E&M_Edição 14_Maio 2019 • Beira - O caminho a seguir

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Depois De DécaDas De quebra o país volta a ser um player gás nAtUrAl como fica moçambique no negócio chevron-anaDarko netflix a maior plataforma De streaming investe em áfrica

CAJU
MAIO 2019 • Ano 02 nO 14 • Preço 200 MZn o CAminho A segUir quanto custa, o tempo que vai Demorar e como se vai reconstruir a alma De um povo BeirA
moçambique

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Observação

Críquete a imagem do mundial deste desporto quase que exclusivamente ‘jogado’ em inglês 8 Radar

Panorama economia, banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País 12 Macro

Caju depois de décadas de quebra, Moçambique finalmente recupera e quer liderar 26 nação

BeiRa

20 O caminho da recuperação a e&M faz todas as contas ao pós-Idai, na beira e no país 26 O que diz a economia a análise ao peso do Idai nas grandes contas da economia 30 na voz de... Pietro Toigo, o representante do banco africano de desenvolvimento 34 ProvÍncIa

Manica

Um olhar sobre a Província do ouro, onde nem tudo o que luz... é desenvolvimento 40 Mercado e FInanças

Rovuma o que muda com a operação de compra da anadarko pela gigante mundial chevron 44

eMPresas

PMe

Moz innovation Lab Uma empresa de modelos... de agro-negócio 56 MegaFone

Marketing o que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora

67 ócio

escape Um passeio pela Mafalala, o berço da liberdade

Gourmet Uma viagem pelos sabores do Jacarandá

adega a tequila de geroge clooney 64 agenda Música, livros, filmes 65 arte os Mabundas”, de gonçalo, santos e rodrigo 66 ao volante o novo range rover evoque 50 socIedade netflix a maior plataforma mundial de streaming investe cada vez mais. e agora quer entrar em África

fIgUra do MÊs Mais TV Meses após o início das emissões, simão anguilaze explica os objectivos do projecto

LÁ Fora angola as mudanças no sector petrolífero continuam. agora é a sonangol que vai ter de mudar

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Sumário
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Período pós-ciclone

Idai – esperança de recuperação do Centro de Moçambique

Iacumba Ali Aiuba

a destruição de infra-estruturas, materiais e bens, bem como a perda de centenas de vidas humanas começam a dar lugar a esforços internos abnega dos e apoios do exterior para os processos de reabilitação e recuperação social das zonas afectadas pelo ciclone Idai.

A solidariedade manifestada quer interna quer de vários países para o sal vamento de vidas no período imediatamente após a passagem do ciclone pelo centro do país continua a estender-se para o pós-Idai visando a normalização da vida das populações, o mais rápido possível.

É de louvar a iniciativa do Governo de criar um Gabinete de Reconstrução Pós -ciclone Idai, a ser instalado na cidade da Beira, com o objectivo de coordenar as actividades de reparação de danos das infra-estruturas e no tecido social e eco nómico, devendo para o efeito, acelerar o processo de mobilização de recursos para se implementar o Programa de Reconstrução Pós-Calamidades.

A indicação do Eng. Franciso Pereira, homem bastante experiente do sector de obras públicas e habitação, poderá tranquilizar os que se mostravam bastan te cépticos quanto à gestão transparente dos fundos canalizados e a serem mo bilizados para as acções de reconstrução e recuperação das zonas afectadas. Esperemos que os esforços não se focalizem em demasia na recuperação de in fraestruturas, ou bens, negligenciando a recuperação social das famílias afec tadas e traumatizadas em consequência das perdas materiais e dos seus en tes queridos.

O sucesso das acções de reconstrução e recuperação social vai depender so bremaneira da coordenação e concertação das acções dos diversos actores do processo, da gestão transparente, equidade social e comunicação entre as par tes interessadas.

A E&M encoraja os esforços que vêm sendo empreendidos para a normalização da vida das populações afectadas nas provincias de Sofala, Manica, Tete, Zam bézia e o norte de Inhambane.

MÊS ano • nº 01

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maio 2019 • Nº 14

PROPRIEDADE Executive Moçambique DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos COnsElhO EDITORIAl

Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo JORnAlIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade; PAGInAÇÃO José Mundundo

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FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio REVIsÃO Manuela Rodrigues dos Santos PRODUÇÃO Executive Moçambique PUBlICIDADE Ana Antunes (Gestora Comercial - Moçambique) ana.antunes@ executive-mozambique.com; iona@iona. pt/contacto@iona.pt (Portugal)

ADMInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO

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E PUBlICIDADE Executive Moçambique; Av. Salvador Allende, nº 1039, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com

DElEGAÇÃO EM lIsBOA Telheiras, Rua Poeta Bocage, Nº 2 – 1º Escritório D • 1600233 Lisboa • Portugal; Tel. +351 21 381 3566; iona@iona.pt

IMPREssÃO E ACABAMEnTO

Minerva Print - Maputo - Moçambique TIRAGEM 4 500 exemplares núMERO DE REGIsTO 01/GABINFO-DEPC/2018

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www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019
Editorial
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Director da revista Economia & Mercado

observação

O mundO dO críquete desce à relva

É a 30 de Maio que se começa a jogar o Mundial de Críquete. Inglaterra e País de Gales organizam um torneio – agora reduzido a um formato de 10 selecções – pela quinta vez. Este jogo, também de 11 contra 11 e igualmente inventado pelos ingleses, espalhou-se, ao longo dos séculos, pelo antigo império colonial britânico que, ainda assim, nunca conseguiu conquistar o título mundial em sua casa.

Por ali, nos verdes relvados da velha Albion, defrontar-se-ão parelhas que, noutro contexto, seriam improváveis. Muitos em busca de uma inédita conquista mundial. Da África do Sul ao Afeganistão, da Nova Zelândia ao Paquistão. Do Sri Lanka à Índia, claro, uma potência deste desporto. Até meados de Junho, é a Austrália a campeã de um velho mas novo mundo quase exclusivamente falante de inglês, e que será jogado e celebrado, ao longo de seis semanas, em 11 estádios e 48 jogos.

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Grã-Bretanha, Maio de 2019
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BANCA MóvEl... EM MOvIMENtO RápIdO pARA lIdERAR O MERCAdO

Gás canalizado. A Empresa Na cional de Hidrocarbonetos (ENH) vai fornecer gás canali zado no modelo comercial pré -pago, na cidade de Maputo, ao contrário do que vem fazendo na província de Inhambane. A empresa já iniciou a fase pi loto de ligação de gás canaliza do para residências na capital moçambicana. Numa primeira etapa, o projecto beneficiará os moradores do bairro do Ae roporto, prevendo-se que a ex pansão para outras zonas da cidade seja de forma gradual. Recentemente, a ENH concluiu a expansão da rede de distri buição de gás natural no norte de Inhambane. Com a finaliza ção dos trabalhos de expansão, o total de consumidores de gás canalizado é de 1 790 clientes.

preendimento necessitam de obras em profundidade, ten do a Sweco sido contratada para avaliar as necessidades e elaborar as especificações técnicas para o equipamento necessário, prestando apoio técnico na selecção de em preiteiros bem como no acom panhamento e verificação da execução dos trabalhos.

A África Subsaariana está a registar um crescimen to robusto do uso de con tas móveis e já supera as contas tradicionais, segun do constatou o Fundo Mone tário Internacional (FMI), no seu mais recente relatório sobre estudos económicos e financeiros.

As estatísticas apresenta das no relatório indicam que, até 2017, uma média de 500 em cada 1 000 adultos (50%) tinha conta de depósi tos tradicionais, mas quase todos tinham conta móvel.

No caso de Moçambique, as estatísticas apresentam nú meros relativamente bai xos. Até 2017, só 400 em cada mil adultos estavam regis tados com uma conta móvel. De acordo com o FMI, o fac to de a África Oriental ser a região onde mais se uti liza a conta móvel “permi te tirar lições úteis, toman do em consideração que es te avanço resultou do de senvolvimento de infra-es truturas que ampliaram a procura por serviços finan ceiros móveis na região.”

RECURSOS MINERAIS

to a partir de 2025,” a par da Nigéria e da Argélia, pode ler-se na análise divulgada em Abril pela GlobalData, uma consultora de análise de dados e media, fundada em 1999. “Dentro de alguns anos, cerca de 30 milhões de toneladas por ano estarão a ser extraídos, devido aos de pósitos existentes na bacia do Rovuma, onde foram já desco bertos 125 biliões de pés cúbi cos de gás natural”, sublinha a empresa no relatório. Nesta altura aguardam-se os FID das zonas 1 e 4, onde deverão ser anunciados investimentos de 40 mil milhões de dólares.

Electricidade. Moçambique e Malaui assinaram, em Abril, em Lilongwe, capital malauia na, um conjunto de cinco acor dos técnicos e comerciais que visam a construção de uma li nha de interconexão e trans missão entre os dois países para potenciar a venda de energia eléctrica ao Malaui. Avaliada em 127 milhões de euros, a linha deverá partir da subestação de Matambo, na província de Tete, percor rendo um total de 218 quiló metros, ligando o país vizinho. A concretização destes acor dos poderá ser fundamental para o Malaui que se debate com uma crise energética tão profunda que paralisou al guns projectos industriais.

HCB. A empresa Sweco assi nou um contrato de 5,2 milhões de dólares com a HCB, com vista a uma intervenção ao nível da modernização e apro veitamento da barragem de Cahora Bassa.

Em comunicado, divulgado em Abril, lê-se que, “ao abrigo do contrato, vão ser presta dos serviços de consultoria, acompanhamento e verifi cação da instalação de novos equipamentos na barragem.” É que as cinco turbinas do em

Mineração. O Instituto Nacional de Minas (INAMI) revogou, no primeiro trimestre de 2019, 145 licenças mineiras por es tarem em situação irregular, num universo de 323 títulos de exploração que estão na mes ma situação.

A informação foi revelada em Abril passado pelo Director do Instituto Nacional de Mi nas, Adriano Sênvano. Entre as inúmeras irregularidades inscritas pelas empresas de mineração, as mais recor rentes foram a expiração dos prazos de operação concedi dos e a não apresentação do relatório periódico de activi dades, o que, segundo Adriano Sênvano, “é condição suficien te para revogar as licenças”.

FINANÇAS

Dívida pública. O FMI prevê que Moçambique deverá registar “a maior subida” da dívida pública da África Sub saariana este ano. O stock da dívida pública moçambicana deverá, então, situar-se nos 124,5% do PIB em 2019, face aos 100,4% registados no final do ano passado. Esta é, de resto, a maior subida dos 45 países da África Subsaariana analisa

RADAR www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 8
Gás natural. Moçambique de verá vir a ser um dos dez maiores produtores mun diais de gás natural liquefei

dos pelo FMI, cujo relatório foi divulgado em Abril passado. As previsões indicam, ainda, que a capacidade da eco nomia nacional para fazer face às dívidas irá, todavia, melhorar em 2020, devendo, de acordo com as previsões do FMI, situar-se em 119,9%.

Apesar das projecções des favoráveis relativamente à dívida pública, o FMI prevê que o crescimento económico deste ano “seja superior” ao de 2018.

Reestruturação. A Correios de Moçambique encontra-se em situação de devedora, em mais de 50 milhões de meti cais, perante os seus traba lhadores, situação que atribui “à crise financeira”, razão que poderá levar a empresa a despedir metade dos 650 cola boradores, e a vender capital no âmbito da reestruturação já aprovada pelo Governo. No mês passado, perto de 50 trabalhadores chegaram a paralisar as actividades pa ra reivindicar o pagamento de salários em atraso. As di ficuldades financeiras são an tigas, mas pioraram quando o serviço Post-bus sofreu com os impactos do ciclone Idai.

inicialmente previstas para arrancar este ano e que ficam, agora, reféns da mo bilização, no exterior, de um financiamento na ordem dos 250 milhões de dólares.

Comércio. As trocas comer ciais entre a China e Moçam bique continuam a crescer de forma acelerada, tendo atingido os 442 milhões de dó lares (aumento na ordem de 31,68%), no primeiro trimes tre de 2019, face ao período homólogo de 2018.

Segundo dados da adminis tração tributária chinesa, o gigante asiático exportou bens no valor de 304 milhões de dólares (aumento de 38%) e as exportações de Moçam bique foram no valor de 137 milhões de dólares (aumento de 9,49%).

Em relação aos países falan tes de português, no mesmo período, o comércio chegou aos 23,5 mil milhões de dóla res, um aumento de 15,61% em termos homólogos.

AGRICUltURA

Algodão. Dados do Ministério da Agricultura e Seguran ça Alimentar apontam para a redução da produção, na presente época agrícola, em 6 mil toneladas, das 54 mil to neladas do algodão previstas para a campanha 2018-2019, isto quando comparados com perto de 60 mil toneladas do volume global atingido na temporada agrícola de 2017-2018.

Aeroportos. A empresa Aero portos de Moçambique adiou, para o próximo ano, o início da execução dos projectos imobiliários concebidos para o Bairro da Costa do Sol, na ci dade de Maputo.

Trata-se de um conjunto de empreendimentos premium a serem erguidos numa área de, aproximadamente, 35 hectares no bairro da Costa do Sol cujas obras estavam

O baixo preço do algodão no mercado, comparativamente a um conjunto de outras cul turas de rendimento, associa do a questões climáticas, são apontados como os principais factores que estão a determi nar esta baixa previsão na produção deste ano.

Há anos que a produção do algodão tem vindo a perder terreno para culturas como o gergelim e o feijão bóer.

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Modernização da agricultura: ênfase no sector familiar e as lições do Brasil

o aumento mundial da produção de alimentos, ocorrido nas últimas seis décadas, não logrou distribuir igualmente as condições de segurança alimentar entre os países e dentro destes, nas áreas rurais. Em determinados contextos, a própria produção de alimentos gerou, paradoxalmente, insegu rança alimentar, comprometendo não apenas a concretização do direito humano à alimentação adequada, mas também pro movendo uma exploração insustentável, ambiental e social. Em alguns países, a passagem da agricultura tradicional (com uso de instrumentos rudimentares, força de trabalho humana e baixa incorporação dos benefícios da ciência e tecnologia), para um sistema agrário assente no uso de máquinas, equipa mentos, insumos modernos e técnicas mais sofisticadas, marcou a transformação radical da agricultura e a penetração do ca pitalismo no campo, naquilo que foi conhecido como os “pacotes tecnológicos” da Revolução Verde. Segundo Hawken et al (2000), nos últimos 30 anos, o número de calorias alimentares disponíveis por pessoa na terra aumen tou 13%, apesar do rápido crescimento demográfico, em que só a irrigação respondeu por mais de metade do crescimento da produção mundial de alimentos entre 1960 e 1980, e o uso de fertilizantes à base de nitrogénio aumentou 645%. Porém, o modelo baseado no aumento da produtividade a qualquer custo expressou as suas próprias fragilidades. Josué de Castro (1946), que escreveu “Geografia da Fome”, traçou o panorama da fome e da sub-nutrição no Brasil, e mostrou que a alimentação precária de grande parte da população resul tava mais de factores socioculturais que geográficos, defendi dos pelas elites e pelo governo, como causas naturais. O autor apresenta uma forte crítica aos custos ambientais, sociais e culturais da imposição da monocultura destinada ao comércio externo, como o caso da cana-de-açúcar no nordeste brasileiro. Essa visão foi também partilhada por Rachel Carson (1962), na sua obra “Primavera Silenciosa”, em que a autora mostra como os agro-químicos, concebidos como solução para o contro lo de pragas que atacavam as lavouras, se revelaram nocivos. A partir de finais da década 1960, o Brasil teve uma forte

influência na viabilização do modelo de transformação da agricultura, criando políticas e instrumentos facilitadores, como o crédito rural e as empresas estatais de pesquisa e as sistência técnica. O crédito rural, subsidiado e abundante, foi favorecido pelas facilidades de captação externas, tendo sido considerado, no período entre 1965 a 1980, como a principal política que alavancou a modernização do campo. Durante o período de 1979 a 1985, foram transferidos para a agricultura cerca de 31,5 mil milhões de dólares. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-Pecuária (EMBRAPA) teve um papel preponderante na transformação da agricultura (ge ração de inovações, melhoria genética, controlo de pragas e doenças), tornando-se num importante órgão mundial de pesquisas tropicais para a agro-pecuária. Pela necessidade de completar a cadeia com a difusão, em 1974 foi criada a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER), estatizando o serviço de extensão rural. Essas mudanças de políticas trouxeram resultados positivos no aumento da produção, produtividade e renda dos agri cultores, mas ainda não davam uma atenção especial aos agricultores familiares. A partir de 1995, com o governo de Fernando Henrique Cardoso, foram tomadas medidas ou sadas que resultaram na criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), em 1996, apoiando o desenvolvimento rural através do potenciamento da agricultura de pequena escala, destinado a estimular a ge ração de renda e a melhorar o uso da mão-de-obra familiar. O foco desse programa esteve orientado para a geração de em prego e renda nas áreas rurais, viabilizar a infra-estrutura necessária à melhoria do desempenho produtivo dos agri cultores familiares, elevar o seu nível de profissionaliza ção através do acesso aos novos padrões de tecnologia, e estimular o acesso destes aos mercados de insumos e produtos (Guanziroli & Basco, 2010).

O acesso a linhas de crédito subsidiado para produção e investimento agrícola através do PRONAF, a obrigatoriedade de compra de alimentos da agricultura familiar pelas escolas

No Brasil, o crédito rural, subsidiado e abundante, favorecido pelo crédito internacional, tem sido considerado pelos especialistas da área, como a principal alavanca da modernização do campo

OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 10
Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique

públicas, por via do Programa Nacional de Alimentação Esco lar (PNAE), bem como os serviços prestados pela EMBRAPA e EMBRATER, foram os principais instrumentos do Governo para mudar a agricultura. E o Estado do Paraná foi o caso paradig mático que representou um marco na luta pelo reconhecimen to da agricultura familiar como um poderoso instrumento de combate à pobreza nas áreas rurais. Tornar-se uma potência no agro-negócio mundial não foi o resultado de um processo simples, no Brasil. Resultou de um conjunto de opções de políti cas compreensivas e corajosas, estabelecimento de instituições relevantes e com capacidade de implementação das agendas definidas, uma abordagem gerencial multisectorial e de fa cilidades do Estado nos domínios do crédito, infra-estruturas, assistência técnica especializada, acesso aos mercados, ao ponto de o país ser líder mundial em culturas como soja, milho, café, carnes, frutas e etanol. As estratégias de desenvolvimen to adoptadas no Brasil conectaram a agricultura com o de senvolvimento rural e a diversificação económica, focado na erradicação da fome e da pobreza, e procurando contrariar o efeito nefasto das mudanças climáticas, do desafio demográ fico, do crescimento galopante da urbanização e a necessida de de manter a economia competitiva no concerto das Nações. Moçambique é um país eminentemente agrário, com elevado potencial no agro-negócio e com tudo a seu favor para erguer uma dinâmica economia multissectorial rural. Cerca de 68% da população nacional vive em áreas rurais e depende da agricultura de pequena escala como uma das principais fon tes de rendimento e reprodução social, e o contributo do sector agrário para o PIB é de perto de 25%. A baixa produtividade

é uma das principais causas da pobreza, cuja incidência está acima de 46%, a insegurança alimentar está ao nível de 24% e a taxa de desnutrição é de 43%. Os agricultores familiares perfazem acima de 3,8 milhões (99,9% de todas as explora ções), fornecem a quase totalidade dos alimentos produzidos (99,7%) e detêm uma área média de 1,4 hectares. O grau de integração dos agricultores familiares no mercado é limitado e a base tecnológica é de tal forma baixa que apenas 3,7% das explorações agrícolas usam fertilizantes, 2,5% utilizam pes ticidas, 5,3% das explorações são irrigadas, 1,6% usam meios mecânicos (tractores) e perto de 0,3% têm moto ou electro -bombas. Os pequenos agricultores beneficiam de menos de 5% do crédito agrário e a cobertura da extensão rural é de 6,6% (Mosca, 2016; Mosca, 2015; Mosca & Dadá, 2014).

A agricultura é a base de desenvolvimento porque é a activi dade que, de longe, mais influi na subsistência, emprego, rendi mento e PIB das famílias moçambicanas. Com o incremento do turismo, do sector energético, da agro-indústria e das pescas, a agricultura vai ter de jogar o seu papel de “pivot” na nova economia pujante a edificar. O advento da exploração dos re cursos minerais reforça o seu contributo no desenvolvimento económico. Por isso, a aposta em boas políticas, instituições for tes com capacidade transformativa, recursos com formação, aposta inequívoca nas PME, nas mulheres e jovens e na ciên cia, tecnologia e inovação, podem fazer a diferença. Um Esta do que quer manter a agricultura como pilar do desenvolvi mento rural e do combate à pobreza deve encontrar solução para os problemas do crédito agrário, comercialização rural, implantação de infra-estruturas e incremento tecnológico.

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Viveiro de eucaliptos, em Sofala. Um bom exemplo de inovação numa área fundamental para o desenvolvimento como é a do agro-negócio

o que pôs o Caju a CresCer?

Moçambique foi, outrora, o maior produtor mundial de castanha de caju, mas perdeu competitividade nas últimas três décadas. No entanto, voltam a registar-se sinais encorajadores de recuperação. A E&M foi perceber porquê

na década de 70 do século passado, Moçambique era o maior produtor mundial de castanha, com uma produ ção média de 200 mil toneladas por ano. No entanto, a partir dos anos 80, e nas dé cadas que se seguiram, a produção co meçou a definhar e os seus níveis re traíram de forma drástica, para núme ros na ordem das 80 mil toneladas por época, uma tendência que se foi arras tando em queda até 2012, ano em que a safra se ficou pelas 64 mil toneladas. Um estudo designado Mozacaju, desen volvido pela TechnoServe, uma organi zação não governamental presente em 29 países, financiada pelos Estados Uni dos, aponta precisamente nesse sentido, e chega a uma conclusão há muito

34,5%

Foi o aumento da produção desde 2016, um sinal de retoma de uma cultura essencial para 1,4 milhões de moçambicanos

conhecida: “o caju, para além de ser um aglutinador de valor por excelência, chegou a empregar mais de 50 mil pe quenos e médios produtores que benefi ciavam da venda da castanha em bru to às empresas de processamento, e tam bém exportando para o mercado inter nacional. Mas com o tempo, verificou-se uma devastação de toda a cadeia de pro dução, desde as unidades fabris de pro cessamento, e até das próprias árvores”, pode ler-se.

Tudo estava mal Ao longo de décadas, a cultura do caju foi sofrendo transformações, sobretu do depois da independência nacional e no período pós-guerra civil. No entanto,

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macro

a instabilidade do país não foi a única razão para a decadência de uma ca deia de valor tão importante, e alguns economistas também responsabilizam, no processo, o Banco Mundial, visto que o colapso da indústria do caju em Mo çambique se iniciou na década de 1990, depois de a instituição ter encorajado a exportação da castanha em bruto para a Índia, o que veio fazer com que o sector transformador definhasse, e perdesse com isso grande parte da cadeia de va lor entretanto estabelecida. Tudo isto terá feito despertar muitas consciências para fazer face ao problema.

sinais de retoma

A verdade é que, depois do pico negativo de 2012, os últimos anos da produção de caju têm revelado uma evolução bastan te significativa, sobretudo nas regiões Centro e Norte do país. Durante décadas, o caju ajudou a estruturar a economia das províncias de Nampula, Cabo Del gado, Zambézia, Inhambane e Gaza, os principais produtores. E é por lá que estão a surgir os primeiros sinais de revitalização. Mas já lá vamos. O sector envolve, nesta altura, cerca de 16 fábricas, com uma capacidade instala da de 100 mil toneladas por ano, apesar de estarem a processar cerca de 70 mil nesta altura. O restante (outras 70 mil toneladas) seguem em cru para a Índia e Vietname, os maiores mercados com pradores do caju nacional. A E&M conversou com o director nacio nal do Instituto Nacional do CAJU (INCAJU), Ilídio Bande, instituição criada há duas décadas pelo Governo com o propósito de revitalizar o sector. E é por aí que começa: por uma mudança de paradigma em que “os actuais níveis tecnológicos são bem diferentes dos que existiam no passado. Naquela altura havia fábricas muito grandes, com maquinaria bastante pe sada e que empregavam muita gente. Mas agora a maior parte dos processos estão automatizados”, argumenta. Depois, um outro dilema tem a ver ain da com as próprias árvores, a maioria já bastante velhas e sem a capacidade de produção de outrora. Um estudo recente feito pelo INCAJU constatou isso mesmo: existem no país cerca de 42 milhões de cajueiros, mas 30% deles estão bastante envelhecidos e já não oferecem garan tias ao nível da capacidade de produção, em quantidade e qualidade. “Os que es tão em condições de produção plena serão hoje cerca de 60% do total de árvo res existentes, razão pela qual, embora

mil toneladas

Foi a produção total de caju em 2018. a quase totalidade Foi destinada à exportação, gerando uma receita entre 80 e 100 milhões de dólares

140a população de cajueiros seja grande, a produção não seja elevada. Temos de desencadear uma grande campanha de substituição dos cajueiros velhos”, avan ça o responsável.

Os efeitos da aposta na industrialização e na reforma forçada dos cajueiros anti gos dá os primeiros sinais, ilustrados por uma produção em crescendo nos últimos anos, numa inversão de tendência enco rajadora para a economia.

Nas duas últimas épocas de colheita re gistou-se um incremento de produção na casa dos 35%, passando de 104 mil toneladas em 2016 para 140 mil tonela das, em 2018, um sinal que anima, e de que maneira, os cerca de 1,4 milhões de moçambicanos envolvidos directamente nesta cadeia produtiva.

o que foi feito Esta melhoria tem, pois, a ver com um conjunto de acções desenvolvidas nos últimos anos, para ‘reacender’ esta preciosa colheita, até para as contas gerais do país.

O programa de intensificação de pro dução e distribuição de mudas para repovoar os campos, adoptado pelo Go verno em 2009, foi uma das medidas que mais impulsionou o crescimento do sec tor nos últimos anos, e que culminou com a criação de um dos maiores viveiros de mudas de cajueiros do mundo, localizado no distrito de Meconta, na província de Nampula, que produz actualmente cer ca de 800 mil árvores por ano.

É, de resto, nesse ponto, na produção de mudas que serão utilizadas para a substituição dos cajueiros velhos, que, de acordo com o INCAJU, está a incidir a maior parte dos investimentos no sector. Sem revelar valores, Ilídio Bande re vela à E&M que “está a decorrer um investimento, de forma a poder produ zir uma média anual de 4 milhões de novas mudas por ano que serão depois distribuídas e plantadas. Neste momen to contamos com 20 viveiros de grande dimensão espalhados por todo o país” Depois, também ao nível macro eco nómico, o caju tem dado melhores frutos nos últimos anos. De acordo com o INCAJU, nos últimos três anos, a receita da venda para os mercados de expor tação tem oscilado entre os 80 e os 100 milhões de dólares por ano.

Investimento externo

O projecto Mozacaju, financiado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América), tem tido um

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ProDUção AUMENtoU 34,6% DEsDE 2016

Durante as campanhas de 2016 a 2017, a produção de caju apresentou um crescimento significativo

impacto significativo para os sinais que hoje em dia o país começa a observar. “Desenvolvemos várias campanhas de sensibilização e de formação dos pro dutores de castanha nas zonas Centro e Norte para melhorar aspectos da produ ção”, explica Jane Grib, directora-geral da TechnoServe, instituição mentora do projecto Mozacaju.

Para já, o desafio é chegar às 200 mil to neladas e voltar a ser um dos grandes players da região, num mercado global liderado pelo Vietname, Índia, Brasil, Ni géria, Costa do Marfim e Guiné. Entre todos os países produtores de caju, os africanos contribuíram com 56,5% da produção global, enquanto os asiáticos se ficaram pelos 44%, em 2018. Nos últi mos oito anos, o Vietname aumentou a sua presença de exportação para mais de 85 países e é responsável por 60% da produção mundial, com 1,65 milhões de toneladas por ano. É o maior fornecedor de caju para os Estados Unidos, China, Austrália, Canadá e Nova Zelândia, e um exemplo de uma política bem seguida. Há até quem diga que muitas das mudas que hoje, naquele país asiático, ajuda ram a produzir estes resultados, vieram de Moçambique. Por outro lado, adop tou uma lógica de compra do caju cru, apostando no sector da transformação. Também aqui, é o maior comprador, a par da Índia (que segue a mesma lógica) de caju moçambicano, que depois expor ta como produto vietnamita a um preço que pode multiplicar por cinco vezes o da compra, por ser um produto acabado.

Mas para Moçambique voltar a constar deste ranking (é o 6º produtor africano) o caminho é ainda longo. Em África, Cos ta do Marfim e Guiné-Bissau têm uma produção anual de mais de 700 mil tone ladas por ano, cinco vezes mais do que a de Moçambique. Para tal, o Governo avança que há esfor ços em curso. O controlo de doenças e de pragas que afectam o caju e a instalação de novas indústrias de processamento estão em marcha. No entanto, fazendo fé nos dados facultados pelo INCAJU, apenas 5,2 milhões de cajueiros é que são assisti dos e “é preciso fazer mais.”

aproveitar o que o cajueiro oferece Ainda assim, há duas décadas que não se falava com verdadeiro entusias mo numa indústria de processamento de castanha de caju, como nos últimos anos. “Actualmente estamos com uma capacidade de processamento limita da, mas as indústrias que estão a ser instaladas agora, de médio e grande porte, têm um potencial de produção que nos vai levar para perto das 100 mil toneladas, aumentando a receita e ala vancando a produção”, aponta o INCAJU. Mas, há mais por fazer e uma das questões por resolver no sector é o me lhor aproveitamento de tudo o que um cajueiro produz, não se limitando ape

nas ao fruto, tal como acontece agora. Por isso é que António Francisco, inves tigador do IESE, considera “não existir ainda” uma verdadeira política de apro veitamento da árvore, sublinhando que, até pelo seu valor económico, “o cajueiro já deveria ser considerado como a ár vore de bandeira nacional. Metade da população moçambicana tem um cajuei ro, pelo menos e há um potencial brutal que está a ser desperdiçado.”

O director nacional do INCAJU concorda. “O sector está ainda sub-aproveitado por que a castanha e a amêndoa do caju não são a totalidade do fruto, existindo o res to que ainda é dado como desperdício por falta de capacidade de transformação.”

É por isso que está em curso uma reforma de regulamentos e da comer cialização que também poderá incluir o aproveitamento económico de outros de rivados do cajueiro.

“Conseguimos que fosse reformulado o regulamento da comercialização da castanha, de forma a que se torne mais abrangente a toda a cadeia que fomenta. Também deve haver estabelecimento de preço de referência ao produtor, que até agora estava liberalizado”, explica.

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texto
hermenegildo langa fotografia jay garrido & d.r. macro
As províncias de Nampula e de Cabo Delgado lideram a produção da castanha de caju, com 40% e 35% do total nacional
Ilídio Bande, director do Instituto Nacional do CAJU (INCAJU), está optimista com o aumento da produção
Em milhares de toneladas 2016 2017 2018 104 137 140
INcaju
FONTE

Números em conta

a carga pronta e metida nos contentores do p

orto

de maputo

o porto de contentores mais importante de Moçambique tem recebido inves timentos, de forma consistente, ao longo dos últimos 15 anos. Entre 2003 e 2016, foram investidos 800 milhões de dólares e, nesta altura, a Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) tem em curso um pacote de investimentos orçado em 200 milhões de dólares, adjudicados a novos projectos portuários e ferroviários. O volume recorde, que já ultrapassa os mil milhões de dólares em década e meia, está alavancado pelo aumento dos lucros do transporte de contentores, devido ao trabalho de dragagem concluído no ano passado, que aumentou a profundidade mí nima do canal de acesso para 14,3 metros, permitindo assim acesso de embarcações pós-Panamax, maiores volumes de carga e mais eficiência. Até 2033, Maputo deverá ser um dos principais da SADC e uma alternativa aos grandes portos sul-africanos.

5,3

milhões de toneladas O CARVÃO

Além dos contentores, a carga mais importante do porto é o carvão escoado pelo Terminal de Carvão da Matola (MCT). Operado pela Grindrod, o MCT, que lida apenas com carvão sul-africano, embarcou um recorde de 5,3 milhões de toneladas em 2017, com a maior parte expedido para clientes asiáticos. A Matola está a ser ‘trabalhada’ como alternativa viável ao Richards Bay Coal Terminal, na África do Sul, o maior terminal de carvão no Hemisfério Sul. A Matola processa actualmente o minério extraído na província de Mpumalanga, mas está, de acordo com os especialistas do sector, bem colocada para receber carvão da Bacia de Waterberg, no extremo norte da África do Sul, que está a ser desenvolvida para substituir os campos de Mpumalanga.

200

milhões de dólares

O QUE FALTA

A próxima fase de melhorias portuárias já está em curso e irá fornecer acesso a navios de maior porte, encorajando as companhias marítimas a incluírem Maputo nos seus serviços intercontinentais. Estão a ser ampliados os berços 6, 7, 8 e 9 para uma profundidade de 15 metros, até Janeiro de 2020.

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1 000

milhões de dólares

O INVESTIMENTO

O nível recorde de investimento entre 2003 e 2019 foi possibilitado pelo aumento dos lucros do Porto, essencialmente explicado pelo aumento de carga transportada.

26%

FERROVIA

A proporção de carga que chega ao Porto por ferrovia, em vez de rodovia, aumentou de 18% em 2016 para 26% em 2018.

85

milhões de dólares

O QUE FOI FEITO Maputo beneficiou de um trabalho de dragagem substancial ao longo dos últimos anos, concluído a um custo de 85 milhões de dólares. A profundidade mínima do canal de acesso foi aumentada de menos de 11 metros para 14,3 metros, permitindo o acesso de embarcações pós-Panamax.

As melhorias no Porto de Maputo fizeram aumentar os volumes de carga transitada, tendo sido estabelecido um recorde anual de movimentação, no ano passado

18,2 19,5

2017 2018

7,14%

A CARGA... ... E OS CONTENTORES

30

O aumento de transporte de cargas combinadas de importação e exportação, em 2018, face ao período homólogo

A capacidade de manuseamento do terminal de contentores de Maputo foi aumentada

Em milhões de toneladas em cargas combinadas de importação e exportação Carga por ano em TEU

Q&a: o que é a mpdc?

A Companhia de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC) é uma empresa privada nacional, que resulta da parceria entre a Caminhos de Ferro de Moçambique e a Portus Índico, constituída pela Grindrod, DP World e a empresa Mozambique Gestores. A concessão (até 2033) é operada pela Companhia de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC), propriedade da Grindrod (24,7%), DP World (24,7%), CFM (49%) e a empresa nacional Moçambique Gestores (1,6%).

A DP World, com sede nos Emirados Árabes Unidos, é uma das maiores operadoras portuárias do mundo. Já a Grindrod é uma empresa de logística sul-africana com interesses em toda a África Austral.

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2012 2019 (1) 2033 150 000 250 000 450 000
(1) 2033
Um TEU, ou unidade equivalente de vinte pés, é o tamanho do contentor padrão da indústria (1) Previsão FONTE MPDC

Nação

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Beira

à beira do que se segue

O tempo tem-se encarregado de lavar o conformismo face a tudo o que se perdeu, ao mesmo tempo que a solidariedade e a força de vontade em reconstruir o que foi com o Idai devolvem a esperança por dias melhores. Hoje, quase dois meses após o ciclone, ainda se apura a dimensão real dos danos em contas de somar e subtrair que só revelam o quão sinuoso é o caminho que está adiante. Disciplina, responsabilidade, transparência e coordenação são indispensáveis para vencer esta nova e longa batalha

à imprensa chegam, diariamente, ao longo dos últimos dois meses, boas novas que dão conta da entrada de donativos de organizações e pessoas de boa vonta de, avaliados nesta altura em algumas centenas de milhões de dólares, pa ra apoiar a reconstrução de tudo o que foi danificado. Também foi criado pelo Governo o Gabinete de Reconstrução Pós -Idai, que irá coordenar todas as acções de reposição das infra-estruturas des truídas pelo ciclone.

É uma mobilização jamais vista e que, desde cedo, vem cobrindo, em donativos, toda a fase de emergência, que deve ter minar no fim de Maio corrente.

Com diversas equipas de Avaliação das Necessidades Pós-Idai (PDNA na sigla em inglês) já no terreno, é tempo de fa zer contas sobre como será o processo de reconstrução das infra-estruturas so ciais e económicas, que vão desde vias de acesso aos sistemas de abastecimen to de água e electricidade, passando pela reconstrução de escolas, hospitais, en tre outras. No processo, terão de passar certamente muitas noites em branco.

milhões de dólares

É a estimativa do valor necessário para reconstruir toda uma região devastada que viu estradas, pontes, habitações, escolas, hospitais, indústrias e outras infra-estruturas serem completamente destruídas

500o desafio de financiar…

As doações já feitas e as promessas de recursos para esta missão fazem pre ver facilidades que só o tempo se vai en carregar de testemunhar, já que não se sabe ainda quanto dinheiro será neces sário (prevê-se que seja um valor acima dos 500 milhões de dólares), nem o que se vai conseguir mobilizar para as neces sidades mais imediatas, na Conferência de Doadores, convocada pelo Governo para este mês. Por agora, vale dizer que a rectificação do Orçamento do Estado, anunciada pelo Executivo como uma das armas para financiar a reconstrução, é uma medida que divide as opiniões dos economistas ouvidos pela E&M. “Não faz sentido dizer que a reconstrução vai re querer um Orçamento rectificativo por que não se explica como se vai fazer isso”, defende António Francisco, economis ta e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE).

É que perante as dificuldades financei ras que o país atravessa, o Orçamento do Estado (OE) vem sendo definido com ba se em rigorosos critérios de austeridade

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Nação

António Francisco, conhecido também por ser crítico em relação à forma como é ge rido o OE. “É nestas alturas que acho que o Governo se aproveita para transferir recursos das actividades prioritárias pa ra as não prioritárias”, criticou. Já Alfre do Mondlane defende que será o sucesso da Conferência de Doadores que levará o Executivo a “desistir do rectificativo”, por acreditar que ali “poder-se-ão mobilizar recursos suficientes, visto que o relatório das necessidades será já conhecido”.

elogios ao gabinete de reconstrução

O furacão Katrina, que em 2005 atingiu Nova Orleães, nos EUA, vitimando 1 800 pessoas, é um dos exemplos da dificuldade em reconstruir infra-estruturas. Dez anos depois, ainda decorriam as obras, que acabariam por custar 108 mil milhões de dólares

e, ainda assim, já se previa um défice de 90 mil milhões de meticais, mesmo com todas as “gorduras” cortadas, pelo que o economista não vê em que sectores se poderá cortar mais para acomodar o ob jectivo da reconstrução pós-Idai. A esse respeito, o Executivo não apre senta detalhes sobre como pretende reorientar os recursos do OE, já que “es tá tudo ainda a ser estudado”, segundo a porta-voz do Conselho de Ministros, Ana Comoana, na altura em que anunciou que a revisão orçamental estava a ser equacionada.

O economista Alfredo Mondlane assume uma posição similar à de António Fran cisco, afirmando ser “difícil, nas condi ções actuais, mexer no OE sem prejudi car as áreas sociais”, o que sugere me didas “minuciosamente estudadas, vis to que esta revisão implica a retirada (e não adição) de recursos em rubricas que, desde cedo, estavam sujeitas a ope rar em défice”, considerou.

reconstruir sem rectificar

O FMI aprovou um montante de assis tência financeira de emergência no va lor de 118,2 milhões de dólares, no âmbi

to da Facilidade Rápida de Crédito (RCF), abrindo excepção à postura assumida há três anos, quando cancelou todo o tipo de apoio ao país. Junta-se agora a vários ou tros intervenientes, para suprir o eleva do défice orçamental e de financiamento externo decorrente das necessidades da reconstrução. Em comunicado, o FMI dá a entender que a solidariedade “é a respos ta ao esforço das autoridades para com a causa. As autoridades continuam compro metidas com a estabilidade macroeconó mica, que também será sustentada pelo financiamento do FMI. As principais me didas fiscais incluem a realocação das despesas de menor prioridade para a as sistência de emergência para os mais po bres e para a reconstrução”. Este e outros apoios que vão chegan do levam os economistas a acredita rem na possibilidade de se evitar a rec tificação do OE. “Primeiro, é preciso sa ber os recursos que o Governo já rece beu em apoios para depois definir se se rá mesmo necessário recorrer ao orça mento rectificativo, porque o que o país já recebeu e o que já está prometido pelos doadores pode até ultrapassar o que se tem como défice do Orçamento”, defende

Em relação ao Gabinete de Reconstrução Pós-Idai, António Francisco considera ser “uma oportunidade de apoiar o Conselho Municipal da Cidade da Beira na gestão das necessidades do espaço municipal. Mas desconfio que isso não aconteça. O Governo ficará ele mesmo a gerir o pro cesso, tal como aconteceu com os ´sete mi lhões´ (fundos de apoio a iniciativas locais introduzidos no Governo do ex-Presidente Guebuza), criticou uma vez mais, vincando o seu descrédito em relação à capacidade de mobilizar recursos, justificado pelo fac to de “os doadores não terem razão para confiar nos nossos gestores”, sendo des de já, necessário que “demonstrem com transparência como será gerida a ajuda, não dando azo a dúvidas.”

Ari Aisen, representante-residente do FMI em Moçambique, dá a entender que a criação do Gabinete de Reconstrução Pós-Idai seria mais uma janela para o res tabelecimento da confiança pelas autori dades moçambicanas, que se perdeu há três anos. Aisen, que visitou a cidade da Beira em finais de Abril, entende que este Gabinete “será um sinal de busca pela boa governação e transparência.”

Para já, tudo está em dúvida. Mas as esti mativas preliminares do Governo apon tam para a necessidade de mais de 500 milhões de dólares e um prazo de, pelo me nos, cinco anos para a reconstrução total da Beira e das zonas afectadas pelo Idai. “A primeira grande missão passa por desenhar um plano para recolocar infra-estruturas resistentes às intem péries”, considera José Forjaz, arquitec to de renome, há muito tempo radicado em Moçambique, sugerindo que isso exige muito dinheiro já que “requer a transformação do padrão anterior das construções. A equipa do Conselho Municipal está ciente disso e dispõe de pessoal com capacidade técnica para corrigir o que está mal, estou certo disso. Já o ambientalista Carlos Serra vai mais longe. “As projecções da cidade da Beira

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Beira
Plano de recuperação após o Katrina, nos EUA, tem sido dado como exemplo da demora na reconstrução

os grandes números de uma... grande ajuda

a comunidade internacional está sensibilizada e os apoios vão chegando num ritmo que tem gerado alguma confusão entre os que se direccionam à situação de emergência e os que serão adjudicados à reconstrução pós-idai. eis alguns dos mais destacados:

300 90

milhões de dólares

A Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a revisão do seu programa de apoio à reconstrução de infra-estruturas destruídas pelo ciclone tropical Idai, passando de 200 para cerca de 300 milhões de dólares.

Milhões de dólares

Ainda em Março, o Banco Mundial havia prometido o desembolso de 90 milhões de dólares, no âmbito do programa de gestão de acidentes e riscos incluindo a minimização das consequências da passagem do ciclone Idai.

milhões de dólares

A assistência financeira aprovada pelo FMI no quadro da Facilidade Rápida de Crédito, que visa suprir os elevados défices orçamentais e de financiamento externo decorrentes das necessidades de reconstrução após-Idai.

50

milhões de dólares

A Alemanha vai doar 50 milhões para a restauração do rio Chiveve e dos mangais que “deverão ter um efeito positivo a médio e longo prazo contra as mudanças climáticas”, de acordo com Detlev Wolter, embaixador alemão em Moçambique.

milhões de dólares

Valor que o BAD vai disponibilizar a Moçambique, Zimbabué e Malaui para os projectos de reconstrução pós-Idai. O valor será repartido entre os países e Moçambique terá a maior fatia, visto que é o território mais afectado pelo fenómeno.

118,2 100 1,5

milhões de dólares

É o apoio do Fundo de Solidariedade criado pela CPLP para apoiar as regiões atingidas pela calamidade. A iniciativa surge após a reunião do Comité de Concertação Permanente, com representantes dos nove Estados-membros.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 23

Nação

indicam que nos próximos anos poderá ficar submersa, a não ser que façamos grandes investimentos em infra-estru turas como diques, aterros, e todos os sis temas defensivos artificiais que custam muitos milhões de dólares”, defende. Ambas as intervenções consubstanciam o apelo feito pela diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para as Ha bitações (UN-Habitat), Maimunah Mohd, no sentido de se investir “em constru ções resistentes, para prevenir novos impactos climáticos, como aconteceu com o Idai”. O que ganha especial rele vância após o pior ciclone tropical da úl tima década, pelo menos, na região do sudoeste do Índico. Mas outros virão. Moçambique é o terceiro país africano mais vulnerável a desastres relaciona dos com fenómenos meteorológicos ex tremos, de acordo com o Global Facility for Disaster Reduction and Recovery (GFDRR), um grupo de trabalho ligado ao Banco Mundial e às Nações Unidas, que divul gou as suas conclusões há poucos meses. Felizmente, não faltam sinais de que é pos sível vencer as batalhas que se impõem. Mesmo antes da Conferência de Doado res, instituições como o Banco Mundial, Banco Africano de Desenvolvimento,

losserra

aC r

ambientalista

“É preciso avaliar se valerá a pena continuar a apostar em áreas que sabemos que vão ficar abaixo do nível do mar nos próximos anos… repensar o tipo de cobertura dos edifícios, mesmo que o mais seguro saia relativamente caro”.

FMI e a UE, além de terem anunciado pacotes de apoio directo à reconstrução, comprometeram-se ainda a ajudar na mobilização de outros financiadores. Olhando às contas já fechadas, a EDM contabilizou 120 milhões de dólares para a reposição do sistema de abastecimen to de energia afectado. Luís Amado, por ta-voz da estatal explica à E&M que, pa ra as redes de distribuição, está a tra balhar com a Norconsult, da Noruega, e com a Fishtner da Alemanha para as centrais de Chicamba e Mavusi, na pro víncia de Manica, que foram danificadas. Nesta altura, a EDM está a repor 7 000 torres de baixa tensão, 2 000 postes de média tensão e cerca de 3 000 mil qui lómetros de rede eléctrica. “Todo es te trabalho exige a mobilização de fi nanciamento, consultores, empreitei ros, entre outros, levando a que o pro cesso se possa estender por mais de seis meses, dependendo da entra da de financiamento. Por enquanto, ele ainda não chegou”, lamenta, recor dando os 21 milhões de dólares já gas tos. Já o sector da Educação avaliou em 30 milhões de dólares as necessida des para reconstruir e reabilitar mais de seis mil salas de aula nas quatro

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 24
Beira
Gabinete de Reconstrução Pós-Idai aponta para um período de cinco a dez anos para conclusão dos trabalhos

províncias afectadas pelo ciclone. Até aqui, o debate tem naturalmente estado centrado na reacção. E é legíti mo que assim seja. Mas há uma discus são oportuna a desenvolver. A precau ção. O ambientalista Carlos Serra enten de que o Gabinete de Reconstrução Pós -Idai deverá tomar em conta a reposi ção do ecossistema no mapa da recons trução. Para argumentar, avançou com o exemplo da experiência de 2004, ano em que um tsunami devastou 12 países da Ásia e África. “Vários estudos mostram que se, porventura, os ecossistemas cos teiros não tivessem sido profundamen te alterados e danificados (construção em locais impróprios, destruição de du nas, de vegetação costeira e de recifes de coral), o número de vítimas e de es tragos materiais não teria sido tão ele vado”. Trata-se de um exemplo aplicá vel à cidade da Beira “cujo ecossistema tem vindo a sofrer profundas alterações. Havia a formação de mangal que ser ve para proteger a costa da subida do nível das águas e as populações contra a

ónioFranCisCo

a n t

economista

“recorrentemente, não nos preparamos para este tipo de eventos. O Porto da Beira é um bom exemplo de que era possível fazer algo para evitar danos de maior envergadura… nunca atacamos estas situações com funcionalidade.”

acção dos ventos”, o que aumentou a vul nerabilidade da área. “O ciclone chega ria sempre. A grande diferença é que se efectivamente tivéssemos uma forma ção de mangal intacta, certamente não teríamos danos desta magnitude”. Serra faz também menção à necessida de de se fazer o ordenamento do territó rio “que, mais do que desenhar ruas, pas sa por equacionar espaços públicos, dre nagens de água, pontos de fuga ou saídas de emergência. sob pena de estarmos sujeitos a outro tipo de riscos, como o que aconteceu numa cidade da Grécia no ano passado, em que um incêndio matou mui ta gente que não conseguiu fugir a tem po porque os acessos estavam limitados”, descreveu, sublinhando a necessidade de se optar por alternativas de recons trução que sejam mais seguras e por is so… mais caras. Veremos como, quan do e com que cara, renascerá a Beira.

textO Celso Chambisso fOtOgrafia Jay Garrido, istoCk Photo

Nação

O que O IdAI levOu e O que A AjudA externA deIxArá nA ecOnOmIA

O Governo reviu em baixa o crescimento do PIB para não mais do que 2,8% este ano. É a previsão mais pessimista, mesmo que os apoios continuem a surgir, apesar do caso das dívidas ocultas, mostrando que Moçambique continua a ter muitos amigos lá por fora. Para já, o FMI autorizou um empréstimo de emergência de 118,2 milhões de dólares

se há coisa que o ciclone idai provou foi que Moçambique tem ainda, de fac to, muitos amigos. A ajuda humanitária fez toda a diferença nos dias e semanas críticos que se seguiram à devastação provocada pelo Idai. Graças a aviões, helicópteros, barcos e pessoal treinado, a tragédia foi mitigada até onde foi humanamente possível. O apoio chegou de 15 países, além de vá rias dezenas de organizações internacio nais como agências das Nações Unidas, Cruz Vermelha e Crescente Vermelho e Médicos Sem Fronteiras, organizações religiosas de todos os quadrantes e mui tas empresas nacionais e internacionais.

2,8%

Taxa de crescimenTo do pib foi revisTa em baixa pelo governo

E a ajuda financeira também está a che gar. Pela primeira vez em alguns anos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai voltar a desembolsar verbas após o es cândalo das dívidas ocultas. A questão é: a ajuda dos amigos vai chegar para recompor o centro de Moçambique?

As contas que contam O primeiro a fazer as contas do impacto do Idai em Moçambique e a apresentá -las publicamente foi o ministro da Eco nomia e Finanças, Adriano Maleiane que, publicamente, previu um verdadei ro trambolhão no crescimento económi co inicialmente previsto para este ano.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 26
beira

AjudA mAIs dO que dOnAtIvOs

Um pouco por todo o mundo, especialmente em países de língua portuguesa e em muitos dos que têm missões de cooperação em curso em Moçambique, têm surgido iniciativas solidárias de recolha de donativos para enviar para Moçambique. No entanto, enviar uma dúzia de latas de salsichas, por exemplo, a partir de Portugal, pode custar até 200 euros, o mesmo valor que, por exemplo, o Programa alimentar Mundial (PaM) usa para alimentar 20 pessoas durante um mês, alerta Pedro Matos, coordenador de emergência do PaM. “eu e a maior parte das pessoas do mundo humanitário estamos convencidos que, efectivamente, a melhor forma de ajudar é fazer donativos em dinheiro. as pessoas têm a ideia de que o dinheiro pode ser desviado mas, na realidade, não há motivo nenhum para acreditar que isso acontece com o dinheiro, e não com o arroz, por exemplo”, adianta. O responsável do PaM admite mesmo

que “há qualquer coisa de enormemente recompensador na acção de comprar alguma coisa para dar”, mas insiste que os donativos em géneros acabam por se revelar “um problema”. e explica que isso se deve a questões logísticas. ”É preciso alguém para receber o contentor e distribuir os géneros, separar roupas, fraldas e alimentos que, muitas vezes, se encontram misturados” e tudo isso não passa de uma “gota no oceano das necessidades”, referiu. Por isso, “o ónus destas contribuições em géneros” recai nas próprias organizações humanitárias que estão no terreno e são, por exemplo, obrigadas a desviar pessoas para separar todos os bens, em vez de distribuírem alimentos.

O coordenador de emergência do PaM sugere, antes, que as pessoas ponderem na escolha de uma organização em que confiem plenamente e que procurem informações na internet sobre o destino que é dado aos seus donativos em sites como o www.charitynavigator.org.

Ashbourne, analista que segue Moçam bique na consultora Capital Economics, e que considera que, apesar de ter si do devastador do ponto de vista huma no, o ciclone deverá ter um impacto “sur preendentemente limitado” do ponto de vista económico. “A economia moçambi cana é baseada apenas em alguns sec tores, por isso, se estes continuarem a funcionar, os danos para a sociedade, de uma forma geral, podem não ser assim tão evidentes nos dados económicos ofi ciais”, nomeadamente no PIB.

Os sectores chave são a exportação de minérios e electricidade. “Desde que o comboio para Nacala funcione”, expor tando carvão e outros minerais, “a dis rupção pode não ser assim tão enorme”, conclui o economista, que se mostra mais preocupado com os prejuízos na infra -estrutura eléctrica de exportação para a África do Sul.

A Electricidade de Moçambique (EDM) está a avançar com as reparações, orça das em 120 milhões de dólares, para re construir a grelha de distribuição des truída no centro do país.

Parte do montante será mobilizado atra vés de fundos internos, sendo que o Go verno e os parceiros internacionais vão cobrir o remanescente.

As suas previsões, foram, com ou sem surpresa, as mais pessimistas de to das, até agora. “Estimamos uma per da de dois pontos percentuais em fun ção do que tínhamos projectado para 2019”, afirmou, referindo que as pre visões nacionais anteriores aponta vam para um crescimento de 3,8%. “Com este ciclone, pensamos que o PIB po de baixar para um intervalo entre 1,1% e 2,8%, portanto [o impacto do Idai] é mui to forte”, declarou Adriano Maleiane, em Washington, na sede do Banco Mundial, no final de uma mesa redonda em mea dos de Abril sobre o ciclone Idai - um en contro que contou com representantes de 30 nações.

O ministro acrescentou que o Governo espera, ainda, uma subida da taxa de inflação - que no final de 2018 se situa va em 3,8% - na ordem de um dígito, de vido às enormes necessidades criadas pelo ciclone. No entanto, o Executivo vai esforçar-se para “minimizar o sofrimento dos mais necessitados” e “tudo fazer para que a inflação não atrapalhe”, declarou.

Impacto limitado?

A declaração de Adriano Maleiane contrasta, por exemplo, com a de John

15foram os países que movimenTaram meios e pessoal para apoio: África do sul, angola, boTsuana, brasil, espanha, esTados unidos da américa, frança, índia, iTÁlia, quénia, marrocos, porTugal, reino unido, Tanzânia, Turquia.

A consultora EXX Africa perspectiva maiores dificuldades. Considera que “a capacidade de Moçambique recuperar rapidamente depois da tempestade e garantir a resiliência a eventos futuros deste género está em dúvida”, escreveu o director, Robert Besseling, num relató rio sobre Moçambique.

Como a agricultura representa mais de 20% do PIB e emprega quase 80% da for ça de trabalho, “o Idai vai ter um impacto imediato na vida da maioria dos moçam bicanos”, escreve a consultora, acrescen tando que, “além dos custos de recons trução, várias importações de alimen tos, particularmente milho, devem du plicar durante este ano devido à desci da da produção interna”.

Orçamento rectificativo é hipótese Também o Standard Bank reviu em bai xa a previsão de crescimento de Mo çambique para este ano e em alta o cres cimento da inflação, mas não de forma tão pessimista como o ministro da Eco nomia e Finanças havia feito, dias antes. Aquele banco baixou a perspectiva de crescimento do PIB de 3,7% para 3,5%, au mentando a estimativa de inflação de 5% para 6,2%, referiu o economista-chefe, Fáusio Mussá. “As nossas previsões

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dInheIrO

Nação

já dAvA sInAIs de ABrAndAmentO

De acordo com os dados oficiais publicados pelo Governo, a economia de Moçambique cresceu 3,3% no ano passado, mas desde o terceiro trimestre de 2017 (quando expandiu apenas 1,4%) que a evolução da produção de riqueza, medida pela média trimestral, não registava um valor tão baixo como nos meses mais recentes: no último trimestre do ano passado, a economia cresceu 3,1%, abrandando para abaixo dos 3,2%, 3,4% e 3,3% que registou nos trimestres anteriores de 2018, e ainda mais abaixo do que os 4,9% que se registaram no último trimestre do ano de 2017.

A declaração de Adriano Maleiane contrasta, por exemplo, com a de John Ashbourne, analista da consultora Capital Economics que considera que, apesar de “devastador”, o ciclone deverá ter um impacto “surpreendentemente limitado” na economia

actualizadas reflectem um aumento dos riscos causados pelo impacto negativo do Idai, por pressões temporárias na li quidez em moeda externa e no câmbio, e por eventuais pressões fiscais devido às eleições gerais que, até há pouco tem po, se mantiveram muito discretas”, dis se, apontando que “o Governo está a equacionar um orçamento rectificativo para acomodar os impactos do ciclone”. O Fundo Monetário Internacional (FMI) ainda não fez nenhuma actualização à previsão divulgada no último mês de Outubro referente ao crescimento da economia de Moçambique em 2019, mantendo-se em 4%. Mas, para já, o con selho executivo aprovou a concessão de um empréstimo de emergência no valor de 118,2 milhões de dólares destinado a apoiar Moçambique.

Esta verba enquadra-se num mecanis mo específico: o FMI empresta, em situa ções de emergência, entre 60 a 120 mi lhões de dólares (cerca de 53 a 106 mi lhões de euros), no âmbito do Instru mento de Crédito Rápido (RCF, na si gla inglesa). “O desembolso [desta ver ba] ao abrigo do RCF vai ajudar nas ne cessidades imediatas de financiamento

do país e desempenhar um papel cata lisador para captar fundos de doadores e da comunidade internacional”, desta cou o director adjunto do FMI, Tao Zhang, em comunicado.

O dirigente realçou que os custos da reconstrução e da assistência de emergência são “enormes”, tornan do o Idai no pior e mais caro desas tre natural de sempre a atingir o país. Embora os gastos estejam a ser dirigi dos à assistência de emergência, “o espa ço de manobra é limitado e a maior par te da ajuda de emergência e das neces sidades de reconstrução terão de ser co bertas pela comunidade internacional, sobretudo na forma de donativos, para assegurar a sustentabilidade da dívida”, acrescenta Zhang.

O responsável do FMI refere ainda que as autoridades estão a criar almofa das orçamentais para preparar e ge rir futuros desastres naturais e procu ram aliviar a dívida junto dos credo res privados, “o que é importante para pôr a dívida pública numa trajectória descendente”.

Já em Maputo, Ari Aisen falava no âmbito da missão técnica do FMI a Moçambique

(ao abrigo das consultas do Artigo IV, que ocorrem anualmente com os países -membros do FMI), e reafirmava o apoio da organização à economia nacional. “O FMI apoia Moçambique e estamos sempre juntos em assistência técni ca, aconselhamento e política”, afirmou. Por seu lado, o Banco Mundial calcula que serão necessários 2 000 milhões de dólares para recuperar infra-estrutu ras e meios de sustento nos países afec tados pela passagem do ciclone Idai (Mo çambique, Malaui e Zimbabué), em Mar ço passado, sendo que, a factura do la do moçambiçano nunca andará abaixo dos 500 milhões, estimando-se que pos sa chegar aos 750 milhões de dólares. Em comunicado, o Banco Mundial refe re que mobilizou “recursos substanciais”, que não quantificou, para “reparar es tradas e canalizações de abastecimen to de água e esgotos, higiene, controlo e prevenção de doenças, agricultura e segurança alimentar”.

A instituição financeira internacional diz que vai “procurar ter acesso a recur sos adicionais”, através de um trabalho em conjunto com doadores, para “mobili zar um fundo” e, numa fase seguinte, de senvolver esforços para a “reconstrução e recuperação a médio e longo prazo nos países elegíveis”.

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beira
PIB Com a fase de emergência a acabar começa o tempo da reconstrução textO Luís Fonseca, serviço especiaL da Lusa para a e&M fOtOGrafia d.r.

“Vamos financiar e mobilizar doadores para a reconstrução”

pietro toigo Representante do BAD em Moçambique

o banco africano de desenvolvimento (bad) está, des de o momento da ocorrência do Idai, entre as instituições multi laterais mais interventivas no apoio às vítimas, e garante es tar disposto a aumentar esse apoio em todas as fases de re construção de infra-estruturas e de reposição da normalidade diária, de quem tudo perdeu. Na entrevista com Pietro Toi go, representante do BAD em Moçambique, a E&M ficou a saber que esta instituição fez parte do desenho do Gabinete de Reconstrução Pós-Idai, em bora sejam ainda pouco claros os caminhos efectivos que es te Gabinete vai trilhar, já que tudo depende do levantamen to dos danos, um processo que está a decorrer. E introduz um dado importante de que pou co se fala, mas que deveria in tegrar os debates sobre a re siliência climática a partir da lição do Idai: o Seguro Climáti co que existe num dos depar tamentos da União Africana, e que “apoiaria muito” as ini ciativas de reconstrução, caso Moçambique tivesse aderido.

O BAD tem sido um dos actores mais interventivos no apoio à minimização dos danos nas áreas assoladas

pelo Idai em Moçambique, Zimbabué e Malaui. Até agora, como se resumem as acções do BAD?

A nossa abordagem tem três níveis. o primeiro é o ime diato, de emergência, onde já mobilizámos 1,5 milhões de dólares para as regiões afec tadas, dos quais um milhão só para Moçambique, canaliza dos através do Instituto Nacio nal de Gestão de Calamidades (INGC). Esses fundos de emer gência financiaram aspectos mais urgentes, como abrigo e comida a pessoas que estão sem esses meios nos centros de acomodação. Além disso, estamos a mobilizar fundos climáticos que nos podem aju dar neste período de emer gência, sendo que ainda po demos contar com 1,7 milhões de dólares adicionais para este objectivo. os outros dois níveis onde poderemos inter vir, mas que estão ainda em estudo, são de médio e longo prazo, portanto, posteriores a esta fase de emergência.

O que é possível avançar sobre o que se espera nes sa fase posterior?

A médio prazo, coloca-se o grande desafio de ajudar as pessoas a regressarem às

QUEREMoS TER UMA ABoRDAGEM MAIS AMPlA E, PARA TAl, ESTIMAMoS QUE PRECISAREMoS

DE ENTRE 70 E 100 MIlhõES DE DólARES PARA oS TRêS PAíSES, QUE DEPoIS SERão REPARTIDoS

suas casas e retomarem as suas actividades económicas. Falo de pequenos comer ciantes, camponeses... have rá uma grande necessidade de mobilizar recursos para ajudar as pessoas a regres sarem à vida normal, o que incluirá o reassentamento de muitas delas em zonas não propensas a desastres natu rais. A longo prazo, impõe-se o trabalho de reconstruir infra-estruturas, como es tradas e pontes que caíram e que isolaram comunidades, reabilitar o abastecimento de água e de energia, que tam bém são fundamentais na re cuperação económica.

Olhando a experiências de outras geografias, como a do ciclone Katrina nos EUA, em 2005, devastações desta natureza exigem esforços que se arrastam por mais de uma década e a uma mobilização de recursos permanente…

Ainda estamos a desenhar um pacote regional, mais con sistente. o que posso dizer é que o corredor da Beira po derá ser prioritário porque é um bem público que beneficia os três países afectados pelo Idai e outros, no hinterland. Queremos ter essa aborda gem mais ampla e, para tal, estimamos que precisaremos de entre 70 e 100 milhões de dólares para os três países, que depois serão repartidos. Também estamos a trabalhar com o Governo para darmos uma solução permanente à questão da sustentabilidade climática. Temos produtos de seguro climático já bastan te desenvolvidos em África, através dos quais propomos uma solução que envolva ou tros parceiros, casos da União Africana (UA), que tem uma agência de seguros climáti

Na voz de... www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 30 BEIRA
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cos. Felizmente, este é um as sunto que os representantes mais altos do Governo olham com grande interesse.

É verdade que a reconstru ção pós-Idai é ainda uma ideia com muitos pontos por definir mas, por esta altu ra, já deverão existir luzes sobre por onde começar e como e a quem se deve ten tar buscar financiamento. É assim?

Queremos apoiar o Governo na organização da Conferên cia dos Doadores, que tem em vista a mobilização dos recur sos que serão necessários ao processo de reconstrução. ob viamente, não temos estima tivas precisas porque o tra balho de levantamento está a decorrer, mas sabemos que os custos são elevados e tal vez acima das cheias de 2000 na província de Gaza (mais de 500 milhões de dólares, na al tura). o que podemos respon der com alguma propriedade é que, para fazermos a reposi ção dos danos sem prejudicar a trajectória de desenvolvi mento do país, temos de mo bilizar recursos. Neste senti do, o BAD pode e vai ajudar buscando a intervenção do sector privado africano e até de fora do continente, envol vendo outros doadores, como Fundações, incluindo aquelas que tradicionalmente não operam em Moçambique. o mais importante que se deve ter para haver clareza face à complexidade do que se espera é, antes de tudo, uma estratégia clara de entendi mento com doadores durante a preparação da Conferência de Doadores que o Governo anunciou, e também estima tivas precisas das necessi dades prioritárias a serem apoiadas pela comunidade internacional Até nestes as pectos, o BAD já presta apoio.

Em Abril, o Governo apro vou a criação do Gabinete de Reconstrução Pós-Idai. Até que ponto este ins

trumento vai ajudar na caminhada?

Tivemos a oportunidade de discutir com o Executivo al guns aspectos porque fomos consultados quando esse mecanismo foi desenhado. é muito positiva a ideia em si, e ainda mais pelo facto de se te rem incluído como membros o gabinete do governador provincial, o presidente do conselho municipal da Beira e os líderes de diversos distri tos numa estrutura inclusiva e ampla. Será um projecto complexo, multissectorial e que vai precisar de um me canismo de coordenação es pecial. Considero ser muito importante a criação deste Gabinete. Resta-nos ver como vai funcionar, mas espera mos que funcione tão bem como na fase de emergência.

Na sua óptica, quais devem ser as linhas orientadoras da coordenação, no âmbito

“o BAD PoDE E vAI AjUDAR BUSCANDo A INTERvENção Do SECToR PRIvADo AFRICANo E ATé DE FoRA Do CoNTINENTE, ENvolvENDo oUTRoS DoADoRES, CoMo FUNDAçõES, INClUINDo AQUElAS QUE INClUINDo AQUElAS QUE Não oPERAM EM MoçAMBIQUE”

do Gabinete de Reconstru ção Pós-Idai, em termos de prioridades?

é difícil para mim, sentado num escritório, dizer qual deve ser a prioridade. há equipas que estão no terreno a fazer levantamentos. Ago ra, é preciso ter uma ideia real dos danos no terreno. Não há qualquer sector que deva ser visto como prioritá rio, mas sim um conjunto de coisas que têm de ser feitas em simultâneo. As priorida des variam de área em área. Outro desafio enorme é o fac to de muitas pessoas não po derem voltar aos locais onde estavam. Nestes casos, há que parcelar novos terrenos e instalar infra-estruturas mí nimas de habitabilidade.

É possível estimar um pra zo para a reconstrução? há um debate de longo pra zo. Agora estamos na fase de emergência e dizemos que,

Na voz
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de...
BEIRA
Reconstrução plena poderá prolongar-se ao longo da próxima década

oxalá no final de Maio, entre mos no kick off das economias locais (agricultura e peque no comércio). Depois temos o longo prazo, onde teremos de discutir, por exemplo, como vamos reconstruir as infra -estruturas de uma maneira a que sejam resistentes a cho ques climáticos, como vamos replanificar o crescimento da cidade da Beira tornando-a menos exposta a eventos ex tremos da natureza.

Falou no produto de seguro climático que está disponí vel em África. É um assunto que parece pouco abordado. Como funciona este seguro? há dois tipos de ferramentas desta natureza: os fundos de calamidades que o Governo até já criou, e que espera mos que possam financiar a reconstrução e a resposta a problemas climáticos. outra ferramenta é o seguro climá tico, que funciona como qual

quer outro tipo de seguro. ou seja, o país tem de decidir o que quer cobrir (sejam secas, ciclones ou cheias) e se o quer fazer a nível nacional ou só nas províncias propensas a desastres naturais. Este ins trumento funciona através de uma agência da União Africana que promove a par tilha de risco em todo o con tinente. Felizmente há cada vez mais países a tomarem consciência dos riscos climá ticos. Particularmente os da África subsaariana aderi ram muito ao seguro climá tico nos últimos anos, embo ra não possa agora precisar quantos são. o Malawi (tam bém assolado pelo Idai) ade riu há quatro anos e há mais países a exprimirem interes se, como Moçambique.

Então, Moçambique não ti nha aderido e o Idai veio acelerar um pouco esta necessidade?

Não tinha aderido, mas a consciência e o interesse do Governo já existiam mesmo antes do Idai. Não tenho in formação precisa sobre os custos, mas acredito que, an tes, o Governo teve receio em aderir porque saía mais caro quando havia poucos países segurados. Além disso, é sem pre difícil chegar a consensos sobre a decisão final, porque as pessoas geralmente não sabem como este tipo de ins trumentos funciona.

Em que medida?

o seguro prevê uma cer ta celeridade na cobertura de danos climáticos com um máximo de 20 dias no prazo de pagamento. Senegal, por duas vezes, e Malawi já bene ficiaram. Pode ser uma ferra menta essencial em futuros eventos deste género,

tExto Celso Chambisso fotogRAfIA Jay garrido & d.r.

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Já existem casos de países subscritores que tenham beneficiado deste seguro?

província Manica

na província de ouro, nem tudo o que luz... é riqueza. Bem pelo contrário

No retrato de uma província tantas vezes esquecida, é importante lembrar que “nem tudo o que luz é ouro”. E o adágio popular parece assentar que nem uma luva ao que se vive e se vê, ainda hoje, por toda a Província de Manica

a nível nacional, Manica é considera da a província de ouro, porque é lá onde este metal precioso mais abunda. No entanto, o desenvolvimento tarda em acontecer, até porque este recurso só en riquece verdadeiramente os garimpei ros ilegais (nacionais e outros vindos de países vizinhos, como malauianos e zim babueanos), e pouco acrescenta à ba lança comercial de uma província on de ainda são poucas as empresas for mais que se dedicam à exploração deste precioso minério.

Sabendo que, em termos de produção, a Província registou nos últimos cinco anos uma evolução gradual que se elevou

províNcia mAniCA

capital Chimoio área 61 661 km² Número de habitaNtes 21 911 237 região Centro

dos 75 quilogramas, reportados em 2015, até aos 457 quilogramas do ano passado, continua a verdade corrente por aque las bandas que este resultado fica, ainda assim, demasiado aquém da real produ ção extraída dos rios e minas de Manica.

riqueza informal

Existe, inclusivamente uma estimativa mais ou menos oficial, que atesta esta realidade, e de que a quantidade repor tada andará mesmo pela casa dos 20% de um total que ninguém verdadeira mente pode estimar..

Dados obtidos pela E&M junto de fontes locais apontam que a extracção artesanal

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de ouro em Manica é a principal activi dade informal no domínio da explora ção de recursos minerais na Província. Ali, os garimpeiros é que ditam as leis, não as autoridades, sendo que a Polícia não penetra no seu território sem avisá-los. “Os zimbabueanos, na sua maioria, sa queiam o ouro a seu bel-prazer em áreas concessionadas pelo Estado e, claro, Moçambique nada ganha com o negócio”, diz-nos uma fonte do governo provincial que prefere permanecer não identificada.

Até por esta percepção de alguma in formalidade excessiva, tem havido mo vimentações para devolver alguma ordem à exploração de ouro na região. Ainda recentemente, com o anúncio da instalação de um entreposto comercial para a compra e venda de ouro por parte da Empresa Moçambicana de Exploração Mineira (EMEM), detida pelo Estado, um dos exemplos de investimen tos em curso na área do garimpo.

Por via disso, o Governo de Manica acre dita estar na formalização da actividade “a real solução para a captação de maio res receitas por parte do Executivo local.”

Contactada a Direcção Provincial de Re cursos Minerais e Energia de Manica, esta disse à E&M que a exploração do ouro naquele ponto tem registado “uma evolução significativa em termos de quantidade”, mas assinala também que o que tarda “são as receitas”, algo que atri bui “à proliferação de garimpeiros ile gais”, dizem-nos. “Não podemos afirmar que as receitas que conseguimos corres pondem ao potencial do ouro existente, acho que é uma parte daquilo que devia ser”, considera Silva Manuel, director provincial de Recursos Minerais e Ener gia, para depois sublinhar que “ainda não nos sentimos confortáveis porque a nossa área é vasta e tem muita gente a trabalhar também de forma ilícita.”

Um estudo feito pelo Observatório do Meio Rural (OMR), em 2016, intitulado “Ex ploração Artesanal em Manica”, refere que durante a era colonial, a produção de ouro chegou a ser feita em escala empre sarial, proporcionando emprego às po pulações locais, tendo baixado durante a guerra civil do pós-independência (19761992), pelo facto de muitos trabalhadores se terem refugiado nos países vizinhos. E as minas de ouro de Mimosa e Mu nhena, no distrito de Manica, de Ban dire e de Tsetsera, no distrito de Sus sundenga, e de Ngwawala, no distrito de Macossa, são até consideradas as cinco maiores minas de ouro no país.

É o número de empresas que detêm licenças de exploração. no entanto, deste número, apenas 20 É que estão a operar

A insuficiência das receitas prove nientes da exploração tem também a ver com a localização das explorações de ouro junto à fronteira, não haven do para tal um controlo efectivo das fronteiras. “Temos esse problema, pois é uma área vasta e não conseguimos controlar tudo, porque isso significa que todo o minério devia ser vendido em Moçambique e não havendo con trabando. Mas a fronteira está aberta, temos controlo, mas não podemos dizer que é fácil fazer um controlo efectivo de toda a extensão”, justifica Silva Manuel. No entanto, este está longe de ser um mal exclusivamente nacional. Segundo uma pesquisa realizada pelo CDI EU-ACP (Centre for Development of Industry Eu ropean Union, Africa Caribbean and Pa cific) sobre o sector de mineração de pe quena e média escala em África, a nível mundial, um quarto do ouro é produzido pelos sistemas de mineração artesanal ou de pequena escala.

Em Maninca, a maior parte do ouro é, todos o assumem, explorado em moldes artesanais e exportado ninguém sabe bem para onde. E este é um segmento que até tem crescido, sendo que hoje o garimpo ilegal de pequena escala atrai cada vez mais gente, de camponeses lo cais a migrantes que vêm do estrangei ro em busca de uma oportunidade (dou rada) de enriquecer, sujeitando-se, por vezes, a condições de vida desumanas.

Fraca fiscalização

A E&M contactou o Conselho Empresarial (CEP) de Manica, que, simplesmente, não hesitou em apontar “a falta de fiscaliza ção das áreas de exploração mineira” como a principal razão para a informali dade que tomou conta do sector da mine ração de ouro, com resultado nas parcas receitas que a Província de Manica con segue angariar por via deste recurso tão abundante por ali. E não é só pelo garim po ilegal, explica Samuel Guisado, pre sidente do CEP-Manica, pois, prossegue, “se olharmos para o nível do investimen to feito pelas empresas que exploram ouro, notamos que não corresponde aos relatórios que eles publicam. Isto sig nifica que o ouro que está realmente a ser produzido não corresponde ao que está a ser reportado pelas empresas. Depois, estamos a assistir a um nível de poluição crescente que está a conta minar rios e campos agrícolas” reitera a fonte, sublinhando que “até aquelas áreas que estavam definidas para a pro dução agrícola já estão todas ocupadas,

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província Manica

mas não sabemos quem as ocupou”. Ainda assim, para o sector empresarial nem tudo está perdido, visto que é possível haver uma solução para inverter esse cenário.

Para tal, o CEP-Manica enumera um conjunto de relatórios que mostram ser possível uma maior fiscalização desses grupos que fazem exploração mineira, bastando para tal a vontade do Governo provincial “em apertar o cerco”.

mais do que ouro

Diga-se, em abono da verdade, que não é só pelo ouro que Manica é reconhecida, uma vez que existe abundância de outros metais preciosos e pedras ornamentais, como o granito, que no entanto ainda pou co pesam nas contas gerais da Província. Numa visita recente à região, o Presi dente Filipe Nyusi não escondeu a sua satisfação com o que viu e leu nos do cumentos apresentados em várias reu niões e, por isso, na inauguração da fá brica de processamento de granito nos arredores de Chimoio, dizia que “apesar da crise e dos problemas, as coisas em

Manica e no país estão a acontecer”. A fábrica de processamento de granito, extraído nas minas de Moatize em Tete e Sussundenga em Manica, é disso exemplo. Trata-se de um investimento de cerca de 10 milhões de dólares de um total de 30 milhões que a proprietária da Helnin Mining pretende investir em Moçam bique. Toda a cadeia de produção em prega perto de 200 pessoas e a fábrica terá capacidade de processar mais de 900 mil toneladas de granito por ano. Parte do produto final será comercia lizado localmente, mas a quase totali dade da produção será destinada à ex portação para a Ásia e para a Europa. No entanto, também ao nível do agro-ne gócio, Manica apresenta-se como grande produtora de banana mas, dizem-nos, “com um enorme potencial por explo rar”, no sentido de catapultar o desenvol vimento local através de uma cadeia de processamento e comercialização.

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texto Hermenegildo langa
fotografia d.r.
“O ouro que está a sair da Província não corresponde ao que está a ser reportado pelas empresas. E depois, estamos a assistir a um nível de poluição crescente que está a contaminar rios e campos agrícolas”
Poluição é evidente em muitos dos canais de água da Província, devido ao garimpo desenfreado

A inteligência assente nos dados. Que passos dar em Moçambique?

a inteligência artificial é habitualmente definida como a capacidade de uma máquina realizar funções cognitivas, tipicamente associadas à mente humana como a percepção de fenómenos, o raciocínio, a aprendizagem e a resolução de problemas.

A proliferação de dados e o aumento significativo da capaci dade computacional e de storage catapultaram a Inteligência Artificial de um conceito exótico para a realidade. Lembro que os utilizadores de devices electrónicos geram 2,5 quintiliões de dados por dia e que 90% dos dados existentes no mundo foram produzidos nos últimos dois anos. Em cada minuto os utilizadores do Youtube vêem quatro milhões de vídeos e os utilizadores móveis enviam mais de 15 milhões de mensagens em diversas apps.

Com o auxílio de algoritmos de “machine learning” podem detectar-se padrões e fazer predições e recomendações, pro cessando dados em vez de seguirem instruções de progra mação tradicionais. Estes algoritmos também se adaptam em resposta a novos dados e experiências para melhorar a sua eficiência com o tempo.

Os modelos podem, portanto, ser preditivos para antecipar ou prever acontecimentos e utilizados como fontes de insight para tomada decisões ou, de forma prescritiva, dando reco mendações para atingir objectivos e metas.

Ao nível corporativo é particularmente útil a detecção de pa drões, utilizando dados estruturados das várias bases de da dos corporativas ou não estruturados, como os existentes em redes sociais.

É uma ferramenta poderosa de identificação das melhores ofertas e da propensão de consumo de vários clientes, que po dem fazer a diferença no aumento das vendas e na captação de outros elementos de valor empresarial.

Se alguma vez fez uma busca no Netflix ou comprou na Ama zon, seguramente que um algoritmo de inteligência artificial foi usado para o auxiliar no seu processo de decisão. Se alguma vez se intrigou porque aparecem pop-ups para destinos de via gem ou para um produto que, por acaso, está neste momento

a ser equacionado em sua casa, tenha a certeza que foi baseado em algoritmos que monitorizam a actividade online. Outras áreas complementares de utilização de inteligência artificial nos domínios corporativos com impacto na top-line são, por exemplo, a optimização e personalização do pricing, a qualificação de oportunidades, o up-sell e cross-sell de produ tos e a gestão de performance.

A transformação digital e o novo perfil de consumidor - mais bem informado e exigente - são igualmente forças motrizes na introdução deste paradigma, e na construção de um novo modelo de relacionamento com os clientes, que implica conhe cer as suas preferências e fornecer um atendimento perso nalizado e proactivo.

Estas capacidades são particularmente relevantes em sec tores com elevado nível de relacionamento com o consumi dor final, como o retalho, o turismo, a banca e seguros e as telecomunicações.

Complementarmente, estes modelos analíticos podem igual mente focar-se na optimização do bottom line e em proble mas operacionais específicos, como por exemplo: optimização de rotas, manutenção preditiva, de custos com combustível e previsão de gastos de energia. O espectro alarga-se a outros sectores como a indústria, os transportes e a energia.

Para quem viu o “2001 Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, o computador “HAL” era apenas um devaneio de ficção científica, mas hoje para aí caminhamos a passos céleres.

Em Moçambique, este tema ainda é embrionário, mas os da dos existem quer nas bases de dados corporativas, ou em re positórios de informação externos como as redes sociais. Cabe aos vários gestores decidir por encurtar etapas e implemen tar, desde já, este tipo mais diferenciado de analítica nos seus planos empresariais. Afinal, Moçambique já o soube fazer de forma pioneira, em outras áreas, como os pagamentos móveis. Uma vez que é comum, hoje em dia, dizer que “os dados são o novo ouro ou petróleo”, é importante tirar partido também deste recurso, em paralelo com os mega projectos extractivos, nesta interessante senda de crescimento que se avizinha.

Os modelos podem ser preditivos para antecipar ou prever acontecimentos e utilizados como fontes de insight para tomada decisão ou, prescritivos, meios para atingir objectivos e metas

OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 38

mercado e finanças

Mais experiência e capital é o que a chevron proMete. Mas quando?

A sexta maior aquisição da história do sector do oil & gas gerou ondas de espanto. Em Moçambique também. Mas as consequências da mudança não deverão causar entraves ao processo já iniciado pela Anadarko

em abril de 2019, a Chevron anunciava ao mundo a aquisição da Anadarko Petro leum, por surpreendentes 33 mil milhões de dólares, mais a assunção da dívida de 17 mil milhões da empresa de petróleo e gás de Houston, o que eleva a operação para perto de 50 mil milhões de dólares, transformando-a no sexto maior acor do na área do petróleo e gás da História. A principal razão pela qual a Chevron — um gigante que na Fortune 500 es tá classificada como a terceira maior empresa norte-americana e uma das 20 maiores no mundo — avançou para a compra de uma empresa que nun ca foi tão grande como os seus sonhos, a Anadarko não está, no entanto, em Mo çambique. Na voz da grande maioria

dos analistas do mercado, fê-lo para fa zer crescer a sua posição dominante em pontos estratégicos do sector petrolífe ro. Matt DiLallo, analista do sector, não esconde a sua surpresa pelo negócio. “A minha reacção ainda é de surpre sa. A Chevron não necessitava de fazer negócios e, no entanto, aqui estão eles, a chocar-nos a todos com o sexto maior contrato de petróleo de sempre. Quanto mais investigo, mais entendo que é um bom negócio para a Chevron. Faz todo o sentido porque adiciona ao portefólio coi sas que eles não tinham”, escreve.

O que a Chevron na verdade pretende adquirir (a compra só ficará oficialmen te selada no segundo semestre do ano, por estar dependente da aprovação dos

accionistas da Anadarko) é uma posição de liderança na Bacia Permiana (a zona de maior produção de petróleo dos Esta dos Unidos, que se estende pelo Texas e Novo México) onde compete com a Exxon Mobil, a Apache, a Occidental e a Con cho Resources. Como a Chevron aponta, o acordo vai permitir a ligação de vários de seus campos, criando um corredor de 75 milhas de largura na Bacia, uma área que permitirá a perfuração de laterais mais longas, o aumento da produção de petróleo em cada poço e uma redução dos custos de produção por barril.

Se a Chevron já era uma das maiores proprietárias de terras na região, esta aquisição impulsiona a área detida em 100 mil hectares, para mais de 550 mil

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na Bacia de Delaware, a zona forte da nova economia que nasceu a partir da exploração do petróleo de xisto. Mas há mais benefícios desta mega -operação: é que o negócio também irá reforçar a presença da gigante do petróleo nas Rocky Mountains (no cen tro-norte da Pensilvânia e no Texas) onde a empresa já detém mais de 12 mil qui lómetros de pipelines, e está envolvida no negócio de colecta, compactação, tra tamento, processamento e transporte de gás natural, petróleo bruto e reco lha e eliminação de águas produzidas. Assim, a Chevron garante imediatamen te uma pegada dominante em todo este território. E fica igualmente com as po sições de águas profundas da Anadarko no Golfo do México.

Por fim, um brinde que nunca é de me nosprezar, mas que não passa disso mesmo nesta gigantesca movimenta ção de peças: o grande projecto de gás natural liquefeito (GNL) em Moçambique que irá colocar a Chevron “à mesa” com os seus rivais de sempre: a Shell, a BP e, particularmente, a Exxon Mobil, que também detém, como se sabe, activos im portantes em Moçambique.

Robert Rapier, com mais de 25 anos de experiência no sector de energia como engenheiro e investidor, escrevia recen temente na edição norte-americana da Forbes que “a Chevron não tem sido um participante importante no ‘mid stream’, que envolve o transporte e armaze namento de petróleo e gás. Este acordo dá-lhe isso mesmo, através de uma par ticipação de 55% na Western Midstream Partners, uma sociedade limitada de 16 mil milhões de de acções negociadas em bolsa. Os accionistas da Anadarko ficam, sem dúvida, satisfeitos com o aumen to imediato de 37% no preço das suas acções, as várias outras concorrentes vi ram as suas acções subirem por arrasto. Todos ficam contentes”.

Por tudo isto, quando o acordo for oficia lizado, a Chevron tornar-se-á a segunda maior petrolífera do mundo ao nível da produção “Isto “tornará uma grande empresa numa maior ainda”, afirmou o presidente executivo da Chevron, Michael Wirth, aquando do anúncio do acordo com a Anadarko. Este prevê que a Chevron pague 7 mil milhões de dóla res em dinheiro e entregue 200 milhões de acções à Anadarko, explica a agên cia Bloomberg. “É uma transacção que dá poder à Chevron”, diz Wirth, acres centando que o negócio trará vantagens nas águas profundas do Golfo do México”

dólares

65O valOr de cada acçãO da anadarkO, um acréscimO de 37% sObre Os 46,80 a que estavam as acções da petrOlífera nO mOmentO da cOmpra

e criará “oportunidades em áreas que reforçam as operações da empresa”.

o ‘brinde’ em forma de reserva à escala mundial Claro que, onde estamos, o brinde do Rovuma que a Chevron comprou no ‘pacote Anadarko’ é ‘só’ o factor em que assentaram as grandes expectativas e previsões de crescimento da economia nacional na última década.

Quem segue os envolvimentos e desen volvimentos do processo de exploração das Áreas da Bacia do Rovuma sabe rá que não eram novos os rumores da compra da Anadarko. Eles têm ecos, pe lo menos, desde 2014, quando já se falava insistentemente da aquisição “iminen te” dizia-se, à época, por parte da Exxon Mobil. Acabou por ser a Chevron (a Oc cidental Petroleum também tinha feito uma oferta) a consumá-la, anos depois. Até porque a Exxon, se esteve para o fazer, preferiu optar por outro caminho, adqui rindo uma participação de 25% na Área 4 de Moçambique (da ENI East Africa) em Dezembro de 2017, e assumindo, por essa via, uma postura mais activa no mer cado, trabalhando para garantir outras concessões ao longo da costa de Moçam bique. Casos dos “offshore” Delta Zambeze Z5-C, “offshore” Angoche – A5-B e “offsho re” Angoche – Z5-D, nas províncias de Nampula, Sofala e Zambézia, que serão operados por um consórcio que, além da multinacional norte-americana, inclui a empresa russa Rosnef e a Empresa Mo çambicana de Hidrocarbonetos (ENH). Voltando à Anadarko que sempre foi vista como companhia de ganhar con cessões, lançar os projectos e passá-los aos grandes players, o seu destino pa rece, enfim, cumprir-se. No entanto, fez o seu trabalho. E não foi pouco. Fez avançar o processo, garantindo impor tantes acordos para a comercialização da exploração (já angariou clientes pa ra adquirirem 8 milhões de toneladas cúbicas de gás por ano) e, por via dis so, avançou na busca do financiamento necessário para avançar para a cons trução da fábrica de liquefação onshore, que teria um custo total na casa dos 20 mil milhões de dólares. Estaria por um trimestre a apresentação da decisão fi nal de investimento. Estará ainda?

em Moçambique

Michael Wirth não esqueceu, de resto, Moçambique no momento da com pra, considerando que o projecto de exploração de gás natural da Anadarko pode ser “um bom negócio” a longo prazo.

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mercado e finanças

A Chevron tem experiência em regiões com conflitos em curso, alavancagem financeira, clientes e toda a cadeia de valor. E também herda um projecto quase acabado. O que falta?

O ‘longo prazo’ levantou celeuma, claro. Não faltou quem augurasse que todo o processo de exploração de gás no país pu desse estar, uma vez mais, comprometido. Wirth não foi, no entanto, conclusivo. “A Anadarko tem um importante pro jecto de GNL que irá adequar-se bem ao nosso portefólio. Pensamos que o GNL é um bom negócio a longo prazo, de acordo com o objectivo mundial de se alcançar um mix de energia limpa, particularmente, para a produção de energia eléctrica”.

Embora grande parte do foco da aquisi ção seja a corrida para dominar a Bacia do Permiano, o que Moçambique pode dar à Chevron é uma nova e substan cial expansão offshore na área do GNL. Porque, como sabemos, a Área 1 da Bacia do Rovuma, até agora liderada pela Ana darko, será uma das maiores instalações de exportação de GNL do mundo. Por ou tro lado, o que a Chevron pode dar, é a sua

experiência quando se trata de desen volver operações deste calibre. Algo que, se recuarmos no tempo, foi muitas vezes apontado à Anadarko, especialmente pelas demoras ao longo do processo, que chegou a estar, no início da década, com previsão de conclusão para 2018. É que a Chevron tem no seu histo rial os colossais projectos australianos de Gorgon e Wheatstone para além de parcelas de capital no Angola GNL (Soyo), com uma capacidade de produ ção de 5,2 milhões de toneladas por ano. O que nos leva a uma conta simples: os 33 mil milhões da aquisição até po dem parecer um preço significativo (até por superarem em 37% o valor actual das acções da Anadarko em Bol sa), mas diluem-se facilmente quando comparados com os 130 mil milhões de receita previstos para os 25 anos da concessão da Anadarko na Bacia do Rovuma onde será feito o maior in

vestimento na História em África. Mas, para além do histórico, a Chevron tem o conhecimento e a capacidade fi nanceira para ver o projecto de forma integrada. Não será a primeira vez que enfrenta questões como a insurgência rebelde” a que se assiste no norte de Mo çambique, é uma empresa petrolífera internacional forte, experiente e bem capitalizada que, de acordo com os rela tórios iniciais apresentados, tem todas as intenções de prosseguir com o cronogra ma de desenvolvimento proposto pela Anadarko cujo FID não se deverá man ter para Julho, ao que se sabe, mas que poderá ser lançado no início de 2020.

Ao nível fiscal, das mais-valias do ne gócio, o que se pode esperar é... pouca coisa. É preciso perceber quanto dos 33 mil milhões de dólares vale a ope ração de Moçambique. Não será muito, dada a dimensão do património da Anadarko noutros países e irá demo rar meses até que se perceba quanto. Até lá, novidades aguardam-se.

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texto Pedro Cativelos fotografia d.r. Muda a concessionária, mantém-se o projecto. A questão estará, agora, nos timings do início da exploração
empresas www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 44

Um Negócio de modelos... de Negócio

O primeiro acelerador privado de agro-negócios no país nasceu há quase dois anos e aposta na sustentabilidade como a chave do desenvolvimento

é, de facto, verdade que uma das soluções para o desenvolvimento é o empreendedorismo. E há cada vez mais quem o abrace, em busca de respostas. Contudo, o segredo está nas perguntas certas. E é isso que a Moz Innovation Lab se propõe fazer: “Acompanhamos a implementação, porque conhecemos o ecossistema – sabemos onde ir buscar as empresas, como seleccioná-las, como dar as formações e que conteúdos são relevantes nesse contexto”, revela Ele na Gaffurini, a co-fundadora e directo ra executiva desta incubadora e ace leradora de negócios moçambicana. A empresa existe há quase dois anos, e funciona como um acelerador no sec tor agro-alimentar, que implementa iniciativas e projectos financiados com fundos externos. Ela posicionou-se no mercado como um link entre a DEV Mozambique – consultora de serviços do sector alimentar que actua enquan to holding de outras empresas deste segmento – e um grupo de potenciais investidores nacionais (como a Gapi), e internacionais.

O posicionamento da Moz Innova tion Lab no mercado pretende unifi car o útil, que é fazer a diferença no seu mercado de actuação, ao agradá vel, que se traduz no objectivo de con tribuir para o desenvolvimento sus tentável do país. “Não só implemen tamos programas, também tentamos criar o mercado”, conta. Até então são já mais de 80 as empresas que partici param das formações, principalmente dos programas Future Agro Challen ge e do FEMBIOBIZ. Dessas já trabalha ram directamente com dez, algumas das quais já participaram em even tos e feiras internacionais e até estão a encetar processos de exportação.”É o caso de uma empresa do Chimoio,

revela: “temos um interesse da Sonae, em Portugal, em desenvolver uma linha de produtos (bolachas e cereais) a partir da farinha do malambe”. Mas há mais: “Há uma série de pro dutos que, com o enquadramento cor recto, formação e boas práticas, irão começar a entrar em novos mercados. É por isso que focamos a nossa actua ção no desenvolvimento pessoal (monitoria, formação e coaching) e do negócio (due diligence, estra tégia, marketing e contabilidade).”

A área de actuação preferencial é o agro-negócio, até porque é aí, subli nha, “que há inúmeras oportunidades de crescimento”, diz-nos Elena que não esconde os objectivos da Moz Innova tion Lab. “O ideal passa por ter repre sentações a nível nacional, criar uma rede de incubadoras rurais de negó cio e crescer no continente.”

No entanto, o alcance desses objectivos depende da resolução dos problemas incrustados nas pequenas empresas com que trabalham, como a educa ção financeira ou a melhoria da qua lidade da mão-de-obra. “Tudo come ça com a dificuldade em estabelecer uma empresa, porque isso determi na o incentivo para as pessoas forma lizarem o seu negócio. É por isso que temos uma visão de, mais do que for mar, adquirir percentagens de capital das empresas incubadas e aceleradas que tenham mais potencial de merca do, estando efectivamente com elas no seu caminho, partilhando risco tam bém e estando com elas todos os dias, a ajudar os seus negócios a crescerem.” Algo que já faz com algumas delas.

BemPresa Moz innovation Lab direCtora exeCutiva eLena gaffurini trabalhadores 5 Fundação 2017 ParCeiros barcLays, bci, gain, gaPi e gaPieL

ProJeCtos 2

o future agro challenge (80 empresas participantes; 2 projectos incubados; 3 empresas aceleradas) e o sanbio fembiobiz (10 projectos incubados; 4 empresas aceleradas; 40 mulheres empreendedoras capacitadas).

emPreendedores 300

É o número de empreendedores que atenderam às formações de mentoring e coaching da Moz innovation Lab.

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Pedro
& emídio massaCola fotografia Jay Garrido
texto
Cativelos
mozinnovationlab

Grupo Nas laNça serviço aeroportuário

“Oferecer serviços de engenha ria e rampa, incluindo check-in, embarque, manutenção, lim peza, bem como movimenta ção e armazenamento de car gas de importação e exporta ção para as linhas aéreas pro gramadas e adhoc em todos os aeroportos de Moçambique”, é o objectivo da National Aviation Services (NAS), prestadora de serviços de aviação. Segundo Hassan El Houry, direc tor-executivo do grupo, a NAS “pretende aplicar através destes serviços a sua experiência e co nhecimentos globais para mo dernizar as operações e impul sionar a eficiência utilizando as mais recentes tecnologias e prá ticas operacionais no país.”

da lam está nomeada no segmento

bci laNça Novo serviço para pme

O “Saldo POSitivo” é uma nova solução para as Pequenas e Médias Empresas (PME) lan çada recentemente pelo BCI. Segundo o Presidente da Co missão Executiva do BCI, Paulo Sousa, o novo serviço confere aos clientes do banco, titula res de um POS com o serviço ‘Daki’, terem uma linha de cré dito associada ao POS, em que o banco passa a poder adiantar até 20% da média mensal da facturação destas PME.

O reembolso, segundo o PCE, “será efectuado diariamente, através da dedução de uma parcela do valor facturado, a uma taxa de juro fixa de 20%.

a indicação para esta distinção foi feita pelos passagei ros das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) e leitores que apreciam a Índico, que está assim entre as finalistas dos International World Travel Awards (WTA), considerados os ‘Óscares’ mundiais do turismo, e cuja cerimónia de entrega dos prémios decorrerá a 1 de Junho, nas Maurícias.

Em Moçambique, a Índico já foi distinguida como Melhor Parceiro de Turismo, numa iniciativa da AVITUM – Associa ção de Agentes de Viagens e Operadores Turísticos de Mo çambique, em 2013, e tem angariado leitores e parceiros ao longo dos últimos anos.

É tida, igualmente, como referência no domínio da edu cação, com o uso dos seus artigos para diversos estudos, para além de ser um meio de promoção do diálogo cultu ral, mercê da particularidade dos textos serem publicados em português e inglês, o que alarga o âmbito de divulgação e compreensão dos aspectos abordados de forma única e abrangente sobre turismo, lazer, cultura, gastrono mia e sociedade, privilegiando o conhecimento profundo de Moçambique e a sua divulgação enquanto destino turístico global de excelência.

primavera iNtroduz Novo soFtware de Gestão de empresas

“Acelerar o trabalho adminis trativo e melhorar a resposta às obrigações legais e fiscais das empresas moçambicanas” é o propósito da introdução do no vo software de gestão no porte fólio da Primavera.

Avaliado em cerca de 2 milhões de euros, “surge na sequência de um reforço das boas práticas empresariais”, comunica a em presa, sublinhando a “capaci dade de integração entre siste mas, que permite a fusão entre os dados das soluções instala das nas empresas com as apli cações Web.”

Gapi e FaN criam FuNdo especial pós-idai para reabilitar pme

Fundada em 1988, a revista Índico é propriedade da LAM e está disponível a bordo das suas aeronaves, em edições bimestrais. A revista é editada e produzida pela Executive Moçambique.

A criação e a implementação de um “Fundo Especial pós-Idai para a reabilitação de Pequenas e Mé dias Empresas (PME) e relança mento do sector privado de pe quena escala” é a primeira ac ção conjunta entre a Fundação para a Melhoria do Ambiente de Negócios (FAN) e a Gapi-Socie dade de Investimentos, no qua dro de um acordo de parceria es tabelecido entre as duas insti tuições. A Gapi-SI mobilizou, até ao momento, cerca de 52 mi lhões de meticais com vista a do tar este fundo de recursos finan ceiros para financiar a reconstru ção. Os projectos a serem apoia dos “devem contribuir para a ex pansão e consolidação do papel do sector privado, com principal enfoque nas PME nacionais.”

megafone www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 46
publicação
das publicações de bordo em áfrica
revista ÍNdico FiNalista da “ world travel awards”

o Mercado estranhou, Mas estaMos a conquistá-lo

anguilaze

Director de programas da Media Mais TV

é o mais recente canal de televisão a entrar na grelha, em Moçambique, num mer cado em que existem perto de uma dezena de outros canais. Até por isso, o projecto da Me dia Mais se caracteriza por alguma diferenciação ao ní vel da abordagem ao meio audiovisual, assumindo-se enquanto “mais do que uma televisão, com interesses que vão da produção própria à área de eventos”. Simão An guilaze, o director do canal, explica o projecto à E&M.

O que é a Media Mais TV?

O grupo Media Mais foi for mado em Dezembro de 2017 e está essencialmente virado para a exploração de negó cios na área dos media. Temos várias unidades de negócio, nomeadamente a rádio, que foi o primeiro meio a ser cria do e lançado, em Abril do ano passado, e que está a ter uma óptima aceitação em termos de audiência. Depois, a área do marketing, dos eventos e da produção própria, a Pro duções Mais. Vamos apostar também na pesquisa de mer cado, a Data Mais, que até já fez duas sondagens no ano passado, para as eleições au tárquicas. Por fim, a Acade mia Mais que irá formar, não só para o grupo, mas também para o mercado.

Como é que surge um projecto destes, numa altura

economicamente, vamos di zer, desafiante para o país? Bom, não tem sido fácil. Temos sentido isso desde a nossa che gada ao mercado. Fizemos tu do com fundos próprios dos ac cionistas (liderados por Pau lo Muchanga, ex-PCA da HCB), porque nenhum banco nos quis dar dinheiro, certamen te pelo risco associado à crise. São eles que aguentam e in vestem nesta operação, por que o projecto é ambicioso e todos acreditamos que o mer cado vai melhorar neste, e nos próximos anos.

A que se refere quando fa la em investir na produção nacional?

A informação é e será sem pre o nosso forte, mas temos de ter factores diferenciado res dos nossos principais con correntes e aí entra a ficção nacional. Queremos posicio nar-nos como produtores de ficção nacional. Temos acor dos com a TVI, de Portugal, que teve também essa ousa dia de fazer ficção nacional, e ganhou a aposta gerando to da uma nova cadeia de valor que não existia, que vai das produtoras aos actores e to dos os produtos e meios asso ciados a esse tipo de produção.

encontrar uma nova forma de a pôr a funcionar. Investi mos fortemente nos equipa mentos, tudo 4K, estamos pre parados para as plataformas digitais e temos vontade de fazer coisas novas.

E como é que o mercado acolheu a vossa ideia? Tem sido boa a reacção?

O mercado acolheu com algu ma estupefacção e estranhou. Têm-nos dito que somos cora josos para entrar nesta altura. Mas o facto de termos feito uma rádio de qualidade deu -nos a credibilidade para con tinuar e estamos a conquistá-lo.

vccurriculum vitae

Simão anguilaze tem uma carreira ligada aos media em Moçambique. Jornalista, chefe de redacção da t VM, chegaria a PCa da televisão pública. foi também vicepresidente da Comissão Nacional para a Migração Digital em Moçambique. em 2018 tornou-se director de programas da Media Mais t V.

O que é que uma empre sa deste género traz de di ferente para um merca do que já tem uma deze na e meia de canais de TV, a maioria deles em graves dificuldades financeiras? Penso que a grande questão é essa — olharmos o negócio de uma maneira multidiscipli nar. Temos várias áreas que se vão integrando e é por aí que nos diferenciamos. Claro que, naturalmente, a televi são é a âncora. E ela tem de ser diferente e ter qualidade. Pela minha experiência de televisão, ao longo dos anos, os principais canais fazem todos exactamente a mesma coisa, com estruturas muito pesa das. É verdade que a roda já foi inventada, mas temos de

Actualmente as empresas olham com alguma descon fiança os patrocínios às em presas de media...

Sim, porque muitas televisões fazem pirataria de conteúdos e vão ter de deixar de fazer isso. Muitas vão cair. Nós fizemos uma aposta muito grande e, na verdade, penso que daqui a uns anos, só haverá quatro te levisões de facto em Moçambi que. E nós seremos uma delas.

O que é que espera para daqui a um ano?

Espero já estar a pisar alguns calos à nossa concorrência e ter conteúdo nacional de qua lidade ‘no ar’.

f
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igura do mês
MAISTV

Diferenciar

“Conteúdos próprios de qualidade são o caminho para fidelizar espectadores e parceiros”

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sociedade www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 50

NETFLIX vaI INvEsTIr

ForTE Em ÁFrIca

Em Dezembro de 2018, a maior plataforma mundial de streaming cujo valor de mercado ultrapassa os 100 mil milhões de dólares, anunciou um investimento na produção de “Queen Sono”, uma série televisiva sul-africana, que marca assim uma mudança de rumo estratégica da Netflix com vista a expandir-se para fora dos Estados Unidos

depois de ter recentemente anunciado a aquisição dos di reitos de distribuição inter nacional do filme nigeriano “Lionheart” – uma produção dos estúdios de Nollywood in terpretada por Genevieve Nnaji, Nkem Owoh, Pete Edo chie e Onyeka Onwenu –, a Netflix mostra agora, com es te investimento na produção de “Queen Sono”, que está in teressada em utilizar uma parte do seu orçamento de 8 mil milhões de dólares para este ano (2019) no desenvolvi mento de projectos com “con teúdo local”, seja em África ou em outras regiões do mundo (recorde-se que em 2018 a Ne tflix já tinha investido numa série indiana intitulada “Sa cred Games” e anunciou ter outras seis em carteira). Numa conferência realiza da em Londres, Erik Barmack, responsável da Netflix pa ra a área internacional, con firmou que a empresa es tá “empenhada em diversifi car o seu portefólio”, tendo em atenção o carácter cada vez mais global da sua operação e que o continente africano é um dos seus principais alvos.

Recorde-se que, já em 2017 a Netflix divulgou estar pre sente em 190 países sendo que 73 milhões dos seus 130 milhões de assinantes não são originários dos EUA. A excep ção mais notória a este domí nio global é a China onde a Netflix ainda não está presen te. Na conferência, Erik Bar mack afirmou que, de acor do com as previsões da em presa, dentro de alguns anos “metade dos dez conteúdos mais vistos na Netflix serão certamente provenientes de outros países que não os EUA”. Ao saber que a Netflix iria in vestir em “Queen Sono”, a ac triz Pearl Thusi escreveu no seu Twitter que esta aposta “vai mudar muita coisa pa ra os artistas africanos”, pois o “músculo financeiro” da Netflix vai permitir desen volver projectos que, pelo vo lume de investimento neces sário, nunca foram possíveis. Pearl Thusi tem razão ao antecipar o impacto positi vo que este investimento da Netflix vai ter na indústria local ligada à produção de conteúdos televisivos e cine matográficos, mas há quem

milhões de assinantes

A netflix é hoje A mAior plAtAformA de streAming do mundo, e Assume umA importânciA globAl, já que 73 milhões dos seus AssinAntes - mAis de 50% - não estão nos estAdos unidos

130veja esta entrada em força da Netflix em África como uma ameaça. Por exemplo, a Mul tichoice, a maior empresa de televisão no continente, de tentora da DStv, realizou em 2018 um estudo para analisar as consequências da entrada da Netflix no mercado. E tor na-se claro que a Multichoice vê a norte-americana como um competidor problemático, considerando a Netflix res ponsável pela perda de 100 mil assinantes do seu serviço no ano anterior à realização do estudo e de mais 40 mil em 2018. Para além do facto de que aderir à Netflix não re presenta qualquer custo pa ra o consumidor, acresce que a assinatura do serviço não chega aos 12 dólares, enquan to que para obter o serviço Premium da DStv o consumi dor tem de desembolsar 60 dólares (para além dos cus tos de instalação do serviço). É verdade que aderir ao ser viço da Netflix pressupõe ter uma boa ligação à inter net (coisa que em África es tá longe de ser um dado ad quirido para grande par te da população e tem ainda

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um custo muito significativo). Mas várias sondagens recen tes indicam que, sobretudo entre os consumidores urba nos de muitas cidades africa nas, existe uma crescente in satisfação com os preços pra ticados pela DStv e, em parti cular, com a programação ba seada em frequentes repeti ções (re-runs).

a guerra dos conteúdos No entanto, considerar que o problema da Multichoice se resume ao facto de ter um portefólio de programas in suficiente e a uma política de preços inflacionada é não perceber que o que está em jogo são dois modelos de ne gócio distintos. Aliás, a “an gústia” da Multichoice é se melhante à de muitos opera dores no segmento da TV por cabo a nível global.

Um estudo publicado nos Esta dos Unidos no início de 2018 in dicava que a expectativa era que, durante esse ano, mais de 5 milhões de consumido res norte-americanos iriam desisitir das suas assinatu ras das televisões por cabo. Mas, de forma mais signifi cativa ainda, esse estudo as sinalava que estas “desistên cias” representavam um au mento de 685% desde 2016, al tura em que a tendência dos consumidores migrarem da televisão por cabo para a in ternet começou a evidenciar -se como mais do que um me ro epifenómeno conjuntural.

De acordo com este estudo, as perdas estimadas para as te levisões por cabo situar-se -iam, em 2018, na ordem dos 5,5 mil milhões de dólares. Ao analisarem as razões para a deserção em massa destes consumidores, os quais têm vindo a ser designados por “cord-cutters”, o estudo indi cava, entre outras, duas ra zões principais: frustração e insatisfação com os preços praticados e a obrigatorie dade de aderirem a “paco tes” que incluem canais que não lhes interessam de todo.

Ao contrário de Hollywood, a Netflix não está no negócio de vender um filme a muitos consumidores. Pelo contrário, o seu modelo assenta na ideia de vender muitos filmes a consumidores do mundo inteiro

Mas a conclusão mais preocu pante para as televisões por cabo era de que não apenas há uma tendência crescente no número de consumidores que pretendem “cortar com o cabo” mas, sobretudo, há si nais de um outro fenómeno a emergir: o dos “cord-nevers” (“cabo-nunca”), isto é, há um número expressivo de consu midores que nunca tiveram uma assinatura de televisão por cabo e não tencionam vir a fazê-la. O sucesso da Netflix está ain da associado a um outro fac tor determinante: o investi mento feito na produção de séries e filmes de excepcio nal qualidade. Muitos obser vadores imaginaram que sé ries como “House of Cards” ou “Orange is the New Black” – que atraíram milhões de espectadores e que a críti ca saudou não apenas pela sua qualidade mas pelo facto

de trazerem para o univer so televisivo temas arrojados – seriam um fenómeno irre petível. Como é hoje eviden te, enganaram-se. Séries co mo “Luke Cage”, “Stranger Thing”s e “The OA”, entre ou tras, confirmaram que os pri meiros sucessos não tinham acontecido por acaso. Na verdade, a Netflix “leu” bem o mercado actual e com preendeu que os consumido res estão cansados de “forma tos” que reproduzem à exaus tão temas e modelos de entre tenimento que já pouco dizem às novas gerações e às eli tes urbanas mais sofisticadas. Mais: a Netflix percebeu tam bém que, dado que Hollywood, devido ao seu novo mode lo de operar (que privile gia sobretudo grandes “blo ckbusters”) praticamente de sinvestiu na produção de fil mes “independentes” ou com forte componente “artística”,

tinha deixado muitos actores de primeiro plano “disponí veis” para projectos de quali dade. Isso permitiu-lhe aliciar grandes figuras, como Kevin Spacey em “House of Cards”, a integrar as suas séries e capi talizar, em termos reputacio nais, com a sua participação. Em 2016, a Netflix investiu 5 mil milhões de dólares em conteúdos originais. No ano seguinte, cinco das dez séries mais procuradas nas pesqui sas no Google tinham sido pro duzidas pela Netflix. Em 2017, a empresa subiu a parada e investiu 6 mil milhões de dó lares na produção de mais de 1 000 horas de conteúdos ori ginais, duplicando assim a sua oferta. E em 2019, esse inves timento subiu para os 8 mil milhões. Para Tony Gunnar sson, da consultora Ovum, “a Netflix tornou-se, simples mente, sinónimo de televisão”, destacando ainda que o que a

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A Netflix está a apostar no mercado de produção nigeriano, conhecido como Nollywood

Netflix percebeu “foi que ho je os consumidores querem (para além de “qualidade” e temas que reflictam a rea lidade do mundo contempo râneo) é ter controlo sobre o que vêem ou deixam de ver, ou seja, uma total e irrestrita liberdade de escolha.”

Impacto em cascata Também a indústria cinema tográfica tem sentido o efei to “disruptor” do seu modelo de operar. Durante décadas, Hollywood baseou o seu ne gócio num modelo de distri buição faseado. Os filmes co meçavam por ser lançados nas salas de cinema e só pos teriormente eram colocados no circuito das lojas de reta lho (primeiro através da ven das dos DVD’s e depois sob a forma de aluguer) e, muito mais tarde, ficavam acessí veis nas televisões. Este esquema baseava-se nu ma análise do comportamen to dos diversos segmentos de público existentes e no valor que cada um deles atribuía ao visionamento de um filme. Assim, por exemplo, os estú dios consideravam haver um segmento (os “impacientes”) que estava disposto a pagar um valor mais alto assim que um filme era distribuído nu ma sala de cinema, pois sa biam que teriam de esperar alguns meses para o ver em DVD. Outros não sentiam es sa urgência e aceitavam es perar pela saída do filme em DVD. Deste modo, o faseamen to no lançamento de um filme (que a indústria designava como “janelas” de distribui ção) era crítico, pois permitia extrair o máximo valor dos diversos segmentos impedin do uma “canibalização” preco ce do seu produto pelos diver sos segmentos.

Mas os tempos mudaram, so bretudo com a internet, a sua ubiquidade e permanente acessíbilidade. Os primeiros filmes da Netflix foram lan çados em streaming e nunca chegaram sequer a passar

numa sala de cinema. Mais recentemente, e em casos es porádicos, a Netflix lançou, em simultâneo, alguns filmes na sua plataforma e em algumas salas de cinema. Como enten der então esta opção? A ra zão é simples: ao contrário de Hollywood, a Netflix não es tá no negócio de “vender um filme a uma grande varie dade de consumidores” mas, pelo contrário, o seu modelo de negócio assenta na ideia de “vender muitos filmes a consumidores individuais”. O sucesso deste modelo, que Hollywood e a indústria ci nematográfica perceberam tarde e a más horas, levou re centemente a uma série de fu sões (Disney/Fox e ATT/War ner Brothers) cujo objectivo é adoptar, em parte, um modelo semelhante ao da Netflix por forma a competir com o que pressentem ser a mudança de paradigma do mercado. O que não significa que al guns dos actores do “velho sis tema” não continuem a tentar bloquear a ascendência da Netflix. Como aconteceu, em 2018, no Festival de Cannes quando os organizadores im pediram os filmes produzidos pela Netflix de participarem “por não terem sido projecta dos em salas de cinema”. Já es te ano, filmes como “The Irish man”, de Martin Scorsese, com Robert de Niro e Joe Pes ci, e “The Laundromat”, de Steven Soderbergh e prota gonizado por Meryl Streep, tiveram sorte semelhante. Apesar de, após muitas dispu tas e controvérsias, a Netflix ter sido finalmente aceite co mo membro da Academia de Hollywood e os seus filmes te rem ganho este ano quatro Óscares, ninguém tem dúvi das de que, nos próximos anos, esta é uma “guerra” que irá continuar pois o que está em causa é o confronto entre dois modelos de negócio. Neste ca so, quem beneficia somos nós.

texto Rui TRindade fotografia d.R.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019

o renascimento da sonangol

Depois de os cinco membros do Conselho de Administração da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANPG) terem tomado posse, em Fevereiro último, a gigante estatal deixou de ser a concessionária oficial de petróleos de Angola

o novo organismo, liderado por Paulino Fernando de Carvalho Jerónimo, assume a tarefa de regular, fiscalizar e promover a execução das actividades petrolíferas, pelo que o registo de vendas de petróleo bruto deixa de ser feito pela Sonangol. Com efeito, as receitas arrecadadas pelo Grupo Sonangol, que em 2018 atingiram os 17,7 mil milhões de dólares, incluem assim 50,1% de vendas de petróleo que cabem agora à ANPG, um valor de 8,9 mil milhões que resultou da exportação de 126 milhões de barris de petróleo, en tregues à concessionária pelas opera doras ao abrigo dos Contratos de Parti lha de Produção. Pela venda do petróleo, a Sonangol terá ficado com 445 milhões de dólares dos 8,9 mil milhões, uma vez que fica com 5% do valor arrecadado. Do total do valor arrecadado, uma par te é proveniente das empresas do Grupo

(com 19 subsidiárias) e das participadas, valor a que a petrolífera terá de se habi tuar agora sem o montante que lhe era devido enquanto concessionária, colo cando-a assim num dos seus maiores de safios: focar-se no sector dos hidrocarbo netos, em regime de concorrência. Numa conferência de imprensa realiza da em Fevereiro, a petrolífera angolana, no âmbito do seu 43º aniversário, reve lou que as suas actuais principais acti vidades tiveram resultados negativos, apesar de ter ensaiado um bom progra ma de poupança.

Por exemplo, a empresa revela ter atin gido tais resultados negativos, em 2018, no que respeita à logística, segundo os administradores, devido à desvalori zação do kwanza face ao dólar norte -americano, aos altos custos de impor tação dos combustíveis e à ausência de

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á Fora
40milhões de dólares é quanto custa regenerar a sonangol e centrá-la na exploração de hidrocarbonetos

liquidez das empresas. É que o Grupo Sonangol produz o combustível, a nível interno, a um preço alto em relação ao que vende. O impacto negativo prende -se ainda com o facto de a sociedade gas tar muito dinheiro com a importação de combustíveis para suprir as neces sidades internas do país a preços altos. A E&M sabe que 80% dos combustíveis e outros derivados de petróleo são adqui ridos fora do país, em moeda estrangei ra, e comercializados no mercado inter no em moeda nacional.

A saída para este problema é a aposta no aumento da capacidade de refinação, es tratégia já reconhecida pela companhia. “O aumento da capacidade de refinação nacional é a única solução que garante viabilidade à empresa”, refere o econo mista António Estote.

Segue-se ainda a actualização do custo de produção. O administrador Baltazar Miguel revela que um novo modelo de cálculo dos preços dos combustíveis está a ser avaliado pelo Executivo, depois de a petrolífera nacional anunciar um im pacto negativo de “mais de mil milhões de dólares”, em 2018, na Sonangol Logísti ca e na Sonangol Distribuidora. “A falta de liquidez decorrente do preço fixo dos combustíveis provocou um impacto ne gativo de mais de mil milhões de dólares no Grupo. Neste momento, no caso da So nangol Logística, os resultados de 2019 já estão comprometidos. Já a Sonangol Dis tribuidora, e caso se mantenha a depre ciação do kwanza e a subida nos custos de importação (aumentaram 30% em re lação a 2017), também está a caminhar para uma situação muito complicada”, esclareceu.

Sabe-se que o novo modelo de preços dos combustíveis, dependente de uma deci são política, terá, em princípio, em consi deração a questão do petróleo nos mer cados internacionais e terá também em conta as alterações na taxa de câmbio e o seu impacto no preço final para o con sumidor. Este modelo abre a possibilida de de implementação de preços flutuan tes dos combustíveis, que poderão ser reavaliados em curtos espaços de tempo.

os desafios na concorrência

Com uma estratégia que deve passar por focar-se na refinação e não na explo ração e produção, a Sonangol prevê ago ra que a Refinaria de Luanda aumente a sua produção de gasolina para 1.200 to neladas, até finais de 2021, contra as 300 toneladas produzidas actualmente. De acordo com o presidente da Sonaref, Joa

Com a aNPg a assumir a função de concessionária nacional, resta à Sonangol recentrar-se no seu negócio nuclear em torno da cadeia de valor do petróleo bruto e do gás natural e ao Ministério dos recursos Minerais e Petróleos o reforço do papel e a liberalização completa do sector de comercialização e distribuição, tendo, para este efeito, sido criado o instituto regulador dos Derivados de Petróleo (irDP).

a nova agência procederia à transferência de activos da Sonangol para a aNPg durante o primeiro dos três períodos de implementação –preparação da transição (até ao final de 2018), transição (de Janeiro a Junho de 2019) e optimização e transição (de Julho de 2019 a Dezembro de 2020). o plano foi desenhado de modo a não causar perturbação no trabalho das duas instituições, mas a economist intelligence Unit (eiU) considerou recentemente que o desmembramento da Sonangol “é um passo essencial para a reforma no sector petrolífero angolano”, sem deixar de alertar “que a escala da reestruturação é um grande desafio.” os peritos do economist exemplificam que “ainda não é claro” se a gestão das actuais concessões vai ser transferida ou se os contratos actuais vão ser cumpridos.“esta incerteza pode preocupar os investidores”, que devem enfrentar também algumas “guerras de poder” entre a Sonangol, a aNPg e o novo Ministério dos recursos Minerais e Petróleos. Já a economista Laurinda Hoyggard não prevê os receios acima apontados, e entende que a entrada em funcionamento da aNPg, que terá a seu cargo a realização das licitações de novas concessões petrolíferas e a gestão dos contratos de partilha da produção e representação do estado na divisão dos lucros do petróleo nas concessões petrolíferas, é o concretizar de uma reivindicação antiga. e acrescenta que “a condição em que se mantinha a Sonangol era desfavorável para o mercado”. o modelo da aNPg, enquanto agência, ajusta-se às práticas de países que têm uma indústria petrolífera mais madura, como o Brasil, que em 2007 criou uma agência, em função dos problemas que havia com a Petrobrás.

quim de Sousa Fernandes, esse aumento está previsto num projecto conjunto en tre a Sonangol e a Italiana ENI, que visa a criação de outra unidade de refinação para gasolina. A concretização da inicia tiva depende de um acordo de parceria entre as duas empresas e vai reduzir o défice do mercado em 20%.

Mas esta previsão optimista não é par tilhada pelo jornalista e investigador do Centro de Estudos da Universidade Cató lica de Angola, José Oliveira, para quem o país “vai continuar a viver da impor tação de combustível” porque a moder nização da Refinaria de Luanda e a cons trução das refinarias de Cabinda e do Lo bito “vão ainda levar alguns anos”.

Vender sim, mas não tudo!

Com o objectivo de desfazer-se de activos não estratégicos para a petrolífera na cional Sonangol, o IGAPE (Instituto de Ges tão de Activos e Participações do Estado) prepara-se para, a 21 de Maio, realizar o acto público de comunicação aos can didatos interessados na adjudicação de sete unidades que pertenciam à petro lífera, dando assim início ao processo de alienação de um total de 52 empresas, lo calizadas na ZEE.

Ainda não será desta que a Sonangol vai desfazer-se de todos os negócios fora do seu core porque vai manter os seus in vestimentos na Galp e no Millenium BCP. Em entrevista à RTP, o Presidente da Re pública, João Lourenço, afirmou que, no caso da Galp, “não há razão” para a So nangol sair da empresa.

Quanto ao banco Millenium BCP, a admi nistração da Sonangol considera a par ticipação de mais de 800 milhões de dó lares como “um investimento estratégi co”, de acordo com o Relatório e Contas da empresa, a que a E&M teve acesso. Para já, também não será agora que a petrolífera vai alienar a participação de 25% na estrutura accionista da Uni tel, embora haja muitos interessados na compra da sua parte no capital social. O PCA da Sonangol anunciou, em Luan da, que pretende “chegar a acordo” com os restantes accionistas em relação aos novos órgãos sociais da operadora. Ou seja, a Sonangol pretende ver a em presa mais organizada e transparen te para depois avançar com uma venda que compense o investimento,, explicou Carlos Saturnino.

texto Adão Gil fotografia d.R. 55 www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019

O princípio e o fim no fim dos princípios

dizem-nos as notícias que o Deutsche Bank iniciou o processo de fornecer os registos financeiros ao procurador-geral do Esta do de Nova Iorque, em resposta a uma intimação de documentos relacionados com um conjunto de empréstimos duvidosos con traídos pelo agora presidente, quando ainda só um empresário. Donald Trump é sempre um bom alvo para quem o queira achincalhar. Porque não passa despercebido. Pela cor e corte do cabelo que não se percebe se o é, de facto, pela primeira -dama de olhar bonito e sorriso pré-fabricado quase sempre a seu lado, pela gravata agarrada com fita cola, descoberta por um paparazzi, ou pelo que anuncia no Twitter que vai fazer, a altas horas de madrugada. Há, no entanto, pouca gente que o julgue pelo que realmente ele faz. Dá mais trabalho essa análise, é certo, e não serei eu a fazê-la. Interessa-me mais perceber como hoje não se vivem tempos de aprofundar a formação de uma opinião, seja ela qual for. No caso, era mais eficaz para os argumentos utiliza dos, mesmo para quem não gosta dele. E razões para isso não faltam, claro. Mas não estão no Twitter, nem na gravata. O Deutsche Bank foi, ao longo dos anos, um dos poucos grandes bancos internacionais a dar crédito à Organização Trump, a quem concedeu mais de 300 milhões de dólares para finan ciar um campo de golfe na Flórida e a construção de hotéis em Chicago e Washington. Nada de mal aqui.

Até que, no mês passado, a Procuradora Geral de Nova Iorque, Letitia James, emitiu intimações para que sejam revelados os registos dos financiamentos de vários projectos da Organiza ção Trump, e abriu uma investigação civil ao ex-advogado do actual presidente, Michael Cohen, depois de este ter testemu nhado perante o Congresso e revelado que Trump inflacionou os seus bens para garantir os empréstimos.

O banco terá de entregar os documentos, incluindo e-mails e formulários dos empréstimos assinados por Trump, sendo que o próprio banco já é, ele próprio, objecto de uma investigação conjunta entre os comités de Inteligência e Serviços Finan ceiros da Câmara sobre os negócios e a lavagem de dinheiro do antigo empresário e talk show host. Recorde-se que, já em

Janeiro de 2017, o Deutsche teve de pagar uma multa de quase 630 milhões de dólares na sequência de uma investigação das autoridades britânicas e norte-americanas sobre o branquea mento de capitais oriundos da Rússia. Logo depois, o Federal Reserve dos EUA ordenou uma multa adicional de 41 milhões de dólares, devido às lacunas detectadas na (falta) de vigilân cia do banco sobre movimentações de lavagem de dinheiro utilizando algumas das suas filiais. Meses depois, o branquea mento do dinheiro russo voltaria às manchetes, com o maior banco de crédito da Dinamarca, o Danske Bank, a admitir que dezenas de milhar de milhões de euros de transacções suspei tas passaram por uma sua filial na Estónia, que, a par de Mal ta, Letónia e Chipre, são as plataformas giratórias do dinheiro soviético na Europa. Em vários bancos.

Claro que a questão russa obrigou os legisladores norte-ame ricanos a exigirem informações sobre o relacionamento do Deutsche com o seu presidente e quaisquer outras ligações financeiras que ele possa ter com entidades russas, num caso que irá ser interessante de seguir nos próximos anos. Daria um bom enredo com e muitas audiências, se transposto para série do Netflix. Pelo menos, a parte da espionagem, sem pre apelativa e com boas sequências de acção, não contabilís tica de preferência, pelo meio.

Quanto ao resto da história, na verdade, não me parece que tivesse grande sucesso na angariação de assinantes na maior plataforma de streaming dos nossos dias.

Afinal, gente poderosa do mundo que se vende e pede crédito sem ter como o pagar só é uma história mais original do que a de gente sem qualquer poder no mundo, que se vende e pede dinheiro sem ter como o pagar. Um tão pouco original como, demasiadas vezes, já repetido enredo.

Mudam os valores, faciais, no caso, até porque, para muita gente, a diferença só está, como sempre esteve, no dinheiro. Uns, menos, com mais numerário, digital, imobiliário ou aca démico. Outros, cada vez mais, com cada vez menos. O que é péssimo para o espectador. Os mesmos princípios de sempre, e sempre o mesmo final.

Gente poderosa do mundo que se vende e pede crédito sem ter como o pagar só é uma história mais original do que a de gente sem qualquer poder no mundo, que se vende e pede dinheiro sem ter como o pagar. Um tão pouco original como, demasiadas vezes, já repetido enredo

NOVOS ÂNGULOS www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 56

ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

Nesta edição visitamos o Bairro da Mafalala, no coração de Maputo

O Jacarandá é o lugar onde Moçambique se junta, no prato, com a gastronomia portuguesa

A escolha da Adega recai numa arrojada escolha de Tequilas

g e
63
62 60

Bairro da Mafalala

Maputo

Mafalala

o Bairro onde

o futuro coMeçou

eo bairro da mafalala está às portas da cidade de cimen to de Maputo. As suas ruas continuam a ser de terra avermelhada e a vida conti nua a viver-se no rés-do-chão, em quintais onde os vizinhos se juntam. Na verdade, sem pre foi aquela informalidade que fez o bairro e as suas gen tes. Foi graças a isso, aliás, que ali viveram dois presidentes, um primeiro-ministro, artis tas, poetas e desportistas. Ivan Laranjeira diz que “a Mafalala cria pessoas únicas porque é um bairro único”. Presidente da Iverca, uma as sociação de cerca de 30 jovens do bairro que decidiram mos trar a Mafalala ao mundo, Ivan é um dos quatro guias a fazer o “Tour A Pé” da Mafa lala, um passeio de três horas que acontece sob marcação

e que cativa estrangeiros e nacionais, já que o legado des te bairro é de todos. Samora Machel, Joaquim Chissano, Pascoal Mocumbi, Noémia de Sousa, José Craveirinha, Ar mando Caliano, Fany Mpfumo, Ricardo Chibanga ou Eusébio da Silva Ferreira são alguns dos filhos mais sonantes da Mafalala. E Ivan fala em todos eles com orgulho. No início do século XX, deu-se o grande boom da explora ção do ouro em Joanesburgo e tanto o porto de Maputo como o caminho-de-ferro de Moçambique, tiveram de se desenvolver para responder à demanda. A cidade cresceu e com ela cresceu também a necessidade de fazer um plano urbano. Assim nasceu a Estrada da Circunvalação, tendo de um lado a cidade

de cimento, a desenvolvida, a branca. E do outro, o bairro da Mafalala, onde residiam ape nas os negros. Para passar de um lado para o outro, tinha que se mostrar a “Caderneta Indígena”, ninguém entrava na cidade de cimento sem ela. Não demorou até começar um movimento de crítica ao sistema, liderado pelos ar tistas. Daí até serem criadas sociedades civis de luta pela igualdade foi um passo. Por isso, Ivan diz orgulhoso que na Mafalala está “a alma e a paixão de Moçambique”. O que hoje existe começou ali, naquelas ruas e becos, em conversas caladas e sus surros contra o regime co lonialista. João Albasini, José Craveirinha, Noémia de Sou sa foram os primeiros a acen der a chama. Entretanto, a cidade continuava a crescer e cada vez mais pessoas vi nham para Maputo, na altura

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Lourenço Marques. Todos fi cavam neste bairro. Ainda hoje, 80% das línguas fala das em Moçambique podem ser ouvidas na Mafalala. Quando começou a nascer a hotelaria na capital, recru taram-se pessoas das ilhas, razão pela qual também as gentes descendentes das Co mores, de Cabo Verde e de Zanzibar partilham o bairro. Samora Machel tirou o curso de enfermagem hospedado numa residência do bairro. Começou os seus primeiros anos de trabalho no Hospital Central e foi ali que come çou também a sua consciên cia política. Acabou por ser transferido para Inhaca. O regime temia que as suas ideias crescessem e se tor nassem acção, mas o futuro já era mais forte e Samora acabou por fugir de Inhaca para Dar Es Salaam, na Tan zânia, dando assim início ao seu percurso político fora da clandestinidade.

diversidade cultural

A Iverca fez uma sondagem entre os moradores do bairro para saber a que associavam a Mafalala. Desporto, litera tura e diversidade cultural foram as respostas mais ou vidas. Por essa razão, a asso ciação trabalhou na criação de três murais feitos por ar tistas nacionais e dedicados a cada um dos três temas. Preocupada com a reabili tação do bairro e sobretudo com a sua sustentabilidade, esta associação de jovens existe desde 2009 e já criou não só este tour, mas também o Festival da Mafalala e uma biblioteca comunitária den tro de uma escola.

Embora se diga que ali foi criada a famosa dança Mar rabenta, o Tufo, a dança pro veniente de Nampula, é o verdadeiro cartão de visita do bairro. Os planos da as sociação Iverca são muitos e passam sobretudo por mos trar como a Mafalala é im portante na História do país.

roteiro

CoMo ir

Para poder fazer o “Tour A Pé” na Mafalala, deverá marcar previamente junto da Associação iverca. O ponto de encontro para o início do passeio é, normalmente, marcado junto à entrada do bairro.

Preços

O “Tour a Pé” pela Mafalala fazse em inglês, português, ronga e macua. Tem uma duração de cerca de três horas e o preço varia de acordo com o número de pessoas do grupo.

Custa 1 000 meticais por pessoa para grupos de cinco a 15 pessoas, 1 200 para três a quatro pessoas e a 1 500 para duas pessoas.

ContaCtos

As reservas para os passeios podem ser feita através do número +258 824 180 314 ou do e-mail geral@iverca.org

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a história das histórias da Mafalala cresceu livre pelas ruas e nos Becos, eM conversas caladas e sussurros contra o então regiMe colonialista

todos reconheceMos, seM dificuldade, os eleMentos de Base que constitueM a essência de uM BoM restaurante.

o Menu do “Jacarandá” reflecte uMa tradição

culinária

todos reconhecemos, sem dificuldade, os elementos de base que constituem a essên cia de um bom restaurante. A qualidade da matéria-pri ma, isto é, a excelência dos pro dutos que são o fundamento da oferta gastronómica. Mas sem o saber, ou melhor, sem a arte capaz de os transformar numa iguaria cujo desfrute os torna memoráveis, é óbvio que só a qualidade não basta. Existem certamente outras componentes, ainda que num plano subsidiário, que ajudam a fazer a diferença: um ser viço competente e atencioso e uma atmosfera acolhedora.

É a combinação de tudo isto que distingue os bons restau rantes e transforma a degus tação num ritual que convi da à constante repetição da experiência.

Mas se esta constelação de factores são os traços distin tivos de todos os bons res taurantes, o que verdadei ramente traça uma linha divisória entre estes e aque les que se encontram num patamar superior de exce lência é o “suplemento de alma” que neles encontramos.

gJacarandá, onde a coMida

Ou seja, é a percepção de que a qualidade da experiên cia vivida (em todas as suas dimensões) resulta de um investimento afectivo incon dicional e reflecte, mais do que um “saber fazer”, uma entrega que faz do “acto culi nário” um elemento existen cial constitutivo da própria vida e não, tão só, uma “práti ca” meramente “profissional”. E é isto que encontramos no “Jacarandá”.

Mas de onde vem este “suple mento de alma”? Porventura do facto de este ser, assumida mente, um projecto familiar e, enquanto tal, tecido pelas memórias profundas do que, para as três mulheres que são os pilares desta aventura (Florinda, Carla e Sandra Cos ta), marcaram a sua história “culinária”, e os gostos e os

sabores que alimentaram o seu percurso. É, sem dúvida, por isso que Carla Costa gosta de definir a oferta do “Jaca randá” como “aquilo que gos távamos de comer em casa: o medalhão com natas e cogu melos, o strognoff, o arroz de pato, o bacalhau com natas ou à braz....”. E, nesse sentido, o “Ja carandá” é, essencialmente, ‘comida de casa’. “Nós quere mos que as pessoas que aqui vêm comer se sintam como se estivessem em sua casa ou na dos pais ou dos avós...”.

O menu do “Jacarandá” reflec te, em larga medida, a tra dição culinária portuguesa. Apesar de Carla e Sandra terem nascido na Zam bézia, as suas raízes (e a lon ga estadia que tiveram em Portugal antes de regres sar ao país) levaram-nas,

teM alMa

compreensivelmente, a dese nhar uma ementa mais “por tuguesa”, mesmo que dela constem pratos como o arroz de garoupa à zambeziana, ou o caril de camarão. E ainda bem, pois a qualidade da ofer ta é insuperável. Experimen tem, por exemplo, o pernil de porco com castanhas portu guesas, acompanhado de gre los salteados e batata frita, o arroz de garoupa e camarão, o arroz de pato ou o meda lhão com natas e cogumelos e verão que esta é, genuina mente, a “comida da casa” que qualquer um desejaria poder desfrutar.

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rui trindade fOTOgrAfiA Jay Garrido Preço Médio 1 000 MZN Av. Armando Tivane nº 65 Maputo +258 82 323 5180
TexTO
Jacarandá

casaMigos tequila reposado

País México Cor Ouro pálido saBor Rico e cremoso com notas de caramelo e cacau teor alCoóliCo 40%

casaMigos tequila añeJo

País México Cor Clara, brilhante, âmbar dourado saBor Macio e sedoso com notas de caramelo e baunilha teor alCoóliCo 40%

casaMigos a tequila de

não é certamente por acaso que os mexica nos se têm batido, ao longo dos anos, pelo direi to à exclusividade do uso da designação da pa lavra tequila. Reclamam que a tequila genuí na, com os seus típicos 40% de teor alcoólico, só é verdadeira se tiver sido feito com os aga ves da região de Jalisco, cidade mexicana a 65 quilómetros de Guadalajara. Apesar da variedade de tequilas produzidas, e da existência de famosas marcas de referên cia, o mercado foi surpreendido, no início de 2013, com uma tequila com características úni cas. Designada Casamigos, tinha também uma outra particularidade: um dos seus criadores era o actor norte-americano George Clooney que, com um seu amigo e empresário Rande Gerber, tinham por hábito passar férias juntos no México. Conta Rande Gerber que “os barmen recomendavam tipos diferentes de tequila. Depois de alguns meses, o George virou-se pa ra mim e disse: por que é que nós não fazemos a nossa própria tequila?.” E foi isso que fizeram. Depois de consultarem amigos que viviam na região, a dupla trabalhou com um mestre destilador em Jalisco, no México, para achar o exacto perfil de sabor de que estavam à pro cura — sem queimar e sem ser pungente. Ger ber e Clooney tinham inclinação por uma Re posado — tequila suave, equilibrada, que é en velhecida em barris de carvalho por meses — e foi por aí que iniciaram a sua actividade. A sua primeira opção foi pôr uma mistura de agave 100% Blue Weber cozida lentamente num forno de tijolos e deixada em fermenta ção por bastante tempo. Na realidade, o pro cesso da fermentação é extra lento, mais do dobro do padrão das convencionais 80 horas de maturação das leveduras.

c tequila

País México Cor Nítida e clara saBor Citrinos, baunilha e agave doce teor alCoóliCo 40%

José cuervo especial

País México Cor Dourada saBor Notas herbáceas de carvalho com final longo e picante teor alCoóliCo 38%

O resultado é uma tequila bastante suave cujo sabor não precisa ser mascarado por sal e li mão. A marca começou por lançar dois sabo res, o Blanco e o Reposado. A Casamigos Repo sado é uma tequila suave, limpa, com notas de caramelo, enquanto a Casamigos Blanco é níti da e clara com toques subtis de baunilha. O sucesso da Casamigos superou todas as expec tativas e venceu alguns prémios internacionais. Entre 2016 e 2017, as vendas cresceram 54% e com o valor da marca em alta, Clooney e Gerber venderam a Casamigos à Diageo por mil milhões de dólares, num grande negócio sem ressaca no dia seguinte, por certo.

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Blanco clooney surpreendeu o Mercado
george
tequila só é... tequila se tiver sido produzida coM os agaves da região de Jalisco

música filmes livros

• em destaque

“Guerra dos Tronos” dVd (Temporadas 1 a 7) (www.fnac.pT)

APeliDADO De 3DDD cONviDADA: ORlANDA DA cONceiçãO qUARtet

OS MABUNDAS GONçAlO, SANtOS e RODRiGO MABUNDA

Camões - Centro Cultural Português em Maputo Aberta até 31 de Maio Horário: Segunda a Sexta das 11h às 18h

SéRGiO SANtiMANO/MAURO PiNtO/FiliPe BRANqUiNhO/ YASSMiN FORte exPOSiçãO cOlectivA De FOtOGRAFiA

Fundação Fernando Leite Couto inauguração: 2 de Maio Hora: 18h Patente até 31 de Maio

MÚsica

FeStA DA UNiãO eUROPeiA DiNO D’SANtiAGO / BRANkO / RhODAliA celeBRAçãO DO DiA DA UNiãO eUROPeiA

Fundação Fernando Leite Couto Dia 10 de Maio Hora: 20h30

SeSSãO De cONveRSA e cONceRtO liZZY - BeRliN MeetS MAPUtO –let´S DRUM it UP! UMA PeRFORMANce úNicA De UMA BAteRiStA FeMiNiNA , vOcAliStA e cOMPOSitORA De BAteRiA , qUe DeSeNvOlveU UM NOvO iNStRUMeNtO qUe AcABA SeNDO PARte DA iNDUMeNtÁRiA ,

Fundação Fernando Leite Couto

Dia 15 de Maio Hora: 20h30

teatro

teAtRO iNFANtO-jUveNil “O PeqUeNO PRÍNciPe” / ceNtRO De RecRiAçãO ARtÍSticA textO ORiGiNAl: O PeqUeNO PRÍNciPe, De ANtOiNe De SAiNt-exUPéRY ADAPtAçãO: GiGliOlA ZAcARA eNceNAçãO & DRAMAtURGiA: GiGliOlA ZAcARA iNtéRPReteS: FeRNANDO MAcAMO, iSAc SUMAil e heleNA teMBe FiGURAçãO: ilDA ARMiNDO MúSicA: céliA MADiMe

Baseada no livro “A Song of ice and fire”, de george r r Martin, “guerra dos Tronos” é uma saga épica que se ins pira na luta pelo poder - pre sente em todas as socieda des humanas - e no que essa luta revela sobre a natureza humana. Nesta perspectiva, a série evoca não só os grandes clássicos da literatura (a co meçar em Shakespeare) co mo remete para ensaios co mo o “Leviatã” de Thomas Hobbes (“o homem é lobo do homem, numa guerra de to dos contra todos”) publicado no século xVii

eXposiçÕes dança cineMa

Ana Mafalda Leite é investi gadora e Professora Associa da com Agregação da facul dade de Letras da Universida de de Lisboa. escreve a auto ra na introdução a este volu me: “este livro reúne ensaios realizados entre 2006-2016. Na primeira parte, intitula da Cenografias Pós-Coloniais e na segunda parte do livro organiza-se um conjunto de estudos dedicados à Histó ria da Literatura Moçambi cana e também um roteiro de ensaios sobre a Literatura Moçambicana”.

Fundação Fernando Leite Couto Dia 25 de Maio Hora: 10h

ANtÍGONA: AS lUZeS e AS SOMBRAS cOORDeNAçãO De PRODUçãO: FFlc ADAPtAçãO DRAMAtúRGicA: ANtóNiO cABRitA APOiO à eNceNAçãO: veNâNciO cAliStO

ActOReS: hORÁciO GUiAMBA, MilSA USSeNe, SiDóNiO MONDlANe

SONOPlAStiA: NANDele FiGURAçãO: ilDA ARMiNDO MúSicA: céliA MADiMe

Fundação Fernando

Leite Couto

Dia 31 de Maio Hora: 18h

iNFlUx De PAk NDjAMeNA

Centro Cultural Franco-Moçambicano

Dia: 22 de Maio Hora: 19h

APARÊNciAS. e viveRÁS DO teU SUOR. FeStivAl kiNANi – OSvAlDO PASSARivO

Fundação Fernando Leite Couto

Dia 23 de Maio Hora: 18h

BlUSh De WiM vANDekeYBUS DOcUMeNtÁRiO

Fundação Fernando Leite Couto Dia 7 de Maio Hora: 18h

PANDZA lAND DOcUMeNtÁRiO

Fundação Fernando Leite Couto Dia 21 de Maio Hora: 18h

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 64
cenoGrafias pós-coloniais & esTudos sobre liTeraTura moçambicana ana mafalda leiTe ediTora colibri (2018)

“os MaBundas”, de gonçalo, santos e rodrigo MaBunda

no camões – Centro Cultural Português em Maputo, está patente até ao final do mês de Maio a exposição “Os Mabun das”, uma apresentação iné dita do trabalho dos artistas moçambicanos, Gonçalo, San tos e Rodrigo Mabunda. Esta arrojada iniciativa, que conta com o apoio do Barclays Bank Moçambique, tem co mo objectivo mostrar, na cida de onde nasceram os artistas, a singularidade e excelência dos trabalhos apresentados e divulgar o fértil trabalho criativo de três dos mais ta lentosos artistas plásticos de Moçambique na actualidade. Nesta mostra familiar, as obras seleccionadas são apre sentadas dentro de um dis curso curatorial que envolve não só a disposição espacial das obras em harmonia com o ‘genius loci’ da sala do Ca mões, mas também factores

como a tonalidade das pare des, a luminosidade, a pre sença de textos, entre ou tros elementos. O público po derá assim ver um conjun to de cerca de 40 obras dos irmãos Mabunda, que du rante o seu percurso desen volveram linguagens mui to particulares, tal como téc nicas diferenciadas e especí ficas de expressão artística. A exposição “Os Mabundas” –Gonçalo, Santos e Rodrigo reú ne um conjunto abrangente de obras produzidas recente mente, que inclui um painel colectivo produzido propo sitadamente para a ocasião. Santos e Rodrigo Mabunda têm exibido o seu trabalho, sobretudo, em exposições co lectivas a nível nacional, en quanto emergem como cria dores artísticos. Já Gonçalo,

um dos artistas com méritos reconhecidos e apreciados in ternacionalmente, já se afir mou há muito no competitivo circuito da arte contemporâ nea, tendo passado por algu mas das salas de maior rele vância e visibilidade globais. As suas obras são expostas em diversas galerias de Pa ris, Londres e Nova Iorque, de Macau ao Dubai. Em Áfri ca tem sido apresentado em praças como Marraqueche, Dakar, Joanesburgo e Maputo. Gonçalo recorre à escultura e soldadura metálica, tendo co mo elemento distintivo o uso de material de guerra des continuado. Santos tem fei to a evolução de um desenho monocromático para traba lhos que, embora utilizem a cor, mantêm a mesma sobrie dade das suas obras iniciais. No caso de Rodrigo, o mais “caçula” dos irmãos, o supor te utilizado para os seus de senhos, também monocromá ticos, mas neste caso feitos a esferográfica, são caixas de cartão reutilizadas.

caMÕescentro cultural português eM Maputo

Patente até 31 de Maio

De Segunda a Sábado, entre as 11h00 e as 17h30

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 65
a Mostra teM uM traBalho curatorial conJunto do arquiteto guilherMe godinho e do director do caMÕes – centro cultural portuguê

range rover evoque evolução sofisticada

acabado de lançar, o novo Range Rover Evoque marca o nascimento da segunda gera ção do SUV britânico. Foi em 2010 que a Land Rover agitou as águas do mercado dos SUV compactos com o lançamento do Range Rover Evoque. Com as vendas a atingirem cer ca de 800 mil unidades em sete anos e mais de 217 pré mios internacionais, percebe -se a prudência que presidiu ao redesenho do novo Evoque que mantém, no essencial, os traços que o tornaram tão distinto. Coisa, aliás, assumida pela própria Land Rover que prefere sublinhar tratar-se de “uma evolução sofistica da do perfil distinto do coupé, caracterizada pelas suas li nhas do tejadilho descenden te e linha de cintura ascen dente que identificam a famí lia Range Rover”. Se estetica mente as diferenças são mí

nimas, já em muitos outros aspectos há diferenças subs tanciais. A mais significati va tem a ver com a base em que assenta esta nova gera ção, a chamada Arquitectu ra Transversal Premium da Land Rover, que não só está preparada para a electri ficação, como veio permitir que o novo Evoque ofereça mais espaço interior e maior volumetria da bagageira. De acordo com a Land Ro ver, a nova plataforma é 13% mais rígida do que a anterior e filtra melhor o ruído e as vi brações que chegam ao habi táculo, estando apta a rece ber motorizações mais ami gas do ambiente pois, segun do a marca, “é isso que os clientes querem”. Daí que a evolução mais significativa

nesta nova geração do Evo que seja a introdução de um sistema mild hybrid de 48 V, uma estreia na gama do fa bricante britânico. No que diz respeito ao inte rior, um dos aspectos mais inovadores é o novo retro visor ClearSight. O espelho pode converter-se num écran de alta definição, que repro duz uma imagem de 50 graus da traseira, captada por uma câmera embutida na antena. De acordo com a Land Rover, a tecnologia ClearSight “pro porciona um campo de visão mais amplo e uma visibilida de superior em condições de luz -ambiente reduzida”. Mas o que realmente impressiona é o sistema Ground View, que usa três câmaras (duas nos retrovisores e uma na fren te) apontadas para o chão e que dão a sensação do carro ser transparente. As imagens são combinadas por um com putador e mostram a projec ção do piso à frente do carro.

range rover

evoque

O novo motor 1.5 turbo de três cilindros e 200 cv (família ingenium) terá um motor eléctrico de 108 cv alimentado por uma bateria de íons de lítio de 11,3 kWh

Preço MéDio 65 000 USD

vwww.economiaemercado.co.mz | Maio 2019 66
o novo range rover evoque Marca, e de que Maneira, o nasciMento da segunda geração do suv Britânico

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