REVISTA PORTUGAL JULHO 110

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Falamos com...

Se os higienistas orais conseguirem ampliar a sua representação social e saírem do lugar-comum, a importância será cada vez mais real e fundamental Partilha da opinião de que a classe dos higienistas orais continua a ser encarada como o “parente mais pobre” no contexto global dos profissionais do setor da saúde oral? Para algumas pessoas que olham para a saúde oral de uma forma antiquada e que pararam no tempo, acredito que olhem dessa maneira. Quando se juntam equipas de bons profissionais, sabemos que o sucesso é garantido. Hoje em dia, aposta-se muito no mesmo modelo, e a própria diferenciação é muitas vezes pouco pensada. Numa área onde há cada vez menos espaço para crescer, as clínicas, os consultórios (falando do privado) deveriam procurar caminhos para encontrar novos formatos, com atores capazes de mostrar serviços e benefícios para os pacientes de forma a desfrutarem de uma participação de mercado incontestada. A forma como os higienistas olham para a comunicação do paciente, como são capazes de individualizar os problemas de cada um enquadrando-os na sua realidade social, podem criar formas cada vez mais individualizadas de intervir, aumentado as perceções para o universo da saúde oral, a satisfação, os resultados, enfim, um conjunto de detalhes que podem marcar a diferença. Os higienistas orais estão preparados para atuarem dessa forma, mas para isso precisam abandonar as ideias de sorte, acaso e injustiças. Não se agarrem a isso, o caminho para o nosso desenvolvimento e sucesso depende mais das nossas próprias ações do que dos fatores externos.

uma má higiene oral, das piores da europa? Está nas nossas mãos alterar esse processo. Muitos dos que estão sempre a dizer que a higiene oral dos portugueses é má, nunca fizeram nada realmente eficaz para a mudar. É preciso atuar bem, comunicar bem! Comunicar bem não é dar ordens, é saber fazer o processo comunicacional de forma eficiente! Há que trabalhar no sentido de mudar essa situação. É preciso entender que mudar uma atitude, um hábito, não se baseia em dar ordens aos pacientes para escovarem os dentes ou usarem um escovilhão. É preciso criar esses comportamentos, percebendo os hábitos, as razões, a vida das pessoas e depois criar uma estratégia baseada em fatores comportamentais, sociais e psicológicos. Quando isso funciona, conseguimos ser eficazes na mudança de comportamentos.

Mário Rui Araújo é licenciado pela Universidade de Washington (EUA), Mestre em Psicologia da Saúde pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada e Doutorando em Psicologia na Universidade de Lisboa. Em 2018, foi distinguido com o prémio de “Melhor Higienista Oral do Ano”, atribuído pela APHO com o patrocínio da MAXILLARIS.

Em que aspetos considera que estamos ao nível, abaixo e/ou acima da média europeia em matéria de hábitos de higiene oral? Acho que Portugal tem nichos. Alguns ainda precisam de melhorar muito e outros registam hábitos que já se aproximam das boas médias europeias. Atenção que na Europa há muitos países onde os hábitos de higiene oral são muito deficientes. As disparidades são muito grandes. Há outro facto que tenho presenciado, até porque já trabalhei em diversas zonas do país: quando fazemos um bom diagnóstico comportamental do paciente, quando percebemos as suas necessidades e capacidades, quando levamos em conta as suas especificidades culturais e sociais, as pessoas demonstram uma enorme capacidade de aprender e mudar. Basta acreditar e trabalhar eficazmente com eles, isso traz-nos, a nós profissionais, uma enorme responsabilidade. O que é que interessa andar sempre a dizer que os portugueses têm

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julho 2020


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