CONTO
SÔNIA PILLON O BADALAR DAS HORAS O relógio de parede antigo anunciava as horas pausad a mente, naquele r it mo ca dencia do e u n ifor me. As badaladas sempre t ransmitiam u ma sensação de constância e segurança. Marrom escuro, de madeira nobre, tinha um rococó esculpido na parte alta e contornos delicados que lembravam ondas. O pêndulo dourado era tão brilhante que parecia ser realmente de ou ro. Sem dúvida, uma peça genuinamente artesanal e com det al he s de m a rce n a r ia a r t íst ica , que ma rcou a infância e o início da adolescência de Maria. Seria o My precious!, se ainda estivesse com ela... Hoje, com o ritmo alucinado que vivemos no dia a dia, praticamente não há espaço para relógios de eng renagens mecânicas. G e r a l m e nt e a s p e s s o a s preferem os automát icos, digitais e high tech. Por isso, os nost álgicos se obr iga m a p e r c or r e r antiquár ios, ou fazerem
buscas minuciosas em sites de ra r id ades, pa ra f i nal mente encont rarem u ma preciosid a de como aquela. “São relíquias muito bem guardadas e, quando encontradas, estão disponíveis para poucos”, pensou Maria, enquanto apreciava o domingo de sol da varanda da fazenda. A inf ância f icou para
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t rás, mas as lembranças d aquela época vi n ham sempre na memória de Ma r ia-me n i na , com u m gostinho doce de saudade. Reminiscências de um tempo remoto, quando os cost u mes eram out ros e o passar das horas e dos dias aconteciam sem muitos sobressaltos. Ao v a s c u l h a r o p a s s a do, Mar ia record a que