Entre Epidemia e Imigração

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A epidemia: sintomas, cidade e mortos

Garapiranga foram 27 óbitos.243 Esses números apresentam uma diferenciação do alcance da epidemia. Embora, na maioria das vezes, não tenhamos acesso à população total das aldeias, o número de falecimento aponta para o fato de que algumas localidades sofreram mais e outras menos com o surto. As nove localidades a que tivemos acesso à população total também revelam uma diversificação do impacto da epidemia. No Convento de Santo Antônio, morreram 27% dos índios. No Convento de Gurupá, esse percentual subiu para 71,43%. Os demais percentuais foram: Hospício de São José de Belém, 52,69%; São Joaquim da Caviana, 31,48%; Acarapy, 29,67%; Mangabeiras, 40,97%; Goyanazes, 58,30%; Caya, 65,68%; e Igarapé Grande, 60,52%.244 Ressaltamos ainda que tais localidades situavam-se no Marajó: Mangabeiras, Goyanazes, Caya e Igarapé Grande. Ou seja, mesmo numa região específica da capitania temos diferenças no impacto da mortalidade da epidemia. Essas diferenças podem ser explicadas a partir da combinação de fatores como concentração da população, métodos de prevenção e intensidade do vetor de transmissão. A despeito de imprecisões, de uma maneira mais geral, os números construídos a partir de contagens dos mortos pela epidemia revelam um contundente impacto no plantel de escravos indígenas e de índios aldeados na capitania do Grão-Pará. Entretanto, esse impacto deve ser analisado à luz da diversidade, relativizando a sazonalidade e a espacialidade do alcance do surto.

Finalizando... Ao longo dos anos de 1748-1750, a capitania do Grão-Pará fora palco de uma intensa e mortal epidemia. O conjunto dos sintomas da doença escapara ao conhecimento médico da época, que de uma maneira mais geral e imprecisa tendia a chamar o “mal” de sarampo ou sarampo grande. Comparando os sintomas com o que a medicina atual conhece das ações dos vírus, inferimos que não se tratava de sarampo, mas sim, de febre amarela. Apesar das imprecisões na definição da doença, um fato era certo: a alta mortalidade indígena causada pelo surto. A cidade de Belém do Grão-Pará fora palco de um conjunto de ações religiosas que visava aplacar a “ira” divina. 243 AHUPR, Capitania do Grão-Pará, 15 de setembro de 1750, cx.32, doc. 3001. 244 Ibidem.

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REFERÊNCIAS

16min
pages 181-194

Considerações quase finais

3min
pages 173-174

IV.V – Sebastião Correia Pincanço, um imigrante que ligou o Império

7min
pages 166-169

IV. II – O não querer ir

12min
pages 139-145

IV.IV - No Grão-Pará

9min
pages 161-165

Finalizando

2min
pages 170-172

IV.III - Os que partiram dos Açores em 1752

27min
pages 146-160

IV.I – Açores e Emigração

7min
pages 135-138

Dos Açores ao Grão-Pará

3min
pages 133-134

Finalizando

3min
pages 130-132

III.V – Companhia e Inserção de Africanos

22min
pages 112-124

III.IV - Resistência à Solução Africana

14min
pages 104-111

III.III – Dubiedades de um Governador

9min
pages 99-103

III.VI – Distribuição Interna e Irregular

9min
pages 125-129

III.II – A Bula Papal

8min
pages 94-98

III.I - A Coroa e o Acesso à Mão de Obra Indígena

3min
pages 92-93

A “Solução” que Vem da África

1min
page 91

Finalizando

4min
pages 87-90

I.IV - Natureza e Povoamento

7min
pages 50-53

II.II - A Cidade de Belém e a Epidemia

16min
pages 65-72

Finalizando

4min
pages 54-56

I.III - Vítimas e Real Auxílio

14min
pages 42-49

Introdução

20min
pages 15-28

I.II – O Alcance da Epidemia

12min
pages 36-41

II.III - A Epidemia como Fenômeno Demográfico

26min
pages 73-86
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