Quanto vale o mar? A E&M fAz As contAs Ao potEnciAl EconóMico do Índico moçambique lam QuAl o MElhor plAno dE vôo pArA o QuE AÍ vEM? embalagens uMA indústriA A prEcisAr dE gAnhAr... EMbAlo seguradoras o QuE Está A MudAr no rAMo dos sEguros soCIedade coMo As cidAdEs Estão A ficAr intEligEntEs AGOSTO 2018 • Ano 01 • nO 05 Preço 200 MZn
6 Observação
Voar a imagem de um dos maiores aeroportos do mundo no mês em que o mundo vai de férias 8 Radar
Panorama economia, banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País 14 Macro
ENQUADRAMENTO
14 LAM Qual o destino da companhia aérea nacional que tem sido assolada por problemas
18 Embalagens Uma indústria ainda pouco desenvolvida e a precisar de... embalagem 26 Nação
A EcONOMiA DO MAR
26 Quanto vale o Mar? a e&M faz as contas ao potencial económico do Índico e ao quanto ele poderia valer para a criação de riqueza nacional 34 Na voz de... antónio Francisco, economista e director de investigação no Iese 38 ProvÍncIa
inhambane os planos de desenvolvimento da Província onde a economia parece ter marcado férias 42 Mercado e FInanças
Seguradoras o que muda com o aumento do capital mínimo para dar ´músculo’ ao mercado dos seguros 48 EMPresas
PME MMO Uma empresa de alocação de espaços para empresas, com um conceito premium
50 MegaFone
Marketing o que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora
52 fIgUra do MÊs cE-cPLP a poucos meses do fim do seu mandado, salimo abdula pede “mais economia” para a cPLP
54 SocIedade cidades de Kigali a nairobi, passando por Maputo. as promessas e os desafios das cidades inteligentes
60 LÁ Fora Angola com o preço das commodities alimentares a subir, angola tem de produzir cada vez mais
67 ócio
Escape os 100 anos do ‘terraço luminoso de Maputo’.
Gourmet Uma viagem ao Japão nos pratos do aska 71 Adega as Indian Pale ale ganham lugar entre as artesanais 72 Agenda Música, livros, filmes 73 Arte “entre eu e deus”, o novo documentário de Yara costa 74 Ao volante o novo Patrol
Agosto 2018 3 Sumário
68
70
LAM, do presente ao Futuro da Companhia
os momentos difíceis por que passa a nossa LAM suscitam, mais uma vez, debates e inquietações quanto ao Futuro da Companhia. Este tema não é novo, porquanto os problemas já identificados há bastante tempo não atendidos em tempo útil e propostas de caminhos de saída, que nunca foram trilhados até bom (aero)porto, vêm comprometendo a regularidade das operações. A situação actual da LAM é consequência de problemas estruturais e operacionais que se traduzem na ineficiência e fraco desempenho económico e financeiro, não descurando outros factores exógenos. Com os novos acontecimentos voltaram as velhas discussões como a de privatizar a companhia ou concessionar a gestão? Importa, antes de tudo, esclarecer que à luz dos seus estatutos, a LAM não é uma empresa pública, mas sim privada em que o Estado, representado pelo IGEPE, é accionista maioritário.
Os que apregoam ou defendem esse caminho, certamente quererão dizer, abertura do capital a investidores privados. Quer se opte por uma ou outra modalidade, a certeza é que a LAM terá que passar por um processo de rees truturação profunda a todos os níveis para restabelecer o equilíbrio, conferin do-se-lhe melhor desempenho operacional, económico e financeiro, o que se vai traduzir na melhor prestação de serviços. Esta visão de reestruturação já vinha sendo implementada pela administra ção que antecedeu a que foi recentemente destituída, tendo, em finais de 2015, lançado um concurso internacional para a contratação de serviços profissio nais de consultoria, conjugando com a implementação de medidas de reorgani zação interna e apresentação de propostas aos accionistas e ao Governo para a aprovação de medidas estratégicas que influenciassem a actividade da com panhia mas que também estimulassem o tráfego aéreo de passageiros e carga. Em Janeiro de 2016 iniciou-se o processo de avaliação das propostas quando, em Fevereiro do mesmo ano, o Conselho de Administração foi substituído. Era expectável que por esta altura já estivessem em implementação algumas acções estratégicas recomendadas ao nível do posicionamento estratégico fu turo (LAM e MEX), do modelo de negócio (articulando LAM e MEX), da rede e frota, criando sinergias operacionais internas, dimensionamento efectivos e competências, terceirizando actividades, e criando modelos de colaboração ou parceria com outras companhias, com ‘quick wins’ a curto e médio prazos. Esta edição da E&M dedica especial atenção à LAM. Para que possamos ajudar aos nossos leitores na tomada das melhores decisões pois ‘quem lê sabe mais’.
Agosto 2018 • Nº 05
PROPRIEDADE Executive Moçambique
DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba
COnsElhO EDITORIAl
Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo
DIRECTORA EDITORIAl
GRUPO EXECUTIVE Ana Filipa Amaro
EDITOR EXECUTIVO Pedro Cativelos JORnAlIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade; PAGInAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio PRODUÇÃO Iona - Comunicação e Marketing, Lda (Grupo Executive) PUBlICIDADE DEPARTAmEnTO COmERCIAl Ana Antunes (Moçambique) ana.antunes@executive-mozambique. com; iona@iona.pt/contacto@iona.pt (Portugal)
ADmInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBlICIDADE Executive Moçambique; Rua do Telégrafo, nº 109 – Sala 6, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com
DElEGAÇÃO Em lIsBOA Rua Filipe Folque, nº 10 J – 2º drtº,1050-113 Lisboa; Tel.:+351 213 813 566; iona@iona.pt ImPREssÃO E ACABAmEnTO
Minerva Print - Maputo - Moçambique
TIRAGEm 4 500 exemplares númERO DE REGIsTO
01/GABINFO-DEPC/2018
Pastelaria Taverna - Av. Friedrich Engels
Pastelaria Taverna – Av. Július Nyerere nº 967
Pastelaria Taverna – Av. Mao Tse Tung
Pastelaria Taverna – Rua Kibriti Diwane nº 135
Pastelaria Taverna – Av. Marginal
Spar da Interfaranca – Av. 24 de Julho
UEM-Faculdade de Economia - Papelaria Tabacaria Mil e Uma Coisas - Prédio 33
Andares, loja 20
Pastelaria Continental - Av. Samora Machel Capuchinho vermelho – Av. Vladimir Lenine
Julho 2018 4
Iacumba Ali Aiuba
POnTOs DE VEnDA
Director da revista Economia & Mercado
Dubai,
Agosto, o mês dos vôos
É tradicionalmente uma das épocas do ano em que mais gente viaja. E por isso, o destaque para um dos maiores aeroportos do mundo (o 3º, ao nível do volume de passageiros). Os dois primeiros são o de Beijing, China, e o de Hartsfield-Jackson, Atlanta, o mais movimentado em todo o mundo, com uns incríveis 95 milhões de passageiros anuais, mais do triplo da população moçambicana num só ano. Regressando ao Aeroporto Internacional do Dubai, por ali “escalaram” 83,6 milhões de passageiros em 2017. No entanto, essa tal escala, no caso de grandeza que o tornou referência mundial, será em breve amplamente ultrapassada. Aprovado em 2014, está em marcha um plano de 32,2 mil mihões de dólares, para transformar o Al Maktoum International Airport (o segundo maior do Dubai) no maior do mundo. Assim, até 2022, ficará enquadrado no mega-projecto ‘Dubai World Central’, um empreendimento que ocupa uma superfície de mais de 280 quilómetros quadrados (dotado de resorts, hotéis e até campos de golfe), com capacidade de acolher até 220 milhões de passageiros por ano, três vezes mais do que a capacidade actual. Depois, a nova infra-estrutura, só possível de ser executada (e até imaginada) no Dubai, estará ligada ao actual Aeroporto Internacional, que vemos na imagem, por um sistema de comboio de alta velocidade e será servida pelo metropolitano, bem como por outra linha férrea exclusiva.
o
Agosto 2018 6
bservação
Emiratos ÁrabEs uniDos
fOtOgRAfIA Istock Photos
Agosto 2018 7
CPLP “dEvE AgoRA vIRAR-SE PARA o CRESCImENTo EmPRESARIAL”
CE-CPLP. Na cimeira que se realizou em Cabo Verde, no final de Julho, os temas eco nómicos estiveram, mais do que nunca, em cima da mesa. E, nesse sentido, a Confederação Empresarial da CPLP (CE-CPLP), presidida pelo empresário moçambi cano Salimo Abdula desde 2013, deu voz a essa vontade, assumindo ter “chegado a hora da vertente económi ca, depois de mais de 20 anos em que nos centrámos a sua consolidação na cultura e na língua”. Para o presiden te da CE-CPLP, “tem faltado
coragem política, porque os empresários já têm essa visão bem amadurecida, esperando que os políticos abram as auto-estradas, que os empresários farão o res to.” Para Salimo Abdula a mobilidade de pessoas, bens e capitais é essencial, e a Confederação já apresentou uma proposta no sentido de que se chegue à abertura do espaço da CPLP, que integra Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equato rial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
INFRA-ESTRUTURAS BANCA
Ferrovia. A empresa Portos e Caminhos de Ferro de Mo çambique (CFM) anunciou um investimento de 200 milhões de dólares na modernização da rede ferroviária ao longo dos próximos três anos, em todas as regiões do país (Sul, Centro e Norte). Trata-se de uma medida que vai ajudar a reduzir a excessiva quanti dade de carga sobre as estra das e dinamizar a circulação de pessoas em bens, reduzin do o custo das transacções. No ano passado, a CFM alcançou um desempenho notável ao atingir mais de 45 milhões de dólares em lucros.
dimento de grande enverga dura projectado para a área do antigo recinto da FACIM (Feira Internacional de Ma puto), na baixa da capital, Maputo, à luz de um acordo assinado em Julho passado entre o Grupo Visabeira e o Millennium bim.
Não foram ainda revelados os detalhes sobre o projecto fi nal, orçamento da obra ou da tas de arranque e conclusão dos trabalhos, mas os signa tários referem que “será um projecto com conceitos inova dores e modernos, com ele vada qualidade e sustenta bilidade e que vai contribuir para a projecção regional e internacional de Maputo e de Moçambique.”
O acordo prevê, de igual for ma, a transmissão da posição maioritária do Millennium bim na sociedade que actual mente detém os direitos so bre o terreno, para a Visabei ra Moçambique,
Ponte Maputo – Ka Tembe. É já assim chamada a ponte que liga as duas margens da baía de Maputo, mas será mesmo o nome de ‘baptismo’ da in fra-estrutura, se a vontade da Assembleia Municipal de Maputo se concretizar. Após aprovação, a proposta terá de ser submetida à aprecia ção do Conselho de Ministros.
Formação. ‘Mais ferramentas para a implementação de cursos específicos de forma ção no sector bancário’. É este o objectivo da formação de 27 técnicos de várias institui ções bancárias em matérias de gestão de risco, ministra das pela Mozambique Busi ness School, uma unidade or gânica do Grupo IPS, holding detentora da Universidade Politécnica, em parceria com a Frankfurt Business School, da Alemanha.
Imobiliário. Foi anunciado o lançamento de um empreen
Porto da Beira. O governo anunciou, em Julho passado, a prorrogação da concessão à Cornelder de Moçambique, a partir de 2023, ano em que terminam os 19 anos do prazo da concessão ainda em curso.
Sasol. Depois do cancelamento do concurso internacional de 50 milhões de dólares lança do no mês passado pela Sasol, para a logística e transporte de petróleo leve do jazigo de Inhassoro, para o Porto da Bei ra, a companhia admite estar a tentar “melhorar o entendi mento com os parceiros nacio nais.” Nesse sentido, continua “a trabalhar com o país”, dis se Bongani Nqwababa, CEO da Sasol. à E&M.
O curso faz parte de um pro grama de apoio do Banco Eu ropeu de Investimento (BEI) a vários países da África Aus tral, incluindo Moçambique.
Ética empresarial. O Instituto de Directores de Moçambique (IDM) está em fase de eleição de novos órgãos sociais para o triénio 2018-2020, a serem votados em Agosto, em assem bleia geral extraordinária da instituição.
O IDM é uma organização pri vada sem fins lucrativos, criada com o objectivo de promover a governação corporativa,
RADAR 8 Agosto 2018
ética empresarial e mitigação de riscos de corrupção em ins tituições moçambicanas.
PARCEIRoS
Investimento. Durante o en contro de chefes-de-Estado na cimeira da CPLP realizada em Cabo Verde, Filipe Nyusi reuniu-se, na Ilha do Sal, com o presidente do Banco Africa no de Desenvolvimento (BAD), Akimune Adesina, tendo so licitado o apoio do BAD para introduzir um novo mode lo de exploração agrícola no país, com base no bem-suce dido modelo do Gana. “Esse é um caso de sucesso, com um mercado doméstico de senvolvido e integrado, que inclui as vias de acesso e a construção de instalações para processar a produção, e não esquece o aumento das exportações”, assume o Presi dente Filipe Nyusi. A resposta ao pedido de Mo çambique deve resultar na deslocação de uma equipa do BAD ao país para prestar as sessoria e aconselhamento nesta área específica.
vermos como podemos aju dar não só no financiamento, mas também na definição de políticas que ajudem ao de senvolvimento do país”, dis se, em Julho passado, Samuel Loum.
Cooperação. O Presidente da República, Filipe Nyusi, exor tou os empresários moçambi canos a desenvolverem pro jectos concretos no Ruanda, para a conquista de novos mercados e internacionaliza ção da economia do país. “Queremos fazer coisas con cretas com o Ruanda”, afir mou, durante um encontro com uma missão empresarial de Moçambique, em Kigali, no âmbito da visita de Estado que realizou em Julho passa do, ao Ruanda.
O chefe de Estado moçam bicano assinalou que os em presários dos dois países de vem apostar em parcerias que possam ”gerar resulta dos tangíveis”.
Cooperação sino-aficana. No iní cio do mês passado, cerca de 400 delegados e altos funcio nários dos governos de 42 países africanos, incluindo Moçambique, participaram no 4º Fórum de Cooperação entre China e África, realiza do em Beijing. No encontro, a China expressou o seu com promisso em assegurar que África invista no desenvol vimento ao nível do acesso ininterrupto da televisão por satélite.
INTERmEdIAÇÃo dE mERCAdoRIAS PoR vIA dA BoLSA dE mERCAdoRIAS dE moÇAmBIQUE (Bmm)
A BMM é a Instituição criada pelo Governo que, para além de ser responsável pela gestão dos Complexos de Silos, tem o principal papel de aproximar compradores e vendedores. A Instituição constitui uma plataforma segura de transacção de commodities, e tem contribuído sobremedida para o aumento da renda dos camponeses, através da comercialização dos seus produtos em bolsa a preços mais justos.
Com a intermediação de mercadorias em bolsa o empoderamento financeiro dos camponeses envolvidos melhorou significativamente permitindo uma maior planificação e preparação destes para as campanhas seguintes.
A título de exemplo, no ano transacto foram intermediados 255,332.53 kg de mercadoria diversa que beneficiaram produtores, bem como comerciantes a nível das três regiões do país.
O grande desafio que a BMM enfrenta na actualidade prende-se com o envolvimento massivo de todos os camponeses, como forma de oferecer melhores condições financeiras a este grupo em particular, e a todos envolvidos na comercialização de commodities de modo geral.
STOCK DE MERCADORIAS EXISTENTES NOS COMPLEXOS DE SILOS
Apoio externo. O Banco Afri cano de Exportações e Impor tações (Afreximbank) está a levar a cabo um estudo sobre a economia nacional, para depois definir em que áreas e com que montantes vai aju dar, disse à Lusa o director do departamento de análise de crédito do banco. “O director regional para a África Aus tral esteve em Moçambique para, até ao final do ano, fazer um estudo sobre o país para
AgRo -INdÚSTRIA
Agronegócio. Pesquisadores do Observatório do Meio Rural (OMR) consideram que os in vestimentos feitos pelo Estado na mecanização “ainda não es tão a surtir efeitos desejados.” Esta posição foi apresentada numa conferência sobre Po líticas Públicas Para o Agro -negócio que teve lugar em Julho, em Maputo. Durante a
SofalaNhamataNda 92, 833.60 279,661.39 - - 7,160.53
SofalaGoroNGoSa 6,753.50 - - - -
Nampulamalema 113,695.38 1,247.40 990.00
ZambéZiamuGema - -
teteulóNGuè 827,990.53 - 9,906.58 - 110,267.57
C. delGadoNaNjua 37,701.07 - 1,963.54NiaSSaliChiNGa - - - 56,720.00 total/ produto 1,0078,974.08 279,661.39 3,210.94 9,906.58 990.00 174,148.10
Maputo, Bairro da Coop - Rua E, Nº 13 Telefone: + (258) 21902503 - (258) 843203371 Email: info@bmm.co.mz
Agosto 2018
Complexo de SiloS prinCipaiS produtoS em (Kg) milho Feijão Boer Feijão nhemBa Feijão Catarino Feijão Cute Soja
conferência foi apresentado um estudo que revelou que as máquinas distribuídas em algumas zonas do Centro e Norte “não estão a servir as comunidades”.
Pecuária. Um conjunto de em presas privadas da província da Zambézia anunciou o inves timento de cerca de 52 milhões de dólares em projectos de criação de gado bovino, para a exportação de carne com vista aos mercados da Ásia, revelou, no mês passado, o Departa mento de Pecuária na Direc ção Provincial da Agricultura e Segurança Alimentar.
A Zambézia tem grande po tencial na produção pecuária. Estatísticas actuais indicam que a província conta com 47 mil cabeças de gado bovino, das quais 11 500 pertencem a empresas, e as restantes são do sector familiar. Os núme ros representam, ainda assim, uma descida considerável em comparação com os da década de 1980, quando havia 175 mil cabeças de gado bovino.
projecto industrial da segunda fase, inclui a plantação de mais 120 mil hectares de floresta) e iniciada a construção de uma fábrica de pasta de papel com uma capacidade de pro dução de cerca de 1,5 milhões de toneladas anuais. O inves timento nesta primeira fase será de cerca de 260 milhões de dólares, de um total de 2,3 mil milhões previstos até 2023.
RECURSoS NATURAIS
Rubi. A canadiana Fura Gems, passará a ser a empresa com maior área licenciada (1 104 quilómetros quadrados) para a exploração de rubis em Mo çambique, após a conclusão do processo de fusão de activos mineiros com as empresas australianas Mustang Re sources e a Regius Resources Group Ltd. A empresa adquiriu nove licenças mineiras deti das por aquelas duas empre sas, por 15 milhões de dólares australianos.
Actualmente, os rubis de Mo çambique são extraídos no dis trito de Montepuez, província de Cabo Delgado pela empresa Gemfields, através da sua sub sidiária de Montepuez Rubi Mining.
Ouro. A Sino Minerals Invest ment Company, empresa contratada pela Explorator e subsidiária do grupo britânico Xtract Resources para explo rar a parte oriental da conces são de Manica, centro do país, extraiu 1 703 onças de ouro no segundo trimestre, “um au mento de 42% relativamente às 1 200 onças contabilizadas no primeiro trimestre”, infor mou o grupo britânico.
Madeira. No primeiro semes tre deste ano, o grupo britâ nico Obtala, com 10 concessões florestais em Moçambique, obteve uma facturação de 7,3 milhões de dólares, com o processamento de 7,6 mil me tros cúbuicos de madeira no primeiro semestre do ano. O sector florestal é fundamen tal para a economia nacional; gera 330 milhões de dólares em receita anual e, emprega cerca de 22 mil pessoas.
zar a Administração do Traba lho para Melhor Servir”. A certidão de quitação auto mática vai contribuir para a redução da margem de falsifi cações, uma vez que a Unidade Funcional de Supervisão das Aquisições (UFSA), assim como o Tribunal Administrativo têm a possibilidade de confirmar a autenticidade desta certidão, quando recebem o processo.
Segurança Social. Pelo menos 4 500 empresas da província de Nampula estão referencia das como devedoras ao Insti tuto Nacional de Segurança Social (INSS), num valor acu mulado de 130 milhões de me ticais. Segundo a delegada do INSS, em Nampula, Alfredina Garcia, a maior parte daque las empresas são do ramo co mercial, que não canalizam as contribuições dos seus traba lhadores à instituição.
Pasta de papel. A multinacio nal portuguesa The Navigator Company vai reformular o projecto de investimento em Moçambique, que passará a ser desenvolvido em duas fases, ao abrigo de um memo rando de entendimento assi nado com o governo, informou o grupo em comunicado ao mercado. Numa primeira fase, pode ler-se no comunicado dis tribuído pela Comissão do Mer cado de Valores Mobiliários de Portugal, será criada uma base florestal de cerca de 40 mil hectares (o plano florestal de larga escala associado ao
Gás natural. O ministro dos Re cursos Minerais e Energia, Ernesto Max Tonela, esteve na Tailândia para consolidar a parceria (já existente com a agência nacional que regula aquele mercado) para a venda de parte da produção de gás a ser explorado, na melhor das hipóteses, a partir de 2023.
A intenção é a de direccionar para o mercado tailândês 2,6 milhões de toneladas de gás natural liquefeito pro duzido na Área 1 da Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado. O projecto de extracção, proces samento e liquidificação de gás natural consiste em duas unidades de processamento com capacidade para 12,88 milhões de toneladas por ano.
PAÍS
Quitação automática. O Minis tério do Trabalho, Emprego e Segurança Social (MITESS) lançou a certidão de quitação automática, uma simplificação que permite ao empresário entrar no sistema de Seguran ça Social via internet, verifi car a sua situação contributiva e emitir a certidão de quitação para participar em concursos do Estado.
O lançamento foi efectuado durante o XXIX Conselho Coor denador do MITESS, que decor reu na cidade de Inhambane, entre os dias 18 e 20 de Julho corrente, sob o lema “Moderni
INAE. O Instituto de Inspec ção da Actividade Económica (INAE) anunciou a expansão da fiscalização para todas as unidades económicas do país. Para o efeito, está a levar a cabo uma parceria com o Banco Mundial no sentido de “desenhar um plano estraté gico e operacional a ser im plementado entre os anos de 2019 e 2023”.
O director de operações da INAE, Ali Mussa, revela que, após a sua conclusão, este pla no irá permitir, “não apenas a expansão das actividades de inspecção, mas também a di vulgação da lei que regula a actividade económica em todo o país, com claros benefícios quer para empresários, quer para os consumidores.”
RADAR Agosto 2018 10
Arquitectos das estruturas sociais
Santiago Iñiguez de Onzoño • Presidente IE University
actualmente, e mais do que nas últimas décadas, o mundo carece de bons dirigentes e empreendedores. Desse modo, é preciso restaurar o valor social do bom empresário e da acti vidade empreendedora, pois só assim se propicia a resolução de qualquer crise e se promove o crescimento económico. A melhor forma de combater a intransigência, o choque entre culturas, as más políticas a nível internacional ou a ascensão do populismo e do nacionalismo exclusivista é desenvolver bons negócios, criar empresas novas, inovar, gerar riqueza e promover o valor social. Que conselhos daria a empresários e dirigentes para lidarem com as circunstâncias actuais de volatilidade e maior incerteza? Em primeiro lugar, que não descurem as questões fundamen tais, as regras de ouro das boas práticas de direcção, que mui tos terão aprendido nas escolas de gestão. São elas as questões relacionadas com a necessidade de formular estratégias a lon go prazo para as suas empresas, de identificar fórmulas sus tentáveis de geração de valor, de fazer avaliações ajustadas do risco, de adoptar planos de contingência para prevenir cená rios negativos, de apostar no activo mais valioso da empresa sem dúvida, o talento e as pessoas e de procurar novas opor tunidades para inovar e renovar as empresas que dirigem. Uma forma alternativa de inovar é reduzir os custos e au mentar a produtividade iniciativas vulgarmente implemen tadas em situações de crise, que também reflectem uma visão empresarial. Mas, a par da tomada de medidas de contenção e poupança, é preciso tratar de outras questões-chave: como impulsionar o negócio, renovar produtos e serviços, que no vos mercados geográficos abordar, se é oportuno diversificar a actividade e se existem possíveis alianças estratégicas pas síveis de reduzir os riscos. O modelo de líder empresarial que propus nos últimos anos é o do dirigente cosmopolita, que possui três atributos: é respon sável, culto e competente.
A responsabilidade do empresário cosmopolita manifesta-se, desde logo, nas relações com as pessoas que dirige e que com põem a sua empresa. Tal como noutros âmbitos profissionais,
os líderes sabem orientar as suas equipas para atingirem os objectivos da melhor forma possível. Mas a responsabilidade do dirigente também se projecta nos restantes stakeholders, que incluem os agentes sociais de dentro e fora da empresa. A actividade do líder empresarial não pode ser imune a uma avaliação por parte da sociedade, uma vez que as empresas são organizações essenciais para o desenvolvimento socioeco nómico, a geração de valor e o emprego.
É evidente que, para além das responsabilidades legais que possa ter no exercício da sua actividade, o empresário está sempre sujeito ao escrutínio social, no que respeita ao seu comportamento e às suas decisões. A projecção global de mui tas empresas, por vezes, exige que os seus líderes tenham uma atitude de abertura, uma visão e compreensão abran gentes do mundo, bem como uma postura tolerante e conhe cedora das diferentes culturas, da diversidade humana e das várias formas de expressão da civilização: em suma, um dirigente cosmopolita tem de ser culto e deve ser ávido de novos conhecimentos sobre outros povos, as humanidades, as artes ou as ciências, durante toda a vida. Por vezes, pensamos que, com a idade, já alcançámos um acervo cultural suficien te e que já não temos tanta necessidade de adquirir novos conhecimentos quanto nas primeiras etapas da nossa vida. Não obstante, os grandes sábios sempre se caracterizaram por uma permanente inquietude e vontade de aprender, uma humildade característica perante o novo e uma curiosidade insaciável pelo que é diferente. É essa atitude de persistente abertura às ciências e humanidades que permite continuar a desenvolver o espírito empreendedor nas etapas mais avan çadas da carreira profissional. E, por fim, os empresários cosmopolitas também são competen tes. Conhecem as bases da sua profissão e continuam a actuali zar conhecimentos e capacidades de que necessitem, ao longo de toda a carreira, uma vez que o ambiente empresarial está em constante mudança. A formação contínua a procura de novas formas de inovação e de conhecimento empresarial é uma das características fundamentais de um gestor de topo.
A par da tomada de medidas de contenção e poupança, é preciso impulsionar o negócio, renovar produtos e serviços, escolher que novos mercados geográficos abordar, se é oportuno diversificar a actividade e se existem possíveis alianças estratégicas passíveis de reduzir os riscos
OPINIÃO Agosto 2018 12
Turbulência na laM obriga a procurar saída de eMergência
Atrasos e cancelamentos de voos, dívidas e custos astronómicos das passagens e um aparente descontrolo da gestão operacional levaram o Governo a afastar a administração da empresa. Apesar de tudo, mantém-se o potencial de criação de mais valias para a economia nacional. A E&M analisa os cenários de futuro da LAM
privatizar ou reestruturar e manter a companhia como um dos símbolos do orgulho nacional? Esta questão já foi muitas vezes levantada em Moçambique, e também em inúmeros países onde as com panhias aéreas de bandeira enfrentam dificuldades de or dem financeira, à semelhança do que sucede com a LAM. A particularidade, porém, é que enquanto outros países avançam e experimentam resultados (bons ou nem tanto assim), em Moçambique pas saram-se décadas e não hou
ve nem uma reestruturação, profunda nem um movimento em busca da alienação do capi tal a um operador privado. Interessa agora buscar os di ferentes caminhos que resol vam os problemas concretos da LAM, muito a propósito da mais recente repetição da cri se de combustíveis que resul tou no secular problema dos atrasos, cancelamentos de voos e demissão de mais um conse lho de administração (o sexto desde 2011), em Julho passado. A Economia & Mercado con versou com quatro quadros da
LAM, dois deles fizeram parte dos anteriores conselhos de administração e outros dois do mais recente. Todos aceitaram a entrevista com a condição de não serem identificados. A primeira ideia que fica é que tanto a reestruturação (realização de um conjunto de reformas correctivas) quanto a privatização podem trazer resultados bons ou maus e, de facto, as duas opções di vidiram opiniões dos nossos entrevistados. Dois dos antigos quadros da LAM entendem que alienar
as participações da LAM a um operador externo com capa cidade técnica e financeira reconhecida “seria a saída mais apropriada” para o es tágio actual da empresa, isto porque, sustentam, “a rees truturação exige demasiadas mudanças que obedecem a condições financeiras que não seriam comportáveis na fase em que o país está”, assinalam. “Já passou o tempo em que era possível fazer a reestrutura ção com relativa facilidade”, defende a fonte. Além disso, os problemas da LAM estão
Macro Agosto 2018 14
relacionados com as opções de gestão consideradas “ina dequadas”. Deste modo, ao colocar uma participação do capital da empresa sob ges tão de um operador pujante (a Ethiopian, que parece in teressada, ou até a Emirates), a LAM ganharia “muito ra pidamente”, uma postura e confiança dos credores, que seriam suficientes para rene gociar as dívidas, restaurar a eficiência técnico-operacio nal e por essa via recuperar a confiança dos clientes e a es tabilidade financeira. E aqui, a experiência pare ce indicar este como um bom argumento. É que a venda da participação em compa nhias de bandeira de países com economias menos pujan tes teve, em muitos casos (não todos, como no caso da Air Tanzânia, adquirida pela SAA, ver caixa da página seguin te) um impacto positivo nas operações de inúmeras com panhias, incluindo em países da África Austral.
Mas não é apenas através da alienação de capital que isso pode ser feito. Em Angola, por exemplo, em finais de 2013, o governo firmou um acordo de gestão que colocou a TAAG ‘sob a alçada’ administrativa da gigante dos céus Fly Emi rates, isto quando a empresa acumulava problemas se melhantes aos da LAM, com prejuízos na ordem de 99 mi lhões de dólares por ano. Com a gestão da Emirates, três anos depois, em finais de 2016, os custos da operação baixa ram 100 milhões de dólares, reduziu-se significativamen te o número de trabalhadores (na altura estimados em cer ca de 4 000) e a companhia está hoje melhor que em 2013. Em Cabo Verde, acontece algo parecido. com a privatização da companhia de bandeira (Cabo Verde Airlines) até ao fi nal deste ano.
liberalização? sim, mas... O contexto actual não favore ce a criação de parcerias de
gestão com operadores exter nos. Porquê? Quando os inves tidores adquirem participa ções em companhias aéreas estão, muitas vezes, em busca dos direitos de tráfego de um espaço fechado a operadores externos.
Mas ocorre que o espaço aé reo nacional já está aberto a novos operadores. E a questão é: se é possível operar directa mente no mercado doméstico (como a Fastjet já faz ou como a Ethiopian Airlines promete fa zer em breve) porque o inves tidor precisaria de comprar uma participação da LAM e correr riscos de herdar os seus problemas se o pode fa zer sem isso? Os especialistas falam de um trunfo: tentar convencer os operadores ex ternos a entrarem na gestão da LAM para aceder ao mer cado regional (África Austral) e ao mundo.
Quem defende esta opção re fere ainda que, mesmo que a reestruturação seja assumida no imediato, será importan te encontrar um parceiro es tratégico para gerir a LAM de
3,2
mil milhões de meticais
A despesA corrente AnuAl dA lAM MAis do que duplicou desde 2016, quAndo erA de 1,5 Mil Milhões de MeticAis. Já As perdAs AcuMulAdAs tAMbéM ultrApAssAM os 7,1 Mil Milhões de MeticAis
modo a trazer ‘know-how’ e eficiência para as operações. Historicamente, já houve duas tentativas de busca de parcei ros estratégicos para a gestão da LAM. A primeira proposta foi apresentada à South Afri can Airways (SAA), em finais dos anos 90, e a última à TAP Air Portugal, em 2004. Am bas não avançaram e decidiu -se pela reestruturação, que também nunca se concretizou. Como será desta vez?
a reestruturação passa por cortar (e muito) na despesa
A E&M teve acesso às pro postas de reestruturação da LAM que foram feitas por di ferentes equipas de gestores da empresa ao longo dos últi mos anos, incluindo a propos ta técnica para a elaboração de um business plan (Plano de Negócios) da LAM para o pe ríodo 2018-2028, encomenda do à consultora Deloitte, com experiência na reestrutura ção de companhias aéreas de renome, como a TAP ou a Bri tish Airways, por exemplo. Todos os planos existentes con
dEpEndênciA dE cApitAis ALhEios…
Nos últimos anos, os capitais próprios da LAM sempre foram negativos, o que indica o grau de dependência financeira da empresa face a um elevado endividamento conjugado pela incapacidade de gerar receitas superiores aos custos operacionais
14,3
mil milhões de meticais Passivo da LAM é alavan cado por capitais próprios negativos e dívidas à banca
... FActurA pEsAdA nos coMbustívEis...
Não é por acaso que fatia considerável das dívidas da companhia é com os fornecedores de combustíveis. Estes representam um terço do peso dos custos totais da empresa
… E FrotA cAdA vEz MEnor
Em quatro anos, a frota reduziu para menos de metade porque os aviões eram, na sua maioria, alugados e tiveram de ser devolvidos para aliviar os prejuízos causados pela pouca rentabilidade
Em unidades
Agosto 2018 15
-1321 -1553 2015
Em milhões de meticais Em %
2016 fontE: KPMG fontE: KPMG (1) outros
coMbustívEL 67 33 (1) Aluguer de aeronaves, pessoal, taxas fixas, rendas, fornecedores
LAM
14
2014
fontE:
2018 10
6 2016
bons (E MAus) ExEMpLos Lá dE ForA
As várias experiências mostram que a privatização nem sempre traz os resultados esperados para muitas companhias. É que há um longo caminho anterior a isso
tAcv
Companhia de Cabo Verde atravessa um processo de privatização e será a Icelandair a detentora de 51% do capital de uma empresa que, nos últimos anos, acumulou um passivo superior a 120 milhões de dólares.
tAAG
Com uma série de problemas técnicos e financeiros o Governo concedeu a gestão à Fly Emirates em 2014. Dois anos depois notavam-se melhorias, com destaque para a poupança de custos de 100 milhões de dólares.
Kenya Airways
Até 1996 pertencia ao governo queniano que viria a alienar 26% do capital da companhia. A verdade é que hoje, a frequência dos voos cresceu 61%, tornando Nairobi num hub regional. A companhia aérea tem sido rentável desde então.
Air tanzania
Em 2002, a South African Airways comprou 49% do capital da Air Tanzania. No entanto, a operação não alcançou os resultados esperados (acumulou prejuízos), e em 2006 o governo tanzaniano decretou o encerramento.
tAp Air portugal
Acumulou prejuízos (100 milhões de euros ao ano nesta década) e chegou a ser privatizada, tendo sido recomprada pelo Estado, que já não detém a gestão. Só em 2018, pela primeira vez na década, deu lucros de 20 milhões de euros.
uma coisa é certa para a LAM. É urgente reestruturar a companhia. E depois, definir o melhor caminho ou rota a seguir
vergem em algo relativamen te óbvio: poupança de despe sas. Por já existirem documen tos contendo os passos a dar neste sentido, os entrevista dos da E&M defendem que “a reestruturação é a via a ser seguida.”
No capítulo da reestruturação da frota, o caminho sugerido é o investimento em aviões de maior capacidade, pela ques tão geográfica e pela nature za da carga transportada, que geralmente comporta volume relativamente maior do que na realidade de outros países, sobretudo os europeus. Depois, a escolha de aerona ves deveria recair em mode los que apresentem menores consumos de combustível (que representa 33% da estrutura de custos). “O Embraer 190, por exemplo, consome 40% me nos do que o Boeing 737 para a mesma distância”, dizem-nos. Aliás, esta opção de sair gra dualmente dos Boeing 737 e adquirir os Embraer já vinha sendo discutida desde 2008. E pelo plano traçado, até es ta altura a LAM deveria ter comprado já cinco Embraers,
que além da poupança de cus tos de combustível, permitiria também poupar na compra de peças e com a tripulação, em cerca de 30%. No entanto, esta é uma equação difícil de reali zar. Porque, para poupar cus tos, é preciso investir primei ro, e a LAM está já demasia do endividada (especialmen te à banca) e apresenta um passivo de 14,3 mil milhões de meticais.
Terceira via: ‘sale-and-leaseback’ Uma das possíveis saídas para este dilema, seria a realiza ção de uma transacção deno minada ‘sale-and-leaseback’ dos aviões, um processo que consiste em vender aviões a uma companhia aérea inte ressada e, no mesmo proces so, alugá-los pagando uma renda periódica significati vamente mais baixa. Poderia assim angariar o capital ne cessário para a reestrutura ção financeira e operacional e garantir uma alternativa viável ao crédito bancário, o que representaria um ganho adicional para a tão endivi dada LAM. Até porque não
Macro Agosto 2018 16
Frota é um problema: companhia apenas tem seis aviões no activo
se trata de uma experiência nova. A empresa já fez, no pas sado uma operação semelhan te com dois aviões Bombar dier Q-400, cujo resultado até foi bem-sucedido. No entanto, há a dificuldade de, nesta al tura, cinco dos seis aviões com que a LAM opera, não lhe per tencerem (são alugados ou es tão ainda a ser amortizados). Outra das recomendações emanadas pelo estudo da De loitte é a fusão da estrutura da MEX (subsidiária) e da LAM e integrar os aviões das duas companhias numa única frota. Dessa forma, chegar-se-ia a um outro número que sempre fez correr muita tinta. os cer ca de 800 trabalhadores exce dentários (há quem diga que são muitos mais face às neces sidades) que as companhias apresentam, havendo a ne cessidade urgente de reduzir significativamente o número. “Qualquer reestruturação a ser feita vai, necessariamen te, exigir a redução drásti ca do pessoal”, revela um dos entrevistados.
Mas o chamado redimensio namento da força de trabalho tem regras. Uma das opções, (que já foi prática na LAM quando em 2005 conseguiu reduzir de 2 000 para 600 o número de trabalhadores) é criar autonomia dos serviços auxiliares (não directamente ligados à actividade da avia ção), e assegurar que muitas das pessoas não percam o em prego. É um investimento que consiste em criar serviços au tónomos ou de outsorcing de handling, administrativos, ground force, postos de venda e outros serviços, através de parcerias com investidores nessas áreas. Assim, deslocali za-se a gestão, faz-se emagre cer a factura de custos.
porque nada mudou? Só para se ter uma ideia, em se te anos a companhia teve seis conselhos de administração. As nossas fontes referem que cada uma das equipas che gou com prioridades próprias
“anulando as anteriores, ao invés de trabalhar no senti do de melhorar o que já ha via de bom.” Um bom exemplo disso, é o facto da adminis tração que acaba de sair, ter iniciado o seu mandado a can celar um concurso interna cional de reestruturação da empresa lançado, pela direc ção anterior, e criando uma descontinuidade com as refor mas propostas feitas pela an tiga administração (que saiu em Fevereiro de 2016), e já apresentadas ao IGEPE no âm bito dos termos de referência da sua gestão. Elas apontavam a eliminação do IVA nas pas sagens, a taxa liberatória na importação de peças e consu míveis, a eliminação das taxas de combustível e da Kudum ba, os scanners aeroportuá rios, como medidas com vista a baixar os preços dos vôos, e a melhorar a gestão operacio nal da empresa.
O que denota que, para além da própria empresa, o pro blema também foi, muitas das vezes, a falta de resposta dos accionistas (maioritário é o Es tado) às propostas que as ad ministrações foram colocando. “Muitas propostas acabavam na gaveta porque nunca se decidia em tempo útil”.
As nossas fontes suspeitam que uma das razões para a indefinição “foram as dificul dades financeiras, visto que era necessária a recapitaliza ção da companhia para levar avante os planos que eram apresentados, enquanto ao mesmo tempo havia a neces sidade de manter a LAM como companhia de bandeira, evi tando a entrada de capitais externos.”
Agora, comandada pelo no vo director-geral João Carlos Pó que pertenceu à adminis tração que cessou funções em 2016, haverá porventura um novo plano de voo para levar a LAM a uma aterragem segura.
Agosto 2018
TExTo Celso Chambisso
FoToGrAFIA D.R
EmbalagEns, Uma indústria a prEcisar dE ganhar… Embalo
Se a produção industrial ainda é o parente pobre da economia nacional a indústria das embalagens ressente-se naturalmente disso. Ainda assim, o que há não chega para satisfazer as necessidades do mercado interno, fazendo com que o país perca 120 milhões de dólares em importação de embalagens, de acordo com um estudo da GAIN
num momento em que, por toda a Áfri ca a produção industrial tende a ganhar peso, um segmento essencial como o das embalagens, que a nível global repre senta hoje qualquer coisa como 3 biliões de dólares, em Moçambique, ele ainda não ganhou o embalo necessário. Talvez porque a própria produção ‘made in’ Moçambique continue a ser o parente pobre da economia nacional, o que leva al guns investidores contactados pela E&M a não hesitarem em afirmar que inves tir no negócio de embalagem no país, “é apostar num investimento sem retorno.”
o que faz falta Quase uma década após do antigo Pre sidente da República, Armando Guebuza,
ter recomendado a realização de refor mas com vista à melhoria da imagem da apresentação dos produtos nacionais, so bretudo os agro-processados, as mudan ças que foram entretanto introduzidas no sector continuam a não satisfazer as necessidades do mercado. Recuando no tempo, em finais Agosto de 2009, o antigo presidente inaugurava a 45ª edição da FACIM e constatava publicamente que a maior parte dos produtos nacionais “tinham um problema comum. A emba lagem.” Farinhas, frutas, vegetais, eram até então embrulhados, expostos e ven didos em sacos plásticos, latas e garrafas reutilizadas, porque o mercado nacional não tinha capacidade de produção de in vólucros para cada produto.
Quase uma década depois, o sector conti nua sem conhecer grandes desenvolvi mentos (apesar da entrada de algumas empresas no mercado). Serão hoje cer ca de 30 (chegaram a estar registadas 70) e produzem embalagens de plástico e cartonados, mas, por exemplo, o sec tor de vidro permanece adormecido.
o estado do sector
Tal como outras indústrias existentes no país, a indústria de embalagem ain da não conseguiu ganhar o seu espa ço devido à incapacidade interna para obter matéria-prima ao que acresce o pesado fardo burocrático que dificulta a realização de negócios neste ramo de actividade, o que só promove a existên
macro Agosto 2018 18
cia de um segmento pouco diversificado. De acordo com a pesquisa da E&M jun to de alguns agentes deste segmento do sector industrial, existe um universo de pequenas empresas produtoras de em balagens que são insuficientes para a de manda existente. E é por isso que, a falta de uma indústria de embalagens provo ca um prejuízo para a economia nacio nal de cerca de 120 milhões de dólares. Estranho? É que devido às importa ções de embalagens acabadas, ou de ma téria-prima para a produção interna, gera-se um custo, que advém da inexis tência de uma cadeia de valor que favo reça os agentes do sector. E a ausência de uma indústria de emba lagem capaz de satisfazer as necessida des do mercado interno, faz com que o país seja hoje, um dos maiores importa dores de embalagens ao nível da região austral, ocupando a terceira posição de pois do Madagáscar e Tanzânia.
desperdício
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE) neste momento, 45% do volume das importações de embalagens utilizadas em Moçambique provém de África do Sul, Holanda e Portugal. “No passado, Moçambique chegou a dispor de uma indústria de embalagem di versificada, desde a plástica, de papel e cartonagem, metálica, de vidro, madei ra e a sacaria diversa, como sisal, que permitiam a auto-suficiência do país. No entanto, a situação inverteu-se nos anos 80, quando a capacidade de produção reduziu e o sector de embalagem ficou paralisado”, assinala o Instituto para Pro moção de Pequenas e Médias Empresas (IPEME), a instituição que tutela a área das embalagens no país. De lá para cá, o sector parece ter caído no esquecimento. Se no passado houve no país algo pare cido com uma verdadeira indústria de embalagens diversificada e capaz de satisfazer até certo ponto as necessi dades internas, ao nível da oferta e da qualidade, isso já não acontece. Depois, também a oferta é pouco diversificada, inclinando-se em 90% para a produção de embalagens plásticas feitas a partir de material reciclado “desprovido de qualidade”. Os restantes 10% ficam por conta da produção de embalagens de papel e rafia.
Um estudo da Global Alliance for Impro ved Nutrition (GAIN Moçambique) apre sentado em Junho passado, aponta preci samente essa realidade. “As embalagens são, na sua maioria feitas com base em
A ImportâNcIA de umA boA embAlAGem
O consumidor africano é muito diversificado, com uma ampla gama de expectativas quanto à dimensão das embalagens, à rotulagem e à facilidade de uso. Não é de surpreender que as mudanças mais simples possam fazer a diferença no volume de vendas e na receita líquida dos produtos, com impacto directo na indústria e em outros sectores de actividade
Importação
A inexistência de uma indústria de embalagens leva a que os produtos acabem por não ser competitivos no preço, porque as despesas com importação de matéria-prima e embalagens acabadas só pode ser reduzida se forem compradas em grandes quantidades.
enquadramento
Os investidores nacionais deveriam poder aceder a tecnologias de fabricação e taxas competitivas para as suas empresas, potenciando a produção interna.
cadeia de Valor
Sendo uma cadeia produtiva cujos resultados dependem fortemente de escala e volume, isso só pode ser alcançado dispondo de uma verdadeira cadeia de valor que contribua para reduzir custos fixos por unidade, tendo por base tarifas mais competitivas de logística, transporte e energia.
material reciclado, situação que contri bui para a falta de qualidade nas emba lagens nacionais.”
Numa alusão à ausência de uma estra tégia para colocar o sector ao nível do que acontece noutros países, o estudo re fere também, que “a indústria nacional de embalagens “ainda é incipiente, o que leva as empresas nacionais a apostarem na importação, que exige um exercício logístico complexo para garantir o apro visionamento e ainda gerir o risco das variações cambiais do mercado interno e externo”, pode ler-se no estudo a que a E&M teve acesso.
Olhando ao mercado, a TOPACK Moçam bique, uma empresa produtora de em balagens plásticas, considera que “a indústria continua a não ter grande ex pressão no mercado nacional devido à baixa produtividade do mercado interno que está aquém dos níveis satisfatórios, o que acontece por falta de matéria-pri ma. Por este caminho, pode dizer-se que este segmento está a caminhar a pas sos largos para a sua falência”, assume Arich Assane, da TOPACK.
mudança legal
Uma das razões apontadas para este declínio do segmento apontada à repor tagem da E&M por diversos agentes do sector, foi a introdução, em 2013, de um novo regulamento sobre a produção e comercialização de produtos alimenta res em recipientes plásticos. Com este novo enquadramento legal, que só vi ria a ser implementado dois anos depois, ”deixa de ser permitida a comercializa ção de bebidas alcoólicas em recipientes de plástico e em outros permitidos para a comercialização de bebidas alcoólicas originalmente usadas para outros fins.” Não se sabe ao certo o que terá arras tado a economia das embalagens para o abismo. De acordo com o gestor Arich Assane, “o regulamento pode não ter tido influência directa na crise do sector, mas serviu de estímulo para devastar uma área de actividade que já se encontrava em queda livre.”
Alinhando na mesma lógica, Jorge Chis sano, da empresa de processamento de embalagens RIPLEX, acrescenta que o novo regulamento “só veio sentenciar” a crise que já há algum tempo havia ini ciado. “Não diria que esta falência quase colectiva é fruto do novo regulamento, mas que é indesmentível que influen ciou o ambiente em que o mercado se encontra actualmente”, frisa.
Luís Barata, gestor da unidade de mer
Agosto 2018 19
retrato
segmento precisa de “olhar para dentro” para poder ser, efectivamente, uma indústria
estudo da GAIN indica que, para além da ausência de uma indústria de embalagem robusta no país, o mercado não é diversificado e está centrado apenas nos plásticos reciclados
cados de alimentos nutritivos da GAIN vai um pouco mais atrás na questão, e reitera que “é preciso que as produto ras de embalagens façam um estudo de mercado antes de começar a apostar na produção”. A fonte acrescenta ainda, que, “é necessário olhar primeiro para dentro, para as necessidades do próprio mercado, analisar que tipo de produtos, para que tipo de clientes, que tipo de oferta deve existir e a que é possível, face aos contrangimentos da produção nacional de matéria-prima”, aponta. Se por um lado, o mercado das embala gens padece da insuficiência de quali dade e de matéria-prima, por outro, não existe um plano estratégico orientado para orientar e fazer crescer mercado. E é por isso que Luís Barata, considera que o mercado das embalagens no país “está desenvolvido de uma forma pre cária e ambígua”, de tal forma, diz, “que, denota uma descontinuidade a vários níveis, como é o caso da falta de ligação entre produtores e possívels clientes.
A formação não está alinhada com a demanda do mercado e o sector priva do tem uma capacidade limitada para proceder a investimentos”. E continua: “os produtores nacionais, desconhecem a existência de fornecedores ou empre sas que fabriquem embalagens interna mente. Creio que há, também, um défice de comunicação a esse nível. Como é pos sível um produtor ou uma empresa que produz milho em Nampula não saber que existe na mesma província uma in dústria de processamento embalagens?
A cadeia de valor entre os produtores alimentares e as empresas deste ramo têm de estar sempre ligadas de modo a que ambas se complementem dentro do mercado”, defende.
Entretanto, mesmo diante de todos os problemas apontados, o responsável da GAIN, “vê um enorme potencial neste mercado, porque o desafio da produção interna, ao nível do agro-processamen to, por exemplo, está a ser encarado com grande seriedade nesta altura e será
crISe tIrou embAlAGem àS INdúStrIAS…
Mercado perdeu 39 empresas em apenas dois anos, fruto das condições desfavoráveis da economia e da pouca expressão da indústria do país
… e reVelou um Sector pouco dIVerSIfIcAdo
A falta de diversificação da indústria reflecte a pouca diversificação do segmento das embalagens de uma forma global, algo evidenciado pelo facto de quase todos os operadores actuarem no segmento dos plásticos
90% embalagens plásticas 10% embalagens de papel e rafia
71 32 2015 2017 fonte: GAIn Moçambique
necessária, mais do que nunca, uma in dústria forte que consiga dar resposta a essa demanda. Para isso, é necessária uma indústria de papel e de vidro no país, Se formos a ver, a nossa indústria de embalagem, principalmente plástica, é suportada pela reciclagem. O restante é importado, e isso terá de mudar“, diz. A GAIN entende que “há todas as condi ções para a existência de uma indústria de produção de matéria-prima para fomentar as empresas de embalagens. uma situação que iria resolver os pro blemas enfrentados pelas empresas de embalagens.”
Mas, para isso, claro, é preciso também um enquadramento fiscal que promova o investimento nesta área de mercado, “A falta de incentivos fiscais e de facili dades para o acesso ao crédito é outro problema que os investidores do sector enfrentam.”
tamanho importa
Nilsa Miquidade, Directora Nacional da Indústria, considera existir “uma indús tria de embalagem no país, mas que pre cisa de um investimento forte do sector privado para o seu reatamento.” Nesse sentido, revela estar em curso “a defini ção de um plano estratégico para atrair
macro Agosto 2018 20
imaginário:
investidores para apostarem no desen volvimento deste segmento no país.” Mas enquanto eles não chegam, a GAIN recomenda aos produtores das embala gens algumas medidas para contrariar a onda negativa que parece ter tomado conta deste mercado. Para começar, a aposta em embalagens de dimensão mais reduzida, “de modo a possibilitar maior capacidade de entrada no mercado. As empresas ainda não produzem de acordo com as necessidades e requisi tos do mercado, uma vez que grande parte da população moçambicana está tipificada como sendo de renda baixa. E o que está a acontecer é algo que con traria isso, ou seja, aposta-se em forma tos de grande dimensão para os quais, muitas vezes, não há procura directa.” Pode parecer estranho, que algo que a maioria de nós utiliza quotidianamen te, nunca seja alvo de muita atenção, na avaliação de um produto. A verdade é que se o ditado diz que não se deve jul gar o conteúdo pela embalagem, em lin guagem económica, não é bem assim, até
975
Mil Milhões de dólares
Foi o valor global de vendas da indústria das embalagens até ao Final do ano passado, num segmento de mercado que, no seu todo, chega perto dos três biliões de dólares
porque falamos de uma indústria que anualmente movimenta no mundo, per to de um bilião de dólares em vendas. “É um facto. Na verdade, a embalagem conta mesmo... nas contas finais da eco nomia. E este estudo da GAIN feito sobre uma matéria que tem implicações no mercado produtivo, no emprego formal e na segurança alimentar, por exemplo, já para não falar das contas macroeco nómicas relacionadas com a diminuição da factura das importações, algo fun damental para o país, tenta oferecer ferramentas adequadas aos agentes do sector para serem utilizadas na reacti vação de uma indústria estruturante da nossa economia”, considera Luís Barata. Resta esperar que a produção nacional aumente, que os agentes do mercado aguentem e que o país passe a olhar mais para os seus produtos e se lembre de não deitar fora as embalagens.
textO Hermenegildo langa fOtOgrAfiA istock PHotos
úmeros em conta
imobiliário: onde mora o potencial?
a quebra da economia foi dura para os investidores em Moçambique, especialmente os do ramo imobiliário. Porquê? Porque, du rante a fase ‘quente’ da economia nacional, entre 2012 e 2015, construiu-se em excesso para um tipo de clientela que, com a quebra que se seguiria a esse período, pura e simples mente deixou de investir em Moçambique. O problema do excesso de oferta que se verifi ca nos segmentos residencial e de escritórios tem merecido um amplo debate por parte dos principais agentes do mercado imobiliário mas há segmentos que apresentam uma ten dência de crescimento assinalável. É o caso do retalho. Se olharmos para as gran des superfícies comerciais, o potencial de crescimento ainda é grande, de acordo com
um estudo da REC - Real Estate Consulting, a que a E&M teve acesso. Mesmo que, em Maputo e Matola, a maior parte da oferta até já esteja em utilização (com destaque para o Baía Mall e o Novare Matola, inaugurados no último ano), há indicadores claros, ao ní vel da despesa dos agregados familiares, que indiciam haver ainda uma lacuna ao nível do preenchimento destes espaços (e também retail parks de média dimensão direccio nados às classes média e média-baixa) de quase 200% na capital e de mais de 100% na Matola. De realçar ainda a ligeira recupe ração do mercado em Pemba, com as rendas médias mais elevadas precisamente no reta lho, isto apesar dos atrasos dos projectos de exploração de gás natural.
Agosto 2018 22
N
28,9 64,1 140 1 308 599,3 270,9 despesa anual despesa anual em produtos e serviços de retalho despesa anual em produtos de consumo 762,9 349,4 157,9 despesa anual despesa anual despesa anual em produtos e serviços de retalho despesa anual em produtos e serviços de retalho despesa anual em produtos de consumo despesa anual em produtos de consumo Stock total de eSpaço de retalho 103 Stock total de eSpaço de retalho 72 Stock total de eSpaço de retalho 9 capacidade de gerar eSpaçoS de retalho 277 capacidade de gerar eSpaçoS de retalho 162 capacidade de gerar eSpaçoS de retalho 30 retalho é o segmento de imobiliário com mais potencial para crescer 1 2 3 Em milhões de dólares e milhares de m2 Em milhões de dólares e milhares de m2 Em milhões de dólares e milhares de m2 mil m2 mil m2 mil m2 maputo matola beira 174 90 21 potencial de crescimento potencial de crescimento potencial de crescimento
maputo
Habitação
Em unidades
1 889 1 429
Stock Existente Em Construção
Em dólares por m2
pemba
Habitação
Escritórios
Em m2
232,600 25,073
Stock Existente Em Construção
Em dólares por m2
taxa de ocupação: 36,4% ocupação: 84,666 m2 renda média: 25,6 dólares market Yield 11,4% 102,8 1,958 Em m2 Em dólares por m2
Retalho shopping centres – renda media: 28 dólares retail parks - renda média: 19 dólares market Yield 10%
Stock Existente Em Construção
Industrial
Em dólares por m2
preço médio: 2 315 dólares renda média: 7,4 dólares market Yield 6,7% - 9,5 %
preço médio: 1 415 dólares
capitalização média
Tem-se verificado alguma recuperação dos preços e um incremento ligeiro da procura. No entanto, o atraso dos projectos de gás natural e a desaceleração da demanda de grandes empresas de petróleo e gás, leva a que o potencial imobiliário da região esteja ainda “estagnado”
Retalho
1 051 71 051 195 0 Em unidades Em m2 Em dólares por m2 Em dólares por m2 Em dólares por m2 Stock Existente Stock Existente Em Construção Em Construção
market Yield market Yield 10,1 % 12% 12%
Em dólares por m2
renda media: 11 dólares
preço médio: 13,4 dólares renda média: 24,9 dólares renda média: 20,6 dólares
capitalização média capitalização média capitalização média
Em dólares por m2
Em dólares por m2
13,2% 12,5% 12%
Q&a
o que é a market yield?
É uma medida de rentabilidade muito utilizada no mercado imobiliário que representa a variável para determinar o potencial valor de um imóvel, usando o método de rendimento, que afere que o valor de um imóvel não é mais que a renda anual dividida pela yield (ou, em cálculo financeiro, o valor actual de uma renda perpetuada).
Agosto 2018 23
preço: 2 315 dólares renda média: 14,5 dólares market Yield 6.7% - 9.5 % 66,2% das despesas domésticas mensais estão em áreas com baixa cobertura de retalho
matola
Industrial Retalho o potencial
preço médio: 460 dólares renda média : 4,6 dólares REC
renda média: 7,5 dólares
Escritórios Retalho fontE: ‘State of the Market’ -
Como evoluem os preços de transferência
Romana Almeida • Head of Tax da RSM Moçambique
a 12 de setembro de 2017, o Conselho de Ministros aprovou a legislação para os preços de transferência, publicada no De creto no 70/2017 de Dezembro de 2017. A referida aprovação, entrou em vigor a 1 de Janeiro deste ano. O presente regime aplica-se aos sujeitos passivos do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas e do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, residentes ou domiciliados em território moçambicano, que realizem operações com partes relaciona das residentes ou não residentes.
A referida legislação, aplica-se também aos contribuintes que, realizem transacções com entidades incorporadas em países com baixa jurisdição fiscal ou com um regime fiscal privilegiado.
• Aspectos especiais na regulamentação sobre os preços de transferência: Com efeito, a alínea 1 do artigo 49 do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC) pro mulgado pela Lei no 34/2007, confere poderes à Autoridade Tributária para proceder a ajustamentos considerados neces sários para apurar o lucro tributável, sempre que em virtu de de relação especial entre o contribuinte e outra entidade, sujeita ou não ao IRPC, tenham sido estabelecidas condições diferentes das que seriam normalmente acordadas entre pessoas independentes, levando ao lucro apurado, tendo como base que a contabilidade é diferente da contabilidade apura da na ausência de tal relacionamento.
O referido regime, aplica-se ainda (i) ao estabelecimento es tável que realize operações vinculadas com entidades não residentes; (ii) ao estabelecimento estável situado em terri tório moçambicano, que realize operações vinculadas com outros estabelecimentos estáveis da mesma entidade situa dos fora deste território; (iii) a entidade residente ou não re sidente com estabelecimento estável situado em território moçambicano, que realize operações vinculadas com uma entidade sujeita a um regime fiscal claramente mais favorá vel, nos termos do Código do IRPC; (iv) as operações efectua das pelo sujeito passivo domiciliado em território nacional, por meio de interposta pessoa não caracterizada como par te relacionada, que opere com outra, no exterior, caracte rizada como parte relacionada ao sujeito passivo nacional. Para efeitos de apuramento de preços de transferência, uma
parte está relacionada com uma entidade se: (i) Directa ou in directamente através de um ou mais intermediários, a parte: controlar, for controlada por ou estiver sob o controlo comum da entidade; tiver um interesse na entidade que lhe confira influência significativa sobre a mesma ou tiver um controlo conjunto sobre a entidade; (ii) A parte for uma associada ou um empreendimento conjunto em que a entidade seja um empreendedor; (iii) A parte for membro do pessoal-chave da gestão da entidade ou da sua empresa-mãe; (iv) A parte gere um plano de benefícios pós-emprego para benefício dos assa lariados da entidade, ou de qualquer entidade que seja uma parte relacionada dessa entidade.
• Métodos aplicáveis para a determinação dos preços de transferência: O referido decreto determina que os métodos utilizados para as correcções necessárias para a determina ção do lucro tributável previstas no Código do Imposto sobre o Rendimento são: (i) Método do preço comparável de mercado, método do preço de revenda minorado e o método do custo majorado; (ii) Método do fraccionamento do lucro, método da margem líquida da operação ou outro método apropriado aos factos e às circunstâncias específicas de cada operação.
O sujeito passivo deve adoptar, para determinação dos termos e condições que seriam normalmente acordados, praticados entre entidades independentes, o método mais apropriado a cada operação ou série de operações, de acordo com o princí pio de plena concorrência, devendo mantê-lo durante o exer cício económico, por bem, direito ou serviço.
O Decreto 70/2017, refere ainda sobre o conceito de interva lo interquartil, ou seja, no caso de registo de duas ou mais transacções comparáveis, deve-se determinar a mediana e o intervalo interquartil de preços ou de margem de lucro. Se o preço acordado se situar fora do intervalo, considera-se que o preço ou margem de lucro utilizado pelas partes inde pendentes corresponde à mediana de 5% (para o caso em que o preço praticado ou a margem de lucro for menor do que o valor obtido no 1º quartil, ou no caso do preço ou a margem de lucro for maior do que o valor obtido para o 3º quartil). O pre sente Decreto tem como objectivo a correcta alocação do lucro nas transacções entre empresas do mesmo grupo económico.
O sujeito passivo deve adoptar, para determinação dos termos e condições que seriam normalmente acordados, aceite ou praticados entre entidades independentes, o método mais apropriado a cada operação ou série de operações da sua empresa
OPINIÃO Agosto 2018 24
Agosto 2018 26
Economia do mar
Nação
Quanto vale o Mar?
‘Economia azul’ é um conceito que não é, na maior parte das vezes, tido em conta... nas grandes contas do país. A contribuição do Mar para riqueza nacional, a criação de emprego formal e informal, e para os sectores de actividade que dele se alimentam, é vista, por norma, de forma compartimentada. A E&M foi, por isso, fazer as contas ao seu real valor e projecta o potencial económico da criação de um cluster do Mar
porque há mais marés do que mari nheiros, valerá a pena começar por explicar o que se convencionou chamar de ‘Economia do Mar’, ou ‘Economia Azul’. De forma simples, um relatório de 2016 da União Europeia (UE), explicava-a como “o conjunto das actividades económicas relacionadas com os oceanos, mares e zonas costeiras.” Por outras palavras: a economia do mar é o conjunto dos meca nismos, agentes, sectores e actividades que têm no Mar o seu principal recurso. Depois, e por se tratar, ele próprio, de um recurso natural (o maior de to dos) é impensável conceptualizar toda uma estrutura económica do Mar dis pensando a ideia de conservação e gestão sustentável a ela subjacente. À medida que tal conceptualização tem sido elaborada e aprofundada, diversos aglomerados ou clusters têm sido identi ficados. E serão vários os sectores que se alimentam deste cluster: exploração de recursos naturais, energias renováveis, pescas, turismo, transportes, logística, construção naval, investigação e bioconservação e segurança marítima.
1,5
biliões de dólares
É o valor agregado do mar na economia global, em sectores como exploração de recursos naturais, energias renováveis, pescas, turismo, transportes, logística, construção naval, investigação e conservação, e segurança marítima
Segundo a OCDE, os oceanos representam aualmente cerca de 1,5 biliões de dólares, em valor agregado para a economia glo bal. Parece um valor excessivo, mas se somarmos todas as explorações de gás e petróleo off-shore (34% do total estão si tuadas em solo marinho), as energias re nováveis, a logística de portos, transpor tes e construção naval, mais os números do turismo de costa, e da investigação e conservação, e lhes acrescentarmos a segurança marítima e todos os postos de trabalho de actividades económicas que, de alguma forma se relacionem com o mar, podemos então conceber tal valor e chegar a uma conclusão inespe rada, por se falar pouco nela: a economia mundial está, em larga medida, assente no Mar e do que, através dele, se produz. De acordo com um relatório do ano pas sado, elaborado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), a pesca e a aquicultu ra asseguram a subsistência de 10% a 12% da população mundial (e mais de 90% das pessoas empregadas na captura trabalham em operações de
Agosto 2018 27
Quanto vale o Mar
Segundo a ocdE, os oceanos contribuem com 1,5 biliões de dólares em valor agregado para a economia
Global valor agregado 1,5 biliões de dólares IMPacto 800 milhões de pessoas coMércIo MarítIMo 90% do comércio mundial transPortes MarítIMos 380 mil milhões de dólares
IMPacto negatIvo 940 mil milhões de dólares
pequena escala em países em desen volvimento), gerando 148 mil milhões de dólares em exportações e garan tindo acesso à nutrição para mil mi lhões de pessoas de todo o mundo. O pescado é responsável por 17% do total de proteína animal consumida anualmente no mundo e tem um peso ainda mais significativo nos países de baixa renda. Como Moçambique, mas já lá vamos.
seria o mega-cluster do mar (de forma directa e indirecta) a nível interno, como existe por exemplo na UE. No entanto, é possível fazer as contas a alguns dados que mostram o valor agregado de toda a economia azul baseada na costa mo çambicana (ver página ao lado), bem como ao potencial que ela poderá um dia alcançar, se vista de forma integrada e sustentável.
União Europeia
PIb
4% valor agregado 600 mil milhões de dólares receIta anual 174 mil milhões Postos de trabalho 3,5 milhões
No caso da UE, e de acordo com o tal rela tório sobre a ‘Economia Azul’ dos países da zona Euro, estima-se que ela repre sente 600 mil milhões de dólares por ano, gerando empregos para cerca de 3,5 mi lhões de pessoas. A esse nível, e para se ter ideia da dimensão do valor do mar para uma economia, olhemos para Por tugal que, com apenas um terço da po pulação moçambicana, mas uma vasta plataforma continental (a nona maior do mundo e a segunda maior da Europa), ti nha, em 2016, cerca de 177 mil empregos ligados à ‘Economia do Mar’, dos quais 75% no turismo de mar e 22% na pesca e apanha de marisco, representando ape nas as pescas, 3,5% do total da economia.
Estados Unidos da América receIta anual 352 mil milhões de dólares Postos de trabalho 3,1 milhões
Indico... indica o caminho? Moçambique tem uma costa de mais de 2 515 quilómetros (a 48ª maior do mun do e uma das maiores de África), e uma zona económica exclusiva de 200 milhas (270 quilómetros) mar adentro. Actualmente, não há recursos oficiais disponíveis que tornem possível con tabilizar um valor absoluto para o que
No entanto, e começando logo por aí, é possível perceber a “pouca atenção” que o mar tem merecido por parte de quem administra as lógicas da economia nacional. António Francisco, director de Investigação do IESE, fala disso mesmo, e da forma como, “ao longo das décadas que decorreram após a independência de Moçambique, o aproveitamento dos recursos realizado foi ficando reduzido ao mínimo, um pouco à imagem da res tante tendência económica regressiva em que a economia mergulhou até ao fim dos anos de 1980. Com o Programa de Reabilitação Económica (PRE) só muito parcial e lentamente se restabeleceram as actividades económicas directa ou in directamente associadas ao mar.”
A esse nível, só em 2011 os níveis de ma nuseamento de carga portuária atingi ram e ultrapassaram o pico alcançado em 1973, e outras actividades marítimas tradicionais, como por exemplo a cabo tagem e o turismo marítimo, “continuam muito aquém dos níveis históricos.“ Se até ao fim do século XX predomi nou uma forte tendência de se virar as costas à costa, decorrente de opções
Agosto 2018 28 Nação Economia do mar
Transporte marítimo: manuseamento de carga em Maputo aumentou 22% só no ano passado
o clusTer do mar
o perfil da ‘Economia azul’ de moçambique ainda é insipiente, por via de uma visão não integrada do mar, que deixa escapar potenciais fontes de receita como as energias renováveis, a segurança (na eliminação da informalidade) ou a investigação. no entanto, destacam-se o transporte e logística marítima e o comércio internacional que contribuem com a maior fatia para a riqueza nacional e, claro, há o potencial que advirá da exploração de gás natural, e os grandes desafios para as pescas e o turismo
PorTos, TransPorTes e serviços maríTimos
É o item mais valioso da ‘Economia do mar’, em moçambique. impelido pelo facto de a grande maioria do comércio ser escoado por essa via, há ainda novos investimentos em vista, e um potencial de crescimento assinalável.
8 500
Milhões de dólares É o valor anual do comércio de mercadorias (importações e exportações) que transita pelos portos nacionais
450
Milhões de dólares investimentos em melhorias das infra-estruturas portuárias já anunciadas (maputo, nacala, Beira e cabo delgado)
Turismo
até 2025 moçambique quer afirmar-se como o destino turístico de praia mais vibrante e exótico de África e receber mais de 4,5 milhões de turistas por ano. Hoje, já é o terceiro sector (com 16%) que mais atrai investimento externo.
Pescas
cerca de 340 mil toneladas de pescado foram capturadas em 2017. depois, há a aposta na aquacultura, em que o governo está a investir (3,4 milhões de dólares este ano) para potenciar a criação em tanques de água doce, e também salgada.
5,5
Milhões de pessoas dependem da pesca como fonte de rendimento
4,9%
contribuição do sector para o PiB de moçambique
550
Milhões de dólares receita de 2017
340
Mil toneladas captura de pescado e marisco anual
contribuição do sector para o PiB
3% Milhões de dólares receita global, 2017
350 Milhões de dólares investimento previsto
recursos naTurais e energia
120
as projecções do instituto nacional de Petróleo (inP) de moçambique falam da necessidade de investimento de 25 mil milhões nas infra-estruturas conjuntas de exploração das áreas off-shore 01 e 04, e numa receita inicial de 500 milhões de dólares por ano até 2027, aproximando-se depois da fasquia de mil milhões, até 2031. o Governo prevê, a partir de 2034, receber contribuições que podem rondar os 3 000 milhões de dólares por ano, ou seja, cerca de um quinto do PiB actual.
2 500
Milhões de dólares
É a receita média anual prevista, (a partir de 2023) ao longo dos 25 anos das concessões do rovuma
24 000
Milhões de dólares
É o volume de investimento previsto nas Áreas 1 e 4, pelos consórcios que lideram a exploração
Agosto 2018 29
fonte: Banco Mundial, Ine , WWf
“político-ideológicas, elas misturaram-se com reacções contra o facto histórico de ter sido pelo mar que a colonização por tuguesa se concretizou”, diz. Se o discurso pela ‘Economia do Mar’ tem sido cada vez mais utilizado, tam bém em Moçambique essa é uma ten dência que parece começar a encontrar lugar. Énio Viegas, docente e pesqui sador em assuntos ligados à seguran ça marítima no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI) assina la isso mesmo. “A costa marítima e o Oceano Índico têm vindo a ganhar um novo lugar nas prioridades económico -financeiras do Estado, principalmente desde que as atenções começaram a virar-se para a exploração de fontes de energia como o petróleo e principal mente o gás off-shore”, explica à E&M. E só recentemente (na presidência ac tual) as tentativas no sentido de incen tivar a exploração mais intensiva do potencial marítimo originaram um reco nhecimento explícito, formal e institucio nal do Mar, com a criação de um Ministé rio próprio, formalizado com o objectivo de abordar as actividades económicas relacionas com o Mar e a costa marítima do Índico, numa perspectiva mais aber ta, e abrangente, incluindo as pescas como parte do mar, e não da agricultura.
67Milhões de dólares
É o valor estimado das perdas que existem anualmente com a pesca ilegal, praticada artesanalmente e em alto-mar, por frotas pesqueiras na sua maioria oriundas da china
defesa e segurança Neste contexto, e por ter sido descoberto precisamente no Mar um potencial de ri queza que poderá mudar por completo a face económica do país (os tais 200 biliões de pés cúbicos de gás natural que per fazem a terceira maior reserva a nível mundial) o governo investiu na seguran ça marítima e na aquisição da frota da EMATUM, precisamente para poder pa trulhar a extensa orla costeira do país. Apesar do que se sabe, ainda recen temente o ministro do Mar, Agostinho Mondlane, declarava “guerra à pes ca ilegal”, sublinhando ainda o facto de haver poucos recursos para comba ter esse problema. “Moçambique sabe que tem uma questão que nunca foi estudada. Não existem dados sobre os re cursos existentes ou explorados na nos sa costa porque não temos instrumentos para poder fazer a vigilância. E come çámos a procurar soluções sem ter isso. Não temos satélites que nos digam onde decorre a pesca ilegal, ou se há derra mamento de óleos na zona, ou tráfico de droga. É preciso estudar tudo isso e in vestir e só depois, agir”, diz Énio Viegas. António Schwalbach, presidente da So ciedade Industrial de Pescas, um dos maiores operadores do mercado de pes ca industrial no país, concorda com essa
Agosto 2018 30
Nação
Economia do mar
Porto de Maputo: frota pesqueira nacional contribui com 4,9% para o PIB
ideia. “Moçambique tem uma costa muito extensa e não há capacidade suficiente de patrulhamento. As frotas que estão legais funcionam e são bastante contro ladas, a legislação a esse nível é muito boa, há regras e controlo por GPS dos na vios e do que eles capturam. No entanto, pouco se sabe sobre o que há de ilegal a acontecer”, diz à E&M. E é aí que está o perigo. Ao nível do ca marão, por exemplo, um dos principais produtos da pesca de Moçambique (82% das exportações seguem para a UE, prin cipalmente para Espanha e Portugal), ele vale anualmente qualquer coisa como 150 milhões de dólares de receita para a economia nacional e é, ele próprio, uma marca distintiva do país por todo o mundo. Só que na prática, comprovada pela ex periência do homem que comanda a SIP, ele está efectivamente a desaparecer. “A verdade é que a época do camarão de superfície são nove meses, e só tive os barcos no Mar durante mês e meio porque, pura e simplesmente, não havia camarão para pescar”, revela.
onioSchwAlbAch
A n t
o Pca da Sociedade industrial de Pescas diz que “é necessário maior controlo da costa”, no mar, mas também nos portos, com vista a não permitir que frotas de outros países possam pescar ilegalmente nas águas territoriais de moçambique. Essa é, de resto, “uma ameaça com impactos sérios ao nível da captura do camarão de superfície, uma das maiores riquezas naturais e económicas”
De acordo com um relatório da WWF, de 2017, essa é já uma realidade comprova da também pelos números. Embora as populações de camarão de Moçambique tenham sido historicamente abundantes, “encontram-se agora ameaçadas e a sua captura em águas pouco profundas caiu de 9 000 para 1 800 toneladas nos últimos dez anos”. E a organização quantifica a perda económica em 67 milhões de dó lares ano após ano, causados pela pesca artesanal (praticada nos mangais onde o camarão se reproduz e é apanhado an tes de atingir a maturidade) e a pesca ilegal por arrasto, praticada por arma dores oriundos, na sua maioria da China, responsáveis por taxas de captura ele vadas, incluindo espécies não comerciais e bastante sensíveis.
caminhos de Mar
“Uma das coisas que lamento muito, quando falamos em economia maríti ma é a falta de uma indústria de cons trução naval.” lamenta Énio Viegas. E
A zona marinha de Moçambique faz parte da EAME, uma área definida como parte constante da lista Global 200, dada a sua excepcional biodiversidade. Um trunfo para a oferta turística
prossegue: “os nossos estaleiros navais praticamente deixaram de funcionar, e apresentam um estado lastimável de degradação. A economia do mar não é só transporte, cabotagem, logística e actividade portuária, é também a área de fabrico e reparação naval, muito for te, por exemplo na vizinha África do Sul, que fez dessa uma das suas prioridades de crescimento. E com sucesso”, aponta. Sem indústria naval, o Governo ten ta dinamizar o sector da logística e do transporte marítimo, tendo recente mente tomado a decisão de estimular o uso da via marítima para o transporte, de mercadorias que hoje já vale, no seu todo, qualquer coisa como 8,5 mil milhões de dólares (se olharmos de forma ampla para todo esse segmento e lhe adicionar mos, de forma directa, o valor da carga em importações e exportações).
António Francisco sublinha esse facto: “no quadro de uma política mais profun da que visa explorar o Mar como via
preferencial de transporte existe a no ção clara de que Moçambique deveria ser um centro logístico regional e bene ficiar de múltiplas vantagens que a ca botagem oferece.”
Entretanto, e ao que apurámos, o país não possui actualmente um único navio para o transporte de pessoas e bens, e todas as suas necessidades neste domí nio estão dependentes de fretes con tratados no estrangeiro. “Verdade, e já chegámos a ter 21 navios, e uma carga transportada de 220 mil toneladas ano”, complementa o economista. Perante esta realidade, o Executivo vem anunciando planos que visam a revi talização da navegação entre os portos nacionais e, a título de exemplo, em Ju nho de 2009 aprovou a Estratégia para o Desenvolvimento Integrado do Siste ma de Transportes. “No entanto, sempre persistiram vários constrangimentos que inibiram o ressurgimento do sector.” Mesmo após a introdução de medidas
que visam reduzir as taxas cobradas pelo Instituto Nacional de Marinha (INAMAR) e pelo Instituto Nacional de Hidrografia e Navegação (INAHINA), a simplificação de procedimentos por par te das Alfândegas e o processo de rees truturação da empresa Transmarítima. Para ‘abrir’ o tráfego portuário ao mundo e fazer aumentar a receita, fo ram também assinados memorandos de entendimento com as principais concessionárias portuárias que aceita ram reduzir as suas tarifas. E os maio res operadores até deram uma ajuda, com a Maputo Port Develompment Corridor - MPDC a reduzir em 50%, a Corredor de Desenvolvimento de Na cala - CDN em 50%, e a CORNELDER em 60% para o porto da Beira e 50% para o de Quelimane, sendo que a Caminhos de Ferro de Moçambique - CFM procedeu de igual modo. E foram ainda tomadas medidas para a simplificação de procedi mentos sob alçada das Alfândegas (atra vés da utilização do sistema da MCNET), e até foi aprovado recentemente o decreto que viabiliza o Registo Especial de Navios Estrangeiros para alvorarem a Bandei ra Nacional, juntamente com um pacote de medidas que possibilitam a melhoria dos canais de acesso e infra-estruturas portuárias em portos terciários. “Temos uma política marítima que foi aprovada recentemente, e que deverá ser ope racionalizada com base numa estraté gia que vai acompanhar essa política. Veremos o que sucede”, diz Énio Viegas.
turismo e conservação É outro dos sectores que pertence a este, por enquanto apenas hipotético, cluster marinho de Moçambique. O turismo vale hoje apenas 3% do PIB nacional, qualquer coisa como 350 milhões de dó lares, arrecadados através dos cerca de 1,6 milhões de visitantes que o país rece beu no ano passado. No entanto, desengane-se quem acha este um valor residual no contexto da macro-economia. Porque o é, de facto, mas ele tem vindo a crescer, e promete continuar de forma expressiva. Em Áfri ca, Moçambique é um dos destinos que tem beneficiado do aumento (ainda que ligeiro) do número de turistas estran geiros, de acordo com dados divulgados pela consultora Euromonitor Internatio nal, no final de 2017. “As forças da compe titividade de Moçambique para turismo e viagens continuam a ser os seus re cursos naturais. Embora não haja ainda nenhuma atracção natural na lista de
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Economia
mar
Nação
do
Turismo e conservação: integração de sectores para fortalecer a protecção das áreas de conservação
Património Mundial da UNESCO, o país tem feito aumentar a superfície das suas áreas protegidas e conseguiu melhorar o conhecimento em relação aos seus ex traordinários recursos naturais, como praias e ilhas virgens”, lê-se nas notas conclusivas do estudo.
No entanto, surge uma advertência: “o potencial turístico moçambicano está em larga medida por explorar e são necessários investimentos em infra -estruturas, recursos humanos e con dições de saúde e higiene, que reforça riam a competitividade do sector e da economia em geral.”
E é com esses entraves que, de há anos para cá se tem tornado uma luta pro curar fazer aumentar a receita de um sector cheio de potencial, mas com pou cas bases competitivas, face a outros destinos. Ainda assim, no ano passado foi anunciada publicamente pelo INATUR, uma intenção bastante ambiciosa: fazer triplicar o número de visitantes anuais para perto de 4,5 milhões, essencial mente tendo por base o Mar e as praias
940
Mil Milhões de dólares
É o valor que o programa das nações unidas para o desenvolvimento estima que se perca devido anualmente devido ao impacto negativo da sobrepesca e da poluição marinha
paradisícadas. Porque oceanos saudá veis, costas e encostas, e ecossistemas de água doce são tão cruciais para o cres cimento económico como para mitigar as mudanças climáticas, não esquecendo que Moçambique é o terceiro país em África mais exposto a elas, e por via da sua costa, essencialmente.
O que nos leva a pensar numa última riqueza que mora nos Mares. Moçam bique faz parte da EAME, área definida como parte da lista Global 200, dada a sua excepcional biodiversidade. No final de tantas contas de somar, uma última operação, esta de subtrair, em jei to de aviso à navegação. O PNUD estima o impacto negativo da sobrepesca e da po luição marinha, em custos para a econo mia global de cerca de 940 mil milhões de dólares por ano. Assim saibamos todos, manter a riqueza do país, e a de todos nós e essa factura, nunca teremos de pagar.
tExto Pedro Cativelos & Hermenegildo langa fotoGrafia Jay garrido, istoCk PHotos
a voz
Agosto 2018 34 Economia do mar
N
de...
“Se nada for feito, podemoS aSSiStir À devaStação do noSSo mar”
antónio franciSco Economista e Director de Investigação do Instituto de Estudos Económicos e Sociais (IESE)
cada vez mais se fala na necessidade de criar valor na economia. Mas pou co se ouve falar no papel do Mar nesta questão, projectando-o enquanto cluster que faça agregar real valor acrescenta do à economia nacional..
Com o incremento do investimento e da exploração de recursos associados ao território marítimo moçambicano de forma directa, como no caso das pescas ou da logística marítima, e indirecta, através dos recursos naturais e do tu rismo, ainda assim, ele não é visto como um vector fundamental para o desen volvimento, pela inexistência de uma es tratégia integrada que até propicia um crescendo da economia informal do Mar. À E&M, António Francisco, economista e Director de Investigação do IESE, fala so bre a importância do aproveitamento do potencial do Mar, ainda mais relevante numa economia em maré baixa.
O que falta para que o Mar comece a ser visto, ele próprio, como um instru mento de criação de riqueza?
A verdade é que Moçambique nunca teve uma relação simpática com o seu Mar. A economia advinda deste recurso nunca foi desenvolvida como um todo, embora ofereça oportunidades capazes de gerar enorme crescimento económi co, como no caso do gás, das pescas, do tu
não FAz SEntIDo quE não hAjA uMA EntIDADE govErnAMEntAl (uM MInIStérIo Do MAr) FunCIonAl E quE ApoStE nuMA pErSpECtIvA DE DESEnvolvIMEnto DA EConoMIA Do MAr. o quE SE vErIFICA ACtuAlMEntE é uM DESIntErESSE InStItuCIonAl E DE DIrECção EM tIrAr MAIor provEIto DESSE rECurSo
rismo e da logística portuária. Com uma costa de 2 400 quilómetros e uma gran de dimensão territorial marinha não faz sentido que não haja uma entidade governamental (um Ministério do Mar) funcional que aposte numa perspectiva de desenvolvimento. O que se verifica actualmente é um desinteresse institu cional e de direcção em tirar maior pro veito desse recurso. Se olharmos ao pas sado, havia valorização e investimento na cabotagem e no transporte marítimo, que eram principais catalisadores da economia colonial, por exemplo, e que foi mal interpretado pelo governo nacional que acabou por desinvestir neste sector.
Porque é que não existe, ainda hoje, uma linha de transporte marítimo que ligue todo o país e os países vizi nhos de forma integrada? há muita gente que considera que a melhor auto-estrada natural seria o próprio Mar. Mas esse desinteresse ins titucional de que falava aliou-se a outros factores: quando alguns países da re gião que usavam o oceano como meio de transporte de bens (caso do zimbabwe) entraram em crise, isso contribuiu para a quebra de receitas, principalmente para os portos da Beira e de Maputo por onde eram escoadas as mercadorias. o que quer dizer que estivemos duran
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de...
te estes anos todos um pouco parados e não percebemos que estávamos a deitar ‘o bebé (tesouro) fora com a água suja”, e que poderíamos tirar mais proveitos do Mar. Com isto, perdeu-se algum do timing. Se olharmos às economias vizi nhas como a da África do Sul, entretanto ganharam força outros portos, como o de Durban, que acabam por usar a costa nacional apenas para compensar o que não conseguiam atender. Depois, as eco nomias zimbabweana e malawiana ain da não recuperaram o suficiente para relançar o porto da Beira.
E ao nível dos recursos que há no Mar. Fala-se de gás, por exemplo, mas esquecemo-nos que ainda estão por calcular os impactos dessa explora ção noutros recursos, como as pescas ou o turismo...
Essa é ainda uma lógica recente. A ex ploração dos vastos recursos off-shore é uma opção para tirar proveito da demanda que possa advir dos investi mentos externos. nesse sentido, penso que houve uma ligeira valorização do Mar. Agora, há outros recursos como as pescas, o turismo, a própria energia e o transporte marítimo (os portos), mas não vemos nenhum dinamismo substan cial nesse sentido, nem uma integração devida com a exploração de gás. temos como exemplo a cabotagem em que, de vez em quando, se fala mais. Mas por al guma razão nunca nada de substancial avança por falta de uma estratégia viá
A nACIonAlIzAção
InSuStEntÁvEl DE rECurSoS FoI trAnSportADA pArA o SECtor Do MAr, E ISSo FEz CoM quE não FoSSE ExplorADo pEloS MoçAMBICAnoS, CAInDo nA InForMAlIDADE E no CrIME IntErnACIonAl
vel e operacional. E é por isso que assis timos a uma exploração do Mar feita de forma descontrolada, não há um proces so articulado entre a monitorização dos recursos e a sua utilização. ter uma vas ta costa pressupõe ter muitos recursos, mas o meu sentimento é de que há uma sub-utilização dos mesmos.
Em que aspecto?
Diria que Moçambique vive num dile ma. porque tem um dono dos recursos que se assume como tal, que é o Estado. Mas depois há uma constante sub-utili zação porque este não tem capacidade para fazer o uso ou a devida monitoria
do processo. E aqui seria a tal tragédia dos comuns em que algo é do Estado, mas ninguém o reconhece enquanto tal, e cada um explora da forma que quiser. A nacionalização insustentá vel de recursos foi transportada para o sector do Mar, e isso fez com que não fosse explorado pelos moçambicanos, por incapacidade humana e técnica. Esse facto levou à informalização da indústria marinha, promoveu o surgi mento de um mercado negro de pesca dominada pelos chineses e espanhóis nas águas nacionais e produziu gran des perdas para a economia nacional. quando olhamos para o país vizinho, a África do Sul, vemos o grau de explo ração do turismo de mar e de interior, e em que há um sector público regula dor (caso do Kruger park) e uma gestão privada regulada, que até gera receita para o sector público. A ideia de que o privado explora e pode acabar com os recursos não é verdadeira. tem é de ha ver regras bem definidas.
Falou do exemplo da África do Sul, mas há outros. Não acha que seria oportu no começar a adoptar bons exemplos de alguns países vizinhos que por ventura até possuem uma pequena extensão da costa, mas ao mesmo tem po, desenvolveram uma verdadeira indústria do Mar? o que não entendo é como é que já não se fez isso mesmo. poderíamos adap tar as boas estratégias do Botswana, por exemplo, ou das Ilhas Maurícias. o Botswana tem 9% da população de Mo çambique, mas produz tanto quanto nós. E não tem acesso directo ao mar, mas tem políticas que se referem a ele. E com as Maurícias acontece a mesma coisa. Só que, enquanto ali se está a tentar fazer um paraíso fiscal, nós estamos a tentar a fazer um inferno fiscal. em que toda gen te se torna informal. Até no Mar. Espero que com esta crise económica haja agora maior consciência de que a economia do Mar é relevante. Mas alerto para o pe rigo de se focar demais toda a questão na exploração de recursos, devido à an siedade de tentar gerar receitas de que a economia necessita, desviando as aten ções dos outros vectores importantes da economia marinha.
ilegais
O país não tem capacidade para con trolar os seus recursos ao longo da costa e com isso tem dependido da aju da externa. Acha que isso faz sentido? A tal incapacidade institucional em
Agosto 2018 36
do mar
Na voz
Economia
Porto de Maputo: ali, todos os operadores estão legalizados. Mas em alto-mar não há controlo sobre os
quantificar as perdas económicas que o país sofre com a pirataria marítima (nas pescas e tráfico que têm sido notí cia), uma vez que são apresentados da dos irrealistas, leva-me a sugerir que se aposte na investigação e na fiscalização, porque não há controlo na economia do Mar. Corremos o risco de, no futu ro, perdermos grande parte dos nossos recursos pesqueiros por falta de capa cidade de fiscalização da costa. Deveria ser criada uma forma inteligente de mo nitorar e garantir controlo sobre o nosso Mar. Acho que há uma grande incapaci dade técnica porque, a meu ver, esta ma neira de abordar os recursos marítimos é ineficiente, na medida em que o Esta do desempenha um papel que não tem condições para exercer, quando o mais indicado seria apostar na segurança e, assim, reforçar a protecção costeira.
Mas não considera ser este o momen to ideal, até pela fase que o país atra vessa, para aproveitar a exploração dos recursos marinhos para alavan car uma economia que procura novos vectores de crescimento? Sem dúvida. no entanto, há hoje um foco grande, quase uma mitologia desenvol vimentista da agricultura, que na verda de, pela história do país, nunca foi a base para nada, senão para a subsistência,
fruto da negligência governamental que não cria capacidades locais para o efeito. Dou-lhe o exemplo: em 1970 havia 8 600 tractores, e actualmente só temos 6 000, quando a população triplicou. Claro que o mar tem as suas particulari dades, os seus produtos e recursos, mas se forem cometidos os mesmos erros que na política agrícola, temo que os ganhos que o mar está a gerar não venham a ter qualquer expressão. Com a agravante de que, se nada for feito, iremos assistir a uma provável devastação da nossa costa.
Mas o que está então a falhar em toda esta diâmica?
é esta funcionalidade para deixar a marginalidade de fora. por um lado, há a incapacidade de gerir um activo fun damental e estatégico para o país. E por outro, há a competência para transfor mar o valioso potencial em capacidade real. penso que ainda há um longo cami nho a percorrer nesse sentido. Só espe ro que se comece rapidamente a fazê -lo, porque não podemos esperar muito. o que o Mar tem de bom, um dia vai aca bar, não tenhamos quaisquer dúvidas em relação a isso.
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tExto Hermenegildo langa fotografia Jay garrido
A ExplorAção Do MAr é FEItA DE uMA ForMA DESControlADA, não hÁ uM proCESSo ArtICulADo EntrE MonItorIA DoS rECurSoS híDrICoS E DA SuA utIlIzAção
A ProvínciA onde A economiA nAcionAl TirA fériAs
A “terra de boa gente” é uma réplica da imagem do país no seu todo. A província reúne o melhor de cada uma das restantes, mas não passa de potencial. E as mudanças exigem trabalho a ser coordenado entre sectores
inhambane tem gás como Cabo Delga do; areias pesadas como Gaza e Nampu la; tem calcário como Maputo e Sofala, terras férteis e potencial agrícola como toda a extensão do país. E é uma referên cia nacional do turismo como não haverá outra igual, sendo um destino reconhe cido internacionalmente. No entanto, é uma província com elevados índices de pobreza e apresenta um rendimento per capita abaixo da média nacional. Para perceber a dinâmica económica de Inhambane, importa que lancemos um breve olhar sobre os sectores mais importantes da província, com foco nos desafios, oportunidades e perspectivas.
Turismo subaproveitado A economia de Cabo Verde, um exemplo a esse nível em toda a África (e muitas vezes trazido a debate aqui em Moçam bique), tem no turismo o seu principal pilar. E isso acontece porque cedo o Go verno se apercebeu do enorme potencial e investiu seriamente no sector do ponto de vista estratégico, criando facilidades para que o empresariado local e estran geiro expandisse as suas iniciativas. Estatísticas recentes indicam que o turis mo é responsável por 20% de toda a ri queza produzida no arquipélago e pela criação de cerca de 8 mil empregos. Por todas as razões que quem conhece Inhambane reconhecerá, por ali, o po tencial para alcançar algo idêntico, é as
província inhambane
capital Cidade de inhambane área 68 775 Km2 população 1,5 milhões região SUL
Agosto 2018 38 província Inhambane
sinalável. Mesmo que pareça estranha a comparação entre uma província e um país. Com uma superfície 17 vezes maior que a de Cabo Verde (68 mil quilómetros quadrados contra 4 mil quilómetros qua drados do arquipélago), uma população três vezes maior (1,5 milhões de habitan tes face aos 561 mil habitantes em 2017), e um litoral de mais de 700 quilómetros, Inhambane poderia estar num patamar que se equiparasse ao das outras geogra fias bem-sucedidas ao nível do turismo. Se Cabo Verde – país que tal como Mo çambique tem 43 anos de independência – tem a grandeza e respeito internacio nais no que diz respeito ao desenvolvi mento do sector, o estágio de Inhambane e do país como um todo (turismo produz apenas 3% da riqueza total) denuncia uma fragilidade que deve ser identifica da e colmatada com acções que tornem visíveis os vários planos já existentes. Esta comparação pode deixar de fora muitos elementos importantes de análi se. Mas pelo menos serve para mostrar que Inhambane, a “Província do Turis mo” é ainda apenas um slogan que fica bem num postal e que não corresponde à realidade do que poderia ser um sector desenvolvido e que contribuísse signifi cativamente para a capacidade de cap tação de receitas.
Ao contrário, não existem estatísticas fiéis sobre receitas e postos de trabalho e o sector vai-se debatendo com vários pro blemas. “Os desafios são enormes e somos obrigados a mudar as coisas investin do mais na vertente estratégica porque a cadeia de valor é vasta e pode trazer grandes benefícios ao país através da captação de receitas”, reconhece Yassin Amugi, presidente da associação de tu rismo de Vilankulos, principal destino tu rístico da província e do país. Ele sugere um trabalho “articulado entre os sectores público e privado” para que o produto tu rístico (conjunto de factores que atraem o turista) “esteja completo, explorando num único pacote o turismo de praia, o safari e a exploração dos aspectos culturais, da gastronomia ao artesanato.”
dar gás às oportunidades para o empresariado O despreparo do empresariado nacional para assumir a vanguarda no estabele cimento de negócios com os grandes pro jectos tem sido debatido.
Em Inhambane, está presente a multi nacional sul-africana Sasol, que explo ra gás nos campos de Pande e Temane há já 14 anos. A petrolífera está aberta a contratar produtos e serviços de em
mAxixe. um exemPlo do subdesenvolvimenTo urbAno dA região
“a cidade da maxixe, capital económica da província de Inhambane, não tem grandes centros comerciais, não tem stands de venda de viaturas, nem tem grandes estaleiros de venda de material de construção, o que faz com que as grandes obras sejam alimentadas a partir da capital do país”, lamenta o presidente do município da maxixe, Simão rafael, que sugere “a criação de cooperativas e associações fortes que possam empoderar os agentes económicos e que sejam capazes de aproveitar as oportunidades oferecidas pela banca no financiamento a empreendimentos das Pequenas e médias empresas.”
presas locais, e se tal não acontece é por que há fragilidades internas (de ordem financeira, contabilística e organizacio nal, no geral), segundo reconheceu re centemente o Conselho Empresarial de Inhambane.
Durante o Fórum Regional (Sul) do Sec tor Privado, realizado em Julho passado naquela província, a Sasol divulgou um guião para orientar as empresas sobre o processo de compra de bens e serviços, em que, de resto, ilustra oportunidades de negócios em áreas que incluem: ges tão de resíduos (industriais e domésticos); serviços de assistência médica à distân cia; serviços de soldadura; serviços de manutenção (civil e eléctrica); agência de recursos humanos; agência de comu nicação; serviços de combate a incên dios; tratamento de água, entre outros. As oportunidades estão lá. Compete ao país assegurar que haja ca pacidade de resposta à demanda da Sa sol, potenciando o aumento de postos de trabalho.
Atenção às areias pesadas de Jangamo Também é preciso redobrar atenção às oportunidades que serão geradas no dis trito de Jangamo, onde existe um projecto para a exploração de areias pesadas, consideradas como sendo de qualidade assinalável.
20toneladas por hora É a capacidade de produção prevista, num projecto que o ministÉrio dos recursos minerais e energia está a analisar com vista À atribuição de três licenças para a exploração de depósitos de areais pesadas de mutamba, dongane e jangamo, que foram apresentadas pela mutamba mineral sands
A Mutamba Mineral Sands, uma subsi diária da Savannah Resources, submeteu ao Ministério dos Recursos Minerais e Energia três pedidos de licença para ex plorar a mina.
Agronegócio semeia oportunidades Claro que a agricultura também é um dos sectores com maior potencial na região. Um exemplo bem-sucedido é o da DADT CO, uma empresa que transforma a man dioca adquirida a centenas de pequenos produtores locais para alimentar a in dústria da cerveja e panificadora. A exemplo desta indústria, Inhamba ne oferece oportunidade para o proces samento de caju e côco. Álvaro Massin ga, vice-presidente da Confederação das Associações de Moçambique (CTA – enti dade que representa oficialmente o em presariado nacional), afirma à E&M que “há um crescente interesse dos empre sários neste domínio e promete para breve a instalação de unidades indus triais neste domínio.
Chambisso fotografIa RiCaRdo FRanCo
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texto Celso
três décadas a promover desenvolvimento
tree decades promoting inclusive
development
a gapi-si é uma instituição Financeira de desenvolvimento que tem como foco o desenvolvimento económico sustentável de moçambique
Gapi-SI is a Development Finance Institution that focuses on contributing to the sustainable economic development of Mozambique
constituída há quase três décadas, a GAPI tem como missão a promoção do de senvolvimento sustentável, do empreen dedorismo e da inclusão financeira atra vés da combinação de programas de financiamento (actualmente tem sete ac tivos, de que falaremos em futuras edi ções), consultoria e capacitação empre sarial, e aquisição de participações com vista ao desenvolvimento de empresas e instituições nacionais. Assim, através da promoção do empreen dedorismo nacional e da edificação de um sistema financeiro inclusivo, a GAPI cons titui-se como uma ferramenta funda mental do desenvolvimento inclusivo de Moçambique, uma instituição financeira em prol do desenvolvimento (EDFI), e um instrumento económico com visão e ac ção para lá do lucro imediato, que se rege pelos mecanismos do mercado. Estratégia, rigor, transparência de con tas, objectivos, e resultados, claro. São es ses, os fundamentos do Gapi, a primeira EDFI do país.
a nossa história Fundado em 1990 como uma Sociedade Limitada, pela Fundação Friedrich Ebert e pelo Banco Popular de Desenvolvimen to, seria mais tarde, já em 1999 converti da em Sociedade Anónima.
Nessa década viria a ser reconhecida enquanto instituição de crédito, regula da pelo Banco de Moçambique, evoluin do na sua forma jurídica para uma So ciedade de Investimento.
Esta evolução da estrutura da GAPI, aca ba por reflectir um pouco da tendência global e as mudanças de paradigma em torno do que seriam, na génese as insti tuições de apoio ao desenvolvimento, Em Moçambique, a Gapi tem uma estru-
GAPI’s mission is the promotion of sustainable development, entrepre neurship and financial inclusion through the combination of financing programs (currently has seven programs in the ground, which we will talk about in fu ture editions), business consulting and training, and acquisition of holdings for the development of national companies and institutions.
Therefore, throughout the promotion of national entrepreneurship and contri buting for the truthful building of an in clusive financial system, GAPI is, itself a fundamental tool for the inclusive de velopment of Mozambique, a financial institution for development (EDFI), and a fundamental economic instrument with vision and action beyond the immediate profit, which is governed by the mecha nisms of the market.
Strategy, accuracy, transparency of ac counts, objectives, and results, of cour se: these are the foundations of Gapi, the country’s first EDFI.
our history
Founded in 1990 as a Limited Company, by the Friedrich Ebert Foundation and the People’s Bank of Development, it would later become a Public Limited Company in 1999. In that same decade, GAPI would become recognized as a Credit Institution, regulated by the Bank of Mozambique.
Continuing with the evolution and evol ving in its form, later it becane an Invest ment Institution.
This evolution of the GAPI administrati ve structure ultimately reflects the glo bal trend, and the paradigm shifting that occured, and that created what would be the genesis of development aid ins titutions throughout the world, In Mo
100É o número de distritos abrangidos pelos projectos gapi em todo o território nacional
the number of districts covered by gapi projects throughout the mozambican territory
Publireportagem Agosto 2018 40
tura accionista que congrega investi dores públicos e privados, e em que o Governo detém 30% do seu capital, sen do o restante disperso entre investido res privados e sociedade civil, algo consi derado essencial para o equilíbrio entre boa gestão e bons investimentos. Por isso mesmo, e não perdendo de vis ta os bons resultados que averbou des de os seus primeiros anos de actividade, a GAPI foi sempre identificada enquan to um potencial contribuinte para dina mizar o sector das PME nacionais, atra vés das fórmulas de financiamento mais adequadas ao contexto nacional. A criação de sinergias mesmo nas zonas mais remotas do país no sentido de im plementar programas de apoio e projec tos de desenvolvimento sustentável, é uma matriz expressa nos inúmeros pro gramas de financiamento existentes, dos quais se destacam o Agro-Empreender, Agro-Jovem e o PMEs-Norte.
zambique, GAPI has a shareholder struc ture that brings together public and private investors, and in which the Go vernment holds 30% of its capital, the remainder being dispersed between private investors and civil society. Something considered essential for the correct balance between good manage ment and excellent investments.
For that reason, and not losing sight of the good results it has achieved sin ce its first years of activity, GAPI has al ways been identified as a potential con tributor to boosting the national SME sector, through the most appropriate financing formulas.
The creation of synergies even in the most remote areas of the country in or der to implement support programs and sustainable development projects is a matrix expressed in the numerous fi nancing programs such as Agro-Em preender, Agro-Jovem and PMES-North.
Gapi
A MISSÃO
Contribuir para o desenvolvimento económico sustentável de Moçambique através da promoção do empreendedorismo nacional e a edificação de um sistema financeiro inclusivo.
O QUE FAZEMOS
Promovemos o empreendedorismo nacional e a inclusão financeira através da combinação de três serviços.
Financiamento; Consultoria e Capacitação Empresarial com vista à participação no desenvolvimento de empresas e instituições.
FOCO
Inclusão Financeira. Através de produtos e serviços voltados para MPMEs e IMFs, a Gapi-SI continua o seu caminho de promoção da Inclusão Financeira de jovens e mulheres nas zonas rurais.
THE MISSION
Contribute to the sustainable economic development of Mozambique through the promotion of national entrepreneurship and the building of an inclusive financial system.
WHAT WE DO
We promote national entrepreneurship and financial inclusion through the combination of three services. Financing; Business Consulting and Training and participation in the development of companies and institutions.
OUR FOCUS Financial Inclusion. Through products and services aimed at MSMEs and MFIs, Gapi-SI continues to promote Financial Inclusion in Mozambican rural areas.
distritos abrangidos com projectos da gapi 100
equipas de assistência técnica permanente 35
postos de finanças rurais (microbancos e empresas de produção e comercialização) 20
delegações implantadas em todas as províncias 14
districts covered with gapi projects 100 permanent technical assistance teams 35
rural finance posts (microbanks and production and marketing companies) 20 delegations deployed in all provinces 14
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mercado e finanças
para o seguro não morrer de velho, mercado tem novas regras
Arrancou em Maio um período de recapitalização das seguradoras nacionais. São agora precisos 97 milhões de meticais de capital mínimo, face aos anteriores 33 milhões. As seguradoras com maior quota de mercado garantem que conseguem cumprir com o novo regulamento, já as mais pequenas não afastam o risco de cair
é melhor ter poucos operadores for tes do que muitos enfraquecidos e sem capacidade de reacção perante a adver sidade de um mercado que não é, ainda hoje, demasiado robusto.
Não é uma afirmação nossa, é mesmo quase um lugar comum que, ainda as sim, tem gerado discussão desde que, no ano passado, o Banco de Moçambique decidiu aumentar o capital social míni mo dos bancos comerciais para robus tecer o sector. E essa mesma receita, foi agora utilizada no sector dos seguros. Na banca, só para recordar, o capital
social mínimo subiu de 70 milhões de meticais para 1,7 mil milhões de me ticais e o rácio de solvabilidade de 8% para 12% num prazo de três anos que já está a contar desde meados de 2017.
o que vai mudar afinal No sector segurador os capitais mínimos triplicam de 33 para 97 milhões de meti cais. A corrida começou há dois meses e a meta está fixada para meados de 2021. A E&M ouviu algumas das 20 segurado ras que operam em Moçambique, com diferentes aspirações e posicionamentos
no que diz respeito à quota de mercado. Sem excepção, todas assumem que vão honrar os compromissos, embora aler tem para o facto de as novas regras terem sido “introduzidas num momento parti cularmente difícil da economia, marca do pela redução da procura por servi ços de seguros, retracção da facturação com efeitos negativos no próprio cres cimento e desenvolvimento do sector.” No entanto, os planos de recapitalização já estão em marcha, garantem os opera dores entrevistados, apesar de nenhum ter fornecido detalhes dos seus planos
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concretos de recapitalização, em termos de calendarização e valor a ser gradual mente injectado pelos accionistas.
A Empresa Moçambicana de Seguros (EMOSE), uma das líderes do mercado segurador a nível nacional (a segunda maior, com 19,2% de quota de mercado no primeiro trimestre do ano segundo dados do Instituto de Supervisão de Se guros de Moçambique – ISSM), desenvol veu um plano mensal de recapitalização. “Em cada mês há uma actualização de capitais até fechar o ciclo de duração dos contratos, que é de 12 meses, ao mesmo tempo que faremos a avaliação da situa ção de todos os segurados. Os accionistas estão atentos e aptos a realizar a recapi talização em tempo útil”, garantiu Bene dito Manhiça, representante da divisão do seguro automóvel na EMOSE.
A Índico Seguros, com uma quota de mercado de 6% (a 6ª no ranking), prome te que até finais deste ano conseguirá aumentar o capital social “cumprindo in tegralmente com as recomendações do regulador”, assinala Olívio Melembe, ad ministrador financeiro da seguradora. Também já iniciaram o mesmo proces so de aumento de capital os accionistas da Fidelidade Moçambique, seguradora com 2,7% da quota de mercado (a 9ª no ranking) bem como os da Imperial Se guros, operador com 0,6% da quota de mercado, e penúltimo no ranking que comporta as 20 a operar no mercado.
É possível que haja quem não aguente Sendo uma hipótese em cima da mesa, não há nenhum operador que a assuma ma terialmente. Pelo menos por enquanto. Mas nas entrelinhas, existe a descon fiança de que até 2021, algumas segura doras possam mesmo ter de ficar pelo caminho. A Imperial Seguros, por exem plo, aponta como desvantajosa a “pressão sobre as empresas para cumprir a me ta do ajustamento de capitais mínimos” e lamenta o facto de muitas delas pode rem “vir a sofrer penalizações ou cance lamentos da licença”.
O administrador financeiro da Índico Se guros, Olívio Melembe, entende que mui tas seguradoras vão mesmo “enfrentar enormes dificuldades para aumentar o seu capital social, por não apresenta rem uma estrutura financeira sólida” e adverte para o “risco bem evidente de muitas delas poderem ter de encerrar as suas actividades no mercado.”
Carlos Leitão, da Fidelidade Moçam bique faz, de resto, um alerta a ter em conta nesta análise: “a medida poderá
o mercado segurador em moçambique
As estatísticas nacionais do sector de seguros mostram que a taxa de penetração dos serviços de seguros são ainda relativamente baixas, o que decorre da falta da cultura de seguros existente na economia nacional. Ou seja, são ainda muito poucas as pessoas e empresas que percebem a verdadeira utilidade de optar por um seguro. Mas, de há dois anos para cá, parece existir uma estratégia mais clara por parte do Banco de Moçambique de divulgar a actividade seguradora como parte fundamental da actividade económica, e do esforço de globalizar o acesso a serviços financeiros. Nesse sentido, na Conferência Sobre Serviços Financeiros Digitais em Moçambique, o ISSM advogou a necessidade de acelerar a inclusão dos serviços de seguro nas diferentes plataformas da banca móvel e de Instituições de Moeda Electrónica, para aproveitar a o potencial que estes meios têm de acessibilidade pelas massas.
5%
ProPorção dos 8,4 milhões de moçambicanos abrangidos Por algum tiPo de serviço financeiro, que utiliza serviços de seguros. este número corresPonde aPenas a 420 mil Pessoas, daí os esforços do regulador em tentar desenhar estratégias Para incluir PoPulações de baixa renda no sector, uma das Prioridades do governo
originar que alguns operadores com menor robustez financeira na sua estru tura accionista possam ter necessidade de reflectir sobre a melhor estratégia para continuar a operar no mercado”; explica à E&M.
Todas as seguradoras, entretanto, reco nhecem, ainda assim, um ganho que es tas medidas do Banco de Moçambique podem conferir ao mercado. Carlos Lei tão, resume essa ideia: “a verdade é que, havendo riscos para alguns operadores, esta é uma iniciativa que vai reforçar a robustez do sector e das diferentes en tidades que nele operam ou pretendam vir a operar, garantindo uma maior ca pacidade para resolverem os seus com promissos e dar resposta às exigências de um mercado cada vez mais exigen te e onde os custos associados à regula rização de sinistros tendem a aumentar.” Na generalidade, os operadores entre vistados apontam os resultados da cri se económica que o país atravessa, cujo auge foi em 2016, como um factor agra vante da dificuldade na recapitalização, visto que diminuiu a massa segurável em resultado da redução do tecido em presarial existente e da sua capacidade financeira, tendo originado a redução do número de seguros vendidos e uma re dução de capitais e coberturas (que re duziram a facturação das empresas, em média, na casa dos 20%).
A E&M procurou a totalidade dos opera dores de mercado para conhecer a si tuação individual e a visão individual de cada um perante as mudanças que estão a ser introduzidas e o impacto em ambiente de crise. Mas, infelizmente, a maior parte não concedeu entrevista.
revisão do seguro automóvel divide opiniões É o segmento dos seguros mais ‘movimen tado’, digamos assim, e mexe com quase um terço dos prémios anuais de todo o sector. Ainda assim, dados do ISSM apon tam que apenas 58% do parque automó vel tem cobertura de seguro, apesar da obrigatoriedade de subscrição universal deste serviço.
Ainda assim, e talvez pelo peso do seg mento do seguro automóvel, as alterações para fazer robustecer o sector tenham começado precisamente por aqui. Já em Setembro do ano passado entrou em vi gor a obrigação de um valor de capital mínimo de cobertura do seguro obrigató rio de responsabilidade civil automóvel, agora avaliado em 3 milhões de meti cais, valor dez vezes superior ao ante rior, que se ficava pelos 300 mil meticais.
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mercado e finanças
A razão desta alteração é óbvia: havia um desajustamento da responsabilida de civil automóvel porque hoje em dia há importação de carros avaliados em muito mais de 300 mil meticais. Neste caso, o se gurado não tinha cobertura porque o li mite era relativamente inferior.
Quase um ano depois, as seguradoras re conhecem tratar-se de uma alteração vantajosa para o mercado. Ainda assim, a EMOSE reporta pontos que considera desencorajadores.
De acordo com Benedito Manhiça, a me dida tem causado retracção dos auto mobilistas que também sofreram com a crise, perdendo poder de compra. Re vela que a seguradora hoje se ressente disso, porque, assinala, “reduziu o núme ro de subscritores do seguro automóvel (numa magnitude ainda em avaliação).
Por causa do aumento dos capitais míni mos, as seguradoras foram forçadas a agravar o prémio, e os segurados menos informados não entendem as vantagens, sobretudo por tudo isto acontecer numa altura em que a economia experimenta um período de instabilidade”, argumen ta o representante da EMOSE. Na sua opi nião, prossegue, o regulador “deveria ter tido o cuidado de observar o contexto ac tual da economia moçambicana, carac terizada por um momento de recessão substancial e esperar por um ambiente económico mais favorável para fazer va ler esta decisão.”
A EMOSE diz ter aumentado entre 200 e 300 meticais o valor dos prémios de segu ro automóvel, em resposta à revisão feita em Setembro de 2017.
Já a Índico Seguros não está a ser afec tada por esta revisão, visto que antes da entrada em vigor das novas regras, a se guradora já estava a praticar o regime de cobertura acima da imposição legal. Assim, o aumento dos capitais mínimos do seguro automóvel não resultou na re visão dos prémios pagos pelo tomador do seguro. Aliás, a Índico Seguros, diz à E&M que disponibiliza um serviço designado “seguro sobre rodas”, transaccionado nas bombas de combustível, cujo limite é de três milhões de meticais, exactamente o limite exigido pelo regulador.
Depois, tanto a Fidelidade Moçambique como a Imperial Seguros não reportam igualmente quaisquer aspectos negati vos decorrentes desta medida.
Na mesma ocasião, e no quadro da re visão do seguro da responsabilidade ci vil automóvel, o regulador também multiplicou por dez o limite mínimo de cobertura do seguro do transporte pú
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Mais capacidade: Banco de Moçambique quer ‘mais músculo’ no sector financeiro
blico de passageiros, passando de 20 mil meticais por passageiro para 200 mil. A vantagem óbvia desta medida é que, segundo a regra anterior, num acidente que resultasse em ferimento de passa geiros, a cobertura proporcionava pou cas possibilidades de cobrir intervenções cirúrgicas acima dos 20 mil meticais, o mínimo exigido. Apercebendo-se desta fragilidade, o Estado aumentou o capital para poder fazer cumprir a reparação de eventuais danos graves.
de olho nos grandes projectos… Obviamente que é importante dotar o mercado de instituições fortes, capazes de garantir a cobertura dos serviços de seguro, acompanhando a tendência de desenvolvimento e transformação (ain da que morosa) que o mercado tem vin do a conhecer, especialmente um seg mento do mercado financeiro que está intimamente ligado ao crescimento (ou falta dele) da economia nacional. Até por isso, o ISSM, entidade que regula o sector, tal como a Associação Moçam bicana das Seguradoras (AMS), tem mos trado preocupações em reter os ganhos da presença no país dos grandes pro jectos, (oil & gas, exploração de carvão, areias pesadas e pedras preciosas). Fonte do ISSM explica à E&M que, por exemplo, multinacionais que desenvolvem activi dade produtiva em Moçambique, como a Vale e a Jindal (no carvão), Eni, Anadarko e mais recentemente a Exxon Mobil (no gás), a Montepuez Rubi Mining (pedras preciosas) ou a Kenmare (areias pesa das), poderiam garantir vários milhões de dólares às seguradoras nacionais se contratassem serviços de seguro inter namente. “Mas não há aqui capacidade de cobrir o elevado volume de investi mentos que aquelas empresas realizam, pelo que as multinacionais garantem a sua cobertura, obviamente, contratando seguradoras americanas, europeias e asiáticas, que têm muito maior capacida de de cobertura”, dizem-nos. É assim encarado o aumento do capital social mínimo, como um dos primeiros passos para a transformação do merca do interno, sendo que, mais tarde ou mais cedo tenderá a ser harmonizado por uma legislação que obrigue as multinacionais a contratarem serviços a nível interno. Em 2015, quando esta questão começou a ser colocada, a solução que era avan çada era o co-seguro, que consiste no estabelecimento de parcerias para a partilha de risco entre os operadores nacionais e estrangeiros. Mas até hoje
mercado segurador precisa de mais... segurança
A África do Sul é habitualmente o exemplo a que as seguradoras nacionais recorrem quando pretendem um padrão para a sua actuação no mercado. No entanto, a proporção dos seguros no PIB é de 13%, uma média superior à de muitos países africanos como o Quénia com 3% ou a Nigéria também com 3%. Regressando a uma das questões que está a fazer o sector mover-se, em Moçambique, por exemplo, um acidente que seja causado por alguém embriagado, que roubou uma viatura ou que cometeu uma infracção cuja Lei não preveja cobertura, a seguradora é obrigada a pagar primeiro para depois exigir do segurado a reposição do valor, na altura em que se provar a infracção. Mas ocorre que estes valores acabam por ser, em muitos casos, perdidos porque poucas pessoas têm capacidade de ressarcir as seguradoras. Para lidar com este tipo de irregularidades alguns mercados mais desenvolvidos, incluindo o da África do Sul, criaram o chamado ‘Fundo de Garantia Automóvel’, tendo como base
RAMo ‘não vidA’ doMinA ...
O ramo de seguros ‘Não Vida’ representa actualmente uma esmagadora fatia (cerca de 92%) do total dos serviços de seguro solicitados em Moçambique. Apenas 8% são correspondentes ao ramo ‘Vida’, a avaliar pelos prémios brutos emitidos nos primeiros três meses deste ano
Em milhões meticais
Ramo ‘Não Vida’ domina claramente um mercado que, em agregado, vale 3,8 mil milhões de meticais se a ele juntarmos os 8% do ramo ‘Vida’
a introdução de uma determinada taxa na factura de combustível dos consumidores. Este fundo serve assim para aprovisionar custos ‘a descoberto’ por parte das seguradoras, que estavam cada vez mais expostas, por via dos mercados em que actuam.
Em Moçambique, através da Associação Moçambicana das Seguradoras, elas estão a organizar-se e a insistir junto do ISSM para pressionar a criação rápida de um fundo idêntico.
... E AutoMóvEl gAnhA pESo
em milhões de dólares
automóvel incêndio acidentes pessoais acidentes de trabalho
responsabilidade civil geral marítimo mercadorias transportadas aéreo diversos
Por ser obrigatório, o seguro automóvel representa quase 30% do total dos prémios de seguro emitidos. Ainda assim, ISSM estima que apenas 58% das viaturas em circulação esteja segurada 1 030 721,5 563,2 271,9 143,7 84,3 26,2 24,1 690,9
Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique - ISSM
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Mudanças: mercado tem-se adaptado
Ramo ‘Não Vida’ 3 556
92%
Ramo ‘Vida’ 321,8
fontE
mercado e finanças
CoMo é o MERCAdo
Mercado tem 20 companhias de seguros com quota de mercado muito diferenciada entre si. Todas as entrevistadas acreditam que vão conseguir aumentar o capital social
Saúde, trabalho e acidentes pessoais: três segmentos com potencial, mas que dependem da economia nacional
“onde é que a seguradora poderá ir buscar o prémio para assegurar o aumento da pensão, sobretudo nos casos em que a empresa já nem existe?”, questiona a EMoSE
a ideia nunca chegou a avançar. No en tanto, é inevitável que com a exploração de recursos, e com a entrada de cada vez maiores empresas no mercado nacional, o sector segurador venha a usufruir dis so. A Imperial Seguros está já, de resto, a capitalizar-se, ciente das oportunidades que isso poderá trazer à sua projecção. “Esperamos que quando os projectos de oil & gas tiverem início possamos apro veitar a oportunidade com algum suces so”, aponta a seguradora como parte dos seus desafios. A mesma visão é perfilha da por outro operador: “É imenso o desafio que se coloca a todos nós, operadores de seguros a actuar no mercado moçam bicano. E ele passa pela capacidade de dar resposta adequada ao aumento da demanda de seguros associados aos re cursos minerais, quer pela tipologia dos mesmos que obriga a um conhecimento técnico aprofundado das seguradoras, e por fim, pela capacidade de assumir parte dos riscos associados, dada a eleva da dimensão dos mesmos”, complementa Carlos Leitão, da Fidelidade.
urge mudar as regras nos acidentes de trabalho Sendo um dos ramos com maior potencial de crescimento, a EMOSE e a Índico Segu ros mostram-se no entanto insatisfeitas com o mecanismo de funcionamento do seguro de acidentes de trabalho e doen ças profissionais, cuja tabela foi também agravada recentemente. “É uma medida que está a perturbar a indústria segu radora, não só a EMOSE”, afiança Benedi to Manhiça. Mas porquê? O argumento é que, no ramo de acidentes de trabalho, algumas pensões dizem respeito a em presas que já fecharam actividade, mas os beneficiários ainda existem. Assim, ao agravar a pensão mínima, o Estado está a pressionar os operadores a buscarem recursos adicionais para este serviço. “Onde a seguradora irá buscar prémio para assegurar o aumento da pensão, so bretudo nos casos em que a empresa já nem existe”? questiona a EMOSE. A Índico Seguros, que também olha para a medica como “controversa”, considera que a natureza do acidente de trabalho é de longo prazo, por isso, assumindo o ris
co, a seguradora assume a responsabili dade de pagar mensalmente até 60% do ordenado do segurado em caso de mor te, sendo uma pensão vitalícia a favor do enviuvado. E se houver dependentes menores, as seguradoras têm custos adi cionais em pensões até que estes com pletem 18 ou 24 anos (se estiverem a fre quentar o nível médio na escola), “o que tem efeitos financeiros negativos para as seguradoras”. A Índico Seguros suge re mesmo que este tipo de seguro tem de ser enquadrado no ramo vida, cuja na tureza é de longo prazo. “Temos de conti nuar as discussões com o regulador para tentarmos encontrar um meio de salva guardar o interesse do segurado e o ne gócio das seguradoras”, sugeriu Olívio Melembe.
Já para a Fidelidade Moçambique, o novo regulamento “não provocará” acentua das mudanças a nível na empresa. “Ba sicamente, as alterações agora introdu zidas situam-se em matéria relacionada com a adopção de uma nova tábua de mortalidade, mais adequada à realidade e que está na base dos novos coeficientes da Tabela Prática aprovada”, assinala.
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Em milhões meticais
MiCRo SEguRAdoRAS
SEguRAdoRAS FundoS dE pEnSão 1 77
CoRREtoRAS dE SEguRoS
20 6
TExTO Celso Chambisso
FOTOGRAFIA Jay Garrido
fontE Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique - ISSM
Escritórios ExEcutivos... Para ExEcutivos
A MMO - Mozambique Managed Offices é uma empresa de locação e gestão de escritórios que dispõe de uma gama de serviços com standards de qualidade internacional
um business centre com aca bamentos de luxo. Será uma boa forma de descrever a MMO. Foi criada em 2012 com o objectivo claro de “revolu cionar o mercado nacional de arrendamento de escritórios. E por isso somos a primeira e principal fornecedora de ser viços de escritórios executi vos e na gestão de instalações em Maputo.”
De acordo com Sany Weng, directora-geral da empre sa, tudo começou com um conceito de negócio centra do no fornecimento de espa ços para as pequenas empre sas de consultoria. Mas, em pouco tempo, e numa altura em que a economia descolava, rapidamente a empresa ga nhou quota de mercado (mes mo tratando-se de um nicho no segmento de escritórios premium) que desde então não tem parado de crescer. De então para cá, mante ve-se o nível do serviço e ampliou-se o portfolio da oferta que inclui equipamento e apoio técnico e administrati vo, apostando na presença em alguns dos edifícios mais mo dernos da capital (Torres Rani, edifíco da GA e 24 de Julho). “Um serviço de primeira clas se foi o que permitiu estar, nes ta altura, com três escritórios em que conseguimos forne cer tudo o que uma empresa
necessita, desde a sua forma ção até ao ponto em que con siga caminhar sozinha”, consi dera a gestora moçambicana. Afiliada do grupo internacio nal Maris, esta parceria pos sibilitou a expansão signifi cativa das operações e ainda possibilitou a “melhoria cons tante do fornecimento de ser viços de gestão completa de instalações integradas, es critórios virtuais e gestão de projectos de instalações para mais de 17 empresas nacio nais e internacionais em dife rentes fases de operações.”
Devido ao abrandamen to económico, a MMO regis tou no entanto, não uma que bra “mas um abrandamento do crescimento” ao nível da procura dos seus serviços, mas já há sinais de retoma. “Sim, efectivamente senti mos isso nos nossos clientes e parceiros e acredito que até o final do presente ano o mercado possa trazer bons resultados para a empre sa uma vez que já estamos a receber um cada vez maior número de empresas inter nacionais que nos estão a re quisitar para instalar os seus serviços aqui, assim que en trarem no país”; revela.
Bempresa MMo - MoçaMbique Managed offices FundaÇÃo 2012 ColaBoradores 16 nÚmero de esCriTÓrios 3
CarTeira 100
Pessoas nos três escritórios da MMo trabalham mais de 100 pessoas, na sua maioria moçambicanos
porTFolio 50
empresas a MMo fornece serviços de locação e gestão de escritórios a empresas nacionais e multinacionais
empresas Agosto 2018 48
executivesharedoffices
texto Hermenegildo langa fotografia
Jay garrido
Agosto 2018 49
seguros
“Incrementar o número de ci dadãos beneficiários de segu ros”. Foi este o objectivo da as sinatura do acordo de parceria estratégia de longo-prazo en tre o Millennium bim e a segura dora Fidelidade. De acordo com as duas instituições, o acordo vai estimular o crescimento sus tentado do sector de seguros no país, tanto nas empresas assim como fora delas. O acordo prevê ainda a distribui ção de seguros através da rede de balcões e agentes do banco. Este memorando abre também a possibilidade de aquisição pe la seguradora Fidelidade de uma participação no capital da Ím par, actualmente detida a 89,9% pelo Millennium bim em Mo çambique.
girl move: 4ª eDição Do programa change
Formar uma nova geração de líderes no feminino, ‘capazes de contribuir para o desenvolvi mento do país’ é o objectivo da Girl Move Academy, um progra ma de liderança e empreende dorismo social, que lança agora a 4ª edição do Programa CHAN GE, que promove formação de excelência a jovens moçambica nas. A iniciativa pretende selec cionar 35 jovens licenciadas que serão, ao longo de 12 meses, ca pacitadas em matérias de lide rança. Após a formação, terão um estágio de dois meses em grandes empresas de Portugal.
aBsa, ou Do azul ao vermelho
De Barclays
o dia 11 de Julho ficará marcado na história da banca afri cana. Em tons bem vivos, de vermelho. Foi esse o dia do lan çamento do ‘novo’ Absa Group na África do Sul, escolhido também como o momento do ‘kick off’ de um caminho que culmina em 2020 e que irá levar à mudança de identidade de todas as subsidiárias do Barclays. Em Maputo, o dia foi de festa. Mais de 500 quadros do ain da Barclays Bank Moçambique juntaram-se no auditório do Hotel Glória para celebrar o nascimento de um novo banco, com uma nova cultura e objectivos novos, baseados numa transversal consciência comum. “O cliente será sempre o nosso foco. Porque mais do que sermos maiores, queremos ser os melhores.”
As cores do novo logotipo do Absa representam a identi dade de “uma instituição focada no cliente, com uma vi são clara de futuro, abraçando os grandes desafios de uma nova era digital. Luísa Diogo, Presidente do Conselho de Administração do ainda Barclays Bank Moçambique, refere isso mesmo: “Buscando as raízes mais profundas da cultura de um país, e de todo um continente, sabemos que somos África, que somos o futuro. É este o caminho para que, até 2020, possamos dar vida a todas as nossas possibilidades. Estamos preparados.”
Se na África do Sul a ABSA já assumiu a sua nova identidade, em todos os mercados em que o Barclays Bank está (Gana, Quénia, Maurícias, Moçambique, Nigéria, Seychelles, Tanzânia, Uganda e Zâmbia), abrangendo aproximadamente 42 mil funcionários que atendem a cerca de 12 milhões de clientes de todo o continente, a transformação da marca irá acontecer até ao ano de 2020.
superBranDs DesaFia estuDantes a criar capa Da eDição 2018
No âmbito da 5ª Gala de Premia ções das marcas de excelência em Moçambique, a Superbran ds lançou o “Concurso Criativo Superbrands”. Para esta edição propõe-se aos candidatos o de safio de imaginarem uma capa, com um design que, ao mes mo tempo, é criativo e engloba a ideia do poder da “diversidade cultural do nosso país.”
O concurso irá decorrer a nível das principais universidades de Comunicação, Marketing e De sign de Moçambique.
stanDarD BanK apresenta potencial De investimento
O Standard Bank Moçambique apresentou as potencialidades de investimento que o mercado na cional oferece, numa conferência transregional, que decorreu, na Nigéria, em Julho passado, com o objectivo de promover o co mércio entre os países africanos. No encontro estiveram empre sários moçambicanos, represen tando os sectores de transportes, alimentação, sistema financeiro e tecnologia.
megafone Agosto 2018 50
para
“corajosos, apaixonados, preparados.” É este o lema do novo absa, o banco da ‘africanicidade’
millennium Bim e FiDeliDaDe aliam-se pela massiFicação De
igura do mês
estudar a criação de uma OPEP para os países de língua por tuguesa que, por agregar tan tas nações produtoras, seja um player mundial do sector.
Fará sentido criar uma oPeP da cPLP
saLimo abduLa
Uma das tónicas dominantes na conferência de Maputo foi colocada na necessidade de se imprimir cada vez maior maior transparência a todos os níveis. Qual a importância disto para a CE-CPLP?
Presidente da Confederação Empresarial da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CE – CPLP) de facto, no príncipio existia enquanto forma de união ape nas cultural e social, em torno da questão da língua. Mas es se rumo tem vindo mudar pa ra uma perspectiva mais eco nómica, porque é assim que o mundo é hoje em dia. Creio que, enquanto Confederação Em presarial no seio do espaço da CPLP, teremos um papel rele vante a esse nível. E é também por isso que, desde o início, de lineámos um plano estratégi co com metas que têm vindo a ser atingidas e outras apenas iniciadas, para que as empre sas e os empresários de todo o universo dos países da CPLP possam ter aqui um fórum onde se sintam representados.
aos 54 anos, salimo abdula será, porventura, um dos mais bem-sucedidos empre sários moçambicanos.
O homem que já liderou a CTA, é o actual PCA da Voda com, para além de fundador da Intelec, uma holding de tentora de empresas em sec tores económicos estratégi cos como o dos recursos mine rais e da energia, lidera tam bém desde 2013 a Confedera ção Empresarial da CPLP (CE -CPLP). Agora, a poucos meses do fim do mandato, ele fala à E&M sobre o que foi feito e o que ainda há por fazer para que o universo das empresas da CPLP, possa ser, em si mes mo, uma “potência económica” que rivalize com outras, a ní vel mundial.
A criação da CE-CPLP pare ce ter, ela própria, mudado o foco do que era a CPLP ante riormente, ou seja, é um or ganismo menos focado nas questões culturais e linguís ticas, e mais orientado para a sua potenciação a nível económico. É assim mesmo? A CPLP é uma boa causa que,
Transparência
Essas metas foram debati das na primeira conferên cia CE-CPLP. A que conclu sões se chegou?
Sim. Foi, de resto, um momen to histórico para nós, para Mo çambique e para a própria CPLP. Dessas metas, as princi pais são: a dinamização do am biente de negócios na comu nidade criando um espaço de circulação livre de pessoas e
cv
curriculum vitae
Salimo Abdula é fundador e PCA da intelec Holdings, cumpre o segundo mandato como PCA da Vodacom, liderou a CtA e é, desde 2013 presidente da Confederação empresarial da CPLP
capitais, a criação de um tribu nal de arbitragem, de um ban co de desenvolvimento, e de um Observatório. Depois, de batemos como os recursos hu manos e naturais poderão ser melhor explorados, se o fizer mos em bloco. Repare que, nas próximas décadas 25% das re servas de oil and gas de to do o mundo estarão dentro do espaço dos países membros. Nesse sentido temos de pensar se não poderia fazer sentido
A corrupção existe em todo o lado, é um mal transver sal às sociedades contempo râneas, da política ao sector empresarial. Criar políticas transversais de transparên cia aos países membros tem sido e será cada vez mais uma preocupação da CE-CPLP. Porque hoje em dia, a vários níveis, é fundamental ser claro e transparente, se que remos fazer grandes negó cios, com parceiros de todo o mundo.
Nota uma mudança de ati tude dos diversos governos, face às alterações que têm sido lançadas pela CE-CPLP? Há temas que, por vezes, nem dependem só dos governos, implicam mudanças legislati vas e uma aproximação cada vez maior entre Estados de diferentes continentes. Isto é um trabalho que está iniciado, mas que irá ainda demorar.
O seu mandato termina no fim do ano. Recandidata-se? Tenho uma vida empresarial que deixei um pouco para trás, por causa deste grande pro jecto. Sinceramente não lhe posso responder nesta altu ra. Têm-me pedido para conti nuar mas não tenho uma de cisão final sobre essa questão.
Criar políticas transversais de transparência nos países membros, tem sido nestes anos, e será cada vez mais, uma preocupação da Confederação Empresarial da CPLP
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texto PEdro CativElos fotogrAfiA Jay Garrido
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As promessAs e os desAfios dAs “cidAdes inteligentes” em áfricA
De Kigali, no Ruanda, a Nairobi, no Quénia, ou como as grandes capitais africanas estão a dar o passo em frente na revolução tecnológica, o tal salto para um futuro para o qual Maputo ainda não parece disposto a avançar
a conferência “transform africa summit”, cuja 4ª edi ção decorreu em Maio, em Kigali, a capital do Ruanda, permitiu, uma vez mais, ver como estão a ser implementa dos, através do continente, os vários projectos de “cidades inteligentes” que têm sido ob jecto de grandes investimen tos e se pretendem constituír como o paradigma de um modelo de desenvolvimento sócio-económico centrado nas tecnologias de informação e comunicação.
O foco deste novo paradig ma ficou consagrado na edi ção de 2013 da conferência “Transform Africa Summit”, pelo lançamento do manifes to “Smart Africa” - liderado pelo Ruanda - ao qual aderi ram, inicialmente, sete países do continente mas que seria subscrito, um ano depois, por todos os países que fazem parte da União Africana. O facto da iniciativa “Smart Africa” ter sido proposta e liderada pelo Ruanda não acontece por acaso. Em en trevista dada, o ano passado, ao jornal francês ‘Le Monde’, Jean Philbert Nsengimana,
ministro da Juventude e das Novas Tecnologias, sublinhou que Kigali é hoje “uma cidade totalmente conectada à Inter net com acesso gratuito via Wi-Fi nos espaços públicos, transportes, restaurantes e hotéis”, referindo ainda que, para além disso, “todos os ha bitantes de Kigali podem hoje aceder à totalidade dos servi ços públicos pela internet.”
Na entrevista, Jean Philbert Nsengimana explica como fo ram “desmaterializados” to dos os procedimentos admi nistrativos por forma a que os cidadãos possam, através da internet, “pagar os seus impostos, obter licenças de construção, registos de pro priedade, ou certidões de nascimento”, salientando ain da que a digitalização de to da a informação urbana re lativa a endereços permite já a distribuição domiciliária de correio e encomendas: “O programa ‘Smart City Kigali’ permitiu geo-localizar 100% das ruas da região.”
Falando sobre os próximos passos que a cidade quer em preender, o ministro refere como objectivo a “digitalização
O fOcO deste nOvO paradigma ficOu cOnsagradO, na ediçãO de 2013 da cOnferência “ transfOrm africa summit”, pelO lançamentO dO manifestO “smart africa” – lideradO pelO ruanda - aO qual aderiram, inicialmente, sete países dO cOntinente mas que seria subscritO, um anO depOis, pOr tOdOs Os países que fazem parte da uniãO africana
2013progressiva de todo o tipo de transacções monetárias”: “Nos transportes colectivos de Ki gali já é hoje possível pagar directamente usando o tele móvel. Queremos agora es tender esse procedimento a hotéis e restaurantes”.
Reconhece, no entanto, que há ainda muito a fazer no senti do destes “pagamentos elec trónicos” poderem abranger o pequeno comércio e as lojas de bairro. Baseado na sua ex periência, o governo do Ruan da apresentou mesmo, no fi nal da conferência do ano passado, um “roteiro de boas práticas” (“Smart Cities Blue print”) para o desenvolvi mento de “cidades inteligen tes” em África na perspecti va de ajudar todos aqueles que querem implementá-las nos seus países.
De facto, têm-se multiplicado, em anos recentes, os anúncios de vários projectos de “cida des inteligentes” através do continente, quer em termos de dotar os centros urbanos actuais de infra-estruturas tecnológicas “inteligentes”, quer projectando novas ci dades de raíz. No que toca à
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criação de novas infra-es truturas tecnológicas podem referir-se, para além de Ki gali, os casos de Kampala, no Uganda, e de Accra e Kumasi, no Gana, onde através de uma parceria com a Google, e do seu denominado ‘Project Link’, foram instaladas redes de fi bra óptica que permitem hoje aos seus cidadãos uma ligação e rápida e barata à Internet.
internet leva tudo à frente Um projecto semelhante está também actualmente a ser desenvolvido pela Liquid Te lecom, uma empresa basea da nas Maurícias e que tem como objectivo instalar redes de banda larga em países como a Zâmbia.
Praticamente todas as gran des empresas tecnológicas globais definiram, entre os seus objectivos a curto e mé dio prazo, estratégias alinha das com a ideia de levar a internet de alta velocidade ao continente africano. O Fa cebook está, por exemplo, a desenvolver um projecto que envolve a criação de dro nes que vão funcionar como hotspots de Wi-Fi. E tanto Elon Musk (através da Space X) como Richard Branson (com o grande investimento no projecto OneWeb) prevêm o lançamento de centenas de satélites em órbita baixa que vão permitir acesso rápido à internet. Aos casos acima referidos – de Kigali, Kampa la, Accra e Kumasi – devem acrescentar-se ainda alguns outros que, desde há alguns anos, se destacaram por ini ciativas pioneiras, como Cape Town, na África do Sul, Lagos, na Nigéria e Nairobi no Qué nia. Até aqui, nada de Maputo, que parece estar fora desta nova rota da fibra óptica. E não há planos para que isso venha a acontecer.
Por outro lado, e no que diz respeito à criação de novas “cidades inteligentes”, os pro jectos mais frequentemente referidos incluem, ‘Vision City’, nos arredores de Kigali,
Revolução tecnológica fez emergir, a nível global, centenas de projectos de cidades inteligentes, estimando-se que este seja um mercado que em uma década poderá atingir os 225 mil milhões de dólares
‘Hope City’, no Gana – que tem a ambição de se tornar num grande parque tecno lógico - ‘Waterfall City’, em Joanesburgo, na África do Sul, ‘Eko Atlantic’, um pólo urba no a ser construído perto de Lagos e que pretende ser a “primeira cidade inteligente” em África, ou ainda o projecto ‘Konza Technopolis’, em Nairo bi, no Quénia.
Um lugar diferente
O conceito de ‘cidades inteli gentes’ começou a emergir, de forma mais consistente, na primeira década do novo sé culo. Os ganhos de eficiência permitidos pelo avanço das tecnologias digitais e, mais re centemente, a possibilidade de usar a big data no planea mento urbano, fizeram emer gir, a nível global, centenas
de projectos, estimando-se, ac tualmente, que este seja um mercado que poderá atingir os 225 mil milhões de dólares na próxima década. Após a crise financeira de 2008, tanto as grandes em presas tecnológicas globais como as do imobiliário come çaram a olhar para a África e Ásia com especial atenção. A explosão demográfica, a escassez de recursos e a fra gilidade das infra-estruturas que marcam estas regiões tornaram estes continentes um alvo preferencial. No caso asiático, tanto a Índia como a China já anunciaram planos para a construção de ‘cidades inteligentes’. A pri meira pretende construir 100 destas cidades até 2022 e a segunda quer avançar com 500 nos próximos anos. Mas
é sobretudo para África que todas as atenções estão volta das: não apenas porque será neste continente que irá vi ver um quarto da população mundial em 2050 mas sobre tudo porque metade dessa po pulação irá ficar nas cidades.
os prós... e os contras
Em 2030, as estimativas indi cam que existirão pelo menos seis mega-cidades em África (com mais de 10 milhões de ha bitantes). Para lidar com esta anunciada “explosão” urbana muitos países estão, por isso, não apenas abertos a redese nhar a configuração urbana actual como a projectar novas cidades.
No entanto, o modelo de ‘cidade inteligente’, tal como tem vin do a ser desenhado, tem me recido reservas por parte de
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Accra, capital do Gana: ‘Hope City’ foi criada para ser uma referência tecnológica em África, mas ainda não atingiu essa meta
sectores que duvidam, não só da sua capacidade em mudar as condições sócio-económicas existentes, como antecipam o seu provável agravamento.
Um outro tipo de crítica prende-se com o que alguns consideram a “influência ex cessiva” que as grandes em presas internacionais já têm (e vão continuar a ter) na de finição do modelo das ‘cidades inteligentes’ em África. Como é o caso da ‘escola inteligen te’, que a Nokia está desen volver, no sentido de equipar o parque escolar de infra-es truturas tecnológicas avan çadas, ou na área da saúde, o da empresa norte-americana de robótica Zipline, que imple mentou um sistema de dis tribuição de sangue através do uso de drones. Mas a pre sença de grandes operadores globais como a Microsoft, a In marset (satélites) ou a Han com (empresa sul-coreana de software) são também referi dos. Para o ministro Jean Phi lippe Nsengimana, este tipo de
“parcerias” são inevitáveis e decorrem da necessidade de atraír investimento estran geiro e adquirir ‘know-how’. Na verdade, muitos dos pro jectos de ‘cidades inteligen tes’ já anunciados continuam a ter dificuldades em concre tizar-se: ‘Hope City’, em Accra, continua, quatro anos depois de ter sido lançado, a ter um desenvolvimento titubeante e em Nairobi, o projecto ‘Konza Technopolis’ tem agora a sua inauguração prevista apenas para 2030. Os críticos, onde se inclui, por exemplo, Mira Sla vova, do Gordon Institute of Business Science, da África do Sul, referem que os modelos desenhados tomam sobretu do como referência as mega -cidades do século XX, todas elas nascidas em países já de senvolvidos. Ora, ao contrário destas, que surgiram nos anos 50 do século passado, e corres ponderam a uma concentra ção de “forças produtivas”, as mega-cidades africanas são sobretudo “espaços conges tionados” onde vivem gran des massas de população sem qualificações e em condições de “extrema pobreza”.
Mira Slavova sublinha ain da que a maior parte dos projectos de ‘smart cities’ no continente se tem concen trado sobretudo nas capitais dos diversos países ignoran do o facto de que, segundo vá rios estudos indicam, o maior desenvolvimento urbano irá ocorrer em cidades secundá rias que se irão transformar, dentro de alguns anos, em grandes megalópoles.
Muitas destas questões (e ou tras) não são exclusivas de África, o que leva os analis tas a considerar que, sem um profundo debate sobre o tipo de ‘cidade inteligente’ a de senvolver no continente, as promessas de um novo impul so poderão não passar de uma oportunidade perdida.
Agosto 2018
texto Rui TRindade fotogrAfiA isTock PhoTos
Políticas de austeridade favorecem ou entravam o retorno ao crescimento?
Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique
a ocorrência de crises financeiras mais frequentes nos últimos anos e a globalização da economia e dos mercados aceleradas pela velocidade de propagação das novas tecno logias tem tido um efeito multiplicador e devastador na eco nomia de muitos países, pondo em causa a sua capacidade de acesso aos mercados financeiros, da concessão de crédito à transmissão de confiança aos investidores. Perante situações de crise, muitos países confrontaram-se com a necessidade de implementar medidas para reduzir os gastos públicos, já que as receitas orçamentais são insuficien tes para satisfazer a despesa pública e para incrementar a produtividade e a competitividade das economias. Expressões como “o Governo gasta em excesso”, “é necessário cortar gastos” e “é urgente equilibrar as contas públicas”, passam a fazer par te da gíria adoptada pelos parceiros de cooperação e gestores das finanças públicas. Foi nesse contexto que entrou na moda a ideia de introduzir medidas de austeridade fiscal. A questão de fundo é se essas receitas prescritivas que redu zem o nível do consumo e o investimento público terão o condão de relançar o dinamismo e a competitividade da economia. Um estudo feito por David Stucker e Sanjay Basu (2013), intitulado “The Body Economic – Why Austerity Kills”, apresenta uma conclusão aterradora: os cortes orçamentais prejudicam gra vemente a saúde pública, e são as medidas de austeridade im plementadas sem a devida adaptação às especificidades que agravam os efeitos da crise, amputam as iniciativas de apoio social, agravam as taxas de desemprego e adiam o crescimento. Ao contrário do que defendem os apologistas da “contracção fis cal expansionista” (como Luigi Einaudi, Alberto Alesina, Carlo Favero, Francesco Trebbi, Guido Tabellini, Marco Pagano, Silvia Ardagna e Roberto Perotti), ou seja, que a redução nos gastos públicos é que leva ao crescimento económico, que foram as me didas de estímulo à economia que fizeram as economias cresce rem, que melhoraram as contas públicas e fizeram aumentar o nível de emprego. Joseph Stiglitz (2017) considera que alguns países da Europa fizeram as escolhas erradas, ao impor a auste
ridade, cortando excessivamente na despesa pública, exigindo “reformas estruturais” e, além disso, introduzindo mudanças na forma como os países afectados acabaram por gerir o mercado de trabalho e as pensões. Considerou ainda que as medidas de austeridade agravaram a crise junto das populações, que aca baram por lhes mostrar resistência, em nome da democracia. Philipp Engler & Mathias Klein (2017) defendem ser preferível uma recuperação da economia mais lenta, argumentando que a consolidação orçamental não tem oportunidades de sucesso num ambiente tão recessivo, pelo que uma combinação mais equilibrada de medidas, com ajustamentos orçamentais, refor mas estruturais e uma aposta orçamental no investimento te ria um efeito mais positivo sobre a economia. Na sua obra “Não Temos de Ser Alemães”, José Matos Torres (2014), refere que o caminho para Portugal devia passar por uma re forma económica profunda, que não esteja obcecada com o dé fice e com a dívida pública, até porque uma boa dívida pública pode ser a alavanca para lançar as bases do crescimento eco nómico. Moçambique pode aprender com essas experiências. Medidas de austeridade compreensivas são uma componente essencial de qualquer política económica sensata e prudente, que canaliza os recursos para onde eles possam ser usados para gerar bem-estar e crescimento económico inclusivo. Será que o melhor momento para implementar programas de austeridade é em época de crise ou em contextos de relativa abundância? Não deixa de ser verdade que é mais complexo e delicado implementar medidas de políticas visando simulta neamente: (i) gerir a crise económico-financeira e os seus efei tos sociais; (ii) introduzir reformas orçamentais, fiscais e mo netárias; (iii) prosseguir com a promoção de um ambiente de negócios favorável ao investimento privado; (iv) e projectar e levar a cabo a transformação estrutural da economia. Temos de encontrar resposta para a pergunta: Como é que as medidas de austeridade podem promover desenvolvimento económico sustentável? Qualquer solução vai passar pelo me lhor balanceamento que o Estado encontrar entre ambas.
Ao contrário do que defendem os apologistas da “contracção fiscal expansionista”, que a redução nos gastos públicos é que leva ao crescimento económico, foram as medidas de estímulo à economia que fizeram as economias crescerem, que melhoraram as contas públicas dos países
OPINIÃO Agosto 2018 58
fora
AngolA precisA de produzir (mAis) como de pão pArA A bocA
Governo e empresários concordam que a importação de alimentos é cada vez mais dispendiosa do que a sua produção a nível interno. Entretanto, e mesmo apesar dos constrangimentos já estarem devidamente identificados há vários anos, o país continua a apresentar défices preocupantes de produção agrícola
angola carece de uma política efectiva de incentivo à agricultura através de sub venções de insumos e facilitação de crédi tos bonificados, defendeu o agrónomo José Bettencourt numa apresentação a empre sários do sector agro-industrial, por oca sião das celebrações do Dia do Criador e do Campo em Angola, que teve lugar em Ju nho, na Fazenda de Santo António, municí pio da Quibala, na província do Kwanza Sul. No retrato que fez do sector, o especialista apontou ainda a fraca capacidade de arma zenagem de produtos pelos agricultores, na sua maioria familiares, que respondem por mais de 90% da produção angolana, o que os leva, frequentemente, a vender as suas colheitas abaixo do preço de pro dução. “É por isso que eles (os camponeses)
se desmotivam e vão produzir carvão, por exemplo, para ao fim de dois ou três dias conseguirem ganhar alguma coisa”, justi ficou, tendo reforçado que Angola precisa de “pensar seriamente numa política de subvenção para aumentar rapidamente os índices de produção”.
Para esta fonte, o surgimento de um sector empresarial forte no agro-negócio em An gola, além da criação de uma rede comer cial funcional e do reforço da investigação e experimentação agrícolas são factores determinantes para o desenvolvimento da agricultura no país, que tem cadastra das 170 empresas que ocupam uma área de mais ou menos 200 mil hectares.
“Da análise do ano agrícola 2015/2016, chegámos à conclusão que somente pou
co mais de 19% dessa área tem produção efectiva, estando tudo o resto subapro veitado”, afirmou José Bettencourt, segun do o qual a produção do milho equivale a 16% da área cultivada, ao passo que o ar roz ocupa 3% e a soja também 3%. O Kwan za Sul, informou a fonte, é a província que mais produz soja, com cerca de três mil hectares de área cultivada.
reservas mundiais em baixa Até 2050, segundo estimativas do Instituto Nacional de Estatística, a população ango lana poderá atingir os 67 milhões de habi tantes, o que, para José Bettencourt, exige que Angola aumente os actuais níveis de produção de alimentos. “Nós teremos de alimentar essa gente”, afirmou, alertando
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Lá
que, a nível global, os stocks de alimentos estão abaixo do recomendável, prevendo assim uma alta de preços no futuro. Angola dispõe de 35 milhões de hectares de terra arável mas, apenas 5% é área cultivada, maioritariamente por campo neses familiares. Neste sentido, os actuais índices de produção de cereais continuam deficitários, daí que o país importe a qua se totalidade do que consome. “Se quisermos substituir as importações teremos de aumentar as áreas de pro dução, pelo menos em 1,4 milhões de hec tares. E precisamos de ter, para que a produção seja razoável, à volta de 500 mil toneladas de fertilizantes e cerca de 100 mil toneladas de azotados”, defendeu o agrónomo José Bettencourt.
No caso do milho, o défice de Angola é de quase dois milhões de toneladas, ao pas so que a totalidade do trigo consumido no país é importado. “Infelizmente, impor tamos farinha de trigo quando podería mos importar grãos, o que nos permitiria valorizar a produção nacional, aprovei tando os derivados do trigo para ração e criando mais empregos”, aponta ainda Jo sé Bettencourt, que informou que o défice de arroz corresponde também à quase to talidade do consumo interno.
Segundo a Organização das Nações Uni das para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), as perspectivas para a produção mundial de cereais melhora ram desde Maio. Porém, a produção pre vista para este ano ainda poderá ficar aquém do nível alcançado 2017 e das ne cessidades de consumo previstas para es te e o próximo ano.
Num comunicado divulgado no seu por tal, a FAO estima que os stocks mundiais de cereais venham a baixar, uma queda impulsionada principalmente pelo milho, tendo em conta que as reservas de tri go e arroz tendem a aumentar. Em 2018, prevê-se uma produção mundial de ce reais de 2,6 mil milhões de toneladas, três milhões de toneladas acima da projec ção preliminar feita em Maio. No entanto, a este nível, a produção global ainda de verá cair 40,6 milhões de toneladas (1,5%) anualmente.
Já a produção mundial de trigo está pre vista em 754 mil milhões de toneladas, após uma revisão em alta de 7,5 milhões de toneladas em Junho. O aumento está principalmente relacionado com a Ar gentina, bem como com o Canadá e os Es tados Unidos, onde melhores condições climáticas impulsionaram as perspecti vas da FAO. Estimativas oficiais recentes da Índia apontam também para uma pro
dução acima do esperado, impulsionando ainda mais as perspectivas de produção global de trigo.
Em Maio, a projecção da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura apontava um aumento de 0,7 milhões de toneladas na produção mun dial de arroz, para 511,3 milhões de tone ladas, 1,3% acima da alta histórica de 2017.
A revisão, esclarece a FAO no seu comunicado, “reflecte principalmente as melhores perspectivas para a Índia, con sistentes com as estimativas oficiais mais elevadas para a produção do país em 2018”.
consumo de cereais vai atingir novo pico em 2018/19
2 610O consumo mundial de cereais vai cres cer 1,2% no período 2018/2019 em com paração com a temporada transacta, atingindo o pico de 2,6 mil milhões de to neladas, em função do aumento nos ali mentos, nas rações e nos usos industriais.
MILHÕES DE TONELADAS
É A PREVISÃO DE PRODUÇÃO MUNDIAL DE CEREAIS AtÉ AO fIM DO ANO DE 2018
O consumo de trigo deverá atingir os 743 milhões de toneladas em 2018/19, um au mento de quase cinco milhões de tone ladas em relação à temporada anterior. Espera-se que o uso mundial de trigo au mente em consonância com o crescimen
os problemAs… … e As soluÇões
Rede comercial débil que não permite escoamento de produção
Política de crédito inadequada impossibilita investimento
Baixo nível de investigação e experimentação agrícola
A taxa de rentabilidade da actividade agrícola é baixa
Fraca disponibilidade no fornecimento de insumos
Mau estado das estradas e custo elevado dos transportes
A produção mundial de milho em 2018, por sua vez, foi ligeiramente reduzida para 1 046 milhões de toneladas, com grandes revisões para baixo na China, reflectindo as contracções da área à medida que os agricultores mudam para culturas mais lucrativas, e no Brasil, onde a continuidade do tempo seco está prevista para conter plantações e colheitas da segunda safra. comÉrcio crÉdiTo inVesTigAÇão renTAbilidAde insumos logísTicA ÁguA
Infra-estruturas hidroeléctricas e de irrigação com pouca cobertura
Deverão haver alimentos para cortar na factura da importação
Concessão de crédito bancário com maior período de carência
Deverão ser reduzidos através de incremento de investigação
Ao nível dos combustíveis, agroquímicos e fertilizantes
Melhores profissionais, e mais dados estatísticos e científicos
Maior coordenação entre produtores para reduzir custos
produÇão inVesTimenTo cusTos subsídios eFiciÊnciA cooperAÇão FormAÇão
Criação de quadro de incentivos e regalias para quadros locais
Agosto 2018 61
Como em Moçambique: Cerca de dois terços da população praticam agricultura de subsistência
Angola dispõe de 35 milhões de hectares de terra arável mas apenas 5% é área cultivada, maioritariamente por camponeses familiares espalhados pelas diversas províncias do país
to populacional, enquanto o total de ra ções deste cereal deverá crescer mais rapidamente do que em 2017/18, aumen tando em cerca de 1,3%, apesar do gran de suprimento de grãos grosseiros alter nativos mais baratos.
O arroz também vai beneficiar de um aumento no consumo, 1%, em 2018/19, atingindo os 509,3 milhões de toneladas. Prevê-se que o consumo de alimentos re presente 411,7 milhões de toneladas desse volume, permitindo que o uso mundial de arroz por alimentos per capita permane ça estável em torno de 53,9 quilogramas.
comércio internacional com ligeiro crescimento O comércio mundial de cereais em 2018/19 poderá atingir as 409,6 milhões de toneladas, um aumento de 0,5%, ou seja, mais 2 milhões de toneladas em relação a 2017/18, o que representa um novo pico. Essa previsão, publicada em Julho, é de 3,4 milhões de toneladas superior à pri meira previsão comercial da FAO para 2018/19, apresentada em Maio.
O comércio mundial de grãos grossei ros em 2018/19 (Junho/Julho) está actual mente estimado em 187,2 milhões de to neladas, uma alta de 0,9% em relação a 2017/18, com o comércio de milho a
1,2%
É QUANtO PODERÁ CRESCER A UtILIZAÇÃO MUNDIAL DE CEREAIS NO PERÍODO 2018/2019 EM COMPARAÇÃO COM A tEMPORADA 2017/2018, AtINGINDO O PICO DE 2 646 MILHÕES DE tONELADAS, EM fUNÇÃO DO AUMENtO DA SUA UtILIZAÇÃO NOS ALIMENtOS, RAÇÃO E USOS INDUStRIAIS
crescer para 147 milhões de toneladas, 1,1% maior do que em 2017/18 e 3,4 mi lhões de toneladas acima da previsão do mês anterior. Esses números devem-se à combinação de demanda de impor tação geralmente mais forte na Ásia com a disponibilidade continuada das exportações.
Já o comércio mundial de trigo na época agrícola 2018-19 (Junho/Julho) está pre visto em 175 milhões de toneladas, pró ximo do volume estimado para 2017/18 e cerca de 1 milhão de toneladas aci ma da estimativa de Maio. Por fim, o co mércio mundial de arroz no ano civil de 2018 deverá cair apenas um pouco abai xo do recorde de 2017, para um total de 47,8 milhões de toneladas. Entre os ex portadores, uma safra positiva pode permitir que a Índia tenha, em 2018, o seu segundo maior volume já registado, apesar das perspectivas de diminuição da demanda de alguns dos seus princi pais mercados no sul da Ásia.
de volta a Angola...
Um pouco à imagem de Moçambique, em Angola, cerca de dois terços da popula ção dependem da agricultura para ali mentação, rendimento e fonte de em prego, mas aproximadamente 80% dos camponeses praticam agricultura de subsistência, o que resulta em pouco ou nenhum excedente, e em taxas de pro dutividade muito baixas. Mas, essa é uma realidade que mais tarde ou mais cedo, irá (terá) de mudar. E isso fica mais fácil com projectos como o do Pólo Agríco la da Quiminha.
Localizado a 50 quilómetros da capital, Luanda, terá uma área de 5 mil hecta res de cultivo, onde já trabalham 600 pessoas na produção de cerca de 30 mil toneladas de todo o tipo de legumes e fruta. Considerado o maior projec to integrado de agricultura em Ango la, (fruto de uma parceria público-pri vada), deverá atingir este ano a plena produção, prevendo-se que venha a exportar a maior parte da produção. À agência Lusa, o diretor-geral do pro jecto, o israelita Regev Harosh, explicava que objectivo passa por “exportar a par tir de Outubro, por via aérea, as primei ras quantidades de batata-doce e bana na produzidas localmente para que, em 48 horas estejam à venda em lojas na Eu ropa onde a procura é grande” assumiu.
Agosto 2018 62
Lá fora
texto SEBASTIÃO VEMBA fotografia ISTOck PhOTOS
Afinal, porque é que nos importamos com o que importamos. E vice-versa
Pedro Cativelos • Editor Executivo da Economia & Mercado
dizem-nos as notícias que o volume de importação de au tomóveis mais do que duplicou, nos primeiros três meses deste ano, relativamente a igual período de 2017, de acordo com os números do INE, denunciando um aumento na ordem de 124,4%. E a aquisição de peças para a indústria automóvel seguiu o mesmo rumo e cresceu 52,9% no mesmo período. Recordemos que a Assembleia da República havia aprovado, em finais do ano passado, uma redução de 5% (para 25%) na taxa de importação de veículos com seis anos de uso, manten do os 30% na importação de veículos mais antigos. Havia (ainda há) um problema e a resposta começou a ser to mada no caminho certo. Não restringindo, orientando. Mas, porque é que esse era um problema? Bem, porque com o abrandamento económico, tudo o que fossem saídas de capitais, nomeadamente dólares, a currency com que são pagas as fac turas em outros idiomas, era algo incomportável no momento económico actual. E por todas as outras razões, da segurança nas estradas, aos níveis de poluição que veículos mais antigos aportam ao nosso ar. No entanto, este indicador leva a uma ou tra análise. Este aumento na importação de automóveis face ao que acontecia há um ano, vem sublinhar algo que alguns indi cadores têm mostrado: a maré baixa da economia está a mudar. O que pode parecer controverso escrito assim. Pelas dificul dades que a população continua a sentir no dia-a-dia, e que as empresas continuam constatar mês após mês.
Podemos discutir se a ligeira melhoria é impelida pelas ex portações de carvão (que deverão chegar perto dos dois mil milhões de dólares no fim do ano), e amparada pela melhoria das taxas de câmbio face ao dólar e ao rand, para valores de 2015 (ambas estão, claro, relacionadas).
Paira, no entanto, o perigo de regressarmos ao princípio. A esse que pensamos, e ao dos dados que o INE revela. Porque se a primeira coisa que se faz quando os câmbios melhoram, e a economia dá o primeiro sinal de saúde depois de dois anos e meio de convalescença poderia ser outro. Mas, o que ela quer é um carro novo (na maioria até é usado) o que faz aumentar,
a importação de veículos. Mas, se a economia somos nós, afinal, não se lhe pode censurar a vontade de ter um carro novo. Por isso, importar não é, por si só, algo mau. Nem bom. É uma ca racterística. Como alguém que vai às compras, porque não pode produzir tudo na própria casa, assim haja uma fonte de ren dimento que suporte o pagamento. Sem ter de utilizar crédito. Será mais esta, a questão, porque Moçambique não será, nos anos mais próximos um produtor de automóveis, ou peças. E com o crescimento que se espera para a economia, a percen tagem de importações de veículos será cada vez maior. Ne nhum mal nisso. Também lá por fora importar e exportar gera guerras. Ainda recentemente, o presidente Donald Trump anunciou a criação de novas tarifas que agravariam em 25% o custo das impor tações de aço. Por causa desse anúncio, as bolsas de valores na Ásia, Europa e de Nova Iorque caíram durante dias, a Europa unida ameaçou com medidas idênticas sobre produtos impor tados dos EUA e até na China, maior produtor de aço do mundo (e também um dos mais protecionistas, onde nem a UE nem os EUA têm facilidade de vender seja o que for), a reacção foi a de que este anúncio se tratava “de uma grave violação às regras da Organização Mundial do Comércio.” As novas tarifas, feitas em benefício da produção interna, teriam um impacto sobre os preços de carros e latas de refrigerantes. E quem pagava, era o consumidor norte-americano. Um bom exemplo de como uma medida que se importa com o que importa pode ter conse quências inesperadas, ou nem tanto assim, afinal. Regressando a Moçambique, o peso das importações é e será sempre grande. A questão será como diluí-lo diminuindo ain da o défice da balança comercial (3 mil milhões de dólares). E para isso, a economia nacional tem de saber quais são as suas forças. Em vez de se focar apenas em reduzir, deve direccio nar-se para produzir, com base na riqueza potencial que tem. Pensando em exportar. Porque importar veículos, conheci mento, ou produtos tecnológicos até pode ser um valor acres centado. Não exportar nada, é que não pode ser a solução.
O peso das importações é, e será sempre, elevado. A questão é como diluí-lo, na produção interna, diminuindo o défice da balança comercial. Para isso, a economia nacional tem de saber quais são as suas forças e adoptar estratégias para que elas sejam ainda mais fortes e competitivas
OPINIÃO Agosto 2018 64
ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
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O Hotel Cardoso, o ‘terraço luminoso’ de Maputo já tem um século de vida
e
70
Uma viagem ao Japão, pelos pratos do Aska, um dos mais icónicos restaurantes japoneses de Maputo
71
As Indian Pale Ale ganham o seu lugar na ascenção das cervejas artesanais
g
O terraçO luminOsO de maputO
foi há um século que o Ho tel Cardoso foi construído. O destino estava desenhado des de o início, quando foi uma casa. Virou pensão e final mente hotel. Mas estava no seu ADN a essência de se tor nar um grande dame hotel e, hoje, representa um mar co arquitectónico de Maputo. A sua história faz dele um íco ne da capital, com um jardim e uma piscina com uma loca lização privilegiada com vista para a baía. Só no Hotel Cardo so é possível ver o sol a pôr-se para lá da baía e, à noite, a lua cheia a reflectir-se nas águas prateadas, tornando-o num lugar exclusivo e mágico da cidade. Tomar aqui uma bebi da enquanto se aprecia este espectáculo da natureza é um
dos 10 programas obrigatórios para se fazer em Maputo. A construção datada de 1919, surgiu como a habitação particular do comandante português Augusto Cardo so, tornou-se hotel nas mãos de uma família italiana, que chegou a Maputo na onda de migração para o Transvaal, no final século XIX. No livro “Os italianos em Moçambique na época portuguesa (1830-1975)”, do diplomata italiano Augus to Massari, lê-se: “Giuseppe e Aida Sorgentini, em 1924, jun tamente com dois irmãos, decidiram tomar em gestão o Hotel Cardoso, uma pequena e confortável pensão da cidade (...)”. Aida Sorgentini é quem, en tão, transforma o Cardoso num hotel de quatro estrelas. Com
prou a propriedade, demoliu o velho edifício e, no mesmo lugar, ergueu, em 1938, um complexo mais moderno.
O hotel foi renovado uma pri meira vez, em 1948, e diversas vezes nos anos 50 e 60 do sécu lo passado, com o acréscimo de diversos andares ao edifício.
A família Sorgentini geriu o Hotel Cardoso durante 65 anos – como é recordado nu ma placa no hall do hotel. Hoje, pertence ao grupo cana diano Westmont Hospitality e conta com 130 quartos, a maio ria dos quais com vista para o mar. O recente restyling, com rigoroso respeito pelos traços originais, pelo branco das pin turas exteriores e pelo azul dos pormenores, acentuou ain da mais o ambiente sofisticado e acolhedor.
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textO Paola Rolletta fOtOgrAfIA Vasco célio
CardOsO
HOtel
PReço médio
200 USD Por
Quarto
Rua Mártires de Mueda, nº 770 – Maputo +258 21 491 071/75 www.cardosohotel.com
e
HOtel CardOsO
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O HOtel CardOsO tem 130 quartOs, a maiOria dOs quais COm vista para a fOz, Onde O maputO enCOntra O OCeanO ÍndiCO
em 2013, a cozinha tradicio nal japonesa, ou Washoku, foi considerada pela UNES CO como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Nas considerações que acom panharam a justificação para a atribuição desta distinção, destacava-se, o facto desta cozinha respeitar a frescu ra dos ingredientes e o sa bor inerente a cada produto, porque o tratamento de cada ingrediente deve garantir o seu terroir, ou seja, o “sabor regional” associado à sua proveniência.
Em segundo lugar, sublinha va-se nesse documento a importância que é dada à sazonalidade desta cozinha. As mudanças das estações reflectem-se na preparação dos alimentos e no arranjo e decoração dos pratos e, em consonância com esta dimen são, referia-se, em particu lar, o Kaiseki Ryori, uma das expressões do Washoku, que tem a ver com a arte da com binação, em cada prato, de sabores, texturas, cores e dis
grestaurante as K a HÁ mais vida para alÉm dO susHi
posição dos alimentos, o que confere à cozinha tradicional japonesa um elemento estéti co e poético único no mundo. Embora a culinária japonesa esteja longe de se resumir ao sushi, o facto é que, desde há alguns anos, ele se tornou a expressão mais conhecida, e globalizada, da arte milenar do Washoku. Como muitas tradições alimentares cujas origens remontam a épocas longínquas, as origens do sushi permanecem envoltas nalgum mistério. No entanto, alguns dados históricos estão hoje bem estabelecidos. Inicialmente, era um modo de se preservar peixe. As primeiras formas de sushi chegaram ao Japão vin das do sudeste asiático e da China. Em 500 a.C., as popu lações montanhesas da Tai lândia, Laos e Borneo, usa vam arroz fermentado para preservar peixes de rio.
No Japão, camadas de carpa e arroz começaram a ser co locadas em vasos com tampa e deixados fermentar por um ano. As pessoas comiam esse peixe nos lugares onde não era possível encontrá-lo fresco. Com o passar do tem po, foram então desenvolvi dos métodos de fermentação mais rápidos que necessita vam apenas de alguns dias para serem concluídos. Esse processo fazia com que o ar roz ficasse com um sabor for temente adocicado e podia ser ingerido, juntamente com o peixe. Para abreviarmos uma história longa de sécu los e durante a qual foram
emergindo diversos métodos e inovações no preparo do sushi, sublinhe-se apenas que é a Yohei Hanaia que é atri buída a criação do método mais usado actualmente na sua prepração. Por volta de 1800, Yohei Hanaia começou a servir pedaços de peixe cru (sashimi) sobre arroz em barracas (yattai) nas ruas de Tokyo, sendo a ele que se atribui a “paternidade” do que hoje designamos por nigiri-sushi.
Em Maputo surgiram, nos últimos anos, várias opções interessantes para os apre ciadores de sushi. Já o Aska, a mais antiga da todas, conti nua não apenas a defender os seus pergaminhos (como um dos melhores) como oferece uma vantagem suplemen tar: a de nos permitir expe rimentar outras declinações da culinária tradicional japo nesa (como os Teriyaki ou as massas Udon). Razão mais do que suficiente para lhe suge rirmos uma visita.
textO Rui tRindade fOtOgrAfIA Jay GaRRido
Agosto 2018 70 De
Av.
843060 800
2ª a Sábado das 11h30 às 15h30 e das 17h30 às 22h30
25 de SetembroMaputo
restaurante
embOra a CulinÁria japOnesa esteja muitO lOnge de se resumir aO susHi, O faCtO É que, desde HÁ alguns anOs, ele se tOrnOu a expressãO mais COnHeCida e glObalizada da arte milenar dO WasHOKu
asKa
indian pale ale
País eUA tiPo American IPA coR Amarelo dourado e turvo aRoma Cítrico, herbáceo e de frutas amarelas saboR Amargor intenso e prolongado, levemente picante e cítrico teoR alcoólico 7%
ganHOu a medalHa de OurO nO WOrld beer Cup 2010, e É uma Cerveja ameriCan ipa . vigOrOsa e refresCante
O admirÁvel mundO nOvO da indian pale ale
a edição de 2018 da world beer cup, uma inciativa aberta a produtores de todo o mundo e considerada como as “Olimpíadas da Cerveja”. que se realizou no passado mês de Maio, na cidade de Nashville, nos Estados Unidos, premiou, uma vez mais, as melhores cervejas artesanais da ac tualidade. Nesta edição, es tiveram a concurso mais de 8.200 cervejas, de 66 países, que foram avaliadas por 295 especialistas internacionais. Perante a escolha final do júri, um dado a reter é o cres cente interesse pelas cerve jas designadas como Indian Pale Ale (IPA), o que confirma uma tendência que se tem vindo a afirmar em anos recentes. Amargas mas ex tremamente aromáticas, re frescantes e fáceis de beber, com uma cor que vai entre o dourado e o acobreado e um teor alcoólico que se situa normalmente entre os 5,5 e os 7,5%, as IPA tem vindo a ganhar adeptos e quota de mercado. Reza a história que a IPA surgiu porque os ingle ses precisavam de cervejas com mais lúpulo (conservan te natural) e álcool para que elas aguentassem as longas viagens da India para o Reino Unido. Durante anos, ela per maneceu confinada ao Reino
Unido como uma versão mais potente e amarga do que as pale ale tradicionais. Mas foi nos Estados Unidos que se ini ciou a verdadeira “explosão” da IPA, através do uso de uma grande variedade de lúpulos locais. Hoje existem inúmeras por todo o mundo podendo -se contabilizar cerca de oito sub-tipos principais desse es tilo. As mais consumidas são: a American IPA (as notas de lúpulo tem aroma e sabor cítricos e frutados); a English IPA (aroma e sabor herbá ceo e terroso); a Imperial IPA (com maior teor alcoólico e mais amargor); a Session IPA (com menor teor alcoólico e menos amargor); a Belgian IPA (híbrida com misturas de lúpulos); e a Black IPA (negra e sabores de malte torrado). Perante o vastíssimo leque de escolhas possíveis, a nos sa sugestão é começar por algumas das consagradas: a “Ballast Point-Sculpin”, que ganhou a medalha de ouro, é uma American IPA. Vigorosa e refrescante, com amargor intenso e prolongado, é le vemente picante e cítrica. O resultado é uma cerveja sa borosa, intensa e única.
sOvina
País Portugal
tiPo English IPA coR Âmbar com reflexos dourados aRoma Elegante com Intensas notas florais, frutado saboR Excelente estrutura, perfil harmonioso com o lúpulo a marcar o final teoR alcoólico 6%
breWdOg punK firestOne dOuble jaCK dr. raptOr
País Reino Unido (Escócia)
tiPo Imperial IPA coR Âmbar e turva aRoma Caramelo, cítrico e frutado saboR Caramelo, amargor com final cítrico teoR alcoólico 6%
País Estados Unidos
tiPo Imperial IPA coR Dourada translúcida aRoma Floral e frutado, com notas cítricas de maracujá, laranja e grapefruit saboR Amargor complexo mesclado com mel e frutado de grapefruit teoR alcoólico 9,5%
País Holanda
tiPo Imperial IPA coR Âmbar intenso com reflexos alaranjados aRoma Citrinos e frutos tropicais aliados a notas resinosas saboR Toranja, malte, caramelo e excelente amargor teoR alcoólico 9,2%
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d.R
textO
Rui tRindade fOtOgrAfIA
música filmes livros
expOsiçÕes
“maPuto 346,77 Km” aPreSentação Do trabalho DeSenvolviDo na reSiDênCia artíStiCa De rita CaStro neveS e Daniel moreira
Camões - Centro Cultural Português em Maputo Inauguração a 2 de Agosto Patente até 9 de Agosto De segunda a sexta das 11h00 às 18h00 entrada Livre
traçoS - butCheCa CuraDoria De uliSSeS ovieDo
Galeria Kulungwana
Aberta até 17 de Agosto Hora: Segunda a Sexta das 10h – 17h Sábados: 10h – 15h
mÚsiCa
FeStival De hiP hoP “PunhoS no ar” – 3ª eDição
5 anoS, 4 eStaçõeS - orqueStra e Coro xiquitSi
Centro Cultural Franco-Moçambicano
Auditório Dia: 11 de Agosto Hora: 19h30 entrada: 350 Mt
reCital De Canto Da eSCola naCional De múSiCa
Camões - Centro Cultural Português em Maputo Dia: 31 de Agosto Hora: 17h
maKhoyane aPreSenta ngingumShaDza (a alma DaS iDaDeS – eu Sou)
Fundação Fernando Leite Couto
Dia: 30 de Agosto Hora: 18h
teatrO
SonhoS hibernaDoS - gruPo Ku-hlanganheta
• EM DESTAQUE «Como Será o Futuro e Porque DePenDe De nóS» tim o’reilly eD. D.quixote Acaba de saír a ver são portuguesa do mais recente livro de tim O’reilly intitulado «Co mo Será o futuro e Por que Depende de Nós» (ed. D.Quixote). tim O’reilly, fundador e director da O’reilly Me dia e a quem se deve o conceito de “Web 2.0”, que definiu o modelo ac tual da Internet, abor da neste livro a forma como as tecnologias do século xxI estão a mu dar os negócios, a edu cação, os governos, os mercados financeiros e a economia. Através dos exemplos de plataformas como a Amazon, a google, o fa cebook ou a Airbnb, o autor demonstra como a economia e os merca dos financeiros são ca da vez mais geridos por algoritmos.
enigma 1:1 aSSoCiação Kara Kata
Fundação Fernando Leite Couto
Dia: 22 de Agosto Hora: 18h
Cinema
“aSCenSeur Pour éChaFauD” De louiS malle
Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório
Dia: 13 de Agosto Hora: 19h entrada: 150 Mt/gratuito ”Pierrot le Fou” De jean-luC goDarD
Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório
Dia: 20 de Agosto Hora: 19h entrada: 150 Mt/gratuito
abertura oFiCial Do Kugoma –Fórum De Cinema moçambique
Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório
Dia: 20 de Agosto Hora: 19h entrada: 150 Mt/gratuito
literatura
tertúlia literária oS ProCeSSoS De PoeSiS / amin norDine Sangari oKaPi e rogério manjate
Centro Cultural
Franco-Moçambicano
Palco do Jardim Dia: 4 de Agosto Hora: 16h- 23h entrada: 350/250 Mt
mighty vibration
Fundação Fernando Leite Couto
Dia: 10 de Agosto Hora: 18h
Fundação Fernando Leite Couto
Dia: 9 de Agosto Hora: 18h
metamorFoSe – gruPo eCarte enCenação maria ataliba
Fundação Fernando Leite Couto
Dia: 16 de Agosto Hora: 18h
“CoiSaS que Só aConteCem na Flor De lótuS” & “o Coelho que Falava latim” teatro Para CriançaS
Fundação Fernando Leite Couto
Dia: 18 de Agosto Hora: 11h
Fundação Fernando Leite Couto Dia: 15 de Agosto Hora: 18h
ler é uma FeSta tributo a Paulina Chiziane Com ana magaia e Cheny Wa gune
Fundação Fernando Leite Couto
Dia: 29 de Agosto Hora: 18h
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“entre eu e deus ”: O nOvO dOCumentÁriO de Yara COsta
depois da ante-estreia, realizada no passado mês de Julho, no Centro Cultural Franco-Moçambicano, em Maputo, o novo filme da reali zadora Yara Costa – “Entre Eu e Deus” - irá ter a sua estreia oficial em Novembro na Ilha de Moçambique.
O documentário toma como ponto de partida a história Karen, uma jovem muçul mana, de 21 anos, estudante de Engenheira Civil, criada na Ilha de Moçambique, local historicamente cosmopolita onde a tradição Macua se fundiu com o Islão Suni, trazi do no século VIII, e onde sem pre conviveu pacificamente com o cristianismo trazido pelo colonialismo português. Aos 14 anos, “descobriu-se” no Islão, passou a cobrir-se com o hijab e, nos últimos anos, sob o olhar crítico da comunidade da Ilha passou a guiar-se pelas regras mais rígidas do Islão. A partir de uma perspec tiva observacional, o filme acompanha a vida de Karen, para revelar sem ponta de preconceito, o que está por detrás do véu e a rela
ção que tem com a religião. O documentário pretende atribuir um rosto, através de uma história particular, ao fenómeno de centenas de jovens que fazem escolhas religiosas radicais e as suas implicações no momento ac tual em que vivemos.
De acordo com a realizadora, “Moçambique, um país histo ricamente multicultural, tem assistido às primeiras explo sões de intolerância religiosa e fundamentalismo radical.”
“Nos últimos anos, tenho no tado uma mudança no com portamento da comunidade da Ilha, e mais visivelmente - nas minhas amigas jovens que adoptaram o que elas chamam de uma forma mais ‘pura’ do Islão tendo come çado a vestir-se com roupas escuras, hijabs e burcas.”
No documentário, Karen, como muitas jovens, foi cria
da numa família muçulmana moderada, de forte tradição Macua. Porém, na adolescên cia, começou a enveredar por práticas rigorosas. Hoje, não sai de casa antes de se cobrir totalmente e quer ver Moçambique rígido pela sha ria. “Como jovem, intrigou -me a mudança de comporta mento de Karen.
O que passa pela sua cabeça e o que faz com que uma jovem independente, estudante uni versitária, faça uma escolha tão radical?
Será isto uma afirmação de identidade? Por que será que a Karen e muitos jovens da Ilha, se voltam para a Arábia Saudita em busca do ‘Islão puro’, sendo que as suas fa mílias são praticantes do Islão há várias gerações?”
Yara Costa, uma jovem rea lizadora moçambicana, rea lizou anteriormente “Porquê Aqui? História de Chineses em África” (2011) e “A Traves sia” (2014).
Agosto 2018 73
estReia Novembro onde Ilha de Moçambique
entre eu e deus
textO Rui tRindade fOtOgrAfIA d.R.
O nOvO filme da realizadOra Yara COsta – “entre eu e deus” - irÁ ter a sua estreia OfiCial em nOvembrO, na ilHa de mOçambique
nissan patrOl
nissan patrOl
motoR V8 de 5,6 litros Caixa Automática de 7 velocidades
Tracção AllMode possui modos Auto / 4H / 4LO Motorcare Moçambique Rua Kanwalanga no 141, Mozambique 21 350 800 info@ mz.motorcare. com
O regressO de um HistóriCO
é um dos mais emblemáticos (e históricos) jipes de sempre. E apesar da longevidade, conti nuam a ver-se muitos exem plares a cruzar as estradas moçambicanas (e a terra ba tida, pedras, rios, …), dada a sua imensa capacidade off-road. Agora, a nova versão daque le que muitos definem como a combinação perfeita de estilo, luxo, tecnologia e desempenho, chega a Moçambique
O novo Nissan Patrol é um veículo raro que impressio na em qualquer piso, o epíto me da tecnologia progressiva, desempenho supremo e luxo incomparável.
Este modelo premium da Nis san, foi desenhado a pensar em
quem tem um gosto sofisticado que requer um SUV grande em recursos, opulência, estilo e exclusividade.
Desde 1951, quando foi lançado o primeiro modelo, ele criou um nicho de mercado e ao mesmo tempo erigiu um legado bem conhecido em toda a África. Na sequência do seu sucesso in ternacional, a Nissan está con fiante “de que também este novo modelo vai encontrar um lugar no coração de Mo çambique, uma vez que abra ça o conforto e a extravagância sem perder a sua proficiên cia off-road.” Projectado para aventuras familiares em ta manho real, o Patrol mantém a sua utilidade de sete passa
geiros e possui uma impres sionante variedade de recur sos de alta tecnologia (sistema Nissan Intelligent Mobility).. A aparência exterior é ao mes mo tempo poderosa e refinada, e o corpo redesenhado apre senta uma postura agressiva. No interior, combina espaço e conforto premium com uma ênfase especial no silêncio. De origem, sobressai o inte rior com acabamentos de luxo, assentos dianteiros climati zados e sistema de controlo de temperatura automático. O Patrol tem uma caixa de 7 ve locidades automáticas e é mo vido por um motor V8 a gaso lina de 5,6 litros, robusto e de alta tecnologia que desenvol ve 298kW de potência. Com um tanque com 140 litros, pode cir cular confortavelmente, ou ‘dar gás’ às suas 3,5 toneladas. Por que a formidável suspensão dianteira e traseira dupla inde pendente do Patrol proporcio na conforto de condução suave e ágil em estrada e fora dela. O novo Patrol quer ser o par ceiro ideal, e parece feito espe cialmente para os distintos, os não-conformistas e os grandes aventureiros da condução.
Agosto 2018 74
vsistema de injeCçãO direCta benefiCia desempenHO e vÁlvula de COntrOlO (mCv) dÁ efiCiênCia tÉrmiCa aO mOtOr