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A SIRENE PARA NÃO ESQUECER
Junho de 2020 Mariana - MG
A pandemia não parou a
mineração
No dia 1º de abril, foi divulgada a nota unificada “Paralisar a mineração por nossas vidas”, após o ministro de Minas e Energia do atual Governo Federal, Bento Albuquerque, lançar uma portaria que incluiu as atividades mineradoras como essenciais, em 28 de março, e a confirmação do primeiro óbito pela Covid-19 em Mariana ser de um terceirizado da Renova/Samarco/Vale/BHP Billiton. O intuito é de pressionar e gerar mobilização pela segurança dos(as) trabalhadores(as) do setor minerador e da população em geral. A nota foi assinada por diversas entidades, como a Federação das Associações de Moradores de Mariana (FEAMMA) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Por Darcy Carvalho, Letícia Oliveira e Mauro Silva Com o apoio de Wigde Arcangelo
Defendemos, tendo como referência, as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que o isolamento social seja a medida fundamental e prioritária para a “contenção” do avanço deste vírus. Sendo assim, as mineradoras, por mais que tomem medidas preventivas, não garantem, em sua total integridade, o não contágio ou transmissão e, como consequência, a plena garantia da saúde de seus funcionários. A vida não tem preço e deve ser prioridade acima de tudo, até mesmo sobre a produção, venda e lucro. Com ou sem pandemia, a dependência financeira da mineração não se altera em nada. Ela é inegável: não tem o que se discutir! Porém estamos vivendo um momento atípico. O foco é (e tem que ser) outro. Quarenta anos explorando e lucrando não permitiriam, às empresas mineradoras locais, paralisarem suas atividades por alguns meses, garantindo os salários de seus funcionários? Provavelmente, sim! Darcy Carvalho, secretário da FEAMMA O papel dos governos diante dessa questão deveria ser mais enérgico. Visar menos o lado financeiro do arrecadador de impostos. Os “benefícios” que a mineração gera, porque a Vale vem garantindo subsídios para hospitais e máscaras, ela usa isso como propaganda, tanto que todos os meios de comunicação têm propagandas vinculadas à Vale. Ela deve gastar muito mais com mídia do que o fato propriamente dito de ajuda. Há um interesse na imagem, que já vem arranhada desde o rompimento da barragem de Fundão. Ela quer melhorar essa imagem perante a sociedade e os investidores. Mauro Silva, morador de Bento Rodrigues As reivindicações da nota ganharam força após virem a público denúncias de trabalhadores contaminados pelo novo coronavírus nas obras de reparação da Renova/Samarco/Vale/BHP Billiton, que voltou a operar após aprovação, pela prefeitura, de um plano de segurança. Embora a Renova não seja uma mineradora, é importante relembrar que sua existência se deve aos crimes cometidos pelas empresas do setor. A prefeitura de Mariana, na nossa opinião, foi bem omissa em ter liberado a volta das obras da Renova, porque estava claro que não seria cumprido nada do que ela prometeu. Nós sabemos também que a Renova quer fazer as obras nesse momento, porque os atingidos não podem fiscalizar, não podem se reunir para questionar. Mais de 45% das famílias atingidas da comunidade de Bento Rodrigues estão insatisfeitas com o reassentamento. Em Barra Longa, a Renova já apresentou, para algumas autoridades, um plano de retomada das atividades no município. Os atingidos estão muito apreensivos com essa possibilidade por entenderem que Barra Longa é pequeno, ainda não tem nenhum caso de coronavírus, mas, com a volta às atividades da Renova, pode haver uma chegada de trabalhadores que podem levar o vírus para a cidade. Não se deve voltar às atividades da Renova em Barra Longa, porque não é o momento. Letícia Oliveira, coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) As comunidades atingidas não são tão egoístas ao ponto de quererem que as obras sejam entregues a qualquer preço. Isso pode custar vidas e a gente não quer dessa forma. No meu ponto de vista, agora é hora de ter calma, sabedoria e ver o melhor momento para a volta das atividades nos canteiros de obra. Temos urgência, mas, acima de tudo, queremos que seja com responsabilidade. Mauro Silva, morador de Bento Rodrigues