MARANHAY - Revista Lazeirenta - 69 - janeiro 2022

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THIAGO DE MELLO: ‘FAZ ESCURO, MAS EU CANTO’! FERNANDO BRAGA

Silêncio, o poeta está morto! Amadeu Thiago de Mello nasceu em Barreirinha-Amazonas, em 30 de março de 1926, é um poeta, prosador e tradutor brasileiro, cujos livros já foram traduzidos para mais de trinta idiomas. Thiago, por ironia, nasceu no mesmo dia da Revolução de 64 [30 de março] e por ela preso por algumas vezes, até que se exilou no Chile, Argentina, Portugal, França e Alemanha. Em 1977 voltou para o Brasil, aconchegando-se em Barreirinha, sua cidade natal, no Amazonas, onde vive até hoje. Seu poema mais conhecido é ‘Os Estatutos do Homem’, onde o poeta canta de forma lírica os valores humanos. Thiago de Mello, conhecido como ‘O Poeta da Floresta’ é um dos nomes mais fortes da famosa ‘Geração de 45’. Sua bibliografia é extensa como sua alma. Em poesia publicou: Silêncio e Palavra, 1951; Narciso Cego, 1952; A Lenda da Rosa, 1956; Faz Escuro, mas eu Canto: porque a manhã vai chegar, 1966; Poesia comprometida com a minha e a tua vida, 1975; Os Estatutos do Homem, 1964, dentre outros. Em prosa: A Estrela da Manhã, 1968; Arte e Ciência de Empinar Papagaio, 1983; Manaus, Amor e Memória, 1984; Amazonas, Pátria da Água, 1991; Amazônia — A Menina dos Olhos do Mundo, 1992; Borges na Luz de Borges, 1993. Era 31 de outubro de 1977, o Jornal do Brasil publicava uma matéria sobre o regresso do exílio do poeta Thiago de Mello, em cujo nariz de cera dizia: “O sonho de retornar ao Brasil contado num de seus poemas escritos em 1975 na Alemanha, um dos países – além do Chile e Portugal – onde residiu nos últimos oito anos, tornou-se realidade, ontem, para o poeta Thiago de Mello. Mas, entre a alegria da volta e os abraços de parentes, foi detido pela Policia Federal após chegar ao Rio, às 8h, 22’, procedente de Lisboa. Só foi liberado às 21h. Com 50 anos e vestindo camisa e calças brancas – cor de sua preferência pelo significado de “festa e tranquilidade”, segundo uma das irmãs que o aguardavam no aeroporto – ele disse ter sérios problemas de saúde: já sofreu dois enfartes – o último há três meses – e está com angina” Ao saber da notícia da anunciada chegada de Thiago de Mello ao Brasil, vindo doente do exílio, o escritor Nunes Pereira, naquele instante meu hóspede em Brasília, apressou-se para seguir viagem para o Rio de Janeiro, já que era ligadíssimo por laços afetivos e intelectuais ao poeta, avisando-me que assim que chegasse ao ‘Santo Dumont’ rumaria direto para o Hospital Silvestre em Santa Teresa, para visitar o estimado amigo, seu confrade na Academia Amazonense de Letras, e um dos ‘mestres-salas’ do seu ‘O Morunguetá: um Decamaron Indígena’, trabalho de fôlego em dois volumes e prêmio ‘Roquette Pinto’, da Academia Brasileira de Letras; pedi ao velho etnólogo que levasse consigo a página do suplemento literário de ‘A Tribuna de Brasília’, dirigida pelo querido amigo E. D’Almeida Victor com um poema meu, recém-escrito, em saudação ao poeta e lhe entregasse com meu abraço. E assim foi. Disse-me depois Nunes Pereira que o poeta leu no desassossego de sua cama hospitalar. Aqui, apenas um excerto do poema devido ao espaço: “[...] Eu sei meu velho Thiago,/ que ninguém chegou remando canoa/ para saudar teu aniversário./ Só as barrancas do Bom Socorro/ te apertaram as mãos/ por seres poeta e empinador de papagaios [...] / Canta Thiago no teu escuro,/canta tua canção de amor armado,/ mais terna e mais precisa [...] / Eu sei que voltarás numa outra madrugada,/ num outro tempo/ em que os poetas não precisarão de documentos,/ assim como todos que trabalham com o tecer dessa claridão,/ dessa clara-idade de ouro/ que se foi para sempre com Pablo Neruda,/ mas que ficou contigo no amor maior de Anamaria!...”


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