Ensinar uma criança a comer, lavarse, vestir-se, é um trabalho muito mais longo e difícil, que requer muito mais paciência que alimentá-la, lavá-la e vesti-la (pp. 52-53). 5.9 Basta aplicar estes princípios para ver nascer na criança uma calma bem característica. Na verdade, nasce “uma criança nova”, moralmente mais elevada, e que, anteriormente, era considerada incapaz. Um sentimento de dignidade acompanha sua libertação interior: doravante, ela se interessa pelas suas próprias conquistas, permanecendo sobranceira a um sem número de pequenas tentações exteriores que, anteriormente, teriam estimulado, irresistivelmente, seus sentimentos inferiores. Devo confessar que também eu estivera influenciada pelos mais absurdos preconceitos da educação comum: crera, igualmente, que, para obter da criança um esforço de trabalho e sabedoria, seria necessário estimular, com um prêmio exterior, seus mais baixos sentimentos, tais como a gulodice, a vaidade, o amor próprio. Fiquei admirada ao observar que a criança a quem se possibilita uma elevação, abandona, espontaneamente, seus baixos instintos. Em decorrência, exortei as mestras a renunciarem aos prêmios e castigos, que não mais se adaptavam às nossas crianças. Nada, porém, é mais difícil à mestra que renunciar aos hábitos inveterados e velhos preconceitos (pp. 54-55). 5.10 Do ponto de vista biológico, o conceito de liberdade na educação da primeira infância deve ser considerado como a condição mais favorável ao desenvolvimento tanto fisiológico quanto psíquico. Se o educador estiver imbuído do culto da vida, respeitará e observará, com paixão, o desenvolvimento da vida infantil, A vida infantil não é uma abstração; é a vida de cada criança. A única manifestação biológica verdadeira é a vida do indivíduo. E é a cada um destes indivíduos, observados um a um, que devemos ministrar a educação, isto é, o auxílio ativo ao desenvolvimento normal da vida. [...] O fator ambiente pode modificar, isto é, ajudar ou destruir, jamais criar. As origens do desenvolvimento são interiores. A criança não cresce porque se alimenta, porque respira, porque se encontra em condições de clima favorável; cresce porque a vida, exuberante dentro em si, se desenvolve; porque o germe fecundo de onde esta vida provém evolui em conformidade com o impulso do destino biológico fixado pela hereditariedade. 71