos parques. Eu comia nos restaurantes universitários e pagava quatro euros por prato pronto,sempre muito gostosos, cada dia era um, e a sopa com pão custava um euro e 20 centavos. Eu assistia muito jogo de tênis na TV, quando ficava na Casa 5 Bicas. Nos fins de semana, viajava para as cidades vizinhas e/ou próximas, já que tudo ali era de pequenas distâncias.

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CASA 5 BICAS - AVEIRO

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A primeira viagem foi para Castelo Branco, para encontrar o amigo querido Sérgio Costa, que estava em Proença-a-Nova com seu pai. Fui de trem e de ônibus, passando por Entrocamento – onde desci para baldear e dei uma volta na cidade fechada para a sesta-, Abrantes, Vila Velha Rodão – cidadezinha bem graciosa, eucaliptos por toda a região-, Pompilhosa – com uma fábrica de cerâmica em ruínas ao lado da estação, Coimbra, Alfarelos, Pombal. O pai dele, seu Francisco, criador de pombos, me ofereceu um jantar com pombos ensopados e vinho da região – delicioso -, e convidou amigos e parentes. Foi muito cordial e acolhedor. Fiquei no Hotel do Francês, a 15 euros/dia, do solícito José, com uma paisagem deslumbrante de plantações e ovelhas, do meu quarto. A cidade tinha sete mil habitantes, mas era muito encantadora. A grande diferença de Portugal neste ano foi o incremento na infra-estrutura exigido pela CEI. As estradas foram alargadas, a maioria de mão única, com bons postos e restaurantes no percurso. Da mesma forma os trens, que ficaram mais modernos e mais rápidos; ia muito ao Porto e a Coimbra, pois ficava a uma hora de Aveiro e o ticket do trem custava quatro euros ida-volta, e pegava, às vezes,o bus sightseeing para não ter que subir e descer ladeiras, ou, em Coimbra, pegava o barco para navegar pelo Rio Mondego, com o espetáculo dos graciosos patos-reais nadando. PATOS NO RIO MONDEGO

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ALBUFEIRA

Conhecer a Sé da linda Braga foi emocionante porque é a mais antiga de PT e o metal do seu órgão é todo de ouro, e lá também encontrei a Sapataria Olguinha, na Rua São Marcos; várias ‘cidades-fantasma’ como Granja, Espinho, Estarreja, Ovar - mas cheias de carros nas ruas!, todas vizinhas de Aveiro; a beleza e nobreza de Guimarães – onde nasceu PT e é a capital religiosa do país – me emocionou bastante; em Viana do Castelo,parei na deliciosa Padaria Pérola, na rua da Igreja Santo Antonio, onde duas senhoras ficaram conversando comigo, falando mal do governo e da CEI; Albufeira é charmosa, de mar acanhado e manso, e tinha uma escada-rolante ligando a parte alta à praia; a emoção de conhecer o convento onde viveu Mariana Alcoforado, em Beja; Évora e sua história românica, com seus templos milenares, é Patrimônio da Humanidade pela UNESCO – chic, limpa e de povo afável, e ainda tem o queijo de ovelha, o Évora.

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BEJA

Santarém é muito maltratada: o famoso Teatro Rosa Damasceno, em art déco, estava totalmente abandonado, mas havia seis cinemas na cidade de 40 mil habitantes; em Setúbal, busquei as histórias da cidade para meu ex-sogro, Raimundo Setúbal, que nunca estivera na cidade de seus ancestrais; fui visitar Águeda por causa da amiga de infância Cláudia Águeda – e faz parte da região de Aveiro (23km de distância).

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Com o sonho de ir a Bilbao, na Espanha, só para ver o Museu Guggenheim, peguei um ônibus vazio para Salamanca. Atravessamos a Serra da Estrela, parada em Celorico para um lanche, depois em Guarda, que fica a 1056m de altitude, e na fronteira, região de La Mancha (E80). Fiquei no Hotel Conde David, Av. Halia, 67. Andei a esmo pela bela “cidade dourada”,que já conhecia e só passei uma noite. A Rodoviária ficava do lado contrário à Ferroviária. Fui de trem para Bilbao, passando pela famosa Valladolid, pela feia e árida região de Castilla, onde o trem fez parada na bonita Miranda de Ebro, na província de Burgos, por Izarra, e a vegetação começou a mudar para aparecerem morros cheios de árvores coloridas de outono, e por Ordunã, com montanhas de pedras, chapadões que me lembraram a Chapada Diamantina-BA. Bilbao se tornou uma cidade exuberante por conta do Museu, que tem similares em New York e Veneza. Fiquei na Pension Don Claudio, na Hermogenes Rojo,10. Foi a única cidade da Europa, até então, que não vi nenhum brasileiro! O Museu é uma obra-prima de elegância e beleza. Fiquei horas apreciando-o do lado de fora, ‘sacando’ fotos. O acervo não é tão interessante quanto sua arquitetura em si. Flanei pela cidade para ver como havia mudado a sua sociologia urbana cotidiana: ruas cheias de lojas de grifes, parques e praças, restaurantes refinados, prédios bonitos, gente bonita nas ruas.

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GUGGENHEIM BILBAO

De lá, segui para Paris, passando por San Sebastian e Hundaye. Passei poucos dias em Paris porque fazia frio e chovia. Tudo estava sempre lotado e/ou com filas. A Paris que eu vivi há 13 anos e conheci há 26 anos não existia mais! A CEI unificou também a mobilidade, as facilidades urbanas, e a infra-estrutura do continente. Mas ainda visitei um dos maiores shoppings da Europa, o Les Quatre Temps , na Paris 2000, La Defense, que eu nunca havia entrado porque o achava horroroso! A cidade estava cheia demais, não dava para andar na Av. Champs Elysées, para se ter uma ideia...Fui até a casa onde viveu Al-

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berto Santos Dumont, no número 114, e logo mudei de rumo. Então, fiz um tour a pé e de guarda-chuva pelos lugares da minha memória afetiva: Bastille; Rue Rosiers para ver perfumarias antigas; Hotel de Ville e passar pela Maison Victor Hugo, mais um darling; Notre Dame; Boulevard St. Michel com a Sorbonne; Jardim de Luxemburgo; Boulevard St. Germain, onde está a charmosa Librarie Polonaise, no número 123 – para lembrar o querido amigo Mamcazs-; Odeon; St. Germain de Près; Rue de Bac 140 (Medalha Milagrosa, assisti ao final de uma missa e lembrar de Marilia que me levou ali pela 1ª vez); Museus d’Orsay e Louvre (por fora); Chatelet e Beaubourg, onde tomei um metrô para a Place d’Italie, para recordar os dias que morei ali perto, na Rue Dr. Touffier. Dia seguinte ainda peguei o ônibus 63, na Gare de Lyon, para fazer um percurso semelhante do dia anterior. A beleza da cidade sempre me enternece: é realmente a “capital do mundo”, onde chegavam, só por avião, 48 milhões de turistas/ano.

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Para mim, viajar só ficou difícil, agora, porque antes eu não fazia planos com antecedência: chegava e sempre tinha um lugar para ficar em qualquer país, o que ainda ocorreu nas passagens pelas cidades de Portugal e da Espanha. Contudo, em Paris já não havia vagas nos hotéis que sempre fiquei... Passei por Barcelona, Madri e Salamanca novamente, de trens confortáveis, cheios de pessoas insalubres (cheiravam mal, tossiam demais), a caminho de volta, vendo pelas janelas Limoges, Toulouse, Girona, Granolle, Zaragosa, Guadalajara, Navalperal, Ávila, Penaranda. Entrei em Aveiro, sentindo que a depressão tinha chegado nesse percurso e ela ainda ficou comigo uns dez dias. E voltei a fazer meus passeios pela encantadora cidade que já consi-

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derava um lar, ia para a Praia da Costa Nova, em Ilhavo, a 12km de ônibus, passear pela orla e admirar a original e charmosa arquitetura dos palheiros de madeira de listras coloridas. Conta-se que, na cidade de pescadores, essas casas foram construídas, no início do século XIX, como armazéns de objetos de pescas. No ônibus a caminho de Viseu, defrontei-me com uma placa Chãs Tavares – que é uma antiga freguesia da cidade de Mangualde, mas que foi extinta e agregada à União de Freguesias de Tavares, em 2013 (Wikipedia).

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ESPINHO

BARCELOS

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E também minhas pequenas viagens ao redor, e ainda voltei a Proença-a-Nova para ficar os últimos quinze dias. Foi uma estada maravilhosa ali, onde fiz amizade com o senhor Virgilio, da Biblioteca, que me contava as histórias do lugar ou do país, falava muito em política e conhecia bem a do Brasil; almoçava com seu Francisco no TI-Zé; flanava pela pequena e pitoresca cidade: Igreja Matriz, onde ia à missa, a praia fluvial, os moinhos d’água. Ali havia muitos estabelecimentos com o nome TAVARES: drogaria, banca de jornais, cabelereiro, oficina de carro.

Em Lisboa, sem transportes, voltei a pé aos lugares turísticos nos dias que ali fiquei para pegar o voo para Natal. Em uma noite, com duas professoras da UFMA, Irlene e Glória, fui ao Fado da Esquina, na Alfama, para um ‘fado vadio’ excelente, onde vários cantores/as se apresentaram. Pegamos o bus sightseeing novamente para andar pela cidade em greve, no dia seguinte. E fui assistir Lago dos Cisnes no Gelo, no Coliseu dos Recreios. O voo foi cancelado e os/as passageiros/ as ficaram no Marriot Hotel (fiquei no quarto 927), onde Obama tinha se hospedado uma semana antes. Mais uma “Noite de barão, sem gastar nenhum tostão”. Entabulei conversa com uma simpática portuguesa, Vivi, que vinha ver o namorado em Natal-RN. Mas não consegui contatá-la depois...O jantar foi maravilhoso: um buffet sortido e saboroso. E o quarto era muito confortável. Excelente término de viagem!

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Curiosidades: 1º. de outubro – Dia Europeu da Depressão. Em PT, 20% da população morria por ano desta doença; instituído o casamento gay em PT, em 2010; as conversas nos celulares incomodavam muito porque os portugueses falavam alto, discutiam, contavam histórias – não tinham limites e ninguém reclamava!; levei o telefone celular de Rosário, que foi uma mão na roda!; li o livro Viagem a Portugal, de Saramago, na Biblioteca Municipal de Aveiro; 5/10 foi o centenário da República e 80% do povo disseram que não tinham o que comemorar, pesquisa da RTP; Vargas Lllosa ganhou o Nobel de literatura; ler os jornais e ver TV era ter uma jornalismo isento, correto e pontual, nada de sensacionalismos, exageros, tendências políticas etc.; os coletores dos trens andavam todos de terno e gravata; muitas casas, como em várias regiões da Europa, tinham suas plantações atrás e ao lado das casas; o Banco do Brasil do Porto, em lugar nobre – Av. de França 256 – não tinha utilidade alguma,pois não sacava dinheiro, só para ver

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saldo, ou seja, serviço zero!; a quantidade de enormes papéis gastos com senhas para comprar tickets, para ser atendido nos Correios, nas recepções, ou qualquer lugar, notas para tudo que se compra, que se consome etc., bom para o controle econômico, mas poderia reduzir o tamanho das notas; a maioria dos ônibus intercidades não tinha placa de destino; na maioria das cidades havia a hora da sesta, 12h30 às 14h ou 13h às 15h, inclusive as de souvenir para turistas!; o candidato à reeleição era Cavaco Silva, o mesmo que era primeiro-ministro quando ali estive em 1984! – temos a quem herdar!; havia piscinas públicas na maioria das cidades que passei – bonitas e em bons lugares; o salário-desemprego de 450 euros não tinha prazo como aqui (de três meses), então, os jovens se acomodavam e não procuravam emprego: isto era uma questão social muito discutida à época; grande quantidade de fábricas, armazéns e casas abandonadas em todas as cidades em que passei; 31/10 escrevi no meu diário: “RC governo PB; Dilma, Presidência. Extremamente feliz! Quem sabe, agora, viverei mais tranquila no Brasil?”; ônibus, rodoviárias, banheiros públicos – tudo muito limpo e organizado -, mas o povo era insalubre, a higiene pessoal continuava a ser um problema: tanto portugueses, como espanhóis e franceses fedem, têm os dentes podres ou não os têm em grande número, têm as mãos grossas e/ou gastas, e fumam muito; os/as leitores/as de livros nos trens acabaram, agora, somente leitores de celulares; não há gente gorda em Paris – homens e mulheres bem magros, inclusive os idosos, que fumam e tomam café demais; as gares de Paris, como em 1997, estavam todas com guardas bem jovens armados com metralhadoras, bem assustador; um espetáculo a negritude bonita na Tour Eiffel, vendendo souvenirs – mas todos tentando sobreviver no país que os escravizou, é revoltante!; Chico Buarque na capa do Publico – ganhou o prêmio Telecom Literatura, com “Leite Derramado”(10/11/2010); o país entrou em greve (10,9% desempregados/as e 20% da população empobrecida): o custo dela poderia ser de 400 milhões de euros; em alguns cinemas havia intervalo de 20’, também com cadeiras marcadas; algumas palavras que tive que aprender no dia-a-dia: palhinha =

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canudo, estou nas tintas = não tô nem ai, sarilhos = problemas, cacifo = armário, cancro =câncer, tarte = torta, tretas = conversa fiada, boleia = carona, autocarro = ônibus, travões = freios, sandes = sanduíches, ficheiros = arquivos, ecrã = tela cine, grelhas de TV = grades da TV, invisuais = cegos, portagem = pedágio, propina = pagamento, retretes = sanitários, bicha = fila, sanita = vaso, guião = roteiro, coima = multa. Dos dezoito distritos administrativos, só não conheci Vila Real e Porta Alegre. Portanto, conheci bem Portugal de trem e de ônibus. Portugal é feito de ladeiras – não havia cidades onde não se tivesse que subir e/ou descer alguma, como Porto, Coimbra, Viseu, Guarda e Lisboa superando todas!; as rodoviárias nem sempre tinham estação própria, algumas ficavam em pontos das ruas, como em Mangualde (onde se entra para o Chãs Tavares).

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EUROPA : PORTUGAL & ESPANHA "Não me leve a mal, me leve a Portugal". Anônimo Milagrosamente viajando para Portugal em um avião vazio, no dia de Natal de 2015, onde fui dormindo esticada no banco do meio. Cheguei no Aeroporto da Portela, com Lisboa a oito graus, com um sol estupendo. Novamente no Residencial Dublin, na Rua de Santa Marta, 45, com seu Virgílio ainda na portaria. Fazia 18 anos que eu me hospedava ali. Encontrei a cidade lotada de gente nessa época natalina, pois Lisboa se tornou uma cidade segura em meio aos riscos terroristas de outras capitais mais atrativas turisticamente, como Londres e Paris. Mas tem um preço: vi pessoas pedindo dinheiro na rua... Voltei a percorrer os caminhos tão familiares e com os quais me identificava bastante.

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Em um dia de semana, peguei um bus sightseeing por puro comodismo: descia onde queria, andava, almoçava e voltava ao percurso. Descobri novos lugares: Restaurante Ver Lisboa, em Belém, de comida muito boa; flanar pelo bem-cuidado Jardim Botânico; passar uma manhã no agradável Jardim da Estrela e ver a Estátua de Pedro Álvares Cabral – na rotatória antes do Jardim; conhecer a Casa de Fernando Pessoa – finalmente aberta -, onde me emocionei bastante; da mesma forma foi a emoção na Fundação José Saramago, na Casa dos Bicos, onde passei horas – ainda comprei o livro Viagem a Portugal, que só tinha em espanhol – e ainda fiquei vendo seu túmulo sob uma bela figueira em frente à FJS (como o de Karen Blixen, na Dinamarca); comemorar o niver da prima Gabriela com seus amigos em um bar irlandês que só vendia bebidas, nada para comer (como em Londres!); conhecer o bonito e charmoso Museu do Azulejo – onde vi os ladrilhos mais antigos de Portugal e, depois, tomei um café com bolo com profiteroles no belo jardim; almoçar no Mercado da Ribeira com a linda Gabriela;

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ouvir um ‘fado vadio’ na Tasca do Chico, na Rua Diário de Notícias; ir na elegante Companhia Portugueza do Chá, na Rua Poço dos Negros, 123; ir ao Santuário de Fátima com Gabriela, em um dia de Reis chuvoso e frio, para ver a nova Basílica que tem um Cristo muito feio e uma Nossa Senhora de Fátima estilizada; ouvir música e beber um vinho com a determinada e inteligente ex-aluna-orientanda Fernanda Gurgel no bar “Primeiro Andar”, na Ladeira do Teatro Santo Antão; jantar na casa de Gabriela com seus simpáticos amigos. A elegante Rua Augusta estava com feiras de produtos artesanais, que se misturavam com os inúmeros restaurantes com suas mesas na calçada, tornando a tarde mais alegre e mais festiva.

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No Reveillon, fui ver os fogos no Rio Tejo – outro sonho realizado. Coisa linda! A Praça do Comércio lotada, mas deu para ver e torcer para um novo ano mais feliz. Havia filas enormes em todos os pontos turísticos, e eu só pensava “ainda bem que já vi tudo isso quando não havia tanta gente no mundo!” O Presidente era o mesmo Cavaco Silva candidato a primeiro-ministro em 1984 (que foi de 1985-1995).

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Viajei para as cidades do sul de Portugal, novamente, iniciando em Setúbal – que tem calçadas desenhadas com ondas, iguais às de Copacabana e tem “uma cultura do mar” -, ali passei dois dias, no Hotel Aranguês, onde conheci uma babá que me disse preferir ser babá na Europa do que qualquer outra coisa no Brasil,pois largou a faculdade porque não suportava mais viver em Sorocaba-SP, já violenta e perigosa; peguei um ônibus para Faro –capital do Algarve-, a cidade das belas calçadas de pedras portuguesas desenhadas, onde fiquei no Hotel Afonso III; fui a Albufeira, Vila Moura e Quarteira – a única diferença dos outros anos era a grande quantidade de pessoas. Dali, atravessei

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a fronteira para voltar à bela Sevilha, passando por Huelva, Trigueros, Huévar, e revi as laranjeiras lotadas de frutas pelas ruas; fiz um bus sightseeing porque não queria mais ficar andando; segui para Málaga (autovia A-92), onde fazia dezesseis graus, e um cartaz anunciava na estrada: “Bienvenido a la mejor tierra del aceite puro extra-virgen”. O Rio Guadalmedina estava totalmente seco e era um rio enorme. As cidades eram todas pintadas de branco, muito graciosas, como Osuna, El Salcejo, Estepa, Antequera. E haja olival! Fiquei no Hotel La Hispanidad, em Málaga, indicado pelo taxista, e também peguei um bus sightseeing para conhecer a bela cidade mediterrânea, terra de Picasso. A Catedral de Nossa Senhora da Encarnação é estupenda, nunca vi nada igual, nem no Vaticano, pois o teto parecia uma renda bordada à mão, muito ouro (dos incas? dos maias?) e notáveis santos em madeira. Ainda andei na roda-gigante Princessa (meu brinquedo preferido em parques) com vistas para a cidade a 70m de altura. Os morros, ao contrário dos do Rio, eram ocupados por mansões e condomínios enormes. De lá, fui à majestosa Granada, o pequeno reino de Isabel e Fernando, os reis católicos, que a conquistaram dos mouros, expulsando-os do país. Peguei um taxi para visitar Alhambra – um exuberante complexo mourisco, depois o bairro Albaicín, cheio de quinquilharias, onde comprei os azulejos numerados para o meu sítio, depois a Catedral da Nossa Senhora da Encarnação, onde estão enterrados (em um cubículo!) os reis que se amavam de verdade, Isabel e Fernando, na Capela Real. Havia muitas motos em Granada.

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Curiosidades: o assunto de maior espaço na programação e nos telejornais é o futebol; grande número de chineses nos restaurantes, lojas etc.; a maioria dos anúncios na TV espanhola era de remédios (povo doente?); na TV espanhola também tem vários canais só de Tarô; se gastava muita água para esquentar o chuveiro, pois ela caía, enquanto esquentava – tomei muito banho frio por conta dessa aberração!!; os ônibus interestaduais e entre países não têm banheiro, então, param de 4/4 horas; há uma “cultura do cuidado urbano”,pois não há lixo jogado nas ruas, nas estradas, é tudo muito limpo, bem-tratado (afora as guimbas de cigarros!; fuma-se demais na Europa toda! Dommage!).

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Capítulo 10 Viajar é a única coisa que você compra e fica mais rico.

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EUROPA: INGLATERRA, RÚSSIA & PAÍSES NÓRDICOS "Preciso me mover um pouco. Para misturar meus arredores. Para acordar em cidades onde eu não conheço bem os caminhos e ter conversas em idiomas que eu não entendo completamente. Há sempre esse desejo duradouro em meu coração por me perder, por estar em outro lugar, por estar longe de tudo isso". Beau Taplin Esta viagem foi outra realização de um sonho de adolescência: ir finalmente à Rússia, berço da minha história também, e da minha formação literária com Dostoiveski, Tolstói, Gorki e Pushkin. E, konechno!, as óperas de Tchaikovsky. Resolvi, desta vez, pegar uma excursão bacana para poder ter mais conforto e facilidades, pois as últimas viagens por minha conta já haviam me cansado muito. A Paraibatur, que agenda todas as minhas viagens nacionais e internacionais, contratou uma das melhores agências do mundo, a Europamundo, para fazer esse tour inesquecível e encantador. Em abril de 2016, sai de João Pessoa para São Paulo, de lá para Londres (British Airways), entrando no país, pela 1ª vez, de avião, onde mais uma anjinha me ajudou na alfândega lotada. Se não fosse a atenção de Marília, uma musicista brasileira-cidadã-europeia (morava na Suíça), eu teria perdido a conexão. O controle de vigilância muito severo provoca aquela balbúrdia. Para mim, tudo para atrapalhar somente a vida do/a cidadão/ã comum,pois

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os terroristas quando querem, fazem tudo! Como tive que esperar algumas horas pelo voo para Estocolmo, fui conhecer o imenso aeroporto. Fiquei boquiaberta com a variedade de lojas, restaurantes, bares. Até a Harrod’s tem! ESTOCOLMO

ESTOCOLMO

Em Estocolmo – capital da Escandinávia -, depois de 29 horas viajando! Eu era a única brasileira na excursão com pessoas de língua espanhola. Mas fui gastando meu ‘portunhol’ e nos entendemos, fui me entrosando com as senhoras que estavam sós, como as irmãs Elza e Berta e a psicóloga Izabel, todas argentinas. Visitamos os principais pontos turísticos: os edifícios art nouveau da Calle Del Rei; o Stockholm City Hall – onde é feita a entrega dos prêmios Nobel; cine Rigoletto, onde trabalhou meu darling Ingmar Bergman; Grande Teatro Nacional, onde Greta Garbo teve aulas de recitação; Jardim do Rei; Palácio Real; o Vasa – museu náutico, belíssimo, com o navio de 1628, encomendado por Gustavo II para a guerra contra a Polônia, mas que naufragou e ficou 333 anos no fundo do mar Báltico, que, por ter pouco sal e não ter algas, manteve o navio intacto, e ele foi recuperado em 1956, mas dos 62 canhões, só três foram encontrados. No Brasil, a Nau Capitânia (que custou R$3,8 millhões), caravela feita para comemorar os 500 anos do descobrimento, também não saiu do lugar!

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O sal, na Suécia, já chegou a valer mais que ouro (minério abundante na região), pois era todo importado. E entramos na Câmara dos Vereadores, onde tomei lições de política social-democrata do jeito que aprecio desde os 19 anos, quando entrei na faculdade e li um livro sobre a Suécia e pensei: “taí um regime político que se parece com o que eu penso!” Ali, os políticos que faltam ao trabalho três vezes são expulsos e assumem os suplentes, eles não têm assessores ou carros com motoristas, nem salas ou secretárias exclusivas, é tudo comunitário dentro do prédio, todos têm um trabalho e ali só vão por meio expediente e ganham por este tempo. Os ministros também não têm carro ou mordomias pessoais, como aqui no Brasil. O próprio Rei anda no seu carro particular com seu motorista pago por ele. Carro oficial só quando está em funções oficiais. No Salão Dourado da City Hall há um desenho em uma parede com a Torre Eiffel com o avião de Santos Dumont ao seu redor. Disse a guia local Maria Piedade, angolana: “O Salão Dourado é todo em ouro, mas não é ouro do Brasil”. Pode? Os impostos são muito altos, mas paga mais quem ganha mais; não se paga saúde e educação. Se fica mais tempo na prisão pelo não-pagamento de imposto do que por matar alguém. A cidade também tem muitas ciclovias e as pessoas circulam de bikes para o trabalho, só mudam os sapatos por tênis até chegar ao destino. O estacionamento da Estação Central de Trens era cheio de bikes.No dia livre, tomei um bus sightseeing e fui rodar pela cidade, onde não vi pichações como em várias cidades da Europa,mas vi grafites lindos em muitos prédios. Fui no

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Museu ABBA e na Ilha dos Animais. Os mendigos da cidade são romenos que se concentram na Cidade Velha. Ainda vi a Igreja Santa Eugênia – a única católica da cidade. Neste dia, nevou pela manhã.

Embarcamos para a Finlândia – que é país nórdico, não escandinavo, apesar de falar sueco, é o “país da sauna” -, a bordo do ferry boat Galaxy, cabine 5541, rumo a Turku – a mais antiga cidade filandesa, fundada em 1229, capital do país até 1812. Como o hotel sueco estava em obras, o grupo ganhou um jantar no navio. Degustei a ótima refeição com as amigas argentinas. A viagem noturna foi muito agradável, apesar de minha claustrofobia náutica também. Em Turku fazia quatro graus, e vimos o secular Castelo de Turku, um dos maiores edifícios medievais do país, do século 13 – é o museu mais visitado do país; o Forum Marinum – um museu marítimo; a Catedral luterana – única catedral medieval do país –, é o santuário nacional e uma das maiores igrejas luteranas do mundo; e o mais antigo teatro do país (1839), o Abo Svenska Teater. A arquitetura é semelhante à de Estocolmo: muitos prédios de tijolinhos marrons, o que torna as cidades marrons e tristes. Único país da região nórdica integrante da Eurozona. Também há grande número de ciclovias e bikes pela cidade.

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Fomos a Naantali – também bastante antiga (1443) e residência oficial do Presidente -, uma “cidade balneário” com seus spas, com uma bela baía para contemplar dos bares ao redor, admirar as casinhas de madeira coloridas. Nessas cidades dessa região fria, eu senti na pele o analfabetismo: não entendia nada, não lia nada! A mesma que senti quando estive na Grécia...Somente em Estocolmo todo mundo falava inglês nas ruas, no comércio, nos restaurantes. TALLIN

Fomos de ônibus para Helsinque, a capital da Finlândia,onde ficamos no Hotel Gran Marina. Fazia seis graus. Muitos campos de golfe na região – esporte que considero tedioso e preguiçoso. A cidade tem inúmeros cafés, pois eles são os maiores tomadores de café do mundo – 12kg/ano por pessoa. No mercado de Kauppatori, tomei uma deliciosa sopa de salmão e comi empanadas de arroz com centeio. Os pontos mais bonitos que vi foram a Estação de Trem – com sua grandiosa arquitetura; o Teatro Nacional de estilo Art Nouveau; e os bairros Katajanokka, Kruunuhaka e Eira com prédios em estilo Art Nouveau. Fomos na zona industrial para a fábrica de chocolates Fazer, em Vantaa; na bonita e serena Rua Boulevard; no Temppeliau kioKirkko – a igreja escavada na rocha; no Parque Sibelius, à beira-mar do bair-

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ro Taka-Töölo, em homenagem ao compositor da música sinfônica do século 20; e na branquíssima Ópera Nacional de 1993, que é totalmente subsidiada pelo Governo. O monumento a Alexandre II, na Praça do Senado, é muito bonito, apesar da amarga lembrança dos tempos do domínio russo, do qual a Finlândia se libertou somente em 1917.

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Atravessamos em um barco lotado para Tallin, capital da Estônia – Eurozona -, no Mar Báltico, também capital da cerveja. Foi votada a mais conservada cidade medieval na Europa. Ficamos no Hotel Europa, Rua Paadi, 5, onde tomei uma cerveja não muito gelada tanto como gosto com as irmãs argentinas Elza e Berta, no restaurante Oliver. Fomos ao Palácio Kadriorg – “vale de Catarina”, que Pedro, o Grande, construiu para sua esposa; à Catedral Alexander Nevsky, igreja ortodoxa localizada na colina de Toompea; à antiga igreja Dome, de 1219, com um belo órgão de 1780; e a igreja de São Olavo, que foi o prédio mais alto do mundo entre 1549 e 1625. Há uma tradição de canto na Estônia: “faz parte do seu DNA”, dizem por lá. Fomos ao Campo das

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Canções, um anfiteatro natural na linda Praia de Pirita, e ao Memorial de Gustav Ernesaks – “o pai da música”. Na 2ª Guerra Mundial, Tallin foi bombardeada e teve que ser reconstruída em grande parte; porém, a parte medieval foi poupada.

Na Rússia, finalmente, para realizar um sonho antigo, e um deles era ouvir o som e a pronúncia do meu nome no original! Entramos por Narva (dezesseis graus) –cidade medieval com uma bela fortaleza militar (1223) -, e tivemos que nos submeter à burocracia da alfândega e do câmbio (1,7 euros = 1 rublo), já que o país não é Eurozona. A bonita guia de St. Petersburgo se chamava Olga e não tinha tanto repertório de curiosidades quanto Paula, a guia que nos deixou em Tallin. Por exemplo, eu queria saber: em que parte do país estamos? Do que vive a população? O que se planta nas pequenas fazendas da estrada? E passamos por Ivangorod e os bosques negros e suas aldeias. Muitas casas pobres de madeira no caminho. Mas Olga contava a história do país desde a sua fundação e eu fiquei encantada com tudo, pois só conhecia a parte dos Romanov. Na entrada de St. Petersburgo (dezoito graus), a “Aldeia Vermelha (=bonita)”, cenários dos romances do darling Dostoiévski, havia um enorme KFC – ironia das ironias! Ficamos no ótimo (americano) Hollyday Inn, na Moskovskiy Prospekt, 97A. E fomos visitar a bela e majestosa cidade do darling Pedro I – emoção da emoções!

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Vimos a Igreja St. Isaac; a de St. Nicolau – protetor da Marinha -, que não foi fechada durante o período comunista e cuja cor azul reproduz a dos olhos da Imperatriz Isabel; Palácio de Catarina I, em Tsárskoie Selô – presente de Pedro I à esposa e decorado pela filha Isabel -, quase destruído na 2ª. GM pelos nazistas, mas restaurado depois; a “Versailles Russa”, Peterhof, às margens do Mar Báltico, que achei mais bonita que a original; o exuberante Museu Hermitage, com três milhões de obras, (e que estava lotado!), era casa da imperatriz Isabel e todos os czares ali moraram até o último, Nicolau. O que me impressionou bastante foi o relógio-pavão que o apaixonado Príncipe Potemkin deu para Catarina II; o “Menino Agachado” do meu darling Michelangelo; o enorme vaso Kolyvan em um peça única de jade; e todos os pisos desenhados nas inúmeras e grandes salas.

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A cidade é de uma grandeza e majestade enormes, fiquei muito impressionada com tudo! Achei-a a segunda cidade mais linda do mundo (antes era Paris), depois do Rio (esta sempre será a mais bela!). O metrô da Nevsky Prospekt, construído na região pantanosa na qual fica a cidade toda, ficava a 50m da superfície, com escada rolante de madeira. Um primor! E o passeio de barco pelo Rio Neva foi excelente, pois vimos a imponência da cidade, com sua arquitetura nobre e elegante, alguns com os símbolos do capitalismo como Siemens, Samsung e outros.

PETERHOF

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Fomos para Moscou pelo caminho do Anel de Ouro Russo – o circuito medieval-, que inclui oito cidades. Em Novgorod – cidade mais antiga que foi fundada em 859 -, tivemos um almoço típico no povoado de São Jorge, a sete quilômetros da cidade: sopa Borsch e de sobremesa, a deliciosa Vatruchka. A Catedral St. Nicolau é de 1113, dedicada ao santo mais reverenciado da Rússia. A Catedral de Santa Sofia, do século XI, é a mais antiga da Rússia. O Rio Volkof, afluente do Mar Báltico, era rota fluvial-comercial da cidade. Em Valday, cidade histórica de lago

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natural do mesmo nome, tem um monastério de 1653, com as cúpulas todas folheadas a ouro, – todo reformado pelo presidente Putin, que tem dasha na cidade -, e é habitat de 700 ursos pardos, cuja carne é comestível e é doce. Em Tver (1164), a igreja branca de Trindade (1564) é o que se destaca, bem como grande parte das casas ser de madeira – uma característica de toda a Rússia, por isso, os famosos incêndios, que queimavam cidades inteiras. A cidade era grande, com shopping, supermercado, concessionárias de carros, e ela já rivalizou com Moscou. O Rio Volga – o mais largo da Rússia – margeava essas cidades.

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Em Klin, a emoção foi cheia de lágrimas de alegria, principalmente: quando eu pensei que estaria ali algum dia diante da casa de Tchaikovsky? Meu nome, que é o da minha avó materna, foi-lhe dado pelo meu bisavô, inspirado pela ópera Eugene Oneguin, que a compôs do poema homônimo de Pushkin. O Museu estava fechado, mas vimos o jardim, a bela casa e percorremos a pequena cidade para ver alguns prédios, lojas etc., com a imagem do bonito compositor.

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Em Sergiev Posad, terra do Patriarca e onde o atual ainda mora, o mosteiro da Trindade é o mais importante da Rússia e centro espiritual da Igreja Ortodoxa Russa, tinha feito 700 anos em 2014. A cidade é bem pitoresca, movimentada e bem arborizada. Nesta cidade medieval, fica a fábrica das matrioskas (matriarcas), fundada pelos soviéticos (mas a bonequinha existe desde o final do século 19). Na queda do regime, quase tudo se privatizou e esta fábrica também, mas, hoje, sofre a concorrência dos produtos russos feitos na China, pois estes são mais baratos. A passagem pela fábrica foi um momento especial,pois fizemos cada um a sua própria matrioska sob a supervisão da funcionária Olga! A minha foi toda pintada em verde, amarelo, branco e azul. A matrioska foi reconhecida símbolo da Rússia na Exposição Universal de Paris, em 1900. A madeira da bonequinha é toda da região em volta da fábrica, com plantações da árvore Tília. Ninguém falava uma palavra em inglês, tudo era traduzido pela guia Olga.

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Eu fiquei encantada com “Los Hermanos de Viaje”, que fizeram um whatzap para o grupo e eram cordiais, atenciosos, cultos e pontuais! Em Alekshandrov, vimos o Castelo de Ivan, o Terrível, bem rústico e frio. Depois de sua dinastia sem descendência, assumiu Miguel, em 1600, que foi o primeiro Romanov. Em Suzdal, teve show típico à noite no hotel e eu comi, finalmente, um strogonoff de carne muito ruim! Suzdal é uma das mais antigas cidades russas e é cheia de igrejas, tem um lindo kremlin – do século X -, e uma cidade-fortaleza toda em madeira. É a terceira cidade mais visitada, depois de St. Petersburgo e Moscou. Ela foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, em 1992. O Mosteiro Spaso-Efimievsk repica sinos a cada hora e ouvimos um concerto de dezoito sinos; por toda cidade há símbolos ainda do período soviético, como a estátua de Lenin diante da Prefeitura, as bandeiras vermelhas com a foice e o martelo. A cidade é encantadora e basicamente turística. Em Vladimir, primeira capital russa, do século XII, vimos a Catedral da Assunção, que ficou aberta com os soviéticos, mas as pessoas não freqüentavam com medo. Alexander Nevski – o príncipe que virou santo- está enterrado lá. E haja casas de madeira pelas estradas e muitos rios e lagos, a maioria poluído. Há muita água no país, mas não é tratada; portanto, só se bebia água mineral.

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Moscou se tornou capital novamente no período soviético e sua arquitetura destaca o “gótico stalinista”: prédios com desenhos nas fachadas, ou uma arquitetura mais refinada e majestosa - há um conjunto deles pela cidade, como a bela Universidade de Moscou. Ficamos no ótimo Hotel Azymut Olimpic. Fomos ao Centro Histórico ver o Kremlin; a Praça Vermelha; a Catedral de São Basílio; o shopping Gum – um palácio de sofisticação -; o maior sino do mundo – que nunca foi levantado -; o “canhão do Czar” - o maior canhão do mundo-; o Senado – residência oficial do presidente Putin, apesar de ele não morar ali-; Igreja do Arcanjo São Miguel – panteão dos czares-; Igreja da Anunciação- com suas cinco cúpulas douradas em forma de cebolas-; a Igreja do Cristo Salvador – onde me sentei nas escadas com as argentinas, pois não queria mais entrar em igreja... (como no Brasil, é o que mais existe nas cidades!); , e várias outras construções e monumentos daquela cidade-fortaleza-símbolo da Rússia. Neste dia, 9 de maio,

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era o Dia da Vitória na Rússia, comemorado um dia depois por causa do fuso horário. Houve desfile militar e a esquadrilha da fumaça deu um show pirotécnico, além de a aviação exibir seus caças. Eu fiquei chocada por ainda comemorarem essa data com tanta pompa, Moscou estava toda embandeirada. Comentei com a guia Olga que se ofendeu porque é a data mais importante para aquele povo, pois toda família russa tem alguém que morreu na 2ª. Guerra Mundial. A Rússia (antiga URSS) foi o país que mais perdeu vidas: cerca de vinte e sete milhões.

KREMLIN

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Uma noite, fomos para Moscou City – centro econômico e comercial, semelhante a Wall Street, em New York, cheio de prédios envidraçados,espelhados, muito altos e imponentes. Eram “os caprichos de Stalin”. E haja história que a guia de Moscou, também Olga, nos contava todo o tempo. Vimos o lago dos cisnes de Tchaikovsky – onde ele passeava e se inspirou ao ver um cisne negro e outro branco-, onde tem o belo convento Novodevichy (1524, onde viveu Eudora, a primeira esposa de Pedro, o Grande – ele só poderia se casar de novo, se a esposa morresse ou fosse para um convento -, e também sua meia-irmã Sofia).

Conhecer algumas estações importantes do metrô moscovita foi algo indescritível. O “Palácio Subterrâneo” foi inaugurado por Stalin, em 1935, e transporta o maior número de passageiros/as no mundo. São 12 linhas de cores diferentes e as estações mais marcantes que vi: a da Revolução – com as estátuas de bronze dos trabalhadores, que trazem boa sorte aos/às passantes ao passar a mão nelas, como pelo nariz do cão com um soldado; a de Kiev - do casamento russo e o realismo

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socialista; a do poeta Maiakovski – em art déco e com belos mosaicos-; a Komsomolskaya – com lustres enormes e luxuosos, colunas de mármore, muito portentosa. Moscou também é uma cidade monumental: tudo é grandioso, espaçoso, suntuoso e clássico. A cidade tem muitos imigrantes muçulmanos.

Fomos ao Palácio de Verão de Alexandre, o pai de Pedro I – o “Palácio do czar Alexei Mikhailovich Kolomna”, o palácio de madeira criado no século 17 - quando assistimos à encenação de um casamento tradicional russo,que foi feito pelo jovem casal chileno da excursão que estava em lua-de-mel. Chorei muito. Esse palácio foi dividido em duas partes: masculino e feminino e nenhum dos dois adentrava os

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recintos do outro. O que tem hoje é uma reconstrução quase idêntica do original, que foi reaberta em 2010, e fica a 0,6 km do local original. Ele fica em Kolomenskoye (A Versalhes de Moscou), que é uma reserva natural e conjunto histórico-arquitetônico da Rússia. Porém, a emoção maior ficou para o ‘grand finale’: ir ao emblemático Teatro Bolshoi – camarote 11 cadeira 7 -, com excelente visão para ver uma das minhas óperas favoritas, La Traviata, de Verdi. Achei o teatro bem modesto, o Municipal do Rio é bem mais bonito. A versão da ópera era socialista e Violeta morre em um hospital semelhante aos do SUS. A última noite no hotel foi bem agradável: o grupo se sentou no restaurante e ficou conversando até meia noite. Houve um ‘paquera’ durante a viagem toda, o Ismael – mexicano que mora em Aspen, nos EUA -, um senhor de 68 anos, atencioso e gentil, que me dava chocolates e biscoitos e sempre se sentava do meu lado. Conversávamos muito, mas eu não tive nenhum interesse a mais nele...

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Curiosidades: como em Berlim e Copenhagen, em Estocolmo só há gente bonita e os homens são muito altos; há muitos esquimós que se parecem com os latinos; rios, lagos e mares são livres para pesca e, se tiver sorte, pode-se pegar até salmão; cada palavra da difícil língua filandesa tem dezesseis declinações; provérbio sueco: “o tempo não está ruim, a roupa é que não é adequada”; o Mar Báltico congela porque tem pouco sal – vira pista de patinação no inverno; Finlândia

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é o maior índice de leitura do mundo: 17 livros/ano por pessoa; para entrar no magistério, os professores precisam ter nota média, no seu currículo escolar, entre 9 e 10; a Finlândia foi o 1º. país europeu a reconhecer o voto feminino, em 1907, e 47% do atual Parlamento (2019) é de mulheres; a Estônia é considerada um dos países mais ateus do mundo; em Tallin, Estônia, o transporte público é gratuito para todos os residentes registrados; o século XVIII foi o das mulheres na Rússia: Catarina I, Ana, Isabel e Catarina II, cujo filho Paulo instituiu a proibição de mulheres voltarem a reinar; há mais de 500 pontes em St. Petersburgo; o rio de Novgorod é chamado ‘vermelho’ porque Ivan, o Terrível, massacrou e decapitou 315 pessoas e as jogou no rio, quando a cidade quis independência, no século XVII; as missas de quase três horas nas igrejas ortodoxas são todas em pé, não há bancos; o povo russo é belíssimo, sendo as mulheres mais que os homens; Em St. Pertersburgo são 200 dias/ano sem sol; não há montanhas na Rússia, só estepes; em todas as cidades do Anel de Ouro há monumentos à 2ª Guerra Mundial, e um dia muito comemorado por eles é o Dia da Vitória, 9 de maio, pois toda família russa perdeu alguém na guerra; em Suzdal, há uma lei que gabarita todos os prédios a só terem dois andares; Suzdal era maior do que Paris e Londres, no século XII, e perdeu sua importância com a invasão dos tártaros, os “seres do inferno”; eu, Berta, Isabel e Elza éramos idosas e quando entramos no metrô, quatro jovens se levantaram para sentarmos, o que achei espantoso, e a guia Olga explicou que é costume local dar lugar a idosos/as, deficientes físicos e grávidas – e pensei: tomara que o mau hábito dos outros povos não chegue ali tão cedo!-; em St. Petersburgo era precisa estar atenta para os “pequenos batedores de carteira”, como alertou a guia Olga; eu me virei várias vezes nas ruas quando ouvia meu nome (o que nunca aconteceu aqui no Brasil!).

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EUROPA: ITALIA & BALCÃS COM ADRIANO GOMES

"O amigo é um ser que a vida não explica/Que só se vai ao ver outro nascer/E o espelho de minha alma multiplica..." Vinicius de Moraes Eu e Adriano Gomes (o amado Didi) fomos Natal-São Paulo (descida com muita turbulência, meio assustadora!) para esperar por cinco horas o voo Latam para Milão. Era minha 7ª viagem de avião de 2016. Ìamos passar o réveillon nos Balcãs – mais um sonho a se realizar! Na sofisticada capital da moda italiana, Claudia e Christian – amigos alemães de Didi – estavam nos esperando no aeroporto. Ficamos no Hotel Cavona. Andamos na parte turística e cultural, no centro da cidade, e vimos a imensa Catedral em gótico italiano, com 3400 estátuas; o Castello Sforzesco – da poderosa família Sforza-; o emblemático Teatro Alla Scalla (por fora) – uma das mais famosas casas de ópera do mundo, construído por Maria Theresa, da Áustria, e inaugurado com uma ópera de Salieri, o compositor italiano que competia com Mozart -; e a Galeria Vittorio Emanuele (1867), o “Salão de Milão”, com lojas de grife, sorveterias chics em uma arquitetura neo-renascentista, que inspirou a Torre Eiffel, e que tem pisos divinamente desenhados. No metrô, um outdoor com o livro La Spia, de Paulo Coelho. Já saímos no dia seguinte, quando viajamos o dia todo para chegar a Veneza. Passamos pelo Lago Garda, uma península medieval muito elegante, cercada de montanhas com os topos cheios de neve; por Verona, terra de Romeu e Julieta, onde agarrei os peitos da estátua de Julieta para ter um novo amor! Às gargalhadas, com Didi abrindo caminho para mim no meio de uma multidão de mulheres! A cidade medieval é encantadora, com uma enorme arena, as pequenas ruas de pedras, as

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lojas-biscuit. Tomamos um café no Anselmi Caffé, na Piazza Erbe. Em Veneza, ficamos no modesto Hotel Doge por 80 euros porque a cidade era caríssima! Mas era perto da estação de trem Veneza-Mestra. Jantamos em uma trattoria embaixo do Hotel Olimpia, que foi criada em 1513, bem cuidada e interessante decoração. Os italianos continuam ladinos: o garçom queria nos convencer a comer uma pizza cada um e eu pedi que trouxesse duas para cada casal, pois se fosse insuficiente, pediríamos mais. Ele saiu zangado. Quando chegou o pedido, rimos muito porque a pizza era grande!Fomos a pé para pegar o trem para Trieste e de lá para Liubliana, capital da Eslovênia.

METRÔ DEMILÃO

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BALCÃO DE JULIETA

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Para sair da cidade há uma travessia longa por uma ponte sobre o mar, que me impressionou sobremaneira pela beleza e pelo inusitado. Pegadinha para turista atualmente: validar o bilhete na estação; agora, os fiscais só carimbam dentro do trem. Todas pequenas cidades do trajeto muito limpas, com plantações em seus quintais, com as tradicionais roupas estendidas nos varais, sem lixo nas ruas, a maioria das cidades com as grandes caixas de reciclados nas ruas. Coisas que aprecio muito quando viajo. Em Trieste, apenas descemos na estação de trem para tomar um lanche e pegar o ônibus para seguir viagem. Viajamos o dia todo para Liubliana – chamada de a “cidade mais verde da Europa”, é Eurozona -, onde ficamos no excelente Hotel City. Estávamos por nossa conta e fizemos nossos roteiros. Víamos os horários dos trens e/ou ônibus pela internet. Didi reservava os hotéis também pela internet e eu me comunicava em inglês com o povo. A cidade estava cheia de neve que caiu na madrugada, mas amanheceu com sol e fomos conhecer as famosas pontes, a do dragão – símbolo da cidade – é a mais visitada; o Castelo, para onde subimos pelo funicular e avistamos toda a cidade- ali tomamos um chocolate quente com strudel dos deuses!; e a praça principal que homenageia seu poeta principal, France Preseren. A maioria das pessoas nas ruas falava inglês. Contratamos um taxista para nos levar a Bled, a uma hora da capital, por uma estrada ótima. Uma formosura de lugar, todo cercado por um lago, fronteira com a Áustria. Tomamos um barquinho para conhecer a famosa ilha com a igreja Peregrina da Assunção de Santa Maria. Subimos 190 degraus para chegar lá em cima.

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Pegamos mais um ônibus para ir para Zagreb, capital da Croácia, em uma estrada ótima, passando por pequenas cidades que tinham caixas de som com música clássica – que chic! Na região, necessário carimbar passaportes nas aduanas. Não nos perguntaram nada, mas a viagem atrasou 20’ porque eles implicaram com duas bonitas moças negras. Ficamos indignados, achamos puro preconceito e assédio feminino de raça, mas não podíamos fazer nada; contudo, os nativos ficaram todos impassíveis. Povo-rebanho acostumado às ditaduras que ali existiram por dezenas de anos! Estava 10 graus negativos em Zagreb (significa “fonte”) e nos pusemos a andar de troleibus pela cidade, pois era tudo grátis por ser fim de semana das festas de fim de

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ano. Fomos no trolei nº 6 para o centro. Passamos o réveillon na praça central Ban Jelaci, com um palco com shows e os tradicionais fogos à meia-noite. Fiquei pasma com a saída da festa: tudo muito civilizado, tranquilo, povo muito educado, gente muito alta e belas mulheres. Com a maioria dos restaurantes já fechados, comemos uma pizza e voltamos de taxi para o hotel. O frio era intenso, então pegamos um bus sightseeing local bem diferente dos que já andamos, pois só parava para fotos nos dezessete pontos turísticos – como o lindo telhado colorido da igreja de S. Marcos, o coreto da Praça Zrinjevac, e a antiga muralha da cidade -, e em 60’ vimos a bela e alegre cidade toda. A pé, fomos para a altiva Catedral, no Kaptol, - é o edifício mais alto da Croácia e é uma catedral-igreja católica romana-, passando por ruas e estabelecimentos com música; ao colorido e animado mercado de rua, o Dolac; à pista de patinação no gelo no Ice Park; e à Rua Tkalčićev – só para pedestres. Também fomos no shopping da Av. Dubronovich, no trolei nº 14. A moeda era a kuna e era tudo muito barato. Eu quis conhecer as famosas praias, mas Didi não quis ir. Peguei um ônibus para Rijeka, a duas horas de Zagreb, que tem o porto mais importante do país. Dia de sol, com 13º positivos! Contratei o taxista Goran, na rodoviária, e ele me levou para ver as praias de pedra e com escadas para descer – água transparente, de um azul que nunca vi! Pedi que ele voltasse em 1h. Locais ermos, quase ninguém nas ruas. Entrei em um hotel muito bom para ir ao toalete e ninguém me abordou.

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Fomos de ônibus novamente para a Bósnia,onde nevava muito durante a desconfortável viagem,onde ficamos duas horas na aduana. Era feriado e havia grandes engarrafamentos. Os toaletes da estrada eram com buracos no chão, iguais ao do Nordeste do Brasil nos anos 70! Países pobres, assolados pelo comunismo e, depois, pela guerra civil. Muitos cemitérios pelo trajeto. Ficamos no ótimo Hotel Colors, quatro estrelas, com delicioso café da manhã, em Saravejo. Acordamos de madrugada para ver a neve cair e cobrir rapidamente os lugares que víamos da janela. Eu no meu quarto e, Didi, no dele: extasiado pelo momento que ele sonhava em ver. Câmbio para marco conversível, tudo muito barato na região. Contratamos um taxista e fomos na ponte onde Ferdinand foi assassinado e deu início à estúpida 1ª. Guerra Mundial; ao túnel Spassa – o túnel da esperança, da época da guerra de 1993; e dar um giro pela cidade, pois fazia muito frio e não queríamos andar a pé. E vimos toda a destruição que a guerra deixou e a cidade conserva em algumas construções para não serem esquecidos o sofrimento e as perdas. O motorista era bem jovem, casado e com duas filhas, mostrou-nos as fotos. Falei com sua esposa sobre a viagem que queria fazer, pois o inglês dela era melhor que o dele. No dia seguinte, fui para Mostar e Medugorje com esse mesmo taxista muçulmano, cuja família participou da guerra. Ele perdeu um tio e um irmão. Perguntei-lhe se não haveria problemas de me acompanhar a um templo católico: “é o meu trabalho”. A viagem foi excelente, pois as estradas eram boas e as cidades do trajeto todas muito simpáticas e graciosas.

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SARAVEJO

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Em Medugorje, assisti a uma missa lotada, em italiano (havia muita coisa em italiano na cidade). Bem diferente das outras igrejas de peregrinação – como Fátima, Lourdes e Aparecida -, bem simples e pequena. Almoçamos em Mostar, no famoso Podrum, onde comi o delicioso cevapi – o prato nacional da Bósnia. O dono só falava italiano, mas nos comunicamos bem! A cidade era a mais importante da Herzegovina e foi a mais bombardeada pela guerra – as marcas ainda estão em diversos prédios da cidade. A medieval Old Town é de uma singeleza comovente. A Ponte Velha, apesar de ter sido reconstruída, em 2004, é de uma beleza clássica. Na volta, perguntei ao taxista o que fazia nas folgas e ele respondeu que não tinha folgas, trabalhava 12h/dia e pagava 10 euros/dia pelo carro. Fiquei arrasada. Cobrou-me 140 euros, mas dei-lhe 200 euros. Que seja feliz com sua linda família! Eu e Adriano andamos a pé pela cidade ao redor do hotel, tudo cheio de neve, tomando muito cuidado para não cair, mas Didi caiu... Foi só um susto. De novo em um ônibus para a Sérvia. Estrada assustadora, cheia de precipícios com pinheiros e muita neve na pista. A sorte é que as estradas estavam vazias. Cenário sombrio no percurso todo: muitas casas isoladas, alguns cemitérios, a enorme represa do Rio Sava, a montanha Avala, quase em Belgrado. Somente nativos/as no ônibus, só falando a língua deles. Derrubei batatas e coca no chão do ônibus e o grosseiro motorista queria que Didi limpasse, lhe deu até uma vassoura. A gente começou a gargalhar! E ninguém dizia nada...Deviam pensar como o recepcionista do hotel em Zagreb, que nos perguntou o que fazíamos aqui nesta época do ano!

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A Claro do meu telefone me avisou que estávamos já na Sérvia, mas nada de aparecer a aduana. Quando passamos por ela, não houve carimbo no passaporte. Ficamos no pomposo Hotel Majestic, quatro estrelas, bem confortável, com os resquícios do que foi um dia, quando ali foram hóspedes Alan Delon e Elizabeth Taylor, e onde tomávamos nossas refeições para não ter que sair no frio. Por isso, não consegui comer o Burek, um pastel de massa folhada famoso. Contratamos mais um taxista em Belgrado, senhor Mosloden, para conhecer a cidade. Este gostava mais do tempo comunista: seus pais tinham carro e passavam as férias na praia, enquanto ele tinha que trabalhar 10h/dia sem folgas. “Vivíamos melhor”, ele disse. Um frio de vento cortante: 14 graus negativos. Aqui também havia um prédio destruído pela guerra que se tornou a memória do que passou o povo. Fomos para o Museu do Tito – que já foi um dos meus darlings comunistas junto com Lenin, Trotski e Fidel! -, onde me emocionei bastante no seu túmulo; à pomposa igreja ortodoxa São Sava – o maior templo ortodoxo na Europa -; a Torre Avala, de comunicações, no monte do mesmo nome, com um vento avassalador, é a mais alta dos Balcãs, e de lá se vê toda a cidade; passamos por um lago artificial, o Sava, totalmente congelado com vários restaurantes; a igreja de S. Marcos – fica dentro do parque Tašmajdan; e o Parque Kalemegdan – o maior da cidade, com um forte e uma torre. E tirei foto com o maravilhoso Rio Danúbio de cenário. Só lembrava da clássica música de Strauss. E andamos a pé, -corajosamente com 20 graus negativos!-, pela famosa Rua Knez Mihailova – o principal calçadão de compras da cidade, a 200 metros do hotel, com bares e cafés. Achei a cidade triste sob aquele frio intenso. Grande número de fumantes, pois é permitido fumar em locais fechados. O trem para Sofia foi um desafio inesquecível: achávamos que íamos morrer de frio naquele vagão da 2ª. Guerra Mundial, sem aquecimento (fazia 14º negativos!), com um toalete horrível, sem wifi e quase vazio. A saída atrasou em 1h20. Um cidadão sérvio se virou para a gente e disse: “That’s Servia!” Mais ninguém se exaltou, a passividade era impressionante, ninguém reclamava... A velocidade era baixa demais. Havia várias car-

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caças de trens, nas estações, no percurso todo. Paramos em Palanka, com uma igreja ortodoxa bem grande e alguns silos – uma cidade pobre e bem descuidada. Passamos por Lapovo, que estava coberta de neve. Paramos de novo em Paracin (assento no c, que não põe aqui...), onde o rio Velika Morava estava congelado. A morosidade do trem se juntou ao frio e tornou a viagem insuportável. Passamos também por Nis, onde vimos um aeroporto e uma fábrica, e é a 3ª. cidade do país, atrás de Novi Sad e Belgrado. TREM PARA BELGRADO

RIO DANÚBIO

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Finalmente em Sofia, a bonita capital da Bulgária, uma das mais antigas do mundo, com quase oito mil anos de história – a “terra das igrejas”. Quando pensei em estar nesse lugar? O frio foi aumentando: 17º negativos. Ficamos no Hotel Hila (três estrelas), com localização ótima, mas acomodação desconfortável. Alugamos mais um taxista (que falava um tosco inglês; foi um problema!) para ver a Igreja S. Jorge Rotunda, que era de banhos turcos no século IV e, hoje, é a mais antiga da Europa em funcionamento; a Igreja de Santa Sofia, do século VI; a soberba Catedral Ortodoxa Alexander Nevski, com seus domos folheados a ouro; a Catedral Ortodoxa Búlgara Sveta-Nedelya, do século X – no marco zero da cidade, cuja praça ainda tem uma sinagoga,uma mesquita e uma igreja católica; a estátua de Santa Sofia, que, no lugar, no período comunista, era a estátua de Lenin; o original mercado central de arquitetura neo-renascentista, neo-barroca e neo-bizantina, o Halite – onde almoçamos-; a Igreja Ortodoxa de Boyana, um pouco mais longe, no bonito bairro de Boyana. Este taxista já disse, ao contrário do sérvio, que o comunismo foi uma “utopia” e que vive muito melhor agora. Jantamos sempre no El Mundo, ao lado do hotel: comida ótima, mas ambiente poluído pelos cigarros e narguilês dos jovens freqüentadores. Havia um narguilê em cada mesa.

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O frio e a neve atrapalharam muito a nossa mobilidade e eu fiquei gripada. E as escolas estavam fechadas exatamente pelo surto de gripe na cidade. Na TV, muitos anúncios de remédios para a sinusite. Valya, a adorável ex-aluna de Adriano,na UFRN, foi nos pegar no hotel com seu irmão para irmos conhecer a sua cidade a uma hora de Sofia (47km) – a singela Botevgrad, uma homenagem ao herói nacional, Hristo Botev, poeta e revolucionário. Paramos em uma farmácia e ela conseguiu com a farmacêutica um remédio para mim bem eficaz, pois fiquei boa no dia seguinte. Sua mãe preparou um banquete para nós, com todos os pratos típicos do país. Curiosamente, a maioria dos pratos era fria. Só havia um cozido quente. A cidade muito graciosa, bem cuidada. O frio estava em 21º negativos! Entramos em um café às 14h30 que estava lotado. Em Sofia, resolvemos

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sair a pé para andar na neve, ao redor do hotel. A gente se afundava nela! Pegamos o trolei nº 12 , que andou 5’ e parou: todos tiveram que descer e tomar outro e pagar nova tarifa! Pegamos um voo Ryanair (empresa irlandesa de ‘lowcost’) lotado, para Milão, de volta, saindo de Sofia com neve caindo. O simpático comissário era português e duas lindas comissárias eram brasileiras. Os únicos ‘anjos da guarda’ desta viagem foram três taxistas, no aeroporto de Malpensa, que contataram o hotel para nos buscar. Para fechar a viagem com chave de ouro, ficamos no bonito Hotel Villa Malpensa, de 4 estrelas, que foi residência do Conde Caproni por 91 anos. Ficava no meio do Ticino National Park. A elegante Gevânia, amiga de Didi de Natal e que mora na Suíça, foi nos ver com o namorado italiano Luca. Eles nos ofereceram um jantar no requintado Quercia, em Somma Lombardo, que estava lotado. O carro dele era uma Mercedes com teto transparente, que, na volta, víamos a lua brilhando sobre nós. Um luxo! No aeroporto de Guarulhos, ficamos 12 horas para voltar para Natal. Vimos uma família que não vejo há muito tempo igual: casal jovem muito bonito com três filhos adolescentes lindos, todos muito educados e amorosos entre si, e sem celulares nas mãos!

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