E&M_Edição 07_Outubro 2018 • Uma nova cara

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MOÇAMBIQUE INDÚSTRIA A REVITALIZAÇÃO DOS TÊXTEIS E OS DESENGANOS DO ALGODÃO GÁS OS INVESTIMENTOS QUE COMEÇAM A FAZER ‘MEXER’ A ECONOMIA ANJE O QUE FALTA AOS JOVENS EMPRESÁRIOS NACIONAIS? TRANSPORTES AS MUDANÇAS EM ESPERA NUM SECTOR QUE DESESPERA OUTUBRO 2018 • Ano 01 • NO 07 Preço 200 MZN UMA NOVA CARA COMO TRANSFORMAR A CRIATIVIDADE NUMA VERDADEIRA INDÚSTRIA LUCRATIVA PARA A ECONOMIA NACIONAL

6 OBSERVAÇÃO

Maratona do gelo Realiza-se em Outubro uma das maratonas mais extremas do mundo, no Ártico 8 R

ADAR

Panorama Banca, Economia, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País 14 M

ACRO

ENQUADRAMENTO

14 Algodão O que falta para Moçambique voltar a ser uma potência da produção de algodão

18 Gás Depois de anos de espera, os grandes projectos começam finalmente a avançar 26 NAÇÃO

DESENVOLVIMENTO

26 Indústrias criativas O que falta para que as artes se constituam enquanto sector lucrativo para a economia nacional 34 Na voz de... Pablo Ribeiro, director da Fundação Leite Couto

PROVÍNCIA

Sofala

Há grandes investimentos no horizonte, do Porto da Beira, à Linha do Sena, assim continue a paz 44 M

ERCADO E FINANÇAS

Emprego

Um estudo do Banco Mundial revela os maiores problemas do mercado 48 E

MPRESAS

PME

Bongani

A primeira marca de charutos premium handmade em toda a África, é moçambicana

50 MEGAFONE

Marketing

O que está a acontecer no mundo das marcas, em Moçambique e lá por fora

52 FIGURA DO MÊS

Liderança Juscelina Guirengane, a presidente da ANJE, aponta o caminho do sucesso para os jovens empresários

54 SOCIEDADE

Transportes O que está a mudar no mapa dos transportes públicos urbanos na cidade de Maputo

60 LÁ FORA

Zimbabwe

A era pós-Mugabe parece trazer as primeiras boas notícias, depois de anos de declínio 67

ÓCIO

Outubro 2018 3 SUMÁRIO
38
70
68 Escape Cuba, o lugar da (R)evolução
Gourmet O Istambul de Maputo 71 Adega O que é que os Whiskey irlandeses têm 72 Agenda Música, livros, filmes 73 Arte O documentário ‘Madrinhas de Guerra’ 74 Ao Volante O Cullinan é o primeiro SUV da Rolls Royce

Do passado do Têxtil ao sonho do Gás

a indústria têxtil já foi marca da economia moçambicana até meados da dé cada de oitenta do século passado, acabou por colapsar em consequência da guerra dos 16 anos e do sistema de economia centralmente planificada, adopta do após a independência nacional em 1975.

As calamidades naturais que têm sido cíclicas em Moçambique, motivaram os países amigos nos primórdios da independência nacional a enviar apoios em forma de vestuário usado, vulgo “calamidades” que com o decorrer do tempo estimularam a importação de roupa, calçado e acessórios usados, surgindo um novo tipo de negócio no mercado nacional, envolvendo também famílias que o desenvolvem como um meio de sobrevivência.

Na óptica dos clientes, estas peças embora de segunda mão estabelecem o equi líbrio preço-qualidade, percepção que poderá comprometer os esforços que se têm empreendido para o restabelecimento da indústria têxtil e de calçado no país. Apesar deste novo fenómeno de roupa usada, podemos destacar a capulana, o pano estampado, símbolo de identidade cultural moçambicana, que já con quistou novos segmentos de mercado nacional e além-fronteiras, como uma oportunidade para o relançamento da nossa indústria têxtil. Uma estratégia clara em relação a importação de roupa usada que provoca ram afigura-se urgente, para a concretização deste desiderato, numa altura em que a produção de algodão começa a dar sinais encorajadores para o relan çamento da indústria de fiação, razão por que nesta edição fazemos o caminho entre o algodão e a própria indústria. O Ruanda, um país que ficou marcado profundamente pelo genocídio de 1994, começa a dar saltos gigantescos no restabelecimento da indústria têxtil mas, para o efeito, o Governo de Kigali teve que adoptar medidas radicais relativa mente à importação de roupa usada para não comprometer este projecto am bicioso, mas com resultados assinaláveis. Este pode ser uma fonte de inspiração para o caso moçambicano.

A E&M ao abordar este tema, pretende contribuir nesta caminhada de recupe ração daquilo que já foi um orgulho para Moçambique, pois quem lê sabe mais.

OUTUBRO 2018 • Nº 07

PROPRIEDADE Executive Moçambique

DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba

CONSELHO EDITORIAL

Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo

DIRECTORA EDITORIAL

GRUPO EXECUTIVE Ana Filipa Amaro

EDITOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

JORNALISTAS Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade; PAGINAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio PRODUÇÃO Iona - Comunicação e Marketing, Lda (Grupo Executive)

PUBLICIDADE DEPARTAMENTO COMERCIAL Ana Antunes (Moçambique) ana.antunes@executive-mozambique. com; iona@iona.pt/contacto@iona.pt (Portugal)

ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO

E PUBLICIDADE Executive Moçambique; Rua do Telégrafo, nº 109 – Sala 6, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com

DELEGAÇÃO EM LISBOA Rua Filipe Folque, nº 10 J – 2º drtº,1050-113 Lisboa; Tel.:+351 213 813 566; iona@iona.pt

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Minerva Print - Maputo - Moçambique

TIRAGEM 4 500 exemplares

NÚMERO DE REGISTO

01/GABINFO-DEPC/2018

PONTOS DE VENDA

Pastelaria Taverna - Av. Friedrich Engels

Pastelaria Taverna – Av. Július Nyerere nº 967

Pastelaria Taverna – Av. Mao Tse Tung

Pastelaria Taverna – Rua Kibriti Diwane nº 135

Pastelaria Taverna – Av. Marginal

Spar da Interfranca – Av. 24 de Julho

UEM-Faculdade de Economia - Papelaria Tabacaria Mil e Uma Coisas - Prédio 33

Andares, loja 20

Pastelaria Continental - Av. Samora Machel

Capuchinho vermelho – Av. Vladimir Lenine

Lichinga - Electro Gulamo-Av Samora Machel, prédio da camofil 1ª andar

Outubro 2018 4
Iacumba Ali Aiuba
EDITORIAL
Director da revista Economia & Mercado

GRONELÂNDIA, ÁRTICO, OUTUBRO A MARATONA DO GELO

Porque o Verão está a chegar… nada melhor do que uma corrida pelo frio. Acontece desde 2001, em Outubro, (este ano nos dias 27 e 28), a épica Maratona do Círculo Polar, uma prova, que se inicia no pequeno município de Kangerlussuaq, na Gronelândia. O percurso de 42 quilómetros apresenta uma variação de gelo, neve e cascalho, onde a única constante são as temperaturas abaixo do zero, que fazem elevar até ao extremo as dificuldades das centenas de participantes.

Organizada pela Albatross Adventure Marathons (que organiza outras provas ‘extremas’ na Grande Muralha da China, no deserto de Petra, ou num parque natural da África do Sul), a Polar Circle Marathon é um evento que transporta os aventureiros maratonistas para uma paisagem inóspita, repleta de beleza e grandiosidade natural, e que se apresenta como “uma épica batalha entre a mente e o corpo no cenário desértico da tundra.”

OBSERVAÇÃO Outubro 2018 6
FOTOGRAFIA D.R.
Outubro 2018 7

INVESTIMENTO

Ferrovia. A construção da li nha férrea Tete-Quelimane é “prioridade” de Moçambique para 2019. O Ministério dos Transportes e Comunicação (MTC) anunciou que pretende “viabilizar” a construção da Li nha Férrea Chitima – Macuse entre as províncias de Tete e Zambézia.

A vice-ministra dos Transpor tes e Comunicações assumiu assim que o governo “preten de viabilizar a construção já no próximo ano”. A obra, orça da em 2,40 mil milhões de dó lares, será executada por um consórcio em que participam a construtora China Machinery Engineering e a Mota-Engil, prevendo-se que esteja finali zada em 2021.

Estádio. Foi lançada a primeira pedra para construção do Ma tola Stadium uma infra-estru tura desportiva com capacida de para 12 mil espectadores. Depois de ter investido na compra de um clube em Por tugal para facilitar a transfe rência de jogadores moçambi canos para a Europa e assinar

uma parceria com o FC Porto para a projecção de novos ta lentos nacionais, a Associação Black Bulls deu mais um pas so na sua contribuição para o desenvolvimento do desporto moçambicano.

As obras de construção terão a duração de um ano e meio, num projecto cujos valores não foram revelados.

Grafite. A australiana Syrah Resources vai proceder à emissão de acções ordinárias para angariar fundos que permitam reforçar o inves timento no projecto de ex ploração de grafite em Cabo Delgado.

Em comunicado, a empresa mineradora adianta que cer ca de “30 milhões de dólares serão aplicados no projecto moçambicano de Balama, no norte de Moçambique.”

INVESTIMENTO DE 300 MILHÕES

Chongoene. Vai mesmo avan çar a construção do porto de cabotagem de Chongoene, um projecto com um inves timento avaliado em 300 mi lhões de dólares, que inclui uma linha férrea de ligação com o Corredor do Limpopo, em Macarretane, bem como um conjunto de ramais para os projectos estruturantes da economia regional como as areias pesadas de Chibu to, em Gaza e de Jangamo, em Inhambane.

Leonardo Simão, presidente do conselho de administra ção da Muyaque, anunciou recentemente em Pequim, onde participou no Fórum de

Negócio China-Moçambique, que “existe já uma parce ria estabelecida com o Chi na Railways International Group para materializar o projecto.”

O presidente do conselho de administração da Muyaque assinalou ainda que, “após uma avaliação preliminar, as partes estão actualmente a analisar vários tópicos e a equacionar estudos porme norizados que, numa fase posterior, deverão determi nar os custos definitivos do projecto, bem como o tempo de materialização e o retor no do investimento”, deixou expresso.

ECONOMIA

mil milhões de dólares para viabilizar iniciativas de dife rentes sectores de actividade industrial, como “o desenvol vimento de portos secos e de águas profundas; parques de energia fotovoltaica; parques de zonas francas industriais; agro-processamento (maca dâmia, castanha, etc); unida des industriais (siderúrgica, química); turismo cinegético; logística integrada; e ensino superior.”

OE. O défice do Orçamento de Estado (OE) para o próximo ano deverá manter-se em níveis semelhantes aos deste ano, andando na casa dos 80 mil milhões de meticais, segundo a proposta de lei aprovada no mês passado, em Maputo, pelo Conselho de Ministros.

O documento reporta despe sas no valor de 324 mil milhões de meticais (acima dos 302 mil milhões de meticais progra mados para este ano), e recei tas globais de, até, 244 mil mi lhões de meticais.

Apoio financeiro. A CTA sub meteu à apreciação do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), um conjunto de projec tos num valor global de 1.4

A CTA espera que parte sig nificativa do pacote de inves timentos seja aprovada em Novembro próximo, no Fórum Africano de Investimentos, em Joanesburgo, África do Sul

Dívida. Credores e Governo continuam a trabalhar no acordo sobre a restruturação da dívida comercial da Em presa Moçambicana de Atum (EMATUM), avaliada em 850 milhões de dólares. De acordo com o ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleia ne, o documento que propõe o pagamento de 200 milhões de dólares até 2023, sendo a par cela restante entregue a par tir dessa data em função das receitas fiscais dos projectos de gás natural – com início de

RADAR 8
Outubro 2018

produção previsto para 2022, “está ainda a ser avaliado” pelos assessores do Executivo moçambicano.

Doação. O Estado voltou a per der a oportunidade de gerir 300 milhões de dólares doados pela União Europeia e que de veriam ter sido canalizados para o orçamento de 2019, por não ter havido ainda escla recimentos cabais no que diz respeito às dívidas ocultas, contraídas entre 2013 e 2015, no valor de 2,2 mil milhões de dólares.

De acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros e Coo peração, José Pacheco, ficou claro que “a suspensão do apoio ao OE continua porque a verba destinada ao país, será aplicada no financiamento a projectos de desenvolvimen to e não será gerida directa mente pelo Estado.”

Electricidade. A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) está a desenvolver um programa de investimentos para renovar a infra-estrutura “e conferir eficiência à capacidade insta lada, assegurar a operaciona lidade e sustentabilidade da cadeia de produção e melho ria da qualidade da energia fornecida aos clientes.”

À luz do respectivo progra ma, a hidroeléctrica prevê investir cerca de 590 milhões de dólares para recuperar e modernizar o sistema electro -produtor. O financiamento advirá de capitais próprios e crédito bancário.

defende que o Instituto Nacio nal de segurança Social (INSS) deve “aprimorar a informati zação da instituição, para evi tar a necessidade de contrata ção de novos trabalhadores.”

Para a governante, esta me dida acarreta também uma outra vantagem, sendo “uma das mais eficientes formas de combate à corrupção no siste ma de segurança social.”

PRODUÇÃO

MECANISMO

DE AGREGAÇÃO

DE QUANTIDADE

EM QUALIDADE E ACESSO AO MERCADO

Pescas. Nos primeiros oito me ses do ano, a safra do atum esteve muito aquém das pre visões que levaram à criação da Empresa Moçambicana do Atum (EMATUM) há cinco anos. De acordo com a directora geral-adjunta da Administra ção Nacional das Pescas, Este la Maússe, foram capturadas, nesse período, “apenas 2 433 toneladas de atum, para um potencial estimado em 200 mil toneladas.”

Em Abril passado, o primeiro -ministro Carlos Agostinho do Rosário anunciou a extinção da Empresa Moçambicana de Atum e sua substituição por uma nova sociedade, a Tuna mar, ao abrigo de uma par ceria com a empresa norte -americana Frontier Service Group, do empresário norte -americano Erik Prince.

Frango. Um centro de repro dução de frango foi inaugura do no distrito da Namaacha, província de Maputo, o pri meiro da região sul do país, com capacidade de produ ção acima de seis milhões de ovos férteis por ano. Com este

A provisão de matéria-prima para o mercado passa pelo fornecimento contínuo de produtos em quantidade e qualidade. As perdas pós -colheita, reduzem em grande medida as quantidades que os produtores poderiam fornecer ao mercado. Este facto, aliado aos riscos e incerteza de mercado, fazem com que o lucro destes, esteja muito abaixo das suas expectativas.

Os riscos e incertezas de mercado aumentam pelo facto de estes estarem desprovidos de informações de mercados (preços, procura, custos de transacção) e as perdas da sua produção aumentam pelo facto de não possuírem armazéns convencionais.

A provisão dos Complexos dos Silos (CS) sob gestão da Bolsa de Merca dorias de Moçambique (BMM) nas regiões com maior potencial agrícola, visa garantir um armazenamento seguro reduzindo assim as perdas pós-colheita. Garantida esta redução, associada à informação da diferen ciação do preço pela qualidade, ela poderá contribuir para o aumento de quantidades disponíveis no mercado e que, a médio prazo, o produtor use sementes melhoradas e preste atenção as práticas culturais para aumen to da produção e produtividade com qualidade.

Consciente das necessidades básicas dos produtores na época das co lheitas, o governo implementa o Sistema de armazenagem com Certificado de Depósito (CD) da BMM. Este, também será usado nos armazéns licenciados pela BMM.

Este Sistema irá ainda permitir que produtores distantes dos CS pos sam armazenar com segurança as suas mercadorias nestes armazéns e estejam dentro de um sistema que lhes garantam, além de informações atempadas sobre mercados, a classificação e certificação das suas mercadorias e oportunidades de mercado.

O CD, é munido de informação suficiente (tipo da mercadoria, qualida de, quantidade, o valor da mercadoria) que lhe permite ser usado como colateral para aceder a financiamento na banca.

Esta facilidade, vai fazer com que os produtores não vendam toda a sua mercadoria no período em que a oferta é alta (período de colheita) mas sim que a armazenem para colocar no mercado quando o preço for justo.

Maputo, Bairro da Coop - Rua E, Nº 13

Telefone: + (258) 21902503 - (258) 843203371

Email: info@bmm.co.mz

Outubro 2018
Segurança Social. A Ministra do Trabalho, Emprego e Se gurança Social, Vitória Diogo,

empreendimento espera-se que o país poupe cerca de 125 milhões de meticais anuais em importação de frango. Para a instalação do empreen dimento, considerado como um dos mais sofisticados da África Austral, a Higest inves tiu 350 milhões de meticais.

em relação aos primeiros me ses do ano anterior.

A China vem, de resto, assu mindo uma posição de peso crescente como parceiro eco nómico dos países da CPLP. Com um volume de comér cio bilateral a chegar aos 82 149 milhões de dólares de Janeiro a Julho de 2018, o que representa um au mento homólogo de 21,50%.

Moçambique é o quarto maior parceiro da China nes te grupo, depois de Brasil, An gola e Portugal, sendo a ma deira o principal produto de exportação.

Exportações. A Índia foi o prin cipal destino das exportações de Moçambique em 2017, com praticamente o dobro do va lor da economia que surge classificada em segundo, a África do Sul, de acordo com os dados do anuário divulga do pelo Instituto Nacional de Estatística, onde se revela que a Índia comprou a Mo çambique bens no valor de 1 621 milhões de dólares, ao passo que a África do Sul ad quiriu mercadorias no valor de 884 milhões de dólares. A China surge nesta lista no quinto lugar, com com pras no valor de 252 mi lhões de dólares, tendo Por tugal, ficado em 18.º lugar com 21 milhões de dólares. O volume total das exporta ções de Moçambique atin giu, em 2017, a casa dos 4 725 milhões de dólares.

Comércio. O comércio bila teral entre a China e Mo çambique cresceu 45,13% de Janeiro a Julho, chegando aos 1 492 milhões de dólares.

A balança comercial é favo rável ao gigante asiático, que cedeu a Moçambique bens e serviços no valor de 1 092 mi lhões de dólares, um aumento de 51,93% face ao período ho mólogo. Já Moçambique ven deu à China 400 milhões de dólares, um salto de 29,32%

Indústria. Foi inaugurada há quatro anos e prometia, à época, “abrir uma era prós pera no sector industrial em Moçambique”. Mas entretan to faliu e até endividou o Es tado. Trata-se da fábrica de montagem de automóveis da marca Matchedje.

O investimento para a cons tituição da fábrica, de 150 mi lhões de dólares, foi resultado de uma Parceria Público-Pri vada entre o Estado e a China Tong Jian Investment. Hoje, a unidade recentrou a sua ac tividade na transformação de carcaças de autocarros em salas de aula. Em 2014, ano em que foi inaugurada, a Matchedje Motors esperava assemblar meio milhão de veículos por ano a partir de 2020, tanto para consumo lo cal como para exportação.

MERCADO

Banca. Mais de 70% do capi tal social dos bancos moçam bicanos é detido por capitais externos, uma situação que o governador do Banco de Mo çambique, Rogério Zandame la, considera “positiva”, uma vez que “a existência de gru pos financeiros estrangeiros contribui para o aumento da concorrência, diversidade e disponibilidade de produtos fi nanceiros, e por outro, para o

desenvolvimento da indústria em termos tecnológicos”, diz. Ainda assim, para Zandamela, “é preciso uma maior super visão desses fluxos de capitais estrangeiros na banca”, consi derando ser por isso “inevitá vel” a discussão em torno da supervisão transfronteiriça.

Notação. Países africanos im pulsionam mercado da no tação financeira. A agência norte-americana Moody’s anunciou que o número de mercados emergentes (EM, na sigla em inglês) com notação financeira soberana, que clas sifica a dívida de cada Estado, está a crescer desde 2004, com a inclusão dos países africanos. Desde 2013, cerca de 2,6 mil milhões de dólares em ‘euro bonds’ - dívida pública emitida junto de investidores interna cionais e em moeda diferente da do país emitente - “foram emitidos por fundos soberanos, sub-soberanos, corporações, instituições financeiras e en tidades de financiamento de projectos e infra-estruturas”, destacou a agência de nota ção financeira internacional, na apresentação do relatório ‘Global Emerging Markets Chartbook’, durante um en contro em Joanesburgo, dedi cado a investidores na África subsaariana.

Transporte aéreo. A concorrên cia ocasionada pela liberaliza ção do espaço aéreo nacional está a resultar “no aumento da procura pelos serviços a avia ção em Moçambique”, conclui um relatório do Instituto Nacio nal de Estatística (INE), que as sinala o crescimento do trans porte aéreo de passageiros na ordem de 2,4% entre Abril e Ju nho deste ano, em comparação com os primeiros três meses do ano passado. Neste período, o maior aumento, deu-se ao nível do transporte de carga aérea, que observou um cres cimento, substancial de 32,2%. A companhia Fastjet é apon tada “como a principal nivela dora de preços para permitir

o aumento da procura pelos serviços de transporte aéreo”, sendo de destacar que a ‘gi gante’ Ethiopian Airlines, tam bém anunciou a sua entrada no mercado para Outubro.

Agronegócio. A Future Agro Challenge Moçambique foi premiada com a “Melhor Iniciativa do Ecossistema Empreendedor”, na gala de Awards, pela Southern Afri ca Startup Awards. O Future Agro Challenge é uma inicia tiva global focada em identi ficar e acelerar organizações criadoras de soluções inova doras na cadeia de valor do sector agrícola, da produção ao consumo. Em Moçambique, a iniciativa é implementada, pelo terceiro ano consecutivo, pela Moz Innovation Lab.

Tecnologia. Moçambique é o quarto país da CPLP com maior velocidade de internet só atrás do Brasil, Cabo Verde e Portugal, que lidera o gru po, ocupando a posição 153 do ranking mundial de velocida de de banda larga. O estudo foi conduzido pela consultoria Measurement Lab, em parce ria com a Google Open Source Research. Singapura, com uma velocidade de download de fi cheiros estimada em 1,76 Me gabytes por segundo, é o líder mundial neste campo.

Conferência. Decorre no pró ximo dia 25 de Outubro, no Auditório do Complexo Pedagó gico da Universidade Eduar do Mondlane, a Conferência Nacional de Agronegócios, di reccionada a empresas e em preendedores que operam na cadeia de valor agrícola.

RADAR Outubro 2018 10

Espectáculos perigosos

a indústria do entretenimento, muito conhecida pelo ter mo inglês ‘showbiz’, tem facturado significativas somas finan ceiras com a comercialização de “milagres”. Seitas religiosas e organizações políticas têm sabido usar meios de comunicação social e montado espectáculos capazes de levar multidões a verdadeiros delírios psicóticos.

O sucesso do negócio reside, em grande medida, na manipula ção de ansiedades e expectativas de importantes segmentos da sociedade nacional.

Vem isto a propósito da tendência crescente de shows que se propõem promover empreendedorismo, empresários e novos negócios. Manipula-se a necessidade e, ou o vazio de líderes ca pazes de empreender novos negócios. São de saudar iniciativas de reconhecimento público de pessoas que tenham demonstrado capacidade de empreender negócios geradores de postos de trabalho, de modernização de sectores e actividades económicas. O ‘showbiz’ que enaltece estas figu ras e o exemplo que elas possam representar como modelos inspiradores é um acréscimo de valor a essas personagens. Contudo, o aproveitamento da ingenuidade e inexperiência co mercial de jovens para se organizarem espetáculos custeados por fundos públicos e ou de publicitação de marcas pode ter efeitos perversos.

Nos últimos tempos tem-se assistido a eventos, onde geralmente não faltam adornos atractivos como “líder”, ou “empoderamento” antecedidas de mensagens de estímulo a jovens para se assumi rem como empreendedores. Para tal, basta elaborarem umas páginas de texto untadas com algumas aritméticas a que se dá o nome pomposo de “plano de negócios” ou “projecto de negócio”. Em muitas casos são cópias a partir de um qualquer sítio da web. No final, organiza-se um concurso cujo auge é o ‘showbiz’, bem televisionado.

Estas “feiras de vaidades” são um logro perigoso. De facto, in duzir-se na mente de jovens a presunção de se terem tornado empresários, porque venceram (?) um “concurso de ideias de negócio” é uma fraude do género das passagens administra tivas no nosso sistema de educação. Fraude maior ainda é a -

publicitação massiva e televisionada desses rostos enquanto líderes. Para que uma ideia se transforme num negócio susten tável é preciso muita persistência, disciplina e abdicação. É também preciso que o ambiente de negócios não seja excessi vamente impeditivo. Nenhum jovem pode digerir este cocktail de condições se não for minimamente assistido ao longo de meses ou até mesmo anos. Estes espectáculos têm um efeito particularmente perverso porque eles manipulam a ansiedade de centenas de milhares de jovens cientes de que, dificilmente, encontrarão um emprego digno. Importa referir um estudo recente divulgado pelo Banco Mundial evidenciando que, ao longo da próxima década, cerca de meio milhão de jovens irão anualmente atingir a idade la boral. As estatísticas económicas dizem-nos também que o sec tor formal da economia não tem capacidade para gerar nem 30 mil postos de trabalho por ano, o que significa menos de 6%. Já em tempos me insurgi contra os chamados “7Bis”, aqueles fundos públicos que distribuíam dinheiro barato, mas que nun ca se preocupavam com a responsabilização de quem decidia distribuí-los, nem de quem nunca tinha que se esforçar por reembolsá-los. Isto é deseducativo. Moçambique precisa de uma nova geração empresarial capaz de empreender, inovar, saber acrescentar valor aos recursos naturais, ser capaz de conquistar a boa reputação indispensá vel para se atrair mais capital financeiro e tecnologia e tudo o mais indispensável para se fazerem nascer empresas compe titivas, sustentáveis e criadoras de postos de trabalho dignos. Pois os Moçambicanos vão viver cada vez mais sob a ansiedade dos milhões de postos de trabalho que são prometidos, mas con tinuam a não existir.

Por isso, Moçambique precisa de menos espectáculos que ma nipulam estas ansiedades. Moçambique precisa de reforçar as instituições que com profissionalismo, resiliência e persistência já vêm trabalhando com os jovens mais dedicados e capazes de aceitar sacrifícios e riscos… sim, aqueles jovens que, nos distritos e localidades deste país, são a semente de um sector privado que não nasceu de facilidades, nem depende de espectáculos.

Moçambique precisa de toda uma nova geração empresarial capaz de empreender, inovar, saber acrescentar valor aos recursos naturais, ser capaz de conquistar a boa reputação indispensável para se atrair mais capital financeiro e tecnologia

OPINIÃO Outubro 2018 12
António Souto • CEO da Gapi - Sociedade Investimentos S.A.

O ALGODÃO NÃO ENGANA?

Revitalizar a indústria têxtil nacional em toda a sua cadeia multiplicaria por 15 vezes o valor actual das exportações do sector, geraria milhares de postos de trabalho e milhões de dólares em receitas para o Estado. As metas auspiciosas constam da estratégia aprovada há dez anos para chegar a esse fim, mas pouco se avançou. Porquê?

“com o foco na definição de prioridades e capacidade de execução das mesmas.” Eis o trecho comum de todos os ‘hinos’ en toados em praças que discutem a possibi lidade de libertar o país da pobreza. O trecho assenta bem em quase todas as áreas da economia – dado o reconhe cido potencial que Moçambique detém – mas cai ainda melhor na indústria têxtil, onde a possibilidade de gerar ri queza é mais do que evidente. “Se per guntássemos hoje, qual é o sector com mais potencial para gerar valor num curto espaço de tempo, arrisco-me a dizer que provavelmente o algodão é a maior oportunidade que conheço”. A frase de Francisco Ferreira dos Santos, administrador do Grupo João Ferreira dos

Santos (JFS) – a mais antiga empresa al godoeira de Moçambique, com 121 anos –traça a dimensão das oportunidades que existem nesta área, e é partilhada por todas as outras entidades entrevistadas pela E&M. Mas o algodão a que Francisco Ferreira dos Santos se refere é apenas a primeira parte de uma vasta cadeia de valor que a indústria têxtil comporta, e que já fun cionou em pleno em Moçambique. Ou seja, devolvendo a cadeia ao mercado, o im pacto na economia seria gigantesco. “Se conseguíssemos implementar a indústria têxtil em toda a sua extenção, consegui ríamos multiplicar o valor de exportação do sector por 15 vezes”, estima Ferreira dos Santos. Ou seja, os cerca de 40 milhões

de dólares de exportações de algodão al cançados no ano passado de acordo com o INE, teriam resultado em quase 600 mi lhões de dólares de exportação, com um peso acrescido porque iriam, para além do mais, substituir despesas de impor tações, o que resultaria numa diferença considerável na balança comercial. Estes cálculos parecem demasiadamente optimistas, mas uma breve noção da com plexa cadeia que envolve o sector pode ajudar a compreender o potencial que aqui existe, até porque se trata de uma das indústrias mundiais que mais geram postos de trabalho, a par das indústrias do armamento e automóvel. Por isso, o potencial do sector não pas sa despercebido aos olhos dos decisores.

MACRO Outubro 2018 14

Prova disso é a Estratégia para o Desen volvimento do Sector Têxtil e de Con fecções, aprovada em 2008. No entanto, uma década depois, e como acontece em outras áreas, ela não tem trazido gran des mudanças a este sector produtivo. “Analisando a evolução dos dados esta tísticos, a aprovação da estratégia não se reflete no desempenho do sector”, conclui a economista Cerina Mussá, autora de um dos estudos que faz um diagnóstico pro fundo intitulado “Determinantes da indús tria têxtil e vestuário em Moçambique (1960-2014)”. A constatação cria amplo es paço de debate sobre os inúmeros pontos fracos por corrigir.

Produção tem caído

Os problemas começam logo na base da cadeia, a produção. De acordo com o Ins tituto do Algodão de Moçambique (IAM), a produção tende a diminuir depois do pico histórico registado na época 2011/2012. Com 184 mil toneladas naquela campa nha, hoje a produção andará em torno das 70 mil toneladas.

Entre as causas que determinam esta re dução, e de acordo com a representante do IAM, Ancha Ainadine, “estão a baixa qualidade da semente; a fraca mecaniza ção e a consequente dependência das con dições climáticas. Depois há o preço não competitivo do algodão que leva a uma forte concorrência com outras culturas de rendimento”, explica.

Sobre este último ponto, Francisco Ferrei ra dos Santos, que é também presidente da Associação Algodoeira de Moçambi que (que congrega produtores e proces sadores primários de algodão), observa que, “sempre que o preço do algodão cai no mercado internacional, a produção na campanha seguinte apresenta uma forte redução porque os produtores (não esti mulados por apoios e subsídios) tendem a substituir o algodão por outras culturas de rendimento”, assinala. A isso, soma-se o facto de “o produtor de algodão não ter a consciência da cadeia de valor nem da necessidade de produzir com qualidade”, complementa Ancha Ainadine, do IAM.

As actuais 70 mil toneladas de algodão pro duzidas no país são um resultado escasso para alimentar uma verdadeira indús tria têxtil capaz de competir com merca dos globais relativamente desenvolvidos. “Antes de tudo o mais, há que pôr em prá tica acções que permitam aumentar a produção, ampliando, primeiro a área de cultivo, que geralmente é de meio hectare por produtor”, lança a responsável do IAM. Já há algumas empresas que fazem

PARA ONDE VAI O ALGODÃO

Com uma indústria de tecelagem inactiva, Moçambique exporta a quase totalidade do algodão descaroçado

agricultura de fomento, mas, não há ainda um amplo programa industrial na área do algodão, pelo que os pequenos produ tores são responsáveis por 98% da produ ção total.

Olhando para o próximo passo na cadeia de valor, o descaroçamento, a situação é um pouco mais animadora. A Associação Algodoeira de Moçambique (AAM) fala de cinco grandes empresas (menos do que já houve): duas nacionais (a própria JFS ba seada na província do Niassa) e a Socie dade Algodoeira de Namialo (SANAM) ba seada em Nampula. E três multinacionais: a Plexus, a OLAM e a China Africa Cotton. Todas elas estão preparadas, garantem -nos, para fornecer os principais merca dos globais (Europa, Ásia e Estados Unidos). No entanto, as cadeias subsequentes são fracas e por isso quase todo o algodão produzido em Moçambique é exportado assim mesmo, quando ainda não adquiriu, nem de perto, o valor final.

PRODUÇÃO EM QUEDA

54

120

184 70

Pico de produção de 2012 foi o melhor desde 1973 (144 mil toneladas). Em 2017, caiu para menos de metade Em milhares de toneladas 2002/03 2005/062011/122016/17

Em todo o mapa nacional desta indústria, existe apenas uma pequena empresa de fiação – a antiga Riopelle, actual Mo çambique Cotton Manufacturers (MCM), no distrito de Marracuene, província de Maputo. Trata-se de uma unidade que, de acordo com estimativas do IAM, processa apenas 4% da produção nacional de algo dão, sendo que os restantes 96% são des tinados à exportação. Não existe nenhu ma fábrica de tecidos, mas há algumas tinturarias na província de Nampula e algumas unidades isoladas de confecções, como a Moztex, que utiliza tecido importa do de mercados vizinhos.

Falta capital... e cultura têxtil Outra das grandes dificuldades que cons tam da Estratégia para o Desenvolvimen to do Sector Têxtil e de Confecções é a falta de capital para acomodar as exigências dos equipamentos de tecelagem e tintura ria, fases da cadeia em que são necessários investimentos que desafiam a capacida de financeira do empresariado nacional. A fraca qualidade e o alto custo da ener gia eléctrica bem como a disponibilidade de mão-de-obra, são outros quebra-cabe ças que estão longe de serem resolvidos. A economista Cerina Mussá, tal como o Presidente da AAM e o Governo reconhe cem que, ao longo do período em que a in dústria têxtil nacional se retraiu (guerra civil de 1976 a 1992 e a transição de uma economia centralmente planificada para uma economia de mercado), o país perdeu a cultura têxtil que chegou a ostentar e precisa de criar programas de formação do pessoal para revitalizar a actividade.

Outubro 2018 15
12,6
Instituto de Algodão de Moçambique; Estratégia para o Desenvolvimento do Sector Têxtil e de Confecções
PORTUGAL OUTROS ÍNDIA BRASIL 38,4 29,5
15,5 em percentagem da produção FONTE INE FONTE

QUE OPÇÕES HÁ?

Após o diagnóstico feito ao sector têxtil, a estratégia de há uma década enumera uma série de medidas para cada uma das suas cadeias de valor. Muitas convergem com as ideias lançadas ao longo do tempo, mas não há sinais de que estejam a ser concretizadas. O ministério da Indústria e Comércio, através do Director Nacional da Indústria, Mateus Matusse, assume dificuldades técnicas e financeiras para pôr em prática a estratégia, mas diz que “as prioridades estão a ser preparadas.”

Algodão Confecções

Identificar locais com potencial de produção para garantir a qualidade; promover a interacção entre industriais da área têxtil e de confecções e os intervenientes do fomento de algodão, públicos e privados, para um processo de aprendizagem dinâmico, o que criaria condições para atrair investidores com experiência na integração vertical da cadeia de produto e valor; melhorar a qualidade do algodão através de novas tecnologias e novas práticas de produção, colheita (separação por qualidade), secagem.

Têxtil

Promover investimentos através da revitalização (recuperação das empresas paralisadas e implantação de novas unidades industriais), o que implica a adopção de um programa de promoção. Este deveria incluir a compilação de informação existente sobre a matéria e produção de brochuras promocionais, material que deveria ser colocado à disposição dos potenciais investidores através dos organismos para a promoção de investimentos e/ou outras instituições públicas em missões internas e externas.

Mas Francisco Ferreira dos Santos atenua esta inquietação com o argumento de que a formação “não exige” demasiado esforço científico. “Mesmo comparando com ou tros players fortes da região (por exem plo, África do Sul, Zimbabwe), Moçambi que ainda tem uma classe operária que é fácilmente adaptável. A África do Sul está cheia de sindicatos, o Brasil tem vá rias exigências ao nível das leis laborais., o que não há em Moçambique. Assim, des de que haja um regime que seja flexível e que dê para ser treinado, o problema da mão-de-obra (que é relativamente barata e menos eficiente) pode ser ultrapassado.”

“É primordial subsidiar a produção”

Quando o preço do algodão-caroço (deter minado pelo mercado internacional) cai, os produtores tendem a ganhar menos e sentem-se pouco estimulados para man ter os níveis de produção. Para corrigir o fenómeno, o ideal seria a adopção de uma política de subsídios à produção em perío dos de baixa de preços (algo que se faz, por exemplo nos Estados Unidos, ao contrário do que se possa esperar).

Uma política de procurement iria desempenhar um papel importante no desenvolvimento do sector de confecções, sobretudo em áreas como a saúde e a educação. A demanda consistente e estável de produtos estimularia a realização de investimentos e permitiria, dessa forma, o crescimento do parque industrial. O desenvolvimento do subsector de confecções poderia também ser assegurado por acções que incluam a capacitação das indústrias existentes, a promoção do consumo de produtos locais; e o incentivo à recuperação de indústrias.

E é também o que os diferentes interve nientes sugerem que se faça em Moçam bique. “O Estado já tem, de resto, esta visão em relação a outras culturas considera das importantes. Se, por exemplo, o preço do milho cai, há uma intervenção para garantir que os preços se mantenham interessantes para o produtor. E no nosso ponto de vista o algodão é uma das cultu ras que deveriam merecer esta mesma protecção quando necessário”, sugere a AAM, que vê na medida “a forma mais apropriada de fomentar a produção des ta matéria-prima, e um dos grandes desa fios que o país tem pela frente”. A esta medida sobrepõe-se um conjunto de outras soluções, como o melhoramento das sementes para fomentar a produtivi dade e a criação de condições atractivas (incluindo de ordem fiscal) para que se atraiam novos investimentos.

Além das oportunidades para ampliar a base de exportações e a criação de novos postos de trabalho, há grandes oportuni dades que Moçambique poderia apro veitar no contexto global. É que África, no geral, começa a ser vista como o conti nente de oportunidades da indústria têx til, porque os custos de produção na Ásia subiram. Existe interesse em produtos 100% africanos e há alguns países bem posicionados face a esta realidade, sen do um dos casos de sucesso o da Etiópia. Outra vantagem é que Moçambique consegue beneficiar do mercado de alta

MACRO 16 Outubro 2018

Moçambique já conheceu tempos melhores, quando ainda operavam empresas como a Textáfrica, a Texmoque e a Texlom. Neste momento, apenas a Texmoque está em actividade

renda, como o norte-americano através da AGOA, mecanismo que facilita a expor tação de produtos nacionais (e de outros países de África) para os EUA, isentos de taxas aduaneiras. “Só por si, isto justifica a criação da indústria têxtil em Moçam bique”, argumenta o presidente da AAM.

Rastreabilidade, uma vantagem por explorar O tipo de produção de algodão que se faz em Moçambique tem um ingrediente muito apreciado pelos mercados mais desenvolvidos da área têxtil, que se de signa por rastreabilidade, ou o proces samento que consiste na relação directa entre as empresas de descaroçamento e os produtores, salvaguardando infor mação privilegiada ao cliente final dos grandes mercados (europeu, americano), cada vez mais preocupado com a prove niência e qualidade da matéria-prima, bem como pelas etapas por que passa. “Se conseguirmos gerar toda a nossa cadeia em Moçambique, pela rastreabilidade que as empresas concessionárias já têm

400

MIL TONELADAS É O POTENCIAL DE PRODUÇÃO

QUE MOÇAMBIQUE TEM. MAS, ACTUALMENTE, O PAÍS EXPLORA APENAS 17,5% DESTE POTENCIAL, DAÍ QUE A PRIORIDADE DAS AUTORIDADES SEJA O FOMENTO DA PRODUÇÃO DE ALGODÃO PARA O CONSUMO INTERNO E PARA EXPORTAÇÃO

do produtor, já conseguimos apresentar um produto robusto e apelativo”, garante Francisco Ferreira dos Santos.

Mas é importante explicar o conceito de rastreabilidade neste contexto. A indús tria têxtil está globalizada, porque a lo gística global é eficiente. Por exemplo, o algodão sai de Moçambique, o fio é feito no Bangladesh, o pano é fabricado na Índia. E se determinada marca produzir sapa tilhas que utilizem algodão, por exemplo, sem saber a cadeia de valor por detrás da sua produção (rastreabilidade), pode eventualmente ter a sua marca associada a fenómenos negativos, como, por exem plo, a utilização de mão-de-obra infantil. Mas Moçambique assegura esta rastrea bilidade e é já uma referência a este ní vel. Principalmente desde que foi criada a Better Cotton Iniciative, responsável pelas boas práticas e produção sustentável e jus ta do algodão, para que os seus utilizadores estejam seguros da qualidade do produto. Sendo que Moçambique faz parte des ta organização, pelo menos aqui, está no pelotão da frente do sector. Quanto ao resto, teremos de nos fiar no tempo.

Outubro 2018 17
CELSO CHAMBISSO FOTOGRAFIA D.R.
TEXTO
Imagem rara: quase totalidade o algodão produzido em Moçambique é transformado fora do país

O JOGO ESTÁ PRESTES A COMEÇAR

Depois de anos de incerteza, a economia dá os primeiros sinais de retoma com o pontapé de saída para o maior investimento da história nacional. Para já, o início da construção da unidade flutuante de produção de GNL e o anúncio do primeiro lote para exportação em Novembro de 2022 são as notícias por que todos (des)esperavam

começou no início de setembro a ser construída, em Busan, na Coreia do Sul, a plataforma flutuante de produção de gás natural liquefeito que irá ser insta lada em Coral Sul, na Área 4 da bacia do Rovuma. O momento foi assinalado nos estaleiros de construção naval da sul-co reana Samsung Heavy Industries (parte de um consórcio com a Technip de Fran ça e JGC do Japão), numa cerimónia que contou, entre outras, com a presença do ministro dos Recursos Minerais e Ener gia de Moçambique, Ernesto Max Tonela. A produção estimada de 3,4 milhões de toneladas por ano que sairá da platafor ma, (terá 439 metros de comprimento, 65 metros de largura, um calado de 38,5 metros e um peso de 210 mil toneladas), já está vendida na totalidade à BP, que em Outubro de 2016 assinou um acordo

de garantia de compra da totalidade da produção por um período de 20 anos.

O que há de novo?

Até agora, este texto poderia ter sido escri to em 2014, uma vez que notícias a apon tar para o início de produção de gás num prazo distante, “mas sempre garantido”, são o que não tem faltado nos últimos anos. No entanto, desta vez, há datas marcadas e assumidas publicamente e, embora nem sempre o calendário seja o mais fiável ami go em projectos desta magnitude, não são apenas rumores, e já foram oficializadas.

E não é só o Governo que já anunciou a previ são para o início da produção para o dia 1 de Junho de 2022 (estando o primeiro shipping previsto para cinco meses depois, a 1 de Novembro). Mas, também os principais parceiros, como a Kogas, aguardam o cum

primento das datas na entrega do gás de Moçambique para solidificar o seu merca do, garantiu o presidente desta empresa, Seung Cheong. “Acreditamos que o projec to da Área 4 é muito importante para nós e como tivemos sucesso no projecto Coral Sul ao longo do ano passado, temos fé que tam bém alcançaremos sucesso nesta fase. Há vários parceiros no projecto de Rovuma, e nós acreditamos que, com o envolvimento de todos e com o suporte do Governo mo çambicano, lograremos sucesso na Área 4 do Rovuma”, dizia, minutos depois de ter orientado a visita da delegação moçambi cana às instalações da empresa. Um relatório da Agência Internacional de Energia prevê que a demanda global de gás irá crescer 1,6% ao ano até 2022, e a melhoria nas principais economias asiáticas pode implicar um crescimen

MACRO Outubro 2018 18

to ainda maior na demanda por gás mo çambicano. A este respeito, a Coreia do Sul é, hoje, um dos maiores consumido res de gás, e parece querer constituir -se como um dos principais compradores do gás da bacia de Rovuma. A seu lado, Tonela sorria e sublinhava o “marco im portante para o país” que irá permitir “a criação de cerca de 800 postos de traba lho permanente e assegurar uma fonte adicional de receitas para o Estado. Nos 25 anos seguintes o projecto vai contri buir com cerca de 700 milhões de dóla res por ano”, referiu.

Para o ano há mais

Perto de Coral Sul, e ainda na Área 4, um outro mega-projecto tem vindo a avançar e ainda este ano foi submeti do o plano de desenvolvimento para o Projecto Rovuma LNG, que prevê a pro dução, liquefacção e comercialização do gás explorado na Área 4. Descoberto pela ENI em 2012, o campo Coral con tém cerca de 450 mil milhões de me tros cúbicos (16 biliões de pés cúbicos) de gás natural, e é detido pela Mozam bique Rovuma Ventures (joint ventu re detida pela ExxonMobil, ENI e China National Petroleum Corporation), que controla 70% do bloco, estando os res tantes 30% divididos em partes iguais entre a Galp Energia, a Kogas e a ENH. Neste caso, é a ExxonMobil, em nome das concessionárias da Área 4 que vai lide rar a construção e operação das unida des de liquefacção e infra-estruturas as sociadas (capacidade de produção de 7,6 milhões de toneladas por ano), enquanto a Eni ficará com a construção e operação das infra-estruturas de exploração, per furação e produção, numa operação cuja decisão final de investimento é aguarda da para o primeiro trimestre de 2019. No entanto, o grande jackpot no que ao gás natural diz respeito, está situado na Área 1, operada pela Anadarko Moçam bique (com participação de 26,5%), a ENH Rovuma, e outras, como a Mitsui, a ONGC Videsh, a BPRL Ventures Mozambique e a PTTEP Mozambique.

Com previsão de produção anual de 12,8 milhões de toneladas de gás, é o maior de todos os depósitos e acarretará a cons trução de uma fábrica de extracção, li quefação e exportação de gás natural na Península de Afungi, em Cabo Delgado. Após vários anos de avanços e recuos, num investimento global estimado entre 20 a 25 mil milhões de dólares, a decisão final do investimento (FID em ingês) está prevista para o primeiro semestre de

OS PLAYERS DO MERCADO

A dimensão dos projectos anunciados para Cabo Delgado levou a que praticamente todos os grandes players mundiais estejam presentes no país

ANADARKO MOÇAMBIQUE

É a principal operadora da Área 1 com 26,5% de interesse participativo. Precisa de garantir a venda de 8 milhões de toneladas para finalizar DFI.

EXXONMOBIL

KOGAS

A sul-coreana detém uma participação de 10% na Área 4 e está a implementar o Projecto de Distribuição de Gás de Maputo e Marracuene.

Detém uma participação indirecta de 25% na Área 4 e lidera a construção e operação de todas as futuras instalações de liquefacção de gás.

CNPC

Petrolífera chinesa, fundada em 1988, está na Área 4 onde adquiriu uma participação indirecta em 2013, através da Eni.

ENI

MITSUI&CO

‘Fechou’ em 2017, com a ExxonMobil a venda de uma participação indireta de 25% da Área 4, através da alienação de 35,7% na Eni East Africa (EEA).

MRV

Nasce da união da Eni, ExxonMobil e CNPC. É a empresa que lidera o plano de desenvolvimento do ‘Projecto Rovuma LNG’, também na Área 4.

Grupo japonês iniciou actividade em Moçambique em 1997 e faz parte do consórcio de empresas que têm concessão na Área 1.

ONGC VIDESH LTD

Multinacional indiana detém cerca de 38 projectos de petróleo e gás em 17 países e já anunciou investimento de 3 mil milhões de dólares na Área 1.

ENH

PTT EXPLORATION

É a estatal responsável pela pesquisa, prospecção e produção de produtos petrolíferos e detém 10% das concessões das áreas 1 e 4.

GALP

Detentora da Petrogal e da Gás Portugal detém 10% de participação do plano de desenvolvimento do projecto Coral Sul, na Área 4.

Empresa tailandesa opera no ramo da exploração e produção de petróleo. Detém participação de 8,5% da Área 1 da bacia do Rovuma.

BHARAT PETROLEUM

Faz parte de um consórcio de empresas públicas indianasONGC Videsh, Oil India e a Bharat Petroleum Corp - que detêm 30% da Área 1.

Outubro 2018 19

2019, num processo que se vai arrastan do há pelo menos dois anos, e algo natu ral, ao que nos diz uma fonte da Anada rko, “num projecto capaz de gerar uma receita global na ordem de 53 mil mi lhões de dólares para o Estado moçambi cano em royalties e impostos directos e indirectos, num período de 25 anos”. A este respeito, o Financial Times escre via que a empresa norte-americana anunciou “progressos assinaláveis na negociação de acordos com clientes, ga rantindo aprovações do governo e de financiamento dos trabalhos de constru ção, para para dar luz verde ao desen volvimento até ao final do próximo ano.”

Mitch Ingram, vice-presidente executi vo de pesquisa em águas profundas da Anadarko, dizia ao FT que o projecto da empresa está agora “num ponto ideal, porque a desaceleração mundial nas aprovações significa que houve menos concorrência tanto para clientes quanto para os fornecedores que construíam as instalações”. E por isso, anunciou também que o desenvolvimento inicial deverá custar cerca de 7,7 mil milhões de dólares na fábrica de liquefação e exportação de gás, além de um investimento não espe cificado para poços e oleodutos offshore. Estes valores mostram significativas re duções de investimento, especialmente se levarmos em conta o que se falava

20 000

MILHÕES DE DÓLARES MOÇAMBIQUE SERÁ O SEGUNDO MAIOR DESTINO DE INVESTIMENTO EM OIL&GAS NOS PRÓXIMOS SETE ANOS, ATRÁS DA NIGÉRIA E

À FRENTE DE ANGOLA

nos últimos anos. A Anadarko e os seus parceiros, aproveitaram a desacelera ção da actividade global “para cortar o custo total do projecto em 4 mil milhões de dólares”, revela Ingram, mantendo ainda assim a expectativa de produção nas 12,88 milhões de toneladas de GNL por ano quando for iniciada em 2023-24. O ímpeto que a operação ganhou nos úl timos meses, tem a ver com os contratos de venda assinados com a EDF da França (15 anos), a Tokyo Gas do Japão e a Centrica do Reino Unido, para os próximos 20 anos. Mas ainda assim, há outros acordos que a Anadarko espera concluir até ao fim

do ano, essenciais para captar novas fon tes de financiamento. No entanto, anun cia estar no terreno com as operações de reassentamento de 500 famílias do local onde a fábrica ficará, tendo já cerca de 1 000 trabalhadores no local a fazer pre parações e a iniciar a construção das pri meiras infra-estruturas logísticas, anun ciando que serão 2 500 até ao final do ano.

Melhoria económica

Todos estes movimentos que durante tanto tempo foram aguardados (fazendo desesperar inúmeros empresários que terão chegado demasiado cedo ao país) a economia está a consolidar a retoma, com a contínua recuperação de alguns indicadores macroeconómicos que têm vindo a cair desde 2015. De acordo com o Governador do Banco de Moçambique (BM), Rogério Zandamela, as marcas da recuperação “são bem visíveis” no re cuo acentuado da inflação, que se situa agora abaixo de 5% (depois de um pico de mais de 25%), e nas reservas inter nacionais que recuperaram para cerca de sete meses de cobertura de impor tações (chegaram a cobrir apenas dois). No entanto, há indicadores que mostram o cuidado que é necessário, com todas es tas entradas de capitais massivos numa economia debilitada pelos últimos anos. Dados provisórios do BM mostram um agravamento do défice da conta corren te em 414 milhões (para 1 596 milhões de dólares no fecho do primeiro semestre de 2018) , que se justifica pelo “incremento de compras no exterior de serviços especia lizados e financeiros, no âmbito da imple mentação de projectos de gás natural.” Ao mesmo tempo, e quando as notícias parecem finalmente ser boas, surgem as preocupações de segurança na re gião que estão longe de estarem sanadas e aumenta a concorrência externa, numa altura em que Madagascar anun ciou a abertura da primeira ronda de licitações para exploração de gás offsho re (a ilha partilha fronteira marítima com Moçambique) juntando-se à Tan zânia, o outro concorrente regional pe las mesmas bolsas de gás, que já anun ciou para 2022 o início da exploração. Assim, as boas notícias dos últimos me ses e os avanços que foram evidentes, enfrentam agora novos desafios, num processo que pode mudar para melhor, espera-se, a face do país.

MACRO Outubro 2018 20
FOTOGRAFIA D.R.
TEXTO PEDRO CATIVELOS
Visão do futuro que se aproxima: a fábrica de Afungi será assim

TURISMO QUER LUGAR AO SOL

as receitas do sector aumentaram 40% no ano passado, para 151 milhões de dólares. No entanto, para o Ministério da Cultura e Tu rismo, e apesar deste crescimento, a sua con tribuição para o PIB continua ainda abaixo das metas estimadas, num sector essencial para o futuro económico e social do país, algo que acontece essencialmente por motivos fiscais. Se, durante anos, foi “complicado” fazer en trar o turismo na formalidade, essa tendên cia apresenta alguns sinais de mudança.

O que se torna evidente pelo facto de o nú mero de visitantes até estar a decrescer, mas o nível da receita estar a aumentar, algo que evidencia uma melhoria no sistema de colec ta junto dos agentes turísticos. Ainda assim, a Autoridade Tributária (AT) quer reforçar a cobrança de impostos num sector que consi dera ser, actualmente, o “calcanhar de Aqui les” do sistema contributivo, através de “au ditorias informáticas”, referiu Amélia Nakhare, presidente da AT.

PARA ONDE SE VIAJA…

NÚMEROS EM CONTA Outubro 2018 22
Capital recebeu mais de metade do total dos visitantes do país em 2017 Em mil milhões de dólares CABO DELGADO INHAMBANE MANICA SOFALA TETE NAMPULA NIASSA ZAMBÉZIA MAPUTO 5,9 2,8 2,9 4 4,8 3,1 2,9 59,8 8,2 5,9 GAZA … E PORQUÊ Lazer e negócios concentram preferências Em percentagem do total de visitantes FONTE INE 66,4 Lazer 12,8 Negócios 12,3 Familiares 8,5 Outros
Outubro 2018 23 … MAS RECEITA É CURTA Maior fatia da receita do sector vem dos cerca de 125 hotéis do país, FONTE INE Pensões 89,1 Pousadas 71,7 Hotéis 3 500 CHEGADAS CAÍRAM… Em 2017, o número de chegadas foi semelhante ao de 2009 2009 2011 2013 2015 2017 1,7 2,01 1,9 1,6 1,5 Em milhões FONTE INE … MAS A RECEITA AUMENTOU Valor das receitas do turismo tem aumentado, fruto da melhoria fiscal 2009 2011 2013 2015 2017 64 96 43 80 151 Em milhões de dólares OFERTA CRESCEU… Todos os indicadores relativos à oferta cresceram nesta década QUARTOS NOVOS PROJECTOS NÚMERO DE CAMAS 38,4 48,5 4,4 25,2 0,3 1,7 2011 2017 151 Milhões de dólares A contribuição do turismo para o PIB nacional Em milhares Em milhões de meticais

Preto ou Branco? O Valor da Palavra

várias páginas poderiam ser ocupadas a analisar o sentido conotativo ou denotativo do título deste artigo. O sentido e rele vância que o leitor poderá dar a esta combinação de palavras dependerão das suas experiências e histórias individuais e da sua memória colectiva. Essas vivências terão automaticamente gerado um conjunto de significados e emoções que não escolheu racionalizar nesta fase mas que deram significado àquilo que acabou de ler. O certo, porém, é que o sentido da expressão vai muito para além daquilo que é a interpretação mais imediata. E ainda não saímos da esfera da língua portuguesa; não abordá mos os desafios de encontrar um sentido equivalente noutra(s) língua(s), nem explorámos o facto de, por vezes, não haver equi valentes experienciais nas outras línguas e culturas, mesmo que o sistema conceptual permita transferir as palavras de uma língua para outra. É sobre este terreno de ambiguidade de sentidos e as suas consequências para a comunicação em presarial que hoje convido o leitor a refletir comigo. Qualquer pesquisa rápida apresentará uma lista infindável de erros de comunicação que empresas (ou os responsáveis pela comunicação?) cometeram e que comprometeram seriamente reputações de indivíduos, empresas, governos. Estes casos são os mais óbvios e mais simples de analisar: o fracasso do alinha mento da relação comunicação global vs local é evidente. Veja -se o caso recente da H&M que, desde o início deste ano, lida com as consequências do uso desadequado de uma palavra num catálogo online. Os protestos sociais que se fizeram ouvir na África do Sul, e depois pelo mundo, em segundos, ou antes, à velocidade de um clique, trouxeram uma factura que vai mui to para lá dos 62% de quebra de lucros operacionais e dos 4 mil milhões de dólares em produtos não comercializados. Operar um negócio, qualquer que ele seja, que implique o contacto com uma cultura (culturas de países vs culturas or ganizacionais) e outras línguas muda por completo o guião de gestão (nos casos em que os líderes das empresas vejam as van

tagens de alinhar valores pessoais com valores empresariais). Porquê? Porque implica a criação de um terceiro espaço. Um espaço que não pertencendo a nenhuma identidade colectiva em particular - porque a génese do grupo foi mutada - convida ao exercício, e aos ganhos inegáveis, de alavancar diferenças nacionais, empresariais e pessoais. Como é que se consegue? Começando pelo uso da palavra (ou compreendendo a ausência dela) e conhecendo o alcance da mesma desde a comunicação pessoal e organizacional até à escolha do prestador dos servi ços linguísticos. A separação entre serviços linguísticos e servi ços de comunicação é intencional. Já não é possível deixar a dimensão cultural fora de um modelo de gestão (é por vezes constrangedor ver a capulana usada em sites institucionais ou logos de empresa sem que o verdadeiro trabalho de integração de culturas profissionais e nacionais te nha acontecido), pelo que as empresas que prestam serviços de comunicação devem desafiar-se a olhar para o seu DNA a par tir de um novo prisma: reúnem os ingredientes efectivamen te necessários para responder aos desafios da comunicação intercultural? Estão aptas na análise dos perfis de orientação cultural sem cometerem o deslize de os avaliarem? Possuem equipas capazes de gerir significados associativos (subjectivo) vs significados conceptuais (transferência de conhecimento)?

Os tradutores que trabalham na campanha de comunicação são parte da equipa ou lidam apenas com um produto final? (A importância da tradução ocuparia outras quantas páginas.)

Os prestadores de serviços de comunicação e de serviços lin guísticos vivem um momento de desafios sem precedentes. Um desafio que perspectivo como uma enorme oportunidade para se transformarem em verdadeiros canais de alavancagem po sitiva pelo poder que têm de comunicar de formas universal mente compatíveis. A criatividade continua a ser a pedra de to que da comunicação de sucesso, mas não pode mais contornar o facto de (in)voluntariamente estarmos sempre na aldeia global.

Qualquer pesquisa rápida apresentará uma lista infindável de erros de comunicação que empresas (ou os responsáveis pela comunicação?) cometeram e que comprometeram seriamente reputações de indivíduos, empresas, governos, com prejuízos incálcuváveis ao nível da imagem

OPINIÃO Outubro 2018 24
Outubro 2018 26 NAÇÃO INDÚSTRIAS CRIATIVAS

UMA NOVA CARA

No mês em que se realiza o maior festival dedicado às indústrias criativas em Moçambique, o Maputo Fast Forward, a E&M olha para o estado das Artes no país. O que falta às várias formas de expressão, da literatura à pintura, passando pelas artes plásticas, o cinema, a música, o design e o digital para se constituirem como um sector produtivo (e lucrativo) para a economia nacional? E porque é que, afinal, lá por fora até já o são, porque em conjunto valem, hoje, 10% do PIB mundial

de acordo com as nações unidas, o conceito de economia ou indústria criati va é baseado nas “actividades do conheci mento e produção de bens tangíveis, inte lectuais e artísticos, com conteúdo criativo e valor económico”. Algo como uma nova roupagem ao que, tradicionalmente se chamava Cultura, e que sempre foi o pa rente pobre da economia. Esta nova formulalção, já não assim tão nova, nasceu na metade dos anos de 1990, e foi inicialmente difundida pelo governo do Reino Unido, procurando encontrar uma resposta à necessidade de mudar os termos do debate sobre o valor real das artes e da cultura, e agregar a elas as novas fórmulas que então ganhavam terreno, como as múltiplas vertentes em que o design evoluía e os novos ca minhos que se anteviam com a explosão da internet ‘à porta’ e a previsão de um suposto mundo digital virtual que viria a ser real, depois da viragem do século. Este conceito de indústria criativa con cretiza então a visão mais ampla das artes convencionais, libertando-as da prisão dos subsídios a que muitas delas

8,5

BILIÕES DE DÓLARES

A RECEITA GLOBAL DAS INDÚSTRIAS CRIATIVAS EM 2017, SENDO AINDA RESPONSÁVEIS POR EMPREGAR 144 MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO. SE FOSSEM UM PAÍS, SERIAM A TERCEIRA ECONOMIA DO MUNDO, SÓ ATRÁS DE ESTADOS UNIDOS E CHINA

foram votadas, por exemplo em países europeus, e agrupando-as de forma co mercial, juntando sob um mesmo conceito expressões em que se juntam as mais tradicionais como o teatro, a música, o ci nema, o artesanado ou a literatura, e as indústrias de serviços como a da publici dade e media, a produção e a comercia lização de bens criativos, sem esquecer a arquitectura, o design (industrial, publici dade, moda) e a criação e desenvolvimen to de meios digitais.

O momento-chave de toda essa nova visão aconteceu com a produção do primeiro ‘Mapa das indústrias Criativas’, em 1998, decisivo por ter sido o primeiro exercí cio sistemático de medição das indústrias criativas em todo o mundo, projectado para colectar dados sobre essas indús trias. Descobriu-se então que, à época, elas eram responsáveis por um impacto bru tal na economia, responsáveis pela cria ção de um milhão de postos de trabalho e contribuindo com 4% PIB da Grã-Breta nha, representando uma receita anual de 10 mil milhões de dólares em exportações. Hoje, esse valor multiplicou-se várias ve

Outubro 2018 27

zes e as várias indústrias criativas já re presentam quase 12% do PIB britânico. Pouco tempo depois, a definição globali zou-se e o seu peso no mundo alastrou. Hoje, sabe-se que, avaliadas enquanto um todo, essas indústrias geram receitas glo bais de 8,5 biliões de dólares e empregam 144 milhões de pessoas. Ou seja, se fossem um país, valiam 10% do PIB global, e se riam a terceira economia no mundo, só ul trapassada pelos Estados Unidos e a China.

Ser, ou não ser (uma indústria) eis a questão Mas quanto valem, hoje, as indústrias criativas em Moçambique, e como se de verá potenciá-las enquanto sector produ tivo e economicamente sustentável, em prol do desenvolvimento? Eis a questão de vários milhões de dólares. Em 2011, um relatório intitulado “Forta lecendo as Indústrias Criativas Para o Desenvolvimento em Moçambique”, que resultou do trabalho de um conjunto de agências das Nações Unidas, em colabo ração com o Governo de Moçambique, tentou encontrar respostas através de um extenso diagnóstico da situação nacio nal. O resultado desta primeira aborda gem no sentido de criar uma verdadeira indústria criativa no país, foi redigido sob a forma de uma série de medidas para começar a caminhar nessa direcção. A começar por “uma estratégia de comu nicação para melhorar o entendimento sobre a importância das indústrias criati vas em Moçambique”, em que o primeiro passo deveria passar por “apresentar e discutir as constatações e propostas co locadas no estudo com os responsáveis do Governo para permitir um diálogo de alto nível sobre as políticas a serem adoptadas. Esses eventos seriam parti cipativos e envolveriam representantes de todos os sectores criativos e institui ções relevantes, incluindo a comunicação social.”

Depois, em relação à abertura de novos mercados, externos, o documento preco niza “a capacitação de profissionais das artes para trabalharem em rede no ex terior, participar em feiras e formarem alianças estratégicas.”

Por fim, a nível interno, propunha-se a “realização de festivais e grandes even tos que podem ser benéficos para o desen volvimento dos sectores criativos, porque criar uma área de especialização num sector específico atrai pessoas, know -how e promove trocas e aprendizagem. Assim, devem ser encorajados projectos tais como o festivais de filmes, documen tários e música de raízes moçambicanas”.

Em 2011, um relatório intitulado “Fortalecendo as Indústrias Criativas para o Desenvolvimento em Moçambique”, que resultou do trabalho de um conjunto de agências das Nações Unidas, em colaboração com o Governo de Moçambique, tentou encontrar respostas, através de um extenso diagnóstico da situação nacional

No entanto, de 2011 até hoje, pouco terá mudado. O Plano Quinquenal do Go verno de Moçambique (2015-2019) até definiu esta, como uma das priorida des para “a promoção do emprego e a melhoria da produtividade e da com petitividade.” No sector da Cultura e do Turismo, tem sido referida uma “aposta que consiste no desenvolvimento das Indústrias Culturais e Criativas” e, nes se sentido encontra-se em fase de im plementação a Política das Indústrias Culturais e Criativas, aprovada pela Re solução Nº 34/2016 de 12 de Dezembro. Mas, muitas das questões levanta das em 2011, mantém-se por resolver: Que mecanismos podem permitir a transformação da produção artística em fonte de geração de renda? E quais são os sectores mais dinâmicos e promisso

Outubro 2018 28 NAÇÃO INDÚSTRIAS CRIATIVAS
Design: Piratas do Pau apostaram no design, transformando lixo em luxuosas peças de mobiliário artístico

Casos de sucesso internacionais

Não havendo respostas para estas ques tões, existem em Moçambique algumas soluções que contornam a lógica local de uma indústria que ainda não deu o passo que falta para se tornar global. Embora sejam casos isolados há, ainda assim, alguns (muito) bons exemplos que se enquadram no verdadeiro sentido de indústria criativa. Ao nível do design e da criatividade, por exemplo, Os Piratas do Pau, são uma marca gerida pelo ca sal Nelsa Guambe e Ab Oosterwaal. Ela é uma artista moçambicana, ele arquitec to e designer holandês. Os dois criaram a marca em 2010 e sempre a mantiveram fiel ao conceito original: a reciclagem. Ab já desenhava mobiliário na Holanda, mas como hobby, apenas para amigos. Foi desde que chegou a Moçambique, em 2009, que começou a desenvolver esta arte de criação com aquilo que muitos consideram lixo. “O material é que man da. Às vezes fazemos uma peça e só de pois de concluída é que vemos para que servirá”. É o caso, por exemplo, de uma bomba de água onde foram fundidos pés compridos. Poderá ser um candeeiro, mas Ab acha que no final “até poderá ser um vaso.”

Experiências e criatividade são a base do trabalho deste casal. “Tendo em con ta a minha formação, crio peças para ficarem bem em qualquer sala, sem criar ruído. E a Nelsa, como artista, gosta de cor e expressão. Por isso, penso que temos o equilíbrio necessário”, diz Ab. E realmente são peças mais do que utilitá rias. São design e obras de arte. As peças dos Piratas do Pau, vendem-se hoje em mercados como a África do Sul, Alema nha e Angola. E pretendem expandir ainda mais, porque se o traço dos dese nhos transformados em madeira é mo çambicano, a qualidade é internacional. No entanto, há outros exemplos de figu ras que ultrapassaram fronteiras com a sua criatividade e que poderiam facil mente ser rostos de uma nova indústria nacional. Como o do designer de moda Taibo Bacar que, cada vez mais, tem feito a sua carreira no estrangeiro e é hoje considerado um dos cinquenta mais influentes designers de moda em todo o mundo. Ou na música, com Stewart Sukuma ou Moreira Chonguiça, que ele vam as suas carreiras além-fronteiras há já vários anos. Nas artes plásticas,

A CULTURA NA TV PÚBLICA…

Número de horas dedicado a programas culturais na TVM tem diminuído desde 2013

1 812 horas

Entretenimento é o que mais horas detém na TV Pública

… NAS PRIVADAS...

cultural cultural

música moçambicana música moçambicana

22 3,2

489 1,1

Gonçalo Mabunda passará hoje, grande parte do seu tempo na Europa a expor os seus trabalhos. E até na área das TIC em que Frederico Silva dá cartas em Moçambique e Angola, coleccionan do prémios de criativdade e inovação. Depois, há a literatura, onde Mia Couto se tornou um nome maior no universo da escrita nos países de língua oficial portuguesa. São apenas exemplos, é cer to, e haverão muitos mais. Agora, imaginemos quanto valeriam todos em conjunto para a economia nacional?

Já nas privadas, passou de 297 horas em 2013, para 12 vezes mais em 2017

Religião reúne maior fatia de horas de transmissão

… E NA RÁDIO

Horas de radiodifusão cultural estão a diminuir desde 2015. Neste sentido, a música nacional predomina

Em horas de emissão anual Em milhares de horas de emissão anual Em milhares de horas de emissão cultural anual

6,1 6,2 6,3 5,7 5,1

2013 2014 201520162017 FONTE

INE 5 6 7

Vontade de mudança Se, nos media, o número de horas para programas culturais tem aumentado sobremaneira, a música nacional conti nua a ser a principal forma de cultura divulgada pelos media nacionais, princi palmente nas emissoras privadas. O que denota uma tendência, pelo menos ao nível do consumo. Falta, no entanto, o en quadramento macro de toda esta lógica. Recentemente, numa intervenção pú blica, o Presidente Filipe Nyusi falava “da aposta do Governo para com o sec tor das indústrias culturais e criativas, e na necessidade de incrementar o seu desenvolvimento sustentável e abran gente, sem esquecer as oportunidades para a geração de emprego e de renda”. Durante o Fórum sobre as Indústrias Culturais e Criativas, realizado no final do ano passado, o Presidente desafia va mesmo os intervenientes culturais “a serem mais proactivos, impondo-se na sociedade, ao invés de lamentações, empenharem-se na busca de soluções para os desafios que o sector enfrenta”, e apelava a “todos segmentos da socieda de para contribuírem com ideias para a harmonização da cultura e do turismo”. E realçava, “a necessidade identificar mecanismos que permitam a transfor mação da produção artística, em ferra mentas de geração de riqueza e redução das desigualdades sociais e com amplo envolvimento da juventude e da mulher.” Mas, os desafios, são vários. E as ideias, também. E passam pela coordenação dos sectores intervenientes, tendo -se falado recentemente da criação de uma instituição responsável pela dinamização das indústrias culturais e criativas com um formato similar ao da Confederação das Associações Económicas (CTA), por forma a assegu rar o incremento e desenvolvimento das actividades do sector; ou na imple mentação de uma Política das Indústrias

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6 694 horas 26 766
Número de horas de música nacional em todas as rádios do país
res das Indústrias Culturais e Criativas em Moçambique? E quanto valem elas, agregadas, para a economia?

Culturais e Criativas, no mapeamento da indústria, culminando na defesa da propriedade intelectual e no aproveita mento dos recursos providenciados pelo Fundo Internacional para a Diversidade Cultural. Não deixando de garantir a di versificação das fontes de financiamen to em prol do desenvolvimento das in dústrias culturais e criativas nacionais. Se pouco ou nada se evoluiu ao longo da década em qualquer destes aspectos, nos últimos meses tem existido um mo vimento para mudar o estado de coisas. “Só existirá uma verdadeira Indústria quando houver uma intervenção con jugada e coerente em múltiplas frentes, do ensino à formação de públicos, pas sando pela criação de infra-estruturas adequadas, incentivos à actividade cul tural, capacidade de articular políticas públicas com os agentes privados. Já fi zemos um primeiro exercício através de um workshop que juntou vários inter venientes do sector cultural. Foi muito interessante, sobretudo pela metodo logia utilizada. Porque se o objectivo, a prazo, é criar uma plataforma, então o primeiro passo terá de passar por testar

a capacidade de existir um trabalho co laborativo entre nós. Da parte da União Europeia existe uma disponibilidade, de princípio, em apoiar uma plataforma deste tipo mas isso só irá acontecer se conseguirmos demonstrar que temos, em termos de colectivo, capacidade para a estruturar e levar por diante de uma forma consistente”, diz Pablo Ribei ro, director da Fundação Fernando Lei te Couto (ver entrevista completa nas páginas seguintes). O ministro da Cul tura, Silva Dunduro, concorda, e até dá o exemplo de integração na cultura em outros sectores da economia: “no contex to contemporâneo das artes e cultura, 37% do que acontece no turismo resulta da cultura. O casamento entre esta e o turismo é uma das apostas mais per feitas que aconteceu no nosso país” diz. A esse respeito, por exemplo, com o novo Porto de Maputo, uma nova zona franca para cruzeiros projectada para a capital, o Governo ancorou o projecto com uma forte componente cultural e segundo Dunduro, ele inclui “a implan tação de empreendimentos culturais destinados a turistas, uma galeria de

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MUSEUS TÊM VINDO A PERDER VISITANTES Cerca de 20% do total de visitantes de museus são estrangeiros 85,1 60,5 Em milhares de visitantes 24 400 Museu de História Natural é o mais visitado do país 2016 2017 FONTE INE
Malangatana: um nome maior da cultura nacional, neste caso a ilustrar um Fiat 500, como se fosse uma das suas telas

arte e um clube para sessões de jazz e várias outras expressões culturais.”

A Inovação e o financiamento. E vice-versa A ‘cavalgada’ da inovação tecnológica nas redes sociais, na inteligência artifi cial, no crowdfunding e em outros mo delos de negócios, tem levado os líderes criativos e culturais a buscarem solu ções para a criação de empregos e de ri queza, por forma a “construir sociedades em que valha a pena viver – sociedades vibrantes, expressivas e felizes”, diz Ma rina Gorbis, directora executiva do Insti tuto para o Futuro (IFTF), um think tank sem fins lucrativos com sede em Palo Alto, Califórnia, EUA.

E assim é. Grande parte do crescimento nas indústrias criativas provém hoje das ‘createch’ em que a tecnologia é usada para (re)habilitar a criatividade. Voltando ao Reino Unido, a categoria de TI, software e serviços informáticos cresceu 11,4 % em 2017, e há grandes expectativas em campos emergentes como tecnologia virtual, a realidade

DERICOSILVA

E

RF

“Resolvemos expandir além-fronteiras os serviços da UX, tentando com isso alcançar mercados de maior dimensão que nos permitam continuar com a nossa missão social, aqui em Moçambique”, assume o fundador da tecnológica

aumentada e a inteligência artificial. Comentando estes dados, a Secretária de Estado para a área Digital, Cultura, e Meios de Comunicação, Karen Bradley, dizia aos media britânicos que “as indús trias criativas desempenham um papel essencial na forma como somos vistos em todo o mundo, mas também são uma parte vital da economia “.

E, percebendo esse papel, o governo até anunciou estar a negociar um acordo para fornecer suporte adicional em áreas como infra-estrutura, agrupa mento e acesso ao financiamento, e o or çamento do Reino Unido incluiu mais de 500 milhões de libras em investimento em tecnologias, incluindo inteligência ar tificial (IA), 5G e banda larga de fibra total. Em Moçambique, o cenário é diferen te. Os dados estatísticos agregados so bre o valor do sector são inexistentes, apesar das boas intenções anunciadas. Frederico Silva, um dos rostos mais asso ciados ao empreendedorismo digital fala “de dificuldades várias, quando se quer empreender, especialmente nos meios

Q&A: “SECTOR TEM DE FUNCIONAR POR SI SÓ”

Pintor e académico, Silva Dunduro, Ministro da Cultura e Turismo, traça à E&M um retrato do estado das artes em Moçambique.

Como é que alguém dedicado às artes chega à política?

Todos nós podemos dar o nosso contributo ao país. Eu sou artista plástico, estou ligado à vida académica, sou dos poucos com formação especifica na área da cultura e quando me foi endereçado o convite para dar o meu contributo ao país, aceitei porque achei que poderia contribuir para a visão do desenvolvimento no contexto contemporâneo das artes e cultura, e 37% do que acontece no turismo resulta da cultura. O casamento entre a cultura e o turismo é uma das apostas mais perfeitas que aconteceu no nosso país, nos últimos anos.

Como vê a cultura hoje no país?

A nossa visão como governantes é a de que a cultura tem de deixar de ser emocional e passar a ser vista também enquanto um bem comercial, para ter o seu contributo na redução das desigualdades sociais. Quando a associamos ao turismo temos a cultura a conseguir dar saltos muito bons em relação às manifestações culturais, o que se traduz em rendimento para as comunidades

Qual será o papel do Governo em toda esta evolução?

Durante muito tempo o Governo foi visto como um Governo paternalista, com uma economia centralizada socialista, com repercussões também na área da cultura. Agora temos uma nova geração, com novos promotores como o Moreira Chonguiça ou o Stewart Sukuma e tantos outros. Há de facto uma nova lógica que diz que não é o Estado quem deve fazer tudo, mas sim cada um deve trabalhar o seu caminho. O Estado deve, sim, ser o órgão facilitador para promover as politicas públicas em conjunto com o sector privado. Estamos nesse caminho, mas sei que ainda teremos um longo caminho pela frente.

digitais.” Por falta de infra-estrutura, de uma lógica combinada entre todos os intervenientes e de uma estratégia clara que aponte o caminho, especial mente num mercado com uma dimensão e limitações próprias, como o nacional. Motivos que o levaram, enquanto fun dador da UX (uma tecnológica focada em desenvolver soluções digitais com papel transformador na sociedade) a apontar baterias para o exterior: “no nosso caso, resolvemos expandir além-fronteiras os serviços da UX, tentando com isso alcan çar mercados de maior dimensão que nos permitam continuar com a nossa missão social aqui em Moçambique”, ex plica o jovem gestor.

O financiamento, claro, desempenha em toda esta lógica um importante papel. Em 2015, o ministério da Cultura chegou a avançar com a ideia da criação de um Banco da Cultura essencialmente dedi cado à concessão de crédito bonificado a artistas e agentes do espectáculo, desti nado “a responder aos problemas finan ceiros da classe artística”, dizia, à época, o ministro Dunduro. Mas, anos depois, a ideia não se materializou.

No entanto, a banca é, de resto, uma fi nanciadora de longa data do meio artís tico, em fórmulas que vão do mecenato, ao patrocínio. Mas essa tendência tem vindo a mudar, e a banca será, tenden cialmente, um parceiro comercial desta

indústria. Assim ela se torne lucrativa. Olhando para o continente africano, o Prémio Absa L’Atelier (um dos mais prestigiados concursos de artes visuais no continente africano, estabelecido na África do Sul há 33 anos, e em que parti cipam 12 países, entre os quais Moçam bique), ilustra “o comprometimento do Absa Group em levar a arte local a um público internacional, destacando-o e dando-lhe valor”, diz Paul Bayliss, cura dor de arte do museu Absa, que enaltece também “o investimento na criativa eco nomia africana enquanto marca do espí rito da africanicidade do Banco”, assinala. Em Moçambique, os principais bancos comerciais têm sido parceiros das ar tes e eventos culturais, bem como dos poucos festivais que se realizam, como o Azgo ou o Maputo Fast Forward, que se realiza em Outubro. Sendo hoje, a maior mostra da indústria criativa no país, no ano da sua consolidação o objectivo per manece: “ser uma plataforma dedicada à reflexão, ao debate, à criação de redes e parcerias num reconhecimento da criatividade e da inovação como moto res da nova economia do conhecimento”. Uma boa razão para se perceber, qual é afinal o estado das Artes em Moçambique.

Outubro 2018 32 NAÇÃO INDÚSTRIAS CRIATIVAS
FOTOGRAFIA D.R.
TEXTO PEDRO CATIVELOS
Ministério da Cultura: ‘casamento’ entre cultura e turismo é um dos objectivos do Executivo
NA VOZ DE... Outubro 2018 34 INDÚSTRIAS CRIATIVAS

“NÃO EXISTE UMA INDÚSTRIA CULTURAL E CRIATIVA EM MOÇAMBIQUE”

ao longo dos últimos anos, temos assistido a uma série de iniciativas que têm tido como objectivo principal iden tificar o potencial do sector cultural e criativo, e definir as condições adequa das à sua estruturação no sentido de se constituir como um elemento activo no desenvolvimento do país.

À E&M, Pablo Ribeiro, director da Funda ção Leite Couto, lança um olhar sobre o que são hoje as indústrias criativas em Moçambique.

Tem havido algumas iniciativas para criar uma verdadeira indústria cria tiva. Como avalia a situação actual? Antes do mais, gostaria de referir que mesmo antes do relatório da UN sobre este sector, já tinha havido outras ini ciativas que, embora não abordassem de forma explícita a questão das indús trias culturais e criativas, tinham, de algum modo, um propósito semelhan te em mente. Estou a lembrar-me, por exemplo, da UNESCO, que organizou uma série de encontros com o objectivo de debater a possibilidade de se criar uma plataforma que juntasse os fazedores de arte e cultura de todo o país. Ou dos en

SERIA NECESSÁRIO QUE EXISTISSEM DETERMINADAS CONDIÇÕES DE BASE E ESTAS SÓ SÃO POSSÍVEIS DESDE QUE O SECTOR CULTURAL E CRIATIVO SEJA CONSIDERADO UM DESÍGNIO ESTRATÉGICO PARA O DESENVOLVIMENTO E, EM CONSEQUÊNCIA DESSE RECONHECIMENTO, HAJA A VONTADE POLÍTICA E CAPACIDADE DE INVESTIMENTO

contros que foram desenvolvidos, entre 2012 e 2015, através da Associação Ku lungwana e que foram financiados pela Embaixada da Noruega. Durante esses encontros, realizaram-se quatro gran des seminários nas cidades de Maputo, Beira, Pemba e Tete, durante os quais cerca de 58 agentes culturais, do sector privado e do sector público, e várias es truturas ligadas às artes ou envolvidas na gestão e na produção artística se en contraram para trocar ideias e apre sentar projectos. Durante esses encon tros nasceu a ideia de se criar uma rede cultural moçambicana a qual não che gou a materializar-se devido a uma sé rie de factores e de constrangimentos de vária ordem. Infelizmente, desde então, não houve nenhum progresso significa tivo nesta ideia de criar uma plataforma ou rede cultural.

Mas, segundo ouvimos dizer, há uma iniciativa em marcha que retoma essa ideia e na qual a Fundação está envolvi da. É possível adiantar algo sobre isso? É um processo que está numa fase mui to preliminar e não gostaria de me alongar sobre esse assunto. Quando

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“SERIA IMPORTANTE SABER COMO TEM SIDO A RELAÇÃO DOS FESTIVAIS COM OS ESPAÇOS URBANOS”

olhamos para as tentativas anteriores verificamos que se criaram sempre grandes expectativas e depois, por uma ou outra razão, as coisas acabaram por não se materializar. Daí que uma lição a extraír dessas esperiências anteriores é que uma iniciativa desse tipo, a vir eventualmente a tomar corpo, tem de ser construída a partir de uma aborda gem e metodologia diferentes.

Como é que estão a trabalhar nesta nova iniciativa? Sem entrar em grandes detalhes, o que posso adiantar é o seguinte: este proces so teve origem numa parceria que se estabeleceu ao longo do ano passado en tre a Fundação e a União Europeia (UE) no sentido de desenvolver um conjunto de actividades que se enquadrassem nos programas da União Europeia. Um desses programas da UE tem o foco nas Indústrias Culturais e Criativas. A ideia, de início, era criarmos um evento que envolvesse esse sector. No nosso entendi mento, esse evento deveria juntar os di versos actores (festivais, instituições, etc.) e permitir a cada um apresentar o seu programa, as suas actividades e explicar como funcionam e estão estruturados em termos de recursos (financeiros, tecno

lógicos equipamento, infra-estruturas). Esse evento seria aberto ao público, es pecialmente jovem, no sentido de per mitir uma partilha de conhecimentos e contribuir para a sua formação. Mas também tínhamos em mente que esse evento tivesse uma certa regularidade, isto é, fosse a base de um trabalho con tínuo que se traduzisse em resultados duradouros com o objectivo de reforçar as capacidades dos recursos humanos, técnicos e financeiros do sector cultural. Mas para que este tipo de evento fosse consistente pareceu-nos também que te ria de haver um trabalho prévio. Então, em conversa com alguns directores de festivais, responsáveis de organizações culturais e instituições de formação fo mos definindo qual deveria ser o cami nho que teríamos de fazer para concre tizar essa ideia. E a primeira coisa que se tornou clara é que, se o objectivo fosse criar, a médio prazo, uma plataforma en volvendo os diferentes actores do siste ma, então teríamos de perceber melhor como é que cada um está estruturado, como funciona a sua actividade.

Pode dar um exemplo?

Vejamos o casodos festivaisque, como sabe, existem hoje em número significativo.

Se tivermos em mente a possiblidade de, numa eventual futura plataforma, pu der haver, por exemplo, uma partilha de recursos, torna-se crítico perceber qual é a estrutura dos recursos humanos em cada um deles, de quantas pessoas é composta, quais são as tarefas destas pessoas, qual o ‘know how’ e as compe tências que elas têm, o seu nível de pre paração; e ter também uma noção quer do peso e dimensão de outras estrutu ras, como equipamentos, maquinaria, computadores, quer dos serviços contra tados, para se ter uma ideia precisa de todo o processo envolvido na realização de cada um desses festivais. Finalmente, seria importante saber como é, ou tem sido, a relação dos festivais com os es paços (sobretudo urbanos) onde operam e os respectivos públicos. A ideia, por tanto, seria fazer um diagnóstico deste tipo com outras instituições culturais e só a partir daí começar a articular, de acordo com a avaliação feita, os passos seguintes.

E esse trabalho já começou a ser feito? Sim, já fizemos um primeiro exercício através de um workshop que juntou vá rios intervenientes do sector cultural. Foi muito interessante, sobretudo pela metodologia utilizada. Porque se o ob jectivo, a prazo, é criar uma plataforma, então o primeiro passo terá de passar por testar a capacidade de existir um trabalho colaborativo entre nós. Então, este workshop teve esse primeiro desíg nio que foi o de avaliar como é que oito gestores de instituições culturais, oito gestores de festivais e três gestores de instituições de ensino (que foram os par ticipantes deste primeiro workshop) se podiam juntar numa sala e trabalhar de forma colaborativa para desenvol ver um objectivo em comum. A ideia foi avaliar como é que estes “actores”, que partilham, em princípio, um objectivo co mum, iriam interagir, quais os elemen tos de “bloqueio” que iriam aparecer, identificar as diversas opiniões, as di ferentes perspectivas e convergências que iriam surgir dentro deste grupo. Foram discutidos muitos tópicos (forma ção de públicos, reforço das infra-estru turas, o desenvolvimento do mercado de arte e cultura, possibilidade de uma partilha de recursos, etc.) mas creio que o fundamental foi este exercício colecti vo no sentido de avaliar os factores de “bloqueio” ou de “facilitação” na relação entre todos e pensar, em conjunto, como ultrapassar as dificuldades identificadas

NA VOZ DE... Outubro 2018 36 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
Festival Azgo: um dos poucos grandes festivais de música anuais que se realizam em Moçambique

e potenciar as sinergias existentes. Este tipo de exercício – que irá continuar - foi também fundamental porque da parte da União Europeia existe uma disponibi lidade, de princípio, em apoiar uma pla taforma deste tipo mas isso só irá acon tecer se conseguirmos demonstrar que temos, em termos de colectivo, capacida de para a estruturar e levar por diante de uma forma consistente.

Quando olhamos para as Indústrias Culturais e Criativas, de um modo ge ral, o que verificamos é que elas só existem quando há um conjunto de pressupostos e de condições de base que estão asseguradas. Acha que elas já existem hoje em Moçambique? Não, de modo nenhum. Não podemos dizer que há uma Indústria Cultural e Criativa em Moçambique. Como refere, para isso seria necessário que existis sem determinadas condições de base e estas só são possíveis desde que o sector cultural e criativo seja considerado um desígnio estratégico para o desenvol vimento e, em consequência desse re conhecimento, haja a vontade política e capacidade de investimento para ela se tornar efectiva. Só existirá uma ver dadeira Indústria Cultural e Criativa quando houver uma intervenção con jugada e coerente em múltiplas frentes, do ensino à formação de públicos, pas sando pela criação de infra-estruturas adequadas, incentivos à actividade

cultural, capacidade de articular polí ticas públicas com os agentes privados.

Isso significa que, como acontece na generalidade dos casos a nível inter nacional, o Estado tem um papel im portante a desempenhar. Como vê, o papel do Ministério da Cultura neste contexto?

Têm havido, como já falámos, vários es tudos e relatórios sobre o potencial das Indústrias Culturais em Moçambique.

Em todos eles foi feito feito um diagnósti co e foram sugeridas medidas concretas, nomeadamente no que diz respeito ao papel do Estado. Parece-me, no entanto,

que haveria, neste momento, necessida de de fazer um diagnóstico ao próprio Ministério da Cultura, ou seja, um diag nóstico aos serviços do Ministério, às Ca sas da Cultura, às Direcções Provinciais da Cultura, às Direcções Municipais da Cultura etc., no sentido de perceber me lhor quais são, de facto, os recursos exis tentes e de que forma estão a ser utili zados. Existem grandes debilidades, por exemplo, ao nível da formação em todos essas estruturas e uma notória incapa cidade de responder adequadamente às exigências do sector. Ora, é fundamental que esta estrutura pública possa acom panhar e apoiar de forma competente as actividades culturais. A sensação que se tem é a de que falta uma verdadeira “coluna vertebral”, uma visão, algo que ligue e articule todas as actividade cul turais e torne claro onde se pretende chegar. E esta falta de visão tem, por seu turno, um tremendo impacto em inúme ros outros aspectos deste sector.

Por exemplo?

Um deles diz respeito ao entendimen to do que é necessário para que exista um “mercado cultural”. O “mercado” que existe hoje não gera rendimento... Tanto ao nível da Lei do Mecenato como ao ní vel meramente “burocrático” - que diz respeito à obtenção e funcionamento de licenças, autorizações e outros documen tos necessários para desenvolver as actividades culturais - há um trabalho urgente a fazer. Outro exemplo tem a ver com a necessidade de uma redução fiscal na importação de determinados tipos de materiais que não são produ zidos em Moçambique e que são indis pensáveis para inúmeras actividades culturais. Isto são coisas onde o Estado e o Ministério devem ter um papel. Por último, a questão as infra-estruturas: em todas as cidades e municípios existem cinemas, espaços culturais, casas da cul tura, que precisam de ser recuperados. Não vai haver uma Indústria Cultural sem investimento em infra-estruturas e em recursos tecnológicos e humanos. E sem condições para a emergência de um “mercado cultural”, a circulação de pro dutos e serviços culturais também não vai acontecer e... não haverá, portanto, Indústria Cultural. É na criação destas condições de base que me parece que o Estado tem um papel a desempenhar.

37 Outubro 2018
“NÃO VAI HAVER UMA INDÚSTRIA CULTURAL SEM INVESTIMENTO EM INFRA-ESTRUTURAS E EM RECURSOS TECNOLÓGICOS E HUMANOS. E SEM CONDIÇÕES PARA A EMERGÊNCIA DE UM ‘MERCADO CULTURAL’, A CIRCULAÇÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS CULTURAIS TAMBÉM NÃO VAI ACONTECER”
TEXTO Teatro é um caso à parte: uma das artes com maiores dificuldades de sobrevivência

SILÊNCIO DAS ARMAS EMBALA

O RITMO LENTO DA ESTABILIDADE

O porto da Beira, a linha de Sena, a Zona Económica Especial de Manga Munga-Mungassa e o Parque Nacional da Gorongosa estão entre os principais motivos para acreditar no futuro da Província de Sofala, onde o crescimento foi interrompido pelas armas, mas que hoje testemunha um retorno à estabilidade política e social

o franco crescimento da actividade económica que se registava há alguns anos foi interrompido pelo ressurgimen to do conflito político-militar na serra do Gorongosa, e o relógio parece ter andado para trás no tempo. Mas, de há alguns me ses a esta parte, ele parece ter-se voltado a cronometrar com os dias do presente. Mas porque (re)construir dá muito mais trabalho do que destruir, a recuperação irá exigir mais tempo do que os três anos que fizeram retrair a economia local. A retoma será determinada pela dinâ mica de áreas-chave como a logística, o turismo ou a indústria. Com a utilização plena do corredor da Beira, o restabele

PROVÍNCIA SOFALA

CAPITAL BEIRA

ÁREA 68 018  KM²

POPULAÇÃO 2 280 000 REGIÃO Centro

cimento da linha de Sena (que tinha sido interrompida durante o conflito) para o transporte de pessoas e carvão de Moa tize, (na Província de Tete) e o repovoa mento do Parque Nacional da Gorongosa que tem um peso assinalável ao nível da receita turística da região, juntando à Zona Económica Especial (ZEE) de Manga -Mungassa, que volta a gerar oportuni dades de negócios aos empresários locais e estrangeiros. “Naturalmente, Sofala está a voltar a entrar na rota do desen volvimento. O volume de investimento que temos tido demonstra um cresci mento extraordinário, e sentimos que, a breve trecho, Sofala volta a entrar no

Outubro 2018 38 PROVÍNCIA SOFALA

xadrez da economia nacional”, afirma Lénio Mendonça, director provincial da Economia e Finanças de Sofala à E&M, en fatizando que “todos os indicadores que a província tem vindo a registar estão a permitir que os investidores comecem a olhar para a Província pelo que ela tem de melhor, da sua localização geo-estra tégica ao agronegócio”.

A posição é perfilhada pelo Instituto de Estudos Económicos e Sociais (IESE), que confirma alguns indícios de renascimen to da economia de Sofala, graças ao fim do conflito político-militar: “nos principais distritos nota-se impacto significativo do ponto de vista da estabilidade política, so cial e económica”, revela uma publicação intitulada “Desafios para Moçambique”, publicada no final do ano passado. Na mesma linha, Mendonça aponta que o volume de investimento neste momento tem estado a crescer uma vez que se tem “feito o melhoramento das vias de acesso que ligam o corredor a outras províncias e países vizinhos”, assinala. E um sinal disso, é que as receitas já começaram a aumentar exponencialmente. “Só no pri meiro semestre deste ano, conseguimos chegar aos 14,6 milhões de dólares, e isso corresponde a um aumento de 71,2% em relação ao período homólogo”, revela. Para o governo local “não restam dúvi das” quanto ao potencial económico de que Sofala dispõe. E além das infra-estru turas, também a agricultura, pescas e a indústria de transportes são outros vec tores essenciais para o desenvolvimento da economia da Província, de acordo com a Direcção da Economia e Finanças de Sofala. “A agricultura contribui hoje com um volume entre 35% a 45% da produ ção global da região. Depois seguem-se as pescas e os transportes e logística.”

O potencial

Do ponto de vista geográfico Sofala sem pre teve uma importância vital no trân sito de bens e mercadorias entre o hin terland (nomeadamente o Zimbabwe) e a costa marítima, através do corredor da Beira. Por via terrestre, o tráfego per corre a Estrada Nacional EN 6, ou o siste ma ferroviário (Beira-Machipanda, Bei ra-Moatize, por onde é escoado o carvão da mina da Vale), que desagua no Porto da Beira (o terceiro mais movimentado do país atrás de Maputo e Nacala). Recentemente, e reconhecendo as poten cialidades de Sofala, o Governo aprovou em Conselho de Ministros, um plano de investimento no valor de 290 milhões de dólares com vista a alargar a capacida

PORTO DA BEIRA VAI AUMENTAR CAPACIDADE

Plano de investimentos prevê 290 milhões de dólares até 2033. Incremento vai gerar superavit de receita de 900 milhões de dólares. A Cornelder renovou a concessão do Porto por mais 15 anos

Capacidade em milhares de toneladas 750 1 200 2018 2033

FONTE: Governo Provincial

INVESTIMENTO

MILHÕES DE DÓLARES

334O VALOR DOS PROJECTOS DE INVESTIMENTO QUE O SECTOR DA AGRICULTURA DE SOFALA RECEBEU ENTRE 2011 E O PRIMEIRO SEMESTRE DO ANO CORRENTE

de de manuseamento de carga do porto, de forma faseada ao longo da próxima década e meia. Na primeira fase, pre tende-se um aumento dos actuais 750 mil toneladas de carga, para 1,2 milhões de toneladas por ano. Com isso, espera-se um aumento da re ceita global na casa dos 900 milhões de dólares, e parte dela, já tem destino marcado, até porque na concepção do governo de Sofala este constitui apenas um de vários mecanismos de adição de receitas fiscais que serão destinadas à melhoria de infra-estruturas de apoio à agricultura. Mas não só, diz-nos o re presentante do governo local: “de uma forma geral, os investimentos feitos na melhoria de infra-estruturas de que So fala dispõe, constituem-se como resposta ao compromisso de alavancar o desen volvimento integrado na reanimação da economia provincial, a melhoria do am biente de negócios para, de forma paula tina, fazer face aos desafios existentes na conjuntura actual de desenvolvimento. Queremos retomar a posição que a Pro víncia sempre ocupou no capítulo do desenvolvimento.”

Para o presidente do Conselho Empre sarial (CEP) em Sofala, Ricardo Baúte, o ambiente de negócios na província“ tem

registado melhorias, principalmente nos últimos dois anos, com enfoque na área empresarial, após a implantação dos con selhos empresariais em todos os distritos da província”, revela.

Pedro Coelho, gestor de transportes de carga da transportadora TCO, alinha no mesmo diapasão: “Sofala está a voltar aos bons níveis de desenvolvimento e não há motivos para lamentações, uma vez que o governo provincial tem feito esforços para voltar a colocar a Província na rota do desenvolvimento económico”, diz. Os números da produção global confir mam essa recuperação: este ano, as es timativas apontam para mais de 4,9 mil milhões de meticais, o que representa um crescimento de 43.5% face ao perío do homólogo, sustentado pela melhoria registada nos sectores da agricultura, pescas, indústria e comércio, tendo-se registado ainda uma subida no valor dos projectos de investimento aprova dos pelo Centro de Promoção de Inves timento para a região de 1,2 mil mi lhões de meticais há dois anos, para 3,8 mil milhões de meticais, no ano passado.

Há que reconstruir as vias de acesso Nos próximos anos, o grande desafio passa pelas vias de acesso, e o governo provincial aponta esse como “o grande investimento futuro”. Nomeadamente, a finalização do troço Beira-Machipanda (270 quilómetros), mas não só: “há um conjunto de infra-estruturas públicas a recuperar como a asfaltagem do troço Tica-Buzi e nova Sofala, que vai provocar grande impacto na estrutura económica da zona sul da província, o que, aliado à reabilitação da EN6 e das linhas férreas da Beira-Machipanda e de Sena, no per curso de Beira-Moatize, voltará a colocar a província na rota do desenvolvimento económico.”

No entanto, os projectos de investimen to não se ficam pelas infra-estruturas. Lénio Mendonça, avança que nos últimos dois anos, o número de projectos tem re gistado uma evolução. “No ano passado tínhamos 28 projectos, este ano, foram aprovados 32 em áreas como a agricul tura, a indústria e a logística.”

Alguns desses projectos, destinam-se a integrar a Zona Económica Especial de Manga-Mungassa (ZEE, ou áreas de ac tividade económica em geral, geografi camente delimitadas e reguladas por um regime fiscal e aduaneiro específico), criada em 2012 e que, segundo o director provincial da Economia e Finanças de So fala, “regista um crescimento do número

Outubro 2018 39

O valor dos investimentos quase triplicou nos últimos dois anos e também o número de projectos em áreas como a agricultura, a logística e a indústria seguiram pelo mesmo caminho

de investimentos. Sentimos em alguns momentos um abrandamento, mas já se sente claramente um movimento que nos leva a prever que nos próximos tem pos a ZEE de Manga-Mungassa vai im pulsionar o desenvolvimento de Sofala”.

Agro-processamento ainda fraco Se a agricultura tem atravessado um mau período noutras províncias, por So fala é uma actividade sustentável, devi do ao alto nível de produtividade, acima da média nacional, sobretudo na produ ção de ananás, arroz e citrinos. Mas esta realidade não é acompanhada por uma outra: a implantação de uma indústria de processamento suficiente mente capaz, já que actualmente apre senta uma capacidade bastante limitada para responder às necessidades.

A esse respeito, a Província conta com alguns apoios externos. Ainda no mês passado, o Banco Mundial anunciou um investimento de mais de 50 milhões de dólares ao sector agrícola de Sofala e ou

tras províncias do norte de Moçambique, direccionados a programas de reabilita ção de regadios com vista a incrementar a produção do arroz. A cadeia de valor do agronegócio tem sido, de resto, das mais beneficiadas a este nível, e totaliza 334 milhões de dólares doados desde 2011. No entanto, a devastação provocada pela instabilidade político-militar levou a que os frutos desse investimento, nunca ti vessem sido colhidos, neste caso literal mente, sendo o próprio executivo local a admitir ser esta, “uma área deficitária na Província.”

De acordo com o director provincial de Agricultura e Segurança Alimentar de Sofala, Adérito Mavie, os distritos do Dondo, Gorongosa, Nhamatanda e de Chi baba, são os principais pólos de produção agrícola da província, e é onde estão maiores projectos de investimento agrí cola. O desafio, passa agora por melho rar substancialmente as vias de acesso nesses distritos de forma a permitir um melhor escoamento da produção.”

Gorongosa reconquista lugar no turismo

O Parque Nacional da Gorongosa consti tui-se como um dos principais chamari zes turísticos da região e uma das maio res maravilhas de Moçambique no que à biodiversidade diz respeito. Foi graças ao repovoamento das espécies que in crementou o volume de visitantes, que contribui já hoje com uma importante fa tia das receitas (no caso turísticas) para a Província, incluindo a criação de oportu nidades de emprego na região.

No entanto, para a direcção provincial de Cultura e Turismo, este ainda não atingiu o nível exponencial expresso na captação de receitas à altura do seu potencial. “As receitas têm demonstrado uma ligeira subida depois da instabili dade político-militar que afectou aquela zona, e notamos que o Parque tem volta do a merecer a visita de muitos turistas. Porém, ainda não o estamos a explorar no seu máximo potencial.”

Segundo Mateus Mutemba, administra dor do Parque, a captação de receitas “provém do desenvolvimento do eco turismo no local, uma fonte que tem proporcionado ganhos significativos à Província de Sofala, mas ainda há um longo trabalho que está a ser feito por vários sectores do governo que vão ajudar o Parque Nacional da Gorongosa a entrar no mapa de captação dos princi pais contribuintes para o Estado.”

E até dá um exemplo de como o Executi vo pode ajudar a este nível: “a título de exemplo, o ministro das Obras Públicas e Habitação acaba de lançar a primeira pedra para a reabilitação do troço Incho pe- Caia. São estes investimentos que por vezes estão a montante da nossa capaci dade, e que vão, em última análise, permi tir que o volume de turistas e visitantes do Parque aumente”, assegura Mutemba. Para já, o governo provincial de Sofala coloca o desafio na “criação e melhoria de infra-estruturas suficientes para im pulsionarem a economia, sobretudo a componente de estradas e serviços lo gísticos”. Porque, como nos diz Lénio Men donça, director provincial da Economia e Finanças “tendo as vias asfaltadas, o res to da economia vai começar a evoluir”. Recentemente, Sofala até foi eleita como a melhor expositora da FACIM, que aconte ceu no início de Setembro. Vale o que vale, mas é bom para o orgulho local e até pode ser um sinal de que algo está a mudar.

Outubro 2018 40 PROVÍNCIA SOFALA
Gorongosa: o Parque Nacional mais emblemático do país será uma importante fonte de receita para o turismo
FOTOGRAFIA D.R.
TEXTO HERMENEGILDO LANGA

JUVE-INOVA, ESTÃO LANÇADAS AS PRIMEIRAS SEMENTES

DO FUTURO

JUVE-INOVA, TO SEED THE FUTURE AND THE

GROWTH OF MOZAMBIQUE

A criação de uma cadeia de valor no agronegócio está em marcha, e será determinante para a criação de uma nova geração de empresários

The creation of a value chain in agrobusiness is underway. And it will be a decisive step for the creation of a all new generation of entrepreneurs

nos arredores de maputo, na zona das Mahotas, nasceu a primeira horta comu nitária onde estarão instalados os pri meiros 30 candidatos do programa Via: Rotas para o Trabalho, que se propõe a lançar no mercado 1 250 jovens empre sários nas área do agro-negócio (hidro ponia) e da indústria de construção, até 2025 .“Temos já um conjunto de candida tos que querem dar aqui os primeiros passos de uma nova vida profissional, ligada à produção agrícola, iniciando o seu próprio negócio”, explica Rui Amaral coordenador da área de género e juven tude da Gapi, responsável pela imple mentação do programa.

A iniciativa , desenvolvida em parceria com a The Master Card Foudation e a International Youth Foudation, enqua dra-se nas acções do Juve-Inova, uma plataforma implementada pela Gapi em conjunto com uma rede de parceiros com competências para identificar, se leccionar e prestar assistência técnica multiforme a jovens que revelem ca pacidades e empenho na criação e/ou expansão de pequenos negócios. E Ama ral acrescenta que “a ideia é que, após o processo de candidatura, haja um perío do de aprendizagem nestas sombrites (espécie de estufas equipadas com siste mas de hidroponia e rega gota-a-gota, e tecnologias que respondem aos desafios das mudanças climáticas e permitem a produção em todas as épocas) em que irão ser formados no cultivo e comercialização dos seus produtos.”

Técnicas inovadoras

Depois, mesmo ao nível das técnicas agrícolas, o processo é inovador. “Sim, de facto. A ideia é que se utilizem técnicas de agricultura modernas, como a hidro ponia (usando água ou substracto mis

on the outskirts of maputo, in the Mahotas area, was born the first com munity garden where the first 30 can didates of the Program ‘Via: Rotas para o Trabalho’ will be installed. The goal, is audacious, and it aims to launch 1,250 young entrepreneurs in the agribusines and the construction industry until 2025.

“We already have a set of candidates who want to take the first steps of a new professional life, linked to agricultural production, starting their own business”, explains Rui Amaral, coordinator of the gender area Gapi, responsible for imple menting the program.

The initiative, developed in partnership with The Master Card Foudation and In ternational Youth Foudation, is part of the actions of Juve-Inova, a platform im plemented by Gapi in conjunction with a network of partners with the proved skills to identify, select and provide tech nical assistance to young entrepeneurs who reveal the will and commitment in the creation and expansion of small businesses. And Amaral adds that “the idea is that after the application process there will be a learning period in these sombrites (kind of greenhouses equipped with hydroponic and drip irrigation sys tems and technologies that respond to the challenges of climate change and allow production at all times) in which they will be trained in the cultivation and marketing of their products. “

Innovative techniques

Then, even at the level of agricultu ral techniques, the process is inno vative. “Yes, indeed. The idea is to use modern farming techniques such as hydroponics (using water or substra te mixed with a solution of essential nutrients to the plant, rather than

turados com uma solução de nutrientes essenciais à planta, em vez de terra), ou até recorrendo a hortas elevadas (para proteger fisicamente os agricultores do desgaste). E também damos formação ao nível da escolha das melhores sementes de rendimento, e quais as culturas mais adequadas”, explica.

Os ciclos de formação prolongam-se por quatro meses, sendo os jovens acompa nhados, em permanência, pelos técni cos da Gapi, que irão também leccionar “matérias ligadas à gestão de negócios, literacia financeira, habilidades de vida e técnicas de acesso e contacto com os mercados” complementa.

No final, e após as etapas pelas quais os jovens agricultores-empresários irão passar, o objectivo é tão simples quanto auspicioso: dotá-los de instrumentos, e ferramentas de experiência e conhe cimento essenciais para que possam tornar-se, eles próprios, continuadores do seu negócio. E é nesse sentido que a Gapi preconiza a criação de um conjun to de instrumentos financeiros que os

Outubro 2018 42 PUBLIREPORTAGEM PT | EN

land), or even using lifeted gardens (to physically protect farmers from wear and tear from their hard labour). And we also train at the level of choosing the best yield seeds, and which crops are the most appropriate, “he explains. The training courses are extended for a perior of four months, with the young people being continuously monitored by Gapi specialized staff, who will also teach “the studentes and duture entrepeneurs a set of skills related to business mana gement, financial literacy, life skills and market access techniques and contact with the retail markets “complements.

In the end, and after the steps all of this young entrepreneurs will take, the goal is, as simple as it can be audacious and bold: to equip this 1250 young mozambi cans up to age 35, with the right tools of knowledge and experience, absolutely essential for them to lead their own bu sinesses, in the future.

In this sense Gapi advocates the creation of a set of financial instruments that can support them at this stage, which will

possam apoiar nessa fase, e que serão desenhados em função da especificidade de região do País em que este programa, bem como outros desenhados ao abrigo do Juve-Inova, venham a ser implemen tados. “A ideia será, após o período de formação prática, que apresentem um plano de desenvolvimento do seu negó cio que será orientado e debatido com a Gapi e que, em caso de viabilidade, pos sam candidatar-se a um financiamento que lhes permita adquirir o material necessário para o investimento no seu terreno, nos materiais, e nos méto dos produtivos”, assinala Rui Amaral. O Juve-Inova, uma plataforma conside rada estratégica pela Gapi e seus par ceiros já implementa o Agro-Jovem, com o apoio da Danida, tendo, desde o seu início em 2015, lançado ao mercado de 90 novas pequenas empresas detidas por cerca de 100 jovens técnicos que ge raram mais de 500 postos de trabalho. E é isso que o Juve-Inova se propõe a ser. A primeira semente, de um novo futuro para milhares de jovens de todo o país.

be developed and designed according to the specific region of the country in whi ch this program, as well as others imple mented under the Juve-Inova Program will be implemented.

“The idea will be, after the practical training period, to present a business development plan that will be oriented and discussed with Gapi and, if feasible, they will be able do apply for funding to acquire the necessary equipment for investment in their own land, work ma terials, and to invest in production me thods“ says Rui Amaral.

Juve-Inova, is a platform considered to be strategic by Gapi and its partners, that already implements Agro-Jovem, with the support of Danida. Since its in ception in 1990, we’ve helped 90 new small companies that have been laun ched by nearly 100 young people tech nicians who generated more than 500 jobs in all the country. And this is what Juve-Inova proposes to be. The first seed of a new future for thousands of young people across Mozambique.

Outubro 2018 43

O TRABALHO QUE DÁ… CRIAR TRABALHO

É habitual pensar-se que basta criar novos postos de trabalho para solucionar o problema do desemprego. Uma reflexão a este respeito foi lançada pelo Banco Mundial, na qual se sugere um reordenamento estratégico do mercado de trabalho com vista a uma crescente formalização e um incremento da produtividade global

“o processo de transferência da força de trabalho de Moçambique para em pregos formais será moroso e muitos trabalhadores, em especial dos agrega dos familiares mais pobres, nunca farão essa transição”.

O sinal, é de alerta, e tem a chancela do Banco Mundial, que também chama a atenção para o facto de as actuais polí ticas de emprego não garantirem que a maioria dos moçambicanos possa, um dia, obter empregos capazes de lhes as segurar melhor qualidade de vida e, por fim, ajudarem a combater a pobreza. Trata-se de uma das conclusões de um relatório recente do Banco Mundial sobre o mercado de trabalho em Mo çambique, feito por dois pesquisadores norte-americanos, Ulrich Lachler e Ian Walker. Com o título “Jobs Diagnostic Mo çambique”, o estudo remete a uma séria

reflexão sobre o que se deve fazer para promover emprego sustentável, atra vés de uma profunda e transversal avaliação do mercado, caracterizado ao detalhe em 60 páginas.

Embora o tema pareça esgotado, com tudo ou quase tudo dito, conhecido ou sugerido, o (des)emprego ainda exige atenção especial porque, segundo a pes quisa, “podem encontrar-se múltiplas declarações estratégicas e de política do Governo e relatórios de doadores, mas as abordagens que destacam todos os problemas e soluções potenciais são, por vezes, pouco úteis e os decisores políti cos precisam de orientação sobre como e para onde priorizar os seus esforços”. Estes pontos conclusivos servem de pon tapé de saída para melhor perceber a dimensão dos inúmeros problemas que enfermam o mercado de trabalho, cuja

MERCADO E FINANÇAS Outubro 2018 44
MAIORIA DOS EMPREGOS EM MOÇAMBIQUE CONTINUA A ESTAR SITUADA NO SECTOR AGRÍCOLA
71% ESMAGADORA

solução apropriada é, obviamente, a criação de postos de trabalho produtivos, bem remunerados e em quantidade su ficiente para absorver a demanda. Mas a complexidade das acções para este objectivo traz várias linhas de aná lise que vale a pena explorar com certo detalhe.

Pobres cada vez mais pobres Apesar do rápido crescimento económi co nas últimas décadas, que contribuiu para a redução da incidência da pobre za, de 68% em 1996 para 48% em 2015, 40% da população mais pobre ficou para trás. Isto é, “o consumo médio dos mais pobres cresceu mais devagar do que o dos mais ricos”, segundo o relatório. A primeira razão atribuída a esta re gressão assenta no facto de o cresci mento económico estar dependente dos grandes projectos que não geram mui tos empregos, apesar de serem enorme mente produtivos ao nível das receitas. Ao contrário, a agricultura, que assegu ra sustento a 85% das famílias de todo o país, carece de dinamismo, tendo sido responsável por apenas 10 a 15% do crescimento em valor acrescentado na última década (até 2015), daí o baixo ren dimento dos que trabalham neste sector. Ainda assim, assiste-se a uma redução gradual da força de trabalho no sector primário, que se direcciona para a área de serviços (finanças, turismo, comér cio, transportes e sector público) nas grandes cidades. No entanto, com a excepção do comércio, os empregos formais na área de servi ços tendem a exigir níveis de ensino mais elevados e maiores competências, o que acaba por excluir grande parte da força de trabalho, que continua no auto -emprego de pouca exigência em termos de competências, com baixa produtivi dade (como na agricultura), e por isso com baixa remuneração.

“Caso persistam estas tendências, as perspectivas de um crescimento inclusi vo e de uma redução acelerada da po breza são ténues”, avisa o estudo.

Para a economista Federica Ricaldi, membro da equipa de preparação do relatório pelo Banco Mundial, “muitos trabalhadores urbanos autônomos tra balham longas horas, mas ainda lutam para obter um meio de vida sustentável. Neste contexto, a expansão do emprego assalariado (formal) e o aumento da pro dutividade do trabalho na agricultura são aspectos-chave da transição de em pregos em Moçambique para o cresci

QUEM PODE TRABALHAR…

Maior parte dos moçambicanos está em idade activa

POPULAÇÃO EM IDADE NÃO ACTIVA

mento a favor dos pobres. O sector de serviços está a mostrar um considerá vel dinamismo na criação de empregos remunerados no sector privado, o que muitas vezes oferece boas perspectivas para as mulheres. Há um bom potencial para a criação de empregos também em agro-indústrias intensivas em mão-de -obra, processando a produção agrícola (moagem de grãos, prensagem de se mentes oleaginosas, laticínios e carnes) para a crescente população urbana e em materiais de construção. Mas, perce ber esse potencial, requer políticas para aumentar a competitividade das empre sas locais”, diz à E&M.

POPULAÇÃO EM IDADE ACTIVA

… QUEM TRABALHA…

Dos que estão aptos a trabalhar, 76,5% exercem alguma actividade

Em percentagem Em percentagem

ECONOMICAMENTE INACTIVOS

… E ONDE

Distribuição da força de trabalho ilustra o peso da agricultura

SERVIÇOS

DESEMPREGADOS INDÚSTRIA

EMPREGADOS

Rendimento precisa-se São necessários melhores empregos para os 40% dos agregados familiares com rendimentos mais baixos, a maior parte deles na agricultura. Países como Uganda, Ruanda e Bangladesh são bons exemplos nesta matéria. Saíram de con flitos sanguentos e conseguiram cresci mentos extraordinariamente rápidos e inclusivos através de grandes inves timentos na agricultura e medidas de estímulo ao investimento privado em empresas de mão-de-obra intensiva, criando novas oportunidades de empre go remunerado nas cidades. O esforço surtiu efeito: muita gente saiu da po breza extrema, através de um trabalho mais bem remunerado. “Moçambique precisa de mais empregos que estejam ligados a sistemas produtivos modernos e que possam gerar proveitos mais ele vados, seja através do emprego assala riado ou de fornecedores independentes da cadeia de valor”, sugere.

A educação é também mencionada. A força de trabalho de Moçambique tem, em termos médios, um nível de forma ção abaixo de outros países africanos, factor que explica, em parte, o tipo de emprego predominante no país. E o estu do aponta até, um factor que, deve levar a uma reflexão.

FONTE: Banco Mundial, INE

O crescimento económico e a melhoria ao nível dos conhecimentos adquiridos fez aumentar o desemprego, uma taxa global que tem vindo a aumentar gra dualmente desde 1996. Porquê? Com me lhores ferramentas de educação (face a zonas do país com menos escolas, e dife rentes condições de vida), os jovens das cidades costumam esperar muito tempo por um “bom” emprego, uma vez que as famílias têm a possibilidade de suportar financeiramente essa espera. No meio rural, os que mais estudos têm acabam

Outubro 2018 45
AGRICULTURA 41,7 20,6 24,1 2,9 4,9 58,3 76,5 71
Em percentagem

por dedicar-se à agricultura por falta de opções, mesmo que a sua ambição seja o trabalho noutros sectores. Ao mes mo tempo, a população jovem aumenta substancialmente, o que provoca então o resultado de um aumento da taxa de desemprego, que pode não ser efectiva mente negativo. “O crescimento do sector formal é uma evidência, com uma ten dência forte, mas ainda não o suficiente. O sector privado formal cresceu de 5% para 12% nos últimos 15 anos. E sector público está estável. Ou seja, a tendên cia que observamos é a de que há uma transição do sector agrícola para o dos serviços mas, no entanto, a grande ques tão de Moçambique passará também pelos níveis de produtividade, em todos os sectores”, diz Mark Lundell, director do Banco Mundial para Moçambique. Mas o elevado desemprego jovem não tem só bons motivos, como o facto de os mais novos pretenderem investir nos

DESEMPREGO CRESCE MAIS NAS GRANDES CIDADES

Em percentagem de desempregados

jovens (15-24 anos de idade) adultos (+ de 25 anos) Urbano Rural

1,9 0,4

seus estudos: persistem ainda problemas endógenos, como a pouca informação so bre vagas de emprego disponíveis ou as respectivas condições e níveis salariais. Algo que se nota pelo facto de muitos jo vens terminarem a sua formação média e superior sem ideias claras sobre opor tunidades de emprego, e como podem ser aproveitadas em seu benefício. Mas também do lado dos empregadores há falhas que não ajudam o mercado a desenvolver-se e é sabido que gran de parte deles faz novas contratações com base em referências informais e não através de centros de emprego ou agências de recrutamento especiali zadas. Por fim, há o ensino técnico-pro fissional pós-secundário muitas vezes dispendioso, e de qualidade variável. Uma dinâmica negativa que o relatório do BM refere que apenas poderá ser in terrompida identificando sectores e re giões com maior potencial de emprego, sendo fundamental investir na melhoria do ambiente de negócios, para atrair in vestimento privado e expandir as em presas no sector formal.

TEXTO CELSO CHAMBISSO FOTOGRAFIA

MERCADO
Outubro 2018 46
E FINANÇAS
No meio urbano, os jovens têm um nível superior de educação e, por isso, procuram empregos com melhor remuneração. Resultado: quase todo o desemprego juvenil está nas cidades 21,4 5,7 FONTE INE (IOF 2014/15)
ISTOCK
Venda de produtos agrícolas, Gurué: agricultura continua a ser o sector que mais contribui para a economia, mas tem perdido trabalhadores para os serviços
Muitos pontos levantados pelo relatório são do conhecimento do Governo e estão reflectidos na Política de Emprego, constituída por um conjunto de medidas que pretendem assegurar mais emprego e melhor produção e produtividade global do trabalho
EMPRESAS Outubro 2018 48

BONGANI CIGARS A ‘GRATIDÃO’ QUE SE FUMA

quando pensamos em charutos, imagi namos Cuba ou República Dominicana, e recordamos Churchill, Fidel ou Hitchcock, inseparáveis nos retratos que deixaram à história, do charuto a lacrimejar nu vens em preto e branco. Mas, todo este imaginário construído ao longo de décadas, pouco ou mesmo nada, tem a ver com África. Mas só até 2016, quando este produto que habitualmen te associamos à América Central, onde, diz a mitologia, é enrolado manualmente entre as coxas de uma ‘mamana’ cuba na, começou a ser produzido em Mapu to, na zona da baixa da cidade, paredes meias com a Avenida 25 de Setembro. É ali que são enrolados os Bongani Cigars, um produto premium moçambicano, ac tualmente comercializado em mais de 200 pontos de venda de todo o país (em espaços de diversão nocturna, à unidade, no retalho de bebidas, hotéis e lodges de luxo, e aeroporto), na África do Sul, Qué nia, preparando-se para entrar no mer cado angolano, e na Nigéria. Mas, porquê o sucesso? “Os charutos são, em muitos casos, para pessoas que gos tam de se parecer com milionários e há essa associação, entre o seu consumo e o sucesso e é por isso que temos seguido uma lógica de expansão para mercados com maior poderio financeiro. Depois, há o factor de ser o primeiro charuto ‘made in’ África, um produto de luxo, de elevada qualidade, ‘handmade’, feito aqui mesmo, e isso é algo imbatível por qualquer con corrência, mesmo a das grandes marcas internacionais”, diz Kamal Moukheiber, um ex-banqueiro de investimentos suí ço-libanês que decidiu lançar a Bongani (significa ser grato “em zulu”).

Esta é, de resto, uma tendência que acre dita ter o potencial para moldar o futuro económico de todo o continente. Não os charutos, propriamente, mas toda a lógica

A história da primeira marca premium ‘handmade’ de charutos em África inteiramente produzidos em Moçambique e que está a conquistar o mundo luxurycigarmadeinafrica

que está subjacente ao seu sucesso. “Sabe... lembro-me de ler um estudo em que se dizia que todo o café produzido num ano em África é vendido para fora por 5 mil milhões de dólares onde, depois de embalado e revendido, vale 70 mil mi lhões. Mais de dez vezes mais! É preciso fazer a transformação, a embalagem, e a venda a partir de África”, preconiza. Depois, explica o porquê de se ter lança do neste desafio: “Na biografia de Robert Mondavi, o homem que estabeleceu as primeiras vinhas de alta qualidade nos Estados Unidos, ele conta como levou as sementes dos melhores vinhedos fran ceses e as ‘enxertou’ em Napa Valley, na Califórnia. À época, nos anos 60, os vinhos franceses eram considerados os únicos que valiam a pena consumir. Mas depois disso, as percepções mudaram e o seu exemplo foi seguido por australianos, neo-zelandeses, chilenos e sul-africanos, e os vinhos do novo mundo são hoje igual mente respeitados. É isso que eu creio que irá acontecer com os ‘cigars’.” Mas, como se faz afinal um charuto mo çambicano? “Bem, na essência usamos uma mistura de folhas de tabaco nacio nal e de importação em quantidades que variam em função da referência. A folha utilizada para enrolar o cha ruto provém dos Camarões, a caixa de madeira, em sândalo, vem da China, e quanto ao cigarro, ele é produzido de forma inteiramente manual e 100% nacional. Trouxemos o Anton Padilla que era enrolador da General Cigars na República Dominicana para dar forma ção e ele acabou por ficar connosco desde há quase três anos. Criámos emprego e competências numa área em que eram inexistentes. É este o caminho”, afiança.

BEMPRESA BONGANI CIGARS FUNDAÇÃO 2016 PRODUÇÃO 25 000

Charutos

O número de unidades produzidas anualmente

DISTRIBUIÇÃO 220

Pontos de venda Para além de Moçambique podem encontrar-se os charutos da Bongani no Quénia, África do Sul e, brevemente, em Angola e na Nigéria

Outubro 2018 49
TEXTO PEDRO CATIVELOS FOTOGRAFIA JAY GARRIDO

PEDRO CARDOSO NO BANCO MAIS

O ex-CEO do Banco Nacional Ul tramarino, Pedro Cardoso, vai ocupar uma posição-chave de gestão no Banco Mais através da empresa de investimentos de Hong Kong, Bison Capital Finan cial Holdings. Pedro Cardoso, que liderou o Banco Nacional Ultra marino (BNU) durante sete anos, vai assim ocupar um papel-chave na gestão do banco moçambica no Banco Mais.

A Bison Capital Financial Holding adquiriu 48% do capital do ban co moçambicano através de uma injecção de 13,9 milhões de dóla res. em parceria com o maior ac cionista da instituição financei ra, a empresa com sede em Ma cau, a Geocapital Holdings Limi ted SA, que tem como um dos só cios, Stanley Ho Hung-sun, funda dor da SJ, e o actual CEO da ope radora de jogos Ambrose.

OLOGA NO ‘TOP 3’ MUNDIAL

Empresa moçambicana foi distinguida num concurso internacional de inovação

CFM E SASOL VÃO REABILITAR CAIS DE INHAMBANE

Financiar a reparação da Ponte Cais da Baía de Inhambane e de dois navios operados pela Trans -marítima, na travessia Maxixe -Inhambane, foi o objectivo da assinatura do memorando assi nado pela Sasol e os Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM). O acordo surge em resultado de uma campanha promovida pe lo governo, para mobilização de fundos para reabilitação das in fra-estruturas danificadas, na qual a Sasol mostrou a sua pron tidão para contribuir para a reso lução dos problemas locais.

o reconhecimento do software desenvolvido pela Ologa Sistemas Informáticos, uma tecnológica moçambicana partici pada pela Gapi (e parceira do Ministério do Género, Criança e Acção Social, FHI360, USAID, Care, World Vision) aconteceu na 4ª edição do ITU - Telecom World Awards (União Internacional da Telecomunicações).

Esta plataforma global para a aceleração de inovação na área das TIC, distinguiu assim o “impacto que os instrumentos de senvolvidos pela Ologa têm tido na área da saúde infantil”. Com sete anos de existência no país, a empresa viu a sua pla taforma de saúde infantil ser promovida ao grupo das três PME Global com maior potencial de expansão ao nível mundial (as outras são a Talamus Health dos EUA e a Dropque da Nigéria).

O SureTrack - um software de monitoria, avaliação e gestão de casos para projectos relacionados com saúde e impacto social é uma solução virada para crianças órfãs e vulneráveis com principal enfoque para as vítimas do HIV.

“Espero, sinceramente, que o reconhecimento global de rece ber um ITU Telecom World Award, de um painel internacional de especialistas, ajude esses talentosos proprietários de em presas a ampliar e levar os seus negócios para um cenário glo bal” – disse Houlin Zhao, Secretário-Geral da ITU.

Para o director da Ologa, Mulweli Rebelo, esta distinção repre senta “o reconhecimento da contribuição do trabalho desen volvido para facilitar e melhorar as vidas das pessoas, neste caso particular das crianças vulneráveis.”

A Ologa é uma empresa que actua no ramo das TIC, com o foco em soluções tecnológicas para o desenvolvimento social e económico do país, tendo já vencido o prémio das “100 Melhores PME”, tendo sido também finalista no African African Entrepreneurship Award

GRUPO JAT INAUGURA COMPLEXO EM MAPUTO

Responder às necessidades dos cidadãos que exercem as suas actividades na zona Baixa de Maputo, “tornando o local num ponto de encontro com moder nidade, conveniência, excelên cia, tranquilidade e lazer”, é o objectivo anunciado da constru ção do JAT Center, inaugurado no final de Setembro na cidade de Maputo.

Trata-se de um complexo multi -funcional composto por apar tamentos, escritórios, parque de estacionamento, ginásio e hotel.

A construção do JAT Center re presentou um investimento de 130 milhões de dólares.

INCUBADORA DO STANDARD BANK DISTINGUIDA

A distinção do banco liderado pelo administrador delegado, Chuma Nwokocha, foi anuncia da no âmbito da Southern Africa Startup Awards (SASA), que visa apoiar startups nacionais a atin girem o seu potencial.

Assim, a incubadora de Negó cios do Standard foi galardoa da como o “Melhor Programa de Aceleração e Incubadora em Mo çambique”, em resultado de um trabalho “de ajuda e capacitação de empreendedores e empresas inovadoras, fornecendo ferra mentas, recursos e experiência.”

Na Gala SASA-Mozambique fo ram igualmente distinguidas ou tras 14 startups que irão repre sentar o país na gala regional da SASA, a ter lugar em Novembro próximo, na África do Sul.

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IMAGINAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO SÃO FRAQUEZAS DAS PME

já lá vão oito anos de exis tência da associação nacional de jovens empresários (anje), e de esforços para cons truir uma nova geração de empresários. Apresentando à E&M as li nhas que norteiam os objecti vos da ANJE, Juscelina Guiren gane, fala da necessidade de maior formação, mas coloca a tónica numa nova visão, “decisiva”, para o sucesso dos jovens empresários nacionais.

Como surge a ANJE e com que objectivos foi concebida?

A ANJE surge no início de 2010, fruto da união de dife rentes jovens que haviam tentado começar os seus pró prios negócios e encontraram barreiras para poder aceder a melhores oportunidades e entrar em determinadas instituições.

Ser empresário no país con tinua a ser tarefa difícil, não por falta de boas iniciativas, mas de meios para mate rializar os projectos. Como é que a ANJE tem trabalha do para contornar estas dificuldades?

Os desafios são imensos, da formalização ao acesso a in formação relevante para as empresas. Apesar de se ter dado um salto qualitativo

cv

curriculum vitae

Natural de Inhambane, é formada em gestão empresarial e de tecnologias pela Universidade de KwaZulu Natal, na África do Sul. Ali trabalhou um ano na IBM, até que em 2015 fundou a Sahane Consultoria & Serviços. Foi docente nas universidades Técnica e São Tomás de Moçambique e uma das seis moçambicanas seleccionadas para participar do Mandela Fellowship for Young African Leaders.

ANJE

negócio, e que vai muito para além de ter um alvará, alia da à falta de imaginação e formas de implementação são ainda grandes fraquezas dos nossos empresários. E há as elevadas taxas de juro. Advogamos que as taxas bai xem, mas temos consciência de que a maioria das pessoas que vão pedir crédito não têm intenção ou capacidade de devolução devido a esta fraca preparação para fazer negócios.

a ANJE faz em relação ao cumprimento dos objectivos para os quais foi concebida?

Era necessário criar uma organização que incluísse os jovens no processo de debate sobre o desenvolvimento eco nómico do país, que existisse e fosse reconhecida pelas entidades competentes. Isso foi feito de forma a que con seguíssemos estabelecer par cerias estratégicas como, por exemplo, com o BCI, várias instituições do governo e com a embaixada dos EUA. Agora, entrámos numa nova fase, e queremos ser uma entidade de referência na promoção do empreendedorismo em Moçambique. A nossa aspi ração é fazer aprovar o pro grama nacional de empreen dedorismo, conseguir um programa com um parceiro da banca que aceite o risco de subsidiar o crédito para os empresários a uma taxa de juro a rondar os 12%. E aliar isso a um programa estrutu rante de capacitação e orien tação para os empresários.

com a criação do Balcão Aten dimento Único (BAU), existem aspectos que ainda estão liga dos a outras instituições que muitas vezes acabam por levar jovens empresários a desistir. Depois, a própria capacidade de fazer o seu

E é também neste sentido que a ANJE tenta intervir? Dividimos a nossa interven ção em duas áreas: a capaci tação empresarial e a acção para criar um ecossistema empreendedor, propondo re gulamentos sobre negócios que vão no sentido de um maior acesso a informação. Lutamos por uma política e um programa nacional de empreendedorismo que fun cione como uma bússola para promover iniciativas em preendedoras. Para além dis so, organizamos anualmente uma conferência nacional de empreendedorismo com re presentantes de instituições públicas e privadas

Já lá vão oito anos após a sua criação. Que avaliação

Depois de anos difíceis para muitos empresários, quais são as perspectivas? Queremos ver mais jovens e empresas detidas por mo çambicanos a entrar nos grandes negócios de recursos naturais como o carvão e o gás. Idealizamos um cenário em que vão surgir necessida des por parte dessas grandes indústrias, na prestação de serviços e venda de produtos paralelos, que achamos que os moçambicanos devem preen cher. E temos o desafio de criar processos administrati vos mais eficientes e regras de certificação a que muitas empresas moçambicanas te rão de poder aceder, para poderem fazer parte dos grandes projectos liderados por empresas multinacionais,

FIGURA DO MÊS Outubro 2018 52
TEXTO
HERMENEGILDO LANGA FOTOGRAFIA JAY GARRIDO

UMA BÚSSOLA PARA O EMPREENDEDORISMO

Juscelina Guirengane quer cada vez mais e melhores jovens gestores com sucesso na economia

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O FUTURO TEM BILHETE… DE IDA E VOLTA

Maputo é uma cidade que padece de um tipo de obstipação crónica, fruto da congestão rodoviária que se arrasta em passo lento, multiplicando-se em horas de ponta que só aliviam aos fins-de-semana e feriados

estudos de 2012 indicam que, das 6 às 9 horas e das 16 às 19 horas, a velocidade média de deslocação na estrada Maputo -Matola, na EN2 (Maputo-Zimpeto) e na Avenida Julius Nyerere é de 14 quilóme tros horários. Imbróglio agravado, nos úl timos anos, pelo aumento populacional e das viaturas em circulação – das 735.954 unidades registadas no país, 40,1% rolam na capital, cidade que alberga todos os serviços fundamentais.... E nem a cons trução de novas vias, como a Estrada Circular, conseguiu trazer alívio. Para minimizar o problema, o Conselho Municipal de Maputo (CMM) concebeu, com apoio do Japão, um Plano Director de Mobilidade e Transportes para a Área Metropolitana de Maputo (AMM, que integra a Matola e os distritos de Boane e Marracuene) visando gerir o tráfego entre as urbes, para dissuadir o uso da viatura própria e fomentar a utilização do transporte colectivo.

Apresentado em 2013 e com prazo de 22 anos, sugeria soluções ambiciosas – como o Metro Maputo-Matola e o BRT (Bus Ra pid Transit, um corredor exclusivo para

autocarros) –, as quais foram adiadas pelo Governo de Filipe Nyusi. Por razões económicas. E políticas. Sem esmorecer, o CMM avançou com projectos mais pragmáticos e menos onerosos, que já circulam, nos autocar ros novos, nos comboios dos CFM ligando a Baixa de Maputo à Matola e Boane e, por um destes dias, nos barcos que po derão reerguer Inhaca. Acresceu-lhes a criação, no final de 2017, da Agência Metropolitana de Transporte de Maputo (AMT), cuja administração tomou posse em Agosto. Era o elo que faltava para formalizar, integrar e ordenar todo um sistema de transportes urbanos – ro doviário, ferroviário e marítimo, quiçá fluvial – que sirva, com eficiência e qua lidade, um universo de 3,7 milhões de pessoas estimadas até 2035, as quais re presentarão 6,5 milhões de deslocações diárias na grande Maputo.

Eficiência privada “Começamos por tentar organizar os próprios operadores, porque é crucial a mentalidade de quem presta o serviço:

se está preparado para migrar para um novo modelo – integrado, organizado –, se cumpre horários, frequências e lota ção...”, explica João Matlombe. Nesse con texto, e segundo o vereador do Trans porte e Trânsito do CMM, um projecto adoptado em 2016 logrou romper para digmas e vencer a resistência à novi dade. “Mostrámos que é possível tornar rentável o transporte público urbano com a formalização dos operadores e le var, assim, o Estado a reorientar a sua in tervenção em benefício do passageiro”. Matlombe explica o “modelo ousado” do CMM: “Criámos uma cooperativa 100% privada e alocámos 50 autocarros, para que tivesse um ganho de escala, me diante uma espécie de leasing: o Estado compra as viaturas (cerca de 9 milhões de meticais cada, incluindo manuten ção e seguro contra todos os riscos) e entrega-as aos privados, que cobrem 25% do custo com parte das receitas. O resto vai para subsidiar o passa geiro”. O primeiro corredor foi o da EN1, Zimpeto-Museu-Baixa (o segun do maior depois de Maputo-Matola).

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MY LOVE, O AMOR SOBRE RODAS É PRECÁRIO, MAS BARATO

O transporte de pessoas em carrinhas de caixa aberta – crismadas de “My Love” (meu amor), numa tradução ridente da circunstância de os passageiros apinhados, para evitarem quedas, se agarrarem uns aos outros em busca do equilíbrio sempre precário – é um fenómeno que, tendo reinado na AMM no início dos anos 1990, regressou em força há uns anos. E com tendência para crescer. Segundo estudos do CMM, em 2015 os “my love” garantiam as deslocações de sete a dez mil pessoas por dia; no ano passado, havia já 226 carrinhas a fazer o transporte diário de mais de 16 mil.

O impulso dos “my love” resulta da crise económica que se abateu sobre Moçambique em 2015. Na altura, cerca de 15 por cento dos quase 4 500 “Chapa 100” da AMM abandonaram a actividade devido à recusa da revisão de tarifa pelo Governo (fixada em 2008) e por dificuldades de reposição e manutenção da frota – a maior parte das viaturas, vindas do Japão já com 10 a 15 anos de uso, não sobrevive a meia década de serviço; e todas as peças, sendo importadas, obrigam ao dispêndio das divisas que não há.

Além disso, e não obstante os riscos, os “my love” são preferidos por razões de sobrevivência. É mais barato – 5 ou 6 meticais, quase metade dos “Chapa 100”,

o que é determinante para passageiros de baixa renda, que gastam cerca de 48% do salário mínimo em deslocações para o emprego; e além do mais, é mais rápido a chegar ao destino.

“O ‘my love’ é uma viatura de um proprietário – alguns até são funcionários públicos... –, que vive num bairro, e, quando sai de manhã com a sua carrinha particular, carrega toda a gente da vizinhança. Não faz “chapa”: é um transporte de oportunidade”, explica o vereador dos Transportes do CMM. “Chegando ao fim do dia, os vizinhos já o conhecem e regressam com ele. Vai cobrando assim, sucessivamente, e fica cativo”, diz.

Neste contexto, observa João Matlombe, “mesmo que mande um autocarro em condições, as pessoas não o apanham porque lhes sai mais barato e porque, ao não seguir o itinerário, não têm de ficar na fila. O ‘my love’ vai fazendo os caminhos dele – hoje por aqui, amanhã por acolá... – mas as pessoas sabem que vai acabar por chegar à Baixa”. Por isso, Matlombe é cauteloso no que respeita à erradicação compulsiva dos “my love”: “Não podemos acordar e dizer que já não há carrinhas sem atender a essa gente que ganha pouco e consegue chegar ao local de trabalho”, refere. Pragmático – como os utentes dos “my love”, afinal.

“Para responder à demanda, seriam ne cessários 90 veículos, mas foi uma forma de começar e avaliar os ganhos do sec tor privado”, justifica.

Volvidos quase dois anos, celebra-se o êxito e alarga-se o conceito: “Ampliamos de um corredor para seis, os operadores organizaram-se em outras tantas coope rativas, e subimos de 50 para mais 300 autocarros para toda a AMM”. Engloban do as duas transportadoras municipais (Maputo e Matola), este sistema trans porta, no conjunto e em média, 480 mil passageiros por dia”. É bom, mas insufi ciente: “A procura ronda mais ou menos 600 mil passageiros por dia.”

Chapas confinados à periferia

Eles passarão a operar já não por corre dores, como acontece hoje, mas por zonas. Com o zonamento – cuja definição está em debate com os operadores e o Ban co Mundial – os chapas terão uma nova vocação. “O zonamento vai permitir in tegrar os ‘chapas’. Os autocarros gran des que estamos a alocar agora fazem as vias principais, dentro das suas zonas de concessão, mas do interior do bairro o transporte fica a cargo dos ‘chapas’”. Para João Matlombe, “os ‘chapas’ vão ser, assim, os grandes alimentadores dos au tocarros dentro da zona de concessão. Ficam integrados no sistema e baixam a tarifa, obviamente, porque fazem per cursos curtos”, declara o vereador de Maputo, confessando o seu desejo a mé dio prazo: “Em dez anos, teremos de ter menos ‘chapas’ no centro da cidade. Os ‘chapas’ – cujo universo, em 2012, se esti mava em 4 500 e hoje deverá rondar os 5 mil a operarem em cerca de 130 rotas – vão ter uma morte natural”, decreta. Morrem uns, ressuscitam-se outros. En terrado o nascituro Metro de Superfície entre Maputo e a Matola, identificou -se uma alternativa ferroviária, com a vantagem da infra-estrutura já existir. “Procuramos com o sector privado via bilizar uma linha férrea dos CFM ocio sa, com uma ocupação abaixo dos 20%”. Concebida para transportar merca dorias, a esmagadora maioria destas circula a bordo de quase 900 camiões diários, congestionando a EN4. “Havia o receio de que não funcionasse por ser solução nova”, refere Matlombe, sem poupar elogios ao “arrojo” da Fleetrail. Em parceria com os CFM, a empresa privada importou da Nova Zelândia automotoras diesel e, por um milhão de dólares, concebeu o Metrobus, sistema integrado de transporte de passagei

SOCIEDADE Outubro 2018 56
My Love: um tipo de transporte que tenderá a acabar por razões de segurança

ros composto por 16 carruagens e 100 autocarros nos quais se viaja com o mes mo bilhete. “Os comboios deixam os pas sageiros na Estação Central de Maputo e eles ali apanham os autocarros que os levam até aos vários destinos.”

O Metrobus superou expectativas: “Ini ciamos no final de 2017, em fase expe rimental, a ligação Maputo-Matola e Boane; em Maio, já transportava 6 000 passageiros por dia. Surpreendeu-nos a procura”, confessa Matlombe. O Metro bus tem ainda restrições, faz só de qua tro a seis viagens diárias. “Mas estamos a trabalhar para ter frequência regular também ao final da tarde. Ainda temos quase mais 50% da capacidade do siste ma para resolver os problemas e vamos avançar com o Metrobus para a linha Maputo-Marracuene. É uma solução que se vai consolidar”, alvitra o vereador. Mais problemática será a ligação ao Dis trito de KaNyaka (Inhaca). A população local, de 6 095 pessoas está refém de uma embarcação solitária, a cargo da empre sa pública Transmarítima, cuja frequên cia é escassa e, não raro, ausente por

avaria. Quando funciona, leva uma hora a vencer 32 quilómetros até ao continen te. De acordo com Matlombe, pelo final do ano haverá novo barco; “mas, para uma solução estável, precisaríamos de mais um”, admite. “A tendência das pessoas é sairem de manhã e voltarem ao final do dia mas, só com uma embarcação, não há certezas. Se ela tiver problemas, como voltam? Esse é o dilema”, diz, concluindo: “Em Inhaca, precisamos de duas embar cações que funcionem regularmente”. Ainda não é o caso, nem será tão já...

Integração total

O conceito de integração assenta num bilhete único, electrónico, que sirva para todos os transportes metropolitanos du rante determinado período.

As vantagens são múltiplas. Desde logo, no combate à fraude, que “chega aos 30% nas empresas municipais, com o mesmo bilhete a ser vendido meia dúzia de vezes”, garante Matlombe. Mais importante ainda, irá fornecer da dos cruciais à gestão de meios e verbas. “Teremos informação fidedigna para

discutir com os operadores o custo real do transporte. Como a leitura do bilhete é imediata e dá o registo do itinerário, vou conseguir saber se o autocarro cumpriu o previsto”. E se houverem falhas o siste ma fica em défice. Depois, com a bilhética a funcionar, o Estado poderá financiar os utentes por condição e viagem – se é estudante, idoso, deficiente – deixando de simplesmente desembol sar 50 milhões de meticais por mês, como faz hoje, sem poder avaliar a pertinência da verba. O mais fácil do projecto acaba por ser a instalação do sistema, a iniciar em 2019, em todos os autocarros – os 300 mais recentes já trazem torniquete. O mais difícil, como sempre, será mudar mentalidades. O bilhete único terá de re presentar uma mais-valia para o utente e novas funções para os cobradores, que ficarão na rua a vender os bilhetes, com PDA – dispositivos electrónicos portáteis. Uma vez operacional, com os operado res organizados por empresas e zonas e devidamente equipados, o bilhete será a consumação da possibilidade de, num futuro mais risonho, tornar realidade o metro de superfície de Maputo.

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Outubro 2018
‘Chapa’: serão hoje mais de 5 mil e continuam a ser o meio de transporte urbano mais utilizado
Divisão da grande Maputo em zonas preconiza inter-modalidade entre “chapas” e autocarros com mais capacidade de transporte

Uma visão sobre o papel do Estado na economia

a discussão sobre o papel do estado na economia é incon clusiva e alvo de acesos debates nos círculos académicos, nos media, na indústria de desenvolvimento e no quadro da discus são de políticas públicas. Se por um lado é um tema permanente nas agendas de de senvolvimento de todos os países, por outro ele remete-nos a questões controversas sobre a ideologia e a prática de desen volvimento, com contornos particulares em cada país e mesmo dentro deles, e ainda com nuances específicas em cada sector. Esse debate é já antigo, mas teve uma nova roupagem no pe ríodo anterior a II Guerra Mundial, e teve como alguns dos seus intérpretes destacáveis John Maynard Keynes e Friedrich Hayek, dois professores da London School of Economics.

A história registou que a economia alemã do período anterior à segunda guerra mundial era controlada rigorosamente pelo Estado, e na Grã-Bretanha haviam alguns segmentos que acre ditavam que “era o Estado que devia controlar as coisas”. Hayek acreditava que o contexto de guerra levava, invaria velmente à tendência dos Estados controlarem a economia, a privar as pessoas da sua liberdade e a terem uma postura pró xima do “totalitarismo”.

Evitar repetição das crises

John Keynes defendia que para evitar a repetição da “Grande Depressão” da década de 1930, os Estados deviam intervir nas suas economias pois, se as pessoas gastassem mais, a economia produziria também ela mais, e os desempregados seriam pos tos de novo a trabalhar. Ele defendia também que quando as pessoas poupam mais do que gastam e os empresários param de investir, há em geral menos gastos e a economia cessa o seu crescimento. Para contrariar essa tendência o Estado pode gastar mais do que recolhe em impostos gerando um “défice orçamental”, e quando a economia recuperar e mais pessoas estiverem

empregadas e a ter rendimento, então o Estado recolhe uma fatia maior de impostos e o défice vai-se reduzindo. Outra abordagem adoptada pela teoria keynesiana é a da re dução dos impostos, o que impulsiona a procura na economia. Depois de algumas décadas de crescimento económico e redu ção do desemprego, nos anos de 1970 a teoria keynesiana per deu o seu brilho, em parte graças à visão de Milton Friedman, da Escola Económica de Chicago, que criticava a interferência económica do Estado na economia e defendia que os princípios do mercado deviam governar a sociedade. Para os defensores da teoria monetarista, um aumento da ofer ta de moeda encoraja, a curto prazo, as despesas e conduz a uma maior produtividade. A receita de Friedman era contro lar rigorosamente a oferta de moeda para reduzir a inflação.

Um outro olhar sobre o mesmo problema Na verdade, e ao contrário do que é propagado aos quatro ven tos, muitas das economias são uma combinação equilibrada de liberdade económica e intervenção selectiva do Estado, uma es pécie de meio termo entre capitalismo e socialismo. Hoje em dia, e independentemente da orientação ideológica adoptada, a maior parte das economias são um misto de negó cios privados e acção firme do Estado quando o mercado gera graves e severas distorções.

Grande parte da controvérsia entre os economistas incide so bre onde deve ser estabelecido esse limite entre o Estado e o mercado, e na escolha de como intervir, bem como onde se deve, e onde não se pode ou deve intervir.

Mais recentemente, muitos especialistas têm vindo a concor dar que uma intervenção estratégica, criteriosa e oportuna do Estado na economia surge em decorrência das falhas de mer cado em alcançar a alocação eficiente de recursos, permite re duzir as externalidades negativas provocadas pelo “dogma do mercado”, e a viabilizar políticas activas de combate à fome e

Moçambique tem de criar o seu próprio roteiro, estabelecer os seus próprios limites e estar permanentemente avisado para manter o equilíbrio saudável entre a necessidade premente de promover crescimento sustentável e desenvolvimento económico lado a lado

OPINIÃO Outubro 2018 58
Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique

à pobreza, criação de mais empregos e redução das abismais desigualdades sociais. Como se sabe, o “Consenso de Washing ton” perdeu a sua capacidade explicativa e o seu “estatuto de receita a ser seguida por todos” e foi questionado, parcialmente, pelos resultados concretos do “boom de crescimento” no Japão, Singapura, Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong, e mais recente mente na China, num modelo em que o Estado tem um papel activo no desenvolvimento.

O caso da China é emblemático, estando esse país a delinear os contornos de um capitalismo de feição peculiar.

Esses novos paradigmas económicos e de desenvolvimento foram influenciados por teorias mais recentes como a do de senvolvimento humano advogada pelo PNUD e pela visão ino vadora de autores como Amartya Sen, autor do livro “Desen volvimento Como Liberdade”, que defende uma abordagem de desenvolvimento holística e integrada, que não seja exclusi vamente dependente da obtenção de renda, mas que se com plementa com o acesso à educação, obtenção de habilitações e competências, acesso aos serviços de saúde, melhoria dos me canismos de participação do cidadão nas várias esferas públi cas e mais liberdade para fazer escolhas.

Um novo capitalismo para novos problemas A visão de Han-J. Chang, autor de “As Nações Hipócritas” traz mais condimentos para um debate já por si, muito ruidoso. Ele advoga que os países ricos estão a atirar para longe as esca das que eles próprios usaram para subir, e isso é uma grande hipocrisia, pois não seriam o que hoje são se tivessem adoptado as políticas e instituições que recomendam às Nações em desen volvimento, razão pela qual actuam como “maus samaritanos”. Um exemplo paradigmático é o das políticas proteccionistas, que muitas Nações Prósperas têm vindo a adoptar na altura do seu

“arranque” para o desenvolvimento industrial. Essa perspecti va é partilhada, de certa forma, por Daren Acemoglu e James Robinson, na sua obra “Porque Falham as Nações”, evidenciando que todos os países ricos possuem instituições fortes e injectam doses variáveis de liberdade e acção das forças de mercado com intervenções estratégicas do sector público para corrigir as fa lhas que esse mesmo mercado abandonado à sua própria sorte vai causando.

Apesar de, em momentos de crise, questionar-se muito o papel e a dimensão do Estado, em particular pelos liberais, neo-libe rais, e monetaristas, outras abordagens como a do Estado provi dência, o Estado de bem-estar social, das expectativas racionais, o Estado desenvolvimentista, estruturalistas e instituciona listas também reconhecem os perigos sempre presentes de ter “falhas de governo”, relacionando a intervenção do Estado com a alta inflação, o déficit público, o elevado endividamento, a ineficiência da gestão, com as empresas públicas onerosas, a elevada carga tributária, o desperdício de dinheiro dos contri buintes, as assimetrias de informação, o problema da agência, do burocratismo e da corrupção. Moçambique terá inevitavelmente de criar o seu próprio ro teiro, estabelecer os seus próprios limites e estar permanen temente avisado para manter o equilíbrio saudável entre a necessidade de promover crescimento, conciliando o desen volvimento económico, o combate à pobreza e o atenuar das gritantes assimetrias sociais.

Algo que, hoje, parece indiscutível é a necessidade de assegu rar o empoderamento das instituições públicas e das empresas privadas, não se esquecendo obviamente do papel que a socie dade civil vai ter de desempenhar em todo este jogo do desen volvimento multilateral em Moçambique”, naquilo que o soció logo Ralf Darhendorf denomina da “Quadratura do Circulo”.

Outubro 2018 59
Grande depressão de 1929: o colapso do capitalismo levou a mudanças na forma de olhar a intervenção dos Estados na economia

ZIMBABWE ABERTO PARA O ‘BUSINESS’

Vem de um colapso económico que fez o país entrar para o livro dos recordes de inflação, com uma quebra da produção sem precedentes, sobretudo ao nível alimentar. Mas, se os indicadores ainda não são animadores, já se notam sinais de mudança que podem afastar o espectro de miséria em que o Zimbabwe tem sobrevivido

‘o celeiro de áfrica’. Era este o epíte to do Zimbabwe, e como ele era conheci do por todos antes da crise que começou na viragem do século, quando tinha uma agricultura tão produtiva que alimenta va toda a população e gerava ainda recei tas significativas oriundas da exportação. Mas a imagem de fartura definhou e uma economia que era exemplo a seguir, transformou-se num caso de estudo e re flexão sobre os erros que os governos po dem cometer ao realizar reformas. No entanto, há ténues sinais que indicam que a economia do Zimbabwe experi menta um período de recuperação, ain da que tímido, iniciado em 2010, embora

haja ainda um conjunto de indicadores que, a nível político, social e até económi co, abrem espaço de reflexão e análise sobre o que se espera daqui em diante.

LÁ FORA 159

A recuperação está a chegar?

O analista político e professor universitá rio, João Pereira, e o professor de econo mia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Constantino Marrengula, enten dem que o Zimbabwe começou agora – ao fim de 18 anos desde o início da cri se – “a dar os primeiros passos visíveis em direccção a uma retoma consistente com a estabilidade económica necessára.” Associam a sua visão “à abertura que

É A POSIÇÃO QUE O ZIMBABWE OCUPA NO RANKING DOING BUSINESS 2018 ENTRE 190 PAÍSES AVALIADOS, O QUE DIFICULTA A CAPTAÇÃO DE NOVOS INVESTIMENTOS

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o Governo do recém-eleito Presidente Emerson Mnangagwa está a realizar pa ra recuperar a produção agrícola, cap tar investimento externo e reorganizar os serviços públicos, que sofreram muito com a redução dos fluxos financeiros.”

O principal factor que pode abrir o ca minho para o sucesso são mesmo as mu danças de abordagem introduzidas no sector agrícola e que têm estado a oca sionar elogios ao presidente do Zim babwe, por criar a possibilidade de os farmeiros brancos voltarem a produzir em terras que tinham perdido, expul sos pelo seu antecessor, Robert Mugabe. “Trazer de volta aqueles que garantiam a produção agrícola e a estabilidade da economia zimbabweana é uma decisão que trará resultados visíveis”, defende Constantino Marrengula.

Na mesma linha, João Pereira considera que “Mnangagwa lançou uma forte ofen siva para corrigir os erros de 2000. E os resultados vão aparecer: o país poderá regressar à rota de um crescimento sóli do, se os farmeiros brancos recuperarem as fazendas”.

É que em Fevereiro deste ano, antes mes mo da sua eleição (em Agosto), o governo de Mnangagwa decidiu oferecer contra tos de arrendamento de 99 anos aos agri cultores brancos do país, numa iniciativa para restabelecer a confiança dos inves tidores após o afastamento do ex-presi dente Robert Mugabe.

Os contratos de arrendamento tinham, até então, cinco anos de duração e os agricul tores que eram beneficiários desta medi da são os cerca de 200 que se mantiveram no país apesar da controversa reforma agrária de Mubage, que colocou cerca de 4 500 agricultores brancos sem terra. A decisão de Mnangagwa foi bem rece bida por muitos agricultores, que a veêm como um passo na recuperação do seu en volvimento na agricultura do Zimbabwe. É uma medida que também ganhou a simpatia de analistas políticos e económi cos, não só de Moçambique, como de vá rios países e organizações, incluindo do Banco Mundial, tendo generalizado o op timismo quanto à retoma à estabilidade.

Busca pelo investimento externo

O pesquisador do Instituto Superior de Relações Internacionais, Calton Cadeado, também atribui mérito à abertura que o novo Governo está a realizar para re cuperar Investimento Directo Estrangei ro (IDE), que sofreu uma erosão histórica durante a crise, contrariando a imagem fechada e o desentendimento com o

OS GRANDES PROBLEMAS DO ZIMBABWE

Desemprego

Com a quebra da economia na casa dos 40% nos primeiros anos da década, as estimativas de desemprego ressentiram-se disso. Embora variem muito, a principal organização sindical do país aponta para uma taxa de 90% de desemprego no sector formal. Grande parte dos seus cerca de 16,7 milhões de habitantes trabalha ainda no sector informal.

Pobreza

Entre 2000 e 2008, as taxas aumentaram em mais de 72%.

Ainda pior, e de acordo com o Banco Mundial, a população em situação de pobreza extrema aumentou 20%, e não se consegue ultrapassar uma esperança média de vida para lá dos 61 anos.

Um outro dado que dá que pensar, são os 27% de crianças com menos de 5 anos com problemas de crescimento, 9% delas em estado considerado muito grave por desnutrição crónica, segundo a Pesquisa Demográfica e de Saúde do país, de 2015.

Alfabetização

Em resultado dos grandes investimentos na educação encetados logo após a independência (1980), o Zimbabwe apresenta uma das maiores taxas de alfabetização em África, com 89% dos adultos capazes de ler e escrever, de acordo com dados de 2014 do Banco Mundial.

Na África Subsaariana ela é, ainda hoje, de 64% (Moçambique fica-se pelos 44,9%). No entanto, este país com tradição na formação de capital humano de qualidade, tem visto os seus quadros (sobretudo em áreas técnicas, como a mineração) saírem para os mercados vizinhos.

Ocidente a que o antigo Presidente Robert Mugabe tinha habituado o mundo ao longo dos seus 37 anos de poder quase absoluto. Em Janeiro deste ano, Mnangagwa com pareceu ao fórum Económico de Davos, na Suíça, para tentar captar investimen to estrangeiro para a economia zimba bweana. O agora presidente fê-lo com o propósito de convencer investidores que, após o golpe de Estado que em Novem bro do ano passado depôs Robert Muga be, está empenhado na criação de novas condições para receber investimento estrangeiro.

Com a mesma intenção, em Abril passa do, Mnangagwa foi também à China e re cebeu do seu homólogo, Xi Jinping – que o chamou de “velho amigo da China” – a pro messa de investimentos do gigante asiáti co em diversos sectores de actividade. Meses antes, logo a abrir o ano, já o Pre sidente do Zimbabwe tinha visitado Mo çambique para “estreitar os históricos laços de cooperação”, tendo depois segui do para um périplo por outros países da região. “O novo Governo está a criar uma imagem diferente e já é visto com alguma simpatia pelos países que anteriormente lhe eram hostis, pelo estilo adoptado por Mugabe. Este facto pode acelerar a re toma dos investimentos, e marcar defi nitivamente o início do fim das sanções económicas impostas pelo Ocidente”, con clui Calton Cadeado.

Reordenar os serviços públicos A este nível, há ainda um longo caminho a percorrer mas alguns passos estão já a ser seguidos pelo novo executivo. Mas antes, é importante ver, através de alguns exemplos, até que ponto a de pressão económica desestabilizou o sec tor público e agudizou a pobreza. Em 2008 e 2009, os anos do auge da crise, o país perdeu mais de 20 mil professores a fa vor dos países vizinhos devido à diferen ça de remuneração. Mais recentemente, já em Janeiro deste ano, o site News24 da África do Sul, descrevia outros cenários desafiadores da dimensão da tarefa do novo governo: a empresa estatal de ca minhos-de-ferro (National Railways of Zimbabwe) está a utilizar comboios ve lhos, com os carris e restante infra-estru tura degradada e com falta de pessoal; os hospitais não têm medicamentos bási cos, e muitas escolas estão sem meios pa ra garantirem a educação das crianças. Não admira que as greves se tenham ge neralizado e o Governo esteja a desdo brar-se em acções para restabelecer a ordem. Em Abril deste ano, após quatro

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LÁ FORA

UMA DÉCADA DE DEPRESSÃO...

A reforma agrária do início do século levou a uma quebra do desempenho global da economia durante vários anos consecutivos que se reflectiu na redução da produção de riqueza e no elevadíssimo aumento do custo de vida. Em Julho de 2008, o nível de preços bateu um recorde mundial na ordem de 231 000 000%

... MAS AGRICULTURA RECUPERA

É um dos mais importantes sinais de retoma. A produção agrícola está a crescer desde 2017, fechando um ciclo de crescimento negativo determinado pela substituição dos farmeiros brancos pelos agricultores nativos, com fraco domínio de técnicas de cultivo. A agricultura tem um peso de aproximadamente 90% no PIB do país

Crescimento da contribuição do sector agrícola no PIB, em percentagem

1,4 0,7 2,9 0,9

-14

-10

Variação do crescimento do PIB, em percentagem 3 0 -3 -6 -9 -12 -15 20102012 2014 2016 2017 2018

dias de severas manifestações dos en fermeiros que reivindicavam salários atrasados, Mnangagwa cedeu, e iniciou o pagamento, solicitando a cerca de 16 mil enfermeiros que regressassem aos seus postos de trabalho, corrigindo a demis são decretada pelo seu próprio governo. E convocou, igualmente, os enfermeiros recém-formados que não tinham ainda emprego, a candidatarem-se a vagas de emprego no sector público. E mesmo na educação, que sempre foi uma área social em que o Zimbabwe apresentou excelentes indicadores, (com a mais elevada taxa de alfabetismo do continente africano), com uma quase to tal cobertura, em quantidade e qualidade do ensino escolar, prevalecem os salários baixos dos professores. E nem o aumento de 10% anunciado em Maio passado agra da aos profissionais, demonstrando no en tanto, uma vez mais, a sua capacidade para, pelo menos, tentar resolver alguns dos mais graves problemas do Zimbabwe. Ainda assim, se por um lado há esforços notórios que fazem prever a recuperação do Zimbabwe nos próximos anos, por ou tro, há fenómenos que podem prolongar

2 3 2,5

3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 -5 201520162017 2018 2019

-4,7

o período de instabilidade deste país vizi nho, e que estão na origem da divergên cia de leituras quanto ao que está por vir.

Fraco ambiente de negócios Durante a campanha eleitoral, tanto Nel son Chamisa, do Movimento para a Mu dança Democrática, como o Presidente em exercício, Emmerson Mnangagwa, da União Nacional Africana do Zimba bwe - Frente Patriótica (ZANU-PF), fize ram promessas para alterar a situação económica e financeira do país. Todas difí ceis de alcançar.. “O Zimbabwe tornar-se -á uma nova jóia em África”, anunciava Mnangagwa recentemente.

Para o economista João Feijó, mesmo após as eleições, “há riscos políticos oca sionados pela instabilidade pós-eleito ral (que opôs os partidos ZANU-PF no poder e o principal opositor MDC) e que podem resvalar em violência e insta bilidade social, criando um ambiente desfavorável para a realização de no vos investimentos e, consequentemente, deitando abaixo os esforços que o Pre sidente Mnangagwa está a realizar.”

Todo o cenário que se vai conhecendo do

É

O NÚMERO DE FARMEIROS BRANCOS QUE PERDERAM EXTENSÕES DE TERRA A FAVOR DE AGRICULTORES NEGROS, NO QUADRO DA REFORMA AGRÁRIA

DO EX-PRESIDENTE MUGABE, NO ANO 2000. ABRE-SE, AGORA, A HIPÓTESE DE RECUPERAREM AS TERRAS, À LUZ DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO DE 99 ANOS, APROVADO PELO NOVO GOVERNO

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FONTE Banco Mundial
4 500
-3,7

país ao longo dos anos tem, naturalmen te, efeitos ao nível dos rankings interna cionais. Hoje, o Zimbabwe é um dos países com pior classificação internacional no ranking Doing Business do Banco Mun dial, que avalia o ambiente de negócios em 190 países. Na edição de 2018 do estu do, a economia ocupa uma modesta 159ª posição (21 posições abaixo de Moçambi que, também mal posicionado), o que não deixa de ser um péssimo indicador pa ra os principais investidores externos. O país apresenta má classificação em itens como a facilidade na obtenção de cré dito, de licença de construção; protecção de investidores minoritários; pagamento de impostos e comércio transfronteiriço.

Fuga de mão-de-obra qualificada Com um sistema de educação funcio nal e gerador de competências, o país é também um ‘celeiro’ de quadros com qualificações para diversos sectores de actividade, incluindo a área minei ra (principalmente ouro e platina), cons truções e diversas áreas de serviços. Mas, com a crise, muitos destes quadros abandonaram o mercado local, procu

rando oportunidades noutros países, incluindo os da região, com destaque pa ra África do Sul, Angola e Botswana. “A retoma do Zimbabwe também depen de da capacidade que o país irá criar para estimular os seus quadros a regres sarem”, defende João Feijó.

Fraco apoio internacional AInda a sofrer as consequências de san ções impostas pelas grandes potências ocidentais desde 2001 (económicas e fi nanceiras foram impostas pelos Estados Unidos, em resposta às graves violações dos direitos humanos e desrespeito ao Estado de direito), elas mesmas incluem restrições no apoio financeiro norte-ame ricano, exclusão de viagens para os Esta dos Unidos de determinados indivíduos, limitação de trocas comerciais de bens de defesa e serviços, e suspensão de todo o apoio governamental não-humanitário. E não foram só os EUA. Até o programa de empréstimos do Banco Mundial está inactivo há alguns anos, “estando agora limitado à assistência técnica e trabalho analítico através de fundos fiduciários. A esse respeito, há alguns apoios que,

Uma breve visita à história recente do Zimbabwe pode ajudar a perceber a profundidade da crise em que tem estado mergulhado.

Antes de 2000, a agricultura representava entre 9 e 15% da riqueza nacional e entre 20 e 33% de todas as receitas de exportação. Além disso, contribuía com mais de 60% da matéria-prima para a agro-indústria, e garantia a subsistência de 70% dos seus 16,7 milhões de habitantes. O programa de reforma agrária de Mugabe, no ano 2 000, mudou tudo. Cerca de 4 500 farmeiros brancos foram obrigados a abandonar dezenas de milhões de hectares de terras produtivas (visto que dominavam as técnicas de produção), a favor de agricultores negros, que levaram a agricultura ao colapso. Esse fenómeno teve efeitos catastróficos em todos os sectores da economia. Em 2008, a inflação duplicava a cada 24 horas, as taxas de câmbio caíram como em poucos casos na história mundial, e o desemprego cavalgou.

após Mugabe ter sido deposto, começa ram a avançar. O principal de todos, é o Fundo Fiduciário de Reconstrução do Zimbabwe (ZIMREF), que provém de vá rios doadores (Dinamarca, União Euro peia, Alemanha, Noruega, Suécia, Suíça e Reino Unido), aprovado em Maio de 2014 e com término em Dezembro de 2019. O objectivo da ZIMREF é contribuir para o fortalecimento dos sistemas de recons trução e desenvolvimento do Zimbabwe, com foco “na estabilização e reforma, de senvolvimento e redução da pobreza através de oito projectos operacionais que incluem o Projecto Nacional da Água, ava liado em 10 milhões de dólares; Projecto de Aprimoramento da Gestão Financeira Pública (10 milhões de dólares); o Projecto de Modernização de Aquisições Públicas (2 milhões); Ambiente de Negócios, Sec tor Financeiro e Política de Investimentos (3,2 milhões). Para já, são ainda pequenas ajudas para a dimensão do problema. Mas é preciso começar por algum lado.

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O COLAPSO DA ECONOMIA DO ZIMBABWE
CHAMBISSO FOTOGRAFIA D.R.
TEXTO CELSO

Do ‘Big Mac’ ao spring roll. Ou quando a fome se junta com a vontade de comer

dizem-nos as notícias que, em finais de Setembro, no início do seu discurso perante a Assembleia Geral das Nações Uni dadas, em Nova Iorque, Donald Trump pintou as palavras com as cores da bandeira norte-americana, carregando-as com a exaltação do princípio “América Primeiro”, garantindo que colocará os interesses dos Estados Unidos em primeiro lugar (o que só é uma novidade dito assim, de forma oralizada), e avisando que, com a sua administração serão rejeitados “os valores do globalismo multilateralista” em prol do interesse norte-americano.

A globalização não terá sido inventada por nenhum natural do Michigan, ou do Ohio, nem sequer por um investigador do MIT. Nasceu quando se tornou necessário encontrar um termo que fizesse jus à evolução das sociedades contemporâneas, e que fizesse o mundo parecer redondo. E achatado nas pontas. Mas, os Estados Unidos serão, por certo, das economias que mais a fizeram, à Economia, tornar-se o que é hoje. Global. É redundante (como o mundo), mas é necessário. Na verdade, não fosse isto uma página de uma revista, seria o lugar indicado para dizer que “o que eles querem sabemos nós. É globalizar o capital porque o dinheiro não tem cor, ao contrário das pessoas.” Mas não estamos no café e aqui não se diz, escreve-se. E as sim, por escrito, os ditos populares não causam o mesmo efeito. A este respeito, e até porque dedicamos esta edição da E&M à indústria da criatividade, lembro-me de um filme que vi re centemente, chamado “O Fundador”. Nele, conta-se a história de como Ray Kroc criou a McDonald’s, a maior cadeia de ‘fast-food’ no mundo (facturou 5,4 mil milhões de dólares no ano passado). E também se como este “fundador”, afinal não o foi. Sem querer estragar o final da história, percebemos como, por vezes, uma boa ideia não chega e é preciso ter visão, sa ber fazer e, especialmente, querer crescer. Muito. E ficamos também a perceber como Kroc transformou um pequeno restaurante familiar (criado pelos irmãos Mcdonald que aca baram, claro, na bancarrota), que só utilizava produtos locais

de qualidade e que não queria crescer, tornando-o no maior detentor de património imóvel em todo o mundo. Deles, dos Mcdonald, manteve-lhes o nome e o sistema de produção em série que inventaram para a cozinha e que lhes permitia uma produtividade nunca antes vista no negócio. Apenas isso. E sim, não é gralha. O twist do negócio dos hambúrgeres deu -se quando o seu “fundador” (então apenas responsável pelo franchise da marca nos EUA), descobriu que não tinha outra forma de controlar os seus franchisados (que se desviavam da ementa original, afastando-se da identidade da marca), que não fosse adquirir os terrenos onde estavam implemen tados, construir os restaurantes de forma standartizada e tornar-se senhorio, controlando o negócio dos seus locatários. Assim se criou um monstro mundial. Ou global, no caso. Hoje, os maiores símbolos do globalismo que convive connosco todos os dias, são efectivamente norte-americanos. Da Coca Cola à Pepsi, da Budweiser ao Jack Daniels, da McDonald’s à Pizza Hut, da Ford à Tesla, da Microsoft à Apple, da Google ao Facebook. O dólar é universal, a Internet tam bém, e até mesmo Trump é global.

O que nos faz pensar num outro conceito, diametralmente opos to, mas igualmente eficaz na sua ideologia de expansão, como é o caso da China. E de como uma marca pode marcar, sem o ser. O ‘spring roll’ (sim, não é apenas típico da China mas de todo o sudeste asiático) exemplifica na perfeição (gastronómica no caso) o que representam, hoje, estas duas potências económi cas para o mundo, para África, onde predominam claramente, e até uma para a outra.

Uma é trabalhada como marca potenciada ao extremo e an corada num modelo de negócio completamente mecanizado. A outra, é baseada numa cultura milenar e igualmente pouco saudável quanto está disseminada pelo mundo. Mas as duas têm algo em comum. O apetite. O nosso e o das culturas que simbolizam: EUA e China, dois mercados que têm sempre fome, e cada vez mais vontade de comer. O mundo, neste caso.

Hoje, os maiores símbolos do globalismo com que convivemos são efectivamente norte-americanos.

Da Coca Cola à Pepsi, da Budweiser ao Jack Daniels, da McDonald’s à Pizza Hut, da Ford à Tesla, da Microsoft à Apple, da Google ao Facebook. O dólar, a Internet e até mesmo Trump são globais

OPINIÃO Outubro 2018 64

ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

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Uma viagem a Cuba, das gentes aos sabores com a história que permanece intocada pela (r)evolução

e

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A gastronomia turca na sua forma mais essencial. E descobrir uma outra Istambul aqui mesmo, em Maputo

71

Uma prova de whiskey irlandeses, e a descoberta do que os torna únicos no mundo

g

O LUGAR DA (R)EVOLUÇÃO

com gente humilde, simpá tica e sorridente, Cuba é um arquipélago que congrega nas suas ilhas cerca de onze milhões de pessoas. Está lo calizado na América Central e tem como capital a famosa e caliente cidade de Havana. Uma visita ao país permite perceber que os cubanos es tão ávidos de conhecer outras paragens no mundo. Cuba vi ve, há 56 anos, um isolamento mundial chamado El Bloqueo, decretado pelos Estados Uni dos em 1962. Este embargo não permite que os cubanos façam negócios com os Estados Unidos e dificulta as transac ções financeiras, alimentan do barreiras e a interdição aos investidores naquele país.

No entanto, a luz acesa pe lo presidente Barack Obama ao levantar o embargo – fez mesmo uma visita histórica ao país e reabriu a embaixa da americana de Havana – foi apagada, quando Trump con quistou a Casa Branca. Durante o Bloqueo, os cuba nos abraçaram como consolo a sua música e as suas dan ças, e fazem disso a forma de se afirmar no mundo. Afinal, Fidel Castro sempre defen deu que “sin cultura no hay libertad posible” (“sem cultu ra não há liberdade possível”). Rumba, Salsa, Chá-chá-chá, Bo lero, são alguns dos ritmos que movem a alma dos cubanos. Os cubanos fizeram-se heróis ao olharem para o embar

go de soslaio e ao capitaliza rem tudo o que sabem fazer: estudar e ensinar; cultivar a terra para produzir tabaco, através do qual fazem o fa moso charuto; trabalhar a ca na para produzir o açúcar; processar o café; explorar o níquel e o cobalto. Cedo des pertaram para a beleza natu ral e as lindas paisagens que caracterizam o país, tornan do as suas cidades num des tino turístico de excelência. O turismo contribui, aliás, grandemente para a econo mia cubana e cria milhares de empregos directos. Tam bém a Saúde e a Educação são de excelência. E são gratuitas para todos os cubanos, Há mé dicos para todos e há escolari dade obrigatória da primeira classe à universidade.

duas “havanas” diferentes Depois de aterrar no aero porto, do lado de fora, espe ra-nos o táxi que nos leva até ao hotel. Existem dois tipos de táxi: os amarelos, considera

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CUBA NOITES SUGERIDAS: 5 PREÇO MÉDIO: 29 400 MZN CUBA e

dos oficiais, e os antigos carros americanos, dos anos 60, ge ralmente usados pelos cuba nos por causa do baixo preço que cobram.

Passamos a Havana Velha e o Centro Urbano. A primeira é realmente velha, em ruínas, com edifícios marcados pelo tempo e ruas cheia de gente bonita com alma limpa, onde se vende um pouco de tudo. A segunda é onde estão localiza dos os hotéis, os supermerca dos e os edifícios de luxo, uns em funcionamento e outros em reabilitação.

As duas “Havanas” são divi didas pela Rua do Prado, um mítica ‘calle’ onde se teste munharam alguns dos episó dios históricos que marca(ra) m o país. Hoje, além de tu ristas, há carros alegóri cos e feiras ambulantes. E por ali, muita coisa se pas sa. Da visita do Papa Fran cisco, ao concerto dos Rolling Stones, passando pelas fil magens do filme “Velocidade Furiosa 8”.

Uma nota dominante no turis mo em Cuba é que conquista mais pessoas de idades avan çadas do que jovens.

Há muitos jovens, claro, mas o número está bem longe de ser igual.

Mas, independentemente da idade, quem visita este lugar fá-lo também para degus tar as iguarias locais, os fa mosos Mojitos, a Piña Colada, os charutos e, claro, dar gos to ao pé, na Salsa e na Rumba. Organizados e disciplinados, os cubanos fazem com que o turista se sinta seguro para percorrer as ruas, testemu nhando a história da irman dade e do reconhecimento.

Sim, há estátuas em todas praças. Estátuas dos presi dentes que sempre estive ram com Cuba nos bons e nos maus momentos.

Edifícios novos e modernos estão a ser erguidos, demons trando a (r)evolução de um país ávido para receber – mas também conhecer – o mundo.

INDEPENDENTEMENTE DOS GOSTOS, QUEM VISITA CUBA VAI PARA DEGUSTAR AS IGUARIAS LOCAIS, OS FAMOSOS MOJITOS, A PIÑA COLADA, OS CHARUTOS E, CLARO, DAR GOSTO AO PÉ, NA SALSA

ROTEIRO

COMO IR?

Voar para Cuba pressupõe vôos com escala. De Maputo voa-se para Joanesburgo, onde se faz a ligação para Paris. De França viajará directo para Havana.

ONDE DORMIR?

O Hotel Nacional de Cuba é uma óptima escolha para ficar. Além de ser um encanto pela sua estrutura arquitectónica, é o local de eleição de todos os turistas que por lá passam para revisitar a História e ver o mar. Os quartos, confortáveis, permitem uma vista sem igual.

ONDE COMER?

A gastronomia cubana é apetitosa. No restaurante La Barraca, no Rio Mar, assim como no clássico restaurante Comedor Aguiar, pode degustar-se um arroz de feijão que acompanha quase todos os pratos, com predominância dos mariscos confeccionados ao natural e sem temperos.

Outubro 2018 69

quer seja já um apreciador da gastronomia turca quer nunca a tenha experimenta do, o Istambul deve ser a sua primeira escolha em Maputo. E, sobretudo, se só conhece a versão fast food da cozinha turca, então é imperativo ficar a saber que há muito mais do que o kebab, de que talvez já tenha ouvido falar. Na verdade, este kebab, mui to popular na maior parte dos fast food turcos espalhados pelo mundo, é apenas uma variedade específica, que na Turquia se designa por doner kebab, ou seja, um wrap com carnes, legumes e vegetais que lembra o churrasco gre go. A realidade é que na Tur quia o termo kebab é dado a qualquer cozido no espeto. O kebab pode ser também servido de diversas manei ras: em espetos, guisados, em rolinhinhos com pão sí rio e salada (urfa kebab e adana kebab), e até cozidos em pote de barro, a lem brar o tajini marroquino, sendo designado nalguns

ISTAMBUL DELÍCIAS TURCAS

locais como testi kebab (um prato típico da rgião Centro. Não é por acaso que a gas tronomia turca está, a par da francesa ou da chinesa, entre as mais apreciadas. Ela é ex tremamente diversificada.

A variedade dos pratos e as suas múltiplas combinações tornam-na aliciante, em pra tos que reúnem elementos persas e especiarias árabes e gregas. Algo que não nos deve surpreender pois a culinária turca é o resultado, em larga medida, do privilégio de estar entre o Oriente e o Mediter râneo, e contar com uma com plexa história de imigração entre a Ásia Central ( onde os Turcos se misturaram com os Chineses) e a Europa (que os Turcos conquistaram, a dada altura, até Viena). Mas não só. Há também que ter em aten

EM MAPUTO

ção que este ecletismo culi nário resulta do facto de, ao longo da sua História, sobre tudo durante o período dos Impérios Bizantino e Otoma no, os reis e sultões terem permitido que as cidades absorvessem o melhor da cultura das civilizações sob seu domínio. Para além dis so, eles também facilitaram o intercâmbio de informações entre as caravanas mercan tis que vinham de todos os cantos da Europa Central, da Ásia, dos Balcãs, do Oriente Médio e do continente afri cano. A diversidade da gas tronomia turca é visível na maior parte dos seus pratos. Os legumes, as leguminosas e as carnes misturam-se fre

quentemente como se pode ver, por exemplo, no kurufa suliye, o prato nacional turco, que mistura feijão branco, carne e pimentas secas e é servido acompanhado por pilav (nome dado ao arroz co zido com especiarias) e tursu (picles). As verduras estão sempre também muito pre sentes: ervilhas verdes e brancas, tomates, berinjelas e pimentos servem normal mente de acompanhamento às carnes de cordeiro, vaca e frango em guisados.

Para terminar, aqui ficam algumas sugestões de pratos que pode experimentar no Is tambul. Como a lista de keba bs é extensa e muito variada, um opção possível é escolher o Karisik Kebab que inclui uma variedade deles (e pode ser pedido para 2 ou 4 pessoas).

O Ali Nazik (Sis) – pedaços de carne de vaca com molho de iogurte – ou o Kiremit Kofte – almôndegas servidas em prato de barro – são duas ex celentes opções.

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ONDE Maputo Shopping Aberto todos os dias
RESTAURANTE ISTAMBUL
A CULINÁRIA TURCA É O RESULTADO, EM LARGA MEDIDA, DO PRIVILÉGIO DE ESTAR ENTRE O ORIENTE E O MEDITERRÂNEO
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JAMESON BLACK BARREL

O IRISH É A CATEGORIA DE WHISKEY COM MAIOR CRESCIMENTO NO MUNDO EM TERMOS DE VENDAS. E O LÍDER NESTA CATEGORIA É O JAMESON

PAÍS: Irlanda

REGIÃO: Midleton

ESTILO: Blend de Single Pot Still e Whiskey de Cereais

COR: Brilhante com nuances esverdeadas. Amadurecido em barris de bourbon carbonizados duas vezes. Destilação anual.

AROMA: Caramelo e fudge de caramelo cremoso

PALADAR: Notas de nozes com especiarias e baunilha doce. Rico e intenso com notas de madeira torrada.

BUSHMILLS SINGLE MALT 10 ANOS

PAÍS: Irlanda

REGIÃO: Bushmills, Condado de Antrim

AROMA: Elegante, muito equilibrado, fino e suave, com notas de cereais, citrinos (limão) e alcaçuz. notas florais e de baunilha.

PALADAR: Na boca é doce e levemente cremoso. Final longo, revelando notas de madeira, amêndoas e mel.

TEOR ALCOÓLICO: 40%

BUSHMILLS IRISH HONEY

PAÍS: Irlanda

REGIÃO: Bushmills, Condado de Antrim

AROMA: Maçãs vermelhas maduras com cereal doce, evoluindo para notas de mel.

PALADAR: Um inicio de doçura de mel acompanhado por maçãs e pêras.

Final médio/ longo, moderadamente doce com uma agradável adição de mel.

TEOR ALCOÓLICO: 35%

MUNDO JÁ ESTÁ DISPONÍVEL

O MELHOR IRISH WHISKEY EM MOÇAMBIQUE DO

o irish whiskey é a categoria em maior cres cimento no mundo, em termos de vendas, e o lí der nesta categoria é o Jameson Irish Whiskey. Criado na Irlanda nos anos 1600’s, a sua desig nação original na lingua gaélica (a lingua dos Celtas que povoaram inicialmente as Ilhas Britânicas) era Uisce beatha (expressão que significa “água da vida”). As palavras Whiskey (Irlanda) e Whisky (Escócia) são decorrentes de uma pronúncia errada da palavra uisce na Irlanda ou uisge na Escócia. A decisão de man ter esta dupla designação - Whiskey Irlandês e Whisky Escocês – decorreu, essencialmente, de uma estratégia de marketing. Quando, nos anos de 1780, John Jameson criou a sua destilaria na Bow Street, em Dublin, não podia imaginar a dimensão que ela atingiria. Mas quatro momentos, em especial, afecta ram o domínio dos Whiskeys Irlandeses: as duas guerras mundiais, a guerra civil na Ir landa e lei seca nos Estados Unidos.

Na década de 70 do século XX, as portas da destilaria da Jameson estiveram mesmo para fechar, o que só não aconteceu porque, em 1989, a Pernod Ricard comprou a Jameson. Vinte anos depois, as vendas atingiram as 7,3 milhões caixas de 9 litros, um crescimento que reflecte uma expansão geográfica consi derável que fez com que a África do Sul, por exemplo, se tenha tornado o segundo maior mercado do mundo, com a venda de 1 milhão de caixas de 9 litros por ano. Neste processo de expansão, em 2015, foi criado o afiliado mais novo da Pernod Ricard, em Moçambique, onde a Jameson está, neste momento, na liderança do mercado, segundo o IWSR 2018, no qual es tão também disponíveis o Jameson Original e o Jameson Black Barrel, whiskeys blends dis tintos: o Single Pot Still Whiskey e o whiskey de cereais, em que são utilizados apenas três ingredientes para produzir Single Pot Sti ll Irish Whiskey: água, cevada e levedura.

JAMESON ORIGINAL

PAÍS

Irlanda

REGIÃO

Midleton

ESTILO

Blend de Single Pot Still e Whiskey de cereais

Amadurecido em cascos de sherry e de bourbon. Três vezes destilado para uma dupla suavidade.

AROMA

Fragrância floral leve, madeira picante e notas doces

PALADAR

Um equilíbrio perfeito de especiarias, nozes e baunilha com sugestões de sherry doce e uma suavidade excepcional.

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TEXTO RUI TRINDADE FOTOGRAFIA D.R

EXPOSIÇÕES

música filmes livros

ENIGMA 1:1

KK TEATRO ENCENAÇÃO: BUANAMADE AMADE

• em destaque

“MBUZINI MEMORIAL” REALIZAÇÃO: LAURENCE HAMBURGER DOCUMENTÁRIO

CICLO DE CINEMA DO FESTIVAL MAPUTO FAST FORWARD 2018 “THE TOWER” REALIZAÇÃO: MATS GRORUD FILME DE ANIMAÇÃO

VAGANDO MAPUTO AURORE VINOT EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA

Centro Cultural Franco-Moçambicano

Sala de Exposições

Inauguração: 2 Outubro Hora: 18h30 Aberta até 3 de Novembro

EXPOSIÇÃO INCLUÍDA

NA PROGRAMA DO FESTIVAL MAPUTO FAST FORWARD 2018

FAMÍLIAS MOÇAMBICANAS MUNDUNGAZE

Fundação Fernando Leite Couto Galeria

Inauguração: 9 de Outubro Hora: 18h Patente até 3 Novembro

OBJECTOS EM TRÂNSITO/THE HANDS THAT FEED YOU JOÃO ROXO EXPOSIÇÃO DE ARTE & DESIGN

Camões - Centro Cultural Português em Maputo Inauguração: 11 de Outubro Hora: 18h Patente até 9 de Novembro

EXPOSIÇÃO INCLUÍDA

NA PROGRAMA DO FESTIVAL MAPUTO FAST FORWARD 2018

TEATRO

O CASAMENTO MISTERIOSO DE MWIDJA CENTRO DE RECRIAÇÃO ARTÍSTICA ENCENAÇÃO: GIGLIOLA ZACARA

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 13 de Outubro Hora: 11h

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 17 de Outubro Hora: 18h

FILMES

CINE-CLUBE: SELECÇÃO DE CURTAS METRAGENS DE CINEMA DE ANIMAÇÃO AFRICANO INDEPENDENTE

Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório Dia 1 de Outubro Hora: 19h

FINDING FELA REALIZADOR: ALEX GIBNEY DOCUMENTÁRIO

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 3 de Outubro Hora: 18h

CINE-CLUBE: SELECÇÃO DE CURTAS METRAGENS DE CINEMA DE ANIMAÇÃO FRANCÊS PARA ADULTOS

Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório Dia 8 de Outubro Hora: 19h

FESTA DO CINEMA DE ANIMAÇÃO (2ª EDIÇÃO)

Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório Dia 13 de Outubro Hora: 10h30 – 21h

O documentário “Mbuzini Memorial” traça a história do monumento concebido pelo arquitecto moçambicano José Forjaz, em Mbuzini, onde se deu o acidente que vitimou o Presi dente Samora Machel e 34 ou tras pessoas. O documentário é também uma reflexão sobre a política e a arquitectura pública no séc. XXI no continente afri cano. No filme, José Forjaz des creve a história conturbada que rodeou a construção do monu mento. Realizado por Laurence Hamburger, esta é a primeira vez que o documentário será exibido em Moçambique. Nascido na África do Sul, Lau rence Hamburger tornou-se internacionalmente conhecido pelo seu trabalho como realiza dor de sucesso de campanhas publicitárias para cinema e televisão, tendo produzido tra balhos para clientes como Ikea, VW, Nandos, Toyota, SABC, Sa sol e Sony Playstation. No en tanto, a partir de 2012, quando fundou a produtora Goodcop, voltou-se, sobretudo, para a realização de obras de caracte rísticas autorais, como as curtas metragens “Flies” ou “As Above, So Below’. “Moses & Griffiths”. O documentário “Mbuzini Me morial” irá ser exibido no Centro Cultural Franco-Moçambicano, no dia 17 de Outubro, às 19h. A seguir à projecção do filme terá lugar um debate com a partici pação do realizador, do arqui tecto Vitor Tomás e do escritor António Cabrita.

MÚSICA

Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório Dia 15 de Outubro Hora: 19h Entrada: 150 MT XIDIMINGUANA (DOMINGOS HONWANA) MARRABENTA VELHA GUARDA

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 19 Outubro Hora: 18h

ASSA MATUSSE

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 26 de Outubro Hora: 18h

ESCOLA NACIONAL DE MÚSICA

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala Grande Dia 31 de Outubro Hora: 18h

LITERATURA

21 POEMAS DO ÍNDICO (SARAU DE POESIA) GLÓRIA DE SANT`ANNA / SÓNIA SULTUANE / LICA SEBASTIÃO / HIRONDINA JOSHUA / MELITA MATSINHE / E OUTRAS VOZES...

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 25 de Outubro Hora: 18h

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A exposição faz parte do programa da 3ª edição do Festival

Maputo Fast Forward (www.maputo fastford.com)

Local: Fortaleza de Maputo Data: 12 de Outubro a 30 de Novembro Horário: 9h30 – 17h

“MADRINHAS DE GUERRA” EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA DE AMILTON NEVES

“madrinhas da guerra” é um projecto que conta a história das mulheres moçambicanas que participaram no Movimento Nacional das Mulheres de 19611974. Estas mulheres foram patrocinadas pelo governo português para fornecer apoio moral aos soldados que lu tavam nas linhas da frente durante a Guerra de Indepen dência de Moçambique. Muitas delas foram recompensadas com posições influentes na so ciedade e nas classes mais altas. Em 1974, quando a guerra da in dependência terminou com um acordo de cessar-fogo entre as forças moçambicanas da FRE LIMO e o Governo Português, o Movimento Nacional das Mu lheres terminou oficialmente. No entanto, essas mulheres fo ram condenadas ao ostracismo da sociedade pelo seu papel no apoio às forças coloniais. O projecto “Madrinhas de Guerra” reflecte este impor tantíssimo - mas muitas vezes esquecido - pedaço da história

em Moçambique, visitando as casas das Madrinhas de Guer ra que ainda hoje vivem em Maputo e personificam o passa do da opulência vivida durante o apoio do governo português. e a subsequente marginalização sentida após a independência. Amilton Neves é um fotógra fo profissional baseado em Moçambique cujo trabalho examina questões sociais con temporâneas usando técnicas de narrativa e documentário. Os seus projectos passados e actuais concentram-se na abordagem das percepções de indivíduos que se encon tram à margem da sociedade através de narrativas de for talecimento, preservando aspectos frequentemente es quecidos de nossa história moderna. Amilton Neves par

ticipou em cursos de formação na Escola de Fotografia Sooke no Canadá e no Nuku Stu dio no Gana, e expôs por diversas vezes no Centro Cultu ral Franco-Moçambicano. A exposição tem curadoria de Christine Cibert. Curadora de arte independente há mais de 20 anos, que vem organizan do numerosas exposições de pintores e fotógrafos nos vá rios países onde viveu: França (seu país de origem), Japão, Cam bodja, Coreia do Norte, Suíça e, actualmente, Moçambique. Colaborou com galerias, mu seus, instituições e fundações (Réunion de Musées Natio naux, Musée Guimet, Musée de l’Elysée, Fundação Gilles Caron, Fundação Fernando Leite Cou to), com centros culturais de Tóquio, Kyoto e Fukuoka, e com festivais de fotografia (Festival de Fotografia de Angkor, Festi val de Fotografia de Rangoon, Japan Culture Fall em Genebra, Kyotographie, Festival de Foto grafia de Nuku, no Gana.

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MADRINHAS DE GUERRA
O PROJECTO REFLECTE ESTE IMPORTANTÍSSIMO - MAS MUITAS VEZES ESQUECIDO - PEDAÇO DA HISTÓRIA

PRIMEIRO SUV DA ROLLS ROYCE

CHEGA NO FINAL DO ANO

três anos após o primeiro anúncio, a Rolls Royce apre sentou finalmente, no passa do mês de Maio, o Cullinan, o seu primeiro SUV (Sport Uti lity Vehicles).

A escolha do nome é, por si só, bastante significativa pois faz referência ao maior diaman te jamais encontrado. O Culli nan (assim designado por ter sido encontrado na mina que era propriedade de Sir Tho mas Cullinan), foi descober to em 1905, na África do Sul, pesava 3, 106 quilates (o equi valente a 621,3 gramas) e foi oferecido à Coroa Britâni ca. Posteriormente, foi dela pidado em diversas pedras individuais estando as duas maiores actualmente guar dadas na Torre de Londres. A Rolls Royce pretende assim sinalizar que este seu SUV é, de facto, a “jóia da coroa”

dos modelos deste segmento. Com uma silhueta altiva e im ponente (5,34 metros de com primento, 2,16 metros de lar gura e 1,83 metros de altura), o design do Cullinan exibe al guns dos traços distintivos da marca (como a estatue ta Spirit of Ecstasy que enci ma o capot, o formato da gre lha ou o desenho dos faróis). No entanto, a Rolls Royce quis conceber o melhor e mais lu xuoso SUV de sempre e pro porcionar aos utilizadores uma experiência única. Começando pelo interior, para além do luxo que o distingue, é de referir a extrema preocu pação com o conforto. Os luga res traseiros são, como seria de esperar, os mais confortá veis e podem ser organizados de acordo com duas configu rações: a configuração “Loun ge Seat” - um banco corrido

para três passageiros desdo brável através de comandos eléctricos - e a configuração “Individual Seat” que apre senta o formato de duas ca deiras individuais separadas por uma consola central que integra um mini-frigorífico, flutes de champanhe e nume rosos gadgets tecnológicos. Mas são talvez os sistemas de assistência à condução que fazem a diferença nes te Cullinan: um sistema de vi são nocturna, quatro câma ras exteriores que conferem uma perspectiva panorâmi ca, aviso de colisão e de tráfe go lateral, assistente de faixa, hotspot WiFi e uma funciona lidade que rebaixa automa ticamente a suspensão em quatro centímetros quando o condutor se aproxima do veí culo, facilitando a entrada no seu interior. Sob o capot está um portentoso V12 biturbo a gasolina de 6,75 litros. Este bloco desenvolve uns porten tosos 563 CV sustentados por um binário de 850 N.m trans mitidos às quatro rodas atra vés de uma caixa automática de oito relações. Tem mesmo de o conduzir, para sentir.

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POTÊNCIA Motor V12 de 570 cv
250km/h ROLLS ROYCE CULLINAN
COMBUSTÍVEL Gasolina VELOCIDADE
vA ROLLS ROYCE PRETENDE QUE ESTE SEU SUV SEJA A “JÓIA DA COROA” E O MELHOR DE TODOS, E PARECE QUE CONSEGUIU

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