E&M_Edição 41_Setembro 2021 • A Força do Informal

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ENTREVISTA MARTA ROFF FALA DO APOIO DA GIRL MOVE AO DESENVOLVIMENTO DAS COMUNIDADES CRESCIMENTO ESPECIALISTAS ANTEVÊEM CONSOLIDAÇÃO DA ESTABILIDADE A PARTIR DE 2022

MOÇAMBIQUE

RENOVÁVEIS O INVESTIMENTO DO REINO UNIDO NA EXPANSÃO DE ENERGIAS LIMPAS EM ÁFRICA

INOVAÇÕES DAQUI BLOCKCHAIN E CRYPTO — INOVAÇÃO E DISRUPÇÃO À ESCALA GLOBAL

A FORÇA DO INFORMAL

Edição Setembro | Outubro 2021 15/09 a 15/10 • Ano 04 • NO 41 Preço 250 MZN

Que lugar se deve atribuir ao sector que representa parte considerável da estrutura de produção e como transformá-lo num verdadeiro catalizador do desenvolvimento socieconómico?



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65 ÓCIO OBSERVAÇÃO

África A vulnerabilidade a desastres globais exige a criação de um fundo permanente de apoio

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OPINIÃO

66 Escape Uma aventura pela Ilha de Omuhipiti, o lugar do misticismo dos monumentos e gentes 68 Gourmet Restaurant Tech, uma solução para o pós-pandemia na restauração 69 Adega Como as alterações climáticas estão a mudar a qualidade dos vinhos 71 Arte Da “Janela Indiscreta”, o fotógrafo Mariano Silva revela o dia-a-dia de Maputo 72 Ao volante do Porsche Taycan, uma versão com mais autonomia e com estacionamento remoto

EY “Onde estão os sonhos da juventude?”, José Domingos Diogo, Senior Manager, Business Consulting - EY

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ESPECIAL ENERGIAS RENOVÁVEIS

14 Finanças verdes África vai estabelecer o seu primeiro Yeldco - activos que permitem investir em energias limpas e expandi-las 20 Sol Box Energia Um empreendimento que fornece energia solar às comunidades não cobertas pela rede nacional 22 Explicador O ambicioso plano anunciado pelo presidente chinês para atingir a neutralidade de carbono até 2060

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36 Opinião “Informal é normal!”, João Gomes, Partner @ JASON Moçambique, caracteriza o sector informal a fundo 38 Entrevista Alexandra Machado, da Girl Move, fala dos programas que revolucionam a actividade informal nas comunidades

www.economiaemercado.co.mz | Julho 2020

OPINIÃO

Banco Big Wilson Tomaz, analista do departamento de Research, fala das projecções de crescimento

NAÇÃO

A ECONOMIA INFORMAL 29 Desenvolvimento Especialistas consideram que empoderar o sector informal tem efeito multiplicador

MERCADO E FINANÇAS

Crescimento económico Instituições de análise prevêem retoma a partir deste ano e consolidação já no próximo

OPINIÃO

Absa “O papel dos bancos na inclusão financeira”, Jaikumar Sathish, Chief Information Officer - Absa

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ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI

56 Blockchain e criptomoedas Como estas iniciativas podem oferecer moedas independenetes e, ao mesmo tempo, seguras 60 Agro Pluzz Uma empresa que usa a tecnologia para facilitar o acesso aos mercados na cadeia agrícola

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EDITORIAL

Como se mede o desenvolvimento?

A

Celso Chambisso • Editor da Economia & Mercado ciência tem sido capaz de responder a muitas questões indispensáveis para uma cada vez melhor qualidade de vida das sociedades, mas deixa escapar algum vazio que carece de aprofundamento, sobretudo ao nível das ciências sociais, como no caso da Economia. Medir o desenvolvimento económico é uma dessas questões. Até hoje, peritos internacionalmente reconhecidos estão em busca dos melhores modelos, embora haja conceitos que ajudam a perceber o alcance desta questão. Este assunto salta-nos à vista quando abordamos o tema da Economia Informal, que é o pano de fundo desta edição. A economia informal encontra-se em todos os países do mundo e consta que não é possível erradicá-la, sendo mais presente nos países pobres, como Moçambique, do que nos mais desenvolvidos, por razões óbvias (desemprego elevado, défice de factores de produção, ausência de capital humano competitivo, etc.), mas pouco ou nada se sabe sobre o peso que exerce no processo de produção. Em Moçambique, estatísticas desactualizadas do INE apontam que 73% da actividade económica concentra-se no sector informal. Um peso que não é de se ignorar. Mas além de ser um dado por actualizar, falta conhecer o peso da economia informal no PIB, o que poderia dar a noção da sua real importância no desenvolvimento. Não há informação! Entretanto, assiste-se a dois fenómenos contraditórios quanto à importância que se deve atribuir a este sector. Por um lado, o crescimento e a modernização dos mecanismos de produção, ocasionado pelo desenvolvimento tecnológico, e que promove uma gradual interligação com o sector formal. Por outro, o combate implacável, sobretudo ao nível dos municípios. Em toda esta questão, a grande lacuna reside na aparente falta de suporte científico. Ou seja, se o sector informal for, de facto, um factor importante para a estabilidade das famílias e da economia, devia haver estatísticas que suportassem as decisões e políticas do seu empoderamento. Se, pelo contrário, a informalidade for má para a economia e para as posturas municipais, era também de se fazer suportar por argumentos científicos para banir ou providenciar espaços adequados no sentido de evitar que conflitue com as posturas municipais. Não se devia resumir a sua importância apenas nas questões fiscais (lembrando que até existem impostos que foram desenhados só para o informal). Contudo, e apesar desta ausência de ciência, a própria dinâmica da actividade económica está a mudar a face do sector informal nacional. Nesta edição, saberá quem são os actores do seu empoderamento, as iniciativas de grande impacto e as perspectivas. E por falar em perspectivas, é também assunto de destaque a análise das diferentes previsões de desempenho da economia moçambicana que, para já, apontam para o início da retoma do crescimento e de uma estabilização que se vai consolidar em 2022.

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MÊS ANO • Nº 01 15 SETEMBRO | 15 OUTUBRO 2021 • Nº 41 propriedade Executive Mocambique DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Liquatis nienis doluptae velit et Cativelos magnis pedro.cativelos@media4development.com enis necatin nam fuga. Henet exceatem EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant JORNALISTAS Cármen Cristina adis destiosse iusci re in Rodrigo, prae voles Freire, Elmano Madaíl, sant laborendae nihilibJaime usciusÁlvaro, sinusam Ricardo David Lopes, Rogério Macambize, rehentius eos resti dolumqui dolorep Rui Trindade, Yana deea Almeida reprem vendipid que et eumque non PAGINAÇÃO José Mundundo, Gerson Quive nonsent qui officiasi FOTOGRAFIA Silva lorem ipsumMariano Executive Mocambique REVISÃO Manuela Rodrigues Santos Liquatis nienis doluptae velit etdos magnis ÁREA COMERCIAL Nádia Pene enis necatin nam fuga. Henet exceatem nadia.pene@media4development.com seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant CONSELHO adis destiosseCONSULTIVO iusci re in prae voles Alda Salomão, Andreia António sant laborendae nihilibNarigão, uscius sinusam Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, rehentius eos resti dolumqui dolorep Fabríciavendipid de Almeida Frederico reprem queHenriques, ea et eumque non Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, nonsent qui officiasi João Gomes, Narciso nienis Matos,doluptae Rogério Samo lorem ipsum Liquatis Gudo, Cripton Valá, Sérgio velit etSalim magnis enis necatin nam Nicolini fuga. ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO Henet exceatem seque cus, sum nis nam E PUBLICIDADE Media4Development iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in Rua Ângelo Azarias Chichavanihilib nº 311uscius A— prae voles sant laborendae Sommerschield, Maputo – Moçambique; sinusam rehentius eos resti dolumqui marketing@media4development.com dolorep reprem vendipid que ea et IMPRESSÃO E ACABAMENTO eumque non nonsent qui officiasi Minervaipsum Print - Maputo Moçambique lorem Liquatis-nienis doluptae TIRAGEM 4 500 exemplares velit et magnis enis necatin nam fuga. PROPRIEDADE REGISTO Henet exceatem DO seque cus, sum nis nam Executive Moçambique iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL prae voles sant laborendae nihilib uscius EM MOÇAMBIQUE sinusam rehentius eos resti dolumqui Media4Development dolorep reprem vendipid que ea et NÚMEROnon DEnonsent REGISTO eumque qui officiasi 01/GABINFO-DEPC/2018 lorem ipsum Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi

www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019



OBSERVAÇÃO

ÁFRICA 2021

CONTINENTE PEDE FUNDOS CONTRA DESASTRES GLOBAIS África propõe a criação de um mecanismo financeiro para os países mais pobres enfrentarem pandemias e outros desastres de impacto mundial. “Aprendemos a lição de que não podemos andar à procura de dinheiro durante uma crise, o mundo precisa de saber que pode haver outra crise semelhante, e por isso pedimos ao FMI e ao Banco Mundial para liderarem a criação de uma estrutura permanente de financiamento”, defendeu recentemente o enviado especial da União Africana para o covid-19, Strive Masiyiwa. O responsável defende que “a arquitectura das promessas financeiras não resulta, porque o comprometimento de verbas é sujeito

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a condições e mais condições e mais condições até a crise passar, e isso não pode ser, não podemos estar dependentes da partilha de vacinas, particularmente quando podemos chegar à mesa das negociações e dizer que também queremos comprar dos mesmos fabricantes e nas mesmas condições dos países mais ricos”. O presidente do Banco Africano de Exportações e Importações (Afreximbank), Benedict Oramah, e a subsecretária geral das Nações Unidas e secretária executiva da Comissão Económica para África (UNECA), Vera Songwe, também convergiram na ideia de que o continente está a ser deixado para trás no combate aos desastres de impacto global.

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RADAR ECONOMIA

GOVERNO PREVÊ NOVO AGRAVAMENTO DAS TAXAS DE CÂMBIO O Ministério da Economia e Finanças (MEF) prevê o agravamento da taxa média de câmbio para 68 meticais por dólar para o ano de 2021. “Para 2021, as projecções mudaram com o impacto do covid-19, esperando-se uma pressão no mercado cambial, que poderá elevar a taxa de câmbio para 68,0 meticais por dólar”, lê-se no documento. Importa recordar que, em Março do presente ano, os analistas da consultora NKC African Economics estimaram que a moeda nacional iria continuar a desvalorizar-se, este ano, passando para 77,7 meticais por dólar, face aos 69,5 no ano passado. A confirmarem-se estas previsões terão impacto na coleta fiscal e na acumulação de reservas externas, para além de haver um aumento da dívida pública externa para financiar o défice orçamental e uma redução da almofada de liquidez via reservas externas, o que eleva o risco de uma depreciação mais pronunciada. No Relatório de Riscos Fiscais 2022, publicado em finais de Agosto último, o MEF lembra que o metical chegou a depreciar-se acentuadamente no ano passado, tendo atingido uma média de 66,6 MT/USD, contra uma previsão inicial de 60,0 MT/USD. Entretanto, em relação à previsão inicial (Orçamento do Estado de 2021), o relatório mostra que houve uma variação negativa do agravamento da taxa de câmbio.

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Infra-estruturas. O Governo moçambicano decidiu aprovar um decreto-lei que redefine diversas áreas de jurisdição portuária para acomodar a procura por investidores. Segundo o porta-voz do Conselho de Ministros, Filimão Suaze, o decreto ajusta as áreas de jurisdição de Mocímboa da Praia, Ilha de Moçambique e Lumbo, Quelimane, Nacala, Beira, Inhambane, Maputo e Matola. Também cria as áreas de Metangula, Angoche, Pebane e Chinde. “São sítios de maior incidência de solicitações para investimento”, explicou o porta-voz. Reconstrução. A Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN) está a trabalhar na contratação de uma entidade para gerir o dinheiro destinado às obras de reabilitação de emergência das infra-estruturas afectadas pelo terrorismo em alguns distritos da província de Cabo Delgado. Segundo Armindo Ngunga, presidente da comissão executiva da ADIN, neste momento está disponível um financiamento de 100 milhões de dólares do Banco Mundial. “A nossa missão é assegurar que o contrato social que existe entre o Governo de Moçambique e a população seja cumprido, isto é, garantir a provisão de serviços públicos a serem recolocados nos locais onde a Administração Pública foi afec-

tada e destruída pelos terroristas”, disse Ngunga. Gestão. A empresa Montfort, do ramo de comércio de mercadorias, vai passar a gerir o Terminal de Petróleo da Matola. Segundo uma nota, esta empresa anunciou que assume esta posição graças à recente aquisição do Terminal de Armazenamento de Petróleos da Matola e passará a gerir a instalação. “A decisão de adquirir a participação no terminal fazia parte do objectivo global da Montfort de expandir os seus negócios na região e apoiar as suas aspirações de chegar aos clientes na África do Sul e na região da África Oriental”. O terminal petrolífero tem mais de 58 mil metros cúbicos de capacidade de armazenamento e permitirá à Montfort comercializar produtos petrolíferos em Moçambique e nos países vizinhos.

Agricultura. A Agência de Cooperação Internacional da Coreia (KOICA) anunciou a disponibilização de 5,7 milhões de dólares ao Programa Alimentar Mundial (PAM) para apoiar pequenos agricultores na província de Sofala, centro do País. O acordo de doação assinado em Maputo visa garantir segurança alimentar, meios de subsistência e resiliência climática na actividade rural, e sustento da maioria da população moçambicana. A doação vai permitir apoiar os agricultores “na recuperação dos efeitos newww.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


gativos das mudanças climáticas” e “reduzir os impactos económicos da covid-19”, referiu Antonella D´Aprile, representante do PAM no País.

complementada por 96 postos de abastecimento com a bandeira PETROMOC-FUNAE, distribuídos ao longo de todo o País.

EXTRACTIVAS

Investimento. Cerca de três mil milhões de dólares disponibilizados por parceiros nacionais e internacionais estão a ser investidos, desde finais do ano passado, na construção de oito unidades industriais na província de Tete. Segundo o director provincial da Indústria e Comércio em Tete, Ofélio Jeremias Cauiriza, a edificação das fábricas está a ocorrer nos distritos de Moatize, Tsangano, Chiúta e Changara, devendo, no total, proporcionar mais de 2700 novos postos de trabalho. “As indústrias são de produção de cimento, ferro e aço, detergentes, processamento de malambe em sumos e bebidas, entre outros tipos de actividade”, detalhou Cauiriza. Combustíveis. A empresa Petromoc está a participar activamente nos projectos de construção e expansão de postos de abastecimento de gás natural para veículos em todo o País, no quadro do seu compromisso com a adopção de práticas amigas do ambiente e uso de recursos naturais. Com efeito, já construiu três postos de abastecimento na cidade de Maputo e Matola. Actualmente, a rede de Retalho da Petromoc é constituída por 120 postos de abastecimento de combustíveis e lubrificantes, que é www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

Carvão mineral. A Vale Moçambique esteve perto de duplicar os níveis de produção de carvão, durante o segundo trimestre deste ano, comparativamente com os primeiros três meses de 2021. Segundo uma nota da empresa, a produção do segundo trimestre registou um incremento de 92% em relação ao trimestre anterior, situando-se em 2,1 milhões de toneladas. No transporte de carvão, a empresa movimentou 1,9 mil milhões de toneladas, o correspondente um crescimento de 83%, em relação ao trimestre anterior. Mas “a produção e transporte de carvão foram afectados pela conclusão tardia do processo de manutenção das plantas de processamento na Mina de Moatize e o novo confinamento imposto pela pandemia do covid-19”, lê-se no comunicado enviado pela mineradora. Gás natural. A plataforma flutuante para produção de gás na Área 4 da Bacia do Rovuma está quase pronta e chega este ano a Moçambique. A garantia foi dada recentemente pelo Ministro dos Recursos Minerais e Energia (MIREME), Max Tonela, que avançou que a mesma vai ser concluída ainda este ano. A montagem desta vai viabilizar a produção e exploração do gás natural a partir da Península de Afungi. A plataforma faz parte do consórcio da Área 4 liderado pela Exxon Mobil e Eni a partir das reservas de gás Coral Sul.


OPINIÃO

Onde estão os sonhos da juventude moçambicana?

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José Domingos Diogo • Senior Manager, Business Consulting - EY

ecentemente vi os filmes “Triunfo – A História de Ron Clark” e “Em Busca da Felicidade”. Li também o livro “O Alquimista”. Recomendo a todos. Concluí, com base nestes, e em outras reflexões, que a juventude Moçambicana, e talvez a Africana, se tem se mostrado conformista e tem perseguido meramente padrões sociais, o conveniente e o socialmente aceitável. Quando converso com amigos, com muita frequência a resposta em relação aos seus planos para o futuro é geralmente ambígua e sem emoção. É iminente o cansaço nos olhos desta juventude, a falta de esperança e, acima de tudo, a falta de vontade para resolver os problemas sociais do nosso País. Quando procuro identidade ou originalidade nestes jovens, tenho dificuldade em encontrá-la. Consigo encontrar, por vezes, um desígnio de ser um Kanye West, ou um Steve Jobs. O que não é mau. O mau é que não estão a ser eles próprios. Este texto tem, desta forma, como principal objectivo, consciencializar os jovens de que os sonhos são importantes, e que a persistência é mais importante ainda. Moçambique possui vantagens económicas naturais extraordinárias. Desde a agricultura, onde temos uma imensidão de terra arável, passando pelo potencial pesqueiro, turístico-cultural, até ao famoso Gás onde possuímos a terceira maior reserva de Gás Natural do mundo. Tal potencial, só será convertido em riqueza quando nós, jovens, com coragem, ambição e persistência, decidirmos de forma destemida realizar esse potencial. Tal só vai acontecer se ousarmos sonhar. Por outro lado, Moçambique é um dos países mais pobres do mundo. Cerca de 50% dos moçambicanos vivem abaixo da linha de pobreza (menos de 2 USD por dia). Cerca de 43% das crianças sofrem de desnutrição crónica. 46% da população não tem acesso a água potável e, para agravar, 2500 crianças morrem anualmente devido à falta de higiene e saneamento. Tais números são aterrorizadores e, mais uma vez, somos nós os jovens que temos a responsabilida-

de de resolver tais problemas. Só sonhando ou tendo esperança num Moçambique melhor conseguiremos travar estes números e gerar desenvolvimento. Desde os estudantes de Parkland até à Primavera Árabe, os adolescentes e jovens adultos fazem história ao impulsionar a mudança social. Tal resulta do somatório de sonhos individuais de querer mudar o país. O segredo está simplesmente connosco. Mais do que formação académica ou educação convencional, está na hora de mostrarmos que somos os gestores sociais poderosos e catalisadores de mudanças positivas. Que a firmeza e autoestima estejam connosco. Que acreditemos mais em nós e sejamos os catalisadores da mudança que queremos ver no mundo. Está connosco a responsabilidade de alavancar a sociedade criar condições para um desenvolvimento económico e social próspero e sustentável. Está connosco a responsabilidade de mudar o paradigma do papel social do jovem e mostrar que somos efectivamente a força motriz para um futuro melhor e, mais uma vez, tal só vai acontecer se deixarmos a nossa imaginação trabalhar e tudo façamos para alcançar o que idealizamos. Sonho com um Moçambique de jovens idealistas, práticos e desafiadores nas esferas artística, científica, ou outras igualmente relevantes. Quero, e sonho, com uma juventude proactiva e activa. Eliminemos a passividade e o espírito de que o meu colega que tentou sonhar é simplesmente um elemento fora do sistema. Certamente que quando você tinha 13 anos, o seu sonho estava muito claro para si. Entretanto, com o tempo, você deixou que as convicções, crenças ou pensamentos sociais eliminassem estes sonhos. Eu sou vítima disso. Nós, jovens, ainda podemos alcançar os nossos sonhos desde que nos empenhemos e sigamos a máxima do provérbio “Treine enquanto eles dormem, estude enquanto eles se divertem, persista enquanto eles descansam e, então, viva o que eles sonham”. Deixo então o apelo para perseguirmos os nossos sonhos e contribuir para o sonho de Moçambique.

Sonho com um Moçambique de jovens idealistas, práticos e desafiadores nas esferas artística, científica, ou outras igualmente relevantes. Quero, e sonho, com uma juventude proactiva...

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Especial Energias Renováveis 14

FINANÇAS VERDES PARA AS RENOVÁVEIS

Está a ser introduzido, em África, um programa inovador que conjuga fundos públicos britânicos com financiamento privado para apoiar o desenvolvimento de energias renováveis, a propriedade local e o envolvimento no sector

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EXPLICADOR

Como o urânio está a alimentar energias limpas

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SOL BOX ENERGIA

Uma empresa que fornece energia solar ao meio rural

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PANORAMA

As notícias sobre energias renováveis no País e lá fora


finanças verdes

Os 34 Milhões do Primeiro Yieldco de Energia Renovável em África A UK Climate Investments estabeleceu este inovador veículo de financiamento verde ao lado do Investec Bank Limited e do Eskom Pension and Provident Fund TEXTO Alberto António • FOTOGRAFIA Istock Photo

Á

frica assistirá ao estabeleci­ mento do seu primeiro yield­ co (classe de activos emer­ gentes de empresas cotadas em bolsa, que se concentram em devolver aos accionistas os fluxos de caixa gerados a partir de activos de ener­ gias renováveis) feito com fundos dos In­ vestimentos Climáticos do Reino Unido e que será gerido pelos Gestores do Fun­ do Revego. A energia limpa, fiável e a preços aces­ síveis é um factor crítico para a redu­ ção da pobreza, para o desenvolvimen­ to económico sustentável e para a cria­ ção de comunidades mais resistentes aos desafios colocados pelas alterações

va conjunta entre o Macquarie’s Green Investment Group (GIG) e o Departa­ mento de Negócios, Energia e Estraté­ gia Industrial (BEIS) do governo britâni­ co, que investe no UK International Cli­ mate Finance para ajudar as economias em desenvolvimento do mundo a com­ bater as alterações climáticas e promo­ ver um crescimento limpo, resiliente e inclusivo. Tendo em vista investimentos transfor­ macionais em energia verde em algu­ mas das economias mais intensivas em carbono do mundo, identifica oportuni­ dades em que o seu capital pode mobi­ lizar capital adicional do sector privado numa base sustentável para promover

A UKCI e os seus parceiros estão a desenvolver infra-estruturas de energia verde em áreas com acesso limitado à electricidade climáticas. O Revego pretende enfrentar o desafio do acesso à energia e acelerar a imple­ mentação de novas capacidades de pro­ dução de electricidade limpa, adquirin­ do equidade em projectos operacionais de energia renovável em toda a África do Sul, ajudando os promotores a desblo­ quear e reciclar capital. A UK Climate Investments (UKCI) es­ tabeleceu, em 2015, este inovador veícu­ lo de fi­nanciamento verde ao lado do In­ vestec Bank Limited e do Eskom Pension and Provident Fund, com um compro­ misso vinculativo de 200 milhões de li­ bras (250 milhões de dólares aproxi­ madamente). Trata-se de uma iniciati­

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um crescimento mais limpo e mais ver­ de nestas economias emergentes. A UK­ CI investe em termos comerciais, fazen­ do investimentos de capital minoritário, tipicamente entre os 15 e os 40 milhões de dólares em projectos de energia re­ novável e eficiência energética. Com um enfoque geográfico actual da Índia e da África Subsaariana, UKCI está a trabalhar em estreita colaboração com os seus parceiros de investimento para desenvolver, construir e operar infra-es­ truturas de energia verde em áreas com acesso limitado à electricidade. E é nessa perspectiva que se enqua­ dra esta yieldco, que terá uma cartei­ ra inicial conterá participações em seis www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


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finanças verdes

EXPLICADOR O QUE SÃO YIELDCOS? São uma classe de activos emergentes de empresas cotadas em bolsa que se concentram em devolver aos accionistas os fluxos de caixa gerados a partir de activos de energias renováveis. Estes activos podem ser parques solares e eólicos que celebraram contratos de fornecimento de energia a longo prazo. Muitos YieldCos são capazes de distribuir uma elevada percentagem dos seus fluxos de caixa através da utilização de incentivos fiscais para minimizar as obrigações fiscais. Tendo começado em força em 2016, havia até há pouco tempo cerca de 20 YieldCos negociados publicamente em todo o mundo, 16 dos quais tinham IPO’d desde o início de 2013.

QUAIS SÃO AS VANTAGENS DE SE INVESTIR EM YIELDCOS? O rendimento médio de dividendos das YieldCos cotadas foi de 6,2% em 2015, o que provocou alguns abalos em Wall Street. As YieldCos alcançaram este elevado rendimento ao distribuir geralmente 70-90% dos fluxos de caixa disponíveis aos accionistas. Ao nível do crescimento de dividendos, os YieldCos são concebidos para oferecer o potencial de crescimento de dividendos através da aquisição de novos activos geradores de fluxo de caixa. Ao mitigar o risco de desenvolvimento e a incerteza dos preços, os YieldCos procuram evitar alguns dos aspectos mais arriscados dos investimentos tradicionais em energias renováveis. Os YieldCos podem ser detidos em ETFs, Fundos Mútuos e Fundos Fechados estruturados como Sociedades de Investimento Regulamentadas (RIC), sem os sujeitar a tributação. Devido a perdas líquidas de exploração, as distribuições em dinheiro são frequentemente consideradas como retorno do capital, o que reduz a base de custos de um investidor. Os impostos são frequentemente pagos na venda do activo à taxa de ganhos de capital a longo prazo.

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ÁFRICA DO SUL INICIA A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA COM PLANO DE 7 MM$ A empresa pública sul-africana Eskom anunciou recentemente planos para investir $7,3 mil milhões de dólares em energia renovável nos próximos nove anos, uma mudança que se destina a iniciar a transição do país do carvão, que actualmente representa 80% do seu fornecimento de energia. A empresa estatal disse que o investimento será utilizado para construir centrais de energia solar concentrada (CSP — Concentrated Solar Plant) e fotovoltaicas, bem como parques eólicos. A empresa já está a trabalhar numa central perto de Upington, província a norte de Cape Town, que utiliza espelhos em vez de painéis fotovoltaicos, e dirige os raios solares para uma torre de recepção central que utiliza sal fundido como meio de armazenamento térmico. A fábrica pretende ser um projecto-piloto para futuros esquemas de CSP. O financiamento virá de um conjunto alargado de instituições financeiras de desenvolvimento que estão a apostar, cada vez mais, no potencial energético ‘verde’ da região. Na primeira fase do plano, que será implementado durante os próximos dois anos, serão construídas centrais fotovoltaicas relativamente pequenas nos locais das antigas estações de carvão em Arnot, Duvha, Lethabo, Majuba e Tutuka. Estas terão uma capacidade total de 246MW. Na segunda fase, que deverá ser implementada entre 2023 e 2025, uma central fotovoltaica de 600MW será acrescentada ao parque eólico Sere de 100MW, em Western Cape, e uma instalação CSP de 750MW será construída em Olyvenhoutsdrift, no Northern Cape. Serão também desenvolvidos vários parques eólicos, com uma potência total de 750MW. A terceira fase do plano da Eskom, acrescentará 3GW de capacidade solar e 3,1GW de energia eólica entre 2025 e 2030. À medida que a energia renovável entra em linha, a Eskom pretende desactivar até 12GW de capacidade alimentada a carvão até 2031.

projectos localizados em toda a África do Sul, com uma capacidade instalada combinada de 605MW. A Revego pre­ tende continuar a aumentar a sua cartei­ ra através da aquisição de novos activos em toda a região, Moçambique incluído. Richard Abel, Director Executivo dos In­ vestimentos Climáticos do Reino Uni­ do, confirma este cenário e explica que o “UKCI tem vindo a investir na África Subsaariana desde há mais de três anos. Durante este período, assistimos a um crescimento significativo do ‘apetite’ dos investidores que procuram fazer parte da transição verde de toda uma região que está em rápido desenvolvimento. O estabelecimento do Revego Africa Energy é precisamente um sinal da cres­ cente maturidade do mercado, e uma in­ dicação de que o futuro das finanças ver­ des na África Subsaariana será brilhante”. Durante a sua Presidência COP26, o Rei­ no Unido dedica-se a aumentar a ambi­ ção climática global e a apoiar a transi­ ção de energia limpa no período que an­ tecede a cimeira, e está empenhado em www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


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O UKCL também marcou a entrega do seu mais recente projecto na África do Sul - Kruisvallei Hydro - uma hidroeléctrica que co-financiou com investidores negros de energias renováveis criar uma economia mais verde, mais justa e mais resiliente à medida que o pós-pandemia se vai tornando um ce­ nário cada vez mais real. “Este inova­ dor programa britânico demonstra o im­ pacto transformador que a acção climá­ tica internacional pode ter através do seu apoio ao crescimento económico e à criação de emprego na África Subsaaria­ na, ajudando a construir resistência a fu­ turos choques.” Adam Bye, Alto Comissário britânico in­ terino na África do Sul, explica estar “en­ cantado com o lançamento deste veícu­ lo yieldco, apoiado por $34 milhões de dólares do UKCI, um programa inovador que conjuga fundos públicos britânicos www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

com financiamento privado para apoiar não só o desenvolvimento de energias renováveis, mas também a propriedade local e o envolvimento no sector. O Rei­ no Unido continuará a explorar a forma como a acção governamental pode con­ duzir o investimento privado em inova­ ção verde, criando novos empregos, for­ necendo energia limpa, assegurando o fornecimento de energia e protegendo a participação na economia global de bai­ xo carbono, que se encontra em rápida aceleração”. O UK Climate Investments também marcou recentemente a entrega do seu mais recente projecto na África do Sul Kruisvallei Hydro - uma central hidroe­

léctrica de passagem que co-financiou juntamente com a maioria dos investi­ dores negros de energias renováveis H1 Holdings. O projecto eleva a capacidade total de electricidade renovável financiada atra­ vés da parceria na África do Sul para 254MW. Reyburn Hendricks, director executi­ vo principal da Revego Africa Energy Li­ mited, sublinha que “o sector das ener­ gias renováveis se encontra num ponto importante do seu crescimento na Áfri­ ca do Sul e no resto da África Subsaaria­ na. A carteira já consiste em vários pro­ jectos operacionais, renováveis e rentá­ veis, com outras oportunidades identifi­ cadas num pipeline em crescimento”. Gerida pela Macquarie Asset Manage­ ment e apoiada pela equipa da GIG, os profissionais de investimento do UKCI adjudicaram aproximadamente $95 mi­ lhões de dólares do programa durante três anos para apoiar o desenvolvimento de mercados de energia limpa e finanças verdes na África Subsaariana.

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explicador

Urânio, a Fonte de Energia Mais Limpa? As necessidades energéticas do mundo estão a crescer na exac­ ta medida do aumento da população. No entanto, alcançar uma economia de carbono zero, satisfazendo simultaneamente as crescentes necessidades energéticas do desenvolvimento, re­ quer um papel mais importante para fontes limpas, sustentáveis e fiáveis. O nuclear, tendo alguma ‘má percepção’ por parte do grande público, é uma dessas fontes de energia. O gráfico do Sprott Physical Uranium Trust destaca como o urâ­ nio está a alimentar uma das fontes de energia mais limpas e fiá­

veis na energia nuclear. Embora todas as fontes de energia te­ nham compensações, algumas são melhores para o ambiente do que outras. Para encontrar as fontes de energia mais limpas, o site “O Nos­ so Mundo em Dados” calculou emissões equivalentes a CO2 por gigawatt-hora (GWh) de electricidade gerada ao longo do ciclo de vida das centrais eléctricas para diferentes fontes de energia. Isto inclui a pegada das matérias-primas, transporte e constru­ ção de centrais eléctricas.

CO2 – Equivalência de emissões por Gigawatt – Hora de Electricidade

Durante o Período de Vida de uma Central de Energia A branco, a alternativa limpa aos combustíveis fósseis, emissões de CARVÃO CO2 por combustão de biomassa e outros gases.

PETRÓLEO

As centrais hidroeléctricas utilizam reservatórios de água e libertam gases de efeitos de estufa quando a vegetação subaquática se decompõe.

GÁS NATU RAL

A solar e a eólica estão entre as fontes de energia mais limpas, No entanto, os materiais utilizados na sua composição provocam uma grande pegada ambiental.

BIOMAS SA HIDRO SOLAR EÓLICA

NUCLEAR

Os reactores nucleares utilizam a fissão (divisão de átomos de urânio) para produzir energia sem qualquer combustão, fazendo dela, no produto final, uma das mais limpas formas de energia. O PODER DO URÂNIO E DO COMBUSTÍVEL NUCLEAR. A elevada densidade da energia do urânio permite que as centrais nucleares possam gerar grandes quantidades de energia de forma eficiente. 10 Cm3 de urânio equivalem a: Is vercia coris mo bea nus que licaectem vel ipsuntio denia vel moluptae verchil

120 galões de petróleo

1 tonelada de carvão

17.000 metros cúbicos de gás natural

Fonte: Visual Capitalist

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empresas

sol box energia

Quando o Sol Gera a Luz que Ilumina os Negócios O caminho é ainda muito longo, mas a Sol Box Energia, uma empresa especializada em prover sistemas solares, já está a fazer a sua parte para levar a energia até às comunidades rurais TEXTO Hermenegildo Langa • FOTOGRAFIA Mariano Silva

M

oçambique possui um enorme potencial para o uso de energia solar como fonte alternativa para o acesso universal à energia eléctrica devido à sua localiza­ ção geográfica. Ainda assim, esse poten­ cial não é aproveitado na sua plenitude, pois quase 70% da população continua sem luz. No meio dos compromissos assumidos até ao nível global, em que 2030 deve ser o ano em que toda a gente deve estar “iluminada”, vários investimentos públi­ cos e privados têm sido feitos. A Sol Box Energia é um dos exemplos de uma em­ presa que decidiu juntar-se a esta aposta. Criada em 2017, esta empresa moçam­ bicana, ancorada pela portuguesa CCBS Energia, pretende iluminar, de forma sustentável, as comunidades rurais on­ de a rede eléctrica tradicional ainda não chega, mas também prover o acesso ao abastecimento de água com recurso às energias limpas. Segundo André Uaciquete, gestor co­ mercial da Sol Box, a ideia é criar um pro­ jecto sustentável que possa beneficiar todas as comunidades, usando sistemas autónomos de mini-gride de baixo custo. “A ideia surge na base de um estudo feito sobre aquilo que são as potencialidades em termos de energias renováveis no País. Trabalhamos com os sistemas sola­ res caseiros e privilegiamos muito as co­ munidades, sobretudo famílias de baixa renda”, explica o gestor. É um projecto de âmbito nacional, que já implementou inúmeras iniciativas em todas regiões do País. “Já interviemos em Inhambane, Sofala no âmbito do ci­

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clone Idai, na Zambézia, Nampula e em Niassa”, conta Uaciquete. Apesar do trabalho de expansão rápida do acesso à energia, o gestor reconhe­ ce que há ainda muito trabalho por fa­ zer para fazer chegar energia a mais gen­ te nas zonas rurais, mas não considera ser um desafio “impossível”. Embora existam muitas empresas liga­ das às energias renováveis no País, An­ dré Uaciquete considera que o mode­ lo de negócio da Sol Box Energia o tor­ na diferente neste mercado. “Desenhá­ mos um modelo de negócio a que cha­ mámos de sistema Pay Go, onde o clien­ te pode usar o equipamento por certo tempo, pagando em prestações uma de­ terminada taxa. E no fim de dois ou três anos, o equipamento passa a pertencer na totalidade ao consumidor”, garante a fonte, sublinhando que “diferente de muitas empresas, a Sol Box Energia pri­ vilegia o marketing social, onde fizemos acompanhamento dos nossos projectos e procurámos saber quais são as neces­ sidades adicionais de uma certa comu­ nidade além do acesso à energia”. Na óptica da Sol Box Energia, é necessá­ rio que se disponibilize numa comuni­ dade um equipamento que possa gerar renda. Por isso, “a Sol Box Energia pro­ cura um modelo sócioeconómico ho­ lístico e inclusivo onde capacitamos as comunidades locais para ajudar-nos na gestão do equipamento”. Desde a sua implantação, mais de 7 mil famílias já usam os seus serviços. No en­ tanto, a falta de legislação específica que protege os investimentos renováveis em Moçambique continua a ser um dos grandes desafios desta empresa.

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EMPRESA Sol Box Energia FUNDAÇÃO 2017 GESTOR COMERCIAL: André Uaciquete TRABALHADORES: 4

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panorama

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Cabo Delgado

Central solar de Metoro assegura alternativa no fornecimento de energia a Cabo Delgado O Ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, garante que “vai ser possível assegurar uma alternativa no fornecimento a Cabo Delgado”. To­ nela falava durante uma recente visita à obra que, como já se sabe, será concluída em Janeiro do próximo ano. Há 426 pes­ soas contratadas directamente pela cen­

tral de Metoro durante a fase de constru­ ção, mas durante a operação serão ape­ nas 32, num local em que oportunidades de emprego são raras. O objetivo do Governo é instalar 600 MW de fontes de eletricidade até final de 2024 em todo o País, cerca de um terço das quais com origem em fontes renováveis.

Solar

Brasil desenvolve painel solar orgânico mais leve e transparente

Alternativa

Cascas de camarão podem ajudar a criar baterias para energias renováveis Um estudo da American Chemical So­ ciety, com uma equipa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, pro­ põe criar baterias de armazenamento através da quitina da casca do cama­ rão, que contém oxigénio e nitrogénio. O objectivo é conseguir armazenar energia de fontes renováveis, de forma mais sustentável e económica, através de biomassa e resíduos alimentares. Os especialistas utilizam assim o car­ vão proveniente de biomassa para ba­ terias de fluxo, em baterias redox de vanádio. Francisco Martin-Martinez, que faz parte da equipa, explicou ao Euro­ News que “as baterias de fluxo redox de vanádio, ao contrário das baterias de lítio usadas na indústria automóvel, não fornecem alta densidade de ener­ gia, mas fornecem um grande volume de armazenamento de energia a baixo custo, o que as torna ideais para arma­ zenar energia de fontes renováveis, co­ mo a solar e a eólica, cuja produção é intermitente.”

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O desenvolvimento de um novo pai­ nel solar orgânico não é novo, está a ser feito há 10 anos através do Insti­ tuto CSEM Brasil. Será um painel so­ lar mais leve e transparente que os modelos tradicionais e está a ser de­

senvolvido em Belo Horizonte, Mi­ nas Gerais. A construção deste pai­ nel é simples: é constituído por um fil­ me plástico, onde tintas à base de car­ bono são impressas e assim transfor­ mam a luz solar em energia eléctrica. A empresa tem o objectivo de ter ener­ gia verde em todo o lado e, por isso, as­ sim que se der início à produção em massa, este painel será 30 vezes mais barato do que os actuais painéis foto­ voltaicos de silício. O desenvolvimen­ to do painel solar fotovoltaico orgânico já se encontra na fase de testes, tendo mesmo sido já finalizadas a construção e adaptação de certas máquinas para o processo de impressão.

Inovação

Empresa lança aerogerador para casas de pequena dimensão

Uma empresa indiana desenvolveu e lançou para o mercado um pequeno ae­ rogerador para casas, que permite gerar até 5kWh/dia. O projecto foi desenvol­ vido pela startup Avant Garde Innova­ tions, sendo assim um gerador de ener­ gia de baixo custo que pode ajudar famí­ lias nas zonas de difícil acesso a energia. O aerogerador tem o nome de AVATAR,

visto que funciona com a energia do ven­ to, gera energia durante o dia e a noite, quer faça sol ou chuva. A empresa garan­ te que tem baixa manutenção, gera ener­ gia renovável limpa e dá uma garantia de dois anos e uma vida útil de 20 anos. O aerogerador pode ser instalado em pou­ co tempo, numa pequena área no chão ou no telhado de uma casa. www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021



OPINIÃO

O papel dos bancos comerciais na inclusão financeira

I

Jaikumar Sathish • Chief Information Officer (Interim) do Absa Bank Moçambique

magine que acorda um dia e todas as ATM, POS, bancos, balcões, agentes bancários, dinheiro móvel e operadores de carteiras móveis desapareceram magicamente. Como passará um dia neste cenário? Parece uma cena de um filme de ficção científica, não é? Não, na verdade, esta é a realidade que 45,5% da população adulta moçambicana (16+) vive no dia-a-dia, sem acesso aos serviços financeiros que a maioria de nós, que vivemos em áreas urbanas, tomamos como garantidos. De acordo com o FinScope Consumer Survey 2019, apenas 54,5% do total de adultos (16+ anos) da população de Moçambique tem acesso a alguma forma de serviço financeiro, seja através de operadores bancários ou carteiras móveis, seja através de outra forma de organização financeira ou não-bancária.

Isto representa uma grande questão: como é que podemos preencher esta enorme lacuna, e qual é o papel dos decisores políticos, reguladores, bancos, operadores de car-

teiras móveis e outras organizações não-governamentais, no sentido de aumentar os índices de acesso aos serviços financeiros. Antes de prosseguirmos para a solução, vamos identificar o problema e depois comparar com outras partes do mundo ou outras partes de África, procurando perceber como abordaram a questão. Como dissemos anteriormente, apenas 54,5% da população total com recursos financeiros tem acesso a serviços financeiros, tais como, uma conta bancária, ou tem capacidade de poupar o seu dinheiro arduamente ganho, ou consegue obter um empréstimo para fazer negócios ou melhorar a sua vida. E neste sentido, a pergunta óbvia é se esses 54,5% podem obter estas facilidades e, sendo as mesmas, em grande parte, oferecidas pelo sector privado, por que razão não podemos replicar este modelo em todo o Mundo ou para o resto da população? O problema é que a forma actual de prestação de um serviço financeiro depende de cinco aspectos: 1. Um balcão ou um local físico para atender o cliente; 2. Habilidade do banco para identificar um cliente (também conhecido como “Conheça o seu cliente” ou KYC); 3. Oferta de uma ferramenta de pagamento, como um cartão, uma conta de banco móvel ou uma carteira móvel; 4. Internet ou cobertura de telecomunicações. Por último, e o mais importante, e aquele que impacta o progresso é: 5. Gestão de dinheiro físico. E, na maior parte de Moçambique, podemos dizer com grande certeza que o dinheiro físico é o Rei. Embora a transformação digital tenha ajudado a resolver a maior parte do problema, ela funciona apenas onde temos os cinco aspectos acima descritos. Mas este não é o caso de 63% da população adulta que vive nas zonas rurais de Moçambique, onde um documento de identificação adequado para efeitos de KYC é difícil de obter. Embora as operadoras de carteiras móveis tenham tentado adoptar em Moçambique a fórmula que funcionou

Apenas 54,5 % da população com recursos financeiros tem acesso a serviços financeiros, tais como, uma conta bancária, ou tem capacidade de poupar o seu dinheiro... ou obter empréstimo

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O investimento em meios electrónicos tem sido crucial na expansão da inclusão

bem em outras partes de África, elas também foram confrontadas com o problema de gestão do dinheiro físico. Claro que resolver os quatro primeiros aspectos pode ajudar a aumentar o nível de inclusão financeira, mas é a gestão do dinheiro físico que pode aumentar a taxa de inclusão financeira exponencialmente, e isto é o mais difícil de resolver. Mas não é impossível. Embora os decisores políticos, reguladores e operadoras de carteiras móveis tenham seu papel nesta iniciativa, aqui vamos concentrar-nos no papel dos bancos para aumentar e melhorar a inclusão financeira. Tradicionalmente, quando um banco deseja prestar serviços financeiros a um grupo de pessoas numa determinada região, procura, em primeiro lugar, abrir uma agência, instalar uma ATM, abrir uma conta corrente ou de poupança, utilizando documentos de identidade válidos, construir um histórico de crédito e, em seguida, conceder empréstimos com base no histórico bancário ou com base em garantias. Embora este método possa funcionar em áreas urbanas, não é tão fácil executá-lo numa área rural. Mas a transformação digital está a mudar rapidamente a forma como os bancos conduzem os negócios, levando-os a procurar estabelecer parcerias com FinTechs e redes de agentes bancários para oferecer os seus produtos e serviços. Os bancos começaram a repensar a sua rede de distribuição e começaram a testar vários modelos, inclusive em Moçambique. Embora estas experiências-piloto, www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

cuidadosamente supervisionadas por bancos e reguladores, estejam a acontecer em regiões isoladas, as mesmas ensinaram uma grande lição aos bancos até que resolvamos o problema de gestão do dinheiro físico: não seremos capazes de atingir a meta de inclusão financeira a um custo sustentável e com a margem de lucro adequada que realmente se deseja alcançar. Um exemplo disso pode ser visto no Reino Unido, onde seis bancos concorrentes decidiram compartilhar o espaço de balcão operado pelos Correios (com base num artigo no Financial Times de 23 de Agosto). Embora possa parecer um conceito muito estranho para os bancos moçambicanos, esta pode ser uma das chaves para desbloquear o problema da gestão de dinheiro físico. Imagine que o custo de seis agências seja reduzido a um balcão compartilhado, o que pode ajudar, ainda mais, a introduzir ATM nas áreas rurais; mais locais dessa natureza significam mais capacidade de gestão do dinheiro físico e, portanto, aumento da inclusão financeira. Outra forma de os bancos contribuírem para o aumento da inclusão financeira é recorrendo a API de Banca Aberta (Open Banking API). Enquanto as parcerias com as FINTECH e as MMO estão a acontecer de forma isolada e a usar cláusulas de exclusividade, a expansão das mesmas, usando uma API de Banca Aberta ou outros padrões de interoperabilidade, certificará uma única Fintech ou MMO para ser capaz de integrar simultaneamente vários bancos dispostos a tal, usando os mesmos padrões, proporcionando acessibilidade financeira às áreas rurais e oferecendo opções para a população adulta urbana. Já imaginou ter que fazer login em apenas um aplicativo para gerir todas as suas contas bancárias e carteiras móveis? Uma rede de agentes bancários, em parceria com bancos, pode também ajudar a reduzir a presença de agências e a auxiliar na criação de pontos de recolha de dinheiro, usando o seu mecanismo existente de gestão de dinheiro físico. Fazendo isso, estas redes podem também aumentar o tráfego de clientes, podem beneficiar-se financeiramente da oferta de serviços bancários na sua rede e ganhar comissões pelos seus serviços. Isto já é observado em alguns bancos em Moçambique, mas sem a opção de interoperabilidade, obrigando os agentes a ter vários sistemas em funcionamento para serem parceiros de mais de um banco ou organização financeira. Portanto, a combinação de API de Banca Aberta (Open Banking API) ou Banca com o Serviço (BaaS), juntamente com a plataforma de rede não-exclusiva de agentes bancários, pode ser a chave mais importante de todas para desbloquear o potencial desta solução. Embora possa haver mais ideias sobre como os bancos podem contribuir para melhorar a inclusão financeira, também é importante compreender as restrições e limitações actuais, em termos de leis/regulação, que não foram elaboradas com a inclusão financeira em mente. Mas a boa notícia é que há consciência sobre essas restrições, e os reguladores e e decisores políticos estão a trabalhar em conjunto com organismos terceiros e associações bancárias para melhorar a regulação e promover a interoperabilidade e a inclusão financeira. Estamos numa fase em que as rodas da mudança começaram a mover-se a um ritmo exponencial, para que, num futuro próximo, possamos concretizar o sonho da inclusão financeira.

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NÚMEROS EM CONTA OS MERCADOS DE E-COMMERCE QUE MAIS CRESCERAM NO MUNDO EM 2020 Enquanto a indústria de retalho global passou por enormes dificuldades ao longo da pandemia, as vendas de comércio electrónico atingiram níveis sem precedentes. Em 2020, as vendas de comércio electrónico a retalho cresceram 27,6%, atingindo um total de 4,28 biliões de dólares em todo o mundo. Mas que regiões viram os maiores aumentos ao longo do ano, e como é que cada mercado se compara entre si? Este gráfico, apresentado pela Logiq, explora os mercados de comércio electrónico de crescimento mais rápido em todo o mundo.

biliões

biliões

Vendas globais de retalho online YOV Alteração

UM OUTLOOK DOS DEZ MERCADOS DE E-COMMERCE QUE CRESCERAM MAIS RÁPIDO NO MUNDO

O CRESCIMENTO DO MERCADO DE RETALHO ONLINE EM 2020 Noruega

UK

EUA

Finlândia

Singapura

Em 2020, as vendas de E-commerce em Singapura cresceram praticamente para o dobro.

Espanha

Filipinas

A América Latina é a região no mundo em que o E-commerce mais cresce.

Brasil

Argentina

A pandemia do covid-19 teve um papel importante no crescimento do E-commerce Argentina.

Índia

Com quase 700 milhões de pessoas com acesso à Internet, a Índia tem a segunda taxa mais elevada de utilizadores a nível mundial. FONTE Logiq; Visual Capitalist

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NAÇÃO


ECONOMIA INFORMAL

ECONOMIA INFORMAL — VÍRUS POR ERRADICAR OU RECURSO POR TRANSFORMAR? O negócio praticado por vendedores ambulantes, gente que fixa bancas a venderem todo o tipo de produtos nas ruas ou nos mercados, e até importadores informais de produtos básicos, tem sido visto, por alguns economistas, como uma calamidade difícil de extinguir, mas que vale a pena lutar para evitar que se alastre. Mas há também estudos que não só defendem a impossibilidade de exterminá-lo, como são favoráveis ao seu empoderamento. De que forma é que isso se faz numa economia pobre como a moçambicana?

Q

Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva

uem está no informal não paga impostos, por isso, não contribui para o desenvolvimento. É tão simples sentenciar, quando a questão é vista pela lupa meramente matemática em que “um mais um é sempre dois”. Mas a dinâmica da economia informal não se compadece com esta mecânica simplista. E será por isso, certamente, que a banca, as empresas de telefonia móvel, as startup, entre outras entidades, estão engajadas em criar soluções para melhorar o desempenho e a rentabilidade dos negócios informais. Afinal não é para menos: estamos a falar de um sector que representa 73% de toda a actividade produtiva do País, segundo estimativas (há muito não actualizadas, diga-se) do INE. Apesar disso, não há consensos, em todo o mundo, quanto à importância que se deve atribuir à economia informal, embora tenham tendência a crescer as vozes de especialistas que, não só revelam a impossibilidade de extinguir a informalidade (mesmo nos países mais desenvolvidos) como as que defendem que a informalidade pode trazer ganhos importantes ao desenvolvimento, incluindo no campo da inovação. Um dos exemplos é o livro intitulado “Stealth of Nations: The Global Rise of the Informal Economy (“A clandestinidade das nações: a ascensão global da economia informal”), no qual o autor, o jornalista americano Robert Neuwirth, após dois anos de imersão na economia informal em países dos cin-

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co continentes, fez cálculos que o levaram à conclusão de que “se a economia informal fosse um país, o seu PIB seria inferior apenas ao dos Estados Unidos” e que “metade dos trabalhadores do mundo participa, de alguma forma, na cadeia produtiva informal”. Em Moçambique, a informalidade é geralmente associada a cidadãos de nacionalidade moçambicana, de baixo rendimento, fraca formação académica e profissional, e pertencentes a agregados familiares relativamente numerosos, muito embora se reconheça a presença mais recente de indivíduos de outras nacionalidades – nigerianos, congoleses, ruandeses, chineses, paquistaneses, zimbabueanos, entre outros – que operam em actividades à margem da formalidade. Mas, antes de avançar, é preciso entender do que estamos a falar. O que é a economia informal? De centenas de conceitos que existem, a E&M traz dois. Um da Organização Internacional do Trabalho, que é mais amplo ao considerar que “o sector informal é o conjunto de unidades de pequena escala que produzem e distribuem bens e serviços e é composto essencialmente por produtores independentes e que operam por conta própria, empregando mão de obra familiar e/ou poucos trabalhadores, funcionando com reduzido capital e baixa produtividade, e tendo receitas bastante irregulares”.

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NAÇÃO A outra definição, que seria complementar à primeira, é do economista moçambicano Felisberto Navalha, quadro sénior do Banco de Moçambique, que diz que “o sector informal é o segmento da economia onde ocorre a prática de actividades legalmente permitidas ou, pelo menos, não expressamente proibidas por lei, mas que para além de não estarem registadas, quer para fins tributários oficiais, como para efeitos de cadastro comercial, estão fora das estatísticas oficiais do país”. Para completar ainda mais as duas anteriores, João Gomes, Partner da Jason Moçambique, revela que o facto de a economia informal não estar registada, mas as práticas serem consideradas legais, acaba por encorajar as pessoas a entrarem na actividade informal, ainda que por razões diferentes. “Até socialmente, as pessoas não se querem conotar com actividades ilegais. Por exemplo, as mukheristas (operadoras da associação de importadores informais de produtos básicos a partir da África do Sul) não se assumem como ilegais, ainda que tenham de fazer algumas acções ilegais como atravessar fronteiras sem se registarem devidamente” argumenta o especialista. Ao debate junta-se também o empresário António Sousa, que já fez pesquisas sobre o sector informal da economia e que foi presidente do pelouro da Política Laboral e Acção Social na CTA – a principal entidade patronal do País. Para desconstruir a imagem pouco digna da actividade informal argumenta que “o artigo 84 da Constituição da República diz que o trabalho constitui direito e dever de cada cidadão. O ponto 2 do mesmo artigo diz que cada cidadão tem direito à livre escolha da sua profissão, lembrando que profissão não discrimina se é no sector formal ou informal, podendo incluir, por exemplo, os vendedores de rua”. Como estamos? Dados estatísticos fiáveis não existem. Mas os entrevistados da E&M avançam informações que dão a indicação de que quase toda a actividade económica no País pode ser informal. João Gomes, recorrendo aos dados do INE, estima em 73%. E avança que 91% das empresas que se criam são informais, sendo que nenhuma das empresas mais antigas se converteu para o formal. Mais a fundo, António Sousa apresenta uma espécie de cálculo aritmético para mostrar que a informalidade da economia nacional pode ser ainda maior. Começa por explicar que a população moçambicana em idade de trabalhar, segundo a Lei, é dos 16 aos 65 anos, o que corresponde a cerca de metade da população total, isto é, 15 milhões de pessoas. Se subtrairmos os doentes e outras pessoas que, por várias razões, não podem trabalhar, a estimativa desce para 12 milhões de pessoas que produzem. Mas, deste universo, apenas cerca de 1,2 milhão de pessoas, correspondentes a 10% da população que trabalha, estão recenseadas no sector formal da economia através das empresas ou do trabalho por conta própria, segundo dados do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS). De acordo com este cálculo, 90% da força de trabalho nacional (que já é por si muito pouca) é informal. Um número muito acima dos 73% que são normalmente divulgados em estatísticas oficiais. Estes números são obtidos a partir de dados que igualmente indicam que o número dos registados no sector formal da economia está repartido em 700 mil pessoas a trabalharem por conta de outrem, 50 mil a trabalharem por conta

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própria e cerca de 400 mil trabalhadores do Estado. É esta dimensão do trabalho formal que paga impostos. Então, estando estudado e sendo já amplamente sabido que a informalidade resiste e persiste, e é tão representativa em Moçambique, o que pode ela trazer para o desenvolvimento e para o progresso? E como? É preciso acarinhar o sector informal Estudo do economista António Pinto de Abreu, já falecido, e que foi vice-governador do Banco de Moçambique, intitulado “Sector Informal, Microfinanças e Empresariado Nacional em Moçambique”, chegou à conclusão que este sector posiciona-se como a principal fonte de criação de novos empresários, daí que mereça uma abordagem que não a coloque na margem do processo de desenvolvimento. “Moçambique contempla, nas suas estratégias de desenvolvimento, a existência de um sector informal relativamente grande, de onde emergem empresários maioritariamente www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


ECONOMIA INFORMAL

“Se a economia informal fosse um país, o seu PIB seria inferior apenas ao dos EUA… 50% dos trabalhadores no mundo participa na cadeia produtiva informal” de nacionalidade moçambicana e por onde passam diversos esquemas de financiamento a partir de iniciativas microfinanceiras”, revela o economista. Entretanto, todos os outros seguem ao encontro de António Pinto de Abreu quando, invocando diferentes argumentos, consideram que o sector informal da economia nacional precisa de iniciativas que o fortaleçam. É pouquíssima a informação que revela os seus pontos negativos, que se resumem (além do fraco contributo no fisco) na inobservância das regras de higiene e segurança, que terá piorado com a pandemia do novo coronavírus. São problemas que, na óptica destes especialistas, têm uma solução relativamente fácil. www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

A formalização do informal A formalização do informal é a medida mais recomendada pelos especialistas, excepto João Gomes que cita a experiência feita há anos em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, em que todas as práticas de formalização do sector informal que consistiram na introdução da segurança social, criação de impostos específicos para o sector e outros tipos de custos e barreiras, complicaram tudo, levando ao surgimento de segundos e até terceiros mercados informais livres desses requisitos. Ou seja, a fuga à burocracia acabou por não ajudar. Mas António Sousa, empresário e antigo presidente do pelouro da Política Laboral e Acção Social na CTA, volta a recorrer a cálculos para evidenciar que a introdução de uma tributação adequada, ajustada e facilitada da economia informal teria efeitos importantes no seu empoderamento e na economia, de um modo geral. “Se dissermos que vamos criar uma forma de todos os quase 10 milhões que estão

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no circuito formal pagarem 1 dólar (quase 30 meticais) por mês, o Estado encaixaria 10 milhões de dólares mensais. Mas estas pessoas que não contribuem são cidadãos com acesso gratuito ou subsidiado à saúde, educação, água, energia e até ao transporte. Então, a questão do trabalho formal tem de ser vista no contexto macroeconómico e de desenvolvimento do País”, sugeriu. Importa lembrar que, actualmente, através do Simplificado para os Pequenos Contribuintes (ISPC), os pequenos contribuintes são cobrados, em impostos com 75 mil meticais anuais. O economista Michael Sambo, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), acredita que já houve iniciativas que poderiam ter trazido bons resultados a este nível, mas tem fracassado. Lembra, por exemplo, que num passado recente houve a ideia de formalizar o informal, “que é muito mais acertada do que o combate à economia informal”, mesmo porque os municípios cobram impostos sobre a actividade informal. Além disso, da parte da Autoridade Tributária, também houve esta tendência de formalizar o informal, por exemplo, através da criação do ISPC na ideia de que estes pagariam taxas de impostos relativamente menores sendo reconhecidos e formalizados. “Isto vinha ligado à ideia do alargamento da base tributária e era uma ideia muito acertada porque procurava acarinhar o sector informal por reconhecer o seu potencial contributivo e dar relativa margem para que não sucumbisse com taxas elevadas de impostos”. Também o estudo que já citámos, do economista António Pinto de Abreu, deixa a ideia de que a transformação de instituições informais em formais mostra alguns resultados interessantes em ramos como o das confecções, hotelaria e restauração, institutos de beleza e transportes,

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“Apenas cerca de 1,2 milhão de pessoas, correspondentes a 10% da população que trabalha, estão recenseadas no sector formal, segundo o INSS mas a duração do mesmo constitui um constante desafio face ao timing que o País enfrenta em termos de desenvolvimento interno virado para a internacionalização e integração regional da sua economia. Assim, o principal desafio que se coloca, segundo a pesquisa, é o de tornar mais eficaz o uso de recursos disponíveis para a promoção destes três vectores institucionalmente importantes para o desenvolvimento de Moçambique e para o combate à pobreza, nomeadamente a transformação do sector informal em formal, a consolidação da indústria microfinanceira e o reforço do papel do empresariado nacional. Na realidade, isto já tinha sido pensado há muito tempo. O Governo decidiu que a CTA é que deve liderar todas as iniciativas de formalização da economia informal, mas, no entender de António Sousa, a ideia não funciona porque toda a reflexão resvala na forma de actuação da máquina do Estado, sendo que esta devia ser uma discussão ao nível dos ministérios da Economia e Finanças, do Trabalho, da Indústria e Comércio, Autarquias, etc., sob a liderança do gabinete do Primeiro-ministro, e não o sector privado. Simplificação dos impostos, o grande obstáculo António Sousa fala na “falta de vontade política” para avançar rumo à formalização da economia. “Não podemos, com o regime fiscal que temos actualmente, formalizar a economia”, defende o empresário. E porquê? “O ponto é que a www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


RECICLAGEM O QUE IMPULSIONA A ECONOMIA INFORMAL? A origem e essência da economia informal em países pobres, como Moçambique, é muito diferente da dos países desenvolvidos. Cá existem aspectos estruturais que determinam a predominância da informalidade e é sobre eles que se deve intervir, quer para definir o seu fortalecimento, quer para rumar para a solução mais recomendada pelos especialistas: a formalização do informal.

FALTAM FACTORES DE PRODUÇÃO

DESEMPREGO ELEVADO

O trabalho e o capital são escassos. Não existe um mercado estruturado de terra que, por lei, foi posta fora do mercado. Este aspecto, apesar de parecer correcto do ponto de vista da soberania, retira dos moçambicanos um instrumento fundamental para a promoção do seu desenvolvimento, ao impossibilitar que a terra seja um factor dinâmico no processo social em curso.

Quase toda a gente que não encontra oportunidade de trabalho no sector formal refugia-se na actividade informal, sobretudo comercial. Há pesquisas que apontam que, em vários países africanos, o crescimento da informalidade tem levado alguns grupos a assumi-la não como válvula de escape à falta de oportunidades no sector formal, mas como actividade para a vida.

FALTA CAPITAL HUMANO

ATRASO ECONÓMICO

O capital humano é muito reduzido e as instituições são, em geral, incipientes, predominando o sector informal também no que se refere ao mercado de trabalho. O dinheiro é também uma instituição por expandir em Moçambique, havendo um vasto sector da sociedade em que as relações de troca entre os indivíduos são ainda precárias, isto é, não se processam por via monetária mercantil.

O mundo acredita que a Humanidade ganhou consciência da premência do desenvolvimento económico à escala global e com ênfase no continente africano. Testemunha disso são, entre outros programas, os Objectivos do Desenvolvimento do Milénio. Mas, para África, reserva-se um relativamente curto espaço de tempo para enfrentar e vencer uma série de barreiras.

FALTA COMPETITIVIDADE A quantidade de recursos humanos com qualidade para enfrentar os desafios crescentes da globalização e do desenvolvimento nacional é insuficiente, e os poucos homens nacionais com educação e instrução adequada trabalham e residem, em grande número, fora do País. Por outro lado, a maioria dos estrangeiros habilitados que trabalham e residem Moçambique estão envolvidos em processos produtivos orientados para fora.

FONTE Pesquisa “Sector Informal, Microfinanças e Empresariado Nacional em Moçambique”, de António Pinto de Abreu

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NAÇÃO

A GÉNESE DA INFORMALIDADE EM MOÇAMBIQUE A pesquisa “Sector Informal, Microfinanças e Empresariado Nacional em Moçambique”, de António Pinto de Abreu, cita outros estudos que esclarecem que o surgimento e florescimento da economia informal estão relacionados com a repressão económica e financeira registada na época da economia centralmente planificada (de 1975 até quase 1987), em que os preços, as taxas de juros e de câmbios e demais tarifas e comissões de serviço eram administrados pelo Estado e mantidos fixos por longos períodos de tempo, e também com a liberalização da economia ocorrida a partir de 1984/87, com o advento da adesão do País ao FMI e ao Banco Mundial, e o início dos programas de ajustamento macroeconómico e estrutural. Enquanto a repressão económica terá redundado em manifestações de comércio informal e mercado paralelo de bens e produtos essenciais, desviados dos circuitos de distribuição então criados através do sistema de planificação central, a liberalização económica abre espaço para o incremento e diversificação do sector informal.

única coisa que temos para a formalização da economia informal é através do ISPC, que é tão limitado e complexo. Mesmo dentro da economia formal, é muito difícil pagar o ISPC, basta olhar para as grandes enchentes no final de cada mês na Autoridade Tributária. Além disso, a meio do mês, é preciso pagar o Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas (IRPS). E porque é que o empresário tem de ir pagar dois impostos num mês?”, questiona o empresário, com tom de crítica. Bom exemplo, para António Sousa, é o da África do Sul, onde estes impostos são pagos trimestralmente e as pessoas têm o direito de escolher em que mês pagar. Então, “o sector informal tem de ter um imposto simples e único, mas isto não acontece porque não há vontade política”, sugeriu. Esta situação, segundo o especialista, ocasiona a ocorrência de práticas informais dentro do sector formal, “porque a actividade formal da economia não é cómoda. Há inspecções, fiscalizações e multas permanentes que não incentivam a formalização da actividade”. Sousa diz que a experiência tem provado que é mais prático e seguro operar no informal do que no formal. “Portanto, a forma como as coisas estão organizadas só empurra o sector formal para a informalidade, porque a máquina do Estado é tão pesada que só se interessa em recolher receitas”, criticou outra vez.

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“Trabalhar no informal pode não trazer nenhum progresso, mas traz um ganho social que é o facto de que podia estar numa rede ligada à ilegalidade” Ganho social, o outro lado da história João Gomes fala do lado que menos se aborda, mas que acredita ser um importante ganho trazido pela actividade informal. “Um exemplo é o de alguém que trabalha no sector informal, paga as suas contas e está num nível de sobrevivência pura. Isto não traz nenhum progresso nem desenvolvimento, mas pode trazer um ganho social, que é o facto de que esta pessoa podia estar numa rede ligada à ilegalidade”, refere o especialista. Para argumentar, João Gomes recorre à tese defendida numa das obras do economista João Mosca sobre o assunto, em que refere que “a elite moçambicana pretende ter um nível de informalidade que mantenha a sociedade num conflito de baixa intensidade e nunca explosivo. Ou seja, sem o pão, as pessoas ˊrebentavamˊ, mas é preciso manter aquele nível de informalidade para deixá-las sobreviver sem acabarem com a ordem social. www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021



OPINIÃO

Informal é Normal!

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João Gomes • Partner @ JASON Moçambique

em este artigo a propósito do tema da Economia Informal (adiante “EI”). Se a “EI” fosse globalmente consolidada, esta seria a segunda maior economia, logo seguida da economia dos EUA, e o seu PIB valeria 10 triliões de dólares Americanos. E empregaria 1,8 biliões de almas1. E só na África Subsaariana empregaria, em média – e excluindo o sector da agricultura –, (79,5%) da sua força de trabalho, colocando-a no topo a nível mundial, logo seguida das regiões do Sudoeste asiático (63,7%), e da América Latina (54,7%)2. Por sua vez, a distribuição da força de trabalho da “EI”, no interior da África Subsaariana, é a seguinte: África do Oeste (81,5%); África Central (78,7%); África do Este (71,2%); Sul de África (63,6%)3. Em Moçambique, no período entre 1990-1994, a força de trabalho na “IE” era de (73,5%), tendo este valor aumentado, no período entre 2005-2018, para (87,2%), correspondendo a um aumento de 18,63%4. E tal como aqui escrevemos no nosso artigo “Escolas de Negócios e Economia da Bolada”, o PIB da “EI”, em Moçambique, estima-se em 72%. E estamos a falar em estatísticas pré-pandemia COVID19: com certeza que, entretanto, a “IE” reforçou o seu peso relativo. Espero que o meu leitor@ esteja surpreendido com esta introdução: afinal, em Moçambique, o ”informal é normal”, e possui uma escala arrebatadora. É a maior parte da economia! Neste artigo proponho uma reflexão em torno da “EI”. Outras expressões equivalentes a “EI”: economia-sombra; economia subterrânea; economia paralela; economia de bazar; economia da bolada5. Será instrumental a seguinte definição de Economia Informal (a sublinhado), da autoria da Organização Internacional do Trabalho6: 1. Refere-se a todas as actividades económicas: i.e., sem limitação de sectores, com exclusão da agricultura. (Ambiente) Actividades essas exercidas sem as condições mínimas de higiene, e num ambiente de insegurança, medo

e constante ameaça e interferência nos negócios, exercidos pelas autoridades estatais e municipais. Há, contudo, que distinguir as actividades da “EI” das actividades criminosas ou ilegais, como a produção e o tráfico de droga. 2 … de trabalhadores: i.e., trabalhadores assalariados e trabalhadores por conta própria. Por exemplo: vendedores de rua; mukheristas; chapeiros; recolhedores informais de lixo; trabalhadores domésticos. A “EI” absorve os trabalhadores que, de outra forma, não teriam trabalho nem rendimento. A maior parte daqueles que entram na economia informal não o fazem por escolha, mas por necessidade absoluta. Na “EI” predomina o género feminino e o trabalho intensivo. Vivem maioritariamente em meio urbano ou periurbano. 3 _ Muitos dos que trabalham na economia informal têm um sentido apurado do negócio, espírito criativo, dinamismo e capacidade de inovação: deixaremos para um próximo artigo a abordagem da relação entre “EI” e Inovação. A força de trabalho da “EI” pode agrupar-se em três níveis: i) Sobreviventes: que constituem a Base da Pirâmide Social⁷, marginalizados e excluídos, os mais pobres entre os pobres, iletrados, não pensam em expandir o negócio, e praticamente não usam ferramentas da economia digital. ii) Gazelas constrangidas8 :com reduzida capacidade de investir, com competências básicas de literacia e numeracia, pensam em expandir moderadamente, mas com muito baixa tolerância ao risco, e fazem uso limitado de ferramentas digitais (por exemplo: social media), não dispondo de activos, sem colaterais, dificilmente bancáveis, financiando-se por via de empréstimos familiares. iii) Top Performers: com capacidade de investir, com competências de literacia, numeracia e de negócio, pensam em expandir, com tolerância ao risco, e fazem uso alargado de ferramentas digitais (por exemplo: business websites; E-commerce; social media; mobile banking), dispondo de activos para servir de colaterais, bancáveis. 4 … e unidades económicas: i.e., unidades familiares e de pequena dimensão (até cinco trabalhadores).

A economia informal absorve os trabalhadores que, de outra forma, não teriam trabalho nem rendimento. A maior parte daqueles que entram na economia informal não o fazem por escolha, mas por necessidade absoluta... predomina o género feminino e o trabalho intensivo

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Na economia informal não há barreiras à entrada de novos operadores. Mas, em contrapartida, há problemas como a insegurança e a incapacidade de acumular capital

Estas unidades i) apresentam baixíssimos níveis de eficiência e produtividade; ii) (Matérias-primas) utilizam como inputs desperdícios ou subprodutos da economia formal e informal; iii) (Infra-estruturas) operam em instalações inseguras, não dotadas ou com acesso a energia instável; iv) (Recursos) com limitado acesso a bens de capital e financiamento; v) (Qualidade) e produzem produtos de baixa qualidade; vi) (Links) operam em redes de baixa intensidade de informação e relação Fornecedor>Produtor>Cliente. Não obstante, vi) (Resiliência) apresentam grande flexibilidade e adaptação às alterações das condições de mercado: por exemplo, é proverbial a velocidade de recuperação da “EI” em situações de catástrofe. (Skills) Não possuem (são iletrados), ou são detentores de qualificações muito baixas, e os conhecimentos são obtidos informalmente, no posto de trabalho, preferencialmente num enquadramento do tipo mestre/aprendiz, ou por transmissão de segredos familiares, ou em agremiações e/ ou associações. Em termos dos (Mercados), estas unidades operam i) (Procura) com procuras baixas; ii) (Proximidade dos consumidores) em mercados locais/de grande proximidade física; iii) (Preço) vendendo a preços baixos; iv) (Negociação) num regime de barganha do preço; v) (Margens) com lucros baixos; vi) (Meios de pagamento) com as transacções a serem feitas em dinheiro vivo, ainda que nas classes “Gazelas Constrangidas” e “Top Performers” se assista ao pagamento através de meios digitais. 5 … que não são abrangidos, em virtude da legislação ou da prática, por disposições formais: i.e., não licenciados, não registados, não tributados, sem protecção social. Sofrendo de falta de protecção, de direitos e de representação, estes trabalhadores são frequentemente atingidos pela pobreza, explorados e assediados pelas autoridades. (Corrupção) Em consequência, pagam subornos para i) acelerarem o acesso a recursos e infra-estruturas públicas (por exemplo, no caso das vendedoras: o acesso a mercados www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

municipais); ii) evitarem penalizações (por exemplo, no caso dos chapistas: as excepções ao direito estradal). Em conclusão A “EI” caracteriza-se por não apresentar barreiras à entrada, acolher quem não tem lugar na economia formal, e permitir que as operações decorram “fora do radar” dos Estados. A contrapartida, principalmente para a categoria dos “Sobreviventes”, é a permanente insegurança, a impossibilidade de acumulação de capital humano, tecnológico, financeiro e de mercado. O “novo normal” será criar as condições para i) estimular uma postura menos repressiva do Estado, ii) fugindo igualmente da tentação da formalização da “EI”, iii) promover massivamente a inovação (oportunamente escreveremos sobre este tema), iv) e aproveitar o enorme potencial empreendedor, as oportunidades e os recursos existentes na “EI” de modo a promover as condições e o trabalho decente, aumentar a eficiência e produtividade, acelerar a acumulação de capital e permitir progressão na pirâmide social: que ninguém fique para trás. NEUWIRTH, Robert “The Power of the Informal Economy” (TED-X video). 2 CHARMES (2020), referido por KRAMER, Erika “Innovation in the Informal Economy”, (video). 3 Idem, nota 2. 4 DE BEER, Jeremy “The Informal Economy, Innovation and Intellectual Property”. 5 Expressão da nossa autoria. 6 Organização Internacional do Trabalho (2005), “O Trabalho Digno e a Economia Informal”. 7 PRAHALAD, C.K. et al (2002), “The Fortune at the Bottom of the Pyramid”. 8 GRIMM, Michael et al (2012), “Constrained Gazelles: High Potentials in West Africa’s Informal Economy”.9“The Firm in the Informal Economy”. 1

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NAÇÃO QUEM É QUE FAZ PELOS INFORMAIS? Tende a crescer a quantidade de iniciativas que procuram olhar para o sector informal com respeito e que prestam o apoio necessário para mudá-lo e torná-lo mais actuante no processo de desenvolvimento. Quem são estes actores?

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Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva

ão é só na opinião dos grandes pensadores que se defende o fortalecimento da economia informal, se bem que, na realidade, como já disseram especialistas no artigo anterior, a maior parte dos procedimentos definidos dentro do formal têm um certo cunho informal. Ainda assim, é preciso reconhecer que dificilmente se encontram entidades que desenhem estratégias grandes para irem ao encontro dos pequenos. Mas, nos últimos tempos, a situação tende a mudar porque os pequenos foram-se fortalecendo e hoje assumem-se como um mercado que oferece grandes oportunidades de negócio para as grandes iniciativas. Conheçamos, neste artigo, parte das poucas grandes iniciativas que fazem toda a diferença. A revolução que veio com o “Biscate” Um dos sinais mais expressivos da aposta no sector informal veio com a criação, em 2016, pela UX, da plataforma Biscate, uma aplicação que está agora disponível para descarga em Android e IOS, através da qual qualquer pessoa pode ter acesso a uma base de dados com milhares de trabalhadores em todo o território nacional – carpinteiros, electricistas, canalizadores, técnicos de ar-condicionado, serralheiros, pedreiros, mecânicos de automóveis, pintores, técnicos de TV, etc., num total de 18 profissões. Trata-se de um serviço que permitiu que numerosos informais e trabalhadores qualificados não certificados, localizados em todo o País, registassem e anunciassem os seus serviços através

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de um aparelho celular de qualquer modelo, incluindo os mais básicos, desde que tivessem a tecnologia USSD. Em julho de 2017, um ano depois da sua criação, os 14 membros da equipa do Biscate tinham atraído mais de 46 mil trabalhadores para a plataforma, conectando-os a mais de 28 mil clientes por meio de um total de 83 mil solicitações de contacto em dez províncias de Moçambique. Em 2019, já se falava de mais 50 mil trabalhadores inscritos. Recentemente, a plataforma Biscate aliou-se à Vodacom, uma das empresas com grande intervenção no apoio ao sector informal. À luz desta união, a Vodacom concedeu ao Biscate livre acesso à infra-estrutura USSD por meio de API, permitindo que os trabalhadores se cadastrem na plataforma de qualquer telefone, sendo que a Biscate também passa a estar integrada na infra-estrutura de serviços de mensagem de texto (SMS) da Vodacom. “Nós, como operadora, fornecemos um link à equipa Biscate, que passa a ter o direito à perícia. Eles sabem como marcar o serviço e alcançar a comunidade. Com o Biscate, a Vodacom quer apoiar uma história de sucesso local”, disse Jerry Mobbs, director-administrativo da Vodacom Moçambique. A previsão é de que, no futuro, o Biscate passe a cobrar aos usuários pelo serviço. Os trabalhadores vão pagar uma taxa de inscrição e uma taxa trimestral de assinatura, enquanto os clientes serão cobrados por requisição de contacto. Esta funcionalidade será possível acessando o sistema de facturação da Vodacom. O acordo prevê, ainda, que as partes partilhem as receitas.

Gapi no fortalecimento da resiliência no sector informal O Gapi-SI, outra entidade com forte intervenção ao nível dos pequenos negócios, está envolvido no projecto “Trabalho Decente para uma Transformação Económica Sustentável e Inclusiva em Moçambique”, também conhecido como MozTrabalha. Trata-se de uma iniciativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) co-financiada pela Embaixada da Suécia, em parceria com o Governo de Moçambique. O MozTrabalha associou-se ao GAPI–SI para oferecer acesso a serviços financeiros, formação e coaching aos operadores nos mercados de Xiwww.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


ECONOMIA INFORMAL

A GAPI-SI está envolvida em projectos com grande impacto sobre a economia informal. Um dos exemplos é a componente que dá acesso ao financiamento a grupos solidários dos operadores mais vulneráveis quelene (Cidade de Maputo), Umpala (Boane, província de Maputo) e Mercado Novo (Vilankulos, província de Inhambane). Esta iniciativa abrange cerca de 300 operadores/agentes, dos quais metade são mulheres, e visa garantir condições financeiras essenciais para que possam continuar a desempenhar as suas actividades económicas no enquadramento actual da pandemia do novo coronavírus. www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

O projecto centra-se também nas áreas rurais e a maioria dos seus beneficiários finais (e também directos) está a residir naquelas áreas. No total, o MozTrabalha quer cerca de 15 mil beneficiários finais que vivem com menos de dois dólares por dia, dos quais 60% serão jovens com 34 anos ou menos (de acordo com a política nacional de juventude de Moçambique). De acordo com Rui Amaral, direc-

tor-adjunto da área de consultoria e capacitação empresarial da GAPI-SI, a iniciativa consiste na implementação de três projectos. O primeiro é a formação dos operadores dos mercados e dos gestores dos municípios. O segundo é o acesso a recursos financeiros onde foram desenhados vários produtos para investimentos e aquisição de stock. E, para os que tiveram de encerrar o seu negócio por causa da pandemia, dispõem de produtos para a recuperação de negócios. Além disso, há grupos solidários compostos por cinco a dez pessoas que se podem juntar e pedir financiamento. A terceira componente é a digitalização

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A União Europeia está a desenvolver o programa +EMPREGO, que pretende aumentar as oportunidades económicas da população de Cabo Delgado contribuindo para a melhoria do acesso ao trabalho decente que consiste na montagem de pontos de hotspot para permitir o acesso à internet, sem falar no desenho de uma plataforma onde será veiculada informação educativa. “O nosso objectivo final é criar uma plataforma de comércio electrónico”, explicou Rui Amaral. União Europeia promove o trabalho decente A União Europeia (EU) está a apoiar Moçambique na promoção da transformação e diversificação económica sustentável, com particular atenção no emprego produtivo e no trabalho decente, com enfoque nas mulheres e na juventude. A atenção está voltada para as necessidades específicas das zonas rurais. O programa de promoção do trabalho digno ganhou especial destaque em Cabo Delgado com a introdução, em Novembro do ano passado, do chamado “+EMPREGO” - Promover o emprego e as parcerias público-privadas no

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sector do gás natural em Cabo Delgado”, cofinanciado pela União Europeia e pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. Com uma duração de quatro anos (2020 – 2024), o +EMPREGO tem um orçamento global de 4,2 milhões de euros, dos quais 4 milhões de euros financiados pela UE ao abrigo do 11.º Fundo Europeu de Desenvolvimento e 200 mil euros pelo Camões, IP., que é responsável pela gestão do projecto. Trata-se de um programa que pretende aumentar as oportunidades económicas da população de Cabo Delgado, e em particular dos jovens, contribuindo para a melhoria do acesso ao trabalho decente e do seu rendimento em actividades directa ou indirectamente relacionadas com a indústria do gás natural. O projecto pretende igualmente estimular Parcerias Público-Privadas com forte impacto no emprego e apoia a certificação das Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) visan-

do o aumento da respectiva competitividade e a melhoria da empregabilidade dos jovens qualificados. Com este projecto espera-se beneficiar 800 jovens moçambicanos dos 15 aos 25 anos. Pelo menos 50% dos beneficiários finais devem estar empregados ou ter criado o seu próprio emprego, no final da acção. Deverão ainda ser capacitados e certificados 35 micro, pequenos e médios empresários da cadeia de valor da indústria do gás natural, com operação em Cabo Delgado; 150 dirigentes e equipas técnicas, ao nível central, provincial e local dos ministérios parceiros; e 250 directores, gestores, professores, formadores, técnicos de formação e de emprego, orientadores profissionais e mentores da educação profissional. . A força das instituições de moeda electrónica Sem falar das instituições de microfinanças que, tradicionalmente, têm o seu core business nos pequenos operadores informais, no campo das finanças, em Moçambique, operam três instituições de moeda electrónica, que exercem papel de relevo neste campo. Trata-se do Mpesa, da Vodacom Moçambique e que é o mais representativo www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


ECONOMIA INFORMAL QUEM É QUE AJUDA O INFORMAL? O mercado moçambicano tem várias ferramentas e plataformas criadas para olhar o sector informal da economia de uma maneira diferente, e que acrescentam valor à facilitação da vida dos quase 73% (ou 90%?), que estão neste sector. Conheça uma parte deles:

BISCATE

MPESA

É uma plataforma criada em 2016 pela UX, que permite conectar quem procura a quem oferece trabalho à escala nacional. Tem um total de 18 profissões realizáveis informalmente como a de reparador de televisores, canalizador, electricistas, etc. Actualmente, conta com mais de 50 mil registados, mais de 30 mil clientes já usaram o serviço e 120 mil contactos requisitados, através da plataforma.

É o maior serviço financeiro móvel em Moçambique, que permite transferir e levantar dinheiro, e efectuar uma série de outras transacções na aquisição de bens e serviços. É amplamente utilizado no sector informal não só pela fácil operabilidade, como por oferecer instrumentos muito úteis, como o “Xitiqui” e a possibilidade de crédito financeiro, mesmo sem ter conta bancária.

foto

MOZTRABALHA

+EMPREGO

Foi criado pela OIT e Governo de Moçambique, com financiamento do Governo da Suécia. Foca-se em prestar assistência técnica e financeira aos modelos de intervenção prática que procuram criar emprego digno, sobretudo para as zonas rurais. Recentemente associou-se à GAPI –SI para oferecer acesso a serviços financeiros, formação e coaching aos operadores dos mercados.

Foi lançado no ano passado pela União Europeia em parceria com Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., para promover o trabalho digno e as parcerias públicoprivadas no sector do gás natural em Cabo Delgado. Tem a duração de quatro anos, até 2024, período em que projecta beneficiar 800 jovens. Tem um orçamento global de 4,2 milhões de euros.

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pelo crescente número de subscritores e pela capacidade de se integrar nos serviços financeiros formais; o Mkesh, da Tmcel; e o E-mola da Movitel. Para se ter uma ideia da abrangência destes serviços ao nível da economia informal, basta dizer que têm potencial para chegar a cerca de 13 milhões de subscritores, já que, segundo dados mais recentes do Instituto Nacional de Comunicações de Moçambique (INCM), a Vodacom tem seis milhões de clientes – a maior quota do mercado –, seguida da Movitel, com cerca de quatro milhões, e da estatal TMcel, com pouco mais de três milhões de clientes. Estes instrumentos, por serem de fácil manuseamento (através do mais simples aparelho celular), estão a afirmar-se como um verdadeiro dinamizador das finanças no sector informal e a custos relativamente baixos. Segundo o Banco de Moçambique, o custo mais barato do dinheiro, nos esquemas informais, permite que as populações (sobretudo as de baixa renda) dinamizem os seus pequenos negócios num ambiente mais competitivo, seguro e amigável. Ou seja, segundo o Banco Central, as dinâmicas do sector informal mostram que, em Moçambique, o dinheiro pode ser mais barato, circulando com maior rotatividade, e segurança, entre os agentes. Recentemente, o Governador do Banco Central, Rogério Zandamela, chegou a elogiar a contribuição prestada pelos serviços financeiros de moeda electrónica no funcionamento da economia em locais assolados por desastres naturais. O serviço Mpesa tem sido o mais dinâmico também ao nível da inovação, sendo o que mais diversifica as suas soluções, tendo integrado a possibilidade de fazer o “xitiqui” (serviço de poupança) e mais recentemente o “Txuna M-Pesa”, um serviço da categoria de crédito, que permite fazer empréstimos no banco e receber dinheiro na hora, através do M-Pesa, sem precisar de conta bancária. Trata-se de um serviço que pode ser oferecido a todos os clientes da Vodacom elegíveis e cujos empréstimos podem ser pagos em prazos que vão dos sete dias (com taxa de serviço de 10%), 14 dias (com taxa de serviço de 12%) e 30 dias (com taxa de serviço de 15%). Ainda não há dados sobre o nível de adesão das pessoas a este serviço.

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O serviço Mpesa tem sido o mais dinâmico também ao nível da inovação, sendo o que mais diversifica as suas soluções, tendo integrado a possibilidade de fazer poupanças e a realização de empréstimos O lado inovador da informalidade? À semelhança das entidades que apoiam iniciativas do sector informal da economia, um pesquisador americano, que, por dois anos, mergulhou no sector informal de vários países do mundo, trouxe dados interessantes sobre como este sector pode ser transformador. O estudo foi publicado em 2012, mas as suas conclusões são actuais. No seu estudo, o jornalista Robert Neuwirth concluiu que a redução das amarras legais ao comércio e aos negócios informais é um caminho para diminuir a ilegalidade e trazer para a economia global milhões de pessoas com talento para empreender. Segundo ele, a economia informal poderia sair do escuro e transformar-se num berço para novos negócios, formando empreendedores comprometidos com o desenvolvimento de produtos e serviços em mercados que não são do interesse das grandes empre-

sas. Neuwirth defende a ideia de que, em muitos casos, há mais inovação numa barraquinha de quem vive do contrabando, da pirataria e da sonegação de impostos do que numa empresa legal e com recursos, mas morosa demais para acompanhar o mercado. Um exemplo da inovação trazida pela economia informal, segundo Neuwirth, são os celulares que recebem sinal de mais de uma operadora. “Eles foram produzidos, primeiro, pelos chineses, por encomenda de negociantes de países africanos”, diz Neuwirth. “Essa adaptação foi feita antes de a Motorola lançar seu modelo dual.” A informalidade, diz Neuwirth, é forte demais para que as empresas do mundo legal vençam essa concorrência desleal só com protestos — sobretudo nos países africanos, em que é por meio dela que boa parte dos produtos de primeira necessidade chega aos consumidores mais pobres. www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


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NAÇÃO “EMPODERAR AS COMUNIDADES TORNA-AS AGENTES DE MUDANÇA” Um exemplo de que é possível chegar à “última milha” e desenvolvêla é a Changemaker Lab, ideia implementada pela Girl Move, e que tem como principal ferramenta a transformação de mentalidades

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Texto Celso Chambisso • Fotografia Jay Garrido & D.R

uito mais do que uma ONG, a Girl Move é uma academia de liderança, que está na província de Nampula desde 2013, e que se distingue por metodologias inovadoras na capacitação da rapariga e da mulher em prol do desenvolvimento do País. De acordo com a fundadora da Girl Move, Alexandra Machado, aquela organização procura alinhar tais metodologias com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que vão além dos números 4 e 5, que se focam na Educação e Género, estendendo-se para muitos outros campos do desenvolvimento, como as áreas de Energia, Saúde, entre outras. A Girl Move tem três programas anuais diferenciados que se unem entre si através da metodologia de mentoria e dos chamados círculos de irmandade. O primeiro é o programa “Believe” (que significa acreditar) e que envolve raparigas adolescentes dos 12 aos 15 anos que frequentam o último ano do ensino primário (a 7ª classe), com o objectivo de lhes dar visão através do modelo de referência que lhes possa abrir a mente para acreditarem na sua formação como factor transformador. Este programa conta, agora, com 1200 jovens adolescentes em Nampula. Um aspecto distintivo é também o facto de as mentoras destas meninas serem jovens universitárias (lembrando que estas correspondem a 1% da população feminina moçambicana com ensino superior) e que se tornam ídolos das suas educandas. Este

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factor acaba por evitar que as adolescentes tomem como referência as parentes directas que, na sua maioria, se casaram muito cedo e não tiveram oportunidade de decidir o que queriam fazer na vida. O segundo é um programa chamado “Lead” (liderar), em que as jovens universitárias (a que já nos referimos) usam a experiência de mentoria do programa “Believe” para construírem a confiança, o foco e a visão necessários para abraçar novos desafios. No fim, estas tornam-se capazes de desenvolver um plano de carreira eficaz e coerente. O terceiro (e último) é o programa “Change” (mudança), em que os dois primeiros grupos se inspiram nas raparigas que já concluíram o ensino superior (as girl movers), que é o resultado da mistura das adolescentes com as suas mentoras universitárias, o que vai resultar no que se designa por Changemaker (agentes de mudança), prontas para enveredarem numa carreira de impacto social. Actualmente, são 31 girl movers seleccionadas, ligadas a áreas que incluem a Educação, Saúde, Protecção ambiental, Cultura, Diplomacia, entre outras, cuja essência é fazer com que estas jovens aprendam o que quiserem construindo o seu próprio caminho (aprender fazendo). É neste âmbito que nasce o Changemaker Lab que, neste artigo, mostra a forma como intervem no fortalecimento da economia informal. O que é, essencialmente, o Changemaker Lab? Onde é que este

programa pretende chegar e de que forma é capaz de empoderar o sector informal da economia? O Changemaker Lab é, nada mais nada menos, que um laboratório de inovação para testar metodologias, porque muitas vezes há ideias fantásticas que podem ter sucesso no exterior, mas quando chegam às comunidades de base cá em Moçambique não resultam. Então, não vale a pena estar a investir milhares de milhões em algo que não vai chegar a estas comunidades. Por isso, a Girl Move posiciona-se como academia e nicho de consultoria. Quem lidera este laboratório são as girl movers que aprendem com o apoio www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


Alexandra Machado, fundadora da Girl Move, defende que os chamados círculos de irmandade são capazes de mudar para melhor a capacidade de conceber ideias e de produzir bem-estar no sector informal dos gestores do projecto e de outras instituições como a Universidade Católica de Lisboa, UniLúrio, entre outras. É preciso notar que quando falamos de iniciativas em benefício das comunidades estamos a falar, grosso modo, de intervenções que vão beneficiar o sector informal. Não posso dizer quantas pessoas são, mas, de longe, muita gente nas comunidades de base trabalha e vive da actividade informal. É verdade que é preciso haver ajuda www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

humanitária neste processo, mas o futuro vai exigir que as empresas se posicionem e que o seu propósito esteja alinhado com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Então, através do Changemaker Lab, também convidamos o sector privado a criarem soluções de impacto para as comunidades. Quando fala em soluções inovadoras, a que se refere? Faço esta

pergunta porque a imagem que se tem do sector informal é de pessoas pobres, com dificuldades de construir fonte segura de renda e que precisa de todo o tipo de apoio, desde o técnico até ao financeiro para poder impor-se… Por exemplo, no ano passado, tivemos nove desafios. E um deles era como poderíamos, através das energias renováveis, criar geração de renda a uma classe de mulheres que não tem acesso a energia. Durante o Changemaker Lab, juntou-se as girl mover incluindo a equipa de formação e, com a parceria da Cooperação Alemã para o Desenvolvi-

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mento (GIZ) – que investiu em máquinas de costura compatíveis com sistemas de energia solar –, foi realizado um projecto piloto com 20 mulheres no campo de refugiados de Maratane (província de Nampula), que não tinham acesso à energia. Instalou-se energia nas casas destas mulheres, identificaram-se formadores e construiu-se um plano de negócios a favor das beneficiárias. Ao fim de quatro meses, o sucesso desta intervenção já era visível. Depois veio o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) que permitiu a expansão destas máquinas de costura de 20 para 200. Portanto, aquilo que se faz ao nível do Changemaker Lab é idealizar uma solução que possa ser replicada e escalada. É um laboratório de Nampula para Moçambique e de Moçambique para o mundo. Mas consta que a Girl Move é versátil na sua actuação. Tendo em conta a complexidade do sector informal,

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“Quando falamos de iniciativas em benefício das comunidades estamos a falar, grosso modo, de intervenções que vão beneficiar o sector informal. Não posso dizer quantas pessoas são, masmuita gente vive do informal” certamente haverá outras áreas de actuação a elucidar para o seu empoderamento… Dentro das energias renováveis, este ano foi idealizado um contentor com refrigeração para diminuir o desperdício alimentar, com o apoio da Galp, da Mozambique Women of Energy e da Adicional Moçambique (uma empresa do ramo da logística). Outro exemplo foi a tentativa de potenciar jovens a promoverem a paz. Então, foi feito, com as comunidades, incluindo os deslocados internos de Cabo Delgado em Nampula, um conjunto de workshops de artesanato que culminou com uma exposição como prova de que é possível trazermos não só esperança, mas também o poder destas pontes que se constroem entre o sector privado e o sector informal nas comunidades.

Pela sua intervenção, a Girl Move parece desconstruir a abordagem desfavorável ao crescimento da economia informal, que ainda é muito comum. Quais têm sido os resultados dos vossos projectos no terreno? Recentemente utilizámos uma metodologia que se chama Oásis. Não consigo descrever em palavras o impacto que esta iniciativa teve. O objectivo era, durante uma semana, fazermos um círculo de irmandade onde juntámos girl movers e as comunidades. Idealizaram sonhos que eram a construção de uma ponte que dá acesso à única escola secundária que existe no bairro, já que a anterior ponte se destruía e até matava pessoas todos os anos. Outro sonho era a limpeza de um campo de futebol e o terceiro sonho era www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


a construção de um parque infantil. A ideia era empoderar a comunidade para que se sinta dona do seu próprio talento. Daí resultou que quem tinha uma madeira, pneu ou tinta que não iria mais usar era doada como matéria-prima. Em dez dias, havia um parque infantil construído pela comunidade com recursos próprios. Isto é um exemplo de como os nossos programas contam com várias metodologias que, todas juntas, têm um propósito que é o acreditar que a mudança faz parte de nós. Se nos unirmos, quebraremos o paradigma de que só conseguimos fazer com a ajuda de fora. Basta empoderar as comunidades locais para que elas sejam agentes de mudança. É, portanto, uma abordagem baseada na inspiração. Acredita que este método tem aceitação na sociedade moçambicana? Imagine que temos 50 mamanas (designação, em linguagem informal, pawww.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

ra as donas de casa que geralmente exercem pequenos negócios) no sector informal. Por que não juntá-las para que se empoderem umas às outras (círculos de irmandade). Se caminharmos juntos vamos conseguir espevitar a criatividade e irmos mais longe. Através destas iniciativas baseadas na inspiração é possível dar resposta aos desafios do desenvolvimento sustentável e quebrarmos a tendência da perpetuação da pobreza. É comum iniciativas como a da Girl Move clamarem por apoios, quer por parte do Governo ou de parceiros privados. Como tem sido no vosso caso e como olham para o futuro? Temos uma relação muito boa com o Governo através no Ministério do Género, Criança e Acção Social. Mas também nada do que fazemos seria possível se não tivéssemos uma relação muito próxima com as comunidades através dos chefes dos bairros, dos directores das escolas, etc. Portanto,

em termos de participação do Governo temos o devido reconhecimento. O que acho que ainda há muito para crescer é a participação do sector privado. As nossas fontes de financiamento vêm em três fatias, nomeadamente a filantropia, fundos da União Europeia e outras instituições e uma terceira fatia do sector privado. Mesmo assim, considero que em Moçambique precisamos de desenvolver uma visão ampla de como é que o sector privado pode ampliar estas iniciativas em função dos ODS. Há sinais de que o sector privado pode trazer bons resultados a este nível. Falando concretamente do empoderamento do sector informal da economia, a Vodacom tentou desenvolver um produto direccionado para as mulheres e nós fizemos um estudo de base e toda a intervenção para aferir a sustentabilidade deste negócio. É assim que nós nos queremos posicionar.

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MERCADO E FINANÇAS

O FIM DOS “SETE ANOS DE AZAR”? A economia moçambicana passou, nos últimos sete anos, por uma série de eventos imprevistos que foram interrompendo e desfazendo um desempenho que já se destacou entre as dez economias mais promissoras do mundo. Mas, finalmente, há sinais de que essa “tempestade” já esteja a passar Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R

q

uem quebrar um espelho tem sete anos de azar”. A famosa e antiga lenda grega quer confundir-se com a realidade. Para o percurso que a economia moçambicana vinha traçando, o “espelho” terá sido quebrado lá para 2014/2015, com a contracção das dívidas que não tinham sido declaradas. Dali, a economia herdou uma série de problemas, uns relacionados com as dívidas e outros não. Fazem parte do menu os eventos climáticos adversos, os conflitos armados internos, e mais recentemente a pandemia do novo coronavírus – embora este seja um “azar” colectivo. Cumpridos os primeiros seis anos de tribulação, as previsões de economistas e agências de análise económica são mais animadoras: a retoma está à espreita. O economista-chefe do Standard Bank - Moçambique, Fáusio Mussá, lembra que as perspectivas de crescimento de Moçambique diminuíram materialmente à medida que os desafios de segurança provocaram ainda mais atrasos na implementação dos projectos de gás natural liquefeito (GNL)

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da Bacia do Rovuma. Os ataques terroristas na província de Cabo Delgado resultaram numa crise humanitária e numa redução das perspetivas de Investimento Directo Estrangeiro (IDE), com implicações fiscais e de crescimento negativas. Apesar disso, “o alívio das restrições relacionadas com o coronavírus, em conjunto com alguma recuperação da produção agrícola, e a diminuição das pressões inflacionárias, parece estar a ter um efeito positivo nos rendimentos disponíveis e na actividade económica no segundo trimestre do ano”, observou o economista que, de forma detalhada, esclarece que “o aliviar das restrições relacionadas com a covid-19 parece estar a compensar os impactos negativos dos restantes desafios, incluindo os de segurança; o efeito da declaração de força maior pela Total sobre o projecto LNG de 20 mil milhões de dólares; as taxas de juro reais que se mantêm elevadas; e a escassez de liquidez em moeda externa no mercado”. Também o economista-chefe do Millennium bim, Oldemiro Belchior, prevê a recuperação gradual do PIB, e estima a taxa de crescimento em 1,2% em 2021 e 3,8% no próximo www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


ECONOMIA VOLTA A REANIMAR-SE

PREÇOS MANTER-SE-ÃO ESTÁVEIS

EXPORTAÇÕES PODEM CAIR

IDE CONTINUARÁ A REDUZIR

Depois da recessão, todas perspectivas apontam para uma recuperação a partir deste ano

Prevê-se que a inflação se mantenha abaixo de um dígito, apesar dos riscos externos

O fenómeno será ocasionado pela queda da procura global de bens e serviços

Há muito que o Investimento Directo Estrangeiro cedeu a uma sequência de eventos negativos

Taxa de crescimento do PIB em %

Taxa de inflação média anual em %

Em milhões de dólares

Em milhões de dólares

2016

3,8

2016

19,9

2016

3328

2016

3093

2017

3,7

2017

15,1

2017

4725

2017

1271

2018

5,3

2018

11,9

2018

4913

2018

2563

2019

2,3

2019

2,8

2019

4718

2019

2212

2020

5

2020

5763

2020

3532

2021

1909

-1,28

2020

2021

2,1

2021

5

2021

3769

*2022

3,3

*2022

6,5

*2022

3241

* Projecções para o ano de 2022

QUAL SERÁ O RUMO DA ECONOMIA? Uns mais optimistas, outros nem tanto. Mas todos os analistas acreditam que 2021 seja o fim da crise e que 2022 reserve dias melhores à economia moçambicana

4,4

1,6

1,2

2,2

4,2

4

3,8 2,8

2,9

2,4 1,2 2021 2022

2021

2022

2021

2022

2021

2022

Entre os factores que justificam o relançamento da economia estão a valorização dos preços de bens de exportação e a implantação generalizada de vacinas ano, em linha com as previsões económicas globais, impulsionada pela retoma da produção agrícola e industrial num contexto de melhoria da procura externa. O economista acrescenta outros factores a justificarem o relançamento da actividade económica, nomeadamente a valorização dos preços dos bens de exportação (sobretudo o carvão mineral e alumínio), a implantação generalizada de vacinas para travar o aumento de novos casos da covid-19, o aumento do consumo e do investimento privado. Aliado a isso, o bim fala da projecção do início da produção de gás natural offshore em 2022 através da plataforma flutuante na Área 4, Coral Sul, admitindo que a segurança, até lá, esteja restaurada nas regiões mais afectadas pelos ataques de grupo de insurgentes. www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

-0,8

2021

2022

2021

2022

Riscos à espreita Apesar das expectativas favoráveis, prevalecem riscos que geram alguma preocupação ao nível interno. Para Fáusio Mussá, “o crescimento do PIB irá provavelmente permanecer lento este ano, em 1,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, acelerando para 2,2% no próximo ano. O metical mantém uma tendência de desvalorização, com a unidade do dólar a negociar acima do nível psicológico de 60, podendo fechar o ano ao nível dos 65,4 meticais por dólar. Mantemos as expectativas de uma inflação de 6,4% no final do ano”, concluiu. O Millennium bim destaca que “subsistem alguns factores de risco que podem condicionar a recuperação económica, designadamente a redução do fluxo de Investimento Directo Estrangeiro (IDE), a entrada de capitais que podem agravar as pressões externas, e a perda de valor da moeda nacional, que pode afectar a subida do nível geral de preços (inflação), influenciando a postura conservadora da Política Monetária do Banco de Moçambique”.

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MERCADO E FINANÇAS MAIOR IMPULSO VIRÁ DAS EXTRACTIVAS A agricultura tem sido o motor do crescimento e continuará a sê-lo. Mas é nas extractivas que se espera um salto significativo, principalmente pelo avanço dos projectos de gás Crescimento sectorial da economia em % agricultura

4 4,5 pescas

ind. extractiva

ind. transformadora

1,2 1,5 1,9 5,5 1 2

construção

1,5 3 hotelaria e restauração

-8,2 1 serviços financeiros

1 2 2021

2022

FONTE Cenário Fiscal de Médio Prazo 2022-2024

O papel do carvão... Enquanto as decisões cruciais na área do gás não chegam, analistas britânicos da Economist Intelligence Unit (EIU) alimentam a esperança na recuperação da economia moçambicana em 2,4% este ano, impulsionada pelo sector do carvão. “Esperamos que a economia cresça 4,2% em 2022, à medida que a produção de carvão aumenta e o início da vacinação em massa facilite o levantamento das restrições, impulsionando o sector dos serviços”, referem os analistas. Assim, a EIU estima um crescimento real do PIB de 5,1% em 2023, 6,2% em 2024 e 6,7% em 2025. No que diz respeito à evolução da inflação, os peritos antevêem um aumento a uma média de 5,1% ao longo de 2021, impulsionado pelo aumento dos preços das matérias-primas importadas e o relaxamento no controlo dos preços pelo Governo. “Esperamos que a inflação aumente durante o resto do período previsto — para uma média de 8,3% em 2025 — uma vez que o desenvolvimento gradual do sector do gás conduzirá a um crescimento económico mais alargado”, esclarecem. Relativamente ao sector externo, as estimativas da EIU apontam para um alargamento do rácio défice/PIB dos serviços, em linha com o aumento das importações de serviços para a indústria do gás. Paralelamente, em 2021, as receitas das exportações aumentarão, após uma queda em 2020, à medida que os volumes de produção de carvão e alumínio se recuperam (devido ao aumento da procura global), complementados pelo aumento dos preços. As estimativas apontam, igualmente, para uma consolidação fiscal a partir de 2022. Entretanto, indicam que 2021 se-

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“A plataforma flutuante da ENI ao largo da costa está no rumo certo para garantir o primeiro gás em 2022, e prevemos um aumento de 27,1% na produção de gás...” rá marcado por grandes défices orçamentais, decorrentes da pandemia, com o aumento da despesa impulsionada pelos custos dos cuidados de saúde, que continuam a ser substanciais, e os gastos com a segurança. … A importância do gás A consultora Fitch Solutions estima que a economia acelere para 4,4% em 2022, depois de um crescimento de 2,8% este ano, sustentada no fortalecimento da procura interna e no aumento das exportações de gás natural. Ocorre, entretanto, que o futuro do gás continua incerto, apesar do restabelecimento da segurança em Cabo Delgado. Mesmo assim, a consultora entende que “a plataforma flutuante da ENI ao largo da costa está no rumo certo para garantir o primeiro gás em 2022, e prevemos um aumento de 27,1% na produção de gás em 2022, o que deverá aumentar as exportações e as receitas do Governo, dando mais espaço para a despesa pública”. Já em relação aos progressos que podem advir do progresso no controlo da pandemia do novo coronavírus não relata sinais animadores. O progresso na vacinação contra a covid-19, segundo a Fitch Solutions, “vai continuar lento” no País o que pode levar à possibilidade de prolongar as restrições até ao final do ano e “influenciar negativamente a recuperação da actividade privada www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


e dos consumidores”. Os analistas concluem que os riscos relativamente a estas previsões têm maior probabilidade de piorar do que de melhorar. Banco Mundial mais pessimista O Banco Mundial não está tão confiante na recuperação da economia em 2021 quanto a EIU, por exemplo. Prevê que o PIB deva continuar em recessão, caindo 0,8% do PIB, depois de no passado ter sofrido uma queda de 1,3%, recuperando apenas em 2022. “A economia de Moçambique deve continuar a recuperar gradualmente, mas continua a haver riscos descendentes substanciais devido à incerteza sobre o rumo da pandemia de Covid-19″, refere a instituição. Apesar de não esperar muito do desempenho de 2021, o Banco Mundial melhora substancialmente as previsões do próximo ano, ao prever uma taxa de crescimento económico na ordem dos 4%, sob o argumento de que “a perda de empregos e o fecho de empresas, apesar de significativo, foi comparativamente mais baixo do que nos países comparáveis (a Moçambique)”. Entretanto, sugere que, “no curto prazo, as medidas de apoio às empresas viáveis e às famílias seriam cruciais para uma recuperação resiliente e inclusiva. Na fase de recuperação, as políticas centradas no apoio à transformação económica e à criação de empregos, especialmente para os jovens, terão uma importância crítica. Intervenções direccionadas para apoiar as mulheres e aliviar as desigualdades de género, assim como para aproveitar o poder da tecnologia móvel, podem apoiar o crescimento sustentável e inclusivo a médio prazo”. Também chama atenção para a manutenção dos desafios estruturais, como a manutenção da estabilidade macroeconómica, considerando a exposição às flutuações dos preços das matérias-primas e a realização de novos esforços para restabelecer a confiança através de uma melhor governação económica e de uma maior transparência. Também fala em preocupações relativas às reformas para apoiar o sector privado que, actualmente, enfrenta sérias dificuldades e a diversificação da economia, para que se afaste do foco actual em projectos de capital intensivo e agricultura de subsistência. Ao Banco Mundial junta-se a consultora NKC African Economics nos receios sobre uma retoma substancial do crescimento. Esta consultora, que é filial da britânica Oxford Economics, considera que Moçambique vai crescer apenas 1,2% este ano, dada a suspensão dos projectos de gás, os efeitos da pandemia e a lenta distribuição das vacinas. Os analistas desta instituição chegam a questionar a eficácia das políticas do Banco Central em relação ao que chamam de contínua preocupação com os riscos relacionados com a inflação. “É pouco provável que estes riscos desapareçam antes do final do ano, por isso esperamos que o banco central não vá cortar taxas a curto prazo”, concluem. Mais recentemente, o próprio Banco de Moçambique anteviu uma recuperação gradual da economia, impulsionada pela procura externa, uma tendência que,segundo esta instituição, está espelhada nos indicadores do segundo trimestre do presente ano, que revelam um crescimento do PIB em 2 %. Mas, tal como as restantes entidades, o Banco Central avisa que o retorno ao crescimento robusto vai exigir o aprofundamento de reformas estruturantes. www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

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OPINIÃO

As previsões de crescimento em 2022, com o início da exportação do gás e o controlo da pandemia

a

Wilson Tomaz • Analista do departamento de Research do Banco Big Moçambique

economia mundial caiu numa recessão histórica em 2020, na sequência das restrições impostas por parte da maioria dos países, de modo a controlar a propagação da pandemia do COVID-19. Segundo o FMI, o PIB mundial retraiu -3,5%, enquanto a economia moçambicana contraiu em cerca de -1,3%. No primeiro semestre de 2021, com o avançar dos programas de vacinação e o levantamento gradual das restrições nas principais economias a nível mundial, retomou a procura global por bens e serviços, originando disrupções nas cadeias de abastecimento, subida de preços das principais commodities e o aumento dos níveis de inflação um pouco por todo o Mundo. O PIB de Moçambique nos primeiros seis meses do ano apresentou um crescimento homólogo de +1,05%, tendo o sector agrícola, que cresceu +3,1%, sido o maior contribuidor para este crescimento, compensando a contracção de outros sectores da economia. Após uma apreciação significativa do metical no início do ano, a moeda nacional retraiu ligeiramente nos meses seguintes, permanecendo estável desde o início de Julho. Esta estabilidade tem sido suportada por uma política monetária relativamente restritiva por parte do Banco de Moçambique, ao passo que as reservas de moeda estrangeira se têm mantido em níveis confortáveis. Apesar dos vários riscos, estima-se que esta estabilidade cambial permaneça a médio termo e, como resultado, as pressões inflacionárias tenderão a reduzir, mantendo este indicador ancorado nos níveis actuais. Em 2020, o défice orçamental de Moçambique foi menor do que o previsto, tendo ascendido a 5,2% do PIB (contra a previsão anterior de 7% da Standard & Poor’s), em resultado

de uma maior cautela por parte do Estado na realização de despesas, bem como os apoios financeiros recebidos no âmbito da pandemia. Segundo o Governador do Banco de Moçambique, em entrevista ao The Banker, em Maio, considerando o espaço fiscal limitado, os níveis actuais de dívida colocam enormes desafios em lidar com cenários adversos e inesperados como a pandemia. Felizmente, o País tem recebido o apoio de entidades como o FMI, Banco Mundial e outros parceiros, e beneficiou da iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida por parte de alguns países do G20, o que tem aliviado temporariamente a pressão fiscal. Este panorama económico de fragilidade, aliado à situação de instabilidade em Cabo Delgado e à incerteza quanto aos timings de retoma dos projectos de gás, têm motivado projecções distintas por parte dos vários analistas para a previsão de crescimento da economia Moçambicana em 2022, variando substancialmente entre 2,8% a 5,5%.

As várias análises identificam os seguintes principais factores como aqueles que poderão ter maior impacto nas previsões de crescimento:

O panorama económico de fragilidade, aliado à situação de instabilidade em Cabo Delgado e à incerteza quanto aos timings de retoma dos projectos de gás, têm motivado projecções distintas de crescimento da economia Moçambicana em 2022, variando substancialmente entre 2,8% a 5,5%.

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O Banco de Moçambique considera que o nível actual de dívida pública é desafiador se considerarmos a ocorrência de cenários negativos inesperados

• A evolução da pandemia em Moçambique, que continuará a condicionar o nível das restrições impostas. Os baixos números de vacinação mantêm o País exposto a novas vagas e variantes do Covid-19. • A gestão da situação de insurgência em Cabo Delgado com impacto nas decisões de investimento e nos timings de retoma dos projectos de LNG. • A potencial existência de desastres naturais semelhantes àqueles que assolaram o País nos anos recentes. • O desenvolvimento do projecto FLNG da ENI dentro dos prazos esperados, que deverá permitir o início da exploração de gás em 2022. A Fitch Solutions, prevê um crescimento de 27,1% na produção de gás já no próximo ano em resultado da conclusão do projecto. • A manutenção dos níveis de produção e preços das comwww.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

modities de exportação de Moçambique, especificamente o carvão e o alumínio. No primeiro semestre de 2021, as exportações beneficiaram de um aumento de produção por parte da Vale, bem como de uma subida do preço destas mercadorias. A existência de vários riscos de downside e o nível de concentração da economia moçambicana num conjunto restrito de sectores expõem o País a um cenário de incerteza e volatilidade, dificultando a elaboração de estimativas precisas de crescimento do PIB. Contudo, e tendo por base a frágil situação da sustentabilidade da dívida pública, torna-se cada vez mais crucial a materialização das projecções de crescimento, e cada vez menor o espaço orçamental para acomodar choques negativos.

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Especial Inovações Daqui 56

BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS

Como o mundo está a evoluir na criação de formas alternativas de moeda, que prometem ser tão seguras quanto as tradicionais, ao mesmo tempo que podem ser independentes dos governos e dos bancos centrais

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AGRO PLUZZ

Quando a tecnologia é aprimorada para garantir a produtividade agrícola

62 PANORAMA

As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo


CRIPTOMOEDAS

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Blockchain e Criptomoedas: Inovação e Disrupção à Escala Global Quase um século antes de Satoshi Nakamoto ter publicado, em 2008, o artigo que é considerado como o “momento fundador” para o desenvolvimento das actuais criptomoedas, Johann Silvio Gesell, um economista alemão, tinha já formulado a ideia de criação de “moedas alternativas” independentes TEXTO Rui Trindade • FOTOGRAFIA Istock Photo , D.R

N

a perspectiva de Gesell, estas moedas locais permitiriam às comunidades desenvolverem a sua economia de forma mais rápida, sustentável e autónoma. Apesar de até John Maynard Keynes, na sua obra “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, se ter referido a Gesell como um “profeta imerecidamente negligenciado” e de, sobretudo após a Grande Depressão da década de 30 do século passado, terem surgido inúmeras “moedas locais” ou “comunitárias”, a ideia perdurou, como escreve Andreas Adriano, num texto publicado re-

ll Ruddick, Shaila Agha e Caroline Dama, tem vindo a implantar a rede “Sarafu”. Esta rede, que neste momento já agrega 40 mil pessoas de 60 aldeias, permite, como explica Will Ruddick, “a um grupo alargado de agricultores juntarem-se, criarem a sua própria moeda e desenvolverem um sistema económico resiliente a partir da base (bottom-up)”. Usando tecnologia blockchain, a “Sarafu” registou, em 2020, 335 000 transacções, via telemóvel, num valor equivalente a cerca de 2, 5 milhões de dólares. Apoiando-se na experiência adquirida, a Grassroots está já também a apoiar o desenvolvimento de programas de “moedas in-

Os registos incorruptíveis de trocas monetárias, de produtos ou de trabalho... têm permitido desenvolver projectos inovadores centemente no website do FMI (Fundo Monetário Internacional), apenas como uma “curiosidade económica”. No entanto, como sublinha Andreas Adriano, um conjunto de factores e, em especial, o aparecimento da tecnologia blockchain e a massificação do uso dos telemóveis, permitiu que, especialmente ao longo da última década, as ideias de Gesell se materializassem através de centenas de projectos e iniciativas em todos os continentes, sendo que, na sua maioria, incorporam uma clara dimensão de “inovação social”. No Quénia, um projecto desenvolvido pela organização Grassroots Economics Foundation, criada pelo economista Wiwww.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

clusivas comunitárias” na África do Sul. Na Tailândia, um projecto envolvendo várias comunidades piscatórias, está a operar em modo similar. Quando chegam da sua faina diária, os pescadores registam, num aplicativo no telemóvel, as informações essenciais (quantidade de peixes capturados, local, hora etc.). O próprio peixe é embalado com uma etiqueta contendo todas essas informações. O pagamento é feito, entretanto, igualmente via telemóvel, através de uma criptomoeda – a Fishcoin – especificamente concebida para o projecto envolvendo essas comunidades. Se tiverem os meios necessários, os pescadores podem também negociar a Fishcoin

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BIOMETRIC

em mercados de criptomoedas online. Com origem na região da Catalunha, em Espanha, a FairCoop, um movimento que começou por juntar várias cooperativas locais e criou a sua própria criptomoeda, a FairCoin - a qual se tornou o meio de pagamento usado para bens e serviços entre os principais associados seguindo uma lógica “alternativa” na qual o valor atribuído à moeda é definido não pela forma tradicional determinada pelos “mercados” mas, colectivamente, pelos actores envolvidos no processo – levou entretanto à criação de um “Banco dos Comuns”para atender às necessidades FairCoin. Para além disso, foi criado um FairMarket online com bens e serviços denominados em FairCoins. Ao controlar essa criptomoeda, a FairCoop pode, deste modo, financiar iniciativas centradas em projectos que estão focados no “bem comum”. Entretanto, o modelo da FairCoop espalhou-se

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Quinn Slobodian, professor no Wellesley College, antecipava, num artigo, que o “sonho” de “moedas sem Estado” estava em vias de ruír muito para além da sua região e deu lugar ao aparecimento da rede internacional Freedom Coop, que se propõe como um ecossistema alternativo e permite às cooperativas dispensar o uso do sistema bancário tradicional.

Activos digitais para o bem comum

Estas e outras iniciativas, apesar da sua diversidade, têm em comum o facto de terem entendido o enorme potencial da tecnologia blockchain cuja estrutura inerentemente descentralizada (peer-to-peer) oferece a capacidade de criar e

manter registos incorruptíveis de trocas monetárias, de produtos ou de trabalho, entre muitas outras coisas, sem intermediários centralizados como bancos ou governos. Esta característica tem permitido desenvolver projectos inovadores, como é o caso da plataforma financeira digital dinamarquesa Hiveonline, a qual, através do uso da tecnologia blockchain, está a apoiar inúmeros projectos, nomeadamente em África e, inclusive, em Moçambique. No passado mês de Junho, a Hiveonline e a FSD Mozambique anunciaram uma parceria que vai permitir a associações e www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


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a Konjugate (Áustria) surgiram para, por via da tecnologia blockchain, apoiar a criação de novos modelos de financiamento das artes e da cultura e desenvolver um ecossitema alternativo ao tradicional “mercado da arte”. A súbita emergência dos NFT’s (non fungible token) veio criar novas oportunidades para os artistas. David Alabo, artista ganês, conseguiu que, em Março último, uma obra sua fosse adquirida por um coleccionador internacional através da galeria digital KnownOrigin.

O fim das moedas sem Estado?

cooperativas agrícolas acederem a financiamentos e outros tipos de apoios ajudando, deste modo, a desenvolver uma agricultura sustentável e, ao mesmo tempo, dotar as comunidades de maior resiliência e diminuir a sua vulnerabilidade. Na América Latina, multiplicam-se também os projectos disruptivos. Para citar apenas um caso, a start-up argentina Agrotoken acaba de lançar a Soya, a primeira criptomoeda com lastro em grãos de soja. O propósito aqui é claramente acelerar um processo de desintermedição no sector do agro-negócio. Neste modelo, o produtor deposita uma tonelada de soja, por exemplo, no armazém de uma das traders parceiras da Agrotoken. Quando esses grãos são armazenados, a trading gera um certificado que atesta a procedência e a localização da soja. Este certificado é levado à plataforma da Agrotoken, que faz a validação e emite o token (activo digital) para o prowww.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

dutor. A Agrotoken cobra uma taxa cada vez que o produtor “tokenizar” ou “destokenizar” a sua produção, revertendo assim o processo e “devolvendo” a moeda para retirar os grãos armazenados. Ele pode usar o token como forma de pagamento em insumos ou no financiamento, por exemplo, de uma nova máquina, desde que o vendedor aceite criptoactivos. Outra possibilidade é manter a moeda na sua carteira digital, esperando pela sua valorização, já que o valor do token está associado ao preço da saca de soja. Uma terceira opção, no futuro, será trocar o activo nas exchanges, como são chamadas as corretoras de criptoactivos. A pandemia veio, entretanto, impulsionar uma miríade de novas iniciativas em múltiplos sectores. No contexto das indústrias culturais e criativas (das mais atingidas, a nível global, pela paragem da actividade económica), plataformas como a Hic et Nunc (Brasil) e

Como sempre acontece quando uma tecnologia disruptiva surge abre-se um espaço no qual múltiplos (e quase inevitalmente divergentes) cenários e hipóteses de futuro se tornam possíveis. Se as iniciativas acima descritas se increvem no potencial que a tecnologia possui para inovar no sentido de promover o “bem comum”, a turbulência que se tem verificado, em meses recentes, sobretudo em torno da criptomoeda bitcoin, levou já a que Gary Gensler, da norte-americana SEC (Securities and Exchange Commission) viesse dizer que é imperativo e urgente acabar com o “faroeste” das criptomoedas e definir um quadro regulatório num mercado que considerou altamente “opaco e volátil”. Quinn Slobodian, professor no Wellesley College, num artigo escrito no jornal “The Guardian”, antecipava mesmo que o “sonho” de “moedas sem Estado”, capazes de se constituírem como uma alternativa ao domínio do sistema financeiro global, estava em vias de ruir. Resta saber se o impulso regulatório não irá, por tabela, liquidar os projectos que pretendem criar “ecossistemas comunitários” alternativos. De acordo com um relatório recente do Bank of International Settlements (BIS), 86% dos 60 Bancos Centrais analisados pelo BIS, e que estão a desenvolver projectos de moedas digitais, têm como base a tecnologia blockchain. Mas ao contrário das criptomoedas actuais, que usam a tecnologia para assegurar um modelo descentralizado e anónimo de funcionamento, estes projectos estão desenhados de forma centralizada. A somar à complexidade do momento que se vive é preciso ter em conta os factores geopolíticos tendo em atenção que a moeda digital que a China está a implementar, com largo avanço sobre o resto do mundo, se insere num quadro de afirmação global a múltiplos níveis.

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ranking

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agro pluzz

Agro é Negócio Digital A disseminação das tecnologias móveis no País inspirou o surgimento da Agro Pluzz, uma plataforma que desenvolve ferramentas inovadoras para promover maior interacção entre os participantes da cadeia de valor agrícola TEXTO Cármen Rodrigo • FOTOGRAFIA Mariano Silva

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riada em 2018, a plataforma Agro Pluzz permite que os produtores agrícolas possam investir no ramo da agricultura de forma mais segura e com maior dinamismo. Para o efeito, a empresa desenvolveu ferramentas estratégicas que permitem melhor produtividade, melhores condições de acesso ao financiamento dos produtores e a comercialização dos produtos, facilitando a interligação com os serviços previamente inacessíveis no ramo, onde o investidor pode alocar os seus recursos com menos procedimentos, criando uma reserva financeira. Nelson Muchine, director geral da Agro Pluzz, disse à E&M que a plataforma surge, numa primeira fase, com o intuito de facilitar o financiamento aos pequenos produtores. No entanto, observou que a componente do financiamento estava muito associada à assimetria de informações que existiam no sector agrícola. Assim, “nós decidimos que, para a concepção da nossa plataforma, íamos colher, numa primeira fase, a maior quantidade possível de informações de modo a facilitar o acesso ao financiamento aos pequenos produtores. Criámos vários pontos que permitem ter acesso a informações dos mercados, melhorar as condições de produtividade dos agricultores e garantir o mercado dos mesmos”, disse. A plataforma Agro Pluzz investe muito na pesquisa de mercado, assim como nos diferentes tipos de soluções que possam ser introduzidas no mesmo, onde a grande inovação assenta no facto de se conciliar ferramentas da agricultura com o sistema financeiro. “Nós dedicamo-nos ao estudo das necessidades dos pequenos produtores,

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ao mesmo tempo que procuramos oferecer o melhor tipo de serviços adequados a este grupo, bem como aos outros produtores que façam parte da cadeia de valor agrícola”, explica Nelson Muchine. Para o efeito, a equipa do Agro Pluzz vai ao campo onde efectua o cadastro dos produtores, recolha das suas necessidades e toda a informação que tem relação com a produtividade e histórico de produção. “Uma vez reunidos estes dados, fazemos uso da nossa plataforma para fazer uma análise do mercado, onde vamos identificar qual é o nosso mercado, qual é a melhor cadeia em que estes produtores se enquadram, fazemos a análise final do negócio e depois fornecemos estas informações aos investidores através do nosso website”, clarifica Muchine. Além disso, “os investidores têm a possibilidade de fazer uma análise do negócio e ver se o mesmo é rentável e se é garantido o retorno que estes esperam. Após isso nós fazemos a gestão dos fundos e de todos os processos envolventes na distribuição de insumos, garantimos o mercado dos pequenos produtores e assistência na produção”, explicou. A plataforma digital de agricultura disponibiliza, de igual modo, uma carteira digital para os pequenos produtores, onde, uma vez cadastrado o produtor, torna-se parte integrante do sistema financeiro, onde são cadastrados de igual modo os investidores. Este facto facilita o controlo do fluxo do dinheiro na plataforma. A Agro Pluzz pretende criar novos modelos de negócios, com as informações veiculadas na plataforma, de modo a facilitar investimentos seguros e eficientes na agricultura em Moçambique.

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EMPRESA Agro Pluzz ANO DE CRIAÇÃO 2018 ÁREA DE ACTIVIDADE Agricultura FUNDADOR Nelson Muchine

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panorama Environmental Tech

Startups moçambicanas expõem ideias de “negócios verdes” Quinze startups seleccionadas ao nível nacional expõem as suas ideias de negócios verdes para solucionar problemas ambientais locais e globais. A apresentação, a realizar-se no formato virtual, enquadra-se na maior competição mundial do género denominada ClimateLaunchpad. O certame, que vai na sua terceira edição no País, tem por objectivo reduzir o impacto negativo das mudanças climáticas através da inovação tecnológica e empreendedorismo. Os projectos enquadram-se nas categorias de adaptação e resiliência, eco-

nomia circular, energia limpa, sistemas alimentares, mobilidade sustentável e soluções urbanas. De acordo com uma nota dos organizadores, dos 15 serão seleccionados os três melhores projectos para representar o País na final regional do evento. Depois da fase regional segue-se a final global do ClimateLaunchpad, para a qual os participantes concorrem a um prémio monetário de 10 mil euros (cerca de 750 mil meticais) e acesso à ClimateKic, a principal incubadora de negócios verdes europeia.

Money Tech

ComiBlock, uma startup nigeriana para ajudar utilizadores a investir em criptomoedas

Lançada em Fevereiro, a ComiBlock dispõe de tecnologia para ajudar os seus utilizadores a tornarem-se melhores in-

vestidores criptográficos. “Medimos o progresso ajudando os nossos utilizadores a atingir objectivos de vida específicos, em vez de gerar o maior retorno de carteira possível ou vencer o mercado. Também fazemos coisas como o reequilíbrio automático e a colheita criptográfica, serviços que só estavam disponíveis para os ultra-ricos até agora”, disse o fundador Dennis Ejimnkeonye. “Acreditamos que, à medida que a moeda criptográfica amadurece como uma classe de activos, é necessário um ecossistema financeiro construído propositadamente, espelhando os mercados tradicionais de acções e de investimentos. A lacuna a que assistimos foi uma oportunidade fundamental e negligenciada”, explicou.

Inovação

Startup desenvolve primeiro navio de carga eléctrico e sem tripulação A empresa norueguesa Yara Internacional criou o primeiro navio de carga autónoma com zero emissões. O navio, denominado de Yara Birkeland, irá realizar a sua primeira viagem no final deste ano entre duas cidades norueguesas – de Herøya para Brevik-, sem tripulação a bordo. O Yara Birkeland foi desenvolvido com o propósito de reduzir o efeito estufa e emissões de poluentes tóxicos, tais como o óxido de nitrogénio e o dióxido de carbono. Isto porque, de acordo com os dados

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da Organização Marítima Internacional, a indústria naval é actualmente responsável por 2,5% a 3% das emissões globais de gases de efeito estufa. O navio foi criado pela empresa norueguesa em parceria com a empresa tecnológica Kongsberg Maritime e a empresa Vard. Tem capacidade de carregar 103 contentores e uma bateria de 7 MWh “cerca de mil vezes a capacidade de um carro eléctrico”, afirma Jon Sletten, gerente da fábrica da Yara em Porsgrunn, na Noruega.

University innovation

Moçambicanos participam na primeira competição de startups para universidades lusófonas e chinesas A primeira competição de startups universitárias entre os países de língua portuguesa e a China vai decorrer em Macau através de negócios orientados para a sustentabilidade. “Temos já 14 equipas registadas, sete da China e as restantes de universidades de Moçambique, Cabo Verde, Portugal, Brasil e São Tomé e Príncipe, nesta competição, que este ano abre só para universidades para criar ideias de startups”, disse à Lusa um dos coordenadores do “928 challenge”, Marco Duarte Rizzolio, da Universidade Cidade de Macau (CityU). O evento está previsto para o período entre 04 e 15 de Outubro, durante o qual os participantes, sempre relacionados com universidades chinesas ou de países lusófonos, deverão “criar planos de negócios que promovam a sustentabilidade e a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa”.

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ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

66 Nesta edição viajamos até à Ilha de Saquina, parte da mítica Ilha de Moçambique

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e 68 Restaurant Tech, um verdadeiro exemplo da reinvenção com o uso da tecnologia na busca da eficiência

69 Saiba como é que as alterações climáticas estão a mudar a qualidade das uvas e do vinho


Nampula

A ILHA DE SAQUINA OMUHIPITI, ILHA DE MOÇAMBIQUE

Um local que guarda segredos ancestrais para contar aos seus mais fiéis visitantes

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o mar atravessa as rochas carcomidas pelo tempo e pelo sal. Mas elas continuam ali estacadas, como se protegessem – para a Ilha continuar ilha – a terra do mar que chega em violentas ondas e morre, ainda que um pouco de cada vez, na espuma dos dias. Também a Fortaleza de São Sebastião, construída entre 1545 e 1547 para o controlo de quem chegasse pelo mar, hoje parece cumprir a missão de resistir ao avanço das águas. E resiste imponente, a alimentar o misticismo da sua construção. Na lenda fundadora da Ilha, Muanante é o nome da gigantesca criatura que numa noite colocou mãos à obra e na manhã seguinte já tinha erguido a Fortaleza. Esta estória resiste ao tempo, de boca em boca, no que o academicismo chama de tradição oral, ainda tão presente na Ilha. Até hoje há quem não acredite que homens e mulheres, os nativos e os que chegaram por caravelas e quiseram

fazer da Ilha poiso fixo, podiam por mãos próprias erguer o monumento em verticais pesadas pedras. Dos monumentos às gentes, a Ilha é esta evocação do misticismo. É o que nos confirma a imagem de Saquina, no restaurante a que dá nome, ali tão perto do mar e tão perto da Fortaleza. O rosto encoberto de m’siro, este pó a fazer as vezes de um véu, que esconde e ao mesmo tempo insinua o rosto que cobre, como se impusesse ao nosso olhar o desafio da revelação. “o m’siro/ encantamento dos meus olhos/perfaz a tua insular imagem./No litoral do teu corpo/a apoteótica espuma/do orgasmo das ondas./ Ó júbilo na falésia do canto.” está muito nestes versos de Nelson Saúte. Nascida em Monapo e ida para a Ilha com dois anos, é prova ululante que, se o lugar de nascimento define a nossa origem, só depois de vivermos muito podemos definir a nossa identidade. “Eu sou da Ilha” – afirma 42

anos depois do nascimento, com as mãos em preparação de nimino, uma caldeirada de peixe e banana (que pode também ser feita com mandioca ou batata doce). As viagens são também sobre os sabores que marcam a memória do lugar. Mas o espaço em que hoje se encontra o restaurante, que é paragem obrigatória para quem está de visita à Ilha, mesmo à beira mar, é também evocador de outras memórias. Em adolescentes namoros, Saquina ficava por longas tardes a assistir o sol a deixar-se engolir pelo mar e a noite a encobrir o céu a permitir a privacidade possível. Esta memória parece ainda física e Saquina não disfarça o sorriso. Afinal, do mar para amar, a distância é de um «a» evocador do «ah» que sugere suspiros de prazeres adormecidos.A Ilha é a parte insular, mas também a continental, uma sendo a raison de vivre da outra. O continente apenas o é porque existem longos quilómetros de água a separá-lo de espasmos de terra firme. Uma viagem a bordo de

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uma canoa movida a vela e a motor, com os solavancos próprios das estradas de mar, deixa-nos no Palácio de Verão de Governadores, construído em 1765, hoje uma ruína que convoca a História de mais de seis séculos. A Igreja Nossa Senhora dos Remédios, erguida em 1579, numa arquitectura a lembrar o estilo manuelino próprio da época, é outra paragem obrigatória. É esta a Omuhipiti – nome original da Ilha - de que Saquina se orgulha. A Omuhipiti histórica, mas feita também de matéria vegetal e viva como o mangal a sugerir um jardim no meio do mar em que se podem ver garças em leves ramos. A Omuhipiti que é o ponto de chegada, mas também de partida para a Ilha das Cobras, a Ilha de Goa, Ilha de Sete Paus, que emergindo como se fossem cogumelos na longa paisagem azul-mar tornam-se uma espécie de oásis em sentido contrário, rasgos de terra no deserto-mar. Em Agosto, baleias e golfinhos vão dar à costa, para lá da Ilha de Goa. “Voltem nessa altura, com mais tempo. Vão conhecer outros pontos turísticos, outra parte da nossa história”, desafia-nos como se mais de 500 anos de vida fossem possíveis abarcar em menos de 500 anos de visita. Mas voltaremos. Talvez para lhe conhecer a casa, no bairro do Museu, onde os edifícios contam histórias de outros tempos, dos tempos em que não havia tempo e nem desejo que o tempo ficasse suspenso. Também para conhecer as ruas de fogo, invocadas numa canção popular, que apenas quem se deixa ficar por muito tempo na Ilha pode conhecer. Pouco mais de três dias não foram suficientes. De quanta Ilha precisa um homem? TEXTO ELTON PILA FOTOGRAFIA D.R. www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

A IGREJA NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS, ERGUIDA EM 1579, NUMA ARQUITECTURA A LEMBRAR O ESTILO MANUELINO PRÓPRIO DA ÉPOCA, É OUTRA PARAGEM OBRIGATÓRIA. É ESTA A OMUHIPITI ROTEIRO COMO IR Voe com a LAM até Nampula e de lá é uma viagem de carro de pouco mais de duas horas até à Ilha de Moçambique. ONDE DORMIR A estada na Ilha de Moçambique é por si só uma experiência que vale a pena. Andar pelas ruas, entre a Cidade de Macúti e a de Pedra e Cal, visitar monumentos que recordam outros tempos, é estar perto de um momento histórico distante, mas que em muito diz sobre a humanidade hoje. Uma viagem de barco à Ilha de Goa e a partir dela repetir a rota dos navegadores portugueses é outro roteiro que a imaginação pede. ONDE COMER Comer nimino ou a matapa de siro-siri ajuda a vincar a memória da Ilha de Moçambique. Pode experimentá-los no restaurante da Saquina. Mas há ainda a cozinha, sempre diversa, de vários restaurantes e hotéis espalhados por toda a Ilha.

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RESTAURAÇÃO

Quando a tecnologia é pela melhoria da eficiência da mãode-obra e redução do tempo de espera dos clientes

g a agot aI é uma empresa de tecnologia de restauração que encerrou recentemente uma ronda de financiamento de 10 milhões de dólares que irá ajudar a empresa a trabalhar para a sua missão de melhorar a precisão das encomendas de fast-food. Como? Ao instalar câmaras nas cozinhas dos restaurantes e a utilizar a visão por computador - semelhante à utilizada nos veículos autónomos - para verificar se os trabalhadores estão a preparar as encomendas correctamente. A tecnologia visa melhorar a eficiência da mão-de-obra e diminuir os tempos de espera dos clientes. A empresa de investimento agrícola Continental Grain, que comprou recentemente a gigante avícola Sanderson Farms com a Cargill, liderou a ronda de financiamento de sementes do arranque. O Kitchen Fund - que tem investimentos em Sweet-green, Cava e Gregorys

RESTAURANT TECH Coffe - e a Grit Ventures também participaram. A Agot tinha angariado apenas 50 000 dólares durante a sua anterior ronda de financiamento em Maio de 2020, de acordo com o Pitchbook. O que mudou? A pandemia. “Estamos entusiasmados por apoiar a equipa da Agot em trazer a sua solução de visão informática para o mercado, aumentando a eficiência da mão-de-obra, melhorando as operações fora do local, e fornecendo análises em tempo real a operadores sofisticados de QSR”, afirmou a Continental Grain no momento da operação. Porque a exactidão das encomendas pode ter um forte impacto na vontade dos consumidores de regressar a um restaurante e na experiência global da refeição. O co-fundador da Agot e CEO Evan DeSantola

O ARRANQUE INSTALA CÂMARAS NAS COZINHAS E VERIFICA SE AS ENCOMENDAS SÃO CORRECTAMENTE PREPARADAS

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UMA SOLUÇÃO PARA O PÓS PANDEMIA NA RESTAURAÇÃO disse que a tecnologia pode detectar mais de 85% dos erros de encomenda e chamar a atenção para esses problemas antes sequer de os trabalhadores servirem a comida aos clientes. “Vemos que em toda a indústria [restaurante de serviço rápido] a exactidão das encomendas está a tornar-se um problema cada vez maior como resultado da mudança para o drive-thru”, diz DeSantola. “O que antes era um pormenor, quando as taxas de precisão não melhoraram muito, é agora um ‘pormaior’”, porque as encomendas drive-thru estavam a crescer antes da pandemia, mas a crise sanitária mudou o perfil do consumo. Nos EUA, em Dezembro, as transacções drive-thru aumentaram 22% em comparação com o ano anterior, de acordo com o Grupo NPD. E o estudo anual drive-thru

da SeeLevel HX constatou, ainda, que o tempo médio em dez cadeias de fast-food abrandou em quase meio minuto no ano passado. Mais procura e oferta mais lenta é uma má combinação, como se sabe. E foi essa a oportunidade que DeSantola e o seu co-fundador Alex Litzenberger, director de tecnologia da empresa, viram quando fundaram a empresa há dois anos e meio, depois de terem passado por longos períodos de espera e de terem recebido encomendas... que não encomendaram. E a pandemia, claro, só veio dar-lhes razão. A Agot planeia utilizar o dinheiro da última ronda de financiamento para aumentar as equipas de produtos e engenharia e expandir o seu alcance para aos clientes. E, porque não em Moçambique, algo do género? www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021


AS TEMPERATURAS CRESCENTES TÊM CERTAMENTE PREJUDICADO ALGUNS VITICULTORES, MAS EM ALGUMAS ZONAS VITÍCOLAS O CALOR TEM SIDO UMA BÊNÇÃO PARA AS VINHAS E PARA OS BEBEDORES QUE COBIÇAM O SEU VINHO

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ESTÃO

A MUDAR OS NOSSOS VINHOS FAVORITOS 0 aumento das temperaturas e o risco de incêndios levaram algumas adegas das principais zonas vinícolas da Europa, EUA, Chile, Austrália e África do Sul a cultivar diferentes tipos de uvas. Nos EUA, os incêndios florestais ‘rasgaram’ as vinhas de Napa Valley, na Califórnia, e noutros locais do Oregon, e mesmo as vinhas que foram poupadas tiveram de lutar com o fumo que danificou as suas uvas. Em França, os anos alternados entre o calor invulgar e as geadas prejudiciais alteraram o quanto e que tipos de vinho estão a ser produzidos. Nas regiões normalmente mais frescas que cultivam as uvas para fazer Champagne, o rendimento anual da vindima passou de metade da quantidade normal para o dobro (a região é autorizada a armazenar vinho de um ano de expansão para se misturar com vinho de um ano ‘baixo’). No entanto, o aumento das temperaturas tem tido outros efeitos imprevistos. Partes do Reino Unido, país nada conhecido pela produção de vinho, estão agora a fazer vinho espumante - como faziam no tempo dos romanos. Para os conhecedores de vinho, isso significa mudanças nos tipos de vinhos que há muito amam e onde esses vinhos são produzidos. O consumidor médio pode não reparar, mas o mundo do vinho, aparentemente estável, tornou-se tudo menos isso. “Estamos a assistir a uma maior selecção de vinhos muito interessantes devido a este aquecimento”, explica Dave Parker, fundador e chefe executivo do Benchmark Wine Group, um grande retalhista de vinhos vintage, ao New York Times. “Estamos a ver regiões que, historicamente não eram muito pensadas para produzir, a produzir agora alguns vinhos excelentes”. O Reino Unido, o Oregon, a Nova Zelândia ou a Áustria podem ter sido marginais antes, mas agora estão a produzir grandes vinhos. É uma época excitante para os amantes de vinho”. As temperaturas crescentes têm certamente prejudicado alguns viticulto-

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res, mas em algumas zonas vitícolas o calor tem sido uma bênção para as vinhas e para os bebedores que cobiçam o seu vinho. Parker explica como as condições de cultivo das vinhas procuradas em Bordéus costumavam vir com menos frequência e por vezes apenas uma vez em cada década: 1945, 1947, 1961, 1982, 1996 e 2000. Todas elas eram vindimas muito maduras, devido ao calor. Mas na última década, com as temperaturas a subir em Bordéus, os vinhos de 2012, 2015, 2016, 2018 e 2019 são todos procurados - e altamente cotados. E depois há os vinhos de regiões anteriormente negligenciadas. “O que eu diria é que, actualmente, não tem havido melhor altura para os coleccionadores de vinho”, diz Axel Heinz, o director imobiliário de Ornellaia e Masseto, dois dos principais vinhos de Itália. “As colheitas e o vinho tornaram-se muito melhores. E para nós, as mudanças ao longo dos últimos 20 anos colocaram um enfoque em muitas regiões em crescimento que os coleccionadores não estavam interessados antes, como o vinho italiano e espanhol”. Mas enquanto alguns viticultores têm vindo a colher os benefícios das temperaturas mais elevadas, outros tiveram de se adaptar de formas que vão afectar os preços, bem como os tipos de uvas. As iniciativas de adaptação às alterações climáticas e de produção de vinho mais sustentável estão, sem dúvida, a ser impulsionadas pelas empresas produtoras, mas o verdadeiro impulso vem dos compradores de vinho, incluindo os sommeliers dos restaurantes, distribuidores de vinho e retalhistas que podem ver como o clima está a mudar o vinho. “O comércio está mais consciente e está a tentar reagir às alterações climáticas”, diz, observando, no entanto, que os vinhos produzidos de forma sustentável custam mais $1 a $4 por garrafa e isso, explica, “vai ter um impacto mais lento no comportamento dos consumidores”. Até lá, o mundo dos vinhos segue a tendência do mundo fora dele. Está em mudança. Até onde?

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FOTOGRAFIA

Em “Janela Indiscreta”, Mariano Silva apresenta 40 fotografias a preto e branco no Centro Cultural Português

A JANELA QUE DESCREVEU enquanto se cruzavam as avenidas, encontros foto-

gráficos eram realizados e o quotidiano de Maputo formava-se por meio de numerosos “clics” de personagens anónimas que dão vida a distintas experiências testemunhadas um pouco por todo o País. Em 2015, Mariano Silva, tomado pelo amor pela fotografia, foi tentado a descobrir Maputo por meio das suas lentes. Através da janela do seu quarto, na altura num prédio localizado no cruzamento entre as avenidas Eduardo Mondlane e Julius Nyerere, na cidade de Maputo, o fotógrafo começou a sua aventura a 60 metros de altura. A imagem captada de uma mulher atravessando com leveza a rua, que posteriormente fora baptizada como “a Garota da Mondlane”, despertou o interesse do fotógrafo em, um dia, transformar os “clics” num projecto

MAPUTO “DE CIMA A BAIXO” fotográfico. Os anos passaram e, hoje, a “Janela Indiscreta”, de Mariano Silva, entrou pelas portas do Camões – Centro Cultural Português em Maputo para a apreciação do público. “A Janela Indiscreta é o retrato do quotidiano de Maputo com uma perspectiva diferente. As fotografias são tiradas todas de cima, numa única janela, algo que não estamos habituados, e é isto que traz um grande significado ao projecto”, revelou-nos o fotógrafo. O que dizer do “Carlitos das Badjias”, da “Baiana de Maputo”, do homem que com o seu ’tchova‘ grita alto: “compro bateria” ou do vendedor de roupas de “todos os tamanhos”. As 40 fotografias a preto e branco são uma verdadeira composição que, entre temas e afazeres, sugerem um percur-

A EXPOSIÇÃO RETRATA O QUOTIDIANO DA CIDADE DE MAPUTO, REGISTADO A PARTIR DE UMA ÚNICA JANELA DE UM EDIFÍCIO www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2021

so alongado pela cidade de Maputo e seus residentes. Desde 2008 que os “clics” ocuparam a grande maioria dos seus tempos livres. Formado em Engenharia Civil em Portugal, Mariano Silva sentiu que a fotografia o representava melhor, tendo-se profissionalizado neste ramo, já em Moçambique, no ano de 2016. Apesar de levar a arte às pessoas por meio dos seus trabalhos fotográficos, Mariano Silva ainda não se considera artista, mas o amor reflectido nas suas obras faz transbordar a arte que insiste em dar créditos ao autor e “Janela Indiscreta” é a prova viva. “O meu sonho é poder continuar a fazer aquilo que gosto e não ter de abandonar por força das circunstâncias, porque seria uma aposta perdida para mim. Muito me orgulho por fazer aquilo que gosto”, concluiu. TEXTO YANA DE ALMEIDA FOTOGRAFIA MARIANO SILVA

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MODEL YEAR 2022

Com o Turbo Charging Planner, a bateria de alta voltagem do Porche Taycan pode agora ser aquecida a uma temperatura mais elevada do que anteriormente

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PORSCHE TAYCAN GANHA ACTUALIZAÇÃO: apesar de ser um modelo recente, a Porsche ac-

tualizou o seu eléctrico Taycan e Taycan Cross Turismo que vão ganhar um “Model Year 2022”, em Setembro. Uma das novidades prende-se com o carregamento eléctrico, com a gestão térmica e as funções de carregamento, que foram aprimoradas. Com o Turbo Charging Planner, a bateria da alta voltagem pode agora ser aquecida a uma temperatura mais elevada do que anteriormente. Isto significa que o carregamento rápido é possível mais cedo e a um nível de carga mais elevado. Adicionalmente, a utilização do desperdício de calor a partir dos componentes eléctricos é ainda mais alargada para regular a

MAIS AUTONOMIA E ESTACIONAMENTO REMOTO temperatura da bateria. Na tecnologia, o comunicado da Porsche destaca o opcional Remote Park Assist, que permite estacionar o carro via smartphone, sem que o condutor esteja ao volante. Um sistema disponível tanto para lugares em paralelo, como para lugares em perpendicular e garagens. Os lugares de estacionamento são detectados automaticamente (através de sensores ultrassónicos e câmaras) e o condutor pode iniciar o estacionamento através da App Porsche Connect. O condutor monitoriza continuamente o processo de estacionamento, pressionando o botão na interface da app no smart-phone – se o botão for libertado, o Taycan inter-

O “MODEL YEAR 2022” OFERECE O REMOTE PARK ASSIST, UM SISTEMA QUE PERMITE ESTACIONAR O VEÍCULO VIA SMARTPHONE, SEM NECESSIDADE DE O CONDUTOR ESTAR AO VOLANTE

rompe a manobra de forma imediata. Há, ainda, novidades no sistema de infoentretenimento, com melhorias na organização dos menus, aumento dos comandos de voz suportados através de linguagem corrente e cálculos de navegação mais rápidos. Os novos Model Year vão estar disponíveis em mais cores. Com as novas opções de pintura personalizada, “Paint to Sample” e “Paint to Sample Plus”, as escolhas de cores menos comuns e pessoais podem agora ser realizadas. Por exemplo, o Taycan pode agora ser pintado nas clássicas cores dos anos 90: vermelho rubi ou verde ácido. De acordo com a Porsche, o Taycan tem sido um sucesso de vendas. Em 2021 terão já sido vendidas 20 mil unidades, um valor próximo do total do ano passado, que colocam o 100% eléctrico da marca alemã a par com as vendas do icónico 911.

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