MARANHAY - Revista Lazeirenta - 69 - janeiro 2022

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HUMBERTO DE CAMPOS O JORNALISTA O escritor carismático CERES COSTA FERNANDES O público leitor de hoje, mormente os mais jovens, não conhece quem foi e o que escreveu Humberto de Campos. Um restrito número de leitores da outrora multidão de admiradores ainda o lê. Posto de lado pela crítica, pouco se ouve falar no escritor que convocava e comovia milhares de leitores, diariamente, por meio dos jornais. Ainda mais, quando sabemos que, durante apenas um semestre do ano de 1934, o ano de sua morte, foram publicados e vendidos, pela José Olympio 62.800 exemplares de diversos de seus títulos. A importância desse número pode ser mais bem aferida, se nos reportarmos ao incipiente mercado editorial brasileiro dos anos 30, que enfrentava a competição com o livro estrangeiro, particularmente os franceses e os portugueses, e a dificuldade da aquisição de livros fora do âmbito das grandes cidades. Após a sua morte, ainda foram editados Memórias inacabadas (1935), Diário secreto (1954) e alguns inéditos. Aproveitando o impacto da morte do escritor mais querido do público, até tendas espíritas começaram a receber dele mensagens psicografadas. Com o passar do tempo, os leitores e as publicações foram minguando e os sebos acumulando as sobras de edições não vendidas. Até a edição comemorativa do centenário de seu nascimento, em 1986, com a reedição de Obras escolhidas de Humberto de Campos, em 10 vol., pela Editora Opus, não produziu o boom esperado. O sebo foi novamente o seu destino de grande parte da edição. Partindo dessas considerações sobre a ascensão e a queda editorial de HB, caminhemos rumo ao entendimento das causas que as motivaram. A fase decisiva da vida do escritor Humberto de Campos começa quando ele aporta no Rio de Janeiro, no ano de 1912, fugido das intrigas da feroz política paraense. Humberto encontra a Capital Federal vivendo um momento neutro de sua história política e social, após terem passado as agitações da Abolição e estar consolidada a República, sem a expectativa de outros grandes feitos. A par disso, o clima que imperava na Capital Federal era o da Belle Époque francesa. Os modismos europeus, o gosto pela literatura ligeira, herdada dos novos gêneros importados da França – em especial a reportagem, a entrevista e a crônica – o dandismo, tudo favorecia ao encorajamento da superficialidade e do culto ao prazer em todas as áreas. Nas letras, surge a possibilidade da profissionalização do escritor por meio do jornalismo literário. A novidade propiciava ao escritor jornalista chegar à fama mais rapidamente do que o escritor que não contasse com a poderosa divulgação dos periódicos. Com a volta da efervescência política e da liberdade de imprensa, que vicejou até a Revolução de 1930, a máquina jornalística prospera e os jornais espalham-se por todo o país. Os jornais dos estados transcrevem notícias e artigos dos grandes periódicos do Rio de Janeiro e São Paulo. Os jornalistas atuantes nestas cidades tornam-se bastante conhecidos nas capitais mais importantes do Brasil. É possível, assim, a um escritor, viver exclusivamente do que escreve na imprensa. NOTA DA AUTORA Trabalhamos com a condição de jornalista de Humberto de Campos e com as suas obras divulgadas através dos jornais e revistas, cuja capilaridade direcionou toda a trajetória pessoal, profissional e de sucesso literário do autor, inclusas , também, as Memórias e Memórias inacabadas, que consolidaram, em nível mais alto sua fama e que Alcides Maia classifica como uma “epopeia do jornalismo”.


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