O peso da vida Anorexia e bulimia nervosa estão entre os principais transtornos alimentares que atingem adolescentes. Jovens contam suas histórias de batalha contra a distorção de imagem Alerta de gatilho: transtorno alimentar Beatriz Tsutsumi Camila Acordi Maria Vitória Bruzamolin Sarah Guilhermo
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transtorno alimentar é como uma doença invisível. Inúmeras pessoas carregam essa angústia com comida de forma imperceptível aos familiares e amigos da pessoa enferma. A história de Anna Ulson, 18 anos, foi assim. Ela se considerava uma pessoa extrovertida antes de desenvolver anorexia na pré-adolescência, quando se isolou de tudo. “Eu me via gorda, mas conseguia sentir meus ossos”, desabafou a estudante, que ficou internada no começo de 2019. “Não queria admitir que tinha essa doença, é muito ruim saber que você está se enganando. Em quem vou confiar se não em mim mesma?”. O transtorno é como tentar encaixar as peças erradas de um quebra-cabeça. Anna foi internada no meio do ensino médio. Ela conta que seu coração batia muito devagar. A jovem passou por situações absurdas com os médicos durante o evento. “Tive médicos que prescreviam muita comida para mim e eu dizia: ‘Meu estômago não aguenta’, e eles respondiam, ‘Ou você come, ou eu te coloco numa sonda”. Anna se lembra do que a médica disse para sua mãe quando seus órgãos começaram a falhar: “Não tem mais o que fazer, essa menina vai desligar”. O sentimento de Anna foi neutro. “Foi o momento mais estranho da minha
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vida. Eu não conseguia sentir nada, não não fiquei triste, não entrei em desespero”. Então, voltou a viver como se nada tivesse acontecido. Ela diz como não queria ficar na cama e com isso realizou o sonho de fazer dança. Certo dia após a aula de zumba, chegou em casa sentindo fome e se juntou à mãe na mesa de café. Voltou a ganhar peso e a tratar a obsessão. Essa jornada fez com que Anna melhorasse muito, mas ela nunca relaxou o suficiente por medo de ter recaídas. “Hoje em dia, me vejo 100% melhor do que era, mas sei que preciso me cuidar.” E existe algo sombrio sobre autocontrole que a comunidade de transtornos alimentares compartilha entre si. “Eu não gostava de sentir a doença, eu não gostava que ela fizesse parte da minha vida mais do que já fazia”, conta Lucas*, estudante de Direito, 20 anos. A história do jovem com a anorexia começou aos 15 anos, quando na puberdade ele cresceu e sua figura se tornou mais esguia. “As pessoas achavam bonito, e eu também achei’’, disse o estudante. “Fui inconscientemente tomando modos não saudáveis e perdi a mão.” Sua família notou que havia algo errado no momento em que ele estava abaixo do peso e não se alimentava mais.