A Sirene - Ed. 83 (Março/2023)

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PARA NÃO ESQUECER | Ano 8 - Edição nº 83- Março de 2023 | Distribuição gratuita
SIRENE
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CÂMARA DE MARIANA E RENOVA DISCUTEM REPARAÇÃO SEM PESSOAS ATINGIDAS

28 de janeiro

Parlamentares de Mariana se reuniram no final de fevereiro com representantes da Renova para discutir a prestação de contas da organização. A Renova apresentou imagens de obras que considera concluídas — em muitos casos, à revelia das comunidades atingidas — no reassentamento de Bento Rodrigues e em outros subdistritos, além de informar obras previstas para serem entregues em 2023, entre as quais o reassentamento de Paracatu de Baixo, que também está atrasado. Nenhuma pessoa atingida foi convidada pela Câmara de Mariana para participar do debate. As reuniões vêm sendo realizadas às terças-feiras, sem calendário fixo, segundo a Câmara Municipal de Mariana.

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

A Associação dos Atingidos pela Barragem de Fundão para a Comunicação, Arte e Cultura, convoca os atingidos e atingidas pela barragem de Fundão para uma assembleia de eleição e posse da nova diretoria da associação mencionada acima e alteração do estatuto vigente, a realizar-se no dia 23 de março, às 18h, no auditório do Sindicato METABASE, na rua Bom Jesus, n. 314 — Centro, em Mariana.

ATENÇÃO!

Não assine nada

Em caso de dúvidas sobre o conteúdo, conte com a ajuda de um advogado ou qualquer outro especialista.

Se te pedirem para assinar qualquer documento, procure o Ministério Público ou a Comissão dos Atingidos.

EXPEDIENTE

MINERADORAS DEVEM PROVAR QUE NÃO CAUSARAM DANOS À SAÚDE DAS PESSOAS ATINGIDAS

31 de janeiro

O juiz federal Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar, da 4a Vara Cível e Agrária de Belo Horizonte, determinou o “ônus da prova” às mineradoras Samarco, Vale e BHP em relação aos danos à saúde das pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, em 2015. Passa, então, a ser responsabilidade das mineradoras provar que não são responsáveis por problemas de saúde física e mental decorrentes do desastre-crime. A decisão seguiu uma série de problemas nos estudos realizados pelo Grupo EPA, contratado pela Renova..

COMISSÃO EXTERNA FISCALIZA REPACTUAÇÃO

14 de fevereiro

A comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha as reparações dos rompimentos das barragens de Fundão (Samarco/Vale/ BHP), em 2015, e da Mina Córrego do Feijão (Vale), em 2019, foi recriada em fevereiro, nas primeiras semanas do ano legislativo. O deputado Rogério Correia (PT-MG), que já vinha acompanhando a repactuação dos acordos judiciais relativos à reparação de Mariana, pediu a criação do colegiado e será o coordenador do grupo. Serão, ao todo, 11 parlamentares, 7 de Minas Gerais e 4 do Espírito Santo.

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Mariana - MG
PARA NÃO ESQUECER Março de 2023
A SIRENE 2
AGRADECIMENTO ESPECIAL

Opinião

Papo de Cumadres: quantas pessoas morrem quando morre alguém?

Concebida e Clemilda estão tentando quantificar quantas pessoas morrem, um tantão ou um pouquinho, quando, como disse Rolando Boldrin, que neste cenário, vão antes do combinado.

— Ô cumadre, eu tava aqui matutanu quantas pessoas morrem por carsa da molte de argúem.

— Nunca emus de saber u celtu, pois cada qual morre dum geitu, purtantu, ni nois, cada molte faz um efeitu.

— Tô cumeçano a entender a molte desse seu jeitu, se nois pensá que us 19 que morreram em Bentu por causa du rompimentu carsô na vida de quem ficô muito mais dor do que madrinha fulô, que só fartô 13 dia pra nois dizê 100 ano ela completô.

— E parece pelo semblanti que morreu sem sentir dor, deixandu a missão cumprida nesta longa vida, já u povo que morreu du rompimentu passou por grande turmentu, us que nós pudemos ver u rostu, nele tava estampado u tamanhu du sufrimentu.

— Intão comadre minha minina, eu chegu a ficá tonta quandu tentu fazê essa conta, de quantas pessoas morreram por conta destes mortu.

— U dia que nois consegui encontrá u númeru de quantos morre por arguem que vai fora du combinado, neste cenário disgraçadu, aí nois multiplica por 19 e u resultado nois eleva por um abortu, intão este teorema mortuário se for devidamente distrinchadu, não neste chão de fel, mas por santidades que mora lá nu céu, então neste momentu teremus u resurtadu exatu da dor e du sufrimento carsadu pelu rompimentu.

— Se em cada corpu sufridu a molte dum parente ou dum amigu, com uma mortalha fosse cubridu, tampariamus u chão de pretu e siguindu pelu asfartu daqui até Brumadinho com u caminho todu quadriculadu até corgu du feijão, onde

teriamus que fazer uma outra expressão, multipricandu aquele númeru por 272 e somadu ao resurtado achadu em Fundão, cubriria todu us vale, que em apenas dois dia morreram pelas mão da Vale.

— Princípio do cristianismu, cada corpo morto pela dor, faz parte du corpu de Cristu, que por nois morreu por amor.

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Foto: Sérgio Papagaio

“Isso é uma das tristezas que mais dói na minha alma”

O rejeito de minério liberado após o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, percorreu cerca de 550 km, passou por grande parte do estado de Minas Gerais e, no Espírito Santo, encontrou o Oceano Atlântico. Engana-se, entretanto, quem pensa que os impactos diminuem ao longo do caminho. Em cada cidade, distrito e povoado atingido pelo crime-desastre, é possível ouvir histórias de pessoas que convivem há mais de sete anos com os danos causados pela negligência das mineradoras que, além de provocarem o impensável, também ocasionam dor e sofrimento ao negarem às pessoas os seus direitos.

Em Ilha Brava, povoado de Governador Valadares, localizado a 328 km de Mariana, cerca de 20 famílias resistem, com imensa dificuldade, às adversidades geradas pelo crime da Samarco, Vale e BHP.

O território margeia o Rio Doce e é composto por pequenas ilhas, usadas pela população para o plantio de frutas, legumes e hortaliças que, além da pesca, foram fontes de renda durante gerações. Desde o rompimento da barragem, o cenário mudou drasticamente: a produção diminuiu e a confiança de quem produz e de quem consome também. Anualmente, nos períodos de chuvas, ocorrem enchentes que, além de desabrigarem moradores e moradoras, destroem as plantações. Segundo relatos, o nível da água sempre subiu, mas não na intensidade, frequência e potência devastadoras de hoje. Quando o nível da água desce, o que sobra é apenas uma densa lama que mata as plantações, adoece os animais e até condena casas.

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Joelma semeia novas plantas em volta da ilha Por Joelma Fernandes e Arli Francisco Com o apoio de Crislen Machado Acumulo de minério de ferro na porta da casa Após o desmoronamento de sua casa devido a uma enchente, Joelma constrói um novo lar Fotos: Crislen Machado Plantações destruídas após as enchentes Plantas danificadas após enchentes com rejeito de minério

“Eu nasci às margens do Rio Doce, tirando areia, virando cascalho. Sempre tivemos a ilha pra plantar. Tínhamos o peixe e o rio para nadar, mas, desde 2015, eu nunca mais dei um mergulho no meu rio. Isso é uma das tristezas que mais dói na minha alma. Eu nasci dando braçadas nesse rio, sendo moleca. Eu tenho 47 anos, mas todo mundo tem uma molecagem por dentro e essa era a molecagem que eu gostava de fazer. É lembrar de banho no rio e sentir vontade de chorar. Se quiser arrancar meu choro é fazer eu lembrar que eu mergulhava nessas águas. Eu, meus filhos, meus netos, era nossa diversão, mas aí eles vêm e modificam nosso jeito de viver e ainda nos tratam como criminosos. Uma inversão de valores!

Todo ano é isso aqui, minha propriedade é invadida pela lama, perdi minha couve, milho, tem lugar aqui que não dá nem pra chegar por causa da lama. Tá vendo aqueles tijolinhos ali? Minha casa era lá, mas, ano passado, eu a perdi. O rejeito entrou dentro da minha casa e acabou destruindo, e eles querem pagar uma mixaria. As contas só vão aumentando, eu resisti até quando pude. Até o ano passado, eu só tinha recebido o cartão emergencial, mesmo assim, eles cortaram.

Irrigação minha se perdeu, esse rejeito maldito entra dentro dos canos. Antes era areia e, quando secava, saía, era só virar. Agora esse rejeito, depois que entra, nada tira.

Cada cano desse aí, comprado em novembro do ano passado, saiu em média 80 reais. Maquinário de irrigação, por exemplo, manutenção que era feita uma vez por ano, agora tem que fazer a cada três ou quatro meses,

porque o barro entra lá dentro e corrói as peças do motor tudo.

É muito difícil, até onde deu pra aguentar, eu aguentei. Tô tentando colocar minha casa de pé de novo e é um trabalho de formiguinha pra chegar até aqui. Tudo trazido dentro do saco, aos poucos. O caminhão bate o material lá no porto, a gente ensaca e traz uns cinco ou seis sacos em cada embarcação, pra não ficar muito pesado. Mão de obra tá difícil de achar e eu tô nessa luta desde o ano passado, apesar de não ser uma casa grande, são só três cômodos.

Mesmo assim, eles querem oferecer pra gente migalhas, mas, se a gente não pega essas migalhas, o tempo só vai passando, o dinheiro perde o valor e, infelizmente, eu vou ter que aceitar o que eles oferecem. Minha vontade é não aceitar, porque eu perdi muita coisa. Mas é o que eu tenho que fazer, meu jeito de tirar o sustento da minha família é daqui. Minha família não sabe fazer outra coisa e é o que a gente gosta de fazer. É um direito nosso, como eleitores nesse país, trabalhar de forma lícita e honrosa, plantar, colher, viver da forma que a gente gosta de viver.”

Tem uns dois anos que eu parei de plantar e de pescar, porque ninguém compra, ninguém confia. Hoje, trabalhando pra fora, eu não tiro nem metade do que eu tirava. Eu pescava e vendia, plantava hortaliças, muitas coisas. Hoje, quando consigo pegar um peixe, ninguém compra.

Eu morava ali na beira do rio, era caseiro, meu patrão deixava eu plantar uma chácara pra mim e eu vendia feijão, milho, couve, de tudo. O salário era pouco e as vendas completavam. Hoje eu mudei de casa, preciso comprar tudo, diminuiu bastante o lucro e aumentou o gasto. Lá eu não pagava luz e nem água, agora eu pago tudo isso.

E essa água daqui não tá boa pra consumo, tem que comprar. Se você beber essa água aqui por dois meses, o seu rim pesa uns 50 kg a mais só de minério. O cara que fala que essa água tá boa não sabe o que tá falando, não mora aqui.”

“Sou agricultor, pescador de barranco e sempre vi enchente aqui, mas nunca foi como é agora. Parece que o rio aterrou, qualquer chuva que dá, a água vem cá em cima. Antigamente, não subia tanto. Hoje atrapalha pra plantar as coisas, mata as plantas tudo, nem adianta plantar. Planta e toma prejuízo. Eu parei, não adianta plantar. Agora eu vivo fazendo bico.

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Parte dos materiais de construção usados por Joelma para reerguer sua casa Joelma Fernandes, moradora de Ilha Brava Margem da ilha coberta de rejeito Fotos: Crislen Machado Casa prejudiada pelas enchentes recorrentes Arli Francisco, morador de Ilha Brava

“Põe o trator na minha mão que eu resolvo isso em meia hora”

Na estrada de terra que divide Bento Rodrigues do reassentamento, a comunidade precisou, mais uma vez, convocar uma reunião com a Renova para reivindicar o acesso ao território original. Desde o ano passado, quando a entidade se comprometeu a fazer manutenções na via, a situação não melhorou. Devido ao período de chuvas que se estende até o fim de março, a Defesa Civil interditou a passagem por questões de segurança, o que dificultou as tradicionais celebrações que acontecem no Bento origem.

Para chegar até lá, enquanto isso, moradores e moradoras precisam passar por Santa Rita Durão ou Santarém, caminhos mais longos e inseguros, por dentro da área industrial da Samarco e próximo a barragens.

Estavam presentes para tentar uma solução, no dia 8 de fevereiro, representantes de Renova, Samarco, construtoras, Defesa Civil, Cáritas e Câmara Municipal, pela Comissão de Obras. A Vale foi convidada a participar, mas não compareceu. Para levar as demandas, representantes da Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF).

Durante a reunião, houve dificuldade em responsabilizar alguma das empresas presentes pela má execução do projeto anterior. A Renova se absteve ao dizer que não tinha liberdade para modificar o percurso, já que ele está em propriedade da Vale e não teria sido resultado do rompimento da barragem de Fundão. Enquanto uma resolução não surgia, mais um problema foi encontrado. A água empoçada em um dos trechos é mais um risco de desabamento. No entanto, novamente a Renova, responsável pela estrada, não sabia de nada.

A manutenção anterior ocorreu entre agosto e outubro de 2022. Devido às irregularidades, a terra voltou a ceder e a impedir a passagem (falamos sobre isso nas edições 72, 74 e 80). Naquele momento, pessoas atingidas de Ben-

to Rodrigues reabriram a estrada em um esforço coletivo, e temem que isso tenha de ser feito novamente.

A Câmara Municipal se encarregou de relatar, em um documento com fotos, as demandas e encaminhar para as mineradoras responsáveis. Nenhuma data foi estabelecida para a execução das obras.

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Por Mônica dos Santos, José do Nascimento Jesus (Seu Zezinho) e Sidney Sobreira (Dinei) Com o apoio de Livia Salles O tráfego de veículos pesados das mineradoras e Renova é apontado como uma das causas do problema Obras já mostram problemas de contenção com várias rachaduras Fotos: André Carvalho Vereador Marcelo Macedo cobra da Renova condições estruturais de trânsito pela estrada para fiscalização ocorrer Em meio às instituições presentes, Mônica, Dinei, Seu Zezinho expõem os problemas e reivindicam soluções definitivas

Março de 2023

“Essa demanda não é de agora, é desde o ano passado. A situação chegou a esse ponto porque a Fundação Renova tem a função de reparar os danos, e isso não vem acontecendo. No ano passado, nos foi passado que a Renova entendia que não era obrigação dela executar a obra, mas, por bondade, ela ia ceder a verba e fazer a contratação da empresa para executar, e o município ia entrar com a fiscalização.

A obra começou no final de agosto e, no dia 12 de outubro, o caminho foi liberado pra gente. Posterior a isso, não se viu mais movimentação de funcionários mexendo no acesso e, desde então, a gente questionou. Não precisa entender de obras, nem ser engenheiro, pra ver que a obra não foi executada como deveria e que a gente voltaria a ter problemas nesse ponto de novo, e aqui estamos.

Ano passado, a gente mendigou pra Fundação Renova colocar uma placa pras pessoas que fazem esse percurso terem ciência do que estava acontecendo, porque muita gente vinha e se deparava com o buraco, então quem não conhecia a estrada corria um grande risco. A placa só foi colocada depois que abrimos o acesso, mas para alertar os funcionários.

O que eu quero saber é o seguinte: a gente vai ficar mais nove meses esperando pra ver se a Renova vai executar a função dela? Eu espero sair daqui com uma resposta, já que tem gente aqui de todos os órgãos que deveriam estar. Espero sair daqui com um cronograma de quando o acesso vai estar liberado pra gente. Espero que não seja preciso que nós, moradores, tenhamos que executar a obra como a gente fez ano passado.

É responsabilidade da Renova sim. Antes do rompimento, essa estrada que a gente está não era a estrada principal, esse foi o acesso que os moradores abriram. E isso é consequência do rompimento da barragem sim, pois a Fundação Renova, que foi constituída para reparar os danos e manter a estrada, não fez o trabalho com a urgência que precisava. Tem vários ofícios em que a comissão pede essa manutenção, e foi por isso que a estrada cedeu.”

Mônica dos Santos, moradora de Bento Rodrigues

“Quantos anos o Bento tem? Quando nós morava no Bento, quem conservava os acesso tudo era a gente. Passava por aqui todo dia caminhões com 120 toneladas de bauxita e nunca deu problema na estrada. Quando a Vale comprou esse terreno, e ali tá a placa que fala que aqui é propriedade da Vale, o Bento já tinha 300 anos. Se quiser, eu venho fiscalizar sem ganhar um centavo. A Renova foi criada pra quê? Pra sanar todos os danos, igual ou melhor. Eu falo com consciência, tá tudo pior. Põe o trator na minha mão que eu resolvo isso em meia hora.

O que a Renova cumpre? Fica a pergunta no ar. Não existe nada que pede para Renova que é cumprido. A gente tá cansado, como comissão, de mandar ofício e a Renova não responder. É cinco ou seis meses pra responder. Tá tudo pior que nós tinha. É doído ver gente da Renova que só quer ‘mamar’, não executar a obra, desculpa a franqueza.”

José do Nascimento Jesus (Seu Zezinho), morador de Bento Rodrigue

“Eu quero colocar que estamos fazendo várias reuniões pra resolver um assunto. A gente vai na Renova, cobra a Renova e a Renova vai na prefeitura. Poxa, de quem é a responsabilidade? Va-

mos fazer mais quantas reunião pra que isso seja resolvido? Basta querer. Máquina tem demais na Renova, dinheiro tá jogando fora. Eu não consigo entender, tem gente criando obstáculo. E a gente vai abrir, a gente quer nosso caminho. A gente vai abrir na enxada. Tá passando carro de firma toda hora aqui, por que nós não podemos passar? É proibido pra nós e pros outros não.”

Sidney Sobreira (Dinei), morador de Bento Rodrigue

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Mesmo à pé é difícil caminhar por diversos pontos da estrada Pista interditada pela Defesa Civil cerca de três meses depois da conclusão das obras da Renova Fotos: André Carvalho

Renova ignora problemas antigos e lança projeto de cadastramento de 1.073 novas pessoas

No último dia 7 de fevereiro, a Renova realizou uma reunião no auditório do Colégio Providência, na sede de Mariana. Na ocasião, representantes da empresa falaram sobre o cadastramento de 1.073 pessoas, moradoras e moradores do município, que solicitaram o serviço após a Cáritas ter sido impedida de prosseguir com novos registros.

O início do processo cadastral em Mariana ocorreu em fevereiro de 2018 e foi realizado exclusivamente pela Cáritas, mas, a partir de 15 de julho de 2021, a responsabilidade do cadastramento passou para a Renova.

A coordenadora do projeto de Assessoria Técnica Independente (ATI) dos atingidos de Mariana à época, Laís Jabace, explicou sobre os motivos que levaram a Cáritas a finalizar os trabalhos: “foram realizadas duas audiências em fevereiro de 2020. Nelas ficou estabelecido que a Cáritas não mais poderia realizar novos cadastros. Em fevereiro de 2020, fomos orientados a não coletar mais nomes e realizar novos cadastros. A partir de então, o que a gente fez foi finalizar as listas que já estavam conosco. Durante esse período de quase um ano e meio, ficou em disputa um processo de negociação sobre quem iria realizar novos cadastros, como seria essa realização, qual instituição faria, até que chegou a esse lugar. É por isso que ele é posterior, ele é definido em 15 de julho de 2021, mas nós estávamos impedidos de pegar novos nomes desde fevereiro. Na verdade, se fez uma decisão com data retrocedente. Na decisão, nós não poderíamos pegar nomes a partir de 2019, então, nós não pudemos cadastrar as famílias que nos procuraram a partir de janeiro de 2020 e encaminhamos os contatos para a Renova”.

Ao longo dos anos, os problemas relacionados ao cadastramento de moradores de Mariana e seus distritos se diversificaram e multiplicaram. Muitas dúvidas surgiram durante a reunião, entre elas, a necessidade de cadastrar os novos núcleos e pessoas que enfrentam problemas relacionados à divisão de heranças.

Todavia, as questões levantadas foram prontamente descartadas, pois, como enfatizou a equipe mobilizada pela Renova para o encontro, aquele momento era apenas para comunicar, de forma geral, o início dos trabalhos de cadastramento das pessoas que ainda não foram registradas pela Cáritas ou pela Renova.

A metodologia proposta pela empresa conta com entrevista presencial, coleta e registro de dados, levantamento de documentação (fotos para anexar ao formulário), entrega do formulário impresso e disponibilização do PDF no portal do usuário. O laudo e todo o processo cadastral será realizado a partir da autodeclaração e checagem da documentação. É importante lembrar que pessoas jurídicas precisam de documentação contábil. Também serão realizadas vistorias nos territórios possíveis. O cadastro em questão promete contar com a correção da perspectiva patriarcal que guiou o processo anterior e acumulou críticas. Anderson Jesus de Paula, morador de Paracatu de Baixo, relembrou os problemas do processo decisório da Renova e fez questionamentos: “os primeiros cadastros foram feitos de forma patriarcal, machista, e o efeito colateral disso foram vários divórcios na família. Muitos casos reconheciam os maridos, escutavam os maridos e os colocavam como chefes familiares e, quando era pra falar das particularidades das esposas, era um ‘copia e cola’ e só mudava o cabeçalho. Eu falo porque minha esposa passou por isso, minha mãe passou por isso, outras pessoas passaram por isso e o fruto foi um

Foto: Crislen Machado grande conflito. Se isso for corrigido, as injustiças cometidas poderão ser revisadas? As esposas que não foram contempladas plenamente nos cadastros seriam ouvidas?”.

Diante das perguntas, a Renova reiterou que a ação proposta será destinada a outro público. Ao fim da reunião, não houve deliberações práticas sobre temas relevantes para as pessoas que estavam presentes. Os encaminhamentos indicaram novas reuniões nos distritos a fim de explicar, de forma minuciosa, o que foi apresentado.

A Renova seguirá com o cadastramento das pessoas que ainda não foram contempladas e o fará sem a participação da Cáritas, porém a pessoa pode solicitar a presença da ATI, desde que não haja interferência nas respostas.

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Estrada Real fora da realidade

Manhã ensolarada, cadeiras distribuídas, buffet em uma mesa centralizada, Instituto Estrada Real e Renova unidos. O objetivo? A inauguração de um marco da Estrada Real em Bento Rodrigues. Tudo parece perfeito, mas não é. O desejo das pessoas atingidas não esteve presente no evento que aconteceu no dia 11 de fevereiro. Elas queriam que o marco em questão estivesse em Bento origem, não no reassentamento. Mais uma vez, a Renova desrespeitou quem sofreu o crime cometido por Samarco, Vale e BHP. Elas não foram tratadas com respeito e empatia.

Para piorar, o marco inventa uma história que nunca existiu. O caminho da Estrada Real (um conjunto de rotas antigas para o escoamento de minérios, sobretudo ouro e diamantes, de Minas Gerais até o litoral) nunca passou por ali. A demarcação do marco turístico que ignora a história e os afetos de quem irá ocupar o território é mais uma mostra de que a Renova não atende aos interesses das pessoas atingidas.

Por Mauro Marques da Silva e Marta Gertrudes Monteiro Guimarães Ribeiro

“A colocação desse marco não vem ao encontro dos anseios da nossa comunidade desde o início, quando realizávamos as assembleias, os grupos de base e os GTs. O que pedíamos é que se desse condições mínimas de acesso à área atingida e, como forma de fomento da economia dos que aqui vão morar, tivéssemos pontos de apoio, tanto aqui quanto lá para receber os turistas que, porventura, viessem conhecer a área da tragédia. Na verdade, a história pode ser contada de várias formas, o que não pode é se deturpar de forma que a história fuja do contexto. A colocação desse marco nada mais é do que um papel de marketing da Renova. A todo tempo, as discussões são feitas sem a presença dos moradores ou de forma individualizada, a fim de colocá-los contra a comissão, a ponto de hoje estarmos aqui com essa meia dúzia de gatos pingados de moradores e levarmos a responsabilidade dos que aqui não estão por culpa da empresa que não nos quer aqui.

O combinado era os marcos estarem no lugar de origem como forma de retificar o que foi destruído pela lama. Seria colocado um marco na chegada de Camargos e outro na saída de Santa Rita.

Fui contatado para ir lá ver o local melhor para que esses marcos fossem instalados. Por surpresa, não pude ir, designei uma pessoa para estar lá. Essa pessoa me falou que nunca apareceu alguém lá no período que ela estava. Fiquei sabendo que os marcos seriam colocados aqui com a justificativa que Bento é área de risco. Eu desafio quem quer que seja a apresentar um documento atestando pelo Corpo de Bombeiros e Defesa Civil que as barragens de Germano, Santarém e o que sobrou de Fundão estão em algum nível de alerta de atenção para risco de rompimento. A história não pode ser desvinculada da verdade, não pode ser feita de notícias falsas. Precisamos acrescentar Antônio Pereira à Estrada Real, Cachoeira do Brumado, com suas panelas de pedra, seu artesanato, Padre Viegas, com o seu festival de cuscuz que foi tombado como patrimônio imaterial de Mariana, Ribeirão do Carmo, com sua estação ferroviária, que acrescentassem todos os distritos e subdistritos. Talvez assim amenizaria a frustração que estamos sentindo hoje de ver que uma decisão foi tomada, como tantas outras, pela Renova sem levar a fundo o desejo da comunidade. Que não seja em vão a vida das 19 pessoas que se foram no dia do rompimento. Que não seja em vão a vida dos que se foram pós-rompimento.”

Mauro Marques da Silva, morador de Bento Rodrigue

“Eu fui convidada para esse evento, mas eu não sabia que iria mexer tanto comigo. Me

muito. Eu fico me questionando: cadê a comunidade? É revoltante. Não podemos nos esquecer do que aconteceu em 2015. Eu fico preocupada com Congonhas, minha cidade. Temos uma mina da Vale na cidade. Todos falam que está tudo controlado, e não está. Congonhas é minha história, minha vida, meus parentes, meus irmãos, meus amigos. E só de pensar que pode acontecer uma coisa dessas, me entristece muito. O reassentamento, essas casas não têm identidade. Eu conhecia aqui antes. As pessoas querem aquela cruz de papel na parede, o retrato do avô… Essas casas parecem Alphaville, onde estão as raízes? O grupo que veio comigo até aqui está interessado em tirar fotos, mas eu penso nessas vítimas a todo o momento.”

Marta Gertrudes Monteiro G. Ribeiro, moradora de Congonhas

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indigna Mauro Marques denuncia a pequena presença de pessoas atingidas no evento e ausência de consulta ampla à comunidade de Bento Novo marco da Estrada Real colocado na praça que levará o nome de São Bento. Fotos: André Carvalho Com o apoio de Tatiane Análio

Renova inaugura parque antes de promover reparação

No dia 12 de novembro de 2022, a inauguração do parque de exposições João Rezende de Oliveira, em Barra Longa, marca uma obra que vem reafirmar a vulnerabilidade das pessoas atingidas na reparação dos seus direitos: casas para reformar, indenização, modos de vida, saúde e toda as mazelas causadas pelo rompimento criminoso da barragem da Samarco e de suas controladoras, Vale e BHP, foram deixados em segundo plano. Barra Longa foi a única cidade da bacia do Rio Doce que teve seu centro urbano tomado pelos rejeitos oriundos do rompimento da barragem.

Sem consulta às pessoas atingidas, principais interessadas na reparação, a Renova assume o papel de protagonista no que tange aos seus sonhos, desejos e direitos, ao deixá-los mais uma vez fora da reparação de suas vidas. Construído, finalizado e inaugurado, o parque vem sendo carinhosamente chamado pela população de “elefante branco”.

As perguntas que ficam são: quanto custará aos cofres públicos de uma cidade modesta como Barra Longa sua manutenção e utilização? Essa obra era prioritária diante de tantas casas trincadas, da necessidade de construir reassentamentos de vilas inteiras, dos problemas de saúde e das pessoas abandonadas, além das almas que deixaram seus corpos, que não resistiram às dores do abandono causado pela Renova?

Uma cidade que teve um inchaço no Sistema Único de Saúde (SUS) recebe, antes de curar os males que lhe adoecem, um “elefante branco” para brincar. Não somos contra a diversão, entendemos que todo ser humano precisa descontrair, mas há outras prioridades deixadas de lado pela Renova em Barra Longa. É como se comprassem uma bicicleta para alguém que teve sua perna quebrada antes de tratarem a fratura.

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Vista superior do Parque de Exposições de Barra Longa Foto: Sérgio Papagaio Por Por Sérgio Papagaio

Impactos na saúde mental das

Falar sobre saúde mental é algo extremamente importante e nós, da Cáritas MG, atuantes no território de Mariana como Assessoria Técnica Independente (ATI), viemos discutir os impactos na saúde mental das pessoas atingidas, bem como informar sobre os serviços públicos existentes no município.

O cotidiano profissional da ATI é demarcado por constantes declarações de sofrimento por parte de pessoas atingidas, que se dão em diferentes dimensões: física, mental e social. Nos acompanhamentos realizados, é comum que uma ou mais pessoas da família apresentem relatos diretamente relacionados ao impacto na saúde mental que, antes do rompimento, eram inexistentes ou se davam de forma passível de controle e prevenção. A drástica mudança nos modos de vida e relações sociais lhes retirou a possibilidade de enxergar novos horizontes, pois a incerteza e sensação de não pertencimento são a realidade de muitos atualmente. A estigmatização que lhes é conferida, a invisibilização e as constantes negativas de direitos, sem resoluções efetivas, são angustiantes. Em muitas situações, discutir saúde mental é desafiador, pois é um assunto que perpassa diretamente os temas de segurança alimentar e habitacional, além do lazer, da educação e da saúde.

A Cáritas, ao longo dos seus seis anos de atuação no território de Mariana, identifica, por meio de escuta social e acompanhamento das famílias, o surgimento e/ou agravamento de quadros de saúde mental, como depressão, estresse, problemas no sono, síndrome do pânico e crises de ansiedade. Há ainda relatos sobre aumento do uso abusivo de álcool e outras drogas, violência doméstica, conflitos familiares, ruptura de laços comunitários ocorridos após o rompimento da barragem de Fundão. Problemas muitas vezes agravados pela forma como vem sendo conduzido o processo de reparação e mitigação dos danos pelas empresas. Sentimentos como desesperança, medo, insegurança, incerteza e desconfiança passaram a fazer parte do cotidiano das comunidades, assim como sintomas de ansiedade e depressão, que têm piorado pela falta de respostas e ações efetivas por parte das empresas responsáveis pela reparação. A perda e impossibilidade de retomada dos modos de vida pelas famílias atingidas também é fonte de constante angústia e sofrimento. São mais de sete anos de espera e, principalmente, mais de sete anos em que vida e sonhos foram interrompidos, o que os impossibilitou de traçar projetos futuros, porque estão presos nessa situação que nitidamente os adoece.

Nesse contexto, as famílias atingidas necessitam de espaços de acolhimento e tratamento das questões relacionadas ao cuidado com a saúde mental. Atualmente, os espaços existentes para esse tipo de acolhimento são os serviços públicos de Mariana, que foram sobrecarregados com o surgimento dessas demandas. As empresas causadoras dos danos são responsáveis por repassar recursos financeiros para que o município consiga ampliar a sua capacidade de atendimento.

Caso você esteja passando por um processo de sofrimento, busque suporte em alguns dos serviços listados a seguir. Você pode ainda fazer contato com a ATI para orientação e encaminhamento para a rede de atendimento. É direito da população atingida ter acesso ao tratamento de saúde mental.

Atualmente, a política de saúde mental no município de Mariana dispõe de uma rede com os seguintes serviços:

¹Assessoras técnicas que compõem a equipe CARITAS ² Estagiária e serviço social na CARITASA

Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

Unidades especializadas em saúde mental que atendem às pessoas com grave sofrimento psíquico, o que inclui aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Possui equipe multiprofissional, composta por psiquiatra, psicólogos, assistente social, terapeuta ocupacional, entre outras especialidades.

Acesso: de caráter aberto e comunitário, acolhe pessoas com demandas espontâneas ou encaminhadas por outro dispositivo da Rede de Saúde ou da Rede Intersetorial (Assistência Social, Educação, Judicial).

Funcionamento: segunda a sexta, 8h às 17h, plantão diário

Endereço: R. do Aleijadinho, 2-76

Telefone: (31)35582985

CAPSij

Serviço público de saúde que atende a crianças e adolescentes com intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes ou do uso de substâncias psicoativas. Possui equipe multidisciplinar, com terapeutas ocupacionais, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, técnicos de enfermagem, fonoaudiólogos, fisioterapeuta, psiquiatras, dentre outros.

Acesso: por meio de demanda espontânea ou encaminhamento da Rede de Saúde e Rede Intersetorial (Educação, Assistência Social, Justiça)

Funcionamento: segunda a sexta, 8h às 17h, plantão diário

Endereço: R. Senador Badwen, 61

Telefones: (31)35582229, (31)35582985

CONVIVER

Equipe multiprofissional criada em janeiro de 2016 para desenvolver ações em saúde mental e atenção psicossocial junto às pessoas atingidas. Atendimento a crianças, adolescentes, jovens, adultos(as) e idosos(as) pertencentes às comunidades atingidas de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Pedras, Águas Claras, Bicas, Ponte do Gama, Camargos e Campinas. Possui equipe composta por psicólogos, terapeutas ocupacionais, psiquiatra, assistente social e arte terapeuta, com atendimentos individuais e atividades coletivas e comunitárias.

Acesso: demanda espontânea ou encaminhamento da Rede de Saúde e Rede Intersetorial (Assistência Social, Educação, Judicial).

Funcionamento: segunda a sexta, 8h às 17h, plantão diário

Endereço: R. Genoveva Leão Lemos, 25a

Telefone: (31)35574222

Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPSad)

Cuidado às pessoas que sofrem com o uso recorrente de álcool e/ou outras drogas. Acompanhamento psicológico, psiquiátrico e de assistência social, entre outras ações que buscam reabilitar o indivíduo. Possui equipe multidisciplinar que oferece proteção e suporte no processo de reabilitação e atende a família.

Funcionamento: segunda a sexta, 8h às 17h, plantão diário

Endereço: R. do Aleijadinho, 437

Telefone: (31)35571726

Unidades Básicas de Saúde (UBS)

Estabelecimentos públicos que oferecem atendimento familiar básico e gratuito como consultas, inalações, injeções, curativos, vacinas, exames laboratoriais e tratamento odontológico. Encaminham para outras especialidades e fornecem medicação básica. Possui equipe de Saúde da Família composta por médico(a), enfermeiros(as), técnico(a) de enfermagem e agentes comunitários(as) de saúde e por equipes de saúde bucal. Cada UBS atende uma comunidade definida e a unidade de referência é de acordo com o endereço residencial.

Acesso: acolhimento garantido a todo(a) cidadão(ã) e encaminhamento a partir das queixas ou necessidades.

Telefones: Águas Claras: (31)35569054 / Bandeirantes: (31)35579779 / Bento Rodrigues e Paracatu: (31)35571890 / Cabanas: (31)35582367 / Cachoeira do Brumado: (31)35561207 / Chácara: (31)35579805 / Cláudio Manoel: (31)35565176 / Centro I e II: (31)35582025 / Furquim: (31)35563003 / Mainart: (31)35579712 / Morro Santana: (31)35579774 / Monsenhor Horta: (31)35577110 / Padre Viegas: (31)35579713 / Passagem de Mariana: (31)35584936 / Pombal: (31)35579714 / Rosário: (31)35586994 / Santa Rita Durão: (31)35562111 / Santo Antônio: (31)35586357

Policlínica

Consultas e exames acontecem com agendamento prévio via UBS. Telefone: (31)35579751

Mariana - MG A SIRENE 11 PARA NÃO ESQUECER Março de 2023
Por Jade Silva, Luisa Vitral, Roberta Sacramento, Stephany Starlym¹ e Kelly Ribeiro ²
famílias atingidas e as formas de acesso aos serviços públicos

EDITORIAL

A gente tem falado aqui, há tempos, sobre como é difícil para um jornal como A SIRENE sobreviver. Não é fácil desenvolver um jornalismo independente, alternativo e popular, que enfrenta a narrativa bilionária da mineração para garantir o direito à comunicação das pessoas atingidas pelo crime de Samarco, Vale e BHP, depois de tantas violências e violações.

De vez em quando, parece que não vamos conseguir: falta dinheiro, faltam condições de produção, falta tanta coisa para a gente entregar o jornalismo que sonhamos e para valorizar nossa equipe da maneira justa, que desejamos. Mas o que não falta, pra nós, todos os dias, é vontade.

Vontade de trazer à tona as histórias de dor, sofrimento e violência que ouvimos há mais de sete anos, mas também as narrativas de alegrias, vitórias e resistências, de dignidade e luta. Vontade de não deixar o crime de Samarco, Vale e BHP ser esquecido, para que não se repita.

Nossa vontade tem nos movido, a despeito de todas as dificuldades, ao longo de todos esses anos. Mas também nos move a parceria de gente que acredita no nosso projeto, aposta no nosso jornalismo, e participa da nossa campanha de financiamento coletivo. De instituições que encampam a luta por justiça e reparação das pessoas atingidas e caminham ao nosso lado, proporcionando melhores condições para A SIRENE.

É graças a essa confluência de sujeitos, atores sociais e institucionais que podemos relatar histórias como as deste mês: da ficção histórica criada pela Renova com o marco da Estrada Real; dos danos socioambientais sofridos ao longo da Bacia do Rio Doce, como na comunidade de Ilha Brava; de um parque de exposições que serve de vitrine da Renova em Barra Longa enquanto a reparação não anda.

A quem tem caminhado conosco, nosso agradecimento. A quem puder, fica o convite para contribuir, da maneira possível, para que a sirene que não tocou em Bento, Paracatu, Gesteira e tantas comunidades em 2015 — como não tocou também no litoral paulista em 2023 — ecoe a urgência de proteger as pessoas do Brasil.

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