Cultivar 262 - Fronteira rompida

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XXI • Nº 262 • Março 2021 • ISSN - 1516-358X

Destaques

Expediente Fundadores Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter

Diretor Newton Peter

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Fronteira rompida

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ: 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300

A migração da lagarta-

www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00

REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo

das-fruteiras para lavouras de soja no Mato Grosso e os riscos da praga se estabelecer em outras regiões produtoras

• Redação Rocheli Wachholz Cassiane Fonseca • Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer • Vendas Sedeli Feijó José Geraldo Caetano CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes • Assinaturas Natália Rodrigues

Soma integrada

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Momento certo

Como usar melhor as

Quando controlar

ferramentas de manejo e

o bicudo-do-

controle de percevejos em

algodoeiro

soja e milho

• Expedição Edson Krause

Índice

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Diretas

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Manejo da lagarta falsa-medideira

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Sistema radicular do cafeeiro

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Controle de percevejos em soja e milho

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Esporos da ferrugem no Paraná

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Capa - Lagarta-das-fruteiras em soja

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Fungicidas multissítios em soja

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Pequenos insetos em milho

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Controle do bicudo em algodoeiro

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Tratamento de sementes contra nematoides

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Coluna Agronegócios

44

Coluna Mercado Agrícola

45

Coluna ANPII

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Nossa Capa

Crédito: Fernando Willian Neves


Diretas

Cana Soja Para a safra 2021/22 a Basf apresenta ao mercado 13 variedades de sementes de soja. Os lançamentos contam com a tecnologia Intacta2 Xtend para o controle de lagartas e plantas daninhas. “A Basf tem compromisso com a inovação e com o legado dos agricultores brasileiros. Nós acompanhamos todo o ciclo produtivo, do plantio à colheita, e entendemos as necessidades dos agricultores, que querem unir o manejo facilitado pelas tecnologias com a alta produtividade. Por isso investimos no desenvolvimento da genética que fará a diferença no campo”, opinou o diretor de Sementes da Basf para América Latina, Hugo Borsari. As variedades com a nova tecnologia fazem parte do portfólio das duas marcas de sementes de soja da companhia, com opções para as principais regiões produtoras. Credenz passa contar com as variedades Adapt I2X (Cerrado), Potent I2X (Sul), Result I2X (Sul), Stavel I2X (Cerrado) e

Hugo Borsari Prox I2X (Cerrado) enquanto Soytech terá a 580 I2X (Sul), 591 I2X (Sul), 621 I2X (Sul), 631 I2X (Sul), 700 I2X (Cerrado), 760 I2X (Cerrado), 800 I2X (Cerrado) e 820 I2X (Cerrado).

Presença

Vinicius Batista

A FMC participou da edição on-line da Copla Campo. O nematicida biológico Quartzo, o inseticida Altacor, o herbicida Reator e a linha Fertís, a tecnologia SmartCalda e o Programa Gennesis estiveram entre os destaques para cana. Em soja a marca apresentou o herbicida pré-emergente Stone, o pós-emergente de contato Aurora, o bionematicida Presence e o inseticida Prêmio. "Para nós é um prazer estar em um evento como a Copla Campo, levando soluções tecnológicas e inovadoras para contribuir com a sua produtividade. A FMC, que sempre busca ir além, também apresentará a iniciativa 'Onde tem cana, tem energia', com o propósito de valorizar este setor tão importante para a economia do País e que gera tanta energia sustentável, presente em nosso dia a dia, com o objetivo de alavancar, junto a todos os elos da cadeia, este cultivo que é tão essencial e versátil", explicou o gerente de Marketing Regional da FMC, Vinicius Batista.

Iniciativa A Bayer Crop Science se tornou o primeiro parceiro estratégico na iniciativa “Solos vivos das Américas”, lançada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Iica) e pelo professor Rattan Lal, diretor do Centro de Gestão e Sequestro de Carbono (C-Masc), para combater a degradação do solo, um fenômeno que está ameaçando a capacidade dos países para atender suas demandas de alimentos. O anúncio foi feito pela vice-presidente de Estratégia e Assuntos Globais das Partes Interessadas da Bayer Crop Science, Natasha Santos. A estrutura do acordo inclui a troca de conhecimentos agrícolas e científicos, estratégias avançadas de gestão, cooperação

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Durante a Copla Campo 2021, a Ihara apresentou os herbicidas Falcon, Ritmo e Magneto SC para controle de plantas daninhas em cana-de-açúcar. O nematicida Pottente, o maturador Riper, os inseticidas Maxsan, Dinno e Mimic, os herbicidas Flumyzin SC, Xeque-Mate, Facero e Mirant, os fungicidas Fusão e Approve e o produto Iharol Gold também estiveram entre os destaques da marca. “Estamos cada vez mais próximos das usinas e produtores de cana, conhecendo de perto seus desafios e necessidade em todo o processo produtivo", avaliou o gerente de Marketing Regional da Ihara, Gustavo Canato. De forma virtual, a equipe comercial e técnica da empresa esteve presente no evento para mostrar na área demonstrativa da empresa os benefícios dos novos produtos e esclarecer dúvidas.

técnica e expansão de programas de treinamento para impulsionar a sustentabilidade e a segurança alimentar.

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Natasha Santos

Gustavo Canato

Otimismo A Mosaic Fertilizantes espera um novo crescimento do mercado brasileiro de fertilizantes em 2021, podendo alcançar pela primeira vez na história a marca de 40 milhões de toneladas de produtos vendidos. O otimismo se justifica pelos excelentes resultados das safras de grãos, pelo preço das commodities agrícolas no mercado internacional e a taxa de câmbio, que estimulam o agricultor a investir mais em tecnologias de nutrição do solo. No ano passado, o mercado de fertilizantes experimentou um salto de 6%, passando de pouco mais de 36,2 mil toneladas vendidas, em 2019, para cerca de 38,5 mil toneladas. “A rentabilidade positiva do produtor de grãos quanto em outras culturas, como cana, café e citros, o real desvalorizado e as taxas de juros baixas são um incentivo para a compra de fertilizantes”, avalia o vice-presidente comercial da Mosaic Fertilizantes, Eduardo Monteiro.

Eduardo Monteiro



Informe Dirceu Gassen

Manejo favorecido Fertilizante foliar associado a inseticida convencional favorece o controle de pragas como a lagarta falsa-medideira, além de incrementar a produtividade em áreas de soja

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utilização de Fulltec S Max, associado a inseticida convencional, aumentou o controle da lagarta falsa-medideira em 27,8% e incrementou a produtividade em 6,8 sacas por hectare, em relação ao tratamento padrão. O manejo de insetos-praga é um recurso importante para a manutenção de altas produtividades na cultura da soja. As lagartas, conhecidas popularmente como falsas-medideiras (Chrysodeixis includens), são as que apresentam maior potencial para causar danos à cultura, em razão da voracidade no consumo foliar e do comportamento, uma vez que essas lagartas ficam, normalmente, alojadas na parte de baixo e mediana da planta, o que dificulta o seu controle. Nesse contexto, a associação de inseticida com Fulltec S Max é uma excelente ferramenta para melhorar o manejo.

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Fulltec S Max apresenta dois mecanismos de ação: desalojante e fumigante. Esses efeitos resultam em maior movimentação da praga e, consequentemente, maior contato e ingestão do inseticida. Fulltec S Max significa nutrição, maior defesa natural das plantas e melhor qualidade da aplicação. Formulação muito estável e solúvel, de alta tecnologia e biodegradável, que atua nos processos fisiológicos das plantas, com reflexos positivos na produtividade. Fulltec S Max desempenha funções essenciais no desenvolvimento das plantas, como a formação dos aminoácidos cisteína, cistina e metionina, estando, desta forma, presente em todas as proteínas vegetais. Além disso, fornece elementos que fazem parte da composição de coenzimas e vitaminas essenciais para o metabolismo energético e síntese de compostos orgânicos. A utilização de cultivares

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de alto potencial genético, associada ao desenvolvimento sustentável, exige produtos inovadores e disruptivos, como o Fulltec S Max.

OBJETIVO

Avaliar o efeito de Fulltec S Max e outros produtos similares, associados a inseticida isolado, no manejo da lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e na produtividade da cultura da soja.

MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na estação experimental da cooperativa Cocamar, no município de Floresta, Paraná. No ensaio foi utilizada a cultivar de soja M6410 IPRO. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições. Os tratamentos utilizados foram (L p.c. / ha): testemunha, Cloralntraniliprole


Figura 1 - Eficácia de Fulltec S Max no controle e no número de lagartas de falsa-medideira em soja

200g/L i.a. (0,04) ou padrão, Cloralntraniliprole + Óleo Mineral Assist (0,04 + 0,5% v/v), Cloralntraniliprole + Fulltec S Max (0,04 + 0,3) e Cloralntraniliprole + Fertilizante com S 16% (0,04 + 1,0). Foram realizadas avaliações prévias e aos cinco dias e dez dias após a aplicação (DAA), contando o número de lagartas em dez plantas ao acaso, na área útil de cada parcela com utilização de pano de batida. As variáveis analisadas foram número de lagartas, eficácia de controle, massa de mil grãos e produtividade. Para avaliação da praga se considerou a média das duas épocas avaliadas. Os dados foram submetidos à análise de variância e ao teste de Tukey (p < 0,05), com uso do software SASM Agri (Canteri et al., 2001).

RESULTADOS

Fulltec S Max apresentou alto sinergismo com o inseticida utilizado, aumentando a eficácia no manejo da falsa-medideira. O número médio da praga aos cinco e dez DAA (Figura 1) na testemunha era de 39,8 lagartas (0% de controle), para Cloralntraniliprole isolado 15,3 lagartas (61,6% de controle), Cloralntraniliprole + Óleo Mineral com 10,6 lagartas (73,3% de controle), Cloralntraniliprole + Fertilizante com S com 9,3 lagartas (76,6%) e para Cloralntraniliprole + Fulltec S Max 4,2 lagartas (89,4% de controle). O aumento na eficácia de controle pelo Fulltec S Max foi de extrema importância para a manutenção do potencial produtivo da cultura. Nesse contexto, com relação aos componentes de rendimento (Figura 2), para massa de mil grãos, os valores foram de 123,2 gramas para testemunha, 133,5 gramas para Cloralntraniliprole isolado, 135,7 gramas para Cloralntraniliprole + Óleo Mineral, 136,2 gramas para Cloralntraniliprole + Fertilizante com S e 138,4 gramas para Cloralntraniliprole + Fulltes S Max. Para produtividade (hectare), o resultado para a testemunha foi de 51,4 sacas, Cloralntraniliprole isolado 62,5 sacas, Cloralntraniliprole + Óleo Mineral 63,3 sacas, Cloralntraniliprole + Fertilizante com S 64,2 sacas e Cloralntraniliprole + Fulltec S Max com 69,3 sacas.

Figura 2 - Eficácia de Fulltec S Max sobre a massa de mil grãos e a produtividade da soja

CONCLUSÃO

O Fulltec S Max, além de nutrir as plantas para a máxima expressão de seu potencial produtivo, mostrou-se uma alternativa promissora no manejo da lagarta falsa-medideira da soja, apresentando alto siner-

gismo quando associado a inseticida convencional. C Fagliari, J.R. Gouvea, S.V. Souza, E. Departamento Técnico Spraytec Fertilizantes

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Cláudio Pagotto Ronchi

Café

Desde a raiz

Conhecer a distribuição do sistema radicular em cafeeiro é tão importante quanto estar atento à parte aérea, pois irá auxiliar na escolha de genótipos, na forma de propagação e no manejo das plantas

O

cafeeiro (Coffea sp) é economicamente importante em todo o mundo, sendo as espécies C. canephora e C. arabica as mais cultivadas. No Brasil, C. canephora (Conilon e/ ou Robusta) é amplamente produzido nos estados do Espírito Santo, Bahia e Rondônia. Como consequência das características reprodutivas, como alogamia e autoincompatibilidade, o cafeeiro Conilon apresenta alta variabilidade genética. Esta valiosa característica, somada aos avanços tecnológicos para as lavouras (propagação vegetativa, sistemas de irrigação, melhoramento genético, entre outros), tem garantido o sucesso no cultivo do cafeeiro Conilon. Estudos mostram que a genética do cafeeiro também pode ser fator determinante na distribuição do sistema radicular da cultura, assim como o tipo de solo, a fertilidade e as práticas de manejo. É sabido que o sistema radicular funciona como uma conexão das plantas terrestres e os recursos do solo, permitindo o desenvolvimento das plantas. Em cafeeiros, o sistema radicular é do tipo pivotante, contendo raízes estruturais e secundárias. As raízes estruturais são curtas, grossas e possuem terminações abruptas, são responsáveis por dar sustentação às plantas e armazenar carboidratos. Já as raízes secundárias são finas e responsáveis pela absorção de água e nutrientes do solo (Figura 1). Por se tratar de uma cultura perene e pela deficiência de metodologias eficazes para acesso e monitoramento do desenvolvimento radicular durante as fases vegetativa e reprodutiva, ainda existem lacunas na literatura sobre a distribuição do sistema radicular do cafeeiro e sua relação com a produtividade da cultura. Apesar da deficiência de metodologias bem estabelecidas para o acesso e monitoramento do sistema radicular de cafeeiros, a utilização de softwares tem

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sido empregada com eficiência em alguns estudos recentes, ainda que pioneiros e singulares. Softwares específicos, capazes de interpretar imagens, têm contribuído significativamente para a compreensão do sistema radicular de diversos genótipos de cafeeiros e em diferentes condições. Dentre eles, as diferenças no sistema radicular entre cafeeiros propagados por sementes e por estacas, em plantas irrigadas e não irrigadas, assim como em diferentes genótipos.

Fábio Luiz Partelli

A

B

DESENVOLVIMENTO RADICULAR DO CAFEEIRO PROPAGADO POR SEMENTES E ESTACAS

A propagação vegetativa do cafeeiro Conilon tornou-se tão vantajosa que a grande maioria das renovações de áreas e de novos plantios tem sido feita com mudas provenientes de reprodução assexuada, utilizando estacas. Esse modelo de produção de mudas garante homogeneidade nas lavouras, por manter as características genéticas da planta matriz. De modo contrário, mudas propagadas por sementes são heterogêneas, devido ao grande número de possíveis cruzamentos no momento da fecundação, possibilitando desuniformidade das plantas em uma mesma área em relação a

Figura 1 - Sistema radicular de cafeeiro Conilon aos 52 meses propagado por semente (A) e por estaquia (B)

crescimento, estrutura da planta, capacidade produtiva, período de maturação dos frutos e resistência a pragas e doenças. Mas como se comporta o sistema radicular do cafeeiro Conilon diante da propagação por semen-

tes e estacas? Em um trabalho realizado em Vila Valério, Noroeste do Espírito Santo, verificou-se que a distribuição do sistema radicular não difere tanto nas profundidades do solo quanto nas distâncias do tronco da planta em relação

Figura 3 - Distribuição espacial da área superficial das raízes (em mm2 cm-3, de acordo com diferentes tons de cinza) de cafeeiro Conilon irrigado (A) e não irrigado (B), em diferentes distâncias e profundidades. O ponto zero refere-se à localização da planta

Figura 2 - Distribuição média da área superficial (em cm2 dm-3, de acordo com diferentes tons de cinza) do sistema radicular de café Conilon propagado por sementes ou por estacas, em diferentes distâncias horizontais e profundidades. O ponto zero refere-se à localização da planta

Fonte: Partelli et al., (2014). Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.49, n.5, p.349-355. (DOI: 10.1590/ S0100-204X2014000500004)

Fonte: Covre et al., 2015. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.50, n.11, p.1006-1016. (DOI: 10.1590/ S0100-204X2015001100003)

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Figura 4 - Valores médios (A, C, E) e distribuição relativa dentro de cada grupo (B, D, F) para densidade do comprimento da raiz (A, B), volume da raiz (C, D) e área superficial da raiz (E, F) em seis profundidades de solo (0–10, 10–20, 20–30, 30–40, 40–50 e 50–60 cm). Fonte: Silva et

aos diferentes métodos de propagação (sementes e estacas). Em ambos os métodos, a distribuição radicular foi predominante nas camadas superficiais do solo (0-10 cm) (Figura 2). Dentro da linha de plantio e a partir da profundidade de 40cm, em ambos os métodos houve diminuição da concentração de raízes, em paralelo à oferta de nutrientes. Adicionalmente, o mesmo trabalho avaliou a produtividade das plantas propagadas por sementes e estacas durante 13 colheitas. Observou-se que a produção cumulativa das plantas propagadas por estacas foi superior, produzindo 136 sacas a mais que as plantas propagadas por sementes durante esse período, ou seja, uma média superior a dez sacas a mais por ano para os cafeeiros propagados por estacas em relação aos cafeei-

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ros propagados por semente.

DISTRIBUIÇÃO DO SISTEMA RADICULAR DO CAFEEIRO IRRIGADO E NÃO IRRIGADO

A irrigação de lavouras cafeeiras contribui para o desenvolvimento vegetativo, e quando manejada racionalmente é possível obter incrementos significativos na produtividade e com sustentabilidade. O estresse hídrico tem sido o principal desafio para a produção de diversas culturas em várias regiões. No café Conilon e/ou Robusta, um importante mecanismo fisiológico de tolerância ao déficit hídrico é a eficiência na retirada de água do solo pelas raízes. Genótipos com abundância de raízes em camadas mais profundas do solo são capazes de manter o vigor vegetativo e

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elevar a capacidade produtiva em comparação aos genótipos com menor proporção de raízes em camadas mais profundas, quando submetidos a tal estresse. A irrigação localizada pode interferir no arranjo espacial do sistema radicular. Ao limitar a oferta de água nos solos durante longos períodos de estiagem, as raízes secundárias tendem a se concentrar na região do bulbo úmido, fato observado num trabalho de pesquisa realizado em Itabela, Estado da Bahia. Plantas não irrigadas apresentam menor quantidade de raízes na camada superior do solo, e menor discrepância da distribuição radicular nas diferentes profundidades em comparação às plantas irrigadas (Figura 3). Além disso, a maior concentração de raízes fica sob a projeção da copa do cafeeiro, informação importante principalmente para o manejo de lavouras não irrigadas que são adubadas a lanço.

DIFERENÇAS NO SISTEMA RADICULAR ENTRE GENÓTIPOS DIVERSOS

O sistema radicular do cafeeiro também pode variar entre diferentes genótipos. Em um trabalho realizado em Nova Venécia, Espírito Santo, quatro características do sistema radicular foram avaliadas em 43 genótipos de C. Canephora, que foram divididos em quatro grupos (Figura 4). O grupo I compreendeu os genótipos que apresentaram os menores valores de densidade radicular. Esse grupo foi composto pelo único genótipo propagado por sementes e por outros 27 genótipos de propagação vegetativa. Com base neste resultado, sugere-se que a distribuição do sistema radicular está mais relacionada com a genética da planta que com o método de propagação, pois o genótipo propagado por sementes apresentou características intermediárias aos genótipos propagados por semen-


Case IH

tes, tendo genótipos com menos e outros com mais raízes comparado ao tratamento onde as plantas eram propagadas via sementes. O grupo II foi composto por 13 genótipos. Já o grupo III constituiu-se por apenas um genótipo, que se destacou por apresentar maior volume de raiz, principalmente na camada superficial do solo. Por fim, o grupo IV compreendeu os genótipos que apresentaram distribuição radicular mais uniforme em seis diferentes profundidades (0-10, 10-20, 20-30, 30-40, 40-50, 50-60 cm) quando comparado aos demais grupos. Esses resultados sugerem os genótipos do grupo IV como promissores para lidar com condições de estresse hídrico, uma vez que suas raízes foram distribuídas mais uniformemente nas profundidades e, consequentemente, teve maior abundância de raízes nas camadas mais profundas do solo. É rotineiro tentar inferir acerca da distribuição do sistema radicular com base na projeção da copa e pressupor que uma planta com sistema radicular bem desenvolvido tem uma capacidade produtiva elevada. Na busca por respostas sobre a relação da distribuição do sistema radicular de cafeeiros Conilon com a altura da planta e o rendimento da cultura, um teste de correlação foi realizado para as quatro características avaliadas nos mesmos 43 genótipos. As correlações foram positivas entre os caracteres radiculares e a altura da planta, bem como entre os caracteres radiculares e a produtividade da cultura, com diferentes níveis de significância. A correlação positiva entre as características radiculares e a produtividade do cafeeiro indica que quanto mais abundante o sistema radicular, maior é a produtividade do cafeeiro. No entanto, como as correlações entre as características radiculares e a altura da planta foram consideradas fracas ou

moderadas, o sistema radicular do cafeeiro Conilon não deve ser inferido com base apenas na altura da planta. Além disso, a correlação entre altura e produtividade foi fraca, ou seja, não é recomendado inferir sobre a produtividade com informações da altura da planta.

CONSIDERAÇÕES

O conhecimento da distribuição do sistema radicular de plantas cafeeiras é tão importante quanto o

conhecimento da parte aérea. Pois irá auxiliar na escolha de genótipos, na forma de propagação C e no manejo das plantas.

Larícia Olária Emerick Silva e Raquel Schmidt, Ufes Gustavo Pereira Valani, USP Fábio Luiz Partelli, Ufes

Raquel, Larícia, Valani e Partelli

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Fotos Adeney de Freitas Bueno

Soja e milho

Soma integrada Como o uso combinado das diferentes ferramentas disponíveis para o manejo, além do emprego racional e na hora certa dos inseticidas disponíveis, é importante na luta contra percevejos, pragas desafiadoras e que despontam entre as mais prejudiciais para a produção de soja e de milho no Brasil 12

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O

s percevejos estão entre as pragas mais prejudiciais e desafiadoras para a produção de soja e de milho nas condições brasileiras. Há uma grande diversidade de espécies desses insetos, que podem atacar as plantas nesse sistema produtivo. Até a década de 1990, o percevejo-verde (Nezara viridula) era a espécie mais importante. Entretanto, recentemente, essa espécie é raramente encontrada nas lavouras de soja, podendo ser considerada até de importância secundária. Atualmente, o percevejo-marrom (Euschistus heros) é certamente a espécie mais abundante neste sistema produtivo na quase totalidade das regiões produtoras do território brasileiro. As diferentes espécies de percevejos que atacam a soja podem posteriormente migrar para o milho cultivado em sucessão. Entre essas espécies, o percevejo-barriga-verde (Diceraeus melacanthus) merece destaque por ser a espécie mais daninha ao milho. Isso ocorre porque o percevejo-barriga-verde ataca o milho na base da planta, próximo ao solo, danificando o meristema apical, o que leva à deformação das plantas atacadas. Diferentemente, o percevejo-marrom prefere se alimentar na parte superior das plantas, sugando-as mais perto do cartucho, o que prejudica menos o desenvolvimento do milho. Por isso, é importante diferenciar as espécies em campo, visto que raramente o percevejo-marrom tem potencial de causar dano ao milho. Na soja, todas as espécies podem causar danos na cultura, mas apenas quando se alimentam dos grãos ou sementes, o que, dependendo da intensidade do ataque, pode comprometer a produtividade da lavoura e a qualidade da soja produzida, reduzindo o valor que o produtor receberá na indústria.

CONTROLE QUÍMICO DOS PERCEVEJOS

sivo e muitas vezes exagerado dessa ferramenta tem levado à seleção de populações resistentes aos inseticidas utilizados além da eliminação dos agentes de controle biológico natural. Em consequência do uso inadequado de inseticidas, os produtos não têm funcionado como deveriam. Além disso, essas aplicações têm levado à ressurgência dos percevejos e surtos de pragas secundárias. É possível citar as altas populações de percevejos observadas no final das safras, além de surtos de ácaros (pragas secundárias) que vêm assustando os produtores brasileiros. Nesse contexto, destaca-se a importância do uso combinado das diferentes ferramentas disponíveis para o manejo de percevejos, além do uso racional e na hora certa dos inseticidas disponíveis. Muitos produtores acabam adotando o chamado “controle do percevejo no cedo”, que consiste no controle dos percevejos adultos sobreviventes da safra ante-

rior que estão colonizando a lavoura bem no início do desenvolvimento, antes de serem observados os primeiros ovos e ninfas na área. Entretanto, nessa prática acaba-se aplicando inseticidas antes da formação das vagens (geralmente no florescimento da lavoura), quando os percevejos são comprovadamente incapazes de causar qualquer dano econômico à lavoura e quando os insetos polinizadores, principalmente as abelhas, estão mais ativos e, portanto, mais vulneráveis aos efeitos dos agroquímicos. Além disso, é importante destacar que os percevejos velhos, que vieram da safra anterior, estão normalmente muito parasitados e têm pequena capacidade de danificar as plantas. Quando comparada com a aplicação no nível de ação, comprova-se que a aplicação antecipada de inseticidas somente traz mais gastos, aumenta o problema com pragas, além de certamente acelerar o processo de seleção de percevejos resistentes.

Figura 1 – Diferenças entre os percevejos barriga verde e marrom A

C

B

Principais diferenças entre o percevejo-barriga-verde (A) e o percevejo-marrom (B) Setas vermelhas indicam as diferenças na região da cabeça com o percevejo-barriga-verde à esquerda com estrutura da cabeça bifurcada entre as antenas e o percevejo-marrom à direita com estrutura da cabeça arrendodada entre as antenas (C) Setas azuis indicam as diferenças na região do abdômen com o percevejo-barriga-verde à esquerda com abdômen verde e o percevejo-marrom à direita com o abdômen marrom (C)

A estratégia mais utilizada em campo para controlar essas pragas na soja e no milho é a pulverização com inseticidas. Entretanto, o uso excluwww.revistacultivar.com.br • Março 2021


Outra estratégia inadequada que muitas vezes é utilizada em campo é o “manejo do percevejo no final do ciclo”, para reduzir a população de percevejos que permanece na área e ataca a cultura do milho cultivado em sucessão. Essa estratégia traz dois grandes riscos ao produtor: 1) Quando o período de carência do produto não é respeitado, há grande chance de permanecer resíduos de inseticidas nos grãos, o que compromete a qualidade do produto final; 2) Como a área cultivada de milho na segunda safra é muito menor do que a área cultivada com soja na primeira safra no País, é comum a ocorrência de migrações da praga. Portanto, os percevejos que atacam o milho não são necessariamente aqueles que estavam na soja na mesma área. Percevejos de áreas vizinhas e até de fazendas vizinhas poderão atacar o milho recém-germinado. Por isso é mais eficiente o controle de percevejos direcionado ao milho quando necessário no início de seu desenvolvimento, quando comparado ao controle de percevejos no final do ciclo da soja, na tentativa de reduzir a população de pragas no milho cultivado em sucessão. Para o sucesso do manejo de percevejos é crucial o uso racional de inseticidas, associado às diferentes estratégias de manejo disponíveis. In-

seticidas devem ser aplicados apenas entre os estádios de desenvolvimento R3 e R6 da soja, quando existem vagens suscetíveis aos danos causados por percevejos. Essas aplicações devem ser feitas quando existir uma população de percevejos (ninfas grandes e adultos = insetos maiores que aproximadamente 0,5cm) maior ou igual ao “nível de ação”, que é dois percevejos por metro se a lavoura for destinada à produção de grão ou apenas um desses percevejos se a lavoura for destinada à produção de sementes. Áreas demonstrativas conduzidas por vários anos pelos técnicos do Instituto de Desenvolvimento do Paraná (IDR-Paraná) comprovam a eficiência e a maior lucratividade dessa tecnologia, conhecida como Manejo Integrado de Pragas, o que não inclui nem o “controle do percevejo no cedo” nem o “controle do percevejo no final do ciclo” em suas recomendações.

DIFERENTES ESTRATÉGIAS E RECOMENDAÇÕES DE MANEJO DE PERCEVEJOS CULTIVARES TOLERANTES

Principalmente para áreas de soja com histórico recorrente de problemas com percevejos, é recomendável

Figura 2 - Imagens comparativas dos grãos em diferentes intensidades de infestação

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que, já no momento da semeadura, o sojicultor possa optar por utilizar cultivares mais tolerantes ao ataque dessa praga. Assim, em 2019 foi lançada pela Embrapa no mercado brasileiro a tecnologia Block. Essa tecnologia identifica as cultivares de soja que apresentam menor perda de produção quando submetidas ao ataque intenso de percevejos, comparativamente às cultivares sem a tecnologia Block. São cultivares que, como pode ser observado na Figura 2, têm alto potencial produtivo, comparado aos melhores padrões do mercado. Além da alta produtividade, quando submetidas a populações mais altas de percevejos, não terão sua produção comprometida com a presença de grãos chochos e danificados na mesma intensidade das cultivares sem a tecnologia.

CONTROLE BIOLÓGICO

Além de inseticidas e soja tolerante ao ataque de percevejos, o produtor pode aplicar o controle biológico em sua área. Telenomus podisi é um inseto parasitoide de ovos de percevejos que pode ser comprado e liberado na lavoura para controlar os ovos de percevejos. Sendo assim, cada ovo parasitado, ao invés da emergência de uma ninfa de percevejo, emerge um adulto do parasitoide, que continuará parasitando e controlando novos ovos de percevejo durante sua vida adulta. É importante que o sojicultor que fizer uso dessa “vespinha” no campo fique atento a algumas recomendações. Como esse parasitoide não controla o percevejo e sim os ovos que darão origem aos percevejos, a pesquisa recomenda iniciar a liberação dessas “vespinhas” quando for detectada a presença dos primeiros adultos dos percevejos nas lavouras, realizando duas a três aplicações no intervalo de sete dias. A liberação desses parasitoides é compatível com insetos polinizadores e a preservação de outros organismos benéficos na lavoura. Além dos parasitoides, os fungos entomopatogênicos (Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae) que estão presentes em produtos comerciais recomendados para o controle


Figura 3 A) Percevejo-marrom contaminado com Beauveria bassiana; B) Percevejo-marrom contaminado com Metarhizium anisopliae C) Percevejo-marrom contaminado com Isaria fumosorosea; D) Percevejo-barriga-verde morto por nematoide entomopatogênico do gênero Heterorhabditis A

B

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do percevejo-marrom podem ser utilizados pelo produtor. Além desses, o fungo Isaria fumosorosea apresenta indícios de boa capacidade em controlar percevejos. Além dos fungos, outros estudos apontam a capacidade de nematoides do gênero Heterohabditis em controlar o percevejo-barriga-verde que poderão em breve estar reforçando a lista de produtos biológicos (microbiológicos) disponíveis ao agricultor.

CONTROLE QUÍMICO

Aplicar inseticidas apenas quando a população de pragas atingir o nível de ação para a cultura da soja e a lavoura estiver entre os estádios de desenvolvimento de R3 a R6. Dar preferência para inseticidas mais seletivos aos inimigos naturais e preferencialmente sempre rotacionar os modos de ação utilizados. Com relação aos diferentes modos de ação, as possibilidades existentes no momento são: a) Grupo 1 de inseticidas (inibidores de acetilcolinesterase): trata-se do inseticida acefato; b) Grupo 2 de inseticidas (bloqueador de canais de cloro mediados pelo Gaba): trata-se do inseticida etiprole;

c) Grupo 3 de inseticidas (moduladores dos canais de sódio): trata-se dos produtos com piretroides como seus ingredientes ativos; d) Grupo 4 de inseticidas (moduladores competivivos de receptores nicotínicos de acetilcolina): trata-se dos produtos do grupo dos neonicotinoides. Na prática, os grupos 3 e 4 não são usados isoladamente contra percevejos e formam os produtos em misturas prontas para uso com neonicotinoides + piretroides. Para conferir o modo de ação de um inseticida consulte https://www.irac-br.org/modo-de-acao.

CUIDADOS NA COLHEITA

É importante “colher a soja no limpo” com um bom manejo de plantas daninhas, além de reduzir perdas de grãos na colheita, pois grãos de soja caídos no chão e a presença de algumas plantas daninhas servem de alimento ao percevejo-barriga-verde, que poderá assim permanecer na área, favorecendo o desenvolvimento da praga na segunda safra (milho).

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TRATAMENTO DE SEMENTES

Em caso de histórico de ocorrência de percevejos na área, usar tratamento de sementes no milho com neonicotinoides para controle inicial dos percevejos. Monitorar e controlar a praga com aplicações de inseticidas adicionais apenas quando a população do percevejo barriga-verde for igual ou superior a dois percevejos por metro. Fazer esse controle até o milho ter a espessura de colmo acima dos 1,5cm, quando o controle de percevejos não é então mais justificável. Usar as diferentes estratégias disponíveis de manejo de percevejos de forma integrada dentro dos princípios do Manejo Integrado de Pragas é a única garantia de sucesso do produtor no combate a percevejo, o mais temido vilão das culturas da soja e do C milho. Adeney de Freitas Bueno, Embrapa Soja Rodrigo Mendes Antunes Maciel, Universidade Federal do Paraná Fernanda Caroline Colombo, Universidade Estadual de Londrina

Resultados Médios do MIP-Soja no Paraná Variáveis Número de aplicações de inseticidas por safra Dias até a primeira aplicação de inseticida Controle de pragas (sacos de 60 kg) Produtividade (sacos de 60 kg/ha)

Comparação MIP Sem MIP MIP Sem MIP MIP Sem MIP MIP Sem MIP

Médias de 6 safras (2013/14 até 2018/19) 2,0 4,0 69,4 dias 37,9 dias 2,0 4,3 57,1 55,9

Adeney, Rodrigo e Fernanda

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Marcelo Madalosso

Soja

Resultado colateral Como a antecipação da época de semeadura da soja pode ter contribuído para que o estado do Paraná se tornasse fonte geradora de esporos da ferrugem-asiática

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ferrugem-asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é uma doença de alto potencial destruidor da cultura, podendo causar perdas de até 70% da produção. O estado do Paraná se destaca no cenário nacional como um dos maiores produtores de soja, mantendo uma legislação rigorosa no cerco à evolução da ferrugem nas lavouras do estado. O vazio sanitário vigente atualmente no estado vai de 10 de junho a 10 de setembro. Anteriormente à legislação atual este período se estendia do dia 15 de junho a 15 de setembro. Este fato, infelizmente possibilitou que se estreitasse a ponte que liga a geração de esporos de plantas guaxas de soja ou mesmo de safrinha, provenientes dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, que não têm legislação específica para o vazio sanitário na cultura da soja. Anteriormente as atenções se voltavam para o Paraguai, que não adotava o vazio sanitário e era responsável pela produção de esporos tanto no plantio de soja safrinha quanto no plantio de soja no mês de agosto, também chamada soja “tempranera”. Estes esporos atingiam as lavouras paranaenses, pois eram trazidos pelo deslocamento de sistemas frontais de chuva, que passavam por aquele país, entrando pelo Brasil, via Paraná. Este fato ainda ocorre, pois o vazio sanitário adotado naquele país termina em 1º de setembro, possibilitando que os produtores semeiem a soja cinco dias antes do término do vazio, uma vez que o que vale é plântula emergida. Os coletores de esporos até então, eram instrumentos fundamentais para se monitorar o momento de chegada desses esporos para então se determinar a aplicação de fungicidas preventivamente, baseado na presença do patógeno, nas condições ambientais favoráveis e na soja em situação de vulnera-


bilidade devido à ação do fungo Phakopsora pachyrhizi. Com isso, se fugia das aplicações calendarizadas, iniciadas durante o período de florescimento até metade do enchimento dos grãos. Esta metodologia propiciava reduzir de três para até zero as aplicações de fungicidas, significando ganhos ao produtor, ao ambiente e para os poucos princípios ativos disponíveis no mercado para o controle de ferrugem-asiática da soja. A antecipação do plantio e a utilização de cultivares precoces com o intuito de se criar áreas de escape da ferrugem-asiática da soja, na verdade criaram outro problema, que foi a transformação destas áreas de escape em áreas fontes geradoras de esporos. Tal afirmação é baseada no fato de que tanto na plataforma do Consórcio Antiferrugem como na plataforma Alerta Ferrugem, do IDR-PR, tanto os esporos como o aparecimento dos primeiros sintomas de ocorrência têm sido registrados cada vez mais precocemente. Na safra 2019/2020, segundo a plataforma Alerta Ferrugem, os esporos foram identificados nos coletores no dia 31 de outubro, no município de Vitorino, Paraná, no Sudoeste do estado (Figura 1). Os sintomas nas folhas também foram detectados nessa mesma região e relatados na plataforma do Consórcio Antiferrugem (Figura 2). Nas safras 2018/2019 e 2020/2021 o mesmo ocorre, com aparecimento precoce em 31/10/2018 e 21/10/2020, respectivamente, sob condições favoráveis, na mesma região do Paraná, corroborado pela plataforma do Consórcio Antiferrugem. Anteriormente a este novo calendário do vazio sanitário, mesmo em períodos de El Niño, o aparecimento de ferrugem da soja se dava na segunda quinzena do mês de dezembro. Em anos de La Niña observou-se que os esporos chegavam mais tardiamente no início do mês de janeiro.

Figura 1 - Localização do primeiro esporo detectado no coletor de esporo do município de Vitorino (PR), na safra 2019/2020, na região sudoeste do Paraná. Fonte: Alerta Ferrugem (IDR-PR)

Figura 2 - Ocorrência de ferrugem-asiática da soja no estado do Paraná. Fonte: Consórcio Antiferrugem, safra 2018/2019

O aparecimento precoce de ferrugem-asiática nestes locais enseja que pelo menos três a cinco aplicações de fungicidas devam ser realizadas para controle da doença na região Sudoeste, em condições normais de tempo, uma vez que com o aparecimento precoce dos esporos, no final do mês de outubro e no máximo um intervalo de 15 dias para outra aplicação, dependendo do estádio da cultura. Se as condições meteorológicas indicarem alta probabilidade de ocorrência de chuvas, o controle fica mais difícil, e a doença facilmente se dissemina por toda a região e por todo o estado, como na prática já está ocorrendo. Tal situação destoa da afirmação de que se antecipando o plantio se poderia reduzir o número de aplicações. Na metodologia adotada pelo IDR-PR, o aparecimento de apenas um esporo viável já é razão suficiente

para se dar início às pulverizações. O que se observa é que as informações obtidas via coletor de esporos estão indicando uma antecipação também no controle de ferrugem-asiática, o que, na prática, revela que a antecipação do plantio de nada adiantou com relação à possibilidade de escape da doença. Por sua vez, com o início dos relatos de presença de esporos nos coletores, o gatilho para aplicação de fungicidas começa a ser disparado em todo o Paraná, pelo pavor de que a doença possa se alastrar rapidamente e dizimar as plantações. Sem dúvida, para os produtores que trabalham com cultivares mais tardias ou mesmo precoces cultivadas no mês de outubro, serão necessárias mais que três aplicações para supostamente controlar a doença. Por que na região Sudoeste do

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Figura 3 – Concentração de relatos de detecção de esporos de ferrugem em coletores de esporos na rede do IDR – PR, safra 2020/2021. Fonte: Alerta Ferrugem (IDR-PR)

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do o estado do Paraná, certamente a maioria dos produtores teria semeado a cultura da soja logo após a liberação do vazio sanitário, e a

Claudinei Antonio Minchio, IDR-PR

Valtemir José Carlin

Paraná a epidemia tem se iniciado antes de outras regiões do estado? Primeiro, pela proximidade com estados onde não se adota o vazio sanitário e estreitamento da ponte verde de sobrevivência do patógeno. Segundo, porque o plantio precoce utilizando cultivares precoces, possibilita presença de hospedeiro verde mais rapidamente na região. Em terceiro vem o clima favorável, em que a maior parte das frentes frias chega primeiro a esta região, depois se dilui para as demais regiões do estado, levando chuva ou não. Nesta safra especificamente, 2020/2021, apesar da ocorrência de estiagem no estado, a região registrou índices pluviométricos melhores que as demais regiões, possibilitando o estabelecimento da cultura logo após o término do vazio sanitário, em 10 de setembro. Neste momento de intensas chuvas, muitas lavouras já estão em ponto de colheita, enquanto na maior parte do estado a soja ainda está na fase de formação de vagem e enchimento de grãos. Se as condições meteorológicas desta região se refletissem em to-

situação seria muito pior do que a observada agora, com relação à ferrugem-asiática da soja. Os primeiros e a maioria dos relatos de esporos se concentram na região Sudoeste do estado, demonstrando claramente uma concentração de esporos nesta região que claramente é fonte geradora de esporos que irão contaminar outras lavouras do Paraná (Figura 3). O esporo da doença já se encontra diluído no estado do Paraná e isto conduz a refletir sobre a necessidade de um período maior de vazio sanitário ou de manutenção do período de vazio anterior, fechando em 15 de setembro, pois como já observado, o estado ingressou na condição de autossuficiência na produção de esporos de ferrugem-asiática, talvez nem sendo necessária a utilização de coletores, uma vez que já há produção doméstica. C

A ferrugem-asiática é uma doença com alto potencial de destruição na cultura da soja


Capa

Fernando Willian Neves

Fronteira rompida Lagarta-das-fruteiras (Argyrotaenia sphaleropa) é registrada pela primeira vez em lavouras de soja do Mato Grosso. Praga comum em uva, pêssego, caqui, laranja e maçã, em grandes culturas começa o ataque pelas folhas jovens. Sua capacidade de adaptação e a ampla gama de plantas hospedeiras presentes no território nacional permitem que o inseto venha a se estabelecer em outras regiões produtoras

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soja é a principal cultura cultivada no Brasil e, pela sua rentabilidade, tem ocupado lugar de outras culturas de importância econômica. Atualmente o País é o maior produtor e exportador mundial da oleaginosa, cuja expectativa de produção da safra 2020/21 é estimada em 133,817 milhões de toneladas, ganho de 7,2% em relação à safra 2019/20, No entanto, a produtividade da agricultura nacional está suscetível ao ataque de pragas que ameaçam a sojicultura. As pragas, de modo geral, reduzem o volume de produção, causam prejuízos à qualidade de produtos e, conforme a infestação, podem matar as plantas e até dizimar lavouras inteiras. Por conta da diversidade de pragas, os desafios são enormes ao agricultor para elevar a produtividade. Conhecida como lagarta-das-fruteiras ou traça-verde-dos-cachos, (Argyrotaenia sphaleropa (Meyrick, 1909), Lepidoptera: Tortricidae), é um inseto polífago, com hábito crepuscular e noturno, nativo da América do www.revistacultivar.com.br • Março 2021

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ximadamente 14mm de comprimento, de coloração verde-claro enroladas nas folhas de soja no terço superior. Também se alimentam das folhas antes de tecer fios de seda que formam seu abrigo em forma de galeria. A entrada da lagarta-das-fruteiras pode ter se iniciado com um conjunto de indivíduos ou, às vezes, com um único indivíduo. A sua introdução pode ter sido não intencional, resultado secundário do transporte intencional de outro produto, como o transporte de uva in natura para o mercado consumidor da região Oeste do Mato Grosso. Em outros países da América do Sul são apresentados relatos da ocorrência desta praga na Argentina, Bolívia,

Fotos Fernando Willian Neves

Sul, encontrado com frequência danificando frutas como uva, pêssego, caqui, laranja, maçã, entre outras culturas agrícolas cultivadas em clima temperado subtropical úmido. Com o advento da agricultura, organismos como insetos, ácaros, bactérias, vírus e fungos tiveram oportunidades de se estabelecer em novos locais. As atividades agrícolas, de certa forma, criaram condições propícias para a ocorrência de pragas em áreas onde elas naturalmente não ocorreriam. A partir da safra agrícola 2017/18, no município de Sapezal, Mato Grosso, de clima tropical com estação seca foram observadas lagartas com comportamento bastante ativo, medindo apro-

Na fase larval a praga produz uma espécie de teia para se abrigar, causando o enrolamento do limbo foliar

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Colômbia, Peru, Paraguai e Uruguai, com ataque a plantas frutíferas, ornamentais e aromáticas. As larvas podem se alimentar de brotos, folhas, flores e frutos, dependendo do hospedeiro. A dispersão natural desta espécie não nativa no Mato Grosso é bastante limitada, com a dispersão a longas distâncias ocorrendo unicamente através de atividades humanas. Esse fenômeno da expansão geográfica da lagarta-das-fruteiras pode ser explicado por duas forças de origem antrópica: a expansão das fronteiras agrícolas e a movimentação de material vegetal. A identificação da espécie foi feita através da morfologia e levantamento bibliográfico. Os adultos da lagarta-das-fruteiras apresentam 15mm de envergadura e 8mm de comprimento, sendo as fêmeas maiores que os machos, permanecem nesta fase durante 14 dias. Possuem cabeça com antenas filiformes e tórax com tufo de cor castanho, abdome marrom acinzentado e a parte caudal um pouco mais clara, com pelos evidentes. Possuem asas anteriores de cor variável e oscilam entre o castanho-claro e o castanho-escuro, sendo as asas traseiras cinza-claro, um pouco transparentes. Os ovos são ovipositados em massas, média de 31 ovos/postura, cada fêmea oviposita entre 240 ovos e 260 ovos de coloração amarelada durante o ciclo de vida, vindo a emergir lagartas de coloração verde-claro, em média sete dias depois da postura. As lagartas possuem comprimento de até 14mm no quinto instar e permanecem na fase larval por 14 dias e posteriormente empupam sob as próprias folhas que lhes servirão de abrigo e alimento. As pupas possuem coloração castanho-claro. Em cada segmento do abdome possuem duas fileiras de microespinhos dorsais e ficam protegidas sob a teia durante cinco dias até a emergência do inseto adulto. Os danos visíveis na fruticultura, por exemplo, na viticultura, ocorrem quando as lagartas alojam-se no interior dos cachos durante a floração ou nas bagas, onde danificam a casca do engaço, causando o murchamento e


to adulto pode ser feito através de armadilha de feromônios sintéticos, muito utilizada por fruticultores na região Sul do País, e para as lagartas o uso de produtos biológicos à base de Bacillus thuringiensis é o mais recomendado como parte do programa de Manejo Integrado de Pragas da soja. A ampla adaptação do inseto de temperaturas mais amenas a clima quente e úmido, além da oferta de plantas hospedeiras ao longo de todo o ano em território nacional, faz com que a praga se estabeleça em outras regiões, podendo se estabelecer em grandes culturas como a soja. A importância do relato em sua primeira ocorrência deixa em alerta as autoridades da defesa fitossanitária para melhor entender a dispersão e os possíveis danos desta praga. A definição das possíveis vias de ingresso e disseminação da lagarta-das-fruteiras em soja é o primeiro ponto necessário para a implementação de políticas de prevenção e manejo. Essas ações devem ser acordadas entre os setores governamentais e o setor privado que tenham interesse direto na C proteção fitossanitária. Folha de soja com danos provocados pelo ataque do inseto

consequentemente a queda das uvas. Quando o ataque ocorre próximo à colheita, provoca o rompimento das bagas, resultando no extravasamento do suco sobre o qual proliferam bactérias que ocasionam a podridão ácida, reduzindo a qualidade dos vinhos ou depreciando os cachos para o comércio in natura. Os possíveis danos em potencial na cultura da soja começam pelas folhas jovens, na qual o estádio larval produz uma teia para se abrigar, causando assim o enrolamento do limbo foliar onde se alimenta, levando ao apodrecimento do ponteiro e à redução da área fotossintética ativa. O monitoramento semanal de pragas é a atividade que faz parte das Boas Práticas Agronômicas, as quais auxiliam na identificação e na melhor tomada de decisão. O controle do inse-

Fernando Willian Neves, UFV

A redução da área fotossintética ativa é um dos efeitos da incidência da lagarta

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Soja

Eficiência ampliada De que modo o uso de fungicidas multissítios pode ampliar a eficiência de controle de doença em soja e impactar de modo positivo a produtividade da cultura

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Cultivar

ocorrência epidêmica da ferrugem-asiática da soja, causada por Phakopsora pachyrhizi Syd. & P. Syd, a partir de 2001/02, impulsionou o uso de fungicidas na cultura da soja no Brasil. Nas primeiras safras após a ocorrência da doença no País, fungicidas sítio-específicos, utilizados de forma isolada, foram adotados para controle. A seleção de indivíduos menos sensíveis ou resistentes e a redução de eficiência de controle nas safras subsequentes reforçaram a adoção de estratégias antirresistência, como a combinação de modos de ação e uso de multissítios. O uso de produtos com ação multissítio, como oxicloreto de cobre, além de promover benefícios para o manejo de resistência, potencializa o controle de doenças. Sabe-se que os ingredientes ativos possuem ação direta no patógeno, afetando diversos mecanismos vitais, contudo, esse efeito pode ir além e também promover a ativação de mecanismos de defesa das plantas. Respostas bioquímicas

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como a síntese de espécies reativas de oxigênio (EROs) e enzimas antioxidantes podem resultar no acúmulo de compostos fenólicos, flavonoides, fitoalexinas e diferentes proteínas relacionadas à defesa, portanto uma das maneiras de se estudar este mecanismo em plantas seria por meio do metabolismo oxidativo. Com o intuito de analisar as respostas fisiológicas de fungicidas sítio-específicos e multissítios na cultura da soja e sua resposta em controle de ferrugem-asiática e produtividade, foi conduzido um experimento na Fazenda Experimental da Fundação Chapadão, município de Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul, em parceria com o Núcleo de Fisiologia e Estresse de Plantas (Nufep- Unipam), Patos de Minas, Minas Gerais.

EXPERIMENTOS

O ensaio foi conduzido na safra 2019/20, na unidade experimental Fundação Chapadão, localizada em Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul. O objetivo foi estudar o efeito dos fungicidas

benzovindiflupir + azoxistrobina (150g/L + 300g/L), fluxapiroxade + piraclostrobina (167g/L + 333g/L), protioconazol + trifloxistrobina (175g/L + 150g/L), ciproconazol + picoxistrobina (80g/L + 200g/L) combinados ou não aos multissítios mancozebe (750g/L, WG) e oxicloreto de cobre (588g/L, SC) no controle de ferrugem-asiática e produtividade, além de parâmetros fisiológicos da cultura da soja. O delineamento foi em blocos casualizados em esquema fatorial 4x3+1, sendo o primeiro fator representado pelos produtos sítio-específicos (benzovindiflupir + azoxistrobina, fluxapiroxade + piraclostrobina, protioconazol + trifloxistrobina e ciproconazol + picoxistrobina) e o segundo fator representado pelos multissítios (mancozebe, oxicloreto de cobre e ausência de multissítio), e a testemunha como tratamento adicional (Tabela 1). A cultivar utilizada foi a M8372 RR IPRO, semeada em 19/11/2019. As aplicações utilizaram volume de calda equivalente a 150L/ha, e em todos, exceto


testemunha, houve adição de adjuvante recomendado de acordo com o fabricante. As aplicações foram realizadas aos 40, 54, 71 e 85 dias após a emergência (DAE). Os parâmetros analisados foram severidade, porcentagem de eficiência da área abaixo da curva de progresso (AACPD) e reposta metabólica das plantas. Para identificar o momento de início da doença na área, foram coletadas, três vezes por semana, folhas de soja das parcelas testemunhas, e enviadas ao laboratório de análise e diagnose de doenças. As avaliações de severidade tiveram início a partir da detecção da doença. A estimativa da porcentagem de área foliar lesionada foi dada a partir da avaliação de dez folhas coletadas em quatro pontos distintos de cada parcela. Os avaliadores atribuíram as notas seguindo a escala proposta por Godoy, Koga e Canteri (2006). Para avaliação do metabolismo das plantas, folhas foram coletadas 15 dias após a última aplicação. As folhas foram dispostas em nitrogênio líquido e transportadas até o Núcleo de Fisiologia e Estresse de Planas (Nufep) do Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam), Patos de Minas, Minas Gerais. A enzima superóxido desmutase (SOD) foi avaliada segundo a metodologia de Beauchamp e Fridovich (1971), citados por Bor et al. (2003), que leva em consideração leituras de absorbância a 560nm em espectrofotômetro. A atividade da peroxidase (POD) foi determinada de acordo com Teisseire e Guy (2000), pela medição da purpurogalina em espectrofotômetro UV-visível a 430nm, sendo a atividade expressa em µmol de purpurogalina min-1 mg-1 de proteína. Os resultados foram submetidos à análise de variância e teste de Scott-Knott, a 5% de significância, utilizando-se o programa estatístico AgroEstat (Barbosa & Maldonado Júnior, 2015).

RESULTADOS

A detecção de ferrugem-asiática ocorreu em 28 de janeiro de 2020, com plantas em estádio R4. A testemunha sem aplicação apresentou maior severidade em relação aos demais tratamen-

Figura1 - (A) Severidade em R6 (%) e (B) Eficiência (%) calculada a partir da área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) para ferrugem-asiática em soja cultivar M8372 RR IPRO submetida a aplicação de fungicidas sítio-específico e multissítio. Chapadão do Sul-MS, safra 2019/20

*Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si para a variável sítio-específico, e seguidas de letras maiúsculas não diferem entre si para a variável multissítio de acordo com o teste de Scott-knott a 5% de significância. **Significativo para o tratamento adicional versus fatorial. Benzo + Azoxi (Benzovindiflupir + Azoxistrobina – 300 + 150 g/L), Fluxa + Pira (Fluxapiroxade + Piraclostrobina – 167 + 333 g/L), Protio + Trifloxi (Protioconazol + Trifloxistrobina – 175 + 150 g/L), Cipro + Picoxi (Ciproconazol + Trifloxistrobina – 80 + 200 g/L), Mancozebe (Mancozebe - 750 WG), Ox. Cobre (Oxicloreto de cobre – 588 g/L SC).

Figura 2 - Curva de progresso de ferrugem-asiática da soja em tratamentos com aplicação de fungicidas sítio-específicos combinados ou não a multissítios. Fundação Chapadão, MS, safra 2019/20. Representa as datas de aplicação

tos, com severidade média de 97,3% no estádio R6. Os resultados para aplicações de sítio-específico (benzovindiflupir + azoxistrobina, fluxapiroxade + piraclostrobina, protioconazol + trifloxistrobina e ciproconazol + picoxistrobina) não diferiram entre si em severidade (Figura 1A). Contudo, tratamentos com a associação de multissítio apresentaram menor severidade da doença e atrasaram o seu progresso (Figura 2). Entre os multissítios, oxicloreto de cobre apresentou menor severidade em relação ao mancozebe (Figura 1A). Nesse caso, a eficiência de controle média com associação de oxicloreto de cobre e sítio-específico foi de 71,8% e 52,6% quando os sítio-específicos foram associados a mancozebe (Figura 1B).

A adição de multissítios aos sítio-específicos atenuou o progresso da doença, conforme representado na Figura 2. Em outras palavras, a expressão “achatou a curva”, comumente utilizada em casos de epidemias, representa o efeito dos multissítios no progresso da doença. Quanto ao sistema antioxidante, foram observadas alterações na atividade enzimática nesse estudo. Entre os fungicidas sítio-específicos o fluxapiroxade + piraclostrobina apresentou a maior atividade da SOD e entre os fungicidas multissítios o oxicloreto de cobre se destacou com a maior atividade da enzima (Figura 3A). A SOD é uma importante enzima na tolerância das plantas a estresses bióticos e abióticos, pois constitui a primeira linha de defesa contra os

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Figura 3 - (A) Atividade da superóxido dismutase (SOD, U µg proteína-1) e (B) Atividade da peroxidase (POD, µmol purpurogalina min-1 mg proteína-1 em soja cultivar M8372 RR IPRO submetida à aplicação de fungicidas sítio-específico e multissítio. Chapadão do Sul-MS, 2020

Figura 4 - Produtividade média de tratamentos com fungicidas no controle de ferrugem-asiática da soja na Fundação Chapadão, MS, safra 2019/20

*Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si para a variável sítio-específico, e seguidas de letras maiúsculas não diferem entre si para a variável multissítio de acordo com o teste de Scott-knott a 5% de significância. ns Não significativo para o tratamento adicional versus fatorial. **Significativo para o tratamento adicional versus fatorial. Benzo + Azoxi (Benzovindiflupir + Azoxistrobina – 300 + 150 g/L), Fluxa + Pira (Fluxapiroxade + Piraclostrobina – 167 + 333 g/L), Protio + Trifloxi (Protioconazol + Trifloxistrobina – 175 + 150 g/L), Cipro + Picoxi (Ciproconazol + Trifloxistrobina – 80 + 200 g/L), Mancozebe (Mancozebe - 750 WG), Ox. Cobre (Oxicloreto de cobre – 588 g/L SC).

*Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si para a variável sítio-específico, e seguidas de letras maiúsculas não diferem entre si para a variável multissítio de acordo com o teste de Scott-knott a 5% de significância. **Significativo para o tratamento adicional versus fatorial. Benzo + Azoxi (Benzovindiflupir + Azoxistrobina – 300 + 150 g/L), Fluxa + Pira (Fluxapiroxade + Piraclostrobina – 167 + 333 g/L), Protio + Trifloxi (Protioconazol + Trifloxistrobina – 175 + 150 g/L), Cipro + Picoxi (Ciproconazol + Trifloxistrobina – 80 + 200 g/L), Mancozebe (Mancozebe - 750 WG), Ox. Cobre (Oxicloreto de cobre – 588 g/L SC).

efeitos deletérios do estresse oxidativo. Esta enzima remove O2-, catalisando sua dismutação em H2O2 + O2. Quanto à atividade da peroxidase (POD), ficou evidente o efeito positivo da aplicação dos fungicidas. Dentro de fungicidas sítio-específicos se observou maior efeito para fluxapiroxade + piraclostrobina e ciproconazol + picoxistrobina, seguido de benzovindiflupir + azoxistrobina e posteriormente o protioconazol + trifloxistrobina. A soma de fungicidas multissítios proporcionou um aumento de 26,4% na Tabela 1 - Descrição dos tratamentos e doses utilizadas no controle da ferrugem (Phakopsora pachyrhizi) na soja. Fundação Chapadão, MS, safra 2019/20 Tratamento T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 T13

Dose p.c.** Ingrediente (L ou kg/ha) Ativo (i.a.)* Controle 0,2 Benzo + Azoxi1 0,2 + 1,5 Benzo + Azoxi1 + Mancozebe Benzo + Azoxi1 + Oxicloreto de Cobre 0,2 + 0,5 0,3 Fluxa + Pira2 0,3 + 1,5 Fluxa + Pira2 + Mancozebe 0,3 + 0,5 Fluxa + Pira2 + Oxicloreto de Cobre 0,4 Protio + Trifloxi3 0,4 + 1,5 Protio + Trifloxi3 + Mancozebe Protio + Trifloxi3 + Oxicloreto de Cobre 0,4 + 0,5 0,3 Cipro + Picoxi4 0,3 + 1,5 Cipro + Picoxi4 + Mancozebe Cipro + Picoxi4 + Oxicloreto de Cobre 0,3 + 0,5

*i.a. ingrediente ativo. **p.c. produto comercial. Adicionado adjuvante específico recomendado ao produto comercial, sendo 1 - Ochima 0,25 L/ ha, 2 - Assist 0,5 L ha-1, 3 - Aureo 0,25 L/ ha e 4 - Ochima 0,25 L/ ha. Benzo + Azoxi (Benzovindiflupir + Azoxistrobina – 300 + 150 g/L), Fluxa + Pira (Fluxapiroxade + Piraclostrobina – 167 + 333 g/L), Protio + Trifloxi (Protioconazol + Trifloxistrobina – 175 + 150 g/L), Cipro + Picoxi (Ciproconazol + Trifloxistrobina – 80 + 200 g/L), Mancozebe (Mancozebe - 750 WG), Ox. Cobre (Oxicloreto de cobre – 588 g/L SC).

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atividade da POD para mancozebe e um aumento de 41,2% para o oxicloreto de cobre quando comparado ao controle (Figura 3B). Esse comportamento pode auxiliar de forma significativa na defesa de plantas contra patógenos. Isso porque, ao consumir H2O2 no citosol, vacúolo, e da parede celular, bem como no espaço extracelular, reduz os danos em estruturas celulares. Além disso, a enzima POD participa na síntese de lignina que confere às células a resistência mecânica contra patógenos. Sendo assim, pode-se inferir que o oxicloreto de cobre exerce uma ação a que vai além do controle de doenças. Pois, ao proporcionar um acréscimo nas atividades das enzimas SOD e POD, exerce uma função fisiológica adicional na defesa e

de proteção contra estresse oxidativo. Para produtividade, entre os sítio-específicos, aplicações com a mistura picoxistrobina + ciproconazol apresentaram menor produtividade (53,8 sc/ha) em relação a azoxistrobina + benzovindiflupir (57,9 sc/ha), piraclostrobina + fluxapiroxade (58,8 sc/ha) e trifloxistrobina + protioconazol (58,4 sc/ha) (Figura 4). Tratamentos com adição de multissítios mancozebe e oxicloreto de cobre apresentaram produtividade de 1 sc/ha e 5,1 sc/ha, respectivamente, superior aos respectivos tratamentos sem multissítio. Os resultados confirmam o benefício do uso de multissítios em associação a sítio-específicos para o controle de doenças e produtividade. Além disso, ganhos em produtividade e eficiência de

Figura 5 - Modelo fisiológico do oxicloreto de cobre em plantas de soja considerando o efeito fúngicos e ativador de proteção e desintoxicação



Quadro 1 - Visual de parcelas em estádio R5.5 (06/03/2020). Chapadão do Sul-MS, safra 2019/20. Fundação Chapadão, 2020

1 - Testemunha

2 - Benzovindiflupir + Azoxistrobina (200 g ou mL. p.c. ha-1)

3 - Benzovindiflupir + Azoxistrobina (200 g ou mL. p.c. ha-1) + Mancozebe (1500 g p.c. ha-1)

4 - Benzovindiflupir + Azoxistrobina (200 g ou mL. p.c. ha-1) + Ox. cobre (500 mL. p.c. ha-1)

5 - Fluxapiroxade + Piraclostrobina (300+500 mL p.c. ha-1)

6 - Fluxapiroxade + Piraclostrobina (300+500 mL p.c. ha-1) + Mancozebe (1500 g p.c. ha-1)

7 - Fluxapiroxade + Piraclostrobina (300+500 mL p.c. ha-1) + Ox. Cobre (500 mL. p.c. ha-1)

8 - Protioconazol + Trifloxistrobina (400 mL p.c. ha-1)

9 - Protioconazol + Trifloxistrobina (400 mL p.c. ha-1) + Mancozebe (1500 g p.c. ha-1)

10 - Protioconazol + Trifloxistrobina (400 mL p.c. ha-1) + Ox. Cobre (500 mL p.c. ha-1)

11 - Ciproconazol + Picoxistrobina (300 mL p.c. ha-1)

12 - Ciproconazol + Picoxistrobina (300 mL p.c. ha-1) + Mancozebe (1500 g p.c. ha-1)

controle podem estar relacionados a mecanismos fisiológicos das plantas desencadeados pela aplicação dos fungicidas. De acordo com os dados obtidos desenvolveu-se um modelo fisiológico (Figura 5) que descreve os efeitos do oxicloreto de cobre em plantas de soja considerando duas linhas de ação. A primeira está relacionada à ação fungicida da molécula que reduz a perda de área foliar e a senescência prematura da planta. A segunda linha de ação está envolvida no efeito fisiológico, especialmente no incremento da ativação das enzimas antioxidantes POD e SOD. O aumento da sua atividade repercutiu na redução dos níveis de espécies reativas de oxi30

gênio (ERO) que causam morte celular e redução fotossintética. A proteção de danos causados pelos fungos e a ativação de enzimas antiestresse foram a possível causa da potencialização da fotossíntese e por consequência da disponibilidade de fotoassimilados para grãos.

CONCLUSÃO

O uso de fungicidas multissítios ampliou a eficiência de controle de doença em soja. Além disso, o oxicloreto de cobre promoveu aumento no metabolismo oxidativo (POD e SOD), incrementando de forma positiva a resposta ao tratamento contra a ferrugem-asiática na cultura da C soja e produtividade da cultura.

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13 - Ciproconazol + Picoxistrobina (300 mL p.c. ha-1) + Ox. Cobre (500 mL p.c. ha-1)

Lucas Henrique Fantin e Alfredo Riciere Dias, Fundação Chapadão Evandro Binotto Fagan e Marina Rodrigues, Unipam João Paulo Junior e Mariana Vilela Lopes, Oxiquímica



Milho

Fotos Maurício Pasini (2019)

Pequenos vilões Insetos de tamanho menor, como cigarrinha, pulgão e tripes, crescem em importância e protagonismo nas lavouras de milho do Brasil. Esse cenário tem instigado um novo modo de olhar para a cultura, o manejo, a escolha de híbridos e as biotecnologias

H

á uma tendência nos problemas fitossanitários de ordem entomológica vinculados às culturas. A interação inseto-planta e a seleção de indivíduos estão fazendo com que espécies de insetos de tamanho maior percam seu protagonismo para insetos pequenos. Diferentemente dos insetos que são, habitualmente, constituídos como foco – entre eles, lagartas como Spodoptera frugiperda e percevejos como Diceraeus melacanthus e D. furcatus – cujo estabelecimento é visível a partir da implantação da cultura por meio da identificação de perda de área foliar ou de anomalias decorrentes da alimen32

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tação, insetos com tamanho pequeno tornam-se visíveis quando suas populações já estão estabelecidas e em elevadas densidades populacionais. Dentre os insetos pequenos, algumas espécies são vetores (organismos que servem de veículo para a transmissão de algum causador de doença), o que torna ainda mais impactante sua interação com as plantas cultivadas. Neste contexto, a cultura do milho vem enfrentando desafios relacionados a insetos de tamanho pequeno, os quais têm instigado um novo modo de olhar para a cultura, o manejo, a escolha de híbridos e biotecnologias, além de regiões e épocas de implantação. Na esteira dessa nova perspectiva

é possível perceber que o estabelecimento gradativo da cultura, a não eliminação de plantas de milho voluntárias e outras ações de manejo tardias só têm prejudicado a cultura, fazendo com que insetos com elevado potencial de dano econômico tenham constante fonte de alimento e abrigo para a reprodução, permitindo que suas populações se avultem, e que a presença de inóculo seja constante.

CIGARRINHA-DO-MILHO

Nesse cenário, destaca-se a cigarrinha-do-milho, da qual é conhecido o potencial biótico, a persistência, o fitness, a interação com plantas hospedeiras e a distribuição homogênea


-milho se encontra elevada, com mais de uma cigarrinha aparente por planta, é praticamente impossível eliminar a população.

PULGÃO-DO-MILHO

Adulto de Dichelops melacanthus e Dichelops furcatus

em ambientes produtivos, seu elevado potencial de dano indireto, devido à sua relação com Maize rayado fino vírus, com Spiroplasma kunkelii e com o fitoplasma Maize bushy stunt (Classe Molicutes), no que se insere a necessidade da escolha de híbridos de milho com tolerância, ou mesmo que com a presença de sintomas, a produtividade não seja afetada. Ou seja, em áreas com histórico de ocorrência da cigarrinha-do-milho – o que dificilmente ocorre no Brasil e no Paraguai –, um dos primeiros pressupostos na escolha dos híbridos será sua interação com fitoplasma e com spiroplasma. Apesar disso, embora esse impacto indireto seja primário na preocupação com a cigarrinha, há também os impactos decorrentes da sua alimentação, atuando como drenos, o que ainda afeta a produtividade. Para a cigarrinha-do-milho não há receita de manejo, não existem ativos isolados que possam erradicá-la com apenas uma aplicação ou eliminar toda a população em um ambiente com a cultura do milho. O que se dispõe para o manejo são ferramentas, as quais, de maneira integrada, irão afetar na redução gradativa das populações. A constatação da cigarrinha-do-milho em plantas de milho é fácil. Sua quantificação é que muitas vezes torna-se difícil, influenciando até na geração de informações vinculadas a ensaios de eficiência. Contudo, cabe destacar que a quantificação pode se

dar por população aparente (indivíduos visíveis) e por população real (total de indivíduos presentes na unidade experimental). Em uma simples estimativa, para cada cigarrinha adulta visível em plantas de milho, ou seja, para cada indivíduo aparente, multiplica-se por quatro para se obter em média a população real. Para ninfas, essa multiplicação é mais elevada, devendo-se multiplicar por dez cada ninfa aparente. Embora essa estimativa não apresente vínculo direto com o manejo fitossanitário relacionado à cigarrinha, deve-se tomar cuidado quando a ação de supressão populacional quantificar apenas a população aparente, o que pode criar uma falsa impressão de controle imediato, e em poucos minutos ou horas após a aplicação, a população aparente já estará estabelecida aos níveis anteriores. Na cultura do milho, em situações em que a cigarrinha-do-

Vinculado ao Ropalosiphum maidis como vetor do mosaico comum do milho (maize dwarf mosaic virus), o grupo potyvírus também tem se estabelecido como um inseto de importância, principalmente quanto ao seu potencial vetor, neste caso, destacando a frequência de plantas com sintomas do mosaico, muitas vezes confundido com os enfezamentos. Ressalta-se a presença constante de populações de pulgões em ambientes produtivos, distribuindo-se de maneira aleatória no início do desenvolvimento da cultura, e a partir do reprodutivo, concentrando-se em reboleiras com altas densidades populacionais, gerando impacto econômico. Embora sua ocorrência seja muito aleatória, híbridos de milho, pela interação inseto-planta, influenciam suas densidades populacionais. Assim, trata-se de um inseto que gradativamente tem aumentado sua frequência, sendo fácil encontrar pulgões em ambientes produtivos com a cultura do milho.

TRIPES

Ainda que tenham se destacado nas últimas duas safras com a cultura da soja, as populações de tripes, gradativamente, foram se estabelecendo, utilizando atualmente uma grande gama de plantas hospedeiras alternativas, tendo na cultura do milho,

Dalbulus maidis: cigarrinha-do-milho

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Maurício Pasini (2019)

Tripes, Caliothrips brasiliensis, adulto e respectivos danos em planta de milho

também, um ambiente ideal para o seu desenvolvimento e reprodução. Não obstante, em algumas situações, os impactos decorrentes da perda de área foliar são significativos, podendo ser comparados ao impacto de lagartas desfolhadoras. Embora ainda sejam tendência na cultura, populações de tripes dos gêneros Frankliniella e Caliothrips estão presentes com frequências consideráveis. Com destaque para Frankliniella quanto à posição na planta, que per-

manece nos tecidos em diferenciação no interior do cartucho, gerando lesões que se confundem com sintomas de vírus da risca. Além disso, quando intenso, o dano pode causar deformações e perda da atividade fotossintética. Há uma hipótese vinculada à Frankliniella, que atribui a essa praga o papel de vetor de viroses e molicutes para a cultura do milho. Já Caliothrips distribui-se na planta de maneira distinta à da Frankliniella, permanecendo nas primeiras folhas

emitidas, concentrando-se da parte mediana em direção à base da planta, na superfície abaxial das folhas. Seus impactos estão relacionados à perda de área fotossinteticamente ativa, em algumas situações, afetando grande parte das folhas concentradas no baixeiro. Seu maior impacto está no início do desenvolvimento, o que pode afetar a diferenciação de estruturas vinculadas aos componentes de rendimento. Embora na cultura do milho haja uma forte preocupação com a cigarrinha-do-milho, ressalta-se que pulgões e tripes estão gradativamente aumentando suas frequências e densidades nos ambientes produtivos, podendo, em um curto espaço de tempo, tornar-se tão importantes quanto a cigarrinha. Além disso, não se pode duvidar da capacidade de adaptação dos insetos, principalmente daqueles de tamanho menor, pois quando vemos, C já é tarde. Mauricio Paulo Batistella Pasini Eduardo Engel Parceiros Elevagro/ Phytus Group

Ferramentas contra a cigarrinha-do-milho ● Escolha de híbridos – A cigarrinha-do-milho apresenta preferência alimentar, ou seja, em função da escolha do híbrido, teremos diferentes densidades populacionais; em função do híbrido, teremos diferentes respostas quanto à expressão dos enfezamentos e dos vírus; ● Eliminação de plantas voluntárias de milho; ● Nutrição de plantas – Em função do nutriente e do híbrido, há diferentes respostas quanto à densidade populacional da cigarrinha-do-milho; ● Época de implantação – Regiões com sucessivas implantações com a cultura do milho estão mais sujeitas aos impactos relacionados à cigarrinha-do-milho; ● Manejo regional – Um pouco utópico, mas necessário para se eliminar um problema comum que pode inviabilizar híbridos e a cultura do milho. Nesse aspecto, pode-se evoluir para o conceito de “janela de implantação”, restringindo o período com a presença da cultura em uma região, dificultando a propagação e o aumento populacional; ● Ferramentas químicas – Explorando ao máximo os ativos 34

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com registro ao alvo e à cultura; ressaltando que é mais efetivo reduzir o intervalo de aplicação e rotacionar grupos químicos, do que aumentar doses de produtos; ● Ferramentas biológicas – Entram para agregar ao manejo, aumentando a eficiência e a viabilidade do manejo químico; ● Tecnologia de aplicação – Atentar ao comportamento da Cigarrinha-do-milho no dossel vegetativo da cultura, concentrando-se no cartucho no amanhecer e entardecer ou em dias com radiação solar difusa. Já em dias com radiação solar direta, apresentam comportamento vinculado à dispersão ou à busca por abrigo (sombra) e, durante a noite, tendem a concentrar movimentos alimentares e reprodutivos, estabelecendo-se grande parte do período na superfície abaxial das folhas. Nosso alvo é a Cigarrinha-do-milho, para acertá-lo é fundamental conhecer seu comportamento. ● Monitoramento – Deve ser regional e constante. É a melhor ferramenta para prever a ocorrência e auxiliar no manejo da cigarrinha-do-milho quando suas populações ainda estão em baixas densidades.


Algodão

Momento certo

Praga de agressividade elevada e difícil de controlar, o bicudo-do-algodoeiro representa um grande desafio para os cotonicultores. Determinar o período correto para realizar as aplicações de inseticidas é fundamental para a manutenção de índices populacionais abaixo do nível de controle e prevenir a seleção de populações resistentes

A

cotonicultura brasileira é conduzida quase que em sua totalidade em lavouras comerciais com grandes extensões no bioma Cerrado. Esse monocultivo aparentemente controlado, na verdade é um agroecosistema rico e diverso, povoado por mais de 600 artrópodes que se beneficiam do algodoeiro, seja para alimentação ou simplesmente abrigo. Devido a toda essa diversidade, o ma-

nejo de pragas não é realizado facilmente. Para tanto, os cotonicultores fazem uso de várias táticas de manejo disponíveis, desde o controle cultural até o uso de plantas geneticamente modificadas. No entanto, o controle químico se destaca como o mais empregado nas áreas onde o algodão é cultivado. Tal fato está associado não apenas à sua eficiência e simplicidade, mas também à rapidez e à homogeneidade com que o método

pode ser empregado em lavouras tão extensas. Além das facilidades intrínsecas do seu uso, o controle químico muitas vezes é a única opção de manejo para algumas pragas em determinados períodos durante a safra, como é o caso do bicudo-do-algodoeiro Anthonomus grandis Boh. (Coleoptera: Curculionidae). Anualmente este inseto é responsável por onerar a produção em aproximadaGuilherme Rolim

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Fotos Guilherme Rolim

Modo de postura das fêmeas garante a proteção das fases mais sensíveis do desenvolvimento da praga

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mente 374 milhões de dólares, quando são somadas as perdas ocasionadas aos custos com controle, sendo que, apenas para o controle desta praga, foram estimados gastos de 182 milhões de dólares na safra 2015/2016 (Bélot et al., 2016). Os motivos pelos quais o bicudo-do-algodoeiro é uma praga de tão difícil controle estão diretamente relacionados com o comportamento reprodutivo das fêmeas. Ao ovipositar no interior das estruturas reprodutivas do algodoeiro garantem a proteção das fases mais sensíveis do desenvolvimento (ovo, larva e pupa). Esse comportamento confere vantagens de sobrevivência, possibilitando o crescimento rápido da população. Isso obriga que as práticas curativas de controle sejam exclusivamente destinadas para a fase adulta (Showler 2006). No entanto, os adultos também não são alvos fáceis, uma vez que ao emergirem dos botões caídos no solo, os insetos podem iniciar o caminhamento subindo pela haste principal, acessando ramos secundários e por fim se alojando nas estruturas reprodutivas. Assim, se alimentam e são protegidos tanto pelo dossel das plantas como pelas brácteas, permanecendo nas estruturas reprodutivas, protegidos por mais de 30 horas (Arruda 2019). Devido à especificidade do ciclo biológico e comportamento da praga na cultura do algodão, o controle químico dos adultos tem sido o método mais comumente utilizado (Showler 2012). Sendo os inseticidas de amplo espectro, principalmente os pertencentes aos grupos dos organofosforados, carbamatos, piretroides e pirazóis e algumas misturas prontas, como neonicotinoides + piretroides ou organofosforados + piretroides, os mais empregados. Dentre esses grupos, os piretroides estão em destaque, devido aos frequentes questionamentos realizados por equipes técnicas e pesquisadores sobre sua efetividade no controle do bicudo-do-algodoeiro. Essas dúvidas estão relacionadas às variações de suscetibilidade que ocorrem entre as populações da praga em diferentes regiões produtoras, como observado em pesquisas recentes realizadas na Bahia, Goiás e Mato Grosso. Quase todos os piretroides testados

Algodoeiro afetado pelo ataque do bicudo

causaram mortalidades inferiores a 70%, tendo como exceção lambda-cialotrina e etofenproxi, que causaram 78% e 81% de mortalidade, respectivamente, na população da Bahia. Vale ressaltar que para atingir os 78% de mortalidade com lambda-cialotrina foi empregada uma concentração equivalente a 5,8 vezes a expressa na bula (Figura 1). O elevado número de produtos comerciais (58% dos produtos registrados), somado ao baixo custo e à eficácia, contribuiu para a ampla utilização dos piretoides. Porém, o uso constante desse grupo vem ao longo dos anos selecionando populações de bicudo-do-algodoeiro capazes de tolerar as doses recomendadas desses inseticidas. No entanto, após a constatação de perda significativa da eficiência (documentada pelo IMAmt em 2018) e trabalhos de conscientização realizados junto às equipes técnicas das fazendas, vem ocorrendo redução gradativa do uso desses inseticidas. Mesmo que ainda haja baixa eficiência da maior parte desses inseticidas, a limitação do uso e consequentemente redução da pressão de seleção parece estar surtindo efeitos positivos. Estudos realizados na safra 2019/2020 apontam para um possível retorno da suscetibilidade para alguns ingredientes ativos (Figura 2). Porém, o aumento da suscetibilidade


Figura 1 - Mortalidade das populações de bicudo-do-algodoeiro, oriundas de Mato Grosso, Bahia e Goiás, após 48 horas de exposição aos principais piretroides utilizados na cotonicultura

a piretroides ainda é imperceptível em nível de campo, sendo recomendado o uso de outros grupos químicos ainda eficientes (Figura 3). No entanto, mesmo quando são utilizados produtos eficientes, o intervalo entre as aplicações deve ser observado com cautela. Pois durante os períodos mais favoráveis para o inseto, esse intervalo não deve ultrapassar os cinco dias. O cumprimento do intervalo mínimo entre as aplicações deve ser respeitado devido principalmente a dois fatores. Primeiro referente à biologia da praga, uma vez que fêmeas e machos adultos necessitam alimentar-se de estruturas reprodutivas (principalmente botões florais) por um período de três dias a cinco

Figura 2 - Eficiência de quatro piretroides ao longo das safras

dias, para atingirem a maturidade sexual (produção de ovos e espermatozoides) e estarem aptos para acasalar, realizar oviposição e consequentemente dar início a uma nova geração. O segundo fator está relacionado ao período residual do inseticida, visto que a maior parte dos produtos usados para o controle do bicudo-do-algodoeiro não é eficaz por mais de três dias, em condições de campo. Como no caso da malationa, que mesmo em condições controladas teve sua eficiência reduzida drasticamente após 48 horas (Figura 4) (Rolim et al., 2019). Outro ponto importante é a rotação dos grupos químicos durante o ciclo da cultura do algodão, com o objetivo de reduzir a pressão de seleção sobre os

Figura 3 - Mortalidade das populações de bicudo-do-algodoeiro, oriundas de Mato Grosso, Bahia e Goiás, após 48 horas de exposição aos principais inseticidas utilizados na cotonicultura

indivíduos, uma vez que após a perda da eficácia dos piretroides, o uso dos organofosforados foi intensificado. Desta forma, as aplicações no momento certo contribuem com a manutenção de índices populacionais abaixo do nível de controle, reduzindo a necessidade de múltiplas aplicações e consequentemente mitigando a seleção de populações C resistentes. Guilherme Gomes Rolim, Instituto Mato-grossense do Algodão Lucas Souza Arruda, Fundação Bahia Jacob Crosariol Netto, Instituto Mato-grossense do Algodão Eduardo Moreira Barros, Instituto Goiano de Agricultura

Figura 4 - Toxicidade residual de malationa (1000 g de i.a./ha) sobre bicudo-do-algodoeiro ao longo do tempo. (Gráfico adaptado de Rolim et al. 2019)

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Arquivo

Sementes

De mãos dadas

Tratamentos de sementes com nematicidas químicos e biológicos mostram ser capazes de coexistir e de oferecer benefícios e proteção às culturas. Eficácia também melhora quando ocorre associação com outros métodos de controle como genótipos resistentes, plantas antagonistas, rotação de culturas e incorporação de matéria orgânica

A

semeadura é a etapa mais importante durante o processo produtivo de cultivos na agricultura. O uso de sementes de elevada qualidade e o emprego de adequadas práticas culturais são essenciais para o sucesso da agricultura e, consequentemente, para a obtenção de altas produ-

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Março 2021 • www.revistacultivar.com.br

ções. A sobrevivência dos nematoides em restos culturais de safras anteriores e a dificuldade de atingi-los pela aplicação de nematicidas em sulco de plantio estão entre os motivos que dificultam o controle de nematoides. O tratamento de sementes é a aplicação de produtos (químicos ou bioló-

gicos) sobre as sementes para preservar o desempenho inicial da cultura. O avanço da tecnologia no tratamento de sementes foi um dos fatores primordiais para que ocorresse o aumento da produtividade. Esses tratamentos atuam garantindo melhores condições para o desenvolvimento das plantas. O trata-


ram mais espaço na agricultura moderna com maior disponibilidade. Na Tabela 2 encontram-se aqueles nematicidas microbiológicos que, pela sua formulação, são indicados para o tratamento de sementes. Outros produtos estão em fase de registro e a cada momento que se pesquisa no Agrofit (http://extranet. agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons), encontra-se situação diferente com exclusão e inclusão de novos produtos. Isto também ocorre para os nematicidas químicos. O produto biológico à base de Bacillus subtilis tem a formulação de pó para preparação de pasta em água, usado para tratamento de sementes havendo adição de um aditivo, para auxiliar a aderência do ativo às sementes. Alcebíades et al. (2019) testaram tratamentos de sementes de soja com produtos biológicos à base de Bacillus subtilis e Bacillus methylotrophicus e com o nematicida químico abamectina e, também, compararam um tratamen-

to com aplicação em sulco de plantio com produto químico cadusafós para o fitonematoide Meloidogyne javanica. Todos os tratamentos de sementes com biológicos e químico reduziram as populações do nematoide. Os fatores de reprodução do nematoide para esses tratamentos foram de 0,12 (abamectina) a 0,46, significativamente, menores à testemunha (FR = 1,32). O tratamento com aplicação de cadusafós via sulco de plantio permitiu uma redução maior com FR de 0,02. Dalla Corte et al. (2014), trabalhando com Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus em campo e ambiente protegido para a cultura da soja com tratamentos apenas de semente, de sulco de semeadura e associação dos dois, encontraram que a tecnologia de aplicação via sulco foi mais efetiva quando comparada ao tratamento de semente. Essa é uma situação normalmente encontrada quando se compara tratamento de sementes e aplicação via

Augusto César Pereira Goulart

mento de sementes pode englobar não apenas os produtos fitossanitários, mas todas as tecnologias aplicadas à semente, como inoculantes, micronutrientes, reguladores de crescimento, revestimentos de sementes (polímeros), corantes, entre outras. Nos últimos anos houve um aumento no uso do tratamento de sementes para controle de nematoides. Essa prática protege a semente nas fases iniciais da lavoura, desde a semeadura até a emergência da plântula, permitindo melhor enraizamento. O estabelecimento de raízes é um ponto crítico para que o potencial da cultura seja atingido pelo desenvolvimento de plantas vigorosas e sadias. A maioria dos nematoides é parasita de órgãos subterrâneos, e entre esses órgãos estão as raízes. Os sintomas em plantas pelo ataque de nematoides envolvem lesões necróticas radiculares, redução no volume do sistema radicular, entre outros. Os produtos fitossanitários podem ser químicos ou biológicos. Os produtos químicos conferem proteção na superfície radicular, enquanto os biológicos apresentam micro-organismos com diferentes modos de ação (antibiose, predação, parasitismo e indução de resistência). Os produtos fitossanitários químicos destinados ao tratamento de sementes (Tabela 1) devem apresentar as características descritas no Quadro 1. O fungicida/nematicida Certeza N (tiofanato metílico + fluazinam) apresenta a formulação suspensão concentrada para tratamento de sementes (FS) e tem a indicação para Pratylenchus zeae em milho e para Meloidogyne incognita em soja. O tratamento de sementes de algodão com abamectina diminuiu a penetração de juvenis de 2º estádio de Meloidogyne incógnita, resultando menor reprodução do nematoide no estudo de Bessi et al. (2010). Kubo, Machado e Oliveira (2012) mostraram que os produtos à base de abamectina e de imidacloprido + tiodicarbe protegeram as raízes de algodoeiro, evitando a penetração das formas infestantes de Rotylenchulus reniformis. Os produtos biológicos conquista-

Objetivo no tratamento de sementes é prevenir problemas já na fase inicial do cultivo

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Tabela 1 - Nematicidas químicos registrados no Brasil pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para tratamento de sementes – Atualização em 11 de fevereiro de 2021 Ingrediente ativo

Formulação

Abamectina (avermectina)

Suspensão concentrada para tratamento de sementes (FS)

Abamectina (avermectina)

Suspensão concentrada para tratamento de sementes (FS)

Fluensulfona (fluoroalkenyle-thiother) Fluensulfona (fluoroalkenyle-thiother)

Suspensão encapsulado para tratamento de sementes (CF) Suspensão encapsulado para tratamento de sementes (CF)

Fluopyram (benzamida)

FS suspensão concentrada para tratamento de sementes

Imidacloprido + tiodicarbe

Suspensão concentrada para tratamento de sementes (SC)

Cultura alvo Algodão Cana-de-açúcar Cebola Cenoura Feijão Milho Soja Algodão Cana-de-açúcar Milho Soja Algodão Soja Milho Soja Algodão Milho Soja Algodão Soja

Nematoide alvo Meloidogyne incognita, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis Meloidogyne javanica Meloidogyne incognita Meloidogyne incognita Meloidogyne incognita e P. brachyurus Pratylenchus brachyurus e P. zeae Meloidogyne incognita e Pratylenchus brachyurus Meloidogyne incognita, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis Meloidogyne javanica Meloidogyne incognita, Pratylenchus brachyurus e P. zeae Meloidogyne incognita e Pratylenchus brachyurus Meloidogyne incognita e Pratylenchus brachyurus Meloidogyne javanica, Pratylenchus brachyurus e Heterodera glycines Pratylenchus brachyurus Meloidogyne javanica, Pratylenchus brachyurus e Heterodera glycines Meloidogyne incognita e Pratylenchus brachyurus Meloidogyne incognita e Pratylenchus brachyurus Pratylenchus brachyurus Meloidogyne incognita e Pratylenchus brachyurus Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus

Tabela 2 - Nematicidas microbiológicos registrados no Brasil pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para tratamento de sementes – Atualização em 11 de fevereiro de 2021 Formulação FS – suspensão concentrada para tratamento de sementes FS – suspensão concentrada para tratamento de sementes FS – suspensão concentrada para tratamento de sementes FS – suspensão concentrada para tratamento de sementes FS – suspensão concentrada para tratamento de sementes FS – suspensão concentrada para tratamento de sementes FS – suspensão concentrada para tratamento de sementes FS – suspensão concentrada para tratamento de sementes

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Nematoide alvo Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus Meloidogyne incognita Heterodera glycines Heterodera glycines Meloidogyne incognita e Pratylenchus brachyurus Meloidogynejavanica e Pratylenchus brachyurus Rotylenchulus reniformis, Meloidogyne incognita, Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus Meloidogynejavanica e Pratylenchus brachyurus

semente de soja apresentou o maior efeito sobre Pratylenchus brachyurus, destacando-se de todos os outros tratamentos com FR de 0,51. O FR da testemunha foi de 3,104. O tratamento químico com imidacloprido + tiodicarbe apresentou FR de 1,476 e o outro com piraclostrobina + tiofanato metílico + fipronil, o FR foi 1,914. Os tratamentos com produtos biológicos de TrichoderAugusto César Pereira Goulart

sulco de plantio. No entanto, a resposta da tecnologia de aplicação depende das características dos produtos e do nematoide testado, pois suas características biológicas são diferentes de gênero para gênero do fitonematoide. Santos et al (2019) estudaram quatro espécies de fungos, Beauveria bassiana IBCB 66, Trichoderma harzianum IBLF006, Metarhizium anisopliae IBCB 425 e Paecilomyces lilacinus Pae 10, com quatro formas de aplicação, na semente, no sulco, semente + sulco e cobertura, e duas testemunhas água e nematicida químico para manejo de Pratylenchus brachyurus na soja. Todos os micro-organismos se comportaram de maneira protetora, inviabilizando ou retardando o parasitismo dos nematoides sobre as raízes das plantas. Quanto ao modo de aplicação dos tratamentos, não se observaram diferenças sobre os resultados alcançados. Bortolini et al. (2013) encontraram que a abamectina no tratamento de

Ingrediente ativo Bacillus firmus Bacillus amyloliquefaciens Pasteuria nishizawae Pasteuria nishizawae Bacillus amyloliquefaciens Bacillus firmus Bacillus amyloliquefaciens Bacillus firmus

Março 2021 • www.revistacultivar.com.br

Avanço da tecnologia permitiu aumento de produtividade

ma viride e de Paecilomyces lilacinus + Arthrobotrys oligospora apresentaram FR menores que a testemunha, 2,588 e 2,63, respectivamente. Os tratamentos químicos foram superiores aos biológicos na redução da população do nematoide. A população de nematoides será menor quando a ação ocorre com moléculas químicas, pois essa ação é rápida, Enquanto que micro-organismos têm que primeiramente estabelecer a sua colonização para iniciar o seu efeito sobre o nematoide, seja pela antibiose, predação e parasitismo. A biologia do nematoide muitas vezes determina a eficácia do produto biológico, como é o seu ciclo de vida, duração e potencial reprodutivo e o seu hábito de alimentação, endo ou ectomigrador e endo ou ectossedentário. O tratamento de sementes de plantas resistentes com produtos químicos e, principalmente, biológicos e em áreas com altos níveis populacionais pode auxiliar reduzindo



Mario Inomoto

a população inicial e permitindo que a semente reduza o gasto de energia que é usada para a produção de grãos. Ambos os tipos de tratamentos (químicos e biológicos) de sementes podem ser utilizados em conjunto, assim como separadamente. É bem interessante fazer o tratamento conjunto com químico e biológico. O químico tem uma vida útil de atuação pequena, normalmente uma ação que não ultrapassa três semanas. O biológico precisa de um tempo inicial para se estabelecer. Tais escolhas dependem das necessidades e preferências do produtor; dos conflitos entre a formulação de cada produto e das necessidades da cultura e dos agentes patogênicos em questão. O tratamento de sementes on farm é feito inteiramente na própria fazenda com o uso de equipamentos próprios, como é o caso do Bacillus subtilis. Assim, o custo é menor que o tratamento de sementes industrial (TSI), e muitos produtores optam por este tipo de tratamento. No entanto, é um tratamento sem um padrão de produção, sujeito a falhas como irregularidade na distribuição dos produtos na superfície da semente, ocasionando menor proteção das plantas. É recomendada a distribuição homogênea por toda a superfície da semente, assim como a colocação da

Tratar as sementes de algodão é uma das estratégias para proteger o potencial produtivo das lavouras

quantidade preconizada no tratamento das sementes. O TSI ocorre integralmente na indústria que faz a comercialização das sementes. Pelo investimento em maquinários e tecnologias mais modernas que garantem melhor aderência e qualidade do tratamento de semente, oferece menores problemas e riscos ao aplicador em campo, mas é um processo mais caro. Independentemente se o tratamento de sementes for feito on farm ou industrialmente, os benefícios deverão

ser observados e constatados da semeadura à colheita. Por fim, pode-se ter a certeza de que o tratamento de sementes pode aumentar a eficácia observada, principalmente com a combinação de outras medidas de controle. As medidas de controle podem ser genótipos resistentes, plantas antagonistas, rotação de culturas, incorporação de matéria C orgânica, entre outras. Maria Amelia dos Santos, Instituto de Ciências Agrárias - UFU

Características dos produtos químicos para tratamento de sementes ● ser tóxico aos patógenos e às pragas-alvo; ● não ser fitotóxico; ● não ser acumulável no solo; ● ter alta persistência na semente; ● ter grande capacidade de aderência e cobertura às sementes (podem ser usados polímeros para promover a adesão e retenção dos ingredientes ativos às sementes); ● ser compatível com outros produtos para tratamento de sementes; ● ser efetivo sob diferentes condições agroclimáticas; ● ser seguro para os operadores durante o manuseio e a semeadura; ● não deixar resíduos nocivos na planta; ● ser economicamente viável.

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● estabelecimento da população de plantas por controlar patógenos e pragas; ● estabelecimento do estande desejável da lavoura; ● proteção do potencial genético da variedade, da cultivar ou do híbrido escolhido pelo produtor; ● pode ter influência positiva na fisiologia da planta com melhor enraizamento, germinação mais uniforme e maior resistência a nematoides. Existem bactérias benéficas capazes de induzir resistência, produtoras de toxinas que vão afetar os nematoides e até mesmo gerar antibiose. Isso também é válido para fungos simbióticos que podem colonizar as raízes e auxiliar no combate aos nematoides; ● ser um investimento relativamente baixo que ajuda a melhorar a produtividade da lavoura.



Coluna Agronegócios

O agronegócio brasileiro: uma análise para 2020 e para o próximo triênio

S

em dúvidas, 2020 foi um ano muito complicado e com muitos pontos fora da curva de tendências ou do que era mais esperado. Destacaremos três eventos que mais impactaram o agronegócio em 2020: 1) a evolução da pandemia do SarsCov-2; 2) a economia da China e; 3) o mercado de carnes. Vamos aos pormenores de cada um. A pandemia provocou desequilíbrios nos principais mercados agrícolas do mundo, pelas restrições que se iniciaram no varejo, passaram por estoques diferenciais nos países, prosseguiram com as restrições logísticas tanto nos mercados domésticos quanto internacionais, e que também afetaram as cadeias de insumos e a própria produção agrícola, em alguns países. A China se consolidou como o grande protagonista do mercado internacional, tanto o agrícola como de outros setores da economia. Apesar de uma forte queda no PIB no 1º quadrimestre (-6,8%), mostrou uma rápida recuperação nos 2º e 3º quadrimestres, com incremento de 8,5%. Sua economia já está buscando o ritmo anterior à pandemia, tornando-se a locomotiva da economia mundial, particularmente do agronegócio. O mercado de carnes foi afetado pela peste suína que atingiu o Leste europeu, com particular impacto na Rússia e de lá se estendeu para a Ásia. Particularmente na China houve redução de 45% do rebanho suíno. Essa parcela do rebanho era constituída por criações de baixo nível tecnológico, o que incluía baixo status sanitário. O fato se desdobrou em duas vertentes: o aumento da aquisição de carne suína (e de outras carnes) no mercado internacional e a progressiva reconstituição do plantel e da produção suinícola na China, porém em bases altamente tecnificadas do ponto de vista genético, nutricional e sanitário. As duas ações impactaram o mercado de grãos (mormente soja e milho), com escalada de preços e boas cotações.

OLHANDO PARA 2021 E ALÉM

Em nossa opinião, os três eixos mencionados anteriormente permanecem influenciando o curto prazo, acrescidos de mais duas variáveis diretrizes muito im44

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portantes: a segurança dos alimentos e a temática socioambiental. Desnecessário justificar a importância da segurança dos alimentos, mas na temática ambiental e social entendemos que se trata de antecipação de metas em uma agenda que já estava implantada. A questão ambiental tangencia a segurança dos alimentos (biológica, química e física) e a temática social ficou exposta na pandemia: a desigualdade social, seja ela dentro de um país ou entre países e continentes, expõe todos a uma elevação do risco de qualquer perigo que envolva questões sanitárias. Seguramente será parte das preocupações da sociedade, expressa nas certificações dos produtos agrícolas e em exigências comerciais de países ou blocos. Do ponto de vista do impacto da pandemia, os dados disponíveis indicam que não haverá vacinas (ou programas de vacinação) suficientes para imunizar a parcela mínima necessária dos 7,8 bilhões de habitantes do nosso planeta, ainda em 2021. Portanto, continuaremos expostos aos riscos e efeitos da pandemia ao longo do presente exercício, com reflexos nos dois anos seguintes. Há enorme incerteza sobre a erradicação da pandemia, que pode vir a tornar-se parte do cotidiano, com revacinação de toda a população mundial, a cada ano. E, no limite, também há fundadas dúvidas sobre o surgimento de variantes que provoquem uma vantagem diferencial para o vírus, reduzindo a eficácia vacinal. O ano de 2021 ainda será de baixo crescimento mundial, com diferenças muito grandes entre países, e um cenário aceitável indica que 2022 e 2023 serão anos de recuperação, objetivando retomar a linha de crescimento econômico interrompida em 2019, um ciclo que, provavelmente, se completará em 2025. Nesse período alguns fatos serão marcantes, como pesados investimentos em Ciência e Tecnologia para evitar novos rebrotes de SarsCov-2 e mesmo de outras pandemias. Um fator importante será o realinhamento geopolítico ocasionado pela assunção de Joe Biden à presidência dos EUA, em especial na temática ambiental, energia renovável e apoio ao multilateralismo. Também, nesse período

são esperados realinhamentos cambiais, modificando a competividade dos países ou blocos, sempre tendo em conta que a China se imporá como potência econômica, tecnológica, fornecedora de insumos e produtos acabados, e maior importadora de alimentos. Olhando mais analiticamente para a China, nos próximos anos seu PIB volta a crescer a altas taxas, suas reservas internacionais aumentam, assim como sua participação no mercado internacional. O aumento da renda per capita e da inclusão social trará novos cidadãos para o mercado de consumo de produtos agrícolas, particularmente de carnes. O mercado consumidor chinês tende a sofisticar e incorporar hábitos ocidentais. Este conjunto favorecerá muito o Brasil, se o país souber capturar as oportunidades, sempre tendo em conta que a China procurará garantir fontes de suprimentos seguras e estáveis, base de sua segurança alimentar nos próximos anos. O mercado de carnes continuará excitado no curto prazo, favorecendo o mercado de grãos. A China deve tornar-se o maior produtor de frangos do mundo, o que provocará uma recomposição no mercado e um trade-off entre carnes e grãos. Finalmente, há a questão da segurança dos alimentos, com exigências cada vez mais restritivas, seja do ponto de vista biológico, químico ou físico. Antecipam-se metas de exigências de rastreabilidade e certificação. E, por transbordamento da questão, temas como a sustentabilidade da agricultura – e, por extensão, a proteção que um país confere ao seu ambiente – serão fulcrais no mercado internacional. Assim como serão buscados mecanismos para reduzir a desigualdade social, que tem fortes implicações na questão da pandemia, e que também deve impactar o mercado internacional de produtos agrícolas. Enfim, teremos anos muito movimentados pela frente, com diversas mudanças estruturais no curto prazo, que impactarão o longo prazo do mercado do agroC negócio. Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesq. da Embrapa Soja


Coluna Mercado Agrícola

Mais um recorde de safra do Brasil e agora com lucros para os produtores

O

s produtores brasileiros estão colhendo uma excelente safra em forma de produtividade, produção e principalmente de lucratividade. Fato que não ocorria há vários anos. A Soja saiu de R$ 80,00 a R$ 90,00 por saca no ano passado para níveis de R$ 160,00 a saca neste começo de 2021. Situação que deu condições aos produtores para quitarem dívidas antigas e também investir em insumos da nova safra, com avanços tecnológicos como melhoria no parque de máquinas e no tratamento das lavouras. O milho também registra forte alta, com ganhos positivos, mesmo que uma parte da safra deste ano tenha sido prejudicada pelo clima

MILHO

A safra do milho de verão teve atraso e perdas nas primeiras áreas e agora está em colheita com a maior parte do grão chegando em março. Com isso, os indicativos deste ano seguem firmes e mesmo que ocorra alguma queda nestas próximas semanas, será pequena. Com forte demanda que vem do setor de ração. O milho tem uma safra de menos de 25 milhões de toneladas neste começo de ano para atender ao consumo do primeiro semestre, que, em média, demanda seis milhões de toneladas por mês. Boas expectativas aos produtores.

seco e quente. Têm valores acima dos R$ 73,00 a saca nos portos para setembro, trazendo ganhos antes mesmo do plantio. O arroz saiu dos patamares negativos para cotações entre R$ 85,00 e R$ 100,00 a saca no Sul. Em feijão o ano começou com o grão acima dos R$ 300,00 por saca. O trigo já dá sinais de que os produtores terão bons ganhos porque o mercado internacional avançou forte e o produto importado não chega ao mercado brasileiro abaixo de R$ 1.500,00 por tonelada. O mundo está consumindo muito mais comida com a pandemia e o Brasil seguirá liderando a exportação mundial de alimentos.

oferta, enquanto o interno virou o ano O mercado da soja mostra os melho- comercial com estoques zerados. res níveis de cotações desde julho de ARROZ 2013, quando houve indicativos acima O mercado do arroz está em colheidos 15 dólares em Chicago. Agora os ta, que neste ano deve ser concentrada níveis ultrapassam os 14 dólares, com em março e alcançar abril no Rio Grande fôlego para ir à frente com forte apoio do Sul por conta do atraso no plantio dos fundamentos. O inverno rigoroso devido à falta de água. Nas próximas no Hemisfério Norte, que faz aumentar semanas tende a ocorrer leve pressão o consumo de ração, atrasará o prepade baixa, com indicativos podendo vir ro do solo e provavelmente o plantio se na faixa dos R$ 80,00 a saca aos prodará com atraso e com riscos climáticos, dutores do Sul. Se as ofertas e vendas que normalmente refletem em produseguirem pode até mesmo recuar um tividade menor. Desta forma, o quadro pouco mais. Mas o espaço da baixa é deste momento é de indicativos firmes pequeno, o ano apertado e logo os inpara este ano no mercado internacional, que segue comprador e tem pouca dicativos se recuperam.

SOJA

Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo segue forte porque o inverno polar no Hemisfério Norte tem causado perdas na safra e junto a isso os grandes exportadores mundiais estão limitando as vendas. O que resulta em fôlego para alta em Chicago, que neste ano está muito acima dos níveis do ano passado, com patamares superiores a 6,50 dólares por bushel, o que faz com que o trigo importado chegue aos portos brasileiros acima dos R$ 1.500,00 por tonelada. O ano está muito favorável para o trigo, também. EUA - O país vem passando por um inverno polar e longo, sendo que muitos locais estão com os níveis de temperatura mais baixos em mais de 30 anos. Se permanecer com este cenário, terá dificuldades para preparar o solo e plantar no período ideal. Mesmo assim, os primeiros dados USDA mostraram que devem plantar mais soja, passando para 36,4 milhões de hectares frente aos 33,6 milhões de hectares plantados nesta última safra. Para o milho, a projeção é de 37,2 milhões de hectares frente aos 36,7 milhões de hectares deste último ano. Os indicativos seguem fortes e as cotações nos maiores níveis desde 2013. O único obstáculo pode ser o clima. CHINA - A China volta aos negócios depois do feriadão do

Ano-novo Lunar, no final de fevereiro, quando começou o Ano do Boi. O país vem às compras. Neste ano, assume o posto de maior importador mundial de arroz, devendo passar de sete milhões de toneladas, maior importador de trigo, com mais de dez milhões de toneladas, maior importador mundial de milho, que deve passar de 30 milhões de toneladas importadas, e seguindo como maior importador mundial de soja, com mais de 105 milhões de toneladas importadas em 2021. Líder mundial e com fôlego para comprar mais. ARGENTINA - Os argentinos sofrem com o clima neste ano, com chances concretas de safra menor para milho e soja. No caso da soja, a estimativa inicial era de 48 milhões de toneladas em janeiro, 46 milhões de toneladas em fevereiro e agora já se cogita 40 milhões de toneladas e menos grão para exportar. O milho segue a mesma linha, com perdas grandes devido ao clima. C Situação que dá fôlego aos indicativos internacionais.

Vlamir Brandalizze Twitter@brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br Instagram BrandalizzeConsulting ou Vlamir Brandalizze www.revistacultivar.com.br • Março 2021

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Coluna ANPII

Efeito produtivo Como a coinoculação em soja pode favorecer o aumento da produtividade nas lavouras

A

inoculação da soja é uma técnica que atualmente é utilizada por 80% dos agricultores brasileiros (fonte: ANPII-Spark), levando o Brasil a líder mundial no uso do nitrogênio via biológica. Superando todas as expectativas, a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) permite que, como única fonte deste nutriente, a soja atinja produtividades acima de 5.000kg/ha. Fruto de um continuado projeto de pesquisas que vem sendo conduzido durante mais de 50 anos, com seleção de cepas altamente eficientes, uma indústria que se renova e busca inovações, uma legislação atualizada e agricultores de cabeça aberta às novas tecnologias, o uso de inoculantes faz parte dos insumos indispensáveis para quem deseja obter elevadas produtividades. Mas esta técnica vitoriosa ainda pode ser aperfeiçoada e mais uma vez a pesquisa se apresenta à frente, gerando conhecimentos que desaguam, no fim da linha, em ferramentas para obtenção de maior produtividade e rentabilidade para os que cultivam a soja. O inoculante à base da bactéria Azospirillum brasilense desenvolvido inicialmente para gramíneas e lançado no mercado em 2009, obteve sucesso nas culturas do milho e do trigo, com expressivos resultados no aumento da produtividade. Mas foi verificado que este inoculante apresentava uma elevada sinergia com os tradicionais inoculantes para soja e feijão, à base de Bradyrhizobium japonicum e Rhizobium tropici, respectivamente. Através de trabalhos de pesquisa, ficou demonstrado que estas bactérias, utilizadas em conjunto (os dois inoculantes misturados na semente ou no sulco), aumentavam a 46

Março 2021 • www.revistacultivar.com.br

produtividade de forma significativa. As empresas de inoculante, com base nos resultados da pesquisa, se movimentaram para distribuir a nova tecnologia da coinoculação através de todo o Brasil, mostrando seus resultados em larga escala. Mas aí foi iniciado um dos trabalhos mais emblemáticos da pesquisa brasileira: a montagem de muitos campos demonstrativos, em condições reais de lavoura, provando de forma inequívoca que a tecnologia era, em diferentes condições de solo e clima, de grande utilidade para o agricultor. Em um trabalho conjunto da Embrapa Soja e do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – IDR PR - foram montados, em três safras consecutivas, 161 campos demonstrativos, dentro de lavouras em mais de 50 municípios do Paraná. Os campos foram acompanhados pelos extensionistas do IDR, e foi feito um giro técnico nestas localidades, onde eram reunidos agrônomos, técnicos agrícolas e agricultores para explicação da nova tecnologia. Estes campos, chamados de Uni-

As empresas de inoculante, com base nos resultados da pesquisa, se movimentaram para distribuir a nova tecnologia da coinoculação através de todo o Brasil, mostrando seus resultados em larga escala

dades de Referência – UR, foram instalados nas safras 2017-2018, 20182019 e 2019-2020. Foram avaliados o número médio de nódulos por planta e, naturalmente, a produtividade em sacas/ha. Os resultados atingiram as expectativas que eram esperadas para a nova tecnologia. Uma das conclusões do trabalho, dos próprios autores: “Apesar de não seguirem um delineamento estatístico, os resultados foram consistentes, apresentando, na grande maioria, incrementos de nodulação e de produtividade com a coinoculação”. Na Tabela 1 pode-se ver um resumo dos resultados nos três anos. Tabela 1 - Resultados das 161 URs em três anos consecutivos (adaptado de Circ-Tec166, IDR-PR e Embrapa) Safras Nr de URs Co inoculação Sem inoculação Diferença scs/ha Diferença %

17/18 37 72 66,4 5,6 8,4

18/19 61 56 51,7 4.3 8,3

19/20 63 68,9 64,4 4,4 6,9

Média 65,6 65,6 4,8 7,9

Desta forma, mais uma vez fica demonstrado: 1 – Que a pesquisa brasileira em FBN traz constantemente novas soluções biológicas para a agricultura. 2 – Que as empresas de inoculantes oferecem inoculantes de alta qualidade para os agricultores. 3 – Que a extensão rural vem cumprindo o seu papel de difundir as boas práticas no campo. 4 – Que o agricultor brasileiro adere muito rapidamente às novas tecnologias. Na safra 2088/19, 15% utilizavam a coinoculação. Uma safra após, este número já saltou para 25%. C Solon Araujo, Consultor da ANPII






Soja • Março 2021 Caroline Gulart

Contra os fungos Insumo mais importante da lavoura, a semente merece atenção especial. Por isso a construção do manejo eficiente de doenças começa com a escolha do tratamento químico adequado para a redução do inóculo inicial e a obtenção de plântulas vigorosas

O

s problemas de estabelecimento de plantas em lavouras de soja têm sido algo recorrente safra após safra, em várias regiões do Brasil. Muitos desses problemas se dão devido à ocorrência de podridão de sementes, morte de

plântulas e podridões radiculares, causadas por fungos de solo ou veiculadas pelas sementes de baixa qualidade. O impacto desses problemas resulta na redução de estande e de vigor de plantas, afetando negativamente a produtividade das lavouras. Dentre os fatores que afetam a

qualidade da emergência e o crescimento inicial de plantas, muitos podem ser controlados pelo produtor, como o uso de sementes de qualidade, a operacionalização de uma boa prática de semeadura e o investimento em maior qualidade física, química e biológica do solo. 03


Soja • Março 2021 Fotos Caroline Gulart

Phytophthora sojae em planta adulta

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houve ocorrência de Phytophthora sojae. Por outro lado, muitas das diagnoses realizadas identificaram a presença de Rhizoctonia solani, Fusarium spp. e Phomopsis spp. nas Germison Tomquelski

Otimizando e ajustando esses fatores de manejo, o produtor poderá minimizar os problemas com as adversidades climáticas, sobre as quais não possui controle. A proteção inicial da emergência com o uso de fungicidas em tratamento de sementes é prática fundamental, porém é de grande importância a realização da patologia de sementes para que se tenha uma ideia de quais patógenos estão presentes no lote e em quais percentuais. Diversas espécies de fungos podem estar relacionadas aos problemas de emergência, tais como Phytophthora sojae, Pythium spp., Fusarium spp., Rhizoctonia solani, Phomopsis sojae e Colletotrichum truncatum. Muitos desses patógenos, além de causar problemas de estabelecimento, se não forem controlados eficientemente podem causar doenças em parte aérea em plantas adultas. É o caso, por exemplo, da Phytophthora sojae, que pode infectar a cultura em qualquer estágio, desde que ocorram condições favoráveis. No caso da safra 20/21, ao contrário das últimas safras na região Sul, não ocorreram chuvas em excesso e, por isso, na maioria das regiões não

plântulas de soja onde ocorreram problemas de estabelecimento. Apesar da ausência de chuvas em excesso, algumas regiões registraram temperaturas mais baixas logo após as primeiras semeaduras de soja e, se considerarmos que o ideal para a emergência são temperaturas superiores a 25°C, quando os primeiros cinco a sete dias após a semeadura apresentam temperaturas inferiores, poderá ocorrer atraso na emergência de plântulas. Nesse caso, quanto maior for este atraso, maior o tempo em que a semente fica em contato com os patógenos já presentes no solo, como Rhizoctonia solani, Fusarium spp., Macrophomina sp., entre outros. Importante salientar que, qualquer que seja o patógeno que possa causar tombamento de plântulas, irá ocasionar perdas consideráveis de produtividade, visto que uma planta de soja (uma unidade produtiva) a menos no estande final irá proporcionar uma perda de rendimento de aproximadamente


Soja • Março 2021

2,2 sacos/ha.

DEVEMOS DEPOSITAR TODA A RESPONSABILIDADE NOS PRODUTOS APLICADOS NAS SEMENTES?

A proteção proporcionada pelo tratamento de sementes é relativamente curta, em torno de 12 dias a 14 dias. Nesse sentido, não podemos depositar toda a responsabilidade de proteção inicial sobre os fungicidas, e sim pensar em estratégias que possam contribuir para um estabelecimento inicial satisfatório. Além dos problemas iniciais em função da baixa qualidade sanitária e fisiológica das sementes, é necessário considerar a semente contaminada como inóculo inicial para manchas foliares e antracnose, principalmente. O início cada vez mais precoce do surgimento das manchas na área foliar da lavoura, causadas por patógenos necrotróficos, tem como um dos pontos fundamentais a transmissibilidade pela semente contaminada. Assim, o sucesso de todo o programa de aplicações a ser realizado na área foliar está condicionado a um tratamento de semente assertivo, que reduzirá a quantidade

de inóculo inicial a ser transmitida para a planta. Para que seja possível traçar a estratégia correta para termos um controle de doenças assertivo é de suma importância que seja realizada a patologia das sementes, para que assim se tenha uma ideia de quais patógenos estão associados às sementes e, dessa forma, utilizar o fungicida mais adequado ao grupo de patógenos. As particularidades com relação ao controle efetivo de cada produto estão diretamente relacionadas com a porcentagem de incidência destes patógenos nas sementes, com a capacidade de transmissão para plântulas, com a qualidade no momento do tratamento (cobertura homogênea), bem como com a sua formulação comercial. No caso de anos em que as condições são extremamente favoráveis à ocorrência de doenças como Pythium spp. e Phytophthora sojae, somente a estratégia química via semente não é suficiente. Nesses casos, é necessário aliar várias estratégias de manejo integrado das doenças, como uso de cultivares com resistência, sementes de alto vigor e qualidade sanitária e

principalmente produtos cujos ativos sejam eficientes para controle de oomicetos. No que diz respeito a doenças radiculares, convém salientar que todo fungicida com mais de um ativo em sua formulação, normalmente proporciona maiores percentuais de controle da doença. No caso específico de Standak Top, por exemplo, apesar de não ser um produto registrado para controle de oomicetos na cultura da soja, alguns resultados mostram que o tratamento com este produto proporciona um bom estabelecimento de plântulas em áreas com ocorrência de Phytophthora sojae e Pythium spp. Esse fato pode ser explicado pelo efeito “fitotônico” proporcionado pela piraclostrobina presente no fungicida em questão. Um grande volume de dados mostra que o fungicida Standak Top proporciona incremento significativo de volume de raiz, parte aérea, entre outros benefícios. Além disso, os dados obtidos em diversos ensaios mostram que a mistura de piraclostrobina + tiofanato metílico + fipronil proporciona um amplo espectro de controle dos principais patógenos transmitidos

Presença do fungo Rhizoctonia solani em soja

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Soja • Março 2021

Figura 1 - Médias de eficiência de Standak Top sobre os principais patógenos de sementes. Instituto Phytus, 2020

por sementes e/ou que estão no solo (Figura 1). O gráfico da Figura 1 mostra dados médios de controle das principais doenças transmitidas por sementes nos últimos 12 anos de pesquisa. Observa-se que o fungicida Standak Top proporciona controle entre 75% e 90% (dependendo da cultivar e do nível de inóculo da semente) de pelo menos sete principais patógenos transmitidos por sementes. Para outros quatro patógenos, o controle varia entre 60% e 75% (na média de todos os ensaios avaliados). Por outro lado, em algumas situações, muitos produtores, na tentativa de reduzir os danos causados pelas doenças iniciais, têm realizado algumas misturas de fungicidas, o que pode ser benéfico em alguns casos, porém, em outros, pode ocasionar fitotoxicidade e/ou incompatibilidade de calda. Há algumas opções disponíveis para o produtor realizar o tratamento de sementes on farm, com a possibilidade de mistura de um fungicida de amplo espectro de controle dos principais patógenos (Standak Top), com Gelfix 5, o promotor de crescimento (Integral) e o polímero protetor (Extender). A oferta de Bomvoro é uma excelente alternativa não somente no que diz respeito ao controle direto de patógenos nas sementes, mas também com relação à promoção de crescimento, nodulação e incremento de variáveis 06

fisiológicas das plantas. A oferta de Bomvoro para a realização do tratamento de sementes na fazenda além do inoculante Gelfix 5 (Bradyrhizobium elkanii), conta ainda com o promotor de crescimento Integral (Bacillus amyloliquefaciens cepa MBI 600), que por ser uma bactéria promotora de crescimento, proporciona uma coinoculação das sementes que irão agregar inúmeros benefícios não somente com relação às sementes, mas principalmente para o estabelecimento inicial das plantas, índice de velocidade de emergência e desenvolvimento geral da planta. Durante duas safras consecutivas foram realizados ensaios de campo, utilizando diferentes tratamentos de sementes para a cultura da soja, para entender o comportamento da oferta Bomvoro. Importante ressaltar que um dos grandes benefícios de se utilizar a coinoculação em sementes é o fato do incremento tanto em número, quanto em peso de nódulos por planta, o que traz inúmeras vantagens em termos de produtividade. Em todos os ensaios conduzidos, os dados mostram que houve incrementos nas variáveis de percentual de cotilédones verdes e também número de nódulos por planta. O número de cotilédones verdes é importante no que diz respeito ao desenvolvimento inicial das plântulas, visto que, vêm destas estruturas as primeiras reservas nutricionais até

que a planta comece o seu processo de fotossíntese. Como já verificado em diversos estudos, o fungicida Standak Top apresenta efeito significativo sobre a longevidade dos cotilédones, sendo essa uma importante estrutura de reserva inicial para a planta que deve ser preservada o maior tempo possível. Alguns estudos apontam para perdas de rendimento entre 8% e 9% em função da perda de ambos os cotilédones no estádio VE. Produtos à base de rizobactérias como Bacillus sp., caso do Bomvoro, quando aplicados no solo, podem proporcionar vários efeitos benéficos no desenvolvimento de plantas (Lazzaretti e Bettiol, 1997). Esse crescimento vegetal pode ser promovido de várias formas, tais como fixação biológica de nitrogênio, produção de hormônios e outras moléculas, biocontrole de doenças, solubilização de nutrientes como fósforo (Canellas et al., 2015). No caso da nodulação das plantas, mesmo em situação de campo, onde no momento da coleta das plantas poderão ocorrer algumas perdas de nódulos, observamos que o tratamento contendo Bomvoro e Standak Top + Votivo Prime foram os que proporcionaram os maiores incrementos no número médio de nódulos/planta. No caso de Votivo Prime, produto à base de Bacillus firmus cepa I-1582, um dos pontos que merecem atenção é o seu modo de ação, pois, graças à formulação diferenciada do produto, os esporos da bactéria são preservados, de forma que somente iniciam seu crescimento quando a semente tratada entra em contato com o solo. Nesse momento, a bactéria inicia o desenvolvimento juntamente com o sistema radicular, promovendo a proteção desta raiz através do “biofilme” formado. Este biofilme forma, além de uma barreira física que protege o sistema radicular do ataque de alguns patógenos, a sinalização química que irá confundir os nematoides, impedindo ou retardando o ataque da raiz.


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Essa proteção gerada, permite a planta se desenvolver de maneira satisfatória no período mais crítico (30 dias após semeadura). Esse bom estabelecimento inicial irá se traduzir em uma planta mais vigorosa, onde são observadas nos ensaios de campo plantas com maior estatura, maior sistema radicular, maior número de legumes/planta etc. Outro ponto que merece atenção no caso de benefícios do tratamento de sementes, sobretudo com produtos biológicos incluídos na receita, é a promoção de crescimento do sistema radicular das plantas. Os benefícios em função da utilização de Standak Top no tratamento de sementes já são conhecidos, porém quando a ele são adicionados tanto Bomvoro quanto Votivo Prime, os incrementos de volume e comprimento de raízes são bastante significativos. A melhoria destes parâmetros é de grande importância em várias situações de estresse para a planta, como períodos longos de estiagem, toxidez de Al, ocorrência de doenças radiculares, nematoides etc.

É importante reforçar que a semente é o insumo mais importante da lavoura e é nela que estarão contidas características genéticas determinantes para resistência a doenças, pragas, produtividade etc. Além disso, a construção do manejo eficiente de doenças começa na escolha do tratamento de sementes adequado para a redução do inóculo inicial, assim como a obtenção de plântulas vigorosas, com desenvolvimento radicular satisfatório, que irá propiciar um arranque inicial melhor, além de “diluir” o dano em função de patógenos radiculares e nematoides. No caso da oferta de Bomvoro, com a adição do Integral, que é composto por Bacillus amyloliquefaciens cepa MBI 600, assim como no caso do Bacillus firmus (Votivo Prime), haverá bactérias promotoras de crescimento com inúmeras características importantes do ponto de vista de crescimento e desenvolvimento da planta. O fato de proporcionarem incremento tanto em comprimento quanto em volume de raiz, resultará também em maior

número de nódulos, em função de uma maior área a ser colonizada pelo Gelfix 5 (Bradyrhizobium elkanii), fato que é muito interessante para a planta e que está diretamente relacionado com o aumento de produtividade por área. Pensando no estabelecimento inicial da lavoura, não devemos considerar apenas a semente, mas também as questões ligadas à plantabilidade, pois muitas vezes, pequenas perdas, causadas por falhas da semeadora, profundidade inadequada, ocorrência de plantas dominadas etc., irão afetar negativamente a produtividade final. Para finalizar, é importante enfatizar que a construção do controle de doenças e da produtividade da lavoura começa com a escolha certa da semente e do tratamento e, dessa forma, não podemos economizar nesse momento tão decisivo, sob pena de não atingir os patamares C desejados.

Caroline Gulart, Phytus Group

Sintomas e danos provocados por Phomopsis sojae em soja

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Soja • Março 2021 Fotos Germison Tomquelski

Pragas neutralizadas Como o adequado tratamento químico de sementes pode auxiliar em um desenvolvimento inicial seguro das plantas e no estabelecimento da cultura de modo a gerar alta produtividade

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os últimos anos, as adversidades climáticas no início do desenvolvimento das culturas de soja, milho e algodoeiro têm levado o produtor a repensar nas estratégias de manejo das pragas iniciais. Os “veranicos”, comuns nas últimas safras, propiciam condições favoráveis para a maior ocorrência das pragas e se mostram desfavoráveis para o desenvolvimento da cultura, demandando mais cuidados. A semente tem papel fundamental para o estabelecimento da cultura, sendo cada vez maior a exigência em qualidade. Porém, mesmo com toda qualidade possível, o produtor ainda precisa oferecer condições para o bom estabelecimento 08

no aspecto fitossanitário. Grandes investimentos nas últimas safras em máquinas e melhoria do processo de semeadura propiciaram ganhos em produtividade para as culturas. No entanto, clima e pragas têm limitado maiores ganhos nesta fase inicial. A semente é o início de uma nova vida, carrega diversas características genéticas que definem o potencial produtivo, além de outros itens como químicos, inoculantes, estimulantes, entre outros. Para se chegar a uma boa semente envolveram-se diversas pessoas, empresas que proporcionaram um alto valor agregado para a nova cultura. Alguns trabalhos mostram que o bom desenvolvimento inicial tende a levar maior acúmulo de massa, fazendo

com que a planta consiga prover um maior número de estruturas reprodutivas, levando a maiores patamares de produtividade. As pragas comprometem este desenvolvimento inicial, e no agroecossistema adotado nas regiões produtoras de soja prevalece um sistema de produção em que esta cultura se estabelece primeiro e na grande maioria das áreas, sendo rotacionada muitas vezes com milho e algodoeiro. O cenário de pragas polífagas adaptadas ao sistema leva a grandes prejuízos. E junto aos fatores climáticos de altas temperaturas e estresses hídricos tem se observado altas infestações de pragas. As grandes propriedades nestas regiões são altamente mecanizadas, e por


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vezes o processo de colheita e semeadura de uma nova cultura é rápido, sem intervalos para que ocorra a quebra nos ciclos das pragas. O vazio sanitário, prática reconhecida no manejo, não é colocado em prática. Neste sistema de produção, pragas como lagartas, percevejos, cigarrinhas, corós, tripes, ácaros, dentre outras, se destacam. Diante deste desafio no sistema de produção, sobra para o produtor e técnicos analisarem melhor o manejo integrado de pragas (MIP) no âmbito multicultural. Um dos principais pilares para análise e melhoria no manejo é o conhecimento da biologia destas pragas iniciais. Muitas delas têm aumentado sua infestação por modificações do sistema. Estas por adoção de uma planta de cobertura ou mesmo por não se realizar alguma ação. O entendimento da biologia, pois o hábito da praga proporciona melhorias no controle, sendo exemplos importantes o horário para controle de determinadas pragas, estádio da cultura de maior ocorrência, estádios da praga (tamanho – instares), além de outros fatores. Outro fator importante é a amostragem, que deve ser constante em virtude da polifagia das pragas, da presença de alimento o ano inteiro (plantas daninhas – tigueras) e das migrações que hora ocorrem. Para estes dois fatores, o conhecimento e o treinamento das equipes possibilitam a melhor acurácia e consequentemente a construção de um histórico das áreas com informações sobre a dinâmica populacional desses insetos. Este conhecimento proporciona o levantamento dos detalhes que fazem a diferença na amostragem. É possível citar o horário de avaliação, as diferenças entre espécies, o reconhecimento das diversas fases da praga e a observação da migração-revoadas. Muitas das observações de campo para pragas iniciais são atreladas ao estande de plantas, levando os técnicos a realizarem esta avaliação. Algumas pragas são observadas visualmente, através de contagem direta nas plantas, e na palhada. No entanto, algumas necessitam de uma acurácia maior na amostragem, como a utilização de armadilhas, “panos de batida” ou mesmo a quantificação de danos na cultura. Ainda é possível citar, em

virtude de algumas pragas subterrâneas, a necessidade de abertura de trincheiras, caso de corós e percevejo-castanho. A partir desta análise e monitoramento são tomadas as decisões que na atualidade devem levar em consideração a dinâmica populacional da praga. Em função da polifagia, uma praga hora não controlada no início da colonização pode levar a grandes prejuízos quando em maiores infestações ou mesmo com a cultura fechada, em virtude da impossibilidade de se atingir o alvo. Nos últimos anos, com o histórico dos monitoramentos, áreas em que se manejou a “dinâmica populacional” proporcionaram facilidade no manejo de pragas, não ocorrendo infestações muito acima do nível de controle. Pode-se afirmar que o tratamento de sementes é, sem dúvida, a ferramenta para o manejo populacional, controlando o início das infestações, diminuindo a primeira geração de muitas das pragas incidentes no sistema de produção. É considerada por muitos produtores como um “seguro” e com os maiores custos de implantação e novos patamares de produtividade, esta ferramenta torna-se imprescindível para os maiores rendimentos. Os avanços biotecnológicos levaram à comodidade no manejo, principalmente nos primeiros anos. No entanto, a diminuição no monitoramento e a não observação

das “novas” dinâmicas de pragas levaram a perdas de algumas ferramentas. Entre as pragas iniciais destaca-se a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), que pode reduzir o estande de plantas e por consequência levar a grandes perdas em produtividade. Esta praga apresenta grande polifagia, pois além da soja, ataca milho, algodoeiro, entre outras. Esta praga se utiliza das diversas plantas daninhas como hospedeiros alternativos, sendo comuns capim-braquiária, capim pé-de-galinha, capim-colchão, milheto e outras. As lagartas apresentam coloração variável de esverdeada a arroxeada, com a cabeça escura. Perfuram as plantas na região do colo, fazendo galerias, e consequentemente provocam a morte de plântulas. Fazem, ainda, como forma de abrigo, um casulo com teias facilmente encontradas no campo. Em algumas culturas como o milho podem atacar o meristema na fase inicial, provocando a morte da planta, secando as primeiras folhas, levando ao nome deste sintoma de “coração-morto”. Os adultos são mariposas de coloração cinza a parda e asas com envergadura de aproximadamente 20mm. Ao completarem seu ciclo larval, as lagartas empupam próximo à planta em sua base ou no solo (Tomquelski e Martins 2017). Entre as práticas de manejo, o tratamento de sementes (TS) em regiões arenosas, com estresses hídricos, ou presença de plantas

A produtividade final precisa ser construída desde o início com atenção constante ao desenvolvimento da lavoura

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Soja • Março 2021 Fotos Germison Tomquelski

As lagartas do complexo Spodoptera sp. são pragas que aumentam gradativamente no Brasil

hospedeiras, tem sido adotado por mais de 90% dos produtores de soja, e com grande sucesso na maioria dos casos, quando ajustado ao sistema de produção. A biotecnologia utilizada em soja Intacta RR2 apresenta supressão em torno de 50%-60%, sendo uma tática que, integrada ao TS, tem gerado melhor desenvolvimento das plantas. Entre os inseticidas é de se destacar a utilização de fipronil, clorantraniliprole e cyantraniliprole como boas ferramentas no controle desta praga. As vaquinhas, coleópteros popularmente conhecidos, têm ocorrido com maior frequência. De modo geral nas culturas de soja, milho, algodoeiro e feijoeiro são importantes desfolhadores, e seu ataque inicial, impossibilita o desenvolvimento das culturas. A prática dos cultivos sucessivos, com grande quantidade de hospedeiros, favorece o desenvolvimento das fases jovens durante todo o ano, ocorrendo ataque às culturas logo após a semeadura. Entre as espécies mais importantes se destacam: Diabrotica speciosa - conhecida como patriota ou brasileirinho, possui coloração verde, manchas amareladas sobre os élitros e mede em torno de 4mm. Conhecida como larva-alfinete em sua fase jovem, ataca as raízes principalmente na cultura do milho, entretanto, pode ocorrer em soja. A ocorrência desta espécie é notória em áreas com maior quantidade de milho tiguera. Outras espécies presentes em determinadas regiões são Megascelis spp., conhecidas como metaleiro. Apresenta o adulto medindo em torno de 5mm, com coloração verde metálica, abdome afilado e tórax mais estreito. É uma espécie que em virtude do aumento de braquiárias no sistema de produção registra maior ocorrência; Maecolaspis calcarifera também tem sido encontrada no sistema de produção com soja e milho. Seus adultos medem em média 5mm com coloração do corpo verde, com sulcos e pontuações em toda sua extensão, suas larvas apresentam coloração branco-acinzentada e medem cerca de 7mm. Id-Amim (Lagria vilosa), besouros com até 10mm de comprimento, que apresentam cabeça de cor preta e élitros verde-amarronzados escuros. As larvas apresentam pelos, distinguindo-se de outras, vindo a cortar as 10

plantas, e consequentemente geram a morte na fase inicial, que pode ser confundida com a lagarta-rosca. Áreas com a presença de grande quantidade de palha tendem a ter maiores populações, em função do melhor ambiente para seu desenvolvimento. A fase inicial da soja apresenta desenvolvimento lento, e todas as espécies de coleópteros citadas levam à desfolha, comprometendo o desenvolvimento. Medidas como o tratamento de sementes com inseticidas registrados à base de fipronil, thiametoxan, imidacloprid + tiodicarbe, imidacloprido + bifentrina e clothianidim têm proporcionado menores infestações, e havendo uma maior necessidade, complemento com pulverizações posteriores. Outros coleópteros importantes para a cultura da soja, e também para o sistema de produção, são os corós, sendo as espécies Phyllophaga cuybana, P.capilata e Liogenys suturalis de grande predominância no Brasil. Os adultos medem cerca 10mm a 30mm de comprimento, com colorações variáveis castanho a marrom-escuro. As larvas são brancas, atingindo até 35mm de comprimento, passando por três instares. Os ovos são colocados isoladamente no solo, depositados em camadas de até 15cm de profundidade. O ataque se dá nas raízes, principalmente após a passagem para o segundo estádio da praga. No campo, os sintomas são caracterizados por reboleiras (manchas) de plantas amareladas, murchas e com redução no volume radicular. Quando ocorre sincronia da fase inicial da cultura com larvas maiores de 15mm pode se dar a morte das plantas. No manejo desta praga, deve-se levar em conta a integração de vários métodos para se evitar grandes perdas. A utilização da semeadura antecipada (primeiras chuvas) diminuiu os danos, promovendo um escape, já que a soja passa o período inicial sem o ataque da praga, e com o desenvolvimento, a cultura passa a tolerar parte dos danos. A rotação de culturas é prática que diminui a infestação da praga. Destaca-se a utilização da crotalária. O uso do tratamento de sementes em áreas infestadas é uma alternativa imprescindível, com bons resultados, se destacando fipronil, tiodicarb + imidacloprido, bifentrina + imidacloprido, clorantraniliprole e cyantraliniprole. No entanto, em áreas com histórico de ataques severos, recomenda-se o uso de aplicação de inseticidas no sulco de semeadura, integrando as duas alternativas. O tamanduá-da-soja (Sternechus subsignathus) tem ocorrido em determinadas áreas do Brasil com maior infestação. Regiões do Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul têm concentrado os maiores danos. No período chuvoso a praga é favorecida por promover condições de desenvolvimento e consequente alcance ao interior dos talhões. Os períodos secos comprometem o seu desenvolvimento, atrasando o desenvolvimento da larva ou mesmo impedindo a construção da câmara pupal no solo. Áreas próximas à mata são as de maiores ocorrência, sendo os meses de novembro até janeiro os de sua chegada aos talhões. O seu manejo tem como base a rotação de culturas, principalmente o milho (não hospedeiro) e o tratamento de sementes, sendo ainda a molécula de fipronil importante ferramenta, e demais moléculas ainda em estudo. Nas últimas safras, diversos coleópteros vêm incomodando os produtores, entre eles, na região central do Brasil, o torrãozinho (Aracanthus sp.- Curculionidae) e o cascudinho (Myochrous sp. - Chrysomelidae), pois têm levado a danos significativos no


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desenvolvimento de plantas. A desfolha é mais intensa que em outros coleópteros, levando a um “depauperamento” das plantas, chegando à morte. São insetos de hábito noturno e também hora encontrados no solo. Na presença de plantas daninhas como capim-amargoso, ou mesmo milheto, tem se observado uma alta frequência nas amostragens pré-safra. O tratamento de sementes para estas espécies com thiametoxan, clothianidim e fipronil tem promovido menor incidência inicial, porém com intervalo curto de supressão da população – em torno de dez dias a 14 dias, sendo complementado com as pulverizações de inseticidas com amplo espectro para o seu controle. As lagartas do complexo Spodoptera sp. são pragas que aumentam gradativamente no Brasil e nas diversas regiões produtoras. Entre elas a Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho-do-milho) se apresenta atualmente como um grande desafio em função do aumento da utilização de gramíneas como cobertura e a presença da resteva de milho (milho tiguera). A massa de ovos possui normalmente a coloração cinzenta. As lagartas se caracterizam por apresentar a coloração de cinza-escuro a marrom, apresentando um “Y” invertido na parte frontal da cabeça e quatro pontos equidistantes no final do seu dorso. É uma praga que permanece de 12 dias a 30 dias no estádio de lagarta, e pode chegar a atingir até 5cm de comprimento. A pupa é frequentemente encontrada no solo. O adulto é uma mariposa com asas anteriores mais escuras e desenhadas que as posteriores, medindo 3,5cm de envergadura. A principal explicação para o aumento dessas lagartas são os hospedeiros alternativos encontrados para seu desenvolvimento, além da alta taxa reprodutiva e falhas no seu monitoramento. Podem atacar as culturas na fase inicial, com o hábito da lagarta-rosca, cortando as plântulas rentes ao solo ou mesmo perfurando o colmo, provocando o sintoma de “coração-morto” no caso do milho. A biotecnologia “Bts” auxilia no manejo, porém a presença em instares superiores 2º e 3º não é controlada, e a presença de hospedeiros alternativos proporciona a migração destas plantas para a cultura, levando à diminuição no estande das cul-

turas. Algumas tecnologias apresentam maior supressão da população (Vip 3A) e outras vale destacar que a praga não é alvo, como o caso da soja. O Tratamento de sementes vem aumentando sua adoção em virtude deste cenário, além do inseticida em dessecação para o caso de lagartas de maiores instares. E ainda entre as pragas iniciais pode se falar do aumento expressivo de percevejos no sistema de produção. O gênero Diceraeus (Dichelops) sp. tem proporcionado grandes danos à cultura do milho na 2ª safra, e seu manejo apresenta características importantes, que devem ser manejadas na cultura antecessora, no caso da soja. Mas o principal fato é que a praga está fortemente correlacionada à maior presença de tigueras de milho, sendo importante o bom manejo destas plantas para evitar prejuízos para a cultura subsequente. Diante deste cenário com uma grande quantidade de pragas, o produtor se vê obrigado a proteger o seu investimento, e para isto o Manejo Integrado de Pragas com a integração de medidas de controle tem se utilizado da estratégia do tratamento de sementes, a fim de quebrar a dinâmica populacional nas primeiras gerações, mantendo as populações em níveis adequados para a não ocorrência de prejuízos à cultura. Mesmo com o avanço na biotecnologia, observa-se que o tratamento de

sementes é estratégia obrigatória em muitas pragas incidentes nas lavouras, podendo-se afirmar que nenhuma estratégia deve ser considerada isoladamente para o controle dessas pragas. De nada vale grandes investimentos em máquinas realizados nas últimas safras, sem o entendimento deste novo complexo de pragas existentes e sua ocorrência. O “seguro” hora idealizado pelo produtor com o Tratamento de Sementes apresenta algumas características interessantes, por se tratar de uma aplicação seletiva a inimigos naturais e mesmo com menor impacto ambiental por ser localizada. Outras pragas também podem ter seu manejo complementado com o tratamento de sementes, como mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B) e tripes (Frankliniella spp. – Caliothrips phaseoli). Este trabalho da dinâmica populacional apresenta-se cada vez mais importante, como medida necessária para conter o avanço populacional destas diversas pragas e manter as populações em equilíbrio. Pois, sem dúvida, os problemas iniciais não se revertem ao final. Somente uma boa base pode fazer a diferença na proC dutividade final. Germison Tomquelski, Desafios Agro

Danos em plantas jovens provocados pela lagarta-elasmo

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Paulo Santos/Phytus Group

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Horizonte biológico Os nematicidas à base de micro-organismos têm crescido exponencialmente nos últimos anos. Seu emprego, contudo, não deve ocorrer de modo isolado, mas em conjunto com outras estratégias de manejo

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a importância de se produzir mais soja sob um sistema agrícola intensivo e altamente produtivo, alocado em ambientes de clima tropical e subtropical, confronta inevitavelmente com condições favoráveis para ocorrência e incidência de pragas e doenças. Tais fatores podem ocorrer durante qualquer fase do ciclo de desenvolvimento da cultura da soja, que culminam diretamente na redução de produtividade. Atualmente as novas tecnologias utilizadas na agricultura têm contribuído significativamente para a obtenção de elevada produtividade. Este cenário positivo é reflexo dos diversos investimentos realizados por empresas de vários segmentos agrícolas, que vêm buscando solucionar os principais problemas existentes no campo. Estes muitas vezes associados a pragas e doenças que incidem na fase inicial da cultura da soja, crucial na definição do potencial produtivo das lavouras. 12

Dentre essas tecnologias, o tratamento de sementes destaca-se como uma das principais ferramentas, que tem por objetivo promover a proteção inicial das plântulas, permitindo assim a formação de um organismo saudável com potencial produtivo. A priori, essa técnica tem como objetivo proteger as sementes/plântulas contra patógenos do solo como fungos, insetos e nematoides, durante seu período mais crítico de desenvolvimento (Germinação, emergência e estabelecimento). Dentre os diversos grupos de agentes causadores de injúrias na cultura da soja, os nematoides parasitas de plantas têm se destacado safra após safra. Estes micro-organismos “vermes”, considerados uma “praga” de solo, têm provocado prejuízos silenciosos e crescentes em várias regiões produtoras do Brasil e têm se tornado um grande desafio nos dias atuais. Esses micro-organismos são especializados em se alimentar do siste-

ma radicular das plantas, interferindo diretamente no desenvolvimento vegetativo, bem como o reprodutivo. As principais espécies associadas na diminuição da produtividade da cultura da soja são os nematoides-das-galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita, M. arenaria), o nematoide-do-cisto (Heterodera glycines), o nematoide-das-lesões (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide-reniformis (Rotylenchulus reniformis). Além dessas espécies, tem aumentado a ocorrência de nematoides emergentes, como é o caso de Helicotylenchus dihystera, Scutellonema brachyurus, Tubixaba tuxaua e Aphelenchoides besseyi. Os sintomas nas raízes das plantas infectadas por fitonematoides, de modo geral, podem variar desde engrossamentos no sistema radicular (conhecidos como galhas), diminuição no volume e crescimento (principalmente em raízes secundarias) e destruição parcial (acompanhada por lesões escuras em vários pontos)


Soja • Março 2021 Germison Tomquelski

O tratamento de sementes destaca-se como uma das principais ferramentas para a proteção inicial das lavouras

utilizadas B. subtilis, B. firmus, B. methylotrophicus, B. licheniformis e B. amyloliquefaciens. Essas bactérias vivem nas proximidades ou no interior das raízes, por isso são chamadas de rizobactérias, e não apresentam efeitos nocivos para as plantas, pelo contrário, podem atuar como promotoras de crescimento. Bactérias do gênero Pasteuria são outros exemplos que têm sido testados no Fotos Paulo Santos/Phytus Group

(Figuras 1 e 2). Esse complexo de injúrias compromete o funcionamento fisiológico da planta, interferindo diretamente no fluxo de absorção e translocação de água e nutrientes, culminado na redução de produtividade. Nas lavouras, os sintomas na parte aérea das plantas ocorrem em manchas ou reboleiras, formadas por plantas amarelecidas, seguidas de crescimento irregular e, quando em períodos mais secos, “veranicos”, podem apresentar um quadro de murchamento nas plantas. Os nematicidas à base de micro-organismos (nematicidas biológicos) têm crescido exponencialmente nos últimos anos. Essa tecnologia objetiva a utilização de micro-organismos benéficos (inimigos naturais), para regular as atividades e populações dos fitonematoides. Os principais grupos de inimigos naturais com formulações de nematicidas para o uso no manejo dos fitonematoides são compostos, em sua maioria, por fungos e bactérias. Atualmente, existem mais de 30 nematicidas biológicos registrados para o manejo dos fitonematoides. O gênero com maior sucesso para o controle biológico de fitonematoides no momento tem sido as espécies de Bacillus, sendo as mais

controle de nematoides. Essas bactérias são parasitas de fitonematoides e dependem exclusivamente deles para se multiplicar no solo. Além dessas bactérias, alguns fungos colonizadores de raízes podem apresentar efeitos benéficos no controle de fitonematoides, como Purpureocillium lilacinum (=Paecilomyces lilacinus), Pochonia chlamydosporia e espécies de Trichoderma, ambos já encontrados em produtos comerciais. Esses produtos podem ser aplicados via tratamento de sementes ou sulco de semeadura. Entretanto, os mecanismos de ação entre bactérias e fungos são distintos. Os produtos biológicos compostos por fungos, sobre condições favoráveis do ambiente, atuam parasitando ou predando os ovos, juvenis e adultos presentes no solo. As bactérias atuam colonizando o sistema radicular (biofilme protetor), alimentando-se dos exsudatos radiculares (substâncias utilizadas pelos fitonematoides para detectar a localização das raízes), confundindo os nematoides sobre a localização real da raiz, contribuindo para o gasto energético, exaurindo assim suas reservas. Outro mecanismo envolvido em ambos os agentes de biocontrole

Figuras 1 e 2 - Raízes de plantas de soja atacadas por fitonematoides

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Figuras 3 e 4 - Plantas à esquerda sem o uso de nematicida biológico e plantas à direita tratadas com nematicida biológico

(bactérias e fungos) é a de antibiose (liberação de substâncias capazes de interferir diretamente na infecção, no desenvolvimento e na reprodução dos fitonematoides). As principais toxinas/enzimas excretadas são proteases, quitinases e lipases. Essas toxinas podem atuar em diferentes fases do ciclo biológico dos fitonematoides, desde o ovo até a fase de interação com a planta. Esses agentes antagonistas ainda possuem potencial de compor a fração biótica do solo, aumentando assim a competição nesse espaço, podendo tornar o ambiente mais supressivo e equilibrado. Além dessas características, os nematicidas podem auxiliar no desenvolvimento do sistema radicular, acelerando o seu crescimento, deixando o sistema radicular por menos tempo exposto à câmara de maior infestação dos fitonematoides (Figuras 3 e 4). Outro ponto sobre esses agentes é que algumas (bactérias e/ou fungos) podem emitir sinais capazes de ativar mecanismos de defesa latentes na planta, fazendo com que seus tecidos reajam rapidamente e com eficiência às tentativas de colonização, tornando-as mais resistentes. Dessa maneira, a formação de células vegetais especializadas para a alimentação dos nematoides é alterada, impedindo ou dificultando a sua plena nutrição. Cabe salientar que áreas que apresentem problemas com fitonematoides, não podem apresentar qualquer impedimento para o crescimento livre das raízes, seja este de ordem física ou química, caso contrário, as raízes ficarão confinadas à zona de maior concentração dos fitonematoides. A priori, o cuidado para com os produtos biológicos e a sua utilização de maneira isola-

da deve ser evitada. O ajuste dessas ferramentas com uma variedade de soja resistente/tolerante, atrelado a um sistema de rotação, é praticamente vital para o sucesso de um programa de manejo a médio e longo prazo. Um exemplo prático disso é quando o produtor realiza o diagnóstico da espécie de nematoide presente na sua lavoura, em função dos sintomas observados (geralmente reboleiras), o simples fato de não repetir a mesma variedade ao qual ele observou o problema já é um passo importante, pois essa troca de variedade trará à população de fitonematoides um novo cenário quanto à demanda por alimento, principalmente se a cultivar escolhida apresentar características de desenvolvimento radicular agressivo e/ou resistência/tolerância à espécie envolvida. Portanto, é importante salientar que essas ferramentas de manejo possuem mecanismos de ação diferentes, para o objetivo principal de evitar a alimentação e a reprodução dos fitonematoides, quebrando, assim, o seu ciclo de vida. Essas ações irão dificultar ou impedir o crescimento populacional no solo, de forma a permitir o cultivo econômico nessas áreas. Embora essas ferramentas apresentem grande potencial para o manejo, nenhuma delas quando usadas isoladamente, trará uma resposta maior de controle que se utilizadas de maneira conjunta. Cabe ressaltar que para isso os produtores precisam realizar o trabalho de base, que começa pela identificação e quantificação correta das espécies presentes na área, para, assim, buscar o auxílio C destas ferramentas. Paulo Santos e Cristiano Bellé, Instituto Phytus Caderno Técnico Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 262 • Março 2021 Capa - Germison Tomquelski Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075

Santos e Bellé são pesquisadores na área de Nematologia pelo Instituto Phytus, no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul

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www.revistacultivar.com.br




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