Entre Epidemia e Imigração

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ENTRE EPIDEMIA E IMIGRAÇÃO: um viés de investigação da história da população no Grão-Pará (1748-1778)

A epidemia emergiu como uma nova componente nessas tensões e embates. Não é sem razão que no ano seguinte ao termino da epidemia, 1751, o rei D. José I tinha clareza da conjuntura favorável para a imposição do projeto da Coroa: “a Epidemia que matou tantos Índios, os anos passados, dá occazião a mudarem [os moradores] de método [usar escravos africanos] e facilitar a prática do que acima voz aponto [liberdade indígena], com a qual os Indios possão gozar da sua liberdade, nos poucos que restão daquele grande contagio...”.259 A perspectiva real enfrentará obstáculos, resistências manifestadas no reinado de D. João V e que desaguaram nos primeiros anos da administração de D. José I. O capítulo aqui apresentado tratará justamente dos embates que envolveram a liberdade indígena e a inserção de escravos africanos, como também das heterogeneidades na distribuição da escravaria africana na capitania do Grão-Pará.

III.II A Bula papal Iniciaremos com a análise da carta escrita em 13 de junho de 1757. Fora redigida pelo bispo do Grão-Pará, Frei Miguel de Bulhões e Sousa, e destinada ao secretário real Sebastião José de Carvalho e Melo. O tema central da correspondência era o imbróglio que envolveu a publicação de uma Bula papal em Belém. O nosso já citado bispo Miguel de Bulhões foi professor de filosofia e teologia e integrou a Academia Real de História. Em 1745, alcançou a nomeação como bispo de Malaca. Não chegou a exercer o cargo por ser transferido para a diocese de Belém.260 No auge da epidemia, em fevereiro de 1749, com 43 anos de idade desembarcou no porto da cidade trazendo na bagagem uma Bula do papa Bento XIV. Esta lhe foi entregue em 1748 pelo secretário particular de D. João V, frei Gaspar da Encarnação.261 E tratava de um ponto extremamente delicado para os habitantes do Estado do Maranhão: “para desterras de todo o injusto captiveiro dos mesmos Índios a mandasse [a Bula] publicar

259 BNP, Coleção Pombalina, F.348.

260 FONSECA, João Abel. D. Frei Miguel de Bulhões, Bispo do Pará e Governador do Estado do Grão-Pará e Maranhão. 1752-1756. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA MISSIONAÇÃO PORTUGUESA E ENCONTRO DE CULTURAS, 1993, Braga. Actas... Braga: Fundação Evangelização e Culturas, v. II, 1993, p. 492.

261 SILVA, Maria Beatriz Nizza da. D. João V. Lisboa: Circulo dos Leitores, 2006, p. 204.


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REFERÊNCIAS

16min
pages 181-194

Considerações quase finais

3min
pages 173-174

IV.V – Sebastião Correia Pincanço, um imigrante que ligou o Império

7min
pages 166-169

IV. II – O não querer ir

12min
pages 139-145

IV.IV - No Grão-Pará

9min
pages 161-165

Finalizando

2min
pages 170-172

IV.III - Os que partiram dos Açores em 1752

27min
pages 146-160

IV.I – Açores e Emigração

7min
pages 135-138

Dos Açores ao Grão-Pará

3min
pages 133-134

Finalizando

3min
pages 130-132

III.V – Companhia e Inserção de Africanos

22min
pages 112-124

III.IV - Resistência à Solução Africana

14min
pages 104-111

III.III – Dubiedades de um Governador

9min
pages 99-103

III.VI – Distribuição Interna e Irregular

9min
pages 125-129

III.II – A Bula Papal

8min
pages 94-98

III.I - A Coroa e o Acesso à Mão de Obra Indígena

3min
pages 92-93

A “Solução” que Vem da África

1min
page 91

Finalizando

4min
pages 87-90

I.IV - Natureza e Povoamento

7min
pages 50-53

II.II - A Cidade de Belém e a Epidemia

16min
pages 65-72

Finalizando

4min
pages 54-56

I.III - Vítimas e Real Auxílio

14min
pages 42-49

Introdução

20min
pages 15-28

I.II – O Alcance da Epidemia

12min
pages 36-41

II.III - A Epidemia como Fenômeno Demográfico

26min
pages 73-86
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