ano 19 - edição 60 | fevereiro de 2022
revista corpo da matéria CURSO DE JORNALISMO PUCPR
Prato vazio Insegurança alimentar atinge novamente os brasileiros, impactando na qualidade de vida
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Corpo da matéria Ano 19 - Edição 60 - Fevereiro de 2022 Revista Laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR Pontifícia Universidade Católica do Paraná R. Imaculada Conceição, 1115 Prado Velho, Curitiba PR REITOR
Ir. Rogério Renato Mateucci DECANA DA ESCOLA DE BELAS ARTES
Ângela Leitão
COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO
Suyanne Tolentino De Souza COORDENADORA EDITORIAL
Suyanne Tolentino De Souza COORDENADOR DE REDAÇÃO/JORNALISTA RESPONSÁVEL
Paulo Camargo (DRT-PR 2569)
COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO
Rafael Andrade
Alunos - 4º Período Jornalismo PUCPR Allanis Bahr Menuci, Augusto Rank Vellozo, Eduardo Veiga Nogueira, Georgia Giacomazzi Barbosa Lima, Giovana Juliatto Bordini, Giulia Militello Dias dos Santos, Guilherme Seisuke da Silva Araki, Helene Mendes da Rocha Torres Loureiro, Isadora Borsoi Martelli, Juliane Capparelli, Letícia Fortes Molina Morelli, Letícia Rocha Bonat, Maria Eduarda Cassins dos Santos, Maria Eduarda de Souza Pereira, Mariana Alves de Oliveira, Mariana Toneti dos Santos, Milena de Fátima Chezanoski, Paula Braga Goveia, Rodolfo Neves Pereira Negrini, Rodrigo Pires de Angelucci, Tiago Carraro Bonança, Vanessa Caroline Guimarães, Vinicius Gabriel Bittencourt.
Imagem de capa: Juliane Capparelli
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SUMÁRIO Mais água no feijão
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Enviar, receber e leiloar
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Mais do que uma pedra no caminho
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Do quartel para a escola
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De volta ao presencial
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Tetos sob ameaça
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“Como se fosse uma sobremesa”
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Gestação do coração
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Você colhe o que planta
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A moda do café
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Atrofia social
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Uma luta feminina
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2021: o ano das mulheres
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Segunda pele
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A volta do gênero neutro
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Uma nota de esperança
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Terror no cinema
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O aumento no preço dos alimentos traz a insegurança alimentar como problema adicional para as famílias de baixa renda durante a pandemia Juliane Capparelli Letícia Fortes Maria Eduarda Souza
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lém da crise sanitária, a pandemia resgatou um problema secular no Brasil: a insegurança alimentar. Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de Brasília (UnB) constataram que mais de 125 milhões de brasileiros conviveram com refeições menores, incompletas e até mesmo com a falta de alimentos, como a família da trabalhadora autônoma Juliana Cristina de Souza. Ela assumiu o sustento integral da família com seis filhos há mais de seis meses, quando seu marido ficou desempregado e teve que procurar outra alternativa para gerar renda. “Ele agora me ajuda a fazer lanches em casa para tentar juntar um dinheirinho, e assim a gente tenta sustentar os nossos seis filhos”, diz.
Juliane Capparelli
Mais água no feijão
A família de Juliana compõe 55% dos lares brasileiros sem acesso regular a alimentos em quantidade e qualidade suficientes para sua sobrevivência. Ela relata que não tem mais condições de comprar os alimentos que os filhos pedem. “Antes, eu ia no mercado e levava bastante coisa. Agora, já não consigo comprar nem o básico, a carne, o leite, o arroz, tudo subiu.”
“Hoje é o básico, arroz e feijão, e mesmo assim às vezes falta.” - Camila Aparecida da Silva, desempregada A alta dos preços também reduziu o consumo e a diversidade alimentar na casa de Camila Aparecida da Silva, desempregada e mãe de três filhos. “Aqui em casa não tem mais variedade de comida, não. A gente sempre come do mesmo e procura seguir a vida assim. Não temos mais nem condição de comprar comida diferente”, afirma. Camila relata que a renda do marido os ajuda a comprar apenas o necessário para a alimentação de seus filhos, e o restante do sustento alimentar vem da contribuição de outras pessoas. Ela fica mais tranquila com esse apoio que recebe da comunidade, mas nem sempre é suficiente. “Hoje é o básico, arroz e feijão, e mesmo assim às vezes falta.”
INFLAÇÃO NO PRATO A inflação que reduziu o poder de compra dos salários tanto de Juliana quanto de Camila é calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), responsáveis por medir a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de um a cinco salários mínimos e famílias de renda mensal de um a 40 salários mínimos, respectivamente. Em julho, o INPC teve uma elevação de 1,02%, contra 0,60% do mês anterior. Já o IPCA subiu para 0,96% em julho, sendo a maior variação dos últimos 19 anos. Em comparação com o mês anterior, houve uma diferença de 0,42%, como mostra o gráfico. Inflação, instabilidade climática, safra ruim, variação do dólar e alta no preço das commodities são os principais fatores que trouxeram algum grau de desnutrição e fome para os lares de 55% das famílias em 2020. Embora a inflação seja apontada como principal influência para o aumento dos preços das mercadorias, o economista Ricardo Kureski afirma que a causa para esse fenômeno é a procura da população por uma safra de alimentos reduzida. “Existem duas causas para o aumento da inflação: primeiro, a seca, porque ela afeta a produção dos alimentos ao diminuir a colheita e gerar uma safra menor para o consumo da população. A outra questão é o dólar, que causa a variação no preço das commodities”. O economista explica que proteínas e vegetais essenciais na alimentação
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do brasileiro são commodities, como o frango, a carne bovina e o milho. Esses produtos são recursos estratégicos para manter a produção alimentar e industrial de todas as economias do mundo e, portanto, têm seus preços fixados em dólar para facilitar sua comercialização internacional. No entanto, a variação da cotação do dólar e a desvalorização do real em relação à moeda americana aumentou o custo dos alimentos ao longo de toda a cadeia produtiva, isto é, do produtor ao consumidor. “Por exemplo, o frango: ele come milho até chegar ao peso certo para o abate. Só que, como a colheita de milho no Brasil foi baixa, a demanda pela produção de milho em outros países para alimentar esses frangos no Brasil se torna maior. Sendo o milho uma commodity, com preço em dólar, o produtor de frangos repassa ao consumidor o valor, em dólar, do milho que ele utilizou para produzir o frango que está no mercado. Por isso, o preço do frango sobe para o consumidor”, explica o economista. A nutricionista Gizella Mingardi expressa preocupação com as consequências da inflação no preço dos alimentos. A diminuição da quantidade e da qualidade dos alimentos nas famílias de Juliana e Cristina são indícios da volta da insegurança alimentar no Brasil, cujos prejuízos incluem o aumento nos índices de desnutrição e fome. Sem uma alimentação rica e diversa em vitaminas e minerais, as condições de saúde geral da população se agravam e geram uma série de doenças como diabetes, hipertensão, gastrite e obesidade. “Os alimentos possuem nutrientes essenciais para o bom funcionamento do organismo. Ao comer bem, estamos melhorando nossa saúde e ganhando mais disposição para nosso dia a dia”, afirma Gizella. Ainda, ela destaca alguns alimentos que são indispensáveis no dia a dia, como vegetais, frutas, verduras e legumes, carboidratos como tubérculos, grãos e cereais integrais, o grupo de leguminosas (feijões, lentilha, etc) e fontes de proteínas, sendo elas animais ou de vegetais (que são as leguminosas).
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TUDO MAIS CARO O aumento do custo de vida fez com que o salário dos brasileiros rendesse menos no mercado, como aconteceu com a família da atendente de café Raimunda Reis. “Tivemos de nos adaptar comendo pouco, e comer coisas que não gostamos para não ficar com fome, como comer muitos ovos e salsichas para ter uma proteína no cardápio diário. E mal temos conseguido pagar as contas. Como conseguiremos manter nossa renda se aquilo que antes eu comprava com R $100, hoje não compro nem a metade?” Apesar de os produtos naturais serem ricos em valor nutricional, são mais caros que os alimentos ultraprocessados, produzidos por indústrias brasileiras. Segundo o economista Ricardo Kureski, os produtos orgânicos são realmente mais caros porque não utilizam defensivos agrícolas, têm uma produtividade mais baixa e dependem diretamente do clima para ter uma boa colheita. “Já os alimentos ultraprocessados, além de serem comprados em maior quantidade pelos supermercados, não são commodities, então não têm o seu preço determinado pela cotação do dólar. O refrigerante, as bolachas, o miojo, por exemplo, não são commodities.” O gráfico apresenta alguns exemplos de ultraprocessados que ficaram mais caros no acumulado de 12 meses do IPCA de julho, como o açúcar refinado (31,12%), seguido da margarina (23,01%) e da salsicha (17,16%). Além disso, o economista alerta que a perspectiva econômica para os próximos meses é marcada por novos aumentos da inflação. “O preço da comida até pode abaixar, mas só ano
que vem, quando vier a safra nova. Se a colheita for farta e a cotação do dólar estabilizar, o preço dos alimentos pode ficar mais em conta. A questão é a seca: será que vai chover o suficiente para termos uma boa safra? A gente não sabe. Se a colheita for boa, o dinheiro vai render mais no mercado. Se não, o aumento dos preços é certo.” O gráfico confirma esse crescimento, segundo o acumulado de 12 meses dos preços alimentícios do IPCA de agosto.
se, já que a demanda se concentrou na compra de um único tipo de carne e provocou o aumento da inflação.” Do ponto de vista nutricional, Gizella Mingardi recomenda a substituição das carnes por proteínas vegetais, como feijões, lentilha, grão de bico, vegetais escuros como brócolis e espinafre. Entre as proteínas animais, o ovo é uma alternativa além do frango e da carne bovina. Uma dica para economizar e manter a qualidade da alimentação é comprar os vegetais da época, pois são mais baratos e fáceis de encontrar no mês de safra. Além disso, comprar diretamente de produtores locais pode diminuir ainda mais o custo final e beneficiar a agricultura familiar. Apesar da volta da insegurança alimentar no Brasil, o PIB do agronegócio calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), obteve um crescimento recorde de 24,31%. O país tornou-se o terceiro maior produtor de alimentos em 2020 devido à uma safra recorde e ao apoio do governo Bolsonaro, classificado como ruralista pela coordenadora do coletivo Arroz, Feijão e Economia Clara Saliba. “O projeto bolsonarista busca favorecer os grandes agropecuários, pautando projetos de lei que aumentam a tolerância em relação ao desmatamento e reduzem a fiscalização no uso de agrotóxicos”, explica. Enquanto a autônoma Juliana Cristina de Souza prepara as refeições, a preocupação com os constantes aumentos dos preços dos alimentos é evidente. O dinheiro que ela ganha com os lanches não basta para alimentar a família toda. Mesmo com os cortes nos gastos, não há a certeza de comida no prato do dia seguinte. “A gente não pode desperdiçar nenhum grão.”
A recomendação de Kureski consiste em comparar os preços dos produtos entre os supermercados e consumir vários tipos de alimentos, para que a procura por um determinado produto não aumente mais do que sua produção. “Com a alta no preço da carne bovina, o que aconteceu? A maioria das pessoas buscou o frango como alternativa. Acontece que isso fez com que o preço do frango também subis-
Veja também Confira 5 projetos de distribuição de alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade em Curitiba portalcomunicare.com.br
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Mariana Toneti
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Municípios no interior do Paraná devem pagar a conta da privatização dos Correios, caso a discussão avance em Brasília Eduardo Veiga,Giovana Bordini, Mariana Alves e Mariana Toneti
358 anos de história
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oram quatro anos de relacionamento à distância. De Curitiba a São Paulo, de São Paulo a Curitiba. Após uma viagem, em 1990, o contato se estabeleceu e persistiu. 25 anos depois, após um casamento, dois filhos e um divórcio, o sentimento reencontrou Walkiria Oliveira por meio de meio de uma caixa antiga - e Walkiria diz ter reencontrado o rapaz de São Paulo naquelas cartas. Ao relembrar hoje, aos 47 anos, a professora de ensino fundamental diz que as correspondências poderiam demorar até 30 dias para chegar ao estado vizinho e às mãos do querido destinatário. Já as cartas para a avó costumavam levar menos tempo para serem lidas. Ela morava em Cruzeiro do Sul, cidade paranaense a 70 km de Maringá.
rios. De alguma forma, o destinatário é sempre alcançado, independentemente do local.
“Lá só tinha uma agência. Era uma agência pequena, eu cheguei a conhecer porque eu passava as férias lá. O Correio era um ponto de referência. Praticamente tudo naquela cidade pequena girava em torno do Correio, da delegacia e da igreja”, conta Walkiria. Há cerca de um mês, quando ela achou as cartas vindas de São Paulo, decidiu enviar uma delas para São Paulo. “Os Correios estavam em greve. A carta demorou 45 dias para chegar.”
Nos últimos anos, a estatal encontrou uma solução para esses locais tão afastados do Centro - colocar uma sede terceirizada em uma região próxima dos desertos postais, porém, ainda é necessário ir até as cartas. “As contas eram deixadas na bodega, aí as pessoas iam de carroça até lá buscar”, relata a moradora do Cerro Rosiane Ribeiro. Ela precisou alterar o endereço de entrega para o seu atual trabalho, para não voltar a acontecer de perder o vencimento das contas.
Unindo pessoas distantes há mais de 300 anos, os Correios - junto aos conflitos de interesses que o cercam - fazem parte do cotidiano brasileiro. Em 60% dos municípios do país, a estatal é a única representação da União, segundo a autarquia. Em 2019, estimava-se que existiam 508 agências espalhadas pelos 399 municípios do Paraná, com mais de 5,8 mil funcioná-
Em distantes terras roxas do estado, uma simples entrega de encomendas pode passar por quatro pessoas. É o caso do Cerro da Ponte Alta, em Irati, região sudeste do Paraná. Há poucos anos, o serviço percorria um longo caminho: os Correios procuravam um motorista, principalmente de ônibus, e os mesmos ficavam responsáveis pela entrega - que ainda não seria na casa do destinatário. O segundo passo era encontrar alguém que aceitaria disponibilizar um espaço de sua casa para receber todas as encomendas e cartas da cidade. Por fim, cada pessoa iria até a residência escolhida para pegar o que estava em seu nome.
Foi só a partir de 2015, segundo dados levantados pela Revista CDM junto ao Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), que todos os municípios do Paraná passaram a ter uma agência dos Correios própria, isto é, uma unidade que oferece todos os serviços da empresa.
Marco inicial dos Correios.
1500
O primeiro registro de práticas dos Correios foi a carta enviada por Pedro Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, relatando sobre a descoberta do Brasil.
1663
Dom Afonso VI de Portugal nomeia o alferes João Cavalleiro Cardozo para o cargo de Correio da Capitania, criando oficialmente o serviço postal no Rio de Janeiro e no Brasil.
1797
Um decreto da Coroa Portuguesa estatiza e centraliza os serviços postais, subordinando-os ao Ministério da Marinha e Ultramar.
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No extremo oposto aos serviços postais interioranos - os fundos monetários de Brasília -, a história recente dos Correios exibe lucros. Entre 2001 e 2020, segundo os próprios Correios, a estatal acumulou ganhos na casa de R$12 bilhões, sendo que 73% do total foi repassado diretamente para o governo federal - em princípio, o único proprietário da grande empresa. Entre esses 20 anos, apenas quatro apresentaram prejuízos, com ênfase no período de 2015 a 2017. Perdas, porém, que exigiram um suporte de R$224 milhões do Tesouro, conforme indica um relatório da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest), do Ministério da Economia. Ou seja, dinheiro público remanejado. “Antes não tinha internet, essa disponibilidade toda que temos hoje. Faturas digitais, por exemplo. E se tinha também menos concorrência de empresas de logística eficientes. O rei reinava sozinho”, comenta o professor de Economia da UFPR e doutor em Finanças pela FGV Adalto Althaus. Segundo ele, o fato de os Correios não terem acompanhado as mudanças tecnológicas e mercadológicas reforça a ideia de que o serviço postal da empresa chega a todos brasileiros, mas nem sempre é rentável aos cofres públicos. Embalado pelo clima favorável à discussão - sob a lógica desestatizante
LUCROS E PREJUIZOS DOS CORREIOS NOS ÚLTIMOS 10 ANOS
Dados: Correios
As últimas duas cidades do estado que receberam uma agência foram Porto Barreiro e Cruzeiro do Iguaçu - localizadas no oeste do Paraná, ambas a pouco mais de 100 km de Cascavel e com pouco menos de cinco mil habitantes. Até 2017, a unidade de Cruzeiro do Iguaçu atendia os moradores apenas três vezes por semana.
Apesar dos recentes prejuízos, os Correios conseguem se manter com seus próprios recursos
que conduz o discurso econômico do governo Bolsonaro desde seu início -, a privatização dos serviços postais ganhou fôlego no Congresso Nacional. Em setembro, a Câmara aprovou o Projeto de Lei 591/2021, que prevê a
“ É uma estratégia de lobby você ter serviços públicos que não sejam 100% eficientes.” Adalto Althaus, professor de Economia da UFPR
venda dos Correios para a iniciativa privada. O PL, que ainda depende da aprovação do Senado e da sanção do Executivo, está intimamente ligado ao interesse da pasta econômica do Executivo. Entre seus pontos mais sensíveis, o projeto de venda da estatal propõe que o dono dos serviços poderá definir as tarifas, seus reajustes e revisões de acordo com as condições de cada lugar. Na prática, o envio de cartas e encomendas poderá variar de região Selo “olho de boi”, de 1843.
1822 Com a Independência do Brasil, o serviço postal impulsionou o desenvolvimento do País, e com isso se tornou necessário um novo modelo de serviço postal, pois o setor produtivo do Brasil estava crescendo e não conseguia suprir as necessidades dos usuários.
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1835
Início da entrega domiciliar de correspondências.
1842 Criação do Decreto 255 que usou a palavra “carteiro” pela primeira vez, e também previa a perda da comodidade de receber as correspondências em casa, para aqueles que maltratassem o profissional.
1865 Criação do Decreto 3.443 que aprovou um novo regulamento para o serviço postal do Império que regulava o serviço de Correio Urbano, com pelo menos três distribuições diárias em domicílio.
para região, levando em conta o custo do serviço, a renda média da população e outros indicadores sociais do local. “O custo com certeza será maior para entregar em uma cidade do interior. Aqui no Paraná, pense na entrega de uma encomenda no meio do Vale do Ribeira, leste do estado, uma das regiões mais pobres do Brasil, que ninguém fala sobre. Uma entrega em uma região dessas é deficitária. Você teria que cobrar tão caro da pessoa, que não compensaria pagar o Correio”, analisa Althaus. O PL determina que o vencedor do leilão da estatal deve garantir que clientes de baixa renda tenham acesso aos serviços básicos. O professor Althaus argumenta que cabe ao comprador dos Correios também “arcar com o ônus” e fazer parcerias para que locais mais distantes das metrópoles não sejam abandonados.
Congresso e com a lei da terceirização, nós temos várias pessoas que prestam serviço aos Correios. Estamos desde 2011 sem concurso público (...), estão fazendo de tudo para precarizar os Correios, para ser vendido. Estamos vendendo a soberania nacional”, conclui Cardoso.
PRIVATIZAÇÃO E OS FUNCIONÁRIOS Internamente, uma das maiores preocupações atuais é a chance de perda de emprego em caso de privatização. Caso o PL seja aprovado, os funcionários terão 18 meses de segurança, ou seja, durante esse período, não será permitida a demissão por justa causa. Além disso, é esperado que a estatal
“Sinônimo de privatização é demissão.”
A 1.392 km da metrópole de Curitiba, o debate sobre a privatização se concentra em Brasília, porém Adaílton Cardoso, representante do Sintcom-PR sempre com a presença do Paraná. Adaílton Cardoso é o representanofereça um Plano de Demissão Vote do Sindicato dos Trabalhadores nos luntária - o PDV. Ao escolher o plano, Correios do Paraná (Sintcom-PR), que o funcionário terá uma indenização, participa das conversas nos corredoplano de saúde e plano de requalificares do Congresso. Segundo ele, o sinção pessoal. No entanto, a demissão dicato de cada estado do país enviou por justa causa durante o período dos um filiado à capital para representar 18 meses ainda pode ser possível em os 100 mil funcionários dos Correios eventos extraordinários, caso o funque trabalham em todo o país. cionário cometa algo grave que justifique o interrompimento do contrato. A expectativa de Cardoso é que o PL seja reprovado, uma vez que, segundo Após um dia de expediente, com enele, a empresa que adquirir a estatal tregas pela região central de Curitiba, em um caso de privatização não terá um carteiro motorizado, que prefeinteresse em cobrir todos os municíre não se identificar, assume que os pios, gerando os chamados “desertos Correios passaram de um ambiente postais”. “Como a lei foi aprovada no saudável, com vários benefícios, para
1888 Ao longo do período imperial, foram muitas as tentativas de se criar uma administração independente para os Correios do Rio. O então Correio da Capital Federal era controlados pelo Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos.
1890 O primeiro Decreto da República informava que os Correios responderiam ao Ministério da Agricultura, mas quatro anos depois os Correios passaram a responder ao Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas.
1931 Na Era Vargas, o primeiro movimento na área dos Correios foi o Decreto 19.951 que organizou a questão da separação entre a Direção Geral e a Administração Postal do DF.
1967 Durante a ditadura, os Correios passaram a ser dependentes do recém-criado Ministério das Comunicações.
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Mariana Toneti
um ritmo de trabalho acelerado demais nos últimos anos. “Com a saída de funcionários por aposentadoria e PDV (Plano de Demissão Voluntária) e a alta demanda de encomendas, precisariam ser abertos novos concursos para a integração de funcionários, para conseguir suprir [a demanda]. Os Correios se tornaram um ambiente de muita pressão”, relata o funcionário da estatal. Além disso, ele ainda menciona que há um tipo de perseguição quando o funcionário
do interior, regiões mais carentes, por não darem lucro, terão os serviços suspensos. Deixarão de receber serviços essenciais, como medicamentos”, alega o carteiro. Estatais que passaram por privatização, como recentemente ocorreu com a Eletrobras, reduzem o quadro de funcionários. A empresa do setor elétrico, ao se preparar para a iniciativa privada, desligou 14 mil funcionários nos últimos anos. Foi estudada, ainda, a possibilidade de realocar funcionários para outras estatais. Ao ser perguntado sobre uma possível demissão em massa de funcionários dos Correios, com uma futura privatização, o professor Adalto Althaus afirma ser natural que haja um grande corte de trabalhadores.“Será que esses funcionários, ao longo desse tempo, procuraram estudar, se aprimorar, crescer como pessoas e como profissionais? Ou ficaram naquele cabide, naquela rotina?”, questiona.
“Eu, por ser formado e gostar de novos desafios e oportunidades, não tenho medo de perder meu emprego, porém, vejo a privatizaO salário de carteiro é R$ 1.757,48, segundo dados de 2020 dos Correios. ção como algo totalmente negativo”, explica o carteiro ouvido pela não cumpre o que foi pedido, mesreportagem. Ele ressalta que seu caso mo que sejam “metas impossíveis de não compreende a maioria, feita de serem cumpridas”. “funcionários que ficarão desqualificados para o mercado de trabalho, visto Em 2 de outubro, centenas de funque trabalharam a vida toda como cionários foram às ruas ecoando o carteiro e não possuem outras experidescontentamento com a desestatiências profissionais que muitas áreas zação por todo o estado paranaense. exigem”, conclui. A mobilização interna é, em grande parte, desfavorável à privatização. Procurados, os Correios-PR dizem que “Os Correios vão além da entrega de não podem fazer declarações a rescorrespondências. Em muitas cidades peito da privatização.
Logo dos Correios em 1970.
1969 Surgimento da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), trouxe mudanças no modelo postal brasileiro. Assim, os Correios passaram a ser uma empresa pública, de forma a aumentar sua competitividade.
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Década de 1970 Criação do Código de Endereçamento Postal – CEP. Os cinco números trouxeram uma melhoria para os padrões de qualidade dos serviços postais.Em 1977, os Correios se tornaram independentes financeiramente e informatizados.
Década de 1990
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos recebeu autorização para a implementação das Agências de Correios Franqueadas – ACF.
Logo dos anos 1990.
O papel do Estado Priorização de outros serviços públicos pode favorecer a privatização dos Correios “Dentro dos próximos anos, a União vai ter que injetar dinheiro público [nos Correios]. É dinheiro público. Enquanto isso, nós temos outras necessidades, principalmente saúde”, comenta o professor de Direito da PUCPR e doutor em Direito do Estado Luiz Blanchet. Ele afirma que as privatizações devem ser olhadas caso a caso, sem generalizações - porém, o caso dos Correios é particularmente interessante por envolver discussões a respeito do papel do Estado na sociedade. “Se nós analisarmos o Estado como um todo, as suas funções são saúde, educação e segurança. Talvez, induzir investimentos em estrutura. Talvez essas sejam as funções primordiais do Estado, que ele já não faz bem”, constata o professor Adalto Althaus. Sobre a qualidade do serviço, ele argumenta que a suposta precariedade dos Correios pode ser proposital. “É uma estratégia de lobby você ter serviços públicos que não sejam 100% eficientes. Por exemplo, talvez o Estado não tenha realmente interesse que a educação pública seja de excelência porque, se não, todas as escolas privadas não existiriam”, analisa. Como foi o caso de Walkiria Silva, mostrado no início da reportagem, o atraso na entrega de correspondências é um dos pontos usados por quem defende a privatização. Dados da própria estatal mostram acúmulo de envios atrasados em estados como
o Rio Grande do Sul, com 10,6 milhões de correspondências pendentes. “O que sobrou para os Correios foram apenas as correspondências. A entrega de mercadorias já não é mais monopólio da Empresa Brasileira de Telégrafos [ECT]. Como ela é uma empresa pública, logo, não há ações de particulares, vai ser a própria União que terá que custear quando ela começar a ter problemas financeiros”, alega o professor Luiz Blanchet. Ele resgata o Artigo 173 da Constituição Federal, o qual define que o país deve explorar atividades econômicas quando elas estiverem relacionadas à segurança nacional ou interessar a toda a população. “Foi por volta de 1600 que foi criada a ECT. Os tempos mudaram, já não precisamos mais tanto de cartas”, conclui Blanchet, exemplificando as facilidades da comunicação via telefone e celular. “Eu ainda acho que o Correio, até os dias de hoje, é o modo mais fácil de a gente poder mandar uma mensagem para alguma pessoa. Até mesmo resgatar uma pessoa que está longe”, comenta Walkiria, dizendo que você só precisa de um endereço rabiscado na agenda para que a carta possa chegar ao destino. “A carta é uma surpresa muito boa. Quando alguém escreve uma carta para você, ela está querendo, por meio daquele papel, expressar muita coisa, que em um telefonema não conseguimos expor”, conclui.
Veja também
Logo de 2014.
Década de 2000 Os Correios passaram a abranger em torno de 5.561 municípios brasileiros. Não há registros de que nenhuma outra instituição até então tinha tanto alcance. Em 2002, criação da Ouvidoria dos Correios, para melhorias no atendimento ao cliente.
2020 Mais de 55 mil carteiros percorrem, cerca de 435 mil quilômetros por dia, seja a pé, de carro, moto ou bicicleta. Os correios contam com aproximadamente 6,3 mil agências próprias no país.
2021 Privatizar ou não?
Correios contra a Covid-19? Confira as outras funções que a estatal desempenha. portalcomunicare. com.br
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Juliane Capparelli
Mais do que uma pedra no caminho A recorrência de casos de importunação e assédio sexual traz cada vez mais insegurança às mulheres que se deslocam pelas cidades brasileiras
Isadora Martelli Letícia Bonat Letícia Fortes Juliane Capparelli Maria Eduarda Souza
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lhares insistentes, cantadas ofensivas e indesejadas, comentários inconvenientes e apelativos. Esses e outros comportamentos agressivos fazem parte da vida de sete em cada dez mulheres que se deslocam pelas cidades brasileiras, as quais já foram importunadas ou assediadas sexualmente, segundo pesquisa dos Institutos Locomotiva e Patrícia Galvão. O impacto dessas agressões na vida das vítimas fica evidente no desconforto e no constrangimento de todas as mulheres entrevistadas
“Sempre que ando na rua, ouço buzinas, sinto encaradas, aguento comentários.” - Júlia Carvalho* nesta reportagem, as quais decidiram manter o anonimato e falar através de nomes fictícios. Para Júlia Carvalho*, o simples transitar pelas ruas traz um constrangimento familiar e inevitável. “Sempre que ando na rua, ouço buzinas, sinto encaradas, aguento comentários... Sempre as mesmas coisas, de diferentes homens.” Ela confessa que foi importunada sexualmente até mesmo em festas, durante seus momentos de lazer com os amigos. “Sempre que eu ia a festas, em algum momento algum homem passava a mão na minha bunda. Já tiveram vezes em que colocaram, literalmente, a mão dentro do meu short ou no das minhas amigas enquanto estávamos passando.” Nos diversos meios de transporte, as mulheres são o grupo mais vulnerável à diversas violências, sendo a importunação sexual uma agressão mais recorrente para 36% das entrevistadas do que para o restante das 34% participantes que já foram vítimas de assalto, furto e/ou sequestro. Embora a pesquisa quantifique apenas os casos de importunação sexual registrados em meios de transporte, a maioria
dessas mulheres se desloca frequentemente para trabalhar ou estudar, ambientes nos quais os casos de importunação e assédio sexual são ainda mais recorrentes. Segundo pesquisas dos Institutos Avon e Patrícia Galvão, 56% das mulheres foram importunadas sexualmente na universidade e 39% já foram assediadas no ambiente de trabalho, ao receberem elogios constrangedores ou convites para sair de seus superiores hierárquicos. Embora o termo assédio seja mais utilizado socialmente, tanto por pesquisas especializadas quanto por mulheres desrespeitadas e constrangidas com apologias ao sexo -, o assédio sexual é um crime previsto pela lei n°10.224/2001, no qual o assediador deve ser um superior hierárquico da vítima e utilizar seu cargo ou função para sobrepor-se a ela em algum ambiente, sobretudo no local de trabalho. Por meio dessa relação de subjugação, o assediador constrange a vítima para obter vantagens ou favores sexuais como beijos, contatos físicos, encontros e relações sexuais. O artigo 216-A do Código Penal brasileiro penaliza os assediadores com detenção de um a dois anos e multa. Segundo a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo (USP), Maria Paula Panúncio Pinto, essa relação de poder entre assediador e vítima, muitas vezes é sustentada pelo medo ou até mesmo pela vergonha. “É o chefe, o patrão, o professor, alguém que pode de fato prejudicar a mulher caso ela não ceda aos seus esforços de obter vantagem sexual sobre ela. É importante reforçar que em qualquer tipo de violência está caracterizada uma relação de poder. Pode ser um poder real, ou pode ser o simples poder da força física, por exemplo.” Já o crime de importunação sexual existe quando comentários constrangedores e ações como “roubar” um beijo sem permissão, tocar partes íntimas, “encoxar” ou ejacular no corpo da vítima ocorrem na rua, especialmente no transporte público. Essa conduta é caracterizada como crime desde 2018, pela Lei nº 13.718 e pelo artigo 215-A do Código Penal, a
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Juliane Capparelli
Esperar o ônibus é um desafio diário para as mulheres que se deslocam sozinhas. fim de proteger a liberdade sexual das vítimas que se deslocam em espaços públicos e responsabilizar os agressores, com pena de reclusão de um a cinco anos. Para Tatiana Souza*, a origem desses dois crimes está na própria sociedade, a qual permanece com uma visão extremamente machista e opressora em relação à mulher, perpetuada pela impunidade decorrente de falhas judiciais, “quando a gente vê na mídia que a Justiça, muitas vezes, deixa passar casos de assédio, a gente percebe que isso abre uma brecha para homens se sentirem no direito de tratarem as mulheres como objetos e até mesmo como figuras sexuais”. Segundo a socióloga Jacqueline Pitanguy, a naturalização do assédio e outros atos de violência contra a mulher refletem uma aceitação desses comportamentos por parte da sociedade. Por isso, a existência de leis de combate à violência contra a mulher revelam não apenas um avanço do sistema judiciário e legislativo, mas também uma transformação da consciência social de um país. ‘’Mudanças culturais na relação de gêneros são fundamentais. Tanto para os homens perceberem o quanto são abusivos com certos comportamentos, atitudes e falas, quanto para as mulheres
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também perceberem que estão sendo abusadas no momento que são tratadas dessa forma.’’ Em Curitiba, a Guarda Municipal realizou 32 prisões pelo crime de importunação sexual desde o início do ano, segundo o departamento de comunicação da Assessoria de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres. Desse total, 11 casos ocorreram dentro do transporte público, com atendimento policial no próprio terminal de ônibus ou na estação-tubo mais próxima. Comparativamente a 2020, houve uma pequena diminuição no registro de casos de importunação sexual: no ano passado, foram feitas 38 prisões devido a esse crime, sendo 14 delas dentro do ônibus. No entanto, a própria assessoria ressalta que os dados apresentados são desproporcionais à realidade, devido à redução do uso do transporte público no início da pandemia de Covid-19. O Brasil progrediu bastante na contabilização de casos de assédio sexual, após a criação de canais institucionais e campanhas de conscien-
tização. Porém, é preciso cautela para interpretar as variações no número de denúncias. ‘’É importante diferenciar o aumento no número de registros do aumento efetivo de casos. Mais registros não significa, necessariamente, mais violência. Mas sim que essa violência está sendo vista e contabilizada. É claro que com nuances. De qualquer forma, ter registros é fundamental, porque demonstra que as vítimas reconhecem que elas sofreram um abuso e que há mais consciência por parte da sociedade’’, alerta a socióloga. A visão machista em relação à mulher é um dos aspectos principais da
Na cultura, a socióloga destaca que a recorrência de estereótipos machistas em alguns programas e séries de televisão também dificulta a superação da cultura do estupro. “A mídia, as novelas e os programas de televisão têm uma influência cultural enorme no país. Em que medida você pode desconstruir esses estereótipos do homem abusador e dominante, da mulher submissa ou objeto sexual? Ou seja, a mídia também tem uma responsabilidade muito grande nisso.” Nas ruas das cidades brasileiras, um dos comportamentos mais recorrentes que compõem a cultura do estupro
“Lamentavelmente, o patriarcalismo tem a força de um fenômeno universal. E é muito difícil de vencer.” - Maria Paula Pinto, presidente da CDH-USP chamada “cultura do estupro”, a qual transcende o conceito do crime de estupro e traz uma visão sistêmica da objetificação e da violência contra a mulher. O termo se refere a todos os comportamentos sociais que desmerecem, relativizam e silenciam atitudes de violência moral e sexual contra a mulher, sejam eles sutis ou explícitos. Para a socióloga Jaqueline Pitanguy, a cultura do estupro é um fenômeno universal. “Em países que têm uma cultura mais erotizada e que sexualiza mais a mulher, como o Brasil e outros países latinos, o machismo fica mais acentuado. Mas, lamentavelmente, o patriarcalismo tem a força de um fenômeno universal. E é muito difícil de vencer ele.”
é o discurso da “roupa provocante”, que culpabiliza as vítimas pela própria importunação que sofreram devido à roupa curta ou decotada que vestiam na ocasião. “Já passei por abusos por questões da roupa e vi meninas passarem também. Outra coisa é quando estava numa rodinha, ouvi esses comentários em relação até mesmo às expressões da menina. Sabe quando homens falam ‘a cara de quem tá pedindo’? Então… já ouvi muitos comentários desse tipo”, desabafa Júlia*. “Às vezes, alguns homens se aproveitam de meninas que estão mais frágeis por conta da bebida, ou quando acabam drogando alguma delas para que se torne mais frágil. Alguns homens têm a necessidade de conquistar, e fazem de tudo para conseguir o que desejam e saírem ilesos, como se não tivessem feito nada de grave.” Para a presidente da Comissão de Direitos Humanos da USP, Maria Paula Panúncio, o assédio fere profundamente a dignidade humana e não deve ser de forma alguma naturalizado pela sociedade, visto que este ameaça a segurança, a igualdade de oportunidades e afeta a saúde global. “Muitas vezes a mulher sente culpa pelo
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assédio e isso é algo bem importante de ressaltar: a culpa nunca é da mulher, não importa como ela se veste. A culpa é sempre do assediador. Ocorre que esse tipo de comportamento (investidas sexuais, comentários com teor sexual, pressão para obter favores sexuais para manter ou progredir no emprego) é aceito como natural, muitas vezes até desejável em homens. São os estereótipos de gênero que reforçam esses comportamentos como naturais.” O julgamento de culpa pela roupa que vestem acompanha as mulheres com frequência e em diversos locais, como acontece com Tatiana Souza*. “Volta e meia eu ouço cantadas ou vejo homens me olhando com más intenções no centro de Curitiba. E detalhe: eu sempre ando no centro com calça e roupas discretas.” Independentemente da roupa que vestia, ela já foi assedia-
da sexualmente até mesmo no Instituto de Neurologia de Curitiba (INC), em setembro de 2020. “Eu fiquei em choque e sem saber o que fazer. Eu tinha consciência que era assédio, mas cheguei a me questionar se o homem não estava apenas sendo simpático, até as falas dele começarem a passar do limite.” Tatiana* relata que estava sozinha com o agressor em uma das salas do hospital, com soro intravenoso, e que conseguiu se afastar do homem somente depois de cerca de dez minutos, quando uma das enfermeiras o retirou da sala após notar o ocorrido. Por isso, ela afirma que o tipo de roupa não é uma garantia ou uma prevenção para episódios de assédio e importunação sexual. “Eu fui assediada no hospital, numa situação vulnerável onde eu estava doente, de pijama, e impedida de sair. Mesmo assim,
Impasse entre ideia e ação Coletivos femininos encontram dificuldades práticas para acolher mulheres em casos de assédio e violência sexual nas universidades Os coletivos femininos são criados em instituições de ensino com o objetivo de ouvir, acolher, promover debates e coibir as diversas formas de assédio e violência moral, sexual, física e psicológica aos quais as mulheres estão expostas na sociedade. Eles servem como uma rede de apoio feminina, que têm como objetivos amparar vítimas de assédio e buscar soluções para responsabilizar os agressores. Ambos os grupos são essenciais para facilitar a comunicação e o debate de temas pertinentes, como os direitos das mulheres e medidas judiciais em casos de assédio. Apesar de os coletivos contarem com planos de ação preestabelecidos e estruturados, eles admitem que, na prática, o projeto apresenta falhas. O Grupo Lara de Lemos é formado por universitárias voluntárias que acolhem as vítimas e direcionam os casos de assédio para pessoas com mais conhe-
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cimento ou para possíveis trâmites jurídicos. O grupo admite inconsistências no atendimento por conta da sobrecarga das voluntárias, que sentem dificuldade em conciliar o projeto de apoio com a vida pessoal. “Resumidamente, fazemos o possível. Mas é uma sobrecarga muito grande.” Outro coletivo que acolhe as vítimas de assédio sexual na PUCPR é o núcleo feminino do NACAD (Núcleo Acadêmico de Comunicação, Artes e Design), que também realiza ações de debate e conscientização sobre o assédio sexual. Entre palestras e atendimentos de suporte, a presidente do coletivo também admite dificuldades em colocá-lo em prática. “Em teoria, nosso projeto tem tudo para ser uma forma de apoio e auxílio a essas meninas, mas infelizmente ainda não conseguimos colocá-lo em prática com excelência.”
Juliane Capparelli
O medo faz parte da vida das mulheres que temem serem assediadas diariamente. um homem de pelo menos 60 anos ficou analisando minha roupa falando que eu deveria tirar, porque estava quente. Errados são os homens por acharem que sua roupa é convite.” Apesar das penas previstas em lei, todas as entrevistadas vítimas de importunação ou assédio sexual sentiram-se desencorajadas a denunciar tais crimes. A maioria afirmou que se sentiu coagida por casos famosos nas quais os agressores saíram impunes, como ocorreu com a digital influencer Mariana Ferrer. A impunidade é, inclusive, o que motiva Júlia Carvalho* a alertar outras mulheres a não se calarem, desde que o façam com prudência e evitem revidar assédios em momentos nos quais estão sozinhas com o agressor, para se prevenir de agressões físicas. “Precisamos continuar batalhando pelas suas próprias vidas e procurar ajuda de alguma forma, no caso das mulheres que estão passando por assédio e importunação sexual em suas casas, trabalho, em qualquer lugar.” Para a socióloga Jaqueline Pitanguy, a redução dos casos de assédio e importunação sexual depende de duas medidas complementares: uma reforma no sistema de Justiça e a implementação da educação sexual nas
escolas. Para ela, é preciso investir em um novo modelo de formação para policiais, que os ensine a reconhecer casos de assédio e violência contra a mulher. Nas escolas, Jaqueline defende uma educação sexual que transcenda a descrição biológica do ser humano e paute o relacionamento entre meninos e meninas por princípios de integridade e respeito. “Desde os primeiros anos escolares, é preciso conformar identidades femininas e masculinas como complementares e não hierárquicas e fortalecer as meninas para identificar casos de violência em qualquer lugar que elas circulam. E também alertar os meninos sobre os comportamentos de domínio, imposição e importunação. Trazer esse debate para as escolas é fundamental.” *O nome das vítimas de assédio e importunação sexual foi alterado para preservar as identidades de cada uma.
Saiba mais Como proceder em casos de assédio sexual, onde denunciar e conheça redes que oferecem apoio. portalcomunicare.com.br
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Letícia Bonat
Do quartel para a escola A presença de militares em cargos de gestão escolar traz à tona a discussão sobre a viabilidade do modelo cívicomilitar para solucionar a precariedade do ensino público
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presença de monitores militares nas escolas estaduais do Paraná impactou a vida de diversos estudantes, como a estudante Pamela Salvador, de 17 anos, da Escola Estadual Marcelino Nogueira, na cidade de Telêmaco Borba, na região dos Campos Gerais, no Paraná. “Para mim, o sistema cívico-militar é apenas um gasto de recursos estaduais e uma forma de criar soldados não pensantes.” Após consulta pública, a escola implementou o modelo cívico-militar em 2021. Pamela relata que a promessa de mais segurança e disciplina na escola foi o principal motivo para a rápida aprovação dos pais e professores ao sistema, mas a qualidade de ensino não mudou. “Houve uma certa melhora na estrutura da escola, porém muitos alunos desistiram de estudar. A maioria dos estudantes são de favelas, e viram a presença de militares na escola como uma ameaça.” O Colégio Estadual Yvone Pimentel, em Curitiba, também passou por mudanças após adotar o sistema cívico-mili-
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tar. Fernanda Barbosa, que ingressou na escola no fim de 2021 e estudou até o começo do ano seguinte, afirma que o local era recém-reformado e, por isso, dispensava o investimento aplicado no colégio. “Nós acreditávamos que os colégios de bairros mais periféricos pudessem ser melhor beneficiados com a mudança para o cívico militar, poderiam fazer melhor uso do investimento para uma educação mais igualitária”, diz a estudante. De acordo com o Manual das Escolas Cívico-Militares, os colégios que adotam o sistema precisam realizar pesquisas frequentes de satisfação com a comunidade escolar. A publicação conta com mais de 324 páginas e tem como finalidade orientar os estados da federação sobre a implantação do modelo e o funcionamento das escolas que participam do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim). Um dos critérios essenciais para a implementação do modelo cívico-militar é a realização de consultas públicas com a comunidade escolar. No Paraná,
Juliane Capparelli Letícia Bonat Letícia Fortes Maria Eduarda Souza
Manter os objetos da sala sem riscos é uma obrigação dos alunos.
a votação foi anunciada em 26 de outubro de 2020 pelo governo estadual e pelo Ministério da Educação (MEC), em que 216 colégios estaduais em 117
“A maioria dos estudantes é de favela e viram a presença de militares na escola como uma ameaça.” Pamela Salvador, estudante. cidades participaram do processo. A decisão ocorreu de forma presencial, com a presença de professores, funcionários e responsáveis dos estudantes matriculados nas escolas. Segundo o balanço divulgado pela Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed), 200 escolas aprovaram o modelo cívico-militar, mediante duas consultas públicas. Assim, o Paraná possui o maior número de colégios que migraram para este sistema e também o maior projeto de implementação no país, com um investimento de R$ 80 milhões, segundo a Agência de Notícias do Paraná. Letícia Bonat
Alunos se adaptam ao sistema cívico-militar após meses com aulas remotas.
O Colégio Estadual Cívico-Militar 1° Centenário, em Campo Largo, faz parte da lista das escolas que aprovaram o sistema por meio da consulta pública. Denis Marcelo Gonçalves, de 18 anos, estuda há um ano na instituição e se sente mais seguro com os militares no interior do colégio. Para ele, as conversas com os militares são benéficas e trazem aprendizados e experiências que agregam em sua vida acadêmica e pessoal. Denis vê as regras disciplinares estabelecidas pelos militares de modo natural, e acredita que respeitá-las “se faz necessário para a formação dos estudantes”. Para Letícia de Lima Tomczek, o modelo cívico-militar também trouxe melhorias no ambiente escolar. Ela estudou por dois anos no Colégio Estadual Yvone Pimentel e acompanhou a mudança para o sistema cívico-militar. Letícia relata que o ensino tornou-se mais rígido, mas proporcionou
um maior aprendizado aos estudantes e melhorou a qualidade da educação. Até o momento, o depoimento dos estudantes é uma das principais formas de avaliar o desempenho das escolas cívico-militares, pois o sistema foi adotado há pouco tempo pela maioria das instituições estaduais. A pesquisa de satisfação do Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay, realizada na primeira quinzena de setembro, indicou que 89,7% da comunidade escolar está muito satisfeita com o sistema. O sistema cívico-militar é um dos quatro tipos de escolas que existem no Brasil, juntamente com os sistemas público, militar e particular. E se diferenciam em três aspectos essenciais: financiamento, gestão interna e proposta pedagógica. As escolas militares são instituições públicas baseadas nas especificidades e exigências da rotina militar. Elas possuem autonomia de gestão e de estrutura pedagógica e, portanto, podem contar com militares tanto como gestores quanto professores. Financiadas pelos Ministérios da Educação e da Defesa, as escolas militares atendem os estudantes do 6.º ano do Ensino Fundamental ao 3.º ano do Ensino Médio que obtiverem as notas mais altas em uma prova de seleção, permitindo o ingresso de jovens interessados em seguir a carreira militar. Para o ex-estudante do Colégio Militar de Curitiba Leonardo Pellegrini, a metodologia da escola é referência no estado, “existe um cuidado muito grande com os alunos, tanto em questão de estudo, quanto em questão de amparo social”. Apesar da sua experiência, ele não enxerga o modelo militar como uma solução para todos os problemas na educação: “Eu não acredito que isso seja a fórmula para humanos melhores, mas é algo bom, que serviu de base para bastante gente que tinha problemas”. O sistema cívico-militar, por sua vez, é caracterizado pela gestão compartilhada entre militares e civis e pelo financiamento das Secretarias Estaduais de Educação e de Segurança Pública. Nessas escolas, a supervisão
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comportamental dos estudantes e a gestão administrativa são responsabilidades dos monitores militares, enquanto os professores civis organizam o plano de ensino e os assuntos financeiros. Além da monitoria comportamental, os monitores também orientam os estudantes sobre os valores da escola cívico-militar e coordenam atividades extracurriculares como o Projeto Valores, aplicado durante as faltas de professores. De acordo com o diretor de Políticas para Escolas Cívico-Militares, Gilson Passos de Oliveira, o Projeto Valores reforça “o civismo, a dedicação, o respeito, a honestidade e a excelência como valores a serem trabalhados dentro e fora das salas de aula para caracterizar o aluno de hoje e o trabalhador do amanhã”. Para o doutor em Educação Marcos José Zablonsky, valores como respeito, honestidade e dedicação são benéficos para a formação de caráter dos jovens, mas ressalta que o valor ‘civismo’ é um eufemismo que, muitas vezes, esconde uma conduta preocupantemente próxima ao totalitarismo e ao patriotismo excessivo. “É preciso tomar muito cuidado com a maneira de ensinar o civismo, pois a História já nos diz que, toda vez que se trabalha valores de hierarquia, repressão e co-
erção, preparam-se pessoas que vão explodir ou reagir com a pressão em algum momento, além de construir uma geração mentalmente inflexível, com pouca pretensão e interesse ao diálogo, à arte e à criatividade.” A estudante Pamela Salvador reflete sobre a eficácia da disciplina e do controle como formas de educar, questionando o sistema. Ela relaciona as ideias de Paulo Freire com a sua realidade, afirmando que “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor. Querem nos ensinar a agir de uma certa forma não por ser o certo, mas sim por ser mais fácil de controlar”. Para aderir ao Pecim, as escolas estaduais precisam cumprir alguns critérios estabelecidos pelo governo federal. Elas devem apresentar um desempenho abaixo da média estadual no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), atender estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica e ofertar matrículas nas séries do Ensino Fundamental II e/ou Médio, com preferencialmente 500 a 1000 estudantes regulares no turno matutino e/ou vespertino.
A execução do hino nacional está prevista na Lei 5.700 de 1971.
Para Zablonsky, as consultas públicas e as pesquisas de satisfação sobre o sistema cívico-militar trazem resul-
Regras e mais regras Os colégios cívico-militares seguem um manual para a imposição de regras Sobre as regras impostas nos colégios cívico-militares, a estudante Letícia de Lima Tomczek se queixa sobre as pproibições de tatuagens e piercings na Escola Estadual Yvone Pimentel, questinando qual seria a interferência desses acessórios no aprendizado escolar. Essa regra está prevista no Manual do Estudante do Colégio Cívico-Militar do Paraná, que não recomenda a aplicação de tatuagens em partes do corpo que fiquem expostas com o uso do uniforme. O uso de adornos como brincos, pulseiras, tornozeleiras, piercings e alargadores também é proibido, e apenas colares, anéis, ou alianças discretos são permitidos. Além dessas medidas, o manual também prescreve normas para a apresentação dos cabelos
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no ambiente escolar, em que os curtos podem ser usados soltos, mas médios e longos, somente presos. A coloração artificial dos fios deve ter como base as cores naturais do cabelo humano, como loiro, ruivo, castanho e preto. Enquanto os estudantes estiverem uniformizados, namorar é proibido tanto no interior do colégio quanto fora dos portões. A estudante Pamela Salvador, do Colégio Marcelino Nogueira, reclama que as normas são muito rígidas. Ela estuda na mesma escola há quatro anos e diz que elas são extremas ao não permitir unhas grandes, maquiagem, jóias, cabelo solto e usar sempre o uniforme completo, sem nenhuma alteração na costura.
Letícia Bonat
tados imprecisos, pois a opinião dos estudantes é desconsiderada nesses processos. “Parte dos pais desses jovens realmente apoia esse tipo de escola, por possuírem memórias e vivências do período da ditadura militar e de um modelo de educação muito mais rígido do que o atual.” Para a estudante Fernanda Barbosa, a implementação do sistema cívico-militar no Colégio Estadual Yvone Pimentel foi aprovada por pais e responsáveis, que “não foram devidamente informados sobre os prós e contras da mudança para o sistema cívico-militar”. Segundo o diretor do colégio estadual Beatriz Faria Ansay Sandro Faria, o princípio das escolas cívico-militares é alcançar a excelência. “Procuramos trabalhar o processo de ensino e aprendizagem para proporcionar ao aluno um ensino de qualidade, pautado em valores como ética, civismo, honestidade e solidariedade, onde as particularidades de cada indivíduo são levadas em consideração a fim de formar cidadãos que possam contribuir com a sociedade.”
“Os jovens de hoje são questionadores, não querem ouvir um simples ‘não’.” Marcos José Zablonsky, doutor em Educação As escolas cívico-militares ainda estão em fase de implementação e, por isso, a própria Secretaria Estadual de Educação ressalta que até o momento não existem dados oficiais que comprovem a qualidade de ensino desse modelo e a redução nos índices de violência após sua implementação, pois a maioria das escolas retomou o ensino presencial há cerca de apenas dois meses, em virtude da pandemia. O diretor Faria afirma que houve uma melhora significativa nos índices de violência do colégio em 2020, após a implementação do sistema cívico-militar. Ele conta que a escola era frequentemente depredada e invadida,
mas que nenhum ocorrido foi registrado há um ano e três meses. “Os professores e funcionários relatam que eram constantemente constrangidos e ameaçados pelos alunos e que nenhuma atitude era tomada. Desde o início do modelo, temos registro de apenas um caso de mau comportamento, devidamente solucionado.” Segundo um levantamento do MEC, 85% dos gestores das escolas cívico-militares relataram redução nas faltas e na evasão e 65% apontaram diminuição da violência escolar. Porém, a doutora em Educação Silvana Aparecida de Souza, afirma que apesar da pesquisa mostrar a redução dos índices nas escolas militarizadas, é preciso avaliar dados mais completos, já que a taxa de violência em geral diminuiu por conta das medidas restritivas da pandemia. “Não adianta manter índices só dentro da escola, se do portão para fora a pobreza e a desigualdade social continuam iguais.” Para Zablonsky, a educação baseada na hierarquia e no respeito à autoridade dos militares pode impactar negativamente o futuro da educação brasileira, pois não condiz com o modo de agir da geração atual. “Os jovens de hoje são questionadores, eles não querem ouvir um simples ‘não’. Eles exigem dos adultos um ‘não’ seguido de um ‘porquê’, e não pode ser um ‘porquê’ qualquer: tem que ser justificável e coerente com a restrição ou com a permissão aplicada. Hoje, respeito não está diretamente ligado à autoridade dos adultos, como era no passado; está muito ligado à afetividade, à transparência da conversa.”
CONJUNTURA NO PARANÁ No Paraná, a adoção das escolas estaduais ao Pecim foi ainda mais ágil do que no restante do país. Através da Lei 20.505/2021, o governador Carlos Massa Ratinho Júnior permitiu que as escolas estaduais paranaenses cumpram apenas um ou mais critérios estabelecidos pelo governo federal, isentando-as de cumprir com todos os critérios para participar do programa de colégios cívico-militares, como estabelecido anteriormente. Além disso, a nova lei retirou a exigência de
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que apenas municípios com mais de 10 mil habitantes poderiam participar do programa, permitindo que qualquer cidade com pelo menos dois colégios estaduais com ensino fundamental e médio regular, localizados no espaço urbano, possam aderir ao Pecim. Na visão do professor Marcos José Zablonsky, o sistema cívico-militar no Paraná foi colocado em perspectiva como solução para os problemas de violência e evasão nas escolas estaduais a partir de um alinhamento ideológico entre os governos federal e estadual. “A maioria dos pais basicamente decidiram a favor ou contra esse modelo, porque não se discutiu o principal: a melhoria das escolas públicas estaduais não depende de militares da reserva, com pouco ou quase nada de formação pedagógica.”
Além de integrar o plano de governo estadual e federal para a educação, o sistema cívico-militar é uma proposta que apresentou-se em um momento de dificuldades financeiras para a manutenção dos colégios estaduais. Desde 2016, a aprovação da Emenda Constitucional 95 ou ‘PEC da Morte’ limitou os gastos públicos na educação e demais áreas sociais por 20 anos, a fim de utilizar o dinheiro economizado para quitar a dívida pública. Assim, o financiamento federal de cerca de 1 milhão para a implementação de cada escola cívico-militar tornou-se a única possibilidade viável para muitas secretarias estaduais manterem o financiamento das escolas estaduais em 2020, durante a pandemia da Covid-19.
O Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay fica no bairro Tatuquara.
Abuso de poder Alunos enfrentaram problemas com atitudes agressivas de monitores Em 2021, a Secretaria Estadual de Educação do Paraná registrou dois casos de violência por parte de monitores contra estudantes de colégios cívico-militares. Um monitor do Colégio Cívico-Militar de Imbituva, na região Centro-Sul do estado, interrompeu uma aula e retirou um adolescente de sala por ter desenhado uma folha de maconha e escrito “vida loca” em uma carteira escolar. Segundo depoimentos de testemunhas, o militar ameaçou o estudante de morte, dizendo que “já tinha matado vários e que ele não iria fazer diferença” e aplicando um soco na nuca do adolescente. O diretor do colégio, por sua vez, foi acusado de corrupção passiva e prevaricação, devido à tentativa de evitar a punição de seu subordinado, mesmo ciente do acontecimento. O monitor e o diretor responsáveis foram denunciados pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) pelos crimes de ameaça, vias de fato, violência arbitrária, constrangimento de adolescentes, corrupção passiva e prevaricação. O estudante ameaçado frequenta outra instituição após o ocorrido, segundo a Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed). O monitor e o diretor foram afastados de suas funções. Atualmente, o Colégio Cívico-Militar de Imbituva está sem a presença de militares.
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Outro episódio recente envolvendo abuso de poder nas escolas cívico-militares do Paraná ocorreu em um colégio de Francisco Beltrão, no Sudoeste do estado. Um grupo de estudantes denunciou um dos monitores da instituição por assédio sexual. As vítimas se sentiram constrangidas durante as revistas corporais e incomodadas com a insistência do monitor ao oferecer caronas e enviar mensagens pelo Whatsapp. O policial foi preso preventivamente em agosto e tornou-se réu em um Inquérito Policial Militar da Justiça Militar. Sobre os casos citados, a Seed-PR informou que todas as medidas necessárias foram tomadas, afastando os militares e encaminhando os casos para a Secretaria de Segurança Pública, responsável por esses profissionais. A estudante Eduarda Christina Lining Leite já presenciou momentos de rigidez excessiva dos monitores do Colégio Estadual Cívico-Militar Yvone Pimentel. Ela relata que alguns militares agiram de forma “muito grosseira” e inflexível nos dois primeiros dias de aula, em situações que não exigiam tal atitude. Eduarda não detalhou o ocorrido, mas afirmou que presenciou casos de abuso de poder. “Alguns monitores me trataram com muita grosseria em um momento delicado e desnecessário”.
Letícia Bonat
Com a ditadura em 1964, hastear a bandeira tornou-se obrigatório.
FALHA NA EXECUÇÃO Em 2021, o planejamento do governo do Paraná para a implementação do Pecim não atingiu os resultados esperados. O governo estadual previa iniciar o ano letivo com 197 colégios funcionando no sistema cívico-militar; porém, apenas 53 escolas estavam de acordo com o modelo em setembro. A baixa procura de militares interessados em atuar dentro das instituições é o principal motivo pelo qual mais da metade dos colégios ainda não aderiram ao sistema cívico-militar. A Secretaria Estadual de Segurança Pública abriu 806 vagas para aqueles que desejassem trabalhar nas escolas, 979 militares se inscreveram, e somente 542 candidatos foram aprovados, dificultando e atrasando a execução do programa cívico-militar nas escolas do Paraná.
PROPOSTA PEDAGÓGICA A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação do Paraná afirma que “a proposta pedagógica dos Colégios Cívico-Militares segue como responsabilidade de profissionais da Educação, assim como nas demais escolas da Rede Estadual. Não há diferença no modelo de ensino dentro da sala de aula, a não ser a maior carga horária, de seis horas-aula por dia, com mais aulas de Língua Portuguesa e Matemática, além de uma aula semanal de Cidadania e Civismo”. Aumentar o tempo de permanência na escola é essencial para ajudar jovens que já vivem em regiões violentas, pois a rotina de estudos lhes traz uma perspectiva de futuro mais atraente do que as facilidades de inclusão e rápida remuneração oferecidas pelo tráfico. Embora a proposta pedagógica das escolas cívico-militares seja benéfica, a supervisão comportamental se baseia na hierarquia e no respeito à autoridade dos militares com punições em casos de mau comportamento. Para a doutora em Educação Silvana Aparecida de Souza, uma formação comportamental mais rígida também pode impactar o desenvolvimento comunicativo e argumentativo dos jovens no futuro, pois a questão hierárquica
dos militares prioriza o respeito à autoridade em detrimento do questionamento e da livre exposição de ideias. “O regime militar remete à obediência e ao silêncio, baseados no medo e não no respeito. Isso não é educação, e sim, obediência cega à hierarquia. Corremos o risco de estar produzindo uma geração subserviente.”
MANOBRA JURÍDICA Do ponto de vista jurídico, o sistema cívico-militar de ensino é questionável, pois a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996) estabelece a legalidade apenas da educação civil. Apesar disso, o Plano Nacional das Escolas Cívico-Militares foi a principal aposta do governo de Jair Bolsonaro para a educação, com o objetivo de implementar 216 escolas cívico-militares no Brasil até 2023. Com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) protocolaram uma ação conjunta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a justificativa de que o projeto de lei 20.338/20 força as crianças e adolescentes a uma militarização precoce nas escolas cívico-militares. A secretária geral da APP (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná) Vanda do Pilar Santana também expressa preocupação com o modelo de educação militar pautado na hierarquia de poder e na punição. “A formação de jovens sem a mínima criticidade e voltada para a militarização como método de submissão ao poder político, ideológico e econômico é um dos principais impactos da implantação do sistema.”
Saiba mais Confira a entrevista do professor Marcos José Zablonsky na íntegra.
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De volta ao presencial Retomada das aulas presenciais impõe dificuldades ainda maiores aos professores da rede pública do Paraná Paula Braga Goveia
A
pós um longo período de adaptação ao modelo de ensino remoto, desde o início das medidas de restrição, os educadores da rede pública enfrentam um novo obstáculo em 2021. Isso devido à retomada da presencialidade nas escolas mesmo com a pandemia ainda pouco controlada no estado do Paraná. O professor Roberto Facioni, do Colégio Estadual Romário Martins, relata que apesar do planejamento da Secretaria da Educação e de todas as orientações sanitárias dadas pelos agentes da saúde, a ansiedade predominou nos primeiros dias. Ele diz que sentiu ansiedade, e houve uma preocupação, tanto por parte dos alunos, quanto dos professores. “Não sabíamos como atender esses estudantes com distanciamento e higienização, nem como seriam as salas de aulas durante uma crise como a pandemia.” Facioni também explica sobre como os professores tiveram que desempenhar a qualidade humana, de ouvir e entender tantas histórias negativas trazidas pelo coronavírus.
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Os professores são vistos como heróis por muitos pais e responsáveis dos alunos, e carregam uma responsabilidade que vai além do ofício de lecionar. “Temos alguns casos de alunos que perderam pessoas muito próximas durante a pandemia, e havia essa sensibilidade da nossa parte, de saber como lidar com a baixa autoestima dos alunos, a adaptação ao meio social novamente, e de mediar situações até psicológicas dos alunos em sala.” O professor ainda conta que ficou bastante feliz com todo o trabalho humanístico realizado por ele e os demais colegas de profissão. Atualmente, 100% das escolas estaduais e 70% das municipais estão funcionando com aulas presenciais e aceitação máxima dos alunos. Segundo o diretor de Educação da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, Roni Miranda, essa retomada começou de forma gradual em algumas regionais, na tentativa de facilitar o ajuste dos docentes e reduzir os
Alunos da rede pública retornam ao ensino exclusivamente presencial.
prejuízos na aprendizagem dos estudantes. Porém, ele afirma que existiu uma certa resistência dos professores. “Na média, 50% queria voltar ao presencial, pensando nos próprios alunos que não participavam das aulas estando em casa, mas outros ainda não se sentiam seguros, e acreditavam que o modelo a distância estava funcionando bem.” Para Miranda, um dos maiores
“Houve uma preocupação, tanto por parte dos alunos, quanto dos professores.” - Roberto Facioni, professor desafios dos professores foi operacionalizar e garantir a aprendizagem dos estudantes no formato híbrido, com uma parte em sala e outra em casa. “O complicado, para eles, foi atender dois públicos distintos, mas nós, da Secretaria, oferecemos todo o suporte para melhorar a qualidade do ensino. Além disso, nós todos estamos atuando em várias frentes para promover o acolhimento dos mais de mil colaboradores da educação e contribuir para o seu desenvolvimento.” Mesmo com o trabalho remoto dos docentes, por meio de videoaulas, materiais e as salas virtuais do Classroom, a realidade do estado é de um grande
déficit na aprendizagem. Durante esse período, os alunos foram prejudicados e perderam conteúdos correspondentes às suas séries ou fases cognitivas, gerando um atraso educacional. O trabalho de aplicação do nivelamento e aperfeiçoamento de conteúdo, desde o ano passado, mostrou essa preocupação. Em uma avaliação dada pela Secretaria da Educação do Paraná, comprovou-se que 38% dos estudantes da rede pública não atingiram nem 40% de aprendizagem em Matemática, e 50% não atingiram a média esperada em Língua Portuguesa. Isso revela um retrocesso na formação dos estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública do estado, em que toda uma geração foi impactada. Segundo o diretor da Educação do Paraná da SEED, esse prejuízo será recuperado em no mínimo cinco anos, e a Secretaria vai continuar fortalecendo seus projetos, e contribuindo para que a sequela deixada na educação seja minimizada. Wagner Argenton, diretor do Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac), diz que as dificuldades já eram muitas dentro da rede pública de ensino do estado, e com a volta às aulas no modelo presencial, elas aumentaram. “Pioram na medida em que os alunos ficaram um bom tempo apenas tendo atividades complementares, e o maior desafio agora é retomar tudo isso.” Argenton expõe que os docentes são prejudicados, já que os agentes não fazem algo conjuntamente com os professores, e que para eles, os professores são operários, que simplesmente empregam uma linha política pedagógica. “As propostas chegam para nós com muita burocracia, e isso não contribui efetivamente com o que está sendo feito com os alunos na prática, dentro da sala de aula.”
Confira Veja a útima resolução sobre as medidas de prevenção e monitoramento nas instituições de ensino do Paraná. Aponte a câmera para o QR Code ao lado: Jonathan Campos
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Tetos sob ameaça Moradores da ocupação Jardim Veneza sofrem com ameaça de despejo a partir do dia 31 de dezembro Augusto Vellozo, Guilherme Araki, Tiago Carrar e Vinicius Bittencourt
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o bairro Tatuquara, na região sul de Curitiba, 341 famílias da comunidade Jardim Veneza, área de ocupação irregular, sofrem risco de despejo, por meio de reintegração de posse que está prevista para acontecer a partir do dia 31 de dezembro. Os moradores ocupam a área desde o dia 12 de dezembro de 2020, e passam por dúvidas e incertezas quanto ao futuro. “Tenho duas crianças e estou desempregada, inclusive eu vim para cá, porque fui mandada embora do meu trabalho com a pandemia. O aluguel foi batendo na porta e o dono vinha atrás para cobrar . Resumindo, eu saí da minha casa com ordem de despejo. Aqui foi uma forma que eu achei de não levar os meus filhos para a rua”, relata Hilhales Adryangelle, moradora da comunidade.
do validada novamente no dia 21 de setembro de 2021, pelo desembargador Fernando Paulino da Silva Wolff Filho. Porém, no dia 8 de outubro, foi promulgada a Lei nº 14.216/2021, que suspende medidas judiciais e administrativas que resultem em desocupação ou remoção forçada coletiva até o fim de 2021, devido à pandemia de coronavírus. Com base nessa legislação, a defesa da ocupação Jardim Veneza, requereu a suspensão da decisão que ordenou a reintegração de posse. O pedido foi acatado pelo desembargador e a decisão encontra-se suspensa até 31 de dezembro de 2021. “A partir dessa data (31 de dezembro), o plano de remoção poderá começar a ser realizado e, após isso, a desocupação. A principal preocupação em torno da decisão está no fato de ela condicionar a reintegração de posse à realocação das pessoas em instituições. Sabe-se que não há instituições adequadas para todas as famílias, que acabam sendo colocadas em locais improvisados, como ginásios, por um tempo e, depois, retornam à situação de desabrigo”, afirma Bárbara, do setor jurídico do MTST/PR (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).
“Eu passei muita necessidade, de não poder comer para deixar para meus filhos.” Hilhales Adryangelle, moradora da comunidade
“Eu passei muita necessidade, de não poder comer para deixar para meus filhos, para sobrar para a janta deles. Aqui a gente achou uma forma de sobreviver, não passamos fome graças à cozinha comunitária, podemos almoçar todos os dias. Dependemos daqui, não só pela moradia, mas pela comida, também”, completa a moradora.
O plano de remoção demanda, entre outras medidas, que o grupo atingido seja ouvido e atendido, a indicação de locais de acolhimento institucional, que seja a atenção à população que exige atendimento especializado e a orientação das pessoas que têm direito a aluguel social. Guilherme Araki
Entre as ruas de terra, com subidas e descidas, estão barracos de madeira e lona, alguns até sem banheiro, como é o caso da moradia de Hilhales. Apesar da falta de estrutura e dificuldades, os moradores mostram união e apego ao local onde se instalaram e vivem suas vidas. A ordem de reintegração de posse já existia mas estava suspensa, sen-
Entrada da comunidade localizada no bairro Tatuaquara.
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Sylvia Ramos Leitão, professora de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e doutora em Planejamento Urbano e Regional, comenta que, por meio da Fundação de Assistência Social (FAS), muitas pessoas das áreas de ocupação em Curitiba recebem auxílio e acompanhamento, mas lidar com o número elevado de famílias em um curto espaço de tempo pode dificultar um acolhimento completo. “Então, eles (FAS e Cohab) vão fazer abrigos sociais, que são formas de não deixar as pessoas na rua. Mas isso se dá só até um certo tempo, não é uma coisa efetiva”, coloca ela. A professora ainda aponta que a pandemia foi responsável por potencializar este problema, a partir da dificuldade das pessoas em encontrar trabalho e ter uma renda fixa, fazendo com que o número de famílias nesta situação seja exponencial. “No frigir dos ovos, são 350 famílias que estão precisando de solução. Só que não é apenas agora na pandemia, mas, sim, uma solução histórica, para um problema que existe em Curitiba desde os anos 70.” “Nós queremos que eles apresentem
“No frigir dos ovos são 350 famílias que estão precisando de solução.” Sylvia Ramos Leitão, professora uma alternativa de moradia digna, mas pelo que foi apresentado para nós, querem nos colocar em algo como uma instituição. E depois as famílias vão voltar para um não destino, ou seja, para o olho da rua”, afirma Fernanda Cordeiro, moradora da ocupação e liderança comunitária. “Todos nós que estamos aqui correndo esse perigo e estamos com o coração na mão. Tem noites que a gente perde o sono pensando se vão nos tirar daqui mesmo”, relata Lindair Couto, moradora da ocupação que se encontra desempregada, aos 59 anos. “A gente não consegue comprar uma casa. Eu fui atrás duas vezes depois de ter vindo para cá, porque sempre estamos correndo esse perigo (de despejo).
Casa de madeira e lona que, segundo moradora, sofre em dias de chuva.
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Guilherme Araki
Quando eu falei o meu salário na época, R$ 1.030, o rapaz perguntou se eu tinha algum dinheiro guardado e eu não tinha. Ele falou que sentia muito, mas que eu não conseguiria entrar no Plano da Casa Amarela (programa com o objetivo de viabilizar a produção de empreendimentos habitacionais, em áreas públicas ou privadas) com o meu salário”, completou.
Ocupações irregulares em Curitiba
A reportagem da CDM tentou contato com a Companhia de Habitação popular de Curitiba (Cohab), mas não obteve resposta. Guilherme Araki
Varais improvisados em uma pequena casa da comunidade. Veja também Acompanhe a situação da ocupação Jardim Veneza
De acordo com informação da Cohab em abril de 2021, a capital do Paraná tem cerca de 40 mil famílias instaladas em 453 ocupações espalhadas pela cidade de Curitiba. Tratam-se de moradias onde as famílias não têm título dos lotes e não existe planta aprovada de loteamento. Novas ocupações e despejos são recorrentes na cidade, principalmente nos primeiros e últimos meses de cada ano. No dia 7 de dezembro de 2020, moradores da área conhecida como “Nova Caiuá”, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), situada em terreno de propriedade da Prefeitura, sofreram despejo de suas casas. Cerca de 300 famílias foram comunicadas que teriam 30 minutos para deixar o local e, já do lado de fora, foram dispersados pela Guarda Municipal com balas de borracha, bomba de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Eles não puderam retornar para recolher seus pertences. Também no CIC, dez dias depois, no dia 17 de dezembro de 2020, foram despejadas outras 300 famílias, aproximadamente, em nova ação de reintegração de posse, na Ocupação Nova Guaporé. A ocupação estava instalada no local desde outubro. Após o despejo, as famílias foram para outro terreno, no bairro Campo Comprido, nomeado como Nova Guaporé 2. No dia 6 de fevereiro de 2021, no Tatuquara, bairro em que também se localiza a Vila Jardim Veneza, cerca de 200 pessoas ocuparam um terreno em frente à BR 476. As famílias passaram a madrugada no local, porém foram retiradas já na manhã seguinte.
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Casas instaladas agrupadamente na ocupação Jardim Veneza. sociedade | revistacdm 33
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“Como se fosse uma sobremesa” A pandemia acabou por causar um efeito reverso: o porcentual de adultos fumantes que havia decrescido no Brasil, aumentou Eduardo Veiga Giovana Bordini Mariana Alves Mariana Toneti
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ara desestressar no período pré-vestibular durante a pandemia, a estudante Maria Eduarda Marcelino, de 17 anos, começou a tragar um mini vaporizador aromatizado, popularmente conhecido como pod. Uma válvula de escape às pressões internas e externas. Além de ter a influência dos amigos, que diziam que fumar acalmava, Maria convive com sua mãe, também fumante. Ela sempre viu o hábito como algo “natural”. Sua rotina consiste em fumar sempre após uma refeição quase como um complemento à comida. Em suas palavras, “como se fosse uma sobremesa”, que se repete de seis a 17 vezes ao dia, dependendo de sua vontade.
Maria Eduarda faz parte dos 34% dos fumantes brasileiros que aumentaram o consumo de tabaco durante a pandemia, conforme apontou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A pesquisa também indica que os fumantes entrevistados alegavam ter um deterioramento emocional em decorrência do isolamento. Por isso, acabavam aumentando a quantidade diária de vezes em que fumam. A preocupação dos órgãos de saúde
to dental devido a muitas manchas. Manchas que sabemos que são devido ao cigarro.” Fator bastante preocupante, pois o tabagismo aumenta o risco de câncer bucal e também pode levar a perda dos dentes. “Em relação a uma pessoa que não fuma e uma que fuma, o risco aumenta até oito vezes”, afirma Carolina.
Com a intensificação do isolamento social no país, os profissionais que trabalham com saúde mental já previam que o consumo de cigarro, bebidas alcóolicas e outras drogas aumentaria, principalmente somado aos quadros de ansiedade. Para a psicóloga clínica Jéssica Ribas, que atua em casos de dependência química, quem faz uso de tabaco, álcool e outras substâncias também pode apresentar algum quadro de ansiedade, principalmente se o consumo for feito em conjunto. “Essas substâncias são como um prazer Jéssica Ribas, psicóloga momentâneo, agindo até mesmo como uma outra forma de lidar com alguma questão que está difícil é dada em resposta ao agravamenpara a pessoa.” to de comorbidades no organismo de cada pessoa consumidora de tabaco, A sensação gerada no corpo após o assim aumentando a vulnerabilidade a uso de nicotina - enzima presente no infecções bacterianas. cigarro - ativa no cérebro alguns mecanismos que imitam soluções produA relação entre uma maior propenzidas pelo organismo, como a dopasão à contaminação de Covid-19 por mina, que causa prazer. Já a nicotina tabagistas foi fundamentada por traz um contentamento artificial que, meio de uma análise inicial sobre as a curto prazo, funciona como uma mortes causadas pelo vírus na China. anestesia. Esse é um dos agravantes Outro fator relevante nesse estudo na compulsão pelo cigarro. foi a comparação entre a quantidade de homens fumantes, que supera a quantidade de mulheres. O Brasil O CIGARRO NA PANDEMIA conta com um porcentual de 9,5% de No ano passado, a indústria tabagista adultos fumantes, sendo 7,6% entre brasileira gerou mais prejuízos do que mulheres e 11,7% entre os homens, ganhos, conforme pesquisa do Inse que, como a China, também tem tituto Nacional do Câncer (INCA), da uma prevalência de fumantes do Fiocruz, e do Instituto de Efectividad sexo masculino. Clínica y Sanitaria. O país gastou com doenças, mortes e baixa produtividade A dentista Carolina Lopes percebeu em decorrência do cigarro por volta de que entre seus pacientes houve um R$ 57 bilhões. Nos últimos anos, o país aumento no número de pacientes que se declaram fumantes. “A maioria dos vem sofrendo uma queda no número de fumantes, mas, mesmo assim, o pacientes jovens chega ao consultório Brasil ainda conta com 12,6% em busca de limpeza e clareamen-
“São como um prazer momentâneo, agindo até mesmo como uma outra forma de lidar com alguma questão que está muito difícil.”
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Quanto aos jovens, dados do INCA apontam que a idade média para a descoberta do tabaco entre os escolares brasileiros é de 16 anos de idade, tanto para meninos quanto para meninas. Em uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde, em 2015, no mundo, 17% dos jovens entre 15 e 24 anos fumam. Caso bastante parecido com o do gerente financeiro Murylo Stringari, que desde pequeno conviveu com pais fumantes e o irmão mais velho, que também começou a fumar, apesar de sempre deixaram claro para ele que fumar era errado. “ Não considero que tive algum tipo de influência deles dentro de casa. Inclusive, quando descobriram que eu fumava, ficaram muito decepcionados.” Com a pandemia, Murylo também aumentou o consumo da nicotina principalmente por ficar mais em casa, pois isso o deixava mais ansioso, então acabava “descontando’’ no cigarro. “O cigarro,
querendo ou não, acaba se tornando um companheiro teu. Por exemplo, você vai fazer alguma coisa e acaba pensando em fumar um cigarro, e quando termina tal coisa, de novo, pensa em fumar.” A média diária de consumo do cigarro por muitos brasileiros fumantes aumentou, Stringari por exemplo, fuma aproximadamente 30 por dia, quantidade que é considerada alta para os padrões de fumantes normais, o enquadrando como fumante compulsivo. Para ele, a luta para parar é complicada. “Já tentei parar algumas vezes, mas o corpo demora para se acostumar, então tem que ter muita força de vontade. Espero, sim, um dia, em breve, conseguir parar de fumar, porque realmente sei que faz mal à saúde, e sei que isso só me prejudica.”
FATORES SOCIAIS Nenhuma substância consumida pelos seres humanos é plenamente entendida como puramente biológica, química, orgânica, neurológica e
Há dois tipos de cigarro eletrônico: os vapers, onde o usário inala apenas um vapor; e os pods, uma versão mais barata e compacta do primeiro.
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de mortes diárias em decorrência do tabagismo.
natural. Para as ciências sociais, todas as substâncias consumidas pelos seres humanos também possuem fatores culturais e históricos, relações de poder que acabam por determinar a maneira como essas substâncias são produzidas, distribuídas e consumidas. Para o sociólogo Leonardo Company, professor da PUCPR, o tabaco em formato de cigarro tem fatores sociais e culturais que determinam que não o tornam diferente de qualquer outra substância. “O cigarro é feito a partir da folha de uma planta natural da América do Sul, que os europeus conheceram a partir do momento em que começa o processo de colonização da América. Os índios não usavam a folha do tabaco somente para fumar, a planta também era utilizada para rituais de cura até mesmo para processos de facilitação do nascimento e assim por diante.”
cias sobre os malefícios decorrentes do seu uso. As pesquisas sobre o cigarro na década de 1990, que o associavam a um fator negativo para saúde, trouxeram a restrição de propagandas e do consumo de cigarros em locais fechados. No Brasil essa limitação veio por intermédio da Lei n° 12.546/2014, popularmente conhecida como Lei Antifumo, que proíbe fumar em ambientes fechados públicos e privados, que veio em contrapartida a Lei nº 9.294/1996, que permitia a
“Querendo ou não, acaba se tornando um companheiro teu. Você vai fazer alguma coisa e acaba pensando em fumar um cigarro.”
A partir do século Murylo Stringari, gerente financeiro 19, o tabaco passou a ser a matéria-prima de um produto industrializado, que para crescer economicamente foi usado de forma intensa existência de áreas reservadas para na indústria cultural para que fosse fumantes em recintos coletivos, os comprado, o cigarro. A aderência chamados “fumódromos”. quase massiva do tabaco ocorreu, principalmente, por meio da influência Apesar da restrição de propagandas e das mídias cinematográficas, e que dos locais para fumar, o fácil acesso e mais para frente também acabou por preços baixos continuam sendo fatores influenciar o aparecimento de profacilitadores para o consumo de tabapagandas das marcas de cigarro em co, principalmente entre os jovens, uma vez que, de acordo com o INCA, o cigarro diversos setores do entretenimento. traz alusão à aceitação e popularidade, “O cigarro começou a ser associado a proporcionando uma futura dependência uma imagem de glamour, prestígio, de nicotina. trazendo uma imagem de elegância tanto para homens quanto para mulheres. É claro como não havia nenhuma lei proibindo ou controlando o conVeja também sumo de cigarro, já que esse produto foi sendo amplamente comercializado O debate sobre a e consumido mundo afora”, comenta legalização dos Company. Porém, com a Constituição cigarros eletrônicos da República Federativa do Brasil, de tem ganhado fôlego 5 de outubro de 1988, veio a deterno Brasil. Confira mais minação de que qualquer publicidade acessando o link. de tabaco estaria sujeita a restrições portalcomunicare.com.br legais e que deveria conter advertên-
A legalização dos cigarros eletrônicos Os cigarros eletrônicos, conhecidos popularmente como vapes, são dispositivos utilizados para a produção de vapor. Basicamente, o que acontece no interior do equipamento é a queima e a vaporização de um líquido aromatizado, chamado de juice. Em relação à essência, são diversos os modelos: doces, cítricos, gelados, mentolados, com nicotina ou sem nicotina. A segunda opção é um chamariz para as pessoas que desejam largar o vício pelo cigarro tradicional. No mercado, existe também uma outra opção, os pods. Um pouco menor que o vape, esse tipo de dispositivo é a opção mais fiel ao cigarro tradicional, uma vez que o objetivo não é a produção massiva de fumaça. Além disso, é comum que os pods tenham alto teor de nicotina nas essências. Com o crescimento do mercado dos dispositivos eletrônicos para fumar, atualmente já existe uma opção de pods descartáveis. De acordo com a BAT Brasil, é estimado que, atualmente, mais de 2 milhões de pessoas utilizam os dispositivos no
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Gestação
do coração Famílias contam como é a espera por um filho adotivo durante a pandemia da Covid-19 Allanis Menuci, Isadora Martelli, Milena Chezanoski e Maria Eduarda Cassins.
À
s vezes as coisas não vêm quando desejamos, mas sim quando precisamos. Após duas tentativas não bem-sucedidas de gravidez e seis anos na fila de espera, Maria Luíza Bastos, assistente administrativa, e Edivaldo Oliveira Bastos Júnior, analista financeiro, conseguiram completar a sua família por meio da adoção. O caminho para a chegada da criança não foi um momento fácil. O processo parecia ser infinito e carregado de inseguranças. Porém, toda a demora foi ressignificada quando o sonho do casal de tornou realidade. Eles não tiveram dúvida de que encontram seu filho do coração O primeiro passo da família foi procurar a Vara da Infância e da Juventude para informá-los do desejo de entrar para a longa fila de adoção. Após um curso preparatório de quatro semanas, eles tiveram a autorização da para dar início ao processo. Edivaldo e Maria Luíza passaram por um questionário sobre as características físicas da criança, mas para eles a cor da pele ou o sexo não importavam, o amor seria o mesmo. ”Essa fase é bem complicada, pois quando nós planejamos um filho não sabemos como ele virá, mas nas opções colocamos que não tinhamos preferência entre o sexo e a cor [da pele] do nosso filho, mas queriamos pegar a primeira infância da criança então os principais
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critérios eram ter entre 1 a 3 anos, e na parte de doenças, se fosse o caso, seria uma doença tratável’’, comentou ela. O ano era 2013 e ali iniciava o processo de adoção da família Bastos. A espera não foi fácil para o casal. Maria Luiza chegou a desenvolver um quadro depressivo após cinco anos na fila. “A gestação do coração, como a gente chama, é muito sofrida por todos os anos na fila de espera.” Para conseguir cuidar de seu psicológico, ela se desfez de tudo que havia preparado. O quartinho da criança estava pronto e decorado desde o início do processo. A esperança de Maria e Edivaldo estava por um fio, quando a Vara da infância e da juventude entrou em contato para informar que Cézar estava à espera deles na Casa Lar. Mais tarde, o casal descobriu que a espera prolongada era resultados de erros no cadastro.
“A gestação do coração, como a gente chama, é muito sofrida por todos os anos na fila de espera.” Maria Luiza, Assistente Administrativa
A inserção de um novo capítulo na história de famílias brasileiras que adotaram crianças na pandemia. editoria cidades | revistacdm 39
Acervo pessoal da família Bastos.
Cézar é uma criança super amorosa e se adaptou extremamente bem com toda a família.
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“Nesse meio tempo, as crianças de 1 a 3 anos eram as mais procuradas. Então, para acelerar o processo, pedimos para mudarem para crianças entre 1 a 6 anos, mas depois do encerramento descobrimos que eles não mudaram e esperamos os 6 anos [de fila de adoção] mesmo.” Devido à pandemia, o contato entre as famílias e as crianças ficou mais apressado. Porém, ainda assim, o período de adaptação entre Cézar e seus pais ocorreu de forma bastante positiva, não demorando muito para ele ir morar com Maria Luiza e Edivaldo. ‘’Ele se adaptou super bem, agora é só amor e carinho.’’
missão Estadual Judiciária de Adoção do Paraná (CEJA/PR) intermediou 42 adoções internacionais. Para a promotora de justiça titular da 3ª Promotoria de Justiça de Infância e Juventude, Fernanda Garcez, o aumento do tempo em casa e o aumento do uso de internet possibilitou que as pessoas buscassem um maior entendimento sobre o processo de adoção - principalmente a chamada adoção tardia, que é a adoção de adolescentes e crianças mais velhas.
Mesmo com o aumento no número de adoções no Paraná, a promotora vê algumas dificuldades e situações que, infelizmente, acontecem nesse processo por parte das famílias que entram com o desejo de realizar a adoção. Um dos exemplos citados por Fernanda é quando a família busca a Vara de Infância e Juventude para devolver a criança, mesmo após ter completado o de adaptaMaria Luiza, Assistente Administrativa período ção e o processo de adoção em si. Com isso, ela comenta sobre as necessidades de um procesPor mais que não seja comum ouvir so cauteloso de análise das famílias histórias de famílias que adotaram e preparação psicológica: “São casos crianças na pandemia, o Ministétrágicos que, acima de tudo, ensinam rio Público do Paraná registrou um a todos nós o quanto de empatia ainda aumento no número de adoções em falta na sociedade brasileira, e nos 2020 em relação a 2019. Segundo o fazem reforçar as cautelas de prepaMP, Curitiba completou 130 processos ração dos interessados à adoção na de adoção até o dia 18 de dezembro fase ainda inicial, de habilitação”. do ano passado - um número recorde ao se comparar com os 113 processos Já sobre os protocolos consequendo ano anterior. Já ampliando para tes da pandemia da Covid-19 para a nível estadual, o Paraná foi o seadoção, a promotora de justiça relatou gundo estado brasileiro a registrar o não haver muitas mudanças. No início maior número de adoções entre 2019 da pandemia, algumas etapas como as e 2021, ficando apenas atrás de São entrevistas psicológicas presenciais foPaulo. Dados do Tribunal de Justiça ram suspensas, mas já retornaram em do Paraná (TJPR) indicam que 1.088 2021. Mesmo assim, os processos de crianças, entre 0 e 18 anos, foram adoção em Curitiba não foram interregularmente adotadas no estado durante o período citado. Ainda, a Co- rompidos em nenhum momento.
“Ele era uma criança de feição triste e a partir do momento de adaptação, ele começou a sorrir para nós.”
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MUDANÇA NO SISTEMA Com as diversas alterações feitas no cotidiano das pessoas ao redor do globo para o ajuste à pandemia da Covid-19, os processos de adoção não ficaram de fora. Segundo dados disponibilizados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 3.236 processos oficiais de adoção foram iniciados no Brasil em 2019. Já em 2020, houve o crescimento de 17% desse número ainda em período de pré-pandemia. Mesmo com esse constante aumento durante a quarentena, a quantidade de processos sendo concluídos foi inferior ao esperado pelo CNJ, que se propôs a assinar uma resolução conjunta a outros órgãos sugerindo procedimentos de guardas provisórias para pessoas habilitadas e instituições de acolhimento. Ainda visando o aceleramento desses processos, o CNJ recomendou aos
tribunais a realização de audiências on-line, a fim de priorizar os pedidos de adoção e o contato virtual por meio de plataformas ou aplicativos. Ionara Carraro, funcionária da SecretariaMunicipal de Saúde de Araucária (no Paraná), atua na área de acolhimento das crianças para adoção, e afirma quehouve adaptações no processo geral por conta da pandemia.‘’O processo de adoção no Brasil inteiro está sendo híbrido, com o primeiro contato dos pais com a criança de forma remota através de videochamadas e, na sequência, com todas as medidas e protocolos de segurança sendo tomados, as visitas presenciais são realizadas gradativamente”, completou Ionara. Em meio a tantos prejuízos e caos causados pela pandemia, essas famílias têm, pelo menos, uma vantagem - a tecnologia acabou colaborando para os processos não estacionarem, e no decorrer disso ainda os acelerou.
ESPERA NA PANDEMIA Após tentar inseminação artificial e não ter sucesso, o casal Ana Lúcia e João Carlos, que preferem não revelar seus nomes completos, decidiram entrar na fila de adoção. Como a pandemia começou logo que eles entraram com o processo, acabou sendo um pouco mais conturbado, e a cada mudança de bandeira, o fórum poderia fechar e paralisar o processo, o que aconteceu algumas vezes.
ço, foi difícil de controlar o choro’’. O casal elogia o sistema de adoção, que apesar de burocrático, teve muito cuidado com todo o processo, que não era simples. Durante a adaptação, eram enviados vídeos e fotos ao fórum para mostrar como ele estava. Até mesmo as audiências foram on-line. ‘’Utilizamos o nosso celular mesmo para acompanhar a audiência no Fórum online com o juiz.’’
Ana e João esperaram por um ano e meio, e mesmo com as dificuldades impostas pela Covid-19, a ligação tão aguardada aconteceu. ‘’Recebemos uma vídeo chamada do Fórum, da psicóloga e da assistente social nos avisando que tinha chegado a nossa vez de sermos pais’’, relembra Ana Lúcia bastante emocionada.
Quando trouxeram o menino para casa tiveram que enfrentar o estado psicológico bem abalado de seu filho Mesmo assim, com amor e cuidado, o pequeno se adaptou facilmente à família. E, hoje, o sistema ainda oferece assistência psicológica, principalmente para quando os pais decidirem explicar como é a chamada gestação do coração. Feita a adaptação e a espera da decisão sobre a guarda do menor, que durou um ano e um mês, a família, agora completa, comemora. ‘’Antes nós éramos só um casal, hoje nós somos pais, somos uma família, e ele veio para nos preencher`, dizem Ana e João.
Mas a situação não seria tão simples, afinal o filho de Ana e João estava com o processo em aberto ainda, e eles podiam nem chegar a registrar a criança. Mesmo assim decidiram ser sua família acolhedora. E Ana relata a emoção de conhecer seu filho: ‘’Foi amor à primeira vista, aquele abra-
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Isadora Martelli
Filho de Ana e João viveu desde o 6 meses em abrigo. Agora está em seu verdadeiro lar.
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VOCÊ COLHE O QUE PLANTA
Neri Volp ato, ide condomín alizador da hort a urbana io e mora no dor do Te rra da M ata.
A nova forma sustentável de tornar as casas e cidades produtivas preservando a natureza por meio de hortas urbanas e agroflorestas Allanis Menuci, Isadora Martelli, Maria Eduarda Cassins e Milena Chezanoski
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o condomínio localizado no bairro Mossunguê, em Curitiba, o morador e professor da Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR), Neri Volpato, percebeu que havia um espaço disponível e que poderia ser utilizado para fazer uma horta. Então, ele teve a iniciativa de arrumar os canteiros e começar a plantar alguns vegetais no local com a aprovação dos moradores do condomínio. “Eu sempre gostei de mexer com planta e então comecei a organizar, meio que sozinho, com ajuda de um ou outro que apareciam.” A ideia deu tão certo que outros moradores começaram a se organizar junto com Neri para contribuir com a horta comunitária, ou ajudando no que fosse necessário e topando participar. Por mais motivador que fosse o grande apoio dos condôminos para o projeto, ele percebeu que algumas pessoas não conhecem o processo e, por conta disso, acabam sem querer, impedindo o crescimento da horta.“O problema é que, às vezes, a pessoa não tem experiência em mexer com terra, então arranca coisas que ainda estão crescendo pensando que é mato.” Apesar disso, o morador se orgulha do projeto estar dando certo. O professor da UTFPR e morador do condomínio Terra da Mata conta que, além de sua utilidade, a horta funciona como uma terapia para ele. “Às vezes passo uma semana tão carregado e no fim de semana eu vou lá e esqueço do horário.” O projeto ainda não foi oficializado como horta comunitária, mas com a alta procura dos moradores Neri espera que isso aconteça logo. A horta urbana talvez seja uma das principais opções sustentáveis de aproveitamento de espaço. Entretanto, este meio de agricultura não é o único existente. A agrofloresta é um sistema recente que está sendo estudado como uma opção super rentável para a agricultura familiar. Um dos principais motivos é o fato de a agrofloresta fazer o uso de recursos naturais sem elementos externos, trazendo alimentos frescos e saudáveis de maneira simples e proporcionando
sustentabilidade no sistema produtivo. O sistema agroflorestal tem o princípio de conservação e equilíbrio ambiental entre a preservação e produção de um terreno. Funciona como uma forma de diminuir os danos e impactos no meio ambiente causados pela produção agropecuária, utilizando sustentavelmente os recursos naturais disponíveis para reconstituir esses solos degradados, assim, aumentando a fertilidade do terreno e equilibrando novamente o ecossistema. A agrofloresta parte da ocupação do solo degradado com uma variedade de plantas, que consequentemente geram uma alta diversidade de interações ecológicas. Para o agrônomo e professor do curso de agronomia da PUCPR, Tiago Jarek, a agrofloresta é um sistema muito produtivo e vantajoso, mas também é algo que demanda muito conhecimento técnico, completando que o amparo técnico para a construção de agroflorestas é primordial para gerar maior rentabilidade para o local. Já sobre hortas urbanas, Jarek comentou que esse tipo de agricultura, feita em pequena escala e de forma a otimizar espaços, é tão válida quanto a própria agrofloresta. Alguns dos benefícios de se ter uma horta em espaços urbanos, na visão do professor, são a obtenção de alimentos de melhor qualidade, os cuidados sem agrotóxicos e qualidades como a ‘terapia’ de cultivar seus próprios alimentos. Guilherme Leite, criador do projeto Casa da Ciclovia – espaço voltado à prática de agrofloresta no centro urbano de Curitiba –, conta que, além da recuperação do solo em médio e longo prazo, o sistema agroflorestal também possibilita gerar novas formas de renda. ‘’Por diversificar o plantio, você não fica mais dependendo de apenas um cultivo que o preço pode baixar de repente e inviabilizar a colheita. Ou vir uma grande geada e levar a lavoura toda. Quanto mais diversidade nós temos no nosso cultivo, nos tornamos mais resilientes a essas intempéries, sejam as naturais ou as do mercado.’’
Victor Bertoncello e Marcos Chaves cuidando da horta comunitária.
Alimentos crescendo na horta urbana do condomínio Terra da Mata.
Promover a combinação de árvores, culturas e animais de forma intencional, projetando e administrando
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tudo em uma única unidade não é uma tarefa fácil, especialmente em se tratando da capital paranaense. Com as quatro estações não tão bem definidas, é preciso encontrar plantas que resistam aos períodos irregulares de chuva. Por essa razão, é muito importante prestar atenção na escolha das espécies e no preparo do solo. Outro ponto que deve ser levado em consideração é o tamanho do espaço destinado ao cultivo. A prática de agrofloresta exige um ambiente maior, sendo sugerido pelo menos 100 metros quadrados para um bom desenvolvimento do espaço. Hortas são mais versáteis e podem ser realizadas nos mais diversos espaços, contanto que sejam levados em conta o tamanho do recipiente, o crescimento da planta e a quantidade de exposição à luz. A agrofloresta e a horta urbana são muito bem-vindas quando se trata de arquitetura sustentável. Segundo o professor de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR Carlos Hardt, há muitas formas de se trazer a agricultura sustentável para dentro de casa, deixando o ambiente agradável, natural e ao mesmo tempo benéfico para as pessoas e para a natureza. “A vegetação exerce um forte poder de amenização de espaços nas pessoas. Ao invés de se ter apenas vasos tradicionais de flores e plantas verdes, se pode ter vasos ou canteiros com espécies que, além de exercerem essa sensação agradável às
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pessoas, também sejam uma fonte de alimentação saudável”, comentou ele. No entanto, há muitos questionamentos na internet sobre como fazer uma horta urbana ou até mesmo um tipo de agricultura que sirva de paisagismo e que colabore com o meio ambiente. Em relação a esse assunto, o professor indicou algumas dicas para que as pessoas possam construir seu local sustentável no ambiente doméstico.
“A vegetação exerce um forte poder de amenização de espaço nas pessoas.” -Carlos Hardt, professor de Arquitetura e Urbanismo
De acordo com Hardt, o primeiro passo é analisar o tamanho da área disponível para implantar a sua horta, fator que deve ser levado em conta junto com a insolação do local. Após feito isso, deve-se escolher uma forma de plantio - como por exemplo o tamanho do vaso, o tamanho do canteiro e o que será plantado. Em seguida, é necessária uma análise do que se tem interesse em plantar no local preparado e as condições de plantio. Se existe uma planta cuja raiz cresce
Hortaliças que são plantadas na horta urbana do condomínio.
profundamente, talvez um vaso raso não seja a opção mais adequada. Um terreno ou um local reconstruído com o sistema agroflorestal, engloba culturas agronômicas essenciais para uma produção sustentável de alimentos seguros de agrotóxicos e ricos em nutrientes orgânicos pela intensificação da sua ciclagem.
CUSTO-BENEFÍCIO Um dos fatores que mais desmotiva as pessoas a terem e cuidarem de hortas urbanas e sistemas agroflorestais é o custo, que em alguns casos pode ser mais alto do que simplesmente ir até o mercado mais próximo e comprar os vegetais necessários. Porém, depois de se colocar os prós e os contras de se ter uma horta dentro de casa ou até mesmo priorizar tipos de agricultura doméstica, percebe-se que deixar de comprar vegetais produzidos em grande escala é a melhor opção para ajudar o meio ambiente e preservar a saúde. De acordo com o professor Tiago Jarek, a discussão sobre o que vale a pena quando se trata de fazer uso de agricultura é muito atual. “A dificuldade em criar uma resposta sobre custo-benefício é porque estamos tocando em valores não tangíveis. A simples comparação de preço de hortaliças, ou uma análise de investimentos incluindo as horas trabalhadas na horta podem levar [embora] o sonho de
muitos de ter sua própria horta para o espaço”, comenta Jarek. Mesmo assim, ele acredita que o retorno em termos de saúde faz o investimento com hortas urbanas e agricultura doméstica valer a pena, afinal a não-utilização de agrotóxicos e o próprio ato de cultivar os alimentos trazem benefícios à saúde mental e física das pessoas. Em termos financeiros, o arquiteto e urbanista Carlos Hardt comentou que o custo de construir uma horta, considerando toda infraestrutura como vasos, canteiros, terra, dispositivos para irrigação, ainda somados a insumos como adubo e sementes tem baixo custo se for pensar na possibilidade de reutilização da maioria dos materiais. Ainda, o retorno efetivo desse investimento seria maior no final do que simplesmente comprar produtos vegetais no mercado, em curto prazo.
Espaço destinado ao projeto de agrofloresta Casa da Ciclovia.
Para ambos, que reconhecem o custo inicial de investimento em hortas urbanas e agroflorestas como alto, o retorno futuro de construir e cuidar dos espaços onde se junta a sustentabilidade com a possibilidade de cuidar da saúde vale a pena. Como fazer uma horta urbana? Confira no QR code abaixo como fazer sua própria horta urbana e apoiar a agricultura urbana e sustentável. portalcomunicare.com.br
Legislação Existe alguma lei ou regras para implantar hortas urbanas e agroflorestas em Curitiba? A lei nº 15.300 de 28 de setembro de 2018 foi estabelecida em Curitiba para regulamentar a atividade de criação de hortas e espaços reservados. A leigislação o permite que as pessoas plantem em locais que não afetem outras pessoas, desde que haja cuidados com a plantação. Cultivo de plantas tóxicas são proibidas, por exemplo. Ainda, a lei permite a atividade apenas para uso pessoal, não podendo usar o espaço para comércio, entre outros. A plantação pode ser feita em locais perto de rios, desde que não atrapalhe a mobilidade das pessoas.
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A moda do
café
The Coffee Bigorrilho Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1282
Allanis Menuci, Isadora Martelli, Maria Eduarda Cassins e Milena Chezanoski
Para os amantes de café quente, o café gelado é uma alternativa um pouco exótica, pois muitas vezes a bebida é consumida com o objetivo de acordar e se aquecer. No entanto, as redes sociais trouxeram a tendência da combinação entre o café e os cubos de gelo para o público jovem, que não simpatiza com a bebida quente. O conceito do café gelado começou a se tornar um lifestyle desejado no Brasil, principalmente pelos paulistas e paranaenses. Mesmo com o frio, o café gelado chegou para ficar entre as pessoas que não gostavam de tomar café. Mas o que há de tão diferente no café gelado?
Mais 1 Café Bigorrilho A origem da tradição do café gelado não é exata, mas encontram-se registros da bebida sendo popularizada primeiro na Holanda e no Japão. Já em Curitiba, as cafeterias “to go” são quem trouxe a novidade. Até mesmo em dias de frio o café gelado é uma opção considerável para quem não curte a bebida quente mas aprecia conceito e a experiência que tornam o café gelado algo especial.
A grande mágica é que o gelo com leite e o café parecem amenizar o gosto forte no paladar dos amantes da bebida. Ainda, as cafeterias começaram a fazer cafés personalizados com caramelo, baunilha, avelã e até mesmo as cold brews - café puro gelado. Fonte: Produção Agricola Municipal
Valor da produção brasileira do café nos últimos anos
R$27.254.184
R$21.397.286
R$16.228.961
R$8.613.912
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R$22.62289
R$16.711.208 R$18.546.377 R$15.683.860 R$15.875.703
R$11.580.975
R$12.820.331
Franquias de café na região central de Curitiba
R$17.653.770
R. Padre Anchieta, 2194
The Coffee Batel Av. Sete de Setembro, 5096
Mais 1 Café Batel Av. Sete de Setembro, 4500
Starbucks Shopping Mueller Av. Cândido de Abreu - Centro Cívico
The Coffee Centro R. Comendador Araújo, 190 Al. Dr. Carlos de Carvalho, 74 Al. Prudente de Moraes, 1227 R. Mal. Deodoro, 727 R. Emiliano Perneta, 865 R. Comendador Araújo, 194
e aconchegante visualmente, mesmo que seja por apenas cinco minutos enquanto o cliente espera seu café ficar pronto e seguir a sua rotina. O charme inovador desses estabelecimentos se popularizou nas redes sociais, virando febre entre os jovens.
Go Coffee Centro R. Emiliano Perneta, 493 Av. Vicente Machado, 476 Al. Dr. Carlos de Carvalho, 572
Mais 1 Café Centro R. Comendador Macedo, 48 Av, R. Mal. Deodoro, 303 R. Praça Gen. Osório, 145 R. Emiliano Perneta, 421
The Coffee Água Verde Av. Iguaçu, 2509
Go Coffee Água Verde Av. Sete de Setembro, 4087 Av. Rep. Argentina, 1115
CAFETERIAS ‘‘TO GO’’ Depois de quase dois anos em isolamento social, nós aprimoramos nosso tempo fora de casa para que seja cada vez mais breve e seguro, o que em vários cenários acabou agravando a correria do cotidiano. Pensando nisso, o novo sistema de cafeterias ‘‘to go’’ está em alta na capital paranaense, inovando e gerando mais uma tendência no mercado dos cafés. Esses espaços descolados atraem um público diverso, atendendo o paladar do café clássico até o mais gourmetizado, mas mantém seu destaque nos cafés gelados com várias combinações de sabores. Os preços são relativamente acessíveis e variam desde o café expresso, em torno de R$4, até os maiores e mais elaborados, que saem por volta de R$10. Por esse estilo ser caracterizado pela pausa rápida do consumidor, os estabelecimentos investem em uma arquitetura minimalista que varia de 3m2 a 10m2, com cores e decorações que otimizam o espaço de forma atraente
TORREFAÇÃO DE CAFÉS PREMIUM Falar de café no Brasil é falar de paixão, de história e tradição. O consumidor brasileiro está cada vez mais exigente em relação à qualidade, sabor e métodos de preparo do grão. Por isso, não surpreende que o Café Gourmet, feito de grãos de alta qualidade, tenha se tornado uma tendência no país. Segundo as regras de produção brasileiras, um grão só será considerado de alta qualidade se atender a três critérios: ser grão 100% tipo arábica, não possuir defeitos em uma amostragem de 300g e, após a torrefação, deve apresentar doçura e pouca adstringência durante a ‘’prova de xícara’’. Apesar do cultivo ser uma parte fundamental, é o tempo de torra de cada grão que irá definir o aroma, sabor, corpo, acidez e equilíbrio do café. A boa notícia é que para encontrar o café que mais irá agradar o paladar, o consumidor só precisa ficar atento aos diferentes níveis de torrefação: TORRA CLARA: os grãos da torra clara permanecem secos para preservar mais os óleos aromáticos, salientando os aromas florais da bebida. Cafés de torra clara possuem um sabor suave ao paladar, por ser pouco amargo e acentuar a acidez cítrica. TORRA MÉDIA: considerado o ponto de equilíbrio entre várias características como acidez, aroma e amargor. A torra média promove uma caramelização dos açúcares e a decomposição dos ácidos naturais, fazendo com que o grão diminua os óleos essenciais e acidez intensa. TORRA ESCURA: a torra mais popular do Brasil produz um café mais escuro, de maior amargor, com menor nível de acidez e pouco encorpado.
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Atrofia social Especialistas afirmam que estar sozinho por um longo período de tempo traz complicações para a saúde mental, prejudicando futuras relações humanas no pós-pandemia
Georgia Giacomazzi, Giulia Militello, Paula Braga e Rodolfo Neves
Pixabay
A
pandemia causou um aumento no estresse, na ansiedade, na depressão, nos casos de tentativa de suicídio, síndrome do pânico e fobias sociais. De acordo com a psicóloga Giovanna Borba, “pacientes que já apresentavam algum tipo de transtorno mental, acabaram tendo uma piora no quadro e, alguns outros que não tinham, acabaram desenvolvendo alguns sintomas”. Não foi diferente com a socialização: algumas pessoas que já tinham dificuldade de socializar têm mais facilidade em acabar se isolando, causando a atrofia social. A atrofia social, na maioria das vezes, acontece pela falta de convívio, causando uma incapacidade de criar e manter relações interpessoais, afetando a saúde mental. Um grupo de pesquisa do Massachusetts Institute of Technology (MIT)
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afirma que a interação humana é algo necessário em nossas vidas, assim como nos alimentar. Ela afirma que a solidão aguda é “um estado aversivo, que motiva as pessoas a reparar no que está faltando, semelhante à fome”. Estudos realizados mesmo antes da pandemia, em 2018 e 2019, pelo próprio MIT, constam que ser forçadamente privado de um contato social pode levar a pessoa a um certo sofrimento emocional. Stephanie Prado, esteticista e mãe de um recém-nascido, admite que não sente mais vontade de socializar. Além do medo de prejudicar sua família, ela diz que se revolta ao ver outras pessoas negando a gravidade da situação. “Prefiro mil vezes ficar em casa a ter que socializar de novo, pois eu escuto as pessoas, escuto frases egoístas sobre a pandemia e minha cara se transforma. Me privo de conversar muito, justamente para evitar uma discussão”.
Stephanie acredita que, mesmo após o fim do contágio, não irá socializar como antes, e sente um certo incômodo ao ser convidada para sair de casa. A psicóloga Giovanna Borba também relata que notou que alguns de seus pacientes também ainda estão relutantes com a interação social, mesmo depois da vacina.
totalmente à vontade e dar risada, são raras as vezes que eu consegui fazer isso durante esse tempo”. Houve, sim, um grande aumento de procura por psicólogos, diz a psicoterapeuta Michelle Lodovine Correia. “O desânimo em socializar também está na consequência da dificuldade do retorno à rotina ‘normal’”. Ela ainda acrescenta que os resultados psicossociais da pandemia poderão ser perceptíveis a um curto, médio ou longo prazo.
“É importante respeitar o tempo
de cada pessoa, não julgando ou criticando por ainda agir de determinada forma.” Giovanna Borba, psicóloga
mas é imprescindível que as pessoas busquem ajuda, pontua a psicóloga. A estudante de Administração Yasmin Reis relata que suas relações mudaram nesse período, além de reconhecer um maior desgaste emocional na sua rotina. “A pandemia potencializa o cansaço. Por ser uma questão de saúde, todos ficam mais nervosos, e acho que com isso, tudo piora”. Ela também afirma que sente medo e um bloqueio ao pensar em sair de casa. “Não consigo estar em um lugar com bastante gente, me sinto estranha e tenho dificuldade para me soltar. Parece que agora eu tenho uma trava, que não me deixa ficar
“Nós da área da saúde mental entendemos que os reflexos psicoemocionais e comportamentais ainda estão por vir, em linhas gerais haverá uma piora no panorama dos quadros de doenças mentais”, completa. A psicoterapeuta comenta que um ponto de partida importante para recomeçar a realizar as atividades do cotidiano, além de procurar ajuda de profissionais quando algum dos sintomas relacionados à atrofia social começam a aparecer, é “não se sentir pressionado para voltar a praticar atividades que envolvam contato ou que possam deixar você desconfortável”.
SINTOMAS DA ATROFIA SOCIAL
Leia mais Sentir ansiedade frente a cumprimentos
Dificuldade de sair de casa
Dificuldade de expressar emoções
Aqui está uma lista com serviços gratuitos de apoio a saúde mental. portalcomunicare.com.br
Não saber se portar frente a outras pessoas
Desenvolver agorafobia
sociedade | revistacdm
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UMA LUTA FEMININA
Com a volta do talibã ao poder do Afeganistão, ressurge a preocupação com os direitos das mulheres em países islâmicos
revistacdm || editoria mundo 52 revistacdm
Pixabay
Georgia Giacomazzi, Giulia Militello e Paula Braga
A
retomada do Talibã em Cabul, capital do Afeganistão, em agosto de 2021, fez despertar o caos e o desespero na população afegã novamente, principalmente entre as mulheres. Elas correm o risco de perder os direitos sociais e econômicos que vinham conquistando enquanto o Talibã estava fora do poder. Após 20 anos lutando pelos seus direitos, as mulheres afegãs estão vendo seus sonhos e conquistas serem enterrados diante de seus próprios olhos. Sem ter a aprovação dos homens, as mulheres não podem fazer quase nada. É impossível ingressar em universidades ou estudar. O mesmo acontece com o trabalho. “Se um homem não autoriza, ninguém quer comprar briga, simplesmente não aceitam a mulher, o emprego para uma mulher no Afeganistão não a sustenta ”, explica a turismóloga Ana Maria Brogliato. Ana Maria faz parte da Abhigyane Foundation, organização não governamental em que atuou de maneira colaborativa por mais de dois anos. Ela quis ajudar a fazer a diferença e, desde janeiro de 2020, está como integrante ativa, pela condição e desafios
de diversas mulheres. A fundação tem como principal objetivo dar novas oportunidades de um futuro melhor para os jovens, inclusive pessoas com deficiência, seja por meio dos estudos ou trabalho, sempre lutando por respeito e tolerância entre religiões. No Paraná, outra organização sem fins lucrativos realiza ações para melhorar o cenário socioeconômico de centenas de pessoas. A Cáritas Brasileira é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB), parceira da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) que opera em benefício dos imigrantes, refugiados e apátridas. Ela está organizada em 187 entidades-membro dispostas em 12 regionais e cinco articulações. Em Curitiba, a Cáritas tem requisições diversas, com interface de atuação em várias frentes, como explica Kassia Cordeiro, assistente social responsável pelo programa de migração e refúgio. Ela cita alguns dos projetos vigentes da Cáritas para esse grupo específico. “Economia popular solidária, emprego e renda, incentivo ao empreendedorismo, horta comunitária, vida no campo e vida urbana, entre outros.” Tainá Aragão
Celebração de conclusão III ciclo formativo do projeto.
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Kassia também relata sobre o acolhimento das mulheres. “Elas não andam sozinhas, elas estão sempre com filhos ou maridos. Vemos que não procuram asilo político sozinhas e isso se dá pela cultura do seu país que na maioria das vezes é patriarcal.” Além da assistência social, a Cáritas tem requisições como reconhecimento e legalização de documentos. Algo muito procurado por mulheres que migram de seus países nativos na tentativa de conquistar melhores condições de vida, inserção no mercado de trabalho, liberdade e sobrevivência. Maha Mamo, que hoje é palestrante global, nasceu no Líbano e lutou durante 30 anos em busca de cidadania. Em 2014 foi naturalizada brasileira.
Heba Altabakh é uma jovem síria de 25 anos que enfrentou as piores circunstâncias que uma guerra pode trazer, de 2012, quando a guerra civil na Síria se agravou, há 2017, quando ela finalmente conseguiu deixar o seu país. Na época, ela estudava Medicina na Universidade de Damasco e tinha o sonho de viajar para outros países para fazer especializações. “Mas a situação na Síria foi ficando cada vez mais difícil e eu via que muitas portas estavam sendo fechadas para mim.”. Mas mesmo com a guerra, Altabakh persistiu em seus estudos até o momento em que precisou optar por sua vida e deixar o país, colocando sua educação de lado. Hoje, Heba Altabakh reside em Santa Catarina e agradece por ter saído da Síria, e diz que são poucas as mulheres que conseguem estudar aqui, mas está sempre procurando pensar de forma positiva e é um exemplo de força feminina. “Depois que voltava pra casa eu repetia as aulas mil vezes até falar, ouvir e escrever o português. Não tinha vida social, mas o aperto no coração por tudo o que aconteceu e por ter deixado a minha família me ajudou muito.”
“Eu procurei ajuda de diversos países, o Brasil foi o único que me acolheu.”
Maha Mamo, palestrante global A partir de uma imposição jurídico-religiosa do seu país, Maha viveu sem documentos de identificação durante a maior parte da sua vida, em que não pode dispor dos direitos básicos de qualquer cidadão. Essa é uma situação recorrente de mulheres de diferentes países do mundo, que mesmo com nacionalidade, não se sentem parte de algum lugar. Segundo dados da Plataforma interativa de Decisões, do Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil, e da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), 21.515 pessoas se encontravam em condição de refúgio, sendo 10.421 mulheres (48,4%). Assim como no Afeganistão, as moradoras da Síria também sofrem com organizações extremistas que comandam o país. Todas as mulheres na Síria, da mais idosa até as meninas mais jovens, foram afetadas de alguma maneira pela crise humanitária que resultou em uma guerra civil.
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A estudante fez das dificuldades a sua motivação, usando seu sofrimento, diante das coisas que teve que superar, para aprender o português, ingressar na universidade e chegar cada vez mais perto dos seus objetivos. Arquivo pessoal
Heba, refugiada da Síria.
HIJAB A expressão da espiritualidade é um sinal de libertação
O uso do hijab, lenço utilizado pelas mulheres muçulmanas, é uma forma de compromisso dessas mulheres com Alá, mas muitas pessoas acreditam que o hijab é utilizado pelas mulheres por serem submissas ou submetidas a algo machista. Bárbara Vieira, brasileira convertida para a religião islâmica, explica que fazer o uso do hijab é uma escolha pessoal de cada mulher. Vieira se converteu pelo fato de, após estudar muito, achar uma religião muito interessante e perceber que a religião possui diversos fatores positivos para as mulheres: “O islamismo é uma das religiões mais libertárias”. Entretanto, o uso do hijab ainda é visto por diversos veículos de comunicação como uma imagem generalizada, fazendo com que a normalização do uso do véu fique cada vez mais difícil. A brasileira já recebeu comentários maldosos e preconceituosos dentro de um ambiente de trabalho, mas acredita que o uso do véu auxilia na sua luta pessoal para que ela e demais mulheres tenham o direito de serem quem são e não serem julgadas por suas vestimentas. As mulheres são desvalorizadas em todos os lugares, e muitas dessas imposições envolvem a religião, mas
diferentemente do que as pessoas pensam, no Islã as mulheres possuem todos os seus direitos reservados. Marian Zabad, descendente libanesa, diz que se sente muito mais vulnerável no Brasil do que em um país árabe, onde a mulher pode votar desde a época do profeta, e aqui o direito do voto foi uma luta muito demorada. Zabad conta que o hijab faz parte de uma doutrina,mas não é uma doutrinação. Marian não utilizou o véu por 27 anos, e agora mais madura decidiu usar e que, sim, ainda sofre preconceitos no Brasil, pois as pessoas têm dificuldade em aceitar o uso do véu, e o associam a violência. A jovem acrescenta que mulheres que usam o hijab não podem levar a culpa da ação das pessoas dentro dos países árabes. “Os islâmicos não têm culpa, não defendem a violência.”
Veja também Entenda um pouco sobre o feminismo islâmico com episódios desses dois Podcasts. portalcomunicare.com.br
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editoria mundo | revistacdm 55
2021: o ano das mulheres Letícia Bonat Letícia Fortes Juliane Capparelli Maria Eduarda Souza
Em um ano marcado por dificuldades, as mulheres foram as grandes ‘Gamechangers’ - ou ‘aquelas que mudam o jogo’, em tradução livre - do Brasil. O espírito feminino quebrou paradigmas ao trazer agilidade e inovação para áreas consideradas predominantemente masculinas, como o esporte, a comunicação, a ciência e o empreendedorismo.
Embora o Prêmio Geração Glamour premie mulheres desde 2015, a edição de 2021 trouxe inovações importantes nas categorias, que antes reconheciam apenas as protagonistas da moda e do show business e, hoje, também legitimam trabalhos e iniciativas de sucesso associadas à mulheres indígenas, negras e transsexuais.
EVOLUÇÃO DAS CATEGORIAS DO PRÊMIO 2015
2016
2017
As principais categorias eram Top Model, Beauty Artist, Top Chef, Empresária, Musa Fitness, It Girl, Mulher Bacana e Blogueira.
Acrescentou a categoria Youtuber, Atriz e Leitora que Amamos
Acrescentou Sustentabilidade, Diversidade, Inspiração e Agitadoras Online com Causa
2018
2019
2020
Permaneceu sem mudanças
Aderiu as categorias Mulher do Ano e Geração Z
Progresso, Esportista e Mulher Idole foram adicionadas
ANA CLARA - COMUNICADORA Desde que participou da décima oitava edição do BBB, Ana Clara vem obtendo cada vez mais visibilidade em sua carreira como repórter, influenciadora e apresentadora. Com apenas 24 anos e já possui mais de 10 milhões de seguidores nas redes sociais.
JULIETTE - MULHER DO ANO A paraibana adquiriu um protagonismo sem precedentes no Big Brother Brasil (BBB) 2021, além de ganhar a competição, tornou-se uma influenciadora digital com mais de 30 milhões de seguidores no Instagram. Juliette, ao levar o prêmio para casa, disse: “Todo mundo tem o seu brilho. Nós, mulheres, vencemos todos os dias. Precisamos de verdade e coragem, o resto a gente corre atrás”.
editoria 56 revistacdm | coluna
RAYSSA LEAL - GERAÇÃO Z Conhecida também como “Fadinha do Skate”, Rayssa conquistou uma medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio, com apenas 13 anos. A garota que inspira todos ao seu redor, representou uma geração inteira no prêmio da Glamour, provando que o skate é um esporte para todos os gêneros.
REBECA ANDRADE - ESPORTISTA A trajetória de Rebeca Andrade emocionou não apenas o país que ela representou nas Olimpíadas de Tóquio, mas o mundo todo. Com o feito impressionante de ganhar duas medalhas olímpicas pela ginástica artística, Rebeca é a primeira ginasta brasileira a ser campeã olímpica e a primeira brasileira a ganhar duas medalhas numa mesma edição das Olimpíadas.
OUTRAS GANHADORAS JAL VIEIRA Jal levou o prêmio de “Estilista”, por seu trabalho inovador e representativo. Ela é a primeira estilista negra brasileira a fechar parceira com a Marvel.
ISABELA DEL MONDE LINIKER - ATRIZ
PEQUENA LO - TIK TOKER Lorraine Silva, mais conhecida como Pequena Lo, é um fenômeno na internet. Com 5.3 milhões de seguidores no Tik Tok, ela diverte e gera identificação com o seu público, monstrando que a deficiência não a limita.
A protagonista da série “Manhãs de Setembro”, da Prime Video, também é uma das premiadas. Sua atuação como Cassandra na série de cinco capítulos foi destaque nacional e aclamada pela crítica, por abordar a pluralidade das famílias brasileiras.
A advogada, coordenadora do movimento #MeTooBrasil e fundadora da Rede Feminista de Juristas (DefemDE), foi contemplada na categoria “Justiça”.
PROGRAMARIA A empresa visa proporcionar as ferramentas necessárias para ascensão de mulheres na progamação. A iniciativa de Iana Chan foi destaque em “Tecnologia”.
CLÍNICA PRETA
ANITTA - CANTORA Cantora, compositora, atriz, dançarina, empresária, apresentadora… Anitta é uma figura pública inovadora e irreverente, com mais de 55 milhões de seguidores no Instagram. Ela é, sem dúvidas uma das artistas brasileiras mais famosas da atualidade.
LUANA ARAÚJO - CIÊNCIA Após uma defesa enfática da ciência e da ineficácia do tratamento precoce contra a Covid-19 durante a sessão da CPI, ocorrida em 02 de junho, Luana ganhou mais relevância nas redes socias. A médica é a primeira brasileira a receber uma bolsa de mestrado na Escola de Saúde da Universidade Johns Hopkins.
Na categoria, “Saúde Mental” a clínica da psicóloga Milena Reis levou o prêmio. E é considerada um exemplo que ajuda no acompanhamento psicológico da população preta.
SAMELA SATARÉ Pertencente ao povo Mawé, Samela faz parte do movimento “Fridays for Future”, criado por Greta Thunberg. A estudante ganhou o prêmio “Ativismo”.
CAMILA COUTINHO A blogueira e influenciadora digital tem sua carreira consolidada desde 2006. Camila venceu na categoria “Empreendedorismo”.
editoria coluna | revistacdm 57
Segunda pele
Arquivo pessoal/ Mariana Munaretto
Eduardo Veiga, Giovana Bordini, Mariana Alves e Mariana Toneti
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Mais conforto e simplicidade, características que podem não ser passageiras e resultantes de um grande impacto
P
ostagens antes dedicadas à divulgação de sapatos agora promovem pantufas “para andar na rua”, como a proprietária define. Entre fotos de exemplares e vídeos com modelos posando, a rede social da loja de vestuário de Cláudia Inkote exibe as tendências adotadas pelo comércio durante a pandemia e expostas nas vitrines, que ficam no centro de Pinhais. “Mudou o padrão do vestuário no sentido de que entrou na moda essa ‘linha conforto’. Acabaram os eventos: vestido de festa, brilho, roupa para balada, casamento, formatura, tudo isso deixou de vender”. Além das pantufas, os conjuntos de malha ganharam espaço no último ano. Oferecendo seus serviços desde 1997, Cláudia diz que nunca foram necessários tantos esforços para que as vendas não tivessem uma grande queda. Porém, essa situação não se repetiu em todo o mundo. Uma análise da consultoria americana Bain & Company constatou uma retração de 25% a 30% no mercado da moda. A indústria também sofreu forte impacto e pode alcançar um cenário similar ao pré-pandemia apenas em 2023, de acordo com estudo da McKinsey & Company. Apesar de vestuário ter sido segmento o mais afetado pela pandemia da Covid-19 no Brasil, segundo FecomercioSP, o setor já alcançou alta de 36% na produção acumulada de janeiro até maio deste ano, conforme levantamento da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Isso pode ser explicado, em parte, pela retomada gradual da economia como um todo. Porém, o principal motivo deve estar na volta ao convívio social. O aumento da circulação de pessoas nas cidades aumenta o interesse dos consumidores em comprar novas peças de vestuário. Isso ocorre pela necessidade de atender a certos padrões estéticos, como explica a professora de Design da PUCPR e consultora de moda, Gabriela Duarte. “Normalmente teríamos regras normativas para não irmos trabalhar com calça de moletom, às
vezes podendo pelo menos optar por uma calça jeans, se for uma atividade menos protocolar. Em casa ninguém nos impõe essas regras, que mesmo não sendo colocadas em palavras, sabemos que existem. Então, somos mais propensos a optar pelo que nos agrada, sem precisar ter que passar uma roupa para ficar em casa sentado na frente do computador”. A professora comenta que estudos da área de moda analisam formas de unir a modelagem de roupas mais formais, como ternos, com tecidos mais confortáveis, como moletom e neoprene. “A partir do momento que as pessoas voltarem a trabalhar presencialmente elas vão voltar a querer se arrumar mais, prezando o conforto, porém de uma maneira mais caprichada”, comenta a Camila Teixeira, professora de Design da PUCPR e especialista em moda e gestão. Segundo ela, itens que tiveram destaque durante a pandemia, como moletons e chinelos, devem ser substituídos por novos tipos de roupas. Para Teixeira, “as pessoas passaram a se acostumar com esse conforto, com
“Em casa ninguém nos impõe essas regras, que mesmo não sendo colocadas em palavras, sabemos que existem.” Gabriela Garcez Duarte, professora de Design da PUCPR
tecidos mais confortáveis de algodão e malha”, por exemplo. Graciele Saurin, lojista de Curitiba que vende artigos de moda para todo o país, conta que clientes que antes “usavam calça alfaiataria passaram a usar uma calça jeans com elastano, estilo jegging, por exemplo, para se manter arrumada dentro de casa, porém confortável. Ela, por outro lado, entende que os hábitos de consumo pré-pandemia retornarão cada vez mais. “As clientes já não querem mais se vestir com conjuntos de moletom,
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elas querem roupas mais elegantes para saírem, como calças flare para usar com salto e vestidos estampados”. Saurin relaciona essa nova mudança ao avanço da vacinação da população contra a Covid-19. Porém, olhando de forma mais ampla, os brasileiros, de fato, devem seguir comprando menos. A crise econômica brasileira agravada pela pandemia, que elevou o desemprego à casa de 14 milhões, como aponta o IBGE, está ligada à busca por um vestuário mais barato. “A tendência é que cada vez mais as pessoas escolham artigos mais baratos para que consigam pagar os custos da vida cotidiana. Isso veio para ficar por um bom tempo”, afirma a professora Duarte. A inflação do setor de moda, calculado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e que engloba vestuário, calçados e acessórios, jóias e bijuterias e tecidos e armarinhos, subiu 0,53% em julho. No mês anterior, o segmento teve alta de 1,21%, a maior taxa do ano. Se as tendências de moda novamente se modificam com a melhora da pandemia no Brasil e no mundo, o consumo reduzido deve seguir como uma constante. Ao menos, até que a economia - não mais o vírus - permita o retorno às lojas.
FAST FASHION X SLOW FASHION As mudanças que impactaram a indústria da moda durante os períodos mais intensos da pandemia reverberam no contraste entre fast fashion e slow fashion. Enquanto o fast fashion está ligado ao modo de produção industrial de roupas, que serão posteriormente vendidas com preços menores e em larga escala, o slow fashion busca ir na contramão, atribuindo maior valor às peças e promovendo um consumo mais consciente. Essa é a visão de Mariana Munaretto, dona de brechó que obteve os primeiros lucros com roupas de segunda mão entre janeiro e março de 2020. Na época, ainda como um hobby. Em maio ela abriu sua loja e hoje vende peças que variam de R$ 15 a R$ 300.
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Desde o início, a escolha das roupas a serem vendidas no brechó foi reflexo do isolamento social. “Essas roupas mais confortáveis que a pandemia trouxe foram base para todas as tendências de agora. Na hora de fazer o garimpo eu sempre procuro por peças que estejam em tendência, pois elas não são difíceis de se encontrar.” Apesar de os preços do slow fashion praticado em brechós não serem necessariamente mais baixos que do fast fashion, seu consumo tem impacto positivo na indústria da moda. “A compra e o descarte [de fast fashion] causam muita poluição também, na parte social tem condições análogas à escravidão na produção principalmente em países com Bangladesh e Vietnã. É injusto que os grandes empresários e marcas lucrem em cima disso”, aponta a professora Duarte. Segundo dados de 2019 da ONU Meio Ambiente, a indústria da moda é responsável por cerca de 9% das emissões globais de gases-estufa, parcela superior às emissões de aviões e transportes marítimos juntas. Além disso, por ano, cerca de RS$ 500 bilhões são perdidos com o descarte de roupas que não são recicladas. Apesar de incentivar o consumo sustentável através do seu brechó, Munaretto admite que o “sistema capitalista que vivemos ainda nos pauta”. Ainda é preciso superar esse tipo de modelo de produção e venda, segundo ela. “O jeito que nos vestimos reflete o período em que estamos e o seu sistema”.
RIQUEZA É APROVEITAR UM PÔR DO SOL De acordo com dicionários online, a definição mais precisa para o minimalismo é um estilo de vida que é baseado em diminuir drasticamente os níveis de consumo, comprando apenas o necessário. Para Silvia Henz, influenciadora digital com o lema “menos coisas, mais feliz”, ser minimalista é focar na vida. A experiência voltada no consumo e não na vivência é algo que passou a sufocar Silvia,
já que as dívidas e o excesso de coisas são sempre priorizados.
poluição da sociedade. Ser minimalista é pensar, principalmente, no coletivo.
Foi em uma reforma no quarto da casa em que a influenciadora costumava morar com sua mãe que o estilo de vida começou a aflorar. Ela precisava passar duas semanas fora, portanto, devia separar apenas o necessário para viver durante os 14 dias; o resto, ficaria numa caixa para quando a reforma acabasse. Passou muito mais do que duas semanas e Silvia não sentiu falta do que estava na caixa. Foi nesse caso que ela percebeu o exagero de roupas e repassou para brechós e bazares. Depois que saiu da casa materna, ela foi apresentada para o armário cápsula e o adotou.
Os dois conceitos caminham juntos em diversos momentos. O minimalismo, como explica Silvia, é a prática; o slow living é o conceito. “Menos coisas para mais vida, mais vivências, viver a vida devagar, saborear os momentos... Minimalismo é o meio, slow living é o fim, o porquê.” O termo traduzido do inglês para “vida lenta” é uma filosofia pautada em desacelerar o cotidiano, sair do chamado piloto automático e aproveitar os momentos.
Os benefícios são inúmeros, desde mais dinheiro no banco até menos preocupações no cotidiano. “Qualidade de vida, em primeiro lugar, é dizer não para um trabalho que lhe exige 14h por dia de dedicação, é saber que riqueza não é material, riqueza é aproveitar um pôr do sol, tomar um banho de mar, dormir bem, não ter dores de cabeça, não ter um burnout.” Silvia ainda enfatiza que não adianta ganhar milhões e não ter tempo para nada.
“Qualidade de vida, em primeiro lugar, é dizer não para um trabalho que lhe exige 14h por dia de dedicação, é saber que riqueza não é material, riqueza é aproveitar um pôr de sol.”
Por outro lado, os malefícios são poucos. A influenciadora que já acumula mais de 9 mil seguidores no Instagram vê, principalmente, o julgamento como algo ruim. Para o público que não reconhece o estilo de vida, a falta de necessidade de mudança é vista como uma doença. Ela ainda enfatiza: “tudo é impermanente, eu tento prolongar o máximo dos prazeres por saber disso.” Acima de tudo, o minimalismo é um ato de conscientização em todos os âmbitos. Em questões sociais, de acordo com a Global Footprint Network, se todos tivessem o mesmo pensamento de uma das nações mais consumistas do mundo - os Estados Unidos - seria necessário quase cinco planetas para aguentar o consumo exacerbado e a
Silvia Henz, influenciadora digital
Veja também A queda nas vendas de salto alto atingiram 70%, em todo o mundo, com a pandemia. Porém, quedas menores já ocorriam em anos anteriores. Elas foram, na verdade, agravadas agora.
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A volta do gênero neutro
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Eduardo Veiga, Giovana Bordini, Mariana Alves e Mariana Toneti
Música sempre acompanhou a moda, mas não significa que ela obedeceu as regras de comportamento
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Vogue
Grillowho-Leonardo
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entendimento que um determinado grupo social possui sobre seus hábitos e consumos pode ser transformado por meio da cultura. Surgem marginalizadas, popularizam-se com desconfiança e, por fim, ganham espaço na sociedade: uma nova forma de enxergar o ser humano demora a receber crédito. A ideia de pertencer a mais de um gênero, ou mesmo a nenhum deles, ainda reside no campo da contracultura, lutando para conquistar ao menos a tolerância. Se há uma zona nebulosa em que tolerância e intolerância se confundem, ela é ocupada pela música. Propagadora de mensagens políticas e criadora de heróis resistentes ao tempo, a música abriu espaço para a androginia, precursora do gênero neutro. Foi exatamente por meio de novas mensagens e inesperados heróis, que essas ideias ecoaram. JAGGER, BOWIE E OUTROS REBELDES O cenário musical dos anos 1970 foi extremamente propício, principalmente com o punk americano, para a disseminação. Eles usavam roupas justas, botas de plataformas, maquiagem e penteados que complementavam a estética, “esmagando” completamente a expectativa de como homens héteros deveriam se comportar e se vestir. A difusão da moda andrógina no rock veio com os Rolling Stones, principalmente pela marcante presença de palco de Mick Jagger também. Com o álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, o camaleão Bowie também veio de encontro ao androginismo: travestiu-se, pintou-se e posou deitado em um sofá. Uma refinada dama inglesa. A ideia de ser e de vestir-se da forma que quiser, sentindo-se confiante com isso, trouxe um ponto em comum entre Bowie e seus fãs, pois ele alterava sua aparência externa conforme seu estado de espírito, tudo por meio de suas roupas. Outro fator que chamava a atenção eram as cores intensas presentes nas roupas, algo que só era possível ver pessoalmente.
AS IDEIAS DESEMBARCAM EM MATOGROSSO O país do carnaval também teve seu mestre-sala colorido, a rasgar o compasso do samba vigente: Ney Matogrosso, desfilando sobre a marcha militar que reinava nos anos 1970, conseguiu replicar no Brasil o que fizeram os músicos gringos adeptos da androginia. Escandalizar. Mas, com isso, o então vocalista da banda Secos & Molhados também conseguiu quebrar as noções do que deveria ser masculino e feminino. Em seu marcante rebolado, acompanhado, na época, de pouca roupa no corpo e muita maquiagem no rosto, ele deixou claro que seu sangue latino não ficava atrás das pulsões revolucionárias de Jagger e cia: ambos queriam representar a quebra do que um dia estabeleceu-se como “coisa de menina” e coisa de menino”. Ney é homem e gosta de ser homem, como já deixou claro em vibrante e melódico tom. Porém, não está preocupado em respeitar o que Médici ( 1969-1974) ou Bolsonaro (2019-) pensam sobre gênero. Se aos recém completos 80 anos de idade o herói Ney prova-se incansável, provou também que gerações de músicos se inspiraram em sua arte para tentar mudar. O pensamento e a sociedade.
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PERMANECE O UNÍSSONO CANTO DE LIBERDADE Seguindo os passos dos precursores, transparecendo externamente seus pensamentos e quebrando arquétipos delimitados de gênero, uma nova geração de artistas traz consigo a missão de disseminar que padrões não precisam ser seguidos. Acessórios, unhas pintadas e tendências de maquiagem atuais passaram a integrar o estilo. Em dezembro de 2020, na capa da revista mais influente de moda do planeta, a Vogue, Harry Styles apertou-se em um vestido de renda Gucci; enquanto isso, o rapper Lil Nas X arrastou a cauda de seu terno no MTV Video Music Awards 2021. No Brasil, entre os artistas que continuaram o legado de Ney estão os cantores Liniker, Johnny Hooker, Vittar, Gloria Groove e Jaloo.
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Cassia Tabatini
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Uma nota de esperança A limitação de shows presenciais e outros diversos impactos causados pela pandemia no setor musical de Curitiba deixam os artistas com altas expectativas para 2022
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Allanis Menuci, Helene Mendes, Maria Eduarda Cassins, Milena Chezanoski e Vanessa Guimarães
om um projeto musical iniciado no meio da pandemia do Covid-19, a cantora curitibana Mélany Cordeiro,19,se dedicou a investir no seu sonho, contornando os obstáculos causados pela quarentena, com a divulgação de seu duo musical pelas redes sociais, mas ela deposita suas esperanças de maior visibilidade e audiência no início de 2022. ‘’O fluxo de pessoas novas conhecendo o nosso duo é menor devido à pandemia, principalmente pelos shows serem realizados em ambientes menores e mais exclusivos, com um público bem limitado.’’
Além da instabilidade das bandeiras na capital paranaense, a cantora enfrenta questões restritivas dos locais como espaço, estilo e agenda, que acabam prejudicando. ‘’É muito difícil conseguir credibilidade em lugares novos, pois ainda estamos muito no início. Querendo ou não, a pandemia nos atrasou muito com isso, mas agora com as campanhas de vacinação em andamento e os protocolos sendo cumpridos, os locais voltam a operar e o nosso público começa a crescer, assim como o nosso engajamento nas redes”, completou ela. Em relação a fazer shows, a banda O Som-de-Brinkedo relata uma grande ansiedade para voltar em 2022, o que
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motiva a banda a continuar fazendo música. Segundo o integrante da banda e cantor Marcelo Brum-Lemos, os dois anos de quarentena tiveram pontos positivos para sua música. “A pandemia também possibilitou o momento de organização da produção pessoal. No meu caso, compus e gravei bastante e tenho lançado basicamente uma nova canção a cada 15 ou 20 dias no Spotify e demais plataformas.” Ele comenta, ainda, que sua audiência cresceu durante esse período, e que isso serviu de incentivo para sua produção de músicas. “Além dos novos singles, estou também preparando um
Duo Honeymoon ensaiando para seu show.
novo álbum com as canções do que defino como meu ‘ciclo pandêmico’”, completa Brum. A pandemia no universo da música contribuiu para o encerramento de muitas atividades musicais, seja por conta da impossibilidade de se sustentar financeiramente, pela ausência de shows ou até mesmo por não conseguir desenvolver novos projetos. No entanto, muitos artistas curitibanos aproveitaram esse momento para “debutar’’ na indústria musical e até mesmo ascender. Do ponto de vista do estudante de Produção Musical da PUCPR e artista Gabriel Cadenas, a pandemia teve seus pontos negativos e positivos. Segundo ele, algumas das coisas boas que foram possibilitadas foram o tempo para adquirir conhecimento musical por meio de softwares e cursos; o aumento de colaborações com artistas de diversos lugares e, como estudante; e a construção de um portfólio maior. Em contrapartida, Cadenas comentou sobre o aumento no custo de equipamentos para produção musical e a falta de inspiração, impulsionada pelo fenômeno pandêmico conhecido como burnout e pela falta de contato com o mundo afora. “Por você não estar saindo tanto, você tem menos inspirações às vezes. Apesar do maior tempo para reflexão, você está menos em contato com natureza, pessoas e lugares. Acho que isso complicou bastante”, relatou o estudante. Puxando para o lado de audiência, um estudo realizado no ano passado pelo aplicativo de streaming Deezer mostrou que 51% dos brasileiros estão ouvindo mais músicas do que antes da pandemia. Além disso, a pesquisa revelou que 80% das pessoas ouvem música para melhorar o humor, enquanto 34% ouvem para se sentirem menos sozinhos em tempos de isolamento social. Tanto para Brum quanto para Cadenas, a procura de música por parte dos curitibanos aumentou, o que é bom e incentiva artistas locais a fazerem e produzirem música.
Trazendo para o lado da produção, a busca por estudos na área musical aumentou significativamente pelos próprios artistas que tiveram que se adaptar às tecnologias e ao autodidatismo. Essa é uma percepção positiva do produtor cultural e fundador da Curitizoom, Luciano Moro. “Muitos artistas tiveram que ser seus próprios produtores no momento pandêmico para poder sobreviver e para poder continuar produzir sua arte.” A música curitibana não é algo muito presente nas grandes paradas nacionais. A falta de visibilidade e investimento por parte de setores públicos - e ainda agora com a situação da pandemia - dificultou ainda mais o posicionamento de holofotes para artistas musicais da capital paranaense. Enquanto nomes nacionais grandes como Marília Mendonça, que morreu em um acidente aéreo em novembro passado, Anitta e a banda Lagum, por exemplo, conseguiram patrocínios para realizar lives, shows online e outras atividades, artistas locais enfrentaram uma grande dificuldade em achar lugar dentro dos gigantes da música brasileira. Para isso, os músicos locais precisaram encontrar alternativas para produzir música e gerar rentabilidade. Luciano Moro comentou que, apesar dos poucos editais de ajuda do município, especificamente vinculada à Fundação Cultural de Curitiba, essa foi uma das principais alternativas para ajudar o pessoal que lida com música. Com a impossibilidade de ajudar todos os artistas, muitos tiveram que buscar suas próprias maneiras de pagar as contas e conseguir novos fãs. Rentabilidade na música Segundo pesquisa feita pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), durante a pandemia, 86% dos 883 músicos pesquisados tiveram sua renda afetada significativamente, enquanto 30% dos trabalhadores do setor perderam toda sua renda. Com a impossibilidade de shows e turnês, artistas apostam nas redes sociais para se manterem durante a pande
editoria cultura | revistacdm 65
mia. Plataformas de streaming e lives têm sido a melhor alternativa para quem quer se manter no setor musical. Na capital paranaense, além da pandemia, o setor ficou desfalcado em relação a sua representação. De acordo com a unidade curitibana da Ordem dos Músicos do Brasil, o período marcou também uma ruptura em sua direção, fato que paralisou completamente suas atividades nesse momento que já era complicado. A entidade não quis dar maiores explicações sobre o ocorrido. No cenário nacional o sancionamento da Lei Aldir Blanc, foi o que propôsauxílio aos músicos e empresas do setor, já que a lei oferece mecanismos de apoio financeiro neste setor. O artista paranaense e proprietário da produtora Cia Ilimitada, Marcio Juliano, destaca que, apesar de a lei ter dado uma esperança, o momento gerou muita instabilidade, principalmente no seu trabalho, que é voltado para o teatro. “Nosso ofício é das artes vivas! Estar no teatro para eventos das artes cênicas e da músicaé o que faço nos últimos 20 anos.” O músico reforça que o ambiente online é muito complexo, e seu retorno financeiro é mínimo, mesmo assim suas expectativas para o próximo ano são de voltar ao teatro já em março, com propostas de trabalho na região e até fora do Brasil, com seus trabalhos Contos e Outro Samba. Marcelo Freitas é sócio da Academia do Rock, conhecida escola de música na capital paranaense, e sentiu que, por mais desafiadora que tenha sido, a pandemia foi um período fértil para a criação e encontrar maneiras de ganhar dinheiro com a música. De acordo com ele, a presença nas plataformas digitais é a chave. “O músico tem que conhecer o seu nicho e marcar presença constante nas redes sociais para divulgar o seu trabalho.” Mesmo assim, Freitas conta que viu colegas recorrerem a bicos de frete e até vendendo instrumentos para sobreviver. “Muitos músicos tentaram sobreviver do auxílio emergencial, fazendo shows online (lives com QR
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CODE para doações), serenata por WhatsApp. Enfim, teve de tudo na pandemia.”
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O empresário ainda salienta que, provavelmente, os professores de música, que conseguiram migrar para as aulas online, tiveram mais êxito em continuar vivendo de música.
Gabriel Cadenas fez shows antes da pandemia.
Mas isso não ocorreu com todos os artistas. Como já foi dito anteriormente, a maioria teve dificuldade em se adaptar às formas de produzir e criar música online de uma forma independente. Muitos músicos ainda não têm condições de investir em equipamentos e produção que o permitam um conteúdo de qualidade para tentar se equivaler a artistas que têm contratos com gravadoras e toda uma produção profissional por trás. Consequentemente, a rentabilidade acaba diminuindo.
“Afine-se” que era realizada no auditório do Conservatório passou a ser produzida com gravações de responsabilidade dos professores, e transmitida no perfil do Facebook da instituição. “Isso foi um desafio também para os professores, que além de dar as aulas, eles tiveram que mostrar esse resultado.” Mesmo com as dificuldades, o conservatório não se apressa em retornar ao presencial, pensando também nos alunos que não são de Curitiba e se inscreveram para participar das aulas neste formato. “O que provavelmente vai acontecer é que nós trabalharemos com com os professores trabalhando com turmas presenciais e online paralelamente.”
Aprender a tocar No Conservatório de MPB de Curitiba, as aulas não paralisaram por conta da pandemia. Mari Lopes Franklin, coordenadora pedagógica da instituição, afirma que boa parte dos alunos aderiu bem ao ambiente on-line, tendo apenas 10% de desistência no início de 2020. Em relação aos professores, apenas dois não conseguiram migrar o curso para o online, e claro, cursos de prática não puderam continuar.
Leia mais Ouça as músicas dos artistas curitibanos aqui no QR code ao lado ou no Portal Comunicare. portalcomunicare.com.br
Mari conta também que a apresentação de encerramento dos cursos
Mas quanto ganha um artista brasileiro?
Um estudo realizado no início de 2021 pela empresa zoOme comparou diversos aplicativos de streaming e sua rentabilidade para cada artista que possui sua(s) obra(s) nestes. Os valores são bem baixos e são baseados por número de vezes que a música foi tocada em dispositivos ao redor do mundo. Como se pode perceber na tabela, cada aplicativo monetiza o artista de uma maneira diferente. Para um artista brasileiro que tem sua música em plataformas
de streaming como o Spotify, é preciso que seu conteúdo alcance, pelo menos, 60 mil visualizações para que o músico consiga ganhar um salário mínimo (R$1.102). É importante ressaltar que o número de escutas que realmente é monetizado se refere apenas aos usuários premium das plataformas. No caso do Spotify, que possui mais de 340 milhões de usuários mensais, menos da metade estaria monetizando os artistas por ouvir suas músicas.
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Terror no cinema O terror psicológico se destaca como o gênero mais envolvente e assustador
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HISTÓRIA DO TERROR Após um ano depois da primeira exibição pública do cinema em Paris, o gênero de terror já chegou nas telas. Em 1896 foi lançado O Castelo do Demônio, dirigido pelo George Méliès e teve a duração de apenas dois minutos. Pela Primeira Guerra Mundial em 1919, o cinema de horror foi fortemente influencíavel pelas crises e tragédias decorrentes da época, como no movimento de Expressionismo Alemão. O que mais se destacava eram cenários distorcidos, personagens com maquiagens carregadas e filmagens que aprofundam essa deformação. Algumas grandes obras desse período são O Gabinete Do Dr. Caligari (1919), A Morte Cansada (1921) e O Estudante de Praga (1926). Já com a chegada da Segunda Guerra Mundial o cinema foi se aprimorando e ganhando mais cores nas telas, e, consequentemente, o mundo do horror apostou em sangue vermelho e muitas vísceras. Com isso surgiu o marco do gore, subgênero que é marcado por muita violência, sangue e restos mortais. De fato, não é para qualquer um. Entrando na década de 1980, os filmes de terror começaram a ganhar ícones contemporâneos como Freddy Krueger, Jason e Chucky.
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TERROR PSICOLÓGICO O subgênero psicológico vem conseguindo cada vez mais espaço, grandes sucessos de bilheteria deixam de se voltar ao sangue e acontecimentos sobrenaturais, e agora focalizam em uma abordagem agoniante, desconfortável, paranóia e até de perseguições mentais. Esse tipo de horror começou pela história com o clássico O Iluminado (1980), se consolidando alguns anos depois com outros títulos como O Silêncio dos Inocentes (1991) e O Sexto Sentido (1999). O fascínio pelo real junto com adrenalina e o suspense do gênero pode cativar as pessoas pelo simples fato de ser amedrontador, e ao mesmo tempo totalmente plausível. Lembrando que não é necessário a incorporação de situações sobrenaturais ou gore para ser um terror psicológico assustador. O desconforto e desespero interno causado por motivos simples podem ocasionar uma agonia digna de horrorizar seu público-alvo. Um grande exemplo do tipo de situação que pode ocorrer em nosso dia a dia (mas de maneira exagerada) é o filme Mãe! (2017), no qual conta a história de uma dona de casa supreendida por visitas repentinas em sua casa. Que após um tempo, acaba perdendo o controle da própria situação onde vive.
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SUBGÊNEROS DO TERROR O terror no cinema não se adequa apenas ao clássico jumpscare da coisa, no qual o foco é causar sustos com cenas e barulhos repentinos. Após mais de 100 anos nas grandes telas, o universo do terror vai desde vísceras para fora até abordagens psicológicas, não faltando temas para todos os gostos. Vamos começar pelo subgênero de um grande clássico: o body horror. Nele serão feitas as violações do corpo humano. Elas podem ser desde mutilações, zumbificação, doenças ou transformações não-naturais, um exemplo desse gênero é O Bebê De Rosemary de 1968. Indo para algo mais de caça humana, entramos para subgênero o slasher, no qual um psicopata mata e vai atrás de um grupo de pessoas. Grandes clássicos já vieram desse tipo de horror, como O Massacre Da Serra Elétrica (1974), A Hora Do Pesadelo (1984) e Pânico (1996). O próximo genero é o sobrenatural. Nele, estão inseridos seres como demônios, assombrações, vampiros e exorcismos, em filmes como O Exorcista (1973) e Poltergeist - O Fenômeno (1982). Outros subgêneros são os thrillers com uma pegada mais do suspense; trash, com enredos e atuações toscas; found footage, feito de maneira documental, e, por último o gore, já muito conhecido e citado aqui nessa coluna.
CURTAS Reprodução/Labirinto do Fauno
Os curtas de terror também estão ganhando bastante popularidade, principalmente entre os jovens nas redes sociais. Essa variedade de conteúdo no meio cinematográfico abre portas para conversas em páginas de discussão, em que o público deixa suas críticas, teorias e comentários sobre determinada cena ou personagem. Uma das produções mais bizarras que fascina e aterroriza os telespectadores é o curta “Other Side of the Box” (2021), em sua tradução “Outro Lado da Caixa”. Neste filme, um dos personagens recebe uma caixa misteriosa que não pode sair da vista de quem está por perto. A tensão é criada desde a carta que acompanhava a caixa até a cena final, que não traz respostas, mas ainda mais perguntas.
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O Labirinto do Fauno (2006) retrata a vida de Ofélia durante a Guerra Civil da Espanha em 1944, que descobriu um labirinto mágico cheio de criaturas da floresta. Reprodução/Other Side of the Box
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JORNALISMO PUCPR
Há 60 anos formando profissionais com capacidade de discutir o passado, com o olhar crítico do presente, moldando a história do futuro.
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