REVISTA PORTUGAL JULHO 110

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tema de capa ESTÉTICA DENTÁRIA

ponto de vista A beleza, a estética e a Medicina Dentária

Cristiano Pereira Alves

Médico dentista. Assistente convidado da disciplina de Prótese Fixa e da pós-graduação em Reabilitação Oral Protética na Universidade de Coimbra.

Quando se tornou possível restaurar dentes à sua cor natural, a Medicina Dentária mudou para sempre. A “Idade da Medicina Dentária Estética” nasceu. O médico dentista deixou de se preocupar apenas com tratar doenças como a cárie e a doença periodontal, abrindo-se um mundo de novas possibilidades de tratamento que, até esse momento, não eram possíveis. Por volta da mesma altura, foi também descoberto o branqueamento dentário, uma técnica conservadora e não invasiva de melhorar a cor dos dentes. A palavra estética tem a sua origem no grego (aisthesis = princípios da observação). A observação e admiração humana pelo que é belo é uma característica inata proveniente de uma parte da nossa mente chamada cérebro ancestral, nele estão gravadas muitas informações importantes relacionadas com a sobrevivência e reprodução da espécie, num processo que se estende por milhares de anos, fortemente influenciado pela seleção natural. Ao conjunto de métricas e regras de harmonia visual – em Medicina Dentária inclui-se

O CAD-CAM veio para ficar e com ele trouxe a precisão, a previsibilidade e a repetibilidade. Trouxe também avultados investimentos e riscos económicos, mais ruído ao laboratório e matou o artista… ou quase

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julho 2020

também a harmonia cromática – chama-se estética. Portanto, um sorriso será estético quando na sua constituição visual estiver de acordo com esse conjunto de regras e leis matemáticas. Nos anos 80, os pacientes, fortemente influenciados pelo cinema, os atores e a televisão, viram nos seus sorrisos falsamente brancos – fruto das intensas luzes requeridas para a gravação e da limitada capacidade destes aparelhos em registar nuances cromáticas – um modelo de estética, beleza e estatuto privilegiado. Este «Hollywood white smile» de dentes-alinhados de um branco-mais-branco-não-há, com corredores bucais caiados que só terminam nas tuberosidades palatinas, ainda hoje persiste como modelo – de sorriso, beleza e status – nos países onde a cultura anglosaxónica tem mais influência. Contrariamente, nos países do sol nascente os modelos de beleza de sorriso são algo mais refinados, “naturais” tanto em forma como em cor. As técnicas estéticas baseiam-se no planeamento, na previsibilidade e na mínima intervenção para obter a harmonia cromática e de forma, sendo esta última a mais importante. A forma, mais do que a cor, confere a verdadeira individualidade do sorriso ao indivíduo, quer no tamanho como na geometria e arranjo dos dentes. Por isso, os grandes mestres da área clínica e laboratorial são aqueles que se distinguiram por esta capacidade de, dentro de regras e fórmulas matemáticas que ditam as proporções, criarem a harmonia na desarmonia, a individualidade, uma beleza de curvas e assimetrias dentro de molduras que devem ser simétricas. Artesãos de lamparina e cera


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